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DIREITO CONSTITUCIONAL I

- APONTAMENTOS POR
JOÃO ABREU DE CAMPOS

REGÊNCIA DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
Aula N.º 1/Nº.2-

Ao longo do 1º semestre serão abordadas como matrizes para a constitucionalidade:


a) A Pessoa Humana e a sua dignidade;
b) O Estado;
c) O fenómeno constitucional e a sua força legislativa- A constituição

A essência do fenómeno constitucional reside em três aspetos:


a) No Estado- concepção estadual
b) Na força presente na Constituição- concepção normativista;
c) Na Ideologia- concepção ideológica

Cada uma das concepções tem um fundo de verdade. Mas nenhuma esclarece em si a
essência do fenómeno constituicional. A essência do fenómeno constitucional radica
na pessoa humana e na dignidade que lhe é aderente. Reflete-se no entendimento de
que o Estado, o Direito e a Constituição existem ao serviço da pessoa e não o
contrário. Tal vem derivar num conflito entre dois filósofos:

1- Kant- O que é o ser Humano, o que é a dignidade humana?


2- Hegel- O que é o estado?
Reside tbm na oposição entre:
Norma e o facto. Há uma articulação permanente entre a norma e o facto. Em Direito
tanto o facto pode originar a norma como a norma pode cessar a sua vigência pelo
facto.
Como surge o Constitucionalismo, centrado na pessoa Humana, e de onde vêm os
fenómenos Constitucionais, qual a sua necessidade para a organização social?
Analisando o centro da pessoa humana como referencial do Direito Constitucional
verificamos que tradicionalmente encontramos que a pessoa humana assume um
caráter central, referencial e preponderante na base do Direito Constitucional, a partir
da Revolução Francesa (1789- século XVIII). A RF transmite a ideia de liberdade,
igualdade, fraternidade, segurança e de propriedade. São estes os dogmas liberais em
torno da pessoa humana que alicercam o Direito Constitucional. Contudo não quer isto
dizer que não existiram outros momentos históricos antecedentes à Revolução
Francesa que determinam e influenciam o DC.

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Desta forma também a formulação, criação e aplicação da Magna Carta em 1215,
século XIII também constitui um momento histórico determinante para os príncipios
constitucionais e para a essência do fenómeno constitucional, centrado na pessoa
humana e sua dignidade como referencial para a legitimidade de um quadro
constitucional. Da Magna Carta resultam determinadas ideias:
a) A ideia de liberdade pessoal e de liberdade de circulação;
b) Uma pessoa só pode ser condenada na sequência de um devido processo legal,
tendo de ser julgada segundo regras e modelos próprios;
c) Todos (nobres) tinham acesso à justiça e à sua fonte máxima, o Rei;
d) Proporcionalidade entre a pena e o crime. Ideia da Justa medida entre a
infração e a sanção;
e) Só é possível criar tributos (impostos) com o consentimento daqueles que os
terão de pagar. Tem de ser uma decisão do órgão representativo dos cidadãos
e não dos governantes de forma unilateral.
Assim, já no século XIII, com a elaboração da Magna Carta, existiam um conjunto de
primados e pressupostos constitucionais, centrados e alicercados em referência à
pessoa humana e sua dignidade. No entando isto leva-nos à questão: A consciência do
ser Humano como referencial da História e da CRP só começou com a MC no séc. XIII?
Esta análise histórica à fundação do Constitucionalismo e sua legitimação leva-nos a
conseguir identificar três momentos em que o Homem assume preponderância e
centralidade na História, no Direito e na Constituição:

Primeiro Momento- A civilização Greco- Romana. Assumem as grandes linhas do


debate ideológico. As grandes interrogações filosóficas sobre o Homem, a sua
identidade e sobre o domínio axiológico são provenientes desse período;

Segundo Momento- Cristianismo, revolução Judaica Cristã. Traz uma nova ordem de
valores. A grande construção axiológica (valorativa) é produto do Cristianismo [ os
países associados ao fundamentalismo Islâmico apresentam conflitos de origem
religosa contestários da axiologia de direito democrático e social oriunda dos
príncipios judaico-cristãos];

Terceiro Momento- Idade Moderna. Corresponde ao Berço do Constitucionalismo


Formal. Discutem-se 2 grandes questões ( “dois pratos da mesma balança”)
a) A Liberdade, enquanto elemento intríseco à pessoa humana;
b) A autoridade, enquanto elemento intríseco ao peso do estado.

Deste modo questiona-se qual a relação entre a liberdade da pessoa humana e o peso
e autoridade do estado?
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A liberdade de expressão é ilimitada? Até onde pode ir a limitação do estado em
matéria de liberdade?
Até onde é que é legítimo o estado utilizar o poder tributário em relação ao
património de cada um? Evidencia-se um claro conflito entre a liberdade e a
autoridade, a pessoa humana e o estado. O Direito Constitucional existe para
salvaguardar todas estas questões e garantir um equilíbrio legislativo adequado e
necessário.

1º Momento Histórico- A civilização Greco-Romana


Quais as grandes linhas ideológicas da Civilização Greco-Romana que contribuíram
para a referenciação centralizadora do Homem, da pessoa humana e da dignidade na
fundação do Constitucionalismo?
7 pontos essenciais.
1º- O que deve ser o centro da reflexão filosófica? Deve ser o Cosmos ou o
Homem? Há 2 respostas. As conceções que colocavam o Cosmos como o centro de
reflexão e as conceções que colocavam o Homem como centro de toda a realidade de
reflexão filosófica. Na Grécia Protágoras vem colocar o ser humano como o centro da
reflexão- ideia da centralização do homem para a fundação do constitucionalismo-
adjacente do 1º momento histórico. Protágoras- “O Homem é a medida de todas as
coisas”. Sócrates vem dizer que todo o ser Humano é dotado de razão, que lhe permite
refletir sobre o exterior e sobre si próprio;
2º- Perante a Lei, o que deve o Homem fazer? Obdecer sempre ou ter
Liberdade? Perante a Lei e a autoridade, qual o ponto de equílibrio entre os mesmos?
Para os sofistas, o príncipio a adotar era a da liberdade in extremis. Sócrates por outro
lado diz-nos que deve haver obdiência à Lei. Há ainda uma excecionalidade crucial que
ressalva a dictomia desta constução como alicerce fundacional do constitucionalismo:
Perante uma lei injusta e iníqua, devemos obedecer ou devemos recusar essa lei e essa
obdiência? A Grécia dá-nos 2 respostas completamente diferentes. Antígona diz que
não deve haver obediência a uma lei injusta pois essa extravassa e viola a lei superior,
divina e natural, moralmente suprior à do legislador; Sócrates defende a obediência à
lei injusta porque as leis revoltam-se contra nós se o não fizermos. Devemos obedecer
-mesmo que isso implique um sacríficio da própria vida, pois o estado de Direito é
sustentado totalmente pela vinculação do Homem ao mesmo e pela obediência
pressuposta, o que implica que um desrespeito deslegitima o Estado e o Direito bem
como todas as Leis. Respostas que se podem encontrar são também as chamadas
objeções de consciência e o Direito de resistência;
3º- Tema da Democracia. Que nasceu na Grécia. A grande questão radica no
que é a Democracia. Qual a sua essência. Para Heródoto, a essência da democracia
reside em 4 ideias:
a) Igualdade de direitos;
b) A força da maioria;
c) A distinção entre governantes e governados;
d) A responsabilidade de governantes para com governados.
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Para Tucídides a democracia é o governo da maioria , associando a igualdade, a
participação política (que pressupõe igualdade mas não a exige e que advém do
quadro da maioria). Em relação a Heródoto acrescenta que a democracia exige
liberdade de opinião e exige respeito pela legalidade . A democracia exige ainda
moderação- que traduz a ideia de tolerância e proporcionalidade entre a pena
e a infração. (Proporcionalidade recuperada na idade média e quadro
fenomenológico do Direito Consitucional essencial). Em Xenofonte e Platão
podemos encontrar a crítica à democracia.

4º- Conceito de Constituição: Surge na Grécia com base no pensamento de


Aristóteles: o bom governo é o governo das Leis porque as leis são isentas de
paixão. Diz isto em resposta a Platão que afirma que o governo deve ser o
governo dos filósofos, porque têm sabedoria. No entanto isto traduz uma
dictomia que radica no seguinte: se o governo é dos sábios, sendo a prespetiva
filosófica de sabedoria hierarquicamente superior ao nível da intelegibilidade,
então o sábio (governante) não pode estar limitado pela Lei, materializada pelo
Homem. A sua sabedoria colocam-no num patamar superior o que o torna
acima da lei. Deste modo podemos concluir que os regimes ditaturiais e tiranos
radicam na conceção platónica de governo. Aristóteles insurge-se contra o dito
“governo dos Homens”. Apresenta a constituição e os fenómenos
constitucionais como essenciais para a limitação do poder político. A
constituição serve para limitar a ação governativa e salvaguardar os princípios
primordiais do Estado de Direito democrático.

5º- A liberdade interior, como pressuposto chave para o fenómeno


constitucional e como resposta à interrogação metodológica- Qual a essência
do fenómeno constitucional- centrado num referencial personalista.
Corresponde ao entendimento definido pela escola estóica que veio defender
um fenómeno revolucionário- os escravos também são seres humanos, dotados
de liberdade interior e por isso de dignidade humana. A liberdade interior que
os estóicos referem corresponde à liberdade de pensamento. Neste quadro do
estoicismo inserem-se dois filósofos: Cícero e Séneca que vêm defender a
liberdade interior e de pensamento, mas também a justiça.

6º- Relação entre a Lei divina e a lei Natural. O entendimento defendido por
Cícero diz que está em cada um de nós inscrita como naturalidade inata e
evidente, como uma realidade inerente à condição humana, a noção de justo e
a ideia de justiça. Cícero diz que o ser humano participa no divino, pois o
conceito de justiça e as leis comuns e universais a todos os Homens, de
proveniências geográficas e Económicas totalmente diferentes, implicam
forçosamente uma intervenção de Deus que inscreveu tais leis no Homem. Este
pensamento romano vem a ser retomado na revolução Judaico-Cristã, que
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corresponde ao segundo momento histórico de vital importância para o
constitucionalismo, sendo mais recentemente recuperado pelo Papa Emérito
Bento XVI.

7º- Tema de igualdade. É também na Grécia Antiga que surge o conceito de


igualdade (que radica num princípio constitucional primário universal). Surge a
ideia de igualdade como:
a) Como pressuposto da Humanidade;
b) Ligada à proporcionalidade- entre a pena e a gravidade do delito;
c) Ao facto de também os escravos serem seres humanos, dotados de
liberdade de pensamento e dignidade.

2º Momento Histórico- A Revolução Judaico- Cristã

O cristianismo não é mais que uma evolução do judaísmo. “ É a pátria moral das
sociedades ocidentais”.
A revolução Judaico- Cristã, como momento histórico com uma preponderância
fundamental para explicar o constitucionalismo compreende duas circunstâncias
temporais-ideológicas essenciais:

a) O Antigo Testamento- correspondente à vertente Judaica;


b) O Novo Testamento- correspondente à vertente Cristã.

O Antigo Testamento, a), apresenta três grandes contributos para o surgimento do


constitucionalismo e para a resposta à interrogação metedológica:

1- O ser Humano é criado à imagem e semelhança de Deus- daqui decorre o


fundamento pelo qual temos dignidade enquanto pessoas humanas. Há
uma validação divina e intelegível à corpórea condição do Homem que lhe
atribui a dignidade enquanto valor fundamental da sua condição. Esta
conceção do judaísmo apresenta-nos o fundamento teológico da dignidade
humana. [Kant vai procurar libertar, através da Ética deontológica e da
conceção do imperativo categórico, da vontade boa e intenção pura, o
Homem da conceção de dignidade teológica, que se assume como irracional
e metafísica];
2- A história do Antigo Testamento é a história do povo judeu, nómada, que
andava em busca da sua terra e pátria. Ao longo desta busca acaba por
formar-se o estado judaico , que enraiza a liberdade como valor
fundamental para o próprio. No génesis, a liberdade aparece como um
conceito tão forte e de subjante importância moral e civilizacional que Deus
impôs limitações no jardim de Éden, a Adão e Eva, com o fruto proibido. Ao
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incorrerem em pecado, incorrem em desobdiência. A liberdade assume
assim uma preponderância nuclear do pensamento judaico-cristão;
3- A história de Abel e Caim, que é dotada de uma forte componente moralista
pedagógica. A resposta que Caim dá a Deus é a chave do Direito Social e do
Estado de Direito Democrático. Ressume-se à postura de um egoísmo e
egocentrismo do homem em oposição à possibilidade altruista e de
solideriedade- somos responsáveis pela existência de todos nós. O valor da
solidariedade é uma exigência à convivência em sociedade- Estado Social. A
existência do Estado Social deve-se à procura da proteção dos mais
desfavorecidos. No fenómeno constitucional, ao nível da organização do
Estado e do Sistema Político, imprime-se a normatização da soliderieade.

O Novo Testamento, b), que traduz a vertente cristã da revolução histórica que
abordamos, explica que a liberdade exige dignidade. Nenhum Homem é
verdadeiramente livre sem dignidade, contudo a dignidade sendo intríseca ao Homem
existe sem liberdade física (mas requer sempre liberdade de pensamento); S.
Agostinho vem distinguir o Estado de uma quadrilha de ladrões- a justiça distingue-os.
O fim último do poder político tem de ser a justiça; S. Tomás de Aquino defende que
cada homem é construtor da comunidade e é dotado de singularidade e
irrepetabilidade. Firma-se a ideia de que o poder só é legítimo se for usado para o bem
comum. Se a lei for injusta a resposta que é dada corresponde à possibilidade de
desobediência . Nega-se o tiranicídio mas resguarda-se a resistência à lei- primado
constitucional. Reside pois em Jesus Cristo o centro de toda uma revolção sobre os
pressupostos de reconhecimento e valorização dos direitos da pessoa humana,
enquanto entidade criada à imagem e semelhança de Deus, dotadade um espaço de
liberdade interior ou espiritual, o que constitui uma verdadeira realidade autónoma
limitativa do Poder do Estado. Santo Agostinho desenvolve os seguintes
entendimentos: tendo Deus feito o Homem à sua imagem, conferiu-lhe razão e
inteligência que permite ao ser humano “elevar-se acima de todos os animais da terra,
etc, desprovidos desse género”. É na razão e na inteligência humanas que reside o
ponto de contacto entre Deus e os homens e, neste sentido, aí reside o alicerce da
dignidade do homem- referencial centralizador da conceção personalista do fenómeno
constitucional. É atribuída uma valorização concreta da vontade humana, sendo
identificado o livre arbítrio com a liberdade, sendo que Deus determina que nunca
sejamos obrigados a suprimir o livre arbítrio. Em Santo Agostinho, identificada a justiça
como “ a virtude que dá a cada um o que lhe pertence”, segundo resulta da lei eterna
emanada de Deus, encontra-se a teorização cristã do valor da justiça como
fundamento e fim da ação do Estadi, afirma que não existe um verdadeiro Estado sem
justiça no seu governo. É também distinguido Direito de Norma, no sentido em que
não se pode considerar Direito normativos jurídicos que não prosseguem a justiça. A
justiça é o fundamento de validade do Direito.
S. Tomás de Aquino também assume uma preponderância significativa no
entendimento Judaico-Cristão percursor do Constitucionalismo moderno formal. A
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obra Suma Teológica é uma síntese de todo o conhecimento teológico, filosófico,
científico, humanístico e jurídico desde a Antiguidade até à Idade Média. S. Tomás de
Aquino diz-nos que pessoa significa relação, partilhando do entendimento Aristotélico
sobre a natureza social do Homem. Advoga que a pessoa humana é dotada de uma
especificidade prórpria, sendo que cada pessoa concreta é dotada de substancialidade,
individualidade e racionalidade, gozando assim de uma existência que é independente
e distinta. Nesta conceção o ser humano aparece dotado de uma natureza
inconfundível e incomunicável, pois é a circunstância de cada homem possuir
racionalidade e uma vontade livre que, traduzindo-se no livre arbítrio, configura o
cerne da sua qualificação como pessoa, conferindo-lhe o papel de sujeito ativo no
âmbito da ordem do universo (sem embargo de ser predestinado por Deus). O homem
é titular de qualidades naturais e adquiridas, é dono dos seus próprios atos (sendo
responsável por eles), desde que tenha livre arbítrio, isto é, desde que possa escolher
entre várias soluções , aceitando-as ou rejeitando-as. (a exceção ao livre arbítrio é a
impermissão do suicídio). Tendo o homem sido feito à semelhança de Deus, adquire
um estatuto de superioridade face a tudo o mais. A sua superiroridade, que o dota de
dignidade e consequentemente de direitos (subjetivos) e garantias fundamentais. Em
S. Tomás de Aquino retoma-se o contributo de Santo Isidoro de Sevilha, considerando
que a Lei traduz uma ordenação que tem por objeto principal a utilidade comum ou o
bem comum. São apresentadas 3 circunstâncias que fazem de uma lei, justa, portanto
aplicável e passível de obediência- primordialismo constitucional na práxis jurídica:

a) A lei tem de visar a prossecução do bem comum;


b) A lei não pode excluir os poderes do autor que a institui- isto é todos são
obrigados a cumpri-la;
c) A lei deve distribuir os encargos pelos súbditos com igualdade proporcional e
em função do bem comum.
Encontra-se também em S. Tomás de Aquino, o reconhecimento de um direito geral
dos governados contra atuações (injustas) dos governantes, o que traduz também uma
limitação e uma vinculação teleológica de exercício o poder à prossecução do bem
comum de toda a coletividade. O homem goza de autonomia ante o poder do estado,
resultando daqui a origem do reconhecimento e da garantia dos direitos do homem
perante o estado.

Marsílio de Pádua e a antecipação da modernidade constitucional

O Contributo de Marsílio de Pádua na revolução judaico-cristã para o


constitucionalismo é um relevantíssimo percursos dos pressupostos da modernidade
(que corresponde ao 3º momento histórico significativo para o estudo da essência do
fenómeno constitucional centrado na pessoa humana e na sua dignidade como
referencial para a resposta à interrogação metedológica- Qual a essência do fenómeno
constitucional?

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Pádua é advogado do entendimento de rutura com a igreja e a supermacia do papa
aos Estados, assumindo a rutura ao colocar em causa a respublica. É um percursor da
modernidade constitucional. Coloca a hegemonia religiosa em causa através da
afirmação da existência de liberdade religiosa- a igreja não detém nem pode ter ou
almejar ter um poder coativo. Isto é, a igreja não pode usar a força para impor a fé.
Defende de igual modo que a lei, enquanto conceito concrético de uma geral vontade
de Estado, deve ser a expressão da maioria do povo. Desta forma sobressaem 2
poderes:
- o poder da maioria;
-o poder do legislativo.

À conjugação entre o poder legislativo e o poder da maioria chama-se soberania


popular. A génese da soberania popular proposta por Rosseau surge com o destaque
para o poder da maioria e o poder legislativo de Marsílio de Pádua, com a rejeição da
respublica e da coação religiosa.
Na conceção de Pádua, a cidade, o estado, servem o propósito de que as pessoas
vivam bem, vivam com dignidade. A cidade não é alheia à boa vida das pessoas. Por
outro lado afirma que a lei acerva um limite ao poder, sendo que neste sentido a
oportunidade do estado fornecer melhores condições aos cidadãos é limitada.

Neste momento chegamos à enumeração dos problemas que confrontam a prespetiva


judaico-cristã, redundando em diversos autores que vão assumir um caráter
estruturante para o constitucionalismo.

Um primeiro problema que se coloca tem que ver com o seguinte: aquando das
Descobertas, perante o contacto com os índios das Américas, podiam os europeus
impôr a fé, como fizeram, aos colonos? Poderia sequer legitimar-se a colononização?
Este confronto que se colocou entre a ordem de valores, pensamento cristão e o novo
mundo, dominado por uma axiologia distinta, leva ao debate dos seguintes 4 autores:

1- Bartolomeu de Las Casas- Afirma que todos os seres Humanos nascem livres.
Por todos nascerem livres ninguém pode ser escravo (ideia revolucionária ante
o contexto histórico em que está inserida); Não são admíssiveis condutas cruéis
mesmo em relação a povos nativos, isto é, mesmo perante os povos que
possam não ter o mesmo desenvolvimento intelecutal, axiológico que o dos
colonizadores. Dito por outras palavras, razões de cultura ou civilização nunca
legitimam que um povo submeta outros povos. Ainda hoje este confronto está
presente na luta entre o mundo ocidental, caracterizado pelos seus valores
progressistas, e o mundo islâmico. Deve o mundo ocidental impôr ao mundo
islâmico as conceções que defende sobre a não prática da mutilação genital
feminina, sobre o direito das mulheres, sobre uma série de aspetos básicos? A
resposta recai sobre a filosofia e uma postura de multiculturalismo e
relativismo cultural.
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2- Francisco de Vitória- Afirma categoricamente que os espanhóis não têm o
direito de impôr a fé contra a vontade dos indíos. Ninguém pode ser forçado a
aderir a uma fé específica, a uma crença, ou a um sistema de Leis (a um
ordenamento jurídico);
3- Francisco Suárez- Vem alicerçar o fundamento que é a génese do Direito
Internacional público. Afima que cada Estado tem as suas próprias Leis, sendo
que acima dessas leis de cada Estado há um direito que é comum a todos os
estados. É um direito fundado na raça humana que é obrigacionário para com
todos os Estados e que está “acima deles”. A lei escrita, positiva, serve para
proteger as pessoas, contra o Estado, contra as prórprias. A lei assume-se como
um mecanismo de proteção. Condena os governos injustos e abusivos e diz-nos
que há direito das pessoas desobdecerem aos príncipios e normativos que se
assumam contra o Direito Natural e contra os pressupostos fundamentais;
4- Padre António Vieira- É autor das acusações sobre o genocídio dos portugueses
e espanhóis contra os índios das Américas. Desmorona entre os valores da
Santa Fé e a prática política dos colonizadores. Critica:
a) A escravatura (enquanto atentado à dignidade humana);
b) A desigualdade perante a Lei (a lei não era igual para todos- só com os
movimentos liberais é garantida normativamente a igualdade na aplicação da
Lei;
c) A Existência de penas cruéis e desumanas. A crueldade e a desumanidade são
antípodas do ideário protelado pelo Cristianismo.
Conclui-se que a prática humana da igreja era anteposta e contraditária com os seus
próprios ideais genésicos.

Chegamos assim ao 3º momento Histórico- o das revoluções liberais, tendo por base a
evolução e contributo da civilização greco-romana e da revolução Judaico-Cristã
(nomeadamente o contributo de Pádua dado que marca a transição para o 3º
momento.

3º momento Histórico- A idade Moderna


A idade moderna resume-se numa única e grande contradição constitucional- Uns
defendem a liberdade (são personalistas, centrados na pessoa Humana), outros são a
favor da autoridade, (assumindo-se a favor do estado). A contradição existente entre
um poder político confessional, nos termos de uma matriz cristã, e uma prática política
que continuava a negar alguns dos valores mais sagrados de cada pessoa humana
reconhecidos pelo Cristianismo, não pode deixar de encontrar um significativo
contributo nas ideias de soberania e de Estado desenvolvidos durante a Idade
Moderna e que conduziram na Europa Continental a um modelo absolutista do poder
real. (Enquanto na Europa dominava o absolutismo régio, dominava no reino unido
uma emanciapção dos cidadãos, pela liberalização do Estado e do Poder político).
Surge nesta prespetiva um primeiro autor: Jean Bodin.

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Analisa-se a teoria e a ideia da soberania. Assume a ideia de que não há nenhum poder
superior ao poder do Estado: põe um ponto final na respublica cristã (inciada a
cessação da sua hegemonia com Marselío de Pádua na última fase da Revolução
Judaico-Cristã)- rejeita-se a supermacia e a hegemonia do papa no controlo dos
Estados privados. Assume-se que não há nenhuma força superior à do Estado, muito
menos a de um poder centralizado num ente cóporeo que professa ideários de fé. Se
na prespetiva interna não há nenhuma força superior à do Estado, na prespetiva
interna não há nenhuma força superior à do Rei e da sua vontage régia- ideia da
soberania que abre caminho ao absolutismo régio. Só na 2ª metade do século XX foi
esta prespetiva contestada.
É importante no 3º momento histórico do constitucionalismo considerar o autor
Giovano Pico della Mirandola. É um dos mais notáveis representantes do humanismo
renascentista, discorre numa prespetiva de “valorização e promoção dos valores do
Homem”- postura antropocêntrica: o homem é o vértice de toda a realidade, surgindo
a questão da sua dignidade prespetivada nesse preciso contexto (característica e
pensamento pivotal para a referenciação do homem e da dignidade humana para
responder à interrogação metedológica e concluir sobre a essência do fenómeno
constitucional). Para Pico della Mirandola o homem é capaz de escolher o seu próprio
destino, sendo a única criatura capaz de ser tudo, dotado de uma capacidade para se
autoderminar, pelo facto de Deus o ter condenado à liberdade- Deus dotou o homem
de uma capacidade soberana de se derminar segundo o seu próprio arbítrio. Assume
uma síntese entre a razão e a liberdade. Razao +liberdade= dignidade. Esta conceção é
humanista e percursora do Existencialismo defendido por Sartre no século XX (que diz
em grosso modo que o homem é o que dele próprio fizer). Firmada nos termos
expostos a conceção de Pico della Mirandola, a pessoa humana surge dotada de valor
próprio que decorre de razão e da liberdade da sua vontade, gozando em
consequência, de uma dignidade que surge como qualidade de valor natura,
inalianável e incondicionado.

Outro autor relevante para a modernidade do constitucionalismo é Maquiavel.


Maquiavel assume uma postura radicalmente oposta À de Pico della Mirandola
(humanista). Enquanto Pico della Mirandolla professa uma centralização e relevância
na pessoa humana e na sua dignidade, conjugando liberdade (ou livre arbítrio) com
racionalismo, Maquiavel centra no Estado e na sua autoridade, o debate
constitucional. Aborda a ideia da razão do estado. Em suma, propõe que podem existir
circunstâncias execicionais que justificam, em nome da coletividade e do interrese
comum e de autoridade do estado, a prática de normas inconstitucionais. A ideia de
razão de estado significa que o Estado tem interesses que tem que prosseguir em
nome do bem da coletividade o que lhe permite escapar a algumas regras e normas.
Maquiavel defende que a crueldade pode ser boa para reforçar o poder do
governante. Afirma que os fins justificam sempre os meios (por isso é que reitera que a
crueldade pode ser boa). Afirma também que a propriedade é um bem mais precioso
que a própria vida- “os Homens esquecem mais facilmente quem lhes matou os pais
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do que quem lhes roubou a propriedade”- neste sentido, o Direito preocupa-se mais
em acautelar a propriedade do que a vida (inversão da ordem axiológica). [quando
existe uma ordem jurídica que protela mais de forma pivotal o axiologismo da
propriedade do que a vida, então não estamos perante um estado de Direito.

O autor oposto a Maquiavel na doutrina que defende é Erasmo de Roterdão. Afirma,


em linhas genéricas, que um governante (cristão) tem limites na sua ação. Tais limites
podem ser limites jurídicos e/ou limites éticos. A descoberta da ética como limite do
governante marca uma transição axiológica evidente- nem tudo o que a lei proíbe
esgota aquilo que se deve fazer. A ética não é normartizada por lei. Ela existe na
consciência dos governantes, no uso da sua discrecionariedade. Assim, a ética assume-
se como o limite da ação política dos governatantes. Diz-nos, por exemplo, que um
governante não pode ser simutaneamente titular de negócios privados e negócios
públicos, na mesma área.
A ética pode ter acolhimento ou não em normas jurídicas- exemplo: código de conduta
do XXI governo Constitucional da República Portuguesa, presidido pelo Primeiro-
Ministro António Luís Santos da Costa.
Outra referência relevante e importante em Erasmo de Roterdão é a seguinte: “quem
faz as leis deve ser o primeiro a cumpri-as”. Todos os Homens são responsáveis pela
Lei. O legislador não fica isento de as cumprir. Até à aplicação executiva desta ideia de
Erasmo de Roterdão o Direito, sendo classista e elitista, não era aplicável ou
subsidiário para com os poderosos- desta forma, os homens não eram todos iguais
juridica e consitiucionalmente. Erasmo de Roterdão afirma até que só é aplicável a
execução e exigência do cumprimento cabal das leis pelos destinatários se o legislador
for o primeiro a cumpri-las. O cumprimento da lei pelo legislador é exigido para que
seja dotado de força moral para obrigar à obdiência da lei pelo cidadão comum.

Os protestantes vêm procurar fazer a síntese da conceção advogada por Martinho


Lutero. Vem-se determinar que deve existir:
a) Liberdade religiosa (como outros pensadores tal como Marcílio de Pádua
assume-se contra a Respublica e contra a hegemonia do papa. O rei deixa de
estar submetido ao papa, por inerência o Estado deixa de estar submetido à
vontade do papa (rei enquanto chefe de estado); O rei só tem que responder a
Deu- é dotado de poder divino. Desta forma é evidente e forçoso perceber que
não há limites para a sua ação- conduz ao absolutismo régio. (em vez de
Direitos de todos existem privilégios de alguns).
b) Recuperam as características básicas do Direito Romano, afirmando que é mais
importante o património do que a vida.

Chegmaos assim ao berço do constitucionalismo formal. Derivamos nas conceções de


Thomas More, Descartes e Hobbes.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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- Tomás More vai ser um autor determinante para o adevento do modernismo na
constitucionalidade formal. Com efeito escreve um livro, a Utopia. Nesse reflete sobre
uma sociedade muito distinta da existente, atribuindo-lhe caráter de idealidade.
Algumas das características da utopia são seguintes:

1º- é um modelo que está organizado de uma forma tal que se pode dizer que será
percursor do pensamento de Rousseau e do socialismo dos séculos XIX e XX ou até
mesmo da doutrina social da igreja. Este livro e a sua conceção fazem uma crítica
severa à injustiça e à inequidade. Afirma que o Direito e a ordem jurídica constituem
domínios de repressão (ideias que são reproduzidas por Marx). Este modelo da utopia
é um modelo ideal e irreal da sociedade- não há propriedade privada, onde há
igualdade cabal e onde existe, in factum, solidariedade entre as pessoas;
2º- é um modelo que afirma que o Estado tem que ter uma forte intervenção pública
(reforço dos poderes de autoridade em detrimento da minoração da liberdade e da
autonomia privativas). A forte intervenção pública serve para garantir a segurança, a
liberdade religiosa (conceito previamente defendido por Marcílio de Pádua) e para
garantir a boa vida (pois de facto a existência de estado legitima-se socialmente num
contexto lato de vínculo ao benefício do cuidado de um coletivo para a salvaguarda de
uma privatica particular e concreta vida boa).

More propõe os conceitos de justiça e Estado de Direito Social, revolucionando o


constitucionalismo, pois imprime-lhe uma evidência e necessidade universais e
suprapositivas, faz uma forte crítica ao egoísmo e individualismo que orientam os
princípios capitalistas. É feita/defendida em suma na Utopia de More (como matriz
para o constitucionalismo Moderno segundo esta prespetiva) uma normatização do
Estado Social, com a garantia dos direitos fundamentais, para ocorrer a prossecução
de um estado justo e equitativo. (nega a possibilidade de existir propriedade privada,
pois para More o Homem nasce bom mas é a propriedade privada a origem de todas
as guerras e problemas). A conceção de More, sendo “utópica”/idealista, está
plasmada na organização de uma sociedade preditiva, maturada por uma forte
intervenção da autoridade comum (estado), reforçando o papel do último em relação
à liberdade. É protelada uma ação geral comum que limita a liberdade dos cidadãos
como forma de garantir a vida boa pelo estado (autoridade). Outro princípio
estruturante que já advém da antiguidade é o da proporcionalidade entre o castigo e a
dimensão do delito. Admite-se a liberdade religiosa e a liberdade interior/de
consciência pois é fisicamente impossível limitá-las contudo esta conceção, sendo
utópica aproxima-se muito do comunismo marxista bolchevique, o que redunda em
ditadura.

Outro autor da modernidade constitucional é Thomas Hobbes. Hobbes vai assumir


uma postura constitucional diametralmente diferente da protelada More. Hobbes vai
debater-se com o conflito entre a garantia dos direitos inalianáveis do Homem e a
necessidade do estado controlar a mesma, em defesa do valor supremo da segurança.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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Hobbes vem propôr que o homem tem direitos fundamentais, materiais e inalianáveis,
decorrentes da sua condição humana, adquiridos aquando do nascimento (tratam-se
simultaneamente de Direitos Constitucionais e Direitos Civis). Faz da justiça, equidade
e honra a síntese de todo o tipo de virtudes. A lei natural deve ser entidade in foro
interno , ou seja, só deve vincular a consciência dos homens e não ser normatizada
juridicamente, pois ela é lata, extensa, universal e suprapositiva. Todos os Homens são
iguais por natureza (recupera-se o conceito estóico da Grécia). Postula o princípio da
legítima defesa- em caso de ameaça temos direito (subjetivo) de nos defendermos, de
salvaguardmos a integridade e dignidade de que somos, naturalmente, dotados.
Afirma que a liberdade é natural ao ser humano e que deve ser providenciado um
“mínimo de existência” para as pessoas humanas (adotado em princípios
constitucionais a partir do Sec. XX), que tem que ver com o mínimo de condições que
alguém deve ter ou reunir, para viver, salvaguardando os seus Direitos fundamentais. É
revolucionário no sentido em que defende que não basta existir “Liberdade” é
necessário haver dignidade, é necessário um mínimo de condições. Ex: Alimentação,
vestuário,etc.
Hobbes vai valorizar mais substancialmente a autoridade e minorar a liberdade
privativa, como resposta ao debate e conflito entre a necessidade de ser garantida a
segurança e assegurar os direitos constitucionais e civis dos cidadãos. Hobbes parte de
uma visão pessimista das pessoas e diz que o homem é mau e é conflituoso por
natureza. Esta postura pessimista sobre a natureza humana leva ao entendimento que
as guerras e conflitos surgem da génese malévola do homem. A guerra é o instituto
pelo qual o homem vive em sociedade. Cada um dos homens deve abdicar de alguns
dos seus direitos para reforçar o poder do estado, no controlo, na prevenção. Ex: a
ameaça terrorista e a video vigilânica. A resposta que dá é a da garantia da segurança
em detrimento da liberdade (verifica-se a aplicação prática desta conceção na política
norte-americana, francesa e alemã).
Os direitos inalianáveis e fundamentais (portanto constitucionais) que Hobbes defende
são:
(i) Todos os homens são iguais (por natureza). A lei natural (que é uma lei de
consciência, sem praxis normativa no ordenamento jurídico pois é universal
e suprapositiva, dotada de intelegibilidade). Justifica-se a aplicação
uniforme da lei;
(ii) Todo o homem tem o direito de se preservar da dor e da morte (pois tem
direito à integridade humana). É direito natural que ele salvaguarde o seu
corpo e a sua integridade. A vida, o sacríficio pessoal são “contra-natura”;
(iii) Legítima defesa- o homem é impelido a proteger-se contra a possibilidade
da sua destruição;
(iv) Desobediência à lei injusta- como garantia dos direitos fundamentais da
pessoa humana, tudo o que é abusivo, contra a lei natural, contra os
designados valores inalianáveis é passível de ser desobdecido pelo homem;
(v) Todo o homem tem direito à defesa, e de ajuizar quais os meios para a
realizar;
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(vi) 5ª emenda da Consituição dos EUA – “ninguém pode ser obrigado a acusar-
se a si mesmo por efeito de um pacto”;
(vii) Propriedade privada (More na sua utopia era contra a propriedade
privada);
(viii) Integridade física, dignidade humana e mínimo de existência;
(ix) Legítima defesa;
(x) Garante a existência da liberdade religiosa e liberdade inteiror e de
consciência;
(xi) Liberdade genérica, autonomia da vontade- o que o homem faça de acordo
com a sua vontade nunca pode ser considerado como uma injúria para o
próprio.

No seguimento de Hobbes aborda-se Descartes para o estudo do fenómeno


constitucional. Centra a reflexão na subjetividade (no eu); a racionalidade e a
importância da liberdade- matrizes para o constitucionalismo. É uma conceção
percursora do existencialismo. Descartes afirma que devemos cultivar a razão como
meio de avançar no conhecimento da verdade. Diz também que o conhecimento do
seu ser não depende das coisas – advoga o conhecimento racional, é apriorístico,
metafísico e imaterial; é impressa a matriz racional ao fenómeno constitucional- este é
legitimado pela via da evidência. Afirma-se que o homem foi concebido à imagem e
semelhança de Deus, esta ideia aproxima o homem de Deus o que permite a
possibilidade de se garantir a liberdade, há liberdade de vontade. A liberdade mostra-
se essencial para a dúvida metódica. O constitucionalismo moderno é, pode dizer-se de
raiz cartesiana e o entendimento de um conceito concreto de cada ser humano,
enquanto “eu” que se relaciona também com o “outro” sendo atinente à procura do
bem-estar geral de todos os homens- prespetiva utilitarista.

A pessoa humana e o contributo liberal


Há quatro alicerces históricos ao liberalismo: igualdade, liberdade, propriedade
(privado) e limitação do poder .

1º autor: Spinoza
A vontade democrática da sociedade
A vontade do povo é determinante para a vontade legislativa, para a prossecução dos
fins do estado. A vontade democrática da sociedade garante a prossecução da
liberdade, da justiça, da propriedade e da segurança.

2º autor: Pufendorf
Vem associar a ideia de liberdade à ideia de dignidade. Esta ideia era revolucionária
pois, à época, não era plasmada a igualdade de todas as pessoas. Todos os seres
humanos são iguais em liberdade. A liberdade é uma condição decorrente da
dignidade que têm, pela condição de serem homens e pessoas humanas. Todo o
Homem é igual em dignidade, seja o mais influente ou o mais miserável, pois tal é-lhe
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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atribuída como decorrência da sua condição humana. Vem defender também que a
sociedade existe para bem do indíviduo, sendo que é este que dá origem à sociedade.
Há um direito natural que não pode ser trocado pelo estado- há direitos inalianáveis (
que mais tarde se chamarão direitos constitucionais). Por exemplo, não temos
liberdade para dispôr da nossa integridade física. A nossa autonomia de vontade (à
efeméride designada de livre arbítrio) tem limites que se prendem com a salvaguarda
do superior interesse da vida.

3º autor: Locke
Defende o contratualismo social: o homem fica vinculado ao Estado por contrato
tácito, referente ao usufruto das condições que este lhe providencia. Defende que a
primeira razão de ser e a mais importante também da existência da sociedade e do
estado é a existência e a proteção da propriedade privada. Hobbes aposta na
segurança para fundamentar e legitimar a autoridade do estado em detrimento da
liberdade privativa civil. Locke, por outro lado, defende a propriedade privada como
pivotal e central para a existência e vigência do Estado Social. Locke vem claramente
revolucionar o constitucionalismo pois é, de facto, o primeiro autor a falar de “Direitos
do Homem. A lei serve para limitar o poder e para defender a liberdade privativa e a
propriedade privada. A lei fixa uma fronteira e o poder, v.g, poder político não a pode
ultrupasssar. Os direitos das pessoas são as limitações do poder.

4º autor: Monstesquieu
Transmite-nos o pensamento chave de todo o constitucionalismo- para se garantir a
liberdade privativa dos cidadãos há que dividir o poder, de forma a limitá-lo e controlá-
lo. Atenta na constituição britânica (não escrita) do século XVII e conclui: é na divisão
do poder que encontramos a garantia para a liberdade, justiça e segurança. Defende
assim a separação tripartida dos poderes políticos: executivo, legislativo e judicial. A
limitação de poder pressupõe a existência de veto. Há a ideia de freios, contrapesos e
equilíbrios no sistema jurídico.

5º autor: Rousseau
Dá prioridade à igualdade sobre a garantia da propriedade privada. É a antítese de
locke. Para este autor o essencial é a igualdade e a liberdade. É defensor de um
modelo esquerdista burguês. O homem é bom, o que o corrompe é a desigualdade
adjacente da propriedade privada (ideia recuperada de More). Soberania popular,
vontade geral do povo como garantia dos objectivos do liberalismo.

6º autor: Humboldt
Vem dizer que a verdadeira garantia da liberdade não passa pela separação de poderes
(como advogava Montesquieu) mas sim pela criação de um estado mínimo. O quanto
menos um estado existir e intervir será melhor para salvaguardar a liberdade dos
cidadãos. Defende a postura do abstencionismo do Estado. (conceção defendida pelo
GOP norte-americano). Está na génese do modelo constitucional liberal (política da
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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maior autonomia e preponderância privada face ao controlo do Estado). Deriva para o
debate entre a privatição e publitização, entre austeridade ou justiça social. Defende
em suma que a garantia de liberdade existe com menos estado.

7º autor: KANT
Vem revolucionar por completo todo o paradigma constitcuional.
Kant protela três valores essenciais:
a) Liberdade;
b) Dignidade:
c) Igualdade
Vem recuperar as bases não teológicas (pois Kant é racionalista). Vem defender que
inerente à ideia de Estado todo deve ter Direito e Constituição. Responde à questão:
Será que se deve sempre obdiência à lei? Afirma que sim, respeitar a lei e a
constituição é respeitar o estado de direito e a organização da sociedade.
Vem paradoxalmente defender que a liberdade, que expressa a autonomia de vontade
é relevante para o fenómeno constitucional e jurídico. O indíviduo tem liberdade e tem
dignidade (humanismo).
O ser humano não é uma coisa- é sempre um fim em si mesmo. O ser humano nunca
pode ser usado como meio. Pois ele não é uma coisa desprovida de dignidade. Kant
vem dizer que a dignidade é aquilo que não tem preço, que não é propriedade.

Aula de 03/10/16

Tínhamos terminado em kant e no contributo deste para a prespetiva do ser humano e


da sua dignidade, sendo o homem um fim em si mesmo, base do liberalismo, é central
para o debate constituicional.

Hegel- Estadoo, importância do estado. Tem tbm o lado em que sublinha a


importância da liberdade. Porque? Porque a liberdade é a substância do espírito. É
algo que caracteriza o ser humano. O sentido da evolução da história está na luta pela
liberdade. É a luz que ilumina a humanidade. Marx recupera o progresso da liberdade
de hegel. Hegel tanto é usado pela esquerda política e pela direita política. Há uma
afirmação que sintetiza o seu pensamento sobre o ser humano- “Sê pessoa e respeita
cada um dos outros como pessoas”.
No pensamento hegeliano há a visão que o ser humano é uma realidade abstrata, mas
tbm uma realidade concreta. Todos somos seres humanos mas todos somos dotados
de um individualismo. Esta dictomia vai ser aproveita nos finais do sec. XIX e inicio do
XX para as conceções existencialistas.

Há 3 autores que correspondem à materialização constitucional- a história do


pensamento e a normatização constitucional.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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1º Thomas Paine- está ligado ao constitucionalismo dos EUA. O contributo dele está
em 2 vertentes:
a) Há direitos que são naturais ao ser humano (inerentes à sua condieção
humana);
b) O poder existe para prosseguir determinados fins- a vinculação teleológica do
poder. (o poder visa a justiça)
Todos os homens nascem livres e são iguais- está presente o entendimento que há
uma igualdade de natureza das pessoas. Introduz tbm a ideia que cada Homem é um
proprietário do governo. Cada homem determina pelo voto quem são os governantes.
Resulta tbm que o fundamento dos governos está no respeito pelos direitos. A
soberania pertence à nação, ao todo e à coletividade. Tera influência na DDHC de 1789
(frança).

2º- Stuart Mill- visa sublinhar a importância da liberdade individual e a importância da


limitação do poder (que é tema recorrente do constitucionalismo britânico). Há uma
liberdade de consciência e opinião inerente a todas as pessoas (estoicismo). Assume
também a possibilidade de haver uma liberdade de associação (criar uma sociedade
comercial, civil, etc) mas também pressupõe o surgimento dos partidos políticos, na
sua vertente pública institucionalizada. Sublinha também que não há liberdade para
dispôr da liberdade. Ela é um valor tão importante que nenhum de nós pode quebrar a
liberdade que lhe é inerente (nega-se a escravatura). Niguém pode renunciar a sua
liberdade.

3º- Benjamim constan- vem defender 2 ideias centrais: A democracia tem limites
a) Os direitos individuais são o limite à soberania do povo e são também à
autoridade. Significa que os direitos das pessoas são o limite à democracia, os
direitos individuais limitam a democracia segundo o entendimento que a
vontade de todos nunca pode prevalecer sobre o respeito pelas liberdades e
direitos individuais. (ex: aprovação em referendo de genocídios- é ilegítimo). A
dignidade humana tem precedência e prevalência sobre a vontade popular.
Prevalência dos direitos individuais sobre a maioria;
b) Limitação da autoridade pelos direitos individuais. Vem colocar este
entendimento com clareza- há uma liberdade do séc. XIX e direitos individuais
mas tbm há direitos de participação política. Uns estão subordinados aos
outros.

Como é que tudo isto se materializa?


1º momento-Na origem da normatividade jurídica do constitucionalismo temos a
magna carta.
Declaração de direitos do estado da virigina de 1776. Resulta o entendimento que os
homens são livres e independentes. Há direitos inatos. A importância do governo
orientado para o bem comum (s.tomás de aquino). Principio da separação de poderes.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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2º momento- Declaração de independência dos EUA (1776): se um governo
desrespeita princípios fundamentais então o povo está legitimado para se insurgir
contra esse governo. É um ato de rutura entre a antiga colónia e o reino unido.

3º momento- declaração de direitos do homem e cidadão (1789)- 1º produto jurídico


da revolução francesa. Liberdade, propriedade e segurança. Afirmação do direito à
resistência à opressão. Advém do modelo norte americano.

4º momento- aditamentos à Constituição dos EUA (1789-1791)- Bill of Rights


a) Direito de reunião e o direito de petição (apresentação de pedidos às
autoridades);
b) 5º emenda- ninguém pode ser forçada a incriminar-se- direito a legitimante
recursar responder;
c) Cláusula aberta- para além dos direitos fundamentais que estão inscritos na
constituição, podem existir outros direitos fundamentais ao nível do direito
ordinário- não são apenas criados ao nível da constituição (abertura da
constituição a outros direitos fundamentais)- príncipio da não tipicidade dos
direitos fundamentais.

5º momento- constituição francesa de 1793 (nunca vigorou). A matriz soviética


baseou-se nesta. É a constituição que consagra o pensamento de Rousseau. 5 direitos
fundamentais com esta ordem: igualdade, liberdade, segurança, propriedade, direito à
insurreição (contra a tirania, contra os governos- recuperado em 1976 na CRP). É a
primeira constituição a consagrar direitos sociais- são tanto mais garantidos qt menor
for a intervenção do estado- conferem-nos a exigir ao estado prestações- os direitos
sociais são tanto mais garantidos qt maior for a intervenção do estado. Estava
consagrado o direito à subsistência (mínimo de vida), direito à instrução).
O direito à instrução na CRP plasma o ensino a ambos os géneros.

6º momento- C. francesa de 1848- a afirmação do bem estar como fim, como função
do estado. O estado tem como base a família, o trabalho, a propriedade e a ordem
pública. É a primeira constituição a abolir a escravatura. Abolição da pena de morte
por convicção política. A proibição da censura à imprensa.

Quais são os grandes alicerces do liberalismo?


1º- a importância da liberdade, propriedade e segurança;
2º limitação do poder, através da separação de poderes;
3º- interdependência entre a vontade da coletividade e a vontade legislativa do
estado- o parlamento- é a sintese da coletividade (qd um deputado vota, vota a
coletividade), é a principal instituição constitucional do estado de direito;
4º- igualdade de todos perante a lei.

A importância da democracia:
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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Desenvolvido o pensamento na conceção de Marcílio de Pádua, na conceção do
Presidente Linc oln da democracia e governo do povo, feito por ele e para ele;
A vontade geral não deve ser limitada- rousseau opõe-se à separação de minorias, a
minoria está sempre errada;
A vitória do modelo democrático- vitória em 1945, vitória do modelo democrático
anglo-americano (no qual vivemos).

Aula de 04/10/2016

Encerrámos os grandes traços do liberalismo em torno de 4 ideias fundamentais: a


importância da liberdade, a expressão da coletividade na ação parlamentar, a
importância na limitação do poder e a igualdade de todos perante a lei.

Crítica ao liberalismo:
a) Pensamento contra-revolucionário- são contrários à revolução francesa;
b) Movimento socialista;
c) Igreja católica-doutrina social da igreja.

a) É fundamentalmente desenvolvida no RU que se orgulha de nunca ter tido uma


revolução.
1º -Pai do pensamento conservador- Edmund Burke. Vem dizer que os direitos das
pessoas, os direitos fundamentais, radicam e têm a sua origem não na lei mas na
tradição, são o produto da história e da evolução histórica. Os direitos não estão na
lei mas no costume-é a fonte dos D. Fundamentais. Diz tbm que há uma
importância do passado, há uma aceção histórica que deve ser honrado, o peso do
passado e da doutrina na prática constitucional. Defende os direitos adequiridos.
Os direitos não criados pela lei mas são o produto de uma continuidade histórica.
2º- Joseph Maister- há uma constituição natural de cada estado, que é produto da
vontade do moncarca, mas que tem de respeitar as liberdades dos povos e os
direitos dos mesmos. A constituição deve procurar retratar a realidade, não deve
procurar transformar ou movimentar a realidade.
Temos duas conceções de constituição:

(i) Atitude cogniscitiva (não de transformar a realidade, simplesmente


normatizá-la, descrevê-la);
(ii) Atitude voluntarista- vontade de transformar, a vontade constitucional
a transformar a realidade (ex: a CRP de 1976)
A conceção de Maister é descrita e aplicada na
Carta constitucional francesa de 1814- mãe ideológica da carta portuguesa de
1826. É produto da vontade do rei, expressão da legitimidade monárquica. É o
rei que outorga a possibilidade da constituição. O rei é um intérpetre da lei
natural, pressupõe a limitação de poder- autolimitação, pois é o rei que vai
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limitar os seus próprios limites: assume respeitar a sepração de poderes,
respeitar os direitos e as liberdades dos cidadãos que ele descreve, a
modificação da carta só é possível pela conjugação de 2 vontades- a do
parlamento e a vontade do rei que sanciona. A lei só é lei se o rei a sancionar,
se concordar. Tinha a possibilidade de veto absoluto. Atribui ao rei o poder
moderador, de equilibrador. O grande defensor deste poder é Benjamim
Constant (o PR é o herdeiro desta conceção do poder);
Crítica ideológica ao liberalismo
b) Crítica do socialismo, há 3 vertentes:
(i) Socialismo cristão- a sociedade deve existir para garantir o bem estar
(conceção de more), sem abolição da propriedade privada;
(ii) Socialismo não marxista- desvaloriza o estado em 2 prespetivas: porque
quer a abolição do estado (anarquia- Proudhon) ou a desvalorização do
estado e da propriedade privada defendendo o corporativismo (Lassale)
[visam substituir a empresa privada];
(iii) Socialismo marxista- Leninismo + Hegel. A história é a luta pela liberdade,
há explorados e exploradores. O direito e estado é opressivo, serve para
que uma classe oprima a mais fraca. Em ultimo momento dessa sociedade
deve haver a abolição do estado. Até lá deverá existir a ditadura do
proletariado- existência provisória do estado. Concretização soviético:
forte dirigismo do estado na área social e cultural- hipervalorização do
Estado; uma conceção restirta dos direitos fundamentais- direitos dos
proletários, dos camponeses, da classe trabalhadora (não como direitos
civis); o entendimento de que o coletivo deve prelacer sobre o individual,
osm direitos sociais são prevalecentes e precedentes sobre os direitos
privados; em termos de organização política havia a concentração e não a
separação de poderes (rousseau), o estado identifica-se como um partido
único que tem o monopólio que tem a definição do interesse da
coletividade, há ao longo do constitucionalismo soviético a confusão entre
a estrutura do partido e do estado.
c) Critica da doutrina social da igreja- surge em 1891, houve uma carta Encíclica,
Rero Novarum (Papa Leão XIII). Faz uma crítica muito severa do capitalismo e
liberalismo. Proteção dos direitos sociais, há a denúncia dos erros liberais, há
um atentado contra a dignidade humana e contra o trabalho. Critica tbm o
facto de o estado ficar amorfo e abstencionista ao constatar esta degradação
humana. É a crítica mais severa à conceção liberal. Mas tbm afirma que a
solução não está nas conceções socialistas- não é abolindo a pp, nem fazendo
do estado o único empregador que se resolve o problema social e se dignifica a
pessoa. Começa a esboçar o que vai ser nos 50 anos subsequentes uma vida
económica alternativa ao socialismo- corporativismo, que no fundo assentavam
no entendimento entre a pp, o capital e os trabalhadores. É desenvolvida na
Encícilica em 1931 e vem afirmar que há uma incompatibilidade entre o
catolicismo, o liberalismo e o socialismo. Ser católico signifca que não se pode
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ser nem socialista nem liberal. Desenvolve o princípio da subsidariedade- tudo
aquilo que uma realidade social de âmbito inferior poder fazer não deve ser
feito por uma realidade de âmbito superior- tudo que os cidadãos podem fazer
não deve ser feito pelo estado (valoriza a pessoa em relação ao estado, as
associações privadas face ao Estado) mas tbm assume outra vertente- o que os
cidadãos não consigam fazer deve ser feito pelo estado. Tem uma dupla
estrutura pode ser usado num sentido centrífugo ou centrípeto. Foi formulado
em 1931, CRP, Art. 6º - social democracia. Este pensamento é anterior à 2ª
guerra mundial- a constituição mexicana de 1917, a constituição alemã de 1919
(constituição de Weimer) e OIT (1919). O corporativismo procurou ser
consagrado constitucionalmente.

Como é que constitucionalmente se combateu o liberalismo?

a) O totalistarismo dilui e dissolve os seres humanos em relação a uma hiper


valorização do Estado.
1ª característica- tudo pelo estado, nada contra o estado;
2º- inversão dos dogmas liberais: o parlamentarismo, a liberdade politica, etc);
3º- Estado como máquina de terror- terror para impôr ordem;
4º- prefere o coletivo ao individual, a autoridade à liberdade, prefere uma
conceção elitista do poder do que uma conceção democrática (só alguns, não todos),
prefere o instinto à razão, prefere a violência ao humanismo- desvalorização da pessoa
humana, uma hipervalorização do poder do estado, a ideia clara de que a História
pode retroceder. Há momentos em que a história recua- o momento totalitário.

Antecedentes ideologicos do totalitarismo


Há antecentes ideológicos: pensamento de Mussolini- fala em estado total, o
pensamento totalitário não começa em Mussolini: Platão (governo dos Homens),
Hobbes (medo), Hegel (autoridade) e Nietzche (medo, crueldade, autoridade,
descriminação).

Platão- 1º- a criação de um modelo em que existiam privilégios naturais, ao invés do


entendimento de que todos nascemos livres e iguais (cada um nasce com privilégios
familiares).
2º- o estado tem como objetivo preservar a raça;
3º- o governo das leis não existe- governo dos homens- tirania pura;
4º- o estado tem uma intervenção total (casamento, educação, matar todos
aqueles que são inúteis para a sociedade);

Hobbes- há direitos inatos e invioláveis, mas sendo pessimista sobre a natureza


humana então o homem cria o estado e transfere para o estado parte da sua liberdade
para o estado- poder ilimitado alicerçado na força e no medo.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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Hegel- procede a uma divinização do estado, o homem só se realiza no estado. É no
estado que o homem se realiza, há uma visão transpersonalista do estado,
prosseguem os interesses da coletividade, prevalência cega, absoluta e ilimitada.

Nietzche- inverte a ordem de valores cristã, a crueldade é admíssivel (maquiavel), a


piedade é um sinal de fraqueza, defende a extinção dos povos e das raças inferiores
(hitler), sentimentos antissemitas, acusando os judeus de serem culpados de tudo.
Valoriza a guerra em detrimento da paz e da tolerância.

Qual o sentido histórico do totalistarismo- ele institucionaliza caractéristicas, é


tecnológico, como matar as pessoas, como pôr em prática esta conceção. Toda a
ordem axiológica judaico-cristã é invertida. Vem dizer que a luta pela dignificação do
ser humano não é sempre um processo evolutivo de relevantismo, por vezes as
constituições e o DC não servem para garantir direitos mas podem servir para causar
atentados contra a digidade humana.

Aula de 10 de Outubro de 2016

Análise da reação ao liberalismo na continuidade.


O estado liberal teve uma reação contrária mas tbm teve uma reação de continuidade.
De evolução para uma vertente de bem estar social.
Cláusula Constitucional de Bem-estar
Como ocorreu esta mudança?
Com a ideia de Direitos Sociais. Os direitos típicos do liberalismo apostam no
abstencionismo do estado. Os direitos Sociais são tanto mais garantidos qt menos
intervir o estado. Mas o estado social afirma que a dignidade humana pressupõem
intervenção na garantia de prestações de salvaguarda dos direitos sociais. O estado
está obrigado a constituir SNS e SNE, tem a obrigação de criar um sistema social. Esta
circunstância foi normatizada pela primeira vez em 1933 e na constituição francesa.
Esta idiea já era encontrada em Péricles, na idade clássica, em Marsílio de Pádua, em
Kant, em Hegel e na doutrina social da igreja da encíciclica Rerum Novarum.
É sobre0tudo com o termo da 2ª guerra mundial que esta ideia dos traços sociais
entram na constitucionalidade- cláusula constitucional de bem estar. Significa que tal é
um elemento inerente da dignidade humana. Não tem apenas que ver com as
condições sociais e económicas, pressupõe a educação, a cultura, e uma dimensão
imaterial (cultura e temporal- a preocupação não é apenas com o bem estar da
geração presente, preocupa-se com as gerações futuras- intergeracional- ex: recursos
naturais e a sua exploração, poluição, recursos financeiros- reformas, pensões,
subsídios- dimensão intertemporal do bem estar). É uma garantia da dignidade
humana, dos que existem e dos que virão a existir. O estado tem o dever de garantir o
bem estar, segue a doutrina da Rerum Novorum. A grande pergunta que se coloca
consiste em saber se o bem estar é uma responsabilidade primária e secundária? A
garantia do bem estar deve ser do estado ou o primeiro nivel deve ser a economia do
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
mercado e dos interesses privados? Em termos constitucionais questiona-se quais são
as formas possíveis de concretizar este bem estar?
Há 3 modelos:
a) Impõe ao estado a garantia do bem estar;
b) Típico britânico e norte americano, remete para a liberdade do legislador;
c) Modelo misto- há situações em que há imposição constitucional do bem estar
mas tbm há liberdade do legislador- caso português, modelo de economia do
mercado.
Na imposição constitucional não é o estado que garante o bem estar, doravante a
imposição constitucional, pois é a admnistração pública que é tutelar da circunstância
da praxis social. A garantia dos direitos sociais está nas mãos da admnistração pública,
estando a constituição refém da admnistração.

Estas conceções são produtos do final da II guerra mundial.


Quais as primeiras constituições com DS?

-Em 1946, constituição francesa;


-Em 1947, contituição italiana;
- 1949, alemã;
-1976, CRP;
-1978, Espanhola;
-1988, Brasileira

Há uma 3ª época de constitucionalismo do bem estar que resulta do ruir do muro de


berlim e do fim da guerra fria e na desintegração da União Soviética, podemos
encontrar 3 grandes modelos de DS:
a) Até 1940- direito ao trabalho, à ss, à saude, à educação e a função social da
propriedade (a propriedade é e deve ser posta a render para a coletividade-
DSI);
b) Até 1970/1980- ambiente, património artístico e cultural e a preocupação das
gerações futuras;
c) Até 1990- genética, biomedicina, informática.
O tema dos DH não é um problema do estado de cada um, os DH são um problema
que dizem respeito a toda a coletividade, a violação dos DH diz respeito à consciência
jurídica geral- internacionalização dos DH:
Com a II guerra- drama dos DS, mas não foram aqui as primeiras manifestações, pe. Ex.
I guerra:
1º- proteção humanitária dos combatentes, qd há captura de soldados estrangeiros há
que tratá-los com dignidade- regular a guerra;
2º- tratamento dos prisioneiros;
3º- preocupação com os feridos de guerra.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
Na sequência da II guerra mundial surge a ideia da proteção das minorias. Com a II
guerra mundial há a importância da internacionalização em 2 fatores:
(i) O que a alemanha nazi e a rússia fizeram aos judeus- crueldade que jamais
poderia ser praticada;
(ii) Tratamento pelos japoneses dos prisioneiros- leva a criação de 2 tribunais
internacionais para julgar crimes contra a humanidade, tribunais dos
vencedores contra os vencidos (de tóquio e noremberga)
(iii) Importância da criação da ONU e da DUDH de 1948- explica-se por
a) Os direitos humanos passaram a ser normas imperativas para todos os estados
(Ius Cogens), direito obrigatório e imperativo para todos os estados. P. ex.
Apartheid-1970, direitos fundamentais comuns a todos os estados- direito
constitucional comum ius consititucionale comune, significa simultamente
limitação do estados mas tbm garantia de proteção idividual maior. Não há
constituição europeia mas há o tratado de lisboa, a convenção de viena, etc.
há mecanismos internacionais de tutela dos direitos constituicionais, a nível
europeu, p. ex.

Traduz grandes paradoxos: estados com grande desenvolvimento e com


grande atraso tecnológico; consciência dos direitos e banalização da violência
resultante de uma indiferença perante o valor da vida; estado zorro ou estado
robin dos bosques- tirar aos ricos para dar aos pobres, justiça social, por outro
lado há um eclipese da vida humana.

Quais as grandes coordenadas do debate ideológico?


a) Importância da liberdade- Kierkegaard, Sartre (existencialismo ateu e o
reforço da liberdade) e Heideger, Maritan com a importância da conceção
cristã para o existencialismo- o homem e a pessoa são a razão de ser do
direito. Karl Jaspers- devemos relativizar as certezas e ser tolerantes para
com os outros;
b) Democracia e a sua importância- a importância do pluralismo, remon,
Rawls (relativismo e do pluralismo, uma teoria de justiça); Karl Popper,
vem dizer que nos podemos sempre aspirar à verdade- a melhor teoria
explusa as teorias anteriores, é através da discussao que se chega à
verdade. Como é que devemos tratar os que são intolerantes? Como tratar
o terrorismo?

Aula de 11 de Outubro de 2016

Direitos humanos. Estávamos no tema da democracia e da sociedade aberta de Karl


Popper (susceptível de uma diferente tutelaridade de ordens jurídicas).

Vamos abordar a concepção de Habbermas. Vem defender uma concepção de


democracia onde não interessa o conteúdo. Importa obter a caractéristica processual
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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da democracia. A importância está na comunicação, está na discussão de ideias.
Assenta em 3 alicerces:
a) Racionalidade da discussão;
b) A igualdade dos intervenientes;
c) O peso da maioria-
- a democracia é sobretudo um processo de decisão, racional, plasmada na igualdade
dos intervenientes. Não interessa o conteúdo da discussão mas sim o caminho, a
construção da comunicação. Leva a uma democracia sem valores, sem valoração do
conteúdo.

Vamos abordar a concepção de Zagrebelsky. O princípio democrático da


reversibilidade. Coloca a tónica da democacia na ideia de que tudo na democracia se
pode rever. Isto é numa democracia não há decisões eternas, que sejam imutáveis. O
cerne da democracia está na reversibilidade. Tudo o que se decide hoje pode ser
alterado amanhã- porque a democracia é o regime que não tem certezas definidas ou
absolutas. Assim tudo na democracia é extemporâneo e precário. É esta crítica que
leva a que tudo possa ser revisto.

Evolução para o Estado de Direitos Humanos


Há também quem aborda o conceito de democracia humana, proposto pelo Papa João
Paulo II. Assenta em 3 ideias:
a) Os direitos humanos são o núcleo essencial da democracia;
b) A afirmação de que a pessoa é o fundamento das instituições políticas;
c) A democracia só é verdadeira se tiver um contéudo de decisão se estiverem
comprometidas ao serviço da pessoa humana. O que importa é o conteúdo da
democracia, na defesa dos DH (oposição a Habbermas).

Atualmente define-se um conceito de democracia internacional.


Os direitos humanos deixam de ser uma questão de cada estado e passam a ser uma
questão transnacional. Há uma internacionalização da democracia. É uma condição
para o desenvolvimento e proteção dos direitos humanos e vice-versa. Há um
casamento sem divórcio entre democracia e direitos humanos. Leva à questão: será
legítimo a comunidade internacional impôr a força para normalizar a democracia.
Nunca é legítimo fazer a guerra para impôr os direitos humanos porque tal é mais
violador dos direitos- há que analisar o princípio da proporcionalidade.

TEMA DA JUSTIÇA SOCIAL


Não há dignidade humana sem justiça social. Tal pressupõem a distribuição da riqueza.
Os que mais têm devem contribuir para os que menos têm. 1º alicerce é a doutrina
social da igreja. A igreja católica aparece como guardiã da tutela da dignidade humana.
Perante a desigualdade social, perante pobreza extrema, o que fazer? Uns dizem:
nada, outros: deve agir.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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O dilema da justiça social resulta disto: se pretendermos que o estado tenha uma
postura extrema de redestribuição de pobreza podemos levar a um extremar de
posições relativas ao nosso trabalho- a margem de rendimento que é tributado pode
não compensar perante o valor atingido por via do trabalho. Tal vai derivar na
circunstância de se destribuir menos riqueza- não se incentiva o trabalho e o
investimento.
Como se resolve o porblema da justiça social? John Rawls defende o entendimento do
Estado providência. A igualdade não pode ser garantida à partida tem de ser
assegurada também à chegada. É um elemento essencial para a justiça social.
Intervenção do Estado na distribuição da riqueza. Estado que toma medidas.

Outro entendimento sobre a JS é o de Robert Nozick defende o abstencionismo do


estado. A importância da igualdade de Estado nas oportunidades a todos devem ser
garantidas em proporção igual. Uns irem mais longe do que outros depende do
engenho de cada um. Valorização do particular. Se existir igualdade à chegada isso
provoca falta de estímulo a cada um. Não pode existir igualdade à chegada, tem que
existir um estímulo para o desenvolvimento das capacidades de cada um. Deve existir
igualdade de oportunidades para providenciar um estímulo para promover o
desenvolvimento particular num quadro de justiça como equidade. Deve ser
promovida tbm a ideia da solidariedade ( que vem do AC)- conciliar de um estímulo
com a solidariedade.

A CRISE DO ESTADO SOCIAL- CRISE DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DE BEM ESTAR


-Houve excessos nesse estado, há um asfixiar da liberdade pela presença do estado;
- custos financeiros, invertem a ideia de que era sempre possível o estado dar mais- é
limitado o bem estar, é racionalizado esse bem estar, perante o hiper
intervencionismo do estado houve um movimento de redução da intervenção do
estado- neoliberalismo (menos estado, melhor estado). Há um dilema entre o custo do
bem estar e a constituição que permance fiel à cláusula de bem estar mas a situação
financeira limita a concretização dessa cláusula.

O fundamentalismo religioso, laico, cristão, islâmico. Um outro risco da sociedade


moderna é a liberdade sem limites- relativismo- tudo é possível, tudo é admíssivel. A
ideia de que se deve substituir a pessoa pelo individuo. O eu isolado corresponde à
valorização do egoísmo.
Há ainda as concepções niilistas que negam deus e que exista algo de definitivo,
negam tudo o que não tenha que ver com a ciência e com a técina.
O risco de uma democracia sem valores, oca, acética, sem conteúdo axiológico, é
tributária do pensamento de Habbermas ( de que ela é um mero processo de maioria).

Chegamos assim ao conceito de Estado de Direitos Humanos. É um estado que se


alicerça na pessoa humana, inserida nos valores da liberdade, dignidade e justiça como
limite ao poder, é a pessoa humana com base no pensamento Kantiano, a dignidade
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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não tem preço e cada pessoa é sempre um fim em si mesmo e não pode ser usada
como um objeto. As concepções existencialistas- a avaliação da pessoa concreta, a
dimensão da concretização que cada homem representa. O estado de direitos
humanos assenta ainda numa tripla acepção da pessoa humana- cada um dos homens
é indíviduo particular, membro da sociedade e também parte da humanidade em
geral.

- A pessoa enquanto indíviduo: uma realidade, uma identidade biológica própria, cada
um de nós tem uma dimensão física e psíquica própria, é por isso que cada nós é único
e não pode existir a colonagem humana. Todos nós participamos da mesma dimensão
humana. Qualquer que seja a raça todos fazemos parte do género humano= igual
dignidade de cada homem. Esta realidade humana é inata e inalianável, todos estamos
condenados a ser pessoas. Ninguém pode renunciar à categoria de serem pessoas.
Não é o cc que nos dá personalidade jurídica, nós não somos pessoas por decreto, o cc
diz isso em função dos nossos atributos. Os direitos de cada invídividuo são
simultaneamente limite e fundamento do poder. O poder tem de garantir os nossos
direitos individuais. Podemos dizer que há direitos humanos universais. De natureza
pessoal: a vida, a liberdade, a identidade, a pp, a família. Mas tbm há direitos humanos
universais sociais: sáude, segurança social, trabalho, mínimo de sobrevivência. A
pessoa não é apenas indivíduo, tbm é membro de coletividade- cada um de nós é um
animal social e existe e vive em sociedade. É esta dimensão social do ser humano.
Levanta duas questões: o conceito de nação e de povo.

A nação é um conceito cultural, espiritual, é aquilo que une um conjunto de pessoas


em termos de identidade cultural, corresponde ao espírito do povo: a ideia de que há
um passado comum, uma história e uma língua comuns, são elementos que
identificam uma nação. Para o DC sucedem 2 fenómenos: qd há uma consciência
nacional. A nação é fonte de querer constitucional.

O conceito do povo. O povo é o vínculo jurídico que une uma pessoa a um estado.
Povo é um conceito jurídico. O povo permite diferenciar a figura dos estrangeiros e dos
apátridas. O estrangeiro tem um vínculo com outro estado. Apátrida não tem nenhum
vinculo de nacionalidade.

A cidadania é um direito fundamental, com a DUDH e com a CRP. A história está


associada a estas questões. Vontade popular é a do povo. Dos cidadãos do estado.

A pessoa humana enquanto membro da humanidade para sublinhar que todos


fazemos parte da família humana (UN charter) e a DUDH fala dos valores da
fraternidade e da humanidade. É um espaço de direitos e de deveres. Há 5 acepções
onde opera a humanidade.
a) Fala-se de património da humanidade;
b) Humanização dos conflitos armados;
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
c) Assitência humanitária;
d) Intervenção humanitária armada- conflito humanitário;
e) Crimes contra a humanidade- pela sua violência chocam toda a humanidade.
Ex: holocausto.
Aula de 17 de outubro de 2016

Análise do estado de Direitos Humanos.


1ª ideia- uma forma de estado de direitos fundamentais, o centro, o núcleo do poder
político, o seu fundamento é apostado no respeito e na promoção dos direitos
fundamentais, mas não são todos, são os que dizem respeito à dignidade da pessoa
humana; porque motivo estado de direitos humanos e não estado de direitos
fundamentias?
a) Alargamento do conceito do que é direito fundamental- levaram a que se trate
como direito fundamental realidades que pouco têm de fundamental- ex:
direito de antena dos ovos de cordeniz. Centramo-nos portanto na relevância
dos direitos humanos;
b) diferença entre direitos fundamentais de pessoas singulares e pessoas
coletivas. Há uma certa crição de direitos fundamentais que não estão ligados a
uma pessoa em concreto- há uma despersonalização dos direitos concretos-
direito ao ambiente, direito ao património cultural- direito de todos nós-
elevação de interesses difusos, de todos, sem um sujeito determinado, que são
elevados a direitos fundamentais. Informatica e a reserva da vida privada-
debate constitucional.
c) Assiste-se à criação nas ultimas decadas de DF contrários à dignidade humana.
Ex: direito de prostituição, legalização da pedofilia, aborto.
d) Podem existir novos direitos fundamentais não plasmados na CRP (devido à
claúsula fundamental); a criação de novos direitos intrefere nos direitos que já
existiam.
Por todas estas razões deve apostar-se na definição de direitos humanos e não direitos
fundamentais. Os direitos fundamentais envolvem obrigações:
Quais as funções do estado na consignação de DF:
1º- Defesa, garantia e respeito dos DF- está obrigado a defender, garantir e respeitar
os direitos;
2º- dever de prestação social, o estado deve ele próprio criar condições que satisfaçam
direitos fundamentais;
3º- proteção perante terceiros- deve garantir que cada um de nós deve ter os seus
garantidos- exercício e atuação dos tribunais;
4º- combate à descriminação, deve implementar a igualdade- em todos os domínios.
Não há direitos sem deveres. Cada direito tem uma pluralidade de deveres, envolve
para os demais a criação de deveres e o seu cumprimento.

Matéria da responsabilidade dos direitos:

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
Os deveres são o outro lado, a outra face dos direitos. Todos os direitos têm sempre
deveres, atinentes ao Estado mas consigna uma dimensão horizontal, direitos e
deveres dos outros para comigo e para com os outros- ainda é uma remeniscência
(antigo testamento- abel caim).

Outra circunstância é que não há direitos sem custos. Numa crise diminui a satisfação
dos direitos fundamentais.

O que caracteriza o estado de direitos humanos:


a) O estado de direitos humanos é um modelo de sociedade política alicerçado no
respeito pela dignidade da pessoa humana;
b) Garantia e defesa da cultura da vida;
c) Vinculação internacional à tutela dos direitos fundamentais;
d) Normas constitucionais têm uma eficácia reforçada, uma força jurídica própria;
e) Poder político democrático;
f) Tem uma ordem jurídica axiologicamente justa- tem como fim e valor nuclear a
justiça.
A conjugação destes elementos conduz a um estado de direitos humanos perfeito.

a) Respeito e garantia da dignidade da pessoa humana. O que significa? É o


resumo de várias concepções: judaico-cristão, Picco della Mirandola, Kant e
existencialista. Estão aí os alicerçes filosóficos da dignidade da pessoa humana.
Sempre um fim em si mesmo, nunca um instrumento; cada ser humano é uma
realidade única e irrepetível, não é o estado que confere dignidade a cada
pessoa, as pessoas têm dignidade natural que é imposta ao Estado; todos têm a
mesma dignidade, não há dignidades com peso maior ou menor; é
independente da consciência e da incompreensão- todos sem excepção têm
dignidade; é irrenunciável e inalianável- exige respeito pela integridade física e
psíquica; não há dignidade sem liberdade, exige condições materiais dignas de
vida- respeito pelo espaço prórpio de cada um (reserva da vida privada,
familiar), exige segurança na sociedade- não há dignidade qd o estado não
garante a segurança de todos. Envolve um primado do ser sobre o ter
(rousseau), exige um poder limitado pelo direito. Qual a função da dignidade na
Constituição? É uma síntese da ordem de valores, é o valor primeiro do
ordenamento jurídico, é absoluto e exige um respeito geral- existe ao serviço
da proteção da pessoa humana. É a base do sistema de direitos mas tbm do
sistema de deveres.
O poder tem de respeitar a dignidade cada um de nós (dimensão vertical-
estado para pessoa); dignidade na vertente horizontal- todos somos obrigados
a respeitar a dignidade dos terceiros;
Tem tbm uma vertente auto referencial- a dignidade vincula nos a nós próprios,
nós não podemos recusar, dispôr da nossa dignidade. A dignidade tem uma
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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vinculidade universal- matriz da DUDH, é a matriz da ONU. É o núcleo mais
relevante do ius cogens- há direitos fundamentais que estão mais próximos da
dignidade humana. Há uma vinculação concreta dessa dignidade. Qd começou
a vinculação: o respeito pela DPH existe desde que há seres humanos, a história
não o demonstra mas o sentido evolutivo é o que o aprofunda. Qual o núcleo
de direitos inerentes à DH:
a) Pessoal;
b) Social;
c) Política.
b) Garantia e defesa da cultura da vida significa:
(i) Inviolibilidade da vida humana (arbitrariamente);
(ii) Proibição da pena de morte;
(iii) Livre desenvolvimento da personalidade, solidariedade.
c) Vinculação à tutela internacional de DF:
(i) O estado reconhece que há instância internacionais que garantem DF;
(ii) O DI não só tem declarações de direitos como tem tribunais
internacionais que asseguram esses direitos;
d) Máxima intrepretativa, mais generosa, máxima eficácia intrepretativa das
normas de direitos fundamentais:
(i) Eficácia reforçada das normas sobre os DF. Significa que as normas
sobre direitos fundamentais gozam de aplicabilidade direta. Não
precisam de lei para serem aplicadas. Qqr um de nós pode aplicar os e
evocar os DF;
(ii) Tds as entendidades publi e priv estão vinculadas a respeitar as normas
sobre DF.
(i) Tem de existir um justificativo
e) Poder político democrático- democracia comprometida com a ordem de
valores;
f) Ordem jurídica justa- justiça como fim do direito.

Quais os desafios ao estado de direitos humanos:


a) A existência de concepções totalitárias;
b) Desenvolvimento de uma cultura de morte: ex: eutanásia, aborto (direita pura
e dura)
c) Hipervalorização do princípio maioritário. A ideia de que a maioria é sempre a
verdade. A maioria não é critério de verdade. Ex: não era pela aprovação em
referendo do holocausto que o torna legítimo. A democracia é uma ordem de
valores e não só um processo de decisão;
d) A ideia de que a ciência e a técnica não estão ao serviço do ser humano;
e) Vigilância total- ex: 9/11;
f) A globalização põe em causa a privacidade. Quem tem a informação condiciona
a decisão;
g) A intolerância: maior desafio-social, religosa e política.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
O estado de direitos humanos não está completamente adquirido.

AULA DE 18 DE outubro DE 2016

Estudo do poder político (parte b) do estudo de constitucional)

O que é o poder e o que é o poder político?


O poder é por definição uma disponibilidade de meios para se alcançar um
determinado ou determinados fins. O poder tem sempre que ver com uma definição
unilateral e imperativa. Uma imposição unilateral de um comportamento, de uma
conduta ou fiscalização. Imposição e unilateral- PODER. Envolve sempre um exercício
de uma autoridade. A autoridade exige do outro lado um direito de acatamento e de
obediência. Exercício de autoridade e um exercício de obediência. Não há poder sem
autoridade, nem há autoridade sem a possibilidade de imposição de um
comportamento. Qd não há obediência a autoridade fica enfraquecida e o poder pode
deixar de ser poder. O poder fica minado e destruído qd é sistemática e
reiteradamente desobedecido.

Que tipos de poder existem?


a) Poder expresso- vísivel, sabe-se que existe, transparente;
b) Poder oculto- invisível. Os portagonistas de um poder expresso podem ser
marionetas dos titulares de um poder oculto.
O poder pode ser ainda:
(i) Formal- regulado pelo direito, obedece a uma forma;
(ii) Informal- não está regulado pelo direito, surge de modo factual, é assente
na prática e no uso, não é um poder de natureza jurídica.
No âmbito político é preponderante o seguinte: uma revolução é uma fonte de poder
factual (informal) e que é genésico do constitucionalismo. Uma revolução é a
expressão de um poder informal e factual mas é geradora de uma nova axiologia
constitucional.

5 áreas principais:
a) Poder político;
b) Poder económico- condiciona inopinadas vezes o poder político;
c) Poder religioso- confusão do poder político e religioso (Respublica Christiana);
d) Poder informativo- a informação é um dos grandes novos poderes. Quem tem a
informação controla a decisão- é especialmente apetecível pelo poder político
e tbm pelo poder económico;
e) Poder científico/tecnológico- as decisões são condicionadas pelas opções
científicas e tecnológicas;

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
f) Poder interprivados- poder dos pais em matéria de educação dos filhos
menores, relação laboral entre a entidade empregadora e os trabalhadores.
Vamos estudar em pormenor o poder político.

O que é o poder político?


O que é a política- é uma atividade humana que tem como objetivo e propósito a
conquista, a manutenção e o exercício do poder político.
Ao poder político compete a definição das opções essenciais da colectividade. Quais
são os grandes desígnios e as grandes opções da coletividade?

Numa sociedade podem-se colocar 3 grandes questões:


(I) Quais os objetivos da existência de uma sociedade e da vivência em
comum?;
(II) Quais são as soluções e os meios para atingir e consignar a vivência em
comum?
(III) Quem define os objetivos e os meios para os atingir pela comunidade e
porquê?
A questão de saber quem é o sujeito que define os objetivos e os meios de
uma sociedade parte de uma questão de que numa sociedade organizada,
nem todos podem tomar essas opções. A questão trata de qual o processo
que deve ser adotado para escolher quem vai tomar essas decisões.
Todos os pressupostos devem seguir a vontade da maioria. Mas é o
respeito da minoria pela vontade da maioria que é decisivo para a
estabilidade e concretização da maioria. O respeito plasma-se na
obediência. Tbm está nas expectivas da minoria. A constituição e a
expressão jurídica deste equílibrio.

Quais os problemas históricos do poder politico?


a) Origem do poder político;
b) Fins do poder político;
c) Limitação do poder;
d) Legitimidade dos titulares do poder político.

A) (i) Concepção teológica, todo o poder vem de Deus, ou todo o poder vem do
diabo. Na RJC- predomina esta questão. Para uns o poder vem directamente de
Deus sem intervenção de ning. Concepção absolutista. Ou numa concepção
mediaval o poder do papa de destituir o rei.
B) Concepção democrática- O poder vem do povo, enquanto colectividade,
enquanto soberania popular (pensamento de Rousseau); ou vem da nação
enquanto realidade abstrata, realidade cultural, realidade que se projeta no
tempo de forma intergeracional- soberania nacional.
C) Concepção de mediação- o poder vem de Deus mas por consentimento do
povo;
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
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D) Concepções sociológicas.
2º questão- Fins do poder político. Nunca se podem identificar nunca com os
interesses do titular do poder.
O bem comum e o bem públcio são o fim do poder político. Podemos ter uma
concepção do bem comum numa vertente personalista, a pessoa humana é o centro
justificativo do poder político e a razão de ser do poder comum ou a concepção
transpersonalista (Hegel)- é mais importante o estado do que a pessoa humana.

3ª questão- Como é possível delimitar o poder político?


a) Anarquia- não é possível delimitar o poder político, deve ser abolido;
b) Concepções que querem delimitar pq reconhecem a necessidade de poder
político. Como delimitar:
(i) Conflito permanente entre direito e os factos. O direito quer sempre
condicionar e regular os factos. Mas mts vezes os factos não se deixam
regular pelo direito. Acontece que os factos produz juridicidade- as
normas jurídicas escritas podem perder efectividade, são normas
desvitalizadas. Por vezes a norma escrita é substítuida por uma norma
não escrita. Nesse momento o facto deixa de ser facto e passa a ser
direito- todo o DC é uma permanente luta entre os factos e o direito.
(ii) qual o melhor poder? Governo das leis ou governo dos homens (platão
v aristóteles)
O melhor poder é sempre o poder delimitado pelo direito. No estado de direito o
poder está limitado pelo direito. Há 2 tipos de estado de direito:
a) O poder faz as normas e submete-se às suas próprias normas. Está
autolimitado- ESTADO DE DIREITO FORMAL (só vale o direito do país)
b) Não está apenas limitado ao direito que ele prórprio cria mas está limitado por
direito superior ao do estado, emanado por outras instituições- ESTADO DE
DIREITO MATERIAL (ex: DUDH, Ius cogens)- está auto e heterolimitado.
(iii) Separação e divisão de poderes (Montesquieu).

4ª questão- Legitimidade do poder. Legitimidade qt ao título ou qt à forma. Pode ser


uma legitimidade conquistada pelo:
a) Poder carismático;
b) Poder de base tradicional;
c) Poder racional- é sempre um fenómeno jurídico, um fenómeno captado pelo
direito.
Como é que se pode regular o poder político?
(I) Pode ser feita por normas escritas ou por normas não escritas. Nem todo o
direito é direito escrito. Normas morais, normas éticas, normas de trato
social.
(II) Pode ser regulado por factos- precedentes;
(III) Normatividade oficial associada à normatividade não oficial. A
normatividade não oficial vai contra a normatividade ofical- contra legem,
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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2016/2017
contrária à lei, contrária à constituição. As normas não oficiais não serão
normas inválidas. A função que têm é de substituir e modificar as normas
escritas. Mesmo ao nível da CRP.

Tipos de poder político:


a) Com expressão na comunidade internacional- ONU;
b) Integração supranacional- União Europeia;
c) Expressão no estado- o estado é no plano interno a principal fonte de poder
político.
3 concepções de estado:
a) Estado soberano, subordinado no plano externo;
b) Estado colectividade, enquanto titular do poder constituinte. Estado de direito
constitucional (vamos estudar)
c) Pessoa colectiva de poder público (Direito administrativo).
Vamos estudar o estado como sujeito de DC.

Aula 25/10/16

Concluído a evolução histórica do estado.


Ver o estado atual.
Ver a fragmentação do Estado. O Estado é hj uma realidade fragmentada por 4 ordens
de razão:
(i)

a) Internacionalização de matérias (á luz da ONU charter fala de um domínio


reservado aos Estados, matérias que não eram passivas de intervenção das NU-
houve uma dimininuição do DR dos Estados- daí a fragmentação do estado-
passaram a ser matérias passivas de dominínio internacional. Ex. DH. Há uma
erosão do DRE);
c) Diz mt respeito a portugal. O que compõe um dominínio do território de um
estado- as NU entenderam que a qualificação de um território como sendo um
território como qualificação de um estado era uma matéria de domínio e
definição do dominínio internacional;
d) Crimes contra a humanidade: se um país comete genocídio contra um povo diz
respeito a todos;
e) Casos de soberania partilhada- espaços territoriais que não são tuteladas por
um só estado. Ex: ZEE- zona económica exclusiva- soberania partilhada.
Intangibilidade de um estado. Ex: intervenção militar no Kosovo, questão a
intervenção militar no Iraque, na Síria, constitucionalidade dos motivos?

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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(ii) Globalização
a) Crise económica, crise do combate às drogas, controlo da internet,
fluxos financeiros. Não podem ser controlados nem geridos por um só
estado. Combate ao terrorismo;
(iii) Integração supra-nacional
a) Há matérias em que o estado foi expropriado da capacidade de decidir
sobre determinadas situações, na EU;
b) Casos em que a matéria é partilhada- controlo sobre a proposta do OE
(têm de se submeter aos critérios de convergência orçamental da EU);
c) Matérias de co- administração- a dimensão limitativa do estado não
ocorre só em relação direta. Ex: conselho europeu, decisão conjunta
com outros estados.
(iv) Novos agentes internacionais. São uma realidade dos últimos 10 anos que
não têm sido tratados em termos doutrinais. Entidades privadas que são
atuantes no campo internacional. Escapam ao dominio de um estado mas
podem influenciar decidamente cada estado. Ex: ONG ou FIFA, UEFA,
agências de rating, notação financeira- condicionam os termos em que o
estado tem acesso a financiamento internacional

Aula de 31 de outubro de 2016

Analisamos os elementos materiais do estado. Ficamos com o território como


elemento caracterizador de um estado. É no território do estado que ele exerce o seu
poder. É no território do estado que, dizia-vos eu que o território do estado delimita a
componente humana. Delimita o povo. Tem uma dimensão física e tbm pode ter uma
dimensão ficcionada. O caso das embaixadas e dos consulados. Diminuição física do
território do estado: não é apenas constituído pelo território terrestre:
(i) Território marítimo (se não for um estado interior);
(ii) Componente terrestre;
(iii) Espaço aéreo.

(i) Abrange várias figuras. Há uma primeira zona- Mar Territatorial; uma
segunda zona- ZEE- Zona Económica Exclusiva que geralmente vai para
além da zona de mar territatorial, com poderes de exploração e
policiamento dessa zona. Não faz parte do território do estado (como
sucede com o mar territatorial) mas permite-se a manutenção e controlo e
exploração dessa zona. Há ainda a plataforma continental- parte do solo e
subsolo que está coberta por água. A primeira parte da plataforma está
sobre jurisdição do território costeiro- devido aos recursos naturais que
existam no subsolo é fundamental para a divisão destas zonas para permitir
a prospeção de recursos. É tudo uma questão de jurisdição sob o territário.
O que fica no meio do O. Atlântico é designada de fundos marinhos
internacionais. Termos da vigência do T. de Tordesilhas.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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O estado não tem sempre a mesma intensidade nos poderes que exerce
sobre o seu território. Na sequência do Mar Territatorial há uma faixa de
contiguidade- zona contígua- tem mais poderes do que na ZEE mas menos
do que no Mar Territatorial- tem relevância para os achados arqueológicos.
Discute-se muito a relevância das ilhas- em relação a cada ilha tbm se conta
a existência de uma zona de MT, ZC e ZEE e muito mais importante para a
exploração de recuros materiais- uma plataforma continental- em relação a
cada ilha. Há na convenção do mar uma cláusula específica para os estados
arquipelágicos – Japão, Filipinas, etc. A convenção vem permitir que se
estabeleçam linhas de feixo nessas linhas e que assim se alarga em muito a
dimensão territatorial marítima desse estado. O espaço interno a essa zona
delimitada pelas linhas de feixo designam-se de águas interiores e não
estão sujeitas à liberdade marítima internacional.

O território é a área onde o estado exerce a sua soberania plena. Há zonas


tampão- zonas de neutralidade de soberania- que separam a Coreia do
Norte e da Coreia do Sul (faixa de gaza- questão, intervenção da ONU);

O território de um estado sendo pertença de um estado pode estar sujeito


a regras de direito público e diz-se que esse território é de domínio público,
se se aplicarem regras de direito privado então é de domínio privado.
Porquê esta situação? Dentro do território do estado, todo o território é
domínio público. Contudo a territórios, terrenos, etc privados. O estado
tbm pode ter pp sujeita ao direito privado. É domínio privado do estado.

DOMÍNIO DO PODER POLÍTICO


a) Todo o poder político num território está ligado ao estado, mas o estado não
esgota esse poder político no estado. Tem expressão jurídica na CRP;
b) O poder político está sempre subordinado ao direito, são sempre estados de
direito. Se o direito que está em causa não depende do estado e é superior ao
do estado então designa-se estado de direito material, o contrário é estado de
direito formal;
c) Pode permitir-se a distinção entre titularidade do poder e exercício;
d) O poder político é o poder dotado de soberania, mas a soberania do poder
político hoje é muito diferente da soberania que existia à anos atrás. Existe
uma soberania internacionalizada e europeizada;
e) O poder político tem duas formas diferentes de expressão jurídica: traduz-se
no poder constituinte- de fazer e modificar normas constitucionais- note-se a
existência dos poderes constituídos que são os poderes do estado existentes
no quadro de uma constituição;
f) Pode ser descentralizado. Existem vários centros da expressão da vontade
política- descentralização político administrativa.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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Existem outros elementos, de natureza formal, do estado. São três:
(i) Designação do estado- cd estado tem um nome próprio. A designação do
estado tem 2 ideias- princípio da não repetibilidade. Por outro lado na
designação do estado podem existir elementos identificativos do estado e do
regime- ex: República Federativa do Brasil. Podem estar elementos do
respetivo regime- Reino Unido; ou elementos religiosos- República Islâmica do
Iraque. A designação do estado pode mudar. A antiga Birmânia é hj a
República de Mynanmar; etc. a designação tem que ver como a forma como
ela é designada;
(ii) Reconhecimento do estado- um estado para existir no panorama internacional
necessita ou não de ser reconhecido ou não pelos outros estados já existentes.
Por vezes o reconhecimento tem natureza constitutiva, é o passaporte para a
afirmação desse pretenso estado no panorama internacional. O estado já
existe independentemente de os estados já o reconhecerem. Durante o séc.
XIX firmou-se o princípio de natureza declarativa- fez com que o processo de
desconolização permitisse a afirmação das antigas colónias como estados
independentes perante o panorama internacional. Caso do Kosovo;
(iii) Simbolos nacionais- Bandeira e Hino. Não há repetibilidade.

FORMAS DE ESTADO
Têm que ver com a relação entre a comunidade e o poder político. Como é que o
estado dispõe do seu poder em relação ao povo e em relação território? Como é que o
poder está organizado?
Há 2 modelos de estado, qt à forma, qto ao modo de dispôr e organizar o poder em
função do território:
a) Estado simples ou unitário- qd existe unidade de centros de decisão política. Qd
há um centro de decisão política.
b) Estado composto ou estado complexo- é um estado constituído por outros
estados, com vários centros de decisão política, concentra em si um elemento
de aglutinação.

A) ESTADO UNITÁRIO: Pode ser centralizado ou descentralizado. É centralizado se


só existir uma entidade pública. É descentralizado se existirem uma ou mais
entidades públicas- pluralidade. A descentralização pode ter que ver com a
função administrativa- descentralização administrativa, ou descentralização
político- legislativa- dá origem a regiões autónomas mas não dá origens a
estados federados.
B) ESTADO COMPOSTO- pode ter 2 configurações:
(i) Federação- criam-se sempre órgãos novos, estruturas novas
(ii) União real- aproveitam-se órgãos já existentes nos estados membros.
Por outro lado a união real tem sempre uma forma monárquica,
enquanto a federação nem sempre tem forma monárquica. São estados
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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que se juntam para criar um novo estado- REINO UNIDO. Portugal e o
Brasil entre 1815 e 1822.
União Pessoal- Os estados mantém a sua independência. Apenas ocorre que o rei é o
mesmo- Commonwealth. NÃO É UM ESTADO COMPOSTO! Há somente uma mesma
titularidade.

Diferença entre a federação e confederação. Federação é a designação idêntica a um


estado federal. Que assenta na dictomia de um estado federal e vários estados
federados. O federal tem soberania no plano externo. Caso dos EUA ou Brasil. Estados
federados não têm soberania no plano interno. Têm uma constituição própria.
Na confederação, os estados confederados não perdem a totalidade da soberania no
plano externo. A confederação não é a titular da soberania externa- Guerra Civil
Norte-Americana. Atenção que há falsas designações. A suiça- confederação helvética-
mas eles são federação, pois os cantões suiços não tem soberania.

AULA 07/11/16

Análise das formas de estado.


Primeira dictomia que separa o estado unitário e estado composto. Tinhamos ficado
na diferença entre a confederação e a federação. Os estados confederados ainda têm
alguma soberania no plano internacional. Os estados federados só têm soberania
interna e portanto poder constituinte.
Vamos analisar em promenor os estados federados. EUA, Suiça (falsa designação).

O que os caracteriza?
a) Cada cidadão está sujeito a 2 ordens jurídicas- a do estado federado e à ordem
jurídica do estado federal. Com esta particularidade, quem define a fronteira
entre o poder constituinte dos estados membros e a do estado federal é
definida pela constituição federal. Sem prejuízo da teoria dos poderes
implícitos: Se a constituição federal atribui à reunião determinados fins deve-se
atribuir os meios necessários para a prossecução desses fins. A união tem
apliado a sua intervenção à custa dos estados federados que providenciam os
meios necessários;
b) A existência de uma constituição federal- garante a autonomia dos estados
federados e a competência da federação. É a constituição federal define a
“competência das competências”- está a regra primeira da repartição da
competência (entre a união e os estados federados). Com esta particularidade-
a constituição dos EUA estabelece o principio da igualdade entre os estados-
c) tds os estados norte-americanos têm o mesmo numero de representantes- 2
senadores por estado independentemente da dimensão territatorial e
populacional- garante esse princípio de igualdade entre os estados. Diferente
da acção da câmara dos representantes. A circunstância de ter mais poder
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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reflete a igualdade dos estados. Os estados têm um poder autónomo de
revisão constitucional. Verificamos que é um federalismo perfeito.
Diferente do federalismo brasileiro e russo;
d) Dualidade de soberanias- Soberania no plano interno e externo (JEAN BODIN)-
Só o estado federal tem delegações diplomáticas, poder de reclamação
internacional, etc. A representação e soberania no plano externo está toda ela
concentrada no estado federal. Mas a dualidade de soberanias reside na ideia
de que cada estado federado tem soberania no poder interno- pq cada estado
federado tem poder constituinte. 50 constituições e a constituição federal;
e) Não obstante tudo isto, há uma proeminência federal-prevalência federal-
(i) É a constituição federal que fixa os principios a que os estados devem ficar
adstritos;
(ii) Compete ao supreme court a última palavra sobre a constitucionalidade de
circunstâncias;
(iii) A defesa, segurança e relações externas estão nas mãos do estado federal;
(iv) A prevalência do poder federal e do órgão executivo- presidente.

Há ainda quem defenda que entre o estado unitário e estado composto há o estado
regional. É composto por regiões autonómas- há casos em que o estado é composto
integralmente por regiões autonómoas- Espanha; e parcialmente- Portugal. Será que
estamos perante uma nova forma de estado?
Há quem entenda que sim. Que o estado regional fica a meio caminho entre o estado
unitário e composto. Esses autores defendem uma descentralização politico-
administrativa que confere autonomia às regiões:
- Não se pode falar de estado regional, qd não é composto integralmente por regiões
autónomas de descentralização PA;
- os estados federados têm soberania no plano interno e poder constituinte- as regiões
autonómas não têm poder constituinte- os estatutos são leis do estado, não são uma
constituição regional;
- há regiões autónomas que têm mais poder que estados federados- Espanha- As
comunidades autónomas espanholas têm mais poder que os estados federados
brasileiros. As nossas regiões autónomas têm mais poder internacional que certos
estados federados.

Como é que se diferencia uma região autóma das regiões administrativas?- Uma
existe, a outra não existe instituída. As regiões autónomas traduzem uma
descentralização politico-adiministrativas. As regiões admn serão uma mera autarquia
local. Essas regiões mesmo que venham a ser criadas não contribuem em nada para o
conceito de estado regional.

Que tipos internacionais de estado podemos encontrar?

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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a) Estado soberano- nada tem que ver com os estados soberanos anteriores.
Soberania europeízada, globalizada. Um estado soberano é um estado com
personalidade e competência internacional em termos de direito de legação,
de receber e enviar representantes diplomáticos, tem direito de celebrar
tratados e acordos internacionais, tem direito de reclamação internacional,
tem direito a estar representado na ONU e tem o direito de fazer a guerra, em
legítima defesa (un charter).
b) Estado não soberano- os estados federados;
c) Estados semi-soberanos-
(i) Estado vassalo – andorra;
(ii) Estado protegido- na sequência de um empréstimo internacional. É um
protectorado em termos financeiros;
(iii) Estados confederados;
(iv) Estado exíguo- Mónaco- pela dimensão territatorial;
(v) Estado neutralizado- caso da áustria;
d) Falsos Estados- pq podem esconder uma realidade colonial- goa, damão e dio-
falsos estados. Ou o daesh que não é um estado.
Vimos a estrutura do estado.

Agr ver como o estado exerce o seu poder. Temos que ver os fins, funções e poderes
do estado.

Quais são os fins do estado?


1) As necessidades fundamentais políticas. Segurança (HOBBES);
2) Justiça (santo agostinho);
3) Bem estar (mirandola).

1) A segurança pressupõe paz, no plano interno e externo, o estado deve garantir


essa paz e proteger a colectividade, deve recorrer-se à força para alcançar a paz
e a segurança; exige-se estabilidade e continuidade da ordem jurídica e é
contra as rupturas abruptas da ordem- as leis lesivas não podem ser
retroactivas; protecção da confiança- previsibilidade da mudança, a não
prefuração das expectativas- HOBBES;
2) Justiça- SANTO AGOSTINHO- pressupõe que a segurança esteja garantida. É o
primeiro pressuposto da justiça. Está intimamente relacionada com a
igualdade. Pressupõe que a lei seja igual para todos e não haja arbitrariedade
da lei. A justiça tbm pressupõe a correcção das desigualdades- justiça
obrigatoriamente material. A justiça coloca o problema da obediência às leis
injustas- ANTÍGONA.
3) Bem- estar- MIRANDOLA, .. – Bem estar das gerações presentes e das gerações
vindouras. Principio intergeracional. O estado tem de garantir um minimo de

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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existência- ligadas à dignidade da pessoa humana- cláusula constitucional de
bem estar.
- O estado social é o resultado da evolução histórica. A questão é saber se por
razões ideológicas e financeiras se vive a crise do estado de bem- estar;
- está sempre articulado com um principio de subsidariedade- o estado só deve
intervir qd é necessário. Para não retirar a liberdade às pessoas e se
transformar num estado de mal- estar;
- legitimação pelo êxito- está em dar respeito às necessidades da colectividade.
Se um governo não desenvolve uma actividade de satisfação vai deixar de o
ser. Precisa de prosseguir meios para seguir esses fins. Essa actividade que o
estado desenvolve para prosseguir fins desgina-se pelas funções do estado.

FUNÇÕES DO ESTADO- Actividade que o estado prossegue para alcançar os fins.


PAULO OTERO- nem todas as funções do estado se esgotam em funções
jurídicas- dar uma aula não é um efeito de natureza jurídica mas sim técnica;
recorrência a um hospital. Nem toda a actuação do estado é um ato jurídico.

Prestação de bens e prestação de serviços. Função técnica ou função política-


tem a ver com a definição e prossecução do interesse geral por via não jurídica.
Há que reconhecer que a par dito o estado desenvolve uma actividade jurídica.
Pode ser a actividade que tem a ver com a definição jurídica das linhas gerais e
fundamentais do estado- nisto se cosubstancia a função constituinte-tem a ver
com a feitura da constituição.
Funções politicas:
a) Constituinte- feitura da constituição;
b) Constituidas- fazem-se à sombra da constituição:
(i) Legaslativa;
(ii) Administrativa;
(iii) Jurisdicional.
(i) Cosubstancia as opções jurídicas que devem ser obedecidas de forma
imedita pela função administrativa e jurisdicional. São imediatamente
subordinadas à constituição.
(ii) É tudo aquilo que é a função constituida que tem carácter residual. Defina
por exclusão de partes. Tudo o que não é lei e não vem de tribunai é
administrativo
(iii) Tem a ver com a resolução de lítigios.

Nas funções há comunicabilidade. Tbm a natureza jurídica apresenta um


carácter político. Traduzem-se opções legislativas e opções políticas.
Td a actuação jurídica tem sempre fundamento numa competência.
Plasmado num titulo jurídico e num fundamento jurídico.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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AULA DE 08 DE NOVEMBRO- HILLARY DIANE RODHAM CLINTON -PRESIDENT OF THE
USA- POPULAR VOTE (O Autor da sebenta pede desculpa por este aparte mas o seu
amor, respeito, devoção e admiração pela Secretária Hillary Rodham Clinton e a mágoa
de uma eleição lhe foi roubada transcreveu este imperativo de consciência num
imperativo académico de divulgação)

Tínhamos analisado os fins do estado (segurança, justiça, riqueza). O estado


desenvolve atividades para satisfazer os fins do estado. Funções jurídicas e não
jurídicas.
Quais os meios para o desenvolvimento da sua atividade?- SÃO OS PODERES DO
ESTADO
Saber se os meios devem estar num meio de concentração de poderes ou se devem
estar divididos ou separados. É a questão da divisão do poder. ROUSSEAU-
CONCENTRAÇÃO DO PODER- MONTESQUIEU- DIVISÃO DOS PODERES, associados à
liberdade e a esfera dos direitos dos cidadãos e a autoridade do estado.

ÓRGÃOS DO ESTADO
As pessoas colectivas precisam de órgãos para formar e expressar a sua vontade. O
poder político está nas mãos de pessoas colectivas. Mesmo o poder político precisa de
órgãos para expressar a sua vontade- Teoria geral dos órgãos.

O que é um órgão- centro institucionalizado que forma e expressa uma vontade que é
juridicamente imputada à entidade colectiva. Para todos os efeitos, quando a AR
delibera é o estado que delibera, qd o governo decide é o estado que decide. A
actividade exercida pelos órgãos é imputada à realidade colectiva.
Aparecem associadas 4 realidades:
a) Titularidade- Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa. O órgão é passível de ser
titularizado por alguém. Um órgão unipessoal tem um único titular, não é
colegial;
b) Competência- área de poderes e de matérias sobre a qual o órgão pode formar
e expressar uma vontade;
c) Cargo ou mandato- o cargo é o nexo, é o vinculo jurídico que liga o titular a um
órgão (associado à alínea a) ) o órgão é sempre uma instituição- predura
sempre para além do seu titular. O titular é transitório, o órgão é permanente.
d) Imputação jurídica- a vontade expressa pelo órgão é entendida como vontade
da respectiva entidade colectiva. Juridicamente não é a vontade do órgão, é a
vontade colectiva.

Órgão vs agente. Agente é aquele que colabora e auxilia o órgão na formação


da vontade. O órgão é o que forma e expressa a vontade. O agente colabora,
limita-se a executar as decisões da esfera da competência do órgão, está em
posição subordinada, não expressa nem forma uma vontade imputada à
entidade colectiva.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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Órgãos colegiais- formados por uma pluralidade de titulares, para poderem
expressar a vontade, têm de ter um mínimo de membros presentes- quórum. É
sempre metade mais 1. A falta de quórum implica que o órgão não esteja
reunido e todas as suas decisões são nulas. Deteriminado pelo numero de
membros do órgão.
Para que os OC deliberem temos que saber como decidem- por um princípio
maioritário. Mas que maioria? A regra, no sistema português, é a de que basta
a maioria simples. Verifica-se que existe uma maioria simples sempre que uma
proposta recolhe a maioria de votos nesse sentido, não contado as abstenções
para essa maioria. A maioria absoluta pressupõe metade +1. Está dependente
do quórum existente (do nº de pessoas presentes), não está dependente de um
número de titulares de um determinado órgão. Apura-se em função do nº de
titulares presentes.

Há ainda maiorias reforçadas- 2/3, 4/5. Mas a regra geral é a deliberação por
maioria simples.

VICISSITUDES DOS ÓRGÃOS-


a) Atingem a competência;
b) Atingem o titular.

a) Levam ao encurtamento ou ao alargamento da competência. Pode suceder por


uma aplicação de uma norma jurídica. Podem acrescentar-se ou retirarem-se
poderes. Com a extinção de órgãos as competências têm de ser distribuidas.
b) Pode ocorrer uma situação de doença ou ausência do titular. Quem o substitui?
Ou a morte. Ou demissão ou renúncia ou impugnação ou dissolução do
respectivo órgão. Os OC é que podem ser objecto de dissolução. É um vocábulo
específico aplicado aos OC.

Como é que os titulares podem ser desginados?


Pode fazer-se uma dictomia e distinção entre processos não jurídicos e processos
jurídicos de designação dos titulares dos órgãos.
Os primeiros baseiam-se na violência, na agressão, na não observância da ordem
jurídica:
(i) Golpe de estado- alteração das regras de designação dos governantes,
feitos pelos titulares do novo próprio poder. Servem-se do poder para
alterar as regras para se manter no poder. Aproveita-se a circunstância do
poder para à margem do direito o manter;
(ii) Golpes militares- impostos pela força. Substituição de A por B;

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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(iii) Revolução- mais forte de todas. Feitas para subverter, marginalizar e
subjugar as normas constitucionais vigentes. Há uma completa mudança de
paradigma e de ordem axiológica.

NORMALIDADE CONSTITUCIONAL
Há 5 processos de designação dos titulares:
a) Herança- tipo monarquia, adquirido por laços familiares. Sabe-se em vida do
actual titular quem vai ser o novo líder;
b) Nomeação- sempre a designação de um titular de um órgão seja feita por um
titular de um órgão diferente. Ex: PR nomeia o PM;
c) Cooptação- os juízes do TC são cooptados. É a designação de um titular de um
órgão feita pelos titulares do mesmo órgão. A nomeação pressupõe que um
titular de um órgão designe os titulares de outro órgão.
d) Inerência- Qd alguém é titular de um órgão por ser titular de outro órgão. Caso
dos conselheiros de estado.
e) Eleição- designação dos titulares através do voto popular.

Leva ao sistema eleitoral- conjunto de normas que disciplinam os atos eleitorais.


Há uma pluralidade de sistemas eleitorais. Há 2 relações envolvidas com o sistema
eleitoral:
a) O sistema eleitoral condiciona o sistema partidário;
b) Os dois condicionam o sistema de governo.

Quais os principais sistemas eleitorais:


a) Maioritário;
b) Proporcional;
c) Misto.

a) Sistema maioritário- O candidato ou a lista que vence numa determinada


circunscrição eleitoral leva à totalidade dos representantes dessa circunscrição.
A lista mais votada é a única que vai ter representantes daquela circunscrição-
determina a reduzida representativade partidária parlamentar- não prevê a
representação das minorias e dos vencidos. Há duas modalidades:
(i) Sistema maioritário com sufrágio uninominal- um deputado por cada
círculo, só uma pessoa pode ser eleita- RU, determina o bipartidarismo e a
dificuldade da representação parlamentar de outros partidos.
(ii) Sistema maioritário plurinominal- há vários deputados por cada círculo.
Pode conduzir à diminuição do pluralismo. Não é proporcional!!! É
maioritário com vários grandes eleitores- colégio eleitoral, constítuido pelo
número de senadores de cada estado (sempre 2)+ x representantes, em
função da dimensão territatorial e populacional do estado. Mas o winner

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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takes it all- USA, com excepção de alguns estados federados (que
apresentam um sistema não maioritário mas sim proporcional).

O sistema maioritário pode ser maioritário:

a) A uma volta- RU- 1 deputado por cada circunscrição- basta a maioria simples-
modelo tbm norte-americano- tradicionalmente uninominal.
b) A duas voltas- Em frança há um sistema maioritário a 2 voltas. 50% mais 1. Caso
contrário à outra volta com os 2 mais votados. Na 2 volta ganha quem tiver
mais votos- maioria simples- tbm aplicado a sistemas maioritários uninominais
contudo vigora a exigência de uma maioria absoluta para a eleição, não
havendo a representação dos vencidos, da minoria.

b) Sistema proporcional
No sistema eleitoral proporcional deve existir correspondência entre o número de
votos e os eleitos. Ao contrário do sistema maioritário, garante a representação
dos vencidos e das minorias, e pressupõe a susceptibilidade de existir um
multipartidarismo assente numa múltipla e pluripartida representação
parlamentar. Só existe vigorando sistemas plurinominais. Pressupõe sufrágio
plurinominal, que garanta a representação das minorias. O risco é a condução ao
multipartidarismo. Enquanto que o sistema maioritário é perigoso por não
reprentação das minoriais o sistema proporcional conduz a instabilidade
governantiva devido ao multipartidarismo, que pode levar a uma instabilidade
governativa e bloqueios à acção do governo por via legislativa. O sistema eleitoral
Português é plurinominal, pressupõe a concorrência de diversos deputados a uma
mesma circunscrição eleitoral e é um sistema proporcional já que garante a
representação dos vencidos e das minorias, pois o winner doesn’t take it all, ao
contrário do sistema maioritário, havendo neste caso uma correspondência entre o
voto popular e a eleição, segundo o método de representação proporcional de
Hondt.

c) Sistema Eleitoral Misto


Duplo voto- num vota-se no deputado que servirá para uma circunscrição eleitoral
(é um circulo uninominal). Tem outro voto, a nivel nacional, que é plurinominal. É o
caso do sistema alemão. Há uma complementaridade entre características do
sistema maioritário e do sistema proporcional. Prevê tbm a representação das
minorias e dos vencidos.
O sistema eleitoral determina o sistema partidário existente. Por exemplo, repare-se
no caso britânico, preponderantemente bipartidário- Conservadores e Trabalhistas,
devido ao sistema eleitoral a uma volta, de eleição directa de 1 deputado por cada
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circunscrição eleitoral. Cria pouco espaço para a representação parlamentar de
partidos não tradicionais.
O sistema eleitoral português, baseado na eleição de listas à AR, com vários deputados
por cada circunscrição, eleitos com representatividade nacional, segundo o método de
Hondt, determina um pluralismo partidário.
O sistema eleitoral norte-americano, para o presidente, por via do colégio eleitoral,
determina uma competição entre Democratas e Republicanos para esse cargo,
verificando-se que os third party candidates usualmente não têm representatividade
no colégio eleitoral já que não há proporcionalidade entre o voto popular e o número
de delegados eleitos, verificando-se que esses candidatos por não terem nunca a
maioria de votos num estado não terão representação no colégio eleitoral.

Actividade decisória do Estado


A actividade decisória do estado está vinculada ao Art. 266º da CRP. Está sujeita ao
principio da juridicidade- o poder está submetido ao direito. Daí advém como já vimos
o Estado de Direito formal ou Estado de Direito Material, diferindo ambos na base da
soberania jurídica que tenham. (reconheça-se a definição de soberania de JELLINEK-
Soberania é o poder de autovinculação e auto-determinação; e a distinção de
Soberanias de JEAN BODIN- soberania na ordem externa e soberania na ordem
interna). Está subordinada à legalidade e à inconstitucionalidade, está subordinada à
prossecução do interesse publico, igualdade, respeito pelos direitos e interesses das
pessoas, da imparcialidade, da justiça, da proporcionalidade e da boa-fé.

A actividade decisória do estado é exercida por entidades privadas algumas vezes- é o


exercicio privado de funções publicas- contrato de associação. Ou os concessionários.
Os partidos políticos- entidades privadas que exercem funções de natureza pública.

Como é que o estado decide?


Normalmente decide sobre a égide do direito público mas tbm é possível decidir por
via do direito privado. Normalmente decide por via de uma manifestação unilateral,
mas tbm pode ser geral e plural- actos administrativos, sentenças, leis medida (actos
legislativos para resolver casos concretos). Por vezes o estado conjuga a sua vontade
com outras vontades- estamos perante formas bilaterais de decisão:
a) Contratos celebrados com o estado;
b) Convenções internacionais celebradas com outros estadoe e organizações
internacionais.
Deve-se à sua adstrição às normas do ius cogens e à vigência de um Estado de Direito
Material.

Aula de 14/11/16

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
Limites ao poder do estado e mecanismos do controlo do estado. É ou não possível a
limitaçao do poder do estado?
a) Uns dizem que é impossível limitar o poder do estado. O estado é uma
entidade soberana e a soberania é por naturezqa ilimitada. Se ela é limitada
não é soberania. Há uma impossibilidade e mutua exclusividade. Vimos que é
falso pq o estado pode sempre criar mecanismos em que de acordo com a sua
própria vontade estava limitado;
b) Entendem que a limitação do poder é desnecessária. É o desenvolvimento da
ideia do platão. O gov é o do filósofo que é o sábio e portanto não precisa de
uma limitação do poder. Tbm a concepçção de roussau que aborda a soberania
popular e vontade geral que plasma na desnecessidade da limitação do poder;
c) Identificação do direito com o estado- KELSEN- td o direito é proveniente do
estado e td o estado produz sempre direito. Tbm não é bem assim: é verdade
que td o estado gera direito mas nem td o direito vem do estado.
Como resolver o problema da limitação do poder?

(i) O estado está limitado por valores e por principios juridicos que
transcendem a sua vontade, estão acima do estado. Esses valores, esses
princípios que vêm de fora, vinculam e impõem-se ao estado. É a ideia da
indisponibilidade desses principios.
(ii) O estado está tbm vinculado pelo direito que ele próprio cria. Não de todo
mas de parte substancial desse próprio estado. Esse direito existe com a
configuração que a cada momento o estado intende dar. O estado tem a
disponibilidade da alteração do direito. A ideia da reversibilidade das
soluções- zakarbelsky. É direito disponível. É uma manifestação de auto-
vinculação.
(iii) O estado não está apenas limitado pelo direito. Há limites não jurídicos.
Limites éticos. Ordem normativa limitativa dos governantes. Normas de
cortesia constitucional. Há atos de natureza política que limitam a atuação
dos governantes.

Algumas interrogações. Haverá um direito acima da vontade dos estados?


Sim. Pq:
a) Há direito internacional público vinculativo a todos os estados- ius cogens (que
integra uma série de textos constitucionais fundamentais ractificados por um
elevadíssimo número de Estados Soberanos e Semi-Soberanos (confederações),
tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal
dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a UN Chartter, a Convenção de
Viena, etc);
b) Há normas e principios fundamentais que correspondem à consciência jurídica
geral que alguns não estão positivados mas se impõem a todos os estados-
relativos a direitos sociais e direitos humanos, associados a uma consolidação

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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histórico-filosófica de conceitos de protecção da pessoa humana e a sua
dignidade (KANT);
c) Há para certos estados mecanismos que se impõe aos estados por via de
processos de integração supranacional- união europeia e o seu direito que é
heterovinculativo- o controlo fiscalizador sobre orçamentos de Estado.
Com uma particularidade. O direito da EU é heterovinculativo de base
autovinculativa. Os estados decidem aderir e ficar adstritos.

Outro limite ao poder do estado é a constituição:


A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA FUNDAMENTAL.
Todo o direito produzido pelo estado tem que ser conforme com a constituição. É por
isso que ela é um limite ao poder do estado. É um limite às funções constituídas do
estado. A feitura das leis, a actuação das administrações e as decisões judiciais têm de
estar conformes a constituição.

A legalidade tbm é um limite do poder do estado. Ao poder administrativo e judicial.


Todos estes são limites jurídicos.
Mas há limites jurídicos não positivados: COSTUME. E há limites éticos (ERASMO DE
ROTERDÃO).

Costume:
a) Origem constitucional;
b) Origem internacional;
c) Contrário à constituição (contra legem/ contra constitucieum). Há quem diga
que é inconstitucional- inválido. A ver do Prof não é adequado. Otero defende
que torna inaplicável a aplicação da norma escrita. O costume fará parte de
uma constituição não escrita, não formal, que pode ser contrária ao que está
na constituição formal.
A concepção do Prof. Doutor Paulo Otero, defende que há 2 constituições: uma
constituição oficial e formal, escrita, positivada e uma constituição não oficial,
não escrita, plasmada numa ordem axiológica transcrita no costume e na
vinculatividade do precedente constitucional. Desta forma defende que um
costume contra constitucieum determina a inoponibilidade e inaplicabilidade
da norma escrita. A não oficial derroga tacitamente a escrita, há uma
hipervaloração do precedente em função da sua importância e do seu valor
histórico ( à luz de BURKE e MAISTRE).

Limites não jurídicos:

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(i) Jogo democrático. Articulação, o jogo dialético entre partidos do governo e
partido ou partidos da oposição é limite da ação governativa. O debate na
opinião público, o debate na acepção parlamentar.
Grupos de interesse. Diferente do partido político. Um visa influenciar o
poder, visa mobilizar e angariar quem está no poder para satisfazer os seus
interesses. O poder político visa conquistar o poder. Há mts vezes um
conflito cruzado de grupos de interesses. Esta concorrência tbm limita o
poder. O efeito dos lobbies.

(ii) Opinião pública- influencia a decisão em vésperas de eleições. Tbm é


plasmada nos estudos da opinião pública- sondagens.
(iii) Os meios de comunicação social- são o quarto poder. São de
preponderância relevantíssima. Todas as democracias seriam mt diferentes
se eles não existissem.

MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE CONTROLO DO PODER:


A) Intraorgânicos- interiores aos respectivos órgãos;
B) Interogânicos- orgãos a controlar outros;
C) Extraorgânicos- controlo feito sobre os órgãos por partes externas.

A) Intraorgânicos-
(i)- mecanismos no interior do parlamento;
(ii)- no interior do executivo;
(ii)- nos tribunais.

(i) Mecanismos de controlo intraorgânico do poder- por exemplo o


bicameralismo. O caso norte-americano (caso de bicameralismo simétrico):
- as maiorias qualificadas. Tornar mais difícil a aprovação da lei. A questão da
existência de algumas maiorias de 2/3. Limita a vontade da maioria do parlamento;
- organização interna do parlamento- composição da mesa do parlamento. Há
divisão é feita segundo os partidos mais votados;
- a ordem do dia- há possibilidade de iniciativa pela oposição, há possibilidade
potestativa das comissões de inquérito e em matéria de investigação parlamentar,
os partidos ou o partido da oposição, em sede própria de parlamento realizam e
efectivam actividades de fiscalização parlamentar;

(iii) Mecanismo de controlo interorgânico do poder.


Executivo Monista v. Executivo dualista. Diferem na responsabilidade dos órgãos
perante os outros.
Executivo dualista. Não apenas protagonizado pelo governo mas tbm é pelo
presidente da república, depende da sua acção. A possibilidade de veto. Há ainda a
necessidade de referenda ministerial. Compete ao PM indicar o nome dos
ministros, tendo de ser aceites pelo PR;
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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- governos de coligação:
a) em que os membros da coligação que suportam o executivo no parlamento e
integram o governo;
b) governo monopartidário- gerigonça;
c) todos os atos do governo que envolvam assuntos financeiros têm de ser
assinados pelo ministro das finanças.

(ii)- limitação do poder judicial.


- estrutura colegial dos tribunais, se há várias pessoas a decidirem então a
decisão aprova-se e vigora por via da maioria;
- os juízes estão sujeitos a controlo disciplinar. O princípio da dupla instância.
Significa que por via de regra, por decisão judicial cabe sempre a possibildiade
recurso dos processos.

Observemos agora mecanismos de controlo interorgânicos.

B) Controlo interogânico:
(i) Mecanismos de controlo político;
(ii) Mecanismos de controlo jurídico.

(i) O governo pode ser controlado pelo parlamento por 3 mecanismos.


a) Pode retirar a confiança política ao governo, aprovando uma moção de
censura e rejeitando uma moção de confiança. A aprovação da censura
e a rejeição da confiança, emanados primeiro do parlamento o segundo
do governo, implicam a sua demissão;
b) O parlamento pode aprovar o impecheament. Típico das características
da impugnação;
c) Mecanismos normais- questões e interpelações ao governo, criação de
comissões de inquérito;
d) A confirmação no senado dos secretaries;
e) Aprovação ou não do orçamento.
Será que o governo pode controlar o parlamento? Sim. Como?
a) O governo pode desencadear iniciativa legislativa no parlamento. Pode dizer o
que quer que o parlamento aprove;
b) Pode pedir urgência na intervenção do parlamento;
c) O actual sistema francês pode desencadear o designado voto bloqueado. O gov
apresenta uma proposta de lei. Os deputados da maioria podem estar em
discordância. Se votarem a favor dão confiança política, se não retiram e são
dissolvidos e provocam a demissão do seu próprio governo. Ainda tem outra
habilidade. O gov apresenta propostas de lei, os deputados tbm as podem
apresentar. O gov pode tomar a decisão governamental sobre o procedimento
legislativo parlamentar. Ou votam aquilo que o gov propõe ou é tudo rejeitado.
O gov do RU pode pedir ao monarca a dissolução do parlamento. Lei e decreto-
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lei de igual valor hierárquico ao nível da revogação. Um decreto-lei do gov pode
revogar uma lei da AR;

C) Controlo jurídico.
- fiscalização da constitucionalidade e da legalidade;
- a responsabilidade dos políticos na vinculação da lei.

MECANISMOS EXTRAORGÂNICOS DE CONTROLO-


- o controlo é feito por eleições periódicas;
- direito de resistência.

AULA DE 15 DE NOVEMBRO DE 2016

Vamos hoje iniciar a matéria respeitante às instituições do estado.


A primeira referência diz respeito às matrizes ideológicas ocidentais, do pós- revolução
francesa:
a) O liberalismo;
b) O conservadorismo;
c) O socialismo.

a) LIBERALISMO- tem como filosofia de base que tudo o que restringa a liberdade
individual deve ser eliminado. Faz da liberdade a condição essencial do ser
humano, é a base do constitucionalismo do séc XIX. Valoriza a liberdade
individual, a garantia dos direitos e liberdades dos cidadãos e da divisão do
poder. É a génese do constitucionalismo francês, liberdade e defesa da
propriedade. LOCKE E BENJAMIN CONSTANT. A ligação que há entre a
liberdade e a abstenção do estado. HUMBOLDT- qt maior a abstenção do
estado, maior a liberdade- ADAM SMITH e a mão invísivel:
(i) Individualismo;
(ii) Estado mínimo;
(iii) Crença absoluta no valor do mercado:
(iv) Propriedade privada como um direito sagrado, como um direito natural.
É o resumo do liberalismo do séc. XIX. No séc. XX continuam-se 2 momentos:
a) Até à primeira guerra mundial que gera a great depression e torna-se vísivel a
insufiência do mercado a instituição das políticas Keynsianas. Expressão da
falência do modelo abstencionista do estado.
b) 2 guerra e pos: Só nos anos 70 e 80 é que ressuscitamos o liberalismo- com o
neoliberalismo. Este neoliberalismo visa 3 propósitos:
(i) Redução do peso económico do estado- privatizações;

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(ii) Desregulação e autoregulação- deve-se retirar da disciplina jurídica de
certas matérias, eles deverão regular certas matérias. Os interessados
disciplinam os próprios as matérias;
(iii) A defesa do livre-comércio internacional- um mundo sem fronteiras
económicas.
b) CONSERVADORISMO- herdeiro do estado pré-liberal e está ligado às
concepções contra-revolucionárias- reage às alterações impostas na RF.
Resistência à mudança e à evolução.
(i) Importância da história e da tradição (recupera-se BURKE). Importância
da noção de pátria e cultura;
(ii) Importância da autoridade e poder;
(iii) Valorização da segurança e ordem pública;
(iv) Preferência pela liberdade em vez da igualdade;
(v) Garantia da pprivada;
(vi) A importância da religião e da moralidade judaica-cristã e a sua ordem
axiológica.
Que tipos de conservadorismo encontramos?
1) Conservadorismo contra-revolucionário: aposta nas concepções legitimistas-
partidários de D. Miguel;
2) Conservadorismo restauracionista- tem que ver com o que está na génese da
restauração dos Borbouns em França e está na génese na Carta Constitucional
de 1814 (frança) e carta constitucional portuguesa (1826);
3) Conservadorismo nacionalista: movimentos pós I guerra, anda de braços com
modelos totalitários e absolutos- itália fascista- benito mussolini;
4) Conservadorimo neo-liberal- THATCHER- signfica a confluência do pensamento
conservador e liberal;
5) Conservadorismo protecionista- TRUMP- contrário ao livre-comércio.

c) SOCIALISMO- surge para combater o liberalismo.


(i) Preferência da igualdade sobre a liberdade (Roussau);
(ii) Preferência da p colectiva em detrimento da pprivada;
(iii) Preferência pela intrevenção do estado relativamente ao
abstencionismo de humboldt;
(iv) Economia dirigista e central em detrimento da economia de mercado.
Tem em comum a centralidade do poder do estado. Sobretudo no modelo económico.
Podemos encontrar historicamente 4 manifestações do pensamento socialista:
1) Marxista- leninista- revo russa de 1917 e do constitucionalismo soviético (ainda
no caso de Cuba);
2) Socialismo maiosta- Mao Tsé-Tung, na base da república popular da china. Com
manisfestações ainda na coreia do norte e outra que vigorou na Albânia;
3) Socialismo democrático-
a) Aceita o capitalismo;
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b) Aceita o pluralismo e é contrário à ditadura do proletariado;
c) Tem uma preocupação social- determina a intervenção do estado;
d) A intervenção económica, salvaguardando sempre a iniciativa económica
privada- economia de mercado mista, com componente social.
Assistiu-se nos anos 90 que o neo-liberalismo ingeriu-se no pensamento socialista.
Aquilo que assistimos hj são reações contrárias ao neo-liberalismo.
4) Socialismo populista- tem uma manifestação institucionalizada- Venezuela, e
alguns partidos europeus com uma tendência socialista- PODEMOS em
Espanha.

Podemos verificar que em termos de modelos políticos- constitucionais há 2 grandes


modelos:
a) Pluralista;
b) Totalitário e não plutalista.

A) PLURALISTA:
(I) Reconhecimento da importância da tutela dos direitos fundamentais
pelo estado;
(II) Os principais titulares activos do poder político são designados por via
de sufrágio universal;
(III) A importância dos partidos políticos- é um modelo de estado de
partidos: estado em que os partidos têm tres funções:
a) Função de representação política- as grandes correntes ideológicas
são representadas por partidos políticos;
b) Função da fiscalização política do governo.
c) Há tbm um fenómeno subversivo- colonização partidária do estado.
Importância da oposição. Não há modelo representantivo sem a
oposição. Exemplo político chave- RU- governo sombra.
(IV) Hierarquia de normas jurídicas, controlo jurídico;
(V) Controlo pelos tribunais da actividade jurídica do poder- não há modelo
pluralista sem controlo judicial do poder.
Importância da democracia representantiva que pressupõe sufrágio universal e
periódico e secreto, sublinhar a existência excepcional da democracia directa- nas
freguesias com menos de 200 eleitores e existe em cantões suiços de reduzida
população, sublinhar dois mecanismos de ação democrática semi-directa:
a) Referendo;
b) Inciativa popular.

SISTEMAS POLÍTICOS DE GOVERNO:


1) Sistema Parlamentar:
a) Existência de um gov que é um órgão autónomo face ao chefe de estado;

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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b) Gov é formado tendo presente a composição do parlamento- o gov nunca pode
ter contra si a desconfiança da maioria do parlamento- acentua a intíma ligação
entre a formação do gov e a composição do parlamento;
c) Não há sistema parlamentar sem responsabilidade política do gov perante o
parlamento. Se o parlamento retira a confiança o gov é demitido.
Surge historicamente na grã-bretanha no séc. XVIII- com o surgimento do Primeiro-
Ministro, que efectiva a ligação entre o parlamento e o monarca. O rei passa a nomear
o PM quem tem a confiança do parlamento, para evitar a responsabilidade criminal do
gov.
Tipos de sistema parlamentar:
(i) Monista- o gov só é responsável polítcamente perante o parlamento;
(ii) Dualista- tem dois centros de responsabilidade política do governo, é
responsável pelo parlamento e pelo chefe de estado.

Centremos a atenção em (i) sistema parlamentar monista:


a) Sistema parlamentar de gabinete- THE CABINET- ascendente do gov perante o
parlamento, é típico do gov britânico- resume-se na frase do prof. MARCELO
CAETANO- o parlamento é a principal instituição política- primado do
parlamento. Dentro do parlamento a câmara dos comuns prevalece sobre a dos
lordes- primado da câmara dos comuns, dentro da câmara dos comuns a força
da maioria a força da maioria em relação à oposição, dentro da maioria manda
o gov, dentro do gov manda o gabinete, dentro do gabinete manda o primeiro-
ministro que é simultanêamente líder do gov e da mairoia ( presidencialismo do
primeiro ministro). Deriva do sistema bi-partidário- significa que
tencionalmente o eleitorado se expressa em dois grandes partidos
(Conservador e o Trabalhista). Pq um modelo bi-partidário? Depende do
sistema eleitoral- é unitário a uma volta que tende a que se esgotem as opções
tencionalmente em duas frentes. Por outro lado os governos são
tendencionalmente gov de legislatura. Na práctica o parlamento raramente
aprova uma moção de censura. Pq o PM podia pedir a dissolução da câmara
dos comuns. Em 2011 foi aprovada uma lei que entrou em vigor em 2015 que
diz fundamental que a legislatura tem a duração de 5 anos (antes era 4 mas a
constituição é costumeira, logo a lei posterior revoga o costume), prevê ainda a
aprovação de uma moção de censura, ou aprovação do entendimento que a
câmara deve ser dissolvida. O PM perde o poder formal de pedir a dissolução
do parlamento. Como se ultrapassa esta impossibilidade jurídica do processo
de dissolução: apresentação de uma moção de confiança e pedido do líder para
que os próprios deputados não votem a favor. Sublinhar ainda o estatuto
priveligado do gov sombra;
b) Sistema Parlamentar de assembleia- sistema paralamentar:
(i) Supermacia do parlamento sob o gov- conduz a uma instabilidade
governativa. Os gov sucedem-se dentro da mesma legislatura. No
gabinete é 1 por legislatura.
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(ii) Multipartidarismo desorganizado- o gov depende da sua sobrevivência
do dia a dia no parlamento. O poder de dissolução é mts vezes usado
para ultrupassar impasses governativos- para se tentar encontrar uma
nova maioria, uma nova solução governativa- tem expressão na III
republica francesa de 1845 e em 1955, IV repu Francesa;
c) Parlamentarismo Racionalizado: Procura evitar os inconvenientes do
parlamentarismo de assembleia. Visa limitar a intervenção do parlamento sob
o governo, em censários onde não há bipartidarismo. O propósito da
racionalização é garantir a estabilidade governativa. Como é possível?
A constituição alemã de 1949 e a constituição espanhola de 1978 introduziram
a MOÇÃO DE CENSURA CONSTRUTIVA- qd um partido quer derrubar um gov,
não basta apresentar uma moção de censura, tem de apresentar um candidato
para PM- tem logo uma alternativa- evita os cenários de maiorias negativas- os
partidos entendem se para derrubar o gov mas não há consenso para o
próximo líder.
Em portugal existem mecanismos de racionalização:
a) Apresentação de um prazo de pensamento para a votação do derrube do
gov;
b) Existência de um n minimo de deputados. Os deputados que apresentam
uma moção que foi rejeitada não podem apresentar uma nova moção;
c) Exige-se uma maioria absoluta para a aprovação da moção de censura;
d) Não impôr para que o gov entre em funções não precisa de uma aprovação
do programa- a votação é pela negativa. Basta não ser rejeitado o programo
(ao invés do modelo espanhol).
B) Sistema dualista:
a) Orleanista;
b) Semi-presidencial
a) Origem na CC francesa de 1830 de luis filipe de Orleães.
(i) Dupla responsabilidade do gov perante o rei e perante o parlamento. Basta
um retirar a confiança para que o gov seja demitido;
b) O chefe de estado é presidente da república e tem legitimidade- conjugação de 2
legitimidades. É por isso que o sistema portugues não pode ser considerado semi-
presidencial pq o gov não é responsável pelo PR;
(I) Tem poder de veto político;
(II) Tem poder de dissolução do parlamento- é descricionário;
(III) Pode demitir o PM por falta ou quebra de confiança política
Na V republica francesa o sistema é hiperpresidencialista.

AULA DE 21 DE NOVEMBRO DE 2016

Tínhamos concluído o sistema parlamentar.


Vamos começar com o sistema presidencialista. Caracterísitcas:
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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a) O presidente é simultaneamente chefe de estado e chefe de governo;
b) Não existe o governo como um órgão autónomo do presidente da república- há
o presidente e os seus secretários de estado- não há responsabilidade política
parlamentar;
c) Casamento sem divórcio- nem o presidente pode dissolver o congresso nem o
congresso pode destituir o presidente por razões de natureza política.
O sistema EUA evoluiu ao longo dos anos. Temos no centro da reflexão:
(i) Constituição de 1777, surgiu com inspiração britânica e a centralidade que
o rei tinha no séc. XVIII, transportada na figura do presidente;
(ii) O sistema baseia-se na separação de poderes: freios e contrapesos- o
presidente tem o poder executivo, o congresso o poder legislativo, os
tribunais o poder judicial. Como se equilibram:
a) A lei so é lei com a intervenção do POTUS, reconhecer o veto, absoluto.
A promulgação ou veto são claros sinais da limitação do poder-
MOSTESQUEIU- poder de estatuir e poder de impedir- estatui o
congresso, impede o presidente;
b) O executivo só consegue nomeações com a aprovação do congresso.
c) A aprovação do congresso para o Orçamento- importância do congresso
na decisão da administração;
d) Os tribunais existem para aplicar as leis- não podem susbtituir a
vontade do legislador à sua intrepretação. Estão limitados. O POTUS
designa os juízes federais, com intervenção do senado.
Íntima ligação com o pensamento de Monstesquieu.
Está tbm relacionado com a forma de estado- forma federativa de estado:
a) Alteração e revisão constitucional- com a intervenção do congresso e a
rectificação dos estados;
b) Distribuição dos representantes- senado e house of representantives e
bicameralismo assimétrico;
c) Tbm a forma de estado se repercute na eleição do POTUS.
Há modelos de presidencialismo adulterado- há um desiquílibrio do poder do
presidente- modelo brasileiro, modelo russo, a estrutura federativa esvai-se perante o
ascendente do presidente, e os sistemas que escondem modelos ditaturiais.

Sublinhar ainda que o presidencialismo norte americano teve repercusão na europa-


França 1848- Luis Napoleão- eleito presidente de frança e será proclamado imperador.
Génese da I guerra mundial.

Portugal assumiu um sistema presidencialista na altura de Sidónio Pais, antes de 1926.

MODELO FRANCÊS- V REPÚBLICA


1) A V república foi criada pelo General De Gaulle- herói da II guerra mundial e
que liderou a resistência da ocupação alemã.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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2) (i) É uma constituição feita com grande inteligência- está pensada para a
existência de um Presidente e de uma maioria política do parlamento
sintonizada com o mandato do Presidente. O Presidente da República é
simultanemanete Chefe de Estado e chefe da maioria parlamentar (à
semelhança do PM BRITÂNICO)- tem as vantagens somadas de características
do POTUS e do PM UK, sem os inconvinientes de cada qual- NÃO É CHEFE DO
GOVERNO- o pm é o chefe de governo, mas como o PR é líder da maioria
parlamentar é quem escolhe o pm, significa que o pm é um lugar subjado ao do
PR- é um instrumento nas mãos do PR- se as coisas correm bem ao governo o
mérito é do PR, se as coisas correm mal a culpa é do PM.
(II)- A constituição não permite que o PR demita ao PM mas pode demiti-lo
pelo facto de ser chefe da maioria parlamentar- o general De Gaulle só
nomeava o pm que assinasse uma declaração póstuma de demissão;
(II) tem as vantagens do POTUS:
a) Tem poder de veto;
b) Quem preside ao conselho de ministros é o PR, por isso a designação do pm era
presidente do conselho de ministros, contudo a partir de 1958 quem presidia
ao conselho era o PR daí a desginação de pm;
c) Pode instrumentalizar ao cumprimento da sua vontade, os membros do
executivo.
(iii) Tem as vantagens do PM britânico:
a) É chefe da maioria parlamentar;
b) Pode dissolver o parlamento;
c) Se o parlamento lhe cria obstáculos- ou dissolve o parlamento ou
convoca um referendo.
Não pode ser demitido por perder a confiança interna do partido.

Tbm não está sujeito aos inconvenientes do POTUS: pode dissolver o parlamento e o
POTUS não pode dissolver o congresso; o PR participa no processo da revisão
constitucional, o POTUS não, o mandato do PRF é maior que o do POTUS; o PR pode
ainda exercer poderes excepcionais- estado de excepção constitucional.

É um sistema hiperpresidencial.
O modelo francês pode funcionar de forma diferente em casos de coabitação. Qd a
maioria parlamentar não é a maioria política do presidente francês. Aí têm de co-
existir duas maiorias. O presidente não pode demitir o governo mas pode fazer 3
coisas:
a) Dissolver o PR qd entender;
b) Pode vetar os diplomas provenientes do parlamento;
c) Ainda assim quem preside ao conselho de ministros é o PR,o que significa a
ordem do dia do cm é ditada pelo presidente.
SISTEMA DIRETORIAL

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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Surgiu com a constituição francesa de 1755, adotado hj na Suíça.
Características:
a) É o mais próximo do presidencial;
b) Existência de órgãos colegiais no executivo, não é unipessoal;
c) Não há verdadeiramente uma figura do chefe de estado;
d) Concepção rígida da separação de poderes;
e) O órgão executivo está a cargo de um órgão colegial- o directório, assumida
rotativamente a presiência;
f) Não há responsabilidade política do órgão diretório relativamente ao órgão
parlamentar- o parlamento tbm não pode ser dissolvido pelo diretório-
semelhança aos EUA
SISTEMA CONVENCIONAL
Sistema de assembleia:
a) É a materialização do pensamento de Roussau, democracia radical;
b) Rejeita a separação de poderes, defende a concentração do poder legislativo e
executivo numa assembleia ou designada tbm de convenção;
c) Esta convenção exerce a totalidade dos poderes por delegação do povo;
d) Todos os órgãos do estado emanam desta assembleia ou convenção-
expressam a vontade da assembleia.
Teve 2 concretizações históricas- sistema jacobino e no constitucionalismo soviético- é
herdeiro deste modelo de base convencional.

Paralelamente a estes modelos é importante referir que há ainda no pós-revolução


francesa há sistemas de governo cuja origem histórica é anterior ao liberalismo e é
anti-liberal. Tbm podemos encontrar modelos de raiz liberal:
a) Monarquia limitada- reação contra a revolução que pretende reforçar o papel
do monarca- concepção de BENJAMIN CONSTANT- está plasmado na cc
francesa de 1814 e cc portuguesa de 1826.
(i) A fonte do poder constituinte está no rei que outorga a constituição do
poder constituinte deve-se à dinvidade do rei, consagra a divisão de
poderes, concede DF aos súbditos- ele autolimita o seu poder por via da
CC;
(ii) A lei só é lei através da conjugação de 2 vontades: a das cortes
(parlamento) e do rei que sanciona (nada pode obrigar o rei a
promulgar- direito de veto absolutíssimo);
(iii) O poder executivo está nas mãos do monarca que o exerce através dos
seus ministros que são responsáveis perante a lei;
(iv) Os tribunais emanam sentenças em nome do rei;
(v) Tem participação no poder legislativo como ainda tem outro poder
exclusivo que é o poder moderador- acima dos demais poderes,
confere-lhe a chave da organização política;
(vi) Ainda tem uma competência residual- compete ao rei fazer tudo o que
a constituição não atribui a outros órgãos.
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
Há ainda outro sistema de governo pré-liberal:
Governo cesarista- é na práctica de matriz liberal mas legitimado através de
pbebiscitos. É o que está na génese do modelo de napoleão- 1789, 1802 e 1804.

Governo de chanceller
1871- constituição alemã
1) O executivo está concentrado no chefe de estado, mas acontece que o chefe de
estado não exerce os poderes directamente- encarrega um ministro da sua
exclusiva confiança para exercer esses poderes- chanceller, que executa a
vontade do chefe de estado;
2) É políticamente responsável apenas perante o chefe de estado, compete ao
chanceller designar os outros membros do gov, que só são responsáveis
perante o chanceller.

CONSTITUIÇÃO
Vista como ato jurídico e à luz das normas constitucionais.
A ideia tradicional da constituição resume-se no fundo a 3 notas:
a) A crp expressa a unidade axiológica do sistema jurídico. É a síntese de valores
do sistema jurídico;
b) Tem uma força jurídica prevalecente- todos os actos jurídicos têm de ser
conformes com a crp, caso contrário serão inconstitucionais, ocupa o topo na
hierarquia;
c) É expressão do monopólio do poder constituinte do estado.
Atenção que nem sempre a constituição é o topo da hierarquia das normas, e não é
apenas o texto escrito. Pode ser um conjunto de costumes e convenções- o modelo
eua dá palavra aos tribunais. A constituição não formal é prevalecente em alguns casos
à constituição formal.

Aula de 22 de novembro de 2016- última antes da frequência

Falámos dos elementos que caracterizam a constituição. É a expressão da unidade


jurídica e do monopólio decisório do estado.
O constitucionalismo britânico e norte-americano mostram que nem sempre é
necessária uma constituição escrita e formal. O texto constitucional que é
compromissório, que resulta do acordo entre várias forças políticas, pode tbm dar
origem a que existam princípios contraditórios dentro da mesma constituição.
1º exemplo) A CRP é utilizada para quem defenda a IVG e a criminalização da IVG;
2º exemplo) A CRP plasma argumentos favoráveis e desfavoráveis ao casamento entre
indíviduos do mesmos sexo.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


DAS AULAS TEÓRICAS DO PROFESSOR DOUTOR PAULO OTERO- DIREITO CONSTITUCIONAL I-
2016/2017
O 1º limite da constituição- A complexidade da ordem axiológica da Constituição;
A constituição não é só o elemento escrito. Ela é permeável à factualidade- os factos
podem tornar-se normas; os factos reiterados que ganham convicção de juridicidade
vigorarão como normas- caso do costume- tem a capacidade de tornar inaplicáveis as
normas escritas.
Em cada país há sempre uma constituição oficial e não oficial- é efectiva e não oficial.
Muitas vezes essa constituição não oficial pode ser o produto da jurisprudência dos
tribunais- exemplo do Supreme Court of The USA. Isto para chamar a atenção para a
existência de desenvolvimentos informais da constituição.
Há 2 poderes constituintes:
a) Formal- tem intencionalidade na respectiva gestação, tem um procedimento de
feitura e expressa-se no ato escrita. Pode estar nas mãos do rei, qd outorga a
CC ou no parlamento qd aprova a Constituição ou nas mãos do eleitorado- em
casos de referendo;
b) Informal- reside na sociedade, nas mãos dos tribunais, dos aplicadores da
constituição, gera e faz no fundo produzir uma constituição não escrita, melhor
dito, normas constituintes não escritas. É um poder constituinte que não tem
intencionalidade- não visa a alteração imediata do enquadramento
constitucional, não se traduz em actos jurídicos escritos. Constituição não
oficial.

Integra:
(i) Precedente- basta um facto, um acto, para dizer que em situações
idênticas futuras se deve aplicar aquela solução;
(ii) Costume- exige uma multiplicidade de factos, que venham
reiteradamente a adquirir uma convicção de juridicidade. Exemplo do
caso britânico, em que a vigência de uma constituição não escrita se
plasma na relevância do costume constitucional e do precedente
jurisprudencial dos tribunais. Os acts of parliement que tbm podem
alterar a qqr altura o costume anterior e adquirir protagonismo
constitucional.

De facto, o entendimento generalizado é o de que a constituição está no topo


hierárquico das diferentes ordens jurídicas. Contudo, nos dias de hoje, verifica-se uma
concorrência de várias matérias fundamentais:
1) O estado perdeu o poder de ser o único a ter o poder constituinte;
2) O estado perdeu algum poder formal. Ao lado do poder do estado para a
feitura de normas constitucionais vigora um poder paralelo da constituição
outurgada pelo costume, com um protagonismo do poder jurisprudencial no
juízo da vigência constitucional;
3) A sociedade internacional e o DI público, designadamente as normas do ius
cogens, atentam em matérias de direitos fundamentais com valor de
constitucionalidade- ex: DUDH;
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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Daí decorre uma característica com vinculação constitucional-a delimitação de
fronteiras- não é efectivada unilateralmente, precisa de respeitar a soberania
internacional.
Fala-se tbm num ius commune constitucionale, devido à questão da integração
supranacional.
4) Tbm a união europeia limita as normas constitucionais dos Estados Membros-
há uma perda de soberania e a efectivização de uma fragmentação, diluição e
europeízação de uma soberania dos estados membros.

Tudo isto traduz uma fragmentação da força normativa da constituição:


a) Há uma relativização das matérias fundamentais, com deslocalização do poder
constituinte por via da soberania internacionalizada e enfraquecida;
b) Pode ocorrer que as normas da constituição escrita tenham uma perda de
efectividade- a norma cai em desuso, que pode gerar um costume contra
legem- exemplo: a CRP falava numa transição para um modelo socialisto. Entre
1976 e 2016 não há uma única decisão de qualquer tribunal que tenha aplicado
o princípio socialista da CRP- está em questão um costume de desconsuetudo
(paradoxo);
c) Autodescontitucionalização- há desconstitucionalização sempre que se retira
força constitucional a um preceito da constituição. É no fundo transformar em
direito ordinário uma norma da constituição, se é feito pelo próprio corpo do
texto da constituição fala-se de autodesconstitucionalização, relativa à carta
constitucional portuguesa de 1826 (veremos no segundo semestre). A
constituição nem tem sempre valor jurídico reforçado, pode haver normas da
constituição que não é reforçada em axiologia jurídica.
d) O poder constituinte formal pode relacionar-se com o informal:
(i) Segundo a constituição escrita- o poder constitucional informal pode
decorrer das normas escritas- segundum constitucionum;
(ii) O poder constituinte informal vai para além da constituição escrita;
(iii) Qd o poder constitucional informal é contra a vigência escrita- contra
constitucionum.
Há quem entenda que as normas contra constitucionum são:
a) Inconstitucionais- visão positivista;
b) Constitucionais que determinam a derrogação tácita do texto escrito-
prevalecência da práctica em sentido contrário.
Quem são os aplicadores da Constituição?
Por todos os titulares de tds as funções do Estado.
Qd existem privados que exercem funções públicas tbm eles exercem e aplicam a
constituição.
Tbm é imperativo nos termos do Art. 18/1 da CRP- pretensões dos privados tbm valem
pela aplicação da constituição.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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A CRP é aplicada no estrangeiro nas embaixadas e consulados portugueses, aos
portugueses que estejam no estrangeiro, é aplicada sempre que o direito português
materialmente regulador de lítigios no estrangeiro. Os tribunais estrangeiros podem
ser chamados a aplicar uma constituição estrangeira.

Como é possível defender a constituição?


É defendida em termos internos por 4 vias:
(I) Através de um mecanismos de fiscalização da constitucionalidade das
normas- todos os actos que sejam practidos em sentido contrário podem e
devem ser sancionados pelos tribunais recusando a respectiva aplicação.
Existência de um sistem judicial de fiscalização da constituicionalidade;
(II) A existência de Limites Materiais- Cláusulas Pétrias, que vêm previstas no
Art. 288º da CRP- não é possível uma revisão constitucional modificar toda
uma constituição e mudar princípios fundamentais, dos quais a forma de
governo ou a forma de estado. Têm que ver com a possibilidade de uma
mudança de fundo.
(III) A existência de regras para o estado de excepção constitucional- significa
que em situações de Estado de Sítio ou de Estado de emergência, a
constituição admite a existência de uma Ordem Constitucional excepcional.
Art. 19º da CRP.
(IV) Direito penal político- são normas criminais, de natureza penal, que
tipificam, que dizem que é crime certas condutas atentatórias da
constituição- fazer o apelo da revolta dos militares contra os tribunais,
desencadear mecanismos que ponham em causa a CRP e o poder político
são crimes que são susceptíveis de sanção penal.

Como cessa a vigência de uma constituição?


Há 2 grandes hipóteses:
a) Através de processos constitucionais:
(i) A revisão constitucional- há uma alteração pontual que pode ser mais
ou menos extensa das normas dessa constituição;
(ii) Transição constitucional- mundança de uma constituição para outra,
respeitando-se as regras da constituição vigente. Resume-se na ideia de
que da constituição vigente passamos a uma nova, atavés da primeira.
Brasil, Espanha, etc. Não há uma ruptura constitucional.
b) Através de processos aconstitucionais- à margem:
(I) Revolucionários, de ruptura- o golpe de estado, golpe militar, etc;
(II) Situações de fraude constitucional.

Sublinhar 2 fenómenos. A dissolução da constituição nacional.


A CRP vai perdendo identidade por 2 vias:
a) Esbate-se por via da união europeia- a constituição de um estado soberano
passa a ser uma constituição equiparada a um estado confederado;
AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS
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b) Uma constituição inserida e subjogado no estado de direito material, subjogada
ao ius cogens, do qual o ius commune constitucionale
c) Constitucionalismo multinivelado: ilustra a concorrência de normas
constitucionais- várias fontes, vários titulares. Pode haver conflitos e
desarmomias:
(i) Nível interno;
(ii) Internacional;
(iii) Internacional geral.

INTREPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
Intrepretar é revelar. Recorre-se ao elemento sistemático, integral, teleológico e
histórico.
Pode ser feita uma intrepretação autência por via de uma revisão constitucional-
intrepretação da AR;
Atribui-se a possibilidade dos tribunais fazerem a intrepretação da constituição, sendo
o TC o último decisor;
Atribui-se a possibilidade da administração pública de fazer intrepretação da
constituição;
Fazer intrepretação política;
Fazer intrepretação doutrinal.
A intrepretação obede ao contexto da unidade e por via da aplicação das outras
normas. Há ainda a ideia da máxima efectividade das normas sobre direitos
fundamentais, um que é mais generoso e o outro restritivo opta-se pelo mais
generoso.

Há 2 grandes tipos de normas de constituição:


a) Normas regra- solução de tudo ou nada. Ex: 35 anos PR- ou tem ou não, não há
2 opiniões sobre a mesma matéria;
b) Normas princípio- conceitos indeterminados e permite balancear
intrepretações. Dificulta mas dá relevância ao juiz na efectivação da
intrepretação.

AUTOR: JOÃO ABREU DE CAMPOS


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