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ESCOLA CATARINENSE DE BIODANZA®

CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR FACILITADOR DE BIODANZA®

ROSA CLAUDIA ONZI

A BIODANZA® COMO PRÁTICA INTEGRATIVA COMPLEMENTAR E


DE REABILITAÇÃO EXISTENCIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM
SAÚDE NO CENTRO DE SAÚDE PRAINHA DO MUNICÍPIO DE
FLORIANÓPOLIS

Florianópolis – SC
2019
ROSA CLAUDIA ONZI

A BIODANZA® COMO PRÁTICA INTEGRATIVA COMPLEMENTAR E


DE REABILITAÇÃO EXISTENCIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM
SAÚDE NO CENTRO DE SAÚDE PRAINHA DO MUNICÍPIO DE
FLORIANÓPOLIS

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado


à Escola Catarinense de Biodanza® de Santa
Catarina para obtenção do Título de “Professora
Facilitadora em Biodanza®.
Orientadora: Nara Suzana Osório Brasil, Professora
Didata - International Biocentric Fundation - Reg FL
0215

Florianópolis – SC
2019
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título
de “Professora Facilitadora em Biodanza®”, e aprovado em sua forma final pela
Escola Catarinense de Biodanza®.

Florianópolis, 14 de setembro de 2019.

___________________________________________ ___________________________________________
Laury Eliseu Marenco de Oliveira Susana Pasinatto
Professor Didata Professora Didata
International Biocentric International Biocentric
Foundation - Reg. PA 9936 Foundation - Reg. FL 9911

Diretores da Escola Catarinense de Biodanza®

Banca Examinadora:

___________________________________________
Profª. Nara Suzana Osório Brasil
International Biocentric Fundation - Reg FL 0215
Professora Didata - Orientadora

______________________________________
Profª. Susana Pasinatto
International Biocentric Foundation - Reg. FL 9911
Facilitadora Didata - Membro Titular

______________________________________
Profª. Elizabeth Dreyer Machado Chraim
International Biocentric Foundation- Reg SPSUL 0901
Professora Didata - Membro Titular
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais (In memorian), na presença absoluta na vida que me gerou e que me fez
viver pelo amor, afeto e cuidado, na relação intima com a natureza.

Ao mestre Rolando Toro, eterna gratidão pela “bomba atômica do amor” lançada com o
Sistema Biodanza® para que sigamos espalhando amor por todo o mundo, pois é um
escândalo viver em sofrimento e sem amor num mundo com tanta lindeza, e a vida que
pulsa.

À Elizabeth Chraim, minha eterna mestra que me apresentou à Biodanza® com tanto
cuidado e maestria impregnada de amor. Que despertou em mim essa vontade de mais
vida, mais amor, mais aprofundamento, no exemplo de quem mesmo detentora de tantos
saberes e especializações na área da saúde (medicina) descobriu e adotou a Biodanza®
como o melhor caminho de saúde, cura e amor.

Á Roseli, meu amor, minha companheira de jornada, meu maior estímulo para que de fato
eu conseguisse iniciar e concluir a formação em Biodanza®; por todo amor e carinho, por
partilharmos este processo juntas, por ser e estar presente em minha vida.

A todos os (as) ditadas, desta e de outras Escolas de Biodanza®, do curso de formação,


pelos saberes compartilhados e vivenciados num ambiente de aprendizagem na prática –
teoria – prática, na inversão epistemológica aplicada no meu (re) aprender de vida, na
reabilitação existencial, e desenvolvimento pessoal.

Aos diretores da Escola Catarinense de Biodanza® Laury e Susana pela coragem de


construir um espaço de intima relação com o Princípio Biocêntrico, de educação e formação
de professores em Biodanza® Sistema Rolando Toro, espaço fundamental ao meu processo
de desenvolvimento humano.

Ao grupo do ciclo metodológico, pela caminhada, pela companhia prazerosa e encorajadora


de seguir desbravando uma nova etapa, pelos desafios partilhados, por fazerem parte
amorosa do meu caminho.

A todos os “lunos e lunas” de todos os ciclos que compõem a comunidade da escola de


Biodanza® são biogeradores de vida plena de humanidade amorosa.

À minha amada orientadora Nara, por todo o aprendizado, pela condução carinhosa, pelas
correções necessárias, orientações e toque, pela paciência de entender meu tempo mais
alongado, facilitando meu processo de facilitar.

Ao meu amado núcleo familiar, por entenderem minha ausência em tantos momentos, por
cuidarem de meus amados peludos.
Ao meu amado Grupo de Estágio composto por pessoas maravilhosas, que aceitaram com
disposição e carinho os convites para vivenciarmos o “aqui e agora”, um biogestor de vida
do meu processo de facilitadora.

À colega de trabalho da Secretaria de Estado da Saúde, Elisângela W. Schappo, pela


atenção carinhosa e tempo dispensado no suporte técnico-científico, pelas orientações e
pelas provocações na condução e na apresentação deste trabalho de conclusão de curso.
RESUMO

Neste trabalho de conclusão do Curso de Formação para Professora/Facilitadora de


Biodanza® Sistema Rolando Toro, apresento meu processo de formação e
transformação pessoal e profissional através da Biodanza®, bem como de formação
de um grupo iniciante na pratica de Biodanza® composto em sua maioria por alunos
encaminhados do grupo de dor (crônica) da Atenção Primária à Saúde do Centro de
Saúde Prainha, Florianópolis – SC. Observaram-se impactos positivos e
significativos, qualitativamente, na auto-percepção corporal e de saúde entre os
praticantes de Biodanza®, fortalecendo sua ação como Prática Integrativa e
Complementar do cuidado de saúde (PICS) no sistema único de saúde SUS.

PALAVRAS-CHAVE: Sistema Rolando Toro de Biodanza®, Práticas Integrativas e


Complementares em Saúde (PICS), Atenção Primária de Saúde (APS), Saúde,
Praticantes de Biodanza®.
PREFÁCIO 9
1. INTRODUÇÃO 13
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15
2.1 A BIODANZA®, A DANÇA DA VIDA 15
2.2 O INCONSCIENTE VITAL 16
2.3 PRINCIPIO BIOCÊNTRICO – O 1º PARADIGMA DA BIODANZA® 17
2.4 DA CRIAÇÃO DO TERMO BIODANZA® 20
2.5 DO SISTEMA ROLANDO TORO DE BIODANZA® 21
2.6 BIODANZA® COMO PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR 28
2.6.1 Do conceito de Saúde 30
2.6.2 Do processo de Construção das Politicas de Práticas Integrativas e
Complementares 31
2.6.3 Políticas de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC e a Biodanza®
nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde - PICS 33
3. METODOLOGIA DA PESQUISA 37
3.1 TIPO DE PESQUISA 37
3.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA 37
3.3 VARIÁVEIS DA PESQUISA 38
3.4 METODOLOGIA DA PESQUISA 38
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 42
4.1 AUTO-PERCEPÇÃO DA SAÚDE (CORPORAL E EMOCIONAL) 44
4.2 PERCEPÇÕES DA APLICAÇÃO DAS AULAS DE BIODANZA® 53
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 57
REFERÊNCIAS 58
APÊNDICE A – FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL 60
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO 61
PARA ARRANCAR POEMAS PRESOS
(Viviane Mosé)

A maioria das doenças que as pessoas têm


São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras calcificadas,
Poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.
Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
Você pode arrancar poemas com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais.
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poemas com banhos
De imersão, com o pente, com uma agulha.
Com pomada basilicão.
Alicate de cutículas.
Com massagens e hidratação
.
Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los,
Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras.
Dos punhos, das axilas, do quadril.
São os poemas cóccix, os poemas virilha.
Os poema olho, os poema peito.
Os poema sexo, os poema cílio.

Atualmente ando gostando de pensamento chão.


Pensamento chão é poema que nasce do pé.
É poema de pé no chão.
Poema de pé no chão é poema de gente normal.
PREFÁCIO

Começo escrevendo sobre algumas divagações carregadas de sentimentos


meus, de desassossegos, de buscas, de encontros, de desejos com força ativa e
criadora, de mudanças de vida, por dentro e por fora; sobre ‘ser íntegra’. E o que é
ser íntegra? Como integrar meu corpo com o meu sentir e agir, meu pensar, meu
amor, meu tesão e ganas de viver, meus afetos, minhas angústias e medos?
Ouvi muito, quando criança, a frase “seja inteligente, minha filha! ”. Mas como
ser inteligente se eu havia perdido a cabeça na terceira cascata do rio e corri para
buscá-la na primeira, encontrando o meu cérebro todo espalhado na água? Que ao
recolhê-lo em minhas mãos, perguntava-me como conseguiria organizá-lo e
recolocá-lo novamente na minha cabeça, e com o que estou pensando?... E
dispertei. Sim esse relato é de um sonho meu que tanto me deixou perplexa que não
o dissocie do real.
Desta memória antiga, trago agora o despertar da inteligência afetiva. Não
seria um tipo especial de inteligência, mas o da afetividade em seu real sentido,
conectando e impregnando minha vida de significados, de beleza, de amor
manifestado em ternura, de disposição permanente para o cuidado e a empatia,
enfim, num estado de amor pela vida, pela natureza e todos os seres de todos os
reinos, pelos outros e por mim!
Escolhi então apresentar minha vida por este caminho de longa jornada de
desenvolvimento humano e de reabilitação existencial, agregando-se a minha
vivência como cuidadora, a enfermeira Rosa, que é a profissão que me escolheu
quando estava no 3º ano do 2º grau.
Digo que a profissão de Enfermagem me escolheu porque, num certo dia,
minha professora de português resolveu inquirir-nos sobre qual profissão
pretendíamos seguir e quando chegou minha vez de falar, estava em meio a um
turbilhão de pensamentos: o que quero fazer? De todas as infinitas opções, qual é
minha verdadeira profissão? Qual é minha vocação? Se, vocação provém da voz do
chamado profundo do ser, é o que nasce da essência de nossa identidade, portanto,
pensei em coisas do meu gostar: oceanógrafa, arqueóloga, bióloga, huuum...
a Poesia...“Rosa? ”, eu fui chamada pela professora do meu turbilhão. Um profundo
silêncio se fez em mim e, naquele momento, escutei minha própria voz dizendo:
“enfermeira”.
E aquela foi uma resposta cheia de convicção e potência que me
impressionou: “sim, é isso que vou fazer!”. Graduei-me enfermeira pela Universidade
de Caxias do Sul – UCS e atuei como profissional da saúde na assistência direta dos
pacientes em emergência, UTI adulto, controle de infecção hospitalar, serviço de
hemodiálise, saúde ocupacional de hospitais por 28 anos, de 1986 a 2014. E no ano
de 2015 até este momento, atuo na Coordenação Estadual de Controle de Infecção
em Serviços de Saúde (Ceciss). Por fim, minha historiografia na enfermagem
sempre foi hospitalocêntrica, nunca atuante na atenção primária de saúde,
propriamente dita.
Paralelamente a esta jornada profissional de grandes responsabilidades e
pressões, busquei alentar os meus desassossegos e sentimentos de desconexão
com a vida, a fim de buscar caminhos que abordassem a vida de forma mais
holística. Para tanto, fiz formação em Florais de Bach, iniciação em Reiki e acabei
participando de uma aula aberta de apresentação de Biodanza®, na comunidade da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a facilitadora Elizabeth Dreyer
Machado Chraim.
Neste dia da aula aberta, chovia muito na cidade e esta aula foi água para o
meu solo árido e anestesiado de vida, sedento de humanidade e de amor que
pulsava latente em meu corpo. Gostei tanto da aula que manifestei meu interesse
em participar de uma próxima. E para isso, era necessário deixar meu nome numa
lista de espera para o grupo de iniciante de Biodanza® na Costeira do Pirajubaé,
bairro próximo a UFSC, e aguardar o chamado por telefone da Facilitadora
Elizabeth. E assim foi, recebi o chamado e cá estou.
Tenho consciência que meu Norte, em todas as minhas escolhas, foi pautado
pelo forte desejo de ser feliz. Mesmo que isso significasse perder à tão desejada
segurança. Mesmo com medos e angústias, a minha força de agir, de ir, de buscar e
de recomeçar sempre me moveram e, ainda, me movem.
Conheci a Biodanza® num momento niilista, de nojo e de desprezo crescente
pelo humano. Sentia o perigo deste sentimento que, segundo Nietzsche, é o de não
querer mais o humano, nem as forças deste humano em mim. Entretanto, pulsava
em mim um forte anseio de resgatar-me. E como eu estava sentindo saudades de
mim! Desejosa de achar um caminho de cuidado da vida, não apenas aquele voltado
para a sobrevivência, mas para uma vida forte, potente e alegre com o resgate do
humor vital sem ironia e sarcasmo, ou seja, um novo despertar da coragem e do
prazer de viver.
Despertar meu corpo em sua multiplicidade de sentidos e forças,
reascendendo a vontade que estava constrangida, desestruturada, dissociada,
doente de mim mesmo, foi perceber que a vontade de potência não se esgota, ela
quer sempre ir além de si mesma, é uma força de querer.
E nesta sociedade adoecida e cada vez mais cindida do todo social e do
corpo, perde-se sua sabedoria para desbravar novas veredas e novas consciências.
Portanto, minha nova vereda foi a Biodanza® que me ensinou a dançar uma nova
maneira de viver plena de sentido na vivência integradora, na presença do “aqui e
agora”, na progressividade das aulas, e que me fez resgatar a espontaneidade e a
liberdade no modo de existir.
A Biodanza ® trouxe um novo modo de ser “humano”, que dança a vida, “eu”
a dançarina livre na música, “eu” a música, “eu” a criança que brinca e resgata sua
identidade com inocência; que redescobre a poética do encontro humano no
continente afetivo, no abraço amoroso, no contato, nas carícias, na humanidade;
que integra o “eu” como célula desta Humanidade com sentimento oceânico do “eu”
parte, “eu” tudo e “eu” todo.
É importante registrar que este meu caminho de desenvolvimento humano e
transformações na prática de Biodanza® iniciou no grupo regular na Costeira do
Pirajubaé com minha amada facilitadora Beth (e ainda danço lá!), que fez germinar
em mim uma grande vontade de conhecer mais sobre a Biodanza® e seu criador
Rolando Toro. Assim ingressei na Escola de Biodanza®, em 2016, como “luna1”.
Meu propósito inicial foi o desenvolvimento pessoal e humano, não, a de formação
de Facilitadora/Professora de Biodanza®. Entretanto, a escola foi um caminho de
grandes revelações e profundo conhecimento, um ambiente nutrício, cálido e pleno
de humanidade amorosa. Os estudos contemplaram um “tempo”2 que iniciou no ciclo
básico, depois veio o ciclo metodológico para formação de Facilitadora/Professora e
junto a isso, muitas dúvidas sobre o seguir ou o parar, mas eis que aqui estou

1
LUNOS: A escola usa a palavra “lunos” em vez de alunos, para caracterizar a Luz própria, quando nos
juntamos essas luzes formam uma comunidade dialógica, onde todos os saberes se complementam.
2
TEMPO: O curso para conclusão é três anos e meio. Dividido em dois Ciclos: 1- Ciclo Básico de vinte e
seis (26) meses e 2 - Ciclo Metodológico de dezesseis (16) meses, destes sete (7) temas metodológicos, dois (2)
meses de estágio de observação e quatro (4) meses estágio de supervisionado e TCC).
escrevendo meu Trabalho de Conclusão de Curso. E é com profundo amor que o
apresento como parte de meu processo de formação de grupo para a prática de
Biodanza®; para a prática de vivenciar o “eu facilitadora” e apresentar dados sobre
esse maravilhoso e potente sistema aplicado no Sistema de Saúde junto às minhas
alunas no Centro de Saúde Prainha, em Florianópolis, Santa Catarina.

“Renda-se, como eu me rendi,


Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo entendimento”
Clarice Lispector
13

1. INTRODUÇÃO

A Biodanza® Rolando Toro é um sistema de desenvolvimento humano, de


integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de
reaprendizado das funções originárias da vida; é compreender a estrutura
cenestésico-vivencial do ser humano centrada na identidade do indivíduo; é estudar
o ser humano como unidade com enfoque essencialmente pedagógico e terapêutico.
A sua metodologia consiste em induzir vivências que integram a psicofísica, a
profilaxia, a reabilitação existencial, a reeducação da afetividade como tratamento
complementar de doenças psicomotoras por meio da música, do canto, do
movimento e de situações de encontro em grupo, ou seja, da estrutura operativa
"música-movimento-vivência” de cada indivíduo, podendo facilmente ser enquadrado
como uma modalidade de prática integrativa e complementar do cuidado da saúde.
Mesmo sem existir um consenso conceitual, entende-se a prática integrativa
como um novo paradigma no campo da saúde, sobretudo por ter uma forte
identidade com a integralidade do cuidado, da humanização das relações, da
construção de evidências científicas e das mudanças na educação em saúde
(OTANI e BARROS, 2011), tal qual a essência metodológica da Biodanza®, em
razão das mudanças na organização do sistema de saúde e nas percepções dos
profissionais sobre o processo saúde-doença.
A Política Nacional de Práticas Integrativas Complementares (PNPIC) propõe
normatizar, com qualidade, eficácia, eficiência e segurança, as práticas terapêuticas
integrativas na rede pública de saúde, uma vez que o Sistema Único de Saúde
(SUS) preconiza a transversalidade de ações de cuidado em todos os níveis de
atenção, prioritariamente na Atenção Primária de Saúde (APS).
Os sistemas e os recursos terapêuticos incluídos na PNPIC envolvem
abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de
agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras,
atuando de forma multiprofissional, dando-se ênfase na escuta acolhedora, no
desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio
ambiente e a sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas abordagens
abrangidas nesse campo são a visão ampliada do processo saúde-doença e a
14

promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado (BRASIL,


2018).
Neste sentido, a Biodanza ® foi incluída na PNPIC do Ministério da Saúde,
Brasil, no ano de 2017, como uma prática integrativa e complementar de promoção
da saúde humana e de prevenção de doenças. A Biodanza® atua e fortalece a parte
sã do indivíduo.
Entretanto, muitos estados e municípios brasileiros necessitam definir melhor
suas normativas estruturais de política local da PNPIC e das Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (PICS), tal como se percebe no município de
Florianópolis, uma vez que a médio e longo prazos, a criação de serviços integrados
levará à diminuição de gastos do cuidado integral, prevenção de doenças e
promoção da saúde, segundo Otani e Barros (2011).
Por essas razões apresentadas e por observar que, há 10 anos, grupos de
Biodanza® vêm sendo formados e beneficiados com sua prática, incluindo eu, em
Centros de Saúde de Florianópolis (SC), e da necessidade de apresentar dados de
seus impactos e benefícios, instiga-se a seguinte questão a responder com este
trabalho: “quais os impactos gerados pela prática da Biodanza® na rotina de
um grupo de estágio formado por usuários da APS no município de
Florianópolis – Santa Catarina?”
E para melhor apresentar os resultados dessa indagação, proponho, como
objetivo geral, analisar os impactos gerados pela prática da Biodanza®, como uma
modalidade terapêutica da PNPIC, na rotina de usuários dos serviços da APS no
Centro de Saúde Prainha do município de Florianópolis, Santa Catarina, verificando,
especificamente, dois aspectos da saúde individual: a auto-percepção da saúde
(corporal e emocional), a auto-percepção da dor física; e, por fim, a avaliação da
metodologia das aulas aplicadas sob a ótica de seus praticantes.
15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, serão apresentados temas que abordam as definições e os


conceitos da Biodanza®, como um sistema de desenvolvimento humano
considerado uma proposta de transgressão (contracultura) ao modo vigente da
sociedade e seus valores culturais contemporâneos e uma prática integrativa
complementar de cuidado em saúde. Tais temas são: a Biodanza® ®, como a dança
da vida; o Inconsciente Vital; o Princípio Biocêntrico; a Criação do Termo
Biodanza®; o Sistema Biodanza® e a Biodanza® e a Prática Integrativa e
Complementar em Saúde (PICS) na Política Pública de Saúde brasileira.

2.1 A BIODANZA®, A DANÇA DA VIDA

(...) provém de uma meditação sobre a vida, ou talvez do desespero, do


desejo de renascer de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e
estéril estrutura de repressão, poderíamos dizer com certeza: da nostalgia
do amor, mais que uma ciência é uma poética do encontro humano, uma
nova sensibilidade frente à existência (TORO, R., 2005).

A Biodanza® é uma proposta de transgressão dos valores culturais vigentes


em nossa sociedade contemporânea, em que se destacam a patologia do “eu”; a
cisão da natureza e da cultura; o predomínio exacerbado da razão; a alienante
mercantilização da sociedade; a democracia do consumo; o crescimento econômico
que destrói a natureza e os ecossistemas; a googletização; a solidão em meio ao
caos da multidão pelo não olhar, não ouvir e não tocar entre os seres; a
celularização das relações humanas; a banalização da violência; as ideologias
totalitárias e tantas outras situações de vivências individualizadas.
Neste sentido, a Biodanza® propõe, através de vivências coletivas mediadas
por músicas orgânicas e a dança, restaurar no ser humano o vínculo original com o
universo ao celebrar a vida e a presença do outro nos encontros, no afeto e no modo
de viver, despertando a sensibilidade e o sentimento de intimidade, ou seja, a união
agradável e amorosa entre pessoas, pois, é preciso viver, amar e ser feliz (TORO, R,
2005).
Por sua vez, a dança é uma das condições inatas do ser humano, assim
como o grito e o canto, já que o primeiro conhecimento do mundo, antes da palavra,
é aquele que chega a cada um de nós por meio do movimento. Quando o indivíduo
16

dança, põe em movimento sua capacidade de jogo, de equilíbrio, de coordenação e


de expressão, assumindo uma série de funções vinculadas a sua identidade, à
música e à dança. Nesta condição permeável do indivíduo, a música penetra no seu
organismo o induzindo ao pleno estado cenestésico, sintonizando-o e o integrando
com tudo e como um todo. Portanto, todas as dimensões da dança despertam no ser
humano a ressonância com a vida e se torna a mais poderosa fonte de renovação
orgânica (TORO, 2005), fortalecedora do inconsciente vital.

2.2 O INCONSCIENTE VITAL

O conceito de inconsciente vital refere-se à existência de uma forma de


“psiquismo celular” dos órgãos, tecidos e células que obedecem a um “sentido”
global de auto-conservação, que está na origem dos fenômenos de solidariedade
celular, da modificação de tecidos, na defesa imunológica e, em suma, no exitoso
sistema vivo. Este “psiquismo” coordena as funções de regulação orgânica e
homeostase; possui uma grande autonomia em relação à consciência e ao
comportamento humano.
O inconsciente vital é uma forma de cognição celular que cria regularidades
na manutenção das funções estáveis, podemos constatar suas manifestações na
consciência cotidiana no humor endógeno e no estado cenestésico de bem-estar ou
mal-estar. A importância deste conceito provém da possibilidade de intervir na
fisiogênese de nossa existência com objetivos de saúde. Um sistema vivo possui
uma ordem orgânica perfeitamente programada e que se transforma a todo o
momento, como um holograma vivo cujas mudanças abarcam a totalidade.
Segundo Maturana, H e Varela, F apud Toro, R (2005) que trazem em suas
teorias de neurociências o processo da vida, a partir da ‘cognição’, da autogeração,
da autoperpetuação da vida e da autopoiesis3, ao demonstrar que a experiência

3
Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo criado
na década de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para
designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo
é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares
(processos) em que as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de
moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio
são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, como sistema autônomo está
constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio,
onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não
por um agente externo.
17

cognitiva é intrínseca a sua estrutura biológica, a cognição não se refere somente a


processos mentais e da consciência, pois não é necessário o cérebro ou o sistema
nervoso para que ocorra, é um processo que se dá em todos os seres vivos,
inclusive em suas formas mais elementares (ameba, vírus, bactérias, etc). A
cognição, segundo estes autores, seria a interação entre os organismos e seu
ambiente, sendo à base do processo cognitivo o ‘acoplamento estrutural’ com o
ambiente, ou seja, é sinônimo de vida.
Segundo Maturana apud Toro, R (1991), “a cognição é o ato de gerar um
mundo”. Na interação do sistema vivo com o ambiente se gera uma mudança
estrutural específica. O conceito de cognição envolve por inteiro o processo da vida:
percepção, emoção, comportamento, pensamento, consciência. Esta teoria tem
consequências não somente para as ciências biológicas, mas também para a
epistemologia, ou seja, o estudo da linguagem e da consciência. O conceito de
Inconsciente Vital, ou psiquismo das células, coincide perfeitamente com o de
cognição como sabedoria intrínseca dos seres vivos capazes de criar um mundo.
O inconsciente vital é a fonte mais importante da Vitalidade; um sistema
autônomo; uma fonte permanente da renovação orgânica, do humor endógeno, do
bem-estar cenestésico e o estado geral de saúde, das sensações corporais que
surge sem participação do pensamento. Assim, a via de acesso ao inconsciente vital
não é por imagens mentais, pensamentos associados, lembranças ou indução de
processos transferenciais, a única via de acesso ao inconsciente vital é a vivência, a
via régia para induzir vivências capazes de mudar o humor endógeno é a
Biodanza®.
O conceito de inconsciente vital permite compreender em profundidade o
Princípio Biocêntrico, que gera vida em sintonia com a essência viva do universo, e
perceber que a enfermidade inicia quando esta sintonia é afetada, e que o ato de
cura se dá no movimento para recuperar esta sintonia vital com o universo.

2.3 PRINCIPIO BIOCÊNTRICO – O 1º PARADIGMA DA BIODANZA®

A visão Biocêntrica vem de um princípio ético de cuidado e respeito com


todas as formas de vida. Essa visão de mundo “inspira-se na intuição do universo
organizado em função da vida e consiste em uma proposta de reformulação de
18

nossos valores culturais, que toma como referencial o respeito pela vida” (TORO,
1991, p.25).
O paradigma fundamental da Biodanza® é o princípio Biocêntrico, que tem a
vida como referencial imediato, e a vida é o ponto de partida e fundamento para toda
teoria e prática (Figura 2.2.3).

Figura 2.2.3 – Princípio Biocêntrico com figuras do Google (Autora, apresentação autobiografia
2017)

O Princípio Biocêntrico propõe que a vida está no centro de todos os


componentes do Universo e, não, a idéia de um sistema estelar centralizado e
onisciente. Sua essência está na consciência ética do ser humano como um
fenômeno evolutivo natural.

“O Princípio Biocêntrico tem como ponto de partida a vivência de um


universo organizado em função da vida. Tudo que existe no universo, sejam
elementos, astros, plantas ou animais, incluindo o ser humano, são
componentes de um sistema vivo maior. O universo existe porque existe a
vida e, não, o contrário. As relações de transformação matéria-energia são
graus de integração da vida” (TORO, 2002, p 21).
19

A vida no Universo é tecida na ação inevitável de tais forças bioquímicas, que


não só a origem da vida, mas sua extraordinária diversidade. Há bilhões de anos as
primeiras biomoléculas tomaram forma, e a partir destas estruturas iniciais os seres
vivos se organizaram de forma crescente até as maiores complexidades, como a
inteligência humana, o processo da consciência e os sentimentos de afinidade, amor
e empatia (TORO, R., 1991).
Cada ser vivo é uma semente que vibra conduzida por uma experiência de
bilhões de anos. Não há na cultura humana algo mais sábio e preciso. Nós somos
sementes como a própria semente. Buscamos estímulos, nutrição e proteção. Aos
jardineiros cabe apenas cuidar com amor das sementes, atendendo-as nos
caminhos que elas mesmas estão fazendo em busca de crescimento, em direção a
algum lugar do infinito. Revolver a terra e adubá-la, aguar e podar, estar presente e
biológico. O que é necessário às culturas é criar as condições de existência de um
clima de amá-la é o que é necessário. Isso quer dizer, cuidar para criar e manter um
clima saudável: um tempo de nutrição e amor. O caminho a própria semente saberá
fazer seguindo seu fio de Natureza.
Nosso crescimento segue esse caminho. É algo profundamente simples o
crescimento, com ecofatores nutritivos e protetores, disponíveis e presentes para
toda a humanidade. Não cabe ao ser humano definir como tem que ser a vida ou
dar-lhe permissão para existir (TORO, 1991).

[...] “a função da consciência tem uma raiz biológica e se estrutura sobre um


fundo bioquímico em que a percepção se organiza com base em padrões
de coerência, como se o mundo exterior encontrasse replicas bioquímicas
no organismo vivo e este organismo funcionar diante destas réplicas,
gerando infinitos planos potenciais de decisão e, mais ainda, o mais
ambicioso e ousado de todos os propósitos: o autocontrole do processo
evolutivo” (TORO, 2002, p 26).

Acredito que a partir do Princípio Biocêntrico, em que vida está no centro de


tudo, há uma profunda mudança de paradigma para as ciências bem como para a
saúde, pois em meio ao caos necessário para gerar vida, podemos gerar a ordem, a
homeostase (o equilíbrio interno), a renovação orgânica e a autorregulação.
O Princípio Biocêntrico permeia toda a atividade humana, quando o individuo
está conectado com a vida, afirma sua posição política em defesa da vida. Ao
praticar Biodanza®, somos indivíduos e também a vida universal. Poderíamos dizer
que os Princípios de Vida surgem de uma inteligência divina que transcende os
20

valores egocêntricos. Nossa meditação deriva um processo que consiste em


estimular, criar e desenvolver vida nos demais, “Vida que gera Vida”. As pessoas
são nosso mais poderoso meio ambiente, nossa família ecológica, a comunidade
ecológica, são expressões do Princípio Biocêntrico.
O Princípio da Vida é muito preciso, nas funções universais, nas formas de
vinculação e desenvolvimento evolutivo. A Biodanza® se inspira nos princípios
gerais do ser vivo. Se as religiões, as ideologias políticas e as distintas formas de
psicoterapia trabalham em torno das patologias do ego, sobre uma imagem
antropocêntrica miserável, Biodanza® trabalha com grandes funções de saúde, em
uma dimensão transcendente, de permanente reverência pela vida (TOMO I, 1991).

2.4 DA CRIAÇÃO DO TERMO BIODANZA®

Rolando Toro em carta que escreveu para sua esposa, a 1ª semente da


atual Biodanza®, em 1952: (...) tive a ideia de criar uma ciência rítmica que
ordene musicalmente os movimentos naturais do corpo, sobretudo os atos,
de modo que sob formas nobres e espirituais provoque a musicalidade do
ser (...)

O termo Biodanza® foi criado a partir de uma ampla elaboração semântica, já


que uma nova disciplina havia nascido, com características inéditas, sem uma
denominação apropriada. Tratava-se de um sistema constituído de movimentos e
situações de encontros acompanhados por música e canto, que induziam vivências
capazes de modificar o organismo e a existência humana em diferentes níveis:
desde a homeostase orgânica, a estrutura postural, o estilo de vida, até os
processos socioculturais. A ideia se aproximava mais do conceito de “dançar a vida”
proposta por Roger Garaudy4.
Era necessário restaurar o conceito original de dança como movimento
natural, pleno de significação e de vida, em sua ampla acepção. Evitando assim
qualquer associação à outra forma de dança estruturada e tão pouco ser associada
a alguma forma de psicoterapia.

4
Filósofo francês que afirma que “dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade,
dançar é, antes de tudo, estabelecer uma relação ativa entre homem e a natureza, com a sociedade,
é participar do movimento cósmico”
21

Inicialmente, Rolando Toro usou o conceito de “Psicodanza”, mas este ainda


era dissociativo, [...] apresentava o grave defeito de comportar uma cisão. O prefixo
“psico”, de fato, deriva do grego psyché, que significa “alma”; logo Psicodanza seria
“dança da alma”. O termo continha implicitamente à cisão platônica entre corpo e
alma. Era preciso reestabelecer o conceito original de dança em sua mais ampla
acepção: como movimento de vida, mas que não poderia ser associada ao balé
clássico ou outra forma de dança estruturada, como também não ser associada a
uma forma particular de psicoterapia. (TORO, 2002).
Foi em meados de 1978 que surge a denominação de “Biodanza®”. Tendo
em seu prefixo “Bio”, do termo grego “Bios” igual à Vida, e palavra “Danza”, de
origem francesa, movimento integrado, pleno de sentido. A metáfora estava
formulada: Biodanza®, Dança da Vida, atendendo, assim, ao modelo que evoluiu de
uma visão Antropocêntrica para uma visão Biocêntrica do ser.
A Biodanza® é recente, ao mesmo tempo tão antiga como o próprio ser
humano que, desde os primórdios, dança a vida em seus ritos de magia e
renascimento. A Biodanza®, segundo Rolando Toro é uma conjunção de arte,
ciência e amor, conforme expressou em 1979.

2.5 DO SISTEMA ROLANDO TORO DE BIODANZA®

Rolando Toro Araneda era professor, psicólogo, poeta e pintor chileno, criador
do Sistema Biodanza® e dos conceitos do Princípio Biocêntrico, Inconsciente Vital,
Inconsciente Numinoso e Inteligência Afetiva. O conceito acadêmico de Biodanza®,
segundo Rolado Toro, é: sistema de integração humana, de renovação orgânica, de
reeducação afetiva e reaprendizado das funções originárias da vida. Sua
metodologia consiste em induzir vivências integradoras por meio da música, do
canto, do movimento e de situações de encontro em grupo.
Na Biodanza®, os exercícios propostos de dança são inspirados no
movimento da natureza e nos gestos naturais do ser humano, e deflagrados por
músicas específicas que conduzem a possibilidade de integração motora, afetivo-
motora e ideo-afetivo-motora. Atendendo a ortodoxia do sistema Rolando Toro, os
exercícios propostos são movimentos semiestruturados, mas que estimulam a livre
expressão do indivíduo, bem como as danças livres expressivas e arquetípicas.
22

Dança-se o ser e não o "como se". As músicas utilizadas na Biodanza® são


rigorosamente selecionadas para deflagrarem de forma orgânica o movimento
proposto no exercício, na tríade "música-movimento-vivência".
A melhor forma de conhecer a Biodanza® no conceito acadêmico e científico
é vivenciá-la, sentir a música, sentir no corpo, na pele, nos órgãos, correndo nas
veias as emoções, no pulsar do coração, no abraço, no afeto, transformando-se no
conceito das palavras do seu criador.
Para pessoas que nunca tiveram contato com a Biodanza®, ou mesmo aos
participantes de aula de Biodanza®, este conceito parecerá amplo e subjetivo, assim
é importante definir cada uma das expressões que formam a base do sistema de
Biodanza®:
 Integração Humana: Em Biodanza® o processo de integração atua mediante
estimulação das funções primordiais da conexão com a vida, permite cada
indivíduo integrar-se a si mesmo, a espécie e ao universo. Significa “pertencer
à totalidade”.
 Renovação Orgânica: Atua sobre a autorregulação orgânica, induzida
principalmente mediante estados especiais de transes integrativos, é uma
regressão biológica e psicológica na qual são reativados padrões fisiológicos
primordiais, é saudável porque integra e harmoniza o organismo, ativando
processos de renovação celular e regulação global das funções biológicas,
diminuindo os fatores de desorganização e estresse.
 Reeducação Afetiva: Restabelecer a unidade perdida entre percepção,
motricidade, afetividade e funções viscerais. O núcleo integrador para a
Biodanza® é a afetividade, que influi sobre os centros reguladores límbico-
hipotalâmicos. É a capacidade de estabelecer vínculos com outras pessoas.
Por Afetividade entende-se a capacidade de sermos afetados e de afetarmos
o que nos rodeia, em particular, na maneira como somos afetamos outros
seres humanos também são afetados.
A afetividade pode ter dimensão do “amor diferenciado”, dirigido a
uma só pessoa, e a do amor indiferenciado, dirigido à humanidade.
[...] A Biodanza® trabalha a liberação da expressão das emoções. As
emoções são componentes qualitativos da afetividade. As emoções
são momentâneas, respondem a circunstâncias especiais e
impulsionam à ação. (TORO, 1991, p.3).

O abraço, o contato através do olhar, as carícias, envolvidos de


música, movimento e vivência em grupo somam um ambiente enriquecido de
23

afetos e ecofatores positivos, de vinculação intraespécie e reabilitação


existencial. O sentimento de amizade, a sintonia com a totalidade, o altruísmo
e motivação para viver são indícios de que a linha de vivência da afetividade
está se desenvolvendo, resgatando o instinto de solidariedade (gregário), tão
necessário para a consciência planetária. A protovivência da afetividade é a
nutrição e segurança, aonde o principal alimento é o Amor. E o amor, só de
desenvolve em relação.
 Reaprendizagem das Funções Originárias da Vida: Os instintos têm por
objetivo a conservação da vida e permitir sua continuidade e evolução, tal
evolução biológica não ocorre através da cultura, mas sim na reaprendizagem
de viver a partir dos instintos, da conduta inata e hereditária. Os instintos
representam a natureza em nós, e sensibilizar-se a eles significa restabelecer
a ligação entre natureza e cultura.
O processo de reaprendizagem pelos instintos básicos (programação
genética), na pratica da Biodanza® se dá ao acessar os potenciais genéticos
num ambiente enriquecido de ecofatores positivos sobre os cinco grandes
conjuntos de potenciais: Vitalidade, Sexualidade, Criatividade, Afetividade e
Transcendência. Assim o desenvolvimento dos potenciais genéticos dentro de
um contexto ecológico, desperta as funções originárias de vida (capacidade
de amor, de sentir prazer, de alegria, coragem de viver, de explorar o mudo,
de conexão com o todo).
 Vivências: Para compreender a definição de Biodanza®, é necessário
conhecer a base metodológica, o conceito de vivência. Embora tenham
definições filosóficas, fenomenologia, ontologia e na sociologia, citando
Rolando Toro [...] apresentarei a redefinição de Vivência na teoria da
Biodanza® como a experiência vivida com grande intensidade por um
individuo no momento presente que envolve cenestesia, as funções viscerais
e emocionais. A vivência confere à experiência subjetiva a palpitante
qualidade existencial de viver o “aqui e agora”. Defini as características
essenciais de vivência e estruturei uma metodologia precisa para induzi-las
voltada à integração e ao desenvolvimento humano mediante a estimulação
das funções arcaicas de conexão com a vida [...] (TORO, 2005).
24

A Vivência é o elemento operativo essencial do Sistema Biodanza®, e sua


indução constitui a base do método de Biodanza®. Os exercícios de Biodanza®
estimulam o inconsciente vital e a expressão dos potenciais humanos através da
deflagração de vivências. A ação reguladora dos exercícios não se faz sobre o
córtex cerebral voluntário, mas sobre a região límbico-hipotalâmica (centro regulador
das emoções). É um novo conceito de cognição: vivência é “a experiência vivida
com grande intensidade por um individuo em um lapso de tempo no ‘aqui e agora’,
sentir-se vivo, abarcando as funções emocionais, cenestésicas e orgânicas”, as
vivências surgem com espontaneidade e frescor. As vivências possuem a qualidade
do original e têm “força de realidade” que compromete todo o corpo, não estão sob o
controle da consciência, podem ser “evocadas”, mas não dirigidas pela vontade.
Na Biodanza®, as vivências são integradoras, por que possuem um efeito
harmonizador em si mesmo com qualidade ontológica (projeta-se sobre toda a
existência). O poder reorganizador que possuem se deve a qualidade única de surgir
como a primeira expressão afetiva de nosso organismo, com sensações corporais
fortes, constitui a expressão original do mais íntimo de nós mesmos, anterior a toda
elaboração simbólica ou racional. Estas vivências se aprofundam porque se tornam
aprendizagem visceral, adquiridas de forma prazerosa. O fenômeno da
aprendizagem compromete todo o organismo e não apenas a parte cortical, mas os
três níveis de aprendizagem: Cognitivo, Vivencial e Visceral.
As vivências na Biodanza® estão orientadas para estimular os potenciais de
vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência, denominadas
Linhas de Vivência, que são representantes de cinco grandes conjuntos expressivos
do potencial humano, a explicar:
1. Vitalidade: é o potencial de equilíbrio orgânico, homeostase, ímpeto
vital e harmonia biológica (Inconsciente Vital).
2. Sexualidade: é a capacidade de fecundação, de sentir desejo sexual e
prazer. A sensualidade é a sensibilidade global aos estímulos de
prazer e não só do estímulo genital. Sensualidade é sentir prazer pelos
alimentos, pelo banho, pela brisa a e pela chuva, pelas cariciais.
3. Criatividade: é o elemento de renovação que deve ser aplicado à
própria vida: criar-se a si mesmo e pôr criatividade em cada ato e
realizar atividades artísticas.
25

4. Afetividade: é o amor indiscriminado pelos seres humanos e pela vida


em geral. O útero afetivo que permite dar continente aos demais.
5. Transcendência: é a capacidade de para ir mais além do ego e
integrar unidades cada vez maiores; implica a expansão de
consciência e o êxtase místico.

 Regressão ao Primordial: outro instrumento básico de cura utilizado em


Biodanza® é o trabalho com o processo de regressão ao primordial. Essa
regressão é entendida como uma função natural do ser humano, ou seja, sua
possibilidade de se remontar ao passado e conectar com a sua origem por
meio do transe, que implica um “trânsito” de um estado de consciência a
outro. A Biodanza® utiliza o transe integrativo como método para reciclar os
padrões inatos de vitalidade; é um “renascimento”, no sentido das cerimônias
primitivas; é o momento em que se volta às fontes, ao estado primordial,
anterior à aprendizagem e à repressão, pois permite ao indivíduo diminuir sua
identidade, ao dissolver-se no grupo para integrar-se na unidade mais ampla
e indiferenciada (Figura 2.5.1). A pele já não cumpre só a função de “separar”,
mas a de “unir”. O grupo representa o útero onde o indivíduo revive as
sensações de calor, segurança e harmonia nutrícia. No processo de
renascimento, o grupo vai devolvendo amorosamente sua identidade com
abraços e carícias cuidadosas como as que se brindam a um bebê. A vivência
que o indivíduo tem ao sair do transe é de profunda vinculação consigo
mesmo, com os outros e com o cosmo. Esta experiência traz consigo um
sentimento de esplendor e plenitude, de imensa felicidade e bem-estar
corporal. (TOMO I, 1991).
 Induzidas pela dança, a música, o canto e situações de encontro em
grupo: A música é uma linguagem universal acessível a todos, sejam
crianças ou adultos de qualquer época e região. Atua diretamente na emoção
sem passar pelos filtros analíticos do pensamento. Ela estimula a dança
expressiva, a comunicação afetiva e a vivência de si mesmo, não é o ouvido,
mas o corpo que sente a música, pois a identidade é permeável à música e,
por isso, pode se expressar através dela. Nestas condições, o indivíduo
‘permite’ que a música se infiltre em seu organismo e induza ao estado
cenestésico-vivencial. ‘Ser dança’ constitui uma experiência extraordinária, a
26

mais poderosa fonte de renovação existencial. A Biodanza® propõe a


possibilidade de uma dança orgânica, baseada na vivência e não na
consciência. A ‘Consciência de Identidade’ se dissolve numa espécie de
matriz do universo que está em movimento orgânico e na qual cada elemento
forma parte da dança maior. O grupo é essencial no processo de mudança
porque induz novas formas de comunicação e vínculo afetivo. Ele é uma
matriz de renascimento na qual cada participante encontra continente afetivo
e permissão para a mudança, pois o “outro nos salva”, afeta e modifica o
funcionamento em todos os seus níveis orgânicos e existenciais.

Figura 2.5.1 – Fragmento do modelo teórico da Biodanza® (TORO apud MARENCO L., 2018).

A Biodanza® propõe situações de encontro e de exercícios especiais para


estimular as Linhas de Vivência de forte poder integrador e autorregulador. Portanto,
o método reforça estas Linhas de Vivência positivas e, não, os seus opostos, como o
ódio, a raiva, o medo, a culpa, a repressão, o egoísmo, a angústia por produzirem
fortes desequilíbrios neurovegetativos de “stress” negativo. A Biodanza® busca
reforçar as vivências que promovem a saúde, uma vez que as emoções quando
expressas, são reforçadas. Apesar de que a elaboração da agressividade, do medo
e da angústia, na criatividade, acessa o potencial humano para as soluções
27

construtivas frente às situações reais, exemplo da ação social e de defesa ecológica


(TOMO I, 1991).
Além disso, o planejamento das aulas, ou ainda sessões, de Biodanza®
possui uma estrutura específica de ações (Figura 2.5.2) em que se busca um
equilíbrio da balança neurovegetativa. Esta curva inicia-se ascendentemente com
exercícios adrenérgicos, que promovam a alegria e desperte uma consciência maior
do corpo, já na parte inicial da aula, chamada de fase de ativação, em que o sistema
nervoso simpático é provocado, desencadeando efeitos físicos, como: aumento dos
batimentos cardíacos, aceleração da respiração. Ao alcançar seu ponto máximo de
ativação, inicia-se a desaceleração descendente com exercícios de ativação
colinérgica e vivências regressivas. Nesta fase, o sistema nervoso parassimpático
entra em ação, regulando as funções do organismo.
A passagem de um exercício para o outro, sempre, deve fluir organicamente,
sem trocas bruscas de um nível a outro, evitando efeitos desagradáveis aos
participantes, sobretudo aqueles fisiológicos e emocionais. Para tanto, são indicados
exercícios de harmonização tais como: o caminhar lento, a fluidez, o segmentar de
pescoço ou peito-braço, a dança sensível de braços, a dança de extensão
harmônica, a sincronização melódica e outros. (Tomo II, 1991).
E, por fim, na fase final da aula, realiza-se a ativação, já que durante a aula
há uma redução das funções de controle racional e de vigília como objetivo de
estimular as funções límbico-hipotalâmicas de autorregulação orgânica.
28

Figura 2.5.2 – Curva Metodológica - Estrutura Unitária: Música-Movimento-Vivência (GARCIA, C;


1991b apud ONZI, RC; 2019).

2.6 BIODANZA® COMO PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR

Desde a antiguidade à modernidade, surgiram indivíduos ou sistemas propondo


intervenções terapêuticas face ao adoecimento humano, oriundas nas mais variadas
culturas, em contextos sociais, políticos, ambientais e espirituais diversas.
Convido a uma breve retrospectiva em cerca de 2.500 anos, sobre o indivíduo
acometido pela doença, das classificações às desordens fisiopatológicas
(diagnóstico), da polarização dos paradigmas acerca deste binômio: saúde-doença:
Uma com foco no sujeito doente e sua relação com o ambiente, na busca dos
desequilíbrios internos do individuo que compartilha as mesmas estruturas básicas e
fundamentais do universo. Outra, com foco na terapêutica e na divisão do corpo
humano, cujo foco está sua etiologia para atuar de maneira direta, mecânica, através
de tratamentos e medicamentos específicos, procedimentos cirúrgicos e ou
investigativos de alta complexidade (CARILLO, 2008).
29

Conforme Madel T. Luz (2007), sobre as Racionalidades Médicas5, estas


perpassam a Arte de curar (medicina tradicional) e o modelo biomédico
hospitalocêntrico atual. A primeira remonta aos séculos V e III a.C com Hipócrates,
iniciando o caminho da racionalização médica por meio da sistematização das
doenças, das síndromes e das terapêuticas, e investigação das causas dos
desequilíbrios no homem em oposição aos saberes mágico e xamânicos da época,
mas preservando a arte do curar, na busca do equilíbrio do homem (microcosmo)
com seus elementos naturais e com o ambiente (cosmo). O segundo ocorre entre os
séculos XVI e XVII d.C. com a ascensão da ciência, não mais como filosofia, mas
como produção de conhecimento, legitimada pela sociedade capitalista nascente.
A partir do séc. XVIII, com o nascimento da clínica contemporânea e o modelo
biomédico, cria raízes fortes garantindo sua supremacia nos próximos séculos. O
olhar clínico volta-se para o desfecho morte e sobrevida. Essa medicina centrada na
terapêutica separa indiscutivelmente a “Ciência Medica da Arte de Curar”. Os
hospitais passam a concentrar a produção do conhecimento médico-científico e um
verdadeiro arsenal farmacológico, tecnológico e de recursos humanos, atingindo seu
auge no séc. XX, concluindo o terceiro momento, com o surgimento das
especialidades médicas, das indústrias de instrumentais médicos e de fármacos
mais específicos. O sujeito doente é vinculado ao terapeuta de forma submissa
demovendo a autonomia do seu próprio corpo (LUZ, 2007).
São indiscutíveis os benefícios do avanço tecnológico como a produção de
medicamentos, equipamentos, exames com aumento da acurácia, mas é necessário
resgatar o espaço para aplicação de técnicas seguras junto ao individuo adoecido
uma abordagem mais inclusiva, amorosa e integradora.
A base conceitual da Biodanza® em seu marco teórico da investigação verificou
a existência de relação entre a Biodanza® e a Saúde de participantes, cuja
“metodologia baseada na indução de vivências integradoras por meio da música, do
canto, do movimento e de situações de encontro em grupo” (TORO, 2002, p. 33).

5
Sistema médico complexo: Um conjunto de conhecimentos acumulados sobre a saúde humana
que compreende seis dimensões essenciais: a existência de uma cosmologia, ou seja, uma forma de
apreender e representar a realidade; uma doutrina médica; uma morfologia do corpo humano; uma
fisiologia ou dinâmica vital humana; um sistema de diagnósticos; e um sistema de intervenções
terapêuticas.
30

2.6.1 Do conceito de Saúde

O ser humano sempre buscou diversos tipos de abordagens, para melhoria


da qualidade de vida, do desenvolvimento humano e do bem-estar tanto individual
como social. A saúde parte de uma consideração, cada vez mais difundida, do
organismo como uma totalidade, aproximando-se do atual conceito de saúde da
Organização Mundial de Saúde OMS (1986) que a considera como um estado de
bem-estar total, corporal, psíquico, espiritual e social, e não apenas inexistência de
alguma doença, e é marco do paradigma holístico ou integral de modelo
biopsicossocial, traz a saúde não apenas no âmbito da ausência de enfermidade,
mas para um contexto mais amplo. Ao considerar aspectos individuais e coletivos
presentes na saúde, não como um conceito absoluto e estático, mas uma condição
dinâmica que acompanha as possíveis transformações que ocorreram “em função
das condições históricas, culturais e sociais do meio que formula o conceito de
saúde e/ou que o aceita” (DE MIGUEL, 1985). Há que se considerar a inter-relação
do tecido social e seus fatores políticos, econômicos e culturais, ao falar no binômio:
saúde-doença.
Em uma perspectiva mais referenciada na vida, Góis (2008, p.8) traz uma
concepção de vida que encontramos no Sistema Biodanza®, com o enfoque
Biocêntrico, ao dizer que:
“A saúde expressa a vida em todas as suas manifestações
individuais e coletivas, do unicelular ao vegetal, dos peixes e
aves ao ser humano. Demonstra a capacidade do
organismo/pessoa de realizar seu potencial evolutivo em suas
possibilidades e formas de manifestações nas diversas
situações ambientais e sociais em que vive, seja uma árvore,
um pássaro ou um indivíduo. No ser humano, essas
potencialidades e manifestações se encontram nas esferas
ecológica, social, orgânica, psicológica e espiritual”.

A vida é a referência maior, e o universo se organiza para propiciar-lhe


melhores condições. Se houver respeito por essa auto-organização, nas diversas
esferas que compõem o ser humano e o próprio universo, estaremos favorecendo a
promoção da saúde e da vida.
31

2.6.2 Do processo de Construção das Politicas de Práticas Integrativas e


Complementares

A mudança no perfil epidemiológico da saúde, com a redução das doenças


infectocontagiosas, o surgimento progressivo das doenças crônico-degenerativas, as
respostas inadequadas dos tratamentos disponíveis no processo de cura do
paciente, os efeitos colaterais dos fármacos e das intervenções cirúrgicas
contribuíram para o surgimento de um novo modelo com a disseminação de ideias
alternativas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento da
demanda causado pelas doenças crônicas, os altos custos dos serviços de saúde
têm levado à procura de outras formas de cuidado, a insatisfação com os serviços
de saúde existentes, o ressurgimento do interesse por um cuidado holístico e
preventivo às doenças e os tratamentos que ofereçam qualidade de vida aos
sujeitos. A busca por práticas alternativas se intensificou a partir da década de 1960
com a crise do modelo biomédico, em que os pacientes não recebiam informações
suficientes sobre o tratamento e cura, insatisfações com o funcionamento dos
serviços de saúde com listas de espera e efeitos colaterais das medicações e das
intervenções cirúrgicas.
A proposta das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) surge
como mudança de paradigma nos cuidados à saúde, centrados na doença, no corpo
humano que podia ser dividido em partes, possibilitando as múltiplas especialidades,
a hipervalorização das tecnologias, apoiada na fisiologia e na anatomia de base
mecanicista. As PICS fundamentam-se nos princípios da integralidade e da
universalidade possibilitando o acesso a práticas que transcendem várias questões
e abarca a vida do indivíduo, seu relacionamento com demais grupos sociais e
familiares, a sua inserção no trabalho e todo seu contexto sociocultural, assumindo
um papel importante para autoconhecimento, em sua abordagem holística, onde
suas intervenções são direcionadas para a recuperação do equilíbrio mente-corpo-
espírito, para a restauração da saúde e qualidade de vida perdida com a doença.
A OMS, desde a década de 1970, estimula os saberes e as práticas em saúdes
tradicionais, chamadas Medicinas Tradicionais Complementares e Integrativas
(MTCI), para que componham os recursos de cuidado nos sistemas nacionais de
saúde. Nos países com Atenção Primária a Saúde (APS) bem estruturada, esse
cuidado é centrado em equipes de profissionais generalistas, cuja referência
32

principal de cuidado clínico é a biomedicina, e as evidências mostram que o cuidado


baseado em APS (clínica generalista) é de melhor qualidade, gera populações mais
saudáveis, tem maior equidade e custo-efetividade que sistemas em que os
cuidados são prestados por outros especialistas.
As primeiras recomendações para a implantação das medicinas tradicionais e
práticas complementares surge em 1978 na Declaração de Alma Ata, difundindo-se
em todo o mundo, sendo que a OMS formula o Programa de Medicina Tradicional,
em paralelo, com a Declaração de Alma Ata, expandiu-se para a APS como
estratégia de organização de sistemas públicos universais de saúde, visando
universalizar o cuidado clínico-sanitário às populações.
O Brasil, em 1996, realiza a 10ª Conferência Nacional de Saúde aprovando a
incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS), das práticas de saúde como a
Fitoterapia, Acupuntura e Homeopatia, contemplando as terapias alternativas e
práticas populares. Uma década depois, em 3 de maio de 2006 é aprovada pela
Portaria GM/MS nº 971, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICS) denominadas pela OMS como medicinas tradicionais e complementares,
foram institucionalizadas no Sistema Único de Saúde6 (SUS) por meio da Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). A PNPIC
contempla diretrizes e responsabilidades institucionais para oferta de serviços e
produtos.
Nessa breve apresentação pode-se observar a movimentação mundialmente
nas últimas décadas para inclusão de politicas das MTCI, no âmbito do SUS, as
MTCI são as Práticas Integrativas e Complementares (PICS), com legitimação social
e regulamentação institucional, ainda de forma gradual, pois mesmo diante a
universalização do acesso à biomedicina com suas novas tecnologias e
desenvolvimento científico, tais fatores não geram o abandono das MTCI (Le
FANUE, 2000), percebe-se que estão ocupando espaços e gerando demanda pelos

6
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS: Sistema público de saúde que garante acesso integral,
universal e gratuito para toda a população do País.
i) O SUS abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, ou seja, o
acesso deve ocorrer em todos os níveis de atenção à saúde: alta, média e baixa complexidade.
ii) criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo.
iii) As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde foram institucionalizadas no SUS por meio
da publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Política
Nacional de Plantas Medicinal e Fitoterápico; Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS; Rede de Atenção à Saúde.
33

usuários da APS, mesmo num contexto de cultura da medicalização influenciando


fortemente a população (ROSE, 2007), isso tem fortalecido o desenvolvimento das
PICS junto aos profissionais de saúde na busca de formação, e aplicação destas
nas comunidades.

2.6.3 Políticas de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC e a


Biodanza® nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde - PICS

A Biodança foi incluída na Política Nacional de Práticas Integrativas e


Complementares (PNPIC), pela Portaria GM/MS nº 849 de 17/03/2017, totalizando
19 práticas que atendem às diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS.
Posteriormente, a Portaria GM/MS Nº 1.988, de 20 de dezembro de 2018,
regulamenta os procedimentos de serviço especializado de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde, sob o código 134 na Tabela de Procedimentos
Medicamentos Órteses Próteses e Materiais Especiais do SUS e no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), descrevendo a sessão de
Biodança como prática expressiva corporal coletiva que promove vivências
integradoras por meio da música, do canto, da dança e de atividades em grupo,
visando restabelecer o equilíbrio afetivo e a renovação orgânica, necessários ao
desenvolvimento humano, que trabalha a coordenação e o equilíbrio físico e
emocional por meio dos movimentos da dança, sob o código de procedimento
01.01.05.010-0.
Provavelmente, não é por acaso que as práticas corporais constituem a oferta
de Medicina Tradicional e Complementar que mais tem crescido no SUS (SOUSA et
al, 2012), pela facilidade de sua expansão, tanto pela diversidade de profissionais
que podem executá-la quanto pela maior disponibilidade de espaço para a sua
execução (praças, academias da cidade, centros de saúde, centros comunitários,
etc).
A PNPIC responde às moções das Conferências Nacionais de Saúde, que
reivindicam, desde o ano de 1986: a) a promoção da integração dessas práticas aos
sistemas oficiais de saúde; b) o desenvolvimento de legislação própria e a
normatização da oferta de serviços de saúde e produtos de qualidade, uma vez que
34

são raras as iniciativas por parte de gestores municipais de adoção das PICS na
APS; e c) a qualificação dos profissionais envolvidos com as PCIS, já que são
poucos os profissionais com formação própria no âmbito do SUS.
Esta Política trouxe avanços para a saúde no país, por meio da normatização
e da institucionalização das experiências na rede pública e como indutora de
políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo. Fato que pode ser
observado pelo aumento significativo de ações, programas e políticas nos estados e
nos municípios brasileiros após sua aprovação.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), atualmente o SUS oferece de modo
integral e gratuito, 29 procedimentos de PICS à população. Os atendimentos
começam na Atenção Primaria a Saúde (APS), principal porta de entrada para o
SUS, sendo que as evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamento
integrado entre medicina convencional e práticas integrativas e complementares.
Além disso, há um crescente número de profissionais capacitados e habilitados, com
uma maior valorização dos conhecimentos tradicionais de onde se originam grande
parte dessas práticas.
Os benefícios das PICS estão mais evidenciados na redução da dor, melhora
da qualidade do sono, diminuição da tensão muscular, melhora da imunidade e na
redução do estresse, com importante redução da ansiedade e melhora de quadros
depressivos. Enfatiza-se, com as PICS a necessidade de uma mudança no estilo de
vida, tornando-se uma oportunidade do participante assumir sua
corresponsabilidade no processo de melhora dos níveis de saúde, com a
possibilidade de reduzir a medicalização e seus efeitos colaterais.
Considerando a APS e os serviços de média e alta complexidade, 9.350
estabelecimentos de saúde ofertam 56% de seus atendimentos, individuais e
coletivos, em PICS nos municípios brasileiros; destes, 8.239 estão em
estabelecimentos da APS, distribuídos em 3.173 municípios, ou seja, as PICS estão
presentes em quase 54% dos municípios brasileiros (BRASIL, 2018).
A presença da Biodanza® nos serviços de saúde do país mostra que esta é
uma abordagem de cuidado, em muitos municípios, apresentando um avanço na
institucionalização desta prática no âmbito do SUS. Atendendo a prerrogativa da
integralidade da atenção nas diretrizes do SUS, a Biodanza® ® se apresenta como
uma possibilidade de ampliar as ofertas terapêuticas aos usuários e comunidade.
35

Tendo em vista que a integralidade da atenção é uma das diretrizes do SUS,


a Biodanza® vem como uma possibilidade de ampliar as ofertas terapêuticas aos
usuários na Rede de Atenção à Saúde (RAS), como a exemplo em 2018 o Rio
Grande do Sul lança a Nota Técnica 03/20187 Biodança na RAS como objetivo de
orientar os gestores do SUS sobre a implantação da Biodança como Prática
Integrativa e Complementar em Saúde (PICS) na Rede de Atenção à Saúde (RAS)
no Rio Grande do Sul.
A Biodanza® no Contexto das Terapias (integrativas) tem seu enfoque
essencialmente pedagógico e terapêutico, fundamenta-se na concepção do ser
humano como unidade, e seu objetivo é a integração, a profilaxia, a reabilitação
existencial, a reeducação da afetividade. Não utiliza os métodos de diagnóstico da
Psicoterapia clássica nem categorias nosológicas. Seu fundamento é Bios - Vida.
Abaixo, transcrevo as definições de Biodanza® no contexto das terapias por
Rolando Toro, extraído da apostila Modelo Teórico de Biodanza®:

 Todos os exercícios de Biodanza® promovem a integração do organismo, o que


se traduz em uma profunda sensação de bem-estar, o que exclui qualquer
exercício de caráter dissociativo.
 Biodanza® induz vivências de vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e
transcendência.
 Biodanza® não é interpretativa nem analítica. Toda ação interpretativa de
sensações ou movimentos que se realize durante a aula, não é Biodanza®.
 Biodanza® possui uma teoria coerente e um modelo operacional. O simples
agrupamento de exercícios, a livre expressão corporal ou a mescla de diversas
técnicas não é Biodanza®.
 Biodanza® respeita profundamente os níveis motores e emocionais de cada
aluno. Qualquer atitude autoritária de parte do professor é contrária a este
método.
 Biodanza® trabalha com processos de integração através do grupo. A utilização
de ‘egos auxiliares’ ou ‘observadores terapêuticos’ não é Biodanza®.

7
NOTA TÉCNICA 03/2018 BIODANÇA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE - Orienta os gestores do SUS sobre a
implantação da Biodança como Prática Integrativa e Complementar em Saúde (PICS) na Rede de Atenção à
Saúde (RAS) no Rio Grande do Sul. https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201808/24173435-
nota-tecnica-03-2018-biodanca.pdf
36

 Biodanza® respeita os automatismos orgânicos da respiração e da função


cardíaca. Não são propostos exercícios respiratórios ou técnicas respiratórias de
outros sistemas. O movimento corporal, as emoções e a respiração formam um
conjunto autorregulado, no qual não devem intervir fatores dissociativos da
consciência. A beleza dos automatismos está justamente em serem automáticos.
 Em Biodanza®, a relação interpessoal se dá em permanente realimentação.
Cada pessoa deve informar com sua atitude, à proximidade que é capaz de
aceitar. Cada pessoa é responsável por seu limite de contato. Ninguém pode
invadir o espaço privado do outro. O encontro humano se produz na perfeita
coerência de sinais que indicam abertura ou limite. Portanto, exercícios nos quais
é imposto formas de contato, sem considerar o ‘feedback’ do encontro, não são
do sistema Biodanza®.
 Biodanza® tem dimensões sociais, ecológicas e de transcendência.
 Biodanza® tem fundamentos científicos. Baseia-se nas Ciências Biológicas, na
Etologia e em extensos estudos antropológicos. Aulas que apresentem formas de
preconceitos morais, sócias, étnicos ou de terapias baseadas em modelos
imaginários, não pertence à Biodanza®.
 A música de Biodanza® é selecionada através de critérios de semântica musical.
O conteúdo emocional da música é rigorosamente selecionado para induzir
determinadas vivências. A música de Biodanza® deve ter um forte poder
deflagrador de vivências. Não se usa músicas de acordo com a preferência
pessoal do professor, a inclusão de novas músicas só quando autorizada por
uma comissão especial (Extraído do TOMO I, 1991).
37

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo, apresento as características da pesquisa realizada para


verificar o impacto da Biodanza®, como uma prática integrativa e complementar, na
reabilitação existencial de seus alunos, apresentando os instrumentos utilizados e
o método adotado para avaliação das variáveis deste estudo realizado no período
de estágio aplicado no Grupo de Biodanza® no CS da Prainha.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa caracterizou-se como sendo de natureza aplicada, uma vez


orientada para uma aplicação prática; com abordagem quali-quantitativa, por conta
do tipo de variáveis observadas e de objetivo descritivo/ exploratório, a fim de
explorar o impacto da Biodanza® na reabilitação existencial e de saúde de grupos
de praticantes.
Segundo GIL (1989), esta pesquisa apresentou características de uma
pesquisa de campo participantes, em que se caracteriza a interação entre o
pesquisador (professor) e os sujeitos pesquisados (alunos), realizando um processo
de observação participante da evolução do sujeito investigado.
Além disso, ocorreu uma pesquisa por meio de levantamentos de dados pela
interrogação direta das pessoas cujo comportamento se desejava conhecer,
percepção da saúde/doença, procedendo-se à solicitação de informações a um
grupo significativo de pessoas do problema de pesquisa estudado a partir das quais
se reflete sobre os dados, mediante análise quantitativa para se chegar a uma
conclusão (GIL, 1989, p 76).

3.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Para a realização da pesquisa proposta, utilizei os seguintes instrumentos:


38

(a) ficha de acompanhamento individual, composto treze (13) questões


abertas, incluindo dados pessoais (nome, idade, profissão, estado civil,
número de filhos), dados para contato (telefone e e-mail), informações gerais
sobre o estado de saúde do aluno. (Apêndice A);

(b) questionário semiestruturado, composto por quatorze (14) questões abertas e


fechadas, incluindo questões sobre percepção individual de saúde, do espaço das
aulas, da metodologia adotada de aula, da abordagem do professor na aula,
manifestações diversas do aluno sobre si e o grupo (espaço livre). (Apêndice B);
(c) playlist musical, lista de músicas selecionadas para cada aula de Biodanza®;
segundo CIMEB8 e IBF9 e compostas (9 a 12)
(d) roda verbal, roda de quatro (4) a doze (12) alunos e um (1) professor, que abre
espaço para expressão de intimidade verbal (ou não verbal) de cada integrante, sem
provocar julgamentos e manifestações adversas.
(e) usuários dos serviços de saúde da APS em acompanhamento clínico de dor
crônica pela Equipe Estratégia de Saúde (EPS), do Centro de Saúde Prainha do
município de Florianópolis – Santa Catarina.

3.3 VARIÁVEIS DA PESQUISA

As variáveis da pesquisa adotadas foram do tipo quantitativa, tais como:


idade, frequência de participação nas aulas de Biodanza®, nota de auto percepção
corporal e emocional; e qualitativa, tais como: qualidade da dor física e qualidade
metodológica da aula de Biodanza®.

3.4 METODOLOGIA DA PESQUISA

Em abril de 2019, após uma apresentação de grupo de Biodanza® no Centro


de Saúde Prainha, do município de Florianópolis – Santa Catarina, a equipe médica
da Estratégia Saúde da Família (ESF) convidou-me para a formação de um grupo de

8
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION Centros de Investigação de Musicas e Exercícios de Biodanza®
CIMEB - Lista Oficial de Exercícios, Músicas e Consignas.
9
Lista Oficial de Ejercicios, Músicas y Consignas de Biodanza® 2009 Edición revisada y ampliada
39

iniciantes em Biodanza® com os usuários dos serviços da APS daquele distrito


sanitário, com histórico de dor crônica.
Desde então, dos sujeitos da pesquisa e das aulas do grupo de iniciantes em
Biodanza®, não foram estabelecidas restrições de diagnóstico de doença para sua
participação, mantendo-se o caráter de aleatoriedade. Outrossim, o grupo foi
mantido aberto para o ingresso de novos alunos a qualquer momento. Foram
estipulados encontros semanais (1x/semana), com duração de 2 horas.
No segundo encontro e/ou participação no grupo, era aplicado uma ficha de
acompanhamento individual para caracterização da condição de saúde do aluno; e,
no último encontro, foi aplicado o questionário semiestruturado para observação dos
ganhos obtidos com a prática da Biodanza®.
As aulas de Biodanza® são divididas em duas etapas. A primeira, destinada à
prática da “roda verbal” ou “roda de intimidade verbal” entre alunos (as) e
facilitadora, onde não há uso de técnicas de psicodinâmica, discussão e elaboração
em grupo, muito menos de confissão pública, há apenas o convite para falar, ouvir e
silenciar, com duração de 1hora, é um tempo para a escuta qualificada com
presença e afeto, para o exercício da fala e da expressão emocionada e sincera das
emoções e sentimentos do “eu”.
A segunda é composta pela tríade da Biodanza®: dança - movimento –
vivência, aplica-se “playlist musical” com as músicas selecionadas especificamente
para cada aula (9 a 12), divididas em diferentes faixas de estímulo, com duração de
1hora. Nesta etapa, orienta-se silenciar a fala e funções analíticas do pensamento e
do julgamento, apenas, convida-se o aluno a vivenciar a música, o corpo, os
encontros e as emoções.
O programa de exercícios e músicas para Biodanza® é resultado de um
cuidadoso e paciente trabalho de seleção e pesquisa, ao longo de mais de 20 anos
e não são utilizados exercícios dissociativos, que reforçam a imobilidade ou que
pertencem a exercícios de ordem mecânica (Tomo II, 1991). Por fim, os critérios
para sua seleção são, entre outros:
a. Potencial de integração corpo-emoção
b. Potencial harmonizador de totalidade
c. Potencial deflagrador da comunicação inter-humana
d. Potencial psicomotor arquetípico
e. Potencial criativo
40

f. Potencial de desenvolvimento da sensibilidade frente à vida

Figura 3.1 - Material da ECB Aula Metodologia (2018): Exercícios de Integração, Comunicação
Afetiva e onde colocá-los na Estrutura da Vivência.

Para um grupo de iniciação em Biodanza® é necessário estabelecer uma


estruturação de aula que busque a integração motora, afetivo-motora e a
comunicação afetiva e comunhão, com o cuidado de garantir uma harmoniosa
passagem entre os exercícios propostos e uma ativação final, tal como é relatado a
seguir no quadro abaixo:

Quadro 3.1 – Estrutura de aula da Biodanza® por fases de atividades, suas


definições e ações propostas (Autora, 2019).
Fase 1 - Início ou abertura
Caracteriza a cerimonia, no sentido clássico de iniciar algo importante.
Representa a unidade da comunidade humana. Para Rolando, a Roda
Roda inicial
inicial deve enfatizar a comunicação afetiva, e elevar o humor no inicio da
aula.
Fase 2 – Exercícios de Integração Motora
DEFINIÇÃO ATIVIDADES PROPOSTAS
O caminhar é o começo da dança que  Caminhar fisiológico;
Exercícios constitui uma preparação da motricidade para caminhar sinérgico;
básicos de os exercícios seguintes.  Marcha com motivação
marcha O caminhar em pares necessita sintonia com o afetiva; e
companheiro, com isso, é mais complexo do  Coordenação rítmica em
que o caminhar individual. pares (caminhar com outro).
O ritmo é uma expressão natural do
organismo, já que temos vários ritmos
fisiológicos internos, como ritmo cardíaco,  Variações rítmicas;
Exercícios de respiratório e peristáltico, que variam de  Danças rítmicas;
ritmo e de pessoa para pessoa.  Salto sinérgico;
sinergismo A natureza também tem seus ritmos: dia e  Danças com ritmos tropicais
noite, estações do ano, as marés. Os (samba, mambo, forró).
exercícios de ritmo são muito importantes na
integração estimulando, ao mesmo tempo, o
41

ritmo e a comunicação afetiva. Com isso, tem


um efeito extraordinário sobre o humor
endógeno
Esse tipo de atividade é mais complexo do  Dança de deslocamento
Exercícios de que os exercícios rítmicos, porque, além do com leveza; e
deslocamento
com leveza
deslocamento no espaço, requer a  Valsa (deslocamento,
coordenação dos movimentos com a melodia. leveza e coordenação).
É um grupo de exercícios muito importante
para a vivência em Biodanza®, introduz e cria
 Sequência de fluidez e
Exercícios de repertório de movimentos integrativos, através
 Dança livre de fluidez.
fluidez do relaxamento, que facilita o fluxo da energia
e com reduzido controle voluntário, baseando
nos exercícios do Tai-Chi-Chuan.
São exercícios que evocam uma vivencia
(transe) de liberação de um estado de tensão
ao relaxamento das musculaturas cervical,  Movimentos segmentares;
Exercícios de ombros e região dorsal. Atua na estimulação  Integração motora e
dissolução de
parassimpática, na indução a um estado de cenestésica dos três centros;
tensões
crônicas semitranse. Dissolver a tensão ocular, oral e  Respiração abdominal; e
do rosto em geral. São exercícios que  Respiração dançante.
transformam progressivamente a couraça
caracterológica.
Fase 3 - Integração afetivo-motora
 Sincronização rítmica;
 Sincronização melódica;
 Danças de eutonia;
Os exercícios de integração afetivo-motora permitem superar a
 Leque chinês;
dissociação entre a afetividade e a ação, fazendo com que o
 Exercícios de
comportamento seja organizado pela afetividade.
expressividade; e
 Exercícios de contato
sensível.
Fase 4 - Comunicação afetiva e comunhão
 Minuto de eternidade,
 Roda de embalo,
 Roda de comunhão,
São todas as formas de encontro.
 Fluidez em grupo com
contato sensível; e
 Grupo compacto de
embalo.
Fase 5 – Ativação Final
 Roda Final: Têm a
características de
Os efeitos do estado regressivo, induzido são fundamentais celebração, de reverenciar e
para o processo de conexão com a vida. fortalecer o vínculo na
presença de cada um, em
uma despedida feliz.
42

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Na Gerência de Coordenação de Atenção Básica (GEABS) da Secretaria de


Estado de Saúde de Santa Catarina (SES/SC) está à referência estadual em PICS
que desenvolve ações de apoio institucional aos gestores regionais e municipais de
saúde para estimular a implantação, implementação, divulgação, avaliação e
monitoramento das práticas integrativas e complementares em saúde (PICS), o que
valida à proposta de ação deflagrada por este trabalho de conclusão de curso.
Desta forma, com a proposta de levar a Biodanza®, como mais uma das
PICS e aumentar a oferta de práticas corporais integrativas na assistência em
unidade de atenção primária de saúde, deu-se início ao grupo de Biodanza® no
Centro de Saúde Prainha, Florianópolis – Santa Catarina (Figura 4.1).

Figura 4.1 – Imagem frontal (à esquerda) e mapa de localização (à direita) do Centro de Saúde
Prainha – Florianópolis.

Nessa época, estava com dúvidas quanto à conclusão da minha formação


como Facilitadora/Professora de Biodanza®, sendo este o primeiro desafio que se
apresentou naquele momento. O segundo foi trabalhar com o grupo da dor já
existente no CS Prainha. Abordarei minhas pesquisas e observação, a partir das
aulas administradas no estágio, como facilitadora de Biodanza®.
43

Na manhã de 23/04/2019, iniciei a condução do grupo de iniciantes em


Biodanza®, que permaneceu aberto para novos ingressos até 13/08/2019. Este
grupo era composto por adultos, de ambos os gêneros, com queixas de dores
crônicas, usuários dos serviços de acupuntura, auriculoterapia e educação física do
Centro de Saúde da Prainha, como apresentado em Figura 4.2.

Figura 4.2 – Gráfico de Participantes Aula de Biodanza ®, no período de abril a agosto 2019 – CS
Prainha – Florianópolis.

Participaram, ao todo, vinte e seis (26) pessoas nas dezesseis (16) aulas de
Biodanza® desenvolvidas, sendo quinze (15) destas frequentadoras de mais de
duas (2) aulas. Responderam a ficha de avaliação individual quinze (15) alunos, e
destes sete (7) o questionário semiestruturado, utilizado para análise crítica dos
dados quanti-qualitativos.
Quanto ao gênero, a grande parte do grupo foi composta por mulheres, ao
considerar que no período das aulas passaram pelo grupo vinte e seis (26) pessoas
e que, apenas quatro (4) eram homens. No grupo que respondeu questionário final
era composto de 100% mulheres.
Quanto à idade dos participantes do grupo pesquisado, variou dos dezessete
(17) anos aos setenta e nove (79) anos, com 66% de prevalência da faixa etária de
quarenta e cinco (45) a setenta e um (71) anos. Segundo a classificação etária da
OMS, entre quarenta e cinco (45) e sessenta (60) anos de idade há tendência ou
predisposição ao desenvolvimento de doenças que requerem medidas preventivas,
44

bem como, entre sessenta (60) e setenta (70) anos de idade, há emergência de
doenças clínicas que requer diagnóstico e tratamento oportuno (Figura 4.3).

Figura 4.3 – Gráfico - Faixa Etária Participantes Aulas de Biodanza®. Período de Estágio de abril a
agosto 2019 – CS Prainha – Florianópolis.

Este trabalho apresenta dados sobre o impacto da prática da Biodanza® na


auto-percepção da saúde corporal e emocional, da dor física crônica e da percepção
da metodologia aplicada das aulas, coletados no período de estágio obrigatório para
minha formação de Facilitadora/Professora de Biodanza®, entre 23 de abril e 13 de
agosto de 2019, como apresentados a seguir:

4.1 AUTO-PERCEPÇÃO DA SAÚDE (CORPORAL E EMOCIONAL)

Sobre a autopercepção da saúde, das quinze (15) fichas de avaliação


individual, em que foi questionado uso de medicamentos e as principais queixas ou
problemas de saúde, observou-se que dez (10) alunos responderam usar medicação
e onze (11) alunos, outras terapias PICS (acupuntura, auriculoterapia e Educação
Física) para o controle da dor. Da topografia da dor, seis (6) especificaram o joelho
como local de dor. Do problema de saúde emocional existente, três (3) apontaram a
ansiedade como problema e duas (2), a insônia (Figura 4.4).
45

Figura 4.4 – Gráfico Dor ou Problemas de Saúde dos Participantes das Aulas de Biodanza®. Período
de Estágio de abril a agosto 2019 – CS Prainha – Florianópolis.

Quanto à auto-percepção após a prática das aulas de Biodanza®, foi


solicitado, aos sete (7) respondentes do questionário semiestruturado, uma
pontuação de um (1) a dez (10) como indicador de melhoria dos parâmetros
autoestima, alegria, ânimo/ vitalidade, afetividade/amorosidade, sono/ repouso,
conexão com a vida e com o outro (Figura 4.5),
46

Figura 4.5 – Gráfico Auto-percepção dos Participantes Após participar Aulas de Biodanza®. Período
de Estágio de abril a agosto 2019 – CS Prainha – Florianópolis.

Observando-se que os parâmetros de conexão com o outro, afetividade e


alegria obtiveram pontuação máxima (média 10) com 100% de satisfação (Figura
4.6).

Figura 4.6 – Gráfico Média dos indicadores de Auto-percepção dos Participantes Após participar
Aulas de Biodanza®. Período de Estágio de abril a agosto 2019 – CS Prainha – Florianópolis

Quanto aos dados qualitativos, recortam-se os relatos das sete (7)


participantes sobre a sua auto percepção de saúde (corporal e emocional) após a
prática de Biodanza®, quando questionadas sobre “o que mudou em sua vida” e “se
você faz parte do grupo da dor, ou se apresentava alguma queixa (problema de
saúde) quando iniciou a Biodanza®, relate se houve melhoras ou outra
transformação com a prática da Biodanza® ?” (Quadro 4.1):

Quadro 4.1 – Relatos de auto percepção da saúde de alunos do grupo de iniciação em Biodanza®,
segundo idade e número de aulas frequentadas. Período de Estágio de abril a agosto 2019 – CS
Prainha – Florianópolis.
Idade Nº
Aluna Relato
(anos) aulas
“Estou me sentindo mais equilibrada emocionalmente, me sentia
muito afetada pelas pessoas com quem convivo, as relações
A.A.S 71 5 melhoraram muito no convívio"; sobre a dor: “Tinha muita dor no
nervo ciático, senti que aliviou muito a dor”.
”Estou mais calma, melhorou muito a ansiedade, obtive melhora no
sono e me sinto mais alerta” Outra transformação que sentiu: “Hoje
S.F 44 6 eu consigo chorar, antes eu não conseguia, pois, tinha que ser muito
forte e dura para não sofrer, trabalho em hospital infantil na área de
47

oncologia”.
R.D.S 17 7 “Melhorou minha menstruação”.
“Estou ouvindo mais música, mais liberdade para dançar e participar
de encontros sociais, mudanças de atitude nas relações pessoais”.
Sobre a dor: “A partir da 4ª aula não senti mais aquela dor profunda
S.B.S 45 7 no meu peito, que me trouxe até a aula de Biodanza®” Outra
transformação que sentiu: “Maior consciência da minha atitude e
postura no mundo e diante dos outros”.
“Com a roda de conversas pude perceber como é importante ouvir
de forma qualificada o outro, saber o que está passando e o que
A.S 30 11 está sentindo a outra pessoa, perceber a importância do encontro na
roda e na dança”.
“Me sinto muito melhor em todos os sentidos”; sobre a Biodanza®:
A.F.F 51 8 “Está bom demais continua assim! ”.
“Sinto mais ânimo de viver”; sobre a dor: “Melhorou bastante minha
M.O.F 74 8 dor nos joelhos e também minha falta de ar.”

Quanto à auto-percepção de saúde, ainda foram registrados relatos de roda


verbal de todos os alunos do grupo, independentemente de sua frequência de
participação. E adotar a linguagem verbal em “roda”, como parte do processo de
Biodanza®, é obter relatos das vivências não somente como uma mera descrição do
fenômeno; é registrar expressões de profunda conexão consigo e com os demais
membros do grupo. Tais relatos, a seguir, são um precioso recurso para o
autoconhecimento e o autodesenvolvimento para o fechamento de aulas anteriores,
em relatos construídos para explicar e dar coerência às sensações e aos
sentimentos individuais:

SBC, 54 anos (F), chegou transtornada de dor em seu primeiro dia no grupo
da dor e, também, no primeiro dia de aula de Biodanza®. Ela teve uma frequência
de cinco aulas ininterruptas, estava num processo muito bem e não compareceu
mais, porém, referiu os problemas e suas melhoras, como:
“Estou com muita dor nas costas (lombar) há 3 meses tomando
muita medicação para dor, anti-inflamatório, e até morfina
injetável”. (Aula 01).

“Estou muito melhor da dor, eu nem acredito que aquela dor


horrível passou. Estou sem medicação, estou mais disposta e
percebi que eu preciso cuidar de mim”. (Aula 02).
48

SBS, 45 anos (F), adentrou a sala na segunda parte da aula, quando já


estávamos na terceira música, fui abordá-la, respondeu que só ia olhar. Com
cuidado, tive que convidá-la a sair da sala e retornar na próxima aula, no horário. Foi
uma experiência muito difícil para mim, mas fiz o convite com toda firmeza e carinho
possível, ela ficou visivelmente muito chateada e incrédula com meu convite para
sair da sala “Você está dizendo para eu sair?.”, confirmei e reforcei o convite para
retornar na próxima aula: “Se eu fosse você eu voltaria, pois o mesmo cuidado que
estou tendo agora com os alunos(as) terei com você” Foi um momento tenso para
todos. Fique bastante apreensiva se ela iria retornar, e muito feliz quando
compareceu na aula da outra semana, é uma aluna assídua e hoje continua firme na
pratica da Biodanza®:com este relato de sua percepção de mudanças

“Sentia uma dor profunda insuportável no meu peito (tinha


sensação de morte) e estava me tratando e investigando com a
médica, que me encaminhou para a Biodanza®, já havia feito
muitos exames de alto custo, tomando muitos medicamentos e
só piorava. Depois que eu comecei a Biodanza® fui ficando
mais leve e isso é incrível, depois da 4ª aula aquela dor no
meu peito sumiu!”. [...] “depois do exercício do dedo (eutônia
de contato mínimo) tomei consciência da minha atitude e
postura no mundo comigo e com os outros, percebi que não sei
dar limites, mas também não respeito os limites, da mesma
forma que sou invadida, vou invadindo o espaço dos outros, foi
isso que fiz aquele dia que entrei na aula que já tinha
começado.. agora caiu uma ficha!! Como foi importante você
ter dado o limite, olhando nos meus olhos... o que fez eu voltar
foi o teu olhar.”

AAS, de 71 anos (F), queixava-se de muita dor do nervo ciático. O dia deste
relato era sua sétima aula. Pela 1ª vez ela conseguiu sentar no chão e permaneceu
até o fim da roda de intimidade verbal nesta postura. Observava-se conforto e
espontaneidade, quando falei da minha felicidade em vê-la naquela posição, sendo
que a mesma nem havia percebido seu movimento e postura sem dor ou
desconforto, ainda relatando sua percepção pós-última aula:
49

“Percebi que eu ficava e fico muito ruim no inverno, eu não


gosto do inverno, mas fico muito mal... ai fiquei pensando, mas
eu estou fazendo Biodanza® porque estou me sentindo assim,
devia estar bem... ai me veio o acariciamento das mãos que a
gente fez na última aula, parei olhei as minhas mãos e toquei
minhas mão, naquela hora tomei consciência que eu preciso
me amar mais, foi muito forte sentir isso, de eu poder me amar,
e não só amar os outros (freira aposentada)”

SF, de 44 anos (F) é profissional da saúde num hospital pediátrico, na área de


oncologia, e na terceira aula, a mesma relatou sua dificuldade em demonstrar
sentimentos e de sua indiferença, relata sua percepção de mudança:
“Hoje um paciente que gostávamos ficou muito mal, antes eu
não chorava.. eu vi a mãezinha muito mal e convidei ela para
sair do quarto e dei um abraço sem falar nada e choramos
junto, no final do plantão ela veio dizer para mim que aquele
abraço era todo que ela precisava naquele momento e que fez
um bem enorme para ela naquela hora de tanta dor” [...] estou
muito melhor da dor no ombro e dormindo muito bem depois da
Biodanza®” [...] estou mais chorona, mas é bom antes eu não
chorava, guardava tudo.
Quando uma pessoa expressa suas emoções, os outros sabem como se
relacionar com ela e a Biodanza® propõe vivências e exercícios que integram o
indivíduo.

M.O.F, 74 anos (F), na roda de intimidade verbal da quinta aula, a mesma


relata os efeitos do vínculo afetivo, do mecanismo de auto-regulação, como:
”Quando a gente fica velha, vai ficando mais triste, com dores
por tudo, meus joelhos doem muito. Eu procuro participar de
tudo, de grupo de idosos, de educação física, mas é muito
diferente aqui na Biodanza®. Aqui, a gente pode falar e é
escutado, as amizades são mais verdadeiras. [...] minha falta
de ar e a dor do joelho estão bem melhores, porque, aqui, eu
50

aprendi que posso vir e que se não consigo, ou cansei, eu


sento, descanso, depois volto a dança, mas continuo na aula
[...] depois da primeira aula, fiquei com hematomas por todo
corpo e doía tudo. Achei estranho mas não deixei de vir. Na
época, acho que eu ‘tava’ muito tensa, muito nervosa, qualquer
coisinha me deixava muito furiosa. Agora, não. Agora, eu olho
e até acho graça”.

Uma boa qualidade de vida implica viver da melhor maneira possível e não
apenas durar ao longo do tempo. A atividade física para a pessoa idosa deve estar
centrada na atenção, propondo que a vivência corporal prevaleça sobre o
desempenho, reforçando sua autoconfiança. E a Biodanza® é um convite para viver
o movimento como fonte de prazer.
Aponto os dados do questionário bem como os relatos da roda verbal das
alunas para confirmar o que TORO, R (2005) apresenta como sendo as mudanças
de primeira ordem esperadas dos participantes de grupo de iniciação de Biodanza®:
1. a integração ao próprio corpo, em que a maioria das pessoas está
dissociada por não sentirem as partes do corpo ou do corpo inteiro se percebem a si
mesmos com um esquema corporal centrado na cabeça. Os graus de dissociação
são variados. Nossos atos não têm interioridade. A dissociação corpo-alma foi um
valor cultural durante muitos séculos. Integrar corpo e alma representa uma
mudança nos valores culturais;
2. a transformação das defesas, em que as rigidezes motoras representam
nossa defesa contra o meio e que foram denominadas por “couraças
10
caracterológicas ” e que várias técnicas terapêuticas tentam rompê-las ou dissolvê-
las através de massagens, golpes ou movimentos bruscos;
3. a autorregulação orgânica para recuperar a energia, equilibrar a balança
neurovegetativa, o ritmo cardíaco, a pressão arterial, através dos mecanismos de

10
Wilhelm Reich estabeleceu a relação entre os estados de repressão emocional e a tensão de certos grupos
musculares. Estados permanentes de repressão produzem tensão crônica da musculatura, dando origem à
“couraça caracterológica”. A energia emocional não expressa ficaria, por assim dizer, acumulada nos músculos
e também nos órgãos. Reich estabeleceu a existência de 7 anéis de tensão: 1. Ocular; 2. Oral; 3. Cervical; 4.
Peitoral; 5. Diafragmático; 6. Abdominal; 7. Pélvico. Por exemplo, a repressão sexual, que perturba
principalmente o segmento pélvico, se projeta também em tensões do anel visual, oral, cervical, peitoral e
diafragmático. Existe uma estreita correlação neurológica entre os diferentes anéis de tensão descritos por
Reich. (Tomo vol. II. Pt III, 1991).
51

autor regulação. Os problemas que se tenta resolver a partir da angústia, são mal
resolvidos. Isto deve ser feito a partir da saúde; e
4. a integração motora: As dissociações motoras são as seguintes:
(enumeração). Em Biodanza® são apagadas as fronteiras entre os diferentes
centros, o que eleva o nível de saúde: eliminado as dores crônicas, cólicas etc.
A ação da Biodanza® sobre a vitalidade e a saúde mobiliza não somente o
sistema neuromotor, mas todos os demais sistemas cardiorrespiratórios,
neuroendócrinos, imunológicos e emocionais. Isto significa que a totalidade do
organismo é ativada para gerar processos adaptativos e integrativos. Por isso, os
exercícios de Biodanza®, que atuam sobre a linha da vitalidade, facilitam as funções
interorgânicas, como a “expressão das emoções”, como foi observada no relato A.S.
Biodanza® é uma atividade que gera forte motivação para o movimento e a
interação. Propõe movimentos naturais e orgânicos, através de exercícios acessíveis
e harmoniosos, reforçando o aprendizado da autorregulação, onde cada aluna
dance de acordo com suas possibilidades. Seu foco não é habilidades motoras, mas
o reforço das emoções positivas. O objetivo da aula de Biodanza® é despertar
prazer e alegria, compartilhando em grupo, com ênfase na parte sã e não nos
sintomas e na doença. Seu objetivo essencial é a nutrição afetiva, como observado
pelo relato de A.A.S.
Quando duas pessoas se aproximam, se olham nos olhos, sorriem ou se
abraçam se estabelece entre elas um campo de ressonância, que desencadeia
sempre algum tipo de resposta física profunda. A aproximação de outra pessoa
produz uma troca nos tônus musculares11 e ocorrem modificações na taxa hormonal
que entra na corrente sanguínea, nos processos enzimáticos, nos níveis de
vigilância, na percepção. Para dizer numa só palavra, provoca mudanças na
totalidade do organismo. A aproximação de duas pessoas não é um fenômeno
pueril. É uma espécie muito particular de emprego de energia cósmica. Este primeiro
momento se denomina em Biodanza® “sintonização” (Tomo Vol. II), como
observado no relato de SBS.

11
Ajuriaguerra (1911-1993), médico que redefiniu o conceito de debilidade motora, como sendo uma síndrome com suas próprias
particularidades. Trouxe a Psicomotricidade especificidade e autonomia consolidando as bases da evolução psicomotora. Introduziu
conceito da “Somatognosia” (gnosia, reconhecimento do soma, do corpo) “é entendida como a tomada de consciência do corpo na sua
totalidade e respectivas partes, intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos movimentos intencionais, isto é, a tomada de
consciência do corpo como realidade vivida e convivida” [...] a evolução da criança é sinônimo de consciencialização e de conhecimento
cada vez mais profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É com o corpo, diz-nos este autor, que a criança elabora todas as suas
experiências vitais e organiza a sua personalidade única, total e evolutiva [...].
52

A Biodanza® estimula a expressão em todos os níveis, verbal e corporal, da


expressão das emoções e dos sentimentos, em um ambiente enriquecido e
acolhedor: O grupo dá permissão para a expressão dos participantes e possibilita
que cada um desenvolva a coragem de se expressar, ao compartilhar com o grupo
sua vivencias e experiências usando a fala, está incentivando e permitindo que os
demais também o façam. Na roda verbal é estimulada a expressão verbal a partilha
das vivências e a expressão corporal e afetiva são estimuladas. Como observado no
relato de A.S.
A Ação terapêutica da Biodanza® implica a consciência de que nosso estilo
de vida pode conduzir a determinadas patologias. Assim, a Biodanza® atua na
reeducação afetiva para as “doenças da civilização”, segundo Toro apud Arthur
Jores (1979), que em suas pesquisas em antropologia médica concluíram existir
1500 doenças, especificamente, humanas.
Jores (1979) definiu como doenças “especificamente humanas” as que não
aparecem no animal como doenças espontâneas, tais como as neuroses, as
psicoses, as psicopatias, as doenças psicossomáticas, as infecções do aparelho
respiratório (asma de origem funcional, alergias respiratórias, bronquite do fumante),
disfunções do aparelho digestivo (úlcera duodenal, colo espástico, colitis ulcerosa),
doenças cardíacas e circulatórias (hipertensão, varizes e infarto), transtornos
endócrinos (hipertireoidismo, cólicas menstruais), desequilíbrios da termoregulação,
doenças articulares (artrite reumatóide, artropatias), doenças renais, síndromes
neurológicas (neurite, enxaqueca, hemicraneas), alterações da percepção sensorial
e alterações da motricidade (fadiga crônica, rigidez muscular.
O ATO ÍNTIMO DE CURAR: Qualquer doença, [...] provém de
um transtorno da totalidade do organismo. Pensar a doença
como o transtorno de um órgão ou sistema isolado, tem
constituído o erro mais dramático da medicina. Esse modo de
pensar implica que o Homem é uma soma ou conjunto de
peças isoladas e não um sistema de circuitos funcionais em
que o processo vital é de uma complexidade muito maior que a
soma das funções. A anatomia tradicional, com todas suas
descobertas positivas, atomizou a imagem do Homem,
coisificou a e projetou-a sobre a morte; não sobre um Homem
vivo dentro de seu ambiente e em relação com outros. Dessa
visão provém toda a violência de que é responsável a medicina
até nossos dias. (Tomo I,1991)
53

4.2 PERCEPÇÕES DA APLICAÇÃO DAS AULAS DE BIODANZA®

O Processo do aprendizado de transformação em facilitadora é vivenciar a


capacidade de percepções, na relação em feedback com o grupo ao conduzi-lo com
a progressividade necessária, respeitando suas características específicas, suas
dificuldades, suas limitações e dores, e sua potencia de mudança.
Na preparação das aulas para um Grupo Iniciantes as proposta predominante
são os exercícios de integração motora, para que os alunos aceitem o convite e
inicie a liberar seus movimentos, dissolvendo aos poucos, suas tensões e couraças,
bem como acessando e desenvolvendo suas capacidades rítmicas e, assim,
gradualmente ir superando as dissociações através das vivências, também com
ênfase aos exercícios de integração afetivo-motora, comunicação afetiva e vínculo,
estimulando de um modo progressivo, a vitalidade e a afetividade.
Atender a rigorosa progressividade é um fator de suma importância quando
se estrutura uma aula ou se introduz, para os iniciantes, exercícios novos e mais
complexos específicos de cada linha de vivência. Preparar uma aula de Biodanza®
é ir aguçando a percepção de todos os elementos é um grande um desafio, que
assusta e encanta, é um processo apaixonante.
Cada participante evolui os níveis de saúde em relação a suas próprias
percepções e padrões, pois a metodologia da Biodanza® não fomenta atitudes
competitivas nem ansiedade de rendimento artificial, fator que gera confiança e
disponibilidade mesmo diante de sua limitação e restrições de movimento. Respeitar
o princípio da progressividade é respeitar a coerência dos conceitos de integração e
desenvolvimento, é vivenciar o processo de maturação, respeitando o ritmo interior e
o desabrochar da potencia de vida através da reciclagem afetiva e progressiva do
impulso vital de cada participante.
Nos aspectos de infraestrutura, sobre área física disponibilizada para
realização da pratica o recomendado é um local com privacidade, com piso
termicamente adequado visto à importância da prática de pés descalços, embora
esse fator não impeça sua realização inibe a disposição do participante quando é
muito frio; no âmbito de recursos humanos para a prática de Biodanza® nas PICS
na APS, é desejável que o(a) professor(a)/facilitador(a) seja preferencialmente um
profissional de saúde (multiprofissional), com formação certificada e com diploma
54

validado em Biodanza® por Escolas de Biodanza® Sistema Rolando Toro, da


mesma forma como campo de estágio para os futuros professor(a)/facilitador(a) é
recomendado que se estabelece junto as escolas de formação e os gestores
politicas mais definidas.
Sobre o desejável e o real, a minha experiência vivenciada na formação de
grupo de Biodanza® no CS Prainha, quanto à infraestrutura disponibilizada: a sala
se mostrou inadequada, por não contemplar o item de privacidade necessária,
embora ela fosse projetada para atividades em grupo, no seu interior está instalado
o vestiário dos trabalhadores desta unidade, o que ocasionou inúmeros
inconvenientes durante as sessões, e foi manifesto pelos participantes no
questionário sobre: A sala onde é realizada a aula de Biodanza® é adequada?
90% responderam (não), e apontaram o fato das múltiplas interrupções durante as
aulas, tanto para os participantes quanto para mim foi uma situação problema,
embora conseguíssemos superar com muito cuidado e continente afetivo do grupo.
Quanto aos recursos humanos, cito a resposta frente a minha demanda sobre PICS
em Florianópolis, por e-mail, em 08 de julho de 2019:
“A coordenação das PICS no município tem o compromisso de
aumentar a disponibilidade das práticas corporais na rede. O
que normatiza a Biodanza® em Florianópolis é o mesmo que
normatiza as PICS, ou seja, as políticas Nacional e Estadual de
PICS. Dentre as suas diretrizes está à inclusão das PICS na
rede municipal por meio de estratégias de Educação
Permanente que capacite os profissionais da equipe para que
ofereçam PICs. Em função destas diretrizes, bem como as
diretrizes de Educação permanente do Ministério da Saúde,
não dispomos de recursos que possibilitem investir na
formação de práticas corporais, que em geral tem um custo
considerável e uma carga horária extensa. Uma parte da oferta
de Biodanza® no município está ocorrendo com parcerias e
elas são indicadas em geral pelos profissionais que atendem
em alguns locais são ministradas por servidores do quadro, que
estão em formação e uma parte por voluntários. Os obstáculos
não se restringem a dificuldade em formar profissionais (na
maioria das vezes às próprias custas), mas também estão
relacionados à carga de trabalho e demandas já consolidadas
das equipes”. RSD Coord. PICS/SMS /Fpolis.

Este, portanto, é o atual cenário das PICS na APS em Florianópolis;


apresento agora o cenário que vivenciei no CS Prainha: a) durante todo o período
das aulas convidei os trabalhadores da unidade a participarem e/ou conhecerem a
55

Biodanza®, mas embora manifestassem interesse, suas negativas apontavam para


sobrecarga de trabalho, sub dimensionamento de pessoal e absenteísmo; b) todos
os participantes do grupo foram encaminhados por alguém, 99% por profissionais da
área da saúde; c) nas unidades de saúde quando a Biodanza® é introduzida por
profissional veiculado ao CS ou a comunidade, percebe-se um maior interesse e
adesão a prática d) no CS Prainha todos os profissionais da saúde com quem
conversei, apontaram para o fato de ser uma comunidade não afeita a participação
de grupos, a mesma informação foi confirmado pelos participantes do grupo, e de
repetidas vezes colocarem que há maior êxito quando os grupos são formados no
Morro (Ex, da Queimada), a comunidade “não gosta de descer o morro”, tão pouco
gosta de participar em outras comunidades, a exemplo da Costeira do Pirajubaé,
que é muito próxima e tem grupos de Biodanza® para participar; e) Durante o
período de estágio ocorreu arrombamento e furto no CS Prainha, o ambiente ficou
“estranho” com desconfiança e indignação geral, pela suspeita de que os autores
seriam membros da própria comunidade a depredarem um bem de uso comum.
Tais considerações somente aumentam a certeza da importância da
Biodanza® na APS como uma das PCIS, ao considerar sua dimensão no campo
sociológico, que se inicia nas vivências integradoras, no comovedor e profundo
sentimento de amor e fraternidade, na vinculação que gera uma modificação social,
na reabilitação social e existencial do participante, que se torna ator da sua história.
Como facilitadora pude observar a encantadora transformação tanto individual
como do grupo, mesmo com poucas aulas, que a pratica de Biodanza® traz ao
despertar alegria e a coragem de viver, o renascer da vinculação com a vida e com a
espécie num processo de reabilitação existencial deflagrador de mudanças no estilo
de vida, e que em sua expressão de maravilhoso fez germinar naturalmente no
grupo o movimento de união e ação, e no dia 20 de julho um sábado, da vivência
que gera reabilitação existencial fez unirem-se em mutirão (ação social) para
resgatar a “Horta medicinal – Farmácia Viva12”, que fica nos fundos da CS

12
"Horta de Plantas Medicinais" foi introduzida como uma das 1as PICS nos Centro de Saúde de
Florianópolis em 2011, naquela época em parceria com o Horto Didático da Universidade Federal de Santa
Catarina-UFSC, cujo objetivo era discutir o uso popular e científico das plantas medicinais, facilitando o
reconhecimento das potencialidades e aplicabilidade na prática clínica, na época houve um curso de 60h
para profissionais de nível superior das unidades de saúde denominado “PIC-Floripa”, dando origem as
“Oficinas de Planta Medicinais” com atividades de educação popular relacionada às PICS, para agentes
comunitários de saúde e a comunidade. Portaria nº 886, de 20 de abril de 2010 - Ministério da Saúde
Institui a Farmácia Viva no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)
56

Prainha, estava abandonada de cuidados, totalmente tomada pelo mato e com muito
lixo.
Lembrando aqui o perfil discreto na pesquisa das alunas do grupo de
Biodanza, foi um lindo Movimento Biocêntrico – Movimento Espontâneo, que
emergiu através das vivencias integradoras, na expressão da amorosidade, da
vinculação interpessoal, bem como a integração consigo mesmas e com o mundo
(ecologia), como o tudo e com o todo que as cerca. Assim reafirmo que a pratica de
Biodanza® acessa a potencia de resgate e manutenção da vida, que estimula a
restauração biológica, de repouso e ação, no aumento da vitalidade e das
motivações para viver e ser feliz, que reflete nos níveis de saúde, energia e
harmonia, em sincronicidade com o todo.
57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em meu processo vivencial de facilitadora percebi no grupo os efeitos


terapêuticos e os benefícios da Biodanza®, entre os quais: a) aumento da energia
vital e disposição para a ação, acesso ao inconsciente vital; b) redução e/ou
remissão da dor; c) melhora na qualidade do sono e repouso; d) melhoria da
autoestima; e) capacidade de substituir sintomas depressivos por novas motivações
para a vida; f) melhoria da capacidade de comunicação e estabelecimento de
vínculos afetivos mais saudáveis; g) impulso à criatividade e aumento da resposta
imunológica; h) resistência ao estresse; i) estímulo ao processo de
autoconhecimento.
No grupo de Biodanza® que se formou no período do meu estágio no CS
Prainha, os participantes em sua maioria eram do grupo da dor (crônica), e os
resultados mais expressivos e manifestos pelas participantes foi à remissão da dor
intensa, melhora nos índices de vitalidade e afetividade.
Ao trabalhar com a parte sã do ser humano, a Biodanza® é um verdadeiro
investimento na Saúde Pública, pois abarca a pessoa em sua identidade, para além
dos diagnósticos, proporcionando maior qualidade de vida e das relações, bem-estar
e a preservação da saúde integral, os exercícios de Biodanza®, quando praticados
regularmente, estimulam a função primordial de conexão à vida, despertando os
aspetos saudáveis do indivíduo.
É uma prática integrativa e complementar em saúde no tratamento das
diversas doenças que geradas pelo estresse e pelo estilo de vida e de origem
psicossomática. Da mesma forma que é uma opção profilática ao aparecimento
dessas desordens e uma prática que pode gerar mais saúde e qualidade de vida.
58

REFERÊNCIAS
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práticas integrativas e complementares em saúde. Brasília: MS, 2018.
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Florianópolis, v. 15, 2006, p. 48-54. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/tce/v15nspe/v15nspea05. Acesso em 4 ago 2019.
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DE MIGUEL, J.M. La salud publica del futuro. Ariel: Barcelona, 1985.
DOSSEY, L. A cura além do corpo: a medicina e o alcance infinito da mente.
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Glossário temático: práticas integrativas e complementares em saúde / Ministério
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59

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TORO, R. Biodanza. (M. Tápia, trad.). São Paulo: Editora Olavobrás, 2002.
TORO, Rolando. Biodanza. 2.ed. São Paulo: Olavobrás, 2005. 160p.
60

APÊNDICE A – FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL


CENTRO DE SAÚDE PRAINHA – Florianópolis
Curso Semanal de Biodanza® – de 23 de abril a 13 de agosto de 2019
FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL
Facilitadora: Rosa Claudia Onzi
DADOS PESSOAIS:
NOME DO PARTICIPANTE:
_________________________________________________________________
DATA DE NASCIMENTO: ____/___/______
PROFISSÃO: _____________________________________________________
Estado Civil:
 Solteiro (a)  Casado(a) União Estável Separado(a) Viúvo(a)
Nº de Filhos (as):

DADOS PARA CONTATO:


Telefone:_________ E-mail__________

INFORMAÇÕES GERAIS:

Pessoalmente o que você espera deste curso semanal de BIODANZA®?

Tem algum problema de saúde e/ou toma remédios? Se SIM, qual?

Tem alguma recomendação médica que deve ser respeitada? Se SIM, qual?

Tens alguma limitação física no momento? Qual?

Alguém indicou/recomendou para você fazer BIODANZA®?


61

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO


CENTRO DE SAÚDE PRAINHA – Florianópolis
Curso Semanal de Biodanza® – de 23 de abril a 13 de agosto de 2019
FICHA DE ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL: Nº
Facilitadora: Rosa Claudia Onzi
NOME DO PARTICIPANTE: Idade: anos
Frequência nas aulas: nº ___- aulas ( %)
Questionário Voluntário Sim Não Indiferente
1) A aplicação de Biodanza® melhorou a saúde?

2) O que mudou em sua vida:

3 ) A sala onde é realizada a aula de Biodanza® é


adequada
4) O ambiente, o grupo, as rodas, os exercícios
propostos com música/movimento/vivencia, os
encontros e os vínculos facilitaram sua vida/saúde
5) Responda as perguntas do que mais gostou da
Sim Não Indiferente
aula

5.1) Roda Verbal de intimidade e momento teórico

5.2) Aula exercício Música- movimento – vivenciais -


encontros

5.3) O grupo, encontros dança

5.4) Todos aos itens acima

6) Como você se Afetivi Conexão


sente após as Autoesti Animo - Sono dade com a vida e
Alegria
aulas de ma vitalidade repouso amoro com os
Biodanza®, sidade outros
assinale, ou
pontuei de 1 a 10
6.1) Se você faz parte do grupo da dor, ou se
apresentava alguma queixa (problema de
saúde) quando iniciou a Biodanza®, relate
se houve melhoras OU não.
6.2) Outra transformação que queira partilhar

7) O professor facilitou a teoria com a prática vivencial? Sim Não Indiferente

8) Na escala de (0 a 10) qual a nota que você dá a prática de


Nota:___________
Biodanza® para a sua saúde?
9) Espaço livre para
qualquer colocação
que sinta vontade
de manifestar.

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