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Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória

Teologia de Umbanda - TU

Desenvolvido e Ministrado por Alexandre Cumino

ICA - Instituto Cultural Aruanda I Bauru-SP

AULA 04 BLOCO 02 - Versão Digitada

Cena de entrevista:

Pai Alexandre Cumino: “A família desse meu amigo tinha uma orientadora
chamada Doriana Tamborine, que é uma médium bastante conhecida aqui em SP, é
autora de livro e muitos anos depois voltei a conversar com ela, que faz um trabalho
espiritualista muito bacana aqui em SP. Então eu, aos 10 anos de idade já tinha um
grupo de estudos. Frequentava os Centros Espíritas, vários. Aqui em SP em Campo Belo,
existe um trabalho do espiritismo de Kardec, no Centro Espírita de formação, uma
estrutura muito bacana, chamada Seara Bendita. Frequentei junto com minha mãe a
Seara Bendita”.

Ele é um positivista, isso quer dizer que ele está na França pouco tempo depois da
Revolução Francesa, ele é simpática aquele movimento dos cientistas, iluministas e faz
parte do movimento científico. É chamado de positivista aquele que segue as idéias de
Augusto Conte, as idéias que pregam o fim da religião, o fim da mitologia, o conceito de
que a ciência dá conta de explicar tudo. Na obra de Kardec fica muito claro que o
espiritismo não tem ritual, não aceita nenhum tipo de símbolo, e aí é que vamos
entender então que a Umbanda tem coisas incomuns com o espiritismo. Mas no momento
que a Umbanda trabalha com elementos, magia, símbolos, ritual, entendemos que isso
não pertence ao espiritismo. Essa é uma discussão muito antiga e como todas as outras,
não vale a pena. A única coisa que interessa é a gente se conscientizar que
ortodoxamente falando ou categoricamente falando, o espiritismo pretende se
diferenciar diametralmente o posto aquilo que Allan Kardec entendia por religião na
época. Então, há um ranço ali com relação a religião, um ranço do positivismo com tudo

o que a religião representava na época. Isso fica claro em muitas falas do próprio Allan
Kardec durante sua obra.

Cena de entrevista:

Pai Alexandre Cumino: “Então antes de eu entrar na Umbanda eu tive esse


contato com um espírito que incorporava em uma mulher, um doutor Fritz. Acho que isso
eu não me lembrava de ter contado antes, primeira vez que estou contando isso. Assim,
de forma aberta. E esse doutor Fritz então pegou na minha mão e falou: “Você está com
uma pedra no rim? Estou. E ele sem ver exame sem ver nada, falou: Fica tranquilo. Antes
de você voltar aqui essa pedra vai sair”. Dito e feito, naquela semana eu expeli de forma
natural. Não tão natural porque o negócio sai rasgando. A sensação de expelir uma pedra
do rim é uma iniciação. É um rito de passagem você expelir uma pedra do rim. É algo
antes e depois de você expelir aquela pedra”.

Aqui no Brasil, que é o país mais espírita do mundo. Estou falando de espiritismo,
da doutrina de Kardec no mundo inteiro. Não há lugar que tenha mais espiritismo que o
Brasil. Incrível. Não há lugar no mundo que tenha mais percentual de Católicos também.
O Brasil é um país extremamente religioso e é a pátria da Umbanda. Então, esse povo é
um povo de muita fé. Entenda, o que mais se faz presente aqui no Brasil de espiritismo
são as sessões espíritas que tem um cunho e um caráter extremamente religioso. E isso
temos que observar, não pode passar batido. Porque no momento em que você tem uma
sessão espírita que acontece uma vez por semana, que seja, no mesmo lugar, horário. E
como acontece essa sessão espírita? É uma reunião de pessoas que estão ali voltadas para
Deus, para uma oração, tem uma preleção, leitura do evangelho, diante de uma mesa
com uma toalha branca, água para fluidificar, criou um ritual. Não é um ritual mágico,
formalmente religioso, mas há uma ritualística acontecendo na sessão espírita. E nosso
espiritismo brasileiro diga-se de passagem haviam vertentes dentro do espiritismo, e
prevaleceu a vertente mais religiosa, a vertente muito religiosa, aqui, em um país de
berço católico.

Nós vamos ter um tipo de espiritismo brasileiro que é extremamente Católico,


porque é comum o espírita lidar com a idéia de Karma de uma maneira muito parecida

com o que o Católico lida com a idéia do pecado. É muito comum o espírita brasileiro
lidar com o mundo espiritual em suas faixas negativas, com algo muito similar ao que o
Católico lidava ou lida com o inferno.

Cena de entrevista:

Pai Alexandre Cumino: “Então voltei lá para agradecer e ele anunciou que essa
pedra iria ser expelida de forma natural. Era uma pedra de 5mm, era um negócio. Então
fui lá agradecer e foi uma coisa chocante. Ele segurava na sua mão e era algo muito
próximo ao que vemos na Umbanda. Falava alto, meio grosseirão o doutor Fritz, negócio
tipo Exu conversando com a gente. E ele falava alto, ficava dentro de um quartinho, mas
era de divisória e todo mundo ouvia o que ele estava falando. Ele me deu uma rasgada:
O que você anda fazendo? Seus amigos? O que você está pensando?”. E foi uma coisa meio
assim: “Não senhor, sim senhor”. Mas enfim ele deu a letra da pedra e a pedra saiu. E ali
foi um lugar que fomos pontualmente para resolver isso, porque era um lugar que fazia
um trabalho de cura. Esse foi o único contato com um espírito que tive no espiritismo e
em um momento em que já não estava mais frequentando tanto. E aí veio o convite para
entrar na Umbanda, para visitar, conhecer a Umbanda. Então, foi fascinante chegar na
Umbanda e ver o acesso aos espíritos de uma maneira tão simples, natural e aberta e eu
dizia: Meu Deus, uma vida inteira no espiritismo e eu nunca conversei com um espírito.
Somente nessa pontualidade com doutor Fritz”.

Existe uma cabeça católica pensando o espiritismo. Existe uma diversidade de


preconceito com relação a várias coisas que transitam entre Catolicismo, Espiritismo,
Umbanda e Candomblé. E essa cabeça Católica chega no espiritismo e muitas vezes essa
cabeça espírita chega na Umbanda. E esse é um ponto fundamental na Teologia de
Umbanda que é construir ou criar uma mente umbandista. Ou seja, pensar a Umbanda
com cabeça de umbandista. Porque as pessoas vem de outra religião para a Umbanda,
como é o caso da maioria de nós, do Catolicismo para a Umbanda, do Espiritismo para a
Umbanda, do Candomblé, e é comum não esvaziar. Então, é preciso esvaziar-se primeiro
e depois absorver a Umbanda na sua alma, coração, na sua cabeça. A Umbanda possui
elementos incomuns ao espiritismo. Sim. A mediunidade, a comunicação com os espíritos.
A Umbanda possui várias outras questões diversas do espiritismo, que é a questão ritual,

mágica, manipulação de elementos, espíritos que se manifestam e falanges, a presença


dos Orixás enquanto Divindades, o culto a essas Divindades e a liberdade de trabalhar
com tudo isso sem o ranço de achar que se o espírito bebe, fuma, ou usa um elemento,
está com apego, ou que é atrasado por estar usando algum elemento no seu ritual. E
entender que o ritual dentro da Umbanda tem uma razão de ser. O charuto do Caboclo, o
cachimbo do Preto Velho, a defumação do incenso queimando no turíbulo, aquela magia
de pontos riscados no chão. A construção daquele altar dirigido a sua frente com Jesus no
topo, a dança, o canto, a roupa branca, o atabaque. Isso tudo não existe por um apego,
isso tudo existe por uma razão. De construir um ambiente mágico religioso.

Por Allan Kardec ser extremamente científico e contra tudo que era formalmente
religião e tudo que era formalmente magia, então o espiritismo nasce de uma maneira
até um pouco fria. Porque é extremamente filosófico e pouco poético. A religião é
extremamente poética, pode e deve ser filosófica na questão teológica e a poesia é
aquilo que vai ao seu coração. E o que seria de Deus sem a poesia?

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