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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Notitia criminis e o inquérito policial: Histórico, natureza, conceito, fi nalidade, características, fundamento, titularidade, grau de
cognição, valor probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento, ga-
rantias do investigado; conclusão; inquérito policial e o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público; arquivamento e
desarquivamento do inquérito policial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Da prisão cautelar: prisão em fl agrante; prisão preventiva; prisão temporária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Da prova: considerações gerais; Preservação de local de crime; exame de corpo de delito e perícias em geral; Requisitos e ônus da
prova; Nulidade da prova; Documentos de prova; Reconhecimento de pessoas e coisas; Acareação; Indícios; Interrogatório e confi
ssão; perguntas ao ofendido; testemunhas; Busca e apreensão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
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Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autorida-
NOTITIA CRIMINIS E O INQUÉRITO POLICIAL: CON- de assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato
CEITO; NATUREZA JURÍDICA; CARACTERÍSTICAS; INS- ou exigido pelo interesse da sociedade.
TAURAÇÃO; ATRIBUIÇÃO; INQUÉRITO POLICIAL E O Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso
CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade
MINISTÉRIO PÚBLICO; ARQUIVAMENTO E DESARQUI- policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º,
VAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL XIV, da Lei nº 8.906/94 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Bra-
sil - e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos
Inquérito Policial atos já documentados nos autos, independentemente de procura-
O inquérito policial é um procedimento administrativo investi- ção, para assegurar direito de assistência do preso e investigado.
gatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente em um Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e ir-
conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para restrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos
apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela auto- autos, mas não em relação às diligências em andamento.
ridade policial, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos
em juízo. já documentados, é cabível Reclamação ao STF para ter acesso às
A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia- informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habeas
do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o
em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber, mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a
as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe- prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele.
rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há
procedimento especial. se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com
A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos
anterior, é de “procedimento administrativo investigatório”. E, se é atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre ele policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à
as nulidades previstas no Código de Processo Penal para o proces- instauração de inquérito contra os requerentes.
so, nem os princípios do contraditório e da ampla defesa. Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da
Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito policial doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua ca-
não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de racterística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado
provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que, nos atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com contra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descu-
observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ- bra mais sobre um cidadão em situações como a investigação de
ção antecipada de provas, por exemplo. vida pregressa anterior a um contrato de trabalho.
A finalidade do inquérito policial é justamente a apuração do - Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem am-
crime e sua autoria, e à colheita de elementos de informação do pla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da sen-
delito no que tange a sua materialidade e seu autor. tença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação
colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto
“Notitia criminis” (art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não há
É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um fato uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na fase
delituoso que tenha sido praticado. São as seguintes suas espécies: do inquérito, tal como ocorre no momento processual, devendo
A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autoridade estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem sur-
policial toma conhecimento do fato por meio de suas atividades gindo.
corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qualquer desco- - Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade
bre uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa); para realizar aquelas diligências investigativas que ela julga mais
B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autoridade adequadas para aquele caso.
policial toma conhecimento do fato por meio de um expediente - Peça oficiosa/oficial. Pode ser instaurada de oficio.
escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; requerimento - Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial ele
da vítima); se torna indisponível. O delegado não pode arquivar o inquérito
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autorida- policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judicial,
de policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio do mediante requerimento do promotor de justiça.
auto de prisão em flagrante.
Valor probatório
“Delatio criminis” Fernando Capez ensina que, “o inquérito tem valor probatório
Nada mais é que uma espécie de notitia criminis, consiste na meramente relativo, pois serve de base para a denúncia e para as
comunicação de uma infração penal à autoridade policial, feita por medidas cautelares, mas não serve sozinho para sustentar sentença
qualquer pessoa do povo. condenatória, pois os elementos colhidos no inquérito o foram de
modo inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa.”
Características do inquérito policial
- Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Penal,
todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzi-
das a escrito (ou a termo) ou datilografadas e, neste caso, rubrica-
das pela autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de
ser peça escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante
tal fase sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo;

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Grau de Cognição Aplicação do Princípio da Insignificância no Inquérito Policial
Consiste no valor probatório a criar um juízo de verossimilhan- O princípio da insignificância tem origem no Direito Romano.
ça, assim, não é um juízo de certeza da autoria delitiva a fase de E refere-se, então, à relevância ou à insignificância dos objetos das
inquérito policial. Compete à fase processual a análise probatória lides. Vale analise sobre a relevância jurídica do ato praticado pelo
de autoria. autor do delito e sua significância para o bem jurídico tutelado.
No caso do Direito Penal, não se trata de um princípio previsto
Identificação criminal na legislação. É, por outro lado, uma construção doutrinária. E foi
Envolve a identificação fotográfica e a identificação datiloscó- assimilado, então, pela jurisprudência.
pica. Antes da atual Constituição Federal, a identificação criminal A depender da natureza do fato, os prejuízos ocasionados po-
era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988, inclusive, dem ser considerados ínfimos ou insignificante. E, desse modo, in-
dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo art. cidir o princípio da bagatela para absolvição do réu.
5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identificado não será subme- Nessa perspectiva, dispõe, então, o art. 59 do Código Penal:
tido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas em lei”. Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es- conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circuns-
tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o tâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento
qual a identificação criminal somente será cabível quando houver da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
fundada dúvida quanto à identidade do menor. reprovação e prevenção do crime...
Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Crimi-
nosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de pes- Como o Princípio da Insignificância decorre de uma construção
soas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas histórica, doutrinária e jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal
será realizada independentemente de identificação civil. houve por bem fixar critérios que direcionem a aplicabilidade ou
Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para não da ‘insignificância’ aos casos concretos. Para tanto, estabele-
tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos ceu os seguintes critérios, de observação cumulativa:
em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente, - a mínima ofensividade da conduta do agente;
sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações - a ausência de periculosidade social da ação;
criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência a - o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado. - a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº
12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o Não há qualquer dúvida de que o princípio da insignificância
tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo pode ser aplicado pelo magistrado ou tribunal quando verificada a
de delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um presença dos mencionados requisitos autorizadores e se tratar de
art. 3º com situações em que ela será possível: crimes que admitam a sua aplicação.
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de No entanto, apesar de ainda controverso, a jurisprudência atu-
falsificação (inciso I); al vem sendo direcionada no sentido de que não é possível a ana-
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para lise jurídica da conduta do acusado, em sede de inquérito policial,
identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II); para então aplicar desde logo o princípio da insignificância diante
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade distin- de eventual atipicidade da conduta imputada ao autor do ilícito.
tos, com informações conflitantes entre si (inciso III); Para o STJ, a resposta é negativa. A análise quanto à insignifi-
D) Quando a identificação criminal for essencial para as inves- cância ou não do fato seria restrita ao Poder Judiciário, em juízo, a
tigações policiais conforme decidido por despacho da autoridade posteriori. Cabe à autoridade policial o dever legal de agir em fren-
judiciária competente, de ofício ou mediante representação da te ao suposto fato criminoso. Este entendimento consta do Infor-
autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta mativo 441 do STJ:
hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual lei
(acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal pode- A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus a
rá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil paciente condenado pelos delitos de furto e de resistência, reconhe-
genético; cendo a aplicabilidade do princípio da insignificância somente em
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros nomes relação à conduta enquadrada no art. 155, caput, do CP (subtração
ou diferentes qualificações (inciso V); de dois sacos de cimento de 50 kg, avaliados em R$ 45). Asseverou-
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou -se, no entanto, ser impossível acolher o argumento de que a refe-
da localidade da expedição do documento apresentado impossibi- rida declaração de atipicidade teria o condão de descaracterizar a
litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI). legalidade da ordem de prisão em flagrante, ato a cuja execução o
apenado se opôs de forma violenta.
Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil Segundo o Min. Relator, no momento em que toma conheci-
genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis mento de um delito, surge para a autoridade policial o dever legal
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art. de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da incidência do
5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados de- princípio da insignificância é realizado apenas em momento pos-
vem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati- terior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias ati-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins nentes ao caso concreto. Logo, configurada a conduta típica descri-
diversos do previsto na lei ou em decisão judicial. ta no art. 329 do CP, não há de se falar em consequente absolvição
nesse ponto, mormente pelo fato de que ambos os delitos imputa-
dos ao paciente são autônomos e tutelam bens jurídicos diversos.
HC 154.949-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/8/2010.

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Indiciamento B) Requerimento de diligências. Somente quando forem indis-
O ato de “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infra- pensáveis;
ção penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investigado
não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que constitua, en-
Condução Coercitiva no Inquérito Policial contra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo se
A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pessoa desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignificância”, por exem-
é levada à presença de autoridade policial ou judiciária. É comando plo, o agente ministerial pode solicitar o arquivamento do inquérito
impositivo, que independente da voluntariedade da pessoa, admi- à autoridade judicial;
tindo-se o uso de algemas nos limites da Súmula 11 do Supremo D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua com-
Tribunal Federal. petência, o membro do MP suscita a questão, para que a autorida-
de judicial remeta os autos à justiça competente;
Incomunicabilidade do indiciado preso E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Confor-
De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal, seria me o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de compe-
possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quando tência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos juris-
conveniente à investigação ou quando houvesse interesse da so-
dicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se estabelece
ciedade
entre órgãos do Ministério Público.
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o
Arquivamento do inquérito policial
Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re-
No arquivamento, uma vez esgotadas todas as diligências cabí-
cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de
forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente veis, percebendo o órgão do Ministério Público que não há indícios
revogado. suficientes de autoria e/ou prova da materialidade delitiva, ou, em
outras palavras, em sendo caso de futura rejeição da denúncia (art.
Prazo para conclusão do inquérito policial 395 do CPP) ou de absolvição sumária (397 do CPP), deverá ser for-
De acordo com o Código de Processo Penal, em se tratando de mulado ao juiz pedido de arquivamento do inquérito policial. Quem
indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclu- determina o arquivamento é o juiz por meio de despacho. O arqui-
são. Já em se tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para vamento transmite uma ideia de “encerramento” do IP.
conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e Assim, quem determina o arquivamento do inquérito é a auto-
necessárias diligências. ridade judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Ministé-
Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze rio Público. Disso infere-se que, nem a autoridade policial, nem o
dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66, membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, podem
da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta promover o arquivamento de ofício. Ademais, em caso de ação
dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral. penal privada, o juiz pode promover o arquivamento caso assim
Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de requeira o ofendido.
trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado sol-
to. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo. Desarquivamento
Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Economia Quem pode desarquivar o Inquérito Policial é do Ministério Pú-
Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será sempre de blico, quando surgem fatos novos. Assim, deve a autoridade policial
dez dias. representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos novos
E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro- que podem dar ensejo a nova investigação. Vejamos o mencionada
cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do venci- na Súmula 524do STF:
mento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requeri-
Penal. mento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada,
sem novas provas”.
Conclusão do inquérito policial
De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é con-
Trancamento do inquérito policial
cluído com a confecção de um relatório pela autoridade policial, no
Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo
qual se deve relatar, minuciosamente, e em caráter essencialmente
possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa extintiva
descritivo, o resultado das investigações. Em seguida, deve o mes-
mo ser enviado à autoridade judicial. da punibilidade, e de ausência de elementos indiciários relativos à
Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relatório, autoria e materialidade. Ou seja, é cabível quando a investigação é
em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), em absolutamente infundada, abusiva, não indica o menor indício de
cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quanto à prova da autoria ou da materialidade. Aqui a situação é de paralisa-
tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas. ção do inquérito policial, determinada através de acórdão proferi-
Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável, do no julgamento de habeas corpus que impede o prosseguimento
logo, a sua falta não tornará inquérito inválido. do IP.

Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério Investigação pelo Ministério Público
Público Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no sen-
Recebido o inquérito policial, tem o agente do Ministério Públi- tido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se
co as seguintes opções: confirmou com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição
A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça é nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da Cons-
o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos co- tituição Federal no sentido de que a apuração de infrações penais
lhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta caberia apenas aos órgãos policiais -, há se disponibilizar argumen-
ação por intermédio da denúncia; tos favoráveis e contrários a tal prática:

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A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da exis-
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada tência de infração penal em que caiba ação pública poderá, ver-
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- balmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, verificada a procedência das informações, mandará instaurar in-
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação quérito.
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via representação, não poderá sem ela ser iniciado.
do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
investigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape- poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha quali-
nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente dade para intentá-la.
ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração pe-
direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias nal, a autoridade policial deverá:
ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento; I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem
B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento des- o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri-
favorável à possibilidade investigatória do Ministério Público, tem- minais;
-se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais, II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o liberados pelos peritos criminais;
membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condena- III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
ção de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a do fato e suas circunstâncias;
defesa por seu advogado caso não tenha condições financeiras de IV - ouvir o ofendido;
conduzir uma investigação particular. Também, fala-se que o Minis- V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
tério Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respec-
inquérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria tivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ou-
“querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas vido a leitura;
são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acare-
legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério ações;
Público. VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outras perícias;
Controle externo da atividade policial VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo dati-
O controle externo da atividade policial é aquele realizado pelo loscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de ante-
Ministério Público no exercício de sua atividade fiscalizatória em cedentes;
prol da sociedade (art. 127 e 129, II, da Constituição Federal de IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vis-
1988) e em virtude de mandamento constitucional expresso (art. ta individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude
129, VII, da Constituição Federal de 1988). e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais-
quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
Vejamos o que estabelece a norma processual em relação ao temperamento e caráter.
Inquérito Policial nos termos do Código de Processo Penal. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de
TÍTULO II eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pes-
DO INQUÉRITO POLICIAL soa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades poli- praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá pro-
ciais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a ceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contra-
apuração das infrações penais e da sua autoria. rie a moralidade ou a ordem pública.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não ex- Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto
cluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometi- no Capítulo II do Título IX deste Livro.
da a mesma função. Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro-
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será ini- cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri-
ciado: cadas pela autoridade.
I - de ofício; Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministé- indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventiva-
rio Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver quali- mente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
dade para representá-lo. executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que solto, mediante fiança ou sem ela.
possível: § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; apurado e enviará autos ao juiz competente.
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos § 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que
e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da in- não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
fração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; encontradas.
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
são e residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às institui-
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, ções dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
pelo juiz. demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei- ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
xa, sempre que servir de base a uma ou outra. de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (In-
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessá- § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investi-
rias à instrução e julgamento dos processos; gado deverá ser citado da instauração do procedimento investiga-
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Minis- tório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e
tério Público; oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida- 13.964, de 2019)
des judiciárias; § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com au-
IV - representar acerca da prisão preventiva. sência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que es-
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no tava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para
§ 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de- que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor
zembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13 para a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro de 2019)
do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. § 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos ser-
vidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de
Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respei-
24 (vinte e quatro) horas, conterá:
to a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei
I - o nome da autoridade requisitante;
nº 13.964, de 2019)
II - o número do inquérito policial; e
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável
pela autoridade policial.
pela investigação.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes
do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, im-
relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público
prescindíveis ao oferecimento da denúncia.
ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar au-
judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ tos de inquérito.
ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela
adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autorida-
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.(Incluído de policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
pela Lei nº 13.344, de 2016) tiver notícia.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos
da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequ- do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda-
ência. rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qual- Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces-
quer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
disposto em lei; Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel ce- solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
lular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma anotações referentes a instauração de inquérito contra os reque-
única vez, por igual período; rentes.
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre
necessária a apresentação de ordem judicial. de despacho nos autos e somente será permitida quando o interes-
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial de- se da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
verá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de
contado do registro da respectiva ocorrência policial. três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a re-
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) querimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Públi-
horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestado- co, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso
ras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibi- III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de
lizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, 27 de abril de 1963)
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a
juízo da autoridade.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em cumulativamente.
uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri-
diligências em circunscrição de outra, independentemente de pre- mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
catórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compa- representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
reça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
sua presença, noutra circunscrição. § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz com- cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
petente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
pessoa do indiciado. de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi-
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
DA PRISÃO CAUTELAR: PRISÃO EM FLAGRANTE; PRI- de 2019)
SÃO PREVENTIVA; PRISÃO TEMPORÁRIA § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor
Prisões outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven-
A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu- tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re-
mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda- dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional, medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra-
as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du- zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
rante a fase investigatória ou judicial. § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando
De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser-
medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda- outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta-
de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali-
para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri- zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli-
de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
indiciado ou acusado (inciso II). condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei
Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação nº 13.964, de 2019)
quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau- § 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli-
telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso, cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa-
a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais mente cominada pena privativa de liberdade.
brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem. § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual-
Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro- domicílio.
cessual. Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis-
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
Espécies Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
São três espécies de prisão cautelar: pectivo mandado.
a) Prisão em Flagrante; Parágrafo único. O mandado de prisão:
b) Prisão Temporária; a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
c) Prisão Preventiva. b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
alcunha ou sinais característicos;
Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
prisões, medidas cautelares e liberdade provisória: d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a
infração;
TÍTULO IX e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor
E DA LIBERDADE PROVISÓRIA entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou
ser aplicadas observando-se a: não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina-
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação da por duas testemunhas.
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
evitar a prática de infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do § 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia- para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida-
tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até
a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº que fique esclarecida a dúvida.
13.964, de 2019) Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o
o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre- mandado e o intime a acompanhá-lo.
gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên-
pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre- cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe-
ga do preso, com declaração de dia e hora. tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem- meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
plar do mandado, se este for o documento exibido. que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá-
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da pela Lei nº 13.434, de 2017)
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança,
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre- que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica- intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe-
ção. decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e,
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre- sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
medida. não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis- incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe-
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse- tuará a prisão.
lho Nacional de Justiça para essa finalidade. Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional se proceda contra ele como for de direito.
de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis-
expediu. posto no artigo anterior, no que for aplicável.
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta- Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis-
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado- posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do de condenação definitiva:
mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro- I - os ministros de Estado;
videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios,
deste artigo. o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei-
§ 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí- III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
que a decretou. IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
§ 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não
do Distrito Federal e dos Territórios;
informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
VI - os magistrados;
Pública.
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
§ 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida-
República;
de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se
VIII - os ministros de confissão religiosa;
o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.
IX - os ministros do Tribunal de Contas;
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci-
outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão dade para o exercício daquela função;
no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori- XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e
dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran- Territórios, ativos e inativos.
te, providenciará para a remoção do preso. § 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis,
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão
quando: comum.
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo- § 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es-
ra depois o tenha perdido de vista; pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci-
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu mento.
tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar § 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
em que o procure, for no seu encalço. atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi-
co adequados à existência humana.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com o D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado
preso comum. fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco-
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian-
mesmos do preso comum. ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for
Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja)
recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com (art. 304, §1º, CPP);
os respectivos regulamentos. E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto- prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as-
ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre-
quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re- sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu-
produzido o teor do mandado original. sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto
Art. 298 - (Revogado). de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te-
Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso
averiguar a autenticidade desta. legal (art. 305, CPP);
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
de execução penal. caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins- 306, §1º, CPP);
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori- E) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao
dades competentes. preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas
Prisão em flagrante (art. 306, §2º, CPP);
A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com
sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015,
daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen- CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá
dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre-
Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de
afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...” Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi- cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória
ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em com ou sem fiança (art. 310, CPP);
flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
de acontecer”. em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos
seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce-
flagrante delito. der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare-
cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art.
Funções da prisão em flagrante 310, parágrafo único, CPP).
São elas:
A) Evitar a fuga do infrator; Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. (art. 308, CPP).
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
Procedimento do flagrante depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente CPP).
descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal:
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta Espécies/modalidades de flagrante.
o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este Vejamos a classificação feita pela doutrina:
cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri- A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades
meira parte, CPP); policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das flagrante;
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes-
sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em
respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art. flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade;
304, caput, parte final, CPP); C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver-
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se- dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co-
rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos
Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306, incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal;
caput, CPP);

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre- acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/
visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de
Penal. que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta flagrante.
perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática CAPÍTULO II
delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante; DA PRISÃO EM FLAGRANTE
E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor-
re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen- Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP; flagrante delito.
F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta-
tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante.
I - está cometendo a infração penal;
O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta
II - acaba de cometê-la;
espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível.
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu-
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação; infração;
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre-
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma- gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se-
quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au- guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
somente para prendê-lo em flagrante). colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante a autoridade, afinal, o auto.
protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con-
o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso
de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente, de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi- inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for,
nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per- prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as-
mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre-
do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados sentação do preso à autoridade.
alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo- § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não
samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas
os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer- testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons-
Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e
o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde
que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
Apresentação espontânea do acusado pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta-
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a do o compromisso legal.
apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé-
não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla-
de prisão preventiva. grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo,
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão,
o nome do condutor e os das testemunhas.

9
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Pressupostos da prisão preventiva
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer da prisão. São pressupostos:
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imedia- delicti”;
tamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delitu- B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
oso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. bertatis”.
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
próximo. penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de
são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença um eventual decreto condenatório definitivo.
do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
2019) previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria-
I - relaxar a prisão ilegal; ou mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre- ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem
sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve- pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal,
da prisão; ou ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. da prisão).
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos Motivos da prisão preventiva
incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen- ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi-
te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de ciente de autoria. A saber:
comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de
de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964, reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
de 2019) agente. Necessidade de afastamento do convívio social.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de
organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que
fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de
ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não a sociedade;
realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei-
deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem
omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94
do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de (“Lei Antitruste”);
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que
ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre- proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não
ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem
auxiliar no deslinde da lide;
Prisão preventiva D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe- trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re- preventiva por este motivo;
presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP). E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau-
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in- são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº
quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta 12.403/2011.
previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre- F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im-
ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas- putado, veio com a Lei 13.964/2019.
tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação). Hipóteses em que se admite prisão preventiva
Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e São elas, de acordo com o art. 312, CPP:
bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga. A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I);

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
II); Lei nº 13.964, de 2019)
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
(inciso III); medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare- decretação da prisão preventiva:
cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber- I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a máxima superior a 4 (quatro) anos;
manutenção da medida) (parágrafo único). II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
Revogação da prisão preventiva transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au- art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre- Penal;
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
sobrevierem razões que a justifiquem. mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter- IV - (Revogado).
mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP.. § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-
Recurso de decisão acerca da prisão preventiva necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo
requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito. dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga- § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de-
da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou
vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual- praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput
quer entendimento consolidado sobre o tema. do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
digo Penal.
De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada
ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
pela Lei nº 13.964, de 2019)
sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de
há previsão recursal).
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis-
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica-
Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,
ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei
indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au- nº 13.964, de 2019)
torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
em situações especiais, desde que se comprove a real existência normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de-
da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Processo Penal). II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº
CAPÍTULO III 13.964, de 2019)
DA PRISÃO PREVENTIVA III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou-
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro- IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí- capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula,
autoridade policial. sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga- que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí-
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência do pela Lei nº 13.964, de 2019)
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- da prisão.
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) liberdade somente quando estritamente necessário, também as-
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór- sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri-
gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em
cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
2019) provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
Medidas cautelares diversas da prisão de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di-
Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí- versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento
veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu- processual.
sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen-
Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau- fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-
telares diversas da prisão”. lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar
tas no art. 282 do CPP, sendo estes: diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente.
- Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di-
evitar a prática de infrações penais; versas da prisão.
- Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar
Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados
nº 12.403/2011 São elas: lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi-
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer-
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I); cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora-
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último
ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da
novas infrações (inciso II); devida fundamentação feita pela autoridade policial.
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado CAPÍTULO IV
ou acusado deva permanecer distante (inciso III); DA PRISÃO DOMICILIAR
D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi-
(inciso IV); ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se
E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de com autorização judicial.
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi-
fixos (inciso V); ciliar quando o agente for:
F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de I - maior de 80 (oitenta) anos;
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI); III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6
G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes (seis) anos de idade ou com deficiência;
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite- V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple-
ração (inciso VII); tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do
o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial nº 13.257, de 2016)
(inciso VIII); Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô-
I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido nea dos requisitos estabelecidos neste artigo.
trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
agora, também o foi para o prisma processual.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO V B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de diversas da prisão;
novas infrações; C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da
III - proibição de manter contato com pessoa determinada doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não
ou acusado dela permanecer distante; o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”,
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu-
fixos; lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri-
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de obrigações.
sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes Recurso em sede de liberdade provisória
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci-
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido
e houver risco de reiteração; estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- meio autônomo de impugnação.
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica. Fiança
§ 1º ao §3º (Revogados). A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado
§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão
Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis-
cautelares. tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio-
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada nante ou não da concessão de liberdade provisória.
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci-
ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código
o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. de Processo Penal).
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca-
Liberdade provisória, com ou sem fiança sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja
Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP).
preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe-
deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga- nal, não será concedida fiança:
rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons- A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o
tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou art. 5º, XLII, da Constituição Federal;
nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
sem fiança. gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art.
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória, 323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede-
a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada: ral;
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva- C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323,
concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal;
12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber- D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri- teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer
são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber- das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de
dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa Processo Penal (art. 324, inciso I);
da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs- F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim, da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III);
conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro- G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”).
visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11; Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava-
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema Perda da fiança
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
Valor da fiança lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua estrito (art. 581, VII, CPP).
periculosidade, bem como a importância provável das custas do
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). Cassação da fiança
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
nos seguintes limites: cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
a quatro anos (inciso I); tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da ção.
pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
(inciso II). estrito (art. 581, V, CPP).
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro-
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi- Reforço da fiança
to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja
pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti-
primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja
preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque
fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal
determinado pela sua cotação em Bolsa. reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança
inidônea).
Dispensa/redução/aumento da fiança Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen-
Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança tido estrito (art. 581, V, CPP).
poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP):
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). CAPÍTULO VI
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o
sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
“prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma- da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio- impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319
nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
beneficiário; Código.
B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II); Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança
C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
seja superior a 4 (quatro) anos.
Destinação da Fiança Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao
Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.
seguintes providências: Art. 323. Não será concedida fiança:
A) Pagamento de custas; I - nos crimes de racismo;
B) Indenização do dano; II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
C) Pagamento de prestação pecuniária; gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;
D) Pagamento de multa; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
E) Remanescente será devolvido. res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
Objeto da Fiança I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante-
A) Depósito em dinheiro; riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das
B) Pedras, objetos ou metais preciosos; obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
C) Títulos da dívida pública; II - em caso de prisão civil ou militar;
D) Hipoteca de imóvel. III - (Revogado).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312).
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
conceder nos seguintes limites:
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for
superior a 4 (quatro) anos;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
(quatro) anos. niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
fiança poderá ser: da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Penal).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas Código.
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
do processo, até final julgamento. será cassada em qualquer fase do processo.
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. ção do delito.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra- Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
da. I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias pedras preciosas;
de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde III - quando for inovada a classificação do delito.
será encontrado. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco-
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re-
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera- forçada.
do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es- I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e parecer, sem motivo justo;
dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos. II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri- do processo;
vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
e 328, o que constará dos autos. com a fiança;
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos V - praticar nova infração penal dolosa.
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
inscrita em primeiro lugar. clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
§ 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au- perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
toridade. sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
§ 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida da prisão preventiva.
pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen- Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian-
do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re- cumprimento da pena definitivamente imposta.
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi- Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas
tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos. as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será
Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.
fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona- Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções
da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido
o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo ao fundo penitenciário, na forma da lei.
de fiança. Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será
Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os
conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e, encargos a que o réu estiver obrigado.
em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por
a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo
prisão. órgão do Ministério Público.
Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde- Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre-
pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor.
do processo a fim de requerer o que julgar conveniente. Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a
Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro-
em julgado a sentença condenatória. visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328
Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con- deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.
cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me- Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus-
diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o
48 (quarenta e oito) horas. disposto no § 4o do art. 282 deste Código.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Prisão temporária Procedimento da prisão temporária
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo 7.960/89:
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- nistério Público);
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
plenamente constitucional. querimento;
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
Lei nº 7.960/89: blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in- solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
quérito policial (inciso I); submetê-lo a exame de corpo de delito;
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri-
elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e ser-
II); virá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente re-
CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, colhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade
CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. judicial disso);
158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art. E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
(art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância mente, separados dos demais detentos);
alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c. F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá
art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual- ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con-
quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56), versão da medida em prisão preventiva.
tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III). Mandado de prisão
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte: É o instrumento emanado da autoridade competente para a
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre- execução da prisão, prevista no artigo 285.
tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989
estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re- Dispõe sobre prisão temporária.
quisitos ao menos.
Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
presença de apenas um requisito. cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen- Art. 1° Caberá prisão temporária:
ça dos três requisitos conjuntamente. I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos policial;
três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva. elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
Não há um entendimento prevalente, todavia. III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
Prazo da prisão temporária indiciado nos seguintes crimes:
De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão a) homicídio doloso(art. 121, caput, e seu § 2°);
temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em b) sequestro ou cárcere privado(art. 148, caput, e seus §§ 1°
caso de comprovada e extrema necessidade. e 2°);
c) roubo(art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo d) extorsão(art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por e) extorsão mediante sequestro(art. 159, caput, e seus §§ 1°,
“Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo- 2° e 3°);
rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso f) estupro(art. 213, caput, e sua combinação com oart. 223,
de comprovada e extrema necessidade. caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor(art. 214, caput, e sua combina-
ção com oart. 223, caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº
2.848, de 1940)
h) rapto violento(art. 219, e sua combinação com oart. 223
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
i) epidemia com resultado de morte(art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia DA PROVA: CONSIDERAÇÕES GERAIS; EXAME DE
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM GERAL; INTERRO-
com art. 285); GATÓRIO E CONFISSÃO; PERGUNTAS AO OFENDIDO;
l) quadrilha ou bando(art. 288), todos do Código Penal; TESTEMUNHAS; RECONHECIMENTO DE PESSOAS E
m) genocídio(arts. 1°,2°e3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de COISAS; ACAREAÇÃO; DOCUMENTOS; INDÍCIOS; BUS-
1956), em qualquer de sua formas típicas; CA E APREENSÃO
n) tráfico de drogas(art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro
de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de Prova consiste num conjunto de provas que podem ser produ-
junho de 1986). zidas pelas partes, pelo juiz ou por terceiros (peritos, por exemplo),
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.(Incluído pela Lei nº os quais destinam à convicção do magistrado acerca da existência
13.260, de 2016) ou não de um fato. Assim, trata-se da convicção do juiz sobre os
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da elementos essenciais para o decorrer da causa.
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis- Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito,
período em caso de extrema e comprovada necessidade. é dispensável, podendo os elementos informativos ser produzidos
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o em qualquer outro meio de investigação suficiente a embasar uma
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. acusação), a prova deve ser produzida à luz do contraditório e da
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser ampla defesa, almejando a consolidação do que antes eram meros
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) indícios de autoria e materialidade delitiva, e ainda, com a finalida-
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do de imediata de auxiliar o juiz a formar sua livre convicção.
requerimento. Vale informar, que não poderá o juiz, nessa sua livre convicção,
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério se fundar exclusivamente nos elementos informativos colhidos du-
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta- rante a fase investigatória. Estes terão apenas função complemen-
do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e tar na formação do processo de convencimento do magistrado.
submetê-lo a exame de corpo de delito. Isso significa dizer que a prova é, sim, essencial, para se condenar
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de alguém. Justamente porque, a ausência de prova é um dos motivos
prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e que pode levar à absolvição.
servirá como nota de culpa. A prova está intimamente ligada à demonstração da verdade
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perí- dos fatos, sendo inerente ao desempenho do direito de ação e de
odo de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste defesa. É verdadeiro direito subjetivo com vertente constitucional
artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.(Inclu- para demonstração da realidade dos fatos. Já as normas atinentes
ído pela Lei nº 13.869. de 2019) às provas são de natureza processual, tendo aplicação imediata. Se
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- o legislador disciplina um novo meio de prova, ou altera as normas
ção de mandado judicial. já existentes, tais alterações terão incidência instantânea, abarcan-
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso do os processos já em curso. Os crimes ocorridos antes da vigência
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. da lei poderão ser demonstrados pelos novos meios de prova.
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au- De acordo com os ensinamentos de Paulo Rangel: “O objeto
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente da prova é a coisa, o fato, o acontecimento que deve ser conhecido
de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso pelo juiz, a fim de que possa emitir um juízo de valor. São os fatos
em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da sobre os quais versa o caso penal. Ou seja, é o ‘thema probandum’
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído que serve de base à imputação penal feita pelo Ministério Público.
pela Lei nº 13.869. de 2019) É a verdade dos fatos imputados ao réu com todas as suas circuns-
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no tâncias”.
cômputo do prazo de prisão temporária.(Redação dada pela Lei nº Na hipótese do Ministério Público imputar à determinada pes-
13.869. de 2019) soa a prática do crime de homicídio, este crime caracterizar-se-á
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato- como o objeto da prova.
riamente, separados dos demais detentos. Cabe destacar que há diferença entre objeto da prova e objeto
Art. 4° Oart. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,fica de prova. O objeto de prova significa todos os fatos ou coisas que
acrescido da alínea i, com a seguinte redação: necessitam da comprovação de sua veridicidade.
“Art. 4° ............................................................... Durante um processo, tanto o autor quanto o réu irão apresen-
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de tar argumentos favoráveis à eles, assim como acontecimentos que
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou demonstrem a veracidade de suas alegações. Ocorrendo isso, os
de cumprir imediatamente ordem de liberdade;” mesmos acabam por delimitar o objeto da prova, devendo o julga-
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um dor ater-se à somente estes fatos, visando a economia processual.
plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e Neste contexto, podemos concluir que são as partes que defi-
do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem- nem essencialmente os fatos que deverão ser objeto de prova, res-
porária. tando ao juiz, eventualmente, apenas completar o rol de provas a
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. produzir, utilizando-se de seu poder instrutório, o que determinará
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. somente com a finalidade de fazer respeitar o princípio da verdade
real.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Classificação Da Prova “Prova cautelar”, “prova não repetível”, e “prova antecipa-
Existem alguns critérios que classificam a prova, a saber: da”.
A parte final, do caput do art. 155, CPP, se refere a estas três
a) Quanto ao objeto: provas, produzidas em regra ainda durante a fase inquisitória, as
- direta: apresenta o fato de forma instantânea, não necessi- quais poderia o juiz se utilizar para formar sua convicção. Embora
tando de nenhuma construção lógica. exista posicionamento que clama pela sinonímia das expressões,
- indireta: afirma uma fato do qual se infira, por dedução ou há se distingui-las.
indução, a existência do fato que se busque provar. Neste caso, há A “prova cautelar” é aquela em que existe risco de desapareci-
a necessidade de um processo de construção lógica com o intuito mento do objeto da prova, em razão do decurso do tempo, motivo
de chegar a um determinado fato que se quer provar. pelo qual o que se pretende provar deve ser perpetuado. O contra-
ditório, aqui, é diferido, postergado.
b) Quanto ao sujeito ou causa: A “prova não repetível” é aquela que não tem como ser produ-
- real: é uma prova encontrada em objeto ou coisa que possua zida novamente, em virtude do desaparecimento da fonte proba-
vestígios de um crime como, por exemplo, uma camisa ensanguen- tória, como o caso de um exame pericial por lesão corporal, cujos
tada da vítima, etc. sinais de violência podem desaparecer com o tempo. O contraditó-
- pessoal: é uma prova surgida da vontade consciente humana rio, aqui, é diferido, postergado.
e que tem como objetivo mostrar a veracidade dos fatos asseve- A “prova antecipada”, por fim, é aquela produzida com obser-
rados como, por exemplo, o testemunho de quem presenciou um vância do contraditório real (ou seja, o contraditório não é diferido
crime, um laudo pericial assinado por dois peritos, etc. como nas duas hipóteses anteriores), perante a autoridade judicial,
mas em momento processual distinto daquele previamente previs-
c) Quanto à forma: to pela lei (podendo sê-lo até mesmo antes do processo). O melhor
- testemunhal: é a prova produzida através de declaração sub- exemplo é a oitiva da testemunha para perpetuar a memória da
jetiva oral e algumas vezes por escrito (art.221, §1º, CPP). Essas prova, disposta no art. 225, da Lei Processual Penal.
provas podem ser produzidas por testemunhas, pelo próprio acu-
sado (confissão) ou pelo ofendido. Fatos que não precisam ser provados.
- documental: é a prova originada através de documento escri- São eles:
to ou gravação como, por exemplo cartas, fotografias autenticadas A) Fatos notórios. É o caso da chamada “verdade sabida” (ex.:
etc. não se precisa provar que dia vinte e cinco de dezembro é Natal,
- material: é a que consiste em qualquer materialidade que sir- conforme o calendário cristão ocidental);
va de elemento para o convencimento do juiz sobre o fato que se B) Fatos axiomáticos, intuitivos. São aqueles evidentes (ex.: “X”
está provando. é atingido e despedaçado por um trem. Não será preciso um exame
para se apurar que a causa da morte foi o choque com o trem);
d) Quanto ao valor ou efeito: C) Presunções legais. São aquelas decorrentes da lei, valendo
- plena (perfeita ou completa): é a prova que é capaz de con- lembrar que, em se tratando de presunção relativa, contudo, admi-
duzir o julgador à uma absoluta certeza da existência de um fato. tir-se-á prova em contrário;
- não plena (imperfeita ou incompleta): é a prova que apenas D) Fatos desnecessários ao deslindes da lide. São os “fatos inú-
conduz à uma probabilidade da ocorrência de um evento, não sen- teis” (ex.: “X” morreu de envenenamento por comida. Pouco im-
do suficiente para a comprovação. porta saber se a carne estava bem ou mal passada);
E) O direito, como regra. O direito não precisa ser provado, sal-
Meios de Prova vo em se tratando de direito estadual, municipal, costumeiro, ou
Meio de prova é todo fato, documento ou alegação que possa estrangeiro, se assim o requerer o juiz.
servir, direta ou indiretamente, à busca da verdade real dentro do Posto isto, fazendo uma análise em sentido contrário, fatos
processo. É o instrumento utilizado pelo juiz para formar a sua con- que não sejam notórios, que não sejam axiomáticos, que não sejam
vicção acerca dos fatos alegados pelas partes. desnecessários, que não sejam presunções legais, e que não digam
Em outras palavras, meio de prova é tudo aquilo que possibilita respeito, como regra, necessitam ser provados.
o convencimento do julgador quanto a veracidade dos fatos expos-
tos, estando ou não estes meios inseridos em lei. “Prova nominada”, “prova inominada”, “prova típica”, “pro-
Os meios de prova podem ser tanto nominados quanto inomi- va atípica”, e “prova irritual”.
nados. Os primeiros são estabelecidos através da lei e os últimos A “prova nominada” é aquela cujo “nomen juris” consta da lei
são moralmente legítimos. Como exemplo de meios de prova, exis- (ex.: prova pericial).
te a perícia no local em que ocorreu o delito (art.169, CPP), a con- A “prova inominada” é aquela cujo “nomen juris” não consta
fissão do réu (art.197, CPP) e o depoimento do ofendido (art.201, da lei, mas que é admitida por força do “Princípio da Liberdade Pro-
CPP). batória”.
Sob o Princípio da Verdade Real, as investigações devem ser A “prova típica” é aquela cujo procedimento probatório está
feitas de forma ampla, ou seja, não havendo restrições quanto aos previsto na lei.
meios de provas, salvo nos casos previstos no parágrafo único do A “prova atípica” é aquela cujo procedimento não está previs-
art.155, CPP: “Somente quanto ao estado das pessoas serão obser- to em lei.
vadas as restrições estabelecidas na lei civil”. A “prova irritual” é aquela colhida sem a observância de mode-
lo previsto em lei. Trata-se de prova ilegítima.

18
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios relacionados à prova penal. Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser em-
São eles, além do Princípio da Liberdade Probatória, já mencio- prestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há mais,
nado anteriormente, em um rol exemplificativo: como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma prova
A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da presun- será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o respeito a en-
ção de não-culpabilidade). Todos são considerados inocentes, até tendimento minoritário neste sentido, não parece ser o melhor ar-
que se prove o contrário por sentença condenatória transitada em gumento defender que a prova emprestada, por si só, não pode ser
julgado; suficiente para condenar alguém.
B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado a
produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode TÍTULO VII
mentir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio, e DA PROVA
tem direito à consulta prévia e reservada com seu advogado, como
exemplos; CAPÍTULO I
C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios DISPOSIÇÕES GERAIS
ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas de modo
ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação às normas Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se sobrepor aos prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
direitos fundamentalmente consagrados na Constituição Federal. tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhi-
“Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem dos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetí-
diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o entendi- veis e antecipadas.
mento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero “pro- Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão
vas ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma norma observadas as restrições estabelecidas na lei civil.
constitucional (ex.: a prova obtida não respeitou a inviolabilidade Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,
de domicílio assegurada pela Constituição), enquanto a “prova ile- porém, facultado ao juiz de ofício:
gítima” é aquela violadora dos procedimentos previstos para sua I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
realização (tais procedimentos são aqueles regularmente previstos antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser-
no Código de Processo Penal e legislação especial). vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua conse- II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sen-
quência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo esta tença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto
ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acompanhar relevante.
o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as provas deri- Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
vadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada”, processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola-
importada do direito norte-americano, também serão inadmissí- ção a normas constitucionais ou legais.
veis, salvo se existirem como fonte independente, graças à “Teoria § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
da Fonte Independente” (considera-se fonte independente aquela salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e
prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, pró- outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
prios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir independente das primeiras.
ao fato objeto da prova). § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, se-
guindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou
Ônus da prova. instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
De acordo com o art. 156, caput, do Código de Processo Penal, § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declara-
a prova da alegação incumbirá a quem o fizer, embora isso não da inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado
obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes de iniciada a ação às partes acompanhar o incidente.
penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e § 4° (VETADO)
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionali- § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inad-
dade da medida (inciso I), ou determine, no curso da instrução ou missível não poderá proferir a sentença ou acórdão. (Incluído pela
antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir Lei nº 13.964, de 2019)
dúvida sobre ponto relevante (inciso II). Esse poder de atuação do
juiz é também conhecido por “gestão da prova” (por ser o juiz, na- Exame de Corpo de Delito e Perícias em Geral
turalmente, um “gestor da prova”). O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal, so-
bre cuja análise é realizada a perícia criminal a fim de determinar
Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc., atra-
transportada documentalmente para outro. Apesar da valia positi- vés do exame de corpo de delito.
va acentuada que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada não Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não
pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal, como re- transeunte”), o exame de corpo de delito se torna indispensável,
gra, cada fato apurado numa lide depende de sua própria prova. não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contu-
Contudo, podem acontecer casos em que um determinado do, que não sendo possível o exame de corpo de delito, por have-
fato já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha sido rem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-
devidamente em outros autos, caso em que a prova emprestada -lhe a falta (art. 167, CPP).
pode se revelar um eficaz aliado na busca pela verdade real.
Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem aos
autos com o “contraditório montado” do outro processo, isto é, no
processo recebedor terão as partes a oportunidade de questionar a
própria validade desta bem como de tentar desqualificá-la.

19
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Muitos confundem o “corpo de delito” com o “exame de cor- O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infra-
po de delito”. Explico. Dá-se o nome de “corpo de delito” ao local ção penal, devidamente estudados por profissionais especializados,
do crime com todos os vestígios materiais deixados pela infração permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que
penal. Trata-se dos elementos corpóreos sensíveis aos sentidos hu- forma este ocorreu e, quando possível e necessário, identificando
manos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc. Contudo, “cor- todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o criminoso e outras
po”, não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas a tudo pessoas que possam de alguma forma ter relação com o crime, as-
que possa estar envolvido com o delito, como um fio de cabelo, sim como o meio pelo qual se perpetrou o crime, com a determi-
uma mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma porta arrom- nação do tipo de ferramenta ou arma utilizada no delito. Apesar de
bada etc. Em outras palavras, “corpo de delito” é o local do crime o laudo pericial não ser a única prova, e entre as provas não haver
com todos os seus vestígios; “exame de corpo de delito” é o laudo hierarquia, ocorre que, na prática, a prova pericial acaba tendo pre-
técnico que os peritos fazem nesse determinado local, analisando- valência sobre as demais. Isto se dá pela imparcialidade e objetivi-
-se todos os referidos vestígios. dade da prova técnico-científica enquanto que as chamadas provas
subjetivas dependam do testemunho ou interpretação de pessoas,
Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capa-
fica claro que a confissão do acusado, antes considerada a “rainha cidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de
das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma am- má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos.
pla gama de vícios que podem maculá-la, como a coação e a assun-
ção de culpa meramente para livrar alguém de um processo-crime. Perito
Com relação aos peritos importante trazer ao estudo o que
Corpo de delito direto e indireto. prevê o Código de Processo Penal em seu artigo 159, vejamos: “O
a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados pelo exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por pe-
fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos nos- rito oficial, portador de diploma de curso superior”. Na falta de pe-
sos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos sensí- rito oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, por-
veis, objetivos, devem ser objetos de prova, obtida pelos meios que tadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
o direito fornece. Os técnicos dirão da sua natureza, estabelecerão especifica, dentre as que tiveram habilitação técnica relacionada
o nexo entre eles e o ato ou omissão, pelo qual se incrimina o acu- com a natureza do exame. Estes prestarão o compromisso de e fi-
sado. O corpo de delito deve realizar-se o mais rapidamente possí- nalmente desempenhar o cargo.
vel, logo que se tenha conhecimento da existência do fato. Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes,
O perito dará atenção a todos os elementos, que se vinculem quanto à perícia: requer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
ao fato principal, sobretudo o que possa influir na aplicação da prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intimação
pena. e os quesitos ou questões a serem esclarecidos sejam encaminha-
b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se torna dos com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresen-
impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem desapa- tar as respostas em laudo complementar.
recido os elementos materiais. Essa substituição do exame objetivo A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo ou
pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois não há corpo, mesmo após a sentença, em situações especiais. Sua função não
embora haja o delito. Cabe ressaltar que o exame indireto somen- termina com a reprodução de sua análise, mas se continua além
te deve ser realizado caso não seja possível à realização do exame dessa apreciação, por meio do juízo de valor sobre os fatos, o que
direto. se torna o diferencial da função de testemunha. Ou seja, a diferen-
Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito po- ça entre testemunha e perito é que a primeira é solicitada porque
derá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. já tem conhecimento do fato e o segundo para que conheça e expli-
que os fundamentos da questão discutida, por meio de uma análise
Perícia Criminal técnica científica.
A perícia criminal é uma atividade técnico-científica prevista no A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas cau-
Código de Processo Penal, indispensável para elucidação de crimes sas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos não oficiais,
quando houver vestígios. A atividade é realizada por meio da ciên- assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação é obriga-
cia forense, responsável por auxiliar na produção do exame pericial tória com um “compromisso formal de bem e fielmente desempe-
e na interpretação correta de vestígios. Os peritos desenvolvem nharem a sua missão, declarando como verdadeiro o que encon-
suas atribuições no atendimento das requisições de perícias prove- trarem e descobrirem e o que em suas consciências entenderam”.
nientes de delegados, procuradores e juízes inerentes a inquéritos Os peritos terão um prazo máximo de 10 (dez) dias para ela-
policiais e a processos penais. A perícia criminal, ou criminalística, boração do laudo pericial, podendo este prazo ser prorrogado, em
é baseada nas seguintes ciências forenses: química, biologia, geo- casos excepcionais, a requerimento dos peritos, conforme dispõe o
logia, engenharia, física, medicina, toxicologia, odontologia, docu- parágrafo único do artigo 160 do Código de Processo Penal. Apenas
mentoscopia, entre outras, as quais estão em constante evolução. em casos de suspeição comprovada ou de impedimento previsto
A perícia requisitada pela Autoridade Policial, Ministério Pú- em lei é que se eximem os peritos da aceitação.
blico e Judiciário, é a base decisória que direciona a investigação
policial e o processo criminal. Como já mencionado, a prova pericial
é indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser
dispensada sequer quando o criminoso confessa a prática do delito.
A perícia é uma modalidade de prova que requer conhecimentos
especializados para a sua produção, relativamente à pessoa física,
viva ou morta, implicando na apreciação, interpretação e descrição
escrita de fatos ou de circunstâncias, de presumível ou de evidente
interesse judiciário.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Atividades Desenvolvidas Fotografia dos cadáveres
As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande com- Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que
plexidade e de natureza especializada, tendo por objeto executar forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as le-
com exclusividade os exames de corpo de delito e todas as perí- sões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164, CPP).
cias criminais necessárias à instrução processual penal, nos termos Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos,
das normas constitucionais e legais em vigor, exercendo suas atri- quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas,
buições nos setores periciais de: Acidentes de Trânsito, Auditoria esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados (art. 165,
Forense, Balística Forense, Documentoscopia, Engenharia Legal, CPP);
Perícias Especiais, Fonética Forense, Identificação Veicular, Infor-
mática, Local de Crime Contra a Pessoa, Local de Crime Contra o Pa- Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstáculo
trimônio, Meio Ambiente, Multimídia, Papiloscopia, dentre outros. à subtração da coisa
A função mais relevante do Perito Criminal é a busca da verdade Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obs-
material com base exclusivamente na técnica. Não cabe ao Peri- táculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos,
to Criminal acusar ou suspeitar, mas apenas examinar os fatos e além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos,
elucidá-los. Desventrar todos os aspectos inerentes aos elementos por quais meios e em que época presumem ter sido o fato pratica-
investigados, do ponto exclusivamente técnico. do (art. 171, CPP);

Responsabilidades Civil e Penal do Perito Material guardado em laboratório para nova perícia
Aos peritos oficiais ou inoficiais são exigidas obrigações de or- Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material sufi-
dem legal e a ilicitude de suas atividades caracteriza-se como viola- ciente para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sempre que
ção a um dever jurídico, algumas delas com possíveis repercussões conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas,
a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se dizer que os peritos provas microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP);
na área civil são considerados auxiliares da justiça, enquanto na pe-
rícia criminal são os servidores públicos. Quanto ao fiel cumprimen- Incêndio
to do dever de ofício, os primeiros prestam compromissos a cada No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar
vez que são designados pelo juiz e, os segundos, o compromisso em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a
está implícito com a posse no cargo público, a não ser nos casos dos vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor
chamados peritos nomeados ad hoc. e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato
Laudo pericial (art. 173, CPP);
O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias,
podendo este prazo ser prorrogado em casos excepcionais a reque- Exame para reconhecimento de escritos
rimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descreverão minu- Deve-se observar, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva, o
ciosamente o que examinarem, e responderão aos eventuais que- seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito
sitos formulados. Tratando-se de perícia complexa, isto é, aquela será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para a com-
que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, será paração, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
possível designar a atuação de mais de um perito oficial, bem como reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de
à parte será facultada a indicação de mais de um assistente técnico; seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso
II); a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os
Autópsia. documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públi-
A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após cos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retira-
o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, dos (inciso III); quando não houver escritos para a comparação ou
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pes-
declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de morte violenta, soa escreva o que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver
bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá
infração penal que apurar ou quando as lesões externas permiti- ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a
rem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame pessoa será intimada a escrever (inciso IV);
interno para a verificação de alguma circunstância relevante (art. Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo, po-
162, parágrafo único, CPP); dendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP).

Exumação de cadáver CAPÍTULO II


Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providenciará DO EXAME DE CORPO DE DELITO, DA CADEIA DE
que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL
da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput, CPP). Nes- (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
te caso, o administrador do cemitério público/particular indicará
o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. Agora, havendo Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, se procederá ao o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo
reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou re- a confissão do acusado.
partição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de
auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído
cadáver, com todos os sinais e indicações (art. 166, CPP); pela Lei nº 13.721, de 2018)
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído pela
Lei nº 13.721, de 2018)
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com
deficiência. (Incluído pela Lei nº 13.721, de 2018)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada prefe-
os procedimentos utilizados para manter e documentar a história rencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento neces-
cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, sário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964,
até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) de 2019)
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação § 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou pro-
do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos cesso devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão
quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº central de perícia oficial de natureza criminal responsável por de-
13.964, de 2019) talhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964,
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de de 2019)
potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsá- § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remo-
vel por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processu-
constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluí- al a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
do pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento será determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei nº
do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 13.964, de 2019)
2019) § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de po- numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e
tencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído pela a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº
Lei nº 13.964, de 2019) 13.964, de 2019)
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar
devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacio- suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau
nado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de de resistência adequado e espaço para registro de informações so-
2019) bre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se en- § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai pro-
contra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na ceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído
área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens pela Lei nº 13.964, de 2019)
ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial pro- § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na
duzido pelo perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do res-
nº 13.964, de 2019) ponsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à aná- referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
lise pericial, respeitando suas características e natureza; (Incluído 2019)
pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste- uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestí-
rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a gios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central
coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964,
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para de 2019)
o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, § 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de proto-
temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de colo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais
suas características originais, bem como o controle de sua posse; e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distri-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) buição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do ves- condições ambientais que não interfiram nas características do ves-
tígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações re- tígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ferentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária § 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio de-
relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, verão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocor-
código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, pro- rência no inquérito que a eles se relacionam. (Incluído pela Lei nº
tocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela 13.964, de 2019)
Lei nº 13.964, de 2019) § 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armaze-
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do nado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a
vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas caracte- hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
rísticas biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado § 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas
desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por peri- as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação
to; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
condições adequadas, do material a ser processado, guardado para Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser
realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vin- devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluído
culação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 13.964, de 2019)
13.964, de 2019)
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio,
respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante
autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição
ou condições de armazenar determinado material, deverá a autori- em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to-
dade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.
referido material em local diverso, mediante requerimento do dire- Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os
tor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto-
pela Lei nº 13.964, de 2019) gráficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu-
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identifi-
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 cação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili- no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
tação técnica relacionada com a natureza do exame. Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e au-
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e tenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para
fielmente desempenhar o encargo. a identificação do cadáver.
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
de quesitos e indicação de assistente técnico. suprir-lhe a falta.
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pe-
juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos ricial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
quanto à perícia: ou de seu defensor.
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto
para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decor-
respostas em laudo complementar; ra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pare- § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
ceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. prova testemunhal.
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra-
que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para
órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos,
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou es-
a sua conservação. quemas elucidativos.
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações
área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atua- do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências
ção de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assis- dessas alterações na dinâmica dos fatos.
tente técnico.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descre- Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma-
verão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos que- terial suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que
sitos formulados. conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo má- microfotográficas, desenhos ou esquemas.
ximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos ex- Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimen-
cepcionais, a requerimento dos peritos. to de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os
Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual- peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instru-
quer dia e a qualquer hora. mentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois praticado.
do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coi-
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão sas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime.
no auto. Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o sim- procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos au-
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal tos e dos que resultarem de diligências.
que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado
verificação de alguma circunstância relevante. para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o
Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a auto- seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação
ridade providenciará para que, em dia e hora previamente marca- do fato.
dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por
Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou par- comparação de letra, observar-se-á o seguinte:
ticular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será
No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de intimada para o ato, se for encontrada;
encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a au-
toridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará
do auto.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação pre-
que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente re- vista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da dou-
conhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não trina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de inter-
houver dúvida; rogatório.
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa-
me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos Sua realização é excepcional. Ele somente será utilizado se
públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser para prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada sus-
retirados; peita de que o preso integra organização criminosa ou de que, por
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem outra razão, possa fugir durante o deslocamento; se para viabilizar
insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escre- a participação do réu neste ato processual, quando haja relevante
va o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade
certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que ou outra circunstância pessoal; ou se para impedir a influência do
se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever. réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja pos-
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados sível colher o depoimento destas por videoconferência; se for ne-
para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a cessário por questão de gravíssima utilidade pública.
eficiência. Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão fun-
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos damentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes. Ainda,
até o ato da diligência. da decisão que determinar a realização do interrogatório por vide-
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos oconferência, as partes deverão ser intimadas com, no mínimo, dez
far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação pri- dias de antecedência.
vada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz Também, antes do interrogatório por videoconferência, o pre-
deprecante. so poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de todos
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão trans- os atos da audiência única de instrução e julgamento.
critos na precatória. Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e reserva-
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela au- da do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer modalidade
toridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo de interrogatório judicial);
assinado pelos peritos. C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento bi-
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto fásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusado (o
respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao exame, interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou
também pela autoridade. profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade,
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, vida pregressa, se foi preso ou processado alguma vez, se houver
que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em suas suspensão condicional ou condenação e qual foi a pena imposta
folhas por todos os peritos. caso o indivíduo tenha sido processado, obviamente); e sobre os
Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consig- fatos (será perguntado ao interrogando se é verdadeira a acusação
nadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de que lhe é feita, onde estava ao tempo em que foi cometida a infra-
outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autori- ção e se teve notícia desta, sobre as provas já apuradas, se conhece
dade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, se conhece
poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. o instrumento com que foi praticada a infração ou qualquer objeto
Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso que com esta se relacione e tenha sido apreendido, e, se não sendo
de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciá- verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atri-
ria mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o buí-la e se conhece, então, quem teria sido o autor da infração, se
laudo. tem algo mais a alegar em sua defesa etc.);
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado, se-
proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente. rão interrogados separadamente (art. 191, CPP);
E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresentadas
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo,
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;
Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, observar- ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito e do
-se-á o disposto no art. 19. mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP);
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como in-
não for necessária ao esclarecimento da verdade. térprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo (art.
Do Interrogatório do Acusado e da Confissão 192, parágrafo único, CPP);
Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em meio G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o interro-
de defesa do acusado (em outros tempos, já houve divergência se gando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio de
consistiria o interrogatório em meio de defesa ou mero meio de intérprete (art. 193, CPP);
prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado ficar em silêncio, H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder a
mentir, ser acompanhado por seu advogado, deixar de responder novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual-
às perguntas que lhe forem feitas etc. quer das partes (art. 196, CPP).
A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode
ser realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra); Confissão.
assistido tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de A confissão, como qualquer outro meio de prova, destina-se à
defesa); e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a seguir); apuração da verdade dos fatos.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado sobre III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da
os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
ram para a infração. videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;
A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a confis- IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.
são seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pelos critérios § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório
adotados para outros elementos de prova, e para sua apreciação o por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias
juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi- de antecedência.
cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po-
Pode ser, por exemplo, que a confissão esteja ocorrendo sob coa- derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de
ção, ou mesmo para acobertar a real autoria do delito. Logo, hoje todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que
não há mais se falar na confissão como “rainha das provas”, como tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.
era no sistema inquisitorial; § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garanti-
B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará rá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu de-
confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do con- fensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o
vencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Adjetiva acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o
Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, não se defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como é possí- audiência do Fórum, e entre este e o preso.
vel de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da formação § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a re-
de seu convencimento, autoriza-se que a autoridade judicial utilize alização de atos processuais por sistema de videoconferência será
tal silêncio como mais um (e não como item exclusivo) dos elemen- fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como tam-
tos em prol da sua convicção; bém pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser tomada hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista
por termo nos autos; nos §§ 1o e 2o deste artigo.
D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quan- § 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no
do o confidente simplesmente confessa, sem agregar ou modifi- que couber, à realização de outros atos processuais que dependam
car informações constantes dos autos); complexa (quando o réu da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, re-
reconhece vários fatos criminosos); ou qualificada (quando o réu conhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou
confessa agregando fatos novos e modificativos que até então não tomada de declarações do ofendido.
eram sabidos, ou, ainda que sabidos, não eram comprovados por § 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompa-
outros meios); nhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.
E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode § 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a
ser que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma defici-
obsta que a parte não confessada também tenha sido praticada ência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
por este acusado. Neste caso, os outros elementos de prova serão dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257,
fundamentais para a descoberta da autoria (ou não) da parte não de 2016)
confessada); e retratável (admite-se “voltar atrás” na confissão. Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do
Isso não representa empecilho a que o indivíduo seja condenado inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
mesmo tendo se retratado da confissão, caso o conjunto probató- de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de
rio aponte que foi o acusado, de fato, quem praticou a infração). não responder perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,
CAPÍTULO III não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so-
bre a pessoa do acusado e sobre os fatos.
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judi- § 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a
ciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado na residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar
presença de seu defensor, constituído ou nomeado. onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi
§ 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala pró- preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo
pria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que es- do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual
tejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais.
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a pu- § 2o Na segunda parte será perguntado sobre:
blicidade do ato. I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató- particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem
rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, des- esteve antes da prática da infração ou depois dela;
de que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se
finalidades: teve notícia desta;
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada IV - as provas já apuradas;
suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por
por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração,
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em ju- ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreen-
ízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; dido;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à eluci- B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será co-
dação dos antecedentes e circunstâncias da infração; municado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa. acusado da prisão, à designação de data para audiência e à senten-
Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das ça e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art.
partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as 201, §2º, CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no
perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. endereço por ele indicado, admitindo-se, por sua opção, o uso de
Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em meio eletrônico (art. 201, §3º, CPP);
parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas. C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem
Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os mo- como durante sua realização, será reservado espaço separado para
tivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para o ofendido (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender necessário,
a infração, e quais sejam. poderá o juiz encaminhar o ofendido para atendimento multidis-
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados se- ciplinar, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, CPP).
paradamente. Por fim, o juiz deverá tomar as providências necessárias à preser-
Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo vação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido,
será feito pela forma seguinte: podendo, inclusive, determinar segredo de justiça em relação aos
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a
ele responderá oralmente; seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, responden- (art. 201, §6º, CPP).
do-as por escrito;
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e CAPÍTULO V
do mesmo modo dará as respostas. DO OFENDIDO
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever,
intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habi- Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e
litada a entendê-lo. perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pre-
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o suma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por
interrogatório será feito por meio de intérprete. termo as suas declarações.
Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou § 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem mo-
não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. tivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autori-
Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interro- dade.
gatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. § 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos
ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data
CAPÍTULO IV para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mante-
DA CONFISSÃO nham ou modifiquem.
§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no ende-
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adota- reço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso
dos para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o de meio eletrônico.
juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi- § 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização,
cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. será reservado espaço separado para o ofendido.
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas § 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendi-
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do do para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psi-
juiz.
cossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor
Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será
ou do Estado.
tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195.
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação
Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo
da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,
do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados,
conjunto.
depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu res-
peito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Qualificação e Oitiva do Ofendido
O “ofendido” é o titular do direito lesado ou posto em perigo.
É a vítima, e, como tal, suas declarações correspondem à versão Testemunhas
que lhe cabe dos fatos, tendo, consequencialmente, natureza pro- É a pessoa sem qualquer interesse no deslinde da lide proces-
batória. sual penal, que apenas relata à autoridade judicial sua percepção
Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal, sem- sobre os fatos, em face do que viu, ouviu ou sentiu (ela utiliza-se,
pre que possível o ofendido será qualificado e perguntado sobre as veja, de sua percepção sensorial).
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo Pe-
as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas declara- nal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a
ções. verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu
A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo mo- nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua profissão, lugar
tivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo moti- onde exerce a atividade, se é parente de alguma das partes e em
vo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante auxílio que grau, bem como relatar o que souber.
das autoridades policiais; A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas
numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referidas,
das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e das “de
antecedentes”.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se o
com o número máximo previsto em lei. juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, te-
As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após mor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
serem compromissadas. modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição
Os informantes são aquelas pessoas que não prestam compro- por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
misso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por isso, bas- determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
tante reduzido. presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP);
As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da Re-
antes delas a elas fazerem menção. pública, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Ministros de
As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio. Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos Secretários
As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato do de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados Estaduais, dos
processo, como o interrogatório, por exemplo. membros do Poder Judiciário, dos membros do Ministério Público,
As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato que dos Ministros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e do
presenciaram Distrito Federal. Estes serão inquiridos em local, dia e hora previa-
As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que mente designados pelo juiz (art. 221, caput, CPP). Ademais, o Pre-
ouviram dizer por palavras de outros. sidente da República, o Vice-Presidente da República, o Presidente
As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações re- do Senado, o Presidente da Câmara dos Deputados, e o Ministro
levantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referirem, Presidente do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela pres-
primordialmente, a condições pessoais do acusado; tação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas formu-
ladas pelas partes e deferidas pelo juiz lhe serão transmitidas por
B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa pode ofício (art. 221, §1º, CPP);
ser testemunha, como regra. O depoimento será prestado oral- M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados junto à
mente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Não sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP);
se vedará a testemunha, contudo, acesso a meros breves aponta- N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do mandado
mentos para que não se esqueça de nada; deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em
C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o des- que servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art. 221,
cendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o irmão §3º, CPP);
e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão obrigados a O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora da
depor, salvo se não for possível, por outro modo, obter-se a prova jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP); mediante carta precatória (que não suspenderá a instrução crimi-
D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em nal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale lembrar que,
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar se- aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva da testemunha
gredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela parte por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão
de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defen-
interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP);
sor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audi-
E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar testemu-
ência de instrução e julgamento (art. 222, §3º, CPP);
nho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos menores de
P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o que
quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em linha reta,
se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a particu-
cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho adotivo do acusado
laridade de que as cartas rogatórias somente serão expedidas se
(art. 208, CPP);
demonstrada previamente sua imprescindibilidade, arcando a parte
F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas se-
requerente com os cursos do envio (art. 222-A, CPP);
rão ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do que
Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da prova”.
foi falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP). O juiz É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal, segun-
deve advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de falso do o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por
testemunho (art. 210, caput, parte final, CPP). As perguntas serão enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da
formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re-
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação querimento de qualquer das partes, tomar-lhes antecipadamente
com a causa ou importarem na repetição de outra já repetida. o depoimento.
G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade ou
velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por ve- R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordiná-
lhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem rio, este número é de oito no máximo para cada parte (art. 401,
(art. 220, CPP); CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de no má-
H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando a ximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedimento suma-
testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intér- ríssimo, três é o número máximo de testemunhas de cada parte; e
prete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput, CPP); no plenário do júri o número máximo é de cinco testemunhas para
I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ainda, que de acordo com
surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusado o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, não será computada como
para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP); testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão da
J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo. Se, causa. Também não entrarão nessa contagem o mero informante e
regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer sem a mera testemunha referida (art. 401, §1º, CPP).
motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial
a sua apresentação ou determinar que seja conduzida por oficial
de justiça, que poderá solicitar o auxílio de força pública (art. 218,
CPP);

27
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO VI Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão
DAS TESTEMUNHAS contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que
a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará con-
Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha. signar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só
Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos
de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado, devendo previstos nos arts. 207 e 208.
declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua pro- Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se,
fissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re-
de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e produzindo fielmente as suas frases.
relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo,
as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade. assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou-
Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por
permitido à testemunha trazê-lo por escrito. ela, depois de lido na presença de ambos.
Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar
breve consulta a apontamentos. humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao
Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a
o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, podendo, inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade des-
entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo. sa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquiri-
Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de ção, com a presença do seu defensor.
depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desqui- no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os mo-
tado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo tivos que a determinaram.
quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de
prova do fato e de suas circunstâncias. comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au-
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa
testemunho. prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de
Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên-
aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) cia.
anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206. Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem.
testemunhas, além das indicadas pelas partes. Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os se-
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a nadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governa-
que as testemunhas se referirem. dores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias
souber que interesse à decisão da causa. Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros
Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito
de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em lo-
outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso tes- cal, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.
temunho. § 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi-
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
realização, serão reservados espaços separados para a garantia da Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por
incomunicabilidade das testemunhas. escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e defe-
Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que ridas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade, § 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe-
remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instau- rior.
ração de inquérito. § 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art.
Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plená- 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente
rio de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiência comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação
(art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, do dia e da hora marcados.
após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediata- Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz
mente a testemunha à autoridade policial. será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se,
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes direta- para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
mente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem partes.
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem § 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução cri-
na repetição de outra já respondida. minal.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz pode- § 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento,
rá complementar a inquirição. mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste autos.
suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa
do fato.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a au-
tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea- toridade providenciará para que esta não veja aquela;
lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado,
julgamento. subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demons- reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
trada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte re- Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá apli-
querente com os custos de envio. cação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as
§§ 1o e 2o do art. 222 deste Código. cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável.
Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacio- Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o re-
nal, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respos- conhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em
tas. separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.
Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
proceder-se-á na conformidade do art. 192. Da Acareação
Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um Sempre que houver divergência de declarações sobre fatos
ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples ou circunstâncias relevantes, a acareação será admitida, com su-
omissão, às penas do não-comparecimento. pedâneo no art. 229, caput, do Código de Processo Penal, entre
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, acusados, entre acusados e testemunha, entre testemunhas, entre
por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre ofendidos etc.
da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re- (as combinações são múltiplas, veja-se).
querimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que ex-
depoimento. pliquem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já devem
ter sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se a termo
Do Reconhecimento o ato de acareação.
O reconhecimento de pessoas/coisas é o ato pelo qual alguém
verifica e confirma (ou nega) a identidade de pessoa ou coisa que CAPÍTULO VIII
lhe é mostrada. DA ACAREAÇÃO
De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconhecimen-
to” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre
convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser reconhecida acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou teste-
(inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se pretender será munha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre
colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/coisas que com que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fa- relevantes.
zer o reconhecimento a apontá-la (inciso II); se houver razão para Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que
recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato
de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da de acareação.
pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di-
que esta não veja aquela (inciso III) (de acordo com o parágrafo virjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer
único, do art. 226, CPP, o disposto neste inciso não terá aplicação os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar
na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento); do ato ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à
de reconhecimento se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcre-
autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimen- vendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos
to e por duas testemunhas presenciais (inciso IV). pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim
Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas chama- de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente,
das a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta
fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação en- diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao
tre elas (art. 228, CPP). processo e o juiz a entenda conveniente.

CAPÍTULO VII Dos Documentos


DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar
documentos em qualquer fase do processo.
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconheci- A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quaisquer
mento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, serão
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada considerados documentos, com fulcro na cabeça do art. 232, CPP.
a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; Inclusive, à fotografia do documento, devidamente autenticada, se
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca- dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único, CPP).
da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer se- O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados
melhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, por exem-
apontá-la; plo. O conceito de documento é muito mais amplo que o de “ins-
trumento”, portanto;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da Lei Dos Indícios
Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios É todo e qualquer fato sinal, marca ou vestígio, conhecido e
criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibidas pelo provado, que, possua relação necessária ou possível com outro
respectivo destinatário para defesa de seu direito (ainda que não fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a existência des-
haja consentimento do remetente); te último.
C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz O Art 239 do CPP define indício como: “a circunstância conheci-
tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.
requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos,
se possível (art. 234, CPP); Quando falamos em “indícios” temos que ter cuidado para não
D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em lín- confundir estes com os “vestígios”, posto que para os leigos em
gua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se criminalística e na linguagem destituída de características jurídicas,
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa depreende-se que vestígios e indícios praticamente se constituem
idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP); em sinônimos.
E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi- Para Aurélio Buarque de Holanda Pereira, em seu novo Dicio-
nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante nário da Língua Portuguesa, vestígio é: “Sinal que homem ou ani-
que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante re- mal deixa com os pés no lugar por onde passa; rastro, rasto, pe-
querimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte gada, pista; no sentido figurado, indício, sinal, pista, rastro, rasto”.
que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP); Entretanto, sob o enfoque criminalístico e também processu-
F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma alístico, há que se ter em mente a perfeita delimitação e diferen-
dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial, ciação entre cada um dos vocábulos. Assim, qualquer marca, fato,
quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP); sinal, que seja detectado em local onde haja sido praticado um fato
G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código de delituoso é, em princípio, um vestígio.
Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a leitura Se tal vestígio, após devidamente analisado, interpretado e as-
de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado sociado com os minuciosos exames laboratoriais e dados da inves-
aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se tigação policial do fato, enquadrando-se em toda a sua moldura,
ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição a leitura de tiver estabelecida a sua inequívoca relação com o fato delituoso e
jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, com as pessoas com este relacionadas, aí ele terá se transformado
gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro em indício.
meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato Atesta-se, dessa forma, o que, com muita precisão, proprie-
submetida à apreciação e julgamento dos jurados). dade e singeleza distingue o eminente mestre Professor Gilberto
Porto, em seu já referido Manual de Criminalística: “o vestígio en-
CAPÍTULO IX caminha; o indício aponta”.
DOS DOCUMENTOS
CAPÍTULO X
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão DOS INDÍCIOS
apresentar documentos em qualquer fase do processo.
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instru- Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e pro-
mentos ou papéis, públicos ou particulares. vada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con-
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente au- cluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
tenticada, se dará o mesmo valor do original.
Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
Da Busca e Apreensão
meios criminosos, não serão admitidas em juízo.
Trata-se de medida cuja essência visa evitar o desapareci-
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo
mento de provas, podendo ser realizada tanto na fase inquisito-
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não
rial como durante a ação penal. A apreensão, neste diapasão, nada
haja consentimento do signatário.
mais é que o resultado da busca, isto é, se a busca resulta frutífera,
Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento re-
procede-se à apreensão da coisa buscada.
lativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará,
A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240, §1º,
independentemente de requerimento de qualquer das partes, para
CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP);
sua juntada aos autos, se possível.
Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares serão sub- B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acordo
metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenticidade. com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domiciliar é co-
Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo mumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”); para apre-
de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tra- ender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos (alínea “b”);
dutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela auto- para apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
ridade. objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”); para apreender
Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando conferidas armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
com o original, em presença da autoridade. destinados a fim delituoso (alínea “d”); para descobrir objetos ne-
Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, cessários à prova de infração ou à defesa do réu (alínea “e”); para
quando não exista motivo relevante que justifique a sua conserva- apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
ção nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Minis- poder, quando haja suspeita de que o conhecimento de seu conte-
tério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando trasla- údo possa ser útil à elucidação do fato (alínea “f”); para apreender
do nos autos. pessoas vítimas de crimes (alínea “g”); e para colher qualquer ele-
mento de convicção (alínea “h”).

30
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a bus- f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou
ca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de que em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo visto acima; g) apreender pessoas vítimas de crimes;
C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada h) colher qualquer elemento de convicção.
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242, CPP); § 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada sus-
D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, con- peita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos men-
forme o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a casa cionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.
em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprie- Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária
tário ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome da pes- não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedi-
soa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem (inciso I); da da expedição de mandado.
mencionar os motivos e o fim da diligência (inciso II); ser subscrito Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque-
pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir (inciso rimento de qualquer das partes.
III); se houver ordem de prisão, esta constará do próprio texto do Art. 243. O mandado de busca deverá:
mandado de busca (§1º); I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será per- realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
mitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusa- rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
do, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. 243, sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
§2º, CPP); II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
F) Busca independente de mandado. A busca pessoal indepen- III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que
derá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada o fizer expedir.
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de § 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a me- mandado de busca.
dida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, CPP); § 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder
G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domicilia- do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo
res serão executadas durante o dia, salvo se o morador consentir de delito.
que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, os execu- Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
tores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem os re- prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja
presente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245, caput, na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
CPP). corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de
H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar somen- busca domiciliar.
te pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma Comissão Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, sal-
Parlamentar de Inquérito, por exemplo, não tem competência para vo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de pe-
determinar busca domiciliar. netrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao
Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir
feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuência
a porta.
do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do critério
§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamen-
misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha nascido o
te sua qualidade e o objeto da diligência.
sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não tenha se posto).
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e for-
I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra
çada a entrada.
mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo
§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de for-
da diligência;
ça contra coisas existentes no interior da casa, para o descobrimen-
J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou seus
to do que se procura.
agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda
§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes
que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no
encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à diligên-
autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência cia qualquer vizinho, se houver e estiver presente.
desta (art. 250, caput, CPP). § 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o
morador será intimado a mostrá-la.
CAPÍTULO XI § 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imedia-
DA BUSCA E DA APREENSÃO tamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus
agentes.
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal. § 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstan-
§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões ciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo
a autorizarem, para: do disposto no § 4o.
a) prender criminosos; Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior,
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; quando se tiver de proceder a busca em compartimento habitado
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em comparti-
objetos falsificados ou contrafeitos; mento não aberto ao público, onde alguém exercer profissão ou
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na atividade.
prática de crime ou destinados a fim delituoso; Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada,
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defe- os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a
sa do réu; busca, se o requerer.

31
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que 3. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Pode-se
não moleste os moradores mais do que o indispensável para o êxito afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conhecimento da
da diligência. prática da infração penal deverá:
Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não (A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên-
importar retardamento ou prejuízo da diligência. cias periciais pretendem fazer.
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte-
Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.
território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, (C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de-
para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais.
devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da di- (D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus
ligência ou após, conforme a urgência desta. respectivas familiares.
§ 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em (E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste-
seguimento da pessoa ou coisa, quando: munhas que presenciaram o fato.
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a
seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista; 4. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Acer-
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por infor- ca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale a opção correta.
mações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo (A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser
removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me-
encalço. diante prévia determinação judicial nesse sentido.
§ 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para (B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria
duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências, vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a
entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial.
apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de (C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser
modo que não se frustre a diligência. adotado na fase inquisitorial.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde-
pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a
EXERCÍCIOS superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar
a persecução penal na esfera policial.
1. (PC-MA - Perito Criminal – CESPE/2018) A respeito do in- (E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri-
quérito policial, assinale a opção correta. mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen-
(A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao
em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi- juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu-
noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré- oso.
via da procedência das informações.
(B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a 5. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) O inquérito po-
instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido licial
caberá reclamação ao Ministério Público. (A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe-
(C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé- recida e a ação penal dela depender.
rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida (B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o
pela autoridade policial. contraditório ao indiciado.
(D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi- (C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de
mento administrativo pré-processual destinado à apuração das ação penal pública incondicionada.
infrações penais e da sua autoria. (D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público
(E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué- se tratar-se de crime de ação penal privada.
rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia. (E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
penal pública incondicionada.
2. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) É correto
afirmar sobre o inquérito policial. 6. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020)
(A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente, No que se refere às disposições do Código de Processo Penal sobre
quando apresentada por qualquer pessoa do povo a ação penal, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro
(B) A representação do ofendido é condição indispensável para (V) ou Falso (F):
a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime ( ) Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denún-
de ação penal pública condicionada. cia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque- requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
de crime de ação penal pública ou privada. ( ) O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial ( ) Qualquer pessoa poderá intentar a ação privada.
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal
privada. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício cima para baixo.
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido. (A) V, V, V
(B) V, V, F
(C) V, F, V
(D) F, F, V

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
7. (TJ-PA - Auxiliar Judiciário - CESPE – 2020) A ação penal pú- (D) a queixa, caso Gabriel opte por apresentá-la, deverá ser ofe-
blica pode ser incondicionada ou condicionada à representação. recida no prazo máximo de 06 (seis) meses a contar da data do
Em relação à ação penal pública condicionada à representação, há fato, ainda que outra data seja a do conhecimento da autoria;
a exigência da manifestação do ofendido ou de quem tenha quali- (E) a autoridade policial poderá, entendendo pela ausência de
dade para representá-lo. Acerca da ação penal pública condiciona- materialidade delitiva, arquivar diretamente o inquérito poli-
da à representação, assinale a opção correta. cial.
(A) A representação é uma condição de procedibilidade da
ação penal, e sua ausência impede o Ministério Público de ofe- 10. (MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto - FCC – 2019)
recer a denúncia. Ao tratar da iniciativa da ação penal, o Código de Processo Penal,
(B) Opera-se a decadência da ação penal condicionada à repre- estabelece, como regra, que a iniciativa será do Ministério Público.
sentação se o direito de representar não for exercido no prazo Todavia, mesmo nos crimes de ação pública, por vezes, a lei exige
de seis meses, a contar da data do fato criminoso. a representação do ofendido. Declarado judicialmente ausente o
(C) O ofendido pode, a qualquer tempo, exercer o direito de ofendido, terão qualidade para representá-lo APENAS
se retratar da representação, sendo a extinção da punibilidade A) os herdeiros necessários, o curador especial ou advogado
sem resolução de mérito o efeito da retratação. constituído.
(D) A ação penal pública condicionada à representação é es- (B) o cônjuge, ascendente ou descendente.
sencialmente de interesse privado e regida pelos princípios da (C) o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
conveniência e oportunidade. (D) os sucessores ou curador.
(E) A irretratabilidade da representação inicia-se com a instau- (E) os sucessores ou tutor.
ração do inquérito policial.
11. (MPE-CE - Promotor de Justiça de Entrância Inicial - CESPE
8. (TJ-RJ - Juiz Substituto - VUNESP – 2019) Oferecendo o ofen- – 2020) Deputado federal eleito pelo estado do Ceará que praticar
dido ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público, crime de estelionato em São Luís – MA antes de entrar em exercício
nos exatos termos do art. 29 do CPP, no cargo eletivo deverá ser processado no(a)
(A) perde interesse processual e deixa de intervir nos autos. (A) Superior Tribunal de Justiça.
(B) pode intervir em todos os termos do processo, contudo, (B) justiça federal do Ceará, em razão do cargo ocupado.
sem capacidade recursal. (C) justiça estadual comum do Ceará, na comarca de Fortaleza.
(C) perde a possibilidade de representar pelo arquivamento do (D) justiça estadual comum do Maranhão, na comarca de São
inquérito e não pode repudiar a queixa. Luís.
(D) pode aditar a queixa. (E) Supremo Tribunal Federal.
(E) deixa de ser parte e passa a atuar como custos legis e não
pode, por exemplo, fornecer elementos de prova. 12. (TJ-PA - Juiz de Direito Substituto - CESPE – 2019) A respei-
to de jurisdição e competência no processo penal, assinale a opção
9. (TJ-CE - Técnico Judiciário - Área Judiciária - FGV – 2019) Ga- correta.
briel, funcionário público do Tribunal de Justiça do Ceará, foi vítima (A) Em caso de crime praticado por prefeito em concurso com
de um crime de injúria, sendo a ofensa relacionada ao exercício de partícipe que não tenha foro privilegiado, a separação do pro-
cesso será obrigatória, e a competência para julgamento será
sua função pública. Optou, porém, por nada fazer em desfavor do
do tribunal de justiça.
autor da ofensa. Ocorre que a chefia imediata de Gabriel, informa-
(B) No caso de ter sido praticado mais de um crime, um deles
da sobre o ocorrido, e revoltada com o desrespeito, compareceu à
com o objetivo de se conseguir impunidade em relação ao ou-
delegacia e narrou o fato para autoridade policial, que instaurou
tro, a competência será determinada pela conexão.
procedimento e fixou prazo inicial de 20 dias para investigações.
(C) Ocorrerá a conexão intersubjetiva por reciprocidade se duas
Após 19 dias, concluídas as investigações, o Delegado se pre-
ou mais infrações forem cometidas por duas pessoas contra
para para apresentar relatório final. Ao tomar conhecimento dos
terceira pessoa sem unidade de desígnios.
fatos, Gabriel procura seu advogado para assistência jurídica.
(D) A precedência da distribuição fixará a competência quando
Considerando as informações narradas e o Enunciado 704 da em comarcas contíguas houver mais de um juiz competente,
Súmula de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (É concor- face o início da execução ou o resultado do crime.
rente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério (E) É de competência da justiça estadual o julgamento dos cri-
Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação mes de embriaguez ao volante e contrabando descobertos em
penal por crime contra a honra de servidor público em razão do diligência policial, por se tratar de competência por conexão
exercício de suas funções), o advogado de Gabriel deverá esclare- instrumental.
cer que:
(A) a denúncia por parte do Ministério Público depende de re- 13. (DPE/AM - Defensor Público – FCC/2018) Em matéria de
presentação do ofendido, a ser oferecida no prazo de 06 (seis) competência,
meses a contar do conhecimento da autoria, ainda que o in- (A) a redação dos art. 76, II e 78, I do CPP permite a extensão
quérito policial possa ser instaurado independentemente da da competência do Tribunal do Júri a delitos conexos ao crime
manifestação de vontade de Gabriel; contra a vida e não autoriza concluir que o Tribunal do Júri es-
(B) as investigações em inquérito policial não poderiam ocorrer teja proibido de julgar réu acusado de praticar crime conexo na
pelo prazo inicial de 20 (vinte) dias, considerando a previsão le- hipótese de não ter sido também acusado pela prática do crime
gislativa de que o inquérito deve ter prazo máximo de 10 (dez) doloso contra a vida.
dias, apenas podendo ser prorrogado por igual prazo;
(C) o inquérito policial não poderia ter sido instaurado pela au-
toridade policial sem a concordância do ofendido, consideran-
do a natureza da ação penal do crime investigado;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
(B) resta configurada a competência do Tribunal do Júri federal 17. (PC/GO - Agente de Polícia Substituto - CESPE/2016) No
se as vítimas da tentativa de homicídio são policiais militares que diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção cor-
estaduais no exercício de suas funções e a motivação do delito reta.
foi evitar a prisão em flagrante pela prática de crime da com- (A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe-
petência federal. ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
(C) se não existe conexão entre o crime de porte ilegal de arma (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
de fogo e o homicídio, o reconhecimento da incompetência do ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
Tribunal do Júri para deliberar sobre o primeiro e, por conse- desnecessária a produção de outras provas.
quência, de nulidade de parte da sessão de julgamento, afeta (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser
a deliberação do Tribunal Popular sobre o delito contra a vida. avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li-
(D) ainda que não haja ligação entre o crime de posse irregular vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou-
de arma de fogo de uso permitido, que ocorreu em contexto tros elementos de prova.
diverso da investigação relativa aos crimes contra a Adminis- (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
tração pública apurados, deve-se reconhecer a conexão pelo relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
princípio da conveniência processual. to, menoridade, filiação e cidadania.
(E) a garantia constitucional de vitaliciedade aos membros da (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
magistratura lhes assegura o foro por prerrogativa mesmo após é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
a aposentadoria. dido pelo delegado de polícia.

14. (CRAISA de Santo André/SP – Advogado - CAIP-IMES/2016) 18. (PC/DF - Perito Criminal - IADES/2016) O Código de Proces-
Assinale a alternativa INCORRETA. Em processo penal a competên- so Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam a produ-
cia jurisdicional será determinada pelo (a): ção das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às pe-
(A) o local da prisão sendo indiferente o lugar da infração. rícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184 da
(B) o domicílio ou residência do réu. lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos crimes
(C) a natureza da infração. (A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro-
(D) a distribuição. va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.
(B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du-
15. (PC/AC - Agente de Polícia Civil - IBADE/2017) A compe- rante o dia.
tência será determinada pela conexão: (C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
(A) quando duas ou mais pessoas foram acusadas pela mesma incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por
infração. determinação da autoridade judicial.
(B) se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido pra- (D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo
ticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, do acusado.
ou por várias pessoas, umas contra as outras. (E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se-
(C) nos casos de concurso formal. jam realizadas por dois peritos oficiais.
(D) nos casos de infração cometida em erro de execução ou
resultado diverso do pretendido. 19. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016)
(E) nos casos de crime continuado Quanto à prova pericial, assinale a opção correta.
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial
16. (TJ-MS - Analista Judiciário - Área Fim - PUC-PR/2017) So- para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me-
bre a prova no direito processual penal, marque a alternativa COR- diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali-
RETA. ficadora do delito.
(A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, (B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du-
inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida,
umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas sendo vedada a sua realização durante a noite.
por uma fonte independente das primeiras. (C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa-
(B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga-
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo
conjunto. pericial.
(C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, (D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um
que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir- perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas
-se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto, idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas
tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame,
violar o princípio constitucional da ampla defesa. sejam nomeadas para tal atividade.
(D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le- (E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta-
gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro- do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária
cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório à conclusão do laudo pericial.
da prova originalmente produzida.
(E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
20. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Sobre 23. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto – VUNESP/2018) A res-
o exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos pre- peito das provas, assinale a alternativa correta.
conizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar: (A) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do proces-
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa- so, as provas ilegítimas, assim entendidas as obtidas em viola-
riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de ção a normas constitucionais ou legais.
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as (B) A pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do será computada como testemunha.
exame. (C) O exame para o reconhecimento de escritos, tal como o re-
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de conhecimento fotográfico, não tem previsão legal.
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os (D) O juiz não tem iniciativa probatória.
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins- (E) A falta de exame complementar, em caso de lesões corpo-
trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido rais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
o fato praticado.
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou 24. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) De acordo
rejeitá-lo, no todo ou em parte. com a norma processual penal, a busca e apreensão:
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o (A) será apenas domiciliar, não podendo ter como objeto pes-
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su- soa.
pri-lo a confissão do acusado. (B) deverá sempre ser precedida de mandado judicial.
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto- (C) quando feita em mulher, somente poderá ser realizada por
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando outra mulher.
não for necessária ao esclarecimento da verdade. (D) poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de
qualquer das partes.
21. (PC/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A prova (E) deverá ocorrer na presença, indispensável, do Ministério
em matéria processual penal tem por finalidade formar a convicção Público.
do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um fato tido
como criminoso. No que tange aos meios de prova, o Código de
Processo Penal dispõe: GABARITO
(A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qual-
quer dia e a qualquer hora.
(B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável
1 D
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado. 2 B
(C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza- 3 C
dos por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma pes- 4 C
soa idônea, portadora de diploma de curso superior preferen- 5 A
cialmente na área específica. 6 B
(D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais 7 A
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o 8 D
que declararão no auto.
9 C
(E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal não poderá su- 10 C
prir-lhe a falta. 11 A

22. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) Com relação ao 12 B


exame de corpo de delito, assinale a opção correta. 13 A
(A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indireta- 14 A
mente pela confissão do acusado se os vestígios já tiverem de-
saparecido. 15 B
(B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o exa- 16 E
me de corpo de delito de modo indireto.
17 C
(C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame comple-
mentar poderá ser suprida pela prova testemunhal. 18 D
(D) Depende de mandado judicial a realização de exame de cor- 19 D
po de delito durante o período noturno.
(E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz 20 A
poderá negar a sua realização, se entender que é desnecessário 21 D
ao esclarecimento da verdade. 22 C
23 E
24 D

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