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“Pela primeira vez, a criança deve trocar prazer pela dignidade social”
Sigmund Freud
O MITO DE ÉDIPO
Foi dessa história que inspirou o grande Sigmund Freud, criador da psicanálise, que
designou como “complexo de Édipo” o desejo de envolver-se com o genitor do sexo
oposto, aliado a um sentimento de rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo.
Vejamos mais a frente os conceitos desse complexo em Freud e Lacan.
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Professor Universitário, Psicanalista, Doutorando em Psicologia, Mestre em Educação (Pesquisa em
Formação Psicanalítica e Educação). Coordenador do Núcleo de Formação de Psicanalistas e Mestres em
Psicanálise. Co-coordenador da Clínica Social de Psicanálise – Instituto GAIO. Contato:
consultoriodr.aeuzebio@gmail.com ou Instagram: https://www.instagram.com/aeuzebio.psi
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O COMPLEXO DE ÉDIPO EM FREUD
Neste sentido, não poderíamos deixar de incluir que neste processo os mecanismos de
defesas atuam como de forma “natural”, como de defesa propriamente dita, a essa
dinâmica, para dar uma resolução a esses desejos. Os mecanismos de defesa que atuarão
serão diferentes dependendo do tipo de personalidade emergente naquele sujeito. No
caso da neurose, a repressão permitirá a resolução edipiana, enquanto no caso da psicose
a resolução edipiana seria dada pelo encerramento, e na perversão pela negação
Ligado à fase fálica da sexualidade infantil, o Édipo é, portanto, o processo que atua na
estruturação de toda a organização psíquica e, nesse sentido, as estruturas clínicas –
neurose, perversão e psicose – devem ser consideradas observando-se as relações
triangulares de amor, desejo e gozo aí produzidas.
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Dito de outra maneira, castração e Édipo articulam-se como modos de acesso do sujeito
ao seu gozo, ao seu desejo, à sua sexuação.
Por "complexo" deve-se entender, em Freud, um conjunto de representações mentais
(ideias, no sentido empirista), associadas entre si, e ocupadas por afetos (entendidos
metapsicologicamente como quantidades de excitação2 . No caso do complexo de Édipo,
trata-se de um conjunto de ideias que giram em torno dos temas do incesto, do
parricídio, do amor e do ódio da criança em relação aos pais.
Sobre a resolução do complexo de édipo, Freud não nos deixaríamos sem respostas, para
tanto o mesmo elabora a explicação teórica no texto “A Dissolução do Complexo de
Édipo”, escrito em 1924, trata, principalmente, da elaboração de um trecho de O Ego e o
Id. É de especial interesse porque é nele que Freud enfatizou, pela primeira vez, as
diferenças no desenvolvimento da sexualidade em meninos e meninas. Tal distinção seria
retomada mais profundamente no ano seguinte com o texto “Algumas Consequências
Psíquicas da Distinção Anatômica entre os Sexos”.
Sendo assim, mesmo para as meninas existiria um complexo de castração (ver esquema
do Instituto GAIO) e uma organização fálica. Para elas, o clítoris assumiria inicialmente o
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Freud: "Gostaria, por fim, de me deter por um momento na ideia auxiliar [Hilfsvorstellung] que utilizei
nesta exposição das neuroses de defesa. Refiro-me ao conceito de que, nas funções mentais, deve-se
distinguir algo (uma carga de afeto [Affektbetrag] ou soma de excitação [Erregungssumme]) que possui
todas as características de uma quantidade embora não tenhamos meios de medi-la passível de aumento,
diminuição, deslocamento e descarga, e que se espalha sobre os traços mnêmicos das representações
como uma carga elétrica espalhada pela superfície de um corpo" (Freud 1894/1999, p. 74).
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papel de um pênis pouco desenvolvido que lhes foi retirado, assim a castração é aceita
como um fato consumado, e tal fato é tido como diferença essencial entre os sexos.
Haveria, portanto, uma tentativa da parte da menina, de compensar a falta do órgão com
o Édipo, culminando no desejo de ter um filho com o próprio pai, de dar-lhe um filho.
Por fim, para Freud podemos entender que o afastamento do Édipo se daria através do
abandono das catexias de objeto e de substituições destas por identificações. Tais
catexias seriam impedidas de retornar pela introjeção da autoridade dos pais e formação
do núcleo do superego. Assim como as tendências libidinais edípicas seriam em parte
“dessexualizadas e sublimadas” e em parte “inibidas em seu objetivo e transformadas em
impulsos de afeição”, o que introduziria o período de latência e completaria a dissolução
do complexo de Édipo.
Será a partir de 1953, que Jacques Lacan passa a se referir ao complexo de édipo sob a
forma da metáfora paterna, que vai dar uma resolução à tríade imaginária mãe-criança-
falo, na qual o desejo da mãe tem um papel fundamental. Essa metáfora paterna referida
por Lacan, tem a função de inscrevera impossibilidade de completude de todo ser humano
e possibilita a sua inscrição enquanto sujeito do desejo. Para Lacan, ao se falar de
complexo, já estamos nos referindo à estrutura (ou seja, de uma posição do sujeito
lacaniano). Ou seja, ele usa o termo “complexo” tal como Freud o utilizou ao teorizar sobre
o Édipo, fazendo-o operar como um antecedente do conceito de estrutura.
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Podemos dizer então que complexo de Édipo é uma criação da psicanálise e coincide com
a decadência da “imago” 3paterna. É herdeiro da família paternalista fundada na tradição
judaico-cristã, onde o pai é idealizado. Lacan pretende destacar o papel essencial do pai
como terceiro elemento na relação entre a mãe e a criança, mas concebe o Édipo fora do
ideal paternalista, sem levar em conta essas tradições, diferenciando a função paterna
das exigências matrimoniais. Como veremos mais adiante, para que um homem possa
ocupar esse lugar do pai é necessário que, dentre outros requisitos, faça dessa mulher o
seu sintoma. A primeira função dessa imago (ver nota de rodapé) é a interdição da mãe
e a instauração da Lei. A Lei, ao mesmo tempo que interdita, funda o desejo, fazendo
com que não haja Lei sem desejo, nem desejo sem Lei. Lacan irá deslocar o pai do lugar
de genitor para o campo do simbólico e passará a designá-lo com um nome: Nome-do-
Pai.
Portanto nesta perspectiva lacaniana o conflito edipiano não é apenas uma fantasia, ele
teria uma função estruturante. Assim, as fantasias que giram em torno do pai e da mãe
imaginários são um momento do complexo de Édipo estrutural conforme descrito acima,
um momento de um processo estruturante que diz respeito, em última instância, à
existência e à sexualidade. O ponto de partida da interpretação lacaniana (estruturalista)
do complexo de Édipo é o Penis-neid, a inveja do falo, nas mulheres. A tese é de que
mesmo na relação primordial da mãe com seu filho, há um terceiro elemento: o falo
desejado.
Desse modo, pode-se dizer que o que Lacan fez, em linhas gerais, foi, por um lado,
vincular o tema freudiano do complexo de Édipo, a partir da influência da antropologia
estrutural, ao problema da identidade, de quem eu sou, ou mais exatamente, vincular o
tema do ser (quem eu sou) ao tema do desejo (do Outro) e, por outro, colocar o complexo
de Édipo como momento estruturante que marca a passagem do reino da natureza
(imaginário) para a cultura (simbólico).
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A imago é o elemento constitutivo do complexo; o complexo torna possível compreender a estrutura de
uma instituição familiar, preso entre a dimensão cultural que o determina e as ligações imaginárias que a
organizam. Lacan descreve três fases: o complexo de desmame, o complexo de intrusão (em que o estágio
do espelho é descrito), e o Complexo de Édipo. Esta estrutura complexo-imago prefigurava o que se
tornaria sua topologia do real, o imaginário e o simbólico.
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REFERÊNCIAS
“Imago.” International Dictionary of Psychoanalysis. Disponível em (link):
Encyclopedia.com: http://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-
pictures-and-press-releases/imago. Acesso em 10 de maio de 2018.