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CIRURGIA

QUEIMADURAS

Definição: Lesão dos tecidos orgânicos com grande destruição do revestimento epitelial por evento
externo.

Fisiopatologia:

O agente externo agressor leva à exposição de colágeno e mediação do sistema inflamatório, levando
ao aumento de permeabilidade capilar local para “limpeza” do local exposto. Dessa forma, gera-se um
edema proporcional à gravidade da queimadura, uma vez que o extravasamento de plasma para o
interstício diminui o volume intravascular.

O pico da inversão das forças de Starling (perda de líquido intravascular para o interstício) ocorre em
1 a 1,5 dias após cessar o processo de queimadura. Se a ação do agente externo – e, dessa forma, a
exposição de colágeno – continuar, a formação do edema também continua.

Complexo Lipídico-Proteico: é produzido pelo tecido queimado e faz uma imunomodulação a nível
hepático, acarretando uma diminuição da imunidade do paciente e aumento da suscetibilidade à
infecções secundárias, por isso é importante fazer o debridamento da lesão.

Prioridades:
• Via aérea: IOT precoce.
o Grandes queimados;
o Queimaduras da cabeça e da face – sobrancelhas queimadas;
o Inalação – confinamento;
o Queimaduras do interior da boca;
o Queimaduras circunferenciais do tórax;
o Escarro com fuligem;
o Voz rouca;
o Nível de consciência alterado.
• Transferência para centro especializado.
• Acessos venosos: pode fazer punção venosa em áreas queimadas.
o > 20% da SCQ:
▪ Reposição volumétrica rápida;
▪ Analgesia;
▪ Coleta de laboratoriais.
• Avaliar extensão e profundidade das queimaduras
o Regra dos 9:
No paciente pediátrico, palma da mão = 1%

1º Grau: epiderme – eritema;


• Baixa repercussão metabólica;
• Dor;
• Reepitelização total em uma semana (6 a 7 dias), não deixa cicatriz.

2º Grau: epiderme e derme parcial (flictenas) – superficial ou profunda.


• Superficial: bolha com base avermelhada;
• Dolorosa, superfície úmida.
• Profunda: cérea, pouca dor;
• Reepitelizam entre 10 a 30 dias, com ou sem sequela, dependendo da profundidade;
• Quanto mais profunda a lesão, maior a repercussão metabólica;
3º Grau: epiderme e derme total – branco nacarado, céreo.
• Destruição dos anexos e terminações nervosas: sem dor;
• Importantes repercussões metabólicas mesmo em pequenas áreas de
extensão;
• Não reepitelizam e deixam sequelas deformantes.

Queimaduras severas:
• Trauma de grandes proporções;
• Inalação;
• Queimaduras por agentes químicos;
• Queimaduras por eletricidade de alta voltagem;
• ≥ 20% da superfície corporal total do adulto;

• Suspeitar da inalação de monóxido de carbono – instalar O2 a 100% e progredir para IOT com
VM.
o Cefaleia e náusea;
o Confusão;
o Coma;
o Morte.

Reposição Volêmica:

A reposição volêmica deve ser uma das prioridades no atendimento de grandes queimados. Via de
regra, esses pacientes necessitam de grandes quantidades de fluido para repor as perdas volêmicas
– essa ressuscitação pode não ser tão bem tolerada pelo organismo do paciente, assim há a chance
de evoluir com íleo, síndromes compartimentais, complicações respiratórias (p.ex.: edema
pulmonar, síndrome do estresse respiratório do adulto), e edema generalizado. Dessa forma, é
extremamente necessária a reavaliação seriada da vítima.
Para acompanhamento da volemia do paciente e da perfusão efetiva, utiliza-se parâmetros como o
débito urinário (diurese), a pressão venosa central ou o débito cardíaco. Para a maioria dos pacientes,
a ressuscitação volêmica é ajustada para manter o débito urinário em 1mL/kg/h em crianças e 0.5
a 1mL/kg/h em adultos.

Tratamento Clínico:
• Prevenção de úlceras de estresse;
• Avaliar a função renal;
• Avaliar o estado cardiovascular;
• Coagulopatia – grandes queimados com ou sem lesões traumáticas podem desenvolver
coagulopatia induzida pelo trauma. As alterações fisiológicas da coagulação nesse paciente
são caracterizadas por mudanças na cascata inata de coagulação e fibrinólise disfuncional que
são diretamente proporcionais à severidade do trauma.
• Profilaxia para TVP e TEP;
• Fisioterapia precoce;
• Déficits nutricionais e suporte nutricional – tubo nasoentérico deve ser colocado para iniciar
nutrição enteral, normalmente dentro das primeiras 24h. A nutrição enteral precoce mostrou
diminuir a translocação bacteriana e o risco de sepse, além de diminuir a morbi-mortalidade.
Além disso, nas primeiras horas de manejo clínico do paciente, talvez seja necessária a
colocação de tubo nasogástrico para realizar a descompressão gástrica e evitar risco de
aspiração.

Curreri VCT = 30 -100 cal x kg + 40 cal x % SCQ


Balanço nitrogenado 100 : 1

• Diminuir o hipermetabolismo – a resposta hipermetabólica em pacientes queimados é


caracterizada por uma resposta circulatória hiperdinâmica com catabolismo proteico e lipídico
massivo, perda de proteína corporal total, perda muscular, resistência periférica à insulina,
aumento do gasto energético, aumento da temperatura corporal e aumento do risco de
infecção. Para adultos e crianças com queimaduras severas, oxandrolona ou beta-
bloqueadores estão indicados para atenuar o hipermetabolismo.
Não instituir antibioticoterapia profilática. O tratamento só deve ser feito se o paciente apresenta
manifestações clínicas e sinais de infecção. A cada curativo, deve ser feito coleta de tecido do paciente
para realização de cultura.

Tratamento Cirúrgico:
• Não negligenciar a realização de curativos.
• Escarotomias para aliviar Síndromes Compartimentais.
o Enxertos com segmentos de pele.

Laboratoriais:
• Hemograma;
• Tipagem e provas cruzadas;
• Carboxi-hemoglobina;
• Glicemia;
• Eletrólitos;
• Gravidez;
• Gasometria;
• Raio-X de tórax – inalação?

Tratamento da dor:
• Morfina;
• Midazolam;
• Fentanil;
• Dexmedetomidina – caro mas muito eficaz;
• Sulfadiazina de prata nos curativos – a prata é extremamente tóxica para bactérias;
o Aquacel;
o Curativo sempre fechado porque a Sulfadiazina deteriora com a luz;
o Curativo deve ser trocado diariamente ou a cada 48h.
• Anestesia geral.

Complicações:
• Retrações;
• Cicatrizes;
• Sequelas emocionais.

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