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A Comissão Parlamentar Conjunta: desempenho e atuação

na construção do Parlamento do Mercosul.

Keren-Hapuque C. Xavier Lins1

Trabalho elaborado para apresentação no 3º Encontro Nacional da


Associação Brasileira de Relações Internacionais - ABRI. Painel: Estudos
legislativos e integração regional: competências e representação no
Parlasul. Universidade de São Paulo, 20 a 22 de Julho de 2011.

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Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco. – keren.xavier@gmail.com -
A Comissão Parlamentar Conjunta: desempenho e atuação na construção
do Parlamento do Mercosul.

A comissão Parlamentar Conjunta – CPC foi fundada em 1991, quando do


Tratado de Assunção (TA), que institui o Mercado Comum do Sul- Mercosul.
Inicialmente surge como instrumento que deveria manter informado os
legislativos nacionais. O aumento da relevância deste corpo viria com o
Protocolo de Ouro Preto (POP), em 1994, que define as atribuições da CPC
e a insere como a instância que representa os parlamentos nacionais. Em
2004, o órgão foi incumbido pelo Conselho do Mercado Comum – CMC de
providenciar as bases para a construção do Parlamento do Mercosul. Entre
os analistas, há um maior entendimento que observa a baixa capacidade de
atuação da Comissão em fazer cumprir suas atribuições. No entanto, a
respeito da criação do Parlasul, seu desempenho é tido como importante,
inclusive pela atribuição formal que lhe é dada pelo CMC. O objetivo deste
artigo é analisar como se efetiva a transição da comissão parlamentar
conjunta para o parlamento do Mercosul, identificando as implicações que
decorrem desse processo.

Palavras-Chave: CPC, Parlasul, Transição.

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Introdução

A Comissão Parlamentar Conjunta foi o espaço destinado a uma


atuação dos legislativos nacionais no âmbito do processo de integração do
Mercado Comum do Sul - Mercosul. A comissão funcionou entre 1991 e
2005, até a criação do Parlamento do Mercosul - Parlasul.

O primeiro regulamento da CPC definiu o seu número de membros em


64 parlamentares (16 em cada bancada nacional, sendo oito senadores e
oito deputados) indicados pelas casas legislativas nacionais, de acordo com
seus regulamentos internos.

O desenvolvimento das funções da CPC, de uma forma ampla, é tido


como pequeno, diante das atribuições que lhe foram designadas e das
possibilidades de atuação que poderiam advir de uma presença legislativa
no processo de integração. Esta discussão coloca em evidência o papel dos
legislativos nacionais nos assuntos de política externa dos Estados,
sobretudo no que tange à integração regional do Cone Sul.

Há um entendimento mais crítico que considera a atuação da CPC


pouco relevante. Outra leitura destaca uma atuação mais efetiva, nos
marcos das limitações estruturais imposta ao órgão. De modo que se coloca
por um lado um legislativo desinteressado para assuntos de política externa.
E por outro um legislativo interessado em atuar de forma ativa, embora
possua dificuldades institucionais que limitam e dificultam sua atuação.

O Parlamento do Mercosul é uma construção gerada no âmbito da


CPC. A atuação desta em seus anos de trabalho favoreceu a criação do
novo órgão, o que ressalta o caráter mais ativo da CPC dentro do debate
que se enfrenta, acima exposto.

O Brasil é o único país em que a CPC foi formalmente reconhecida na


estrutura das casas legislativas (CASAL, 2006). A seção brasileira da CPC
tornou-se uma comissão mista, responsável por analisar as propostas
demandadas pelo CMC, a serem incorporadas na legislação nacional.

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Enfatizamos no artigo a postura da bancada brasileira da CPC.
Entretanto, as dificuldades enfrentadas pelo grupo brasileiro parecem existir
também com os outros representantes dos demais países membros do
bloco, que não conseguira sequer institucionalizar a bancada da CPC em
seus respectivos congressos.

Apresentamos no artigo o surgimento da Comissão Parlamentar


Conjunta. Em seguida, o debate sobre a participação legislativa na CPC e
como o Parlasul o integra. Por fim discutimos a construção do Parlamento
sob a influência da CPC.

A Comissão Parlamentar Conjunta

A presença direta dos parlamentos nacionais no processo de


integração mercosuliano remonta o tratado de Integração, Cooperação e
Desenvolvimento entre Brasil e Argentina, em 1988i. O acordo previa a
participação de doze representantes do legislativo de cada país na chamada
Comissão Parlamentar Conjunta de Integração. Esta teria o objetivo de
estudar os projetos da Comissão de Integração, criada nos marcos do
tratado acima mencionado, antes de enviá-las aos legislativos nacionais.
Seu papel seria consultivo e também deveria facilitar a tramitação dos
projetos nas respectivas assembléias domésticas.

Quando surge o Mercosul, em 1991, mediante o Tratado de Assunção -


TA -, mantém-se o papel dos legislativos nacionais por meio da Comissão
Parlamentar Conjunta – CPC –, composta, inicialmente, por parlamentares
dos quatro países membros: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Esta
segue com as mesmas funções atribuídas à primeira comissão do tratado de
1988. Ressalta-se a necessidade da comissão manter os legislativos
nacionais informados sobre o processo de integração.

Em 1994, com o tratado de Ouro Pretoii – POP -, que define a estrutura


organizacional do Mercosul, a CPC passa a constar entre as instituições do
bloco. O órgão permanece com as funções já impostas no TA, sendo
acrescentado o papel de representar os parlamentos nacionais no processo.
A regulamentação das atividades da CPC é deixada a cargo do próprio
4
órgão, definindo-se apenas a igualdade no número de membros que cada
legislativo nacional deveria indicar para compor a comissão. A CPC passa
ainda a poder enviar recomendações ao Conselho do Mercado Comum –
CMC -, órgão máximo na estrutura do bloco, além de a qualquer momento
ser convocada por este para apresentar pareceres.

Percebe-se, portanto, que a requisição das casas legislativas no


processo de integração vem desde o acordo base que antecede o TA. Entre
os motivos que justificam essa inclusão está a busca por agilizar a
incorporação de normativas geradas pelo processo de integração, dentro
dos parlamentos domésticos. Acredita-se que uma comissão parlamentar
poderia facilitar esse trâmite. Ainda, a recente democracia na região torna a
participação dos Parlamentos nacionais no processo um meio de manter
certa representação das democracias domésticas.

A CPC surge sem poder algum na estrutura decisória, pois o bloco


optou por um processo decisor intergovernamental, dotando apenas o
Conselho do mercado Comum- CMC e o Grupo do Mercado Comum- CMC
com essas prerrogativas. Estes formados por representantes dos executivos
dos países membros.

A conformação da bancada brasileira da CPC foi notadamente


ocupada por representantes das regiões Sul e Sudeste do país. Esse fato
transparece a aproximação ao processo dos parlamentares oriundos dos
países mais afetados pela integração (MARIANO, 2002).

Já a bancada brasileira da Comissão Parlamentar de Integração, em


sua primeira formulação, foi composta apenas por representantes da região
Sul do país. Possivelmente os que acompanhavam mais atentamente o
decorrer do processo de integração e se habilitavam junto a seus partidos,
requerendo integrar a nova Comissão composta por indicação da
presidência legislativa, em cada casa.

Em questionamento ao formato da então Comissão parlamentar de


Integração, a deputada Irma Passone, do Partido dos Trabalhadores de São
Pauloiii, questionava:
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É uma integração rio-grandense, com a participação de um deputado de santa
Catarina, e os outros dela não participam? Não tomamos conhecimento de nada.
Esta casa não sabe o que está acontecendo e de repente há uma Comissão de
integração, da qual fazem parte Parlamentares com mandato de dois anos
(PASSONE,1990, P. 129).

Esse sentimento manifestado pela parlamentar não resultou em


mudanças ágeis no processo. Na Comissão Parlamentar Conjunta, em sua
primeira conformação, a bancada brasileira permaneceu com uma
configuração onde prevalecia um quadro de representantes da região Sul do
Brasil. Esse fato revela o difícil envolvimento e articulação nacional sobre o
tema Mercosul.

Entre os estudos que discutem a funcionalidade da CPC, pode-se


destacar aqueles que classificam sua atuação como pouco eficaz, pela
incapacidade da comissão fazer pressão junto ao órgão decisor, de ganhar
poder e relevância na estrutura decisória e de representar os interesses da
sociedade. O desinteresse dos parlamentares para com o tema de política
externa e em conseqüência da integração mercosuniana seria uma forte
razão para essa atuação. Embora se reconheça a importância de instituir-se
a CPC e de algumas iniciativas do órgão, ressalta-se que estas ficaram, em
geral, no âmbito da retórica (Mariano, 2002).

Haveria pouco interesse dos parlamentos nacionais em participar do


processo de integração em curso, (Mariano, 2002 OLIVEIRA, 2003). Entre
as razões estariam a própria estruturação da CPC, tendo papel apenas
consultivo, o que inibiria as iniciativas desse órgão. Marcelo Oliveira, 2004,
destaca ainda, como razão para esse desinteresse dos legislativos
nacionais, a falta de uma percepção clara do curso da integração e a
redemocratização no Brasil e Argentina. Este processo teria absorvido a
atenção dos partidos políticos e seus parlamentares para as demandas
nacionais.

Existe outra leitura da atuação da CPC. Esta destaca o esforço e


interesse dos parlamentares nacionais em fazer parte do processo de
integração (CASAL, 2006; FLEISCHER e SOARES, 2002; DRUMMOND,
1993: 2009). O órgão teria atuado dentro de suas limitadas capacidades
6
buscando estruturar, organizar e dar relevância a participação parlamentar
na integração, sobretudo com a reiterada intenção em criar um parlamento
para o bloco.

Maria Cláudia Drummond, destacou o papel ativo da instituição.

[...] a Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL, ao mesmo tempo em que


desempenha as funções que lhe são próprias, consoante seu regulamento, vem
também ocupando espaços, à medida em que percebe a importância de seu
papel como o foro natural, para onde convergem representantes dos vários
setores da sociedade civil que se julgam fragilizados pela integração
(DRUMMOND, 1993, p.2).

A afirmação positiva em relação à atuação da CPC deve-se sobretudo


a uma agenda de trabalho definida e em alguma medida executada nos
primeiros encontros da comissão. Já em 1991 a Comissão se reuniu duas
vezes, definindo um regulamento, subcomissões e temas ambiciosos a
serem considerados, como a criação de um parlamentoiv.

Oscar Casal (2006, p. 11-12), secretário administrativo da CPC, em


uma sintética divisão histórica do órgão, aponta dois momentos. O primeiro
entre 1991 e 1999, seria o da estruturação da identidade, criação de seu
regulamento, organização das bases nacionais, início de um debate dobre a
criação de um parlamento. O segundo momento entre 2000 e 2005, seria o
aprofundamento da consolidação parlamentar, a criação de um sólido
cronograma para consecução do parlamento, uma efetiva cooperação com a
União Européia, uma maior integração com demais órgãos do Mercosul e
coincidências programáticas e ideológicas entre os governos dos países
membros.

Essa breve divisão histórica adotada coloca o desenvolvimento do tema


parlamento, na CPC, de acordo com o amadurecimento da própria
instituição. Assim, o surgimento do Parlasul seria uma decorrência das
iniciativas do órgão, embora se destaque um fator fundamental: a
proximidade programática dos novos representantes máximos da CMC, a
partir de 2003, sem a qual não seria possível a institucionalização do
parlamento, tendo em vista o caráter decisório do bloco ser centrado nos
executivos nacionais.
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A participação dos legislativos nacionais no Mercosul

A participação parlamentar no processo de integração coloca em


questão a própria participação dos legislativos domésticos nos temas de
política externa de cada país. Esse debate é amplo e não completamente
consensuado. Aqui nos interessa o envolvimento dos parlamentares no
âmbito da CPC e como isso se relaciona com a construção do Parlasul.

Para Mariano (2002), a CPC herdou uma hábito de passividade em seu


funcionamento desde a Comissão Parlamentar Conjunta de Integração. O
caráter consultivo, dado ao órgão, teria inibido a prática de iniciativas, o que
a impossibilitou de atuar de forma mais pró-ativa, favorecendo uma postura
de acomodamento. Os discursos iniciais não se tornaram posturas práticas.
Os temas relevantes para a sociedade teriam sido tratados de modo
superficiais, sem o aprofundamento dos debates. Ressalta-se nessa
conjuntura o pouco interesse do legislativo brasileiro para temas de política
externa, a pauta seria compreendida pelos parlamentares como de
responsabilidade do executivo. Essa compreensão teria contribuído para
uma atuação desinteressada, por parte da bancada brasileira na CPC. Tal
postura parece ser compartilhada como as outras bancadas nacionais pela
fraca atuação da Comissão.

Analisando a atuação do legislativo brasileiro na CPC Marcelo


Fernandes de Oliveira (2003, p.18), considera “... débil e praticamente nula a
atuação dos parlamentares brasileiros na Comissão Parlamentar Conjunta”.
O que refletia em certa medida a incapacidade da Comissão representar os
interesses da sociedade no processo de integração. A forma como foi
estabelecida a estruturação institucional no Mercosul não favorecia o
desempenho efetivo da CPC como real representante dos interesses da
coletividade, empresários, trabalhadores, grupos organizados, etc.

Nesse sentido, os autores já evidenciam a necessidade de um


Parlamento para o Mercosul que poderia suprir a lacuna de uma
representação efetiva no âmbito do bloco, mal sucedida pela CPC. A idéia
de um parlamento eleito pelas sociedades nacionais poderia resultar em
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uma articulação maior dos partidos políticos e maior envolvimento das
comunidades quanto à integração (VIGEVANI ET AL, 2000).

Em contraposição a essa visão mais crítica, SOARES e FLEISCHER


(2002) destacam a atuação ativa da CPC ao agirem efetivamente dentro das
atribuições que lhes eram cabidas. Mesmo em uma estrutura limitadora,
definida pelo POP, a CPC buscará desenvolver-se.

Um olhar mais detalhado é feito sobre o processo legislativo brasileiro.


Analisa-se as prerrogativas do executivo e legislativo e as possibilidades de
atuação do legislativo nesse contexto. No Brasil, há dificuldades para o
congresso propor políticas públicas. A prerrogativa destas iniciativas seria do
executivo, o que diminuiria ainda mais as possibilidades de iniciativa
legislativa de políticas no âmbito da integração regional, tema distante das
bases eleitorais. Ainda assim, haveria um crescente interesse dos
parlamentares brasileiro na integração regional do Mercosul, perceptíveis na
votação de temas a respeito e pronunciamentos realizados.

Sobre a Comissão Parlamentar conjunta argumentam ganhos positivos:

Destacamos a intensa e gradativa institucionalização da Comissão Conjunta do


Mercosul: que estabelece comunicação independente com órgãos do Mercosul e
do Executivo Brasileiro. Está outrossim bem instalada e dotada de recursos de
assessoramento para acompanhamento do processo legislativo e executivo de
integração. Uma evidência desse desenvolvimento pode encontrar–se na
publicação própria de boletins, simpósios, livros ilustrativos, documentos
bilingües, e outras resenhas do seu trabalho (Ibidem p. 118).

Nessa análise, destaca-se o papel da Comissão Parlamentar Conjunta


de modo positivo, por conseguirem, em um contexto pouco propício à
iniciativa, articularem-se no congresso.

Observando a literatura sobre a atuação do parlamento brasileiro nos


assuntos de política externa, Marcelo Costa Ferreira (2009) faz uma crítica a
visão colocada por MARIANO (2001) e OLIVEIRA (2003) a respeito da
passividade dos parlamentares brasileiros em relação ao tema política
externa. Utilizando-se de seus estudos e de outros autoresv, considera que o
congresso brasileiro possui bancadas articuladas em relação aos assuntos
de Política Externa e em específico sobre a integração regional. A
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concentração de parlamentares da região Sul do Brasil na bancada brasileira
da CPC seria um exemplo dessa articulação.

As dificuldades e fragilidades de funcionamento da CPC ocorreriam, em


geral, pela estrutura de funcionamento do congresso brasileiro e não por
desinteresse dos legisladores. A falta de conhecimento do tema Mercosul
por parte da sociedade seria um agravante nesse processo. O interesse com
o tema integração na verdade existe e torna-se perceptível em uma análise
que leve em considerações variáveis amplas, como produção legislativa,
regimento do congresso, trâmite de propostas, entre outras (FERREIRA,
2009).

Reforçando uma visão mais ativa da CPC, um estudo realizado pelos


autores FARIA e PIÑEIRO (2010), apontam que algumas decisões tomadas
pelo CMC, estão em recomendações enviadas a este órgão pela CPC.
Embora não haja uma afirmação, no âmbito do CMC, que a realização de
algumas deliberações se deu pela iniciativa da CPC, os autores acreditam
ser possível inferir que a influência da CPC, mesmo que conjuntamente com
outros órgãos, ocorreu na tomada de ações do CMC.

Destacam assim, que a participação da CPC em decisões do bloco


chega a ocorrer, mas em poucos casos. Concluindo a pouca relevância da
instituição na tomada de decisão do bloco. No entanto isso acontece pela
falta de empenho ou recomendações enviadas pela CPC ao grupo decisor,
CMC, mas pela estrutura de tomada de decisão do bloco, que, entre outras
coisas, não dispõem de mecanismo de controle à CPC.

A CPC teve um interesse parlamentar considerado baixo para as


possibilidades de atuação que se esperava de uma Comissão legislativa.
Entretanto isso não significa desinteresse do legislativo para com o tema da
integração regional, a construção do Parlamento do Mercosul é um resultado
dos trabalhos da CPC.

A falta de uma melhor estruturação da Comissão dentro do bloco, a falta


de uma visão partilhada pelos executivos com os legislativos nacionais sobre
o rumo da integração e a limitação de atribuições e de mecanismos de
10
controle, que não possibilitava um claro retorno quanto ao aproveitamento
de seu trabalho, resultaram em entraves durante sua atuação.

A CPC e a construção do Parlasul

O Parlamento do Mercosul surge sobretudo pela vontade dos executivos


nacionais. O interesse em aprofundar o Mercosul político, buscar construir
uma identidade regional e dar legitimidade democrática ao processo faz
parte do discurso governamental nos Estados membros, à partir de 2003.
Entre as ações resultantes desse direcionamento proclamado pelos
governos está o surgimento do Parlasul.

Tendo em vista o processo decisório do Mercosul ser centrado nos


executivos nacionais, se entende geralmente que as novas iniciativas no
âmbito do bloco são resultado da vontade política da base governista dos
Estados membros. Essa percepção verdadeira, em geral, obscurece, no
entanto, outros aspectos que interferem na tomada de decisão.

Tal compreensão, do forte papel dos executivos na tomada de decisão


do bloco, pode colocar o Parlasul como decorrência apenas do interesse
político que emerge com os novos presidentes, a partir de 2003. O que faz
parecer que o papel da CPC na construção do Parlasul teria sido ínfimo.
Isso, no entanto não condiz com a realidade.

Sobre o tema, Gerardo Caetano, coloca:

La propuesta, como vimos, estaba muy presente desde hace largos años a nivel
de la propia CPC. Lo que hicieron los Presidentes de la Argentina y el Brasil fue
potenciarla a través de una muy fuerte expresión de voluntad política de sus
respectivos gobiernos (CAETANO, 2004, P.36).

A CPC ao longo de sua existência travou uma batalha política e


burocrática pela criação do Parlasul, seu surgimento deve-se
significativamente aos vários debates no âmbito interno da Comissão.
Diversas ações em seu âmbito contribuíram para essa nova construção: as
recomendações sobre o tema Parlamento feito pela Comissão ao CMC; a
agenda elaborada com as etapas necessárias para a criação do parlamento;

11
as articulações internas de convencimento entre os membros da própria
Comissãovi.

Ainda é significativo o papel de atores-chave, parlamentares que


defenderam a idéia de uma participação do legislativo mais ativa no âmbito
da integração. A CPC buscou dar legitimidade ao processo aproximando o
tema integracionista das sociedades domésticas. Algumas ações vinham se
desenvolvendo dentro da CPC, como seminários convocando
representantes das sociedades nacionais para debater o a criação de um
parlamento para o bloco e solicitação de estudos para verificar a
possibilidade de campanhas difundindo o tema Mercosul para as populações
nacionais. Estas atividades não eram alheias ao CMC. Uma prova disso é
este ter definido a CPC como responsável para elaborar a proposta da
criação de um parlamento no plano de trabalho do Mercosul 2004 – 2006.

O exaustivo debate sobre o assunto parlamento dentro da CPC, desde sua


criação, facilitou a rápida criação do Parlasul quando da autorização do
CMC. Sobre o assunto DRUMMOND (2009, p. 105) argumenta: “A CPC
estava pronta para um aprofundamento de suas funções”. As discussões
sobre a necessidade de um parlamento para o Mercosul surgiram dentro da
CPC, os parlamentares que compunham o órgão reconheciam a importância
de informar a sociedade civil acerca do processo de integração e por meio
de recomendações levantavam a questão junto ao CMC (Ibidem, 2009).
Entre as ações importantes feita pela CPC, no que diz respeito a criação do
Parlamento, destaca-se a colaboração estabelecida com a União Européia
por meio do Parlamento Europeu. Esta foi importante para direcionar os atos
da CPC na execução de tarefas.

Oscar casal (2006) destaca o importante significado do CMC de partilhar


com os legislativos nacionais a criação dessa nova estrutura, ao passar à
Comissão o trabalho de desenvolver o projeto do parlamento. Está atitude
não ocorreu quando a CPC foi criada. De modo que, na criação do Parlasul
se corrigiria um erro inicial na estruturação do processo integracionista, o
não envolvimento dos legislativos nacionais nas definições da integração.

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Este erro, muitas vezes foi apontado como motivo para debilidades da
atuação parlamentar no âmbito da CPC, seus membros tiveram dificuldades
para entender o papel que lhes foi designado.

A Comissão Parlamentar Conjunta dentro de suas fragilidades exerceu


um papel significativo no desenvolvimento do Parlamento do Mercosul. Isso
não quer dizer que sua atuação ao longo de seus quinze anos tenha sido
satisfatória. De fato ela não atende as expectativas geradas pelos
observadores, analistas e grupos organizados que acompanham de modo
mais próximo a integração do Mercosul. As razões de suas limitações,
entretanto, são complexas, envolve a cultura política na região, as
configurações estruturais que se desenham nos parlamentos nacionais e
nos marcos institucionais do bloco.

Conclusão

A literatura que acompanha o desenvolvimento das atividades da


Comissão Parlamentar Conjunta aponta em geral uma insatisfação com as
atividades desenvolvidas pelo órgão. As expectativas existentes de uma
atuação parlamentar no âmbito da integração do Mercosul parecem se
espelhar no processo Europeu, onde gradualmente a assembléia legislativa
ganhou poderes dentro da estrutura institucional do bloco.

A dificuldade da CPC em realizar um ação vigorosa de influência nas


decisões do Mercosul e de aproximar o tema integração das sociedades
nacionais, gerou frustrações por parte de analistas, grupos organizados mais
atentos a integração regional e parlamentares também interessados em um
participação mais ativa junto ao bloco.

Sobre essa situação, acima mencionada, há um reconhecimento


consensuado na literatura, que a estrutura estabelecida no Protocolo de
Ouro Preto favorecera o desempenho mediano ou insatisfatório da CPC, ao
não dispor a ela atividades propositivas e de controle. No entanto, quanto a
ação dos parlamentos nacionais haveria um dissenso.

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Existem os que destacam uma atuação fraca e débil, da Comissão,
sobretudo pelo desinteresse dos parlamentares para com o tema da
integração. Conforme o estudo realizado por MARIANO (2003) no congresso
brasileiro isso ficará evidente em situação identificadas como, a falta de
conhecimento de alguns legisladores sobre o tema Mercosul e a falta de
ciência das atribuições da CPC no congresso. Esse quadro contribuiria para
a falta de uma postura mais ativa da CPC.

Esta compreensão é colocada em questão, sendo relativizada com a


apresentação de trabalhos exploratórios, alguns mais recentes. A CPC teria
tido uma atuação significativa dentro de sua estrutura de atuação, que não
era favorável ao desenvolvimento de suas capacidades. Posturas ativas e
interessadas no processo da integração se revelam na produção de
recomendações; na articulação de bancadas, região Sul do Brasil; na
institucionalização da Comissão no congresso brasileiro e nas constantes
demonstrações favoráveis, quer em votações quer em discursos, sobre o
tema Mercosul.

Nesse cenário, destacamos a construção do Parlamento do Mercosul.


Ele foi apontado como meio para resolver os problemas de legitimidade e da
fraca atuação da CPC (OLIVEIRA, 2004). O tema esteve presente desde a
sua criação, em 1991. Subcomissões foram montadas para estudar a
implementação do parlamento antes de um aval do CMC.

As tentativas de dar um passo maior na inserção parlamentar no âmbito


do Mercosul estão presentes durante os anos trabalhos da CPC. De modo
que, quando houve disposição dos executivos em permitir esse novo
empreendimento, a CPC estava pronta para realizar essa transformação
(DRUMMOND, 2009).

Com o nascimento do Parlasul surge uma série de questionamentos


sobre a sua capacidade de superar a atuação da CPC, quanto a representar
efetivamente a sociedades, influenciar o processo decisório do bloco e ter
uma participação legislativa reconhecida e respeita pelos executivos. As
eleições diretas estabelecidas no protocolo constitutivo do novo órgão
14
trazem uma inovação que pode provocar ações mais relevantes para o
Parlasul do que teve a CPC, pela legitimidade que passaria a possuir com o
respaldo das populações nacionais. Ainda assim, esse processo dependerá
dos governos domésticos permitirem um maior posicionamento do legislativo
no âmbito do bloco, já que são responsáveis pelas decisões que envolvem o
pleno desenvolvimento do Parlasul.

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15
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societal. Buenos Aires, Clasco.

Notas

i
O acordo foi efetivado um ano mais tarde, em 1989. Disponível em:
http://www2.mre.gov.br/dai/b_argt_281_758.htm
ii
Para mais ver: Tratado de ouro Preto. Disponível em: http://www2.mre.gov.br/dai/protouropreto.htm
iii
Diário do Congresso nacional (seção I) Julho, 1990. Disponível em:
http://imagem.camara.gov.br/dc_20.asp?selCodColecaoCsv=D&txPagina=8533&Datain=10/07/1990&seq=373089
iv
Para mais ver documentos documento gerados pela CPC em: Hacia el Parlamento Del Mercosur uma
recopilación de documentos. Konrad – Adenauer, Montevideo, 2004.

v
Cesar (2002); CÉSAR, S. E. M. (2002). Interação Executivo-Legislativo no Processo de Formulação da Política
Externa Brasileira. Dissertação de mestrado em Ciência Política apresentada na UnB; FLEISCHER, D. e SOARES,
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DRUMMOND, M. C. (1999). “Fortalecimento da atuação parlamentar e institucional no processo de integração do
Mercosul.” In: CAETANO, G. e PERINA, R.Parlamentos e instituciones em el Mercosur: los nuevos desafios.
Montevidéu, CLAEH/OEA.
vi
Para mais ver documentos gerados pela CPC em: Hacia el Parlamento Del Mercosur uma recopilación de
docum entos.

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