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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Processo: 1.0637.14.002076-8/003
Relator: Des.(a) Yeda Athias
Relator do Acordão: Des.(a) Yeda Athias
Data do Julgamento: 28/09/2021
Data da Publicação: 08/10/2021

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - OMISSÃO - ARGUMENTOS INCAPAZES DE INFIRMAR A


CONCLUSÃO DO JULGADO - HONORÁRIOS RECURSAIS NÃO ARBITRADOS - ACOLHIMENTO - EFEITOS
INFRINGENTES.
- Os embargos de declaração têm como finalidade suprir omissão, contradição, obscuridade ou erro material, não se
prestando à rediscussão de fatos ou do direito aplicável com vias a se modificar a conclusão do julgado.
- De acordo com a jurisprudência consolidada do col. Superior Tribunal de Justiça, o juiz não está obrigado a rebater
todos os argumentos ventilados pelas partes, mas apenas as questões capazes de, efetivamente, influenciar nas
premissas e na conclusão do julgado.
- Demonstrada a omissão no julgado em relação à fixação dos honorários recursais, imperioso o acolhimento dos
presentes embargos de declaração, com efeitos infringentes, para sanar o referido vício.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO-CV Nº 1.0637.14.002076-8/003 - COMARCA DE SÃO LOURENÇO -
EMBARGANTE(S): OLGA LEOCÁDIA COUTO AOUN, GERALDO MAGELA AOUN E OUTRO(A)(S) -
EMBARGADO(A)(S): OLGA LEOCÁDIA COUTO AOUN, GERALDO MAGELA AOUN E OUTRO(A)(S)

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA
AUTORA E ACOLHER OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELOS RÉUS.

DESA. YEDA ATHIAS


RELATORA

DESA. YEDA ATHIAS (RELATORA)

VOTO

Trata-se de embargos de declaração opostos por Geraldo Magela Aoun e outros e por Olga Leocádia Couto Aoun
contra o acórdão de fl.377/381, que negou provimento ao recurso de apelação interposto pela segunda embargante.
Nas razões do primeiro recurso (f. 609/614), os réus embargantes afirmam que o acórdão foi omisso, na medida
em que deixou de majorar os honorários sucumbenciais, na forma do art. 85, § 11º do CPC, para pugnar pelo
acolhimento dos embargos, arbitrando-se honorários recursais.
Nas razões do segundo recurso (f. 615/638), a autora embargante sustenta que esta Turma Julgadora "omitiu-se
quanto à alegação da apelante de que somente os testamentos particulares são passíveis desta mitigação da
formalidade legal, e jamais os públicos", citando precedentes do Superior Tribunal de Justiça neste sentido.
Afirma que "a Lei 8.935/1994 versa sobre matéria de ordem pública, e, portanto, não pode prevalecer o
testamento convencionado por oficial que não possuía competência para tanto, sendo inconteste sua nulidade". Alega
que o Acórdão também se omitiu a respeito das consultas técnicas realizadas a respeito da competência territorial dos
serviços notariais.
Assevera que o seu direito à meação e à herança, na qualidade de viúva do de cujos, é matéria de ordem pública,
cognoscível a qualquer tempo, que não pode ser considerada inovação recursal.
Pugna pelo acolhimento dos embargos para que sejam sanados os vícios apontados.
Intimadas as partes (f. 639), apenas a autora apresentou contrarrazões ao primeiro recurso.
É o relatório. Decido.
Conheço dos recursos, pois presentes os requisitos de admissibilidade, invertendo a ordem de sua apreciação,
ante a possível prejudicialidade existente entre eles.
O art. 1.022 do Código de Processo Civil dispõe que cabem embargos de declaração contra qualquer decisão
judicial para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição, suprir omissão de ponto ou questão

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sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento ou, ainda, corrigir erro material.
Em virtude disso, não se prestam à rediscussão dos fatos ou do direito aplicável à espécie e tampouco à
reapreciação das provas produzidas nos autos, consoante vem decidindo esta Colenda 6ª Câmara Cível:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ERRO MATERIAL NA SÚMULA DO JULGADO - CORREÇÃO - INSURGÊNCIA


CONTRA AS CONCLUSÕES DO ACÓRDÃO - REITERAÇÃO DE PEDIDOS E FUNDAMENTOS JÁ APRECIADOS
PELO COLEGIADO - OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E OBSCURIDADE - INEXISTÊNCIA - QUESTÕES INVOCADAS
EXPRESSAMENTE ABORDADAS NO ACÓRDÃO - PRIMEIROS EMBARGOS ACOLHIDOS EM PARTE E
SEGUNDOS EMBARGOS REJEITADOS. 1 - Acolhem-se os declaratórios para sanar erro material na redação da
súmula do acórdão, adequando-a ao resultado do julgamento. 2 - Tendo sido negado provimento ao apelo, é
consectário da conclusão colegiada a manutenção da sentença primeva no que toca aos encargos de sucumbência. 3
- Os embargos de declaração não se prestam à reforma do julgado, assim como não permitem que se rediscuta a
matéria já apreciada, tendo como objetivo sanar obscuridade, contradição ou suprir omissão existente no acórdão, a
teor do art. 535 do Código de Processo Civil. (...) (TJMG - Embargos de Declaração-Cv 1.0024.12.149489-2/002,
Relator(a): Des.(a) Sandra Fonseca , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/07/2015, publicação da súmula em
17/07/2015).

No caso dos segundos embargos de declaração opostos pela autora Olga Leocádia Couto Aoun às fls. 615/638,
não vislumbro ter sido demonstrado qualquer um dos vícios apontados.
Aliás, Consta no acórdão embargado, de forma expressa e clara, o entendimento adotado pelo colegiado acerca
da possibilidade de se mitigar o formalismo na sucessão testamentária, com vistas a se resguardar a vontade do
testador.
Confira-se:

É bem verdade que a inobservância das formalidades impostas pelo ordenamento jurídico pode conduzir à declaração
de nulidade do testamento.
Contudo, admite-se a mitigação deste formalismo, sobretudo quando houver prova robusta de que o desejo do
testador foi respeitado na ocasião da lavratura do testamento, consoante entendimento do Superior Tribunal de
Justiça:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TESTAMENTO. FORMALIDADES LEGAIS NÃO


OBSERVADAS. NULIDADE.
1. Atendido os pressupostos básicos da sucessão testamentária - i) capacidade do testador; ii) atendimento aos
limites do que pode dispor e; iii) lídima declaração de vontade - a ausência de umas das formalidades exigidas por lei,
pode e deve ser colmatada para a preservação da vontade do testador, pois as regulações atinentes ao testamento
tem por escopo único, a preservação da vontade do testador.
2. Evidenciada, tanto a capacidade cognitiva do testador quanto o fato de que testamento, lido pelo tabelião,
correspondia, exatamente à manifestação de vontade do de cujus, não cabe então, reputar como nulo o testamento,
por ter sido preterida solenidades fixadas em lei, porquanto o fim dessas - assegurar a higidez da manifestação do de
cujus -, foi completamente satisfeita com os procedimentos adotados. 3. Recurso não provido. (REsp 1677931/MG,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe 22/08/2017 - grifei).

Por óbvio, se não foi feita qualquer ressalva quanto à natureza do testamento, se público ou privado, significa que
a Turma Julgadora admite a mitigação das solenidades legais do testamento em ambas as hipóteses, sempre que
assegurada a higidez da vontade do testador. Inclusive, o precedente do Superior Tribunal de Justiça acima transcrito,
versa exatamente acerca de um testamento público, lavrado por deficiente visual.
Dessa forma, no acórdão foi enfrentada a irregularidade formal narrada pela meeira, não beneficiada no
testamento, concluindo que não se trata de vício capaz de macular a disposição de última vontade do testador,
conforme se transcreve:

É importante ressaltar que embora evidenciado o vício de forma no instrumento público, foram observadas as demais
formalidades legais e, portanto, deve prevalecer a manifestação de vontade do de cujus e, via de consequência, não
deve ser declarada a nulidade do testamento, pois admissível a mitigação deste formalismo exacerbado em prol da
vontade do testador, consoante já decidiu este eg. Tribunal de Justiça, com precedentes do col. Superior Tribunal de
Justiça:

Lado outro, as consultas técnicas e certidões juntadas em f. 277/278 e 351/353 são incapazes de infirmar o
resultado alcançado no Acórdão, pois pouco importa, no caso concreto, que o Oficial de Registro Civil das Pessoas
Naturais seja incompetente para lavrar testamentos.

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Outrossim, de acordo com a jurisprudência consolidada do col. Superior Tribunal de Justiça, o juiz não está
obrigado a rebater todos os argumentos ventilados pelas partes, mas apenas as questões capazes de, efetivamente,
influenciar nas premissas e na conclusão do julgado, conforme vem decidindo aquela Corte Superior e esta col. 6ª.
Câmara Cível:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO.


INDEFERIMENTO DA INICIAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE, ERRO MATERIAL. AUSÊNCIA. 1. Os
embargos de declaração, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade,
eliminar contradição ou corrigir erro material existente no julgado, o que não ocorre na hipótese em apreço. 2. O
julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado
motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a
jurisprudência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar
as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida. (...) (EDcl no MS 21.315/DF, Rel. Ministra
DIVA MALERBI (DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO), PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2016,
DJe 15/06/2016)

APELAÇÃO CÍVEL - TRIBUTÁRIO - PROCESSUAL CIVIL - APRECIAÇÃO DE TODOS OS ARGUMENTOS DAS


PARTES - DESNECESSIDADE - DECISUM QUE APRESENTA FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE À
SUSTENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES EXPRESSADAS - NULIDADE AFASTADA - ICMS - TRANSPORTE DE
PESSOAS E CARGAS - DIFERENCIAL DE ALÍQUOTA INTERNA E INTERESTADUAL - AQUISIÇÃO DE PNEUS -
NATUREZA DO BEM - ATIVO FIXO OU INSUMO - IRRELEVÂNCIA - PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL -
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS - RAZOABILIDADE - MANUTENÇÃO - RECURSO NÃO PROVIDO. - Não
configura nulidade apta a viciar a sentença a ausência de apreciação de todos os argumentos elencados pela parte,
na hipótese em que o decisum estampa fundamentação suficiente à sustentação da conclusão jurídica
expressada.(...)- Preliminar de nulidade da sentença rejeitada. Recurso não provido. (TJMG - Apelação Cível
1.0024.09.500836-3/001, Relator(a): Des.(a) Corrêa Junior , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/02/2015,
publicação da súmula em 06/03/2015- grifei) - destaquei.

Quanto à alegação de que o pedido de partilha e de meação da autora não constitui inovação recursal, "posto se
tratar de matéria de ordem pública, que pode ser examinada a qualquer tempo" (f. 630), trata-se de mero
inconformismo e evidente tentativa de se rediscutir o direito aplicável à espécie. E, portanto se a embargante entende
que a conclusão alcançada pelo Colegiado não é a mais acertada, deve utilizar-se da via processual adequada.
Por outro lado, quanto aos primeiros embargos opostos pelos réus Geraldo Magela Aoun e outros às fls. 609/614,
denota-se a omissão na decisão recorrida, eis que não foram fixados honorários recursais.
Sobre a matéria, nos termos do art. 85, §11, do CPC, é cabível a majoração dos honorários de sucumbência em
grau recursal pelo Tribunal, levando-se em conta o trabalho desempenhando pelo procurador nesta segunda
instância:
Art. 85. (...)

§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho
adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao
tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos
limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.

Nesse contexto, demonstrada a omissão no julgado em relação à fixação dos honorários recursais, imperioso o
acolhimento dos presentes embargos de declaração, com efeitos infringentes, para sanar o referido vício, majorando
os honorários para 20% sobre o valor da causa, considerada a elevada complexidade da matéria, o grau de zelo dos
causídicos e o tempo de tramitação do feito.
Ressalte-se que não houve recurso próprio e tempestivo da parte interessada quando a sentença fixou os
honorários sucumbenciais com base no valor atribuído à causa, o que impossibilita o arbitramento da verba honorária
recursal, em sede de aclaratórios, por apreciação equitativa, nos termos do art. 85, §8º, do CPC.
Ante o exposto, REJEITO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA AUTORA E ACOLHO OS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELOS RÉUS, para majorar os honorários de sucumbência para 20%
sobre o valor atualizado da causa (art. 85, §11, do CPC).
Sem custas.
MBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA AUTORA E ACOLHERAM OS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO OPOSTOS PELOS RÉUS

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DES. EDILSON OLÍMPIO FERNANDES - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. JÚLIO CEZAR GUTTIERREZ - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM OS"

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