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Processo Penal
Competência Criminal
Apostila 04
COMPETÊNCIA CRIMINAL
Crédito: Renato Brasileiro e sua obra Manual de Processo Penal; Comentários ao
Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência – Eugênio Pacelli e Douglas Fischer.
Eu, Diovane, apenas extraí os textos de forma sintetizada das obras acima. Os créditos
são todos dos autores. Fiz outras citações, como por exemplo o Dizer o Direito, Nestor Távora
e Fábio Roque. Coloquei as anotações do meu caderno pessoal no final. As jurisprudências ao
fim são do Dizer o Direito e algumas do livro do Douglas Fischer.
Para vocês que estudam para Delegado (Federal ou Civil), Magistratura Federal e
Ministério Público Federal, eis aqui uma das mais importantes matérias em Processo Penal.
Peço aos leitores que me sigam no Instagram, clicando aqui. Lá eu posto atualizações
sobre as apostilas produzidas no nosso site , sorteio livros de vez em quando y otras cositas.
SÚMARIO
COMPETÊNCIA CRIMINAL ............................................................................................................ 1
1. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ............................................................................................ 4
1.1. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL ..................................................................................................... 4
1.1.1. Lei processual que altera regras de competência...................................................... 5
1 1.1.2. Convocação de Juízes de 1° grau para substituir Desembargadores......................... 5
2. ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA .............................................................................................. 6
2.1. EM RAZÃO DA MATÉRIA – RATIONE MATERIAE ............................................................................... 6
2.2. EM RAZÃO DA PESSOA/FUNÇÃO – RATIONE PERSONAE .................................................................... 6
2.3. EM RAZÃO DO LOCAL – RATIONE LOCI .......................................................................................... 6
2.4. COMPETÊNCIA FUNCIONAL ........................................................................................................ 6
3. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ............................................................................. 6
3.1. QUANTO À NATUREZA DO INTERESSE ........................................................................................... 6
3.2. DA ARGUIÇÃO DA INCOMPETÊNCIA ............................................................................................. 7
3.3. RECONHECIMENTO DA INCOMPETÊNCIA EM 2ª INSTÂNCIA ............................................................... 8
3.4. CONSEQUÊNCIAS DO RECONHECIMENTO DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ............................. 8
3.5. A COISA JULGADA NOS CASOS DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ........................................... 9
4. FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA CRIMINAL ............................................................................. 9
5. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL ..................................................................................... 10
6. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ................................................................................. 11
7. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA ......................................................................... 12
7.1. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL .......................................................................... 12
7.2. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL ............................................................................ 12
7.2.1. Artigo 109, inciso IV: crimes políticos e contra a União e sua administração indireta
13
7.2.1.1. Crimes Políticos ................................................................................................................ 13
7.2.1.2. Crimes contra a União ...................................................................................................... 13
7.2.1.3. Crimes contra autarquias federais ................................................................................... 14
7.2.1.4. Crimes contra empresas públicas federais ....................................................................... 14
7.2.1.5. Crimes contra fundações públicas federais ...................................................................... 14
7.2.1.6. Crimes contra entidades de fiscalização profissional ....................................................... 15
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11.2. CONTINÊNCIA................................................................................................................... 87
11.3. EFEITOS DA CONEXÃO E DA CONTINÊNCIA .............................................................................. 87
11.4. FORO PREVALENTE ............................................................................................................ 88
11.4.1. Competência prevalente do Tribunal do Júri ........................................................... 88
11.4.2. Jurisdições distintas ................................................................................................. 88
11.4.3. Jurisdições da mesma categoria ............................................................................. 89
11.5. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS ................................................................................................. 89
11.5.1. Separação obrigatória ............................................................................................ 90
11.5.1.1. Concurso entre a jurisdição comum e a militar .............................................................. 90
11.5.1.2. Concurso entre jurisdição comum e a do juízo de menores .......................................... 90
11.5.1.3. Doença mental superveniente à prática delituosa ......................................................... 90
11.5.2. Separação facultativa de processos ........................................................................ 90
11.5.2.1. Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes ..................... 91
11.5.2.2. Excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória .............. 91
11.5.2.3. Motivo relevante pelo qual o juiz repute conveniente a separação .............................. 91
11.6. PERPETUAÇÃO DA COMPETÊNCIA NAS HIPÓTESES DE CONEXÃO E CONTINÊNCIA ............................. 91
12. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA ................................................................................. 92
13. PERPETUAÇÃO DE COMPETÊNCIA ................................................................................... 92
14. SÚMULAS IMPORTANTES ................................................................................................ 93
15. JURISPRUDÊNCIAS E ANOTAÇÕES DO MEU CADERNO PESSOAL ..................................... 95
Justiça Federal ........................................................................................................................ 96
Justiça Estadual ...................................................................................................................... 99
Justiça Militar ......................................................................................................................... 99
4 Foro por prerrogativa de função / foro privilegiado ............................................................. 100
Outros julgados .................................................................................................................... 103
1. Jurisdição e competência
A jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito aplicado ao caso concreto,
substituindo a vontade das partes, tendo como objetivo a pacificação social. Realizado um
crime, surge ao Estado o direito de punir e ao criminoso o direito de se ver legalmente
processado, ocasião em que a jurisdição resolverá o conflito. Entretanto, apesar da jurisdição
ser considerada una, um só juiz não pode resolver todos os casos.
Daí o motivo pelo qual a jurisdição é distribuída entre vários juízes, devendo haver,
portanto, regras de distribuição de competência, que autoriza e limita o poder dos juízes de
julgarem o caso concreto.
Competência, portanto, é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão
jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso concreto.
1.1. Princípio do Juiz Natural
Cuida-se do direito que cada cidadão possui de saber, previamente, a autoridade que irá
processar e julgá-la no caso concreto. É aquele constituído antes do fato delituoso a ser
julgado, mediante regras taxativas de competência estabelecidas pela lei.
Assim, a Constituição Federal definirá, previamente ao fato, a competência do juízo para
o suposto crime cometido. Assim, vale a regra do tempus criminis regit iudicem (o tempo do
crime rege o juízo). Ademais, a própria Constituição dispõe, no art. 5°, que não haverá tribunal
de exceção, bem como que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.
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5 hipótese em que o processo deverá seguir na jurisdição em que a decisão foi prolatada (STF,
HC 76.510).
Já se decidiu que a criação de vara especializada provoca o deslocamento da
competência para processamento e julgamento da vara comum para a vara especializada (HC
– 86.660 - STF – Plenário) (HC-85060 - STF - 1ª Turma).
#Bizu: Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, regras de
competência determinadas por prerrogativas de função, convocação de juízes para compor
órgãos de tribunais e a redistribuição de processos em decorrência da criação de vara com
idêntica competência.
1.1.2. Convocação de Juízes de 1° grau para substituir Desembargadores
O mesmo se pode dizer de Tribunais que tenham Juízes de 1ª Grau convocados atuando,
não havendo violação ao princípio do Juiz Natural. Entretanto, segundo STJ, para que esta
convocação seja válida, sem qualquer ofensa ao ordenamento, é indispensável que haja prévia
fixação de qual será o juiz convocado, segundo critérios objetivos predeterminados.
Sobre tal ponto, o STF, em controle concentrado de constitucionalidade, concluiu que os
Regimentos Internos dos Tribunais podem dispor a respeito da convocação de juízes para
substituição de desembargadores, em caso de vaga ou afastamento por prazo superior a 30
dias, nos termos do art. 118 da LOMAN, sem violar o princípio da legalidade.
No mais, o STF entende que não viola o princípio do juiz natural o julgamento de
apelação por órgão colegiado presidido por desembargador, sendo os demais
integrantes juízes convocados. STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/2/2016 (Info 814).
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2. Espécies de competência
2.1. Em razão da matéria – ratione materiae
É aquela estabelecida em virtude da natureza da infração penal praticada (CPP, art. 69,
III). Ex: Justiça militar para crimes militares; Justiça Eleitoral para crimes eleitorais.
2.2. Em razão da pessoa/função – ratione personae
Cuida-se da competência em razão da função desempenhada pelo agente (CPP, art. 69,
inciso VII). Aqui temos as regras de competência estabelecidas na Constituição Federal, que as
veremos adiante e os novos entendimentos sufragados pelo STF e STJ em 2018 acerca do tema
(O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício
do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF).
2.3. Em razão do local – ratione loci
Cuida-se da comarca ou Subseção Judiciária na qual será processado e julgado o agente.
Está disposta no art. 69, I e II, do CPP, sendo, em regra, o lugar da infração.
2.4. Competência funcional
É a distribuição feita pela lei entre diversos juízes da mesma instância ou de instâncias
diversas para, num mesmo processo, ou em um segmento ou fase do seu desenvolvimento,
praticar determinados atos. A competência é fixada conforme a função que cada um dos vários
órgãos jurisdicionais exerce em um processo sendo. Ex: juiz de conhecimento e juiz de
execução.
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Assim, se uma sentença foi prolatada por juiz absolutamente incompetente, ela estará
eivada de nulidade absoluta, dependendo de pronunciamento judicial para ser desconstituída.
Ademais, o STJ entende que em sede penal, atribui-se a plena eficácia à coisa julgada, ainda
quando produzida em juízo incompetente, ou mesmo à que falte jurisdição. Portanto, é
necessária uma nova decisão declarando a nulidade da sentença prolatada por juiz
absolutamente incompetente.
Características:
a) Pode ser arguida a qualquer momento, enquanto não houver o trânsito em julgado
da decisão. Em se tratando de sentença condenatória ou absolutória imprópria, as
nulidades absolutas podem ser arguidas mesmo após o trânsito em julgado (STJ).
Ainda, convém mencionar que se um juiz absolutamente incompetente absolve um
réu, não poderá haver nova sentença condenando-o. A nulidade só pode ser
declarada pro reo, e nunca contra o réu (Convenção Americana de Direitos
Humanos).
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prolatar novas decisões; ou, ainda, se achar que também não é competente, poderá suscitar
conflito negativo de competência.
Ainda, caso o juiz decline de ofício de sua competência, ambas as partes estão
legitimadas a recorrer, através de recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, II, CPP.
Lado outro, se o MP acha que o Juiz Estadual é incompetente, não ofertando denúncia,
e o juiz acredita ser competente, ocorre o se chama de arquivamento indireto, de modo que o
Juiz deverá remeter os autos ao PGJ para verificar se se trata de caso de nomear outro
Promotor ou confirmar a incompetência do MP estadual, requerendo a remessa à Justiça
Federal.
No caso de incompetência absoluta, é cabível ainda, mesmo após o trânsito em julgado,
a revisão criminal.
3.3. Reconhecimento da incompetência em 2ª instância
É plenamente possível que o Tribunal declare a incompetência absoluta ou relativa do
Juízo para o feito, lembrando que a arguição deve ter sido feita em 1ª instância, sob pena de
preclusão. Cuida-se da regra do tantum devolutum quantum apellatum. Se as partes se
insurgiram quanto a competência em apelação, o Tribunal pode analisar o pedido.
Mas o Tribunal pode reconhecer ex officio a incompetência absoluta ao apreciar
determinado recurso??? Segundo a Súmula 160 do STF, só se for a favor do réu, pois é nula
decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício. Assim, se a sentença for absolutória, não pode
8 reconhecer a nulidade da sentença de ofício. Se for condenatória, pode. Mas lembre-se:
NUNCA PODERÁ HAVER reformatio in pejus, ainda que no Juízo competente. Ele estará adstrito
à pena da primeira sentença, não podendo ser maior.
É mister salientar que, se o tribunal reconhece a nulidade do feito em razão da
incompetência absoluta do juízo, não há se falar em interrupção da prescrição pelo
recebimento da denúncia. A denúncia só interrompe a prescrição quando recebida por juiz
competente.
Ainda, lembrem-se que a incompetência absoluta é causa ensejadora de revisão
criminal, podendo ser arguida após o trânsito em julgado pela revisão.
3.4. Consequências do reconhecimento da incompetência absoluta e
relativa
Segundo dispõe o art. 567 do CPP, a incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz
competente. Assim, os atos são nulos, devendo ser esta nulidade ser declarada, ocasião em
que, somente aí, não terá mais efeitos.
Sob tal assunto, o STF e o STJ entendem que, reconhecida a incompetência absoluta,
hão de ser declarados nulos apenas os atos decisórios proferidos pelo juízo incompetente,
deixando a cargo do juízo competente a decisão quanto á anulação, ou não, dos demais atos
do processo.
Ademais, o STF admite a possibilidade de ratificação pelo juízo competente, inclusive
quanto aos atos decisórios. Tanto a denúncia quanto o seu recebimento são ratificáveis no
juízo incompetente.
O MP também não precisa oferecer nova denúncia, bastando ratificá-la ou aditá-la.
Lembrando que, segundo o STF, não havendo a ratificação, o aditamento ou o oferecimento
de nova denúncia, não há denúncia, logo, não há processo.
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5. Competência Internacional
Conforme visto acima, antes da fixação da competência surge a indagação sobre a
jurisdição competente: interna ou externa. Essas normas são fixadas pelos próprios Estados.
No ordenamento brasileiro, a competência internacional encontra-se definida nas regras de
territorialidade e extraterritorialidade fixadas nos artigos 5° ao 7° do Código Penal.
A territorialidade dispõe que é competente a autoridade judiciária brasileira para o
processo e julgamento dos crimes cometidos no território nacional (CP, art. 5°, caput). O
território compreende o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma
continental e o espaço aéreo acima de seu território e de seu mar territorial.
No âmbito do direito penal, conforme preleciona o §1° do art. 5°, é considerado como
extensão do território (e não território propriamente dito), as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar. A mesma extensão ocorre em relação aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em voo no espaço aero correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil (CP, art. 5°, § 2°). Atenção: em direito internacional o Portela ressalta que
esses locais não são considerados territórios, mas tão somente extensão territorial e que há
alcance da jurisdição estatal neles.
Assim, se uma fase do iter criminis ocorreu em qualquer destes lugares, em razão da
10 teoria da ubiquidade, haverá Jurisdição Brasileira, tratando-se de crimes que ocorram em mais
de um Estado. (CP, art. 6°). Atenção: esse critério é diferente do adotado para definir a
competência territorial interna, que está pautado pelo local do resultado, conforme
determina o Código de Processo Penal.
Há ainda as regras de extraterritorialidade, que são os crimes que, embora cometidos no
exterior, serão julgados no Brasil. Estão no artigo 7° do Código Penal, sendo que esta
extraterritorialidade pode ser condicionada a determinadas condições ou incondicionada (ver
aula 01 de Penal).
Sobre os crimes cometidos inteiramente no exterior e julgados no Brasil, a competência
será da Justiça Comum Estadual, haja vista a inexistência de qualquer hipótese que atraia a
competência da Justiça Federal (CF, art. 109) (Essa é a posição do STF). Assim, o simples fato
de um crime ter sido praticado no exterior não desloca a competência para a Justiça Federal
(STF). Mas atenção, o STJ entende diferente. Saibam da divergência para provas subjetivas:
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa
sobre crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição (brasileiro nato), aplicável o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC
154656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
Segue tema do Dizer o Direito:
Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja
extradição tenha sido negada?
• STF: Justiça Estadual
• STJ: Justiça Federal
O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a
competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual
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julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em
razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição
para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso
se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE
1175638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).
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Quando algum brasileiro tiver cometido algum crime desses, não haverá o fenômeno da
extradição (entrega de uma pessoa por um Estado a outro), mas sim a entrega ao TPI, que é
chamado pela doutrina como surrender ou remise.
Observação: esta matéria será profundamente estudada em Direito Internacional,
motivo pelo qual agora só fiz um breve introito.
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7.2.1. Artigo 109, inciso IV: crimes políticos e contra a União e sua
administração indireta
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
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indícios de desvio das verbas federais por ela recebidas e sujeitas à prestação de contas
perante o órgão federal, não há como se afastar a competência da Justiça Federal.
17 pública tem que ser particular, concreto, específico e direto. Se o interesse for meramente
genérico ou remoto, a competência será da Justiça Estadual. Isso é importante porque, em
regra, a União sempre terá um interesse reflexo, mediato.
Assim, em caso de contrabando ou descaminho, justifica-se a competência da Justiça
Federal para processar e julgar o feito, haja vista o interesse direto da União em coibir a
importação ou exportação de mercadoria proibida, ou a ilusão, no todo ou em parte, do
pagamento de direito ou imposto devido á União pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria. Sobre esse tema, recentemente a 3ª Seção pacificou que “Compete à Justiça
Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes
indícios de transnacionalidade na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635). ”
STJ: compete à Justiça Estadual o julgamento de ação penal em que se apure crime de
esbulho possessório efetuado em terra de propriedade do INCRA na hipótese em que a
conduta delitiva não tenha representado ameaça à titularidade do imóvel e em que os únicos
prejudicados tenham sido aqueles que tiveram suas residências invadidas.
Exemplos de serviços ou interesses da União que justificam a competência da Justiça
Federal:
a) Emitir moeda: compete à Justiça Federal julgar o crime de moeda falsa. Lembrem-
se: só há crime de moeda falsa e a falsificação tiver imitatio veri, ou seja, a
possibilidade de enganar alguém. Se a falsificação for grosseira, o crime será
estelionato, de competência da Justiça Estadual. Nessa linha, Súmula 73 do STJ: a
utilização de papel moeda grosseiramente falsificado, configura, em tese, o crime de
estelionato, de competência da Justiça Estadual. Ainda, se a moeda falsificada for
estrangeira, atinge o Banco Central do Brasil, atraindo a competência da Justiça
Federal.
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b) Manter o serviço postal e o correio aéreo nacional: assim, o réu, valendo-se de suas
funções de carteiro, que se apropriou indevidamente de bens e valores confiados ao
serviço postal, será julgado pela Justiça Federal.
c) Explorar serviços de telecomunicações: compete à Justiça Federal processar e julgar
o delito de desenvolvimento clandestino de telecomunicações, bem como
transmissão de internet via rádio, de forma clandestina. Todavia, a simples utilização
de linhas telefônicas clonadas não configura o delito de desenvolvimento
clandestino de telecomunicações. Compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do
compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio
de serviços de cardsharing.
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federal, no exercício de suas funções com estas relacionados. O STJ, no mesmo sentido, editou
a súmula 147: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Assim, a mera condição de servidor público é insuficiente para atrair a competência da
Justiça Federal, sendo imprescindível que o delito cometido tenha relação com a função
exercida pelo funcionário público federal (propter officium). Assim, eventual crime de roubo
praticado contra carteiro da ECT no exercício de sua função atrai a competência da Justiça
Federal, pouco importando que os bens subtraídos pertençam a particulares (STJ).
Ainda, não só quando a vítima for funcionário público federal existirá a competência da
União. Em um caso concreto, houve um homicídio praticado por quadrilha com o intuito de
impedir investigações desenvolvidas pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana,
órgão do Ministério da Justiça, ocasião em que o STJ entendeu que a infração teria maculado
serviços e interesses da União, fixando a competência na Justiça Federal (STJ).
Ainda, recai sobre a Justiça Federal a competência para processar e julgar o crime de
latrocínio no qual tenha havido troca de tiros com policiais rodoviários federais, embora não
estivessem em serviço de patrulhamento ostensivo, foram obrigados a agir para reprimir
assalto a instituição bancária privada. Isso porque o CPP dispõe, no artigo 301, o dever das
autoridades policiais agirem para reprimir a prática criminosa, de modo que eles agiram no
exercício de suas funções, atraindo a competência da Justiça Federal. Aplicabilidade da súmula
147 do STJ.
Se a autoridade for estadual, mas investida na qualidade de autoridade federal por
19 delegação, a competência também será da Justiça Federal. Ex: juiz estadual na função de juiz
eleitoral.
STJ: Juiz Estadual que ordene a reintegração de posse supostamente cometida por
funcionário público federal do INCRA e deixe de cumprir, responderá por crime de
desobediência na Justiça Federal, uma vez que, no caso em concreto, o agente se valeu da sua
condição de servidor do INCRA para dar credibilidade às suas ações, restando patente o
interesse da União na causa.
STJ: crimes cometidos contra magistrados e servidores do TJDFT serão de competência
da Justiça do Distrito Federal, não se aplicando a súmula 147 do STJ, ainda que o Poder
Judiciário do Distrito Federal seja mantido pela União. Ainda, O MPDFT, embora organizado e
mantido pela União, não é órgão federal. Isso porque o MPDFT faz parte da estrutura orgânica
do DF, entidade política equiparada aos estados-membros (art. 32, § 1º, da CF).
Entrentanto, é importante termos em mente a observação abaixo do Dizer o Direito:
O STJ e o STF, contudo, não mantêm nenhuma coerência quanto a este tema, causando
certas confusões e equívocos, exceto para você que já vai estar alertado sobre isso. Vejamos:
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Ainda, não se pode confundir bem da União com Patrimônio Nacional (art. 225, §4°, CF,
LEIAM!!!). Patrimônio Nacional é o interesse do país em proteger esses bens, de modo que
podem ser de propriedade, inclusive, particular e, por isso, serão regulamentadas em lei as
possibilidades de seu uso. Portanto, não se confunde com bem da União. Assim, eventual
crime de desmatamento, por exemplo, na Floresta Amazônica, não atrai a competência da
Justiça Federal, devendo ser julgado pela Justiça Estadual.
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2) Uso de documento falso, por terceiro que não tenha sido responsável pela
falsificação material. É irrelevante a natureza do documento, pois a competência é
firmada em razão da pessoa jurídica prejudicada pelo uso. Vejamos:
Nesses casos, é irrelevante a natureza do documento para determinar a competência do
Juízo. O critério a ser utilizado deve ser definido em razão da pessoa física ou jurídica ao qual o
documento foi apresentado, porquanto são estes que efetivamente sofrem os prejuízos em
seus bens ou serviços. Em razão disso, foi editada a Súmula 546 do STJ: A competência para
processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão
ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.
Aqui, não há a falsificação material por parte do agente, mas apenas o seu uso. Se o
agente falsificou materialmente e depois usou, aplica-se o entendimento majoritário de que o
responsável pela falsificação e seu uso responde tão somente pela falsificação, figurando o uso
como mero exaurimento da conduta anterior, de modo que a competência será definida pela
natureza do órgão expedidor do documento falsificado.
Assim: se o agente falsificou materialmente e utilizou, aplica-se a regra da natureza do
órgão expedidor; se o agente apenas utilizou o documento sem realizar a falsidade material,
aplica-se a regra da pessoa física ou jurídica prejudicada pelo uso (Súmula 546 STJ).
24 Exemplos:
a) Apresentação de guia de ICMS falsa perante a Receita Federal relativas a
mercadorias importadas: Justiça Federal, pois atenta contra serviços e interesses da
União.
b) Uso de CNH falsa perante agentes da PRF: Justiça Federal
c) Uso de certidão de negativa de débito de tributo federal em licitação promovida por
Sociedade de Economia Mista Estadual: Justiça Estadual.
d) Instrução de requerimento de visto em passaporte com documentos falsos: o sujeito
passivo é o Estado estrangeiro, não havendo interesse direto da União, devendo
fixar a competência da Justiça Federal. Compete à Justiça Estadual julgar o crime de
estelionato e falsificação de documento particular em detrimento de consulado
estrangeiro, sem prejuízo para União. O fato de competir à União a manutenção de
relações diplomáticas com os Estados estrangeiros não tem o condão de atrair a
competência da Justiça Federal;
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Pois bem.
Doutrina majoritária e jurisprudência entendem o seguinte:
A competência da Justiça Federal é definida taxativamente na Constituição Federal
(numerus clausus), não sendo possível a extensão de sua competência com base em norma
infraconstitucional (art. 81 do CPP), sobretudo se nenhum crime é originariamente de
competência federal.
O STF, por sua vez, entende que, embora a norma do art. 81, caput, do CPP, tenha como
objetivo privilegiar a celeridade, a economia e a efetividade processuais, não tem aptidão para
modificar competência absoluta constitucionalmente estabelecida, como é a da Justiça
Federal. Logo, se o juiz federal concluir pela desclassificação da infração que justificava a
competência da Justiça Federal (ex: contrabando para receptação), deve determinar a remessa
dos autos à Justiça Estadual, mesmo que faça após a conclusão da instrução (art. 383, §2°,
CPP), porquanto, nessa hipótese, a prorrogação da competência seria incompatível com o
princípio do juiz natural (STF, HC 113845, Teori Zavascki).
2ª Hipótese – absolvição do crime federal conexo com estadual
Tráfico internacional de drogas, em que o réu foi absolvido, conexo com um crime
qualquer de competência da Estadual, como roubo, p. ex. O que acontece aqui???
Lembram da súmula 122 do STJ? Súmula 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o
processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se
aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal”.
30 Assim, mesmo que o juiz absolva o agente em relação à imputação de tráfico
internacional de drogas, terá sua competência prorrogada para julgar o delito conexo, pois, se
houve absolvição, isso significa dizer que a Justiça Federal afirmou sua competência, a qual
será extensiva aos crimes conexos.
É o que dispõe o artigo 81: ... ainda que no processo da sua competência própria venha o
juiz proferir sentença absolutória... continuará competente em relação aos demais processos.
Beleza? Então a exceção ao artigo 81 (1ª hipótese acima) fica por conta da declaração de
incompetência da Justiça Federal com crime conexo da Estadual. A norma infraconstitucional
não pode sobrepor norma Constitucional, que determina a competência da Justiça Federal.
7.2.2.2. Demais crimes que podem ser julgados pela Justiça Federal com
fundamento no art. 109, inciso V, da Constituição Federal
a) Tráfico internacional de arma de fogo
Tratado: O Brasil é signatário da Convenção Interamericana contra a fabricação e o
tráfico ilícito de armas de fogo, munições, explosivos e outros materiais correlatos.
O art. 18 da Lei n° 10.286/03 caracteriza-se pela internacionalidade territorial do
resultado relativamente à conduta delituosa, de modo que está presente ambos os requisitos
para justificar a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso V, da
Constituição Federal.
E qual a competência territorial desse crime? Local do dispositivo que propagou? Local
onde iniciou a investigação? Residência do réu? Onde??????
Entendem os tribunais superiores que a consumação do ilícito se dá no local de onde
emanaram as imagens pedófilo-pornográficas (local do upload das fotos), pouco importando a
localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores.
Mas há uma outra hipótese: competência fixada por conexão à uma investigação que se
iniciou em outro local:
Se o crime do art 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do
agente localizada em São Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba
(PR) se ficar demonstrado que a conduta do agente ocorreu com investigações que tiveram
início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados ao agente foi preso e, a partir daí,
foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá por
conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. Os investigados trocavam
informações no eixo Curitiba–São Paulo, o que evidencia a conexão entre os crimes de uns e
de outros. Em razão disso, o STF concluiu que o juízo federal de Curitiba tinha competência
para julgar o agente, sem que houvesse ofensa ao princípio do juiz natural.STF. 1ª Turma. HC
135883/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
6/6/2017 (Info 868).
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
1
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI213631,91041-
Desde+que+foi+instituido+IDC+foi+suscitado+apenas+cinco+vezes+e
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Nos mesmos moldes que o artigo 109, inciso VII, da CF, o dispositivo em análise deve ser
interpretado em conjunto com o artigo 108, inciso I, “c”, da Constituição. Assim, MS contra ato
de Juiz Federal ou do próprio Tribunal, caberá ao Tribunal Regional Federal o seu processo e
julgamento.
39 Lado outro, cuidando-se de autoridade federal que não esteja sujeita diretamente à
jurisdição do Tribunal Regional Federal, recairá sobre os juízes federais a competência para o
processo e julgamento do mandado de segurança.
Lembremo-nos que o MS, conforme dispõe a Constituição, é subsidiário, podendo ser
utilizado somente quando o direito não for amparado por habeas corpus ou habeas data.
Exemplos de mandado de segurança no âmbito criminal de competência de um Juiz
Federal: a) para o advogado ter vista dos autos do inquérito policial, que lhe é negada por um
delegado federal; b) para o advogado acompanhar seu cliente em diligência em inquérito
policial em curso perante a Polícia Federal; c) para obter restituição de coisas apreendidas pela
autoridade policial federal.
Importante! Súmula vinculante n° 14: É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa. Assim, diante desta Súmula Vinculante, caso haja
descumprimento ao seu texto é possível que o advogado utilize da reclamação constitucional
ao STF.
Para finalizar, considera-se autoridade coatora federal, segundo a Lei n° 12.016/09, se as
consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de
ser suportadas pela União ou por entidade por ela controlada.
7.2.8. Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar (CF, art. 109, inciso IX)
Dispõe o artigo 109, inciso IX, que compete aos Juízes Federais processar e julgar os
crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.
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Pois bem.
A regra em nosso sistema penal é o princípio da territorialidade, de modo que se aplica a
lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras gerais de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional. Por sua vez, dispõe o §1° do art. 5° do CP, que se
consideram como extensão do território nacional, para fins penais, as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar. Também se aplica a lei brasileira aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras, de propriedade privada, e estas em porto ou em mar territorial do
Brasil.
O termo NAVIO, compreende tão somente as embarcações aptas para navegação em
alto-mar, excluídas as embarcações de pequeno porte, como lanchas, motores de popa, jet-
skis, competindo à Justiça Estadual o crime nesses casos. Esses crimes devem ser praticados a
bordo de navio, ou seja, no interior da embarcação.
A razão de ser da norma é atrair a competência da Justiça Federal quando houver
potencial deslocamento internacional. Assim, não basta que o crime seja cometido em
embarcação de grande porte. Sobre este caso, o STJ já decidiu que homicídio culposo ocorrido
durante carregamento de veículos em navio de bandeira italiana, estando a embarcação
ancorada para carregamento, o qual era feito por pessoas estranhas às embarcações –
estivadores -, conclui-se que a conduta culposa cometida em solo antes do início da operação
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Interpreta-se a referida norma no sentido de que compete aos juízes federais o processo
e julgamento de todo e qualquer crime previsto na legislação comum ou especial, cometido
pelo estrangeiro com o intuito de regularizar seu ingresso e permanência no Brasil.
Inicialmente, sabe-se que o ingresso irregular de estrangeiro é meramente infração
administrativa, punida com deportação, conforme dispõem os artigos 109, inciso I, e 50 da Lei
n° 13.445/17 (Lei de Migração). O mesmo se pode dizer da irregular permanência do
estrangeiro em território nacional depois de esgotado o prazo legal da documentação
migratória (109, II).
Mas quais são, então, os crimes se esses fatos acima são infrações administrativas????
Antes, o Estatuto do Estrangeiro previa crimes no corpo de sua lei. Entretanto, com a
entrada em vigor da Lei de Migração, os crimes relacionados a estrangeiros e seu ingresso
irregular em território nacional ficaram regulados pelo Código Penal, havendo, inclusive, o
acréscimo do artigo 232-A no Código Penal, com a seguinte redação:
Promoção de migração ilegal
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a
entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter
vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
ilegalmente em país estrangeiro.
41 § 2o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se:
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.
§ 3o A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às
infrações conexas.
Ainda há o artigo 338 do Código Penal, que pune o reingresso no território nacional de
estrangeiro que foi dele expulso. O artigo 309, por sua vez, pune a fraude de lei sobre
estrangeiro, caracterizando-se pela conduta de usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer
no território nacional, nome que não é seu. O parágrafo único deste artigo, em continuidade,
dispõe acerca da conduta de atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a
entrada em território nacional.
Finalizando, o artigo 310 do Código Penal prevê como crime as condutas de prestar-se a
figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos
casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens, condutas estas
que podem ser praticadas com a finalidade precípua de garantir a permanência do estrangeiro
no território nacional.
7.2.10. Disputa sobre direitos indígenas (CF, art. 109, XI)
Compete à Justiça Federal processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas. Mas o
que é essa disputa sobre direitos indígenas?
Vamos lá.
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A jurisprudência é pacífica no sentido de que crimes cometidos por ou contra índios são,
em regra, da competência da Justiça Estadual, salvo se o delito envolver disputas sobre
direitos indígenas. A Súmula n° 140 do STJ dispõe que compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar crime comum em que o indígena figure como autor ou vítima. Assim, um
crime de homicídio cometido por indígena, motivado por desentendimento momentâneo, não
guarda qualquer pertinência com o direito dos indígenas, sendo de todo irrelevante o fato de o
delito ter ocorrido dentro da reserva indígena. Assim, a competência será da Justiça Estadual.
Não é o simples fato de a FUNAI tutelar os direitos indígenas que atrai a competência da
Jutiça Federal, tampouco a atribuição do MPF de defender os direitos e interesses dos índios e
das populações indígenas.
Excepcionalmente, a competência será da Justiça Federal:
a) quando o crime praticado estiver relacionado com questões ligadas à cultura e aos
direitos dos indígenas sobre suas terras (STF. HC 91.121/MS); ou
b) no caso de genocídio contra os indígenas, considerando que, neste caso, o delito é
praticado com o objetivo de acabar com a própria existência de uma determinada etnia (STF.
RE 263.010/MS).
Este precedente do STF resume bem a questão ao afirmar que a competência da Justiça
Federal, fixada no art. 109, XI, da CF, “só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou
quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha
havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja aquele imputado a silvícola, nem
que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro de reserva indígena. ”
42 (STF, RE 419.528, Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJU de 09/03/2007) – Trecho do Dizer o
Direito.
Ex: delitos cometidos contra indígenas ou por indígenas envolvendo disputa sobre
terras, que tenha havido homicídio doloso. A competência será do Tribunal do Júri Federal.
Nesses casos, envolve não só os direitos dos índios, mas a disputa sobre um bem de
propriedade da União, já que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da
União (ar. 20, inciso XI, CF).
Entretanto, o STJ já julgou no sentido de que o simples fato de a FUNAI representar os
índios é apto a atrair a competência da Justiça Federal, ainda que este índio já esteja
totalmente integrado e tenha praticado tráfico de drogas interno. Sobre esse tema, Renato
Brasileiro é contra, dizendo que tal julgado contraria a própria legislação, uma vez que a FUNAI
presta assistência tão somente aos índios ainda não integrados à comunhão nacional.
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ainda que haja conexão entre crime federal e contravenção penal, esta última será processada
e julgada perante a Justiça Estadual, nos termos da Súmula 38 do STJ.
O julgamento por conexão só dá em crimes, conforme a súmula 122 do STJ. Deve haver
um crime federal sempre, pois ele é que atrai. Na hipótese de a imputação que justificava a
competência da Justiça Federal deixar de existir, os autos devem ser remetidos à Justiça
Estadual. Não há perpetuação da jurisdição. Se não há crime federal, não há competência da
Justiça Federal, que é definida taxativamente na Constituição, não podendo a regra
infraconstitucional de perpetuação da jurisdição prevalecer sobre as normas de competência
definidas na Constituição.
Ex: sujeito denunciado por descaminho (JF) + sujeitos denunciado por receptação.
Havendo a extinção da punibilidade do descaminho em razão da morte do agente, os autos
vão para a Justiça Estadual.
DIFERENTEMENTE, já mencionado anteriormente, é a hipótese de ABSOLVIÇÃO do
crime de competência da Justiça Federal. Neste caso, mesmo que o juiz federal absolva o
agente em relação ao descaminho, terá sua competência prorrogada para julgar o delito
conexo, pois, se houve absolvição, isso significa dizer que a Justiça Federal afirmou sua
competência, a qual será extensiva aos crimes conexos, nos termos do artigo 81 do CPP.
Neste mesmo sentido, o STJ já entendeu que se o crime de competência federal estiver
suspenso, em virtude, por exemplo de parcelamento de débito tributário, subsiste a
competência da Justiça Federal para processo e julgamento dos demais crimes conexos,
aplicando-se por analogia o disposto no artigo 81 do CPP.
44 7.3. Competência criminal da Justiça Eleitoral
Em razão das discussões assíduas em 2018 e 2019 sobre crimes eleitorais e crimes
conexos, vamos falar um pouco sobre esta jurisdição especial.
A CF não estabeleceu a competência da Justiça Eleitoral, remetendo o assunto à Lei
Complementar. Esta lei é o Código Eleitoral (Lei n° 4.737/65), que foi recepcionado pela
Constituição com status de lei complementar, mas tão somente no que tange à organização
judiciária e competência eleitorais.
Cabe à Justiça Eleitoral processar e julgar os crimes eleitorais. O que são crimes
eleitorais?
São apenas aqueles que estão previstos no Código Eleitoral e os que a lei, eventual e
expressamente, venha a definir como eleitorais. Conforme ensina Renato Brasileiro, todos eles
referem-se a atentados ao processo eleitoral, que vai do alistamento do eleitor até a
diplomação dos eleitos. Assim, não estando tipificados no Código Eleitoral, salvo o caso de
conexão, não será julgado pela Justiça Estadual.
Além da tipificação, é necessário, também, que se configure o conteúdo material do
crime, de modo que a conduta deve atentar contra a liberdade do exercício dos direitos
políticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular.
Assim, faz-se necessária a existência de violação do bem jurídico que a norma visa tutelar,
intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do exercício do voto, à regularidade
do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático (Renato Brasileiro).
Renato Brasileiro dá um exemplo bem bacana em seu livro: Art. 339. Destruir, suprimir
ou ocultar urna contendo votos ou documentos relativos à eleição. Se o crime é praticado sem
vinculação com pleitos eleitorais, mas para impedir identificação pessoal, por exemplo, não há
falar em crime da competência da Justiça Eleitoral.
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Pois bem. Vamos agora adentrar em um tema que foi objeto de severas discussões em
2019, uma vez que a maioria dos crimes da Operação Lava Jato está relacionada a Caixa 2,
crime eleitoral.
Questiona-se se a Justiça Eleitoral possui força atrativa para julgar os crimes federais e
militares conexos com os eleitorais. O STF divergia, já houve julgados afirmando que competia
a Justiça Eleitoral, mas até em 2019 os feitos eram cindidos, indo cada um para a Justiça
Competente, pois até então vigorava o entendimento de que a competência definida pela
Constituição federal não pode ser alterada por norma infraconstitucional (no caso a norma de
conexão prevista no CPP).
Em 2019, no bojo do Inquérito 4435, no informativo 933, o STF decidiu que a existência
de crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de
capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do
Código Eleitoral e do art. 78, IV, do Código de Processo Penal.
O que isso quer dizer? Conforme ensina Márcio André Lopes Cavalcante2, a discussão
girou em torno das seguintes ideias:
Há dois crimes de competência da Justiça Federal (corrupção passiva e lavagem de
dinheiro) conexo com um crime de competência da Justiça Eleitoral (falsidade ideológica
“Caixa 2”, art. 350 do Código Eleitoral).
Quem julga esses crimes? Divide a competência conforme a matéria? Atrai por conexão
para a Justiça Eleitoral?
2
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça
comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitorala. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/075b051ec3d22dac7b33f788da63
1fd4>. Acesso em: 23/04/201
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final do inciso IV, art. 109, da Lei Maior, ressalva expressamente a competência
da Justiça Eleitoral. Em razão da expressa ressalva constitucional, há que se respeitar a
competência criminal da Justiça Eleitoral, ainda quando ela seja definida pela conexão. Caso
contrário, à luz do ordenamento positivo, o princípio do juiz natural restaria desatendido.
Destarte, se houver conexão entre crime federal e eleitoral poderá haver unidade processual
com a prorrogação da competência da Justiça Eleitoral. (…)” (Crimes Eleitorais e Processo
Penal Eleitoral. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, p. 325/327).
Seria possível o desmembramento dos crimes, ou seja, a Justiça Federal comum julga
os crimes de corrupção e lavagem e a Justiça Eleitoral o crime de “caixa 2”?
NÃO. Essa era a posição da PGR, mas não foi acolhida pelo STF.
Foi mencionado acima que, aparentemente, todos os crimes praticados são conexos.
Quem define isso? De quem é a competência para decidir se existe ou não conexão?
Também da Justiça Eleitoral.
Compete à própria Justiça Eleitoral reconhecer a existência, ou não, do vínculo de
conexidade entre delito eleitoral e crime comum a ele supostamente vinculado:
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos
comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF.
Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info
933).
p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, julgado em 10/04/2018. Esse também é o entendimento do STJ:
AgRg na APn 865/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, Corte Especial, julgado em 07/11/2018.
Entenderam? José Jairo Gomes, ali no trecho de cima, explicou bem. Para ele a parte
final do inciso IV do art. 109 é o que atrai os crimes conexos para a Justiça Eleitoral. STF
acompanhou este entendimento.
7.4. Justiça Política ou Extraordinária (Lei 1.079/50 e DL 201/67)
Aqui trata-se da atividade jurisdicional exercida por órgãos políticos, alheios ao Poder
Judiciário, apresentando como objetivo principal o afastamento do agente público que comete
crimes de responsabilidade de suas funções.
Compete privativamente ao Senado Federal: julgar o Presidente e o Vice-Presidente da
República nos crimes de responsabilidade, assim como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Areonáutica nos crimes de mesma natureza
conexo com aqueles, bem como os do Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral
da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade, observando-se,
em relação ao Presidente da República e aos Ministros de Estado, a competência da Câmara
dos Deputados para admissibilidade e formalização da acusação.
Sobre tal tema, é importante mencionar um julgado recente do STJ, sobre a questão
sancionatória em crimes de responsabilidade que também configuram improbidade
48 administrativa.
Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a
duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos
atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por
crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição
Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa. STF. Plenário Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 901).
Assim, há um duplo regime sancionatório: improbidade e responsabilidade. Em
improbidade, todas as autoridades, com exceção do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, serão
julgados pelo juízo de primeira instância. O Presidente é julgado em regime único, no SENADO.
Leiam essa matéria no Dizer o Direito. Está bem explicado (INFO STF 901).
Vamos aos Estados Federados.
Tribunal Especial. Composto por 5 Deputados, escolhidos pela Assembleia, e 5
Desembargadores, sorteados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, que o presidirá. Julgará o
Governador, Vice-Governador e os Secretários de Estado, nos crimes de mesma natureza
conexos com aqueles, assim como o Procurador-Geral de Justiça e o Procurador-Geral do
Estado. (Lei 1.079/50) Súmula 722 do STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento. Assim, cabe à União, e não às constituições Estaduais definir o foro competente
para julgar os Governadores. Nesse sentido, o STF concluiu que ainda que as Constituições
Estaduais disponham em sentido diverso, caberá a um Tribunal Especial composto de cinco
membros do Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do TJ
local, o processo e julgamento de governadores de Estado pela prática de crimes de
responsabilidade. Não pode a CE disciplinar.
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Falei bastante sobre isso na nossa aula de inquérito, porém, vou repetir as ideias
centrais aqui, ok?
Regra geral, nos casos de atribuição originária do Procurador-Geral de Justiça ou do
Procurador-Geral da República, se o órgão ministerial concluir pelo arquivamento do inquérito
originário, entende-se que essa decisão não precisa ser submetida ao crivo do Poder
Judiciário, na medida em que o tribunal respectivo não teria como se insurgir diante da
promoção de arquivamento, sendo inviável a aplicação do artigo 28 do CPP.
Isso porque compete, nas hipóteses de competência originária dos Tribunais, ao PGJ
ou ao PGR a última palavra sobre a pertinência da ação, já que não haveria uma autoridade
superior no âmbito do Ministério Público que pudesse rever o mérito da posição adotada pelo
Procurador-Geral. São verdadeiras decisões de caráter administrativo.
Nessas hipóteses, o acatamento do arquivamento pelo Poder Judiciário é obrigatório e
sequer há necessidade de submeter tal decisão ao crivo do Tribunal, pois a própria acusação
entende não haver motivos para continuidade da investigação.
#BIZU: Aqui, nos casos de atribuição originária do Procurador-Geral, malgrado não
haja controle judicial da decisão de arquivamento, há um mecanismo de fiscalização e controle
do princípio da obrigatoriedade. Qual? A possibilidade de legítimo interessado requerer ao
colégio de Procuradores de Justiça o reexame dessa decisão, uma espécie de recurso interno,
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Dúvida é saber se nos casos de competência originária do STF, por exemplo, haveria
violação ao princípio do duplo grau de jurisdição. Em Direito Internacional, haveria violação,
como se deu no Caso Barreto Leiva VS. Venezuela: violação ao duplo grau de jurisdição.
Competência originária das Cortes Superiores não garantem possibilidade de duplo grau de
jurisdição. Este caso sempre é citado em debates sobre inconvencionalidade da competência
constitucional originária do STF para julgar crimes de determinadas autoridades, que inclusive
foi objeto de debate no MENSALÃO. AP 470.
Porém, na ordem jurídica interna, entende-se que os acusados com foro por
prerrogativa de função não têm direito ao duplo grau de jurisdição.
Entendia-se, até o julgamento de uma questão de ordem na Ação Penal 937, bem como
na Ação Penal 962, que, caso um indivíduo desprovido de foro por prerrogativa de função
fosse condenado em 1° instância, condenação da qual haja apelado, na hipótese de ulterior
diplomação como Deputado Federal, caberia ao STF o julgamento da respectiva apelação.
Vamos ver esta questão #quentíssima no tópico abaixo.
8.1.4. Prerrogativa de função e manutenção do cargo ou mandato – AP
937 e 962
Antes de 1999, quando do cancelamento da Súmula 394 do STF, entendia-se que
permaneceria o foro por prerrogativa de função ainda que o inquérito ou a ação penal fossem
iniciados após o fim do exercício funcional. Porém, o STF reinterpretou o art. 102, I, “b”, da CF,
sob o fundamento de que uma vez encerrado o exercício funcional, não prevaleceria mais o
foro por prerrogativa, devendo os autos ser encaminhados ao primeiro grau, sem prejuízo da
52 validade dos atos até então praticados. Essa é a regra da contemporaneidade, em que a
competência por prerrogativa de função deve ser preservada caso a infração penal tenha sido
cometida à época e em exercício funcional. Aqui o que vale é a infração cometida durante o
exercício.
Em 2002, veio uma lei alterando o art. 84 do CPP, querendo revitalizar a regra de foro
por prerrogativa acima mencionada para ilícitos decorrentes de atos administrativos praticado
pelo agente no exercício de suas funções, bem como criando um foro para improbidade
administrativa, que impugnada por duas ADIs no STF, tendo a Suprema Corte julgado
procedente os pedidos, não havendo mais manutenção do foro privilegiado quando
encerrado o cargo ou o mandato, nem muito menos prerrogativa de função para ações de
improbidade administrativa (fique atento com o Presidente da República, que não está
sujeito ao duplo regime sancionatório. Já falamos sobre isso).
Portanto, o entendimento que era tradicionalmente adotado pelo STF, se determinado
indivíduo estivesse respondendo a uma ação penal em 1ª instância, caso ele fosse eleito
Deputado Federal, no mesmo dia da sua diplomação cessaria a competência do juízo de 1ª
instância e o processo criminal deveria ser remetido ao STF para ali ser julgado. Isso é a
denominada regra da atualidade, em virtude da qual o agente só faz jus ao foro por
prerrogativa de função enquanto estiver exercendo a função. Aqui o que vale é o agente estar
no cargo, pouco importando o momento da infração. Se saía do cargo, aplicava o
entendimento acima, descendo o processo para 1ª instância, salvo fraude.
Isso porque o STF (AP 936) entendeu que o ato de se exonerar do cargo para livrar-se do
foro caracteriza inaceitável fraude processual, que frustraria as regras constitucionais e não
apenas as de competência. Entendeu-se que essa renúncia importaria em abuso de direito,
inconcebível na atual ordem constitucional. Assim, ninguém pode se valer da própria torpeza,
de modo que a Corte Suprema entendeu que a renúncia com o nítido objetivo de deslocar a
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competência, frustrando o princípio do juiz natural, não tem o condão de ilidir a manutenção
do foro privilegiado.
OBS: não sabemos se essa questão da fraude processual também foi afetada pela
decisão na AP 937 e 962 (foro só para crime praticado no cargo, com relação às funções e
enquanto permanecer o cargo). O STF está, como disse anteriormente, criando um novo
arcabouço jurisprudencial sobre o foro. O que se sabe é que a publicação do despacho para as
alegações finais perpetua a jurisdição, pouco importando se o réu irá renunciar ou não entre a
intimação das alegações finais e a prolação da decisão pela Suprema Corte.
Vamos lá.
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jurisdicionais desta Corte para resolver quaisquer eventuais incidentes ou situações ainda
pendentes de analise, precisamente pelo fato de não se legitimar, presente referido contexto,
a “perpetuatio jurisdictionis”. Isso significa, portanto, conforme já decidiu esta Corte Suprema,
que, “Exaurida a competência do Supremo Tribunal Federal, incumbe, especificamente, ao juízo
destinatário deliberar sobre eventuais questões pendentes” (Pet 7.709/DF, Rel. Min. EDSON
FACHIN, 2ª Turma), o que compreende, p. ex., a apreciação de pedidos de arquivamento de
inquéritos policiais ou de peças consubstanciadoras de “informatio delicti” (Inq 4.408- AgR/DF,
Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.).
Ainda, pessoal, sobre esse tema, é importante mencionar que o STJ tem aplicado em
seus julgados. Veja:
O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de
Tribunais de Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do
cargo e em razão deste. Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos
Governadores e pelos Conselheiros de Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem
sido praticados durante o exercício do cargo e em razão deste. STJ. Corte Especial. APn
857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/06/2018. STJ. Corte
Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.
Mais recentemente, o STJ aplicou a mesma questão de ordem para declinar um
processo que envolvia crime comum praticado por membro do Ministério Público do DF.
Assim, o processo foi para o TJDFT (Petição n. 562-DF, Corte Especial STJ, Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, unânime, julgado em 20.2.2019, publicado no DJe em 25/04/2019)
55 Dúvida que ainda a jurisprudência do STF não disse: e a reeleição? Deputado federal
que comete crime o primeiro mandato, relacionado às funções do mandato, tem foro no STF.
Aí ele é reeleito Deputado Federal. O foro permanece no STF ou vai para primeira
instância????
Nestor Távora defende a perpetuação da jurisdição, considerando que o mandato
posterior não foi interrompido com a reeleição. É dizer: o segundo mandato é continuidade do
primeiro.
Já, Douglas Fischer, em escorreita interpretação da jurisprudência do STF, entende que o
processo deveria descer para primeira instância. Isso porque o STF, no julgado da QO na AP
937, foi expresso, em sua maioria, em ser contra o “elevador processual”. “Se são contra o
elevador processual – expressão falada claramente – não há sentido em se prestigiar quem se
reelege no mesmo cargo.”
Por sua vez, o STF, em caso de crime eleitoral, entendeu o seguinte: o recebimento de
doação ilegal destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime
relacionado com o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-
se desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o mandato
anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta reeleição.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019
(Info 933).
Agora nova pergunta. E os inquéritos com pessoas que possuem foro, como ficam com
este novo entendimento??? Com vocês, Márcio, do Dizer o Direito:
Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores ANTES da AP 937 QO
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Poder Judiciário, pois trata-se de procedimento pré-processual, não acobertado pela garantia
de foro especial. 3. Em resumo: a) O Código de Processo Penal prevê, como primeira hipótese,
a instauração de inquérito policial ex officio pela Polícia Judiciária, em cumprimento de seu
dever constitucional, sem necessidade de requerimento ou provocação de qualquer órgão
externo; b) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.
593.727/MG, assentou a concorrência de atribuição entre o Ministério Público e a Polícia
Judiciária para realizar investigações criminais; c) Sendo assim, a mesma sistemática é válida
tanto para procedimentos investigatórios ordinários quanto para investigações que envolvam
autoridades com prerrogativa de função; d) Por constituírem limitações ao poder de
investigação conferido pela Constituição Federal à Polícia Judiciária e ao Ministério Público, as
hipóteses em que a atividade investigatória é condicionada à prévia autorização judicial
exigem previsão legal expressa – REsp n. 1.697.146/MA, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 9/10/2018, DJe 17/10/2018. No mesmo diapasão: RHC n. 93.723/PE, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 7/8/2018, DJe 15/8/2018 e RHC n.
73.829/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 31/05/2017. 7. Recurso em habeas corpus desprovido. (Recurso em Habeas
Corpus n. 79.910 – MA, STJ, 5ª Turma, unânime, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 26.3.2019, publicado no DJ em 22.4.2019)
ATENÇÃO: lembrar da QO na AP 937 sempre, em todos os exemplos e hipóteses,
verificando se os crimes foram praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver
no exercício da função !!!! Por mais que o STF tenha decidido isso para parlamentares federais,
a força expansiva da decisão do STF é enorme, tanto é que o próprio STJ já mudou seu
57 entendimento. De outra banda, é obvio que os TRFs e TJs irão seguir a mesma linha de
raciocínio. Por hora, em provas, fiquem com a decisão do STF e do STJ, ok?
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STJ: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e
nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público
da União que oficiem perante tribunais;
TJ: III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Nem mesmo a Justiça Federal será competente para julgar crimes que envolvam
interesse da União quando cometidos por Juízes de Direito e Promotores de Justiça, com o
deslocamento do feito para o TRF. Isso porque o art. 96, III, só fez ressalva quanto à Justiça
Eleitoral, não mencionando a Justiça Federal na exceção.
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https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/arnon-de-mello-morte-senado.phtml
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Ressalta-se que a súmula não prevê a obrigatoriedade dessa continência, de modo que o
Relator pode determinar, caso visualize a presença de motivo relevante que a recomende, a
separação do processo com a devida remessa para a instância inferior em relação ao réu que
não tenha foro por prerrogativa de função. Nesse sentido:
CPP. Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Isso se dá mais em casos complexos, com dezenas de acusados, ou com a iminência de
prescrição em relação a determinado fato delituoso, sendo a separação extremamente
conveniente.
Sobre isso, compete ao Tribunal de maior graduação – e não ao juiz de 1ª instância – a
competência para decidir quanto à conveniência de desmembramento de procedimento de
investigação ou persecução penal, quando houver pluralidade de investigados e um deles
tiver prerrogativa de foro perante determinado Tribunal.
60 Imaginemos outra situação.
Crime praticado em concurso de agentes por titular de foro por prerrogativa de função
previsto na Constituição Federal, em coautor que não o possua tiver praticado um crime
doloso contra a vida, conexo com o crime funcional praticado pelo agente com foro previsto
na CF.
Ex: Deputado federal, a fim de acobertar um esquema de compra votos na casa
parlamentar, contrata um pistoleiro para matar Beltrano, jornalista que descobriu todo
esquema corrupto do partido político desde Deputado, tudo isso no exercício do cargo, sendo
este crime relacionado com as funções do parlamentar. Como fica a competência???
O Deputado Federal será julgado perante o STF, sendo inevitável a separação do
processo com relação ao pistoleiro, na medida em que ambas as competências – STF para o
deputado e Tribunal do Júri para o pistoleiro – estão previstas na Constituição Federal, sendo
inadmissível que uma norma infraconstitucional (continência, art. 77, I, CPP) possa prevalecer
sobre preceitos constitucionais.
Assim, afirma-se que em caso de concurso de agentes em crime doloso contra a vida, o
privilégio de foro ostentado por um dos acusados não atraia competência do respectivo
Tribunal para o julgamento do outro envolvido, que deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, seu
juiz natural. Isso porque a norma constitucional de competência do júri só pode ser excluída
por outra de mesma natureza e hierarquia, afastando a incidência da norma legal que
determina a unidade de processo e julgamento em razão da continência.
Outra questão: se o crime é cometido por agentes que gozam de foros por prerrogativa
de função em diferentes tribunais, a aplicação é a mesma: Ex: Desembargador e Promotor de
Justiça praticam crime relacionado à função. Como fica???
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Pelo estudo da doutrina e da jurisprudência, que formula todo um sistema lógico (não
muito lógico, às vezes), o Desembargador seria julgado pelo STJ e o Promotor pelo TJ, ambas
competências previstas diretamente na constituição, não havendo se falar em continência e
conexão.
Mas... O STF disse, em 2007 (HC 91437), que compete tudo ao STJ, por se tratar de
órgão de maior graduação em relação ao Tribunal de Justiça. Qual a lógica nisso? Não achei o
fundamento legal e constitucional, foi pura interpretação casuística rsrs... Mas bola para
frente.
8.1.9. Constituições Estaduais e princípio da simetria
Determina o artigo 125, caput, da Constituição Federal, que os Estados organizarão sua
Justiça, observados os princípios estabelecidos na Constituição.
Assim, deve a Constituição Estadual seguir a Federal, principalmente no que toca às
autoridades que deverão ter foro. Ex: juízes, promotores, secretários de Estado, Membros do
Tribunal de Contas, etc.
Mas há limites materiais ao poder constituinte decorrente no que tange à possibilidade
de conceder foro por prerrogativa de função aos agentes estaduais, criando-se exceções às
regras da garantia da isonomia e do Juiz Natural???
Conforme determina o princípio da simetria ou do paralelismo (art. 125, CF), e
considerando que os Estados não podem legislar sobre matéria penal, ou mesmo processual,
reservada à competência privativa da União (art. 22, I, CF), os Estados só podem atribuir aos
Competência Originária:
Constituição Federal, art. 102, inciso I, “b”: Compete ao STF processar e julgar
ORIGINARIAMENTE.
63 1) Nas infrações penais comuns (aí abrangidos eleitorais, contravenções penais,
crimes militares, etc.):
a. Presidente da República e o Vice-Presidente.
b. Membros do Congresso Nacional.
c. Ministros do STF
d. Procurador-Geral da República.
Nesse caso, compete ao STF a condução do inquérito policial em que figuram como
indiciado autoridades com foro especial no STF, não cabendo ao juízo de primeira instância a
decisão sobre a necessidade de promover o desmembramento.
Lembrar sempre sobre a questão de ordem decidida na AP 937: foro no STF é só para
crimes ocorridos no exercício da função e com relação ao exercício das funções.
Ainda, dispõe o art. 102, inciso I, c: compete ao STF julgar e processar originariamente
1) Nas infrações penais comuns e crimes de responsabilidade:
a. Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e da Aeronáutica,
salvo se o crime de responsabilidade for conexo ao do Presidente ou Vice,
caso em que a competência será do SENADO
b. Membros dos Tribunais Superiores
c. Membros dos Tribunais de Contas da União
d. Chefes de missão diplomática de caráter permanente
Competência para julgar habeas corpus (art. 102, I, d):
1) Quando forem pacientes qualquer das pessoas das alíneas b e c:
a. Presidente da República e o Vice-Presidente.
b. Membros do Congresso Nacional.
c. Ministros do STF
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d. Procurador-Geral da República.
e. Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e da Aeronáutica.
f. Membros dos Tribunais Superiores
g. Membros dos Tribunais de Contas da União
h. Chefes de missão diplomática de caráter permanente
i. Funcionários cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do STF ou
se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância (art.
102, I, i).
i. Ex: decisão de TRIBUNAL SUPERIOR que indefere habeas corpus.
Atenção aqui: Súmula 691 do STF: Não compete ao STF conhecer de
habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas
corpus requerido ao tribunal superior, indefere a liminar. Isso
porque o Relator, por si só, não poderia ser equiparado ao Tribunal
Superior. Deve então a parte agravar do indeferimento liminar do
Relator para que o Tribunal aprecie, para então, tão somente
depois, impetrar HC no STF.
ii. O STF tem relativizado este entendimento em casos
TERATOLÓGICOS, ou seja, casos mirabolantes de flagrante
ilegalidade na prisão.
8.2.2. Superior Tribunal de Justiça
Por sua vez, dispõe o artigo 105, inciso I, alínea “a” da CF que:
Compete ORIGINARIAMENTE ao STJ processar e julgar:
64 1) Nos crimes comuns:
a. Governadores dos Estados
b. Desembargadores dos Tribunais de Justiça
c. Membros dos Tribunais de Contas
d. Membros dos Tribunais Regionais Federais
e. Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais
f. Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho
g. Membros dos Conselhos ou Tribunais de contas dos municípios
h. Membros do MP da UNIÃO que oficiem perante Tribunais
2) Nos crimes de responsabilidade: TODOS os acima, menos o Governador, que é
julgado por um Tribunal Especial no Estado dele, que já falamos no tópico 7.4 desta
aula.
A expressão crimes comuns aqui abrange inclusive contravenções penais, menos crimes
de responsabilidade, ok?
ATENÇÃO MASTER! Dois julgados de SUPREMA importância:
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas
em que o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. STJ.
Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/06/2018 (Info 630).
Mas atenção: Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados
pelo STJ mesmo que o crime não esteja relacionado com as suas funções. Assim, o STJ
continua sendo competente para julgar quaisquer crimes imputados a
Desembargadores, não apenas os que tenham relação com o exercício do cargo. STJ. APn
878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018.
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não faz jus ao foro por prerrogativa, mesmo que se encontre no exercício de outra função para
a qual não haja previsão de foro por prerrogativa de função.
E o SUPLENTE??? Entende o STF que apenas o TITULAR possui foro. Isso porque a posse
no cargo, que constitui ato formal indispensável para o gozo das prerrogativas ligadas à função
legislativa, dá-se apenas com relação àquele que efetivamente o exerce, em caráter interino
ou permanente. Assim, só se estende ao suplente enquanto ele exercer o cargo de modo que,
com o retorno do titular, o suplente perde o foro.
8.3.3. Ministros de Estado
Em crime comum e de responsabilidade são julgados perante o STF. Em
responsabilidade só serão julgados pelo Senado se este crime for conexo com algum crime de
responsabilidade cometido pelo Presidente da República.
8.3.4. Membros do CNJ e do CNMP
A EC 45/04 só estabeleceu que compete ao Senado Federal processar e julgar os
membros do CNJ e do CNMP nos crimes de responsabilidade, não dispondo sobre crimes
comuns.
Nesse caso, deve-se analisar cada autoridade integrante.
Ex: Juízes de TJ, perante o respectivo TJ; Desembargador do TJ, perante o STJ.
Os demais integrantes que não tenham foro (ex: advogados indicados pela CFOAB e
cidadãos de notável saber jurídico) serão julgados na 1ª instância.
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Por que isso? Renato Brasileiro diz que o sistema republicando, que inclui a ideia de
responsabilidade dos governantes, é princípio constitucional de observância obrigatória, de
modo que a exceção prevista no art. 51, I, da CF, é norma de reprodução proibida pelos
Estados-Membros. Ademais, matéria que dispõe sobre procedibilidade para o exercício para o
exercício da jurisdição penal pelo STJ consiste em norma processual, matéria de competência
privativa da União (art. 22, I, CF), impossível de ser prevista pelas Constituições Estaduais.
Em caso de crime eleitoral praticado por Governadores, entendia a Corte Superior que
ainda assim a competência seria do STJ, e não do TSE. Entretanto, não sabemos como isso
ficará agora em razão da QO na AP 937, uma vez que fundamento da decisão era de que os
Governadores eram julgados perante o STJ mesmo por infrações estranhas ao exercício da
função, e que “crimes comuns” abrangia todas as infrações penais, inclusive as de caráter
eleitoral.
Penso que, como agora deve ser praticado no cargo e com relação às funções, eventual
crime eleitoral estranho às funções será julgado pela Juiz Eleitoral de 1° Grau, já que este
crime, em regra, é cometido quando o sujeito ainda não gozava do status de Governador, bem
como se praticado no cargo, provavelmente não terá relações com às funções, mas com o
processo eleitoral. Isso é só uma visão minha. Se cair isso em prova objetiva, no atual
momento, não tem NADA DECIDIDO pelos Tribunais, sendo a questão passível de anulação.
Um dos maiores professores de Direito Eleitoral do Brasil, o professor Procurador da
República Luiz Carlos Gonçalves, entende como eu falei aí. (Aproveitem para conhecer o blog
dele, chamado A Cachaça Eleitoral. É só jogar no google).
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Assim, se houver, por exemplo, um crime federal praticado por um promotor de justiça
em concurso de agentes com um particular, sem foro, em razão da norma especial da
Constituição, que só fez ressalva com relação aos crimes eleitorais, o Promotor será julgado no
TJ e o particular perante a Justiça Federal. Prepondera a regra constitucional sobre normas de
lei ordinária que determinam a reunião de processos por força da conexão ou continência.
Diante da ressalva eleitoral, se Juízes e Promotores, quando da função eleitoral,
cometerem crimes eleitorais, serão julgados pelo TRE (art. 29, I, “d” do Código Eleitoral + art.
96, III, da CF).
Importante esclarecer que, Juízes de 1° grau, quando convocados para o TJ para exercer
a função de desembargador, não possuem a prerrogativa de foro para serem processados no
STJ. A prerrogativa de foro é inerente ao CARGO, e não a eventual exercício de função em
substituição. A única ressalva é quanto aos crimes eleitorais, que são convocados para serem
Juízes eleitorais, e a própria constituição ressalva a competência da Justiça eleitoral.
Para o STF, o foro não se estende a Promotores e Juízes que se aposentam
voluntariamente, já que o foro é em razão da função, objetivando resguardar a função pública.
Ainda, a prerrogativa de foro não está voltada para o Juiz, mas para os jurisdicionados. Não
exercendo mais a função, não há porque resguardar os jurisdicionados. ATENÇÃO: QO na AP
937 tornou este entendimento obsoleto, já que ficou fixado o entendimento de que o foro é
para crimes praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver no exercício da
função.
Ademais, a fixação dessa competência independe do local de sua prática. Ou seja,
71 mesmo que um Juiz do TJMS cometa crime em outro estado, será julgado pelo TJMS. (CF, art.
96, III).
ATENÇÃO: lembrar da QO na AP 937 sempre, em todos os exemplos e hipóteses,
verificando se os crimes foram praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver
no exercício da função !!!! Por mais que o STF tenha decidido isso para parlamentares federais,
a força expansiva da decisão do STF é enorme, tanto é que o próprio STJ já mudou seu
entendimento. De outra banda, é obvio que os TRFs e TJs irão seguir a mesma linha de
raciocínio. Por hora, em provas, fiquem com a decisão do STF e do STJ, ok?
8.3.8. Membros do Ministério Público da União
Aqui tem mil e uma pegadinhas, ok? Prestem atenção :D
Dispõe o art. 108, inciso I, “a”, da CF, que compete ao Tribunal Regional Federal o
processo e julgamento dos membros do Ministério Público da União que atuem na primeira
instância, seja pela prática de crime comum, seja pela prática de crime de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Neste sentido, são membros do Ministério Público da União que atuam em primeira
instância:
a) Procuradores da República (MPF);
b) Promotores e Procuradores da Justiça Militar da União (MPM), junto aos Juízes-
Auditores e Conselhos Permanentes e Especiais da Justiça Militar da União;
c) Procuradores do Trabalho (MPT);
d) Promotores de Justiça do Distrito Federal (MPDFT), que são mantidos pela União
Assim, eventual crime comum e de responsabilidade cometidos por essas pessoas será
processado perante o TRF, ressalvada a competência do TER para o julgamento de crimes
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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as
medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário contra Deputados Estaduais. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c0db17c6772e2a26cb133ad3ba389cc
e>
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8.3.11. Vereadores
Possuem inviolabilidade por suas opiniões, palavras e fotos no exercício do mandato e
na circunscrição do Município (CF, art. 29, inciso VIII). A CF não lhes confere foro por
prerrogativa de função, mas isso não impede que a Constituição Estadual preveja foro no TJ,
por exemplo.
Mas atenção, não pode estender nada do que a Constituição Federal só deu aos
Deputados Federais e deu por extensão aos Deputados Estaduais. Neste sentido, o STF já
considerou inconstitucionais todos os dispositivos de Constituições Estaduais que estendem a
vereadores as prerrogativas previstas na Constituição Estadual aos Deputados Estaduais
E se o foro por prerrogativa previsto na Constituição Estadual se confrontar com alguma
competência por foro expressa na Constituição Federal?? Sempre prevalecerá essa última. Ex:
foro previsto para vereador na Constituição Estadual no TJ, e aí o vereador pratica crime
contra a vida, doloso. Quem julga? TJ ou Tribunal do Júri????
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9. Competência territorial
Uma vez estabelecida a competência de Justiça (comum ou especializada), verificando-
se, inclusive, se há foro por prerrogativa de função, é importante estabelecer qual Juízo
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territorial será competente. O artigo 69, incisos I e II do CPP, determina que a regra é o lugar
da infração ou pelo domicílio ou residência do réu.
Diferentemente do que ocorre com a competência em razão da matéria e em razão da
pessoa, bem como as hipóteses de competências em razão da função exercida, a competência
territorial é relativa, o que gera consequências diversas das matérias de competência absoluta.
Como já mencionado, a competência relativa atende a um interesse preponderante das
partes, de modo que pode ser modificada (prorrogada), seja por meio da conexão ou da
continência, seja pela vontade das partes, por meio de não-interposição de exceção de
incompetência, ou até mesmo pelo seu não-reconhecimento de ofício pelo juiz. Ainda, deve
ser arguida e no momento oportuno – antes do oferecimento da denúncia, para o MP, e
quando do oferecimento da resposta à acusação, para defesa – sob pena de preclusão.
Por fim, tanto a incompetência absoluta quanto a relativa (diferente do processo civil)
podem ser reconhecidas de ofício pelo magistrado (art. 109, CPP).
Sobre as espécies de competência discriminadas no CPP, temos o artigo 69, in verbis:
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
76 V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função.
regra de aplicação da norma penal no espaço, quando o crime atingir mais de uma
nação.
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva (art. 82, CPP), hipótese em que caberá ao
juízo das execuções a unificação das penas.
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9.2.7. Crimes à distância ou de espaço máximo (internacional)
São infrações em que a ação e omissão ocorrem no território nacional e o resultado no
estrangeiro, ou vice-versa. É a aplicação da regra da ubiquidade, do artigo 6° do Código Penal.
Assim, é indispensável que os atos executórios sejam praticados no território nacional, ou que
pelo menos o resultado tenha ocorrido no território nacional.
Logo, a simples prática de atos preparatórios no território nacional, com o resultado em
território estrangeiro, não autoriza a incidência da lei brasileira, pois é necessário a prática de
atos executórios ou o resultado em território nacional. Assim, a prática de meros atos
preparatórios afasta a incidência da lei penal brasileira, salvo se restar caracterizada uma das
hipóteses de extraterritorialidade da lei penal brasileira (art. 7°, incisos I e II).
Nos termos do art. 70, §1°, se iniciada a execução no território nacional e a infração se
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado,
no brasil, o último ato de execução. § 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a
infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido
praticado, no Brasil, o último ato de execução.
Inversamente, nos termos do art. 70, §2°, quando o último ato de execução for
praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
Por fim, dispõe o §3° que, quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas
divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
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Súmula 521 STJ: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Súmula 244 STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.
b) Estelionato por meio de cheque falso: esse crime é o artigo 171, caput. O foro
competente é determinado a partir do local da obtenção da vantagem ilícita. Ex: dá
um cheque falso para comprar um celular em Campo Grande/MS. A competência
80 será da comarca de Campo Grande.
Súmula 48 STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar
e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
c) Estelionatário que induz pessoa depositar dinheiro em sua conta corrente: a
competência territorial será do foro onde se encontra localizada a agência bancária
por meio da qual o suposto estelionatário recebeu o proveito do crime (local da
obtenção da vantagem ilícita), e não do juízo do foro em que está situada a agência
na qual a vítima possui conta bancária. A consumação se dá no momento da
obtenção da vantagem indevida, ou seja, no momento em que o valor é depositado
na conta corrente do autor do delito, estando em disponibilidade o dinheiro. Em
estelionato, sempre devemos ter em mente que a consumação do crime se dá com
a disponibilidade da vantagem indevida.
e) Furto qualificado pela fraude eletrônica por meio da internet: previsto no art. 155,
§4°, II, do CP, não se confunde com o estelionato. Neste, o autor faz com que a
vítima lhe entregue o bem, havendo o consentimento desta através de sua indução
ao erro. Naquele, o agente utiliza uma fraude com o fim de burlar a vigilância da
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vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba. O furto
mediante fraude se dá, por exemplo, quando a pessoa recebe um email parecendo
que é do banco, digitando todas as chaves de acesso e senha, mas na verdade está
dando todos os dados para o bandido. A consumação se dá no momento em que o
bandido subtrai o dinheiro da conta da vítima e, embora isso se dê em sistema
digital de dados, ocorre na conta corrente da agência do correntista prejudicado, e
não no local onde está o autor do delito.
h) Uso de documento falso: determina-se o foro pelo local em que o documento foi
apresentado. Entretanto, se a pessoa que utilizou o documento foi o responsável
pela sua falsificação, fica caracterizado só um delito: falsificação de documento, de
modo que a competência será fixada no local em que se consumou a falsificação,
pouco importando o local de seu uso. Súmula 200 STJ: o juízo federal competente
para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar
onde o delito se consumou. O delito se consuma onde o passaporte tiver sido
apresentado para embarque.
81
i) Contrabando ou descaminho: Súmula 151 STJ: a competência para o processo e
julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do
juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
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Segundo o art. 74, a competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. Assim, a lei de
organização judiciária estabelecerá alguns critérios para fixação do juízo, tal como: a)
qualidade da pena principal; b) elemento subjetivo (dolo/culpa); c) natureza da infração penal;
d) o bem jurídico protegido.
Ex: Juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Vamos falar do que é importante para as carreiras federais, ok? Aos que estudam para
carreiras estaduais, estudem a parte de violência doméstica, crimes de ECA, etc. É importante.
Vamos lá.
10.1. Juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição para o
julgamento de crimes praticados por organizações criminosas
Em razão da alta periculosidade de algumas organizações criminosas, bem como morte
de juízes que julgavam casos importantes de ORCRIMs, foi criada a Lei n° 12.694/12, que
passou a dispor sobre a formação de um juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição
formado por 3 (três) juízes para o julgamento de crimes praticados por organizações
criminosas.
No plano federal, é novidade no processo penal brasileiro, já que, apesar de parecido, as
Turmas Recursais, compostas de 3 juízes de 1° grau, julgam recursos de juízes singulares de 1°
grau. Em sentido diverso, os juízos colegiados para o julgamento de crimes praticados por
organizações criminosas atuarão no 1° grau de jurisdição, cabendo ao respectivo Tribunal de 2°
82 grau o julgamento de eventuais recursos. Não obstante a tal fato, já houve uma lei estadual,
declarada constitucional pelo STF, que criou um órgão colegiado para estes tipos de crime, já
que se tratava de norma procedimental, passível de ser editada pelos Estados.
O juízo colegiado criado pela Lei n° 12.694/12, não se confunde com o “Juiz sem rosto”.
Este não tem seu nome divulgado, não se sabe nem quem é. Já o juízo colegiado tem o nome e
a assinatura de três juízes nas decisões.
Para que ocorra esta formação do juízo colegiado, o juiz natural da causa deve: a) decidir
pela verificação de que o crime foi praticado no contexto de uma organização criminosa; b)
proferir decisão determinando a formação do colegiado, de maneira fundamentada,
demonstrando as razões pelas quais acredita estar em risco sua integridade física, família, e
extensão de sua personalidade.
A lei determina que os outros 2 (dois) juízes que irão integrar o órgão colegiado serão
escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no
primeiro grau de jurisdição. Após, deve haver a comunicação da decisão de formação de órgão
colegiado à Corregedoria do respectivo Tribunal. É possível que as reuniões dos magistrados se
deem de forma sigilosa, sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à
eficácia da decisão judicial.
10.2. Competência do Juízo da Execução Penal
Cabe-nos esclarecer a questão referente às condenações impostas pela Justiça da União,
aí entendidas a Justiça Federal, Justiça Militar da União e a Justiça Eleitoral.
Sobre tal ponto, convém relembrar o teor da Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das
Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas pela Justiça Federal, Militar ou
Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
Assim, deve ser analisada a natureza do estabelecimento penitenciário: se for presidio
estadual, caberá ao Juízo da Execução Estadual. Se for presídio federal, caberá ao Juízo da
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Execução Federal. Isso é necessário para evitar uma dualidade de jurisdição em um mesmo
presídio, criando situações diversas para presos nas mesmas condições, tão somente porque
suas condenações foram decretadas por juízes diferentes.
Sobre este ponto, cabe a leitura da Lei n° 11.671/08 para os concursos federais. As
questões mais importantes sobre inclusão e transferência de presos, são as premissas para
admissão deles. Vejamos: a) a admissão do preso, condenado ou provisório, dependerá de
decisão prévia e fundamentada do juízo federal competente, após receber os autos de
transferência enviados pelo juízo responsável pela execução penal ou prisão provisória; b) a
execução penal da pena privativa de liberdade, no período em que durar a transferência, ficará
a cargo do juízo federal competente; c) apenas a fiscalização da prisão provisória será
deprecada, mediante carta precatória, pelo juízo de origem ao juízo federal competente,
mantendo aquele juízo a competência para o processo e para os respectivos incidentes.
STJ: compete à Justiça Federal apreciar as questões relativas à execução da pena no
período de permanência de presos custodiados no estabelecimento federal, ainda que
oriundos da Justiça Estadual.
Assim, a regra é que sempre competirá ao Juízo da Execução da Comarca em que o
preso estiver detido.
Sobre este ponto, tem uma súmula muito importante. É a Súmula 611 do STF:
Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação
da lei mais benigna. O mesmo se dá com relação a abolitio criminis, anistia e indulto.
Ainda, mais uma questão: o preso cautelar tem progressão de regime? SIM, desde que
83 tenha ocorrido o trânsito em julgado para a acusação, o que obsta o reformatio in pejus.
Assim, dispõe a Súmula 716 do STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento de
pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória. Nesse caso, a quem compete a concessão do benefício? Há
duas correntes: 1ª é do juízo da condenação. 2ª é do juízo da execução – é o que prevalece,
inclusive sendo regulamentado na Resolução n° 113 do CNJ.
E a execução de pena de multa? Uma vez operado o trânsito em julgado, e não havendo
depósito a título de fiança em valor suficiente para a a condenação, compete ao juízo da
execução penal proceder à intimação do condenado para que efetue o pagamento da pena
de multa no prazo de 10 (dez) dias. Não havendo o pagamento, caberá ao Ministério Público
promover a execução da pena de multa e, em sua inércia por mais de 90 dias, caberá à
Fazenda Pública executar. Importante esquema do Dizer o Direito:
Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de
sentença penal condenatória transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de
cobrança pela Fazenda Pública. Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a
Fazenda Pública irá executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº
6.830/80.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e
13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
12 e 13/12/2018 (Info 927).
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Obs: a Súmula 521-STJ fica superada e deverá ser cancelada. Súmula 521-STJ: A
legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em
sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.
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85 especificamente constitucional; quando o juiz remete cópia dos autos ao MP; atos de juiz
plantonista; antecedência de distribuição de inquérito policial, ou mesmo de ação penal ainda
não despachada, já que não há sequer atuação jurisdicional (ex: baixa dos autos à Polícia ou
MP para continuidade das investigações).
Prevenção como critério subsidiário de fixação de competência:
Ocorre quando não se consegue determinar a competência de um órgão jurisdicional
específico.
a) Crimes cometidos em divisa de duas ou mais jurisdições e não se saiba se precisar
exatamente o local do delito (art. 70, §3°, CPP)
b) Crimes continuados ou permanentes: podem atingir mais de um território, mais de
uma jurisdição (art. 71).
c) Réu sem domicílio certo ou tiver mais de uma residência, ou não for certo seu
paradeiro, não tendo sido a competência firmada pelo lugar da infração (art. 72,
caput).
d) Havendo mais de um juiz competente, no concurso de jurisdições, sem possibilidade
de aplicação dos critérios desempatadores do art. 78, II, “a” e “b”
e) Tendo a infração penal ocorrido a bordo de navios e aeronaves, em águas
territoriais, no espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, em rios e lagos
fronteiriços ou em alto mar, não sendo possível determinar o local de embarque ou
chegada imediatamente anteriores ou posteriores à ocorrência do crime (CPP, art.
91).
Em órgãos colegiados, no que tange à fixação de competência, o STF entende que a
decisão monocrática do Relator em recurso não enseja a prevenção da Turma que integra, se a
este colegiado o recurso não tiver sido submetido. Assim, o conhecimento de mandado de
segurança, do habeas corpus e do recurso civil ou criminal torna preventa a competência do
Relator; para todos os recursos posteriores, tanto na ação quanto na execução, referentes ao
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mesmo processo. Assim, se um ministro do STF estiver prevento, eventual mudança de Turma
por parte deste ministro não terá o condão de afastar dele o julgamento de fatos delituosos
para os quais esteja prevento, salvo se alguma Turma/Seção para qual ele se removeu tiver
pertinência temática específica.
Em razão de ligação entre dois ou mais fatos delituosos, ou entre duas ou mais pessoas
que praticaram um mesmo crime, é conveniente a reunião de todos eles em um só processo,
com julgamento único. Além da celeridade esses institutos colaboram para uma perfeita visão
do quadro probatório, evitando-se decisões conflitantes. Isso se dá através da conexão e
continência.
É importante notar que a conexão e a continência não são critérios que fixam a
competência, mas que alteram a competência. Eventualmente, no entanto, podem ser
utilizadas para fixação inicial da competência, desde que já se saiba antecipadamente que um
processo está ligado a outro previamente distribuído.
Dito isto, se alteram a competência, a conexão e continência só incidem sobre hipóteses
de competência relativa, diferentemente da absoluta, que é inderrogável. Assim, não se
admite que a conexão e continência, normas previstas em lei ordinária, alterem regras de
competência absoluta, que têm origem na Constituição, que possui a finalidade precípua de
proteção do interesse público e na correta e adequada distribuição de justiça. Como é o
86 interesse público que determina a criação dessa regra de competência, ela é indisponível às
partes e se impõe com força cogente ao juiz, não admitindo modificações, sendo
improrrogável, imodificável.
A jurisprudência diz que eventual violação às regras que determinam a reunião dos
processos por conexão ou continência enseja tão somente a uma nulidade relativa, devendo
ser arguida em momento oportuno, sob pena de preclusão, bem como ser demonstrado o
eventual prejuízo – pás de nulitté sans grief.
11.1. Conexão
A conexão é compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais
fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo
processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita
visão do quadro probatório. Brasileiro fala que seria um liame entre dois ou mais fatos, que se
ligam por algum motivo, permitindo que os fatos sejam julgados por um só magistrado, com
base no mesmo substrato probatório, evitando decisões contraditórias.
Espécies de conexão previstas no CPP:
a) Conexão intersubjetiva: envolve vários crimes e várias pessoas, obrigatoriamente.
Se for várias pessoas e um único delito, será hipótese de continência (art. 77, I, CPP).
Pouco importa se as várias pessoas estão reunidas em coautoria ou se os delitos são
praticados por reciprocidade. Vamos ver as espécies do CPP:
a. Conexão intersubjetiva por simultaneidade, ocasional: duas ou mais
infrações são praticadas ao mesmo temop, por diversas pessoas
ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das
mesmas circunstâncias de tempo e de local – art. 76, I, 1ª parte, CPP. Ex:
saque simultâneo a um supermercado.
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b) Continência por cumulação objetiva: ocorre nas hipóteses em que uma só ação
gera mais de um resultado criminoso, como no concurso formal de crimes, aberratio
ictus (erro na execução) e aberratio delicti (resultado diverso do pretendido).
Percebam algo: na hipótese de crime continuado não falamos nem em conexão nem em
continência, mas sim em prevenção, conforme dispõe o artigo 71 do CPP.
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Lembrem-se do caso da Justiça Eleitoral e Justiça Federal, ok? O STF está com novo
entendimento, já debatido no tópico 7.3.
Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior: art. 78, III. Sempre irá
predominar a competência de órgão de maior graduação. Crime cometido por agente que
detenha foro em concurso de agente com quem não detenha, prevalecerá a competência do
Tribunal. Súmula 704 STF: Não viola as garantias do Juiz Natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função. Porém, não é obrigatório, podendo o relator, por conveniência,
separar os processos, nos termos do artigo 80 do CPP.
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FIM.
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Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a competência
será da Justiça Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes.
Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias,
quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
carteira de trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada. • O enunciado não foi
formalmente cancelado, mas a tendência é que seja superado já que no julgamento do CC
135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 22/10/2014 (Info 554), o STJ decidiu que compete à Justiça Federal (e não à
Justiça Estadual) processar e julgar o crime caracterizado pela omissão de anotação de
vínculo empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP). Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado
para a falsa anotação na CTPS (art. 297, § 3º do CP).
Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que
é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 556-STF – É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
o Caso isolado: Compete à justiça federal processar e julgar ação penal
referente a crime cometido contra sociedade de economia mista,
quando demonstrado o interesse jurídico da União. Esse o
94 entendimento da 1ª Turma, que, em conclusão de julgamento e por
maioria, desproveu agravo regimental para acolher recurso
extraordinário no qual se discutia a justiça competente para apreciar
causa em que figurava como parte a sociedade de economia mista
Companhia Docas do Pará — v. Informativo 661. A Turma consignou
que a mencionada companhia, cuja maior parcela de seu capital seria
composta por verba pública federal, teria por ofício administrar e
explorar as instalações portuárias do Estado do Pará, atividades
exclusivamente atribuídas à União, conforme o disposto no art. 21, XII,
f, da CF. Asseverou que, em princípio, os crimes praticados contra
sociedade de economia mista, em geral, não se submeteriam à
competência da justiça federal. (…) RE 614115 AgR/PA, rel. Min. Dias
Toffoli, 16.9.2014. (RE-614115).
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados.
Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.
Súmula 6-STJ: Compete à justiça comum estadual processar e julgar delito decorrente de
acidente de trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e vítima forem
policiais militares em situação de atividade.
Súmula 53-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática
de crime contra instituições militares estaduais.
o A Justiça Militar estadual não tem competência para processar
e julgar civis. Nos termos do art. 125, § 4º, da CF/88, a Justiça
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Zona Econômica Exclusiva está fora do mar territorial brasileiro, dessa forma, não há sujeição
da legislação penal brasileira ao homicídio de estrangeiro contra estrangeiro praticado em
embarcação particular. ENTENDIMENTO ADOTADO PELO CESPE!!!!!!!!!
Cisão do artigo 80: Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
o Trata-se da separação de feitos conexos ou com relação de continência.
o A prerrogativa de foro não afasta a cisão, sendo certo que o STF tem
procedido à separação para manter na Corte somente o feito em relação ao
agente que possua foro.
o A cisão é um caráter meramente facultativo fundada em qualquer das
hipóteses previstas no artigo 80. Deve haver ocorrência de motivo relevante,
podendo haver cisão ainda que se trate de conexão/continência.
Só se pode cogitar de prevenção da competência, quando a decisão, que a determinaria, tenha
sido precedida de distribuição: não previnem a competência decisões de juiz de plantão, nem
as facultadas em caso de urgência, a qualquer dos juízes criminais do foro. STF.
Em julgamento de conflito de competência o tribunal pode declarar competente um terceiro
juízo que não figure no julgamento como suscitante e suscitado.
Incide no campo do processo penal a figura da perpetuatio jurisdictionis, de modo que a
criação de novas varas, por modificações na lei de organização judiciária, não altera a
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adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da
rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel.
orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28
e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). O STJ, interpretando a decisão do
STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de
conteúdo pedófilo-pornográfico deve ter sido feita em um ambiente virtual
propício ao livre acesso.
o Por outro lado, se a troca de material pedófilo ocorreu entre destinatários
certos no Brasil, não há relação de internacionalidade e, portanto, a
competência é da Justiça Estadual.
o Assim, o STJ afirmou que a definição da competência para julgar o delito do
art. 241-A do ECA passa pela seguinte análise:
Se ficar constatada a internacionalidade da conduta: Justiça FEDERAL.
Ex: publicação do material feita em sites que possam ser acessados
por qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, desde que esteja
conectado à internet.
Nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de
informações privadas, como nas conversas via Whatsapp ou por meio
de chat na rede social Facebook: Justiça ESTADUAL. Isso porque tanto
no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na
rede social Facebook, a comunicação se dá entre destinatários
escolhidos pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca de
97 informação privada que não está acessível a qualquer pessoa. Desse
modo, como em tais situações o conteúdo pornográfico não foi
disponibilizado em um ambiente de livre acesso, não se faz presente a
competência da Justiça Federal. STJ. 3ª Seção. CC 150564-MG, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017 (Info 603).
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre
crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição, aplicável o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 154656-MG, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
o A União possui compromissos internacionais com a apuração criminal
(persecutio criminis) em caso de delitos praticados por brasileiro no exterior e
no qual este infrator esteja agora no Brasil e não possa ser extraditado,
devendo responder em nosso país pelo crime cometido lá fora. Há, portanto,
interesse da União, que justifica a competência da Justiça Federal, nos termos
do art. 109, IV, da CF/88.
o Divergência – STF - 1ª Turma: entende que é a Justiça Comum Estadual, por
não haver interesse da União. No caso, o delito não foi praticado em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (inciso IV). De igual modo, não se aplica o
inciso V: “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente”. Isso porque o crime praticado não está
previsto em tratado ou convenção internacional. O Decreto 4.975/2004, que
promulgou o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul, por si
só não atrai a competência da Justiça Federal. Isso porque a persecução penal
não é fundada no acordo de extradição, mas no Código Penal brasileiro. Os
demais incisos do art. 109 nem de longe geram dúvida e não se aplicam ao
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Justiça Militar
● Súmula 90 STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o militar pela prática do
crime militar, e a comum pela prática do crume comum simultâneo àquele.
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A competência da Justiça Militar é para os crimes militares “tourt court”, e não para os crimes
dos militares. Não se trata de competência ratione personae.
Mesmo para civis, em tempos de paz, há tipos penais militares que, incidindo no caso,
tornarão o fato afeto ao foro especial em questão.
Compete à Justiça Militar processar e julgar o crime de furto, praticado por civil, de patrimônio
que, sob administração militar, encontra-se nas dependências desta. Caso concreto: civil
furtou, dentro de estabelecimento militar, pistola que estava na posse de soldado da
Aeronáutica. Fundamento: art. 9º, III, “a”, do Código Penal Militar. STJ. 3ª Seção.CC 145721-SP,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
o II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:
o e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
o Agora, vários dos crimes que eram julgados na Justiça Federal, por antes não
haver previsão no CPM, é julgado pela Justiça Militar da União. Ver alterações
realizadas pela Lei n°13.491/2017.
o
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103 ● Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito
previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria
estrangeira, permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de
pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC 159680-MG, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631). Compete à Justiça Federal o julgamento
dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes indícios de
transnacionalidade na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 26/09/2018 (Info 635).
● Se o crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto federal, a
competência para julgamento será da Justiça Federal tendo em vista que existe interesse
federal na manutenção e preservação da região. Logo, este delito gera possível lesão a bens,
serviços ou interesses da União, atraindo a regra do art. 109, IV, da Constituição Federal.
STJ. 3ª Seção. CC 142.016/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/08/2015.
o Por outro lado, não haverá competência da Justiça Federal se o crime foi
praticado dentro de área de proteção ambiental criada por decreto federal,
mas cuja fiscalização e administração foi delegada para outro ente
federativo: No caso, embora o local do dano ambiental esteja inserido na Área
de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu, criada pelo Decreto
Federal n. 88.940/1993, não há falar em interesse da União no crime
ambiental sob apuração, já que lei federal subsequente delegou a fiscalização
e administração da APA para o Distrito Federal (art. 1º da Lei n. 9.262/1996).
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara
Criminal e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado.
STJ. 3ª Seção. CC 158.747/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
13/06/2018.
● Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que
envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por
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compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral) (Info 853)
● O fato de os agentes, utilizando-se de formulários falsos da Receita Federal, terem se passado
por Auditores desse órgão com intuito de obter vantagem financeira ilícita de particulares não
atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de uso de
documento público, observa-se que a falsidade foi empregada, tão somente, em detrimento
de particular. Assim sendo, se se pudesse cogitar de eventual prejuízo sofrido pela União, ele
seria apenas reflexo, na medida em que o prejuízo direto está nitidamente limitado à esfera
individual da vítima, uma vez que as condutas em análise não trazem prejuízo direto e efetivo
a bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
(art. 109, IV, da CF). STJ. 3ª Seção. CC 141593-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 26/8/2015 (Info 568).
● Se não houver transnacionalidade, o crime do art. 273 do CP, mesmo envolvendo
anabolizantes estrangeiros, será de competência da Justiça Estadual273 do Código Penal não é
cometido 'em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas'. Salvo se houver provas ou fortes indícios da
transnacionalidade da conduta delitiva ou de conexão instrumental ou probatória com crime
da competência da Justiça Federal, a competência para processar e julgar a ação penal a ele
correspondente é da Justiça estadual. STJ. 3ª Seção. CC 128668/SP, Rel. Min. Newton Trisotto
(Des. Conv. TJ/SC), julgado em 12/08/2015.
o Percebam que a razão de decidir desse julgado é totalmente contraditória com
a razão de decidir recente da 3ª Seção, em relação ao contrabando, que fixa a
competência da JF mesmo em caso de ausência de transnacionalidade. Aqui,
104 se o anabolizante importado for preso sem transnacionalidade, é de
competência da Justiça Estadual. Mas não há violação a outros bens de
interesse da União? Saúde pública, etc? Vai entender..
● O art. 109, IX, da CF/88 afirma que compete à Justiça Federal julgar os crimes praticados a
bordo de navios ou aeronaves, com exceção daqueles que forem da Justiça Militar. Navio =
embarcação de grande porte. Para que o crime seja de competência da Justiça Federal, é
necessário que o navio seja uma “embarcação de grande porte”. Assim, se o delito for
cometido a bordo de um pequeno barco, lancha, veleiro etc., a competência será da Justiça
Estadual. Aeronave voando ou parada: a competência será da Justiça Federal mesmo que o
crime seja cometido a bordo de uma aeronave pousada. Não é necessário que a aeronave
esteja em movimento para a competência ser da Justiça Federal. Navio em situação de
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento: para que o crime
cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário que o navio
esteja em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex: está
parado provisoriamente no porto, mas já seguirá rumo a outro país). Se o navio estiver
atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a competência será da
Justiça Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 118503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
22/4/2015 (Info 560).
● Uma quadrilha roubou um banco privado e, quando os ladrões saíam da instituição,
cruzaram com uma viatura da Polícia Rodoviária Federal que passava casualmente
pelo local. Os policiais perceberam que os homens estavam armados e, por isso,
ordenaram que eles parassem. Houve troca de tiros. O MP denunciou os réus por
latrocínio. De quem é a competência para julgar o delito? Justiça FEDERAL. Compete à
Justiça Federal processar e julgar crime de latrocínio no qual tenha havido troca de
tiros com policiais rodoviários federais que, embora não estivessem em serviço de
patrulhamento ostensivo, agiam para reprimir assalto a instituição bancária privada. O
crime foi praticado contra policiais rodoviários federais que, diante da ocorrência de
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um flagrante, tinham o dever de agir. Assim, o delito foi cometido contra servidores
públicos federais no exercício da função (Súmula 147 do STJ). STJ. 5ª Turma. HC
309914-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/4/2015 (Info 559).
● O recebimento da denúncia é previsto como causa de interrupção do prazo
prescricional (art. 117, I, do CP). Situação1: se a denúncia foi recebida por juízo
absolutamente incompetente, pode-se dizer que houve interrupção do prazo de
prescrição? NÃO. Doutrina e jurisprudência são uniformes no sentido de que o
recebimento da denúncia por magistrado absolutamente incompetente não
interrompe o curso do prazo prescricional. Assim, mesmo que, posteriormente, a
denúncia seja recebida pelo juízo competente, aquele primeiro recebimento feito pelo
magistrado absolutamente incompetente não servirá como marco interruptivo da
prescrição. Ex: se um juiz de 1ª instância recebe denúncia formulada contra réu que
detém foro por prerrogativa de função no Tribunal (STJ. Corte Especial. APn 295-RR,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014). Situação 2: se o vício fosse de
incompetência relativa, haveria interrupção da prescrição? A denúncia recebida por
juízo relativamente incompetente interrompe a prescrição se depois for ratificada pelo
juízo competente? SIM. Pelo princípio da convalidação, o recebimento da denúncia
por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de interromper o
prazo prescricional. Se a denúncia foi recebida pelo juízo relativamente incompetente
em 2010 e depois foi ratificada em 2011, considera-se que houve interrupção em
2010. A convalidação posterior possui natureza declaratória, servindo apenas para
confirmar a validade daquela primeira decisão. Repetindo: o recebimento da denúncia
por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de interromper o
105 prazo prescricional (STJ. 5ª Turma. RHC 40.514/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
08/05/2014). STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
17/12/2014 (Info 555).
● Determinado Estado-membro conseguiu um financiamento do BNDES para a
realização de um empreendimento. Ocorre que houve fraude à licitação e
superfaturamento da obra. O fato de o BNDES (que é uma empresa pública federal) ter
emprestado o dinheiro atrai a competência para a Justiça Federal? NÃO. O fato de
licitação estadual envolver recursos repassados ao Estado-Membro pelo BNDES por
meio de empréstimo bancário (mútuo feneratício) não atrai a competência da Justiça
Federal para processar e julgar crimes relacionados a suposto superfaturamento na
licitação. Mesmo havendo superfaturamento na licitação estadual, o prejuízo recairá
sobre o erário estadual (e não o federal), uma vez que, não obstante a fraude, o
contrato de mútuo feneratício entre o Estado-Membro e o BNDES permanecerá válido,
fazendo com que a empresa pública federal receba de volta, em qualquer
circunstância, o valor emprestado ao ente federativo. Logo, a competência é da Justiça
Estadual. STJ. 5ª Turma. RHC 42595-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/12/2014
(Info 555).
● O réu respondia a um processo na Justiça Federal acusado de ter praticado um crime
federal em concurso com um delito estadual. Ambos os delitos estavam sendo
processados na Justiça Federal em razão da conexão probatória (art. 76, III do CPP e
Súmula 122 do STJ). Ocorre que, no momento da sentença, o juiz federal entendeu
que a classificação oferecida pelo Ministério Público não estava correta e que o crime
federal imputado deveria ser desclassificado para outro delito (de competência da
Justiça Estadual). Nesse caso, o juiz federal, ao desclassificar a conduta do delito
federal para o crime estadual, deverá julgar-se incompetente para continuar no exame
da causa e declinar a competência para a Justiça Estadual, nos termos do § 2º do art.
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383 do CPP. STF. 2ª Turma. HC 113845/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
20/8/2013 (Info 716).
● Compete à Justiça FEDERAL processar e julgar as ações penais relacionadas com o
DESVIO de verbas originárias do SUS (Sistema Único de Saúde), independentemente
de se tratar de valores repassados aos Estados ou Municípios por meio da modalidade
de transferência “fundo a fundo” ou mediante realização de convênio. STJ. 3ª Seção.
AgRg no CC 129386/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2013. STJ. 3ª
Seção. AgRg no CC 122555-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/8/2013 (Info
527).
● Compete ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública — e
não ao do lugar para o qual os valores foram destinados — o processamento e
julgamento da ação penal referente ao crime de peculato-desvio (art. 312, caput,
segunda parte, do CP). STJ. 3ª Seção. CC 119819-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 14/8/2013 (Info 526).
● Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual) processar e julgar ação penal
referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela
posição de cacique em comunidade indígena (art. 109, XI, da CF/88). STJ. 3ª Seção. CC
123016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).
● Crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter transnacional praticados no
mesmo contexto dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, contra as
mesmas vítimas, devem ser considerados conexos e julgados conjuntamente na Justiça
Federal. STF. 2ª Turma. HC 114689/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
13/8/2013 (Info 715).
106 ● Pessoa que “baixa” da internet e armazena, em computador da escola, vídeos
pornográficos envolvendo crianças e adolescentes pratica o delito do art. 241-A, § 1º,
I, do ECA, sendo esta conduta, neste caso concreto, crime de competência da Justiça
Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 103011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
13/3/2013 (Info 520).
● O réu, por meio de fraude, obteve, para si, um benefício previdenciário que era pago
em agência do INSS localizada no Estado “A”. Depois de algum tempo recebendo, o
benefício foi transferido para uma agência do INSS no Estado “B”, quando então, foi
descoberta a fraude. A competência para julgar este estelionato previdenciário será da
Justiça Federal do Estado “A”. Segundo decidiu o STJ, no caso de ação penal destinada
à apuração de estelionato praticado mediante fraude para a concessão de
aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que situada a agência onde
inicialmente recebido o benefício, ainda que este, posteriormente, tenha passado a
ser recebido em agência localizada em município sujeito a jurisdição diversa. STJ. 3ª
Seção. CC 125023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013 (Info
518).
● Compete à justiça ESTADUAL o julgamento de ação penal em que se apure crime de
esbulho possessório (art. 161, § 1º, II, do CP) efetuado em terra de propriedade do
INCRA na hipótese em que a conduta delitiva não tenha representado ameaça à
titularidade do imóvel e em que os únicos prejudicados tenham sido aqueles que
tiveram suas residências invadidas. STJ. 3ª Seção. CC 121150-PR, Rel. Min. Alderita
Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ-PE), julgado em 4/2/2013 (Info
513).
Bons estudos!
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