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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

COMPETÊNCIA CRIMINAL
Crédito: Renato Brasileiro e sua obra Manual de Processo Penal; Comentários ao
Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência – Eugênio Pacelli e Douglas Fischer.
Eu, Diovane, apenas extraí os textos de forma sintetizada das obras acima. Os créditos
são todos dos autores. Fiz outras citações, como por exemplo o Dizer o Direito, Nestor Távora
e Fábio Roque. Coloquei as anotações do meu caderno pessoal no final. As jurisprudências ao
fim são do Dizer o Direito e algumas do livro do Douglas Fischer.
Para vocês que estudam para Delegado (Federal ou Civil), Magistratura Federal e
Ministério Público Federal, eis aqui uma das mais importantes matérias em Processo Penal.
Peço aos leitores que me sigam no Instagram, clicando aqui. Lá eu posto atualizações
sobre as apostilas produzidas no nosso site , sorteio livros de vez em quando y otras cositas.

SÚMARIO
COMPETÊNCIA CRIMINAL ............................................................................................................ 1
1. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ............................................................................................ 4
1.1. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL ..................................................................................................... 4
1.1.1. Lei processual que altera regras de competência...................................................... 5
1 1.1.2. Convocação de Juízes de 1° grau para substituir Desembargadores......................... 5
2. ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA .............................................................................................. 6
2.1. EM RAZÃO DA MATÉRIA – RATIONE MATERIAE ............................................................................... 6
2.2. EM RAZÃO DA PESSOA/FUNÇÃO – RATIONE PERSONAE .................................................................... 6
2.3. EM RAZÃO DO LOCAL – RATIONE LOCI .......................................................................................... 6
2.4. COMPETÊNCIA FUNCIONAL ........................................................................................................ 6
3. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ............................................................................. 6
3.1. QUANTO À NATUREZA DO INTERESSE ........................................................................................... 6
3.2. DA ARGUIÇÃO DA INCOMPETÊNCIA ............................................................................................. 7
3.3. RECONHECIMENTO DA INCOMPETÊNCIA EM 2ª INSTÂNCIA ............................................................... 8
3.4. CONSEQUÊNCIAS DO RECONHECIMENTO DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ............................. 8
3.5. A COISA JULGADA NOS CASOS DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA ........................................... 9
4. FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA CRIMINAL ............................................................................. 9
5. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL ..................................................................................... 10
6. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ................................................................................. 11
7. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA ......................................................................... 12
7.1. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL .......................................................................... 12
7.2. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL ............................................................................ 12
7.2.1. Artigo 109, inciso IV: crimes políticos e contra a União e sua administração indireta
13
7.2.1.1. Crimes Políticos ................................................................................................................ 13
7.2.1.2. Crimes contra a União ...................................................................................................... 13
7.2.1.3. Crimes contra autarquias federais ................................................................................... 14
7.2.1.4. Crimes contra empresas públicas federais ....................................................................... 14
7.2.1.5. Crimes contra fundações públicas federais ...................................................................... 14
7.2.1.6. Crimes contra entidades de fiscalização profissional ....................................................... 15

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7.2.1.7. Crimes contra a OAB ........................................................................................................ 15


7.2.1.8. Crimes contra sociedade de economia mista, concessionárias e permissionárias de
serviço público 15
7.2.1.9. “Bens, serviços ou interesse da União, das autarquias federais (fundações federais) e das
empresas públicas ......................................................................................................................................... 16
7.2.1.9.1. Bens .......................................................................................................................... 16
7.2.1.9.2. Serviços e interesse .................................................................................................. 17
7.2.1.10. Crimes previstos no estatuto do desarmamento ........................................................... 18
7.2.1.11. Crimes contra a Justiça Federal, do Trabalho, Eleitoral e Militar da União .................... 18
7.2.1.12. Crime praticado contra o funcionário público federal ................................................... 18
7.2.1.13. Crime praticado por funcionário público federal ........................................................... 20
7.2.1.14. Tribunal do Júri Federal .................................................................................................. 21
7.2.1.15. Crimes ambientais .......................................................................................................... 21
7.2.1.16. Crimes contra a fé pública .............................................................................................. 23
7.2.1.17. Execução penal de crimes de competência da Justiça Federal ...................................... 26
7.2.1.18. Contravenções Penais .................................................................................................... 27
7.2.1.19. Crimes previstos na Lei Antiterrorismo (Lei n° 13.260/16) ............................................ 27
7.2.2. Artigo 109, inciso V: crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente 27
7.2.2.1. Tráfico internacional de drogas ........................................................................................ 28
7.2.2.2. Demais crimes que podem ser julgados pela Justiça Federal com fundamento no art.
109, inciso V, da Constituição Federal ........................................................................................................... 30
7.2.3.
Incidente de deslocamento de competência – IDC – Art. 109, V-A, c/c art. 109, §5°
32
7.2.4. Crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinado por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira (art. 109, VI, CF) .............................................. 33
2 7.2.4.1.
7.2.5.
Crimes contra a organização do trabalho ......................................................................... 34
Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira ..................... 35
7.2.5.1. Varas especializadas para processar e julgar os crimes contra o sistema financeiro
nacional e os delitos de lavagem de capitais ................................................................................................. 37
7.2.6. Habeas corpus em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra
jurisdição (art. 109, VIII, CF). .............................................................................................................. 37
7.2.7. Mandados de segurança contra de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos Tribunais Federais (CF, art. 109, VIII) ..................................................................... 39
7.2.8. Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar (CF, art. 109, inciso IX) ................................................................................................ 39
7.2.9. Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro (CF, 109, X) .............. 40
7.2.10. Disputa sobre direitos indígenas (CF, art. 109, XI) .................................................. 41
7.2.10.1. Genocídio contra índios ................................................................................................. 42
7.2.11. Conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e da Justiça Estadual .... 43
7.3. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ELEITORAL.......................................................................... 44
7.4. JUSTIÇA POLÍTICA OU EXTRAORDINÁRIA (LEI 1.079/50 E DL 201/67) ........................................... 48
8. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ........................................................... 49
8.1. REGRAS BÁSICAS ................................................................................................................... 50
8.1.1. Investigação e indiciamento de pessoas com foro por prerrogativa de função ...... 50
8.1.2. Arquivamento de inquérito nas hipóteses de atribuição originária do Procurador-
Geral de Justiça ou do Procurador-Geral da República...................................................................... 50
8.1.3. Duplo grau de jurisdição e foro originário ............................................................... 51
8.1.4. Prerrogativa de função e manutenção do cargo ou mandato – AP 937 e 962 ........ 52
8.1.4.1. Questão de ordem na AP 937 e AP 962 – restrição do foro privilegiado às infrações
relacionadas ao cargo .................................................................................................................................... 53
8.1.5. Dicotomia entre crime comum e crime de responsabilidade................................... 57
8.1.6. Local da infração ..................................................................................................... 58
8.1.7. Crime doloso contra a vida ...................................................................................... 58
8.1.8. Hipóteses de concurso de agentes........................................................................... 59
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8.1.9. Constituições Estaduais e princípio da simetria ....................................................... 61


8.1.10. Exceção da verdade e foro por prerrogativa ........................................................... 61
8.1.11. Atribuições dos membros do MP perante os Tribunais Superiores ......................... 62
8.1.12. Procedimento originário dos Tribunais ................................................................... 62
8.2. COMPETÊNCIAS EM RAZÃO DA FUNÇÃO – RATIO FUNCIONAE .......................................................... 63
8.2.1. Supremo Tribunal Federal........................................................................................ 63
8.2.2. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................................... 64
8.2.3. Tribunal Superior Eleitoral ....................................................................................... 66
8.2.4. Tribunais Regionais Federais – art. 108 ................................................................... 66
8.2.5. Tribunais Regionais Eleitorais .................................................................................. 66
8.2.6. Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal ............................................ 66
8.2.7. Senado Federal ........................................................................................................ 67
8.2.8. Tribunal Especial ...................................................................................................... 67
8.2.9. Câmara Municipal ................................................................................................... 67
8.3. TITULARES DE FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO .................................................................... 68
8.3.1. Presidente da República .......................................................................................... 68
8.3.2. Deputados Federais e Senadores ............................................................................. 68
8.3.3. Ministros de Estado ................................................................................................. 69
8.3.4. Membros do CNJ e do CNMP ................................................................................... 69
8.3.5. Governador de Estado ............................................................................................. 69
8.3.6. Desembargadores dos TJ e membros do TRF .......................................................... 70
8.3.7. Membros do MP Estadual e Juízes Estaduais .......................................................... 70
8.3.8. Membros do Ministério Público da União ............................................................... 71
8.3.9. Deputados Estaduais ............................................................................................... 72
8.3.10. Prefeitos municipais ................................................................................................ 73
3 8.3.11. Vereadores .............................................................................................................. 74
8.3.12. Tabela para fixação ................................................................................................. 75
9. COMPETÊNCIA TERRITORIAL ........................................................................................... 75
9.1. COMPETÊNCIA TERRITORIAL PELO LUGAR DA CONSUMAÇÃO DA INFRAÇÃO ........................................ 76
9.2. CASOS IMPORTANTES DE CONSUMAÇÃO DE CRIME PARA FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA TERRITORIAL.......... 77
9.2.1. Crimes de mera conduta .......................................................................................... 77
9.2.2. Crimes formais ......................................................................................................... 77
9.2.3. Crimes materiais ...................................................................................................... 77
9.2.4. Crimes qualificados pelo resultado .......................................................................... 77
9.2.5. Infrações em continuidade delitiva .......................................................................... 77
9.2.6. Crimes plurilocais: princípio do esboço do resultado (nacional) .............................. 78
9.2.7. Crimes à distância ou de espaço máximo (internacional) ....................................... 78
9.2.8. Crimes cometidos no estrangeiro ............................................................................ 79
9.2.9. Infrações cometidas a bordo de embarcações ou aeronaves .................................. 79
9.2.10. Infrações cometidas na divisa de duas ou mais comarcas. ..................................... 79
9.2.11. Crimes falimentares ................................................................................................ 79
9.2.12. Atos infracionais...................................................................................................... 80
9.2.13. Crimes em espécie: .................................................................................................. 80
9.3. COMPETÊNCIA TERRITORIAL PELA RESIDÊNCIA OU DOMICÍLIO DO RÉU............................................... 81
10. COMPETÊNCIA DE JUÍZO ................................................................................................. 81
10.1. JUÍZO COLEGIADO EM PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO PARA O JULGAMENTO DE CRIMES PRATICADOS
POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS ................................................................................................................... 82
10.2. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL ....................................................................... 82
10.3. COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO ........................................................................................ 84
10.4. COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO .......................................................................................... 84
11. MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ................................................................................... 86
11.1. CONEXÃO ........................................................................................................................ 86

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11.2. CONTINÊNCIA................................................................................................................... 87
11.3. EFEITOS DA CONEXÃO E DA CONTINÊNCIA .............................................................................. 87
11.4. FORO PREVALENTE ............................................................................................................ 88
11.4.1. Competência prevalente do Tribunal do Júri ........................................................... 88
11.4.2. Jurisdições distintas ................................................................................................. 88
11.4.3. Jurisdições da mesma categoria ............................................................................. 89
11.5. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS ................................................................................................. 89
11.5.1. Separação obrigatória ............................................................................................ 90
11.5.1.1. Concurso entre a jurisdição comum e a militar .............................................................. 90
11.5.1.2. Concurso entre jurisdição comum e a do juízo de menores .......................................... 90
11.5.1.3. Doença mental superveniente à prática delituosa ......................................................... 90
11.5.2. Separação facultativa de processos ........................................................................ 90
11.5.2.1. Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes ..................... 91
11.5.2.2. Excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória .............. 91
11.5.2.3. Motivo relevante pelo qual o juiz repute conveniente a separação .............................. 91
11.6. PERPETUAÇÃO DA COMPETÊNCIA NAS HIPÓTESES DE CONEXÃO E CONTINÊNCIA ............................. 91
12. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA ................................................................................. 92
13. PERPETUAÇÃO DE COMPETÊNCIA ................................................................................... 92
14. SÚMULAS IMPORTANTES ................................................................................................ 93
15. JURISPRUDÊNCIAS E ANOTAÇÕES DO MEU CADERNO PESSOAL ..................................... 95
Justiça Federal ........................................................................................................................ 96
Justiça Estadual ...................................................................................................................... 99
Justiça Militar ......................................................................................................................... 99
4 Foro por prerrogativa de função / foro privilegiado ............................................................. 100
Outros julgados .................................................................................................................... 103

1. Jurisdição e competência
A jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito aplicado ao caso concreto,
substituindo a vontade das partes, tendo como objetivo a pacificação social. Realizado um
crime, surge ao Estado o direito de punir e ao criminoso o direito de se ver legalmente
processado, ocasião em que a jurisdição resolverá o conflito. Entretanto, apesar da jurisdição
ser considerada una, um só juiz não pode resolver todos os casos.
Daí o motivo pelo qual a jurisdição é distribuída entre vários juízes, devendo haver,
portanto, regras de distribuição de competência, que autoriza e limita o poder dos juízes de
julgarem o caso concreto.
Competência, portanto, é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão
jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso concreto.
1.1. Princípio do Juiz Natural
Cuida-se do direito que cada cidadão possui de saber, previamente, a autoridade que irá
processar e julgá-la no caso concreto. É aquele constituído antes do fato delituoso a ser
julgado, mediante regras taxativas de competência estabelecidas pela lei.
Assim, a Constituição Federal definirá, previamente ao fato, a competência do juízo para
o suposto crime cometido. Assim, vale a regra do tempus criminis regit iudicem (o tempo do
crime rege o juízo). Ademais, a própria Constituição dispõe, no art. 5°, que não haverá tribunal
de exceção, bem como que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.

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No que toca ao direito internacional, o princípio é previsto no Pacto de São José da


Costa Rica (Convenção Americana de Direitos do Homem), no Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos da ONU.
Em conclusão: só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato; entre os juízes pré-constituídos
vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa deferida à
discricionariedade de quem quer que seja.
1.1.1. Lei processual que altera regras de competência
Isso aqui tem caído muito em prova, ok? Principalmente quando se trata de criação de
novas varas especializadas no decorrer de uma ação já em andamento, havendo um
deslocamento de competência. Vamos nos ater a este tópico.
A jurisprudência entende que a modificação da competência criminal, decorrente de lei
que a altere em razão da matéria, não viola o princípio do juiz natural, pois tem natureza
genuinamente processual, de aplicação imediata, salvo se já sentenciado, ocasião em que
haverá prorrogação da competência do juízo original.
Portanto, a regra é o processo ser concluído perante o juiz em que teve início, salvo:
extinção do órgão judiciário; alteração de competência em razão da matéria; alteração de
competência hierárquica (diplomação).
Julgados: Para a jurisprudência, lei que altera a competência tem aplicação imediata
inclusive aos processos em andamento, salvo se já houver sentença relativa ao mérito,

5 hipótese em que o processo deverá seguir na jurisdição em que a decisão foi prolatada (STF,
HC 76.510).
Já se decidiu que a criação de vara especializada provoca o deslocamento da
competência para processamento e julgamento da vara comum para a vara especializada (HC
– 86.660 - STF – Plenário) (HC-85060 - STF - 1ª Turma).
#Bizu: Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, regras de
competência determinadas por prerrogativas de função, convocação de juízes para compor
órgãos de tribunais e a redistribuição de processos em decorrência da criação de vara com
idêntica competência.
1.1.2. Convocação de Juízes de 1° grau para substituir Desembargadores
O mesmo se pode dizer de Tribunais que tenham Juízes de 1ª Grau convocados atuando,
não havendo violação ao princípio do Juiz Natural. Entretanto, segundo STJ, para que esta
convocação seja válida, sem qualquer ofensa ao ordenamento, é indispensável que haja prévia
fixação de qual será o juiz convocado, segundo critérios objetivos predeterminados.
Sobre tal ponto, o STF, em controle concentrado de constitucionalidade, concluiu que os
Regimentos Internos dos Tribunais podem dispor a respeito da convocação de juízes para
substituição de desembargadores, em caso de vaga ou afastamento por prazo superior a 30
dias, nos termos do art. 118 da LOMAN, sem violar o princípio da legalidade.
No mais, o STF entende que não viola o princípio do juiz natural o julgamento de
apelação por órgão colegiado presidido por desembargador, sendo os demais
integrantes juízes convocados. STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/2/2016 (Info 814).

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2. Espécies de competência
2.1. Em razão da matéria – ratione materiae
É aquela estabelecida em virtude da natureza da infração penal praticada (CPP, art. 69,
III). Ex: Justiça militar para crimes militares; Justiça Eleitoral para crimes eleitorais.
2.2. Em razão da pessoa/função – ratione personae
Cuida-se da competência em razão da função desempenhada pelo agente (CPP, art. 69,
inciso VII). Aqui temos as regras de competência estabelecidas na Constituição Federal, que as
veremos adiante e os novos entendimentos sufragados pelo STF e STJ em 2018 acerca do tema
(O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício
do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF).
2.3. Em razão do local – ratione loci
Cuida-se da comarca ou Subseção Judiciária na qual será processado e julgado o agente.
Está disposta no art. 69, I e II, do CPP, sendo, em regra, o lugar da infração.
2.4. Competência funcional
É a distribuição feita pela lei entre diversos juízes da mesma instância ou de instâncias
diversas para, num mesmo processo, ou em um segmento ou fase do seu desenvolvimento,
praticar determinados atos. A competência é fixada conforme a função que cada um dos vários
órgãos jurisdicionais exerce em um processo sendo. Ex: juiz de conhecimento e juiz de
execução.

6 Pode ser subdividida:


a) por fase do processo: de acordo com a fase em que o processo se encontra, um órgão
jurisdicional diferente exercerá a competência (no Tribunal do Júri atua o juiz sumariante
numa primeira fase, mas quem efetivamente julga são os jurados).
b) pelo objeto do juízo: a competência será exercida a depender das questões a serem
decididas (no Tribunal do Júri o juiz decide algumas questões e os jurados outras; o incidente
de inconstitucionalidade nos tribunais é apreciado pelo pleno ou pelo órgão especial, mas a
questão principal é julgada pelo órgão fracionário).
c) por grau de jurisdição: a competência é dividida entre órgãos jurisdicionais
superiores e inferiores.
* Vale lembrar que alguns doutrinadores ainda dividem a competência funcional em
horizontal (quando não há hierarquia entre os órgãos jurisdicionais) e vertical (quando há
hierarquia entre os órgãos jurisdicionais).

3. Competência absoluta e relativa


3.1. Quanto à natureza do interesse
Absoluta é a competência que tem origem em norma constitucional, tendo como seu
fundamento o interesse público na correta e adequada distribuição de Justiça. Sendo o
interesse público que determina a criação dessa regra de competência, ela é indisponível às
partes e se impõe com força cogente ao juiz. Logo, não admite modificações, cuidando-se de
uma competência improrrogável, imodificável.
CPC/2015 – art. 62: a competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da
função é inderrogável por convenção das partes.
São competências absolutas: em razão da matéria; prerrogativa de função; competência
funcional.

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Assim, se uma sentença foi prolatada por juiz absolutamente incompetente, ela estará
eivada de nulidade absoluta, dependendo de pronunciamento judicial para ser desconstituída.
Ademais, o STJ entende que em sede penal, atribui-se a plena eficácia à coisa julgada, ainda
quando produzida em juízo incompetente, ou mesmo à que falte jurisdição. Portanto, é
necessária uma nova decisão declarando a nulidade da sentença prolatada por juiz
absolutamente incompetente.
Características:
a) Pode ser arguida a qualquer momento, enquanto não houver o trânsito em julgado
da decisão. Em se tratando de sentença condenatória ou absolutória imprópria, as
nulidades absolutas podem ser arguidas mesmo após o trânsito em julgado (STJ).
Ainda, convém mencionar que se um juiz absolutamente incompetente absolve um
réu, não poderá haver nova sentença condenando-o. A nulidade só pode ser
declarada pro reo, e nunca contra o réu (Convenção Americana de Direitos
Humanos).

b) O prejuízo é presumido, pois viola a própria Constituição. Há de se ressaltar que os


Tribunais, até em caso de nulidade absoluta, vêm exigindo a demonstração de
prejuízo para o réu (pás de nullité sans grief).

c) Deve ser arguida de ofício pelo juiz.

7 Relativa é a competência fixada pelas regras infraconstitucionais, que atendem aos


interesses preponderantemente privados, seja para facilitar ao autor o acesso ao Judiciário,
seja para propiciar ao réu melhores oportunidades de defesa.
Diferentemente do que ocorre no processo civil (com exceção de contratos regidos pelo
CDC), aqui o juiz pode declará-la de ofício (ele pode, não é dever). Entretanto, não arguida
nem pelo juiz e nem pelas partes, ela admite prorrogação, passando o juiz relativamente
incompetente a ser competente para o feito. Aqui, eventual nulidade será relativa, devendo
haver a comprovação do prejuízo e ser arguida no primeiro momento em que couber falar.
São competências relativas: territorial; prevenção; distribuição; conexão; continência.
3.2. Da arguição da incompetência
A exceção de incompetência deve ser proposta no prazo de defesa (art. 108), ou seja, no
prazo de 10 (dez) dias, podendo veicular tanto competência absoluta quanto a relativa. Aqui,
as exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o
andamento da ação penal (art. 111).
Ademais, o fato de o juiz poder reconhecer de ofício a incompetência absoluta ou
relativa não retira a possibilidade da parte alegar isso em matéria preliminar, no bojo da
resposta à acusação.
Ainda, o juiz pode reconhecer de ofício sua incompetência absoluta ou relativa a
qualquer momento antes de prolatada a sentença. Após isso, não pode o juiz alterar a
sentença nem mesmo para reconhecer sua incompetência, cabendo à parte a alegação em
âmbito recursal.
Reconhecida a incompetência absoluta ou relativa, o juiz que receber os autos não está
obrigado a acatar a decisão judicial anterior, devendo ratificar as decisões anteriores ou

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prolatar novas decisões; ou, ainda, se achar que também não é competente, poderá suscitar
conflito negativo de competência.
Ainda, caso o juiz decline de ofício de sua competência, ambas as partes estão
legitimadas a recorrer, através de recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, II, CPP.
Lado outro, se o MP acha que o Juiz Estadual é incompetente, não ofertando denúncia,
e o juiz acredita ser competente, ocorre o se chama de arquivamento indireto, de modo que o
Juiz deverá remeter os autos ao PGJ para verificar se se trata de caso de nomear outro
Promotor ou confirmar a incompetência do MP estadual, requerendo a remessa à Justiça
Federal.
No caso de incompetência absoluta, é cabível ainda, mesmo após o trânsito em julgado,
a revisão criminal.
3.3. Reconhecimento da incompetência em 2ª instância
É plenamente possível que o Tribunal declare a incompetência absoluta ou relativa do
Juízo para o feito, lembrando que a arguição deve ter sido feita em 1ª instância, sob pena de
preclusão. Cuida-se da regra do tantum devolutum quantum apellatum. Se as partes se
insurgiram quanto a competência em apelação, o Tribunal pode analisar o pedido.
Mas o Tribunal pode reconhecer ex officio a incompetência absoluta ao apreciar
determinado recurso??? Segundo a Súmula 160 do STF, só se for a favor do réu, pois é nula
decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício. Assim, se a sentença for absolutória, não pode
8 reconhecer a nulidade da sentença de ofício. Se for condenatória, pode. Mas lembre-se:
NUNCA PODERÁ HAVER reformatio in pejus, ainda que no Juízo competente. Ele estará adstrito
à pena da primeira sentença, não podendo ser maior.
É mister salientar que, se o tribunal reconhece a nulidade do feito em razão da
incompetência absoluta do juízo, não há se falar em interrupção da prescrição pelo
recebimento da denúncia. A denúncia só interrompe a prescrição quando recebida por juiz
competente.
Ainda, lembrem-se que a incompetência absoluta é causa ensejadora de revisão
criminal, podendo ser arguida após o trânsito em julgado pela revisão.
3.4. Consequências do reconhecimento da incompetência absoluta e
relativa
Segundo dispõe o art. 567 do CPP, a incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz
competente. Assim, os atos são nulos, devendo ser esta nulidade ser declarada, ocasião em
que, somente aí, não terá mais efeitos.
Sob tal assunto, o STF e o STJ entendem que, reconhecida a incompetência absoluta,
hão de ser declarados nulos apenas os atos decisórios proferidos pelo juízo incompetente,
deixando a cargo do juízo competente a decisão quanto á anulação, ou não, dos demais atos
do processo.
Ademais, o STF admite a possibilidade de ratificação pelo juízo competente, inclusive
quanto aos atos decisórios. Tanto a denúncia quanto o seu recebimento são ratificáveis no
juízo incompetente.
O MP também não precisa oferecer nova denúncia, bastando ratificá-la ou aditá-la.
Lembrando que, segundo o STF, não havendo a ratificação, o aditamento ou o oferecimento
de nova denúncia, não há denúncia, logo, não há processo.
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 Competência Criminal
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Lembrem-se, porque cai em prova: O recebimento da denúncia/queixa por juízo


absolutamente incompetente não tem o condão de interromper o curso do prazo
prescricional, o que se dará tão somente quando houver o novo recebimento ou ratificação
pelo juízo competente (STF).
3.5. A coisa julgada nos casos de incompetência absoluta e relativa
No caso de juízo relativamente incompetente, o trânsito em julgado está
perfectibilizado, pois houve a prorrogação da competência pela não arguição das partes em
tempo oportuno ou pela não manifestação de ofício do juiz. Não cabe, portanto, habeas
corpus nem revisão criminal.
Lado outro, caso a o trânsito em julgado tenha ocorrido por ocasião de sentença
proferida por juiz absolutamente incompetente, devemos fazer a seguinte análise:
a) Se absolutória ou extintiva da punibilidade: é capaz de transitar em julgado e
produzir seus efeitos, impedindo que o acusado seja novamente processado pela
mesma imputação perante a justiça competente. A decisão é nula, porém o
ordenamento não admite revisão criminal prejudicial ao réu (pro societate). Assim,
não será possível que o acusado seja processado novamente perante o juízo
competente, em razão do ne bis in idem.
b) Se condenatória ou absolutória imprópria: enquanto essa nulidade absoluta não for
declarada, a sentença produz efeitos regulares. A desconstituição da coisa julgada
dependerá de ajuizamento de revisão criminal ou da interposição de habeas corpus.
Lembrem-se que, neste caso, em eventual condenação pelo juiz competente, o teto
9 da pena máxima será a condenação da primeira sentença, por proibição de
reformatio in pejus.

4. Fixação da competência criminal


Competência é o poder conferido (pela Constituição ou pela lei) a cada juiz para
conhecer e julgar determinados litígios. Em outras palavras, competência é a medida, é o
limite, da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional pode dizer o direito. Todos os juízes
devidamente investidos no cargo contam com jurisdição. Mas só podem dirimir os conflitos
dentro da sua respectiva competência. Em resumo: constitui um limite da jurisdição.
No que toca a sua fixação, é necessário percorrer um caminho para a sua definição,
parando-se na fase em que a competência estiver determinada ou prosseguindo-se até que
seja devidamente fixada.
GUIA PRÁTICO DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA:
1) Qual a jurisdição competente? (Competência internacional ou nacional)
2) Se nacional, qual é a jurisdição interna competente? (Justiça especial ou justiça
comum)
3) Qual é o órgão jurisdicional hierarquicamente competente? (1ª instância ou
tribunal)
4) Qual é o foro territorialmente competente? (Lugar da infração ou do domicílio
do réu)
5) Qual é o juízo competente? (Vara comum ou vara do tribunal do júri)
6) Qual é o juiz competente? (Competência interna determinada pela lei de
organização
7) Qual o órgão competente para julgar eventual recurso?
* A Competência do Tribunal Penal Internacional (TPI) é subsidiária.

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 Competência Criminal
 Apostila 04

5. Competência Internacional
Conforme visto acima, antes da fixação da competência surge a indagação sobre a
jurisdição competente: interna ou externa. Essas normas são fixadas pelos próprios Estados.
No ordenamento brasileiro, a competência internacional encontra-se definida nas regras de
territorialidade e extraterritorialidade fixadas nos artigos 5° ao 7° do Código Penal.
A territorialidade dispõe que é competente a autoridade judiciária brasileira para o
processo e julgamento dos crimes cometidos no território nacional (CP, art. 5°, caput). O
território compreende o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma
continental e o espaço aéreo acima de seu território e de seu mar territorial.
No âmbito do direito penal, conforme preleciona o §1° do art. 5°, é considerado como
extensão do território (e não território propriamente dito), as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar. A mesma extensão ocorre em relação aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em voo no espaço aero correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil (CP, art. 5°, § 2°). Atenção: em direito internacional o Portela ressalta que
esses locais não são considerados territórios, mas tão somente extensão territorial e que há
alcance da jurisdição estatal neles.
Assim, se uma fase do iter criminis ocorreu em qualquer destes lugares, em razão da
10 teoria da ubiquidade, haverá Jurisdição Brasileira, tratando-se de crimes que ocorram em mais
de um Estado. (CP, art. 6°). Atenção: esse critério é diferente do adotado para definir a
competência territorial interna, que está pautado pelo local do resultado, conforme
determina o Código de Processo Penal.
Há ainda as regras de extraterritorialidade, que são os crimes que, embora cometidos no
exterior, serão julgados no Brasil. Estão no artigo 7° do Código Penal, sendo que esta
extraterritorialidade pode ser condicionada a determinadas condições ou incondicionada (ver
aula 01 de Penal).
Sobre os crimes cometidos inteiramente no exterior e julgados no Brasil, a competência
será da Justiça Comum Estadual, haja vista a inexistência de qualquer hipótese que atraia a
competência da Justiça Federal (CF, art. 109) (Essa é a posição do STF). Assim, o simples fato
de um crime ter sido praticado no exterior não desloca a competência para a Justiça Federal
(STF). Mas atenção, o STJ entende diferente. Saibam da divergência para provas subjetivas:
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa
sobre crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição (brasileiro nato), aplicável o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC
154656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
Segue tema do Dizer o Direito:
Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja
extradição tenha sido negada?
• STF: Justiça Estadual
• STJ: Justiça Federal

O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a
competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual
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 Competência Criminal
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julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em
razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição
para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso
se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE
1175638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).

Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que


versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida para a
jurisdição brasileira, por negativa de extradição. STJ. 3ª Seção. CC 154656-MG,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625). STJ. 6ª Turma. RHC
88.432/AP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/02/2019.
Ratio decidendi: a União possui compromissos internacionais com a apuração
criminal (persecutio criminis) em caso de delitos praticados por brasileiro no
exterior e no qual este infrator esteja agora no Brasil e não possa ser extraditado,
devendo responder em nosso país pelo crime cometido lá fora. Há, portanto,
interesse da União, que justifica a competência da Justiça Federal, nos termos do
art. 109, IV, da CF/88.

6. Tribunal Penal Internacional


Aprovado em 1998 na Conferência Diplomática de Plenipotenciários das Nações Unidas,
o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional é um tratado que constitui um tribunal
internacional com jurisdição criminal permanente sobre as pessoas responsáveis pelos crimes
11 de maior gravidade com alcance internacional, dotado de personalidade jurídica própria, com
sede na Haia (Holanda).
O Governo Brasileiro assinou o tratado internacional em 7 de fevereiro de 2000,
aprovado pelo Congresso Nacional em 2002 e promulgado pelo Presidente da República no
mesmo ano. O tratado entrou em vigor no âmbito internacional em 2002, quando obteve o
número mínimo de assinaturas. Em 2004, através da Emenda Constitucional n° 45, o Brasil
reconhece formalmente a jurisdição do TPI, acrescendo o §4° no artigo 5° da CF, segundo o
qual “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão. ”
Conforme dispõe o Decreto n° 4.388/02, “O Tribunal Penal Internacional será
complementar às jurisdições penais nacionais, sendo chamado a intervir somente quando
justiça repressiva interna não funcionar. Trata-se do princípio da complementariedade do TPI.
Sobre a competência do TPI, dispõe o art. 5° do Estatuto que está restrita aos crimes
mais graves, que afetem a comunidade internacional no seu conjunto. Sua competência de
julgamento restringe aos seguintes crimes:
a) Crimes de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) Crimes de agressão;
É importante mencionar que o Estatuto de Roma submete à sua jurisdição qualquer
pessoa que haja incidido na prática de crimes de genocídio, de guerra, contra a humanidade
ou de agressão, independentemente de sua qualidade oficial (art. 27). Trata-se de uma regra
que visa evitar um “escudo” pelos Governantes, mitigando a soberania estatal.
Do ponto de vista da imputabilidade, o TPI não alcança pessoas menores de 18 anos.

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Quando algum brasileiro tiver cometido algum crime desses, não haverá o fenômeno da
extradição (entrega de uma pessoa por um Estado a outro), mas sim a entrega ao TPI, que é
chamado pela doutrina como surrender ou remise.
Observação: esta matéria será profundamente estudada em Direito Internacional,
motivo pelo qual agora só fiz um breve introito.

7. Competência em razão da matéria


Pois bem. De início, estabelecida a jurisdição, cabe-nos verificar qual será a Justiça
competente para analisar o crime em razão da matéria. A doutrina de Renato Brasileiro é um
tanto quanto extensa nessa parte, aprofundando-se em muito nos crimes militares. Assim, não
veremos crimes militares, porquanto não são de nossa alçada. Foco no que é importante.
7.1. Competência criminal da Justiça Estadual
Funcionam como órgãos da Justiça Estadual o Juiz de Direito, o Tribunal de Justiça e o
Tribunal do Júri, bem como os Juizados Especiais e suas respectivas Turmas Recursais.
A competência da Justiça Estadual é residual ou subsidiária, ou seja, as infrações penais
que não pertençam à esfera da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral ou da Justiça Federal,
deverão ser processadas e julgadas perante a Justiça Estadual.

7.2. Competência criminal da Justiça Federal


12 Conforme dispõe o artigo 106 da Constituição Federal, são órgãos da Justiça Federal: os
Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais. Entretanto, há ainda os Juizados Especiais
Federais, as Turmas Recursais Federais e o Tribunal de Júri Federal.
O Conselho da Justiça Federal não é um órgão da Justiça Federal, mas sim um órgão
administrativo do Superior Tribunal de Justiça, competindo-lhe a supervisão administrativa e
orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e
com poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante (CF, art. 105, parágrafo
único, II).
A Justiça Federal é dividida em cinco regiões, sendo que cada região contém um Tribunal
Regional Federal. Dentro das regiões, há os Estados. Cada Estado da federação e o Distrito
Federal é considerado como uma Seção Judiciária, que são subdivididas em Subseções
Judiciárias. As Subseções Judiciárias são consideradas como grandes comarcas, compostas por
várias comarcas e municípios.
De início vocês têm que ter em mente uma coisa básica muito IMPORTANTE, que as
pessoas costumam errar. As atribuições investigatórias da Polícia Federal são mais amplas que
a competência criminal da Justiça Federal, porque a PF pode investigar crimes de repercussão
interestadual. Assim, não é necessariamente da competência federal tudo aquilo que a PF
investiga (art. 144, §1°, inciso I e Lei 10.446). Logo, a PF pode investigar crimes que serão de
competência da Justiça Estadual, mas só o faz em razão de mandamento constitucional e legal.
Tem apostila sobre isso, especificamente sobre a lei da PF, lá no site ok? Procurem em
Legislação Extravagante.
Passemos à análise das matérias que são de competência da Justiça Federal. Depois do
introito, vou colacionar muita jurisprudência sobre os crimes de competência da Justiça
Federal, ok?

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7.2.1. Artigo 109, inciso IV: crimes políticos e contra a União e sua
administração indireta
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

7.2.1.1. Crimes Políticos


Os crimes políticos estão previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei n° 7.170/83), e
caracteriza-se pela lesão ou exposição a perigo de lesão: a) da integridade territorial e da
soberania nacional; b) do regime representativo e democrático, da Federação e do Estado de
Direito; c) da pessoa dos Chefes dos Poderes da União.
Estes crimes são especiais, porquanto exigem um elemento subjetivo do tipo: dolo
específico de motivação política e objetivos do agente. Assim, para a caracterização do crime
político, é imprescindível a presença de motivação política e a lesão real ou potencial aos
bens juridicamente tutelados. Isto porque o Código Penal, o Código Penal Militar e a
legislação especial preveem delitos parecidos com este (“Matar o Presidente da República, o
do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal”).
Observação importante é que na hipótese de julgamento de crime político por Juiz
Federal, não cabe recurso de apelação contra eventual sentença absolutória para o Tribunal
Regional Federal. O recurso cabível é o ordinário constitucional, de competência do Supremo
13 Tribunal Federal, que nesse caso funcionará como segunda e última instância, a teor do artigo
102, inciso II, “b”, da constituição Federal.

7.2.1.2. Crimes contra a União


Aqui estamos falando da administração direta de qualquer dos Poderes, ok? Quando
um crime é praticado em detrimento de órgão que integra a União, seja ele pertencente à
estrutura do Executivo, Legislativo ou do Judiciário, a competência será da Justiça Federal.
Assim, no caso de furto de televisores do prédio no Palácio do Planalto, a competência será da
Justiça Federal, pois houve uma lesão aos bens da União.
Há que se ressaltar que, para fins da competência da Justiça Federal com base no art.
109, IV, da Constituição Federal, essa lesão a bens, serviços e interesses da União deve ser
direta, e não reflexa. Assim, compete à Justiça Estadual a tentativa fraudulenta de saque de
precatório federal creditado em favor de particular em agência do Banco do Brasil. Isso porque
embora tenha sido tentado resgatar um precatório federal, não há lesão aos bens, serviços ou
interesse da União. Eventual prejuízo seria do particular. Ainda que o prejuízo fosse contra o
Banco do Brasil, a competência seria da Justiça Estadual, pois sociedade de economia mista
não faz parte do rol de competência da Justiça Federal, a teor da Súmula 42 do STJ: Compete a
justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que e parte sociedade de
economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar tentativa de
estelionato (art. 171, caput, c/c o art. 14, II, do CP) consistente em tentar receber,
mediante fraude, em agência do Banco do Brasil, valores relativos a precatório federal
creditado em favor de particular. STJ. 3ª Seção. CC 133187-DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 14/10/2015 (Info 571).

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7.2.1.3. Crimes contra autarquias federais


Não vou entrar no conceito de autarquia aqui, ok? Mas sabe-se que sua personalidade é
independente da União, tratando-se de ente descentralizado encarregado de serviços de
interesse público. Vide a aula de organização administrativa, em direito administrativo, que
está no site.
A fim de que seja fixada a competência da Justiça Federal, é indispensável que a conduta
delituosa resulte prejuízo direto a bens, serviços ou interesses da autarquia federal. Assim,
compete à Justiça Comum Estadual julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação
das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não corrente lesão à
autarquia federal (súmula n° 107 do STJ). Assim, resta ausente o prejuízo a bens, serviços e
interesses da autarquia federal, descartando a hipótese de competência da Justiça Federal.

7.2.1.4. Crimes contra empresas públicas federais


São as pessoas jurídicas de direito privado que fazem parte da administração indireta da
União, para que o Governo exerça suas atividades gerais de caráter econômico ou, em certas
situações, execute prestação de serviços públicos.
Ex: Caixa, Correios, BNDES, Casa da Moeda.
Importante levar em consideração alguns julgados:
Roubo em casa lotérica não é de competência da Justiça Federal, pois é uma pessoa
jurídica de direito privado permissionária de serviço público, não havendo infração penal
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, autarquias federais e
14 empresas públicas federais. STJ. 6ª Turma. RHC 59502/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 25/08/2015. STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 137550/SP, Rel. Min. Ericson
Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 08/04/2015.
O mesmo se pode dizer de crimes praticados em agências franqueadas do correio, que
são espécies de franquias do correio. É meramente privado. O serviço não é prestado
diretamente pela empresa pública.
Ainda, compete à Justiça Estadual crime cometido mediante apresentação de
documento falso em agência do Banco do Brasil localizada nas dependências de agência do
Correio que funcione como banco postal. A lesão supostamente perpetrada atingiria a
instituição financeira (BB), e não os Correios, o que não atrai a competência da Justiça Federal
por ausência de interesse da empresa pública federal (correios). STJ. 3ª Seção. CC 129804-PB,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/10/2015 (Info 572).

7.2.1.5. Crimes contra fundações públicas federais


Fundação pública federal é entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o
desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito
público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de
direção, e funcionamento custeado por recursos da União e outras fontes.
Sobre este ponto, o STF entende que fundação pública federal é espécie do gênero
autarquia federal, atraindo, portanto, a competência da Justiça Federal quando o crime
atentar contra bens, serviços e interesses da fundação federal.

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7.2.1.6. Crimes contra entidades de fiscalização profissional


Firmou-se o entendimento de que os conselhos de fiscalização profissional possuem
natureza de autarquia federal, atraindo, portanto, a competência da Justiça Federal.
Nada obstante, a lei 9.649/98 menciona tratar-se de pessoa jurídica de direito privado.
Entretanto, os serviços exercidos pelos Conselhos são atividades delegadas da União, sendo
um serviço público de interesse direto da União, tanto que a referida lei manteve a Justiça
Federal para apreciar as controvérsias que envolvam os conselhos de fiscalização.
Assim, em que pese a personalidade jurídica seja de direito privado, os Tribunais
Superiores entendem que, em área criminal, a Justiça Federal é competente para apreciar e
julgar os crimes praticados em detrimento de Conselhos Regionais de Fiscalização de
Profissões.
Nesse sentido, o STF, quando do julgamento da ADI 1.717, reconheceu a natureza
autárquica federal dos Conselhos de Fiscalização Profissional, suspendendo, assim, a execução
e aplicabilidade do artigo 58 da Lei 9.649/98, em razão destas entidades serem dotadas de
poder de polícia, poder de tributar e de punir.

7.2.1.7. Crimes contra a OAB


No julgamento da ADI 3026, o STF manifestou o entendimento segundo o qual a OAB
não se poderia ser considerada uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem
seria um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas
existentes no direito brasileiro, não estando incluída na categoria de “autarquias especiais”.
15 Assim, não sendo uma entidade da Administração Indireta, a OAB não estaria sujeita ao
controle da Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Destarte, a OAB,
cujas características são autonomia e independência, não pode ser tida como congênere dos
demais órgãos de fiscalização.
Neste sentido, a OAB exerce função constitucionalmente privilegiada, sendo
indispensável à administração da Justiça, de maneira que o STF entende pela competência da
Justiça Federal quando a OAB figurar lesada ou como polo de alguma ação. Assim, havendo
crime contra bens, serviços ou interesses da OAB, a Justiça Federal será competente.

7.2.1.8. Crimes contra sociedade de economia mista, concessionárias e


permissionárias de serviço público
Aqui tem o #bizu que muita gente se confunde e acaba errando.
O artigo 109, IV, da CF, não inclui sociedade de economia mista federal. Assim, infrações
penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse de sociedade de economia
mista não serão julgadas pela Justiça Federal.
Assim, nos termos do Súmula n° 42 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar
e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados
em seu detrimento. Na mesma linha, dispõe a Súmula n° 556 do STF: É competente a Justiça
Comum para julgar as causas em que é parte a sociedade de economia mista.
Também são de competência da Justiça Estadual os crimes cometidos contra
concessionárias e permissionárias de serviço público federal (ex: concessionária de rodovia
federal), salvo se resultar lesão a bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas.
Entretanto, atentem-se: se o delito cometido contra a sociedade de economia mista
estiver relacionado a serviços por concessão, autorização ou delegação da União, ou se houver
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indícios de desvio das verbas federais por ela recebidas e sujeitas à prestação de contas
perante o órgão federal, não há como se afastar a competência da Justiça Federal.

7.2.1.9. “Bens, serviços ou interesse da União, das autarquias federais


(fundações federais) e das empresas públicas
A Justiça Federal tem uma pedra de toque da sua competência, composta pela trilogia
bens, serviços ou interesses, uma vez que é indispensável que o crime afete, diretamente, pelo
menos um destes valores jurídicos.
7.2.1.9.1. Bens
Por bens, deve-se compreender o seu respectivo patrimônio, cuja identificação é
possível por ser necessariamente objeto de registro e cadastramento particularizado perante a
própria União. Assim, o bem deve ser da União propriamente dita, não podendo ser atingida
de maneira reflexa.
Julgados sobre bens da União e competência criminal:
STJ: compete à Justiça Estadual invasão de fazenda, de propriedade do Presidente da
República, pelo MST.
STJ: (1)compete à Justiça Estadual julgar o crime de estelionato e falsificação de
documento particular em detrimento de consulado estrangeiro, sem prejuízo para União. O
fato de competir à União a manutenção de relações diplomáticas com os Estados estrangeiros
16 não tem o condão de atrair a competência da Justiça Federal. (2) Lado outro, a competência
para julgamento de feitos que tratam sobre crimes contra repartições consulares é da Justiça
Federal, uma vez que há interesse da União em proteger as embaixadas. #divergência, ok?
Atentem-se.
STJ: crimes contra o MPDFT é de competência da Justiça Estadual, pois pertencem à
estrutura do DF, embora seja organizado e mantido pela União.
STJ: em caso de crimes contra bens tombados pelo IPHAN, há interesse do patrimônio
histórico nacional, havendo inequívoco interesse da União e a consequente competência da
Justiça Federal.
STF: Desvio de verbas públicas oriundas de convênios firmados pela União com
municípios. Há duas soluções aqui:
1ª Solução: se a verba já estiver incorporada ao patrimônio municipal, a competência
será da Justiça Estadual, porquanto não haveria ofensa a interesse federal.
Súmula 209-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
2ª Solução: se a verba estiver sujeita à prestação de contas perante o órgão federal
(TCU), a competência será da Justiça Federal.
Súmula n° 208-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal.
STJ: desvio de verbas do FUNDEF deve ser processado e julgado pela Justiça Federal,
pois cabe à União aplicar, anualmente, nunca menos de 18% e os Estados, DF e os
Municípios nunca menos de 25%, da receita resultantes de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Este
interesse da União frente à sua missão constitucional na coordenação de ações relativas
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ao direito fundamental da educação acaba por atrair o controle do TCU, fixando a


competência da Justiça Federal para julgar a malversação de verbas decorrentes do
FUNDEF, ainda que não haja complementação por parte da União. #ATENÇÃO: para
fins de ressarcir em improbidade administrativa a regra é diferente. Só será de
competência da Justiça Federal a ação de improbidade se houver complementação por
parte do FUNDEF. Não havendo, a ação de improbidade será proposta pelo MPE, na
Justiça Estadual.
STJ: compete à Justiça Federal julgar desvio de verbas originárias do Sistema Único de
Saúde (SUS), independentemente de se tratar de valores repassados aos Estados ou
Municípios por meio da modalidade de transferência “fundo a fundo” ou mediante
realização de convênio. Isso porque há interesse da União na regularidade do repasse e
na correta aplicação desses recursos, que, conforme o art. 33, §4° da Lei 8.080/90, estão
sujeitos à fiscalização federal. Ademais, o fato de os entes terem autonomia para
gerenciar a verba destinada ao SUS não elite a prestação de contas ao TCU, tampouco
exclui o interesse da União.
7.2.1.9.2. Serviços e interesse
A expressão “serviços” está relacionada à finalidade da União, de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, ou seja, ao serviço público prestado pela respectiva
entidade federal.
“Interesse” abarca aquilo que está ligado ao ente federal, aquilo que lhe diz respeito.
Para que a competência seja da Justiça Federal, o interesse da União, autarquia e empresa

17 pública tem que ser particular, concreto, específico e direto. Se o interesse for meramente
genérico ou remoto, a competência será da Justiça Estadual. Isso é importante porque, em
regra, a União sempre terá um interesse reflexo, mediato.
Assim, em caso de contrabando ou descaminho, justifica-se a competência da Justiça
Federal para processar e julgar o feito, haja vista o interesse direto da União em coibir a
importação ou exportação de mercadoria proibida, ou a ilusão, no todo ou em parte, do
pagamento de direito ou imposto devido á União pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria. Sobre esse tema, recentemente a 3ª Seção pacificou que “Compete à Justiça
Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes
indícios de transnacionalidade na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635). ”
STJ: compete à Justiça Estadual o julgamento de ação penal em que se apure crime de
esbulho possessório efetuado em terra de propriedade do INCRA na hipótese em que a
conduta delitiva não tenha representado ameaça à titularidade do imóvel e em que os únicos
prejudicados tenham sido aqueles que tiveram suas residências invadidas.
Exemplos de serviços ou interesses da União que justificam a competência da Justiça
Federal:
a) Emitir moeda: compete à Justiça Federal julgar o crime de moeda falsa. Lembrem-
se: só há crime de moeda falsa e a falsificação tiver imitatio veri, ou seja, a
possibilidade de enganar alguém. Se a falsificação for grosseira, o crime será
estelionato, de competência da Justiça Estadual. Nessa linha, Súmula 73 do STJ: a
utilização de papel moeda grosseiramente falsificado, configura, em tese, o crime de
estelionato, de competência da Justiça Estadual. Ainda, se a moeda falsificada for
estrangeira, atinge o Banco Central do Brasil, atraindo a competência da Justiça
Federal.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
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b) Manter o serviço postal e o correio aéreo nacional: assim, o réu, valendo-se de suas
funções de carteiro, que se apropriou indevidamente de bens e valores confiados ao
serviço postal, será julgado pela Justiça Federal.
c) Explorar serviços de telecomunicações: compete à Justiça Federal processar e julgar
o delito de desenvolvimento clandestino de telecomunicações, bem como
transmissão de internet via rádio, de forma clandestina. Todavia, a simples utilização
de linhas telefônicas clonadas não configura o delito de desenvolvimento
clandestino de telecomunicações. Compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do
compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio
de serviços de cardsharing.

7.2.1.10. Crimes previstos no estatuto do desarmamento


Com o Estatuto do Desarmamento, foi criado o Sistema Nacional de Armas (SINARM), no
âmbito do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, com circunscrição em todo o território
nacional. Ao SINARM compete identificar características e propriedades de armas de fogo,
mediante cadastro, dentre outras diversas atribuições.
Assim, aparentemente todos os delitos envolvendo arma de fogo seriam de
competência da Justiça Federal, uma vez que afetariam interesses de órgãos pertencentes à
estrutura da União. No entanto, o bem jurídico tutelado pelo Estatuto do Desarmamento não
é o regular funcionamento ou atuação da Administração Pública Federal, mas sim a
incolumidade pública, ou seja, a vida, saúde, patrimônio dos cidadãos, preservação do estado
18 de segurança. Assim, o simples fato de se tratar de porte de arma de fogo, não evidencia, por
si só, a competência da Justiça Federal.
A regra é que os crimes envolvendo o Estatuto do Desarmamento seja da Justiça
Estadual, ainda que a arma de fogo seja de uso restrito ou privativo, pois não se vislumbra
nenhum interesse direto da União capaz de despertar a competência da Justiça Federal, salvo
na hipótese de tráfico internacional de armas, hipótese em que será de competência da
Justiça Federal, nos exatos termos do artigo 109, V, da Constituição Federal, uma vez que o
crime está previsto em tratado internacional o qual o Brasil assumiu o compromisso de
reprimir, bem como deverá haver internacionalidade na conduta delituosa.

7.2.1.11. Crimes contra a Justiça Federal, do Trabalho, Eleitoral e Militar


da União
Estes organismos são integrantes da pessoa jurídica de direito público interno que é a
União, como partes do Poder Judiciário da União. Portanto, eventual delito contra elas
praticado é cometido, em última análise, em detrimento do serviço jurisdicional da União,
justificando a competência da Justiça Federal com base no art. 109, inciso IV, da CF. Ex: usar
documento falso em processo; crime praticado contra Juiz Eleitoral, uma vez que a Justiça
Eleitoral só julga crimes estritamente eleitorais; falso testemunho na Justiça do Trabalho (e
todas as outras Justiças da União)(Súmula STJ 165); falsificação de documento perante a
Justiça do Trabalho (Súmula TFR 200); patrocínio infiel em reclamatória trabalhista, pois o bem
jurídico tutelado é a Administração da Justiça da União.

7.2.1.12. Crime praticado contra o funcionário público federal


Quando no exercício de sua função, o crime praticado contra o funcionário público
federal será de competência da Justiça Federal. O extinto TFR editou a súmula n° 98, dispondo
que compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra servidor público

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 Processo Penal
 Competência Criminal
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federal, no exercício de suas funções com estas relacionados. O STJ, no mesmo sentido, editou
a súmula 147: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Assim, a mera condição de servidor público é insuficiente para atrair a competência da
Justiça Federal, sendo imprescindível que o delito cometido tenha relação com a função
exercida pelo funcionário público federal (propter officium). Assim, eventual crime de roubo
praticado contra carteiro da ECT no exercício de sua função atrai a competência da Justiça
Federal, pouco importando que os bens subtraídos pertençam a particulares (STJ).
Ainda, não só quando a vítima for funcionário público federal existirá a competência da
União. Em um caso concreto, houve um homicídio praticado por quadrilha com o intuito de
impedir investigações desenvolvidas pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana,
órgão do Ministério da Justiça, ocasião em que o STJ entendeu que a infração teria maculado
serviços e interesses da União, fixando a competência na Justiça Federal (STJ).
Ainda, recai sobre a Justiça Federal a competência para processar e julgar o crime de
latrocínio no qual tenha havido troca de tiros com policiais rodoviários federais, embora não
estivessem em serviço de patrulhamento ostensivo, foram obrigados a agir para reprimir
assalto a instituição bancária privada. Isso porque o CPP dispõe, no artigo 301, o dever das
autoridades policiais agirem para reprimir a prática criminosa, de modo que eles agiram no
exercício de suas funções, atraindo a competência da Justiça Federal. Aplicabilidade da súmula
147 do STJ.
Se a autoridade for estadual, mas investida na qualidade de autoridade federal por
19 delegação, a competência também será da Justiça Federal. Ex: juiz estadual na função de juiz
eleitoral.
STJ: Juiz Estadual que ordene a reintegração de posse supostamente cometida por
funcionário público federal do INCRA e deixe de cumprir, responderá por crime de
desobediência na Justiça Federal, uma vez que, no caso em concreto, o agente se valeu da sua
condição de servidor do INCRA para dar credibilidade às suas ações, restando patente o
interesse da União na causa.
STJ: crimes cometidos contra magistrados e servidores do TJDFT serão de competência
da Justiça do Distrito Federal, não se aplicando a súmula 147 do STJ, ainda que o Poder
Judiciário do Distrito Federal seja mantido pela União. Ainda, O MPDFT, embora organizado e
mantido pela União, não é órgão federal. Isso porque o MPDFT faz parte da estrutura orgânica
do DF, entidade política equiparada aos estados-membros (art. 32, § 1º, da CF).
Entrentanto, é importante termos em mente a observação abaixo do Dizer o Direito:
O STJ e o STF, contudo, não mantêm nenhuma coerência quanto a este tema, causando
certas confusões e equívocos, exceto para você que já vai estar alertado sobre isso. Vejamos:

SITUAÇÃO QUEM JULGA


Crime praticado contra o MPDFT Justiça do Distrito Federal
(STJ. CC 122.369-DF)
Crime praticado contra membro Justiça do Distrito Federal
do MPDFT no exercício de suas funções.
(STJ. CC 119.484-DF)
Crime praticado por Promotor de Justiça Justiça Federal (TRF da 1ª Região)

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do MPDFT. (STJ. REsp 336857-DF)


HC contra ato de membro do MPDFT. Justiça Federal (TRF da 1ª Região)
(STJ. HC 67416-DF e STF. RE 418852-DF)
MS contra ato do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal (TJDFT)
Justiça do MPDFT.
(STJ. REsp 1236801-DF)
(obs: neste julgado o Relator afirma que o
PGJ-MPDFT é autoridade federal, mas que,
por força de lei, será competente o TJDFT)
MS contra ato do chefe do MPDFT no TRF da 1º Região
exercício de atividade submetida à
(STJ REsp 1.303.154-DF, Info 587).
jurisdição administrativa federal

#BIZUZÃO: Aberratio ictus: como a competência é sempre fixada com base em


critérios objetivos, independentemente da análise do elemento subjetivo do agente, quando
houver erro na execução, atingindo pessoa diversa da pretendida (aberratio ictus), deve ser
levada em consideração a pessoa sobre a qual recaiu a conduta para FIXAÇÃO DA
COMPETÊNCIA, independentemente da vítima virtual. Assim, se o agente queria matar um
funcionário público federal propter officium e, por erro na execução, mata um civil, a
competência será da Justiça ESTADUAL. A aberratio ictus só se aplica para fins penais,
20 aplicação da norma penal material, e não para fins de fixação de competência.
STJ: militar que imputa falsamente fato definido como crime a funcionário público
federal que se encontra em local sujeito à organização e administração militar, será julgado
pela Justiça Militar da União.

7.2.1.13. Crime praticado por funcionário público federal


Quando relacionado com o exercício da função também deve ser processado e julgado
pela Justiça Federal. O extinto TFR editou a súmula 254 sobre o tema: Compete a Justiça
Federal processar e julgar os delitos praticados por funcionário público federal, no exercício de
suas funções e com estas relacionados.
Lembrem-se: o delito deve ser cometido no exercício da função para atrair a
competência da Justiça Federal, do contrário, sem atingir serviços, bens ou interesse da União,
será da Justiça Estadual.
Assim, evidenciado o nexo funcional do crime praticado pelo funcionário público
federal, o crime será da Justiça Federal. O STJ já decidiu ser de competência da Justiça Federal
crimes praticados por Policiais Federais fora de sua função, quando estavam de farda,
distintivo da corporação e as armas, no uso de viatura oficial da DPF, praticando crimes contra
pessoas alheias à Administração.
Ainda, o sujeito ativo pode ser empregado público federal ou servidor de autarquia
federal, desde que presente o nexo funcional. Ex: funcionário da CEF que discrimina pessoa
idosa.
Crime cometido por oficial de justiça do TJDFT no exercício de suas funções é de
competência da Justiça Estadual. Ainda que o Poder Judiciário do DF seja mantido pela União,
ela deve ter o tratamento de Justiça Local. STF

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7.2.1.14. Tribunal do Júri Federal


Está disciplinado no Decreto Lei n° 253/67, e dispõe o seu artigo 4° que nos crimes de
competência da Justiça Federal, que devem ser julgados pelo Tribunal do Júri, observar-se-á o
disposto na legislação processual, cabendo a sua presidência ao juiz a que competir o
processamento da respectiva ação penal. A jurisprudência menciona que este dispositivo foi
recepcionado pela Constituição Vigente.
Assim, havendo um crime contra a vida que afete os interesses, bens ou serviços da
União, haverá a competência do Tribunal do Júri Federal. Portanto, o Tribunal do Júri Federal é
tanto para os crimes praticados contra a vida do funcionário público federal, no exercício de
sua função, quanto os crimes por ele praticado no exercício da sua função.

7.2.1.15. Crimes ambientais


#ATENÇÃO #MPF #MF #CAINAPROVA
A parte histórica aqui é grande, mas vou tentar resumir, pois é bacana ter uma base
para fundamentar algumas respostas.
A lei n° 5.197/67 determinava que os animais que vivem fora de cativeiro, constituindo a
fauna silvestre, eram de propriedade do Estado. O termo “Estado” aqui significa pessoa
jurídica de direito internacional, ou seja, a União. Assim, a fauna silvestre era bem da União,
sendo editada a Súmula 91 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
praticados contra a fauna.
Ocorre que a CF dispõe pela competência comum da União, Estados e Distrito Federal
21 preservar a fauna e flora, não havendo distinção entre os entes federados na imposição de
cuidar do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Ocorre que a Lei 9.605/98 não
reproduziu o texto da antiga Lei 5.197, tendo sido vetado uma parte do texto que passaria a
prever a competência privativa da Justiça Federal.
Disso decorreu a alteração do antigo entendimento jurisprudencial e o consequente
cancelamento da súmula 91 do STJ. Assim, a matéria ambiental é comum aos entes
federativos e, inexistindo dispositivo constitucional ou legal expresso quanto à competência
para crimes ambientais, em regra, o processamento e o julgamento dos crimes ambientais é
de competência da JUSTIÇA ESTADUAL, salvo se praticados em detrimento de bens, serviços
e interesse da União, ou de suas autarquias e empresas públicas.
Neste sentido, o fato de o IBAMA ter sido o responsável pela fiscalização de áreas e pela
expedição de autorização de desmatamento, não indica, per si, que existe interesse direto da
Autarquia, se o crime for cometido em terra particular e, principalmente, fora de Unidades de
Conservação da Natureza.
STJ: o ingresso de espécimes exóticas no País está condicionado à autorização do
IBAMA, firmando-se a competência da Justiça Federal, uma vez que há interesse da autarquia
federal. Caso envolvendo apreensão em cativeiro de animais da fauna exótica sem nenhuma
marcação ou comprovação de origem, em desacordo com a instrução normativa do IBAMA.
Exemplos de crimes ambientais e sua competência:
a) Extração ilegal de recursos minerais, do artigo 55 da Lei 9.605/98, é de competência
da Justiça Federal, ainda que perpetrado em propriedade particular, pois o bem é da
União.
b) Crime de pesca de camarão no período de defeso no mar territorial é de
competência da Justiça Federal, pois o mar territorial é bem da União.

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c) Destruir ou danificar floresta de preservação permanente, no interior de Unidade de


Conservação da União é de competência da Justiça Federal.
d) Crime ambiental cometido em propriedade particular no entorno de unidade de
conservação não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal, já que tais áreas
não se enquadram na definição de Unidade de Conservação.
e) Crime de pesca proibida em rio que faz a divisa entre dois estados: competência da
Justiça federal, eis que o rio é bem da União.
f) Manutenção em cativeiro de espécies em extinção é crime de competência da
Justiça Federal. Cabe ao IBAMA autorizar a captura de exemplares de espécies
ameaçadas de extinção destinada a programas de criação em cativeiro ou formação
de coleções científicas. Manifesto interesse do IBAMA.
g) Compete à justiça Federal o julgamento de feito que objetive à apuração de possível
extração de areia sem a devida autorização do órgão competente, quando
perpetrado em propriedade particular.
h) Compete à Justiça estadual processar e julgar o delito previsto no artigo 60 da Lei n°
9.605/98, consistente na realização de obras ou serviços potencialmente poluidores
sem licença ou autorização do órgão ambiental competente, perpetrado em terras
particulares.
i) Crimes envolvendo Organismos Geneticamente Modificados (OGMs): soja
transgênica em desacordo com a legislação vigente, é de competência da Justiça
Federal. O Governo Federal é responsável pela autorização do plantio de OGMs,
havendo interesse da União no controle e regulamentação do manejo de sementes
transgênicas. (Vide lei de OGMs)
22 j) Crime ambiental referente à parcelamento irregular de solo urbano “grilagem de
terras” em terras da União, compete à Justiça Federal. Patente interesse da União
em razão do esbulho cometido em sua terra.
k) Situações específicas que atrai competência da Justiça Federal: delito envolvendo
espécies ameaçadas de extinção, em termos oficiais; conduta envolvendo ato de
contrabando de animais silvestres, peles e couros de anfíbios ou répteis para o
exterior; introdução ilegal de espécie exótica no país; pesca predatória no mar
territorial; crime contra a fauna perpetrado em parques nacionais, reservas
ecológicas ou áreas sujeitas ao domínio eminente da Nação; além a conduta que
ultrapassa os limites de um único estado ou as fronteiras do país;
l) Crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados
de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil: a transnacionalidade do crime ambiental de exportação de
animais silvestres atinge interesse direto, específico e imediato da União, voltado à
garantia da segurança ambiental no plano internacional, em atuação conjunta com a
comunidade das nações. Competência da Justiça federal.

Ainda, não se pode confundir bem da União com Patrimônio Nacional (art. 225, §4°, CF,
LEIAM!!!). Patrimônio Nacional é o interesse do país em proteger esses bens, de modo que
podem ser de propriedade, inclusive, particular e, por isso, serão regulamentadas em lei as
possibilidades de seu uso. Portanto, não se confunde com bem da União. Assim, eventual
crime de desmatamento, por exemplo, na Floresta Amazônica, não atrai a competência da
Justiça Federal, devendo ser julgado pela Justiça Estadual.

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7.2.1.16. Crimes contra a fé pública


Trata-se dos crimes previstos no código penal que tutelam a confiança que a própria
ordem de relações sociais e sua atuação prática determinam entre os indivíduos, ou entre a
Administração Pública e os cidadãos, relativamente à emissão e circulação monetária, aos
meios simbólicos de autenticação pública, aos documentos ou à identidade e qualificação das
pessoas.
Renato Brasileiro traz quatro premissas para verificar a Justiça competente:
1) Em crime de falsificação, qualquer uma de suas modalidades será determinada
pelo ente responsável pela confecção do documento, pois haverá interesse do
órgão. Ex: moeda falsa é de interesse da União, então a competência é da Justiça
Federal.
a. Falsidade material e ideológica de documentos federais: ex: guia de
recolhimento de ITR/DARF falsificada, compete à Justiça Federal.
b. Falsificação de certidão negativa de débito do INSS, com uso para renovação
de financiamento em banco privado. É crime contra o Sistema Financeiro
Nacional, com expressa disposição de competência da Justiça Federal. É
obtenção de financiamento por meio fraudulento.
c. Falsificação de símbolos utilizados ou identificadores da Administração
pública federal: Justiça Federal, interesse da União na correta identificação
de seus agentes.
d. Falsificação e utilização de selos postais: crime contra o serviço postal,
empresa pública federal, entidade da administração pública federal.
23 Competência da Justiça Federal.
e. Crimes envolvendo falsidade de CPF: contra a Receita Federal, órgão da
União. Justiça Federal é competente.
f. Adulteração de sinal identificador de veículo mediante substituição de placa
original por outra falsa: ainda que flagrado por agentes federais, o crime é
de competência da Justiça Estadual, uma vez que a lesão é ao DETRAN
estadual, não havendo lesão direta à União.
g. Falsificação de documentos em detrimento do Serviço Regional de Aviação
Civil: Justiça Federal, já que o SERAC integra a administração direta da
União.
h. Falsificação de certidão negativa de débito previdenciário: Justiça Federal,
pouco importando se a utilidade do documento é perante particular ou
órgão público municipal ou Estadual.
i. Militar que apresenta documento falso supostamente emitido pela
Organização Militar, inclusive com assinatura falsa de seu superior, com
finalidade de obter empréstimo. É crime militar, pois utiliza-se das
instalações e meios pertencentes à Organização Militar. Competência da
Justiça Militar da União.
j. Falsificação de Carteira de Habilitação para conduzir embarcação aquática
de esporte ou recreio: STJ entende que como o documento é emitido pela
Marinha do Brasil, o interesse é da Justiça Militar da União. Já o STF entende
ser da Justiça Federal, porque a falsificação da carteira não se adequaria à
regra linear prevista no CPM. O STJ se adequou à linha do STF.
Posteriormente, o STF editou a Súmula Vinculante n° 36: Compete à Justiça
Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de
falsificação e uso de documento falso quando se tratar de falsificação da

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Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de


Amador, ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

2) Uso de documento falso, por terceiro que não tenha sido responsável pela
falsificação material. É irrelevante a natureza do documento, pois a competência é
firmada em razão da pessoa jurídica prejudicada pelo uso. Vejamos:
Nesses casos, é irrelevante a natureza do documento para determinar a competência do
Juízo. O critério a ser utilizado deve ser definido em razão da pessoa física ou jurídica ao qual o
documento foi apresentado, porquanto são estes que efetivamente sofrem os prejuízos em
seus bens ou serviços. Em razão disso, foi editada a Súmula 546 do STJ: A competência para
processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão
ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.
Aqui, não há a falsificação material por parte do agente, mas apenas o seu uso. Se o
agente falsificou materialmente e depois usou, aplica-se o entendimento majoritário de que o
responsável pela falsificação e seu uso responde tão somente pela falsificação, figurando o uso
como mero exaurimento da conduta anterior, de modo que a competência será definida pela
natureza do órgão expedidor do documento falsificado.
Assim: se o agente falsificou materialmente e utilizou, aplica-se a regra da natureza do
órgão expedidor; se o agente apenas utilizou o documento sem realizar a falsidade material,
aplica-se a regra da pessoa física ou jurídica prejudicada pelo uso (Súmula 546 STJ).

24 Exemplos:
a) Apresentação de guia de ICMS falsa perante a Receita Federal relativas a
mercadorias importadas: Justiça Federal, pois atenta contra serviços e interesses da
União.
b) Uso de CNH falsa perante agentes da PRF: Justiça Federal
c) Uso de certidão de negativa de débito de tributo federal em licitação promovida por
Sociedade de Economia Mista Estadual: Justiça Estadual.
d) Instrução de requerimento de visto em passaporte com documentos falsos: o sujeito
passivo é o Estado estrangeiro, não havendo interesse direto da União, devendo
fixar a competência da Justiça Federal. Compete à Justiça Estadual julgar o crime de
estelionato e falsificação de documento particular em detrimento de consulado
estrangeiro, sem prejuízo para União. O fato de competir à União a manutenção de
relações diplomáticas com os Estados estrangeiros não tem o condão de atrair a
competência da Justiça Federal;

3) Uso de documento falso pelo próprio autor da falsificação, configura-se um só


delito: falsificação. Nesta hipótese, o uso é considerado mero exaurimento da
falsificação anterior, constituindo post factum impunível pelo princípio da
consunção, devendo a competência ser determinada pela natureza do documento,
independentemente da pessoa física ou jurídica prejudicada pelo seu uso,
conforme já mencionado anteriormente.

4) Em se tratando de crimes de falsificação ou de uso de documento falso cometidos


como meio para a prática de um crime-fim, sendo por este absorvidos, a
competência será determinada pelo sujeito passivo do crime-fim: é a aplicação da
súmula 17 do STJ: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido.
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Neste caso, a falsificação é absorvida pelo delito-fim de estelionato em virtude do


princípio da consunção, de modo que a natureza do documento falsificado é irrelevante para
fins de determinação da competência, sendo, portanto, a competência fixada em razão do
sujeito passivo do crime fim.
STJ: o simples fato do órgão expedidor das certidões falsificadas ser federal não tem o
condão de atrair a competência da Justiça Federal, porquanto ausente prejuízo à União,
mormente se apresentadas diante de banco privado ou de ente estadual ou municipal.
Ex: falsificação de comprovante de residência para registrar o carro em um estado em
que o IPVA é mais barato: crime contra a ordem tributária em prejuízo do Estado.
Competência da Justiça Estadual.
Situação diversa: falsificação de CPF conexo com estelionato praticado contra particular.
Deixa-se de aplicar o princípio da consunção, pois a falsificação perpetrada ainda teria
potencialidade lesiva, não sendo absorvido pelo crime-fim de estelionato. Assim, o crime de
falsificação de CPF seria da Justiça Federal. Neste sentido, dispõe a Súmula 122 do STJ que
“compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de
Processo Penal”.
Súmulas a serem analisadas em razão de peculiaridades:
Súmula 31 do extinto TRF: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime
25 de falsificação ou uso de certificado de conclusão de curso de 1° e 2° graus, desde que não se
refira a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não seja de assinatura de funcionário
federal.
Súmula n° 104 do STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula n° 62 do STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa
anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada.  Esta
última súmula deve ter a atenção de vocês. Ela foi editada em 92, época em que o STJ
entendia que a falsidade em CTPS não teria condão de causar prejuízo à União, nem tampouco
às autarquias federais, por isso era da Justiça Estadual. Porém, com as normas atuais verifica-
se que a ausência de anotação em CTPS ou a falsa anotação faz com que a autarquia incorra
em erro, atraindo a competência da Justiça Federal. Entretanto, caso a falsa anotação não
tenha o condão de prejudicar a autarquia previdenciária, p. ex. para fins de ter “experiência”
em determinado emprego, a competência será da Justiça Estadual.
Sobre este assunto, a 3ª Seção do STJ entende que o agente que omite dados na CTPS,
atentando contra interesse da Autarquia Previdenciária, estará incurso nas mesmas sanções
do crime de falsificação de documento público, nos termos do art. 297, §4°, do CP, sendo a
competência da JF. Sendo o sujeito passivo desse crime o INSS, porquanto a ausência de
anotação de informações relativas ao vínculo empregatício afeta diretamente a arrecadação
de tributos, na medida em que a contribuição previdenciária é calculada com base no valor do
salário pago ao empregado, Renato Brasileiro afirma que não se pode concordar com decisões
do STJ que afirmem ser da Justiça Estadual este crime, com base na súmula 62.

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7.2.1.17. Execução penal de crimes de competência da Justiça Federal


A primeira regra é a estampada na Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das Execuções
Penais do Estado a execução da pena imposta a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou
Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
Assim, onde não houver presídio federal, os réus terão sua pena executada, quando
privativa da liberdade, pela Justiça Estadual.
Hoje temos presídios federais nas seguintes cidades: Campo Grande (MS), Catanduvas
(PR), Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e no Distrito Federal. Nestas cidades, caberá ao Juízo
Federal a competência para o processamento da execução de pena.
O STJ já decidiu que, caso um réu da Justiça Estadual, por razões específicas de
segurança, seja removido para o presídio federal, cabe à Justiça Federal decidir as questões
concernentes à execução penal.
Assim, a regra é fixada de acordo com a natureza do estabelecimento penitenciário em
que se encontra o condenado.
Por sua vez, se a pena for apenas restritiva de direito, cabe ao Juízo Federal que
sentenciou processar a execução da pena, ainda que para tanto precise expedir carta
precatória para deprecar a fiscalização das penas.
Sobre tal tema, há um recente julgado sobre a transferência de presos para presídio
federal: Permanecendo inalterados os fundamentos que justificaram a transferência de preso
para presídio federal de segurança máxima, não cabe ao Juízo federal questionar as razões do
26 Juízo estadual, sendo a renovação da permanência do apenado providência indeclinável, como
medida excepcional e adequada para resguardar a ordem pública. STJ. 3ª Seção. CC
143.634/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/02/2016
Só vai para presídio federal quando preenchidos alguns requisitos (Dizer o Direito): A lei
é muito vaga quanto a isso (art. 3º), afirmando que serão recolhidos em presídios federais
aqueles cuja medida se justifique por conta do interesse:
• da segurança pública; ou
• do próprio preso.
Segundo o art. 3º do Decreto nº 6.877/2009, para a inclusão ou transferência, o preso
deverá possuir, ao menos, uma das seguintes características:
• ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em
organização criminosa;
• ter praticado crime que coloque em risco a sua integridade física no ambiente prisional
de origem;
• estar submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado — RDD;
• ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com
violência ou grave ameaça;
• ser réu colaborador ou delator premiado, desde que essa condição represente risco à
sua integridade física no ambiente prisional de origem; ou
• estar envolvido em incidentes de fuga, de violência ou de grave indisciplina no sistema
prisional de origem.

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7.2.1.18. Contravenções Penais


Presentem atenção aqui, ok? A regra é fácil, mas tem uma exceção que pode cair na sua
prova.
A Constituição dispõe no artigo 109, inciso IV, expressa excludente da competência da
Justiça Federal para processar e julgar contravenções penais, competindo à Justiça Estadual,
nos termos da Súmula n° 38 do STJ, o processo por contravenção penal, ainda que praticado
em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas.
Mesmo que a contravenção seja conexa com crime federal, prevalece a regra constitucional,
devendo haver o desmembramento do processo, sendo inaplicável a Súmula 122 do STJ, já lida
acima.
Entretanto, prestem atenção: isso não significa dizer que a Justiça Federal jamais poderá
julgar contravenções penais. No caso de foro por prerrogativa de função, é perfeitamente
possível que uma contravenção penal praticada por um Juiz Federal seja julgada pelo Tribunal
Regional Federal.
Devemos lembrar, entretanto, que após o julgamento da AP 937, do STF, o foro
privilegiado só se aplica aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionado às
funções desempenhadas. Do contrário, o crime será julgado pela primeira instância. STF.
Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).
Nesse caso, há forte restrição ao foro dos Juízes Federais no TRF com relação às
contravenções penais, já que esse crime anão, em regra, não terá relação com o cargo do Juiz
Federal.
27
7.2.1.19. Crimes previstos na Lei Antiterrorismo (Lei n° 13.260/16)
A lei previu expressamente a competência da Justiça Federal para julgar tais crimes:
Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são
praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação
criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e
julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal.
Há quem diga que esse artigo é inconstitucional, porquanto o legislador
infraconstitucional não poderia ampliar por meio de simples lei ordinária. Isso porque a
Constituiçao sempre menciona as hipóteses em que irá julgar, como ocorre nos crimes contra
o Sistema Financeiro Nacional e a ordem econômico-financeira, em relação aos quais a
Constituição outorga a competência à Justiça Federal nos casos determinados por lei (art. 109,
VI, in fine).
Mas enquanto isso não for declarado, está valendo a norma, ok?
7.2.2. Artigo 109, inciso V: crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando iniciada a execução no País, o resultado tenha
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Tal inciso se dá em razão da União representar o Estado brasileiro no âmbito


internacional e manter relações com Estados estrangeiros (art. 21, I, CF). Se a União se
compromete com a comunidade internacional a reprimir um delito, haverá um interesse direto
em que tal crime seja reprimido quando ultrapasse as barreiras do território nacional,
notadamente porque poderá sofrer consequências no âmbito internacional se acaso houver o
descumprimento dos compromissos por ela firmados.
Pois bem.
Lendo o inciso, percebam algo: o simples fato de o (i) crime estar previsto no tratado ou
convenção não basta. É necessário mais. Além desse requisito, é necessário que o delito
possua (ii) internacionalidade, com o início da sua execução no país, e o resultado ocorrendo
ou devendo ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.
STF: compete à Justiça Estadual processar e julgar crime de incitação à discriminação
cometido via internet, quando praticado contra pessoas determinadas e que não tenha
ultrapassado as fronteiras territoriais brasileiras (HC 121283).
STJ: crime de tortura (previsto em tratado internacional), cuja execução se deu
integralmente em território nacional será processado e julgado pela Justiça Estadual.
Entretanto, poderá ser julgado pela Justiça Federal se cometido por funcionário público federal
ou nas dependências da Delegacia Federal ou presídio federal. (STJ, CC 102714)
Tem um crime interessante em que o STJ já mitigou o duplo requisito (previsão em
tratado + internacionalidade). É o art. 273, §1°-B, do Código Penal, tendo entendido que o
acusado flagrado trazendo anabolizantes do Paraguai sem o devido registro na ANVISA será
28 julgado pela Justiça Federal, porquanto a internacionalidade da conduta criminosa acarretaria
lesão a bens, serviços ou interesses da União. Aqui não há a previsão em tratado, mas há
internacionalidade. (STJ, CC 119594).
Atenção: lembrem-se do Código Penal (art. 7, II, a). Mesmo que os delitos previstos em
tratados internacionais nos quais o Brasil se obrigou a reprimir sejam praticados integralmente
no exterior, ficarão sujeitos à lei penal brasileira, mas há uma peculiaridade. Quando o agente
for brasileiro ou estrangeiro, e desde que tenha sido praticado inteiramente no exterior, sem
que a conduta e o resultado tenham ocorrido no território brasileiro, a competência será da
Justiça Estadual, haja vista a inexistência de internacionalidade, salvo se houver lesão à bens,
serviços ou interesses da União, autarquias federais e empresas públicas federais.

7.2.2.1. Tráfico internacional de drogas


O tráfico de droga é objeto de tratado internacional: Convenção das Nações Unidas
contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. Foi ratificado pelo brasil
em 1991, devidamente publicada.
Assim, presente a internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta
delituosa, o crime de tráfico internacional deve ser processado e julgado pela Justiça Federal.
Ainda sob a égide da Constituição anterior, já havia súmula neste sentido. Súmula 522 STF:
Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, compete à Justiça dos Estados o processo e
julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Neste sentido, dispõe o art. 70 da Lei n° 11.343/06 que o processo e o julgamento dos
crimes previstos nos arts. 33 a 37, se caracterizado ilícito transnacional, são de competência
da Justiça Federal.
Essa transnacionalidade deve ser compreendida como a violação à soberania de dois
países, caracterizada pela circunstância objetiva de estender-se ao fato – na sua prática ou em
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

função dos resultados reais ou pretendidos – a mais de um país, independentemente da


cooperação de agentes situados em territórios nacionais diversos.
Assim, o crime pressupõe o intuito de transferência da droga envolvendo mais de um
país, dispensando, para sua caracterização, a efetiva ocorrência do resultado. (Isso foi objeto
de prova oral para Delegado Federal em 2018). Ademais, a própria lei de drogas aponta, em
seu art. 40, inciso I, circunstâncias indiciárias que devem ser observadas para a caracterização
do ilícito transnacional, tais como a natureza, a procedência da substância ou do produto
apreendido e as circunstâncias do fato delituoso.
Veja: não é o simples fato de saber que a droga é oriunda do exterior que irá fixar a
competência da JF. É necessário saber se os agentes estão envolvidos com atos de
importação e transporte transnacional ou se seriam meros revendedores que já teriam
adquirido a droga na cidade brasileria. (STJ CC, 26094).
Ademais, a droga deve ser proibida nos dois países. Se for apenas em um país, haverá
mero tráfico interno. Ex: lança-perfume importado da Argentina, onde não há proibição, é
tráfico interno no Brasil, fixando a competência da Justiça Estadual.
STF: Tráfico realizado em aeronave militar da Força Aérea Brasileira (Justiça Federal ou
Justiça Militar da União? STF diz que a ressalva da competência da Justiça Militar – prevista no
109 IV e IX – não se faz presente no inciso V do art. 109, e cuidando-se de crime previsto em
tratado ou convenção internacional, presente a internacionalidade territorial do resultado
relativamente à conduta delituosa, concluiu-se pela competência da Justiça Federal.
Competência territorial: a regra é que a competência territorial seja fixada no local de
29 apreensão da droga. Entretanto, prestem atenção nas regras:
Importação de droga: Súmula 528, STJ: Compete ao Juízo Federal do local da
apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico
internacional.
Ex: comprar droga por correio. A droga chega no paraná, com finalidade de ir para a
Bahia. Passa por diversas cidades ante de chegar no destino e é apreendida no Espírito Santo,
Vitória, no meio do trajeto. A competência é da Justiça Federal de Vitória, local da apreensão.
Exportação de droga: Aqui a Jurisprudência e o MPF defendem a tese de que é o local
da remessa, não importando onde a droga foi apreendida.
STJ: Em caso de exportação ou remessa de droga do Brasil para o exterior via postal, a
consumação do delito ocorre no momento do envio da droga, juízo competente para
processar e julgar o processo, independentemente do local da apreensão. Inaplicabilidade da
Súmula 528 desta Corte Superior, na espécie.

Vamos agora ver duas hipóteses do artigo 81.


Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.
1° Hipótese - Desclassificação de tráfico internacional de drogas
E se o juiz entender que não há transnacionalidade, tratando-se de tráfico interno de
drogas de competência da Justiça Estadual? Declina? Há perpetuação da jurisdição (art. 81 do
CPP)?
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Pois bem.
Doutrina majoritária e jurisprudência entendem o seguinte:
A competência da Justiça Federal é definida taxativamente na Constituição Federal
(numerus clausus), não sendo possível a extensão de sua competência com base em norma
infraconstitucional (art. 81 do CPP), sobretudo se nenhum crime é originariamente de
competência federal.
O STF, por sua vez, entende que, embora a norma do art. 81, caput, do CPP, tenha como
objetivo privilegiar a celeridade, a economia e a efetividade processuais, não tem aptidão para
modificar competência absoluta constitucionalmente estabelecida, como é a da Justiça
Federal. Logo, se o juiz federal concluir pela desclassificação da infração que justificava a
competência da Justiça Federal (ex: contrabando para receptação), deve determinar a remessa
dos autos à Justiça Estadual, mesmo que faça após a conclusão da instrução (art. 383, §2°,
CPP), porquanto, nessa hipótese, a prorrogação da competência seria incompatível com o
princípio do juiz natural (STF, HC 113845, Teori Zavascki).
2ª Hipótese – absolvição do crime federal conexo com estadual
Tráfico internacional de drogas, em que o réu foi absolvido, conexo com um crime
qualquer de competência da Estadual, como roubo, p. ex. O que acontece aqui???
Lembram da súmula 122 do STJ? Súmula 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o
processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se
aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal”.
30 Assim, mesmo que o juiz absolva o agente em relação à imputação de tráfico
internacional de drogas, terá sua competência prorrogada para julgar o delito conexo, pois, se
houve absolvição, isso significa dizer que a Justiça Federal afirmou sua competência, a qual
será extensiva aos crimes conexos.
É o que dispõe o artigo 81: ... ainda que no processo da sua competência própria venha o
juiz proferir sentença absolutória... continuará competente em relação aos demais processos.
Beleza? Então a exceção ao artigo 81 (1ª hipótese acima) fica por conta da declaração de
incompetência da Justiça Federal com crime conexo da Estadual. A norma infraconstitucional
não pode sobrepor norma Constitucional, que determina a competência da Justiça Federal.

7.2.2.2. Demais crimes que podem ser julgados pela Justiça Federal com
fundamento no art. 109, inciso V, da Constituição Federal
a) Tráfico internacional de arma de fogo
Tratado: O Brasil é signatário da Convenção Interamericana contra a fabricação e o
tráfico ilícito de armas de fogo, munições, explosivos e outros materiais correlatos.
O art. 18 da Lei n° 10.286/03 caracteriza-se pela internacionalidade territorial do
resultado relativamente à conduta delituosa, de modo que está presente ambos os requisitos
para justificar a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso V, da
Constituição Federal.

b) Tráfico internacional de pessoas


Tratado: O Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas destinada à repressão ao
tráfico de pessoas e do lenocínio, bem como do protocolo adicional à Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças. Especificamente em relação às mulheres e


crianças, o Brasil ratificou o Protocolo de Emenda da Convenção para Repressão do Tráfico de
Mulheres e Crianças e da Convenção para a repressão do tráfico de Mulheres e Maiores.
Assim, o artigo 149-A do Código Penal, verificada a internacionalidade territorial do
resultado em relação à conduta delituosa, a competência será da Justiça Federal.

c) Transferência ilegal de criança ou adolescente para o exterior


Tratado: Convenção sobre os Direitos da Criança, Convenção Interamericana sobre o
Tráfico Internacional de Menores.
Art. 239 do ECA: Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança
ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
obter lucro.
Assim, sendo o crime caracterizado pela internacionalidade territorial do resultado
relativamente à conduta delituosa, conclui-se pela justificação da competência da Justiça
Federal, nos termos do art. 109, inciso V, da CF.

d) Pornografia infantil e pedofilia por meio da internet


Tratados: Convenção sobre os Direitos da Criança. Protocolo referente à venda de
crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil.
31 Art. 241-A, ECA: Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir,
publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente
É necessário que seja satisfeita a condição do art. 109, V, CF: iniciar a execução no Brasil,
de modo que o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.
Assim, a prova da execução no Brasil e da sua consumação no exterior é pressuposto para
que o feito seja processado e julgado pela Justiça Federal. Se não tiver repercussão
internacional, será da Estadual. É dizer: a mera utilização da internet é insuficiente para
caracterizar a competência da Justiça Federa, devendo haver prova de que a informação
passou dos limites territoriais. Assim, um simples email ou chat privado com fotos de pedofilia
não são hábeis a atrair a competência da Justiça Federal.
A constatação dessa internacionalidade do delito demanda apenas que a publicação do
material pornográfico seja feita em ambiente virtual de sítios de amplo e fácil acesso a
qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, que esteja conectado à internet,
independentemente da ocorrência efetiva de acesso no estrangeiro.
Leiam o #bizu do Márcio Cavalcante do Dizer o Direito:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou
adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do
ECA), quando praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário.
RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou
que, quando se fala em “praticados por meio da rede mundial de computadores (internet)”, o
que o STF quer dizer é que a postagem de conteúdo pedófilo-pornográfico deve ter sido feita
em um ambiente virtual propício ao livre acesso. Por outro lado, se a troca de material
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

pedófilo ocorreu entre destinatários certos no Brasil, não há relação de internacionalidade e,


portanto, a competência é da Justiça Estadual. Ex: troca de mensagem em WhatsApp, e-mail.

E qual a competência territorial desse crime? Local do dispositivo que propagou? Local
onde iniciou a investigação? Residência do réu? Onde??????
Entendem os tribunais superiores que a consumação do ilícito se dá no local de onde
emanaram as imagens pedófilo-pornográficas (local do upload das fotos), pouco importando a
localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores.
Mas há uma outra hipótese: competência fixada por conexão à uma investigação que se
iniciou em outro local:
Se o crime do art 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do
agente localizada em São Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba
(PR) se ficar demonstrado que a conduta do agente ocorreu com investigações que tiveram
início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados ao agente foi preso e, a partir daí,
foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá por
conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. Os investigados trocavam
informações no eixo Curitiba–São Paulo, o que evidencia a conexão entre os crimes de uns e
de outros. Em razão disso, o STF concluiu que o juízo federal de Curitiba tinha competência
para julgar o agente, sem que houvesse ofensa ao princípio do juiz natural.STF. 1ª Turma. HC
135883/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
6/6/2017 (Info 868).

32 Sobre a fixação da competência, raciocínio semelhante se aplica aos crimes de


difamação e falsa identidade de menores em redes sociais.
7.2.3. Incidente de deslocamento de competência – IDC – Art. 109, V-A, c/c
art. 109, §5°

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Isso aqui nós estudamos bem em Direitos Humanos, mas vale a pena conferir aqui.
A CF não fixou a originariamente a competência da Justiça Federal para processo e
julgamento de crimes contra os direitos humanos. A competência é da Justiça Estadual. O que
ocorreu foi que a EC 45/04 conferiu a Justiça Federal uma competência subsidiária, desde que
preenchido certos requisitos.
Segundo o dispositivo, nas hipóteses graves violações de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte,
poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Esse instrumento possui a finalidade de não levar o Brasil a ser responsabilizado


internacionalmente em razão de graves violações de direitos humanos que não estão sendo
devidamente investigados. Assim, a finalidade precípua seria exatamente a de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre
a matéria.
Vamos falar aqui só o que importa, mas ressalto que há ADI’s impugnando estes
dispositivos, alegando violação do princípio do juiz natural, pois grave violação aos direitos
humanos é uma interpretação muito ampla e flexível, bem como a discricionariedade do PGR
em propor o IDC.
Vamos aos requisitos:
a) Crime praticado com grave violação aos direitos humanos.
b) Demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta
de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições,
em proceder à devida persecução penal.
Não há, portanto, necessidade de internacionalização da conduta. A legitimidade para
propositura do IDC é do PGR, sendo a competência para apreciar e julgá-lo da 3° Seção do STJ.
Casos de IDC
IDC n° 01/PA: Caso Dorothy Stang: primeiro caso proposto e negado pelo STJ,
concluindo que, a despeito de se tratar de crime praticado com grave violação aos direitos
33 humanos, não teria restado evidenciada a negligência ou inércia do Estado-membro em
proceder à persecução penal dos autores do delito.
IDC n° 02/DF: Caso Manoel de Mattos: Depois de sofrer diversas ameaças e vários
atentados, o ex-vereador e advogado, Manoel Mattos foi executado em janeiro de 2009 na
praia de Acaú, em Pitimbú, município do litoral sul da Paraíba. O homicídio foi motivado pela
constante atuação de Mattos contra o crime organizado, especialmente contra grupos de
extermínio que, de acordo com a decisão do STJ, agiam impunes há mais de uma década na
divisa dos Estados da Paraíba e de Pernambuco, entre os municípios de Pedras de Fogo e
Itambé. Na ocasião, a 3ª seção do STJ entendeu ser “notória a incapacidade das instâncias e
autoridades locais em oferecer respostas efetivas” ao caso, que foi deslocado para a JF do
Estado.1
Perceba que esse deslocamento pode ocorrer inclusive no curso das investigações. Foi o
que se deu no IDC n° 05, com a imediata transferência do inquérito para a Polícia Federal, sob
a jurisdição da Justiça Federal. Esse caso tratou da morte de um Promotor de Justiça por
grupos de extermínio. O mesmo se deu no IDC n° 3, onde ficou evidenciado a inércia estatal
para investigar casos que envolviam policiais militares e sistemáticas violações de direitos
humanos cometidas por eles durante a atuação em operações repressivas do estado.
7.2.4. Crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinado
por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira
(art. 109, VI, CF)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

1
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI213631,91041-
Desde+que+foi+instituido+IDC+foi+suscitado+apenas+cinco+vezes+e
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

7.2.4.1. Crimes contra a organização do trabalho


Sobre este ponto, os Tribunais Superiores, em interpretação do referido inciso da
competência da Justiça Federal, entendem que só caberá a essa justiça comum processar e
julgar os crimes perpetrados contra a organização do trabalho, quando violados direitos dos
trabalhadores considerados coletivamente.
A infringência dos direitos individuais dos trabalhadores, sem que configurada a lesão
ao sistema de órgãos e instituições destinadas a preservar a coletividade trabalhista, afasta a
competência da Justiça Federal. Neste sentido, é o teor da Súmula n° 115 do extinto Tribunal
Federal de Recursos: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a
organização do trabalho, quando tenham por objeto a organização geral ou direitos dos
trabalhadores considerados coletivamente. ”
Assim, a Constituição trata dos crimes que, típica e essencialmente, dizem respeito a
relações de trabalho em sentido coletivo, e não aos que, eventualmente, possam ter relações
circunstanciais com o trabalho, haja vista que apenas no primeiro caso se justificaria a
competência da Justiça Federal, perante o interesse da União no resguardo da específica
ordem jurídica concernente ao trabalho.
É que o Código Penal, no título dos crimes contra a organização do trabalho, faz várias
tipificações que atingem tão somente o trabalhador, individualmente, e este não é o sentido
que a Constituição quis dizer ao atribuir a competência da Justiça Federal para os crimes
contra a organização do trabalho. Ela quis abranger o interesse coletivo, apto a atrair o
interesse da União.
34 Logo, o sentido de “crime contra a organização do trabalho” utilizado na Constituição diz
respeito à proteção dos direitos e deveres dos trabalhadores em coletividade, como força de
trabalho, e a organização geral do trabalho, não podendo ser confundido com aquele adotado
pelo Código Penal, que traz vários crimes relacionados ao trabalho, mas que atinge somente a
esfera patrimonial de um empregado, como crime contra a organização do trabalho.
Neste tópico, um dos crimes mais importantes é o crime de redução à condição análoga
à de escravo, tipificado no artigo 149 do Código Penal, dentro do Capítulo VI que trata dos
crimes contra a liberdade individual (dos crimes contra a pessoa). Esse crime não depende
exclusivamente da restrição à liberdade de locomoção do trabalhador, pois há outras formas
de se cometer o delito, como submeter o sujeito passivo a condições de trabalho degradantes,
desumanas.
Inicialmente, por não estar topograficamente incluído nos crimes contra a organização
do trabalho, entendia-se que não competia à Justiça Federal processar e julgar o presente
crime, já que se tratava de um crime contra a liberdade pessoal. Entretanto, esse
posicionamento foi modificado pelo STF, entendendo que quaisquer condutas que violem não
só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos dos
trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a
Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a
organização do trabalho, se praticados no contexto de relações de trabalho.
Nos demais crimes contra a organização do trabalho, os Tribunais entendem da seguinte
maneira:
a) Supressão de direitos trabalhistas individualmente considerados (CP, art. 203):
impõe-se a competência da Justiça Estadual.
b) Aliciamento de trabalhadores de uma unidade da Federação para outra (CP, art.
207): competência da Justiça Federal.

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

c) Falsidade ideológica praticada por advogados e supressão de direito individual dos


trabalhadores, ações lesivas a direitos trabalhistas individuais, supressão de direitos
dos trabalhadores de uma mesma empresa, paralisação do trabalho seguida de
violência ou perturbação da ordem, fraude em homologação de rescisão contratual,
movimento paredista, interrupção de eleição para diretoria de sindicato, lesão
corporal decorrente de acidente de trabalho, sabotagem industrial: não há ofensa a
direito coletivo se a conduta atenta apenas contra direito individual dos
trabalhadores envolvidos, atraindo a competência da Justiça Estadual.
Assim, do rol de crimes contra a organização do trabalho do CP, apenas o aliciamento
de trabalhadores de uma unidade de federação para outra é que justifica a competência da
Justiça Federal. Portanto, é esse crime e o artigo 149 do CP que atraem a competência da
Justiça Federal.
7.2.5. Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira
Dispõe o artigo 109, VI, parte final, que os crimes contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira são de competência da Justiça Federal, nos casos determinado por lei.
Assim, não basta ser crime contra o sistema financeiro ou contra a ordem econômico-
financeira, pois necessita de lei que determine a competência da Justiça Federal. Do contrário
o crime será da Justiça Estadual, salvo se houver lesão a bens, serviços ou interesses da União
e suas entidades, mas aí a competência se justificará com base no inciso IV do artigo 109 da CF.
#BIZU: crimes contra a economia popular são de competência da Justiça Estadual, pois a
Lei n° 1.521/51 que tratou desses crimes nada mencionou sobre a competência da Justiça
35 Federal. Nesse sentido, é a Súmula 498 do STF: Compete à Justiça dos Estados, em ambas as
instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular.
O mesmo ocorre com a Lei n° 4595/64, que dispõe sobre o Sistema Financeiro Nacional.
Assim, o crime nela previsto (art. 34, I – REVOGADO em novembro de 2017, mas segue a lógica
da explicação), será julgado pela Justiça Estadual (concessão de empréstimos vedados). Não há
competência da JF porque a lei não falou que é de competência da JF e porque sequer se
enquadraria no art. 109, IV, da CF. MAS ATENÇÃO.
Esta lei não se confunde com a Lei n° 7.492/86, que define os CRIMES contra o Sistema
Financeiro Nacional. Esta, genuinamente e expressamente, define os crimes nela previstos
como de competência da Justiça Federal (artigo 26). Assim, eventual alegação do réu de que o
prejuízo decorrente do delito fora suportado exclusivamente por instituição financeira privada
não afasta tal competência, na medida em que há interesse da União na segurança e na
confiabilidade do sistema financeiro nacional.
A lei define quem pode praticar os crimes: instituições financeiras, administradora de
consórcio e pessoas físicas que realizem atividades típicas de instituição financeira.
Interessa mencionar que cabe à Justiça Federal julgar e processar a conduta daquele
que, por meio de pessoa jurídica instituída para a prestação de serviço de factoring, realize,
sem autorização legal, a captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de
terceiro, sobre promessa de que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos superiores
aos aplicados no mercado, seja pelo fato de tal conduta se subsumir ao tipo do art. 16 da Lei,
seja pelo fato de o delito ter sido praticado por meio de pessoa jurídica criada para a
realização de factoring, operando como verdadeira instituição financeira.
Sobre esta lei, aprendam estes conceitos:
Empréstimo: o empréstimo é a concessão de dinheiro sem destinação específica, a fim
de satisfazer interesse individual do sujeito, podendo ser utilizado como bem entender.
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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Financiamento: são operações realizadas com destinação específica, em que, para a


obtenção do crédito, existe alguma concessão por parte do Estado como incentivo, assim há
vinculação entre a concessão do crédito e o patrimônio da União. Exige-se, neste caso,a
comprovação da aplicação desses recursos. Ex: financiamentos rurais, industriais.
Fixado esses conceitos, o STJ entende que a utilização de documentos falsos para se
contrair empréstimos na modalidade CDC no Banco do Brasil, apesar de a denúncia imputar ao
agente o delito do art. 19 da Lei n° 7.492/86, tal delito é em verdade estelionato, pois o crime
do art. 19 exige a utilização de fraude para obter financiamento, e não empréstimo. Vejam
que o financiamento é algo que tem a União envolvida, enquanto o empréstimo envolve tão
somente o interesse individual do sujeito e a lesão exclusiva à instituição financeira.
STJ: utilização de documentos falsos para obtenção de recursos financeiros emc ontrato
de arrendamento mercantil na modalidade de leasing financeiro de veículo. Competência da
Justiça Federal. O fato de o leasing financeiro não constituir financiamento não afasta, por si
só, a configuração do delito previsto no art. 19 da Lei dos crimes contra o SFN. O leasing
financeiro é um financiamento, é o núcleo ou o elemento preponderante dessa modalidade de
arrendamento mercantil. Logo, é crime contra o SFN, de competência da Justiça Federal.
Já os delitos tipificados na Lei n° 8.137/90, que dispõe sobre os crimes contra a ordem
tributária, já que não definem a competência da Justiça Federal expressamente, só haverá a
competência desta quando se tratar de supressão ou redução de tributos federais.
No que toca ao crime de formação de cartel, o STJ entende que, como a Lei n° 8.137/90
não fixa a competência expressa da Justiça Federal, compete, em regra, à Justiça Estadual o
36 julgamento desse crime. No entanto, isso não afasta a competência da Justiça Federal, desde
que se verifique ofensa a bens, serviços ou interesses da União e suas entidades (sempre que
eu falar isso tem que excepcionar a Sociedade de Economia Mista, ok?), ou que pela
magnitude da atuação do grupo econômico, o ilícito tenha a propensão de abranger vários
Estados da Federação, prejudicar setor econômico estratégico para a economia nacional ou o
fornecimento de serviços essenciais, de onde se evidenciaria interesse supra regional a
apontar para a necessidade de interferência da União.
A Lei n° 8.176/91, por sua vez, prevê o delito de venda de combustível adulterado, mas
não dispõe sobre a competência da Justiça Federal, de modo que será processado e julgado
pela Justiça Estadual, pouco importando o fato da ANP exercer o controle, a fiscalização e a
regulação da atividade de distribuição e revenda de derivados de petróleo e álcool, pois há aí
um interesse genérico, reflexo e não imediato, não sendo suficiente para atrair a competência
da JF com base no art. 109, inciso IV da CF.
No que toca ao crime de lavagem de capitais, em regra, é de competência da Justiça
Estadual. A própria lei de lavagem de capitais (Lei n° 9.613/98) dispõe que será de
competência da Justiça Federal quando:
a) Praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;
b) A infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal. Ex: tráfico
internacional de drogas.
Esses crimes geralmente envolvem o delito de evasão de divisas (art. 22 da Lei de crimes
contra o SFN), que é genuinamente de competência da Justiça Federal. Nesta hipótese a
lavagem de dinheiro será julgada pela Justiça Federal (art. 2, inciso III, da Lei 9.613/98).

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Portanto, a regra é simples: se a infração penal antecedente for de competência da


Justiça Federal, a lavagem de dinheiro também será. Ainda que não fosse previsto na lei,
aplicar-se-ia a Súmula 122 do STJ, já estudada: Compete à Justiça Federal o processo e
julgamento unificado dos crimes conexos de competência da federal e estadual, não se
aplicando o art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.

7.2.5.1. Varas especializadas para processar e julgar os crimes contra o


sistema financeiro nacional e os delitos de lavagem de capitais

A posterior criação de varas especializadas com a consequente remessa de ações em


andamento seria compatível com o princípio do Juiz Natural?
A CF dispõe o seguinte: i) só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela
Constituição; ii) ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato; iii) entre os juízes
pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa
deferida à discricionariedade de quem quer que seja.
Sobre essa questão, não se pode dizer que tratam de tribunais de exceção, pois nesta
hipótese o tribunal foi criado para julgar determinadas pessoas ou matérias. As varas
especializadas, por sua vez, são simples atribuições a órgãos inseridos na estrutura judiciária
fixada na Constituição, com o objetivo de melhor atuar com a norma substancial. Portanto,
varas especializadas são apenas divisões da função jurisdicional, inseridas no quadro geral do
Poder Judiciário para colaborar na administração da Justiça.
37 No caso da JF, a Lei n° 5,010/66 autoriza a criação de varas especializadas. A própria CF
assegura ao Poder Judiciário a autonomia administrativa e financeira, podem organizar,
portanto, suas varas.
No que toca aos inquéritos e processos em andamento quando da especialização das
varas federais, acabou prevalecendo nos Tribunais o entendimento de que com a criação,
deverão ser redistribuídos todos os processos em curso, tornando-se o juiz de vara federal
diversa absolutamente incompetente, pois a competência da vara especializada foi fixada em
razão da matéria, portanto, de caráter absoluto.
7.2.6. Habeas corpus em matéria criminal de sua competência ou quando
o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam
diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VIII, CF).
No que toca aos Juízes Federais, o artigo 109, inciso VIII, da CF, dispõe que nos crimes de
competência da Justiça Federal cabe ao Juiz Federal analisar o habeas corpus. Entretanto,
temos que ficar atentos ao artigo 108, inciso I, ‘a’ e ‘d’, fazendo uma leitura conjunta destes
dispositivos.
Conforme o texto, cabe ao TRF processar e julgar os juízes federais da área de sua
jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de
responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral, bem como os habeas corpus quando a autoridade coatora for Juiz Federal.
Portanto, diante das seguintes situações hipotéticas, temos que:
a) Tratando-se de constrangimento ilegal à liberdade de locomoção praticado por um
delegado da Polícia Federal, autoridade federal não sujeita à competência do TRF,
eventual habeas corpus impetrado deve ser apreciado por um juiz federal
pertencente à respectiva seção judiciária.

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b) Caso o mesmo delegado de Polícia Federal tenha instaurado um inquérito por


requisição do Procurador da República, tem-se que a autoridade coatora, para fins
de impetração do habeas corpus, será o Parquet. A jurisprudência tem entendido
que o HC deve ser processado no TRF em razão do foro por prerrogativa de função
que o membro do MPF tem, isso porque o julgamento do HC pode resultar em
reconhecimento de prática de crime, razão pela qual somente o respectivo Tribunal
poderia dizer se essa autoridade praticou ou não a infração penal. Desse modo,
eventual habeas corpus para trancar a ação penal será julgado pelo Tribunal
Regional Federal, por força do art. 108, I, “a”. “Diovane, a AP 937 diz que se aplica
o foro somente aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados
às funções desempenhadas. E se o HC contra o Parquet não evidenciar crime,
como fica a competência? TRF ou Juiz Federal?? Ainda não há julgado estrito sobre
isso, entretanto, penso que um Juiz Federal não pode julgar um habeas corpus de
ato de membro do Ministério Público Federal, uma vez que eles estão na mesma
linha horizontal hierárquica, o que prejudicaria a independência funcional do
Parquet ter o Juiz Federal, que julga as ações penais por ele proposta, julgando
habeas corpus de atos desse membro. Até que haja julgado em sentido diverso, a
competência é do TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. Pelo mesmo entendimento
supra, caso a autoridade coatora seja um Procurador Regional da República, a
competência para o habeas corpus será do Superior Tribunal de Justiça, por força do
art. 105, inciso I, alínea “a”, da CF.

38 c) Habeas corpus contra ato de Promotor de Justiça do MPDFT ou de órgão do


Ministério Público Militar. Quem julga? Ex: o Promotor de Justiça do MP Militar com
atuação em Brasília requisita à autoridade judiciária militar a instauração de um
inquérito policial militar para apurar o crime de porte de drogas em lugar sujeito à
administração militar. Aqui o Renato Brasileiro diz o seguinte:

a. Nas hipóteses de manifesto constrangimento ilegal e/ou abuso de


autoridade por parte do MPDFT ou do MPM, o HC deve ser julgado pelo
TRF.
i. Isso porque o membro do MPDFT é mantido pela União (art. 21, XIII,
CF)
b. Todavia, se o reconhecimento do HC puder resultar em invasão de
competência que seja própria da Justiça do DFT ou da Justiça Militar da
União, ele diz que o HC deve ser apreciado pelo TJDFT ou pelo STM.
Essa parte é complicada. A jurisprudência não mantém uma coerência. Repito
novamente o quadro já colacionado acima:
SITUAÇÃO QUEM JULGA
Crime praticado contra o MPDFT Justiça do Distrito Federal
(STJ. CC 122.369-DF)
Crime praticado contra membro Justiça do Distrito Federal
do MPDFT no exercício de suas funções.
(STJ. CC 119.484-DF)
Crime praticado por Promotor de Justiça Justiça Federal (TRF da 1ª Região)
do MPDFT.
(STJ. REsp 336857-DF)

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HC contra ato de membro do MPDFT. Justiça Federal (TRF da 1ª Região)


(STJ. HC 67416-DF e STF. RE 418852-DF)
MS contra ato do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal (TJDFT)
Justiça do MPDFT.
(STJ. REsp 1236801-DF)
(obs: neste julgado o Relator afirma que o
PGJ-MPDFT é autoridade federal, mas que,
por força de lei, será competente o TJDFT)
MS contra ato do chefe do MPDFT no TRF da 1º Região
exercício de atividade submetida à
(STJ REsp 1.303.154-DF, Info 587).
jurisdição administrativa federal

7.2.7. Mandados de segurança contra de autoridade federal, excetuados


os casos de competência dos Tribunais Federais (CF, art. 109, VIII)

Nos mesmos moldes que o artigo 109, inciso VII, da CF, o dispositivo em análise deve ser
interpretado em conjunto com o artigo 108, inciso I, “c”, da Constituição. Assim, MS contra ato
de Juiz Federal ou do próprio Tribunal, caberá ao Tribunal Regional Federal o seu processo e
julgamento.

39 Lado outro, cuidando-se de autoridade federal que não esteja sujeita diretamente à
jurisdição do Tribunal Regional Federal, recairá sobre os juízes federais a competência para o
processo e julgamento do mandado de segurança.
Lembremo-nos que o MS, conforme dispõe a Constituição, é subsidiário, podendo ser
utilizado somente quando o direito não for amparado por habeas corpus ou habeas data.
Exemplos de mandado de segurança no âmbito criminal de competência de um Juiz
Federal: a) para o advogado ter vista dos autos do inquérito policial, que lhe é negada por um
delegado federal; b) para o advogado acompanhar seu cliente em diligência em inquérito
policial em curso perante a Polícia Federal; c) para obter restituição de coisas apreendidas pela
autoridade policial federal.
Importante! Súmula vinculante n° 14: É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa. Assim, diante desta Súmula Vinculante, caso haja
descumprimento ao seu texto é possível que o advogado utilize da reclamação constitucional
ao STF.
Para finalizar, considera-se autoridade coatora federal, segundo a Lei n° 12.016/09, se as
consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de
ser suportadas pela União ou por entidade por ela controlada.
7.2.8. Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar (CF, art. 109, inciso IX)

Dispõe o artigo 109, inciso IX, que compete aos Juízes Federais processar e julgar os
crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.

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Pois bem.
A regra em nosso sistema penal é o princípio da territorialidade, de modo que se aplica a
lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras gerais de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional. Por sua vez, dispõe o §1° do art. 5° do CP, que se
consideram como extensão do território nacional, para fins penais, as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em
alto-mar. Também se aplica a lei brasileira aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras, de propriedade privada, e estas em porto ou em mar territorial do
Brasil.
O termo NAVIO, compreende tão somente as embarcações aptas para navegação em
alto-mar, excluídas as embarcações de pequeno porte, como lanchas, motores de popa, jet-
skis, competindo à Justiça Estadual o crime nesses casos. Esses crimes devem ser praticados a
bordo de navio, ou seja, no interior da embarcação.
A razão de ser da norma é atrair a competência da Justiça Federal quando houver
potencial deslocamento internacional. Assim, não basta que o crime seja cometido em
embarcação de grande porte. Sobre este caso, o STJ já decidiu que homicídio culposo ocorrido
durante carregamento de veículos em navio de bandeira italiana, estando a embarcação
ancorada para carregamento, o qual era feito por pessoas estranhas às embarcações –
estivadores -, conclui-se que a conduta culposa cometida em solo antes do início da operação

40 de reembarque deveria ser processada e julgada perante a Justiça Estadual.


Assim, em caso de navio ancorado, a competência é da Justiça Estadual.
No que toca às AERONAVES, a legislação considera aeronave todo aparelho manobrável
em voo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas,
apto a transportar pessoas ou coisas.
Diferentemente dos navios, pouco importa se a aeronave se encontra em ar ou em terra
e, ainda, quem seja o sujeito passivo do delito. Sempre será da Justiça Federal, bastando que a
prática criminosa tenha ocorrido em seu interior. Entretanto, é imprescindível que o flagrante
ocorra a bordo da aeronave.
Por fim, caso se trate de crime militar a bordo de navios ou aeronaves, a competência
será da Justiça Militar, por força da ressalva constitucional do fim do inciso IX do art. 109 da
CF.

7.2.9. Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro (CF,


109, X)

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
Só cabe discorrer sobre a primeira parte do inciso para fins de competência criminal, já
que execução de sentença estrangeira estudamos em processo civil e direito internacional
privado.
Pois bem.

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Interpreta-se a referida norma no sentido de que compete aos juízes federais o processo
e julgamento de todo e qualquer crime previsto na legislação comum ou especial, cometido
pelo estrangeiro com o intuito de regularizar seu ingresso e permanência no Brasil.
Inicialmente, sabe-se que o ingresso irregular de estrangeiro é meramente infração
administrativa, punida com deportação, conforme dispõem os artigos 109, inciso I, e 50 da Lei
n° 13.445/17 (Lei de Migração). O mesmo se pode dizer da irregular permanência do
estrangeiro em território nacional depois de esgotado o prazo legal da documentação
migratória (109, II).
Mas quais são, então, os crimes se esses fatos acima são infrações administrativas????
Antes, o Estatuto do Estrangeiro previa crimes no corpo de sua lei. Entretanto, com a
entrada em vigor da Lei de Migração, os crimes relacionados a estrangeiros e seu ingresso
irregular em território nacional ficaram regulados pelo Código Penal, havendo, inclusive, o
acréscimo do artigo 232-A no Código Penal, com a seguinte redação:
Promoção de migração ilegal
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a
entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter
vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
ilegalmente em país estrangeiro.
41 § 2o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se:
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.
§ 3o A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às
infrações conexas.

Ainda há o artigo 338 do Código Penal, que pune o reingresso no território nacional de
estrangeiro que foi dele expulso. O artigo 309, por sua vez, pune a fraude de lei sobre
estrangeiro, caracterizando-se pela conduta de usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer
no território nacional, nome que não é seu. O parágrafo único deste artigo, em continuidade,
dispõe acerca da conduta de atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a
entrada em território nacional.
Finalizando, o artigo 310 do Código Penal prevê como crime as condutas de prestar-se a
figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos
casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens, condutas estas
que podem ser praticadas com a finalidade precípua de garantir a permanência do estrangeiro
no território nacional.
7.2.10. Disputa sobre direitos indígenas (CF, art. 109, XI)

Compete à Justiça Federal processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas. Mas o
que é essa disputa sobre direitos indígenas?
Vamos lá.

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A jurisprudência é pacífica no sentido de que crimes cometidos por ou contra índios são,
em regra, da competência da Justiça Estadual, salvo se o delito envolver disputas sobre
direitos indígenas. A Súmula n° 140 do STJ dispõe que compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar crime comum em que o indígena figure como autor ou vítima. Assim, um
crime de homicídio cometido por indígena, motivado por desentendimento momentâneo, não
guarda qualquer pertinência com o direito dos indígenas, sendo de todo irrelevante o fato de o
delito ter ocorrido dentro da reserva indígena. Assim, a competência será da Justiça Estadual.
Não é o simples fato de a FUNAI tutelar os direitos indígenas que atrai a competência da
Jutiça Federal, tampouco a atribuição do MPF de defender os direitos e interesses dos índios e
das populações indígenas.
Excepcionalmente, a competência será da Justiça Federal:
a) quando o crime praticado estiver relacionado com questões ligadas à cultura e aos
direitos dos indígenas sobre suas terras (STF. HC 91.121/MS); ou
b) no caso de genocídio contra os indígenas, considerando que, neste caso, o delito é
praticado com o objetivo de acabar com a própria existência de uma determinada etnia (STF.
RE 263.010/MS).
Este precedente do STF resume bem a questão ao afirmar que a competência da Justiça
Federal, fixada no art. 109, XI, da CF, “só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou
quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha
havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja aquele imputado a silvícola, nem
que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro de reserva indígena. ”
42 (STF, RE 419.528, Rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, DJU de 09/03/2007) – Trecho do Dizer o
Direito.
Ex: delitos cometidos contra indígenas ou por indígenas envolvendo disputa sobre
terras, que tenha havido homicídio doloso. A competência será do Tribunal do Júri Federal.
Nesses casos, envolve não só os direitos dos índios, mas a disputa sobre um bem de
propriedade da União, já que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da
União (ar. 20, inciso XI, CF).
Entretanto, o STJ já julgou no sentido de que o simples fato de a FUNAI representar os
índios é apto a atrair a competência da Justiça Federal, ainda que este índio já esteja
totalmente integrado e tenha praticado tráfico de drogas interno. Sobre esse tema, Renato
Brasileiro é contra, dizendo que tal julgado contraria a própria legislação, uma vez que a FUNAI
presta assistência tão somente aos índios ainda não integrados à comunhão nacional.

7.2.10.1. Genocídio contra índios


Previsto na Lei n° 2.889/56 (Lei do Genocídio), depreende-se que o bem jurídico
tutelado pela lei de genocídio é a existência de grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Não
se trata, pois, de crime doloso contra a vida. O referido delito pode ser praticado por meio de
homicídios, lesões corporais, maus-tratos, esterilização forçada, aborto e sequestro ou cárcere
privado.
Mas qual a competência para a análise deste delito?
O Brasil ratificou Convenção para prevenção e repressão do crime de genocídio,
concluída em Paris, em 1948. Entretanto, como já vimos, o simples fato de um delito estar
previsto em convenção internacional assinada pelo Brasil não enseja, por si só, a competência
da Justiça Federal, sendo necessário, ainda, a internacionalidade da conduta delituosa. Assim,
pelo menos em regra, o genocídio interno será julgado pela Justiça Estadual.
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Entretanto, há a possibilidade de que a Justiça Federal julgue tal delito. É o caso do


incidente de deslocamento de competência, previsto no artigo 109, §5°, da CF, ficando
condicionado à demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência,
falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em
proceder à devida persecução penal.
Mas atenção, caso o genocídio seja contra índios, não há como se afastar a
competência da Justiça Federal. Aqui o delito tem o condão de atingir potencialmente a
própria existência de uma determinada etnia indígena, sendo inegável que o crime envolva
disputa sobre direitos indígenas.
Mas o genocídio contra índio, quem julga? O Juiz Federal singular ou Tribunal do Júri
Federal?
Como mencionado, o bem jurídico protegido aqui não é a vida em sentido estrito, de
modo que não há um crime doloso contra a vida apto a atrair a competência do Tribunal do
Júri. Assim, em regra, o delito de genocídio contra indígenas deve ser julgado por juiz federal
singular. Ex: entrega pílulas anticoncepcionais a índias, dizendo se tratar de remédios contra a
gripe.
Entretanto, há a hipótese de esse mesmo delito ser praticado mediante morte de
membros do grupo. Neste caso, conforme ensina Renato Brasileiro, se o agente resolver matar
vários índios, em circunstâncias semelhantes de tempo e de lugar, e com o mesmo modus
operandi, deverá responder pelos diversos homicídios (continuidade delitiva) e pelo crime de
43 genocídio, em concurso formal impróprio, não sendo possível a aplicação do princípio da
consunção. Nesse caso, como os crimes dolosos contra a vida de índios envolvem a disputa
sobre direitos indígenas, a série de continuidade delitiva dos homicídios deverá ser processada
e julgada perante um Tribunal do Júri Federal, que exercerá a força atrativa em relação ao
crime conexo de genocídio, tal qual dispõe o art. 78, inciso I, do CPP.
7.2.11. Conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e da Justiça
Estadual
Já explicamos isso anteriormente, mas vamos ressaltar, uma vez que é importante em
demasia para concursos federais.
A regra básica é que havendo conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e
da Justiça Estadual, prevalece a competência da Justiça Federal. Isso porque a competência da
Justiça Federal vem prevista na própria Constituição, impedindo que seja afastada em prol da
Justiça Estadual, por força de uma regra prevista na lei processual penal. É o que dispõe a já
conhecida Súmula 122 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado
dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II,
a, do Código de Processo Penal. Tal regra aplica-se mesmo que o crime conexo estadual seja
um crime doloso contra a vida, já que é competência prevista na própria Constituição.
Ex: STF: pedofilia e pornografia infantil de caráter transnacional conexo com estupro e
atentado violento ao pudor cometidos contra menores no Brasil – todas as infrações devem
ser julgadas pela Justiça Federal, haja vista a conexão probatória entre elas.
Não havendo conexão entre os delitos, cada crime será julgado em sua respectiva
competência jurisdicional.
Atenção: prestem muita atenção em casos de contravenções penais. A Constituição
afastou da competência da Justiça Federal o julgamento de contravenções penais. Assim,

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ainda que haja conexão entre crime federal e contravenção penal, esta última será processada
e julgada perante a Justiça Estadual, nos termos da Súmula 38 do STJ.
O julgamento por conexão só dá em crimes, conforme a súmula 122 do STJ. Deve haver
um crime federal sempre, pois ele é que atrai. Na hipótese de a imputação que justificava a
competência da Justiça Federal deixar de existir, os autos devem ser remetidos à Justiça
Estadual. Não há perpetuação da jurisdição. Se não há crime federal, não há competência da
Justiça Federal, que é definida taxativamente na Constituição, não podendo a regra
infraconstitucional de perpetuação da jurisdição prevalecer sobre as normas de competência
definidas na Constituição.
Ex: sujeito denunciado por descaminho (JF) + sujeitos denunciado por receptação.
Havendo a extinção da punibilidade do descaminho em razão da morte do agente, os autos
vão para a Justiça Estadual.
DIFERENTEMENTE, já mencionado anteriormente, é a hipótese de ABSOLVIÇÃO do
crime de competência da Justiça Federal. Neste caso, mesmo que o juiz federal absolva o
agente em relação ao descaminho, terá sua competência prorrogada para julgar o delito
conexo, pois, se houve absolvição, isso significa dizer que a Justiça Federal afirmou sua
competência, a qual será extensiva aos crimes conexos, nos termos do artigo 81 do CPP.
Neste mesmo sentido, o STJ já entendeu que se o crime de competência federal estiver
suspenso, em virtude, por exemplo de parcelamento de débito tributário, subsiste a
competência da Justiça Federal para processo e julgamento dos demais crimes conexos,
aplicando-se por analogia o disposto no artigo 81 do CPP.
44 7.3. Competência criminal da Justiça Eleitoral
Em razão das discussões assíduas em 2018 e 2019 sobre crimes eleitorais e crimes
conexos, vamos falar um pouco sobre esta jurisdição especial.
A CF não estabeleceu a competência da Justiça Eleitoral, remetendo o assunto à Lei
Complementar. Esta lei é o Código Eleitoral (Lei n° 4.737/65), que foi recepcionado pela
Constituição com status de lei complementar, mas tão somente no que tange à organização
judiciária e competência eleitorais.
Cabe à Justiça Eleitoral processar e julgar os crimes eleitorais. O que são crimes
eleitorais?
São apenas aqueles que estão previstos no Código Eleitoral e os que a lei, eventual e
expressamente, venha a definir como eleitorais. Conforme ensina Renato Brasileiro, todos eles
referem-se a atentados ao processo eleitoral, que vai do alistamento do eleitor até a
diplomação dos eleitos. Assim, não estando tipificados no Código Eleitoral, salvo o caso de
conexão, não será julgado pela Justiça Estadual.
Além da tipificação, é necessário, também, que se configure o conteúdo material do
crime, de modo que a conduta deve atentar contra a liberdade do exercício dos direitos
políticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular.
Assim, faz-se necessária a existência de violação do bem jurídico que a norma visa tutelar,
intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do exercício do voto, à regularidade
do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático (Renato Brasileiro).
Renato Brasileiro dá um exemplo bem bacana em seu livro: Art. 339. Destruir, suprimir
ou ocultar urna contendo votos ou documentos relativos à eleição. Se o crime é praticado sem
vinculação com pleitos eleitorais, mas para impedir identificação pessoal, por exemplo, não há
falar em crime da competência da Justiça Eleitoral.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Pois bem. Vamos agora adentrar em um tema que foi objeto de severas discussões em
2019, uma vez que a maioria dos crimes da Operação Lava Jato está relacionada a Caixa 2,
crime eleitoral.
Questiona-se se a Justiça Eleitoral possui força atrativa para julgar os crimes federais e
militares conexos com os eleitorais. O STF divergia, já houve julgados afirmando que competia
a Justiça Eleitoral, mas até em 2019 os feitos eram cindidos, indo cada um para a Justiça
Competente, pois até então vigorava o entendimento de que a competência definida pela
Constituição federal não pode ser alterada por norma infraconstitucional (no caso a norma de
conexão prevista no CPP).
Em 2019, no bojo do Inquérito 4435, no informativo 933, o STF decidiu que a existência
de crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de
capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do
Código Eleitoral e do art. 78, IV, do Código de Processo Penal.
O que isso quer dizer? Conforme ensina Márcio André Lopes Cavalcante2, a discussão
girou em torno das seguintes ideias:
Há dois crimes de competência da Justiça Federal (corrupção passiva e lavagem de
dinheiro) conexo com um crime de competência da Justiça Eleitoral (falsidade ideológica
“Caixa 2”, art. 350 do Código Eleitoral).
Quem julga esses crimes? Divide a competência conforme a matéria? Atrai por conexão
para a Justiça Eleitoral?

45 Primeiramente, a doutrina majoritária defende a tese de que, na medida em que a


competência da Justiça Federal vem estabelecida na própria Constituição, não pode ser
colocada em segundo plano por força da conexão e continência, normas infraconstitucionais
previstas no CPP. Assim, a lei processual deve ser interpretada por meio da Constituição, e não
o contrário.
MAS. O STF ENTENDE DIFERENTE!
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem
conexos. Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos
comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019
(Info 933).
Em razão da importância e da maestria de interpretação do Márcio, do Dizer o Direito,
vou copiar e colar o que ele ensinou aqui:
No concurso entre a jurisdição penal comum e a especial (como a eleitoral), prevalecerá
esta na hipótese de conexão entre um delito eleitoral e uma infração penal comum.
O fundamento para isso está no art. 35, II, do Código Eleitoral e no art. 78, IV, do CPP:
Art. 35. Compete aos juízes: (leia-se: juízes eleitorais)
II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada
a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;

2
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça
comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitorala. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/075b051ec3d22dac7b33f788da63
1fd4>. Acesso em: 23/04/201
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 Apostila 04

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas


as seguintes regras:
(...)
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
Assim, como há a presença do crime de doação eleitoral por meio de “caixa 2”, conduta
que configura o crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral), a
competência para julgar todos os delitos é atraída para a Justiça Eleitoral, considerado o
princípio da especialidade:
A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura crime eleitoral de
falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). A competência para processar e julgar este
delito é da Justiça Eleitoral. A existência de crimes conexos de competência da Justiça Comum,
como corrupção passiva e lavagem de capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral,
por força do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF. 2ª Turma. PET 7319/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 27/3/2018 (Info 895).
Como há dois crimes de competência da Justiça Federal, o Juiz Federal “comum” não
poderia julgar os três delitos, incluindo o crime eleitoral?
NÃO. Isso porque a Constituição Federal, no art. 109, IV, ao estipular a competência
criminal da Justiça Federal comum, ressalva, expressamente, os casos da competência
da Justiça Eleitoral. Veja:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
46 (...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Onde está prevista a competência da Justiça Eleitoral?


A CF/88, em seu art. 121, afirma que lei complementar irá definir a competência
da Justiça Eleitoral:
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais,
dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
Assim, a definição da competência da Justiça Eleitoral foi submetida à lei
complementar.
Como essa lei complementar mencionada pelo art. 121 da CF/88 ainda não foi editada, o
STF entende que os dispositivos do Código Eleitoral que tratam sobre a organização e
competência da Justiça Eleitoral foram recepcionados com força de lei complementar.
Logo, o art. 35, II, do Código Eleitoral está de acordo com o art. 121 e com o art. 109, IV,
da CF/88 e fazem com que todos os delitos sejam de competência da Justiça Eleitoral.
Conforme explica José Jairo Gomes:
“Note-se que a Justiça Comum é federal e estadual. A ‘vis attractiva’ exercida
pela Justiça Eleitoral ocorrerá em ambos os casos. Apesar de a competência criminal
da Justiça Federal ser prevista diretamente na Constituição (art. 109) e da Eleitoral ser
estabelecida em norma infraconstitucional (no caso, o Código Eleitoral – CE, art. 35, II), a parte

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final do inciso IV, art. 109, da Lei Maior, ressalva expressamente a competência
da Justiça Eleitoral. Em razão da expressa ressalva constitucional, há que se respeitar a
competência criminal da Justiça Eleitoral, ainda quando ela seja definida pela conexão. Caso
contrário, à luz do ordenamento positivo, o princípio do juiz natural restaria desatendido.
Destarte, se houver conexão entre crime federal e eleitoral poderá haver unidade processual
com a prorrogação da competência da Justiça Eleitoral. (…)” (Crimes Eleitorais e Processo
Penal Eleitoral. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, p. 325/327).
Seria possível o desmembramento dos crimes, ou seja, a Justiça Federal comum julga
os crimes de corrupção e lavagem e a Justiça Eleitoral o crime de “caixa 2”?
NÃO. Essa era a posição da PGR, mas não foi acolhida pelo STF.
Foi mencionado acima que, aparentemente, todos os crimes praticados são conexos.
Quem define isso? De quem é a competência para decidir se existe ou não conexão?
Também da Justiça Eleitoral.
Compete à própria Justiça Eleitoral reconhecer a existência, ou não, do vínculo de
conexidade entre delito eleitoral e crime comum a ele supostamente vinculado:
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos
comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF.
Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info
933).

47 Por que esse julgamento gerou tanta polêmica?


Porque grande parte dos crimes relacionados com a chamada operação “Lava Jato”
envolvem também o crime eleitoral de “caixa 2” (art. 35, II, do CE). Logo, o julgamento de
todos esses delitos podem acabar saindo da Justiça Federal comum (ex: 13ª Vara Federal de
Curitiba) e serem remetidos para um Juiz de Direito que exerça as funções de Juiz Eleitoral.
Para os Procuradores da República que compõem a Força Tarefa da “Lava Jato”,
a Justiça Eleitoral não teria a estrutura necessária para julgar estes crimes. Assim, “isso seria o
fim da Lava Jato”.
Este argumento foi refutado, com veemência, pela maioria dos Ministros.
Além disso, há um temor por parte dos membros do Ministério Público de que
condenações já proferidas pela Justiça Federal comum em casos envolvendo a “Lava Jato”
sejam anuladas por vício de incompetência.

O entendimento do STF acima explicado é novo?


Na verdade, não. Já encontrávamos julgados da Corte nesse mesmo sentido:
(...) A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que, nos
casos de doações eleitorais por meio de caixa 2 - fatos que poderiam constituir o
crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350, Código Eleitoral) -, a competência para
processar e julgar os fatos é da Justiça Eleitoral (PET nº 6.820/DF-AgR-ED, Relator para o
acórdão o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 23/3/18). 2. A existência de crimes conexos
de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de capitais, não afasta
a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do Código Eleitoral e do art. 78, IV,
do Código de Processo Penal. (...) STF. 2ª Turma. Pet 6986 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Relator
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p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, julgado em 10/04/2018. Esse também é o entendimento do STJ:
AgRg na APn 865/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, Corte Especial, julgado em 07/11/2018.

Entenderam? José Jairo Gomes, ali no trecho de cima, explicou bem. Para ele a parte
final do inciso IV do art. 109 é o que atrai os crimes conexos para a Justiça Eleitoral. STF
acompanhou este entendimento.
7.4. Justiça Política ou Extraordinária (Lei 1.079/50 e DL 201/67)
Aqui trata-se da atividade jurisdicional exercida por órgãos políticos, alheios ao Poder
Judiciário, apresentando como objetivo principal o afastamento do agente público que comete
crimes de responsabilidade de suas funções.
Compete privativamente ao Senado Federal: julgar o Presidente e o Vice-Presidente da
República nos crimes de responsabilidade, assim como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Areonáutica nos crimes de mesma natureza
conexo com aqueles, bem como os do Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral
da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade, observando-se,
em relação ao Presidente da República e aos Ministros de Estado, a competência da Câmara
dos Deputados para admissibilidade e formalização da acusação.
Sobre tal tema, é importante mencionar um julgado recente do STJ, sobre a questão
sancionatória em crimes de responsabilidade que também configuram improbidade
48 administrativa.
Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a
duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos
atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por
crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição
Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa. STF. Plenário Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 901).
Assim, há um duplo regime sancionatório: improbidade e responsabilidade. Em
improbidade, todas as autoridades, com exceção do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, serão
julgados pelo juízo de primeira instância. O Presidente é julgado em regime único, no SENADO.
Leiam essa matéria no Dizer o Direito. Está bem explicado (INFO STF 901).
Vamos aos Estados Federados.
Tribunal Especial. Composto por 5 Deputados, escolhidos pela Assembleia, e 5
Desembargadores, sorteados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, que o presidirá. Julgará o
Governador, Vice-Governador e os Secretários de Estado, nos crimes de mesma natureza
conexos com aqueles, assim como o Procurador-Geral de Justiça e o Procurador-Geral do
Estado. (Lei 1.079/50) Súmula 722 do STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento. Assim, cabe à União, e não às constituições Estaduais definir o foro competente
para julgar os Governadores. Nesse sentido, o STF concluiu que ainda que as Constituições
Estaduais disponham em sentido diverso, caberá a um Tribunal Especial composto de cinco
membros do Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do TJ
local, o processo e julgamento de governadores de Estado pela prática de crimes de
responsabilidade. Não pode a CE disciplinar.

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Câmara Municipal. Julga crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais (DL


201/67). Atenção aqui: o processo por crime de responsabilidade pressupõe que o Prefeito
Municipal esteja no exercício do mandato, na medida que a única sanção prevista é a
cassação do mandato.
Apesar do nome CRIMES de responsabilidade, tecnicamente não há crime, mas sim
infração político-administrativa.
No que toca ao crime de prefeitos, os crimes de responsabilidade descritos no art. 1° do
DL 201/67 possuem verdadeira natureza de crimes comuns, da competência do Tribunal de
Justiça, de modo que a extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de
processo em relação aos crimes comuns, tal qual estabelece a Súmula n° 703 do STF: A
extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes
previstos no art. 1° do DL 201/67.

8. Competência por prerrogativa de função


Em face da relevância das funções desempenhadas por certos agentes, a fim de que
exerçam suas funções em maior plenitude, independência e autonomia, a Constituição
Federal, as Constituições Estaduais e a legislação infraconstitucional lhes confere o direito de
serem julgados por Tribunais. É a chamada competência ratione funcionae.
Essa prerrogativa é estabelecida não em razão da pessoa, mas sim da função que ela
49 exerce, visando proteger essa função, havendo uma presunção de que os Tribunais de maior
categoria tenham mais isenção para julgar os ocupantes de determinadas funções públicas.
Em razão da excepcionalidade do foro por prerrogativa de função em face do princípio
da isonomia e do juiz natural, em uma Constituição Federal que pretende tratar todos os
cidadãos de maneira igualitária, as hipóteses de prerrogativa de foro, pelo privilégio que de
certa forma conferem, devem ser interpretadas restritivamente. Neste sentido, é bom
esclarecer que como esse privilégio se dá em razão da função, e não da pessoa, predomina o
entendimento de que não há qualquer ofensa ao princípio da isonomia.
(Dizer o Direito):
Foro por prerrogativa de função é o mesmo que foro privilegiado?
Tecnicamente, não.
Tourinho Filho explica que o foro por prerrogativa de função é estabelecido em razão do
cargo ou função desempenhada pelo indivíduo. Trata-se, portanto, de uma garantia inerente à
função. Ex: foro privativo dos Deputados Federais no STF. Já o chamado “foro privilegiado” é
aquele previsto não por causa do cargo ou da função, mas sim como uma espécie de
homenagem, deferência, privilégio à pessoa. Ex: foro privilegiado para condes e barões.
Todavia, o próprio STF utiliza em seus julgamentos a expressão “foro privilegiado” como
sendo sinônimo de “foro por prerrogativa de função”.
Por essa razão, para dar continuidade na aula, também utilizarei aqui indistintamente as
terminologias como sendo equivalentes

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8.1. Regras básicas


Pessoal. Em 2018 e 2019 estamos em tempos de instabilidade das instituições,
principalmente da Suprema corte e entendimentos por ela sufragados. Nesta matéria,
portanto, estamos “a ver navios”.
Vamos começar sobre algumas questões que estão “consolidadas”, até que o STF mude
de ideia.
8.1.1. Investigação e indiciamento de pessoas com foro por prerrogativa
de função
As investigações envolvendo autoridades com foro privativo no STF somente podem
ser iniciadas após autorização formal do STF. De igual modo, as diligências investigatórias
envolvendo autoridades com foro privativo no STF precisam ser previamente requeridas e
autorizadas pelo STF. Diante disso, indaga-se: depois de o PGR requerer alguma diligência
investigatória, antes de o ministro-relator decidir, é necessário que a defesa do investigado seja
ouvida e se manifeste sobre o pedido? NÃO. As diligências requeridas pelo Ministério Público
Federal e deferidas pelo Ministro-Relator são meramente informativas, não suscetíveis ao
princípio do contraditório. Desse modo, não cabe à defesa controlar, “ex ante”, a investigação,
o que acabaria por restringir os poderes instrutórios do Relator. Assim, o Ministro poderá
deferir, mesmo sem ouvir a defesa, as diligências requeridas pelo MP que entender
pertinentes e relevantes para o esclarecimento dos fatos. STF. 2ª Turma. Inq 3387 AgR/CE, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812). (Fonte: Dizer o Direito)
 Investigação envolvendo autoridades com foro privativo no STF: é necessária prévia
50 
autorização judicial (STF Inq 2411 QO).
Investigação envolvendo autoridades com foro privativo em outros tribunais: não é
necessária prévia autorização judicial (REsp 1563962/RN).

8.1.2. Arquivamento de inquérito nas hipóteses de atribuição originária do


Procurador-Geral de Justiça ou do Procurador-Geral da República

Falei bastante sobre isso na nossa aula de inquérito, porém, vou repetir as ideias
centrais aqui, ok?
Regra geral, nos casos de atribuição originária do Procurador-Geral de Justiça ou do
Procurador-Geral da República, se o órgão ministerial concluir pelo arquivamento do inquérito
originário, entende-se que essa decisão não precisa ser submetida ao crivo do Poder
Judiciário, na medida em que o tribunal respectivo não teria como se insurgir diante da
promoção de arquivamento, sendo inviável a aplicação do artigo 28 do CPP.
Isso porque compete, nas hipóteses de competência originária dos Tribunais, ao PGJ
ou ao PGR a última palavra sobre a pertinência da ação, já que não haveria uma autoridade
superior no âmbito do Ministério Público que pudesse rever o mérito da posição adotada pelo
Procurador-Geral. São verdadeiras decisões de caráter administrativo.
Nessas hipóteses, o acatamento do arquivamento pelo Poder Judiciário é obrigatório e
sequer há necessidade de submeter tal decisão ao crivo do Tribunal, pois a própria acusação
entende não haver motivos para continuidade da investigação.
#BIZU: Aqui, nos casos de atribuição originária do Procurador-Geral, malgrado não
haja controle judicial da decisão de arquivamento, há um mecanismo de fiscalização e controle
do princípio da obrigatoriedade. Qual? A possibilidade de legítimo interessado requerer ao
colégio de Procuradores de Justiça o reexame dessa decisão, uma espécie de recurso interno,

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administrativo, endereçado ao colégio de Procuradores de Justiça. Nesse caso de pedido de


reexame da decisão de arquivamento pela palavra do procurador formulado por legítimo
interessado, o colégio de Procuradores de Justiça, que é um dos órgãos da administração
superior do MP, atuará como verdadeiro órgão de execução porque reexaminará a decisão de
arquivamento, podendo confirmá-la ou rejeitá-la para designar um de seus membros para
oferecer denúncia. Esse mecanismo, em tese, inclusive, mais efetivo que o art. 28, permite à
vítima participar do arquivamento, questionar o arquivamento, insurgir-se contra o
arquivamento perante o colégio de procuradores.
Pois bem. A regra é a dita: impossibilidade de análise do judiciário do pedido de
arquivamento do PGR/PGJ. MAS ATENÇÃO, caros. Toda regra tem sua exceção. Há uma
ressalva especial quanto a essa desnecessidade de submeter o pedido de arquivamento do
Procurador-Geral à apreciação do Supremo Tribunal Federal. O STF entende que nas hipóteses
em que a decisão seja capaz de fazer coisa julgada material, ou seja, nas hipóteses de
atipicidade do fato e nos casos de extinção da punibilidade (prescrição), tem-se considerado
indispensável que o Tribunal examine o pedido de arquivamento do Procurador-Geral.
Então, esquematizando: INFORMATIVO 439 – STF
No pedido de arquivamento pelo PGR, 3 situações devem ser observadas:
 pedido de arquivamento pela EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE: o STF pode analisar o
mérito das alegações, de modo que a decisão gera coisa julgada material;
 pedido de arquivamento pela ATIPICIDADE DE CONDUTA: o stf pode analisar o mérito
das alegações, de modo que a decisão gera coisa julgada material.
51  pedido de arquivamento pela INEXISTÊNCIA DE LASTRO PROBATÓRIO: o
convencimento pela reunião de fatos suficientes pertence tão somente ao MP. Assim,
o juiz não pode impedir o arquivamento dizendo que há provas suficientes, por
violaçao do sistema acusatório, devendo determinar o arquivamento. Porém, esta
decisão fará coisa julgada formal, pois, como sabido, o MP poderá abrir novamente o
inquérito caso haja novas provas
AINDA, prestem atenção aqui sobre o STJ: conforme explicado acima, também não se
aplica o disposto no artigo 28 do CPP no STJ. Isso porque o Subprocurador-Geral da República,
conforme entende a jurisprudência do STJ, atua no STJ sob delegação (longa manus) do
Procurador-Geral da República. Assim, aplica-se o entendimento acima.
Questão importante é saber se outro Procurador-Geral, ao assumir o cargo, pode
desarquivar o inquérito e oferecer a denúncia. O STF entendeu que o arquivamento possui
caráter irrevogável, não sendo passível de reconsideração ou revisão, salvo diante do
surgimento de provas novas. Assim, se fez coisa julgada material nas hipóteses
supramencionadas, não há o que se fazer.
Agora em âmbito Estadual, na hipótese de arquivamento de investigação por parte do
Procurador-Geral de Justiça, caberá pedido de revisão ao Colégio de Procuradores, mediante
requerimento do interessado (ofendido).
8.1.3. Duplo grau de jurisdição e foro originário
Sabemos que a nossa Constituição não prevê o princípio do duplo grau de jurisdição,
sendo extraído de uma interpretação sistemática do arcabouço jurídico. Porém, o Brasil é
signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos, que prevê expressamente o duplo
grau de jurisdição, consistente na possibilidade efetiva de recorrer a um tribunal das decisões
que condenem o réu.

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Dúvida é saber se nos casos de competência originária do STF, por exemplo, haveria
violação ao princípio do duplo grau de jurisdição. Em Direito Internacional, haveria violação,
como se deu no Caso Barreto Leiva VS. Venezuela: violação ao duplo grau de jurisdição.
Competência originária das Cortes Superiores não garantem possibilidade de duplo grau de
jurisdição. Este caso sempre é citado em debates sobre inconvencionalidade da competência
constitucional originária do STF para julgar crimes de determinadas autoridades, que inclusive
foi objeto de debate no MENSALÃO. AP 470.
Porém, na ordem jurídica interna, entende-se que os acusados com foro por
prerrogativa de função não têm direito ao duplo grau de jurisdição.
Entendia-se, até o julgamento de uma questão de ordem na Ação Penal 937, bem como
na Ação Penal 962, que, caso um indivíduo desprovido de foro por prerrogativa de função
fosse condenado em 1° instância, condenação da qual haja apelado, na hipótese de ulterior
diplomação como Deputado Federal, caberia ao STF o julgamento da respectiva apelação.
Vamos ver esta questão #quentíssima no tópico abaixo.
8.1.4. Prerrogativa de função e manutenção do cargo ou mandato – AP
937 e 962
Antes de 1999, quando do cancelamento da Súmula 394 do STF, entendia-se que
permaneceria o foro por prerrogativa de função ainda que o inquérito ou a ação penal fossem
iniciados após o fim do exercício funcional. Porém, o STF reinterpretou o art. 102, I, “b”, da CF,
sob o fundamento de que uma vez encerrado o exercício funcional, não prevaleceria mais o
foro por prerrogativa, devendo os autos ser encaminhados ao primeiro grau, sem prejuízo da
52 validade dos atos até então praticados. Essa é a regra da contemporaneidade, em que a
competência por prerrogativa de função deve ser preservada caso a infração penal tenha sido
cometida à época e em exercício funcional. Aqui o que vale é a infração cometida durante o
exercício.
Em 2002, veio uma lei alterando o art. 84 do CPP, querendo revitalizar a regra de foro
por prerrogativa acima mencionada para ilícitos decorrentes de atos administrativos praticado
pelo agente no exercício de suas funções, bem como criando um foro para improbidade
administrativa, que impugnada por duas ADIs no STF, tendo a Suprema Corte julgado
procedente os pedidos, não havendo mais manutenção do foro privilegiado quando
encerrado o cargo ou o mandato, nem muito menos prerrogativa de função para ações de
improbidade administrativa (fique atento com o Presidente da República, que não está
sujeito ao duplo regime sancionatório. Já falamos sobre isso).
Portanto, o entendimento que era tradicionalmente adotado pelo STF, se determinado
indivíduo estivesse respondendo a uma ação penal em 1ª instância, caso ele fosse eleito
Deputado Federal, no mesmo dia da sua diplomação cessaria a competência do juízo de 1ª
instância e o processo criminal deveria ser remetido ao STF para ali ser julgado. Isso é a
denominada regra da atualidade, em virtude da qual o agente só faz jus ao foro por
prerrogativa de função enquanto estiver exercendo a função. Aqui o que vale é o agente estar
no cargo, pouco importando o momento da infração. Se saía do cargo, aplicava o
entendimento acima, descendo o processo para 1ª instância, salvo fraude.
Isso porque o STF (AP 936) entendeu que o ato de se exonerar do cargo para livrar-se do
foro caracteriza inaceitável fraude processual, que frustraria as regras constitucionais e não
apenas as de competência. Entendeu-se que essa renúncia importaria em abuso de direito,
inconcebível na atual ordem constitucional. Assim, ninguém pode se valer da própria torpeza,
de modo que a Corte Suprema entendeu que a renúncia com o nítido objetivo de deslocar a

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competência, frustrando o princípio do juiz natural, não tem o condão de ilidir a manutenção
do foro privilegiado.
OBS: não sabemos se essa questão da fraude processual também foi afetada pela
decisão na AP 937 e 962 (foro só para crime praticado no cargo, com relação às funções e
enquanto permanecer o cargo). O STF está, como disse anteriormente, criando um novo
arcabouço jurisprudencial sobre o foro. O que se sabe é que a publicação do despacho para as
alegações finais perpetua a jurisdição, pouco importando se o réu irá renunciar ou não entre a
intimação das alegações finais e a prolação da decisão pela Suprema Corte.
Vamos lá.

8.1.4.1. Questão de ordem na AP 937 e AP 962 – restrição do foro


privilegiado às infrações relacionadas ao cargo
Meus amigos. Aqui o negócio está complicado no STF e STJ. É tudo novo. Tudo
recente.
Foi decidido, especificamente para o caso em julgamento, mas com o que denominamos
de força expansiva, o seguinte:
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por
prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos
crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
A tese fixada foi a seguinte:
53 O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
Vê-se, portanto, que o STF voltou a utilizar a regra da contemporaneidade (a infração
deve ter sido praticada no exercício da função), mas de maneira mitigada, pois agora esse
crime deve estar relacionado às funções desempenhadas.
Assim, só seriam processados perante o STF, se o crime for cometido durante o exercício
do cargo e relacionados às funções desempenhadas, enquanto exercer o cargo. Se sair do
cargo, acaba o foro e o processo desce para a primeira instância. Mas aqui tem uma regra a
mais, que veremos abaixo.
Qual a implicação disso para o que sabemos até o momento? TODA. Mudou tudo...
Os créditos dos textos abaixo são do Marcio Cavalcante, do Dizer o Direito e do Nestor
Távora e Rosmar Rodrigues, ok? Vou compilar tudo de maneira mais didática possível para
entendermos o tema facilmente, utilizando minhas palavras por vezes.
Conforme explica o Min. Luís Roberto Barroso, a CF/88 prevê que um conjunto
amplíssimo de agentes públicos responda por crimes comuns perante tribunais que não há, no
Direito Comparado, nenhuma democracia consolidada que consagre a prerrogativa de foro
com abrangência comparável à brasileira.
Segundo ele, há consequências:
1ª) Afasta o Tribunal do seu verdadeiro papel, que é o de Suprema Corte, e não o de
tribunal criminal de primeiro grau. Tribunais superiores, como o STF, foram concebidos para
serem tribunais de teses jurídicas, e não para o julgamento de fatos e provas. Como regra, o
juízo de primeiro grau tem melhores condições para conduzir a instrução processual, tanto por
estar mais próximo dos fatos e das provas, quanto por ser mais bem aparelhado para

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processar tais demandas com a devida celeridade, conduzindo ordinariamente a realização de


interrogatórios, depoimentos, produção de provas periciais etc.
2ª) Contribui para a ineficiência do sistema de justiça criminal. O STF não tem sido capaz
de julgar de maneira adequada e com a devida celeridade os casos abarcados pela
prerrogativa. O foro especial, na sua extensão atual, contribui para o congestionamento dos
tribunais e para tornar ainda mais morosa a tramitação dos processos e mais raros os
julgamentos e as condenações.
3ª) As autoridades com foro por prerrogativa de função no STF ficam sujeitas a
julgamento por uma única instância, de forma que não gozam de duplo grau de jurisdição. Esse
modelo vai de encontro com tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil é
signatário. Tanto a Convenção Americana de Direitos Humanos quanto o Pacto Internacional
de Direitos Civis e Políticos asseguram o “direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal
superior”. Isso não ocorre com quem tem foro privilegiado no STF. Após o julgamento pela
Corte, não há recurso para outro Tribunal.
Mas e os processos que já estavam no STF???? Observada a tese, fixada, o STF fixou um
momento para perpetuação da jurisdição dos processos que já estavam tramitando na
Corte. Veja:
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não
será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo
que ocupava, qualquer que seja o motivo.
54 Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como
Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª
instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo que o crime
tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta
com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. No mesmo sentido, se o
crime for cometido no exercício da função, com relação ao cargo, caso o acabe o mandato do
parlamentar ou ele renuncie antes da publicação para a apresentação de alegações finais, o
processo seria remetido ao Juízo da primeira instância.
Portanto, por uma questão lógica e decorrente da garantia constitucional à ampla
defesa, o encerramento da instrução processual e, por consequência, o marco da perpetuação
da competência do Supremo Tribunal Federal, será sempre a data da publicação do despacho
para o órgão acusatório ofertar suas alegações finais, nos termos do art. 11, caput, da Lei
8.038/1990. (Palavras de Douglas Fischer)
Essa ideia foi engendrada pelo Ministro Barroso para mitigar o “elevador de instâncias”:
veja: cometi um crime comum qualquer antes de ser prefeito, meu processo está no TJ. Nas
próximas eleições eu sou eleito governador, meu processo vai para o STJ. Nas próximas
eleições eu viro Senador, meu processo vai para o STF... Na próxima eleição eu viro novamente
prefeito, e meu processo volta pro TJ... Entenderam? É um ciclo ineficiente. A impunidade é
garantida pela prescrição.
O STF, inclusive, mencionou que isso não é válido só para parlamentares federais, mas
inclusive para Ministros de Estado. Foi o que decidiu o próprio STF no julgamento do Inq 4703
QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018, no qual afirmou que o entendimento vale
também para Ministros de Estado.
Impende observar, finalmente, que, cessada a competência penal originaria do Supremo
Tribunal Federal, deixam de subsistir, por necessário efeito consequencial, as atribuições

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jurisdicionais desta Corte para resolver quaisquer eventuais incidentes ou situações ainda
pendentes de analise, precisamente pelo fato de não se legitimar, presente referido contexto,
a “perpetuatio jurisdictionis”. Isso significa, portanto, conforme já decidiu esta Corte Suprema,
que, “Exaurida a competência do Supremo Tribunal Federal, incumbe, especificamente, ao juízo
destinatário deliberar sobre eventuais questões pendentes” (Pet 7.709/DF, Rel. Min. EDSON
FACHIN, 2ª Turma), o que compreende, p. ex., a apreciação de pedidos de arquivamento de
inquéritos policiais ou de peças consubstanciadoras de “informatio delicti” (Inq 4.408- AgR/DF,
Rel. Min. ROSA WEBER, v.g.).
Ainda, pessoal, sobre esse tema, é importante mencionar que o STJ tem aplicado em
seus julgados. Veja:
O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de
Tribunais de Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do
cargo e em razão deste. Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos
Governadores e pelos Conselheiros de Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem
sido praticados durante o exercício do cargo e em razão deste. STJ. Corte Especial. APn
857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/06/2018. STJ. Corte
Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.
Mais recentemente, o STJ aplicou a mesma questão de ordem para declinar um
processo que envolvia crime comum praticado por membro do Ministério Público do DF.
Assim, o processo foi para o TJDFT (Petição n. 562-DF, Corte Especial STJ, Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, unânime, julgado em 20.2.2019, publicado no DJe em 25/04/2019)

55 Dúvida que ainda a jurisprudência do STF não disse: e a reeleição? Deputado federal
que comete crime o primeiro mandato, relacionado às funções do mandato, tem foro no STF.
Aí ele é reeleito Deputado Federal. O foro permanece no STF ou vai para primeira
instância????
Nestor Távora defende a perpetuação da jurisdição, considerando que o mandato
posterior não foi interrompido com a reeleição. É dizer: o segundo mandato é continuidade do
primeiro.
Já, Douglas Fischer, em escorreita interpretação da jurisprudência do STF, entende que o
processo deveria descer para primeira instância. Isso porque o STF, no julgado da QO na AP
937, foi expresso, em sua maioria, em ser contra o “elevador processual”. “Se são contra o
elevador processual – expressão falada claramente – não há sentido em se prestigiar quem se
reelege no mesmo cargo.”
Por sua vez, o STF, em caso de crime eleitoral, entendeu o seguinte: o recebimento de
doação ilegal destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime
relacionado com o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-
se desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o mandato
anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta reeleição.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019
(Info 933).

Agora nova pergunta. E os inquéritos com pessoas que possuem foro, como ficam com
este novo entendimento??? Com vocês, Márcio, do Dizer o Direito:
Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores ANTES da AP 937 QO

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Antes da decisão da AP 937 QO, as investigações envolvendo Deputado Federal ou


Senador somente poderiam ser iniciadas após autorização formal do STF. Assim, por exemplo,
se a autoridade policial ou o membro do Ministério Público tivesse conhecimento de indícios
de crime envolvendo Deputado Federal ou Senador, o Delegado e o membro do MP não
poderiam iniciar uma investigação contra o parlamentar federal.
O que eles deveriam fazer: remeter esses indícios à Procuradoria Geral da República
para que esta fizesse requerimento pedindo a autorização para a instauração de investigação
criminal envolvendo essa autoridade. Essa investigação era chamada de inquérito criminal
(não era inquérito "policial") e deveria tramitar no STF, sob a supervisão judicial de um
Ministro-Relator que iria autorizar as diligências que se fizessem necessárias.
Em suma, o que eu quero dizer: a autoridade policial e o MP não podiam investigar
eventuais crimes cometidos por Deputados Federais e Senadores, salvo se houvesse uma
prévia autorização do STF.
Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores DEPOIS da AP 937 QO
Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da
diplomação.
Polícia (Civil ou Federal) ou MP.
Se o crime foi praticado depois da
Não há necessidade de autorização do STF
diplomação (durante o exercício do cargo),
mas o delito não tem relação com as funções Medidas cautelares são deferidas pelo juízo
56 desempenhadas. de 1ª instância (ex: quebra de sigilo)
Ex: homicídio culposo no trânsito.
Se o crime foi praticado depois da
Polícia Federal e Procuradoria Geral da
diplomação (durante o exercício do cargo) e
República, com supervisão judicial do STF.
o delito está relacionado com as funções
desempenhadas. Há necessidade de autorização do STF para o
início das investigações.
Ex: corrupção passiva.

ATENÇÃO: o STJ diverge do STF nesse tema. Veja:


No que concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de
função, tem-se que, embora possuam a prerrogativa de serem processados perante o tribunal,
a lei não excepciona a forma como se procederá à investigação, devendo ser aplicada, assim, a
regra geral trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, a qual não requer prévia
autorização do Judiciário. "A prerrogativa de foro do autor do fato delituoso é critério atinente,
de modo exclusivo, à determinação da competência jurisdicional originária do tribunal
respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer
necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial" (Pet 3825 QO, Relator p/ acórdão:
Min. Gilmar Mendes, Pleno, julgado em 10/10/2007). Precedentes do STF e do STJ. 2. Não há
razão jurídica para condicionar a investigação de autoridade com foro por prerrogativa de
função a prévia autorização judicial, sendo certo que a garantia constitucional diz respeito
tão somente ao processamento e ao julgamento de eventual ação penal movida em desfavor
de ocupante de cargo cujo status constitucional assegure privilégio de foro, de modo a evitar
persecução criminal infundada. Por isso, não há que se falar em nulidade quando o
procedimento de investigação instaurado pelo Ministério Público prossegue sem a chancela do

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Poder Judiciário, pois trata-se de procedimento pré-processual, não acobertado pela garantia
de foro especial. 3. Em resumo: a) O Código de Processo Penal prevê, como primeira hipótese,
a instauração de inquérito policial ex officio pela Polícia Judiciária, em cumprimento de seu
dever constitucional, sem necessidade de requerimento ou provocação de qualquer órgão
externo; b) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.
593.727/MG, assentou a concorrência de atribuição entre o Ministério Público e a Polícia
Judiciária para realizar investigações criminais; c) Sendo assim, a mesma sistemática é válida
tanto para procedimentos investigatórios ordinários quanto para investigações que envolvam
autoridades com prerrogativa de função; d) Por constituírem limitações ao poder de
investigação conferido pela Constituição Federal à Polícia Judiciária e ao Ministério Público, as
hipóteses em que a atividade investigatória é condicionada à prévia autorização judicial
exigem previsão legal expressa – REsp n. 1.697.146/MA, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 9/10/2018, DJe 17/10/2018. No mesmo diapasão: RHC n. 93.723/PE, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 7/8/2018, DJe 15/8/2018 e RHC n.
73.829/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 31/05/2017. 7. Recurso em habeas corpus desprovido. (Recurso em Habeas
Corpus n. 79.910 – MA, STJ, 5ª Turma, unânime, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 26.3.2019, publicado no DJ em 22.4.2019)
ATENÇÃO: lembrar da QO na AP 937 sempre, em todos os exemplos e hipóteses,
verificando se os crimes foram praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver
no exercício da função !!!! Por mais que o STF tenha decidido isso para parlamentares federais,
a força expansiva da decisão do STF é enorme, tanto é que o próprio STJ já mudou seu
57 entendimento. De outra banda, é obvio que os TRFs e TJs irão seguir a mesma linha de
raciocínio. Por hora, em provas, fiquem com a decisão do STF e do STJ, ok?

É isso, pessoal. Agora vamos passar adiante com as demais análises.


8.1.5. Dicotomia entre crime comum e crime de responsabilidade
A expressão crimes comuns abrange todas as infrações penais que não constituam
crimes de responsabilidade, já que estes tipos de crime estão sujeitos à denominada
Jurisdição política. Não são crimes propriamente ditos, mas infrações político-administrativas,
ligadas ao múnus público exercido pelo agente.
Na competência do STF, prevista diretamente na Constituição, a acepção crime comum
engloba delitos penais, como os crimes eleitorais, os crimes dolosos contra a vida, crime
militar e, inclusive, contravenção penal.
Nas demais hipóteses, as exceções, quando estiverem presentes, constarão
expressamente da norma constitucional específica. Ex: art. 96, III, CF, ressalva de competência
da Justiça Eleitoral para Juízes de Direito e Promotores de Justiça, de modo que o TJ não irá
julgar crimes eleitorais cometidos por estes agentes públicos.
Assim, da leitura da CF, conclui-se que as hipóteses de foro por prerrogativa de função
atribuídas ao STF e ao STJ não contemplam nenhuma exceção, do que se pode concluir que,
em relação a tais tribunais, a regra de fixação de competência é estrita, não comportando
exceções, salvo em relação aos denominados crimes de responsabilidade. Vejam:
STF: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da
República;

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STJ: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e
nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público
da União que oficiem perante tribunais;
TJ: III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Nem mesmo a Justiça Federal será competente para julgar crimes que envolvam
interesse da União quando cometidos por Juízes de Direito e Promotores de Justiça, com o
deslocamento do feito para o TRF. Isso porque o art. 96, III, só fez ressalva quanto à Justiça
Eleitoral, não mencionando a Justiça Federal na exceção.

8.1.6. Local da infração


O membro sempre é julgado no TJ do Estado em que possui vínculo funcional. Ex:
Promotor do Paraná pratica crime comum no Amazonas, será julgado no TJPR. Assim, a
competência por prerrogativa de função exclui a regra da competência pelo lugar da infração.

8.1.7. Crime doloso contra a vida


E como fica a questão do crime doloso contra a vida praticado por agente que faz jus a
58 foro prerrogativa de função? A CF determina que o Tribunal do Júri é competente para crime
doloso contra a vida, então, o que prevalece?
Pois bem.
Se a competência por prerrogativa de função estiver prevista na própria Constituição
Federal, ela prevalece sobre a competência constitucional do Tribunal do Júri, pelo princípio
da especialidade. Ex: promotor de justiça comete crime comum, competência é do TJ, e não
do Tribunal do Júri.
Agora tem uma situação diferente. Se o foro de prerrogativa de função é previsto
somente na Constituição Estadual, e o agente pratica crime doloso contra a vida, a
competência será do Tribunal do Júri, já que a Constituição Estadual não pode derrogar uma
competência prevista na Constituição Federal. Ex: Secretário do Estado que possui foro por
prerrogativa de função no TJ, caso cometa crime doloso contra a vida, será julgado pelo
Tribunal do Júri.
Não por outra razão o STF anulou integralmente um processo em que um Procurador do
Estado foi julgado no TJ por homicídio doloso (foro previsto na Constituição Estadual),
entendendo que, no caso, a competência era do Tribunal do Júri, competência prevista a nível
de Constituição Federal.
Neste sentido, o STF editou a Súmula Vinculante n° 45: A competência constitucional do
Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
na Constituição Estadual.
Agora, pessoal, lembrar da QO na AP 937. Será difícil haver foro por prerrogativa de
função envolvendo um crime doloso contra a vida, já que esse crime dificilmente será
relacionado ao exercício da função.

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É difícil imaginar um desembargador, um juiz, um promotor, dando um tiro em alguém


ou mandando matar alguém em razão do exercício da função, a não ser uma hipótese
mirabolante de uma rede de corruptos que vendam sentenças, por exemplo, que queiram
abafar provas e mandam matar as pessoas que saibam. Não me vem em mente muitas
hipóteses...
MAS, já aconteceu um caso de crime doloso contra a vida relacionado às funções
parlamentares, interessante de lembrar:
Em 4 de dezembro de 1963, em sessão legislativa, o senador Arnon de Mello (Pai do
Fernando Collor de Mello), sacou um 38 e disparou três tiros objetivando matar o colega
Senador Silvestre Péricles, em pleno debate político, no próprio Senado Brasileiro, mas
nenhum dos tiros acertaram o colega.
Por infortúnio e aberractio ictus, os tiros acertaram o Senador José Kairala, que teria sido
baleado na frente de seu filho pequeno, esposa e mãe, que estavam prestigiando-o em
um dia de tão nobre trabalho, já que ele estava apenas como suplente naquele dia e
devolveria o cargo ao titular no dia seguinte. 3
#Atenção: Observem que o caso acima não é de aplicabilidade da Súmula Vinculante 45,
ok? Isso porque Senadores possuem foro previsto na própria CF, sendo eles processados e
julgados no STF por crimes comuns, ainda que dolosos contra a vida. Queria apenas mostrar
para vocês um caso de crime doloso contra a vida relacionado ao exercício das funções
parlamentares.
Pode ser que haja aplicabilidade da SV45 em caso de vereador atirar em vereador em
59 um discurso político, dentro da casa parlamentar, pois aí aplica-se o decidido na QO da AP
937 (crime relacionado à função e praticado na função). Aí surge a dúvida de competência: TJ
ou Tribunal do Júri?????
Resposta: Tribunal do Júri, porque o eventual foro previsto em Constituição Estadual
não prevalece sobre a competência prevista diretamente na Constituição Federal, que diz que
os crimes dolosos contra a vida serão julgados pelo Tribunal do Júri.
8.1.8. Hipóteses de concurso de agentes
Tentarei dar todos os exemplos levando em consideração a tese firmada na QO da AP
937, ok?
Vamos lá.
Um Deputado Federal comete um peculato, com participação de um particular sem
prerrogativa de foro. Nessa hipótese, dispõe o art. 77, inciso I, do CPP, o seguinte:
Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
Assim, em virtude da continência por cumulação subjetiva (duas ou mais pessoas
acusadas da mesma infração), e do consequente processo simultâneo, ambos poderão ser
julgados e processados perante o STF. Nesse sentido, vejamos:
Súmula 704 STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados.

3
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/arnon-de-mello-morte-senado.phtml
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O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve ser a


regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma
relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional. STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014
(Info 735).

Ressalta-se que a súmula não prevê a obrigatoriedade dessa continência, de modo que o
Relator pode determinar, caso visualize a presença de motivo relevante que a recomende, a
separação do processo com a devida remessa para a instância inferior em relação ao réu que
não tenha foro por prerrogativa de função. Nesse sentido:
CPP. Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Isso se dá mais em casos complexos, com dezenas de acusados, ou com a iminência de
prescrição em relação a determinado fato delituoso, sendo a separação extremamente
conveniente.
Sobre isso, compete ao Tribunal de maior graduação – e não ao juiz de 1ª instância – a
competência para decidir quanto à conveniência de desmembramento de procedimento de
investigação ou persecução penal, quando houver pluralidade de investigados e um deles
tiver prerrogativa de foro perante determinado Tribunal.
60 Imaginemos outra situação.
Crime praticado em concurso de agentes por titular de foro por prerrogativa de função
previsto na Constituição Federal, em coautor que não o possua tiver praticado um crime
doloso contra a vida, conexo com o crime funcional praticado pelo agente com foro previsto
na CF.
Ex: Deputado federal, a fim de acobertar um esquema de compra votos na casa
parlamentar, contrata um pistoleiro para matar Beltrano, jornalista que descobriu todo
esquema corrupto do partido político desde Deputado, tudo isso no exercício do cargo, sendo
este crime relacionado com as funções do parlamentar. Como fica a competência???
O Deputado Federal será julgado perante o STF, sendo inevitável a separação do
processo com relação ao pistoleiro, na medida em que ambas as competências – STF para o
deputado e Tribunal do Júri para o pistoleiro – estão previstas na Constituição Federal, sendo
inadmissível que uma norma infraconstitucional (continência, art. 77, I, CPP) possa prevalecer
sobre preceitos constitucionais.
Assim, afirma-se que em caso de concurso de agentes em crime doloso contra a vida, o
privilégio de foro ostentado por um dos acusados não atraia competência do respectivo
Tribunal para o julgamento do outro envolvido, que deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, seu
juiz natural. Isso porque a norma constitucional de competência do júri só pode ser excluída
por outra de mesma natureza e hierarquia, afastando a incidência da norma legal que
determina a unidade de processo e julgamento em razão da continência.
Outra questão: se o crime é cometido por agentes que gozam de foros por prerrogativa
de função em diferentes tribunais, a aplicação é a mesma: Ex: Desembargador e Promotor de
Justiça praticam crime relacionado à função. Como fica???

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Pelo estudo da doutrina e da jurisprudência, que formula todo um sistema lógico (não
muito lógico, às vezes), o Desembargador seria julgado pelo STJ e o Promotor pelo TJ, ambas
competências previstas diretamente na constituição, não havendo se falar em continência e
conexão.
Mas... O STF disse, em 2007 (HC 91437), que compete tudo ao STJ, por se tratar de
órgão de maior graduação em relação ao Tribunal de Justiça. Qual a lógica nisso? Não achei o
fundamento legal e constitucional, foi pura interpretação casuística rsrs... Mas bola para
frente.
8.1.9. Constituições Estaduais e princípio da simetria
Determina o artigo 125, caput, da Constituição Federal, que os Estados organizarão sua
Justiça, observados os princípios estabelecidos na Constituição.
Assim, deve a Constituição Estadual seguir a Federal, principalmente no que toca às
autoridades que deverão ter foro. Ex: juízes, promotores, secretários de Estado, Membros do
Tribunal de Contas, etc.
Mas há limites materiais ao poder constituinte decorrente no que tange à possibilidade
de conceder foro por prerrogativa de função aos agentes estaduais, criando-se exceções às
regras da garantia da isonomia e do Juiz Natural???
Conforme determina o princípio da simetria ou do paralelismo (art. 125, CF), e
considerando que os Estados não podem legislar sobre matéria penal, ou mesmo processual,
reservada à competência privativa da União (art. 22, I, CF), os Estados só podem atribuir aos

61 seus agentes políticos as mesmas prerrogativas que a Constituição Federal concede às


autoridades que lhes sejam correspondentes, ressalvando-se apenas os crimes que não
estejam submetidos à Jurisdição do Estado (ex: Eleitorais). Assim, o artigo 125 da CF não
outorgou aos Estados uma cata em branco para assegurar o privilégio a quem bem
entenderem, não podendo eles saírem do paralelismo.
MAS. Não obstante a tal fato, não é esse o entendimento do STF. Na ADI 2587, o STF
declarou a constitucionalidade na criação de foro por prerrogativa de função à Procuradores
de Estado e da Assembleia Legislativa e aos Defensores Públicos, rejeitando-a em relação aos
delegados de polícia. A razão é que Procuradores de Estado/Assembleia e Defensores Públicos
seriam essenciais ao Estado Democrático de Direito, ao contrário do que se dá com os
Delegados, que são subordinados, hierarquizados administrativamente aos Governadores de
Estado e do Distrito Federal. Sendo subordinados, não fazem jus ao foro por prerrogativa de
função.
Este foro é somente válido perante autoridades judiciárias locais, não valendo para
crimes eleitorais, militares, ou contra bens, interesses ou serviços da União, hipótese em que a
competência é prevista na própria Constituição Federal.
Assim, se o deputado estadual comete crime federal, será julgado não pelo TJ, mas pelo
TRF.
Leis orgânicas, por sua vez, não podem prever foro, já que não podem legislar sobre
organização judiciária e nem direito processual.

8.1.10. Exceção da verdade e foro por prerrogativa


Pessoal, em difamação e calúnia, admite-se a chamada exceção da verdade. Exceção da
verdade nada mais é do que a tentativa do querelado de demonstrar que os fatos que ele
imputa à pessoa são verdadeiros. Desta exceção da verdade, pode-se resultar 2
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consequências: a) rejeição da exceção, ficando constatado que o fato imputado não é


verdadeiro; b) acolhimento da exceção, ficando constatado que o fato é verdadeiro e que,
portanto, houve crime, havendo absolvição do querelado/réu.
Sobre isso, dispõe o artigo 85 do CPP que nos processos por crimes contra a honra, em
que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e
admitida a exceção da verdade.
Por que isso?
Se a ação penal privada por crime de calúnia for movida por pessoa detentora de foro, o
processo corre na primeira instância, certo? Isso porque ele não é o réu. Porém, oposta a
exceção da verdade pelo querelado (CP, art. 138, §3°), a fim de demonstrar a verdade do fato
que ele imputou ao querelante, do julgamento dessa exceção poderá resultar o
reconhecimento de crime, razão pela qual seu julgamento deve ficar a cargo do Tribunal
competente, de acordo com o foro por prerrogativa de função.
Assim, a exceção da verdade tramita no foro em que o excepto tiver foro por
prerrogativa de função, ok? Isso porque poderá resultar no descobrimento de um crime.
Lembro vocês de que, aqui, temos que fazer uma nova intepretação a fim de adequar ao
novo entendimento do Plenário do STF. Penso que essa exceção da verdade só poderá ser
processada no foro privilegiado quando o crime imputado ao agente com prerrogativa de foro
for supostamente praticado quando estiver exercendo suas funções e quando tenha relação
com o cargo.
62 8.1.11. Atribuições dos membros do MP perante os Tribunais Superiores
A Lei n° 8.625/93, Lei Orgânica do MP, dispõe no art. 29, inciso V, que compete ao
Procurador-Geral de Justiça ajuizar ação penal de competência originária dos Tribunais, nela
oficiando. Pode o Promotor de Justiça também oferecer a denúncia, mediante designação do
Procurador-Geral, sendo dispensada a ratificação expressa da denúncia pelo PGJ.
Por sua vez, a LC 75/93, que regula o MPU, dispõe caber ao Procurador-Geral da
República ajuizar ações penais originárias no STF e no STJ. Essas atribuições podem ser
delegadas a um membro do MPF que seja titular do cargo de Subprocurador-Geral da
República.
No âmbito dos Tribunais Regionais Federais, a ação penal fica por conta de um
Procurador Regional da República, enquanto que, junto aos Tribunais Regionais Eleitorais, por
um Procurador Regional Eleitoral.
Lado outro, cabe ao Procurador-Geral da Justiça Militar exercer as funções atribuídas ao
MP Militar junto ao Superior Tribunal Militar, destacando-se dentre suas atribuições a de
oferecer denúncia contra Oficiais-Generais das Forças Armadas.
8.1.12. Procedimento originário dos Tribunais
O procedimento encontra-se regulamentado pela Lei n° 8.038/90, e dispõe sobre
normas procedimentais para os processos perante o Supremo Tribunal Federal e Superior
Tribunal de Justiça. Por força da Lei n° 8.658/93, as normas procedimentais da referida lei
supra são aplicáveis às ações penais de competência originária dos Tribunais de Justiça e dos
Tribunais Regionais Federais.
A lei 8.038/90 deve ser lida, ok? Tem umas peculiaridades procedimentais. Destacamos:
a) Apresentada denúncia ou a queixa, será notificado o acusado para oferecer resposta
(preliminar) no prazo de 15 dias. É a denominada defesa preliminar, onde o réu se
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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

manifesta antes do recebimento da denúncia pelo Tribunal, evitando-se instauração


de lites temerárias.
b) O relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o recebimento, rejeição ou a
improcedência da acusação, se a decisão não depender de outras provas.
Sobre o tema, o STJ já decidiu que não há necessidade de se assegurar ao acusado
citado para apresentação de defesa preliminar prevista no art. 8° da Lei n° 8.038/90 o direito
de se manifestar nos moldes preconizados no art. 396-A do CPP, com posterior deliberação
sobre absolvição sumária do art. 397. Isso porque as regras do 395 a 397 do CPP já se
encontram implícitas no procedimento previsto na Lei n° 8.038/90, pois, após o oferecimento
da denúncia e notificação do acusado para a resposta preliminar, o relator pedirá dia para que
o tribunal delibere sobre a denúncia, nos termos acima mencionado. Assim, não há prejuízo
algum, já que o rito impõe ao colegiado o enfrentamento de todas as teses defensivas que
possam culminar na improcedência da acusação ou na rejeição da denúncia.
8.2. Competências em razão da função – ratio funcionae
8.2.1. Supremo Tribunal Federal
Vou ser bem direto e seco aqui, ok? Tecendo comentários só quando for relevante.

Competência Originária:
Constituição Federal, art. 102, inciso I, “b”: Compete ao STF processar e julgar
ORIGINARIAMENTE.
63 1) Nas infrações penais comuns (aí abrangidos eleitorais, contravenções penais,
crimes militares, etc.):
a. Presidente da República e o Vice-Presidente.
b. Membros do Congresso Nacional.
c. Ministros do STF
d. Procurador-Geral da República.
Nesse caso, compete ao STF a condução do inquérito policial em que figuram como
indiciado autoridades com foro especial no STF, não cabendo ao juízo de primeira instância a
decisão sobre a necessidade de promover o desmembramento.
Lembrar sempre sobre a questão de ordem decidida na AP 937: foro no STF é só para
crimes ocorridos no exercício da função e com relação ao exercício das funções.
Ainda, dispõe o art. 102, inciso I, c: compete ao STF julgar e processar originariamente
1) Nas infrações penais comuns e crimes de responsabilidade:
a. Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e da Aeronáutica,
salvo se o crime de responsabilidade for conexo ao do Presidente ou Vice,
caso em que a competência será do SENADO
b. Membros dos Tribunais Superiores
c. Membros dos Tribunais de Contas da União
d. Chefes de missão diplomática de caráter permanente
Competência para julgar habeas corpus (art. 102, I, d):
1) Quando forem pacientes qualquer das pessoas das alíneas b e c:
a. Presidente da República e o Vice-Presidente.
b. Membros do Congresso Nacional.
c. Ministros do STF

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

d. Procurador-Geral da República.
e. Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e da Aeronáutica.
f. Membros dos Tribunais Superiores
g. Membros dos Tribunais de Contas da União
h. Chefes de missão diplomática de caráter permanente
i. Funcionários cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do STF ou
se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância (art.
102, I, i).
i. Ex: decisão de TRIBUNAL SUPERIOR que indefere habeas corpus.
Atenção aqui: Súmula 691 do STF: Não compete ao STF conhecer de
habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas
corpus requerido ao tribunal superior, indefere a liminar. Isso
porque o Relator, por si só, não poderia ser equiparado ao Tribunal
Superior. Deve então a parte agravar do indeferimento liminar do
Relator para que o Tribunal aprecie, para então, tão somente
depois, impetrar HC no STF.
ii. O STF tem relativizado este entendimento em casos
TERATOLÓGICOS, ou seja, casos mirabolantes de flagrante
ilegalidade na prisão.
8.2.2. Superior Tribunal de Justiça
Por sua vez, dispõe o artigo 105, inciso I, alínea “a” da CF que:
Compete ORIGINARIAMENTE ao STJ processar e julgar:
64 1) Nos crimes comuns:
a. Governadores dos Estados
b. Desembargadores dos Tribunais de Justiça
c. Membros dos Tribunais de Contas
d. Membros dos Tribunais Regionais Federais
e. Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais
f. Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho
g. Membros dos Conselhos ou Tribunais de contas dos municípios
h. Membros do MP da UNIÃO que oficiem perante Tribunais
2) Nos crimes de responsabilidade: TODOS os acima, menos o Governador, que é
julgado por um Tribunal Especial no Estado dele, que já falamos no tópico 7.4 desta
aula.
A expressão crimes comuns aqui abrange inclusive contravenções penais, menos crimes
de responsabilidade, ok?
ATENÇÃO MASTER! Dois julgados de SUPREMA importância:
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas
em que o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. STJ.
Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/06/2018 (Info 630).
Mas atenção: Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados
pelo STJ mesmo que o crime não esteja relacionado com as suas funções. Assim, o STJ
continua sendo competente para julgar quaisquer crimes imputados a
Desembargadores, não apenas os que tenham relação com o exercício do cargo. STJ. APn
878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses


em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o desembargador
acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao
mesmo tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não esteja
relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª
instância significar que o réu seria julgado por um juiz de primeiro grau vinculado ao
mesmo tribunal que o Desembargador. A manutenção do julgamento no STJ tem por
objetivo preservar a isenção (imparcialidade e independência) do órgão julgador. STJ.
Corte Especial. QO na APn 878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018
(Info 639).
Assim, a regra de competência para membros do MPU é:
STF: Procurador-Geral da República pela prática de infração penal comum – (relacionada
ao cargo e no exercício do cargo).
TRF: membros do MPU que atuam perante a primeira instância, pela prática de crimes
comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Assim, com exceção dessas regras acima, o STJ julga os membros do MPU que atuem
perante os Tribunais. Conclui-se que os demais membros do MPU que serão julgados pelo STJ
são:
a) Procuradores Regionais da República
b) Procuradores Regionais do Trabalho
c) Procuradores de Justiça do Distrito Federal, que oficiam, respectivamente,
65 perante os Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho e
perante o TJDFT;
d) Subprocuradores-Gerais da República;
e) Subprocuradores-Gerais da Justiça Militar;
f) Procurador-Geral da Justiça Militar;
g) Subprocuradores-Gerais do Trabalho;
h) Procurador-Geral da Justiça do Trabalho;
i) Procuradores de Justiça que atuem perante os Tribunais de Justiça.

Habeas Corpus, quando o coator ou paciente for:


a) Governador de Estado e do Distrito Federal
b) Desembargadores dos Tribunais de Justiça e dos Estados e Distrito Federal
c) Membros do Tribunal de Contas dos Estados e DF
d) Membros dos Tribunais Regionais Federais;
e) Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais;
f) Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho;
g) Membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios;
h) Membros do MP que atuem perante Tribunais;
Quando o coator for sujeito à sua jurisdição (TJ e TRF):
a) Ministro de Estado;
b) Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência
da Justiça Federal.
Percebam que neste último tópico, as autoridades, quando forem pacientes, o HC será
no STF, mas quando forem coatoras, o HC será no STJ. Fiquem ligados nisso, ok?

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8.2.3. Tribunal Superior Eleitoral


Segundo o art. 22, inciso I, “d”, da Lei n° 4.737/65, compete ao TSE processar e julgar os
crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes dos
Tribunais Regionais. A doutrina entende que esse dispositivo não foi recepcionado pela
Constituição.
Isto porque a CF diz que compete ao STF julgar membros dos Tribunais Superiores (art.
102, I, “c”). Ainda, o art. 105, I, “a”, dispõe que compete a STJ julgar, em quaisquer infrações,
os membros dos Tribunais Regionais Eleitorais. É dizer: o TSE não julga mais os Juízes
Eleitorais.
Importantes observações: as decisões proferidas pelo TSE são irrecorríveis (art. 121, §3°,
CF), sendo excepcionada tão somente para as que contrariarem a CF e para as denegatórias
(que negarem, ok) habeas corpus ou mandado de segurança. Por sua vez, cabe Recurso
Extraordinário ao STF, portanto, nos casos de ofensa à CF e recurso ordinário constitucional
nos casos que deneguem habeas corpus e mandado de segurança, ambos dirigidos ao STF.
Quando a decisão for de TRE, havendo afronta à CF o recurso será dirigido ao TSE e,
somente depois, ao Supremo Tribunal Federal para verificar o REx.

8.2.4. Tribunais Regionais Federais – art. 108


Compete aos TRFs processar e julgar originariamente os juízes federais da área de sua
jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de
66 responsabilidade, e os membros do MPU, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Portanto, eles julgam os membros do MPU que atuam em primeira instância, ok? Porque se
atuar em Tribunal, será competência do STJ, conforme já vimos.
Atenção: os membros do Ministério Público do Distrito Federal que atuam na primeira
instância são processados e julgados perante o TRF, por serem integrantes do Ministério
Público da União. Fiquem ligados: juízes do TJDFT não!!! Eles são julgados pelo próprio TJDFT.
Veja: diferentemente do artigo 109, inciso IV, só foi afastada a competência da Justiça
Eleitoral, ok? Os crimes militares praticados por magistrados do Poder Judiciário da União e
membros do MPU, portanto, serão julgados pelo TRF.
Também compete ao TRF o julgamento de prefeitos e de outras autoridades estaduais,
com foro por prerrogativa de função previsto nas Constituições Estaduais, quando cometerem
crimes da esfera federal.
8.2.5. Tribunais Regionais Eleitorais
Processam e julga crimes eleitorais praticados por juízes e promotores eleitorais, assim
como Prefeitos, Deputados Estaduais e outras autoridades com foro por prerrogativa de
função previsto nas Constituições Estaduais.
Ainda, compete aos TREs o processo e julgamento de habeas corpus, em matéria
eleitoral, contra ato de autoridade que responda perante os Tribunais de Justiça por crime de
responsabilidade e, em grau de recurso, os denegados ou concedidos pelos juízes eleitorais.
8.2.6. Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal
Conforme dispõe a Constituição Federal, juízes estaduais e do DF, assim como membros
do MP dos Estados, deverão ser processados e julgados perante o respectivo Tribunal de
Justiça pela prática de crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral (art. 96, III, CF).

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 Processo Penal
 Competência Criminal
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Veja: a CF afasta a competência do TJ tão somente em relação aos crimes eleitorais, de


modo que os crimes militares praticados por juízes e MP estaduais serão julgados pelo
respectivo Tribunal de Justiça, ok?
Atente-se para a pegadinha suprema de prova em cargos federais: Membro do MPDFT
é membro do MPU, porque o MPDFT é integrante do MPU, e ele é julgado pelo TRF, e não pelo
TJDFT, ok??
No que toca aos crimes comuns, prefeitos também têm foro perante o Tribunal de
Justiça (art. 29, X, CF), salvo em relação a crimes federais e eleitorais, hipótese em que a
competência recai sobre o TRF e TRE, respectivamente. Súmula 702 STF: A competência do
Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça
Comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau (Leia-se: TRF ou TRE, conforme o caso).
Ainda, dispõe o art. 125, §1°, que a competência dos tribunais será definida na
Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de
Justiça. Aqui, cabe lembrar que as Constituições Estaduais só podem atribuir aos seus agentes
políticos as mesmas prerrogativas que a CF concede às autoridades que lhes sejam
correspondentes. Ex: Deputado Estadual. Há a exceção mencionada no tópico 8.1.9
(Procuradores do Estado e de Assembleias Legislativas e Defensores Públicos, por serem
essenciais ao Estado Democrático de Direito).
Assim, Constituição Estadual não pode conceder foro no TJ para Delegado, Vereador,
Comandante Geral da Polícia Militar, etc.
67 8.2.7. Senado Federal
Julga os crimes de responsabilidade do Presidente e Vice-Presidente da República, bem
como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Auronáutica nos
crimes da mesma natureza conexos com aqueles, assim como os Ministros do STF, o PGR, o
AGU e os membros do CNJ e do CNMP, nos crimes de responsabilidade.
Atenção: em crimes comuns, os membros do CNJ e CNMP são julgados conforme seu
cargo, ok??
8.2.8. Tribunal Especial
Já mencionado no tópico 7.4, o Tribunal Especial é composto por 5 Deputados,
escolhidos pela Assembleia, e 5 Desembargadores, sorteados pelo Presidente do Tribunal de
Justiça, que o presidirá. Julgará por crime de responsabilidade o Governador, Vice-
Governador e os Secretários de Estado, nos crimes de mesma natureza conexos com aqueles,
assim como o Procurador-Geral de Justiça e o Procurador-Geral do Estado. (Lei 1.079/50)
Súmula 722 do STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento. Assim,
cabe à União, e não às constituições Estaduais definir o foro competente para julgar os
Governadores. Nesse sentido, o STF concluiu que ainda que as Constituições Estaduais
disponham em sentido diverso, caberá a um Tribunal Especial composto de cinco membros do
Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do TJ local, o processo
e julgamento de governadores de Estado pela prática de crimes de responsabilidade. Não pode
a CE disciplinar.
8.2.9. Câmara Municipal
Julga crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais (DL 201/67). Atenção aqui: o
processo pressupõe que o Prefeito Municipal esteja no exercício do mandato, na medida que a
única sanção prevista é a cassação do mandato.
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8.3. Titulares de foro por prerrogativa de função


8.3.1. Presidente da República
Crimes de responsabilidade: julgado pelo Senado Federal (art. 52, I, CF).
São considerados crimes de responsabilidade todos os atos atentatórios à CF, em
especial os praticados contra a existência da União, o livre exercício do Poder Legislativo,
Judiciário e Ministério Público, o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, a
segurança interna do país, a probidade na administração, a lei orçamentária e o
cumprimento das leis e decisões judiciais (CF, art. 85, I a VII – rol exemplificativo).
Os crimes de responsabilidade são tidos pela jurisprudência como de natureza penal, só
cabendo à União legislar sobre esses crimes, nos termos da Súmula 722 do STF: são de
competência da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento. A lei que regula isso é a Lei n° 1.079/50.
Em crimes comuns, aí abrangidos os eleitorais, já que não foi excetuado pela
Constituição, o processo se desenvolve em duas fases. Admitida a acusação pela Câmara dos
Deputados, por 2/3 dos votos, o Presidente será julgado pelo STF (art. 102, I, b). Esse juízo
político de admissibilidade exercido pela Câmara precede a análise jurídica pelo STF para
conhecer e julgar qualquer matéria defensiva suscitada pelo denunciado (art. 4°, Lei n°
8.038/90), já que somente após a autorização da Câmara é que o STF poderá notificar o
Presidente para apresentar resposta à acusação. Recebida a denúncia ou queixa, pelo Plenário
do STF, o presidente ficará suspenso de suas funções, pelo prazo máximo de 180 dias, tempo
em que o processo já deveria estar encerrado. Enquanto não sobrevier decisão condenatória,
68 o Presidente não estará sujeito à prisão. Leiam o artigo 86 da CF, inteiro.
No que toca aos crimes não-funcionais do Presidente, a persecução ficará suspensa até
o término do mandato (86, §4°, CF), quando então poderão ser ajuizadas as ações penais por
infrações cometidas antes do exercício do mandato ou durante o seu exercício, mas que não
guardem vinculação com as suas funções.
STF já falou que isso não é imunidade penal do Presidente, mas sim imunidade
temporária à persecução penal, não havendo se falar em irresponsabilidade por crimes não
funcionais praticados no curso do mandato, mas apenas que não haverá responsabilização
enquanto não cessar a investidura na Presidência.
Essa cláusula não é extensível aos Governadores, ok? STF já se manifestou sobre isso.
Assim, a Constituição Estadual não pode prever essa cláusula aos Governadores, nem aos
Prefeitos. Isso porque a referida imunidade é expressa em mencionar o Presidente da
República, não autorizando, por sua natureza restritiva, qualquer interpretação extensiva.
8.3.2. Deputados Federais e Senadores
Nos crimes comuns, inclusive eleitorais, deve o processo ter curso regular perante o STF
(art. 102, I, b, c/c art. 53, §1°), desde que o andamento da ação não seja sustado pelo voto da
maioria da casa respectiva (art. 53, §3°). A partir da EC 35/01, não mais é necessária a
autorização do Congresso Nacional para o recebimento de peça acusatória contra
parlamentares. Apenas pode ocorrer, desde que recebida a denúncia em relação à prática de
crime cometido após a diplomação, é a suspensão do processo e e do curso do prazo
prescricional, por decisão da respectiva Casa, por voto da maioria dos seus membros (art. 53,
§3° e 5°).
Em crimes de responsabilidade é a própria casa que julga.
Prevalece o entendimento no STF de que o foro por prerrogativa de função está
diretamente ligada ao exercício do cargo, razão pela qual se o parlamentar estiver licenciado
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não faz jus ao foro por prerrogativa, mesmo que se encontre no exercício de outra função para
a qual não haja previsão de foro por prerrogativa de função.
E o SUPLENTE??? Entende o STF que apenas o TITULAR possui foro. Isso porque a posse
no cargo, que constitui ato formal indispensável para o gozo das prerrogativas ligadas à função
legislativa, dá-se apenas com relação àquele que efetivamente o exerce, em caráter interino
ou permanente. Assim, só se estende ao suplente enquanto ele exercer o cargo de modo que,
com o retorno do titular, o suplente perde o foro.
8.3.3. Ministros de Estado
Em crime comum e de responsabilidade são julgados perante o STF. Em
responsabilidade só serão julgados pelo Senado se este crime for conexo com algum crime de
responsabilidade cometido pelo Presidente da República.
8.3.4. Membros do CNJ e do CNMP
A EC 45/04 só estabeleceu que compete ao Senado Federal processar e julgar os
membros do CNJ e do CNMP nos crimes de responsabilidade, não dispondo sobre crimes
comuns.
Nesse caso, deve-se analisar cada autoridade integrante.
Ex: Juízes de TJ, perante o respectivo TJ; Desembargador do TJ, perante o STJ.
Os demais integrantes que não tenham foro (ex: advogados indicados pela CFOAB e
cidadãos de notável saber jurídico) serão julgados na 1ª instância.

69 8.3.5. Governador de Estado


Por crimes comuns é a competência é do STJ.
#bizu: julgadão de 2017 aqui, ok? Vamos lá. Dizer o Direito:
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ
receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado,
por crime comum. Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE
para que o Governador do Estado seja processado por crime comum. Se a Constituição
Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja processado
criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional. Assim, é vedado às
unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal
contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa.
Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará
automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual? NÃO. O
afastamento do cargo não se dá de forma automática. O STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de
o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma
das medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da
comarca, fiança, monitoração eletrônica etc.).
STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red.
p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2017 (Info 872). STF. Plenário. ADI
5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/5/2017 (Info 863). STF. Plenário. ADI
4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863).

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Por que isso? Renato Brasileiro diz que o sistema republicando, que inclui a ideia de
responsabilidade dos governantes, é princípio constitucional de observância obrigatória, de
modo que a exceção prevista no art. 51, I, da CF, é norma de reprodução proibida pelos
Estados-Membros. Ademais, matéria que dispõe sobre procedibilidade para o exercício para o
exercício da jurisdição penal pelo STJ consiste em norma processual, matéria de competência
privativa da União (art. 22, I, CF), impossível de ser prevista pelas Constituições Estaduais.
Em caso de crime eleitoral praticado por Governadores, entendia a Corte Superior que
ainda assim a competência seria do STJ, e não do TSE. Entretanto, não sabemos como isso
ficará agora em razão da QO na AP 937, uma vez que fundamento da decisão era de que os
Governadores eram julgados perante o STJ mesmo por infrações estranhas ao exercício da
função, e que “crimes comuns” abrangia todas as infrações penais, inclusive as de caráter
eleitoral.
Penso que, como agora deve ser praticado no cargo e com relação às funções, eventual
crime eleitoral estranho às funções será julgado pela Juiz Eleitoral de 1° Grau, já que este
crime, em regra, é cometido quando o sujeito ainda não gozava do status de Governador, bem
como se praticado no cargo, provavelmente não terá relações com às funções, mas com o
processo eleitoral. Isso é só uma visão minha. Se cair isso em prova objetiva, no atual
momento, não tem NADA DECIDIDO pelos Tribunais, sendo a questão passível de anulação.
Um dos maiores professores de Direito Eleitoral do Brasil, o professor Procurador da
República Luiz Carlos Gonçalves, entende como eu falei aí. (Aproveitem para conhecer o blog
dele, chamado A Cachaça Eleitoral. É só jogar no google).

70 Nos crimes de responsabilidade, por sua vez, o órgão competente é definido na


Constituição Estadual. Em falta, utiliza-se a Lei n° 1.079/50 e o Tribunal Especial. Súmula 722
do STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento. Assim, cabe à União, e não
às constituições Estaduais definir o foro competente para julgar os Governadores. Nesse
sentido, o STF concluiu que ainda que as Constituições Estaduais disponham em sentido
diverso, caberá a um Tribunal Especial composto de cinco membros do Legislativo e de cinco
desembargadores, sob a presidência do Presidente do TJ local, o processo e julgamento de
governadores de Estado pela prática de crimes de responsabilidade. Não pode a CE disciplinar.
STJ: vice-governador tem foro por prerrogativa previsto na Constituição Estadual,
competindo ao TJ processo e julgamento. O foro do Governador em crimes comuns no STJ não
se estende ao vice, ainda que a prática delituosa tenha ocorrido quando o Vice-Governador
estivesse ocupando o cargo interinamente.

8.3.6. Desembargadores dos TJ e membros do TRF


Pela prática de crimes comuns e de responsabilidade, serão julgados originariamente
pelo STJ, conforme já vimos no item 8.2.2.

8.3.7. Membros do MP Estadual e Juízes Estaduais


São julgados pelo Tribunal de Justiça ao qual estão vinculados, independentemente da
natureza da infração penal (crime federal, militar, doloso contra a vida, ou até mesmo
contravenções penais). Isso porque a Constituição não faz nenhuma ressalva quanto a estes
delitos, ressalvando apenas a competência da Justiça Eleitoral.

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Assim, se houver, por exemplo, um crime federal praticado por um promotor de justiça
em concurso de agentes com um particular, sem foro, em razão da norma especial da
Constituição, que só fez ressalva com relação aos crimes eleitorais, o Promotor será julgado no
TJ e o particular perante a Justiça Federal. Prepondera a regra constitucional sobre normas de
lei ordinária que determinam a reunião de processos por força da conexão ou continência.
Diante da ressalva eleitoral, se Juízes e Promotores, quando da função eleitoral,
cometerem crimes eleitorais, serão julgados pelo TRE (art. 29, I, “d” do Código Eleitoral + art.
96, III, da CF).
Importante esclarecer que, Juízes de 1° grau, quando convocados para o TJ para exercer
a função de desembargador, não possuem a prerrogativa de foro para serem processados no
STJ. A prerrogativa de foro é inerente ao CARGO, e não a eventual exercício de função em
substituição. A única ressalva é quanto aos crimes eleitorais, que são convocados para serem
Juízes eleitorais, e a própria constituição ressalva a competência da Justiça eleitoral.
Para o STF, o foro não se estende a Promotores e Juízes que se aposentam
voluntariamente, já que o foro é em razão da função, objetivando resguardar a função pública.
Ainda, a prerrogativa de foro não está voltada para o Juiz, mas para os jurisdicionados. Não
exercendo mais a função, não há porque resguardar os jurisdicionados. ATENÇÃO: QO na AP
937 tornou este entendimento obsoleto, já que ficou fixado o entendimento de que o foro é
para crimes praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver no exercício da
função.
Ademais, a fixação dessa competência independe do local de sua prática. Ou seja,
71 mesmo que um Juiz do TJMS cometa crime em outro estado, será julgado pelo TJMS. (CF, art.
96, III).
ATENÇÃO: lembrar da QO na AP 937 sempre, em todos os exemplos e hipóteses,
verificando se os crimes foram praticados na função, com relação à função, e enquanto estiver
no exercício da função !!!! Por mais que o STF tenha decidido isso para parlamentares federais,
a força expansiva da decisão do STF é enorme, tanto é que o próprio STJ já mudou seu
entendimento. De outra banda, é obvio que os TRFs e TJs irão seguir a mesma linha de
raciocínio. Por hora, em provas, fiquem com a decisão do STF e do STJ, ok?
8.3.8. Membros do Ministério Público da União
Aqui tem mil e uma pegadinhas, ok? Prestem atenção :D
Dispõe o art. 108, inciso I, “a”, da CF, que compete ao Tribunal Regional Federal o
processo e julgamento dos membros do Ministério Público da União que atuem na primeira
instância, seja pela prática de crime comum, seja pela prática de crime de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Neste sentido, são membros do Ministério Público da União que atuam em primeira
instância:
a) Procuradores da República (MPF);
b) Promotores e Procuradores da Justiça Militar da União (MPM), junto aos Juízes-
Auditores e Conselhos Permanentes e Especiais da Justiça Militar da União;
c) Procuradores do Trabalho (MPT);
d) Promotores de Justiça do Distrito Federal (MPDFT), que são mantidos pela União

Assim, eventual crime comum e de responsabilidade cometidos por essas pessoas será
processado perante o TRF, ressalvada a competência do TER para o julgamento de crimes

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 Processo Penal
 Competência Criminal
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eleitorais (Lembrar da QO na AP 937. Se o TRE também adotar este entendimento, a maioria


dos crimes eleitorais serão julgados por Juízes Eleitorais, a não ser que o crime tenha sido
cometido quando essas autoridades exerciam função eleitoral, em razão da função, etc.)
A eventual remoção de um membro do MPU para um local de jurisdição de outro TRF
não tem o condão de alterar a competência já realizada, pois a competência é fixada com base
naquele TRF perante o qual atuava por ocasião da prática do delito. O mesmo se dá para Juízes
Federais.
Eventual habeas corpus contra ato de membro do MPDFT (integrante do MPU) deve ser
processado e julgado perante o TRF da 1ª Região, haja vista a possibilidade de resultar do
julgamento do HC o reconhecimento de prática de um delito por esse agente (ex: abuso de
autoridade). Isso também se dá em razão da simetria dada à competência do STF e do STJ para
julgar HC, quando a coação é exercida por autoridades sujeitas à jurisdição desses Tribunais.
Por sua vez, compete ao STJ o processamento e julgamento dos membros do MPU que
atuem perante Tribunais, conforme já mencionado no item 8.2.2.
Quanto ao Procurador-Geral da República, é processado e julgado pelos crimes comuns
(aí incluídos crimes eleitorais, militares e contravenções penais, já que não há ressalva)
perante o STF, ao passo que os crimes de responsabilidade são julgados pelo Senado.
8.3.9. Deputados Estaduais
Aqui tem muita reviravolta jurisprudencial. PRESTEM ATENÇÃO porque ontem, dia
08/05/2019, teve O Ministro Dias Toffoli alterou seu entendimento e, por 6x5, houve uma

72 forte mudança aqui.


Vamos lá. CF, art. 27, §1º: § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
aplicando-sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade,
imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às
Forças Armadas.
Pois bem. A pergunta é: os Deputados Estaduais possuem foro previsto na Constituição
Federal? Ou é na Constituição Estadual?
O STF entende que a competência dos Tribunais de Justiça para o julgamento dos crimes
comuns praticados pelos deputados estaduais decorre do art. 27, §1°, da CF, que prevê igual
tratamento aos referidos parlamentares no que respeite à inviolabilidade e imunidades, e do
condito na norma geral do artigo 25, que explicita o princípio constitucional federativo.
Assim, prevalece nos Tribunais Superiores que eles são julgados perante o TJ. Agora vou
falar sobre a prisão deles.
O STF entendia que “a questão da prisão preventiva é vedada, portanto, pela
Constituição brasileira, respeitando as óticas diferentes, única e exclusivamente aos membros
do Congresso Nacional, leiam-se deputados federais, senadores da República, portanto, essa
vedação de prisão diz respeito única e exclusivamente ao parlamento federal e é uma defesa
da instituição e não a defesa do mandato” – VOTO DE TOFFOLI em 2017. Ou seja, entendia que
somente os deputados federais e senadores tinham direito à imunidade de prisão relativa.
Porém, houve a mudança de seu entendimento, conforme dito acima, de modo que as
assembleias estaduais podem reverter ordem de prisão dada pelo Judiciário contra
parlamentares estaduais. Com isso, deputados estaduais seguirão a mesma regra prevista na
Constituição para deputados federais e senadores: só poderão ser presos em flagrante e em
casos de crimes inafiançáveis.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Esse julgamento se deu porque as Constituições de alguns estados replicaram as


imunidades dos parlamentares federais em suas constituições.
É um caso complicadíssimo, porque isso favorece a corrupção impunível. Barroso,
memoravelmente, mencionou que “Temos um quadro de corrupção sistêmica. O intérprete da
Constituição deve enfrentar disfunções que acometeram sociedade brasileira. A Constituição
não quis criar regime de privilégio, para impedir que direito penal interrompa crimes. A
Constituição quis assegurar separação de poderes, moralidade administrativa”
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. Mas o que vocês precisam saber é que
deputados estaduais são julgados no TJ e que a Assembleia Legislativa, atualmente, pode
afastar a prisão dos deputados Estaduais com base neste artigo:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão.
Isso nós entendemos: não podem ser presos, salvo se for flagrante de crime
inafiançável. Mas e outros processos? Ação penal em curso? Vamos lá:
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação.
Viram a porta da impunidade???????????? Se tiver mandatos sucessivos, com o abuso
73 de poder econômico que torna isso plenamente possível, jamais terá seu julgamento por
crimes de saque ao patrimônio público. Parlamentar, no Brasil, é um cargo complicadíssimo.
Dizer o Direito:
É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade
parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva e
as medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra
Deputado Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu mandato. O
Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de sustar decisões judiciais de natureza
criminal, precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função
parlamentar. STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info
939).4

8.3.10. Prefeitos municipais


CF, art. 29, X: Compete aos Tribunais de Justiça do respectivo Estado o julgamento de
prefeitos municipais, independentemente de pronunciamento da Câmara dos Vereadores,
quando se tratar de crimes comuns, assim considerados aqueles tipificados no art. 1° do DL
201/67.

4
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as
medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário contra Deputados Estaduais. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c0db17c6772e2a26cb133ad3ba389cc
e>
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Súmula 703 do STF: a extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de


processo (criminal) pela prática dos crimes previstos no art. 1° do DL 201/67. Por sua vez,
Súmula 164 do STJ: O Prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a
processo por crime previsto no art. 1° do DL 201/67
No que toca aos crimes federais, é pacífico o entendimento de que em se tratando de
crime praticado contra bens, serviços ou interesse da União, competente será o Tribunal
Regional Federal, e não o TJ. O mesmo se dá com relação aos crimes eleitorais, de modo que o
prefeito será julgado pelo TRE, e não pelo TJ. Mas atenção: lembrar da QO na AP 937!!!!!
Neste sentido, é a Súmula 702 do STF: a competência do Tribunal de Justiça para julgar
prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum Estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo Tribunal de segundo grau.
OBs: vejam que para o crime de responsabilidade, que é só cominada a cassação do
mandato, é necessário que o prefeito esteja no cargo.
Nessa linha de raciocínio, é a Súmula 208 do STJ: Compete à Justiça Federal (TRF)
processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante
órgão federal”. Por sua vez, segundo a Súmula 209 do STJ: Compete à Justiça Estadual (TJ)
processar e julgar prefeitos por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio
municipal.
No primeiro caso, as verbas são, por exemplo, de um convênio em que a União deu
dinheiro ao ente para fazer um hospital, devendo prestar contas ao TCU. No segundo caso,
tem-se a hipótese de transferências constitucionais ou dinheiro devido ao município por força
74 de obrigação legal, não sujeito à fiscalização do TCU, sendo que crime envolvendo essa verba é
de competência da Justiça Estadual.
Em caso de crime doloso contra a vida, afasta-se a competência do Tribunal do Júri, já
que é a própria Constituição Federal que prevê o foro no TJ. Lembre-se que agora, com novo
entendimento da QO na AP 937, será difícil ver um homicídio doloso praticado por prefeito, no
exercício da função, relacionado ao cargo. Ex: uma discussão com o Secretária do Município, e
aí dá um tiro. É difícil, mas não é impossível.
Prescrita a pretensão punitiva da pena privativa da liberdade, não pode o juiz querer
aplicar as sanções acessórias previstas no §2° do art. 1° do DL, porque se prescreve a pena
principal, a acessória a acompanha (STF).

8.3.11. Vereadores
Possuem inviolabilidade por suas opiniões, palavras e fotos no exercício do mandato e
na circunscrição do Município (CF, art. 29, inciso VIII). A CF não lhes confere foro por
prerrogativa de função, mas isso não impede que a Constituição Estadual preveja foro no TJ,
por exemplo.
Mas atenção, não pode estender nada do que a Constituição Federal só deu aos
Deputados Federais e deu por extensão aos Deputados Estaduais. Neste sentido, o STF já
considerou inconstitucionais todos os dispositivos de Constituições Estaduais que estendem a
vereadores as prerrogativas previstas na Constituição Estadual aos Deputados Estaduais
E se o foro por prerrogativa previsto na Constituição Estadual se confrontar com alguma
competência por foro expressa na Constituição Federal?? Sempre prevalecerá essa última. Ex:
foro previsto para vereador na Constituição Estadual no TJ, e aí o vereador pratica crime
contra a vida, doloso. Quem julga? TJ ou Tribunal do Júri????

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Tribunal do Júri!! A norma é prevista na Constituição. Lembram da Súmula Vinculante?


Súmula Vinculante n° 45: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente na Constituição Estadual.
Mesma coisa que disse anteriormente: lembrar da QO na Ap 937!!!!!!!!

8.3.12. Tabela para fixação


Vou colocar aqui uma simplificada, mas deixarei na parte final uma tabela de
competências do STF, STJ, TRF e Juízes Federais, que eu fiz quando estudava para Técnico
Judiciário da Justiça Federal.

75

9. Competência territorial
Uma vez estabelecida a competência de Justiça (comum ou especializada), verificando-
se, inclusive, se há foro por prerrogativa de função, é importante estabelecer qual Juízo
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territorial será competente. O artigo 69, incisos I e II do CPP, determina que a regra é o lugar
da infração ou pelo domicílio ou residência do réu.
Diferentemente do que ocorre com a competência em razão da matéria e em razão da
pessoa, bem como as hipóteses de competências em razão da função exercida, a competência
territorial é relativa, o que gera consequências diversas das matérias de competência absoluta.
Como já mencionado, a competência relativa atende a um interesse preponderante das
partes, de modo que pode ser modificada (prorrogada), seja por meio da conexão ou da
continência, seja pela vontade das partes, por meio de não-interposição de exceção de
incompetência, ou até mesmo pelo seu não-reconhecimento de ofício pelo juiz. Ainda, deve
ser arguida e no momento oportuno – antes do oferecimento da denúncia, para o MP, e
quando do oferecimento da resposta à acusação, para defesa – sob pena de preclusão.
Por fim, tanto a incompetência absoluta quanto a relativa (diferente do processo civil)
podem ser reconhecidas de ofício pelo magistrado (art. 109, CPP).
Sobre as espécies de competência discriminadas no CPP, temos o artigo 69, in verbis:
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
76 V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função.

9.1. Competência territorial pelo lugar da consumação da infração


Dispõe o art. 70 do CPP:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
Verifica-se, portanto, que o CPP fixa a competência territorial, em regra, pelo local da
consumação do delito, sendo que, no caso de tentativa, será o local de último ato de
execução. As razões para tal regra se dão porque as provas do delito serão mais fáceis de
serem produzidas/encontradas onde ele efetivamente ocorreu, bem como para acalmar o
meio social onde ocorreu o delito.
Não se pode confundir:
a) Juízo competente para o feito (art. 70) com autoridade competente para lavrar o
auto de prisão em flagrante (art. 290). Nesta última, a autoridade competente é
aquela que efetua a prisão, ainda que entra jurisdição. Entretanto, o sujeito será
julgado no local de consumação do delito, salvo regra diversa.

b) Regra de direito material (art. 6° do Código Penal - ubiquidade) com a regra de


fixação de jurisdição (art. 70 do CPP - resultado). A regra do art. 70 tem como
destinatário os crimes praticados integralmente dentro do território brasileiro a fim
de fixar o local em que será processado o crime. Já o art. 6° funciona como uma
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regra de aplicação da norma penal no espaço, quando o crime atingir mais de uma
nação.

Quando se dá a consumação de um crime? O CP (art. 14, inciso I) diz que um crime é


consumado quando estão reunidos todos os elementos da definição legal do crime.
9.2. Casos importantes de consumação de crime para fixação de
competência territorial
9.2.1. Crimes de mera conduta
Esses crimes não possuem resultado naturalístico, sendo apenas um comportamento
humano que se queira proibir, não havendo resultado material. Ex: violação de domicílio, ato
obsceno, etc. Consideram-se consumados com a simples prática da conduta, sendo o local da
conduta, portanto, o foro competente para processar e julgar o delito.

9.2.2. Crimes formais


Preveem um resultado naturalístico, que, no entanto, pode ou não ocorrer para que se
verifique a consumação do delito, razão pela qual também são conhecidos como crimes de
consumação antecipada ou delitos de resultado cortado. Ex: corrupção passiva, extorsão.
Para esses crimes, o legislador antecipa a punição, não exigindo a produção de qualquer
resultado naturalístico, que, se vir a ocorrer, configurará mero exaurimento da conduta
antecedente.
77 No crime de extorsão, o local competente é sempre onde se dá o constrangimento da
vítima, ainda que esse constrangimento tenha vindo de outro local. Ex: ligação telefônica
oriunda de São Paulo exigindo dinheiro de vítima no Rio de Janeiro – local competente é Rio de
Janeiro. SP é o local da conduta. RJ é o local da consumação.
9.2.3. Crimes materiais
A consumação depende da produção naturalística de um determinado resultado,
expressamente previsto pelo tipo penal, tal como se dá com os crimes de homicídio,
infanticídio, etc. Aqui, o foro competente é o local do resultado.
9.2.4. Crimes qualificados pelo resultado
Se dá quando o agente atua com dolo na conduta e dolo quanto ao resultado
qualificador, ou dono na conduta e culpa quanto ao resultado qualificador (preterdoloso).
Firma-se a competência pelo local da produção do resultado qualificador. Ex: lesão corporal
em Campo Grande cujo resultado morte ocorreu em Dourados. Juízo competente é Dourados.
9.2.5. Infrações em continuidade delitiva
Considera-se continuada a infração quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,
maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro (art. 71, CP). O modus operandi deve ser igual para que se dê a
continuidade delitiva. Nesse caso, o art. 71 do CPP dispõe que se tratando de infração
continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção.
Assim, o juízo que se antecipou aos demais na prática de algum ato decisório, ainda que
em momento anterior ao oferecimento da denúncia ou queixa, será competente para o
processamento e julgamento do feito, não importando que os delitos tenham se dado em
vários locais, devendo avocar os processos que eventualmente corram perante os outros
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juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva (art. 82, CPP), hipótese em que caberá ao
juízo das execuções a unificação das penas.

9.2.6. Crimes plurilocais: princípio do esboço do resultado (nacional)


Crimes plurilocais são as infrações em que a ação e o resultado ocorrem em lugares
distintos, porém ambos dentro do território nacional. Ex: homicídio doloso em que o agente
efetua disparos contra a vítima em uma comarca “a”, sendo esta levada de ambulância ao
hospital da comarca “b”, onde falece.
Crimes plurilocais só existem quando falamos em crimes materiais, pois exige o
resultado naturalístico. Aplicando-se a regra do artigo 70 do CPP, a competência deveria ser da
comarca “b”, onde ocorreu o resultado.
Entretanto, a jurisprudência entende que nos casos de crimes plurilocais, a competência
em razão do local deve ser determinada não pelo local em que ocorreu o resultado, mas sim
pelo local em que a conduta foi praticada. É o que se chama de princípio do esboço do
resultado. Isso gera a otimização da produção probatória (local do fato), bem como por razões
de política criminal, de modo que o autor será punido no local da infração, gerando o caráter
intimidatório geral, sinalizando a sociedade do mal que advém da prática do delito.
STF: o foro competente para o processo e julgamento de crimes plurilocais de homicídio
é aquele em que mais efetivamente puderem ser produzidas as provas que ajudem no
acertamento do fato delituoso, pouco importando se se trata de crime doloso ou culposo.

78
9.2.7. Crimes à distância ou de espaço máximo (internacional)
São infrações em que a ação e omissão ocorrem no território nacional e o resultado no
estrangeiro, ou vice-versa. É a aplicação da regra da ubiquidade, do artigo 6° do Código Penal.
Assim, é indispensável que os atos executórios sejam praticados no território nacional, ou que
pelo menos o resultado tenha ocorrido no território nacional.
Logo, a simples prática de atos preparatórios no território nacional, com o resultado em
território estrangeiro, não autoriza a incidência da lei brasileira, pois é necessário a prática de
atos executórios ou o resultado em território nacional. Assim, a prática de meros atos
preparatórios afasta a incidência da lei penal brasileira, salvo se restar caracterizada uma das
hipóteses de extraterritorialidade da lei penal brasileira (art. 7°, incisos I e II).
Nos termos do art. 70, §1°, se iniciada a execução no território nacional e a infração se
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado,
no brasil, o último ato de execução. § 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a
infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido
praticado, no Brasil, o último ato de execução.
Inversamente, nos termos do art. 70, §2°, quando o último ato de execução for
praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
Por fim, dispõe o §3° que, quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas
divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

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9.2.8. Crimes cometidos no estrangeiro


O art. 7° do CP tem uma série de regras sobre crimes praticados no estrangeiro e
processados no Brasil. Nesse casos, em que o crime é integralmente cometido no estrangeiro,
mas punido pela lei brasileira, por opção de política criminal, de quem é a competência
territorial para processar e julgar?
Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo
da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
Portanto, ou é a capital do seu Estado de residência ou, se nunca tiver residido no Brasil,
será Brasília.
A competência é da Justiça Comum Estadual, já que não há nenhuma causa atrativa da
competência da Justiça Federal (art. 109, CF).
9.2.9. Infrações cometidas a bordo de embarcações ou aeronaves
Primeiro deve ser verificado se a infração ocorreu no território brasileiro ou considerado
território brasileiro por extensão. Aqui, peço que leiam o artigo 5°, §1° e 2°.
Pois bem.
Crime cometido em bordo de navio privado de bandeira estrangeira, em mar territorial
brasileiro. A competência para processar será de qual juízo? Inicialmente, sabemos que essa
regra é de aplicabilidade de lei brasileira. (ler os artigos acima mencionados). Mas qual juízo
territorial é competente?
79 Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou
nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão
processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação,
após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado.
Lembrar que é competência da Justiça Federal só se a viagem do navio tiver caráter
transnacional. Se tiver ancorado no momento do crime é competência da Justiça Estadual.
No mesmo sentido, para as aeronaves:
Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo
correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira,
dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela
justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de
onde houver partido a aeronave.
Nesse último caso é para quando o crime for praticado antes da saída.
9.2.10. Infrações cometidas na divisa de duas ou mais comarcas.
Neste caso, não se sabendo, com certeza, em que comarca o delito foi cometido, firmar-
se-á a competência por prevenção (art. 70, §3°, CPP):
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção.
Caso tenha sido proposta a ação penal em duas comarcas, deve ser alegada
litispendência na última, a fim de trancar a ação penal (art. 110, CPP)
9.2.11. Crimes falimentares
Conforme determina o artigo 183 da Lei n° 11.101/05, compete ao juiz criminal da
jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou

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homologado o plano de recuperação extrajudicial, conhecer da ação penal pelos crimes


previstos na referida lei.
9.2.12. Atos infracionais
Conforme o art. 147, §1°, do ECA (Lei n° 8.069/90), nos casos de ato infracional, será
competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão,
continência e prevenção.
9.2.13. Crimes em espécie:
a) Fraude no pagamento por meio de cheque: a consumação do delito previsto no art.
171, §2°, VI, do CP, ocorre no local da recusa do pagamento (local onde está agência
bancária que não quis pagar o cheque). É no local da agência, portanto, não
importando que o cheque tenha sido emitido em outra cidade e lá depositado.

Súmula 521 STJ: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.

Súmula 244 STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.

b) Estelionato por meio de cheque falso: esse crime é o artigo 171, caput. O foro
competente é determinado a partir do local da obtenção da vantagem ilícita. Ex: dá
um cheque falso para comprar um celular em Campo Grande/MS. A competência
80 será da comarca de Campo Grande.
Súmula 48 STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar
e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
c) Estelionatário que induz pessoa depositar dinheiro em sua conta corrente: a
competência territorial será do foro onde se encontra localizada a agência bancária
por meio da qual o suposto estelionatário recebeu o proveito do crime (local da
obtenção da vantagem ilícita), e não do juízo do foro em que está situada a agência
na qual a vítima possui conta bancária. A consumação se dá no momento da
obtenção da vantagem indevida, ou seja, no momento em que o valor é depositado
na conta corrente do autor do delito, estando em disponibilidade o dinheiro. Em
estelionato, sempre devemos ter em mente que a consumação do crime se dá com
a disponibilidade da vantagem indevida.

d) Apropriação indébita: descrito no artigo 168 do Código Penal, consuma-se o delito


no local em que se dá a inversão da posse, independentemente do local onde o
bem for encontrado. Não sendo possível estabelecer com precisão o local da
inversão da posse, o foro competente será o local onde o elemento subjetivo da
apropriação indébita (animus rem sibi habendi) puder ser aquilatado por elementos
objetivos, tais como o lugar da prestação de contas ou qualquer lugar que seja
possível verificar a sua vontade de não restituir o bem que estava em sua posse ou
detenção, com o fim de transformar em sua propriedade.

e) Furto qualificado pela fraude eletrônica por meio da internet: previsto no art. 155,
§4°, II, do CP, não se confunde com o estelionato. Neste, o autor faz com que a
vítima lhe entregue o bem, havendo o consentimento desta através de sua indução
ao erro. Naquele, o agente utiliza uma fraude com o fim de burlar a vigilância da

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vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba. O furto
mediante fraude se dá, por exemplo, quando a pessoa recebe um email parecendo
que é do banco, digitando todas as chaves de acesso e senha, mas na verdade está
dando todos os dados para o bandido. A consumação se dá no momento em que o
bandido subtrai o dinheiro da conta da vítima e, embora isso se dê em sistema
digital de dados, ocorre na conta corrente da agência do correntista prejudicado, e
não no local onde está o autor do delito.

f) Pedofilia por meio da internet: consuma-se no momento da publicação das


imagens, pouco importando o local em que se encontra sediado o provedor. Assim,
o local competente é o da disponibilização das imagens.

g) Falso testemunho cometido em carta precatória: a competência é do foro


deprecado, pois lá se consumou o crime.

h) Uso de documento falso: determina-se o foro pelo local em que o documento foi
apresentado. Entretanto, se a pessoa que utilizou o documento foi o responsável
pela sua falsificação, fica caracterizado só um delito: falsificação de documento, de
modo que a competência será fixada no local em que se consumou a falsificação,
pouco importando o local de seu uso. Súmula 200 STJ: o juízo federal competente
para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar
onde o delito se consumou. O delito se consuma onde o passaporte tiver sido
apresentado para embarque.
81
i) Contrabando ou descaminho: Súmula 151 STJ: a competência para o processo e
julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do
juízo federal do lugar da apreensão dos bens.

j) Exposição à venda de mercadoria em condições impróprias ao consumo: a


competência se dá no local em que estiver situada a empresa responsável pela
comercialização dos bens ou produtos impróprios para consumo.

9.3. Competência territorial pela residência ou domicílio do réu


Não sendo possível determinar o local da infração, a competência será firmada pelo
domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput). Esse foro é supletivo ou subsidiário.
Caso o réu tenha mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção
(art. 72, §1°, CPP). Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (arat. 72, §2°, CPP).
Por fim, no caso de ações exclusivamente privada ou privada personalíssima, o
querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda que conhecido o
lugar da infração (CPP, art. 73).

10. Competência de Juízo


Determinada a competência territorial, cumpre estabelecer a competência de Juízo.
Essa competência é fixada em razão do fundamento jurídico – material – da demanda, ou pela
natureza da infração imputada, haja vista a possibilidade de especialização de varas para o
processo e julgamento de determinadas infrações.

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Segundo o art. 74, a competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. Assim, a lei de
organização judiciária estabelecerá alguns critérios para fixação do juízo, tal como: a)
qualidade da pena principal; b) elemento subjetivo (dolo/culpa); c) natureza da infração penal;
d) o bem jurídico protegido.
Ex: Juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Vamos falar do que é importante para as carreiras federais, ok? Aos que estudam para
carreiras estaduais, estudem a parte de violência doméstica, crimes de ECA, etc. É importante.
Vamos lá.
10.1. Juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição para o
julgamento de crimes praticados por organizações criminosas
Em razão da alta periculosidade de algumas organizações criminosas, bem como morte
de juízes que julgavam casos importantes de ORCRIMs, foi criada a Lei n° 12.694/12, que
passou a dispor sobre a formação de um juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição
formado por 3 (três) juízes para o julgamento de crimes praticados por organizações
criminosas.
No plano federal, é novidade no processo penal brasileiro, já que, apesar de parecido, as
Turmas Recursais, compostas de 3 juízes de 1° grau, julgam recursos de juízes singulares de 1°
grau. Em sentido diverso, os juízos colegiados para o julgamento de crimes praticados por
organizações criminosas atuarão no 1° grau de jurisdição, cabendo ao respectivo Tribunal de 2°
82 grau o julgamento de eventuais recursos. Não obstante a tal fato, já houve uma lei estadual,
declarada constitucional pelo STF, que criou um órgão colegiado para estes tipos de crime, já
que se tratava de norma procedimental, passível de ser editada pelos Estados.
O juízo colegiado criado pela Lei n° 12.694/12, não se confunde com o “Juiz sem rosto”.
Este não tem seu nome divulgado, não se sabe nem quem é. Já o juízo colegiado tem o nome e
a assinatura de três juízes nas decisões.
Para que ocorra esta formação do juízo colegiado, o juiz natural da causa deve: a) decidir
pela verificação de que o crime foi praticado no contexto de uma organização criminosa; b)
proferir decisão determinando a formação do colegiado, de maneira fundamentada,
demonstrando as razões pelas quais acredita estar em risco sua integridade física, família, e
extensão de sua personalidade.
A lei determina que os outros 2 (dois) juízes que irão integrar o órgão colegiado serão
escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no
primeiro grau de jurisdição. Após, deve haver a comunicação da decisão de formação de órgão
colegiado à Corregedoria do respectivo Tribunal. É possível que as reuniões dos magistrados se
deem de forma sigilosa, sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à
eficácia da decisão judicial.
10.2. Competência do Juízo da Execução Penal
Cabe-nos esclarecer a questão referente às condenações impostas pela Justiça da União,
aí entendidas a Justiça Federal, Justiça Militar da União e a Justiça Eleitoral.
Sobre tal ponto, convém relembrar o teor da Súmula 192 do STJ: Compete ao Juízo das
Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas pela Justiça Federal, Militar ou
Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
Assim, deve ser analisada a natureza do estabelecimento penitenciário: se for presidio
estadual, caberá ao Juízo da Execução Estadual. Se for presídio federal, caberá ao Juízo da
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Execução Federal. Isso é necessário para evitar uma dualidade de jurisdição em um mesmo
presídio, criando situações diversas para presos nas mesmas condições, tão somente porque
suas condenações foram decretadas por juízes diferentes.
Sobre este ponto, cabe a leitura da Lei n° 11.671/08 para os concursos federais. As
questões mais importantes sobre inclusão e transferência de presos, são as premissas para
admissão deles. Vejamos: a) a admissão do preso, condenado ou provisório, dependerá de
decisão prévia e fundamentada do juízo federal competente, após receber os autos de
transferência enviados pelo juízo responsável pela execução penal ou prisão provisória; b) a
execução penal da pena privativa de liberdade, no período em que durar a transferência, ficará
a cargo do juízo federal competente; c) apenas a fiscalização da prisão provisória será
deprecada, mediante carta precatória, pelo juízo de origem ao juízo federal competente,
mantendo aquele juízo a competência para o processo e para os respectivos incidentes.
STJ: compete à Justiça Federal apreciar as questões relativas à execução da pena no
período de permanência de presos custodiados no estabelecimento federal, ainda que
oriundos da Justiça Estadual.
Assim, a regra é que sempre competirá ao Juízo da Execução da Comarca em que o
preso estiver detido.
Sobre este ponto, tem uma súmula muito importante. É a Súmula 611 do STF:
Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação
da lei mais benigna. O mesmo se dá com relação a abolitio criminis, anistia e indulto.
Ainda, mais uma questão: o preso cautelar tem progressão de regime? SIM, desde que
83 tenha ocorrido o trânsito em julgado para a acusação, o que obsta o reformatio in pejus.
Assim, dispõe a Súmula 716 do STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento de
pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória. Nesse caso, a quem compete a concessão do benefício? Há
duas correntes: 1ª é do juízo da condenação. 2ª é do juízo da execução – é o que prevalece,
inclusive sendo regulamentado na Resolução n° 113 do CNJ.
E a execução de pena de multa? Uma vez operado o trânsito em julgado, e não havendo
depósito a título de fiança em valor suficiente para a a condenação, compete ao juízo da
execução penal proceder à intimação do condenado para que efetue o pagamento da pena
de multa no prazo de 10 (dez) dias. Não havendo o pagamento, caberá ao Ministério Público
promover a execução da pena de multa e, em sua inércia por mais de 90 dias, caberá à
Fazenda Pública executar. Importante esquema do Dizer o Direito:
Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de
sentença penal condenatória transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de
cobrança pela Fazenda Pública. Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a
Fazenda Pública irá executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº
6.830/80.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e
13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
12 e 13/12/2018 (Info 927).

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Obs: a Súmula 521-STJ fica superada e deverá ser cancelada. Súmula 521-STJ: A
legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em
sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.

10.3. Competência por Distribuição


Dispõe o artigo 75 do CPP que, caso haja na comarca dois ou mais juízes igualmente
competentes, deverá a competência ser determinada por meio da distribuição, de modo que a
precedência da distribuição fixa a competência do Juízo.
Isso se dá para casos iniciais, ok? Se algum juiz já tiver despachado sobre alguma
matéria relacionada aos fatos, não haverá distribuição por sorteio, mas sim distribuição por
prevenção, ao juízo prevento (que se antecipou em decidir algo sobre os fatos).
Não se procede à distribuição nas seguintes hipóteses:
a) Em virtude da matéria, pela natureza da infração, se for crime de competência do
Tribunal do Júri.
b) Caso haja vara especializada, de modo que o processo não será distribuído por
sorteio, mas encaminhado à referida vara.
c) Em razão de conexão ou continência, de modo que as infrações devem ser apuradas
em processo já afeto à autoridade judiciária prevalente (CPP, arts. 76 a 78).
d) Em razão de prevenção, deva a ação penal ser submetida à apreciação de
autoridade judiciária, que já tenha, de algum modo, tomado conhecimento do caso
84 (art. 83, CPP).
STJ: A redistribuição de feitos decorrente da criação de varas com idênticas
competências, com a finalidade de igualar os acervos dos juízos e dentro da estrita norma
legal, não viola o princípio do juiz natural, na medida em que a referida garantia constitucional
permite posteriores alterações de competência.
STF: inexiste violação ao princípio do juiz natural quando ocorre redistribuição de feitos
em virtude de mudança na organização judiciária, visto que o art. 96, “a”, da CF, assegura aos
tribunais o direito de dispor sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais.
10.4. Competência por Prevenção
De acordo com o artigo 69, inciso VI, do CPP, a competência pode ser fixada pela
prevenção, ocorrendo quando, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou
com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato ou
na determinação de alguma medida, mesmo antes de oferecida a denúncia ou queixa (art. 83,
CPP). Ex: medida cautelar determinada em IPL torna prevento o juízo para a ação penal.
A inobservância desta hipótese de fixação de competência gera nulidade relativa,
conforme a Súmula 706 do STF.
Duas condições devem estar presentes a fim de que essa diligência anterior fixe a
competência por prevenção:
a) Existência de prévia distribuição: só se pode cogitar prevenção da competência
quando a decisão tenha sido precedida de distribuição, não havendo se falar em
prevenção de competência em relação às decisões proferidas por juízes
plantonistas, nem as facultadas, em caso de extrema urgência, a qualquer dos juízes
criminais do foro (STF).

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b) Deve a medida ou diligência apresentar o mesmo caráter cautelar ou contra cautelar


encontrado nas hipóteses exemplificadas na regra contida no parágrafo único do
artigo 75 do CPP. Ex: concessão de fiança; conversão da prisão em flagrante em
preventiva ou temporária; decretação de prisão preventiva ou de prisão temporária;
pedidos de medidas assecuratórias; pedidos de provas, como expedição de
mandado de busca e apreensão, interceptação telefônica ou quebra de sigilo
bancário; manifestação do juízo acerca da regularidade da prisão em flagrante
delito.
A doutrina menciona que não repercute na fixação da competência a distribuição de
procedimentos que, visando diligência anterior à propositura da ação penal, constituem
medidas preparatórias cuja relação com a eventual ação futura se dá unicamente pelo fato de
serem necessárias para atender requisito indispensável ao legítimo exercício do direito de
ação penal. Ex: busca e apreensão visando tão somente à realização de laudo, a fim de
constituir opinio delicti do MP.
É dizer: só previne o juízo onde haver ato jurisdicional que, implicando pronunciamento
sobre a probabilidade de existência do mesmo direito a ser alegado na ação principal, antecipa
o conhecimento (ainda que superficial) do mérito a ser decidido na discussão da causa trazida
na ação principal. Ex: há indícios mínimos, mas suficientemente fortes, que demonstram a
participação do investigado em uma organização criminosa, de modo que, presentes os
requisitos, defiro a interceptação telefônica.
Logo, não torna prevento o juízo: HC em primeiro grau, por se tratar de matéria

85 especificamente constitucional; quando o juiz remete cópia dos autos ao MP; atos de juiz
plantonista; antecedência de distribuição de inquérito policial, ou mesmo de ação penal ainda
não despachada, já que não há sequer atuação jurisdicional (ex: baixa dos autos à Polícia ou
MP para continuidade das investigações).
Prevenção como critério subsidiário de fixação de competência:
Ocorre quando não se consegue determinar a competência de um órgão jurisdicional
específico.
a) Crimes cometidos em divisa de duas ou mais jurisdições e não se saiba se precisar
exatamente o local do delito (art. 70, §3°, CPP)
b) Crimes continuados ou permanentes: podem atingir mais de um território, mais de
uma jurisdição (art. 71).
c) Réu sem domicílio certo ou tiver mais de uma residência, ou não for certo seu
paradeiro, não tendo sido a competência firmada pelo lugar da infração (art. 72,
caput).
d) Havendo mais de um juiz competente, no concurso de jurisdições, sem possibilidade
de aplicação dos critérios desempatadores do art. 78, II, “a” e “b”
e) Tendo a infração penal ocorrido a bordo de navios e aeronaves, em águas
territoriais, no espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, em rios e lagos
fronteiriços ou em alto mar, não sendo possível determinar o local de embarque ou
chegada imediatamente anteriores ou posteriores à ocorrência do crime (CPP, art.
91).
Em órgãos colegiados, no que tange à fixação de competência, o STF entende que a
decisão monocrática do Relator em recurso não enseja a prevenção da Turma que integra, se a
este colegiado o recurso não tiver sido submetido. Assim, o conhecimento de mandado de
segurança, do habeas corpus e do recurso civil ou criminal torna preventa a competência do
Relator; para todos os recursos posteriores, tanto na ação quanto na execução, referentes ao
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mesmo processo. Assim, se um ministro do STF estiver prevento, eventual mudança de Turma
por parte deste ministro não terá o condão de afastar dele o julgamento de fatos delituosos
para os quais esteja prevento, salvo se alguma Turma/Seção para qual ele se removeu tiver
pertinência temática específica.

11. Modificação da competência

Em razão de ligação entre dois ou mais fatos delituosos, ou entre duas ou mais pessoas
que praticaram um mesmo crime, é conveniente a reunião de todos eles em um só processo,
com julgamento único. Além da celeridade esses institutos colaboram para uma perfeita visão
do quadro probatório, evitando-se decisões conflitantes. Isso se dá através da conexão e
continência.
É importante notar que a conexão e a continência não são critérios que fixam a
competência, mas que alteram a competência. Eventualmente, no entanto, podem ser
utilizadas para fixação inicial da competência, desde que já se saiba antecipadamente que um
processo está ligado a outro previamente distribuído.
Dito isto, se alteram a competência, a conexão e continência só incidem sobre hipóteses
de competência relativa, diferentemente da absoluta, que é inderrogável. Assim, não se
admite que a conexão e continência, normas previstas em lei ordinária, alterem regras de
competência absoluta, que têm origem na Constituição, que possui a finalidade precípua de
proteção do interesse público e na correta e adequada distribuição de justiça. Como é o
86 interesse público que determina a criação dessa regra de competência, ela é indisponível às
partes e se impõe com força cogente ao juiz, não admitindo modificações, sendo
improrrogável, imodificável.
A jurisprudência diz que eventual violação às regras que determinam a reunião dos
processos por conexão ou continência enseja tão somente a uma nulidade relativa, devendo
ser arguida em momento oportuno, sob pena de preclusão, bem como ser demonstrado o
eventual prejuízo – pás de nulitté sans grief.

11.1. Conexão
A conexão é compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais
fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo
processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita
visão do quadro probatório. Brasileiro fala que seria um liame entre dois ou mais fatos, que se
ligam por algum motivo, permitindo que os fatos sejam julgados por um só magistrado, com
base no mesmo substrato probatório, evitando decisões contraditórias.
Espécies de conexão previstas no CPP:
a) Conexão intersubjetiva: envolve vários crimes e várias pessoas, obrigatoriamente.
Se for várias pessoas e um único delito, será hipótese de continência (art. 77, I, CPP).
Pouco importa se as várias pessoas estão reunidas em coautoria ou se os delitos são
praticados por reciprocidade. Vamos ver as espécies do CPP:
a. Conexão intersubjetiva por simultaneidade, ocasional: duas ou mais
infrações são praticadas ao mesmo temop, por diversas pessoas
ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das
mesmas circunstâncias de tempo e de local – art. 76, I, 1ª parte, CPP. Ex:
saque simultâneo a um supermercado.
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b. Conexão intersubjetiva por concurso (concursal): duas ou mais infrações


cometidas por várias pessoas em concurso, ainda que em tempo e local
diversos - art. 76, I, 2ª parte. É indiferente se as infrações foram praticadas
em tempos diferentes. Ex: 3 homens praticam 4 roubos em 1 mês,
responderão todos eles em um mesmo processo, salvo causa impeditiva (ex.
roubo ser crime miltiar).
c. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: duas ou mais infrações tiverem
sido cometidas por diversas pessoas umas contra as outras – art. 76, I, parte
final. Ex: grupos rivais combinam briga em determinado ponto da cidade,
hipótese em que os diversos crimes de lesões corporais estarão vinculados
em razão da conexão intersubjetiva por reciprocidade.

b) Conexão objetiva, lógica, material ou teleológica: quando um crime ocorre para


facilitar a execução do outro (objetiva teleológica); para ocultar o outro, ou para
garantir a impunidade ou vantagem do outro (objetiva consequencial) – art. 76, II,
CPP. Aqui exige-se mais de um crime, podendo ser só uma pessoa.

c) Conexão instrumental, probatória ou processual: quando a prova de um crime


influencia na existência do outro – art. 76, III, CPP. Basta que a prova de um crime
tenha capacidade para influir em outro delito. Ex: prova do crime de furto auxiliando
na prova do delito de receptação; destruição de cadáver em que o de cujus foi
vítima de homicídio, sendo necessário a prova da ocorrência da morte da vítima, ou
seja, de que foi destruído um cadáver.
87
11.2. Continência
Ocorre a continência quando uma demanda, em razão de seus elementos (partes,
pedido e causa de pedir), estiver contida em outra. Assim, UM (apenas um crime) FATO
DELITIVO contém duas ou mais pessoas, ou uma conduta humana contém dois ou mais fatos
delitivos.
Vamos explicar melhor com as espécies:
a) Continência por cumulação subjetiva ou continência subjetiva: ocorre quando duas
ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração penal – art. 77, inciso I, do CPP.
É o concurso de pessoas. Diferencia-se da conexão intersubjetiva porquanto naquela
são vários crimes e várias pessoas. Aqui são várias pessoas e um único crime. Ex:
homicídio praticado por dois agentes.

b) Continência por cumulação objetiva: ocorre nas hipóteses em que uma só ação
gera mais de um resultado criminoso, como no concurso formal de crimes, aberratio
ictus (erro na execução) e aberratio delicti (resultado diverso do pretendido).

Percebam algo: na hipótese de crime continuado não falamos nem em conexão nem em
continência, mas sim em prevenção, conforme dispõe o artigo 71 do CPP.

11.3. Efeitos da conexão e da continência

a) Processo e julgamento único: conforme determina o artigo 79 do CPP, a conexão e a


continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a
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jurisdição comum e a militar, ou no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de


menores. Isso não viola o juiz natural. Súmula 704 STF: Não viola as garantias do juiz
natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou
conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados. Ainda, havendo conexão/continência entre crimes de ação penal pública
e privada, estabelecer-se-á litisconsórcio ativo entre o MP e o titular do jus querelandi.

b) Força atrativa: o juízo competente traz para si o processo e julgamento único. É


hipótese de prorrogação de competência, tornando-se competente o juízo que, em
abstrato, não o seria, caso se levasse em consideração o lugar da infração, o domicílio
do réu, a natureza da infração e a distribuição.

a. Avocação de processos: Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência,


forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente
deverá avocar os processos que ocorram perante outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se
dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou unificação de penas. Logo, se o
processo já foi sentenciado, não há razão para reunião. Súmula 235 STJ: a
conexão não determina a reunião dos processos se um deles já foi julgado. É a
simples sentença, e não a transitada em julgado. Caso o juiz que esteja com o
processo não quiser encaminhá-lo quando o outro juiz o avoque, haverá um
conflito positivo de competência (art. 117, inciso II), a ser resolvido pelo
Tribunal.
88
c) Prescrição: a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os
autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto de mesmo processo, estende-
se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles (art. 117, §1°, CP).

11.4. Foro prevalente

11.4.1. Competência prevalente do Tribunal do Júri


Cuidando-se de conexão/continência entre crime comum e crime da competência do
júri, quem exercerá a força atrativa é o júri, de acordo com o art. 78, inciso I, do CPP. Assim,
ex: estupro seguido de homicídio doloso, o júri julgará tudo.
Se o crime conexo for militar, haverá a separação do feito, uma vez que ambas as
competências estão previstas na Constituição (Tribunal de Juri para crime doloso contra vida e
a da Justiça Federal para o julgamento dos crimes militares) – CPP, art. 79, inciso I. Assim, se
alguém furta uma arma do exército e utiliza para matar, a Justiça Militar julgará o crime
patrimonial e o Tribunal de Júri o homicídio.

11.4.2. Jurisdições distintas

Concurso entre a jurisdição comum e a jurisdição especial: no concurso entre a


jurisdição comum e a especial (ressalvada a Justiça Militar – CPP, art. 79, inciso I), prevalece a
justiça especial (CPP, art. 78, inciso IV). Ex: crime eleitoral conexo com crime comum,
prevalece a competência da Justiça Eleitoral para julgar ambos os delitos.

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Lembrem-se do caso da Justiça Eleitoral e Justiça Federal, ok? O STF está com novo
entendimento, já debatido no tópico 7.3.

Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior: art. 78, III. Sempre irá
predominar a competência de órgão de maior graduação. Crime cometido por agente que
detenha foro em concurso de agente com quem não detenha, prevalecerá a competência do
Tribunal. Súmula 704 STF: Não viola as garantias do Juiz Natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função. Porém, não é obrigatório, podendo o relator, por conveniência,
separar os processos, nos termos do artigo 80 do CPP.

Concurso entre a Justiça Federal e a Justiça Estasdual: já falamos no tópico 7.2.11.


Relembrando: havendo conexão entre crimes de competência da JF e da Justiça Estadual, a JF
terá força atrativa, por ser prevista na Constituição. Nesse sentido, Súmula 122 do STJ:
Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, do CPP.

11.4.3. Jurisdições da mesma categoria


Refere-se o art. 78, inciso II, às hipóteses de magistrados com competência para julgar o
mesmo tipo de infrações penais, quando houver delitos conexos que ocorreram em várias
89 jurisdições. Ex: furto e receptação, delitos investigados em diversas delegacias e distribuídos a
juízos diversos, ainda que numa mesma comarca, deve-se perquirir qual juízo terá força
atrativa. Vejamos:
a) Força atrativa do juízo da comarca em que tiver sido praticado o delito mais grave:
roubo na comarca A e receptação na comarca B, prevalece a competência da
comarca A, porque roubo é mais grave. – art. 78, II, “a”.
b) Força atrativa do juízo do local do maior número de infrações, se as penas forem
de igual gravidade: ex: 4 crimes de furto simples realizados na comarca A, e as
receptações desses furtos tramitam na comarca B. Nesse caso, como a pena do
furto simples é idêntica à da receptação, o juízo competente será determinado com
base no local onde foi praticado o maior número de infrações, que no caso foi a
comarca A.
c) Se a gravidade do delito for igual e o número de delitos iguais, a competência
firma-se pela prevenção: não sendo aplicado nenhum dos critérios anteriores por
insuficiência, firma-se a competência com base na prevenção, a qual funcionará
como critério subsidiário.
11.5. Separação de processos
Como já mencionado, a reunião de processos pela conexão e continência visa propiciar
ao julgar uma melhor visão do quadro probatório, permitindo-lhe entregar uma melhor
prestação jurisdicional, evitando-se decisões conflituosas. Porém, essa junção nem sempre é
cogente, havendo previsão legal de hipóteses em que ocorrerá a separação dos processos, ora
de maneira obrigatória, ora de maneira facultativa.
Sobre o momento de separação, não há nada na lei, de modo que se utiliza a analogia.
Se a reunião dos processos em razão de conexão/continência é possível até a prolação de
sentença recorrível (art. 82, CPP), analogicamente entende-se o mesmo para separar os
processos.
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11.5.1. Separação obrigatória

11.5.1.1. Concurso entre a jurisdição comum e a militar


Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
Os crimes comuns conexos com os militares ensejarão a separação obrigatória. Ex: um
policial civil e um militar, ambos em serviço, praticam lesão corporal contra um civil. Separa o
processo da seguinte maneira: o policial civil é julgado na justiça comum e o policial militar é
julgado na justiça militar estadual.
Súmula 90 STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar
pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

11.5.1.2. Concurso entre jurisdição comum e a do juízo de menores


Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
No caso de um fato criminoso praticado por um maior e um menor de 18 anos em
coautoria, ao Juízo da infância e Juventude caberá o julgamento do menor, enquanto que o
maior deverá ser processado perante a Justiça comum.
Aqui não é a inimputabilidade a causa exclusiva para separação do processo, já que o
doente mental também é inimputável, e será julgado pelo Juízo Comum. A causa primordial é
90 a vulnerabilidade da criança/adolescente.

11.5.1.3. Doença mental superveniente à prática delituosa


Se sobrevier doença mental a um dos acusados, em qualquer caso, cessará a unidade do
processo, ficando suspenso o processo quanto ao enfermo (art. 79, §1°, CPP).
Verificando o juiz que a doença mental sobreveio à infração, o processo penal ficará
suspenso em relação ao enfermo, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas
pelo adiamento, cabendo ao magistrado providenciar a nomeação de curador (CPP, art. 152).
Em razão do silêncio da lei e, levando em consideração que não pode haver analogia em
desfavor do réu, entende-se que a prescrição não fica suspensa durante o período de
suspensão do processo.
OBS: não confundir a superveniência de doença mental com a prática de crime quando
já era doente mental. Neste último o processo não fica suspenso, cabendo a instauração de
incidente de insanidade mental ao réu deficiente mental, prosseguindo-se o processo em seus
ulteriores termos para que, ao final, reconhecida sua inimputabilidade, seja-lhe aplicada
medida de segurança.
11.5.2. Separação facultativa de processos
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido
praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Todas as hipóteses previstas no artigo 80 são facultativas, podendo o Juiz separar o feito
ou não. Após a separação, quem é competente? Mantém o juiz da competência prorrogada ou
devolve ao juiz originariamente competente??????

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Há divergência jurisprudencial e doutrinária. O STJ já entendeu que a competência


continua sendo do Juízo que apreciou o processo principal. Renato Brasileiro defende o envio
para os juízos originariamente competentes.
Entende-se que essa separação facultativa dos processos pode ser aplicada tanto nos
casos em que os feitos a serem separados já seriam da competência do mesmo juízo em que
tramitavam em conjunto, seguindo as regras originárias de definição de competência, quanto
nos casos em que determinado juízo teve sua competência prorrogada por força do
reconhecimento da conexão e/ou continência para julgar outro feito que, originariamente, não
seria de sua competência.
Vamos ver cada uma das hipóteses.

11.5.2.1. Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar


diferentes
Percebam que são infrações que foram realizadas em circunstância de tempo ou lugar
DIFERENTES, não podendo, portanto, ocorrer separação de processos reunidos em razão de
conexão intersubjetiva por simultaneidade, já que os crimes ocorreram em mesmas
circunstâncias de tempo e local (art. 76, I).
Mas, pode-se dizer que se aplica em conexão intersubjetiva por concurso, conexão
objetiva e conexão probatória, pois em relação a essas três hipóteses não se faz necessário
que as infrações tenham sido cometidas em lugares e momentos idênticos.
Nas hipóteses de continência, a doutrina se posiciona contra a separação, já que, por se
91 tratar de um mesmo fato, pode trazer decisões contraditórias.

11.5.2.2. Excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a


prisão provisória
A hipótese do art. 80, 2ª parte, aplica-se a todas as hipóteses de conexão e continência.
Traz em si dois requisitos: a) excessivo número de acusados; b) não prolongamento da prisão
provisória de um dos acusados.
Ex: pedido de perícia complexa por parte de um réu solto, que somente aproveitaria a
ele, havendo outro corréu preso. Neste caso é fácil notar que o acusado teria o curso do
processo prejudicado pela realização de prova que poderia não lhe trazer qualquer benefício.

11.5.2.3. Motivo relevante pelo qual o juiz repute conveniente a


separação
Diante da imprevisibilidade de situações fáticas pelo legislador, o final do art. 80 do CPP
possibilita que o juiz, por qualquer motivo relevante, determine a separação dos processos. Ex:
número excessivo de acusados soltos prejudicando o andamento do processo, podendo dar
causa à extinção da punibilidade pela prescrição.

11.6. Perpetuação da competência nas hipóteses de conexão e


continência
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará competente em relação aos demais processos.

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Imaginem o seguinte: há conexão probatória entre um roubo praticado na comarca “A”


e um crime de receptação qualificada cometido na comarca “B”. A competência é do juízo da
comarca “A”, pois ali foi praticado o crime mais grave. Caso ao final do processo o juiz
desclassifique o delito de roubo para furto simples, cuja pena é menor que a do delito de
receptação qualificada, ainda assim continuará competente para o fato desclassificado (tornou
o delito menos grave) e para o outro delito.
Isso se deve em razão da economia processual, celeridade e identidade física do juiz.

12. Prorrogação de competência


Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará competente em relação aos demais processos.
Prorrogar significa aumentar a extensão da competência de um órgão jurisdicional,
alcançando causas que, abstratamente, não seriam de sua competência, mas que, por algum
motivo, passaram a ser concretamente.
Só é possível prorrogar as competências relativas, já que as absolutas são fixadas com
base no interesse público, não podendo ser modificadas, sendo improrrogáveis, inderrogáveis.
A prorrogação pode ser classificada:
a) Legal ou necessária: sua ocorrência não depende da iniciativa das partes. É o que se
92 dá nos casos de conexão e continência;

b) Voluntária: quando depende de iniciativa das partes.


a. Expressa: quando há requerimento da parte.
b. Tática: ocorre no silêncio das partes, quando a incompetência relativa não é
arguida em momento oportuno.
Conforme vimos acima, o artigo 81 do CPP dispõe que, verificada a reunião de processos
por conexão ou continência, o juiz ou tribunal continuará competente em relação às demais
infrações penais atraídas, ainda que no processo da sua competência venha:
a) Absolver o acusado da infração que promoveu a atração;
b) Desclassificar a infração que promoveu a atração para outra que não se inclua na
sua competência;
c) Por interpretação extensiva, declarar extinta a punibilidade em relação à infração
que promoveu a atração. Ex: morte do réu.

13. Perpetuação de competência


Iniciado o processo perante determinado juízo, nele deve prosseguir até seu fim. Para
tanto, aplica-se analogicamente o artigo 43 do Código de Processo Civil: Determina-se a
competência no momento do registro ou distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
Nota-se, portanto, que são irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito,
salvo:
a) Ocorrer extinção de órgão judiciário;

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#costurandoatoga
 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

b) Quando a competência for alterada em razão da matéria. Ex: criação de vara


especializada;
c) Quando a competência for alterada em razão da hierarquia. Ex: fim de foro
privilegiado de determinado político.
Em relação às hipóteses de delegação de competência federal ao juízo estadual nas
comarcas que não forem dotadas de vara federal (CF. art. 109, §§3° e 4°), a superveniente
instalação de vara federal afasta a aplicação da regra da perpetuatio jurisdictionis, fazendo
com que os processos que ali tramitavam sejam imediatamente encaminhados à vara federal
instalada. Obs: não existe no ordenamento processual penal qualquer crime federal julgado
pela Estadual. São julgados pela Subseção que abarca o município. Já houve com relação ao
tráfico de drogas, mas foi revogado com a Lei n° 11.343/06.

FIM.

14. Súmulas importantes


 Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil
denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de
falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador
(CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
93  Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
 Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de
verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal
 Súmula 528-STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior
pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
 Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do
Código de Processo Penal.
 Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.
 Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso
de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
 Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
 Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é
firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não
importando a qualificação do órgão expedidor.
 Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.
 Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vitima.
 Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o
julgamento dos crimes contra a economia popular.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

 Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a competência
será da Justiça Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes.
 Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato
praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias,
quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
 Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de
falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
 Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
carteira de trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada. • O enunciado não foi
formalmente cancelado, mas a tendência é que seja superado já que no julgamento do CC
135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 22/10/2014 (Info 554), o STJ decidiu que compete à Justiça Federal (e não à
Justiça Estadual) processar e julgar o crime caracterizado pela omissão de anotação de
vínculo empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP). Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado
para a falsa anotação na CTPS (art. 297, § 3º do CP).
 Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que
é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
 Súmula 556-STF – É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
o Caso isolado: Compete à justiça federal processar e julgar ação penal
referente a crime cometido contra sociedade de economia mista,
quando demonstrado o interesse jurídico da União. Esse o
94 entendimento da 1ª Turma, que, em conclusão de julgamento e por
maioria, desproveu agravo regimental para acolher recurso
extraordinário no qual se discutia a justiça competente para apreciar
causa em que figurava como parte a sociedade de economia mista
Companhia Docas do Pará — v. Informativo 661. A Turma consignou
que a mencionada companhia, cuja maior parcela de seu capital seria
composta por verba pública federal, teria por ofício administrar e
explorar as instalações portuárias do Estado do Pará, atividades
exclusivamente atribuídas à União, conforme o disposto no art. 21, XII,
f, da CF. Asseverou que, em princípio, os crimes praticados contra
sociedade de economia mista, em geral, não se submeteriam à
competência da justiça federal. (…) RE 614115 AgR/PA, rel. Min. Dias
Toffoli, 16.9.2014. (RE-614115).
 Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
 Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo
legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados.
 Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.
 Súmula 6-STJ: Compete à justiça comum estadual processar e julgar delito decorrente de
acidente de trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e vítima forem
policiais militares em situação de atividade.
 Súmula 53-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática
de crime contra instituições militares estaduais.
o A Justiça Militar estadual não tem competência para processar
e julgar civis. Nos termos do art. 125, § 4º, da CF/88, a Justiça
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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Militar Estadual é competente para processar e julgar os crimes


militares praticados apenas pelos militares estaduais.
 Súmula 73-STJ: A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o
crime de estelionato, da competência da justiça estadual. – IMPORTANTE.
 Súmula 78-STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual,
ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.
 Súmula 75-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por
crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.
 Súmula 151-STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou
descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
 Súmula 235-STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado.
 Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.
 Súmula Vinculante 46: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento são de competência legislativa privativa da
União.
 Súmula 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato,
sob a modalidade de emissão dolosa de cheques sem provisão de fundos, é o do local onde
se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
 Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos
crimes de competência da Justiça Comum Estadual – nos demais casos, a competência

95 originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.

15. Jurisprudências e anotações do meu caderno pessoal


Pessoal. TEM MUITA jurisprudência sobre isso. Se eu colocasse tudo iria encher o material.
Colocarei os mais importantes, ok????

 Zona Econômica Exclusiva está fora do mar territorial brasileiro, dessa forma, não há sujeição
da legislação penal brasileira ao homicídio de estrangeiro contra estrangeiro praticado em
embarcação particular. ENTENDIMENTO ADOTADO PELO CESPE!!!!!!!!!
 Cisão do artigo 80: Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
o Trata-se da separação de feitos conexos ou com relação de continência.
o A prerrogativa de foro não afasta a cisão, sendo certo que o STF tem
procedido à separação para manter na Corte somente o feito em relação ao
agente que possua foro.
o A cisão é um caráter meramente facultativo fundada em qualquer das
hipóteses previstas no artigo 80. Deve haver ocorrência de motivo relevante,
podendo haver cisão ainda que se trate de conexão/continência.
 Só se pode cogitar de prevenção da competência, quando a decisão, que a determinaria, tenha
sido precedida de distribuição: não previnem a competência decisões de juiz de plantão, nem
as facultadas em caso de urgência, a qualquer dos juízes criminais do foro. STF.
 Em julgamento de conflito de competência o tribunal pode declarar competente um terceiro
juízo que não figure no julgamento como suscitante e suscitado.
 Incide no campo do processo penal a figura da perpetuatio jurisdictionis, de modo que a
criação de novas varas, por modificações na lei de organização judiciária, não altera a
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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

competência territorial do juízo em que se instaurou o feito criminal, ressalvados os casos


excepcionados no art. 87 do CPC/1973 c/c o art. 3º do CPP. Assim, só não ocorrerá a
perpetuação da competência quando: • Houver supressão de órgão do Judiciário ou •
Ocorrer alteração de competência em razão da matéria ou da hierarquia.
 Tese 16 PGR: Não tem competência o Supremo Tribunal Federal (STF) para processamento e
julgamento de ação penal cujo sujeito passivo seja Presidente da República, pois a Constituição
Federal atribuiu àquela Corte a competência para julgamento de ações penais somente nos
casos em que o Presidente da República é sujeito ativo do crime, nos termos do artigo 102, I,
b.
Justiça Federal
● A Justiça Federal não julga contravenção, salvo quando o autor da referida infração penal
tenha foro por prerrogativa de função no TRF. Assim, um juiz federal contraventor será julgado
pelo TRF. Aqui o foro é pela função, e não pela matéria.
 As fraudes praticadas na administração de operadora de seguro de plano de saúde que não
seja seguradora (leia-se instituição financeira), como no caso das cooperativas, é da Justiça
Estadual. Se for seguradora, considerada como instituição financeira da Lei 7492, a
competência é da Justiça Federal.
 Compete ao TRF onde ocorreu o ilícito a ação penal contra Procurador da República que
cometeu crime, ainda que seja lotado em região diversa.
 Os indígenas abordaram produtores rurais que estavam trabalhando nas terras pertencentes à
comunidade indígena, pedindo a paralisação das atividades. Os produtores rurais reagiram
agredindo os indígenas com socos e chutes. A competência para julgar o fato é da Justiça
96 Federal. Isso porque a motivação dos delitos gira em torno de disputa por terras indígenas,
situação na qual a jurisprudência entende que há interesse de toda a comunidade indígena, a
justificar o deslocamento da competência para a Justiça Federal (art. 109, XI, CF/88). Não se
aplica a Súmula 140 do STJ quando o crime envolve interesses coletivos da comunidade
indígena. Um dos produtores rurais agressores era cunhado de um indígena, circunstância que
foi considerada irrelevante pelo STJ para a definição da competência da Justiça Federal tendo
em vista que a desavença entre eles não estava ligada a seu convívio familiar. STJ. 3ª Seção. CC
156.502/RR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/02/2018.
 Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Militar) decidir pedido de quebra de sigilo telefônico
requerido no âmbito de inquérito policial instaurado para apurar a suposta prática de crime
relacionado ao uso de artefato incendiário contra o edifício-sede da Justiça Militar da União,
quando o delito ainda não possua autoria estabelecida e não tenha sido cometido contra
servidor do Ministério Público Militar ou da Justiça Militar.
 Competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS
(art. 297, § 4º, do CP)? *
o STJ: Justiça FEDERAL. O sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297,
§ 4.º, do Diploma Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o
particular, terceiro prejudicado, com a omissão das informações, referentes ao
vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de
delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a
competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88.
o STF: Justiça ESTADUAL. Só é interesse do trabalhador.
o RECENTEMENTE (2019), a 3ª Seção Julgou pela competência da JUSTIÇA
FEDERAL, tanto em omissão quanto em falsificação de anotação em CTPS.
Viola diretamente a previdência e indiretamente o trabalhador.
 O STF fixou a seguinte tese:
o Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em
disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou
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 Processo Penal
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adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da
rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel.
orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28
e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). O STJ, interpretando a decisão do
STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de
conteúdo pedófilo-pornográfico deve ter sido feita em um ambiente virtual
propício ao livre acesso.
o Por outro lado, se a troca de material pedófilo ocorreu entre destinatários
certos no Brasil, não há relação de internacionalidade e, portanto, a
competência é da Justiça Estadual.
o Assim, o STJ afirmou que a definição da competência para julgar o delito do
art. 241-A do ECA passa pela seguinte análise:
 Se ficar constatada a internacionalidade da conduta: Justiça FEDERAL.
Ex: publicação do material feita em sites que possam ser acessados
por qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, desde que esteja
conectado à internet.
 Nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de
informações privadas, como nas conversas via Whatsapp ou por meio
de chat na rede social Facebook: Justiça ESTADUAL. Isso porque tanto
no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na
rede social Facebook, a comunicação se dá entre destinatários
escolhidos pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca de
97 informação privada que não está acessível a qualquer pessoa. Desse
modo, como em tais situações o conteúdo pornográfico não foi
disponibilizado em um ambiente de livre acesso, não se faz presente a
competência da Justiça Federal. STJ. 3ª Seção. CC 150564-MG, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017 (Info 603).
 Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre
crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição, aplicável o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 154656-MG, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
o A União possui compromissos internacionais com a apuração criminal
(persecutio criminis) em caso de delitos praticados por brasileiro no exterior e
no qual este infrator esteja agora no Brasil e não possa ser extraditado,
devendo responder em nosso país pelo crime cometido lá fora. Há, portanto,
interesse da União, que justifica a competência da Justiça Federal, nos termos
do art. 109, IV, da CF/88.
o Divergência – STF - 1ª Turma: entende que é a Justiça Comum Estadual, por
não haver interesse da União. No caso, o delito não foi praticado em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (inciso IV). De igual modo, não se aplica o
inciso V: “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente”. Isso porque o crime praticado não está
previsto em tratado ou convenção internacional. O Decreto 4.975/2004, que
promulgou o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul, por si
só não atrai a competência da Justiça Federal. Isso porque a persecução penal
não é fundada no acordo de extradição, mas no Código Penal brasileiro. Os
demais incisos do art. 109 nem de longe geram dúvida e não se aplicam ao

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

caso concreto. Dessa forma, não sendo hipótese de incidência da Justiça


Federal, a competência para julgar o delito em questão é da Justiça Estadual,
que tem caráter residual.
 Prefeitos:
o Súmula 702, STF: A competência do TJ para julgar prefeitos restringe-se aos
crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a
competência originária caberá ao respectivo tribunal de 2 grau.
o S: 208 STJ: Compete a justiça federal processar e julgar prefeito por desvio de
verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal;
o S: 209, STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
o Crime Comum - TJ
o Crime Comum Federal - TRF
o Crime Eleitoral - TRE
o Crime De Responsabilidade Próprio - Câmara de vereadores.
o Crime De Responsabilidade Impróprio - TJ.
 Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a
lei de software decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via
satélite ou cabo, por meio de serviços de cardsharing.
 Tanto para o STF, quanto para o STJ, o referido inciso atrai a competência da Justiça Federal
para processar e julgar os processos que veiculam questões ligadas não só aos direitos sobre
terras, mas também aos elementos da cultura indígena, relacionados à sua etnia. Assim,
98 colunista de um jornal que publicou artigos imputando aos índios adjetivos discriminatórios,
tais como “preguiçosos”, “inúteis” e “arredios”, ofendendo também a cultura indígena, ao
qualifica-la como “burra”, “estúpida” e “predatória, será processado perante a JUSTIÇA
FEDERAL.
 Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos
delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário.
Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).
o Art. 35. Compete aos juízes: (leia-se: juízes eleitorais) II - processar e julgar os
crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a
competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;
(CÓDIGO ELEITORAL)
o Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão
observadas as seguintes regras: (...) IV - no concurso entre a jurisdição comum
e a especial, prevalecerá esta.
o A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura crime
eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). A competência
para processar e julgar este delito é da Justiça Eleitoral. A existência de crimes
conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e
lavagem de capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força
do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF. 2ª Turma. PET 7319/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 27/3/2018
(Info 895).
o Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os crimes
políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da


Justiça Eleitoral;
o José Jairo Gomes: “Note-se que a Justiça Comum é federal e estadual. A ‘vis
attractiva’ exercida pela Justiça Eleitoral ocorrerá em ambos os casos. Apesar
de a competência criminal da Justiça Federal ser prevista diretamente na
Constituição (art. 109) e da Eleitoral ser estabelecida em norma
infraconstitucional (no caso, o Código Eleitoral – CE, art. 35, II), a parte final do
inciso IV, art. 109, da Lei Maior, ressalva expressamente a competência da
Justiça Eleitoral. Em razão da expressa ressalva constitucional, há que se
respeitar a competência criminal da Justiça Eleitoral, ainda quando ela seja
definida pela conexão. Caso contrário, à luz do ordenamento positivo, o
princípio do juiz natural restaria desatendido. Destarte, se houver conexão
entre crime federal e eleitoral poderá haver unidade processual com a
prorrogação da competência da Justiça Eleitoral. (…)” (Crimes Eleitorais e
Processo Penal Eleitoral. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2016, p. 325/327).
Justiça Estadual
 Compete à Justiça ESTADUAL o julgamento de crime ambiental decorrente de construção
de moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que Caixa Econômica
Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra.
 Não compete à Justiça Federal julgar queixa-crime proposta por particular contra outro
particular pelo simples fato de as declarações do querelado terem sido prestadas na
Procuradoria do Trabalho. A competência é da Justiça Estadual.

99 É da competência da Justiça estadual o julgamento de contravenções penais, mesmo que
conexas com delitos de competência da Justiça Federal. A doutrina afirma que existe uma
exceção na qual a Justiça Federal julgaria contravenção penal. Trata-se da hipótese de
contravenção penal praticada por pessoa com foro privativo no Tribunal Regional Federal.
Seria o caso, por exemplo, de contravenção penal cometida por Juiz Federal ou Procurador da
República. Em tais situações, o julgamento ocorreria no TRF (e não na Justiça Estadual). É a
posição, dentre outros, de Renato Brasileiro de Lima.
 Crime de tortura praticado contra brasileiro no exterior: trata-se de hipótese de
extraterritorialidade incondicionada (art. 2º da Lei 9.455?97). No Brasil, a competência para
julgar será da Justiça Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter
ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar
os agentes estrangeiros. Isso porque a situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das
hipóteses do art. 109 da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 107397-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 24/9/2014 (Info 549).
 Competência para processar e julgar crime de incitação à discriminação cometido por meio da
internet. Ofensas dirigidas a pessoas determinadas. 1. Não se declara a nulidade do ato
processual que não houver influído na decisão da causa. 2. É da Justiça estadual a
competência para processar e julgar o crime de incitação à discriminação racial por meio da
internet cometido contra pessoas determinadas e cujo resultado não ultrapassou as
fronteiras territoriais brasileiras.
o OBS: Brasil faz parte da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação Racial, entretanto, deve haver internacionalidade
na conduta.

Justiça Militar
● Súmula 90 STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o militar pela prática do
crime militar, e a comum pela prática do crume comum simultâneo àquele.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

 A competência da Justiça Militar é para os crimes militares “tourt court”, e não para os crimes
dos militares. Não se trata de competência ratione personae.
 Mesmo para civis, em tempos de paz, há tipos penais militares que, incidindo no caso,
tornarão o fato afeto ao foro especial em questão.
 Compete à Justiça Militar processar e julgar o crime de furto, praticado por civil, de patrimônio
que, sob administração militar, encontra-se nas dependências desta. Caso concreto: civil
furtou, dentro de estabelecimento militar, pistola que estava na posse de soldado da
Aeronáutica. Fundamento: art. 9º, III, “a”, do Código Penal Militar. STJ. 3ª Seção.CC 145721-SP,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
 Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
o II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:
o e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
o Agora, vários dos crimes que eram julgados na Justiça Federal, por antes não
haver previsão no CPM, é julgado pela Justiça Militar da União. Ver alterações
realizadas pela Lei n°13.491/2017.
o

Foro por prerrogativa de função / foro privilegiado


● Foro de prerrogativa por função:
o Vale a regra da atualidade entre o crime e o exercício da função. Enquanto for
100 detentor do foro, o crime permanecerá no Tribunal designado. Após, descerão
para a instância primária. EXCEÇÃO:
▪ Se o julgamento já tiver sido iniciado.
▪ Se a renúncia ao foro se caracterizou como uma fraude processual.
o Após iniciada a ação penal perante determinado juízo, caso ocorra a
modificação de competência em razão da investidura do réu em cargo que
atraia foro por prerrogativa de função, serão válidos os atos processuais –
inclusive o recebimento da denúncia – realizados antes da causa
superveniente de modificação da competência, sendo desnecessária, no
âmbito do novo juízo, qualquer ratificação desses atos.
● Em caso de réu que detenha foro de prerrogativa no STF e tenha havido usurpação de
competência pelo juízo de primeiro grau, eventual nulidade será tão somente em relação
ao agente que detenha foro por prerrogativa de função, de modo a não alcançar os
investigados que não detenham foro por prerrogativa.
● O mero fato de o nome do agente com prerrogativa de foro ter sido mencionado na
investigação não é suficiente para remessa imediata dos autos à Corte. Somente deverá haver
a remessa da investigação para o foro por prerrogativa de função se ficar constatada a
existência de indícios da participação ativa e concreta do titular da prerrogativa em ilícitos
penais. Em suma: a simples menção ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa de
foro, seja em depoimentos prestados por testemunhas ou investigados, seja em diálogos
telefônicos interceptados, assim como a existência de informações, até então, fluidas e
dispersas a seu respeito, são insuficientes para o deslocamento da competência para o
Tribunal hierarquicamente superior.
● Segundo o entendimento da Corte Especial do STJ, ocorrendo a descoberta fortuita de indícios
do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, os autos devem ser encaminhados
imediatamente ao foro prevalente, definido segundo o artigo 78, III, do CPP, o qual é o único

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

competente para resolver sobre a existência de conexão ou continência e acerca da


conveniência do desmembramento do processo.
● Em crimes que possuam autoridade com foro por prerrogativa de função, havendo conexão
(parlamentar no mesmo fato investigado), devem os feitos conexos, TODOS serem
remetidos ao Tribunal, sendo este, exclusivamente competente para decidir sobre o
desmembramento ou não do feito. O juiz de primeiro grau NÃO pode continuar
investigando, como também NÃO pode decidir sobre o desmembramento do feito em
relação aos demais investigados.
o O mesmo se diz quando houver apelação pendente de julgamento quando
o réu acaba de ser diplomado Deputado Federa/Senador. O recurso deve
subir para o STF julgar.
● Inexiste prazo em lei para remessa de autos à instância superior quando houver investigado
com foro e diligência em andamento, lembrando-se que, em matéria de prazos processuais
penais, até mesmo de prisão, adota-se o princípio da razoabilidade para caracterização de
excesso de prazo e investigações complexas. Com isso, considerou que a existência de
diligências urgentes em curso e o prejuízo manifesto a elas com a remessa à instância
superior (perda de diálogos a serem interceptados) seria e elemento que, de alguma
forma, deveria ser levado em consideração para mitigar tal rigor no prazo de envio dos
autos à instância superior.
● Crime eleitoral e prefeitos:
o O indiciamento não pode ser feito livremente pela autoridade policial.
o A competência para ação e investigação é do T.R.E, e não do juiz eleitoral.
● As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa
101 de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que
tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele. Assim, por exemplo,
se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se
justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando
o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após
a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções
exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a seguinte tese: O
foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
o Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de
intimação para apresentação de alegações finais (fixação de
competência), a competência para processar e julgar ações penais não
será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo
ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF. Plenário.
AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da
diplomação
Polícia (Civil ou Federal) ou MP.
Se o crime foi praticado depois da
Não há necessidade de autorização do STF
diplomação (durante o exercício do cargo),
mas o delito não tem relação com as Medidas cautelares são deferidas pelo juízo
funções desempenhadas. de 1ª instância (ex: quebra de sigilo)
Ex: homicídio culposo no trânsito.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

Se o crime foi praticado depois da


Polícia Federal e Procuradoria Geral da
diplomação (durante o exercício do cargo) e
República, com supervisão judicial do STF.
o delito está relacionado com as funções
desempenhadas. Há necessidade de autorização do STF para
o início das investigações.
Ex: corrupção passiva.
● O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de Tribunais de
Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em
razão deste. Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos Governadores e
pelos Conselheiros de Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem sido praticados
durante o exercício do cargo e em razão deste.
● Autoridades que dependem da Constituição Estadual (algumas Constituições preveem que a
competência para julgar os crimes por elas praticados é do Tribunal de Justiça): Vice-
governadores; Vereadores. Se a Constituição estadual não trouxer nenhuma regra, tais
autoridades serão julgadas em 1ª instância.
● O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses em
que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da Constituição Federal), o desembargador
acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao
mesmo tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não esteja
relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª instância
significar que o réu seria julgado por um juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal
que o Desembargador. A manutenção do julgamento no STJ tem por objetivo preservar a
isenção (imparcialidade e independência) do órgão julgador. STJ. Corte Especial. QO na APn
102 878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639).
● A diplomação de um acusado como parlamentar federal, após o regular recebimento da
denúncia pelo juiz de primeiro grau então competente, conduz à análise pelo STF da
possibilidade da absolvição sumária, nos termos do art. 397 do CPP.
● Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar o agravo regimental em que se
impugna decisão monocrática de integrante da Corte, mesmo que o agravante não mais
detenha prerrogativa de foro.
o A decisão atacada não pode ser decidida, sob o ângulo do mérito, por órgão
distinto. Daí a irrelevância de o agravante não mais estar no exercício do
mandato de deputado federal. Assim, o julgamento de recurso contra decisão
de ministro do Supremo é de competência da própria Corte. A atuação do
juízo de primeiro grau, ainda que cessado o mandato do detentor de foro por
prerrogativa de função, violaria as regras de competência funcional.
● O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses em
que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o desembargador acusado
houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo
tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não esteja relacionado
com as suas funções, ele será julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª instância significar que o
réu seria julgado por um juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que o
Desembargador. A manutenção do julgamento no STJ tem por objetivo preservar a isenção
(imparcialidade e independência) do órgão julgador. STJ. Corte Especial. QO na APn 878-DF,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639).
● Pedro, Deputado Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o objetivo de financiar a
sua campanha para reeleição. Esta doação não foi contabilizada na prestação de contas,
configurando o chamado “caixa 2” (art. 350 do Código Eleitoral). Pedro foi reeleito para um
novo mandato de 2019 até 2022. O STF será competente para julgar este crime eleitoral? SIM.
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício
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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

do cargo e relacionados às funções desempenhadas. O STF entende que o recebimento de


doação ilegal destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime
relacionado com o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-se
desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o mandato anterior,
bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta reeleição. STF. Plenário.
Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).
Outros julgados
● Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de
crime de ameaça contra a mulher cometido por meio de rede social de grande alcance,
quando iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil. STJ. 3ª Seção.CC 150712-
SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018 (Info 636).
o O crime não precisa estar previsto em tratado ou convenção internacional.
Basta que o Brasil tenha se comprometido a combater essa prática descrita no
tratado ou convenção internacional. à luz do entendimento firmado pelo STF,
embora as Convenções Internacionais firmadas pelo Brasil não tipifiquem
ameaças à mulher, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas protetivas, veio
concretizar o dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à mulher.
Ademais, no caso concreto, é evidente a internacionalidade das ameaças que
tiveram início nos EUA e, segundo relatado, tais ameaças foram feitas para a
suposta vítima e seus amigos, por meio da rede social de grande alcance, qual
seja,pelo Facebook. Logo, a competência é, de fato, da Justiça Federal de 1ª
instância.

103 ● Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito
previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria
estrangeira, permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de
pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC 159680-MG, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631). Compete à Justiça Federal o julgamento
dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes indícios de
transnacionalidade na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 26/09/2018 (Info 635).
● Se o crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto federal, a
competência para julgamento será da Justiça Federal tendo em vista que existe interesse
federal na manutenção e preservação da região. Logo, este delito gera possível lesão a bens,
serviços ou interesses da União, atraindo a regra do art. 109, IV, da Constituição Federal.
STJ. 3ª Seção. CC 142.016/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/08/2015.
o Por outro lado, não haverá competência da Justiça Federal se o crime foi
praticado dentro de área de proteção ambiental criada por decreto federal,
mas cuja fiscalização e administração foi delegada para outro ente
federativo: No caso, embora o local do dano ambiental esteja inserido na Área
de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu, criada pelo Decreto
Federal n. 88.940/1993, não há falar em interesse da União no crime
ambiental sob apuração, já que lei federal subsequente delegou a fiscalização
e administração da APA para o Distrito Federal (art. 1º da Lei n. 9.262/1996).
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara
Criminal e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado.
STJ. 3ª Seção. CC 158.747/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
13/06/2018.
● Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que
envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por

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compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral) (Info 853)
● O fato de os agentes, utilizando-se de formulários falsos da Receita Federal, terem se passado
por Auditores desse órgão com intuito de obter vantagem financeira ilícita de particulares não
atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de uso de
documento público, observa-se que a falsidade foi empregada, tão somente, em detrimento
de particular. Assim sendo, se se pudesse cogitar de eventual prejuízo sofrido pela União, ele
seria apenas reflexo, na medida em que o prejuízo direto está nitidamente limitado à esfera
individual da vítima, uma vez que as condutas em análise não trazem prejuízo direto e efetivo
a bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
(art. 109, IV, da CF). STJ. 3ª Seção. CC 141593-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 26/8/2015 (Info 568).
● Se não houver transnacionalidade, o crime do art. 273 do CP, mesmo envolvendo
anabolizantes estrangeiros, será de competência da Justiça Estadual273 do Código Penal não é
cometido 'em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas'. Salvo se houver provas ou fortes indícios da
transnacionalidade da conduta delitiva ou de conexão instrumental ou probatória com crime
da competência da Justiça Federal, a competência para processar e julgar a ação penal a ele
correspondente é da Justiça estadual. STJ. 3ª Seção. CC 128668/SP, Rel. Min. Newton Trisotto
(Des. Conv. TJ/SC), julgado em 12/08/2015.
o Percebam que a razão de decidir desse julgado é totalmente contraditória com
a razão de decidir recente da 3ª Seção, em relação ao contrabando, que fixa a
competência da JF mesmo em caso de ausência de transnacionalidade. Aqui,
104 se o anabolizante importado for preso sem transnacionalidade, é de
competência da Justiça Estadual. Mas não há violação a outros bens de
interesse da União? Saúde pública, etc? Vai entender..
● O art. 109, IX, da CF/88 afirma que compete à Justiça Federal julgar os crimes praticados a
bordo de navios ou aeronaves, com exceção daqueles que forem da Justiça Militar. Navio =
embarcação de grande porte. Para que o crime seja de competência da Justiça Federal, é
necessário que o navio seja uma “embarcação de grande porte”. Assim, se o delito for
cometido a bordo de um pequeno barco, lancha, veleiro etc., a competência será da Justiça
Estadual. Aeronave voando ou parada: a competência será da Justiça Federal mesmo que o
crime seja cometido a bordo de uma aeronave pousada. Não é necessário que a aeronave
esteja em movimento para a competência ser da Justiça Federal. Navio em situação de
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento: para que o crime
cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário que o navio
esteja em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex: está
parado provisoriamente no porto, mas já seguirá rumo a outro país). Se o navio estiver
atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a competência será da
Justiça Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 118503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
22/4/2015 (Info 560).
● Uma quadrilha roubou um banco privado e, quando os ladrões saíam da instituição,
cruzaram com uma viatura da Polícia Rodoviária Federal que passava casualmente
pelo local. Os policiais perceberam que os homens estavam armados e, por isso,
ordenaram que eles parassem. Houve troca de tiros. O MP denunciou os réus por
latrocínio. De quem é a competência para julgar o delito? Justiça FEDERAL. Compete à
Justiça Federal processar e julgar crime de latrocínio no qual tenha havido troca de
tiros com policiais rodoviários federais que, embora não estivessem em serviço de
patrulhamento ostensivo, agiam para reprimir assalto a instituição bancária privada. O
crime foi praticado contra policiais rodoviários federais que, diante da ocorrência de

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

um flagrante, tinham o dever de agir. Assim, o delito foi cometido contra servidores
públicos federais no exercício da função (Súmula 147 do STJ). STJ. 5ª Turma. HC
309914-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/4/2015 (Info 559).
● O recebimento da denúncia é previsto como causa de interrupção do prazo
prescricional (art. 117, I, do CP). Situação1: se a denúncia foi recebida por juízo
absolutamente incompetente, pode-se dizer que houve interrupção do prazo de
prescrição? NÃO. Doutrina e jurisprudência são uniformes no sentido de que o
recebimento da denúncia por magistrado absolutamente incompetente não
interrompe o curso do prazo prescricional. Assim, mesmo que, posteriormente, a
denúncia seja recebida pelo juízo competente, aquele primeiro recebimento feito pelo
magistrado absolutamente incompetente não servirá como marco interruptivo da
prescrição. Ex: se um juiz de 1ª instância recebe denúncia formulada contra réu que
detém foro por prerrogativa de função no Tribunal (STJ. Corte Especial. APn 295-RR,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014). Situação 2: se o vício fosse de
incompetência relativa, haveria interrupção da prescrição? A denúncia recebida por
juízo relativamente incompetente interrompe a prescrição se depois for ratificada pelo
juízo competente? SIM. Pelo princípio da convalidação, o recebimento da denúncia
por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de interromper o
prazo prescricional. Se a denúncia foi recebida pelo juízo relativamente incompetente
em 2010 e depois foi ratificada em 2011, considera-se que houve interrupção em
2010. A convalidação posterior possui natureza declaratória, servindo apenas para
confirmar a validade daquela primeira decisão. Repetindo: o recebimento da denúncia
por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de interromper o
105 prazo prescricional (STJ. 5ª Turma. RHC 40.514/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
08/05/2014). STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
17/12/2014 (Info 555).
● Determinado Estado-membro conseguiu um financiamento do BNDES para a
realização de um empreendimento. Ocorre que houve fraude à licitação e
superfaturamento da obra. O fato de o BNDES (que é uma empresa pública federal) ter
emprestado o dinheiro atrai a competência para a Justiça Federal? NÃO. O fato de
licitação estadual envolver recursos repassados ao Estado-Membro pelo BNDES por
meio de empréstimo bancário (mútuo feneratício) não atrai a competência da Justiça
Federal para processar e julgar crimes relacionados a suposto superfaturamento na
licitação. Mesmo havendo superfaturamento na licitação estadual, o prejuízo recairá
sobre o erário estadual (e não o federal), uma vez que, não obstante a fraude, o
contrato de mútuo feneratício entre o Estado-Membro e o BNDES permanecerá válido,
fazendo com que a empresa pública federal receba de volta, em qualquer
circunstância, o valor emprestado ao ente federativo. Logo, a competência é da Justiça
Estadual. STJ. 5ª Turma. RHC 42595-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/12/2014
(Info 555).
● O réu respondia a um processo na Justiça Federal acusado de ter praticado um crime
federal em concurso com um delito estadual. Ambos os delitos estavam sendo
processados na Justiça Federal em razão da conexão probatória (art. 76, III do CPP e
Súmula 122 do STJ). Ocorre que, no momento da sentença, o juiz federal entendeu
que a classificação oferecida pelo Ministério Público não estava correta e que o crime
federal imputado deveria ser desclassificado para outro delito (de competência da
Justiça Estadual). Nesse caso, o juiz federal, ao desclassificar a conduta do delito
federal para o crime estadual, deverá julgar-se incompetente para continuar no exame
da causa e declinar a competência para a Justiça Estadual, nos termos do § 2º do art.

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 Processo Penal
 Competência Criminal
 Apostila 04

383 do CPP. STF. 2ª Turma. HC 113845/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
20/8/2013 (Info 716).
● Compete à Justiça FEDERAL processar e julgar as ações penais relacionadas com o
DESVIO de verbas originárias do SUS (Sistema Único de Saúde), independentemente
de se tratar de valores repassados aos Estados ou Municípios por meio da modalidade
de transferência “fundo a fundo” ou mediante realização de convênio. STJ. 3ª Seção.
AgRg no CC 129386/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2013. STJ. 3ª
Seção. AgRg no CC 122555-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/8/2013 (Info
527).
● Compete ao foro do local onde efetivamente ocorrer o desvio de verba pública — e
não ao do lugar para o qual os valores foram destinados — o processamento e
julgamento da ação penal referente ao crime de peculato-desvio (art. 312, caput,
segunda parte, do CP). STJ. 3ª Seção. CC 119819-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 14/8/2013 (Info 526).
● Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual) processar e julgar ação penal
referente aos crimes de calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela
posição de cacique em comunidade indígena (art. 109, XI, da CF/88). STJ. 3ª Seção. CC
123016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).
● Crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter transnacional praticados no
mesmo contexto dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor, contra as
mesmas vítimas, devem ser considerados conexos e julgados conjuntamente na Justiça
Federal. STF. 2ª Turma. HC 114689/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
13/8/2013 (Info 715).
106 ● Pessoa que “baixa” da internet e armazena, em computador da escola, vídeos
pornográficos envolvendo crianças e adolescentes pratica o delito do art. 241-A, § 1º,
I, do ECA, sendo esta conduta, neste caso concreto, crime de competência da Justiça
Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 103011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
13/3/2013 (Info 520).
● O réu, por meio de fraude, obteve, para si, um benefício previdenciário que era pago
em agência do INSS localizada no Estado “A”. Depois de algum tempo recebendo, o
benefício foi transferido para uma agência do INSS no Estado “B”, quando então, foi
descoberta a fraude. A competência para julgar este estelionato previdenciário será da
Justiça Federal do Estado “A”. Segundo decidiu o STJ, no caso de ação penal destinada
à apuração de estelionato praticado mediante fraude para a concessão de
aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que situada a agência onde
inicialmente recebido o benefício, ainda que este, posteriormente, tenha passado a
ser recebido em agência localizada em município sujeito a jurisdição diversa. STJ. 3ª
Seção. CC 125023-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013 (Info
518).
● Compete à justiça ESTADUAL o julgamento de ação penal em que se apure crime de
esbulho possessório (art. 161, § 1º, II, do CP) efetuado em terra de propriedade do
INCRA na hipótese em que a conduta delitiva não tenha representado ameaça à
titularidade do imóvel e em que os únicos prejudicados tenham sido aqueles que
tiveram suas residências invadidas. STJ. 3ª Seção. CC 121150-PR, Rel. Min. Alderita
Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ-PE), julgado em 4/2/2013 (Info
513).

Bons estudos!

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