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Nota introdutória devida forma, adoptaram a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma

organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.


A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco a 26 de Junho de 1945, no final da
Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, e entrou em vigor a 24 de Outubro
de 1945. O Estatuto do Tribunal (*) Internacional de Justiça é parte integrante da Carta.
A 17 de Dezembro de 1963 foram adoptadas pela Assembleia Geral emendas aos artigos 23, 27 e 61 CAPÍTULO I
da Carta as quais entraram em vigor a 31 de Agosto de 1965. Outra emenda ao artigo 61 foi adoptada
pela Assembleia Geral a 20 de Dezembro de 1971 e entrou em vigor a 24 de Setembro de 1973. Uma OBJECTIVOS E PRINCÍPIOS
emenda ao artigo 109, adoptada pela Assembleia Geral a 20 de Dezembro de 1965, entrou em vigor a
12 de Junho de 1968. Artigo 1

A emenda ao artigo 23 eleva de 11 para 15 o número de membros do Conselho de Segurança. A


Os objectivos das Nações Unidas são:
emenda ao artigo 27 dispõe que as decisões do Conselho de Segurança sobre questões de
procedimento são tomadas pelo voto afirmativo de nove membros (anteriormente sete) e que as suas 1) Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas colectivas eficazes para
decisões sobre todas as outras questões são tomadas pelo voto afirmativo de nove dos seus membros prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os actos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e
(anteriormente sete), incluídos os votos dos cinco membros permanentes do Conselho. chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional,
a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma
A emenda ao artigo 61, que entrou em vigor a 31 de Agosto de 1965, elevava de 18 para 27 o número
perturbação da paz;
de membros do Conselho Económico e Social. A emenda seguinte a esse artigo, que entrou em vigor a
24 de Setembro de 1973, elevou de 27 para 54 o número de membros do Conselho. 2) Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do princípio da igualdade de
direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da
A emenda ao artigo 109, que diz respeito ao n.º 1 desse artigo, determina que uma Conferência Geral
paz universal;
dos membros das Nações Unidas, com o propósito de rever a Carta, poderá reunir-se em local e data a
serem fixados pelo voto de dois terços dos membros da Assembleia Geral e pelo voto de nove 3) Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de carácter económico,
(anteriormente sete) dos membros do Conselho de Segurança. O n.º 3 do artigo 109, que trata do social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas
exame pela Assembleia Geral, na sua 10.º sessão ordinária, da questão de uma possível conferência liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
para a revisão da Carta, foi mantido na sua forma original, no que se refere ao «voto de sete membros 4) Ser um centro destinado a harmonizar a acção das nações para a consecução desses objectivos
quaisquer do Conselho de Segurança», tendo a Assembleia Geral, em sua 10.ª sessão ordinária, e o comuns.
Conselho de Segurança, em 1955, tomado medidas acerca desse parágrafo.
Artigo 2
CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS
A Organização e os seus membros, para a realização dos objectivos mencionados no artigo 1, agirão de
Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: acordo com os seguintes princípios:
A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida 1) A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros;
humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade;
2) Os membros da Organização, a fim de assegurarem a todos em geral os direitos e vantagens
A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa
resultantes da sua qualidade de membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas
humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e
em conformidade com a presente carta;
pequenas;
3) Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias internacionais por meios
A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações
pacíficos, de modo a que a paz e a segurança internacionais, bem como a justiça, não sejam
decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional;
ameaçadas;
A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de
4) Os membros deverão abster-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da
liberdade;
força, quer seja contra a integridade territorial ou a independência política de um Estado, quer seja de
e para tais fins: qualquer outro modo incompatível com os objectivos das Nações Unidas;
A praticar a tolerância e a viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos; 5) Os membros da Organização dar-lhe-ão toda a assistência em qualquer acção que ela empreender
A unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais; em conformidade com a presente Carta e se absterão de dar assistência a qualquer Estado contra o
qual ela agir de modo preventivo ou coercitivo;
A garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada,
a não ser no interesse comum; 6) A Organização fará com que os Estados que não são membros das Nações Unidas ajam de acordo
com esses princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança
A empregar mecanismos internacionais para promover o progresso económico e social de todos os
internacionais;
povos;
7) Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que
resolvemos conjugar os nossos esforços para a consecução desses objectivos.
dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou obrigará os membros a
Em vista disso, os nossos respectivos governos, por intermédio dos seus representantes reunidos na submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não
cidade de São Francisco, depois de exibirem os seus plenos poderes, que foram achados em boa e prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo VII.

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CAPÍTULO II CAPÍTULO IV

MEMBROS ASSEMBLEIA GERAL

Artigo 3 Composição

Os membros originários das Nações Unidas serão os Estados que, tendo participado na Conferência das Artigo 9
Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada em São Francisco, ou, tendo assinado
previamente a Declaração das Nações Unidas, de 1 de Janeiro de 1942, assinaram a presente Carta e a 1 - A Assembleia Geral será constituída por todos os membros das Nações Unidas.
ratificaram, de acordo com o artigo 110. 2 - Nenhum membro deverá ter mais de cinco representantes na Assembleia Geral.

Artigo 4 Funções e poderes

1 - A admissão como membro das Nações Unidas fica aberta a todos os outros Estados amantes da paz Artigo 10
que aceitarem as obrigações contidas na presente carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos
e dispostos a cumprir tais obrigações.
A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem dentro das
2 - A admissão de qualquer desses Estados como membros das Nações Unidas será efectuada por finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com os poderes e funções de qualquer dos
decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. órgãos nela previstos, e, com excepção do estipulado no artigo 12, poderá fazer recomendações aos
membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles, conjuntamente, com a
Artigo 5 referência a quaisquer daquelas questões ou assuntos.

O membro das Nações Unidas contra o qual for levada a efeito qualquer acção preventiva ou coercitiva Artigo 11
por parte do Conselho de Segurança poderá ser suspenso do exercício dos direitos e privilégios de
membro pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. O exercício 1 - A Assembleia Geral poderá considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e
desses direitos e privilégios poderá ser restabelecido pelo Conselho de Segurança. da segurança internacionais, inclusive os princípios que disponham sobre o desarmamento e a
regulamentação dos armamentos, e poderá fazer recomendações relativas a tais princípios aos
Artigo 6 membros ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles conjuntamente.
2 - A Assembleia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da
O membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os princípios contidos na presente segurança internacionais, que lhe forem submetidas por qualquer membro das Nações Unidas, ou pelo
Carta poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja membro das Nações Unidas, de acordo com o
de Segurança. artigo 35, n.º 2, e, com excepção do que fica estipulado no artigo 12, poderá fazer recomendações
relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou Estados interessados ou ao Conselho de Segurança
ou a este e àqueles. Qualquer destas questões, para cuja solução seja necessária uma acção, será
submetida ao Conselho de Segurança pela Assembleia Geral, antes ou depois da discussão.
CAPÍTULO III
3 - A Assembleia Geral poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para situações que possam
constituir ameaça à paz e à segurança internacionais.
ÓRGÃOS
4 - Os poderes da Assembleia Geral enumerados neste artigo não limitarão o alcance geral do artigo
Artigo 7 10.

Artigo 12
1 - Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembleia Geral, um
Conselho de Segurança, um Conselho Económico e Social, um Conselho de Tutela, um Tribunal (*)
Internacional de Justiça e um Secretariado. 1 - Enquanto o Conselho de Segurança estiver a exercer, em relação a qualquer controvérsia ou
situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma
2 - Poderão ser criados, de acordo com a presente Carta, os órgãos subsidiários considerados
recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança o
necessários.
solicite.

Artigo 8 2 - O Secretário-Geral, com o consentimento do Conselho de Segurança, comunicará à Assembleia


Geral, em cada sessão, quaisquer assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança
internacionais que estiverem a ser tratados pelo Conselho de Segurança, e da mesma maneira dará
As Nações Unidas não farão restrições quanto ao acesso de homens e mulheres, em condições de
conhecimento de tais assuntos à Assembleia Geral, ou aos membros das Nações Unidas se a
igualdade, a qualquer função nos seus órgãos principais e subsidiários.
Assembleia Geral não estiver em sessão, logo que o Conselho de Segurança terminar o exame dos
referidos assuntos.

3 4
Artigo 13 membros das Nações Unidas, a suspensão dos direitos e privilégios de membros, a expulsão de
membros, as questões referentes ao funcionamento do regime de tutela e questões orçamentais.
1 - A Assembleia Geral promoverá estudos e fará recomendações, tendo em vista: 3 - As decisões sobre outras questões, inclusive a determinação de categorias adicionais de assuntos a
a) Fomentar a cooperação internacional no plano político e incentivar o serem debatidos por maioria de dois terços, serão tomadas por maioria dos membros presentes e
desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação; votantes.
b) Fomentar a cooperação internacional no domínio económico, social, cultural,
educacional e da saúde e favorecer o pleno gozo dos direitos do homem e das Artigo 19
liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo,
língua ou religião. O membro das Nações Unidas em atraso no pagamento da sua contribuição financeira à Organização
não terá voto na Assembleia Geral, se o total das suas contribuições atrasadas igualar ou exceder a
2 - As demais responsabilidades, funções e poderes da Assembleia Geral em relação aos assuntos
soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos. A Assembleia Geral
acima mencionados, no n.º 1, alínea b), estão enumerados nos capítulos IX e X.
poderá, entretanto, permitir que o referido membro vote, se ficar provado que a falta de pagamento é
devida a circunstâncias alheias à sua vontade.
Artigo 14

Procedimento
A Assembleia Geral, com ressalva das disposições do artigo 12, poderá recomendar medidas para a
solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja a sua origem, que julgue prejudicial ao bem-
Artigo 20
estar geral ou às relações amistosas entre nações, inclusive as situações que resultem da violação das
disposições da presente Carta que estabelecem os objectivos e princípios das Nações Unidas.
A Assembleia Geral reunir-se-á em sessões anuais ordinárias e em sessões extraordinárias sempre que
as circunstâncias o exigirem. As sessões extraordinárias serão convocadas pelo Secretário-Geral, a
Artigo 15
pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos membros das Nações Unidas.

1 - A Assembleia Geral receberá e examinará os relatórios anuais e especiais do Conselho de


Artigo 21
Segurança. Esses relatórios incluirão uma relação das medidas que o Conselho de Segurança tenha
adoptado ou aplicado a fim de manter a paz e a segurança internacionais.
A Assembleia Geral adoptará o seu próprio regulamento e elegerá o seu presidente para cada sessão.
2 - A Assembleia Geral receberá e examinará os relatórios dos outros órgãos das Nações Unidas.
Artigo 22
Artigo 16

A Assembleia Geral poderá estabelecer os órgãos subsidiários que julgar necessários ao desempenho
A Assembleia Geral desempenhará, em relação ao regime internacional de tutela, as funções que lhe das suas funções.
são atribuídas nos capítulos XII e XIII, inclusive as de aprovação de acordos de tutela referentes às
zonas não designadas como estratégicas.

Artigo 17 CAPÍTULO V

1 - A Assembleia Geral apreciará e aprovará o orçamento da Organização. CONSELHO DE SEGURANÇA


2 - As despesas da Organização serão custeadas pelos membros segundo quotas fixadas pela
Assembleia geral. Composição

3 - A Assembleia Geral apreciará e aprovará quaisquer ajustes financeiros e orçamentais com as


Artigo 23
organizações especializadas, a que se refere o artigo 57, e examinará os orçamentos administrativos
das referidas instituições especializadas, com o fim de lhes fazer recomendações.
1 - O Conselho de Segurança será constituído por 15 membros das Nações Unidas. A República da
Votação China, a França, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América serão membros permanentes do Conselho de
Artigo 18 Segurança. A Assembleia Geral elegerá 10 outros membros das Nações Unidas para membros não
permanentes do Conselho de Segurança, tendo especialmente em vista, em primeiro lugar, a
contribuição dos membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais
1 - Cada membro da Assembleia Geral terá um voto.
e para os outros objectivos da Organização e também uma distribuição geográfica equitativa.
2 - As decisões da Assembleia Geral sobre questões importantes serão tomadas por maioria de dois
2 - Os membros não permanentes do Conselho de Segurança serão eleitos por um período de dois
terços dos membros presentes e votantes. Essas questões compreenderão: as recomendações relativas
anos. Na primeira eleição dos membros não permanentes, depois do aumento do número de membros
à manutenção da paz e da segurança internacionais, a eleição dos membros não permanentes do
do Conselho de Segurança de 11 para 15, dois dos quatro membros adicionais serão eleitos por um
Conselho de Segurança, a eleição dos membros do Conselho Económico e Social, a eleição dos
período de um ano. Nenhum membro que termine o seu mandato poderá ser reeleito para o período
membros do Conselho de Tutela de acordo com o n.º 1, alínea c), do artigo 86, a admissão de novos
imediato.

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3 - Cada membro do Conselho de Segurança terá um representante. 3 - O Conselho de Segurança poderá reunir-se em outros lugares fora da sede da Organização, que
julgue mais apropriados para facilitar o seu trabalho.
Funções e poderes
Artigo 29
Artigo 24
O Conselho de Segurança poderá estabelecer os órgãos subsidiários que julgar necessários para o
1 - A fim de assegurar uma acção pronta e eficaz por parte das Nações Unidas, os seus membros desempenho das suas funções.
conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da
segurança internacionais e concordam em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa Artigo 30
responsabilidade, o Conselho de Segurança aja em nome deles.
2 - No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de acordo com os objectivos e os O Conselho de Segurança adoptará o seu próprio regulamento, que incluirá o modo de designação do
princípios das Nações Unidas. Os poderes específicos concedidos ao Conselho de Segurança para o seu presidente.
cumprimento dos referidos deveres estão definidos nos capítulos VI, VII, VIII e XII.
Artigo 31
3 - O Conselho de Segurança submeterá à apreciação da Assembleia Geral relatórios anuais e, quando
necessário, relatórios especiais.
Qualquer membro das Nações Unidas que não seja membro do Conselho de Segurança poderá
Artigo 25 participar, sem direito a voto, na discussão de qualquer questão submetida ao Conselho de Segurança,
sempre que este considere que os interesses do referido membro estão especialmente em jogo.

Os membros das Nações Unidas concordam em aceitar e aplicar as decisões do Conselho de


Artigo 32
Segurança, de acordo com a presente Carta.

Artigo 26 Qualquer membro das Nações Unidas que não seja membro do Conselho de Segurança ou qualquer
Estado que não seja membro das Nações Unidas será convidado, desde que seja parte numa
controvérsia submetida ao Conselho de Segurança, a participar, sem direito a voto, na discussão dessa
A fim de promover o estabelecimento e a manutenção da paz e da segurança internacionais, desviando
controvérsia. O Conselho de Segurança determinará as condições que lhe parecerem justas para a
para armamentos o mínimo possível dos recursos humanos e económicos do mundo, o Conselho de
participação de um Estado que não seja membro das Nações Unidas.
Segurança terá o encargo de elaborar, com a assistência da Comissão de Estado-Maior a que se refere
o artigo 47, os planos, a serem submetidos aos membros das Nações Unidas, tendo em vista
estabelecer um sistema de regulamentação dos armamentos.

CAPÍTULO VI
Votação

SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS


Artigo 27

Artigo 33
1 - Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto.
2 - As decisões do Conselho de Segurança, em questões de procedimento, serão tomadas por um voto 1 - As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança
afirmativo de nove membros. internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação,
3 - As decisões do Conselho de Segurança sobre quaisquer outros assuntos serão tomadas por voto conciliação, arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro
favorável de nove membros, incluindo os votos de todos os membros permanentes, ficando entendido meio pacífico à sua escolha.
que, no que se refere às decisões tomadas nos termos do capítulo VI e do n.º 3 do artigo 52, aquele 2 - O Conselho de Segurança convidará, se o julgar necessário, as referidas partes a resolver por tais
que for parte numa controvérsia se absterá de votar. meios as suas controvérsias.

Procedimento Artigo 34

Artigo 28
O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou situação susceptível de
provocar atritos entre as Nações ou de dar origem a uma controvérsia, a fim de determinar se a
1 - O Conselho de Segurança será organizado de maneira que possa funcionar continuamente. Cada continuação de tal controvérsia ou situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da
membro do Conselho de Segurança estará, para tal fim, em todos os momentos, representado na sede segurança internacionais.
da Organização.
2 - O Conselho de Segurança terá reuniões periódicas, nas quais cada um dos seus membros poderá,
se assim o desejar, ser representado por um membro do governo ou por outro representante
especialmente designado.

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Artigo 35 Artigo 40

1 - Qualquer membro das Nações Unidas poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança ou da A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá, antes de fazer as
Assembleia Geral para qualquer controvérsia ou qualquer situação da natureza das que se acham recomendações ou decidir a respeito das medidas previstas no artigo 39, instar as partes interessadas
previstas no artigo 34. a aceitar as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis. Tais medidas
2 - Um Estado que não seja membro das Nações Unidas poderá chamar a atenção do Conselho de provisórias não prejudicarão os direitos ou pretensões nem a situação das partes interessadas. O
Segurança ou da Assembleia Geral para qualquer controvérsia em que seja parte, uma vez que aceite Conselho de Segurança tomará devida nota do não cumprimento dessas medidas.
previamente, em relação a essa controvérsia, as obrigações de solução pacífica previstas na presente
Carta. Artigo 41

3 - Os actos da Assembleia Geral a respeito dos assuntos submetidos à sua atenção, de acordo com
O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas,
este artigo, estarão sujeitos às disposições dos artigos 11 e 12.
deverão ser tomadas para tornar efectivas as suas decisões e poderá instar os membros das Nações
Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações
Artigo 36
económicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos,
radioeléctricos, ou de outra qualquer espécie, e o rompimento das relações diplomáticas.
1 - O Conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza daquelas a
que se refere o artigo 33, ou de uma situação de natureza semelhante, recomendar os procedimentos
Artigo 42
ou métodos de solução apropriados.
2 - O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer procedimentos para a solução Se o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no artigo 41 seriam ou
de uma controvérsia que já tenham sido adoptados pelas partes. demonstraram ser inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres,
3 - Ao fazer recomendações, de acordo com este artigo, o Conselho de Segurança deverá também a acção que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal
tomar em consideração que as controvérsias de carácter jurídico devem, em regra, ser submetidas acção poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas,
pelas partes ao Tribunal (*) Internacional de Justiça, de acordo com as disposições do Estatuto do navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas.
Tribunal (*).
Artigo 43
Artigo 37
1 - Todos os membros das Nações Unidas se comprometem, a fim de contribuir para a manutenção da
1 - Se as partes numa controvérsia da natureza daquelas a que se refere o artigo 33 não conseguirem paz e da segurança internacionais, a proporcionar ao Conselho de Segurança, a seu pedido e em
resolvê-la pelos meios indicados no mesmo artigo, deverão submetê-la ao Conselho de Segurança. conformidade com um acordo ou acordos especiais, forças armadas, assistência e facilidades, inclusive
direitos de passagem, necessários à manutenção da paz e da segurança internacionais.
2 - Se o Conselho de Segurança julgar que a continuação dessa controvérsia pode, de facto, constituir
uma ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais, decidirá se deve agir de acordo com 2 - Tal acordo ou tais acordos determinarão o número e tipos das forças, o seu grau de preparação e a
o artigo 36 ou recomendar os termos de solução que julgue adequados. sua localização geral, bem como a natureza das facilidades e da assistência a serem proporcionadas.
3 - O acordo ou acordos serão negociados o mais cedo possível, por iniciativa do Conselho de
Artigo 38 Segurança. Serão concluídos entre o Conselho de Segurança e membros da Organização ou entre o
Conselho de Segurança e grupos de membros e submetidos à ratificação, pelos Estados signatários, em
Sem prejuízo das disposições dos artigos 33 a 37, o Conselho de Segurança poderá, se todas as partes conformidade com os respectivos procedimentos constitucionais.
numa controvérsia assim o solicitarem, fazer recomendações às partes, tendo em vista uma solução
pacífica da controvérsia. Artigo 44

Quando o Conselho de Segurança decidir recorrer ao uso da força, deverá, antes de solicitar a um
membro nele não representado o fornecimento de forças armadas em cumprimento das obrigações
CAPÍTULO VII assumidas em virtude do artigo 43, convidar o referido membro, se este assim o desejar, a participar
nas decisões do Conselho de Segurança relativas ao emprego de contigentes das forças armadas do
ACÇÃO EM CASO DE AMEAÇA À PAZ, RUPTURA DA PAZ E ACTO DE AGRESSÃO dito membro.

Artigo 39 Artigo 45

O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou acto A fim de habilitar as Nações Unidas a tomar medidas militares urgentes, os membros das Nações
de agressão e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas de acordo com os Unidas deverão manter, imediatamente utilizáveis, contingentes das forças aéreas nacionais para a
artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. execução combinada de uma acção coercitiva internacional. A potência e o grau de preparação desses
contingentes, bem como os planos de acção combinada, serão determinados pelo Conselho de
Segurança com a assistência da Comissão de Estado-Maior, dentro dos limites estabelecidos no acordo
ou acordos especiais a que se refere o artigo 43.

9 10
Artigo 46

Os planos para a utilização da força armada serão elaborados pelo Conselho de Segurança com a CAPÍTULO VIII
assistência da Comissão de Estado-Maior.
ACORDOS REGIONAIS
Artigo 47
Artigo 52
1 - Será estabelecida uma Comissão de Estado-Maior destinada a orientar e assistir o Conselho de
Segurança, em todas as questões relativas às exigências militares do mesmo Conselho, para a 1 - Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de organizações regionais destinados a
manutenção da paz e da segurança internacionais, utilização e comando das forças colocadas à sua tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que forem
disposição, regulamentação de armamentos e possível desarmamento. susceptíveis de uma acção regional, desde que tais acordos ou organizações regionais e suas
actividades sejam compatíveis com os objectivos e princípios das Nações Unidas.
2 - A Comissão de Estado-Maior será composta pelos chefes de estado-maior dos membros
permanentes do Conselho de Segurança ou pelos seus representantes. Qualquer membro das Nações 2 - Os membros das Nações Unidas que forem parte em tais acordos ou que constituírem tais
Unidas que não estiver permanentemente representado na Comissão será por esta convidado a tomar organizações empregarão todos os esforços para chegar a uma solução pacífica das controvérsias locais
parte nos seus trabalhos, sempre que a sua participação for necessária ao eficiente cumprimento das por meio desses acordos e organizações regionais, antes de as submeter ao Conselho de Segurança.
responsabilidades da Comissão. 3 - O Conselho de Segurança estimulará o desenvolvimento da solução pacífica de controvérsias locais
3 - A Comissão de Estado-Maior será responsável, sob a autoridade do Conselho de Segurança, pela mediante os referidos acordos ou organizações regionais, por iniciativa dos Estados interessados ou a
direcção estratégica de todas as forças armadas postas à disposição do dito Conselho. As questões instâncias do próprio Conselho de Segurança.
relativas ao comando dessas forças serão resolvidas ulteriormente. 4 - Este artigo não prejudica de modo algum a aplicação dos artigos 34 e 35.
4 - A Comissão de Estado-Maior, com a autorização da Conselho de Segurança e depois de consultar os
organismos regionais adequados, poderá estabelecer subcomissões regionais. Artigo 53

Artigo 48 1 - O Conselho de Segurança utilizará, quando for caso, tais acordos e organizações regionais para
uma acção coercitiva sob a sua própria autoridade. Nenhuma acção coercitiva será, no entanto, levada
1 - A acção necessária ao cumprimento das decisões do Conselho de Segurança para a manutenção da a efeito em conformidade com acordos ou organizações regionais sem autorização do Conselho de
paz e da segurança internacionais será levada a efeito por todos os membros das Nações Unidas ou por Segurança, com excepção das medidas contra um Estado inimigo, como está definido no n.º 2 deste
alguns deles, conforme seja determinado pelo Conselho de Segurança. artigo, que forem determinadas em consequência do artigo 107 ou em acordos regionais destinados a
impedir a renovação de uma política agressiva por parte de qualquer desses Estados, até ao momento
2 - Essas decisões serão executadas pelos membros das Nações Unidas directamente e mediante a sua
em que a Organização possa, a pedido dos Governos interessados, ser incumbida de impedir qualquer
acção nos organismos internacionais apropriados de que façam parte.
nova agressão por parte de tal Estado.

Artigo 49 2 - O termo «Estado inimigo», usado no n.º 1 deste artigo, aplica-se a qualquer Estado que, durante a
2.ª Guerra Mundial, tenha sido inimigo de qualquer signatário da presente Carta.
Os membros das Nações Unidas associar-se-ão para a prestação de assistência mútua na execução das
medidas determinadas pelo Conselho de Segurança. Artigo 54

Artigo 50 O Conselho de Segurança será sempre informado de toda a acção empreendida ou projectada em
conformidade com os acordos ou organizações regionais para a manutenção da paz e da segurança
Se um Estado for objecto de medidas preventivas ou coercivas tomadas pelo Conselho de Segurança, internacionais.
qualquer outro Estado, quer seja ou não membro das Nações Unidas, que enfrente dificuldades
económicas especiais resultantes da execução daquelas medidas terá o direito de consultar o Conselho
de Segurança no que respeita à solução de tais dificuldades.
CAPÍTULO IX
Artigo 51
COOPERAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL INTERNACIONAL

Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou colectiva, no
Artigo 55
caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas, até que o Conselho de
Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança
internacionais. As medidas tomadas pelos membros no exercício desse direito de legítima defesa serão Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas
comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a entre as Nações, baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos
autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em povos, as Nações Unidas promoverão:
qualquer momento, a acção que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da a) A elevação dos níveis de vida, o pleno emprego e condições de progresso e
segurança internacionais. desenvolvimento económico e social;

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b) A solução dos problemas internacionais económicos, sociais, de saúde e conexos, 3 - Na primeira eleição a realizar-se depois de elevado o número de 27 para 54 membros, 27 membros
bem como a cooperação internacional, de carácter cultural e educacional; adicionais serão eleitos, além dos membros eleitos para a substituição dos nove membros cujo
c) O respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades mandato expira ao fim daquele ano. Desses 27 membros adicionais, nove serão eleitos para um
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. mandato que expirará ao fim de um ano, e nove outros para um mandato que expirará ao fim de dois
anos, de acordo com disposições adoptadas pela Assembleia Geral.
Artigo 56 4 - Cada membro do Conselho Económico e Social terá um representante.

Para a realização dos objectivos enumerados no artigo 55, todos os membros da Organização se Função e poderes
comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente.
Artigo 62
Artigo 57
1 - O Conselho Económico e Social poderá fazer ou iniciar estudos e relatórios a respeito de assuntos
1 - As várias organizações especializadas, criadas por acordos intergovernamentais e com amplas internacionais de carácter económico, social, cultural, educacional, de saúde e conexos, e poderá fazer
responsabilidades internacionais, definidas nos seus estatutos, nos campos económico, social, cultural, recomendações a respeito de tais assuntos à Assembleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às
educacional, de saúde e conexos, serão vinculadas às Nações Unidas, em conformidade com as organizações especializadas interessadas.
disposições do artigo 63. 2 - Poderá fazer recomendações destinadas a assegurar o respeito efectivo dos direitos do homem e
2 - Tais organizações assim vinculadas às Nações Unidas serão designadas, daqui em diante, como das liberdades fundamentais para todos.
organizações especializadas. 3 - Poderá preparar, sobre assuntos da sua competência, projectos de convenções a serem submetidos
à Assembleia Geral.
Artigo 58
4 - Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferências
internacionais sobre assuntos da sua competência.
A Organização fará recomendações para coordenação dos programas e actividades das organizações
especializadas. Artigo 63

Artigo 59
1 - O Conselho Económico e Social poderá estabelecer acordos com qualquer das organizações a que
se refere o artigo 57, a fim de determinar as condições em que a Organização interessada será
A Organização, quando for o caso, iniciará negociações entre os Estados interessados para a criação de vinculada às Nações Unidas. Tais acordos serão submetidos à aprovação da Assembleia Geral.
novas organizações especializadas que forem necessárias ao cumprimento dos objectivos enumerados
2 - Poderá coordenar as actividades das organizações especializadas, por meio de consultas e
no artigo 55.
recomendações às mesmas e de recomendações à Assembleia Geral e aos membros das Nações
Unidas.
Artigo 60

Artigo 64
A Assembleia Geral e, sob a sua autoridade, o Conselho Económico e Social, que dispõe, para esse
efeito, da competência que lhe é atribuída no capítulo X, são incumbidos de exercer as funções da
1 - O Conselho Económico e Social poderá tomar as medidas adequadas a fim de obter relatórios
Organização estipuladas no presente capítulo.
regulares das organizações especializadas. Poderá entrar em entendimento com os membros das
Nações Unidas e com as organizações especializadas a fim de obter relatórios sobre as medidas
tomadas para cumprimento das suas próprias recomendações e das que forem feitas pela Assembleia
Geral sobre assuntos da competência do Conselho.
CAPÍTULO X
2 - Poderá comunicar à Assembleia Geral as suas observações a respeito desses relatórios.
CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL
Artigo 65
Composição
O Conselho Económico e Social poderá fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido
Artigo 61 deste, prestar-lhe assistência.

1 - O Conselho Económico e Social será composto por 54 membros das Nações Unidas eleitos pela Artigo 66
Assembleia Geral.
2 - Com ressalva do disposto no n.º 3, serão eleitos cada ano, para um período de três anos, 18 1 - O Conselho Económico e Social desempenhará as funções que forem da sua competência em
membros do Conselho Económico e Social. Um membro cessante pode ser reeleito para o período cumprimento das recomendações da Assembleia Geral.
imediato. 2 - Poderá, mediante aprovação da Assembleia Geral, prestar os serviços que lhe forem solicitados
pelos membros das Nações Unidas e pelas organizações especializadas.

13 14
3 - Desempenhará as demais funções especificadas em outras partes da presente Carta ou as que lhe CAPÍTULO XI
forem atribuídas pela Assembleia Geral.
DECLARAÇÃO RELATIVA A TERRITÓRIOS NÃO AUTÓNOMOS
Votação
Artigo 73
Artigo 67
Os membros das Nações Unidas que assumiram ou assumam responsabilidades pela administração de
1 - Cada membro do Conselho Económico e Social terá um voto. territórios cujos povos ainda não se governem completamente a si mesmos reconhecem o princípio do
primado dos interesses dos habitantes desses territórios e aceitam, como missão sagrada, a obrigação
2 - As decisões do Conselho Económico e Social serão tomadas por maioria dos membros presentes e
de promover no mais alto grau, dentro do sistema de paz e segurança internacionais estabelecido na
votantes.
presente Carta, o bem-estar dos habitantes desses territórios, e, para tal fim:

Procedimento a) Assegurar, com o devido respeito pela cultura dos povos interessados, o seu
progresso político, económico, social e educacional, o seu tratamento equitativo e a
Artigo 68 sua protecção contra qualquer abuso;
b) Promover o seu governo próprio, ter na devida conta as aspirações políticas dos
O Conselho Económico e Social criará comissões para os assuntos económicos e sociais e para a povos e auxiliá-los no desenvolvimento progressivo das suas instituições políticas
protecção dos direitos do homem, assim como outras comissões necessárias ao desempenho das suas livres, de acordo com as circunstâncias peculiares a cada território e seus habitantes,
funções. e os diferentes graus do seu adiantamento;
c) Consolidar a paz e a segurança internacionais;
Artigo 69
d) Favorecer medidas construtivas de desenvolvimento, estimular pesquisas, cooperar
entre si e, quando e onde for o caso, com organizações internacionais especializadas,
O Conselho Económico convidará qualquer membro das Nações Unidas a tomar parte, sem voto, nas
tendo em vista a realização prática dos objectivos de ordem social, económica e
deliberações sobre qualquer assunto que interesse particularmente a esse membro.
científica enumerados neste artigo;

Artigo 70 e) Transmitir regularmente ao Secretário-Geral, para fins de informação, sujeitas às


reservas impostas por considerações de segurança e de ordem constitucional,
informações estatísticas ou de outro carácter técnico relativas às condições
O Conselho Económico e Social poderá entrar em entendimentos para que representantes das
económicas, sociais e educacionais dos territórios pelos quais são respectivamente
organizações especializadas tomem parte, sem voto, nas suas deliberações e nas das comissões por ele
responsáveis e que não estejam compreendidos entre aqueles a que se referem os
criadas e para que os seus próprios representantes tomem parte nas deliberações das organizações
capítulos XII e XIII.
especializadas.

Artigo 74
Artigo 71

Os membros das Nações Unidas concordam também em que a sua política relativa aos territórios a que
O Conselho Económico e Social poderá entrar em entendimentos convenientes para a consulta com
se aplica o presente capítulo deve ser baseada, do mesmo modo que a política seguida nos respectivos
organizações não governamentais que se ocupem de assuntos no âmbito da sua própria competência.
territórios metropolitanos, no princípio geral de boa vizinhança, tendo na devida conta os interesses e o
Tais entendimentos poderão ser feitos com organizações internacionais e, quando for o caso, com
bem-estar do resto do mundo no que se refere às questões sociais, económicas e comerciais.
organizações nacionais, depois de efectuadas consultas com o membro das Nações Unidas interessado
no caso.

Artigo 72
CAPÍTULO XII

1 - O Conselho Económico e Social adoptará o seu próprio regulamento, que incluirá o método de
REGIME INTERNACIONAL DE TUTELA
escolha do seu presidente.
2 - O Conselho Económico e Social reunir-se-á quando necessário, de acordo com o seu regulamento, Artigo 75
que deverá incluir disposições referentes à convocação de reuniões a pedido da maioria dos seus
membros. As Nações Unidas estabelecerão sob a sua autoridade um regime internacional de tutela para a
administração e fiscalização dos territórios que possam ser colocados sob esse regime em
consequência de futuros acordos individuais. Esses territórios serão, daqui em diante, designados como
territórios sob tutela.

15 16
Artigo 76 2 - O n.º 1 deste artigo não será interpretado como motivo para demora ou adiamento da negociação e
conclusão de acordos destinados a colocar territórios sob o regime de tutela, conforme as disposições
As finalidades básicas do regime de tutela, de acordo com os objectivos das Nações Unidas do artigo 77.
enumerados no artigo 1 da presente Carta, serão:
a) Consolidar a paz e a segurança internacionais; Artigo 81

b) Fomentar o programa político, económico, social e educacional dos habitantes dos


O acordo de tutela deverá, em cada caso, incluir as condições sob as quais o território sob tutela será
territórios sob tutela e o seu desenvolvimento progressivo para alcançar governo
administrado e designar a autoridade que exercerá essa administração. Tal autoridade, daqui em
próprio ou independência, como mais convenha às circunstâncias particulares de cada
diante designada como autoridade administrante, poderá ser um ou mais Estados ou a própria
território e dos seus habitantes e aos desejos livremente expressos dos povos
Organização.
interessados e como for previsto nos termos de cada acordo de tutela;
c) Encorajar o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para Artigo 82
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião, e favorecer o reconhecimento
da interdependência de todos os povos;
Poderão designar-se, em qualquer acordo de tutela, uma ou várias zonas estratégicas que
d) Assegurar igualdade de tratamento nos domínios social, económico e comercial a compreendam parte ou a totalidade do território sob tutela a que o mesmo se aplique, sem prejuízo de
todos os membros das Nações Unidas e seus nacionais e, a estes últimos, igual qualquer acordo ou acordos especiais feitos em conformidade com o artigo 43.
tratamento na administração da justiça, sem prejuízo dos objectivos acima expostos e
sob reserva das disposições do artigo 80. Artigo 83

Artigo 77 1 - Todas as funções atribuídas às Nações Unidas relativamente às zonas estratégicas, inclusive a
aprovação das condições dos acordos de tutela, assim como da sua alteração ou emendas, serão
1 - O regime de tutela será aplicado aos territórios das categorias seguintes que venham a ser exercidas pelo Conselho de Segurança.
colocados sob esse regime por meio de acordos de tutela:
2 - As finalidades básicas enumeradas do artigo 76 serão aplicáveis às populações de cada zona
a) Territórios actualmente sob mandato; estratégica.
b) Territórios que possam ser separados de Estados inimigos em consequência da 2.ª 3 - O Conselho de Segurança, ressalvadas as disposições dos acordos de tutela e sem prejuízo das
Guerra Mundial; exigências de segurança, poderá valer-se da assistência do Conselho de Tutela para desempenhar as
c) Territórios voluntariamente colocados sob esse regime por Estados responsáveis funções que cabem às Nações Unidas pelo regime de tutela, relativamente a matérias políticas,
pela sua administração. económicas, sociais ou educacionais dentro das zonas estratégicas.

2 - Será objecto de acordo ulterior a determinação dos territórios das categorias acima mencionadas a
Artigo 84
serem colocados sob o regime de tutela e das condições em que o serão.

Artigo 78 A autoridade administrante terá o dever de assegurar que o território sob tutela preste a sua
colaboração à manutenção da paz e da segurança internacionais. Para tal fim, a autoridade
administrante poderá fazer uso de forças voluntárias, de facilidades e de ajuda do território sob tutela
O regime de tutela não será aplicado a territórios que se tenham tornado membros das Nações Unidas,
para o desempenho das obrigações por ela assumidas a este respeito perante o Conselho de
cujas relações mútuas deverão basear-se no respeito pelo princípio da igualdade soberana.
Segurança, assim como para a defesa local e para a manutenção da lei e da ordem dentro do território
sob tutela.
Artigo 79

Artigo 85
As condições de tutela em que cada território será colocado sob este regime, bem como qualquer
alteração ou emenda, serão determinadas por acordo entre os Estados directamente interessados,
1 - As funções das Nações Unidas relativas a acordos de tutela para todas as zonas não designadas
inclusive a potência mandatária no caso de território sob mandato de um membro das Nações Unidas,
como estratégicas, inclusive a aprovação das condições dos acordos de tutela e da sua alteração ou
e serão aprovadas em conformidade com as disposições dos artigos 83 e 85.
emenda, serão exercidas pela Assembleia Geral.

Artigo 80 2 - O Conselho de Tutela, que funcionará sob a autoridade da Assembleia Geral, auxiliará esta no
desempenho dessas atribuições.
1 - Salvo o que for estabelecido em acordos individuais de tutela, feitos em conformidade com os
artigos 77, 79 e 81, pelos quais se coloque cada território sob este regime e até que tais acordos
tenham sido concluídos, nada neste capítulo será interpretado como alteração de qualquer espécie nos
direitos de qualquer Estado ou povo ou nos termos dos actos internacionais vigentes em que os
membros das Nações Unidas forem partes.

17 18
CAPÍTULO XIII Procedimento

O CONSELHO DE TUTELA Artigo 90

Composição 1 - O Conselho de Tutela adoptará o seu próprio regulamento, que incluirá o método de escolha do seu
presidente.
Artigo 86
2 - O Conselho de Tutela reunir-se-á quando for necessário, de acordo com o seu regulamento, que
incluirá uma disposição referente à convocação de reuniões a pedido da maioria dos seus membros.
1 - O Conselho de Tutela será composto dos seguintes membros das Nações Unidas:
a) Os membros que administrem territórios sob tutela; Artigo 91
b) Aqueles de entre os membros mencionados nominalmente no artigo 23 que não
administrem territórios sob tutela; O Conselho de Tutela valer-se-á, quando for necessário da colaboração do Conselho Económico e Social
e das organizações especializadas, a respeito das matérias no âmbito das respectivas competências.
c) Quantos outros membros eleitos por um período de três anos, pela Assembleia
Geral, sejam necessários para assegurar que o número total de membros do Conselho
de Tutela fique igualmente dividido entre os membros das Nações Unidas que
administrem territórios sob tutela e aqueles que o não fazem.
CAPÍTULO XIV
2 - Cada membro do Conselho de Tutela designará uma pessoa especialmente qualificada para
representá-lo perante o Conselho. O TRIBUNAL (*) INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

Funções e poderes Artigo 92

Artigo 87
O Tribunal (*) Internacional de Justiça será o principal órgão judicial das Nações Unidas. Funcionará de
acordo com o Estatuto anexo, que é baseado no Estatuto do Tribunal (*) Permanente de Justiça
A Assembleia Geral e, sob a sua autoridade, o Conselho de Tutela, no desempenho das suas funções, Internacional e forma parte integrante da presente Carta.
poderão:
a) Examinar os relatórios que lhes tenham sido submetidos pela autoridade Artigo 93
administrante;
b) Receber petições e examiná-las, em consulta com a autoridade administrante; 1 - Todos os membros das Nações Unidas são ipso facto partes no Estatuto do Tribunal (*)
Internacional de Justiça.
c) Providenciar sobre visitas periódicas aos territórios sob tutela em datas fixadas de
acordo com a autoridade administrante; 2 - Um Estado que não for membro das Nações Unidas poderá tornar-se parte no Estatuto do Tribunal
(*) Internacional de Justiça, em condições que serão determinadas, em cada caso, pela Assembleia
d) Tomar estas e outras medidas em conformidade com os termos dos acordos de
Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança.
tutela.

Artigo 94
Artigo 88

1 - Cada membro das Nações Unidas compromete-se a conformar-se com a decisão do Tribunal (*)
O Conselho de Tutela formulará um questionário sobre o desenvolvimento político, económico, social e
Internacional de Justiça em qualquer caso em que for parte.
educacional dos habitantes de cada território sob tutela e a autoridade administrante de cada um
destes territórios, submetidos à competência da Assembleia Geral, fará um relatório anual à 2 - Se uma das partes em determinado caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em
Assembleia, baseado no referido questionário. virtude de sentença proferida pelo Tribunal (*), a outra terá direito de recorrer ao Conselho de
Segurança, que poderá, se o julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem
Votação tomadas para o cumprimento da sentença.

Artigo 89 Artigo 95

1 - Cada membro do Conselho de Tutela terá um voto. Nada na presente Carta impedirá os membros das Nações Unidas de confiarem a solução dos seus
diferendos a outros tribunais, em virtude de acordos já vigentes ou que possam ser concluídos no
2 - As decisões do Conselho de Tutela serão tomadas por maioria dos membros presentes e votantes.
futuro.

19 20
Artigo 96

1 - A Assembleia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer consultivo ao Tribunal (*) CAPÍTULO XVI
Internacional de Justiça sobre qualquer questão jurídica.
DISPOSIÇÕES DIVERSAS
2 - Outros órgãos das Nações Unidas e organizações especializadas que forem em qualquer momento
devidamente autorizadas pela Assembleia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos ao
Artigo 102
Tribunal (*) sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera das suas actividades.

CAPÍTULO XV 1 - Todos os tratados e todos os acordos internacionais concluídos por qualquer membro das Nações
Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta deverão, dentro do mais breve prazo possível,
O SECRETARIADO ser registados e publicados pelo Secretariado.
2 - Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registado em
Artigo 97 conformidade com as disposições do n.º 1 deste artigo poderá invocar tal tratado ou acordo perante
qualquer órgão das Nações Unidas.
O Secretariado será composto por um Secretário-Geral e pelo pessoal exigido pela Organização. O
Secretário-Geral será nomeado pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Artigo 103
Segurança. Será o principal funcionário administrativo da Organização.
No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas em virtude da presente Carta
Artigo 98 e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações
assumidas em virtude da presente Carta.
O Secretário-Geral actuará nesta qualidade em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de
Segurança, do Conselho Económico e Social e do Conselho de Tutela e desempenhará outras funções Artigo 104
que lhe forem atribuídas por estes órgãos. O Secretário-Geral fará um relatório anual à Assembleia
Geral sobre os trabalhos da Organização. A Organização gozará, no território de cada um dos seus membros, da capacidade jurídica necessária
ao exercício das suas funções e à realização dos seus objectivos.
Artigo 99
Artigo 105
O Secretário-Geral poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que em
sua opinião possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais. 1 - A Organização gozará, no território de cada um dos seus membros, dos privilégios e imunidades
necessários à realização dos seus objectivos.
Artigo 100 2 - Os representantes dos membros das Nações Unidas e os funcionários da Organização gozarão,
igualmente, dos privilégios e imunidades necessários ao exercício independente das suas funções
1 - No cumprimento dos seus deveres, o Secretário-Geral e o pessoal do Secretariado não solicitarão relacionadas com a Organização.
nem receberão instruções de qualquer Governo ou de qualquer autoridade estranha à Organização.
3 - A Assembleia Geral poderá fazer recomendações com o fim de determinar os pormenores da
Abster-se-ão de qualquer acção que seja incompatível com a sua posição de funcionários internacionais
aplicação dos nºs 1 e 2 deste artigo ou poderá propor aos membros das Nações Unidas convenções
responsáveis somente perante a Organização.
nesse sentido.
2 - Cada membro das Nações Unidas compromete-se a respeitar o carácter exclusivamente
internacional das atribuições do Secretário-Geral e do pessoal do Secretariado e não procurará exercer
qualquer influência sobre eles no desempenho das suas funções.
CAPÍTULO XVII
Artigo 101
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS SOBRE SEGURANÇA
1 - O pessoal do Secretariado será nomeado pelo Secretário-Geral, de acordo com regras estabelecidas
pela Assembleia Geral. Artigo 106
2 - Será também nomeado, com carácter permanente, o pessoal adequado para o Conselho Económico
e Social, para o Conselho de Tutela e, quando for necessário, para outros órgãos das Nações Unidas. Antes da entrada em vigor dos acordos especiais a que se refere o artigo 43, que, a juízo do Conselho
Esses funcionários farão parte do Secretariado. de Segurança, o habilitem ao exercício das suas funções previstas no artigo 42, as partes na
Declaração das Quatro Nações, assinada em Moscovo a 30 de Outubro de 1943, e a França deverão, de
3 - A consideração principal que prevalecerá no recrutamento do pessoal e na determinação das
acordo com as disposições do parágrafo 5 daquela Declaração, concertar-se entre si e, sempre que a
condições de serviço será a da necessidade de assegurar o mais alto grau de eficiência, competência e
ocasião o exija, com outros membros das Nações Unidas, a fim de ser levada a efeito, em nome da
integridade. Deverá ser levada na devida conta a importância de ser o recrutamento do pessoal feito
Organização, qualquer acção conjunta que se torne necessária à manutenção da paz e da segurança
dentro do mais amplo critério geográfico possível.
internacionais.

21 22
Artigo 107 Unidos da América organizará, em seguida, um protocolo das ratificações depositadas, o qual será
comunicado, por meio de cópias, aos Estados signatários.
Nada na presente Carta invalidará ou impedirá qualquer acção que, em relação a um Estado inimigo de 4 - Os Estados signatários da presente Carta que a ratificarem depois da sua entrada em vigor tornar-
qualquer dos signatários da presente Carta durante a 2.ª Guerra Mundial, for levada a efeito ou se-ão membros originários das Nações Unidas na data do depósito das suas ratificações respectivas.
autorizada em consequência da dita guerra pelos governos responsáveis por tal acção.
Artigo 111

A presente Carta, cujos textos em chinês, francês, russo, inglês e espanhol fazem igualmente fé, ficará
CAPÍTULO XVIII
depositada nos arquivos do Governo dos Estados Unidos da América. Cópias da mesma, devidamente
autenticadas, serão transmitidas por este último Governo aos Governos dos outros Estados signatários.
EMENDAS
Em fé do que os representantes dos Governos das Nações Unidas assinaram a presente Carta.
Artigo 108 Feita na cidade de São Francisco, aos 26 dias do mês de Junho de 1945.

As emendas à presente Carta entrarão em vigor, para todos os membros das Nações Unidas, quando
forem adoptadas pelos votos de dois terços dos membros da Assembleia Geral e ratificadas, de acordo
com os seus respectivos métodos constitucionais, por dois terços dos membros das Nações Unidas, * Corte – em uso no Brasil.
inclusive todos os membros permanentes do Conselho de Segurança.
* Corte – em uso no Brasil.
Artigo 109
* Corte – em uso no Brasil.

1 - Uma Conferência Geral dos membros das Nações Unidas, destinada a rever a presente Carta,
* Corte – em uso no Brasil.
poderá reunir-se em data e lugar a serem fixados pelo voto de dois terços dos membros da Assembleia
Geral e de nove de quaisquer membros do Conselho de Segurança. Cada membro das Nações Unidas
terá um voto nessa Conferência.
2 - Qualquer modificação à presente Carta que for recomendada por dois terços dos votos da
Conferência terá efeito depois de ratificada, de acordo com as respectivas regras constitucionais, por
dois terços dos membros das Nações Unidas, inclusive todos os membros permanentes do Conselho de
Segurança.
3 - Se essa Conferência não se realizar antes da 10.ª sessão anual da Assembleia Geral que se seguir à
entrada em vigor da presente Carta, a proposta da sua convocação deverá figurar na agenda da
referida sessão da Assembleia Geral e a Conferência será realizada, se assim for decidido por maioria
de votos dos membros da Assembleia Geral e pelo voto de sete membros quaisquer do Conselho de
Segurança.

CAPÍTULO XIX

RATIFICAÇÃO E ASSINATURA

Artigo 110

1 - A presente Carta deverá ser ratificada pelos Estados signatários, de acordo com as respectivas
regras constitucionais.
2 - As ratificações serão depositadas junto do Governo dos Estados Unidos da América, que notificará
de cada depósito todos os Estados signatários, assim como o Secretário-Geral da Organização depois
da sua nomeação.
3 - A presente Carta entrará em vigor depois do depósito de ratificações pela República da China,
França, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e
Estados Unidos da América e pela maioria dos outros Estados signatários. O Governo dos Estados

23 24
Declaração Universal dos Direitos do Homem

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem
conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o
advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer,
libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do
homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de
um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso,
à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de
novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da
pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram
resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida
dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em
cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo
dos direitos do homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da
mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:

A Assembleia Geral

Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como


ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os
indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se
esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e
liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e
internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto
entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios
colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito
de fraternidade.

Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de
raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem
nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além
disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de
soberania.

Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal


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Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o
trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.

Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da
sua personalidade jurídica.

Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção
da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais
competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela
Constituição ou pela lei.

Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja
equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que
decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em
matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a
sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo
público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam
asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua
prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou
internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a
que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família,
no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação.
Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua
residência no interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra,
incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal


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Artigo 14.º
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar
de asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente
existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e
aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do
direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de
constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião.
Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos
iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos
futuros esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
protecção desta e do Estado.

Artigo 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectiva, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim
como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum,
tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de
expressão.

Artigo 20.º
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios
públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de
representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às
funções públicas do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e
deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por
sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente
que salvaguarde a liberdade de voto.

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Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social;
e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais
indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de
harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a
condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o
desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho
igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que
lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade
humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção
social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se
filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma
limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.

Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e
à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação,
ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na
doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de
meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais.
Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma
protecção social.

Artigo 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo
menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino
elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser
generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em
plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao
reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a
dar aos filhos

Artigo 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos
benefícios que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a
qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

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Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional,
uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades
enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível
o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2. No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito
senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a
promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros
e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bem-estar numa sociedade democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos
contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de
maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se
entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os
direitos e liberdades aqui enunciados.

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Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos PARTE I

Artigo 1.º

Todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude deste direito


Adoptado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela resolução 2200-A (XXI) estabelecem livremente a sua condição política e, desse modo, providenciam o
da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 16 de Dezembro de 1966. seu desenvolvimento económico, social e cultural.
Para atingirem os seus fins, todos os povos podem dispor livremente das suas
Portugal: riquezas e recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que derivam da
cooperação económica internacional baseada no princípio de benefício recíproco,
Assinatura: 7 de Outubro de 1976; assim como do direito internacional. Em caso algum poderá privar-se um povo
dos seus próprios meios de subsistência.
Aprovação para ratificação: Lei n.º 29/78, de 12 de Junho, publicada no Os Estados-Signatários no presente Pacto, incluindo os que têm a
Diário da República, I Série A, n.º 133/78 (rectificada mediante aviso de responsabilidade de administrar territórios não autónomos e territórios em
rectificação publicado no Diário da República n.º 153/78, de 6 de Julho); fideicomisso, promoverão o exercício do direito à autodeterminação e respeitarão
este direito em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.
Depósito do instrumento de ratificação junto do Secretário-Geral das Nações
Unidas: 15 de Junho de 1978;
PARTE II
Aviso do depósito do instrumento de ratificação: Aviso do Ministério dos
Negócios Estrangeiros publicado no Diário da República, I Série, n.º 187/78,
Artigo 2.º
de 16 de Agosto;

Entrada em vigor na ordem jurídica portuguesa: 15 de Setembro de 1978. Cada um dos Estados-Signatários no presente Pacto compromete-se a respeitar e
a garantir a todos os indivíduos que se encontrem no seu território e estejam
sujeitos à sua jurisdição, os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem
distinção alguma de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
PREÂMBULO índole, origem nacional ou social, posição económica, nascimento ou qualquer
outra condição social.
Os Estados-Signatários no presente Pacto, Cada Estado-Signatário compromete-se a adoptar, de acordo com os seus
procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto, as medidas
Considerando que, de acordo com os princípios enunciados na Carta das Nações oportunas para implementar as disposições legislativas ou de outro género que
Unidas, a liberdade, a justiça e a paz no mundo constituem o fundamento do sejam necessárias para tornar efectivos os direitos reconhecidos no presente
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e Pacto e que não estejam ainda garantidos por disposições legislativas ou de outro
dos seus direitos iguais e inalienáveis. género.
Cada um dos Estados-Signatários no presente Pacto compromete-se a garantir
Reconhecendo que estes direitos derivam da dignidade inerente à pessoa que:
humana, a) Toda a pessoa cujos direitos ou liberdades reconhecidos no presente Pacto
tenham sido violados terá meios efectivos de recurso, mesmo que essa violação
Reconhecendo que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do tenha sido cometida por pessoas que actuavam no exercício das suas funções
Homem, não se pode realizar o ideal do ser humano livre, gozando das liberdades oficiais;
civis e políticas, libertos do terror e da miséria, a menos que se criem condições b) A autoridade competente, judicial, administrativa ou legislativa, ou qualquer
que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos civis e políticos, assim como outra autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado, decidirá sobre
dos seus direitos económicos, sociais e culturais, os direitos de toda a pessoa que interponha esse recurso e analisará as
possibilidades de recurso judicial;
Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de c) As autoridades competentes darão seguimento a todo o recurso que tenha sido
promover o respeito universal e efectivo dos direitos e liberdades humanos, reconhecido como justificado.

Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres quanto aos outros indivíduos e à Artigo 3.º
comunidade a que pertence, tem a obrigação de se esforçar pela consecução e
observância dos direitos reconhecidos neste Pacto, Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a garantir a homens
e mulheres a igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados
Acordam os seguintes artigos: no presente Pacto.
Artigo 4.º
Artigo 7.º
Em situações excepcionais de perigo para a nação, declaradas oficialmente, os
Estados-Signatários do presente Pacto poderão adoptar disposições, nos limites Ninguém poderá ser submetido a torturas, penas ou tratamentos cruéis,
estritamente exigidos pela situação, que suspendam as obrigações contraídas em desumanos ou degradantes. Em particular, ninguém será submetido sem o seu
virtude deste Pacto, sempre que tais disposições não sejam incompatíveis com as livre consentimento a experiências médicas ou científicas.
restantes obrigações que lhes impôe o direito internacional e não contenham
nenhuma discriminação fundamentada unicamente em motivos de raça, cor, sexo, Artigo 8.º
língua, religião ou origem social.
A disposição anterior não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6º., 7º., 8º. Ninguém será mantido em escravatura. A escravatura e o tráfico de escravos são
(parágrafos 1 e 2), 11., 15., 16. e 18.. proibidos sob todas as formas.
Qualquer Estado-Signatário do presente Pacto que faça uso do direito de Ninguém pode ser submetido a servidão.
suspensão deverá informar imediatamente os restantes Estados-Signatários no a) Ninguém será constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório;
presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, das b) A alínea anterior não poderá ser interpretada no sentido de proibir, em países
disposições cuja aplicação tenha suspendido e dos motivos que tenham suscitado em que certos crimes podem ser punidos com pena de prisão acompanhada de
a suspensão. Far-se-á uma nova comunicação pelo mesmo meio na data em que trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados imposta
seja dada por terminada essa suspensão. por um tribunal competente;
c) Não será considerado trabalho forçado ou obrigatório para efeitos deste
Artigo 5.º parágrafo:
i) Os trabalhos ou serviços que, salvo os mencionados na alínea b), são
Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de normalmente exigidos a uma pessoa presa em virtude de uma decisão judicial
conceder qualquer direito a um Estado, grupo ou indivíduo para empreender legalmente aplicada, ou a uma pessoa que tendo sido presa em virtude de tal
actividades ou realizar actos que levem à violação de qualquer dos direitos e decisão se encontre em liberdade condicional;
liberdades reconhecidos no Pacto ou à sua limitação em maior medida do que nele ii) O serviço de carácter militar e, nos países em que se admite a objecção de
previsto. consciência, o serviço cívico que devem prestar, conforme a lei, aqueles que se
Não poderá admitir-se restrição ou prejuízo de nenhum dos direitos humanos oponham ao serviço militar por esta razão;
fundamentais reconhecidos ou vigentes num Estado-Signatário em virtude de leis, iii) O serviço imposto em casos de emergência ou calamidade que ameacem a
convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto vida ou o bem-estar da comunidade;
não os reconhece ou os reconhece em menor grau. iv) O trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 9.º
PARTE III
Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá
Artigo 6.º ser submetido a detenção ou prisão arbitrárias. Ninguém poderá ser privado da
sua liberdade, excepto pelos motivos fixados por lei e de acordo com os
O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito está protegido por lei. procedimentos nela estabelecidos.
Ninguém pode ser arbitrariamente privado da vida. Toda a pessoa detida será informada, no momento da sua detenção, das razões
Nos países que não tenham abolido a pena capital, só pode ser imposta a pena de da mesma, e notificada, no mais breve prazo, da acusação contra ela formulada.
morte para os crimes mais graves, em conformidade com a legislação em vigor no Toda a pessoa detida ou presa devido a uma infracção penal será presente, no
momento em que se cometeu o crime, e que não seja contrária às disposições do mais breve prazo, a um juiz ou outro funcionário autorizado por lei para exercer
presente Pacto nem da Convenção para a prevenção e punição do crime de funções judiciais, e terá direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser
genocídio. Esta pena só poderá ser aplicada em cumprimento de sentença posta em liberdade. A prisão preventiva não deve constituir regra geral, contudo,
definitiva de um tribunal competente. a liberdade deve estar condicionada por garantias que assegurem a comparência
Quando a privação da vida constituir crime de genocídio entende-se que nada do do acusado no acto de juízo ou em qualquer outro momento das diligências
disposto neste artigo eximirá os Estados-Signatários do cumprimento de qualquer processuais, ou para a execução da sentença.
das obrigações assumidas em virtude das disposições da Convenção para a Toda a pessoa que seja privada de liberdade em virtude de detenção ou prisão
prevenção e punição do crime de genocídio. tem direito a recorrer a um tribunal, a fim de que este se pronuncie, com a
Toda a pessoa condenada à morte terá direito a solicitar o indulto ou a comutação brevidade possível, sobre a legalidade da sua prisão e ordene a sua liberdade, se
da pena. A amnistia, o indulto ou a comutação da pena capital poderão ser a prisão for ilegal.
concedidos em todos os casos. Toda a pessoa que tenha sido detida ou presa ilegalmente tem o direito a obter
A pena de morte não poderá ser imposta por crimes cometidos por pessoas com uma indemnização.
menos de 18 anos de idade, nem se aplicará a mulheres grávidas.
Nenhuma disposição deste artigo poderá ser invocada por um Estado-Signatário
no presente Pacto para retardar ou impedir a abolição da pena capital.
Artigo 10.º porém, toda a sentença será pública, excepto nos casos em que o interesse de
menores de idade exija o contrário, ou nas acções referentes a litígios
Toda a pessoa privada de liberdade será tratada humanamente e com o respeito matrimoniais ou tutela de menores.
devido à dignidade inerente ao ser humano. Qualquer pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma a sua
a) Os arguidos ficam separados dos condenados, salvo em circunstâncias inocência até que se prove a sua culpa conforme a lei.
excepcionais e serão submetidos a um tratamento diferente, adequado à sua Durante o processo, toda a pessoa acusada de um delito terá direito, em plena
condição de pessoas não condenadas; igualdade, às seguintes garantias mínimas:
b) Os arguidos menores ficam separados dos adultos e deverão ser levados a a) A ser informada no mais curto prazo, em língua que entenda e de forma
julgamento nos tribunais de justiça com a maior brevidade possível. detalhada, da natureza e causas da acusação contra ela formulada;
O regime penitenciário terá como finalidade o melhoramento e a readaptação b) A dispor do tempo e dos meios adequados para a preparação da sua defesa e a
social dos detidos. Os delinquentes menores estarão separados dos adultos e comunicar com um defensor de sua escolha;
serão submetidos a um tratamento adequado à sua idade e condição jurídica. c) A ser julgada sem adiamentos indevidos;
d) A apresentar-se em julgamento e a defender-se pessoalmente ou ser assistida
Artigo 11.º por um defensor de sua escolha; a ser informada, se não tiver defensor, do direito
que lhe assiste a tê-lo e, sempre que o interesse da justiça o exija, a que seja
Ninguém será encarcerado pelo simples facto de não poder cumprir uma nomeado um defensor oficioso, gratuitamente, se não carecer de meios
obrigação contratual. suficientes para o remunerar;
e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter a
Artigo 12.º comparência das testemunhas de defesa e que estas sejam interrogadas nas
mesmas condições que as testemunhas de acusação;
Toda a pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado terá direito f) A ser assistida gratuitamente por um intérprete, se não compreender ou não
de nele circular e aí residir livremente. falar a língua usada no tribunal;
Toda a pessoa terá direito de sair livremente de qualquer país, inclusivamente do g) A não ser obrigada a prestar declarações contra si própria nem a confessar-se
próprio. culpada.
Os direitos anteriormente mencionados não poderão ser objecto de restrições, Numa acção judicial aplicada a menores de idade para efeitos penais ter-se-á em
salvo quando estas estejam previstas na lei e sejam necessárias para proteger a conta a sua condição e a importância de estimular a sua readaptação social.
segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou a moral públicas, bem como os Toda a pessoa declarada culpada de um delito terá direito a que a sentença e a
direitos e liberdades de terceiros, que sejam compatíveis com os restantes pena que lhe foram impostas sejam submetidas a um tribunal superior, conforme
direitos reconhecidos no presente Pacto. o previsto na lei.
Ninguém pode ser arbitrariamente privado do direito de entrar no seu próprio Quando uma sentença condenatória definitiva tenha sido posteriormente
país. revogada, ou o condenado tenha sido indultado por ter produzido ou descoberto
um facto plenamente probatório de se ter cometido um erro judicial, a pessoa que
Artigo 13.º tenha sofrido uma pena como resultado dessa sentença deverá ser indemnizada,
conforme previsto na lei, a menos que se demonstre que lhe seja imputável, na
O estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado-Signatário totalidade ou em parte, não se ter revelado, em tempo útil, o facto desconhecido.
no presente Pacto, só poderá ser expulso do mesmo em cumprimento de uma Ninguém pode ser julgado nem punido por um delito pelo qual tenha já sido
decisão conforme a lei; e, a menos que se apliquem razões imperiosas de condenado ou absolvido por uma sentença definitiva, de acordo com a lei e o
segurança nacional, ser-lhe-á permitido expôr as razões que lhe assistem procedimento penal de cada país.
contrárias à sua expulsão, assim como submeter o seu caso a revisão perante a
autoridade competente ou perante a pessoa ou pessoas especialmente designadas Artigo 15.º
pela referida autoridade competente, fazendo-se representar para esse efeito.
Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento em que
Artigo 14.º foram cometidos, não constituiam delitos segundo o direito nacional ou
internacional. Igualmente não poderá ser imposta uma pena mais grave do que a
Todas as pessoas são iguais perante os tribunais. Toda a pessoa terá direito a ser aplicável no momento em que o delito foi cometido. Se, posteriormente, a lei
ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, determinar a aplicação de um regime mais favorável, o infractor beneficiará
segundo a lei, independente e imparcial, na determinação dos fundamentos de consequentemente.
qualquer acusação de carácter penal contra ela formulada ou para a determinação O disposto no presente artigo não invalida a sentença ou a pena atribuída por
dos seus direitos ou obrigações de carácter civil. A imprensa e o público poderão acções ou omissões que, no momento em que foram cometidos, constituiam
ser excluídos da totalidade ou parte das sessões de julgamento por motivos de delitos segundo os princípios gerais de direito reconhecidos pela comunidade
ordem moral, de ordem pública ou de segurança nacional numa sociedade internacional.
democrática, ou quando o exija o interesse da vida privada das partes ou, na
medida estritamente necessária em opinião do tribunal, quando por circunstâncias
especiais o aspecto da publicidade possa prejudicar os interesses da justiça;
Artigo 16.º Artigo 21.º

Todo o ser humano tem direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua É reconhecido o direito de reunião pacífica. O exercício deste direito só pode ser
personalidade jurídica. objecto de restrições, previstas na lei, necessárias numa sociedade democrática,
no interesse da segurança nacional, da segurança pública ou da ordem pública ou
Artigo 17.º para proteger a saúde e a moral públicas ou os direitos e liberdades de outrem.

Ninguém será objecto de ingerências arbitrárias ou ilegais na sua vida privada, na Artigo 22.º
sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem de ataques ilegais à
sua honra e reputação. Toda a pessoa tem direito a associar-se livremente com outras, incluindo o direito
Toda a pessoa tem direito a protecção da lei contra essas ingerências ou esses de fundar sindicatos e filiar-se neles para protecção dos seus interesses.
ataques. O exercício deste direito só pode ser objecto de restrições, previstas na lei,
necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da
Artigo 18.º segurança pública ou da ordem pública ou para proteger a saúde e a moral
públicas ou os direitos e liberdades de outrem. O presente artigo não impedirá
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de que sejam impostas restrições legais ao exercício deste direito quando se tratar
religião; este direito inclui a liberdade de ter ou de adoptar a religião ou as de membros das forças armadas e da polícia.
crenças de sua escolha, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou as Nenhuma disposição deste artigo autoriza que os Estados-Signatários na
suas crenças, individual ou colectivamente, tanto em público como em privado, Convenção da Organização Internacional do Trabalho de 1948, relativa à
pelo culto, pela celebração dos ritos, pela prática e pelo ensino. liberdade sindical e à protecção do direito de sindicalização, adoptem medidas
Ninguém será objecto de medidas coercivas que possam prejudicar a sua legislativas que possam prejudicar as garantias nela previstas nem a aplicar a lei
liberdade de ter ou de adoptar a religião ou as crenças e sua escolha. de maneira que possa prejudicar essas garantias.
A liberdade de manifestar a sua religião ou as suas crenças só pode ser objecto de
restrições que, estando previstas na lei, sejam necessárias para a protecção da Artigo 23.º
segurança, da ordem, da saúde e da moral públicas, ou para a protecção dos
direitos e liberdades fundamentais de outrem. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a respeitar a protecção da sociedade e do Estado.
liberdade dos pais e dos tutores legais, se for o caso, de modo a garantir que os Reconhece-se o direito do homem e da mulher de contrair matrimónio e constituir
filhos recebam uma educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas família, a partir da idade núbil.
próprias convicções. O casamento não pode celebrar-se sem o livre e pleno consentimento dos futuros
cônjuges.
Artigo 19.º Os Estados-Signatários no presente Pacto tomarão as medidas adequadas para
assegurar a igualdade de direitos e de responsabilidades de ambos os cônjuges
Ninguém pode ser discriminado por causa das suas opiniões. quanto ao casamento, durante o casamento e em caso de dissolução. No caso de
Toda a pessoa tem direito à liberdade de expressão; este direito compreende a dissolução, serão adoptadas disposições que assegurem a protecção necessária
liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de toda a índole aos filhos.
sem consideração de fronteiras, seja oralmente, por escrito, de forma impressa
ou artística, ou por qualquer outro processo que escolher. Artigo 24.º
O exercício do direito previsto no parágrafo 2 deste artigo implica deveres e
responsabilidades especiais. Por conseguinte, pode estar sujeito a certas Toda a criança tem direito, sem discriminação alguma por motivos de raça, cor,
restrições, expressamente previstas na lei, e que sejam necessárias para: sexo, língua, religião, origem nacional ou social, posição económica ou
a) Assegurar o respeito pelos direitos e a reputação de outrem; nascimento, às medidas de protecção que a sua condição de menor exige, tanto
b) A protecção da segurança nacional, a ordem pública ou a saúde ou a moral por parte da sua família como da sociedade e do Estado.
públicas. Toda a criança será registada imediatamente após o seu nascimento e deverá ter
um nome.
Artigo 20.º Toda a criança tem direito a adquirir uma nacionalidade.

Toda a propaganda a favor da guerra estará proibida por lei. Artigo 25.º
Toda a apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à
discriminação, à hostilidade ou à violência estará proibida por lei. Todos os cidadãos gozarão, sem qualquer das distinções mencionadas no artigo
2.º, e sem restrições indevidas, dos seguintes direitos e oportunidades:

a) Participar na direcção dos assuntos públicos, quer directamente, quer por


intermédio de representantes livremente eleitos;
b) Votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio O Secretário-Geral das Nações Unidas elaborará uma lista por ordem alfabética
universal, por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos dos candidatos que tenham sido apresentados, com a indicação dos Estados-
eleitores; Signatários que os designaram e transmiti-la-á aos Estados-Signatários no
c) Ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas do seu país. presente Pacto o mais tardar um mês antes da data de cada eleição.
A eleição dos membros do Comité será efectuada numa reunião dos Estados-
Artigo 26.º Signatários convocada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas na Sede da
Organização. Nessa reunião, para a qual o quórum estará constituído por dois
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação, a igual terços dos Estados-Signatários, serão eleitos membros do Comité, os candidatos
protecção da lei. A este respeito, a lei proibirá toda a discriminação e garantirá a que obtenham o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos
todas as pessoas protecção igual e efectiva contra qualquer discriminação por representantes dos Estados-Signatários presentes e votantes.
motivos de raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem
nacional ou social, posição económica, nascimento ou qualquer outra condição Artigo 31.º
social.
O Comité não poderá integrar mais de um nacional de um mesmo Estado.
Artigo 27.º Na eleição do Comité há que ter em conta uma distribuição geográfica equitativa
dos membros, da representação das diferentes formas de civilização e dos
Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, não será principais sistemas jurídicos.
negado o direito que assiste às pessoas que pertençam a essas minorias, em
conjunto com os restantes membros do seu grupo, a ter a sua própria vida Artigo 32.º
cultural, a professar e praticar a sua própria religião e a utilizar a sua própria
língua. Os membros do Comité são eleitos por um período de quatro anos. Poderão ser
reeleitos se for apresentada de novo a sua candidatura. Contudo, os mandatos de
nove dos membros eleitos na primeira eleição expiram ao fim de dois anos.
PARTE IV Imediatamente após a primeira eleição, o Presidente da reunião mencionada no
parágrafo 4 do artigo 30. designará, por sorteio, os nomes destes nove membros.
Artigo 28.º As eleições, que se realizam quando terminar o mandato, serão efectuadas de
acordo com os artigos anteriores desta parte do presente Pacto.
Será criado um Comité de Direitos Humanos (a seguir denominado o Comité),
composto por dezoito membros, que desempenhará as funções que se indicam Artigo 33.º
adiante.
O Comité será composto de nacionais dos Estados-Signatários no presente Pacto, Se os restantes membros decidirem por unanimidade, que um membro do Comité
que deverão ser pessoas de grande integridade moral com reconhecida deixou de desempenhar as suas funções por outra razão que não seja a de
competência em matéria de direitos humanos. Será tomada em consideração a ausência temporária, o Presidente do Comité notificará do facto o Secretário-Geral
utilidade da participação de algumas pessoas que tenham experiência jurídica. das Nações Unidas, que declarará vago o posto do referido membro.
Os membros do Comité serão eleitos e exercerão as suas funções a título pessoal. Em caso de morte ou renúncia de um membro do Comité, o Presidente notificará
imediatamente o Secretário-Geral das Nações Unidas, que declarará vago o posto,
Artigo 29.º desde a data do falecimento ou desde a data em que a renúncia seja efectiva.

Os membros do Comité serão eleitos entre pessoas que reúnam as condições Artigo 34.º
previstas no artigo 28.º, propostas para o efeito pelos Estados-Signatários no
presente Pacto por votação secreta. Se for declarada uma vaga em conformidade com o artigo 33. e se o mandato do
Cada Estado-Signatário no presente Pacto poderá propor até duas pessoas. Estas membro que vai ser substituído não expirar dentro dos seis meses após a
pessoas serão nacionais dos Estados proponentes. declaração da referida vaga, o Secretário-Geral das Nações Unidas notificará cada
A mesma pessoa pode ser proposta mais de uma vez. um dos Estados-Signatários no presente Pacto, os quais, para preencher a vaga,
poderão apresentar candidatos no prazo de dois meses, de acordo com o disposto
Artigo 30.º no parágrafo 2 do artigo 29..
O Secretário-Geral das Nações Unidas elaborará uma lista por ordem alfabética
A primeira eleição realizar-se-á, o mais tardar, seis meses após a data de entrada dos candidatos assim designados e transmiti-la-á aos Estados-Signatários no
em vigor do presente Pacto. presente Pacto. A eleição para preencher a vaga verificar-se-á em conformidade
Pelo menos quatro meses antes da data da eleição do Comité, sempre que não se com as disposições pertinentes desta parte do presente Pacto.
trate de uma eleição para preencher uma vaga declarada em conformidade com o Todo o membro do Comité que tenha sido eleito para preencher uma vaga,
artigo 34., o Secretário-Geral das Nações Unidas convidará, por escrito, os declarada em conformidade com o artigo 33.º, ocupará o cargo até ao termo do
Estados-Signatários no presente Pacto a apresentarem os seus candidatos para o mandato do membro que deixa o posto vago no Comité conforme o disposto
Comité no prazo de três meses. nesse artigo.
O Comité estudará os relatórios apresentados pelos Estados-Signatários no
Artigo 35.º presente Pacto. Transmitirá os relatórios e comentários gerais que considere
oportunos aos Estados-Signatários. O Comité poderá também transmitir ao
Os membros do Comité, mediante prévia aprovação da Assembleia Geral das Conselho Económico e Social esses comentários, juntamente com cópia dos
Nações Unidas, receberão emolumentos dos fundos das Nações Unidas, da forma relatórios que tenha recebido dos Estados-Signatários no Pacto.
e nas condições que a Assembleia Geral determinar, tendo em conta a Os Estados-Signatários poderão apresentar ao Comité observações sobre
importância das funções do Comité. qualquer comentário efectuado de acordo com o parágrafo 4 do presente artigo.

Artigo 36.º Artigo 41.º

O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará os meios humanos e os 1 - De acordo com o presente artigo, todo o Estado-Signatário no presente Pacto
serviços necessários para o desempenho eficaz das funções do Comité em virtude poderá declarar em qualquer momento que reconhece a competência do Comité
do presente Pacto. para receber e analisar as comunicações em que um Estado alegue que outro
Estado-Signatário não cumpre as obrigações que lhe impõe este Pacto. As
Artigo 37.º comunicações efectuadas em virtude do presente artigo só poderão ser admitidas
e analisadas se apresentadas por um Estado-Signatário que tenha feito uma
O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará a primeira reunião do Comité na declaração na qual reconheça, no que se refere a si próprio, a competência do
sede das Nações Unidas. Comité. O Comité não admitirá qualquer comunicação relativa a um Estado-
Após a sua primeira reunião, o Comité reunirá como previsto no seu regulamento. Signatário que não tenha feito essa declaração. As comunicações recebidas em
O Comité reunirá normalmente na sede das Nações Unidas ou nos escritórios das virtude deste artigo serão efectuadas em conformidade com o seguinte
Nações Unidas em Genebra. procedimento:

Artigo 38.º a) Se um Estado-Signatário no presente Pacto considera que um outro Estado-


Signatário não cumpre as disposições do presente Pacto, poderá apresentar o
Antes de entrarem em funções, os membros do Comité declararão solenemente assunto a atenção desse Estado mediante uma comunicação escrita. Num prazo
em sessão pública do Comité que desempenharão o que lhes foi cometido com de três meses, a contar da data de recepção da comunicação, o Estado
toda a imparcialidade e consciência. destinatário proporcionará ao Estado que tenha enviado a comunicação, uma
explicação ou qualquer outra declaração por escrito que esclareça o assunto, a
Artigo 39.º qual fará referência, até onde seja possível e pertinente, aos procedimentos
nacionais e aos recursos adoptados, em trâmite ou que podem ser utilizados a
O Comité elegerá a sua Mesa por um período de dois anos. Os membros da Mesa esse respeito;
poderão ser reeleitos. b) Se o assunto não se resolver de modo satisfatório para os dois Estados-
O Comité elaborará o seu próprio regulamento, no qual constará, entre outras Signatários interessados num prazo de seis meses a partir da data em que o
disposições, que: Estado destinatário tenha recebido a primeira comunicação, qualquer um de
a) Doze membros constituirão quórum; ambos os Estados-Signatários interessados terá direito a submetê-lo ao Comité,
b) As decisões do Comité serão tomadas por maioria de votos dos membros mediante notificação dirigida ao Comité e ao outro Estado;
presentes. c) O Comité tomará conhecimento do assunto que lhe é submetido depois de se
ter certificado que foram interpostos e esgotados nesse assunto todos os recursos
Artigo 40.º da jurisdição interna de que se possa dispor, de acordo com os princípios do
direito internacional geralmente admitidos. Esta regra não será aplicada quando a
Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a apresentar tramitação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente;
relatórios sobre as disposições que tenham adoptado e que tornem efectivos os d) O Comité realizará as suas sessões à porta fechada quando analisar as
direitos reconhecidos no Pacto e sobre a evolução realizada no que se refere ao comunicações previstas no presente artigo;
gozo desses direitos: e) Com excepção das disposições da alínea c), o Comité colocará os seus bons
a) No prazo de um ano a contar da data de entrada em vigor do presente Pacto ofícios à disposição dos Estados-Signatários interessados a fim de chegar a uma
no que diz respeito aos Estados-Signatários interessados; solução amigável, baseada no respeito pelos direitos humanos e liberdades
b) Seguidamente, cada vez que o Comité o solicite. fundamentais reconhecidos no presente Pacto;
Todos os relatórios serão apresentados ao Secretário-Geral das Nações Unidas f) Sempre que um assunto lhe seja submetido, o Comité poderá pedir aos
que os transmitirá ao Comité para análise. Os relatórios indicarão os factores e Estados-Signatários interessados a que se faz referência na alínea b) que
dificuldades, se os houver, que afectam a aplicação do presente Pacto. disponibilizem qualquer informação pertinente;
O Secretário-Geral das Nações Unidas, após consulta ao Comité, poderá transmitir g) Os Estados-Signatários interessados a que se faz referência na alínea b) terão
aos organismos especializados interessados, cópias dos extractos dos relatórios direito a estar representados quando se proceder à análise do assunto no Comité
que sejam da sua competência. e a apresentar exposições verbalmente, ou por escrito, ou de ambos os modos;
h) O Comité, dentro dos doze meses seguintes à data de recepção da notificação A informação recebida e estudada pelo Comité será disponibilizada à Comissão e
mencionada na alínea b), apresentará um relatório no qual: esta poderá pedir aos Estados-Signatários interessados que disponibilizem
qualquer outra informação pertinente.
i) Se tiver chegado a uma solução conforme o disposto na alínea e), limitar-se-á a Quando a Comissão tiver analisado o assunto em todos os seus aspectos, num
uma breve exposição dos factos e da solução alcançada; prazo não superior a doze meses após ter tomado conhecimento do mesmo,
ii) Se não tiver chegado a uma solução conforme o disposto na alínea e), limitar- apresentará ao Presidente do Comité um relatório para ser transmitido aos
se-á a uma breve exposição dos factos e anexará as exposições escritas e as Estados-Signatários interessados:
actas das exposições verbais que tenham feito os Estados-Signatários a) Se a Comissão não puder completar a sua análise sobre o assunto dentro dos
interessados. doze meses, o seu relatório limitar-se-á a uma breve exposição da situação em
que se encontra a sua análise;
Para cada assunto, será enviado o relatório aos Estados-Signatários interessados. b) Se for alcançada uma solução amigável, baseada no respeito pelos direitos
humanos reconhecidos no presente Pacto, o relatório da Comissão limitar- -se-á a
2 - As disposições do presente artigo entrarão em vigor quando dez Estados- uma breve exposição dos factos e da solução alcançada;
Signatários no presente Pacto tenham efectuado as declarações a que se faz c) Se não for alcançada uma solução no sentido da alínea b), o relatório da
referência no parágrafo 1 do presente artigo. Essas declarações serão depositadas Comissão incluirá as suas conclusões sobre todas as questões de facto pertinentes
pelos Estados-Signatários junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, que levantado entre os Estados-Signatários interessados, e as suas observações
enviará cópia das mesmas aos restantes Estados-Signatários. Qualquer acerca das possibilidades de uma solução amigável do assunto; esse relatório
declaração poderá ser retirada em qualquer momento, mediante notificação conterá também as exposições escritas e uma acta das exposições orais
dirigida ao Secretário-Geral. No entanto, o facto de se retirar uma declaração não efectuadas pelos Estados-Signatários interessados;
constituirá obstáculo para que se analise qualquer assunto que seja objecto de d) Se o relatório da Comissão for apresentado em virtude da alínea c), os
uma comunicação já transmitida em virtude deste artigo; não será admitida Estados-Signatários interessados notificarão o Presidente do Comité, no prazo de
qualquer nova comunicação de um Estado-Signatário caso o Secretário-Geral das três meses após a recepção do relatório, se aceitam ou não os termos do relatório
Nações Unidas tenha recebido a notificação de retirada da declaração, a menos da Comissão.
que o Estado-Signatário interessado tenha efectuado uma nova declaração. As disposições deste artigo não afectam as funções do Comité previstas no artigo
41.º.
Os Estados-Signatários interessados comparticiparão por igual nos gastos dos
Artigo 42.º membros da Comissão, de acordo com o cálculo a efectuar pelo Secretário-Geral
das Nações Unidas.
a) Se um assunto remetido ao Comité conforme o artigo 41.º não for resolvido de O Secretário-Geral das Nações Unidas poderá sufragar, caso seja necessário, os
modo satisfatório para os Estados-Signatários interessados, o Comité, com o gastos dos membros da Comissão, antes de os Estados-Signatários interessados
prévio consentimento daqueles, poderá designar uma Comissão Especial de reembolsarem esses gastos, conforme o parágrafo 9 do presente artigo.
Conciliação (a seguir denominada a Comissão). A Comissão colocará à disposição
dos Estados-Signatários interessados os seus bons ofícios a fim de chegar a uma Artigo 43.º
solução amigável sobre o assunto, baseada no respeito pelo presente Pacto;
b) A Comissão será composta por cinco pessoas aceites pelos Estados- - Os membros do Comité e os membros das comissões especiais de conciliação
Signatários interessados. Se decorridos três meses, os Estados-Signatários designados conforme o artigo 42.º terão direito a facilidades, privilégios e
interessados não tiverem chegado a acordo sobre a composição, no todo ou em imunidades concedidas aos especialistas que desempenham missões para as
parte, da Comissão, os membros da Comissão sobre os que não tenha havido Nações Unidas, de acordo com o disposto nas secções pertinentes da Convenção
acordo serão eleitos pelo Comité, de entre os seus próprios membros, por votação sobre os privilégios e imunidades das Nações Unidas.
secreta e por maioria de dois terços.
Os membros da Comissão exercerão as suas funções a título pessoal. Não serão Artigo 44.º
nacionais dos Estados-Signatários interessados, de nenhum Estado que não seja
parte no presente Pacto, nem de nenhum Estado-Signatário que não tenha As disposições sobre a aplicação do presente Pacto serão executadas sem prejuízo
efectuado a declaração prevista no artigo 41.º. dos procedimentos previstos em matéria de direitos humanos pelos instrumentos
A Comissão elegerá o seu próprio Presidente e aprovará o seu próprio constitutivos e convenções das Nações Unidas e dos organismos especializados e
regulamento. não impedirão que os Estados-Signatários recorram a outros procedimentos para
As reuniões da Comissão realizar-se-ão normalmente na sede das Nações Unidas resolver controvérsias, em conformidade com convénios internacionais gerais ou
ou nos escritórios das Nações Unidas em Genebra. Contudo, poderão realizar-se especiais vigentes entre eles.
em qualquer outro lugar conveniente que a Comissão acorde após consulta ao
Secretário-Geral das Nações Unidas e aos Estados-Signatários interessados. Artigo 45.º
O secretariado previsto no artigo 36. prestará também serviços às comissões que
se criem em virtude do presente artigo. O Comité apresentará à Assembleia Geral das Nações Unidas, por intermédio do
Conselho Económico e Social, um relatório anual sobre as suas actividades.
PARTE V Artigo 51.º

Artigo 46.º Todo o Estado-Signatário no presente Pacto poderá propor alterações e depositá-
las junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará
Nenhuma disposição do presente Pacto deverá ser interpretada em prejuízo das as alterações propostas aos Estados-Signatários no presente Pacto, solicitando-
disposições da Carta das Nações Unidas ou das constituições dos organismos lhes que o notifiquem se desejam a convocação de uma conferência dos Estados-
especializados que definem as atribuições dos diversos órgãos das Nações Unidas Signatários com o fim de analisar as propostas e submetê-las a votação. Se pelo
e dos organismos especializados sobre as matérias a que se refere o presente menos um terço dos Estados se declarar a favor de tal convocatória, o Secretário-
Pacto. Geral convocará uma conferência sob os auspícios das Nações Unidas. Toda a
alteração adoptada pela maioria dos Estados presentes e votantes na conferência
Artigo 47.º será submetida à aprovação da Assembleia Geral das Nações Unidas
Essas alterações entrarão em vigor quando forem aprovadas pela Assembleia
Nenhuma disposição do presente Pacto deverá ser interpretada em prejuízo do Geral das Nações Unidas e aceites por uma maioria de dois terços dos Estados-
direito inerente a todos os povos de gozar e utilizar plena e livremente as suas Signatários no presente Pacto, em conformidade com os seus respectivos
riquezas e recursos naturais. procedimentos constitucionais.
Ao entrarem em vigor, essas alterações serão obrigatórias para os Estados-
Signatários que as tenham aceite, enquanto que os restantes Estados-Signatários
PARTE VI continuarão obrigados pelas disposições do presente Pacto e por qualquer
alteração anterior que tenham aceitado.
Artigo 48.º
Artigo 52.º
O presente Pacto estará aberto à assinatura de todos os Estados-Membros das
Nações Unidas ou membros de qualquer organismo especializado, assim como de Independentemente das notificações previstas no parágrafo 5 do artigo 48.º, o
todo o Estado-Signatário no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça e de Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados mencionados
qualquer outro Estado convidado pela Assembleia Geral das Nações Unidas a ser no parágrafo 1 do mesmo artigo:
parte no presente Pacto.
O presente Pacto está sujeito a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão a) As assinaturas, ratificações e adesões de acordo com o disposto no artigo 48.º;
depositados junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. b) A data em que entre em vigor o presente Pacto, conforme o disposto no artigo
O presente Pacto ficará aberto à adesão de qualquer dos Estados mencionados no 49., e a data em que entrem em vigor as alterações a que se faz referência no
parágrafo 1 do presente artigo. artigo 51.
A adesão será efectuada mediante depósito de um instrumento de adesão junto
ao Secretário-Geral das Nações Unidas. Artigo 53.º
O Secretário-Geral das Nações Unidas informará todos os Estados que tenham
assinado o presente Pacto, ou que a ele aderiram, do depósito de cada um dos O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol, francês, inglês e russo são
instrumentos de ratificação ou de adesão. igualmente autênticos, será depositado nos arquivos das Nações Unidas.
O Secretário-Geral das Nações Unidas enviará cópias certificadas do presente
Artigo 49.º Pacto a todos os Estados mencionados no artigo 48.º.

O presente Pacto entrará em vigor decorridos três meses após a data em que
tenha sido depositado o trigésimo quinto instrumento de ratificação ou de adesão
junto do Secretário-Geral das Nações Unidas.
Para cada Estado que ratifique o presente Pacto, ou a ele adira, depois de ter sido
depositado o trigésimo quinto instrumento de ratificação ou de adesão, o Pacto
entrará em vigor decorridos três meses após a data em que esse Estado tenha
depositado o seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Artigo 50.º

As disposições do presente Pacto serão aplicáveis a todas as partes componentes


dos Estados federais, sem restrição nem excepção alguma.
SEGUNDO PROTOCOLO ADICIONAL AO PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS COM Artigo 5.º
VISTA À ABOLIÇÃO DA PENA DE MORTE

Para os Estados Partes no (Primeiro) Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Os Estados Partes no presente Protocolo: Políticos, adoptado em 16 de Dezembro de 1966, a competência reconhecida ao Comité dos Direitos do
Convictos de que a abolição da pena de morte contribui para a promoção da dignidade humana e para Homem para receber e apreciar comunicações provenientes de particulares sujeitos à sua jurisdição é
o desenvolvimento progressivo dos direitos do homem; igualmente extensiva às disposições do presente Protocolo, excepto se o Estado Parte em causa tiver
feito uma declaração em contrário no momento da respectiva ratificação ou adesão.
Recordando o artigo 3.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, adoptada em 10 de
Dezembro de 1948, bem como o artigo 6.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos,
Artigo 6.º
adoptado em 16 de Dezembro de 1966;
Tendo em conta que o artigo 6.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos prevê a
1 - As disposições do presente Protocolo aplicam-se como disposições adicionais ao Pacto.
abolição da pena de morte em termos que sugerem sem ambiguidade que é desejável a abolição desta
pena; 2 - Sem prejuízo da possibilidade de formulação da reserva prevista no artigo 2.º do presente
Protocolo, o direito garantido no n.º 1 do artigo 1.º do presente Protocolo não pode ser objecto de
Convictos de que todas as medidas de abolição da pena de morte devem ser consideradas como um
qualquer derrogação ao abrigo do artigo 4.º do Pacto.
progresso no gozo do direito à vida;
Desejosos de assumir por este meio um compromisso internacional para abolir a pena de morte; Artigo 7.º
acordam no seguinte:
1 - O presente Protocolo está aberto à assinatura dos Estados que tenham assinado o Pacto.
Artigo 1.º 2 - O presente Protocolo está sujeito à ratificação dos Estados que ratificaram o Pacto ou a ele
aderiram. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto do Secretário-Geral da Organização
1 - Nenhum indivíduo sujeito à jurisdição de um Estado Parte no presente Protocolo será executado. das Nações Unidas.
2 - Os Estados Partes devem tomar as medidas adequadas para abolir a pena de morte no âmbito da 3 - O presente Protocolo está aberto à adesão dos Estados que tenham ratificado o Pacto ou a ele
sua jurisdição. tenham aderido.
4 - A adesão far-se-á através do depósito de um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da
Artigo 2.º
Organização das Nações Unidas.
5 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informa todos os Estados que assinaram o
1 - Não é admitida qualquer reserva ao presente Protocolo, excepto a reserva formulada no momento
presente Protocolo ou que a ele aderiram do depósito de cada instrumento da ratificação ou adesão.
da ratificação ou adesão prevendo a aplicação da pena de morte em tempo de guerra em virtude de
condenação por infracção penal de natureza militar de gravidade extrema cometida em tempo de
Artigo 8.º
guerra.
2 - O Estado que formular uma tal reserva transmitirá ao Secretário-Geral das Nações Unidas, no
1 - O presente Protocolo entrará em vigor três meses após a data do depósito junto do Secretário-
momento da ratificação ou adesão, as disposições pertinentes da respectiva legislação nacional
Geral da Organização das Nações Unidas do 10.º instrumento de ratificação ou de adesão.
aplicável em tempo de guerra.
2 - Para os Estados que ratificarem o presente Protocolo ou a ele aderirem após o depósito do 10.º
3 - O Estado Parte que haja formulado uma tal reserva notificará o Secretário-Geral das Nações Unidas
instrumento de ratificação ou adesão, o dito Protocolo entrará em vigor três meses após a data do
da declaração e do fim do estado de guerra no seu território.
depósito por esses Estados do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Artigo 3.º
Artigo 9.º

Os Estados Partes no presente Protocolo devem informar, nos relatórios a submeter ao Comité dos
O disposto no presente Protocolo aplica-se, sem limitação ou excepção, a todas as unidades
Direitos do Homem, ao abrigo do artigo 40.º do Pacto, das medidas adoptadas para dar execução ao
constitutivas dos Estados federais.
presente Protocolo.
Artigo 10.º
Artigo 4.º

O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informará todos os Estados referidos no n.º 1 do
Para os Estados Partes que hajam feito a declaração prevista no artigo 41.º, a competência
artigo 48.º do Pacto:
reconhecida ao Comité dos Direitos do Homem para receber e apreciar comunicações nas quais um
Estado Parte pretende que um outro Estado Parte não cumpre as suas obrigações é extensiva às a) Das reservas, comunicações e notificações recebidas nos termos do artigo 2.º do presente
disposições do presente Protocolo, excepto se o Estado Parte em causa tiver feito uma declaração em Protocolo;
contrário no momento da respectiva ratificação ou adesão. b) Das declarações feitas nos termos dos artigos 4.º ou 5.º do presente Protocolo;
c) Das assinaturas apostas ao presente Protocolo e dos instrumentos de ratificação e de adesão
depositados nos termos do artigo 7.º;

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
d) Da data de entrada em vigor do presente Protocolo, nos termos do artigo 8.º.

Artigo 11.º

1 - O presente Protocolo, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo são
igualmente válidos, será depositado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas transmitirá uma cópia autenticada do
presente Protocolo a todos os Estados referidos no artigo 48.º do Pacto.

3
PROTOCOLO FACULTATIVO REFERENTE AO PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS 4 - O Comité comunica as suas constatações ao Estado parte interessado e ao particular.

Os Estados partes no presente Protocolo, ARTIGO 6.º


Considerando que, para melhor assegurar o cumprimento dos fins do Pacto Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos (a seguir denominado «o Pacto») e a aplicação das suas disposições, conviria O Comité insere no relatório anual que elabora de acordo com o artigo 45.º do Pacto um resumo das
habilitar o Comité dos Direitos do Homem, constituído nos termos da quarta parte do Pacto (a seguir suas actividades previstas no presente Protocolo.
denominado «o Comité»), a receber e examinar, como se prevê no presente Protocolo, as
comunicações provenientes de particulares que se considerem vítimas de uma violação dos direitos ARTIGO 7.º
enunciados no Pacto,
acordam no seguinte: Enquanto se espera a realização dos objectivos da Resolução 1514 (XV), adoptada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 14 de Dezembro de 1960, referente à Declaração sobre a Concessão de
ARTIGO 1.º Independência aos Países e aos Povos Coloniais, o disposto no presente Protocolo em nada restringe o
direito de petição concedido a estes povos pela Carta das Nações Unidas e por outras convenções e
instrumentos internacionais concluídos sob os auspícios da Organização das Nações Unidas ou das suas
Os Estados partes no Pacto que se tornem partes no presente Protocolo reconhecem que o Comité tem
instituições especializadas.
competência para receber e examinar comunicações provenientes de particulares sujeitos à sua
jurisdição que aleguem ser vítimas de uma violação, por esses Estados Partes, de qualquer dos direitos
ARTIGO 8.º
enunciados no Pacto. O Comité não recebe nenhuma comunicação respeitante a um Estado Parte no
Pacto que não seja parte no presente Protocolo.
1 - O presente Protocolo está aberto à assinatura dos Estados que tenham assinado o Pacto.
ARTIGO 2.º 2 - O presente Protocolo está sujeito à ratificação dos Estados que ratificaram o Pacto ou a ele
aderiram. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto do Secretário-Geral da Organização
Ressalvado o disposto no artigo 1.º, os particulares que se considerem vítimas da violação de qualquer das Nações Unidas.
dos direitos enunciados no Pacto e que tenham esgotado todos os recursos internos disponíveis podem 3 - O presente Protocolo está aberto à adesão dos Estados que tenham ratificado o Pacto ou que a ele
apresentar uma comunicação escrita ao Comité para que este a examine. tenham aderido.
4 - A adesão far-se-á através do depósito de um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da
ARTIGO 3.º
Organização das Nações Unidas.
5 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informa todos os Estados que assinaram o
O Comité declarará irrecebíveis as comunicações apresentadas, em virtude do presente Protocolo, que
presente Protocolo ou que a ele aderiram do depósito de cada instrumento de adesão ou ratificação.
sejam anónimas ou cuja apresentação considere constituir um abuso de direito ou considere
incompatível com as disposições do Pacto.
ARTIGO 9.º
ARTIGO 4.º
1 - Sob ressalva da entrada em vigor do Pacto, o presente Protocolo entrará em vigor 3 meses após a
data do depósito junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas do 10.º instrumento de
1 - Ressalvado o disposto no artigo 3.º, o Comité levará as comunicações que lhe sejam apresentadas,
ratificação ou de adesão.
em virtude do presente Protocolo, à atenção dos Estados partes no dito Protocolo que tenham
alegadamente violado qualquer disposição do Pacto. 2 - Para os Estados que ratifiquem o presente Protocolo ou a ele adiram após o depósito do 10.º
instrumento de ratificação ou de adesão, o dito Protocolo entrará em vigor 3 meses após a data do
2 - Nos 6 meses imediatos, os ditos Estados submeterão por escrito ao Comité as explicações ou
depósito por esses Estados do seu instrumento de ratificação ou de adesão.
declarações que esclareçam a questão e indicarão, se tal for o caso, as medidas que tenham tomado
para remediar a situação.
ARTIGO 10.º
ARTIGO 5.º
O disposto no presente Protocolo aplica-se, sem limitação ou excepção, a todas as unidades
constitutivas dos Estados federais.
1 - O Comité examina as comunicações recebidas em virtude do presente Protocolo, tendo em conta
todas as informações escritas que lhe são submetidas pelo particular e pelo Estado parte interessado.
ARTIGO 11.º
2 - O Comité não examinará nenhuma comunicação de um particular sem se assegurar de que:
a) A mesma questão não está a ser examinada por outra instância internacional de inquérito ou de 1 - Os Estados partes no presente Protocolo podem propor alterações e depositar o respectivo texto
decisão; junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral transmite todos os
b) O particular esgotou todos os recursos internos disponíveis. Esta regra não se aplica se os processos projectos de alterações aos Estados partes no dito Protocolo, pedindo-lhes que indiquem se desejam a
de recurso excederem prazos razoáveis. convocação de uma conferência de Estados partes para examinar estes projectos e submetê-los a
votação. Se pelo menos um terço dos Estados se declarar a favor desta convocação, o Secretário-Geral
3 - O Comité realiza as suas sessões à porta fechada quando examina as comunicações previstas no
convoca a conferência sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. As alterações adoptadas
presente Protocolo.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
pela maioria dos Estados presentes e votantes na conferência serão submetidas para aprovação à
Assembleia Geral das Nações Unidas.
2 - Estas alterações entram em vigor quando forem aprovadas pela Assembleia Geral das Nações
Unidas e aceites, de acordo com as suas regras constitucionais respectivas, por uma maioria de dois
terços dos Estados partes no presente Protocolo.
3 - Quando estas alterações entrarem em vigor tornam-se obrigatórias para os Estados partes que as
aceitaram, continuando os outros Estados partes ligados pelas disposições do presente Protocolo e
pelas alterações anteriores que tenham aceitado.

ARTIGO 12.º

1 - Os Estados partes podem, em qualquer altura, denunciar o presente Protocolo por notificação
escrita dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos 3
meses após a data em que o Secretário-Geral tenha recebido a notificação.
2 - A denúncia não impedirá a aplicação das disposições do presente Protocolo às comunicações
apresentadas em conformidade com o artigo 2.º antes da data em que a denúncia produz efeitos.

ARTIGO 13.º

Independentemente das notificações previstas no parágrafo 5 do artigo 8.º do presente Protocolo, o


Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informará todos os Estados referidos no parágrafo
1 do artigo 48.º do Pacto:
a) Das assinaturas do presente Protocolo e dos instrumentos de ratificação e de adesão depositados de
acordo com o artigo 8.º;
b) Da data da entrada em vigor do presente Protocolo de acordo com o artigo 9.º e da data da entrada
em vigor das alterações previstas no artigo 11.º;
c) Das denúncias feitas nos termos do artigo 12.º.

ARTIGO 14.º

1 - O presente Protocolo, cujos textos inglês, chinês, espanhol, francês e russo são igualmente válidos,
será depositado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas transmitirá uma cópia autenticada do
presente Protocolo a todos os Estados referidos no artigo 48.º do Pacto.

3
recíproco, assim como do direito internacional. Em caso algum se poderá privar
um povo dos seus próprios meios de subsistência.
PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E 3. Os Estados-Signatários no presente Pacto, incluindo os que têm a
CULTURAIS responsabilidade de administrar territórios não autónomos e territórios em
fideicomisso, promoverão o exercício do direito à autodeterminação e
Adoptado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela Assembleia Geral das respeitarão este direito em conformidade com as disposições da Carta das
Nações Unidas na sua Resolução N.º 2200-A (XXI), de 16 de Dezembro de 1966 Nações Unidas.

Entrada em vigor: 3 de Janeiro de 1976, em conformidade com o artigo 27.

PARTE II

Artigo 2.º

PREÂMBULO 1. Cada um dos Estados-Signatários no presente Pacto compromete-se a adoptar


medidas, seja isoladamente, seja através da assistência e cooperação
Os Estados-Signatários no presente Pacto, internacionais, especialmente económicas e técnicas, até ao máximo dos
recursos de que disponha, por todos os meios adequados, inclusive e em
Considerando que, de acordo com os princípios enunciados na Carta das Nações particular a adopção de medidas legislativas, para atingir progressivamente a
Unidas, a liberdade, a justiça e a paz no Mundo têm por base o reconhecimento da plena efectividade dos direitos aqui reconhecidos.
dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e 2. Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a garantir o
inalienáveis. exercício dos direitos que nele se enunciam, sem qualquer discriminação, por
motivos de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra índole,
Reconhecendo que estes direitos derivam da dignidade inerente à pessoa humana. origem nacional ou social, posição económica, nascimento ou qualquer outra
condição social.
Reconhecendo que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, não 3. Os países em vias de desenvolvimento, tendo devidamente em conta os direitos
é possível realizar-se o ideal do ser humano livre, liberto do medo e da miséria, a menos humanos e a sua economia social, poderão determinar em que medida garantirão
que se criem condições que permitam a cada pessoa gozar os seus direitos económicos, os direitos económicos reconhecidos no presente Pacto a pessoas que não sejam
sociais e culturais, bem como os seus direitos civis e políticos, seus nacionais.

Considerando que a Carta das Nações Unidas obriga os Estados a promover o respeito
universal e efectivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.
Artigo 3.º
Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com os outros indivíduos e a
comunidade a que pertence, está obrigado a respeitar a vigência e a observância dos Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a assegurar que
direitos reconhecidos neste Pacto, homens e mulheres, de igual modo, gozem de todos os direitos económicos,
sociais e culturais enunciados no presente Pacto.
Acordaram os seguintes artigos:

PARTE I
Artigo 4.º
Artigo 1.º
Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem que, no exercício dos
1. Todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude deste direito direitos garantidos pelo presente Pacto poderá um Estado limitar tais direitos
estabelecem livremente a sua condição política e, desse modo, providenciam o unicamente nos termos da lei, apenas na medida em que sejam compatíveis com
seu desenvolvimento económico, social e cultural. a natureza desses direitos e com o objectivo exclusivo de promover o bem-estar
2. Para atingirem os seus fins, todos os povos podem dispor livremente das suas geral numa sociedade democrática.
riquezas e recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que derivam da
cooperação económica internacional baseada no princípio de benefício
b) Segurança e higiene no trabalho;
c) Iguais oportunidades de promoção no trabalho à categoria superior
Artigo 5.º que lhes corresponda, sem outras considerações que não sejam os
factores de tempo de serviço e capacidade;
1. Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de d) O descanso, usufruir do tempo livre, a limitação razoável das horas de
reconhecer qualquer direito a um Estado, grupo ou indivíduo para empreender trabalho e férias periódicas pagas, assim como a remuneração dos dias
actividades ou realizar actos que levem à destruição de qualquer dos direitos ou feriados.
liberdades reconhecidos no Pacto, ou a maiores limitações do que nele previsto.
2. Não poderá admitir-se restrição ou prejuízo de nenhum dos direitos humanos
fundamentais reconhecidos ou vigentes num país em virtude de leis,
convenções, regulamentos ou costumes, a pretexto de que o presente Pacto não Artigo 8.º
os reconhece ou os reconhece em menor grau.
1. Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a garantir:
a) O direito de toda a pessoa a fundar sindicatos e a filiar-se livremente
sujeitando-se unicamente aos estatutos da organização correspondente, para
PARTE III promover e proteger os seus interesses económicos e sociais. Não poderão ser
impostas outras restrições ao exercício deste direito para além das estabelecidas
Artigo 6.º na lei, e que são necessárias numa sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional ou da ordem pública ou para a protecção dos direitos e
1. Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que liberdades alheias;
compreende o direito de toda a pessoa ter a oportunidade de ganhar a vida b) O direito dos sindicatos formarem federações ou confederações nacionais e o
através de um trabalho livremente escolhido ou aceite e comprometem-se a de estas fundarem organizações sindicais internacionais ou nelas se filiarem;
tomar as medidas adequadas para garantir este direito. c) O direito dos sindicatos funcionarem sem obstáculos ou sem outras limitações
2. Entre as medidas que cada um dos Estados-Signatários adopta no presente Pacto para além das estabelecidas na lei, necessárias numa sociedade democrática, no
para atingir a plena efectividade deste direito, deverá constar a orientação e interesse da segurança nacional ou da ordem pública ou para a protecção dos
formação técnico-profissionais, a preparação de programas, normas e técnicas direitos e liberdades alheias;
que conduzam ao desenvolvimento económico, social e cultural permanente e a d) O direito à greve, exercido em conformidade com as leis de cada país.
ocupação plena e produtiva, em condições que garantam as liberdades políticas e 2. O presente artigo não impede que o exercício de tais direitos pelos membros das
económicas fundamentais da pessoa humana. forças armadas, da polícia ou da administração do Estado, seja submetido a
restrições legais.
3. Nada do disposto neste artigo autoriza os Estados-Signatários na Convenção da
Organização Internacional do Trabalho de 1948 relativa à liberdade sindical e à
Artigo 7.º protecção do direito de sindicalização, a adoptar medidas legislativas que
prejudiquem as garantias previstas na referida Convenção ou a aplicar a lei de
Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa modo a prejudicar as referidas garantias.
gozar de condições de trabalho equitativas e satisfatórias que assegurem, em
especial:

a) Uma remuneração que proporcione como mínimo a todos os Artigo 9.º


trabalhadores:
Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa
i) Um salário igual pelo trabalho de igual valor, sem distinções de à segurança social incluindo ao seguro social.
nenhuma espécie; em particular, deve assegurar-se às mulheres
condições de trabalho não inferiores às dos homens, com salário Artigo 10.º
igual para trabalho igual;
Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem que:
ii) Condições de vida dignas para eles e para as suas famílias, em
conformidade com as disposições do presente Pacto. 1. Deve conceder-se à família, elemento natural e fundamental da sociedade, a
mais ampla protecção e assistência possíveis, especialmente para a sua
constituição e enquanto responsável pelos cuidados e a educação dos filhos a seu
cargo. O casamento deve contrair-se com o livre consentimento dos futuros ambiente;
cônjuges; c) A prevenção e o tratamento das doenças epidémicas, endémicas, profissionais
2. Deve conceder-se especial protecção às mães durante um período de tempo e outras, e lutar contra as mesmas;
razoável antes e depois do parto. Durante o referido período, às mães que d) A criação de condições que assegurem a todos a assistência médica e serviços
trabalham deve ser-lhes concedida licença com remuneração ou com prestações médicos em caso de doença.
adequadas da segurança social;
3. Devem adoptar-se medidas especiais de protecção e assistência a favor de todas
as crianças e adolescentes, sem qualquer discriminação por razões de filiação ou
qualquer outra condição. Devem proteger-se as crianças e adolescentes contra a Artigo 13.º
exploração económica e social. O emprego em trabalhos nocivos para a sua
moral e saúde, ou nos quais corra perigo a sua vida ou o risco de prejudicar o 1. Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa
seu desenvolvimento normal, será punido pela lei. Os Estados devem estabelecer à educação. Concordam que a educação deve ser orientada até ao pleno
também limites de idade abaixo dos quais seja proibido e sujeito a sanções da lei desenvolvimento da personalidade humana e do sentido da sua dignidade e deve
o emprego remunerado de mão-de-obra infantil. fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Concordam deste modo, que a educação deve capacitar todas as pessoas para
participar efectivamente numa sociedade livre, favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais,
Artigo 11.º étnicos e religiosos e promover as actividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.
1 - Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa a 2. Com o objectivo de atingir o pleno exercício deste direito, os Estados-
um nível de vida adequado para si e sua família, incluindo alimentação, vestuário e Signatários no presente Pacto reconhecem que:
habitação adequados e a uma melhoria contínua das suas condições de vida. Os Estados- a) O ensino primário deve ser obrigatório e acessível a todos gratuitamente;
Signatários tomarão medidas apropriadas para assegurar a efectividade deste direito, b) O ensino secundário, nas suas diferentes formas, incluindo o ensino técnico- -
reconhecendo para esse feito, a importância essencial da cooperação internacional profissional, deve ser generalizado e tornar-se acessível a todos, por todos os
baseada no livre consentimento. meios apropriados, em particular, pela implantação progressiva do ensino
gratuito;
2 - Os Estados-Signatários no presente Pacto, reconhecendo o direito fundamental de c) O ensino superior deve tornar-se igualmente acessível a todos, com base na
toda a pessoa a estar protegida contra a fome, adoptarão, individualmente e através da capacidade de cada um, por todos os meios apropriados, em particular, pela
cooperação internacional, as medidas, incluindo programas concretos, que sejam implantação progressiva do ensino gratuito;
necessários para: d) Deve fomentar-se ou intensificar-se, na medida do possível, a educação
a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de alimentos através básica para aquelas pessoas que não tenham recebido ou terminado o ciclo
da plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, da divulgação de completo de instrução primária;
princípios sobre nutrição e do aperfeiçoamento ou da reforma dos regimes agrários de e) Deve prosseguir-se activamente o desenvolvimento do sistema escolar em
modo a que se atinja uma exploração e utilização mais eficazes das riquezas naturais; todos os ciclos de ensino, implantar um sistema adequado de bolsas de estudo e
melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.
b) Assegurar uma distribuição equitativa dos recursos alimentares mundiais em relação 3. Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a respeitar a
às necessidades, tendo em conta os problemas que se colocam, tanto para os países que liberdade dos pais ou dos tutores legais, se for o caso, de escolher para os seus
importam produtos alimentares, como para os que os exportam. filhos ou pupilos escolas diferentes das criadas pelas autoridades públicas,
sempre que aquelas satisfaçam as normas mínimas que o Estado estabeleça ou
aprove em matéria de ensino, e permitam que os seus filhos ou pupilos recebam
a educação religiosa ou moral de acordo com as suas próprias convicções.
Artigo 12.º 4. O disposto neste artigo não poderá ser interpretado como uma restrição à
liberdade dos particulares e entidades para estabelecer e dirigir instituições de
1. Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa ensino, com a condição de respeitar os princípios enunciados no parágrafo 1 e
gozar das melhores condições possíveis de saúde física e mental. desde que a educação dada nessas instituições se ajuste às normas mínimas
2. A fim de assegurar a plena efectividade deste direito, os Estados-Signatários no estabelecidas pelo Estado.
presente Pacto deverão adoptar, entre outras, as medidas necessárias para:
a) A redução do número de nados-mortos e da mortalidade infantil e o são
desenvolvimento das crianças;
b) O melhoramento em todos os aspectos da higiene do trabalho e do meio Artigo 14.º
Todo o Estado-Signatário no presente Pacto que, no momento de se tornar parte,
não tenha podido instituir no seu território metropolitano ou noutros territórios
sob a sua jurisdição, a obrigatoriedade e gratuitidade do ensino primário, Artigo 17.º
compromete-se a elaborar e adoptar, no prazo de dois anos, um plano de acção
detalhado para a aplicação progressiva, dentro de um número de anos razoável 1. Os Estados-Signatários no presente Pacto apresentarão os seus relatórios por
fixado no plano, do princípio do ensino obrigatório e gratuito para todos. etapas, de acordo com o programa que o Conselho Económico e Social
estabelecerá no prazo de um ano a contar da entrada em vigor do presente Pacto,
após uma consulta prévia com os Estados-Signatários e com os organismos
especializados interessados.
Artigo 15.º 2. Os relatórios poderão indicar as circunstâncias e dificuldades que afectam o
cumprimento das obrigações previstas neste Pacto.
1. Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa 3. Quando a informação pertinente já tenha sido proporcionada às Nações Unidas
a: ou a algum organismo especializado por um Estado-Signatário, não será
a) Participar na vida cultural; necessário repetir a referida informação, bastando apenas fazer-lhe uma
b) Gozar dos benefícios do progresso científico e das suas aplicações; referência concreta.
c) Beneficiar da protecção dos interesses morais e materiais que lhe
correspondem em virtude de produções científicas, literárias ou artísticas de que
seja autora.
2. Para assegurar o pleno exercício deste direito, os Estados-Signatários no Artigo 18.º
presente Pacto deverão adoptar entre outras medidas, as necessárias para a
conservação, desenvolvimento e divulgação da ciência e da cultura. Em virtude das atribuições que a Carta das Nações Unidas confere em matéria
3. Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a respeitar a de direitos humanos e liberdades fundamentais, o Conselho Económico e Social
liberdade indispensável para a investigação científica e para a actividade poderá efectuar acordos com os organismos especializados sobre a apresentação
criadora. por parte desses organismos, de relatórios relativos ao cumprimento das
4. Os Estados-Signatários no presente Pacto reconhecem os benefícios que derivam disposições deste Pacto que correspondem ao seu campo de actividades. Estes
do fomento e desenvolvimento da cooperação e das relações internacionais em relatórios poderão indicar detalhes sobre as decisões e recomendações que, sobre
questões científicas e culturais. esse cumprimento tenham sido aprovadas pelos órgãos competentes dos
referidos organismos.

PARTE IV
Artigo 19.º
Artigo 16.º
O Conselho Económico e Social poderá transmitir à Comissão de Direitos
1. Os Estados-Signatários no presente Pacto comprometem-se a apresentar, em Humanos, para seu estudo e recomendação de carácter geral, ou para
conformidade com esta parte do Pacto, relatórios sobre as medidas que tenham informação, conforme se aplique, os relatórios sobre direitos humanos que os
adoptado e os progressos realizados, com o objectivo de assegurar o respeito Estados apresentem de acordo com os artigos 16.º e 17.º e os relatórios relativos
pelos direitos reconhecidos no mesmo. aos direitos humanos que os organismos especializados apresentem conforme o
2. a) Todos os relatórios serão apresentados ao Secretário-Geral das Nações artigo 18.º.
Unidas, que transmitirá cópias ao Conselho Económico e Social para que os
analise de acordo com o disposto no presente Pacto;
b) O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá também aos organismos
especializados cópias dos relatórios ou excertos pertinentes dos mesmos, Artigo 20.º
enviados pelos Estados-Signatários no presente Pacto, mesmo que sejam
também membros desses organismos especializados, na medida em que esses Os Estados-Signatários no presente Pacto e os organismos especializados
relatórios ou parte deles tenham relação com matérias que sejam da competência interessados poderão apresentar ao Conselho Económico e Social observações
dos referidos organismos de acordo com os seus instrumentos constitutivos. sobre qualquer recomendação de carácter geral, efectuada em virtude do artigo
19.º, ou referência a essa recomendação geral que conste num relatório da
Comissão de Direitos Humanos, ou num documento aí mencionado.
Nenhuma disposição no presente Pacto deverá ser interpretada em prejuízo do
direito inerente a todos os povos de usufruir e utilizar plena e livremente as suas
Artigo 21.º riquezas e recursos naturais.

O Conselho Económico e Social poderá apresentar esporadicamente à


Assembleia Geral relatórios que contenham recomendações de carácter geral,
assim como um resumo da informação recebida dos Estados-Signatários no PARTE V
presente Pacto e dos organismos especializados, acerca das medidas adoptadas e
dos progressos realizados para a obtenção do respeito geral pelos direitos Artigo 26.º
reconhecidos no presente Pacto.
1. O presente Pacto estará aberto à assinatura de todos os Estados-Membros das
Nações Unidas ou membros de algum organismo especializado, assim como de
todo o Estado-Signatário no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça e de
Artigo 22.º qualquer outro Estado convidado pela Assembleia Geral das Nações Unidas a
ser parte no presente Pacto.
O Conselho Económico e Social poderá chamar a atenção de outros órgãos das 2. O presente Pacto está sujeito a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão
Nações Unidas, seus órgãos subsidiários e os organismos especializados depositados junto do Secretário-Geral das Nações Unidas.
interessados que se ocupem de prestar assistência técnica, para qualquer questão 3. O presente Pacto ficará aberto à adesão de qualquer dos Estados mencionados no
suscitada pelos relatórios a que se refere esta parte do Pacto que possa servir parágrafo 1 do presente artigo.
para que as referidas entidades se pronunciem, cada uma dentro da sua esfera de 4. A adesão será efectuada através do depósito de um instrumento de adesão junto
competência, sobre a conveniência das medidas internacionais que possam do Secretário-Geral das Nações Unidas.
contribuir para a aplicação efectiva e progressiva do presente Pacto. 5. O Secretário-Geral das Nações Unidas informará todos os Estados que tenham
assinado o presente Pacto, ou que a ele tenham aderido, sobre o depósito de cada
um dos instrumentos corridos três meses após a data em que esse Estado tenha
depositado o seu instrumento de ratificação ou de adesão.
Artigo 23.º

Os Estados-Signatários no presente Pacto concordam em que as medidas de


ordem internacional destinadas a assegurar o respeito pelos direitos que se Artigo 28.º
reconhecem no presente Pacto incluem procedimentos, tais como a conclusão de
convenções, a aprovação de recomendações, a prestação de assistência técnica e As disposições do presente Pacto serão aplicáveis a todas as partes componentes
a realização de reuniões regionais e técnicas para efectuar consultas e realizar dos Estados federais sem qualquer limitação ou excepção.
estudos, organizadas em cooperação com os governos interessados.

Artigo 29.º
Artigo 24.º
1. Todo o Estado-Signatário no presente Pacto poderá propor alterações e depositá-
Nenhuma disposição no presente Pacto deverá ser interpretada em prejuízo das las junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará
disposições da Carta das Nações Unidas ou das constituições dos organismos as alterações propostas aos Estados-Signatários no presente Pacto, solicitando-
especializados que definem as atribuições dos diversos órgãos das Nações lhes que o notifiquem se desejam que se convoque uma conferência dos
Unidas e dos organismos especializados sobre as matérias a que se refere o Estados-Signatários com o objectivo de analisar as propostas e submetê-las a
presente Pacto. votação. Se pelo menos um terço dos Estados se declarar a favor dessa
convocatória, o Secretário-Geral convocará uma conferência sob os auspícios
das Nações Unidas. Qualquer alteração adoptada pela maioria dos Estados
presentes e votantes na conferência será submetida à aprovação da Assembleia
Artigo 25.º Geral das Nações Unidas.
2. Essas alterações entrarão em vigor após terem sido aprovadas pela Assembleia
Geral das Nações Unidas e aceites por uma maioria de dois terços dos Estados-
Signatários no presente Pacto, em conformidade com os seus respectivos
procedimentos constitucionais.
3. Quando essas alterações entrarem em vigor, serão obrigatórias para os Estados-
Signatários que as tenham aceitado, enquanto os restantes Estados-Signatários
continuarão obrigados às disposições do presente Pacto e a qualquer alteração
anterior que tenham aceitado.

Artigo 30.º

Independentemente das notificações previstas no parágrafo 5 do artigo 26.º, o


Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados
mencionados no parágrafo 1 do mesmo artigo:

a) As assinaturas, ratificações e adesões conforme o disposto no artigo


26.º;
b) A data em que entre em vigor o presente Pacto conforme o disposto
no artigo 27.º e a data em que entrem em vigor as alterações a que se faz
referência no artigo 29.º.

Artigo 31.º

1. O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol, francês, inglês e russo são
igualmente autênticos, será depositado nos arquivos das Nações Unidas.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas enviará cópias certificadas do presente
Pacto a todos os Estados mencionados no artigo 26.º.

 
Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais Artigo 1.º
e Culturais Competência do Comité para receber e apreciar comunicações

1. Um Estado Parte no Pacto que se torne parte no presente Protocolo reconhece a


Preâmbulo competência do Comité para receber e apreciar comunicações nos termos previstos nas
disposições do presente Protocolo.
2. O Comité não deverá receber nenhuma comunicação respeitante a um Estado
Os Estados Partes no presente Protocolo, Parte no Pacto que não seja parte no presente Protocolo.

Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Artigo 2.º
Nações Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família Comunicações
humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade,
justiça e paz no mundo, As comunicações podem ser submetidas por ou em nome de indivíduos ou grupos de
indivíduos, sob a jurisdição de um Estado Parte, que aleguem serem vítimas de uma
Recordando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que todos os violação, por esse Estado Parte, de qualquer um dos direitos económicos, sociais e
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos e que todos os culturais enunciados no Pacto. Sempre que uma comunicação seja submetida em
indivíduos têm direito a todos os direitos e liberdades proclamados naquela Declaração, representação de indivíduos ou grupos de indivíduos, é necessário o seu consentimento,
sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de a menos que o autor consiga justificar a razão que o leva a agir em sua representação
opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de sem o referido consentimento.
qualquer outra situação,
Artigo 3.º
Relembrando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem e os Pactos Admissibilidade
Internacionais sobre Direitos Humanos reconhecem que o ideal do ser humano livre,
liberto do medo e da miséria, não pode ser realizado a menos que sejam criadas 1. O Comité só deverá apreciar uma comunicação após se ter assegurado de que
condições que permitam a cada um desfrutar dos seus direitos civis, culturais, todos os recursos internos disponíveis foram esgotados. Esta regra não se aplica se os
económicos, políticos e sociais, referidos recursos excederem prazos razoáveis.

Reafirmando a universalidade, indivisibilidade, interdependência e inter-relação de 2. O Comité deverá declarar uma comunicação inadmissível quando:
todos os direitos humanos e liberdades fundamentais,
(a) Não for submetida no prazo de um ano após o esgotamento das vias de
Relembrando que cada Estado Parte no Pacto Internacional sobre os Direitos recurso internas, exceto nos casos em que o autor possa demonstrar que não foi possível
Económicos, Sociais e Culturais (doravante designado como o “Pacto”) se compromete submeter a comunicação dentro desse prazo;
a agir, quer através do seu próprio esforço, quer através da assistência e da cooperação (b) Os factos que constituam o objeto da comunicação tenham ocorrido antes
internacionais, especialmente nos planos económico e técnico, no máximo dos seus da entrada em vigor do presente Protocolo para o Estado Parte em causa, salvo se tais
recursos disponíveis, de modo a assegurar progressivamente o pleno exercício dos factos persistiram após tal data;
direitos reconhecidos no Pacto por todos os meios apropriados, incluindo em particular (c) A mesma questão já tenha sido apreciada pelo Comité ou tenha sido ou
por meio de medidas legislativas, esteja a ser examinada no âmbito de outro processo internacional de investigação ou de
resolução de litígios;
Considerando que, para melhor assegurar o cumprimento dos fins do Pacto e a (d) A comunicação for incompatível com as disposições do Pacto;
aplicação das suas disposições, conviria habilitar o Comité dos Direitos Económicos, (e) A comunicação seja manifestamente infundada, insuficientemente
Sociais e Culturais (doravante denominado o “Comité”) para desempenhar as funções fundamentada ou exclusivamente baseada em notícias divulgadas pelos meios de
previstas no presente Protocolo, comunicação;
(f) A comunicação constitua um abuso do direito de submeter uma
comunicação; ou quando
Acordaram no seguinte: (g) A comunicação seja anónima ou não seja apresentada por escrito.
Artigo 4.º
Comunicações que não revelem uma desvantagem evidente 3. Quando apreciar uma comunicação ao abrigo do presente Protocolo, o Comité
pode consultar, conforme apropriado, a documentação relevante emanada de outros
O Comité pode, se necessário, recusar a apreciação de uma comunicação quando esta órgãos, agências especializadas, fundos, programas e mecanismos das Nações Unidas, e
não demonstrar que o autor sofreu uma desvantagem evidente, exceto se o Comité de outras organizações internacionais, incluindo sistemas regionais de direitos humanos,
considerar que a comunicação suscita uma questão grave de relevância geral. bem como quaisquer observações ou comentários formulados pelo Estado Parte
interessado.
Artigo 5.º
Providências cautelares 4. Ao apreciar as comunicações recebidas ao abrigo do presente Protocolo, o
Comité deverá considerar a razoabilidade das medidas tomadas pelo Estado Parte em
1. A qualquer momento depois da receção de uma comunicação e antes de se conformidade com a Parte II do Pacto. Ao fazê-lo, o Comité deverá ter em consideração
pronunciar sobre o fundo da questão, o Comité pode transmitir ao Estado Parte que o Estado Parte pode adotar uma série de possíveis medidas políticas para a
interessado, para urgente consideração, um pedido no sentido de os Estado Parte tomar realização dos direitos previstos no Protocolo.
as providências cautelares que se mostrem necessárias, em circunstâncias excecionais,
para evitar eventuais danos irreparáveis à vítima ou vítimas da alegada violação.
Artigo 9.º
2. O facto do Comité exercer as faculdades previstas no número 1 do presente Seguimento das constatações do Comité
artigo, não implica qualquer juízo favorável sobre a admissibilidade ou o fundo da
questão objeto da comunicação. 1. Após a apreciação de uma comunicação, o Comité deverá transmitir a sua
constatação sobre a mesma, em conjunto com as suas recomendações, se for o caso, às
partes interessadas.
Artigo 6.º
Transmissão da comunicação 2. O Estado Parte deverá ter devidamente em conta as constatações do Comité, em
conjunto com as suas recomendações, se for caso disso, e deverá submeter ao Comité,
1. Salvo se o Comité rejeitar oficiosamente uma comunicação, todas as no prazo de seis meses, uma resposta escrita, incluindo informação sobre quaisquer
comunicações apresentadas ao Comité ao abrigo do presente Protocolo deverão ser por medidas tomadas à luz das constatações e recomendações do Comité.
ele confidencialmente comunicadas ao Estado Parte em causa.
2. No prazo de seis meses, o Estado Parte recetor deverá submeter, por escrito, ao 3. O Comité pode convidar o Estado Parte a submeter informação adicional sobre
Comité, as explicações ou declarações que possam clarificar a questão que originou a quaisquer medidas adotadas pelo Estado Parte em resposta às suas constatações ou
comunicação, indicando, se for caso disso, as medidas adotadas pelo Estado Parte para recomendações, se for caso disso, incluindo nos relatórios a apresentar
remediar a situação. subsequentemente pelo Estado Parte ao abrigo dos artigos 16.º e 17.º do Pacto,
conforme o Comité considere apropriado.
Artigo 7.º
Resolução amigável Artigo 10.º
Comunicações Inter-estaduais
1. O Comité deverá oferecer os seus bons ofícios às partes interessadas a fim de
que se chegue a uma resolução amigável do litígio com base no respeito das obrigações 1. Um Estado Parte no presente Protocolo pode, a qualquer momento, declarar ao
previstas no Pacto. abrigo do presente artigo, que reconhece a competência do Comité para receber e
2. Um acordo que seja alcançado ao abrigo de uma resolução amigável determina a apreciar comunicações em que um Estado Parte alegue que outro Estado Parte não está
interrupção da análise da comunicação ao abrigo do presente Protocolo. a cumprir as suas obrigações decorrentes do Pacto. As comunicações ao abrigo do
presente artigo só podem ser recebidas e apreciadas se submetidas por um Estado Parte
Artigo 8.º que tenha feito uma declaração reconhecendo, no que lhe diz respeito, a competência do
Apreciação das comunicações Comité. Este não aprecia quaisquer comunicações de um Estado Parte que não tenha
feito tal declaração. Às comunicações recebidas ao abrigo do presente artigo aplica-se o
1. O Comité deverá apreciar as comunicações recebidas ao abrigo do artigo 2.º do seguinte procedimento:
presente Protocolo à luz de toda a documentação que lhe tenha sido submetida, desde
que tal documentação seja transmitida às partes interessadas. (a) Se um Estado Parte no presente Protocolo considerar que outro Estado
Parte não está a cumprir as suas obrigações ao abrigo do Pacto, pode, através de
2. O Comité deverá apreciar as comunicações ao abrigo do presente Protocolo em comunicação escrita, levar a questão à atenção desse Estado Parte. O Estado
sessões à porta fechada. Parte pode também informar o Comité de tal questão. No prazo de três meses
após a receção da comunicação, o Estado destinatário deverá apresentar ao
Estado emissor da comunicação uma explicação, ou qualquer outro comentário
escrito esclarecendo o assunto, os quais deverão incluir, na medida do possível e 2. Qualquer declaração feita ao abrigo do n.º 1 do presente artigo deverá ser
desde que seja pertinente, referência aos procedimentos e vias de recurso depositada pelos Estados Partes junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, o qual
internas utilizadas, pendentes ou disponíveis sobre na matéria; deverá transmitir cópias da mesma aos restantes Estados Partes. Uma declaração pode
ser retirada a qualquer momento mediante notificação do Secretário-Geral. Tal retirada
(b) Se o assunto não for resolvido de forma satisfatória para ambos os não prejudica a análise de qualquer questão que seja objeto de uma comunicação já
Estados Partes interessados num prazo de seis meses após a receção da transmitida ao abrigo do presente artigo; nenhuma outra comunicação feita por qualquer
comunicação inicial por parte do Estado destinatário, qualquer um dos Estados Estado Parte ao abrigo do presente artigo deverá ser recebida após a receção da
pode submeter a questão ao Comité, mediante notificação ao Comité e ao outro notificação de retirada da declaração pelo Secretário-Geral, salvo se o Estado Parte
Estado; interessado tiver feito uma nova declaração.

(c) O Comité só pode apreciar uma questão que lhe tenha sido submetida Artigo 11.º
depois de se ter certificado de que todos os recursos nacionais disponíveis na Procedimento de inquérito
matéria foram invocados e esgotados. Tal não é a regra quando a aplicação dos
recursos exceder os prazos razoáveis; 1. Um Estado Parte no presente Protocolo pode, a qualquer momento, declarar que
reconhece a competência do Comité prevista no presente artigo.
(d) Sem prejuízo das disposições da alínea (c) do presente número, o Comité
deverá colocar à disposição dos Estados Partes interessados os seus bons ofícios, 2. Se o Comité receber um informação fidedigna indicando violações graves ou
a fim de que se alcance uma resolução amigável do litígio, com base no respeito sistemáticas, por um Estado Parte, de qualquer um dos direitos económicos, sociais e
pelas obrigações consagradas no Pacto; culturais consagrados no Pacto, deverá convidar esse Estado Parte a cooperar no exame
da informação e, para esse fim, a submeter observações sobre a informação em questão.
(e) O Comité deverá realizar reuniões à porta fechada quando apreciar as
comunicações ao abrigo do presente artigo; 3. Tendo em consideração quaisquer observações que possam ter sido submetidas
pelo Estado Parte interessado, assim como qualquer outra informação fidedigna que lhe
(f) Em qualquer questão que lhe seja reportada em conformidade com a tenha sido disponibilizada, o Comité pode designar um ou mais dos seus membros para
alínea (b) do presente número, o Comité pode solicitar aos Estados Partes conduzir um inquérito e reportar urgentemente ao Comité sobre a matéria. Caso se
interessados, referidos na alínea (b), que lhe deem toda a informação relevante; justifique e com o consentimento do Estado Parte, o inquérito pode incluir uma visita ao
seu território.
(g) Os Estados Partes interessados, referidos na alínea (b) do presente
número, têm o direito a ser representados quando o assunto estiver a ser 4. Tal inquérito deverá ser conduzido de forma confidencial e a cooperação do
analisado pelo Comité e a fazer qualquer submissão oralmente e/ou por escrito; Estado Parte deverá ser solicitada em todas as etapas do procedimento.

(h) O Comité deverá, com toda a celeridade devida, após a data de receção 5. Após analisar as conclusões do inquérito, o Comité deverá transmitir as mesmas
da notificação prevista na alínea (b) do presente número, submeter um relatório, ao Estado Parte interessado, em conjunto com quaisquer comentários e recomendações.
nos seguintes termos:
6. O Estado Parte interessado deverá, dentro de seis meses após a receção das
(i) Se for alcançada uma solução nos termos da alínea (d) do presente conclusões, comentários e recomendações transmitidos pelo Comité, submeter a este as
número, o Comité deverá limitar o seu relatório a uma breve exposição dos suas próprias observações.
factos e da solução alcançada;
7. Depois de concluídos os procedimentos relativos a um inquérito levado a cabo
(ii) Se não for alcançada uma solução dentro dos termos da alínea (d), em conformidade com o número 2 do presente artigo, o Comité pode, após consultar os
o Comité deverá, no seu relatório, enunciar os factos relevantes que digam Estados Partes interessados, decidir pela inclusão de um relato sumário dos resultados
respeito ao litígio entre os Estados Partes interessados. As observações escritas e dos procedimentos no seu relatório anual previsto no artigo 15.º do presente Protocolo.
as atas das exposições orais feitas pelos Estados Partes interessados deverão ser
anexas ao relatório. O Comité também pode comunicar apenas aos Estados 8. Qualquer Estado Parte que tenha feito uma declaração em conformidade com o
Partes interessados quaisquer opiniões que possa considerar relevantes para o n.º 1 do presente artigo pode, a qualquer momento, retirar a referida declaração
litígio existente entre ambos. mediante notificação dirigida ao Secretário-Geral.

Em qualquer caso, o relatório deverá ser transmitido aos Estados Partes interessados.
4. As disposições do presente artigo não prejudicam o dever de cada Estado Parte
cumprir as suas obrigações ao abrigo do Pacto.
Artigo 12.º
Seguimento do procedimento de inquérito

1. O Comité pode convidar o Estado Parte interessado a incluir no seu relatório Artigo 15.º
apresentado ao abrigo dos artigos 16.º e 17.º do Pacto, pormenores de quaisquer Relatório anual
medidas tomadas em resposta a um inquérito conduzido ao abrigo do artigo 11.º do O Comité deverá incluir no seu relatório anual um resumo das suas atividades ao abrigo
presente Protocolo. do presente Protocolo.

2. Após o termo do período de seis meses referido no n.º 6 do artigo 11.º, o Comité
pode, se necessário, convidar o Estado Parte interessado a dar-lhe informações sobre as Artigo 16.º
medidas adotadas em resposta ao referido inquérito. Divulgação e informação
Cada Estado Parte compromete-se a tornar amplamente conhecidos e a difundir o Pacto
e o presente Protocolo, bem como a facilitar o acesso à informação sobre as
Artigo 13.º constatações e recomendações do Comité, em especial, sobre matérias que digam
Medidas de proteção respeito a esse Estado Parte e a fazê-lo em formatos acessíveis às pessoas com
deficiência.
Um Estado Parte deverá tomar todas as medidas apropriadas para garantir que os
indivíduos sob a sua jurisdição não são sujeitos a qualquer forma de maus-tratos ou
intimidação, em consequência das comunicações que enviam ao Comité no âmbito do Artigo 17.º
presente Protocolo. Assinatura, ratificação e adesão

1. O presente Protocolo está aberto à assinatura de qualquer Estado que tenha


Artigo 14.º assinado e ratificado o Pacto ou aderido ao mesmo.
Assistência e cooperação Internacionais
2. O presente Protocolo está sujeito à ratificação por qualquer Estado que tenha
1. O Comité deverá transmitir, conforme considere apropriado e com o ratificado o Pacto ou aderido ao mesmo. Os instrumentos de ratificação deverão ser
consentimento do Estado Parte interessado, às agências especializadas, fundos e depositados junto do Secretário-Geral das Nações Unidas.
programas das Nações Unidas e outros organismos competentes, as suas constatações
ou recomendações relativas a comunicações e inquéritos que indiquem a necessidade de 3. O presente Protocolo fica aberto à adesão de qualquer Estado que tenha
aconselhamento ou assistência técnica, bem como eventuais observações e sugestões do ratificado o Pacto ou aderido ao mesmo.
Estado Parte sobre tais constatações ou recomendações.
4. A adesão far-se-á mediante o depósito de um instrumento de adesão junto do
2. O Comité também pode levar ao conhecimento desses organismos, com o Secretário-Geral das Nações Unidas.
consentimento do Estado Parte em causa, qualquer questão resultante das comunicações
consideradas ao abrigo do presente Protocolo, que os possa ajudar a decidir, no âmbito
de competência de cada um, sobre a conveniência da adoção de medidas internacionais Artigo 18.º
suscetíveis de contribuir para ajudar os Estados Partes progredir na realização dos Entrada em vigor
direitos reconhecidos no Pacto.
1. O presente Protocolo entrará em vigor três meses depois da data do depósito
3. Deverá ser criado um fundo fiduciário em conformidade com os procedimentos junto do Secretário-Geral das Nações Unidas do décimo instrumento de ratificação ou
relevantes da Assembleia-Geral, a ser administrado de acordo com as regras e de adesão.
regulamentos financeiros das Nações Unidas, a fim de prestar assistência especializada
e técnica aos Estados Partes, com o consentimento do Estado Parte interessado, para 2. Para cada Estado que ratifique ou adira ao presente Protocolo após o depósito do
melhorar a realização dos direitos consagrados no Pacto, assim contribuindo para o décimo instrumento de ratificação ou de adesão, o Protocolo entrará em vigor três meses
reforço das capacidades nacionais na área dos direitos económicos, sociais e culturais após a data do depósito do seu instrumento de ratificação ou de adesão.
no contexto do presente Protocolo.
Artigo 19.º
Emendas 2. O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá transmitir uma cópia autenticada
do presente Protocolo a todos os Estados referidos no artigo 26.º do Pacto.
1. Qualquer Estado Parte pode propor uma emenda ao presente Protocolo e
apresentá-la ao Secretário-Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral deverá
comunicar quaisquer emendas propostas aos Estados Partes, pedindo-lhes que o
notifiquem sobre se concordam com a convocação de uma reunião de Estados Partes
para discussão e votação das propostas. No caso de, no prazo de quatro meses a partir da
data desta comunicação, pelo menos um terço dos Estados Partes se pronunciar a favor
da convocação de tal reunião, o Secretário-Geral convocá-la-á sob os auspícios das
Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por uma maioria de dois terços dos Estados
Partes presentes e votantes deverá ser submetida pelo Secretário-Geral à Assembleia-
Geral para aprovação e, posteriormente, a todos os Estados Partes para aceitação.

2. Uma emenda adotada e aprovada em conformidade com o n.º 1 do presente


artigo entra em vigor no trigésimo dia após a data em que o número de instrumentos de
aceitação depositados atingir os dois terços do número de Estados Partes à data de
adoção da emenda. De aí em diante, a emenda entra em vigor para qualquer Estado
Parte no trigésimo dia seguinte ao depósito do seu respetivo instrumento de aceitação.
Uma emenda será vinculativa apenas para aqueles Estados Partes que a tenham aceite.

Artigo 20.º
Denúncia

1. Qualquer Estado Parte pode denunciar o presente Protocolo a qualquer


momento, mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
A denúncia deverá produzir efeitos seis meses depois da data de receção da notificação
pelo Secretário-Geral.

2. A denúncia não prejudica a continuação da aplicação das disposições do


presente Protocolo a qualquer comunicação apresentada nos termos dos artigos 2.º e
10.º ou de qualquer procedimento instaurado ao abrigo do artigo 11.º antes da data em
que a denúncia comece a produzir efeitos.

Artigo 21.º
Notificação pelo Secretário-Geral

O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá notificar todos os Estados


referidos no artigo 26.º, número 1 do Pacto dos seguintes factos:
(a) Assinaturas, ratificações e adesões ao abrigo do presente Protocolo;
(b) Data de entrada em vigor do presente Protocolo e de qualquer emenda
introduzida nos termos do artigo 19.º;
(c) Qualquer denúncia nos termos do artigo 20.º.

Artigo 22.º
Línguas oficiais

1. O presente Protocolo, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e


russo fazem igualmente fé, deverá ser depositado nos arquivos das Nações Unidas.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE O GENOMA HUMANO E OS DIREITOS HUMANOS Oportunidades para Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas, de 20 de dezembro
de 1993, na Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, da Produção e do
Armazenamento das Armas Bacteriológicas (Biológicas) ou Tóxicas e sobre a Sua
Adotada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Destruição, de 16 de dezembro de 1971, na Convenção relativa à Luta Contra a
Cultura (UNESCO) na sua 29.ª sessão, a 11 de novembro de 1997. Discriminação no Campo do Ensino, da UNESCO, de 14 de dezembro de 1960, na
Endossada pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua resolução 53/152, de 9 de dezembro
Declaração dos Princípios da Cooperação Cultural Internacional, da UNESCO, de 4 de
de 1998. novembro de 1966, na Recomendação da UNESCO sobre o Estatuto dos Investigadores
Científicos, de 20 de novembro de 1974, na Declaração sobre a Raça e os Preconceitos
Raciais, da UNESCO, de 27 de novembro de 1978, na Convenção n.º 111 da OIT, sobre a
DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE O GENOMA HUMANO E OS DIREITOS HUMANOS Discriminação em matéria de Emprego e Profissão, de 25 de junho de 1958, e na
Convenção n.º 169 da OIT, relativa aos Povos Indígenas e Tribais em Países
Independentes, de 27 de junho de 1989,
A Conferência Geral, Tendo presentes, e sem prejuízo das respetivas disposições, os instrumentos
Recordando que o Preâmbulo da Constituição da UNESCO refere o “ideal democrático de internacionais que podem relacionar-se com as aplicações da genética na área da
dignidade, igualdade e respeito pela pessoa humana”, rejeita qualquer “dogma da propriedade intelectual, nomeadamente a Convenção de Berna para a Proteção das
desigualdade das raças e dos homens”, estabelece que “a difusão da cultura e a Obras Literárias e Artísticas, de 9 de setembro de 1886 e a Convenção Universal sobre
educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis à Direito de Autor, da UNESCO, de 6 de setembro de 1952, revista em Paris a 24 de julho
dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir de 1971, a Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade Intelectual, de 20 de
com espírito de assistência mútua”, proclama que “para que a paz subsista deverá março de 1883, revista em Estocolmo a 14 de julho de 1967, o Tratado de Budapeste
assentar na solidariedade intelectual e moral da humanidade” e declara que a sobre o Reconhecimento Internacional do Depósito de Microrganismos para Efeitos do
Organização procura promover “mediante a cooperação das nações do Mundo nos Procedimento em Matéria de Patentes, da OMPI, de 28 de abril de 1977, e o Acordo
domínios da educação, da ciência e da cultura, os objetivos de paz internacional e bem- sobre os Aspetos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio
estar comum da humanidade, que presidiram à criação da Organização das Nações (TRIPS) anexo ao Acordo Que Cria a Organização Mundial do Comércio, que entrou em
Unidas e que a respetiva Carta proclama”, vigor a 1 de janeiro de 1995,

Recordando solenemente o seu apego aos princípios universais de direitos humanos, Tendo também presente a Convenção sobre a Diversidade Biológica, das Nações Unidas,
afirmados nomeadamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de de 5 de junho de 1992, e destacando a este respeito que o reconhecimento da
dezembro de 1948, e nos dois Pactos Internacionais das Nações Unidas sobre os diversidade genética da Humanidade não pode dar origem a qualquer interpretação de
Direitos Económicos, Sociais e Culturais e sobre os Direitos Civis e Políticos, de 16 de natureza social ou política que possa pôr em causa a “dignidade inerente a todos os
dezembro de 1966, na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de membros da família humana e [os] seus direitos iguais e inalienáveis”, em conformidade
Genocídio, das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1948, na Convenção Internacional com o Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, das Nações Unidas, de Recordando as Resoluções 22 C/13.1, 23 C/13.1, 24 C/13.1, 25 C/5.2, 25 C/7.3, 27 C/5.15,
21 de dezembro de 1965, na Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes Mentais, 28 C/0.12, 28 C/2.1 e 28 C/2.2, que instam a UNESCO a promover e desenvolver estudos
das Nações Unidas, de 20 de dezembro de 1971, na Declaração dos Direitos das na área da ética, e medidas a adotar na sequência dos mesmos, sobre as consequências
Pessoas Deficientes, das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1975, na Convenção do progresso científico e tecnológico nos domínios da biologia e da genética, no âmbito
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, das do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais,
Nações Unidas, de 18 de dezembro de 1979, na Declaração dos Princípios Básicos de
Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, das Nações Unidas, Reconhecendo que a investigação sobre o genoma humano e suas consequentes
de 29 de novembro de 1985, na Convenção sobre os Direitos da Criança, das Nações aplicações abre amplas perspetivas de progresso ao nível da melhoria da saúde dos
Unidas, de 20 de novembro de 1989, nas Regras Gerais sobre a Igualdade de indivíduos e da Humanidade no seu conjunto, mas sublinhando que tal investigação

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deve respeitar plenamente a dignidade humana, a liberdade e os direitos humanos, B. Direitos das pessoas em causa
bem como a proibição de todas as formas de discriminação com base nas
características genéticas,
Artigo 5.º

a) A investigação, o tratamento ou o diagnóstico que afetem o genoma de um


Proclama os princípios seguintes e adota a presente Declaração.
indivíduo só deverão ser levados a cabo depois de uma avaliação rigorosa e
prévia dos potenciais riscos e benefícios associados e caso se encontrem
preenchidos todos os requisitos impostos pela legislação interna.
A. Dignidade humana e genoma humano
b) Em todos os casos, será obtido o consentimento prévio, livre e informado da
pessoa em questão. Se esta última não estiver em condições de prestar
Artigo 1.º consentimento, será obtido o consentimento ou a autorização da forma prescrita
por lei e orientada pelo interesse superior da pessoa.
O genoma humano tem subjacente a unidade fundamental de todos os membros da
família humana, bem como o reconhecimento da sua inerente dignidade e diversidade. c) Deve ser respeitado o direito de cada indivíduo a decidir se quer ou não ser
Em sentido simbólico, constitui o património da Humanidade. informado dos resultados de um exame genético e suas consequências.

d) No caso das investigações, os protocolos de investigação serão, além disso,


objeto de uma avaliação prévia em conformidade com as pertinentes normas ou
Artigo 2.º
diretrizes nacionais e internacionais sobre a matéria.
a) Todas as pessoas têm direito ao respeito da sua dignidade e dos seus direitos,
e) Caso, nos termos da lei, a pessoa careça de capacidade para prestar
independentemente das respetivas características genéticas.
consentimento, a investigação que afete o seu genoma só pode ser levada a cabo
b) Essa dignidade impõe que os indivíduos não sejam reduzidos às suas em benefício direto da sua saúde, e sem prejuízo da autorização e das medidas
características genéticas e que se respeite o carácter único de cada um e a sua de proteção estabelecidas por lei. A investigação que não se espere vir a resultar
diversidade. num benefício direto para a saúde só pode ser levada a cabo a título excecional,
com a máxima contenção, expondo a pessoa unicamente a riscos mínimos e
transtornos mínimos e caso se destine a resultar em benefício para a saúde de
Artigo 3.º outras pessoas da mesma faixa etária ou com as mesmas características
genéticas, sem prejuízo das condições estabelecidas por lei, e desde que tal
O genoma humano, que é por natureza evolutivo, está sujeito a mutações. Contém
investigação seja compatível com a proteção dos direitos humanos da pessoa.
potencialidades que se manifestam de formas diferentes de acordo com o ambiente
natural e social de cada indivíduo, incluindo o respetivo estado de saúde e as respetivas
condições de vida, alimentação e educação.
Artigo 6.º

Nenhuma pessoa será sujeita a discriminação com base nas características genéticas
Artigo 4.º que tenha como objetivo ou como efeito atentar contra os direitos humanos, as
liberdades fundamentais e a dignidade humana.
O genoma humano no seu estado natural não deverá dar origem a benefícios
pecuniários.

3 4
Artigo 7.º Artigo 12.º

Deverá respeitar-se o sigilo, nas condições estabelecidas por lei, dos dados genéticos a) Os benefícios dos progressos nas áreas da biologia, da genética e da medicina,
associados a uma pessoa identificável e armazenados ou processados para fins de relativos ao genoma humano, serão postos à disposição de todos, tendo
investigação ou para qualquer outro fim. devidamente em conta a dignidade e os direitos humanos de cada pessoa.

b) A liberdade de investigação, que é necessária para o progresso do


conhecimento, faz parte integrante da liberdade de pensamento. As aplicações
Artigo 8.º
da investigação, nomeadamente nas áreas da biologia, da genética e da
Toda a pessoa tem direito, em conformidade com o direito internacional e nacional, a medicina, relativas ao genoma humano, procurarão aliviar o sofrimento e
uma justa reparação de quaisquer danos sofridos cuja causa direta e determinante melhorar a saúde das pessoas e da Humanidade no seu conjunto.
tenha sido uma intervenção que haja afetado o seu genoma.

D. Condições para o exercício da atividade científica


Artigo 9.º

A fim de proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais, as restrições aos


Artigo 13.º
princípios do consentimento e do sigilo têm de ser fixadas por lei, por razões imperiosas
e dentro dos limites estabelecidos pelo direito internacional público e pelas normas As responsabilidades inerentes às atividades dos investigadores, incluindo o rigor, a
internacionais de direitos humanos. prudência, a honestidade intelectual e a integridade na realização das investigações,
bem como na apresentação e utilização das suas conclusões, devem ser objeto de
particular atenção no âmbito das investigações sobre o genoma humano, devido às
C. Investigação na área do genoma humano suas implicações éticas e sociais. Os responsáveis pela definição de políticas científicas
públicas e privadas têm também particulares responsabilidades neste domínio.

Artigo 10.º
Artigo 14.º
Nenhuma investigação na área do genoma humano ou respetivas aplicações, em
particular nas áreas da biologia, da genética e da medicina, deve prevalecer sobre o Os Estados devem adotar medidas adequadas para fomentar as condições intelectuais
respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela dignidade das e materiais favoráveis à liberdade na realização de investigações sobre o genoma
pessoas ou, se for caso disso, dos grupos de pessoas. humano e ter em conta as implicações éticas, jurídicas, sociais e económicas de tais
investigações, com base nos princípios enunciados na presente Declaração.

Artigo 11.º
Artigo 15.º
As práticas que sejam contrárias à dignidade humana, como a clonagem de seres
humanos para fins reprodutivos, não serão permitidas. Os Estados e as organizações Os Estados devem tomar providências adequadas para proporcionar um
internacionais competentes são convidados a cooperar na identificação de tais práticas enquadramento favorável ao livre exercício da investigação sobre o genoma humano
e na adoção, a nível nacional ou internacional, das medidas necessárias para garantir o tendo devidamente em conta os princípios enunciados na presente Declaração, a fim de
respeito dos princípios enunciados na presente Declaração. salvaguardar o respeito pelos direitos humanos, liberdades fundamentais e dignidade
humana e proteger a saúde pública. Devem tentar assegurar-se de que os resultados
das investigações não são utilizados para fins não pacíficos.

5 6
Artigo 16.º humana e da genética, tendo em consideração os seus problemas
específicos;
Os Estados devem reconhecer o valor da promoção, a vários níveis e conforme
necessário, do estabelecimento de comités de ética independentes, multidisciplinares e (iii) Que os países em vias de desenvolvimento beneficiem dos resultados
pluralistas, a fim de estudar as questões éticas, jurídicas e sociais suscitadas pelas da investigação científica e tecnológica, para que a sua utilização em prol
investigações sobre o genoma humano e suas aplicações. do progresso económico e social possa ser benéfica para todos;

(iv) Que se promova o livre intercâmbio de conhecimentos científicos e de


informação nas áreas da biologia, da genética e da medicina.
E. Solidariedade e cooperação internacional
b) As organizações internacionais competentes devem apoiar e promover as
iniciativas tomadas pelos Estados para os fins acima referidos.
Artigo 17.º

Os Estados devem respeitar e promover a prática da solidariedade para com indivíduos,


F. Promoção dos princípios consagrados na Declaração
famílias e grupos da população que estejam particularmente vulneráveis ou sejam
afetados por doença ou deficiência de natureza genética. Devem fomentar,
nomeadamente, a investigação sobre a identificação, prevenção e tratamento das
Artigo 20.º
doenças de origem genética e influenciadas por fatores genéticos, em particular
doenças raras, bem como doenças endémicas que afetem uma parte considerável da Os Estados devem tomar medidas adequadas para promover os princípios consagrados
população mundial. na Declaração, através da educação e de outros meios pertinentes, nomeadamente
mediante a realização de atividades de investigação e formação em áreas
interdisciplinares e a promoção da educação em matéria de bioética, a todos os níveis,
Artigo 18.º em particular para os responsáveis pelas políticas científicas.

Os Estados devem envidar todos os esforços, tendo devida e adequadamente em conta


os princípios consagrados na presente Declaração, para continuar a fomentar a difusão,
Artigo 21.º
a nível internacional, de conhecimentos científicos relativos ao genoma humano, à
diversidade humana e à investigação na área da genética e, a este respeito, para Os Estados devem tomar medidas apropriadas para promover outras formas de
promover a cooperação científica e cultural, particularmente entre países investigação, formação e divulgação de informação que fomentem a sensibilização da
industrializados e países em vias de desenvolvimento. sociedade e de todos os seus membros para as suas responsabilidades associadas às
questões fundamentais relativas à defesa da dignidade humana que podem ser
suscitadas pela investigação na área da biologia, da genética e da medicina, e suas
Artigo 19.º aplicações. Devem também tentar facilitar uma discussão aberta, a nível internacional,
sobre esta matéria, garantindo a livre expressão de diversas opiniões socioculturais,
a) No âmbito da cooperação internacional com os países em vias de
religiosas e filosóficas.
desenvolvimento, os Estados devem tentar fomentar a adoção de medidas que
permitam:

(i) Que se proceda a uma avaliação dos riscos e benefícios das


investigações sobre o genoma humano e que se previnam os abusos;

(ii) Que se desenvolva e reforce a capacidade dos países em vias de


desenvolvimento para levar a cabo investigações na área da biologia

7 8
G. Aplicação da Declaração

Artigo 22.º

Os Estados devem envidar todos os esforços para promover os princípios consagrados


na presente Declaração e devem promover a sua aplicação, através de todas as
medidas adequadas.

Artigo 23.º

Os Estados devem adotar medidas apropriadas com vista a promover, através da


educação, formação e divulgação de informação, o respeito pelos princípios acima
mencionados e fomentar o seu reconhecimento e efetiva aplicação. Os Estados devem
também encorajar os intercâmbios e a criação de redes entre os comités independentes
de ética, à medida que os mesmos forem sendo estabelecidos, a fim de fomentar a sua
plena colaboração.

Artigo 24.º

O Comité Internacional de Bioética da UNESCO deve contribuir para a divulgação dos


princípios consagrados na presente Declaração e para o aprofundamento do estudo das
questões suscitadas pelas suas aplicações e pela evolução das tecnologias em causa.
Deve organizar consultas apropriadas com as partes interessadas, tais como grupos
vulneráveis. Deve formular recomendações, em conformidade com os procedimentos
estatutários da UNESCO, dirigidas à Conferência Geral, e dar parecer quanto ao
seguimento a dar à presente Declaração, em particular no que diz respeito à
identificação de práticas que possam ser contrárias à dignidade humana, como as
intervenções na linha germinal.

Artigo 25.º

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada no sentido de


implicar, para qualquer Estado, grupo ou indivíduo, o direito de se envolver em
qualquer atividade ou de praticar qualquer ato contrário aos direitos humanos e
liberdades fundamentais, e nomeadamente aos princípios consagrados na presente
Declaração.

9
CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO, DE 9 DE e) Transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo.
DEZEMBRO DE 1948
Artigo 3.º
As Partes Contratantes:
Serão punidos os seguintes actos:
Considerando que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, na sua
a) O genocídio;
Resolução n.º 96 (I), de 11 de Dezembro de 1946, declarou que o genocídio é um crime
de direito dos povos, que está em contradição com o espírito e os fins das Nações b) O acordo com vista a cometer genocídio;
Unidas e é condenado por todo o mundo civilizado;
c) O incitamento, directo e público, ao genocídio;
Reconhecendo que em todos os períodos da história o genocídio causou grandes
perdas à humanidade; d) A tentativa de genocídio;

Convencidas de que, para libertar a humanidade de um flagelo tão odioso, é necessária e) A cumplicidade no genocídio.

a cooperação internacional;
Artigo 4.º

acordam no seguinte:
As pessoas que tenham cometido genocídio ou qualquer dos outros actos enumerados

Artigo 1.º no artigo 3.º serão punidas, quer sejam governantes, funcionários ou particulares.

As Partes Contratantes confirmam que o genocídio, seja cometido em tempo de paz ou Artigo 5.º

em tempo de guerra, é um crime do direito dos povos, que desde já se comprometem a


As Partes Contratantes obrigam-se a adoptar, de acordo com as suas Constituições
prevenir e a punir.
respectivas, as medidas legislativas necessárias para assegurar a aplicação das

Artigo 2.º disposições da presente Convenção e, especialmente, a prever sanções penais eficazes
que recaiam sobre as pessoas culpadas de genocídio ou de qualquer dos actos
Na presente Convenção, entende-se por genocídio os actos abaixo indicados, cometidos enumerados no artigo 3.º
com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, tais como: Artigo 6.º

a) Assassinato de membros do grupo; As pessoas acusadas de genocídio ou de qualquer dos outros actos enumerados no
artigo 3.º serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território o acto
b) Atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo; foi cometido ou pelo tribunal criminal internacional que tiver competência quanto às
Partes Contratantes que tenham reconhecido a sua jurisdição.
c) Submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a
sua destruição física, total ou parcial; Artigo 7.º

d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; O genocídio e os outros actos enumerados no artigo 3.º não serão considerados crimes
políticos, para efeitos de extradição.

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Em tal caso, as Partes Contratantes obrigam-se a conceder a extradição de acordo com Artigo 12.º
a sua legislação e com os tratados em vigor.
As Partes Contratantes poderão, em qualquer momento e por notificação dirigida ao
Artigo 8.º Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, estender a aplicação da presente
Convenção a todos os territórios ou a qualquer dos territórios cujas relações exteriores
As Partes Contratantes podem recorrer aos órgãos competentes da Organização das
assumam.
Nações Unidas para que estes, de acordo com a Carta das Nações Unidas, tomem as
medidas que julguem apropriadas para a prevenção e repressão dos actos de genocídio Artigo 13.º
ou dos outros actos enumerados no artigo 3.º
Quando tiverem sido depositados os primeiros 20 instrumentos de ratificação ou de
Artigo 9.º adesão, o Secretário-Geral registará o facto em acta. Transmitirá cópia dessa acta a
todos os Estados membros da Organização das Nações Unidas e aos Estados não
Os diferendos entre as Partes Contratantes relativos à interpretação, aplicação ou
membros referidos no artigo 11.º
execução da presente Convenção, incluindo os diferendos relativos à responsabilidade
de um Estado em matéria de genocídio ou de qualquer dos actos enumerados no artigo A presente Convenção entrará em vigor no 90.º dia após a data do depósito do 20.º
3.º, serão submetidos ao Tribunal Internacional de Justiça, a pedido de uma das partes instrumento de ratificação ou de adesão.
do diferendo.
Todas as ratificações ou adesões efectuadas posteriormente à última data produzirão
Artigo 10.º efeito no 90.º dia após o depósito do instrumento de ratificação ou de adesão.

A presente Convenção, cujos textos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo são Artigo 14.º
igualmente válidos, será datada de 9 de Dezembro de 1948.
A presente Convenção terá uma duração de 10 anos contados da data da sua entrada
Artigo 11.º em vigor.

A presente Convenção estará aberta, até 31 de Dezembro de 1949, à assinatura de Após esse período, ficará em vigor por cinco anos, e assim sucessivamente, para as
todos os membros da Organização das Nações Unidas e de todos os Estados que, não Partes Contratantes que a não tiverem denunciado seis meses pelo menos antes de
sendo membros, tenham sido convidados pela Assembleia Geral para esse efeito. expirar o termo.

A presente Convenção será ratificada e os instrumentos de ratificação serão A denúncia será feita por notificação escrita, dirigida ao Secretário-Geral da Organização
depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. das Nações Unidas.

Após 1 de Janeiro de 1950 poderão aderir à presente Convenção os membros da Artigo 15.º
Organização das Nações Unidas ou os Estados que, não sendo membros, tenham
Se, em consequência de denúncias, o número das partes na presente Convenção se
recebido o convite acima mencionado.
achar reduzido a menos de 16, a Convenção deixará de estar em vigor a partir da data
Os instrumentos de adesão serão depositados junto do Secretário-Geral da Organização em que produzir efeitos a última dessas denúncias.
das Nações Unidas.

3 4
Artigo 16.º Declaração da República Portuguesa relativa ao artigo 7.º da Convenção para a
Prevenção e Repressão do Genocídio, adoptada pela Assembleia Geral das Nações
As Partes Contratantes poderão, a todo o tempo, formular um pedido de revisão da
Unidas em 9 de Dezembro de 1948.
presente Convenção, mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral.
A República Portuguesa declara que interpretará o artigo 7.º da Convenção para a
A Assembleia Geral deliberará sobre as medidas a tomar, se for o caso, sobre esse
Prevenção e Repressão do Genocídio de acordo com o seguinte sentido:
pedido.
A obrigação de extradição prevista no artigo 7.º apenas existirá caso a Constituição da
Artigo 17.º
República Portuguesa e demais legislação nacional não a proíba.

O Secretário-Geral das Nações Unidas notificará todos os Estados membros da


Organização e os Estados não membros referidos no artigo 11.º:

a) Das assinaturas, ratificações e adesões recebidas em aplicação do artigo 11.º;

b) Das notificações recebidas em aplicação do artigo 12.º;

c) Da data da entrada em vigor da presente Convenção, em aplicação do artigo


13.º;

d) Das denúncias recebidas em aplicação do artigo 14.º;

e) Da revogação da Convenção em aplicação do artigo 15.º;

f) Das notificações recebidas em aplicação do artigo 16.º

Artigo 18.º

O original da presente Convenção ficará depositado nos arquivos da Organização das


Nações Unidas.

A todos os Estados membros da Organização das Nações Unidas e aos Estados não
membros referidos no artigo 11.º serão enviadas cópias autenticadas.

Artigo 19.º

A presente Convenção será registada pelo Secretário-Geral da Organização das Nações


Unidas na data da sua entrada em vigor.

5 6
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTRAS PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES 2 - A fim de determinar da existência de tais motivos, as autoridades competentes terão em conta
todas as considerações pertinentes, incluindo, eventualmente, a existência no referido Estado de um
Os Estados partes na presente Convenção: conjunto de violações sistemáticas, graves, flagrantes ou massivas dos direitos do homem.
Considerando que, em conformidade com os princípios enunciados na Carta das Nações Unidas, o
reconhecimento de direitos iguais e inalienáveis de todas as pessoas é o fundamento da liberdade, da ARTIGO 4.º
justiça e da paz no Mundo;
1 - Os Estados partes providenciarão para que todos os actos de tortura sejam considerados infracções
Reconhecendo que esses direitos resultam da dignidade inerente ao ser humano;
ao abrigo do seu direito criminal. O mesmo deverá ser observado relativamente à tentativa de prática
Considerando que os Estados devem, em conformidade com a Carta, em especial com o seu artigo de tortura ou de um acto cometido por qualquer pessoa constituindo cumplicidade ou participação no
55.º, encorajar o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais; acto de tortura.
Tendo em consideração o artigo 5.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e o artigo 7.º do 2 - Os Estados partes providenciarão no sentido de que essas infracções sejam passíveis de penas
Pacto Internacional Relativo aos Direitos Civis e Políticos, que preconizam que ninguém deverá ser adequadas à sua gravidade.
submetido a tortura ou a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;
Tendo igualmente em consideração a Declaração sobre a Protecção de Todas as Pessoas contra a ARTIGO 5.º
Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adoptada pela Assembleia
Geral a 9 de Dezembro de 1975; 1 - Os Estados partes deverão tomar as medidas necessárias para estabelecer a sua competência
Desejosos de aumentar a eficácia da luta contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, relativamente às infracções previstas no artigo 4.º nos seguintes casos:
desumanos ou degradantes em todo o Mundo: a) Sempre que a infracção tenha sido cometida em qualquer território sob a sua
Acordaram no seguinte: jurisdição ou a bordo de uma nave ou navio registados nesse Estado;
b) Sempre que o presumível autor da infracção seja um nacional desse Estado;
PARTE I
c) Sempre que a vítima seja um nacional desse Estado e este o considere adequado.

ARTIGO 1.º 2 - Os Estados partes deverão igualmente tomar as medidas necessárias com vista a estabelecer a sua
competência relativamente às referidas infracções sempre que o autor presumido se encontre em
qualquer território sob a sua jurisdição e se não proceda à sua extradição, em conformidade com o
1 - Para os fins da presente Convenção, o termo «tortura» significa qualquer acto por meio do qual
artigo 8.º, para um dos Estados mencionados no n.º 1 do presente artigo.
uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa com
os fins de, nomeadamente, obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões, a punir 3 - As disposições da presente Convenção não prejudicam qualquer competência criminal exercida em
por um acto que ela ou uma terceira pessoa cometeu ou se suspeita que tenha cometido, intimidar ou conformidade com as leis nacionais.
pressionar essa ou uma terceira pessoa, ou por qualquer outro motivo baseado numa forma de
discriminação, desde que essa dor ou esses sofrimentos sejam infligidos por um agente público ou ARTIGO 6.º
qualquer outra pessoa agindo a título oficial, a sua instigação ou com o seu consentimento expresso ou
tácito. Este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções 1 - Sempre que considerem que as circunstâncias o justificam, após terem examinado as informações
legítimas, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionados. de que dispõem, os Estados partes em cujo território se encontrem pessoas suspeitas de terem
2 - O presente artigo não prejudica a aplicação de qualquer instrumento internacional ou lei nacional cometido qualquer das infracções previstas no artigo 4.º deverão assegurar a detenção dessas pessoas
que contenha ou possa vir a conter disposições de âmbito mais vasto. ou tomar quaisquer outras medidas legais necessárias para assegurar a sua presença. Tanto a
detenção como as medidas a tomar deverão ser conformes à legislação desse Estado e apenas poderão
ARTIGO 2.º ser mantidas pelo período de tempo necessário à elaboração do respectivo processo criminal ou de
extradição.

1 - Os Estados partes tomarão as medidas legislativas, administrativas, judiciais ou quaisquer outras 2 - Os referidos Estados deverão proceder imediatamente a um inquérito preliminar com vista ao
que se afigurem eficazes para impedir que actos de tortura sejam cometidos em qualquer território sob apuramento dos factos.
a sua jurisdição. 3 - Qualquer pessoa detida em conformidade com o n.º 1 do presente artigo poderá entrar
2 - Nenhuma circunstância excepcional, qualquer que seja, quer se trate de estado de guerra ou de imediatamente em contacto com o mais próximo representante qualificado do Estado do qual seja
ameaça de guerra, de instabilidade política interna ou de outro estado de excepção, poderá ser nacional ou, tratando-se de apátrida, com o representante do Estado em que resida habitualmente.
invocada para justificar a tortura. 4 - Sempre que um Estado detenha uma pessoa, em conformidade com as disposições do presente
3 - Nenhuma ordem de um superior ou de uma autoridade pública poderá ser invocada para justificar a artigo, deverá imediatamente notificar os Estados mencionados no n.º 1 do artigo 5.º dessa detenção e
tortura. das circunstâncias que a motivaram. O Estado que proceder ao inquérito preliminar referido no n.º 2 do
presente artigo comunicará aos referidos Estados, o mais rapidamente possível, as conclusões desse
ARTIGO 3.º inquérito e bem assim se pretende ou não exercer a sua competência.

1 - Nenhum Estado parte expulsará, entregará ou extraditará uma pessoa para um outro Estado
quando existam motivos sérios para crer que possa ser submetida a tortura.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
ARTIGO 7.º ARTIGO 11.º

1 - Se o autor presumido de uma das infracções referidas no artigo 4.º for encontrado no território sob Os Estados partes deverão exercer uma vigilância sistemática relativamente à aplicação das normas,
a jurisdição de um Estado parte que o não extradite, esse Estado submeterá o caso, nas condições instruções, métodos e práticas de interrogatório, e bem assim das disposições relativas à guarda e ao
previstas no artigo 5.º, às suas autoridades competentes para o exercício da acção criminal. tratamento das pessoas sujeitas a qualquer forma de prisão, detenção ou encarceramento, em todos
2 - Estas autoridades tomarão uma decisão em condições idênticas às de qualquer infracção de direito os territórios sob a sua jurisdição, a fim de evitar qualquer caso de tortura.
comum de carácter grave, em conformidade com a legislação desse Estado. Nos casos previstos no n.º
2 do artigo 5.º, as normas relativas à produção de prova aplicáveis ao procedimento e à condenação ARTIGO 12.º
não deverão ser, de modo algum, menos rigorosas que as aplicáveis nos casos mencionados no n.º 1
do artigo 5.º Os Estados partes deverão providenciar para que as suas autoridades competentes procedam
imediatamente a um rigoroso inquérito sempre que existam motivos razoáveis para crer que um acto
3 - Qualquer pessoa arguida da prática de uma das infracções previstas no artigo 4.º beneficiará da
de tortura foi praticado em qualquer território sob a sua jurisdição.
garantia de um tratamento justo em todas as fases do processo.

ARTIGO 13.º
ARTIGO 8.º

Os Estados partes deverão garantir às pessoas que aleguem ter sido submetidas a tortura em qualquer
1 - As infracções previstas no artigo 4.º serão consideradas incluídas em qualquer tratado de
território sob a sua jurisdição o direito de apresentar queixa perante as autoridades competentes
extradição existente entre os Estados partes. Estes comprometem-se a incluir essas infracções em
desses Estados, que procederão de imediato ao exame rigoroso do caso. Deverão ser tomadas medidas
qualquer tratado de extradição que venha a ser concluído entre eles.
para assegurar a protecção do queixoso e das testemunhas contra maus tratos ou intimidações em
2 - Sempre que a um Estado parte que condiciona a extradição à existência de um tratado for virtude da apresentação da queixa ou da prestação de declarações.
apresentado um pedido de extradição por um outro Estado parte com o qual não tenha celebrado
qualquer tratado de extradição, esse Estado pode considerar a presente Convenção como base jurídica ARTIGO 14.º
da extradição relativamente a essas infracções. A extradição ficará sujeita às demais condições
previstas pela legislação do Estado requerido.
1 - Os Estados partes deverão providenciar para que o seu sistema jurídico garanta à vítima de um
3 - Os Estados partes que não condicionam a extradição à existência de um tratado deverão acto de tortura o direito de obter uma reparação e de ser indemnizada em termos adequados, incluindo
reconhecer essas infracções como casos de extradição entre eles nas condições previstas pela os meios necessários à sua completa reabilitação. Em caso de morte da vítima como consequência de
legislação do Estado requerido. um acto de tortura, a indemnização reverterá a favor dos seus herdeiros.
4 - Para fins de extradição entre os Estados partes, tais infracções serão consideradas como tendo sido 2 - O presente artigo não exclui qualquer direito a indemnização que a vítima ou outra pessoa possam
cometidas tanto no local da sua perpetração como no território sob jurisdição dos Estados cuja ter por força das leis nacionais.
competência deve ser estabelecida ao abrigo do n.º 1 do artigo 5.º
ARTIGO 15.º
ARTIGO 9.º
Os Estados partes deverão providenciar para que qualquer declaração que se prove ter sido obtida pela
1 - Os Estados partes comprometem-se a prestar toda a colaboração possível em qualquer processo tortura não possa ser invocada como elemento de prova num processo, salvo se for utilizada contra a
criminal relativo às infracções previstas no artigo 4.º, incluindo a transmissão de todos os elementos de pessoa acusada da prática de tortura para provar que a declaração foi feita.
prova de que disponham necessários ao processo.
2 - Os Estados partes deverão cumprir o disposto no n.º 1 do presente artigo em conformidade com ARTIGO 16.º
qualquer tratado de assistência judiciária em vigor entre eles
1 - Os Estados partes comprometem-se a proibir, em todo o território sob a sua jurisdição, quaisquer
ARTIGO 10.º outros actos que constituam penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes e não sejam
actos de tortura, tal como é definida no artigo 1.º, sempre que tais actos sejam cometidos por um
1 - Os Estados partes deverão providenciar para que a instrução e a informação relativas à proibição da agente público ou qualquer outra pessoa agindo a título oficial, a sua instigação ou com o seu
tortura constituam parte integrante da formação do pessoal civil ou militar encarregado da aplicação da consentimento expresso ou tácito. Nomeadamente, as obrigações previstas nos artigos 10.º, 11.º, 12.º
lei, do pessoal médico, dos agentes da função pública e de quaisquer outras pessoas que possam e 13.º deverão ser aplicadas substituindo a referência a tortura pela referência a outras formas de
intervir na guarda, no interrogatório ou no tratamento dos indivíduos sujeitos a qualquer forma de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
prisão, detenção ou encarceramento. 2 - As disposições da presente Convenção não prejudicam a aplicação das disposições de qualquer
2 - Os Estados partes deverão incluir esta proibição nas normas ou instruções emitidas relativamente outro instrumento internacional ou da lei nacional que proíbam as penas ou tratamentos cruéis,
às obrigações e atribuições das pessoas referidas no n.º 1. desumanos ou degradantes ou digam respeito à extradição ou a expulsão.

3 4
PARTE II 4 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas convocará os membros do Comité para a
primeira reunião. Após a realização da primeira reunião, o Comité reunir-se-á nas ocasiões previstas
ARTIGO 17.º pelo seu regulamento interno.
5 - Os Estados partes encarregar-se-ão das despesas decorrentes da realização das reuniões
1 - Será formado um Comité contra a Tortura (adiante designado por Comité), que terá as funções a efectuadas pelos Estados partes e pelo Comité, incluindo o reembolso à Organização das Nações Unidas
seguir definidas. O Comité será composto por dez peritos de elevado sentido moral e reconhecida de todas as despesas, nomeadamente as relativas ao pessoal e ao custo de instalações, que a
competência no domínio dos direitos do homem, que terão assento a título pessoal. Os peritos serão Organização tenha efectuado em conformidade com o n.º 3 do presente artigo*.
eleitos pelos Estados partes tendo em conta uma distribuição geográfica equitativa e o interesse que
representa a participação nos trabalhos do Comité de pessoas com experiência jurídica. ARTIGO 19.º
2 - Os membros do Comité serão eleitos por escrutínio secreto de uma lista de candidatos designados
pelos Estados partes. Cada Estado parte poderá designar um candidato escolhido de entre os seus 1 - Os Estados partes apresentarão ao Comité, através do Secretário-Geral da Organização das Nações
nacionais. Os Estados partes deverão ter em conta a conveniência de designar candidatos que sejam Unidas, relatórios sobre as medidas que tenham tomado para cumprir os compromissos assumidos ao
igualmente membros do Comité dos Direitos do Homem, instituído em virtude do Pacto Internacional abrigo da presente Convenção no prazo de um ano a contar da data da entrada em vigor da presente
Relativo aos Direitos Civis e Políticos, e que estejam dispostos a fazer parte do Comité contra a Convenção relativamente ao Estado parte interessado. Posteriormente, os Estados partes apresentarão
Tortura. relatórios complementares, de quatro em quatro anos, sobre quaisquer novas medidas tomadas e
3 - Os membros do Comité serão eleitos nas reuniões bienais dos Estados partes, convocadas pelo ainda todos os relatórios solicitados pelo Comité.
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Nessas reuniões, em que o quórum será 2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas transmitirá os referidos relatórios a todos os
constituído por dois terços dos Estados partes, serão eleitos membros do Comité os candidatos que Estados partes.
obtenham o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados
3 - Os relatórios serão analisados pelo Comité, o qual poderá fazer-lhes comentários de ordem geral
partes presentes e votantes.
que considere apropriados, transmitindo, de seguida, esses comentários aos Estados partes
4 - A primeira eleição terá lugar, o mais tardar, seis meses após a data de entrada em vigor da interessados. Estes Estados poderão comunicar ao Comité, em resposta, quaisquer observações que
presente Convenção. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas enviará uma carta aos considerem úteis.
Estados partes, com pelo menos quatro meses de antecedência sobre a data de cada eleição,
4 - O Comité poderá decidir, por sua iniciativa, reproduzir no relatório anual, a elaborar em
convidando-os a apresentar as suas candidaturas num prazo de três meses. O Secretário-Geral
conformidade com o artigo 24.º, todos os comentários por ele formulados nos termos do n.º 3 do
preparará uma lista por ordem alfabética de todos os candidatos assim designados, com indicação dos
presente artigo, acompanhados das observações transmitidas pelos Estados partes. Caso os Estados
Estados partes que os indicaram, e comunicá-la-á aos Estados partes.
partes interessados o solicitem, o Comité poderá, igualmente, reproduzir o relatório apresentado ao
5 - Os membros do Comité serão eleitos por quatro anos. Poderão ser reeleitos desde que sejam abrigo do n.º 1 do presente artigo.
novamente designados. No entanto, o mandato de cinco dos membros eleitos na primeira eleição
terminará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, o nome desses cinco membros ARTIGO 20.º
será tirado à sorte pelo presidente da reunião mencionada no n.º 3 do presente artigo.
6 - No caso de um membro do Comité falecer, se demitir das suas funções ou não poder, por qualquer 1 - Caso o Comité receba informações idóneas que pareçam conter indicações bem fundadas de que a
motivo, desempenhar as suas atribuições no Comité, o Estado parte que o designou nomeará, de entre tortura é sistematicamente praticada no território de um Estado parte, convidará o referido Estado a
os seus nacionais, um outro perito que cumprirá o tempo restante do mandato, sob reserva da cooperar na análise dessas informações e, para esse fim, a comunicar-lhe as suas observações sobre
aprovação da maioria dos Estados partes. Esta aprovação será considerada como obtida, salvo se essa questão.
metade ou mais dos Estados partes emitirem uma opinião desfavorável num prazo de seis semanas a 2 - Tendo em consideração todas as observações que o Estado parte interessado tenha,
contar da data em que forem informados pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas da eventualmente, apresentado, bem assim as demais informações pertinentes de que disponha, o Comité
nomeação proposta. poderá, caso o julgue necessário, encarregar um ou mais dos seus membros de procederem a um
7 - Os Estados partes terão a seu cargo as despesas dos membros do Comité durante o período de inquérito confidencial, apresentando o respectivo relatório ao Comité com a máxima urgência.
exercício das suas funções no Comité*. 3 - Caso se efectue um inquérito ao abrigo do disposto no n.º 2 do presente artigo, o Comité procurará
obter a cooperação do Estado parte interessado. Por acordo com esse Estado parte, o referido inquérito
ARTIGO 18.º poderá englobar uma visita ao seu território.
4 - Após ter examinado as conclusões do relatório apresentado pelo membro ou membros, de acordo
1 - O Comité elegerá o seu gabinete por um período de dois anos, podendo os membros do gabinete
com o n.º 2 do presente artigo, o Comité transmitirá essas conclusões ao Estado parte interessado,
ser reeleitos.
acompanhadas de todos os comentários ou sugestões que o Comité considere apropriados à situação.
2 - O Comité elaborará o seu regulamento interno, do qual deverão constar, entre outras, as seguintes
5 - Todos os trabalhos elaborados pelo Comité a que se faz referência nos nºs 1 a 4 do presente artigo
disposições:
terão carácter confidencial, procurando-se obter a cooperação do« Estado parte nas várias etapas dos
a) O quórum será de seis membros; trabalhos. Concluídos os trabalhos relativos a um inquérito elaborado nos termos do disposto no n.º 2,
b) As decisões do Comité serão tomadas pela maioria dos membros presentes. o Comité poderá, após consultas com o Estado parte interessado, decidir integrar um resumo sucinto
dos resultados desses trabalhos no relatório anual a elaborar em conformidade com o artigo 24.º.
3 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas porá à disposição do Comité o pessoal e as
instalações necessários para o desempenho eficaz das funções que lhe serão confiadas ao abrigo da
presente Convenção.

5 6
ARTIGO 21.º ii) Se não for possível encontrar uma solução de acordo com as
disposições da alínea e), o Comité limitar-se-á, no seu relatório, a
1 - Qualquer Estado parte na presente Convenção poderá, em conformidade com o presente artigo, uma breve exposição dos factos; o texto contendo as observações
declarar a qualquer momento que reconhece a competência do Comité para receber e analisar escritas, bem assim o registo das observações orais apresentadas
comunicações dos Estados partes no sentido de que qualquer Estado parte não está a cumprir as suas pelos Estados partes interessados, serão anexados ao relatório.
obrigações decorrentes da presente Convenção. Tais comunicações só serão recebidas e analisadas, Os Estados partes interessados receberão o relatório de cada caso.
nos termos do presente artigo, se provierem de um Estado parte que tenha feito uma declaração
2 - As disposições do presente artigo entrarão em vigor logo que cinco Estados partes na presente
reconhecendo, no que lhe diz respeito, a competência do Comité. Este não analisará as comunicações
convenção tenham feito a declaração prevista no n.º 1 do presente artigo. A referida declaração será
relativas a Estados partes que não tenham feito a referida declaração. às comunicações recebidas ao
depositada pelo Estado parte junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual
abrigo do presente artigo aplicar-se-á o seguinte procedimento:
transmitirá cópia aos outros Estados partes. As declarações poderão ser retiradas a qualquer momento
a) Se um Estado parte na presente Convenção considerar que outro Estado mediante notificação dirigida ao Secretário-Geral. Tal retirada não prejudicará a análise de qualquer
igualmente parte não está a aplicar as disposições da Convenção, poderá chamar a questão já comunicada ao abrigo do presente artigo. O Secretário-Geral não receberá qualquer
atenção desse Estado, por comunicação escrita, sobre a questão. Num prazo de três comunicação de um Estado parte que já tenha feito notificação da retirada da sua declaração, salvo se
meses a contar da data da recepção da comunicação, o Estado destinatário fornecerá esse Estado parte tiver apresentado uma nova declaração.
ao Estado que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações
escritas sobre a questão, as quais deverão conter, na medida do possível e ARTIGO 22.º
conveniente, indicações sobre as suas normas processuais e sobre as vias de recurso
já utilizadas, pendentes ou ainda possíveis;
1 - Qualquer Estado parte na presente Convenção poderá, ao abrigo do presente artigo, declarar a
b) Se, num prazo de seis meses a contar da data da recepção da comunicação inicial qualquer momento que reconhece a competência do Comité para receber e analisar as comunicações
pelo Estado destinatário, a questão ainda não estiver regulada a contento dos dois apresentadas por ou em nome de particulares sujeitos à sua jurisdição e que afirmem terem sido
Estados partes interessados, tanto um como o outro poderão submeter a questão ao vítimas de violação, por um Estado parte, das disposições da Convenção. O Comité não aceitará
Comité, por meio de notificação, enviando igualmente uma notificação ao outro Estado quaisquer comunicações referentes a Estados partes que não tenham feito a referida declaração.
parte interessado;
2 - O Comité deverá declarar inaceitáveis as comunicações apresentadas ao abrigo do presente artigo
c) O Comité só poderá analisar uma questão a ele submetida ao abrigo do presente que sejam anónimas ou que considere constituírem um abuso do direito de apresentação de tais
artigo depois de se ter certificado de que foram utilizados exaustivamente todos os comunicações, ou ainda que sejam incompatíveis com as disposições da presente Convenção.
recursos internos disponíveis, de acordo com os princípios de direito internacional
3 - Sem prejuízo do disposto no n.º 2, o Comité dará a conhecer qualquer comunicação, que lhe seja
geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará aos casos em que os processos
apresentada ao abrigo do presente artigo, ao Estado parte na presente Convenção que tenha feito uma
de recurso excedam prazos razoáveis, nem quando seja pouco provável que os
declaração ao abrigo do n.º 1 e tenha, alegadamente, violado alguma das disposições da presente
processos de recurso venham a compensar a pessoa vítima de violação da presente
Convenção. Nos seis meses seguintes, o referido Estado apresentará por escrito ao Comité as
Convenção;
explicações ou declarações que esclareçam a questão, indicando, se for caso disso, as medidas que
d) As comunicações previstas no presente artigo serão analisadas pelo Comité em poderiam ter sido tomadas a fim de solucionar a questão.
sessões à porta fechada;
4 - O Comité analisará as comunicações recebidas ao abrigo do presente artigo, tendo em consideração
e) Sem prejuízo do disposto na alínea c), o Comité ficará à disposição dos Estados todas as informações submetidas por ou em nome de um particular e pelo Estado parte interessado.
partes interessados, com vista à obtenção de uma solução amigável da questão, tendo
5 - O Comité só analisará a informação de um particular, de acordo com o presente artigo, após se
por base o respeito das obrigações previstas pela presente Convenção. Para esse fim,
certificar de que:
o Comité poderá, caso considere oportuno, estabelecer uma comissão de
conciliação ad hoc; a) Essa questão não constituiu nem constitui objecto de análise por parte de outra
instância internacional de inquérito ou de decisão;
f) O Comité poderá solicitar aos Estados partes interessados, mencionados na alínea
b), que lhe forneçam todas as informações pertinentes de que disponham b) O particular já esgotou todos os recursos internos disponíveis; esta norma não se
relativamente a qualquer assunto que lhe seja submetido nos termos do presente aplicará aos casos em que os processos de recurso excedam prazos razoáveis, nem
artigo; quando seja pouco provável que os processos de recurso venham a compensar a
pessoa vítima de violação da presente Convenção.
g) Os Estados partes interessados, mencionados na alínea b), têm o direito de se
fazerem representar, sempre que um caso seja analisado pelo Comité, bem como de 6 - As comunicações previstas no presente artigo serão analisadas pelo Comité em sessões à porta
apresentarem as suas observações, oralmente ou por escrito, bem assim por ambas fechada.
as formas; 7 - O Comité comunicará as suas conclusões ao Estado parte interessado e ao particular.
h) O Comité deverá apresentar um relatório num prazo de doze meses a contar da 8 - As disposições do presente artigo entrarão em vigor logo que cinco Estados partes na presente
data da recepção da notificação referida na alínea b): Convenção tenham feito a declaração prevista no n.º 1 do presente artigo. A referida declaração será
i) Se for possível alcançar uma solução de acordo com as disposições depositada pelo Estado parte junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual
da alínea e), o Comité poderá limitar-se, no seu relatório, a uma transmitirá cópia aos outros Estados partes. As declarações poderão ser retiradas a qualquer momento
breve exposição dos factos e da solução alcançada; mediante notificação dirigida ao Secretário-Geral. Tal retirada não prejudicará a análise de qualquer
questão já comunicada ao abrigo do presente artigo; não serão, contudo, aceites quaisquer
comunicações apresentadas por ou em nome de um particular ao abrigo da presente Convenção, após

7 8
o Secretário-Geral ter recebido notificação da retirada da declaração, excepto se o Estado parte pronunciarem a favor da realização da referida conferência, o Secretário-Geral organizará a conferência
interessado apresentar uma nova declaração. sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. Qualquer alteração adoptada pela maioria dos
Estados partes presentes e votantes na conferência será submetida pelo Secretário-Geral à aceitação
ARTIGO 23.º de todos os Estados partes.
2 - Qualquer alteração adoptada de acordo com as disposições do n.º 1 do presente artigo entrará em
Os membros do Comité e os membros das comissões de conciliação ad hoc que venham a ser vigor logo que dois terços dos Estados partes na presente Convenção tenham informado o Secretário-
nomeados de acordo com as disposições da alínea e) do n.º 1 do artigo 21.º gozarão das facilidades, Geral da Organização das Nações Unidas de que a aceitam, em conformidade com o procedimento
dos privilégios e das imunidades concedidos aos peritos em missão para a Organização das Nações estabelecido nas suas constituições.
Unidas, tal como são enunciados nas respectivas secções da Convenção sobre os Privilégios e
3 - Logo que as alterações entrem em vigor, terão carácter obrigatório para todos os Estados partes
Imunidades das Nações Unidas.
que as aceitaram, ficando os outros Estados partes vinculados pelas disposições da presente
Convenção e por quaisquer alterações anteriores que tenham aceite.
ARTIGO 24.º

ARTIGO 30.º
O Comité apresentará aos Estados partes e à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas um
relatório anual sobre as actividades já empreendidas em aplicação da presente Convenção.
1 - Qualquer diferendo entre dois ou mais Estados partes relativo à interpretação ou aplicação da
presente Convenção que não possa ser regulado por via de negociação será submetido a arbitragem, a
PARTE III
pedido de um dos Estados partes. Se, num prazo de seis meses a contar da data do pedido de
arbitragem, as partes não chegarem a acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer dos
ARTIGO 25.º
Estados partes poderá submeter o diferendo ao Tribunal Internacional de Justiça, apresentando um
pedido em conformidade com o Estatuto do Tribunal.
1 - A presente Convenção fica aberta à assinatura de todos os Estados.
2 - Os Estados poderão, no momento da assinatura, ratificação ou adesão da presente Convenção,
2 - A presente Convenção fica sujeita a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados declarar que não se consideram vinculados pelas disposições do n.º 1 do presente artigo. Os outros
junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Estados partes não ficarão vinculados pelas referidas disposições relativamente aos Estados partes que
tenham feito tal reserva.
ARTIGO 26.º
3 - Qualquer Estado parte que tenha formulado uma reserva em conformidade com as disposições do
n.º 2 do presente artigo poderá, a qualquer momento, retirar essa reserva mediante notificação
Qualquer Estado poderá aderir à presente Convenção. A adesão será feita mediante depósito de um dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
ARTIGO 31.º
ARTIGO 27.º

1 - Qualquer Estado parte poderá denunciar a presente Convenção mediante notificação escrita dirigida
1 - A presente Convenção entrará em vigor no 30.º dia a partir da data do depósito do 20.º ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano após a
instrumento de ratificação ou de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. data em que o Secretário-Geral tenha recebido a notificação.
2 - Para os Estados que ratificarem a Convenção ou a ela aderirem após o depósito do 20.º 2 - Tal denúncia não desobrigará o Estado parte das obrigações que lhe incumbam em virtude da
instrumento de ratificação ou adesão, a presente Convenção entrará em vigor no 30.º dia a partir da presente Convenção, no que se refere a qualquer acto ou omissão cometidos antes da data em que a
data do depósito por esse Estado do seu instrumento de ratificação ou de adesão. denúncia produzir efeitos, nem obstará à continuação da análise de qualquer questão já apresentada
ao Comité à data em que a denúncia produzir efeitos.
ARTIGO 28.º
3 - Após a data em que a denúncia feita por um Estado parte produzir efeitos, o Comité não se
encarregará do exame de qualquer nova questão relativa a esse Estado.
1 - Qualquer Estado poderá, no momento da assinatura, ratificação ou adesão da presente Convenção,
declarar que não reconhece a competência concedida ao Comité nos termos do artigo 20.º
ARTIGO 32.º
2 - Qualquer Estado parte que tenha formulado uma reserva em conformidade com as disposições do
n.º 1 do presente artigo poderá, a qualquer momento, retirar essa reserva mediante notificação O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas notificará todos os Estados membros da
dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Organização das Nações Unidas, bem como todos os Estados que tenham assinado a presente
Convenção ou que a ela tenham aderido:
ARTIGO 29.º
a) Das assinaturas, ratificações e adesões recebidas em conformidade com os artigos
25.º e 26.º;
1 - Qualquer Estado parte na presente Convenção poderá propor uma alteração e depositar a sua
proposta junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral transmitirá a b) Da data de entrada em vigor da Convenção em conformidade com o artigo 27.º,
proposta de alteração aos Estados partes, solicitando-lhes que comuniquem se são favoráveis à bem como da data de entrada em vigor de qualquer alteração em conformidade com o
realização de uma conferência de Estados partes para analisarem a proposta e para a votarem. Se, nos artigo 29.º;
quatro meses que se seguirem à referida comunicação, pelo menos um terço dos Estados partes se c) Das denúncias recebidas em conformidade com o artigo 31.º

9 10
ARTIGO 33.º

1 - A presente Convenção, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo fazem
igualmente fé, será depositada junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas enviará cópia certificada da presente
Convenção a todos os Estados.

* A 8 de Setembro de 1992, a Conferência de Estados Partes adoptou uma emenda a este parágrafo, bem como ao parágrafo 5
do artigo 18.º, com vista a garantir que as despesas de funcionamento do Comité passem a ser suportadas pelo orçamento
regular das Nações Unidas. Estas emendas foram endossadas pela Assembleia Geral através da resolução 47/111, de 16 de
Dezembro de 1992 mas, até 31 de 2005, não haviam ainda entrado em vigor.

* Vide nota ao artigo 17.º, n.º 7.

« O texto publicado no Diário da República utiliza a expressão “[…] cooperação ao Estado Parte […]”; trata-se sem dúvida de
lapso, uma vez que a expressão correcta é “[…] cooperação do Estado Parte […]”, tradução fiel do original em língua inglesa
“[…] co-operation of the State Party […]”.

11
PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTRAS PENAS OU TRATAMENTOS CRUÉIS, 2 - O Subcomité para a Prevenção deverá realizar o seu trabalho no quadro da Carta das Nações
DESUMANOS OU DEGRADANTES Unidas e orientar-se pelos objetivos e princípios da mesma, bem como pelas normas das Nações
Unidas relativas ao tratamento de pessoas privadas de liberdade.
Adotado e aberto à assinatura em Nova Iorque, a 18 de dezembro de 2002, pela resolução 57/199 da Assembleia
Geral das Nações Unidas. 3 - O Subcomité para a Prevenção deverá também orientar-se pelos princípios da confidencialidade,
imparcialidade, não seletividade, universalidade e objetividade.
PREÂMBULO 4 - O Subcomité para a Prevenção e os Estados Partes deverão cooperar na aplicação do presente
Protocolo.
Os Estados Partes no presente Protocolo:
Reafirmando que a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes são Artigo 3.º
proibidos e constituem graves violações de direitos humanos;
Cada Estado Parte deverá criar, designar ou manter, a nível interno, um ou mais organismos de visita
Convencidos de que são necessárias medidas adicionais para alcançar os objetivos da Convenção
para a prevenção da tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes
contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (doravante
(doravante denominado mecanismo nacional de prevenção).
designada a Convenção) e reforçar a proteção das pessoas privadas de liberdade contra a tortura e
outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;
Artigo 4.º
Recordando que os artigos 2.º e 16.º da Convenção obrigam cada Estado Parte a tomar medidas
eficazes a fim de prevenir a ocorrência de atos de tortura e outras penas ou tratamentos cruéis,
1. Cada Estado Parte deverá autorizar os mecanismos referidos nos artigos 2.º e 3.º a visitarem, em
desumanos ou degradantes em qualquer território sob a sua jurisdição;
conformidade com o presente Protocolo, qualquer local sob a sua jurisdição e controlo onde se
Reconhecendo que incumbe aos Estados em primeiro lugar aplicar esses artigos, que o reforço da encontrem ou se possam encontrar pessoas privadas de liberdade, em virtude de uma ordem emanada
proteção das pessoas privadas de liberdade e o pleno respeito dos seus direitos humanos constituem de uma autoridade pública ou por instigação sua ou com o seu consentimento expresso ou tácito
uma responsabilidade comum partilhada por todos e que os organismos internacionais de aplicação (doravante denominados «locais de detenção»). Estas visitas deverão ser efetuadas com o objetivo de
complementam e reforçam as medidas nacionais; reforçar, se necessário, a proteção dessas pessoas contra a tortura e outras penas ou tratamentos
Recordando que uma prevenção eficaz da tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou cruéis, desumanos ou degradantes.
degradantes requer um programa de educação e a conjugação de diversas medidas legislativas, 2 - Para efeitos do presente Protocolo, entende-se por privação de liberdade qualquer forma de
administrativas, judiciais e outras; detenção ou prisão ou a colocação de uma pessoa num local de detenção público ou privado do qual
Recordando também que a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos declarou firmemente que os essa pessoa não possa sair por vontade própria, por ordem de qualquer autoridade judicial,
esforços tendentes a erradicar a tortura deverão, antes de mais, concentrar-se na prevenção, tendo administrativa ou outra.
apelado à adoção de um protocolo facultativo à Convenção, destinado a estabelecer um sistema
preventivo de visitas regulares a locais de detenção; PARTE II

Convencidos de que a proteção das pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outras penas ou
Subcomité para a Prevenção
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes pode ser reforçada através de meios não judiciais, de
caráter preventivo, baseados em visitas regulares a locais de detenção;
acordam no seguinte:
Artigo 5.º
PARTE I

1. O Subcomité para a Prevenção deverá ser composto por 10 membros. Após a quinquagésima
Princípios gerais
ratificação do presente Protocolo ou adesão ao mesmo, o número de membros do Subcomité para a
Prevenção deverá passar a 25.
2 - Os membros do Subcomité para a Prevenção deverão ser escolhidos de entre pessoas de elevado
Artigo 1.º caráter moral, com experiência profissional comprovada na área da administração da justiça, em
particular em matéria de direito penal, administração prisional ou policial, ou nas diversas áreas
relacionadas com o tratamento de pessoas privadas de liberdade.
O presente Protocolo tem por objetivo estabelecer um sistema de visitas regulares, efetuadas por
organismos internacionais e nacionais independentes, aos locais onde se encontram pessoas privadas 3 - Na composição do Subcomité para a Prevenção, dever-se-á ter devidamente em conta a
de liberdade, a fim de prevenir a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou necessidade de assegurar uma distribuição geográfica equitativa e a representação das diferentes
degradantes. formas de civilização e dos ordenamentos jurídicos dos Estados Partes.
4 - Nessa composição, dever-se-á também ter em conta a necessidade de assegurar uma
Artigo 2.º representação equilibrada dos géneros com base nos princípios da igualdade e da não discriminação.
5 - O Subcomité para a Prevenção não pode integrar mais do que um nacional de um mesmo Estado.
1. Deverá ser criado um Subcomité para a Prevenção da Tortura e de Outras Penas ou Tratamentos
Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comité contra a Tortura (doravante denominado o Subcomité
para a Prevenção), que deverá desempenhar as funções previstas no presente Protocolo.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
6 - Os membros do Subcomité para a Prevenção deverão exercer as suas funções a título pessoal, ser Artigo 8.º
independentes e imparciais, bem como estar disponíveis para exercer eficazmente as suas funções no
seio do Subcomité para a Prevenção. No caso de um membro do Subcomité para a Prevenção falecer, se demitir ou, por qualquer motivo,
não puder continuar a desempenhar as suas funções, o Estado Parte que o indicou deverá indicar outra
Artigo 6.º pessoa elegível detentora das qualificações e dos requisitos enunciados no artigo 5.º, tendo em conta a
necessidade de um equilíbrio adequado entre as diversas áreas de competência, para desempenhar
1. Cada Estado Parte pode, em conformidade com o n.º 2 do presente artigo, indicar no máximo dois funções até à reunião seguinte dos Estados Partes, sob reserva da aprovação da maioria dos Estados
candidatos que possuam as qualificações e satisfaçam os requisitos enunciados no artigo 5.º, e ao Partes. Considera-se que esta aprovação foi concedida, salvo se metade ou mais dos Estados Partes
fazê-lo deverá dar informação detalhada sobre as qualificações dos candidatos. emitirem uma opinião desfavorável no prazo de seis semanas a contar da data em que foram
informados pelo Secretário-Geral das Nações Unidas da nomeação proposta.
2.
a) Os candidatos indicados deverão ser nacionais de um Estado Parte no presente Protocolo;
b) Pelo menos um dos dois candidatos deverá ser nacional do Estado Parte proponente; Artigo 9.º

c) Não se deverá indicar mais do que dois candidatos nacionais do mesmo Estado Parte;
Os membros do Subcomité para a Prevenção deverão ser eleitos por um período de quatro anos.
d) Antes de indicar um candidato nacional de outro Estado Parte, um Estado Parte deverá solicitar e Podem ser reeleitos uma vez, se a sua candidatura for de novo apresentada. O mandato de metade
obter o consentimento desse mesmo Estado Parte. dos membros eleitos na primeira eleição deverá cessar ao fim de dois anos; o Presidente da reunião
3. O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá enviar uma carta aos Estados Partes, com a referida na alínea d) do n.º 1 do artigo 7.º tira à sorte os nomes destes membros imediatamente após
antecedência mínima de cinco meses em relação à data da reunião dos Estados Partes na qual terá a primeira eleição.
lugar a eleição, convidando-os a apresentar os seus candidatos no prazo de três meses. O Secretário-
Geral deverá apresentar uma lista, por ordem alfabética, de todos os candidatos, com indicação dos Artigo 10.º
Estados Partes que os indicaram.
1. O Subcomité para a Prevenção deverá eleger a sua Mesa por um período de dois anos, podendo os
Artigo 7.º membros da Mesa ser reeleitos.
2 - O Subcomité para a Prevenção deverá adotar o seu regulamento interno, o qual deverá, entre
1. Os membros do Subcomité para a Prevenção deverão ser eleitos de acordo com o seguinte outros, estipular que:
procedimento:
a) O quórum é constituído por metade mais um dos membros;
a) Em primeiro lugar, dever-se-á ter em conta o preenchimento dos requisitos e critérios enunciados
b) As deliberações do Subcomité para a Prevenção deverão ser tomadas por maioria dos votos dos
no artigo 5.º do presente Protocolo;
membros presentes;
b) A primeira eleição deverá realizar-se o mais tardar seis meses após a entrada em vigor do presente
c) O Subcomité para a Prevenção deverá reunir-se à porta fechada.
Protocolo;
3. O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará a primeira reunião do Subcomité para a Prevenção.
c) Os Estados Partes deverão eleger, por escrutínio secreto, os membros do Subcomité para a
Após esta primeira reunião, o Subcomité para a Prevenção reunirá nas ocasiões previstas pelo seu
Prevenção;
regulamento interno. O Subcomité para a Prevenção e o Comité contra a Tortura realizarão as suas
d) Os membros do Subcomité para a Prevenção deverão ser eleitos em reuniões bienais dos Estados sessões em simultâneo pelo menos uma vez por ano.
Partes convocadas pelo Secretário-Geral das Nações Unidas. Nessas reuniões, nas quais o quórum é
constituído por dois terços dos Estados Partes, as pessoas eleitas para o Subcomité para a Prevenção
deverão ser as que obtenham o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos PARTE III
representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
2. Se, no decorrer da eleição, se verificar que dois nacionais do mesmo Estado Parte preenchem as Mandato do Subcomité para a Prevenção
condições exigidas para serem eleitos membros do Subcomité para a Prevenção, deverá ser eleito o
candidato que obtenha o maior número de votos. Nos casos de nacionais com o mesmo número de
votos, dever-se-á seguir o seguinte procedimento:
a) Nos casos em que apenas um dos candidatos foi indicado pelo Estado Parte de que é nacional, é ele Artigo 11.º
que deverá ser eleito membro do Subcomité para a Prevenção;
O Subcomité para a Prevenção deverá:
b) Nos casos em que os dois candidatos foram indicados pelo Estado Parte de que são nacionais,
dever-se-á determinar qual dos dois candidatos é eleito por votação separada, em escrutínio secreto; a) Visitar os locais referidos no artigo 4.º e fazer recomendações aos Estados Partes sobre a proteção
das pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos
c) Nos casos em que nenhum dos dois candidatos foi indicado pelo Estado Parte de que é nacional,
ou degradantes;
dever-se-á determinar qual dos dois candidatos é eleito por votação separada, em escrutínio secreto.
b) Relativamente aos mecanismos nacionais de prevenção:
(i) Aconselhar e auxiliar os Estados Partes, se necessário, na criação de tais mecanismos;

3 4
ii) Manter contactos diretos e, se necessário, confidenciais, com os mecanismos nacionais de prevenção a) Acesso irrestrito a toda a informação relativa ao número de pessoas privadas de liberdade em locais
e oferecer-lhes formação e assistência técnica a fim de reforçar as respetivas capacidades; de detenção referidos no artigo 4.º, bem como ao número de locais e respetiva localização;
iii) Aconselhá-los e auxilia-los na avaliação das necessidades e dos meios necessários para reforçar a b) Acesso irrestrito a toda a informação relativa ao tratamento dessas pessoas, bem como às suas
proteção das pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, condições de detenção;
desumanos ou degradantes; c) Acesso irrestrito a todos os locais de detenção e respetivas instalações e equipamentos, sob reserva
iv) Fazer recomendações e observações aos Estados Partes a fim de reforçar as capacidades e o do n.º 2, infra;
mandato dos mecanismos nacionais de prevenção no domínio da prevenção da tortura e outras penas d) A oportunidade de falar em privado com as pessoas privadas de liberdade, sem testemunhas,
ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; pessoalmente ou com a assistência de um intérprete, se for considerado necessário, bem como com
c) Cooperar, tendo em vista a prevenção da tortura em geral, com os órgãos e mecanismos qualquer outra pessoa que o Subcomité para a Prevenção entenda poder dar informações pertinentes;
competentes das Nações Unidas, bem como com as instituições ou organizações internacionais, e) A liberdade de escolher os locais que pretende visitar e as pessoas com as quais pretende falar.
regionais e nacionais que trabalham em prol do reforço da proteção de todas as pessoas contra a
2. A objeção a uma visita a um determinado local de detenção apenas pode ter como fundamento
tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
motivos urgentes e imperiosos de defesa nacional, segurança pública, desastres naturais ou distúrbios
graves no local a visitar que impeçam temporariamente a realização da visita. Um Estado Parte não
Artigo 12.º
pode invocar a existência de um estado de emergência declarado para justificar a objeção a uma visita.

A fim de permitir que o Subcomité para a Prevenção cumpra o seu mandato tal como definido no artigo
Artigo 15.º
11.º, os Estados Partes comprometem-se a:
a) Receber o Subcomité para a Prevenção no seu território e a conceder-lhe acesso aos locais de Nenhuma autoridade nem nenhum funcionário deverão ordenar, aplicar, permitir ou tolerar qualquer
detenção referidos no artigo 4.º do presente Protocolo; sanção contra qualquer pessoa ou organização que tenha transmitido quaisquer informações,
b) Facultar toda a informação pertinente que o Subcomité para a Prevenção possa solicitar para avaliar verdadeiras ou falsas, ao Subcomité para a Prevenção ou aos seus delegados, não devendo essa
as necessidades e medidas que deveriam ser adotadas a fim de reforçar a proteção das pessoas pessoa ou organização sofrer nenhum outro tipo de prejuízo.
privadas de liberdade contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes; Artigo 16.º
c) Encorajar e facilitar os contactos entre o Subcomité para a Prevenção e os mecanismos nacionais de
prevenção; 1. O Subcomité para a Prevenção deverá transmitir as suas recomendações e observações a título
confidencial ao Estado Parte e, se for caso disso, ao mecanismo nacional de prevenção.
d) Examinar as recomendações do Subcomité para a Prevenção e entrar em diálogo com ele a respeito
de eventuais medidas de aplicação. 2 - O Subcomité para a Prevenção deverá publicar o seu relatório, juntamente com quaisquer
comentários do Estado Parte visado, sempre que este o solicite. Se o Estado Parte torna pública uma
Artigo 13.º parte do relatório, o Subcomité para a Prevenção pode publicar o relatório, no todo ou em parte.
Contudo, não se deverão publicar quaisquer dados pessoais sem o consentimento expresso da pessoa
1. O Subcomité para a Prevenção deverá estabelecer, inicialmente por sorteio, um programa de visitas visada.
regulares aos Estados Partes a fim de cumprir o seu mandato tal como definido no artigo 11.º 3 - O Subcomité para a Prevenção deverá apresentar um relatório anual das suas atividades ao Comité
2. Após consultas, o Subcomité para a Prevenção deverá comunicar aos Estados Partes o seu programa contra a Tortura.
para que possam de imediato tomar as providências práticas necessárias para a realização das visitas. 4 - Caso o Estado Parte se recuse a cooperar com o Subcomité para a Prevenção em conformidade com
3. As visitas deverão ser efetuadas pelo menos por dois membros do Subcomité para a Prevenção. os artigos 12.º e 14.º, ou a tomar medidas para melhorar a situação à luz das recomendações do
Estes membros podem, se necessário, fazer-se acompanhar por peritos com experiência e Subcomité para a Prevenção, o Comité contra a Tortura pode, a pedido do Subcomité para a
conhecimentos profissionais comprovados nas áreas abrangidas pelo presente Protocolo, que deverão Prevenção, decidir, por maioria dos seus membros e após ter sido dada oportunidade ao Estado Parte
ser selecionados a partir de uma lista de peritos elaborada com base em propostas apresentadas pelos de dar a conhecer a sua posição, fazer uma declaração pública sobre o assunto ou publicar o relatório
Estados Partes, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pelo Centro das do Subcomité para a Prevenção.
Nações Unidas para a Prevenção Internacional do Crime. Para a elaboração da lista, os Estados Partes
interessados não deverão propor mais do que cinco peritos nacionais. O Estado Parte interessado pode
PARTE IV
opor-se à inclusão de determinado perito na lista, após o que o Subcomité para a Prevenção deverá
propor o nome de outro perito.
Mecanismos nacionais de prevenção
4 - Caso o considere adequado, o Subcomité para a Prevenção pode propor a realização de uma breve
visita de avaliação após uma visita regular.

Artigo 14.º Artigo 17.º

1. A fim de permitir que o Subcomité para a Prevenção cumpra o seu mandato, os Estados Partes no Cada Estado Parte deverá manter, designar ou estabelecer, o mais tardar um ano após a entrada em
presente Protocolo comprometem-se a conceder-lhe: vigor do presente Protocolo ou da sua ratificação ou adesão ao mesmo, um ou vários mecanismos

5 6
nacionais de prevenção independentes para a prevenção da tortura a nível interno. Os mecanismos Artigo 21.º
estabelecidos por unidades descentralizadas podem ser denominados mecanismos nacionais de
prevenção para efeitos do presente Protocolo caso estejam em conformidade com as suas disposições. 1. Nenhuma autoridade nem nenhum funcionário deverão ordenar, aplicar, permitir ou tolerar qualquer
sanção contra qualquer pessoa ou organização que tenha transmitido quaisquer informações,
Artigo 18.º verdadeiras ou falsas, ao mecanismo nacional de prevenção, não devendo essa pessoa ou organização
sofrer nenhum outro tipo de prejuízo.
1. Os Estados Partes deverão assegurar a independência funcional dos mecanismos nacionais de 2 - A informação confidencial recolhida pelo mecanismo nacional de prevenção deverá estar protegida.
prevenção no exercício das suas funções, bem como a independência do seu pessoal. Não se deverão publicar quaisquer dados pessoais sem o consentimento expresso da pessoa visada.

2 - Os Estados Partes deverão adotar as medidas necessárias para garantir que os peritos do Artigo 22.º
mecanismo nacional de prevenção possuem as competências e os conhecimentos profissionais
exigidos. Deverão esforçar-se por assegurar o equilíbrio entre os géneros e uma representação As autoridades competentes do Estado Parte visado deverão examinar as recomendações do
adequada dos grupos étnicos e minoritários do país. mecanismo nacional de prevenção e entrar em diálogo com ele sobre eventuais medidas de aplicação.
3 - Os Estados Partes comprometem-se a disponibilizar os recursos necessários ao funcionamento dos
mecanismos nacionais de prevenção. Artigo 23.º
4 - Ao estabelecer os mecanismos nacionais de prevenção, os Estados Partes deverão ter devidamente
em conta os princípios relativos ao estatuto das instituições nacionais que visam a promoção e Os Estados Partes no presente Protocolo comprometem-se a publicar e a divulgar os relatórios anuais
proteção dos direitos humanos. dos mecanismos nacionais de prevenção.

Artigo 19.º PARTE V

Os mecanismos nacionais de prevenção deverão, no mínimo, ter o poder de: Declaração

a) Examinar regularmente o tratamento das pessoas privadas de liberdade em locais de detenção


Artigo 24.º
referidos no artigo 4.º para, se necessário, reforçar a proteção dessas pessoas contra a tortura e
outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;
1. Os Estados Partes podem no momento da ratificação fazer uma declaração adiando o cumprimento
b) Fazer recomendações às autoridades competentes a fim de melhorar o tratamento e a situação das das suas obrigações ao abrigo da parte iii ou da parte iv do presente Protocolo.
pessoas privadas de liberdade e prevenir a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes, tendo em conta as normas pertinentes das Nações Unidas; 2 - Este adiamento é válido por um período máximo de três anos. Depois de o Estado Parte ter dado a
conhecer a sua posição e consultado o Subcomité para a Prevenção, o Comité contra a Tortura pode
c) Apresentar propostas e observações a respeito da legislação vigente ou de projetos legislativos prorrogar esse prazo por mais dois anos.
sobre a matéria.

Artigo 20.º
PARTE VI
A fim de permitir que os mecanismos nacionais de prevenção cumpram o seu mandato, os Estados
Partes no presente Protocolo comprometem-se a conceder-lhes: Disposições financeiras
a) Acesso a toda a informação relativa ao número de pessoas privadas de liberdade em locais de
detenção referidos no artigo 4.º, bem como ao número de locais e respetiva localização;
b) Acesso a toda a informação relativa ao tratamento dessas pessoas, bem como às suas condições de
detenção; Artigo 25.º

c) Acesso a todos os locais de detenção e respetivas instalações e equipamentos;


1. As despesas incorridas pelo Subcomité para a Prevenção com a aplicação do presente Protocolo
d) A oportunidade de falarem em privado com as pessoas privadas de liberdade, sem testemunhas, deverão ser suportadas pelas Nações Unidas.
pessoalmente ou com a assistência de um intérprete, se for considerado necessário, bem como com
2 - O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá disponibilizar as instalações e o pessoal necessários
qualquer outra pessoa que o mecanismo nacional de prevenção entenda poder dar informação
para o desempenho eficaz das funções do Subcomité para a Prevenção ao abrigo do presente
pertinente;
Protocolo.
e) A liberdade de escolherem os locais que pretendem visitar e as pessoas que pretendem falar;
f) O direito de contactarem o Subcomité para a Prevenção, de lhe enviarem informação e de se Artigo 26.º
reunirem com ele.
1. Dever-se-á criar um Fundo Especial, em conformidade com os procedimentos pertinentes da
Assembleia Geral, a ser administrado de acordo com as normas e os regulamentos financeiros das
Nações Unidas, para ajudar a financiar a aplicação das recomendações feitas pelo Subcomité para a

7 8
Prevenção após a visita a um Estado Parte, bem como os programas educativos dos mecanismos Artigo 32.º
nacionais de prevenção.
2 - O Fundo Especial pode ser financiado através de contribuições voluntárias dos Governos, de As disposições do presente Protocolo não afetam as obrigações dos Estados Partes nas quatro
organizações intergovernamentais e não-governamentais e outras entidades privadas ou públicas. Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949 e nos Protocolos Adicionais às mesmas de 8 de junho
de 1977, nem a possibilidade de qualquer Estado Parte autorizar o Comité Internacional da Cruz
PARTE VII Vermelha a visitar locais de detenção em situações não abrangidas pelo direito internacional
humanitário.
Disposições finais
Artigo 33.º

1. Qualquer Estado Parte pode denunciar o presente Protocolo a qualquer momento, mediante
Artigo 27.º notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que deverá depois informar os
outros Estados Partes no presente Protocolo e na Convenção. A denúncia produz efeitos um ano após a
data de receção da notificação pelo Secretário-Geral.
1. O presente Protocolo está aberto à assinatura de qualquer Estado que tenha assinado a Convenção.
2 - Tal denúncia não exime o Estado Parte do cumprimento das suas obrigações ao abrigo do presente
2 - O presente Protocolo fica sujeito à ratificação por qualquer Estado que tenha ratificado a Convenção
Protocolo relativamente a qualquer ato ou situação que possa ocorrer antes da data em que a denúncia
ou aderido à mesma. Os instrumentos de ratificação deverão ser depositados junto do Secretário-Geral
produz efeitos, ou em relação às medidas que o Subcomité para a Prevenção tenha decidido ou possa
das Nações Unidas.
decidir adotar relativamente ao Estado Parte em causa, nem prejudica de forma alguma a continuação
3 - O presente Protocolo fica aberto à adesão de qualquer Estado que tenha ratificado a Convenção ou da análise de qualquer matéria que tenha sido submetida à apreciação do Subcomité para a Prevenção
aderido à mesma. antes da data de produção de efeitos da denúncia.
4 - A adesão deverá ser feita mediante o depósito de um instrumento de adesão junto do Secretário- 3 - Após a data em que a denúncia do Estado Parte produz efeitos, o Subcomité para a Prevenção não
Geral das Nações Unidas. deverá iniciar a análise de nenhuma questão nova relativa a esse Estado.
5 - O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá informar todos os Estados que tenham assinado o
presente Protocolo ou aderido ao mesmo do depósito de cada instrumento de ratificação ou de adesão. Artigo 34.º

Artigo 28.º 1. Qualquer Estado Parte no presente Protocolo pode propor uma emenda e depositar a sua proposta
junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral deverá comunicar a emenda proposta
1. O presente Protocolo entrará em vigor no 30.º dia após a data do depósito junto do Secretário-Geral aos Estados Partes no presente Protocolo, pedindo-lhes que o notifiquem sobre se concordam com a
das Nações Unidas do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão. realização de uma conferência de Estados Partes para análise e votação da proposta. Se, no prazo de
2 - Para cada Estado que ratifique o presente Protocolo ou a ele adira após o depósito junto do quatro meses após a data dessa comunicação, pelo menos um terço dos Estados Partes se pronunciar a
Secretário-Geral das Nações Unidas do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão, o presente favor da realização da conferência, o Secretário-Geral deverá convocar a conferência sob os auspícios
Protocolo entrará em vigor no 30.º dia após a data do depósito do seu próprio instrumento de das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por uma maioria de dois terços dos Estados Partes
ratificação ou de adesão. presentes e votantes na conferência deverá ser submetida pelo Secretário-Geral a todos os Estados
Partes para aceitação.
Artigo 29.º 2 - Qualquer emenda adotada em conformidade com o n.º 1 do presente artigo entra em vigor no
momento em que é aceite por uma maioria de dois terços dos Estados Partes no presente Protocolo em
As disposições do presente Protocolo aplicam-se a todas as unidades constitutivas dos Estados federais conformidade com os respetivos procedimentos constitucionais.
sem quaisquer limitações ou exceções. 3 - Uma vez em vigor, as emendas são vinculativas para os Estados Partes que as aceitaram,
continuando os outros Estados Partes vinculados pelas disposições do presente Protocolo e por
Artigo 30.º qualquer emenda que tenham aceitado anteriormente.

Não são admitidas quaisquer reservas ao presente Protocolo. Artigo 35.º

Artigo 31.º Os membros do Subcomité para a Prevenção e dos mecanismos nacionais de prevenção gozam dos
privilégios e imunidades necessários ao exercício independente das suas funções. Os membros do
As disposições do presente Protocolo não afetam as obrigações dos Estados Partes ao abrigo de Subcomité para a Prevenção gozam dos privilégios e imunidades enunciados na secção 22 da
qualquer convenção de âmbito regional que institua um sistema de visitas a locais de detenção. O Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas de 13 de fevereiro de 1946, sem
Subcomité para a Prevenção e os organismos criados em virtude de tais convenções de âmbito regional prejuízo das disposições da secção 23 da mesma Convenção.
são exortados a consultar-se mutuamente e a cooperar entre si a fim de evitar a duplicação de
trabalho e de promover eficazmente a realização dos objetivos do presente Protocolo.

9 10
Artigo 36.º

Aquando da sua deslocação a um Estado Parte, os membros do Subcomité para a Prevenção deverão,
sem prejuízo das disposições e objetivos do presente Protocolo e dos privilégios e imunidades de que
possam gozar:
a) Respeitar as leis e os regulamentos em vigor no Estado visitado;
b) Abster-se de qualquer ação ou atividade incompatível com a natureza imparcial e internacional das
suas funções.

Artigo 37.º

1. O presente Protocolo, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo fazem
igualmente fé, deverá ser depositado junto do Secretário-Geral das Nações Unidas.
2 - O Secretário-Geral das Nações Unidas enviará cópia certificada do presente Protocolo a todos os
Estados.

11
CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL PARTE I

Os Estados Partes na presente Convenção: ARTIGO 1.º

Considerando que a Carta das Nações Unidas se funda nos princípios da dignidade e da igualdade de
todos os seres humanos e que todos os Estados Membros se obrigaram a agir, tanto conjunta como 1 - Na presente Convenção, a expressão «discriminação racial» visa qualquer distinção, exclusão,
separadamente, com vista a atingir um dos fins das Nações Unidas, ou seja: desenvolver e encorajar o restrição ou preferência fundada na raça, cor, ascendência ou* origem nacional ou étnica que tenha
respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais para todos, sem como objectivo ou como efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em
distinção de raça, de sexo, de língua ou de religião; condições de igualdade, dos direitos do homem e das liberdades fundamentais nos domínios político,
económico, social e cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública.
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, e que cada um pode prevalecer-se de 2 - A presente Convenção não se aplica às diferenciações, exclusões, restrições ou preferências
todos os direitos e de todas as liberdades nela enunciados, sem distinção alguma, nomeadamente de estabelecidas por um Estado Parte na Convenção entre súbditos e não súbditos seus.
raça, de cor ou de origem nacional; 3 - Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser interpretada como atentatória, por
Considerando que todos os homens são iguais perante a lei e têm direito a uma igual protecção da lei qualquer forma que seja, das disposições legislativas dos Estados Partes na Convenção relativas à
contra toda a discriminação e contra todo o incitamento à discriminação; nacionalidade, à cidadania ou à naturalização, desde que essas disposições não sejam discriminatórias
para uma dada nacionalidade.
Considerando que as Nações Unidas condenaram o colonialismo e todas as práticas de discriminação e
de segregação que o acompanham, sob qualquer forma e onde quer que existam, e que a Declaração 4 - As medidas especiais adoptadas com a finalidade única de assegurar convenientemente o progresso
sobre a Concessão da Independência aos Países e aos Povos Coloniais, de 14 de Dezembro de 1960 de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que precisem da protecção eventualmente
[Resolução n.º 1514 (XV) da Assembleia Geral], afirmou e proclamou solenemente a necessidade de necessária para lhes garantir o gozo e o exercício dos direitos do homem e das liberdades
lhe pôr rápida e incondicionalmente termo; fundamentais em condições de igualdade não se consideram medidas de discriminação racial, sob
condição, todavia, de não terem como efeito a conservação de direitos diferenciados para grupos
Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de
raciais diferentes e de não serem mantidas em vigor logo que sejam atingidos os objectivos que
Discriminação Racial, de 20 de Novembro de 1963 [Resolução n.º 1904 (XVIII) da Assembleia Geral],
prosseguiam.
afirma solenemente a necessidade de eliminar rapidamente todas as formas e todas as manifestações
de discriminação racial em todas as partes do Mundo e de assegurar a compreensão e o respeito da
ARTIGO 2.º
dignidade da pessoa humana;
Convencidos de que as doutrinas da superioridade fundada na diferenciação entre as raças são 1 - Os Estados Partes condenam a discriminação racial e obrigam-se a prosseguir, por todos os meios
cientificamente falsas, moralmente condenáveis e socialmente injustas e perigosas e que nada pode apropriados, e sem demora, uma política tendente a eliminar todas as formas de discriminação racial e
justificar, onde quer que seja, a discriminação racial, nem em teoria nem na prática; a favorecer a harmonia entre todas as raças, e, para este fim:
Reafirmando que a discriminação entre os seres humanos por motivos fundados na raça, na cor ou na a) Os Estados Partes obrigam-se a não se entregarem a qualquer acto ou prática de
origem étnica é um obstáculo às relações amigáveis e pacíficas entre as nações e é susceptível de discriminação racial contra pessoas, grupos de pessoas ou instituições, e a proceder
perturbar a paz e a segurança entre os povos, assim como a coexistência harmoniosa das pessoas no de modo que todas« as autoridades públicas e instituições públicas, nacionais e locais,
seio de um mesmo Estado; se conformem com esta obrigação;
Convencidos de que a existência de barreiras raciais é incompatível com os ideais de qualquer b) Os Estados Partes obrigam-se a não encorajar, defender ou apoiar a discriminação
sociedade humana; racial praticada por qualquer pessoa ou organização;
Alarmados com as manifestações de discriminação racial que ainda existem em certas regiões do c) Os Estados Partes devem adoptar medidas eficazes para rever as políticas
Mundo e com as políticas governamentais fundadas na superioridade ou no ódio racial, tais como as governamentais nacionais e locais e para modificar, revogar ou anular as leis e
políticas de apartheid, de segregação ou de separação; disposições regulamentares que tenham como efeito criar a discriminação racial ou
Resolvidos a adoptar todas as medidas necessárias para a eliminação rápida de todas as formas e de perpetuá-la, se já existe;
todas as manifestações de discriminação racial e a evitar e combater as doutrinas e práticas racistas, a d) Os Estados Partes devem, por todos os meios apropriados, incluindo, se as
fim de favorecer o bom entendimento entre as raças e edificar uma comunidade internacional liberta de circunstâncias o exigirem, medidas legislativas, proibir a discriminação racial praticada
todas as formas de segregação e de discriminação raciais; por pessoas, grupos ou organizações e pôr-lhe termo;
Tendo presente a Convenção Relativa à Discriminação em Matéria de Emprego e de Profissão, adoptada e) Os Estados Partes obrigam-se a favorecer, se necessário, as organizações e
pela Organização Internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção Relativa à Luta contra a movimentos integracionistas multirraciais, e outros meios próprios para eliminar as
Discriminação no Domínio do Ensino, adoptada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a barreiras entre as raças, e a desencorajar o que tende a reforçar a divisão racial.
Ciência e a Cultura em 1960;
2 - Os Estados Partes adoptarão, se as circunstâncias o exigirem, nos domínios social, económico,
Desejando dar efeito aos princípios enunciados na Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de cultural e outros, medidas especiais e concretas para assegurar convenientemente o desenvolvimento
Todas as Formas de Discriminação Racial e assegurar o mais rapidamente possível a adopção de ou a protecção de certos grupos raciais ou de indivíduos pertencentes a esses grupos, a fim de lhes
medidas práticas para este fim; garantir, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
acordam no seguinte: fundamentais. Essas medidas não poderão, em caso algum, ter como efeito a conservação de direitos
desiguais ou diferenciados para os diversos grupos raciais, uma vez atingidos os objectivos que
prosseguiam.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
ARTIGO 3.º vi) Direito de herdar;
vii) Direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
Os Estados Partes condenam especialmente a segregação racial e o apartheid e obrigam-se a prevenir,
viii) Direito à liberdade de opinião e de expressão;
a proibir e a eliminar, nos territórios sob sua jurisdição, todas as práticas desta natureza.
ix) Direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas;
ARTIGO 4.º e) Direitos económicos, sociais e culturais, nomeadamente:
i) Direitos ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
Os Estados Partes condenam a propaganda e as organizações que se inspiram em ideias ou teorias equitativas e satisfatórias de trabalho, à protecção contra o
fundadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa desemprego, a salário igual para trabalho igual e a uma remuneração
origem étnica ou que pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio ou de discriminação equitativa e satisfatória;
raciais, obrigam-se a adoptar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar os incitamentos a
tal discriminação e, para este efeito, tendo devidamente em conta os princípios formulados na ii) Direito de fundar sindicatos e de se filiar em sindicatos;
Declaração Universal dos Direitos do Homem e os direitos expressamente enunciados no artigo 5.º da iii) Direito ao alojamento;
presente Convenção, obrigam-se, nomeadamente: iv) Direito à saúde, aos cuidados médicos, à segurança social e aos
a) A declarar delitos puníveis pela lei a difusão de ideias fundadas na superioridade ou serviços sociais;
no ódio racial, os incitamentos à discriminação racial, os actos de violência, ou a v) Direito à educação e à formação profissional;
provocação a estes actos, dirigidos contra qualquer raça ou grupo de pessoas de outra
vi) Direito de tomar parte, em condições de igualdade, nas
cor ou de outra origem étnica, assim como a assistência prestada a actividades
actividades culturais;
racistas, incluindo o seu financiamento;
f) Direito de acesso a todos os locais e serviços destinados a uso público, tais como
b) A declarar ilegais e a proibir as organizações, assim como as actividades de
meios de transporte, hotéis, restaurantes, cafés, espectáculos e parques.
propaganda organizada e qualquer outro tipo de actividade de propaganda, que
incitem à discriminação racial e que a encorajem e a declarar delito punível pela lei a
ARTIGO 6.º
participação nessas organizações ou nessas actividades;
c) A não permitir às autoridades públicas nem às instituições públicas, nacionais ou
Os Estados Partes assegurarão às pessoas sujeitas à sua jurisdição protecção e recurso efectivos aos
locais, incitar à discriminação racial ou encorajá-la.
tribunais nacionais e a outros organismos do Estado competentes, contra todos os actos de
discriminação racial que, contrariando a presente Convenção, violem os seus direitos individuais e as
ARTIGO 5.º
suas liberdades fundamentais, assim como o direito de pedir a esses tribunais satisfação ou reparação,
justa e adequada, por qualquer prejuízo de que sejam vítimas em razão de tal discriminação.
De acordo com as obrigações fundamentais enunciadas no artigo 2.º da presente Convenção, os
Estados Partes obrigam-se a proibir e a eliminar a discriminação racial, sob todas as suas formas, e a ARTIGO 7.º
garantir o direito de cada um à igualdade perante a lei sem distinção de raça, de cor ou de origem
nacional ou étnica, nomeadamente no gozo dos seguintes direitos:
Os Estados Partes obrigam-se a adoptar medidas imediatas e eficazes, nomeadamente nos domínios do
a) Direito de recorrer aos tribunais ou a quaisquer outros órgãos de administração da ensino, da educação, da cultura e da informação, para lutar contra os preconceitos que conduzam à
justiça; discriminação racial, e favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre nações e grupos raciais
b) Direito à segurança da pessoa e à protecção do Estado contra as vias de facto ou as ou étnicos, bem como para promover os objectivos e princípios da Carta das Nações Unidas, da
sevícias da parte quer de funcionários do Governo, quer de qualquer pessoa, grupo ou Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de
instituição; Todas as Formas de Discriminação Racial e da presente Convenção.

c) Direitos políticos, nomeadamente o direito de participar nas eleições - de votar e de


PARTE II
ser candidato - por sufrágio universal e igual, direito de tomar parte no Governo,
assim como na direcção dos assuntos públicos, em todos os escalões, e direito de
ARTIGO 8.º
aceder, em condições de igualdade, às funções públicas;
d) Outros direitos civis, nomeadamente:
1 - É constituído um Comité para a Eliminação da Discriminação Racial (a seguir designado «o
i) Direito de circular livremente e de escolher a sua residência no Comité»), composto por dezoito peritos conhecidos pela sua alta moralidade e imparcialidade, que são
interior de um Estado; eleitos pelos Estados Partes de entre os seus súbditos - e que nele exercem funções a título individual -
ii) Direito de abandonar qualquer país, incluindo o seu, e de regressar , tendo em conta uma repartição geográfica equitativa e a representação das diferentes formas de
ao seu país; civilização, bem como dos principais sistemas jurídicos.

iii) Direito a uma nacionalidade; 2 - Os membros do Comité são eleitos, por escrutínio secreto, de uma lista de candidatos designados
pelos Estados Partes. Cada Estado Parte pode designar um candidato escolhido entre os seus súbditos.
iv) Direito ao casamento e à escolha do cônjuge;
3 - A primeira eleição terá lugar seis meses após a data da entrada em vigor da presente Convenção.
v) Direito de qualquer pessoa, por si só ou em associação, à
Três meses, pelo menos, antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral da Organização das Nações
propriedade;
Unidas envia uma carta aos Estados Partes convidando-os a apresentar os seus candidatos no prazo de

3 4
dois meses. O Secretário-Geral elabora uma lista, por ordem alfabética, de todos os candidatos assim bilaterais ou por qualquer outro processo ao seu dispor, qualquer dos Estados tem o direito de a
designados, com indicação dos Estados Partes que os designaram, e comunica-a aos Estados Partes. submeter de novo ao Comité dirigindo uma notificação ao Comité e ao outro Estado interessado.
4 - Os membros do Comité são eleitos numa reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário- 3 - O Comité só poderá conhecer de uma questão que lhe seja submetida nos termos do parágrafo 2
Geral na sede da Organização das Nações Unidas. Nesta reunião, onde o quórum é constituído por dois do presente artigo depois de se ter certificado de que foram utilizados ou esgotados todos os recursos
terços dos Estados Partes, são eleitos membros do Comité os candidatos que obtiverem o maior internos disponíveis, conformes aos princípios de direito internacional geralmente reconhecidos. Esta
número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes presentes e regra não se aplica se os processos de recurso excederem prazos razoáveis.
votantes. 4 - Em todas as questões que lhe sejam submetidas, pode o Comité pedir aos Estados Partes em
5- presença que lhe forneçam informações complementares pertinentes.
a) Os membros do Comité são eleitos por quatro anos. Todavia, o mandato de nove 5 - Quando o Comité examinar uma questão em aplicação deste artigo os Estados Partes interessados
dos membros eleitos na primeira eleição cessará ao fim de dois anos; imediatamente a têm o direito de designar um representante, que participará, sem direito de voto, nos trabalhos do
seguir à primeira eleição, o nome destes nove membros será sorteado pelo presidente Comité enquanto durarem os debates.
do Comité;
b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte cujo perito deixou de exercer as ARTIGO 12.º
suas funções de membro do Comité nomeará outro perito de entre os seus súbditos,
sob reserva da aprovação do Comité. 1-

6 - Os Estados Partes tomam a seu cargo as despesas dos membros do Comité no período em que a) Logo que o Comité tenha obtido e examinado as informações que julgar
estes exercem as suas funções no Comité*. necessárias, o presidente designa uma Comissão de Conciliação ad hoc (a seguir
designada «a Comissão»), composta por cinco pessoas, que podem ser ou não
ARTIGO 9.º membros do Comité. Os seus membros são designados com o inteiro e unânime
assentimento das partes no diferendo, e a Comissão coloca os seus bons ofícios à
1 - Os Estados Partes obrigam-se a apresentar ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, disposição dos Estados interessados, a fim de se chegar a uma solução amigável da
para ser examinado pelo Comité, um relatório sobre as medidas de ordem legislativa, judiciária, questão, fundada no respeito da presente Convenção.
administrativa ou outra que tenham promulgado e que dêem efeito às disposições da presente b) Se os Estados Partes no diferendo não chegarem a acordo sobre toda ou parte da
Convenção: composição da Comissão no prazo de três meses, os membros da Comissão que não
a) No prazo de um ano, a contar da entrada em vigor da Convenção, para cada Estado tiverem o assentimento dos Estados Partes no diferendo serão eleitos, por escrutínio
interessado, no que lhe respeita; e secreto, de entre os membros do Comité pela maioria de dois terços dos membros do
Comité.
b) A partir de então, todos os dois anos e, além disso, sempre que o Comité o pedir.
2 - Os membros da Comissão exercem funções a título individual. Não devem ser súbditos de um
O Comité pode pedir informações complementares aos Estados Partes.
Estado Parte no diferendo nem de um Estado que não seja Parte na presente Convenção.
2 - O Comité submete todos os anos à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por
3 - A Comissão elege o seu presidente e adopta o seu regulamento interno.
intermédio do Secretário-Geral, um relatório das suas actividades e pode fazer sugestões ou
recomendações de ordem geral, fundadas no exame dos relatórios e das informações recebidas dos 4 - A Comissão reúne normalmente na sede da Organização das Nações Unidas ou em qualquer outro
Estados Partes. Leva ao conhecimento da Assembleia Geral essas sugestões e recomendações de lugar apropriado que seja determinado pela Comissão.
ordem geral, juntamente com, se as houver, as observações dos Estados Partes. 5 - O secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10.º da presente Convenção presta também os
seus serviços à Comissão sempre que um diferendo entre Estados Partes implique a constituição da
ARTIGO 10.º Comissão.
6 - As despesas dos membros da Comissão serão repartidas por igual entre os Estados Partes no
1 - O Comité adopta o seu regulamento interno. diferendo com base numa estimativa feita pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
2 - O Comité elege o seu gabinete por um período de dois anos. 7 - O Secretário-Geral está habilitado a, se tal for necessário, reembolsar os membros da Comissão das
3 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas assegura o secretariado do Comité. suas despesas antes de os Estados Partes no diferendo terem efectuado o pagamento nos termos do
parágrafo 6 do presente artigo.
4 - O Comité tem normalmente as suas reuniões na sede da Organização das Nações Unidas.
8 - As informações obtidas e examinadas pelo Comité serão postas à disposição da Comissão, e a
ARTIGO 11.º Comissão poderá pedir aos Estados interessados que lhe forneçam informações complementares
pertinentes.
1 - Se um Estado Parte entender que outro Estado também Parte não aplica as disposições da presente
ARTIGO 13.º
Convenção pode chamar a atenção do Comité para essa questão. O Comité transmitirá então a
comunicação recebida ao Estado Parte interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário
submeterá ao Comité explicações ou declarações por escrito que esclareçam a questão, indicando, 1 - Depois de ter estudado a questão sob todos os seus aspectos, a Comissão preparará e submeterá
quando tal seja o caso, as medidas que possa ter tomado para remediar a situação. ao presidente do Comité um relatório com as suas conclusões sobre todas as questões de facto
relativas ao litígio entre as partes e com as recomendações que julgar oportunas para se chegar a uma
2 - Se no prazo de seis meses, a contar da data da recepção da comunicação original pelo Estado
resolução amigável do diferendo.
destinatário, a questão não estiver decidida a contento dos dois Estados, por via de negociações

5 6
2 - O presidente do Comité transmite o relatório aos Estados Partes no diferendo. Estes Estados darão 8 - O Comité incluirá no seu relatório anual um resumo destas comunicações e, quando as haja, um
a conhecer ao presidente, no prazo de três meses, se aceitam ou não as recomendações contidas no resumo das explicações e declarações dos Estados Partes interessados, bem como das suas próprias
relatório da Comissão. sugestões e recomendações.
3 - Expirado o prazo previsto no parágrafo 2 do presente artigo, o presidente do Comité comunicará o 9 - O Comité só tem competência para desempenhar as funções previstas no presente artigo se pelo
relatório da Comissão e as declarações dos Estados Partes interessados aos outros Estados Partes na menos dez Estados Partes na Convenção estiverem ligados a declarações feitas nos termos do
Convenção. parágrafo 1 do presente artigo.

ARTIGO 14.º ARTIGO 15.º

1 - Os Estados Partes poderão declarar, a todo o tempo, que reconhecem competência ao Comité para 1 - Esperando a realização dos objectivos da Declaração sobre a Concessão da Independência aos
receber e examinar comunicações emanadas de pessoas ou de grupos de pessoas submetidas à sua Países e aos Povos Coloniais, contida na Resolução n.º 1514 (XV) da Assembleia Geral da Organização
jurisdição que se queixem de ser vítimas de violação por um Estado Parte de qualquer dos direitos das Nações Unidas, de 14 de Dezembro de 1960, as disposições da presente Convenção em nada
enunciados na presente Convenção. O Comité não receberá nenhuma comunicação relativa a um restringem o direito de petição concedido a esses povos por outros instrumentos internacionais ou pela
Estado Parte que não haja feito essa declaração. Organização das Nações Unidas ou pelas suas instituições especializadas.
2 - Os Estados Partes que fizerem a declaração prevista no parágrafo 1 do presente artigo poderão 2-
criar ou designar um organismo, no quadro da sua ordem jurídica nacional, que detenha competência a) O Comité constituído nos termos do artigo 8.º da presente Convenção receberá
para receber e examinar as petições que emanem de pessoas ou grupos de pessoas submetidas à cópias das petições vindas dos órgãos das Nações Unidas que se ocupem de questões
jurisdição desses Estados que se queixem de ser vítimas de violação de qualquer dos direitos que tenham uma relação directa com os princípios e objectivos da presente Convenção
enunciados na presente Convenção e que tenham esgotado os outros recursos locais disponíveis. e exprimirá uma opinião e fará recomendações quando examinar as petições
3 - As declarações feitas nos termos do parágrafo 1 do presente artigo e o nome dos organismos emanadas de habitantes de territórios sob tutela ou não autónomos ou de qualquer
criados ou designados nos termos do parágrafo 2 do mesmo artigo serão apresentados pelo Estado outro território a que se aplique a Resolução n.º 1514 (XV) da Assembleia Geral que
Parte interessado ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que deles enviará cópia aos se relacionem com questões incluídas na presente Convenção e que sejam recebidas
outros Estados Partes. A declaração pode ser retirada a todo o tempo, por notificação dirigida ao pelos referidos órgãos.
Secretário-Geral, mas essa retirada não prejudicará as comunicações que já tenham sido afectas ao b) O Comité receberá dos órgãos competentes das Nações Unidas cópia dos relatórios
Comité. relativos às medidas de ordem legislativa, judiciária, administrativa ou outra que
4 - O organismo criado ou designado nos termos do parágrafo 2 do presente artigo deverá possuir um digam directamente respeito aos princípios e objectivos da presente Convenção, que
registo das petições, e todos os anos serão entregues ao Secretário-Geral, pelas vias apropriadas, as potências administrantes tenham aplicado nos territórios mencionados na alínea a)
cópias autenticadas do registo, entendendo-se, porém, que o conteúdo dessas cópias não será do presente parágrafo, e exprimirá opiniões e fará recomendações a esses órgãos.
divulgado ao público. 3 - O Comité incluirá nos seus relatórios à Assembleia Geral um resumo das petições e dos relatórios
5 - Caso não obtenha satisfação do organismo criado ou designado nos termos do parágrafo 2 do recebidos de órgãos da Organização das Nações Unidas, assim como as opiniões e as recomendações
presente artigo, o peticionário tem o direito de dirigir, no prazo de seis meses, uma comunicação ao que as ditas petições e relatórios mereceram da sua parte.
Comité. 4 - O Comité pedirá ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas para lhe fornecer todas as
6- informações relativas aos objectivos da presente Convenção de que aquele disponha quanto aos
a) O Comité leva as comunicações que lhe forem dirigidas ao conhecimento, a título territórios mencionados na alínea a) do parágrafo 2 do presente artigo.
confidencial, do Estado Parte que alegadamente violou qualquer disposição da
Convenção; a identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas interessadas não pode, ARTIGO 16.º
todavia, ser revelada sem o consentimento expresso dessa pessoa ou desses grupos
de pessoas. O Comité não recebe comunicações anónimas. As disposições da presente Convenção relativas às medidas a adoptar para decidir um diferendo ou
liquidar uma queixa aplicam-se sem prejuízo de outros processos de decisão de diferendos ou de
b) Nos três meses imediatos, o dito Estado submeterá, por escrito, ao Comité
liquidação de queixas em matéria de discriminação, previstos nos instrumentos constitutivos da
explicações ou declarações que esclareçam a questão, indicando, quando tal seja o
Organização das Nações Unidas e das suas instituições especializadas ou em convenções adoptadas por
caso, as medidas que tenha tomado para remediar a situação.
essas organizações, e não impedem os Estados Partes de recorrer a outros processos para a decisão de
7- um diferendo nos termos dos acordos internacionais gerais ou especiais por que estejam ligados.
a) O Comité examinará as comunicações, tendo em conta todas as informações que
lhe foram submetidas pelo Estado Parte interessado e pelo peticionário. O Comité não
examinará nenhuma comunicação de um peticionário sem se ter certificado de que
este esgotou todos os recursos internos disponíveis. Esta regra não se aplica, todavia, PARTE III
se os processos de recurso excederem prazos razoáveis.
b) O Comité dirige as suas sugestões e recomendações ao Estado Parte interessado e ARTIGO 17.º
ao peticionário.
1 - A presente Convenção estará aberta à assinatura de todos os Estados Membros da Organização das
Nações Unidas ou membros de uma das suas instituições especializadas, dos Estados Partes no

7 8
Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça, bem como dos Estados convidados pela Assembleia Geral 2 - Em tais circunstâncias, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas preceituará sobre as
da Organização das Nações Unidas a serem Partes na presente Convenção. medidas a adoptar relativamente a esse pedido.
2 - A presente Convenção estará sujeita a ratificação, e os instrumentos de ratificação serão
depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. ARTIGO 24.º

ARTIGO 18.º O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informará todos os Estados referidos no
parágrafo 1 do artigo 17.º da presente Convenção
1 - A presente Convenção estará aberta à adesão dos Estados referidos no parágrafo 1 do artigo 17.º a) Das assinaturas da presente Convenção e dos instrumentos de ratificação e de
da Convenção. adesão depositados nos termos dos artigos 17.º e 18.º;
2 - A adesão far-se-á pelo depósito de um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da b) Da data da entrada em vigor da presente Convenção, nos termos do artigo 19.º;
Organização das Nações Unidas. c) Das comunicações e declarações recebidas nos termos dos artigos 14.º, 20.º e
23.º;
ARTIGO 19.º
d) Das denúncias notificadas nos termos do artigo 21.º.

1 - A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia imediato à data do depósito junto do
ARTIGO 25.º
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou
de adesão.
1 - A presente Convenção, cujos textos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo são igualmente
2 - Para os Estados que ratifiquem a presente Convenção após o depósito do vigésimo sétimo válidos, será depositada nos arquivos da Organização das Nações Unidas.
instrumento de ratificação ou de adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após a data
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas enviará uma cópia autenticada da presente
do depósito por esses Estados dos seus instrumentos de ratificação ou de adesão.
Convenção aos Estados que pertençam a qualquer das categorias mencionadas no parágrafo 1 do
artigo 17.º da Convenção.
ARTIGO 20.º

1 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas receberá e comunicará a todos os Estados


que são ou que podem ser Partes na presente Convenção o texto das reservas feitas no momento da
ratificação ou da adesão. Os Estados que levantarem objecções às reservas avisarão o Secretário- * Na versão oficial publicada no Diário da República, lê-se “[…] ascendência na origem nacional ou étnica” (destaque nosso),
para tradução de “descent, or national or ethnic origin” (destaque nosso). O termo em causa deverá, obviamente, ler-se “ou”.
Geral, no prazo de noventa dias, a contar da data da aludida comunicação, de que não aceitam as
reservas.
« A versão oficial publicada no Diário da República utiliza o termo “todos” para referir “as autoridades e instituições públicas”
2 - Não será autorizada nenhuma reserva incompatível com o objecto e o fim da presente Convenção, (erro na concordância de género).
nem nenhuma reserva que tenha como efeito paralisar o funcionamento de qualquer dos órgãos
criados pela Convenção. Entende-se que uma reserva entra nas categorias atrás definidas se pelo * Na 14.ª reunião de Estados Partes, a 15 de Janeiro de 1992, foi adoptada uma emenda a esta Convenção que, relativamente
a este art.º 8.º, n.º 6, altera a sua redacção para: “O Secretário-Geral das Nações Unidas deverá fornecer o pessoal e a
menos dois terços dos Estados Partes na Convenção levantarem objecções. logística necessária para o efectivo desempenho das funções do Comité estabelecido pela Convenção”. Até 31 de Dezembro de
2005, esta emenda não estava ainda em vigor. A emenda adoptada a 15 de Janeiro de 1992, e endossada pela Assembleia
3 - As reservas poderão ser retiradas a todo o tempo, por notificação dirigida ao Secretário-Geral. A Geral na sua resolução n.º 47/111, de 16 de Dezembro de 1992, acrescenta ainda um novo parágrafo 7 a este artigo 8.º, com
notificação produzirá efeitos na data da sua recepção. a seguinte redacção: “Os membros do Comité estabelecido pela presente Convenção deverão, com a aprovação da Assembleia
Geral, receber emolumentos retirados dos recursos das Nações Unidas, nos termos e condições que a Assembleia Geral
decidir”.
ARTIGO 21.º

Os Estados Partes poderão denunciar a presente Convenção por notificação dirigida ao Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano após a data da recepção da
notificação pelo Secretário-Geral.

ARTIGO 22.º

Os litígios entre dois ou mais Estados Partes relativos à interpretação ou à aplicação da presente
Convenção que não sejam decididos por negociações ou pelos processos expressamente previstos na
Convenção serão introduzidos, a pedido de qualquer das partes no litígio, no Tribunal Internacional de
Justiça para decisão, salvo se as partes no litígio acordarem noutro modo de resolução.

ARTIGO 23.º

1 - Os Estados Partes poderão formular, a todo o tempo, um pedido de revisão da presente Convenção,
por notificação dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

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CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS MULHERES Conscientes de que é necessária uma mudança no papel tradicional dos homens, tal como no papel das
mulheres na família e na sociedade, se se quer alcançar uma real igualdade dos homens e das
Os Estados Partes na presente Convenção, mulheres;
Considerando que a Carta das Nações Unidas reafirma a fé nos direitos fundamentais do homem, na Resolvidos a pôr em prática os princípios enunciados na Declaração sobre a Eliminação da
dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres; Discriminação contra as Mulheres e, com tal objectivo, a adoptar as medidas necessárias à supressão
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma o princípio da não desta discriminação sob todas as suas formas e em todas as suas manifestações:
discriminação e proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em Acordam no seguinte:
direitos e que cada pessoa pode prevalecer-se de todos os direitos e de todas as liberdades aí
enunciados, sem distinção alguma, nomeadamente de sexo; PARTE I
Considerando que os Estados Partes nos pactos internacionais sobre direitos do homem têm a
obrigação de assegurar a igualdade de direitos dos homens e das mulheres no exercício de todos os ARTIGO 1.º
direitos económicos, sociais, culturais, civis e políticos;
Para os fins da presente Convenção, a expressão «discriminação contra as mulheres» significa qualquer
Considerando as convenções internacionais concluídas sob a égide da Organização das Nações Unidas e
distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo que tenha como efeito ou como objectivo
das instituições especializadas com vista a promover a igualdade de direitos dos homens e das
comprometer ou destruir o reconhecimento, o gozo ou o exercício pelas mulheres, seja qual for o seu
mulheres;
estado civil, com base na igualdade dos homens e das mulheres, dos direitos do homem e das
Considerando igualmente as resoluções, declarações e recomendações adoptadas pela Organização das
liberdades fundamentais nos domínios político, económico, social, cultural e civil ou em qualquer outro
Nações Unidas e pelas instituições especializadas com vista a promover a igualdade de direitos dos
domínio.
homens e das mulheres;
Preocupados, no entanto, por constatarem que, apesar destes diversos instrumentos, as mulheres ARTIGO 2.º
continuam a ser objecto de importantes discriminações;
Lembrando que a discriminação contra as mulheres viola os princípios da igualdade de direitos e do Os Estados Partes condenam a discriminação contra as mulheres sob todas as suas formas, acordam
respeito da dignidade humana, que dificulta a participação das mulheres, nas mesmas condições que em prosseguir, por todos os meios apropriados e sem demora, uma política tendente a eliminar a
os homens, na vida política, social, económica e cultural do seu país, que cria obstáculos ao discriminação contra as mulheres e, com este fim, comprometem-se a:
crescimento do bem-estar da sociedade e da família e que impede as mulheres de servirem o seu país
a) Inscrever na sua constituição nacional ou em qualquer outra lei apropriada o
e a Humanidade em toda a medida das suas possibilidades;
princípio da igualdade dos homens e das mulheres, se o mesmo não tiver já sido feito,
Preocupados pelo facto de que em situações de pobreza as mulheres têm um acesso mínimo à e assegurar por via legislativa ou por outros meios apropriados a aplicação efectiva do
alimentação, aos serviços médicos, à educação, à formação e às possibilidades de emprego e à mesmo princípio;
satisfação de outras necessidades;
b) Adoptar medidas legislativas e outras medidas apropriadas, incluindo a
Convencidos de que a instauração da nova ordem económica internacional baseada na equidade e na determinação de sanções em caso de necessidade, proibindo toda a discriminação
justiça contribuirá de forma significativa para promover a igualdade entre os homens e as mulheres; contra as mulheres;
Sublinhando que a eliminação do apartheid, de todas as formas de racismo, de discriminação racial, de c) Instaurar uma protecção jurisdicional dos direitos das mulheres em pé de igualdade
colonialismo, de neocolonialismo, de agressão, de ocupação e dominação estrangeiras e de ingerência com os homens e garantir, por intermédio dos tribunais nacionais competentes e
nos assuntos internos dos Estados é indispensável ao pleno gozo dos seus direitos pelos homens e outras instituições públicas, a protecção efectiva das mulheres contra qualquer acto
pelas mulheres; discriminatório;
Afirmando que o reforço da paz e da segurança internacionais, o abrandamento da tensão d) Abster-se de qualquer acto ou prática discriminatórios contra as mulheres e actuar
internacional, a cooperação entre todos os Estados, sejam quais forem os seus sistemas sociais e por forma que as autoridades e instituições públicas se conformem com esta
económicos, o desarmamento geral e completo, em particular o desarmamento nuclear sob contrôle obrigação;
internacional estrito e eficaz, a afirmação dos princípios da justiça, da igualdade e da vantagem mútua
e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação praticada contra
nas relações entre países e a realização do direito dos povos sujeitos a dominação estrangeira e
as mulheres por uma pessoa, uma organização ou uma empresa qualquer;
colonial e a ocupação estrangeira à autodeterminação e à independência, assim como o respeito da
soberania nacional e da integridade territorial, favorecerão o progresso social e o desenvolvimento e f) Tomar todas as medidas apropriadas, incluindo disposições legislativas, para
contribuirão em consequência para a realização da plena igualdade entre os homens e as mulheres; modificar ou revogar qualquer lei, disposição regulamentar, costume ou prática que
constitua discriminação contra as mulheres;
Convencidos de que o desenvolvimento pleno de um país, o bem-estar do mundo e a causa da paz
necessitam da máxima participação das mulheres, em igualdade com os homens, em todos os g) Revogar todas as disposições penais que constituam discriminação contra as
domínios; mulheres.

Tomando em consideração a importância da contribuição das mulheres para o bem-estar da família e o


ARTIGO 3.º
progresso da sociedade, que até agora não foi plenamente reconhecida, a importância social da
maternidade e do papel de ambos os pais na família e na educação das crianças, e conscientes de que
o papel das mulheres na procriação não deve ser uma causa de discriminação, mas de que a educação Os Estados Partes tomam em todos os domínios, nomeadamente nos domínios político, social,
das crianças exige a partilha das responsabilidades entre os homens, as mulheres e a sociedade no seu económico e cultural, todas as medidas apropriadas, incluindo disposições legislativas, para assegurar
conjunto;

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correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
o pleno desenvolvimento e o progresso das mulheres, com vista a garantir-lhes o exercício e o gozo ARTIGO 9.º
dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, com base na igualdade com os homens.
1 - Os Estados Partes concedem às mulheres direitos iguais aos dos homens no que respeita à
ARTIGO 4.º aquisição, mudança e conservação da nacionalidade. Garantem, em particular, que nem o casamento
com um estrangeiro nem a mudança de nacionalidade do marido na constância do casamento
1 - A adopção pelos Estados Partes de medidas temporárias especiais visando acelerar a instauração de produzem automaticamente a mudança de nacionalidade da mulher, a tornam apátrida ou a obrigam a
uma igualdade de facto entre os homens e as mulheres não é considerada como um acto de adquirir a nacionalidade do marido.
discriminação, tal como definido na presente Convenção, mas não deve por nenhuma forma ter como 2 - Os Estados Partes concedem às mulheres direitos iguais aos dos homens no que respeita à
consequência a manutenção de normas desiguais ou distintas; estas medidas devem ser postas de nacionalidade dos filhos.
parte quando os objectivos em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento tiverem sido
atingidos. PARTE III
2 - A adopção pelos Estados Partes de medidas especiais, incluindo as medidas previstas na presente
Convenção que visem proteger a maternidade, não é considerada como um acto discriminatório. ARTIGO 10.º

ARTIGO 5.º Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as
mulheres com o fim de lhes assegurar direitos iguais aos dos homens no domínio da educação e, em
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para: particular, para assegurar, com base na igualdade dos homens e das mulheres:

a) Modificar os esquemas e modelos de comportamento sócio-cultural dos homens e a) As mesmas condições de orientação profissional, de acesso aos estudos e de
das mulheres com vista a alcançar a eliminação dos preconceitos e das práticas obtenção de diplomas nos estabelecimentos de ensino de todas as categorias, nas
costumeiras, ou de qualquer outro tipo, que se fundem na ideia de inferioridade ou de zonas rurais como nas zonas urbanas, devendo esta igualdade ser assegurada no
superioridade de um ou de outro sexo ou de um papel estereotipado dos homens e ensino pré-escolar, geral, técnico, profissional e técnico superior, assim como em
das mulheres; qualquer outro meio de formação profissional;

b) Assegurar que a educação familiar contribua para um entendimento correcto da b) O acesso aos mesmos programas, aos mesmos exames, a um pessoal de ensino
maternidade como função social e para o reconhecimento da responsabilidade comum possuindo qualificações do mesmo nível, a locais escolares e a equipamento da mesma
dos homens e das mulheres na educação e desenvolvimento dos filhos, devendo qualidade;
entender-se que o interesse das crianças é consideração primordial em todos os casos. c) A eliminação de qualquer concepção estereotipada dos papéis dos homens e das
mulheres a todos os níveis e em todas as formas de ensino, encorajando a coeducação
ARTIGO 6.º e outros tipos de educação que ajudarão a realizar este objectivo, em particular
revendo os livros e programas escolares e adaptando os métodos pedagógicos;
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas, incluindo disposições legislativas, para d) As mesmas possibilidades no que respeita à concessão de bolsas e outros subsídios
suprimir todas as formas de tráfico das mulheres e de exploração da prostituição das mulheres. para os estudos;
e) As mesmas possibilidades de acesso aos programas de educação permanente,
PARTE II
incluindo os programas de alfabetização para adultos e de alfabetização funcional, com
vista, nomeadamente, a reduzir o mais cedo possível qualquer desnível de instrução
ARTIGO 7.º
que exista entre os homens e as mulheres;

Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as f) A redução das taxas de abandono feminino dos estudos e a organização de
mulheres na vida política e pública do país e, em particular, asseguram-lhes, em condições de programas para as raparigas e as mulheres que abandonarem prematuramente a
igualdade com os homens, o direito: escola;

a) De votar em todas as eleições e em todos os referendos públicos e de ser elegíveis g) As mesmas possibilidades de participar activamente nos desportos e na educação
para todos os organismos publicamente eleitos; física;

b) De tomar parte na formulação da política do Estado e na sua execução, de ocupar h) O acesso a informações específicas de carácter educativo tendentes a assegurar a
empregos públicos e de exercer todos os cargos públicos a todos os níveis do governo; saúde e o bem-estar das famílias, incluindo a informação e o aconselhamento relativos
ao planeamento da família.
c) De participar nas organizações e associações não governamentais que se ocupem
da vida pública e política do país.
ARTIGO 11.º

ARTIGO 8.º
1 - Os Estados Partes comprometem-se a tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a
discriminação contra as mulheres no domínio do emprego com o fim de assegurar, com base na
Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para que as mulheres, em condições de
igualdade dos homens e das mulheres, os mesmos direitos, em particular:
igualdade com os homens e sem nenhuma discriminação, tenham a possibilidade de representar os
seus governos à escala internacional e de participar nos trabalhos das organizações internacionais. a) O direito ao trabalho, enquanto direito inalienável de todos os seres humanos;

3 4
b) O direito às mesmas possibilidades de emprego, incluindo a aplicação dos mesmos b) O direito a empréstimos bancários, empréstimos hipotecários e outras formas de
critérios de selecção em matéria de emprego; crédito financeiro;
c) O direito à livre escolha da profissão e do emprego, o direito à promoção, à c) O direito de participar nas actividades recreativas, nos desportos e em todos os
estabilidade do emprego e a todas as prestações e condições de trabalho e o direito à aspectos da vida cultural.
formação profissional e à reciclagem, incluindo a aprendizagem, o aperfeiçoamento
profissional e a formação permanente; ARTIGO 14.º
d) O direito à igualdade de remuneração, incluindo prestações, e à igualdade de
tratamento para um trabalho de igual valor, assim como à igualdade de tratamento no 1 - Os Estados Partes têm em conta os problemas particulares das mulheres rurais e o papel
que respeita à avaliação da qualidade do trabalho; importante que estas mulheres desempenham para a sobrevivência económica das suas famílias,
nomeadamente pelo seu trabalho nos sectores não monetários da economia, e tomam todas as
e) O direito à segurança social, nomeadamente às prestações de reforma,
medidas apropriadas para assegurar a aplicação das disposições da presente Convenção às mulheres
desemprego, doença, invalidez e velhice ou relativas a qualquer outra perda de
das zonas rurais.
capacidade de trabalho, assim como o direito a férias pagas;
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as
f) O direito à protecção da saúde e à segurança nas condições de trabalho, incluindo a
mulheres nas zonas rurais, com o fim de assegurar, com base na igualdade dos homens e das
salvaguarda da função de reprodução.
mulheres, a sua participação no desenvolvimento rural e nas suas vantagens e, em particular,
2 - Com o fim de evitar a discriminação contra as mulheres por causa do casamento ou da maternidade assegurando-lhes o direito:
e de garantir o seu direito efectivo ao trabalho, os Estados Partes comprometem-se a tomar medidas
a) De participar plenamente na elaboração e na execução dos planos do
apropriadas para:
desenvolvimento a todos os níveis;
a) Proibir, sob pena de sanções, o despedimento por causa da gravidez ou de gozo do
b) De ter acesso aos serviços adequados no domínio da saúde, incluindo a informação,
direito a um período de dispensa do trabalho por ocasião da maternidade, bem como a
aconselhamento e serviços em matéria de planeamento da família;
discriminação nos despedimentos fundada no estado matrimonial;
c) De beneficiar directamente dos programas de segurança social;
b) Instituir a concessão do direito a um período de dispensa do trabalho por ocasião
da maternidade pago ou conferindo direito a prestações sociais comparáveis, com a d) De receber qualquer tipo de formação e de educação, escolares ou não, incluindo
garantia da manutenção do emprego anterior, dos direitos de antiguidade e das em matéria de alfabetização funcional, e de poder beneficiar de todos os serviços
vantagens sociais; comunitários e de extensão, nomeadamente para melhorar a sua competência técnica;

c) Encorajar o fornecimento dos serviços sociais de apoio necessários para permitir e) De organizar grupos de entreajuda e cooperativas com o fim de permitir a
aos pais conciliar as obrigações familiares com as responsabilidades profissionais e a igualdade de oportunidades no plano económico, quer se trate de trabalho assalariado
participação na vida pública, em particular favorecendo a criação e o desenvolvimento ou de trabalho independente;
de uma rede de estabelecimentos de guarda de crianças; f) De participar em todas as actividades da comunidade;
d) Assegurar uma protecção especial às mulheres grávidas cujo trabalho é g) De ter acesso ao crédito e aos empréstimos agrícolas, assim como aos serviços de
comprovadamente nocivo. comercialização e às tecnologias apropriadas, e de receber um tratamento igual nas
3 - A legislação que visa proteger as mulheres nos domínios abrangidos pelo presente artigo será reformas fundiárias e agrárias e nos projectos de reordenamento rural;
revista periodicamente em função dos conhecimentos científicos e técnicos e será modificada, revogada h) De beneficiar de condições de vida convenientes, nomeadamente no que diz
ou alargada segundo as necessidades. respeito a alojamento, saneamento, fornecimento de electricidade e de água,
transportes e comunicações.
ARTIGO 12.º
PARTE IV
1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as
mulheres no domínio dos cuidados de saúde, com vista a assegurar-lhes, com base na igualdade dos ARTIGO 15.º
homens e das mulheres, o acesso aos serviços médicos, incluindo os relativos ao planeamento da
família. 1 - Os Estados Partes reconhecem às mulheres a igualdade com os homens perante a lei.
2 - Não obstante as disposições do parágrafo 1 deste artigo, os Estados Partes fornecerão às mulheres 2 - Os Estados Partes reconhecem às mulheres, em matéria civil, capacidade jurídica idêntica à dos
durante a gravidez, durante o parto e depois do parto serviços apropriados e, se necessário, gratuitos, homens e as mesmas possibilidades de exercício dessa capacidade. Reconhecem-lhes, em particular,
assim como uma nutrição adequada durante a gravidez e o aleitamento. direitos iguais no que respeita à celebração de contratos e à administração dos bens e concedem-lhes o
mesmo tratamento em todos os estádios do processo judicial.
ARTIGO 13.º
3 - Os Estados Partes acordam em que qualquer contrato e qualquer outro instrumento privado, seja
de que tipo for, que vise limitar a capacidade jurídica da mulher deve ser considerado como nulo.
Os Estados Partes comprometem-se a tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a
discriminação contra as mulheres em outros domínios da vida económica e social, com o fim de 4 - Os Estados Partes reconhecem aos homens e às mulheres os mesmos direitos no que respeita à
assegurar, com base na igualdade dos homens e das mulheres, os mesmos direitos, em particular: legislação relativa à livre circulação das pessoas e à liberdade de escolha de residência e domicílio.

a) O direito a prestações familiares;

5 6
ARTIGO 16.º 4 - Os membros do Comité são eleitos no decurso de uma reunião dos Estados Partes convocada pelo
Secretário-Geral para a sede da Organização das Nações Unidas. Nesta reunião, em que o quórum é
1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas necessárias para eliminar a discriminação contra as constituído por dois terços dos Estados Partes, são eleitos membros do Comité os candidatos que
mulheres em todas as questões relativas ao casamento e às relações familiares e, em particular, tenham obtido o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos
asseguram, com base na igualdade dos homens e das mulheres: Estados Partes presentes e votantes.
a) O mesmo direito de contrair casamento; 5 - Os membros do Comité são eleitos para um período de quatro anos. No entanto, o mandato de
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de só contrair casamento de nove dos membros eleitos na primeira eleição termina ao fim de dois anos; o presidente do Comité tira
livre e plena vontade; à sorte os nomes destes nove membros imediatamente depois da primeira eleição.

c) Os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades na constância do casamento e 6 - A eleição dos cinco membros adicionais do Comité realiza-se nos termos das disposições dos
aquando da sua dissolução; parágrafos 2, 3 e 4 do presente artigo, a seguir à 35.ª ratificação ou adesão. O mandato de dois dos
membros adicionais eleitos nesta ocasião termina ao fim de dois anos; o nome destes dois membros é
d) Os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades enquanto pais, seja qual for o tirado à sorte pelo presidente do Comité.
estado civil, para as questões relativas aos seus filhos; em todos os casos, o interesse
das crianças será a consideração primordial; 7 - Para suprir eventuais vagas, o Estado Parte cujo perito tenha cessado de exercer as suas funções
de membro do Comité nomeia um outro perito de entre os seus nacionais, sob reserva da aprovação
e) Os mesmos direitos de decidir livremente e com todo o conhecimento de causa do do Comité.
número e do espaçamento dos nascimentos e de ter acesso à informação, à educação
e aos meios necessários para permitir o exercício destes direitos; 8 - Os membros do Comité recebem, com a aprovação da Assembleia Geral, emolumentos retirados
dos fundos da Organização das Nações Unidas, nas condições fixadas pela Assembleia, tendo em conta
f) Os mesmos direitos e responsabilidades em matéria de tutela, curatela, guarda e a importância das funções do Comité.
adopção das crianças, ou instituições similares, quando estes institutos existam na
legislação nacional; em todos os casos, o interesse das crianças será a consideração 9 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas põe à disposição do Comité o pessoal e os
primordial; meios materiais que lhe são necessários para o desempenho eficaz das funções que lhe são confiadas
pela presente Convenção.
g) Os mesmos direitos pessoais ao marido e à mulher, incluindo o que respeita à
escolha do nome de família, de uma profissão e de uma ocupação;
ARTIGO 18.º
h) Os mesmos direitos a cada um dos cônjuges em matéria de propriedade, aquisição,
gestão, administração, gozo e disposição dos bens, tanto a título gratuito como a título 1 - Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Secretário-Geral da Organização das Nações
oneroso. Unidas, para exame pelo Comité, um relatório sobre as medidas de ordem legislativa, judiciária,
2 - A promessa de casamento e o casamento de crianças não terão efeitos jurídicos e todas as medidas administrativa ou outra que tenham adoptado para dar aplicação às disposições da presente Convenção
necessárias, incluindo disposições legislativas, serão tomadas com o fim de fixar uma idade mínima e sobre os progressos realizados a este respeito:
para o casamento e de tornar obrigatório o registo do casamento num registo oficial. a) No ano seguinte à entrada em vigor da Convenção para o Estado interessado;
b) Em seguida, de quatro em quatro anos, e sempre que o Comité o pedir.
PARTE V
2 - Os relatórios podem indicar os factores e dificuldades que afectam a medida em que são cumpridas
ARTIGO 17.º as obrigações previstas pela presente Convenção.

1 - Com o fim de examinar os progressos realizados na aplicação da presente Convenção, é constituído ARTIGO 19.º
um Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (em seguida denominado Comité),
que se compõe, no momento da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, depois da sua 1 - O Comité adopta o seu próprio regulamento interior.
ratificação ou da adesão do 35.º Estado Parte, de vinte e três peritos de uma alta autoridade moral e 2 - O Comité elege o seu secretariado para um período de dois anos.
de grande competência no domínio abrangido pela presente Convenção. Os peritos são eleitos pelos
Estados Partes de entre os seus nacionais e exercem as suas funções a título pessoal, devendo ter-se ARTIGO 20.º
em conta o princípio de uma repartição geográfica equitativa e de representação das diferentes formas
de civilização, assim como dos principais sistemas jurídicos. 1 - O Comité reúne normalmente durante um período de duas semanas no máximo em cada ano para
2 - Os membros do Comité são eleitos por escrutínio secreto de entre uma lista de candidatos examinar os relatórios apresentados nos termos do artigo 18.º da presente Convenção*.
designados pelos Estados Partes. Cada Estado Parte pode designar um candidato escolhido de entre os 2 - As sessões do Comité têm lugar normalmente na sede da Organização das Nações Unidas ou em
seus nacionais. qualquer outro lugar adequado determinado pelo Comité.
3 - A primeira eleição tem lugar seis meses depois da data da entrada em vigor da presente
Convenção. Pelo menos três meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral da Organização ARTIGO 21.º
das Nações Unidas dirige uma carta aos Estados Partes para os convidar a submeter as suas
candidaturas num prazo de dois meses. O Secretário-Geral elabora uma lista alfabética de todos os 1 - O Comité presta contas todos os anos à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por
candidatos, indicando por que Estado foram designados, lista que comunica aos Estados Partes. intermédio do Conselho Económico e Social, das suas actividades e pode formular sugestões e
recomendações gerais fundadas no exame dos relatórios e das informações recebidas dos Estados

7 8
Partes. Estas sugestões e recomendações são incluídas no relatório do Comité, acompanhadas, sendo 2 - Para cada um dos Estados que ratifiquem a presente Convenção ou a ela adiram depois do depósito
caso disso, das observações dos Estados Partes. do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão, a mesma Convenção entra em vigor no 30.º dia a
2 - O Secretário-Geral transmite os relatórios do Comité à Comissão do Estatuto das Mulheres para seguir à data do depósito por esse Estado do seu instrumento de ratificação ou de adesão.
informação.
ARTIGO 28.º
ARTIGO 22.º
1 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas recebe e comunica a todos os Estados o
As instituições especializadas têm o direito de estar representadas aquando do exame da aplicação de texto das reservas que forem feitas no momento da ratificação ou da adesão.
qualquer disposição da presente Convenção que entre no âmbito das suas actividades. O Comité pode 2 - Não é autorizada nenhuma reserva incompatível com o objecto e o fim da presente Convenção.
convidar as instituições especializadas a submeter relatórios sobre a aplicação da Convenção nos 3 - As reservas podem ser retiradas em qualquer momento por via de notificação dirigida ao
domínios que entram no âmbito das suas actividades. Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual informa todos os Estados Partes na
Convenção. A notificação tem efeitos na data da recepção.
PARTE VI
ARTIGO 29.º
ARTIGO 23.º

1 - Qualquer diferendo entre dois ou mais Estados Partes relativamente à interpretação ou à aplicação
Nenhuma das disposições da presente Convenção põe em causa as disposições mais propícias à da presente Convenção que não seja resolvido por via de negociação é submetido a arbitragem, a
realização da igualdade entre os homens e as mulheres que possam conter-se: pedido de um de entre eles. Se nos seis meses a seguir à data do pedido de arbitragem as Partes não
a) Na legislação de um Estado Parte; chegarem a acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer delas pode submeter o diferendo ao
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo internacional em vigor nesse Tribunal Internacional de Justiça, mediante um requerimento nos termos do Estatuto do Tribunal.
Estado. 2 - Qualquer Estado Parte pode, no momento em que assinar a presente Convenção, a ratificar ou a ela
aderir, declarar que não se considera vinculado pelas disposições do parágrafo 1 do presente artigo. Os
ARTIGO 24.º outros Estados Partes não estão vinculados pelas mesmas disposições nas suas relações com um
Estado Parte que tiver formulado uma tal reserva.
Os Estados Partes comprometem-se a adoptar todas as medidas necessárias ao nível nacional para 3 - Qualquer Estado Parte que tenha formulado uma reserva conformemente às disposições do
assegurar o pleno exercício dos direitos reconhecidos pela presente Convenção. parágrafo 2 do presente artigo pode em qualquer momento retirar essa reserva por uma notificação
dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
ARTIGO 25.º
ARTIGO 30.º
1 - A presente Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados.
2 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas é designado como depositário da presente A presente Convenção, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo fazem
Convenção. igualmente fé, é depositada junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

3 - A presente Convenção está sujeita a ratificação e os instrumentos de ratificação são depositados


junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
4 - A presente Convenção está aberta à adesão de todos os Estados. A adesão efectua-se pelo depósito
* 22 de Dezembro de 1995, a Assembleia Geral da ONU adoptou uma emenda a este art.º 20.º, n.º 1, com o seguinte texto:
de um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. “O Comité reúne, em regra, anualmente a fim de examinar os relatórios apresentados nos termos do disposto no artigo 18.º da
presente Convenção. A duração das sessões do Comité é determinada por uma reunião dos Estados Partes na presente
Convenção, sujeita a aprovação da Assembleia Geral”. Até finais de Novembro de 2010, esta emenda não havia ainda entrado
ARTIGO 26.º em vigor.

1 - Qualquer Estado Parte pode pedir em qualquer momento a revisão da presente Convenção,
dirigindo uma comunicação escrita para este efeito ao Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas.
2 - A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas decide das medidas a tomar, sendo caso
disso, em relação a um pedido desta natureza.

ARTIGO 27.º

1 - A presente Convenção entra em vigor no 30.º dia a seguir à data do depósito junto do Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão.

9 10
termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.
[ Nº de artigos:54 ]
  Resol. da AR n.º 20/90, de 12 de Setembro  (versão actualizada)

 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA   ARTIGO 2.º


1 - Os Estados Partes comprometem-se a respeitar e a garantir os direitos previstos na presente
SUMÁRIO
Convenção a todas as crianças que se encontrem sujeitas à sua jurisdição, sem discriminação
Aprova, para ratificação, a Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada em Nova Iorque a
alguma, independentemente de qualquer consideração de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
26 de Janeiro de 1990
política ou outra da criança, de seus pais ou representantes legais, ou da sua origem nacional, étnica
__________________________
ou social, fortuna, incapacidade, nascimento ou de qualquer outra situação.
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas para que a criança seja efectivamente
Resolução da Assembleia da República n.º 20/90
protegida contra todas as formas de discriminação ou de sanção decorrentes da situação jurídica, de
Convenção sobre os Direitos da Criança
actividades, opiniões expressas ou convicções de seus pais, representantes legais ou outros membros
A Assembleia da República resolve, nos termos dos artigos 164.º, alínea j), e 169.º, n.º 5, da da sua família.
Constituição, aprovar, para ratificação, a Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada em Nova
Iorque a 26 de Janeiro de 1990, cujo original em inglês e a respectiva tradução em português seguem
em anexo.
Aprovada em 8 de Junho de 1990.
  ARTIGO 3.º
O Presidente da Assembleia da República, Vítor Pereira Crespo.
1 - Todas as decisões relativas a crianças, adoptadas por instituições públicas ou privadas de
protecção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, terão
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA
primacialmente em conta o interesse superior da criança.
2 - Os Estados Partes comprometem-se a garantir à criança a protecção e os cuidados necessários ao
Preâmbulo
seu bem-estar, tendo em conta os direitos e deveres dos pais, representantes legais ou outras
Os Estados Partes na presente Convenção:
pessoas que a tenham legalmente a seu cargo e, para este efeito, tomam todas as medidas
Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados pela Carta das Nações Unidas, o legislativas e administrativas adequadas.
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos 3 - Os Estados Partes garantem que o funcionamento de instituições, serviços e estabelecimentos que
iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; têm crianças a seu cargo e asseguram que a sua protecção seja conforme às normas fixadas pelas
Tendo presente que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamaram, de novo, a sua fé nos autoridades competentes, nomeadamente nos domínios da segurança e saúde, relativamente ao
direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana e que resolveram número e qualificação do seu pessoal, bem como quanto à existência de uma adequada fiscalização.
favorecer o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa liberdade mais ampla;
Reconhecendo que as Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e nos pactos
internacionais relativos aos direitos do homem, proclamaram e acordaram em que toda a pessoa
humana pode invocar os direitos e liberdades aqui enunciados, sem distinção alguma, nomeadamente   ARTIGO 4.º
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de
Os Estados Partes comprometem-se a tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras
fortuna, nascimento ou de qualquer outra situação;
necessárias à realização dos direitos reconhecidos pela presente Convenção. No caso de direitos
Recordando que, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Organização das Nações Unidas
económicos, sociais e culturais, tomam essas medidas no limite máximo dos seus recursos disponíveis
proclamou que a infância tem direito a uma ajuda e assistência especiais;
e, se necessário, no quadro da cooperação internacional.
Convictos de que a família, elemento natural e fundamental da sociedade e meio natural para o
crescimento e bem-estar de todos os seus membros, e em particular das crianças, deve receber a
protecção e a assistência necessárias para desempenhar plenamente o seu papel na comunidade;
Reconhecendo que a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer
  ARTIGO 5.º
num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão;
Considerando que importa preparar plenamente a criança para viver uma vida individual na Os Estados Partes respeitam as responsabilidades, direitos e deveres dos pais e, sendo caso disso, dos
sociedade e ser educada no espírito dos ideais proclamados na Carta das Nações Unidas e, em membros da família alargada ou da comunidade nos termos dos costumes locais, dos representantes
particular, num espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade; legais ou de outras pessoas que tenham a criança legalmente a seu cargo, de assegurar à criança, de
Tendo presente que a necessidade de garantir uma protecção especial à criança foi enunciada pela forma compatível com o desenvolvimento das suas capacidades, a orientação e os conselhos
Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança e pela Declaração dos Direitos da adequados ao exercício dos direitos que lhe são reconhecidos pela presente Convenção.
Criança adoptada pelas Nações Unidas em 1959, e foi reconhecida pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem, pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (nomeadamente nos
artigos 23.º e 24.º), pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais
(nomeadamente o artigo 10.º) e pelos estatutos e instrumentos pertinentes das agências   ARTIGO 6.º
especializadas e organizações internacionais que se dedicam ao bem-estar da criança; 1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito inerente à vida.

Tendo presente que, como indicado na Declaração dos Direitos da Criança, adoptada em 20 de 2 - Os Estados Partes asseguram na máxima medida possível a sobrevivência e o desenvolvimento da
Novembro de 1959 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, «a criança, por motivo da sua falta de criança.
maturidade física e intelectual, tem necessidade de uma protecção e cuidados especiais,
nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento»;
Recordando as disposições da Declaração sobre os Princípios Sociais e Jurídicos Aplicáveis a Protecção
e Bem-Estar das Crianças, com Especial Referência à Adopção e Colocação Familiar nos Planos   ARTIGO 7.º
Nacional e Internacional (Resolução n.º 41/85 da Assembleia Geral, de 3 de Dezembro de 1986), o 1 - A criança é registada imediatamente após o nascimento e tem desde o nascimento o direito a um
Conjunto de Regras Mínimas das Nações Unidas relativas à Administração da Justiça para Menores nome, o direito a adquirir uma nacionalidade e, sempre que possível, o direito de conhecer os seus
(«Regras de Beijing») (Resolução n.º 40/33 da Assembleia Geral, de 29 de Novembro de 1985) e a pais e de ser educada por eles.
Declaração sobre Protecção de Mulheres e Crianças em Situação de Emergência ou de Conflito 2 - Os Estados Partes garantem a realização destes direitos de harmonia com a legislação nacional e
Armado [Resolução n.º 3318 (XXIX) da Assembleia Geral, de 14 de Dezembro de 1974]; as obrigações decorrentes dos instrumentos jurídicos internacionais relevantes neste domínio,
Reconhecendo que em todos os países do mundo há crianças que vivem em condições nomeadamente nos casos em que, de outro modo, a criança ficasse apátrida.
particularmente difíceis e que importa assegurar uma atenção especial a essas crianças;
Tendo devidamente em conta a importância das tradições e valores culturais de cada povo para a
protecção e o desenvolvimento harmonioso da criança;
Reconhecendo a importância da cooperação internacional para a melhoria das condições de vida das   ARTIGO 8.º
crianças em todos os países, em particular nos países em desenvolvimento;
acordam no seguinte: 1 - Os Estados Partes comprometem-se a respeitar o direito da criança e a preservar a sua
identidade, incluindo a nacionalidade, o nome e relações familiares, nos termos da lei, sem
PARTE I ingerência ilegal.
  ARTIGO 1.º 2 - No caso de uma criança ser ilegalmente privada de todos os elementos constitutivos da sua
Nos termos da presente Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos identidade ou de alguns deles, os Estados Partes devem assegurar-lhe assistência e protecção
adequadas, de forma que a sua identidade seja restabelecida o mais rapidamente possível.

  ARTIGO 14.º
  ARTIGO 9.º 1 - Os Estados Partes respeitam o direito da criança à liberdade de pensamento, de consciência e de
1 - Os Estados Partes garantem que a criança não é separada de seus pais contra a vontade destes, religião.
salvo se as autoridades competentes decidirem, sem prejuízo de revisão judicial e de harmonia com 2 - Os Estados Partes respeitam os direitos e deveres dos pais e, sendo caso disso, dos
a legislação e o processo aplicáveis, que essa separação é necessária no interesse superior da respresentantes legais, de orientar a criança no exercício deste direito, de forma compatível com o
criança. Tal decisão pode mostrar-se necessária no caso de, por exemplo, os pais maltratarem ou desenvolvimento das suas capacidades.
negligenciarem a criança ou no caso de os pais viverem separados e uma decisão sobre o lugar da 3 - A liberdade de manifestar a sua religião ou as suas convicções só pode ser objecto de restrições
residência da criança tiver de ser tomada. previstas na lei e que se mostrem necessárias à protecção da segurança, da ordem e da saúde
2 - Em todos os casos previstos no n.º 1 todas as partes interessadas devem ter a possibilidade de públicas, ou da moral e das liberdades e direitos fundamentais de outrem.
participar nas deliberações e de dar a conhecer os seus pontos de vista.
3 - Os Estados Partes respeitam o direito da criança separada de um ou de ambos os seus pais de
manter regularmente relações pessoais e contactos directos com ambos, salvo se tal se mostrar
contrário ao interesse superior da criança.   ARTIGO 15.º
4 - Quando a separação resultar de medidas tomadas por um Estado Parte, tais como a detenção, 1 - Os Estados Partes reconhecem os direitos da criança à liberdade de associação e à liberdade de
prisão, exílio, expulsão ou morte (incluindo a morte ocorrida no decurso de detenção, reunião pacífica.
independentemente da sua causa) de ambos os pais ou de um deles, ou da criança, o Estado Parte, 2 - O exercício destes direitos só pode ser objecto de restrições previstas na lei e que sejam
se tal lhe for solicitado, dará aos pais, à criança ou, sendo esse o caso, a um outro membro da necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da segurança
família informações essenciais sobre o local onde se encontram o membro ou membros da família, a pública, da ordem pública, para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades de
menos que a divulgação de tais informações se mostre prejudicial ao bem-estar da criança. Os outrem.
Estados Partes comprometem-se, além disso, a que a apresentação de um pedido de tal natureza não
determine em si mesmo consequências adversas para a pessoa ou pessoas interessadas.

  ARTIGO 16.º

  ARTIGO 10.º 1 - Nenhuma criança pode ser sujeita a intromissões arbitrárias ou ilegais na sua vida privada, na sua
família, no seu domicílio ou correspondência, nem a ofensas ilegais à sua honra e reputação.
1 - Nos termos da obrigação decorrente para os Estados Partes ao abrigo do n.º 1 do artigo 9.º, todos 2 - A criança tem direito à protecção da lei contra tais intromissões ou ofensas.
os pedidos formulados por uma criança ou por seus pais para entrar num Estado Parte ou para o
deixar, com o fim de reunificação familiar, são considerados pelos Estados Partes de forma positiva,
com humanidade e diligência. Os Estados Partes garantem, além disso, que a apresentação de um tal
pedido não determinará consequências adversas para os seus autores ou para os membros das suas   ARTIGO 17.º
famílias.
Os Estados Partes reconhecem a importância da função exercida pelos órgãos de comunicação social
2 - Uma criança cujos pais residem em diferentes Estados Partes tem o direito de manter, salvo
e asseguram o acesso da criança à informação e a documentos provenientes de fontes nacionais e
circunstâncias excepcionais, relações pessoais e contactos directos regulares com ambos. Para esse
internacionais diversas, nomeadamente aqueles que visem promover o seu bem-estar social,
efeito, e nos termos da obrigação que decorre para os Estados Partes ao abrigo do n.º 2 do artigo 9.º,
espiritural e moral, assim como a sua saúde física e mental. Para esse efeito, os Estados Partes
os Estados Partes respeitam o direito da criança e de seus pais de deixar qualquer país, incluindo o
devem:
seu, e de regressar ao seu próprio país. O direito de deixar um país só pode ser objecto de restrições
a) Encorajar os órgãos de comunicação social a difundir informação e documentos que revistam
que, sendo previstas na lei, constituam disposições necessárias para proteger a segurança nacional, a
utilidade social e cultural para a criança e se enquadrem no espírito do artigo 29.º;
ordem pública, a saúde ou moral públicas, ou os direitos e liberdades de outrem, e se mostrem
b) Encorajar a cooperação internacional tendente a produzir, trocar e difundir informação e
compatíveis com os outros direitos reconhecidos na presente Convenção.
documentos dessa natureza, provenientes de diferentes fontes culturais, nacionais e internacionais;
c) Encorajar a produção e a difusão de livros para crianças;

d) Encorajar os órgãos de comunicação social a ter particularmente em conta as necessidades


  ARTIGO 11.º linguísticas das crianças indígenas ou que pertençam a um grupo minoritário;
e) Favorecer a elaboração de princípios orientadores adequados à protecção da criança contra a
1 - Os Estados Partes tomam as medidas adequadas para combater a deslocação e a retenção ilícitas informação e documentos prejudiciais ao seu bem-estar, nos termos do disposto nos artigos 13.º e
de crianças no estrangeiro. 18.º
2 - Para esse efeito, os Estados Partes promovem a conclusão de acordos bilaterais ou multilaterais
ou a adesão a acordos existentes.

  ARTIGO 18.º

  ARTIGO 12.º 1 - Os Estados Partes diligenciam de forma a assegurar o reconhecimento do princípio segundo o qual
ambos os pais têm uma responsabilidade comum na educação e no desenvolvimento da criança. A
1 - Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir responsabilidade de educar a criança e de assegurar o seu desenvolvimento cabe primacialmente aos
livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em pais e, sendo caso disso, aos representantes legais. O interesse superior da criança deve constituir a
consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade. sua preocupação fundamental.
2 - Para este fim, é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e 2 - Para garantir e promover os direitos enunciados na presente Convenção, os Estados Partes
administrativos que lhe respeitem, seja directamente, seja através de representante ou de asseguram uma assistência adequada aos pais e representantes legais da criança no exercício da
organismo adequado, segundo as modalidades previstas pelas regras de processo da legislação responsabilidade que lhes cabe de educar a criança e garantem o estabelecimento de instituições,
nacional. instalações e serviços de assistência à infância.
3 - Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas para garantir às crianças cujos pais
trabalhem o direito de beneficiar de serviços e instalações de assistência às crianças para os quais
reúnam as condições requeridas.
  ARTIGO 13.º
1 - A criança tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de procurar,
receber e expandir informações e ideias de toda a espécie, sem considerações de fronteiras, sob
forma oral, escrita, impressa ou artística ou por qualquer outro meio à escolha da criança.   ARTIGO 19.º
2 - O exercício deste direito só pode ser objecto de restrições previstas na lei e que sejam 1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas
necessárias: adequadas à protecção da criança contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou
a) Ao respeito dos direitos e da reputação de outrem;
sevícia, abandono ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração, incluindo a violência sexual,
b) À salvaguarda da segurança nacional, da ordem pública, da saúde ou da moral públicas. enquanto se encontrar sob a guarda de seus pais ou de um deles, dos representantes legais ou de
qualquer outra pessoa a cuja guarda haja sido confiada.
2 - Tais medidas de protecção devem incluir, consoante o caso, processos eficazes para o pedido formulado e adaptada ao estado da criança e à situação dos pais ou daqueles que a tiverem a
estabelecimento de programas sociais destinados a assegurar o apoio necessário à criança e àqueles seu cargo.
a cuja guarda está confiada, bem como outras formas de prevenção, e para identificação, 3 - Atendendo às necessidades particulares da criança deficiente, a assistência fornecida nos termos
elaboração de relatório, transmissão, investigação, tratamento e acompanhamento dos casos de do n.º 2 será gratuita sempre que tal seja possível, atendendo aos recursos financeiros dos pais ou
maus tratos infligidos à criança, acima descritos, compreendendo igualmente, se necessário, daqueles que tiverem a criança a seu cargo, e é concebida de maneira a que a criança deficiente
processos de intervenção judicial. tenha efectivo acesso à educação, à formação, aos cuidados de saúde, à reabilitação, à preparação
para o emprego e a actividades recreativas, e beneficie desses serviços de forma a assegurar uma
integração social tão completa quanto possível e o desenvolvimento pessoal, incluindo nos domínios
cultural e espiritual.
  ARTIGO 20.º 4 - Num espírito de cooperação internacional, os Estados Partes promovem a troca de informações
1 - A criança temporária ou definitivamente privada do seu ambiente familiar ou que, no seu pertinentes no domínio dos cuidados preventivos de saúde e do tratamento médico, psicológico e
interesse superior, não possa ser deixada em tal ambiente tem direito à protecção e assistência funcional das crianças deficientes, incluindo a difusão de informações respeitantes aos métodos de
especiais do Estado. reabilitação e aos serviços de formação profissional, bem como o acesso a esses dados, com vista a
2 - Os Estados Partes asseguram a tais crianças uma protecção alternativa, nos termos da sua permitir que os Estados Partes melhorem as suas capacidades e qualificações e alarguem a sua
legislação nacional. experiência nesses domínios. A este respeito atender-se-á de forma particular às necessidades dos
3 - A protecção alternativa pode incluir, entre outras, a forma de colocação familiar, a kafala do países em desenvolvimento.
direito islâmico, a adopção ou, no caso de tal se mostrar necessário, a colocação em
estabelecimentos adequados de assistência às crianças. Ao considerar tais soluções, importa atender
devidamente à necessidade de assegurar continuidade à educação da criança, bem como à sua
origem étnica, religiosa, cultural e linguística.   ARTIGO 24.º
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito a gozar do melhor estado de saúde possível e a
beneficiar de serviços médicos e de reeducação. Os Estados Partes velam pela garantia de que
nenhuma criança seja privada do direito de acesso a tais serviços de saúde.
  ARTIGO 21.º 2 - Os Estados Partes prosseguem a realização integral deste direito e, nomeadamente, tomam
Os Estados Partes que reconhecem e ou permitem a adopção asseguram que o interesse superior da medidas adequadas para:
criança será a consideração primordial neste domínio e: a) Fazer baixar a mortalidade entre as crianças de tenra idade e a mortalidade infantil;
a) Garantem que a adopção de uma criança é autorizada unicamente pelas autoridades competentes, b) Assegurar a assistência médica e os cuidados de saúde necessários a todas as crianças, enfatizando
que, nos termos da lei e do processo aplicáveis e baseando-se em todas as informações credíveis o desenvolvimento dos cuidados de saúde primários;
relativas ao caso concreto, verificam que a adopção pode ter lugar face à situação da criança c) Combater a doença e a má nutrição, no quadro dos cuidados de saúde primários, graças
relativamente a seus pais, parentes e representantes legais e que, se necessário, as pessoas nomeadamente à utilização de técnicas facilmente disponíveis e ao fornecimento de alimentos
interessadas deram em consciência o seu consentimento à adopção, após se terem socorrido de todos nutritivos e de água potável, tendo em consideração os perigos e riscos da poluição do ambiente;
os pareceres julgados necessários; d) Assegurar às mães os cuidados de saúde, antes e depois do nascimento;

b) Reconhecem que a adopção internacional pode ser considerada como uma forma alternativa de e) Assegurar que todos os grupos da população, nomeadamente os pais e as crianças, sejam
protecção da criança se esta não puder ser objecto de uma medida de colocação numa família de informados, tenham acesso e sejam apoiados na utilização de conhecimentos básicos sobre a saúde e
acolhimento ou adoptiva, ou se não puder ser convenientemente educada no seu país de origem; a nutrição da criança, as vantagens do aleitamento materno, a higiene e a salubridade do ambiente,
c) Garantem à criança sujeito de adopção internacional o gozo das garantias e normas equivalentes bem como a prevenção de acidentes;
às aplicáveis em caso de adopção nacional; f) Desenvolver os cuidados preventivos de saúde, os conselhos aos pais e a educação sobre
d) Tomam todas as medidas adequadas para garantir que, em caso de adopção internacional, a planeamento familiar e os serviços respectivos.
colocação da criança se não traduza num benefício material indevido para os que nela estejam 3 - Os Estados Partes tomam todas as medidas eficazes e adequadas com vista a abolir as práticas
envolvidos; tradicionais prejudiciais à saúde das crianças.
e) Promovem os objectivos deste artigo pela conclusão de acordos ou tratados bilaterais ou 4 - Os Estados Partes comprometem-se a promover e a encorajar a cooperação internacional, de
multilaterais, consoante o caso, e neste domínio procuram assegurar que as colocações de crianças forma a garantir progressivamente a plena realização do direito reconhecido no presente artigo. A
no estrangeiro sejam efectuadas por autoridades ou organismos competentes. este respeito atender-se-á de forma particular às necessidades dos países em desenvolvimento.

  ARTIGO 22.º   ARTIGO 25.º


1 - Os Estados Partes tomam as medidas necessárias para que a criança que requeira o estatuto de Os Estados Partes reconhecem à criança que foi objecto de uma medida de colocação num
refugiado ou que seja considerada refugiado, de harmonia com as normas e processos de direito estabelecimento pelas autoridades competentes, para fins de assistência, protecção ou tratamento
internacional ou nacional aplicáveis, quer se encontre só, quer acompanhada de seus pais ou de físico ou mental, o direito à revisão periódica do tratamento a que foi submetida e de quaisquer
qualquer outra pessoa, beneficie de adequada protecção e assistência humanitária, de forma a outras circunstâncias ligadas à sua colocação.
permitir o gozo dos direitos reconhecidos pela presente Convenção e outros instrumentos
internacionais relativos aos direitos do homem ou de carácter humanitário, de que os referidos
Estados sejam Partes.
2 - Para esse efeito, os Estados Partes cooperam, nos termos considerados adequados, nos esforços   ARTIGO 26.º
desenvolvidos pela Organização das Nações Unidas e por outras organizações intergovernamentais ou 1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito de beneficiar da segurança social e tomam
não governamentais competentes que colaborem com a Organização das Nações Unidas na protecção todas as medidas necessárias para assegurar a plena realização deste direito, nos termos da sua
e assistência de crianças que se encontrem em tal situação, e na procura dos pais ou de outros legislação nacional.
membros da família da criança refugiada, de forma a obter as informações necessárias à reunificação 2 - As prestações, se a elas houver lugar, devem ser atribuídas tendo em conta os recursos e a
familiar. No caso de não terem sido encontrados os pais ou outros membros da família, a criança situação da criança e das pessoas responsáveis pela sua manutenção, assim como qualquer outra
deve beneficiar, à luz dos princípios enunciados na presente Convenção, da protecção assegurada a consideração relativa ao pedido de prestação feito pela criança ou em seu nome.
toda a criança que, por qualquer motivo, se encontre privada temporária ou definitivamente do seu
ambiente familiar.

  ARTIGO 27.º
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito a um nível de vida suficiente, de forma a
  ARTIGO 23.º permitir o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança mental e fisicamente deficiente o direito a uma vida 2 - Cabe primacialmente aos pais e às pessoas que têm a criança a seu cargo a responsabilidade de
plena e decente em condições que garantam a sua dignidade, favoreçam a sua autonomia e facilitem assegurar, dentro das suas possibilidades e disponibilidades económicas, as condições de vida
a sua participação activa na vida da comunidade. necessárias ao desenvolvimento da criança.
2 - Os Estados Partes reconhecem à criança deficiente o direito de beneficiar de cuidados especiais e 3 - Os Estados Partes, tendo em conta as condições nacionais e na medida dos seus meios, tomam as
encorajam e asseguram, na medida dos recursos disponíveis, a prestação à criança que reúna as medidas adequadas para ajudar os pais e outras pessoas que tenham a criança a seu cargo a realizar
condições requeridas e àqueles que a tenham a seu cargo de uma assistência correspondente ao este direito e asseguram, em caso de necessidade, auxílio material e programas de apoio,
nomeadamente no que respeita à alimentação, vestuário e alojamento. saúde ou o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social.
4 - Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas tendentes a assegurar a cobrança da 2 - Os Estados Partes tomam medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas para
pensão alimentar devida à criança, de seus pais ou de outras pessoas que tenham a criança assegurar a aplicação deste artigo. Para esse efeito, e tendo em conta as disposições relevantes de
economicamente a seu cargo, tanto no seu território quanto no estrangeiro. Nomeadamente, quando outros instrumentos jurídicos internacionais, os Estados Partes devem, nomeadamente:
a pessoa que tem a criança economicamente a seu cargo vive num Estado diferente do da criança, os a) Fixar uma idade mínima ou idades mínimas para a admissão a um emprego;

Estados Partes devem promover a adesão a acordos internacionais ou a conclusão de tais acordos, b) Adoptar regulamentos próprios relativos à duração e às condições de trabalho; e
assim como a adopção de quaisquer outras medidas julgadas adequadas. c) Prever penas ou outras sanções adequadas para assegurar uma efectiva aplicação deste artigo.

  ARTIGO 28.º   ARTIGO 33.º


1 - Os Estados Partes reconhecem o direito da criança a educação e tendo, nomeadamente, em vista Os Estados Partes adoptam todas as medidas adequadas, incluindo medidas legislativas,
assegurar progressivamente o exercício desse direito na base da igualdade de oportunidades: administrativas, sociais e educativas para proteger as crianças contra o consumo ilícito de
a) Tornam o ensino primário obrigatório e gratuito para todos;
estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, tais como definidos nas convenções internacionais
b) Encorajam a organização de diferentes sistemas de ensino secundário, geral e profissional, tornam aplicáveis, e para prevenir a utilização de crianças na produção e no tráfico ilícitos de tais
estes públicos e acessíveis a todas as crianças e tomam medidas adequadas, tais como a introdução substâncias.
da gratuitidade do ensino e a oferta de auxílio financeiro em caso de necessidade;
c) Tornam o ensino superior acessível a todos, em função das capacidades de cada um, por todos os
meios adequados;
d) Tornam a informação e a orientação escolar e profissional públicas e acessíveis a todas as   ARTIGO 34.º
crianças; Os Estados Partes comprometem-se a proteger a criança contra todas as formas de exploração e de
e) Tomam medidas para encorajar a frequência escolar regular e a redução das taxas de abandono violência sexuais. Para esse efeito, os Estados Partes devem, nomeadamente, tomar todas as
escolar. medidas adequadas, nos planos nacional, bilateral e multilateral para impedir:
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas para velar por que a disciplina escolar seja a) Que a criança seja incitada ou coagida dedicar-se a uma actividade sexual ilícita;
assegurada de forma compatível com a dignidade humana da criança e nos termos da presente b) Que a criança seja explorada para fins de prostituição ou de outras práticas sexuais ilícitas;
Convenção. c) Que a criança seja explorada na produção de espectáculos ou de material de natureza
3 - Os Estados Partes promovem e encorajam a cooperação internacional no domínio da educação, pornográfica.
nomeadamente de forma a contribuir para a eliminação da ignorância e do analfabetismo no mundo
e a facilitar o acesso aos conhecimentos científicos e técnicos e aos modernos métodos de ensino. A
este respeito atender-se-á de forma particular às necessidades dos países em desenvolvimento.
  ARTIGO 35.º
Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas, nos planos nacional, bilateral e multilateral,
  ARTIGO 29.º para impedir o rapto, a venda ou o tráfico de crianças, independentemente do seu fim ou forma.

1 - Os Estados Partes acordam em que a educação da criança deve destinar-se a:

a) Promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e


físicos na medida das suas potencialidades;   ARTIGO 36.º
b) Inculcar na criança o respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais e pelos
Os Estados Partes protegem a criança contra todas as formas de exploração prejudiciais a qualquer
princípios consagrados na Carta das Nações Unidas;
aspecto do seu bem-estar.
c) Inculcar na criança o respeito pelos pais, pela sua identidade cultural, língua e valores, pelos
valores nacionais do país em que vive, do país de origem e pelas civilizações diferentes da sua;
d) Preparar a criança para assumir as responsabilidades da vida numa sociedade livre, num espírito
de compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os sexos e de amizade entre todos os povos,
  ARTIGO 37.º
grupos étnicos, nacionais e religiosos e com pessoas de origem indígena;
e) Promover o respeito da criança pelo meio ambiente.
Os Estados Partes garantem que:

2 - Nenhuma disposição deste artigo ou do artigo 28.º pode ser interpretada de forma a ofender a a) Nenhuma criança será submetida à tortura ou a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
liberdade dos indivíduos ou das pessoas colectivas de criar e dirigir estabelecimentos de ensino, degradantes. A pena de morte e a prisão perpétua sem possibilidade de libertação não serão
desde que sejam respeitadas os princípios enunciados no n.º 1 do presente artigo e que a educação impostas por infracções cometidas por pessoas com menos de 18 anos;
ministrada nesses estabelecimentos seja conforme às regras mínimas prescritas pelo Estado. b) Nenhuma criança será privada de liberdade de forma ilegal ou arbitrária: a captura, detenção ou
prisão de uma criança devem ser conformes à lei, serão utilizadas unicamente como medida de
último recurso e terão a duração mais breve possível;
c) A criança privada de liberdade deve ser tratada com a humanidade e o respeito devidos à
  ARTIGO 30.º dignidade da pessoa humana e de forma consentânea com as necessidades das pessoas da sua idade.
Nomeadamente, a criança privada de liberdade deve ser separada dos adultos, a menos que, no
Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas ou pessoas de origem
superior interesse da criança, tal não pareça aconselhável e tem o direito de manter contacto com a
indígena, nenhuma criança indígena ou que pertença a uma dessas minorias poderá ser privada do
sua família através de correspondência e visitas, salvo em circunstâncias excepcionais;
direito de, conjuntamente com membros do seu grupo, ter a sua própria vida cultural, professar e
d) A criança privada de liberdade tem o direito de aceder rapidamente à assistência jurídica ou a
praticar a sua própria religião ou utilizar a sua própria língua.
outra assistência adequada e o direito de impugnar a legalidade da sua privação de liberdade
perante um tribunal ou outra autoridade competente, independente e imparcial, bem como o direito
a uma rápida decisão sobre tal matéria.
  ARTIGO 31.º
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito ao repouso e aos tempos livres, o direito de
participar em jogos e actividades recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na   ARTIGO 38.º
vida cultural e artística.
1 - Os Estados Partes comprometem-se a respeitar e a fazer respeitar as normas de direito
2 - Os Estados Partes respeitam e promovem o direito da criança de participar plenamente na vida
humanitário internacional que lhes sejam aplicáveis em caso de conflito armado e que se mostrem
cultural e artística e encorajam a organização, em seu benefício, de formas adequadas de tempos
relevantes para a criança.
livres e de actividades recreativas, artísticas e culturais, em condições de igualdade.
2 - Os Estados Partes devem tomar todas as medidas possíveis na prática para garantir que nenhuma
criança com menos de 15 anos participe directamente nas hostilidades.
3 - Os Estados Partes devem abster-se de incorporar nas forças armadas as pessoas que não tenham a
  ARTIGO 32.º idade de 15 anos. No caso de incorporação de pessoas de idade superior a 15 anos e inferior a 18
anos, os Estados Partes devem incorporar prioritariamente os mais velhos.
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança o direito de ser protegida contra a exploração económica 4 - Nos termos das obrigações contraídas à luz do direito internacional humanitário para a protecção
ou a sujeição a trabalhos perigosos ou capazes de comprometer a sua educação, prejudicar a sua da população civil em caso de conflito armado, os Estados Partes na presente Convenção devem
tomar todas as medidas possíveis na prática para assegurar protecção e assistência às crianças
afectadas por um conflito armado.

  ARTIGO 43.º
1 - Com o fim de examinar os progressos realizados pelos Estados Partes no cumprimento das
  ARTIGO 39.º obrigações que lhes cabem nos termos da presente Convenção, é instituído um Comité dos Direitos
Os Estados Partes tomam todas as medidas adequadas para promover a recuperação física e da Criança, que desempenha as funções seguidamente definidas.
psicológica e a reinserção social da criança vítima de qualquer forma de negligência, exploração ou 2 - O Comité é composto de 10 peritos de alta autoridade moral e de reconhecida competência no
sevícias, de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes ou de domínio abrangido pela presente Convenção. Os membros do Comité são eleitos pelos Estados Partes
conflito armado. Essas recuperação e reinserção devem ter lugar num ambiente que favoreça a de entre os seus nacionais e exercem as suas funções a título pessoal, tendo em consideração a
saúde, o respeito por si próprio e a dignidade da criança. necessidade de assegurar uma repartição geográfica equitativa e atendendo aos principais sistemas
jurídicos.
3 - Os membros do Comité são eleitos por escrutínio secreto de entre uma lista de candidatos
designados pelos Estados Partes. Cada Estado Parte pode designar um perito de entre os seus
  ARTIGO 40.º nacionais.
1 - Os Estados Partes reconhecem à criança suspeita, acusada ou que se reconheceu ter infringido a 4 - A primeira eleição tem lugar nos seis meses seguintes à data da entrada em vigor da presente
lei penal o direito a um tratamento capaz de favorecer o seu sentido de dignidade e valor, reforçar o Convenção e, depois disso, todos os dois anos. Pelo menos quatro meses antes da data de cada
seu respeito pelos direitos do homem e as liberdades fundamentais de terceiros e que tenha em eleição, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas convida, por escrito, os Estados Partes
conta a sua idade e a necessidade de facilitar a sua reintegração social e o assumir de um papel a proporem os seus candidatos num prazo de dois meses. O Secretário-Geral elabora, em seguida, a
construtivo no seio da sociedade. lista alfabética dos candidatos assim apresentados, indicando por que Estado foram designados, e
2 - Para esse efeito, e atendendo às disposições pertinentes dos instrumentos jurídicos comunica-a aos Estados Partes na presente Convenção.
internacionais, os Estados Partes garantem, nomeadamente, que: 5 - As eleições realizam-se aquando das reuniões dos Estados Partes convocadas pelo Secretário-
a) Nenhuma criança seja suspeita, acusada ou reconhecida como tendo infringindo a lei penal por Geral para a sede da Organização das Nações Unidas. Nestas reuniões, em que o quórum é
acções ou omissões que, no momento da sua prática, não eram proibidas pelo direito nacional ou constituído por dois terços dos Estados Partes, são eleitos para o Comité os candidatos que obtiverem
internacional; o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes
b) A criança suspeita ou acusada de ter infringido a lei penal tenha, no mínimo, direito às garantias presentes e votantes.
seguintes: 6 - Os membros do Comité são eleitos por um período de quatro anos. São reelegíveis no caso de
i) Presumir-se inocente até que a sua culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida; recandidatura. O mandato de cinco dos membros eleitos na primeira eleição termina ao fim de dois
ii) A ser informada pronta é directamente das acusações formuladas contra si ou, se necessário, anos. O presidente da reunião tira à sorte, imediatamente após a primeira eleição os nomes destes
através de seus pais representantes legais, e beneficiar de assistência jurídica ou de outra cinco elementos.
assistência adequada para a preparação e apresentação da sua defesa; 7 - Em caso de morte ou de demissão de um membro do Comité ou se, por qualquer outra razão, um
iii) A sua causa ser examinada sem demora por uma autoridade competente, independente e membro declarar que não pode continuar a exercer funções no seio do Comité, o Estado Parte que
imparcial ou por um tribunal, de forma equitativa nos termos da lei, na presença do seu defensor ou havia proposto a sua candidatura designa um outro perito, de entre os seus nacionais, para
de outrem assegurando assistência adequada e, a menos que tal se mostre contrário ao interesse preencher a vaga até ao termo do mandato, sujeito a aprovação do Comité.
superior da criança, nomeadamente atendendo à sua idade ou situação, na presença de seus pais ou 8 - O Comité adopta o seu regulamento interno.

representantes legais; 9 - O Comité elege o seu secretariado por um período de dois anos.

iv) A não ser obrigada a testemunhar ou a confessar-se culpada; a interrogar ou fazer interrogar as 10 - As reuniões do Comité têm habitualmente lugar na sede da Organização das Nações Unidas ou
testemunhas de acusação e a obter a comparência e o interrogatório das testemunhas de defesa em em qualquer outro lugar julgado conveniente e determinado pelo Comité. O Comité reúne em regra
condições de igualdade; anualmente. A duração das sessões do Comité é determinada, e se necessário revista, por uma
v) No caso de se considerar que infringiu a lei penal, a recorrer dessa decisão e das medidas impostas reunião dos Estados Partes na presente Convenção, sujeita à aprovação da Assembleia Geral.
em sequência desta para uma autoridade superior, competente, independente e imparcial, ou uma 11 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas põe à disposição do Comité o pessoal e as
autoridade judicial, nos termos da lei; instalações necessárias para o desempenho eficaz das funções que lhe são confiadas ao abrigo da
vi) A fazer-se assistir gratuitamente por um intérprete, se não compreender ou falar a língua presente Convenção.
utilizada; 12 - Os membros do Comité instituído pela presente Convenção recebem, com a aprovação da
vii) A ver plenamente respeitada a sua vida privada em todos os momentos do processo. Assembleia Geral, emolumentos provenientes dos recursos financeiros das Nações Unidas, segundo as
3 - Os Estados Partes procuram promover o estabelecimento de leis, processos, autoridades e condições e modalidades fixadas pela Assembleia Geral.
instituições especificamente adequadas a crianças suspeitas, acusadas ou reconhecidas como tendo
infringido a lei penal, e, nomeadamente:
a) O estabelecimento de uma idade mínima abaixo da qual se presume que as crianças não têm
capacidade para infringir a lei penal;   ARTIGO 44.º
b) Quando tal se mostre possível e desejável, a adopção de medidas relativas a essas crianças sem 1 - Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Comité, através do Secretário-Geral da
recurso ao processo judicial, assegurando-se o pleno respeito dos direitos do homem e das garantias Organização das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas que hajam adoptado para dar aplicação
previstas pela lei. aos direitos reconhecidos pela Convenção e sobre os progressos realizados no gozo desses direitos:
4 - Um conjunto de disposições relativas, nomeadamente, à assistência, orientação e controlo, a) Nos dois anos subsequentes à data da entrada em vigor da presente Convenção para os Estados
conselhos, regime de prova, colocação familiar, programas de educação geral e profissional, bem Partes;
como outras soluções alternativas às institucionais, serão previstas de forma a assegurar às crianças b) Em seguida, de cinco em cinco anos.

um tratamento adequado ao seu bem-estar e proporcionado à sua situação e à infracção. 2 - Os relatórios apresentados em aplicação do presente artigo devem indicar os factores e as
dificuldades, se a elas houver lugar, que impeçam o cumprimento, pelos Estados Partes, das
obrigações decorrentes da presente Convenção. Devem igualmente conter informações suficientes
para dar ao Comité uma ideia precisa da aplicação da Convenção no referido país.
  ARTIGO 41.º 3 - Os Estados Partes que tenham apresentado ao Comité um relatório inicial completo não
Nenhuma disposição da presente Convenção afecta as disposições mais favoráveis à realização dos necessitam de repetir, nos relatórios subsequentes, submetidos nos termos do n.º 1, alínea b), as
direitos da criança que possam figurar: informações de base anteriormente comunicadas.
a) Na legislação de um Estado Parte;
4 - O Comité pode solicitar aos Estados Partes informações complementares relevantes para a
b) No direito internacional em vigor para esse Estado. aplicação da Convenção.
5 - O Comité submete de dois em dois anos a Assembleia Geral, através do Conselho Económico e
Social, um relatório das suas actividades.
6 - Os Estados Partes asseguram aos seus relatórios uma larga difusão nos seus próprios países.
PARTE II
  ARTIGO 42.º
Os Estados Partes comprometem-se a tornar amplamente conhecidos, por meios activos e adequados,   ARTIGO 45.º
os princípios e as disposições da presente Convenção, tanto pelos adultos como pelas crianças. De forma a promover a aplicação efectiva da Convenção e a encorajar a cooperação internacional no
domínio coberto pela Convenção: Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual informará todos os Estados Partes na
a) As agências especializadas, a UNICEF e outros órgãos das Nações Unidas podem fazer-se Convenção. A notificação produz efeitos na data da sua recepção pelo Secretário-Geral.
representar quando for apreciada a aplicação de disposições da presente Convenção que se
inscrevam no seu mandato. O Comité pode convidar as agências especializadas, a UNICEF e outros
organismos competentes considerados relevantes a fornecer o seu parecer técnico sobre a aplicação
da convenção no âmbito dos seus respectivos mandatos. O Comité pode convidar as agências   ARTIGO 52.º
especializadas, a UNICEF e outros órgãos das Nações Unidas a apresentar relatórios sobre a aplicação Um Estado Parte pode denunciar a presente Convenção por notificação escrita dirigida ao Secretário-
da Convenção nas áreas relativas aos seus domínios de actividade; Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia produz efeitos um ano após a data de recepção
b) O Comité transmite, se o julgar necessário, às agências especializadas, à UNICEF e a outros da notificação pelo Secretário-Geral.
organismos competentes os relatórios dos Estados Partes que contenham pedidos ou indiquem
necessidades de conselho ou de assistência técnicos, acompanhados de eventuais observações e
sugestões do Comité relativos àqueles pedidos ou indicações;
c) O Comité pode recomendar à Assembleia Geral que solicite ao Secretário-Geral a realização, para   ARTIGO 53.º
o Comité, de estudos sobre questões específicas relativas aos direitos da criança;
d) O Comité pode fazer sugestões e recomendações de ordem geral com base nas informações O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas é designado como depositário da presente
recebidas em aplicação dos artigos 44.º e 45.º da presente Convenção. Essas sugestões e Convenção.
recomendações de ordem geral são transmitidas aos Estados interessados e levadas ao conhecimento
da Assembleia Geral, acompanhadas, se necessário, dos comentários dos Estados Partes.
  ARTIGO 54.º
A presente Convenção, cujos textos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo fazem
PARTE III igualmente fé, será depositada junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
  ARTIGO 46.º Em fé do que os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente habilitados pelos seus governos
respectivos, assinaram a Convenção.
A presente Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados.
Feita em Nova Iorque, aos 20 dias do mês de Novembro de 1989.

  ARTIGO 47.º
A presente Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados
junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

  ARTIGO 48.º
A presente Convenção está aberta a adesão de todos os Estados. A adesão far-se-á pelo depósito de
um instrumento de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

  ARTIGO 49.º
1 - A presente Convenção entrará em vigor no 30.º dia após a data do depósito junto do Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão.
2 - Para cada um dos Estados que ratificarem a presente Convenção ou a ela aderirem após o
depósito do 20.º instrumento de ratificação ou de adesão, a Convenção entrará em vigor no 30.º dia
após a data do depósito, por parte desse Estado, do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

  ARTIGO 50.º
1 - Qualquer Estado Parte pode propor uma emenda e depositar o seu texto junto do Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral transmite, em seguida, a proposta de emenda
aos Estados Partes na presente Convenção, solicitando que lhe seja comunicado se são favoráveis à
convocação de uma conferência de Estados Partes para apreciação e votação da proposta. Se, nos
quatro meses subsequentes a essa comunicação, pelo menos um terço dos Estados Partes se declarar
a favor da realização da referida conferência, o Secretário-Geral convocá-la-á sob os auspícios da
Organização das Nações Unidas. As emendas adoptadas pela maioria dos Estados Partes presentes e
votantes na conferência são submetidas à Assembleia Geral das Nações Unidas para aprovação.
2 - As emendas adoptadas nos termos do disposto no n.º 1 do presente artigo entram em vigor
quando aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas e aceites por uma maioria de dois terços
dos Estados Partes.
3 - Quando uma emenda entrar em vigor, terá força vinculativa para os Estados que a hajam aceite,
ficando os outros Estados Partes ligados pelas disposições da presente Convenção e por todas as
emendas anteriores que tenham aceite.

  ARTIGO 51.º
1 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas recebe e comunica a todos os Estados o
texto das reservas que forem feitas pelos Estados no momento da ratificação ou da adesão.
2 - Não é autorizada nenhuma reserva incompatível com o objecto e com o fim da presente
Convenção.
3 - As reservas podem ser retiradas em qualquer momento por via de notificação dirigida ao
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA significativas no desenvolvimento humano, social e económico da sociedade e na erradicação da
pobreza;
Adotada a 13 de dezembro de 2006 (resolução A/RES/61/106) e aberta à assinatura em Nova Iorque
n) Reconhecendo a importância para as pessoas com deficiência da sua autonomia e independência
a 30 de março de 2007.
individual, incluindo a liberdade de fazerem as suas próprias escolhas;
o) Considerando que as pessoas com deficiência devem ter a oportunidade de estar activamente
envolvidas nos processos de tomada de decisão sobre políticas e programas, incluindo aqueles que
Preâmbulo directamente lhes digam respeito;
p) Preocupados com as difíceis condições que as pessoas com deficiência se deparam, as quais estão
Os Estados Partes na presente Convenção: sujeitas a múltiplas ou agravadas formas de discriminação com base na raça, cor, sexo, língua,
a) Relembrando os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, que reconhecem a dignidade e religião, convicções políticas ou de outra natureza, origem nacional, étnica, indígena ou social,
o valor inerente a todos os membros da família humana e os seus direitos iguais e inalienáveis como património, nascimento, idade ou outro estatuto;
base para a fundação da liberdade, justiça e paz no mundo; q) Reconhecendo que as mulheres e raparigas com deficiência estão muitas vezes sujeitas a maior
b) Reconhecendo que as Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e nos risco de violência, lesões ou abuso, negligência ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração,
Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos, proclamaram e acordaram que toda a pessoa tem tanto dentro como fora do lar;
direito a todos os direitos e liberdades neles consignados, sem distinção de qualquer natureza; r) Reconhecendo que as crianças com deficiência devem ter pleno gozo de todos os direitos humanos e
c) Reafirmando a universalidade, indivisibilidade, interdependência e correlação de todos os direitos liberdades fundamentais, em condições de igualdade com as outras crianças e relembrando as
humanos e liberdades fundamentais e a necessidade de garantir às pessoas com deficiências o seu obrigações para esse fim assumidas pelos Estados Partes na Convenção sobre os Direitos da Criança;
pleno gozo sem serem alvo de discriminação; s) Salientando a necessidade de incorporar uma perspectiva de género em todos os esforços para
d) Relembrando o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, o Pacto promover o pleno gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência;
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as t) Realçando o facto de que a maioria das pessoas com deficiência vivem em condições de pobreza e, a
formas de Discriminação Racial, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação este respeito, reconhecendo a necessidade crítica de abordar o impacto negativo da pobreza nas
contra Mulheres, a Convenção contra a Tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou pessoas com deficiência;
degradantes, a Convenção sobre os Direitos da Criança e a Convenção Internacional sobre a Protecção
u) Tendo em mente que as condições de paz e segurança baseadas no pleno respeito pelos objectivos
dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias;
e princípios constantes na Carta das Nações Unidas e a observância dos instrumentos de direitos
e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência resulta da interacção humanos aplicáveis são indispensáveis para a total protecção das pessoas com deficiência, em
entre pessoas com incapacidades e barreiras comportamentais e ambientais que impedem a sua particular durante conflitos armados e ocupação estrangeira;
participação plena e efectiva na sociedade em condições de igualdade com as outras pessoas;
v) Reconhecendo a importância da acessibilidade ao ambiente físico, social, económico e cultural, à
f) Reconhecendo a importância dos princípios e das orientações políticas constantes do Programa saúde e educação e à informação e comunicação, ao permitir às pessoas com deficiência o pleno gozo
Mundial de Acção relativo às Pessoas com Deficiência e das Normas sobre a Igualdade de de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;
Oportunidades para Pessoas com Deficiência na influência da promoção, formulação e avaliação das
w) Compreendendo que o indivíduo, tendo deveres para com os outros indivíduos e para com a
políticas, planos, programas e acções a nível nacional, regional e internacional para continuar a criar
comunidade à qual ele ou ela pertence, tem a responsabilidade de se esforçar por promover e observar
igualdade de oportunidades para as pessoas com deficiências;
os direitos consignados na Carta Internacional dos Direitos Humanos;
g) Acentuando a importância da integração das questões de deficiência como parte integrante das
x) Convictos que a família é a unidade de grupo natural e fundamental da sociedade e que tem direito
estratégias relevantes do desenvolvimento sustentável;
à protecção pela sociedade e pelo Estado e que as pessoas com deficiência e os membros da sua
h) Reconhecendo também que a discriminação contra qualquer pessoa com base na deficiência é uma família devem receber a protecção e assistência necessárias para permitir às famílias contribuírem para
violação da dignidade e valor inerente à pessoa humana; o pleno e igual gozo dos direitos das pessoas com deficiência;
i) Reconhecendo ainda a diversidade de pessoas com deficiência; y) Convictos que uma convenção internacional abrangente e integral para promover e proteger os
j) Reconhecendo a necessidade de promover e proteger os direitos humanos de todas as pessoas com direitos e dignidade das pessoas com deficiência irá dar um significativo contributo para voltar a
deficiência, incluindo aquelas que desejam um apoio mais intenso; abordar a profunda desvantagem social das pessoas com deficiências e promover a sua participação
nas esferas civil, política, económica, social e cultural com oportunidades iguais, tanto nos países em
k) Preocupados que, apesar destes vários instrumentos e esforços, as pessoas com deficiência
desenvolvimento como nos desenvolvidos;
continuam a deparar-se com barreiras na sua participação enquanto membros iguais da sociedade e
violações dos seus direitos humanos em todas as partes do mundo; acordaram o seguinte:

l) Reconhecendo a importância da cooperação internacional para melhorar as condições de vida das


Artigo 1.º
pessoas com deficiência em cada país, em particular nos países em desenvolvimento;
Objecto
m) Reconhecendo as valiosas contribuições existentes e potenciais feitas pelas pessoas com deficiência
para o bem-estar geral e diversidade das suas comunidades e que a promoção do pleno gozo pelas O objecto da presente Convenção é promover, proteger e garantir o pleno e igual gozo de todos os
pessoas com deficiência dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais e a plena participação direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o
por parte das pessoas com deficiência irão resultar num sentido de pertença reforçado e em vantagens respeito pela sua dignidade inerente.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
As pessoas com deficiência incluem aqueles que têm incapacidades duradouras físicas, mentais, a) Adoptar todas as medidas legislativas, administrativas e de outra natureza apropriadas com vista à
intelectuais ou sensoriais, que em interacção com várias barreiras podem impedir a sua plena e implementação dos direitos reconhecidos na presente Convenção;
efectiva participação na sociedade em condições de igualdade com os outros. b) Tomar todas as medidas apropriadas, incluindo legislação, para modificar ou revogar as leis,
normas, costumes e práticas existentes que constituam discriminação contra pessoas com deficiência;
Artigo 2.º
Definições c) Ter em consideração a protecção e a promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência
em todas as políticas e programas;

Para os fins da presente Convenção: d) Abster-se de qualquer acto ou prática que seja incompatível com a presente Convenção e garantir
que as autoridades e instituições públicas agem em conformidade com a presente Convenção;
«Comunicação» inclui linguagem, exibição de texto, braille, comunicação táctil, caracteres grandes,
meios multimédia acessíveis, assim como modos escrito, áudio, linguagem plena, leitor humano e e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação com base na deficiência por
modos aumentativo e alternativo, meios e formatos de comunicação, incluindo tecnologia de qualquer pessoa, organização ou empresa privada;
informação e comunicação acessível; f) Realizar ou promover a investigação e o desenvolvimento dos bens, serviços, equipamento e
«Linguagem» inclui a linguagem falada e língua gestual e outras formas de comunicação não faladas; instalações desenhadas universalmente, conforme definido no artigo 2.º da presente Convenção o que
deverá exigir a adaptação mínima possível e o menor custo para satisfazer as necessidades específicas
«Discriminação com base na deficiência» designa qualquer distinção, exclusão ou restrição com base
de uma pessoa com deficiência, para promover a sua disponibilidade e uso e promover o desenho
na deficiência que tenha como objectivo ou efeito impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou
universal no desenvolvimento de normas e directrizes;
exercício, em condições de igualdade com os outros, de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais no campo político, económico, social, cultural, civil ou de qualquer outra natureza. Inclui g) Realizar ou promover a investigação e o desenvolvimento e promover a disponibilização e uso das
todas as formas de discriminação, incluindo a negação de adaptações razoáveis; novas tecnologias, incluindo as tecnologias de informação e comunicação, meios auxiliares de
mobilidade, dispositivos e tecnologias de apoio, adequados para pessoas com deficiência, dando
«Adaptação razoável» designa a modificação e ajustes necessários e apropriados que não imponham
prioridade às tecnologias de preço acessível;
uma carga desproporcionada ou indevida, sempre que necessário num determinado caso, para garantir
que as pessoas com incapacidades gozam ou exercem, em condições de igualdade com as demais, de h) Disponibilizar informação acessível às pessoas com deficiência sobre os meios auxiliares de
todos os direitos humanos e liberdades fundamentais; mobilidade, dispositivos e tecnologias de apoio, incluindo as novas tecnologias assim como outras
formas de assistência, serviços e instalações de apoio;
«Desenho universal» designa o desenho dos produtos, ambientes, programas e serviços a serem
utilizados por todas as pessoas, na sua máxima extensão, sem a necessidade de adaptação ou desenho i) Promover a formação de profissionais e técnicos que trabalham com pessoas com deficiências nos
especializado. «Desenho universal» não deverá excluir os dispositivos de assistência a grupos direitos reconhecidos na presente Convenção para melhor prestar a assistência e serviços consagrados
particulares de pessoas com deficiência sempre que seja necessário. por esses direitos.
2 - No que respeita aos direitos económicos, sociais e culturais, cada Estado Parte compromete-se em
Artigo 3.º tomar medidas para maximizar os seus recursos disponíveis e sempre que necessário, dentro do
Princípios gerais quadro da cooperação internacional, com vista a alcançar progressivamente o pleno exercício desses
direitos, sem prejuízo das obrigações previstas na presente Convenção que são imediatamente
Os princípios da presente Convenção são: aplicáveis de acordo com o direito internacional.
a) O respeito pela dignidade inerente, autonomia individual, incluindo a liberdade de fazerem as suas 3 - No desenvolvimento e implementação da legislação e políticas para aplicar a presente Convenção e
próprias escolhas, e independência das pessoas; em outros processos de tomada de decisão no que respeita a questões relacionadas com pessoas com
b) Não discriminação; deficiência, os Estados Parte devem consultar-se estreitamente e envolver activamente as pessoas com
deficiências, incluindo as crianças com deficiência, através das suas organizações representativas.
c) Participação e inclusão plena e efectiva na sociedade;
4 - Nenhuma disposição da presente Convenção afecta quaisquer disposições que sejam mais
d) O respeito pela diferença e aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade
favoráveis à realização dos direitos das pessoas com deficiência e que possam figurar na legislação de
humana e humanidade;
um Estado Parte ou direito internacional em vigor para esse Estado. Não existirá qualquer restrição ou
e) Igualdade de oportunidade; derrogação de qualquer um dos direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos ou em vigor
f) Acessibilidade; em qualquer Estado Parte na presente Convenção de acordo com a lei, convenções, regulamentos ou
costumes com o pretexto de que a presente Convenção não reconhece tais direitos ou liberdades ou
g) Igualdade entre homens e mulheres;
que os reconhece em menor grau.
h) Respeito pelas capacidades de desenvolvimento das crianças com deficiência e respeito pelo direito
5 - As disposições da presente Convenção aplicam-se a todas as partes dos Estados Federais sem
das crianças com deficiência a preservarem as suas identidades.
quaisquer limitações ou excepções.

Artigo 4.º
Obrigações gerais Artigo 5.º
Igualdade e não discriminação

1 - Os Estados Partes comprometem-se a assegurar e promover o pleno exercício de todos os direitos


1 - Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas são iguais perante e nos termos da lei e que
humanos e liberdades fundamentais para todas as pessoas com deficiência sem qualquer discriminação
têm direito, sem qualquer discriminação, a igual protecção e benefício da lei.
com base na deficiência. Para este fim, os Estados Partes comprometem-se a:

3 4
2 - Os Estados Partes proíbem toda a discriminação com base na deficiência e garantem às pessoas c) Encorajar todos os órgãos de comunicação social a descreverem as pessoas com deficiência de
com deficiência protecção jurídica igual e efectiva contra a discriminação de qualquer natureza. forma consistente com o objectivo da presente Convenção;
3 - De modo a promover a igualdade e eliminar a discriminação, os Estados Partes tomam todas as d) Promover programas de formação em matéria de sensibilização relativamente às pessoas com
medidas apropriadas para garantir a disponibilização de adaptações razoáveis. deficiência e os seus direitos.
4 - As medidas específicas que são necessárias para acelerar ou alcançar a igualdade de facto das
pessoas com deficiência não serão consideradas discriminação nos termos da presente Convenção. Artigo 9.º
Acessibilidade

Artigo 6.º
Mulheres com deficiência 1 - Para permitir às pessoas com deficiência viverem de modo independente e participarem plenamente
em todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomam as medidas apropriadas para assegurar às
1 - Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e raparigas com deficiência estão sujeitas a pessoas com deficiência o acesso, em condições de igualdade com os demais, ao ambiente físico, ao
discriminações múltiplas e, a este respeito, devem tomar medidas para lhes assegurar o pleno e igual transporte, à informação e comunicações, incluindo as tecnologias e sistemas de informação e
gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. comunicação e a outras instalações e serviços abertos ou prestados ao público, tanto nas áreas
urbanas como rurais. Estas medidas, que incluem a identificação e eliminação de obstáculos e barreiras
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento,
à acessibilidade, aplicam-se, inter alia, a:
promoção e emancipação das mulheres com o objectivo de lhes garantir o exercício e gozo dos direitos
humanos e liberdades fundamentais consagrados na presente Convenção. a) Edifícios, estradas, transportes e outras instalações interiores e exteriores, incluindo escolas,
habitações, instalações médicas e locais de trabalho;
Artigo 7.º b) Informação, comunicações e outros serviços, incluindo serviços electrónicos e serviços de
Crianças com deficiência emergência.
2 - Os Estados Partes tomam, igualmente, as medidas apropriadas para:
1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas necessárias para garantir às crianças com deficiências o
a) Desenvolver, promulgar e fiscalizar a implementação das normas e directrizes mínimas para a
pleno gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais em condições de igualdade com as
acessibilidade das instalações e serviços abertos ou prestados ao público;
outras crianças.
b) Assegurar que as entidades privadas que oferecem instalações e serviços que estão abertos ou que
2 - Em todas as acções relativas a crianças com deficiência, os superiores interesses da criança têm
são prestados ao público têm em conta todos os aspectos de acessibilidade para pessoas com
primazia.
deficiência;
3 - Os Estados Partes asseguram às crianças com deficiência o direito de exprimirem os seus pontos de
c) Providenciar formação aos intervenientes nas questões de acessibilidade com que as pessoas com
vista livremente sobre todas as questões que as afectem, sendo as suas opiniões devidamente
deficiência se deparam;
consideradas de acordo com a sua idade e maturidade, em condições de igualdade com as outras
crianças e a receberem assistência apropriada à deficiência e à idade para o exercício deste direito. d) Providenciar, em edifícios e outras instalações abertas ao público, sinalética em braille e em
formatos de fácil leitura e compreensão;
Artigo 8.º e) Providenciar formas de assistência humana e ou animal à vida e intermediários, incluindo guias,
Sensibilização leitores ou intérpretes profissionais de língua gestual, para facilitar a acessibilidade aos edifícios e
outras instalações abertas ao público;
1 - Os Estados Partes comprometem-se a adoptar medidas imediatas, efectivas e apropriadas para:
f) Promover outras formas apropriadas de assistência e apoio a pessoas com deficiências para garantir
a) Sensibilizar a sociedade, incluindo a nível familiar, relativamente às pessoas com deficiência e a o seu acesso à informação;
fomentar o respeito pelos seus direitos e dignidade;
g) Promover o acesso às pessoas com deficiência a novas tecnologias e sistemas de informação e
b) Combater estereótipos, preconceitos e práticas prejudiciais em relação às pessoas com deficiência, comunicação, incluindo a Internet;
incluindo as que se baseiam no sexo e na idade, em todas as áreas da vida;
h) Promover o desenho, desenvolvimento, produção e distribuição de tecnologias e sistemas de
c) Promover a sensibilização para com as capacidades e contribuições das pessoas com deficiência. informação e comunicação acessíveis numa fase inicial, para que estas tecnologias e sistemas se
2 - As medidas para este fim incluem: tornem acessíveis a um custo mínimo.

a) O início e a prossecução efectiva de campanhas de sensibilização pública eficazes concebidas para:


Artigo 10.º
i) Estimular a receptividade em relação aos direitos das pessoas com deficiência; Direito à vida
ii) Promover percepções positivas e maior consciencialização social para com as pessoas com
deficiência; Os Estados Partes reafirmam que todo o ser humano tem o direito inerente à vida e tomam todas as
medidas necessárias para assegurar o seu gozo efectivo pelas pessoas com deficiência, em condições
iii) Promover o reconhecimento das aptidões, méritos e competências das pessoas com deficiência e
de igualdade com as demais.
dos seus contributos para o local e mercado de trabalho;
b) Promover, a todos os níveis do sistema educativo, incluindo em todas as crianças desde tenra idade,
uma atitude de respeito pelos direitos das pessoas com deficiência;

5 6
Artigo 11.º b) Não são privadas da sua liberdade de forma ilegal ou arbitrária e que qualquer privação da liberdade
Situações de risco e emergências humanitárias é em conformidade com a lei e que a existência de uma deficiência não deverá, em caso algum,
justificar a privação da liberdade.
Os Estados Partes tomam, em conformidade com as suas obrigações nos termos do direito
2 - Os Estados Partes asseguram que, se as pessoas com deficiência são privadas da sua liberdade
internacional, incluindo o direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos
através de qualquer processo, elas têm, em condições de igualdade com as demais, direito às garantias
humanos, todas as medidas necessárias para assegurar a protecção e segurança das pessoas com
de acordo com o direito internacional de direitos humanos e são tratadas em conformidade com os
deficiências em situações de risco, incluindo as de conflito armado, emergências humanitárias e a
objectivos e princípios da presente Convenção, incluindo o fornecimento de adaptações razoáveis.
ocorrência de desastres naturais.

Artigo 15.º
Artigo 12.º Liberdade contra a tortura, tratamento ou penas cruéis, desumanas ou degradantes
Reconhecimento igual perante a lei

1 - Ninguém será submetido a tortura ou tratamento ou pena cruel, desumana ou degradante. Em


1 - Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com deficiência têm o direito ao reconhecimento
particular, ninguém será sujeito, sem o seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.
perante a lei da sua personalidade jurídica em qualquer lugar.
2 - Os Estados Partes tomam todas as medidas legislativas, administrativas, judiciais ou outras
2 - Os Estados Partes reconhecem que as pessoas com deficiências têm capacidade jurídica, em
medidas efectivas para prevenir que as pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as
condições de igualdade com as outras, em todos os aspectos da vida.
demais, sejam submetidas a tortura, tratamento ou penas cruéis, desumanas ou degradantes.
3 - Os Estados Partes tomam medidas apropriadas para providenciar acesso às pessoas com deficiência
ao apoio que possam necessitar no exercício da sua capacidade jurídica. Artigo 16.º
4 - Os Estados Partes asseguram que todas as medidas que se relacionem com o exercício da Protecção contra a exploração, violência e abuso
capacidade jurídica fornecem as garantias apropriadas e efectivas para prevenir o abuso de acordo com
o direito internacional dos direitos humanos. Tais garantias asseguram que as medidas relacionadas 1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas legislativas, administrativas, sociais, educativas e
com o exercício da capacidade jurídica em relação aos direitos, vontade e preferências da pessoa estão outras medidas apropriadas para proteger as pessoas com deficiência, tanto dentro como fora do lar,
isentas de conflitos de interesse e influências indevidas, são proporcionais e adaptadas às contra todas as formas de exploração, violência e abuso, incluindo os aspectos baseados no género.
circunstâncias da pessoa, aplicam-se no período de tempo mais curto possível e estão sujeitas a um 2 - Os Estados Partes tomam também todas as medidas apropriadas para prevenir todas as formas de
controlo periódico por uma autoridade ou órgão judicial competente, independente e imparcial. As exploração, violência e abuso, assegurando, inter alia, as formas apropriadas de assistência sensível ao
garantias são proporcionais ao grau em que tais medidas afectam os direitos e interesses da pessoa. género e à idade e o apoio às pessoas com deficiência e suas famílias e prestadores de cuidados,
5 - Sem prejuízo das disposições do presente artigo, os Estados Partes tomam todas as medidas incluindo através da disponibilização de informação e educação sobre como evitar, reconhecer e
apropriadas e efectivas para assegurar a igualdade de direitos das pessoas com deficiência em serem comunicar situações de exploração, violência e abuso. Os Estados Partes asseguram que os serviços de
proprietárias e herdarem património, a controlarem os seus próprios assuntos financeiros e a terem protecção têm em conta a idade, género e deficiência.
igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro, e asseguram 3 - De modo a prevenir a ocorrência de todas as formas de exploração, violência e abuso, os Estados
que as pessoas com deficiência não são, arbitrariamente, privadas do seu património. Partes asseguram que todas as instalações e programas concebidos para servir as pessoas com
deficiências são efectivamente vigiados por autoridades independentes.
Artigo 13.º
4 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para promover a recuperação e
Acesso à justiça
reabilitação física, cognitiva e psicológica, assim como a reintegração social das pessoas com
deficiência que se tornem vítimas de qualquer forma de exploração, violência ou abuso, incluindo da
1 - Os Estados Partes asseguram o acesso efectivo à justiça para pessoas com deficiência, em
disponibilização de serviços de protecção. Tal recuperação e reintegração devem ter lugar num
condições de igualdade com as demais, incluindo através do fornecimento de adaptações processuais e
ambiente que favoreça a saúde, bem-estar, auto-estima, dignidade e autonomia da pessoa e ter em
adequadas à idade, de modo a facilitar o seu papel efectivo enquanto participantes directos e
conta as necessidades específicas inerentes ao género e idade.
indirectos, incluindo na qualidade de testemunhas, em todos os processos judiciais, incluindo as fases
de investigação e outras fases preliminares. 5 - Os Estados Partes adoptam legislação e políticas efectivas, incluindo legislação e políticas centradas
nas mulheres e crianças, para garantir que as situações de exploração, violência e abuso contra
2 - De modo a ajudar a garantir o acesso efectivo à justiça para as pessoas com deficiência, os Estados
pessoas com deficiência são identificadas, investigadas e, sempre que apropriado, julgadas.
Partes promovem a formação apropriada para aqueles que trabalhem no campo da administração da
justiça, incluindo a polícia e o pessoal dos estabelecimentos prisionais.
Artigo 17.º
Protecção da integridade da pessoa
Artigo 14.º
Liberdade e segurança da pessoa
Toda a pessoa com deficiência tem o direito ao respeito pela sua integridade física e mental em
condições de igualdade com as demais.
1 - Os Estados Partes asseguram que as pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as
demais:
a) Gozam do direito à liberdade e segurança individual;

7 8
Artigo 18.º Artigo 21.º
Liberdade de circulação e nacionalidade Liberdade de expressão e opinião e acesso à informação

1 - Os Estados Partes reconhecem os direitos das pessoas com deficiência à liberdade de circulação, à Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas para garantir que as pessoas com deficiências
liberdade de escolha da sua residência e à nacionalidade, em condições de igualdade com as demais, podem exercer o seu direito de liberdade de expressão e de opinião, incluindo a liberdade de procurar,
assegurando às pessoas com deficiência: receber e difundir informação e ideias em condições de igualdade com as demais e através de todas as
a) O direito a adquirir e mudar de nacionalidade e de não serem privadas da sua nacionalidade de formas de comunicação da sua escolha, conforme definido no artigo 2.º da presente Convenção,
forma arbitrária ou com base na sua deficiência; incluindo:

b) Que não são privadas, com base na deficiência, da sua capacidade de obter, possuir e utilizar a) Fornecendo informação destinada ao público em geral, às pessoas com deficiência, em formatos e
documentação da sua nacionalidade e outra documentação de identificação, ou de utilizar processos tecnologias acessíveis apropriados aos diferentes tipos de deficiência, de forma atempada e sem
relevantes tais como procedimentos de emigração, que possam ser necessários para facilitar o qualquer custo adicional;
exercício do direito à liberdade de circulação; b) Aceitando e facilitando o uso de língua gestual, braille, comunicação aumentativa e alternativa e
c) São livres de abandonar qualquer país, incluindo o seu; todos os outros meios, modos e formatos de comunicação acessíveis e da escolha das pessoas com
deficiência nas suas relações oficiais;
d) Não são privadas, arbitrariamente ou com base na sua deficiência, do direito de entrar no seu
próprio país. c) Instando as entidades privadas que prestam serviços ao público em geral, inclusivamente através da
Internet, a prestarem informação e serviços em formatos acessíveis e utilizáveis pelas pessoas com
2 - As crianças com deficiência são registadas imediatamente após o nascimento e têm direito desde o
deficiência;
nascimento a nome, a aquisição de nacionalidade e, tanto quanto possível, o direito de conhecer e
serem tratadas pelos seus progenitores. d) Encorajando os meios de comunicação social, incluindo os fornecedores de informação através da
Internet, a tornarem os seus serviços acessíveis às pessoas com deficiência;
Artigo 19.º e) Reconhecendo e promovendo o uso da língua gestual.
Direito a viver de forma independente e a ser incluído na comunidade
Artigo 22.º
Os Estados Partes na presente Convenção reconhecem o igual direito de direitos de todas as pessoas Respeito pela privacidade
com deficiência a viverem na comunidade, com escolhas iguais às demais e tomam medidas eficazes e
apropriadas para facilitar o pleno gozo, por parte das pessoas com deficiência, do seu direito e a sua 1 - Nenhuma pessoa com deficiência, independentemente do local de residência ou modo de vida
total inclusão e participação na comunidade, assegurando nomeadamente que: estará sujeita à interferência arbitrária ou ilegal na sua privacidade, família, domicílio ou na sua
a) As pessoas com deficiência têm a oportunidade de escolher o seu local de residência e onde e com correspondência ou outras formas de comunicação ou a ataques ilícitos à sua honra e reputação.
quem vivem em condições de igualdade com as demais e não são obrigadas a viver num determinado As pessoas com deficiência têm direito à protecção da lei contra qualquer dessas interferências ou
ambiente de vida; ataques.
b) As pessoas com deficiência têm acesso a uma variedade de serviços domiciliários, residenciais e 2 - Os Estados Partes protegem a confidencialidade da informação pessoal, de saúde e reabilitação das
outros serviços de apoio da comunidade, incluindo a assistência pessoal necessária para apoiar a vida e pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as demais.
inclusão na comunidade a prevenir o isolamento ou segregação da comunidade;
c) Os serviços e instalações da comunidade para a população em geral são disponibilizados, em Artigo 23.º
Respeito pelo domicílio e pela família
condições de igualdade, às pessoas com deficiência e que estejam adaptados às suas necessidades.

Artigo 20.º 1 - Os Estados Partes tomam todas as medidas apropriadas e efectivas para eliminar a discriminação
Mobilidade pessoal contra pessoas com deficiência em todas as questões relacionadas com o casamento, família,
paternidade e relações pessoais, em condições de igualdade com as demais, de modo a assegurar:
Os Estados Partes tomam medidas eficazes para garantir a mobilidade pessoal das pessoas com a) O reconhecimento do direito de todas as pessoas com deficiência, que estão em idade núbil, em
deficiência, com a maior independência possível: contraírem matrimónio e a constituírem família com base no livre e total consentimento dos futuros
a) Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com deficiência na forma e no momento por elas cônjuges;
escolhido e a um preço acessível; b) O reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência a decidirem livre e responsavelmente
b) Facilitando o acesso das pessoas com deficiência a ajudas à mobilidade, dispositivos, tecnologias de sobre o número de filhos e o espaçamento dos seus nascimentos, bem como o acesso a informação
apoio e formas de assistência humana e/ou animal à vida e intermediários de qualidade, incluindo a apropriada à idade, educação em matéria de procriação e planeamento familiar e a disponibilização dos
sua disponibilização a um preço acessível; meios necessários para lhes permitirem exercer estes direitos;

c) Providenciando às pessoas com deficiência e ao pessoal especializado formação em técnicas de c) As pessoas com deficiência, incluindo crianças, mantêm a sua fertilidade em condições de igualdade
mobilidade; com os outros.

d) Encorajando as entidades que produzem ajudas à mobilidade, dispositivos e tecnologias de apoio a 2 - Os Estados Partes asseguram os direitos e responsabilidade das pessoas com deficiência, no que
terem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade das pessoas com deficiência. respeita à tutela, curatela, guarda, adopção de crianças ou institutos similares, sempre que estes
conceitos estejam consignados no direito interno; em todos os casos, o superior interesse da criança

9 10
será primordial. Os Estados Partes prestam a assistência apropriada às pessoas com deficiência no c) A garantia de que a educação das pessoas, e em particular das crianças, que são cegas, surdas ou
exercício das suas responsabilidades parentais. surdas-cegas, é ministrada nas línguas, modo e meios de comunicação mais apropriados para o
3 - Os Estados Partes asseguram que as crianças com deficiência têm direitos iguais no que respeita à indivíduo e em ambientes que favoreçam o desenvolvimento académico e social.
vida familiar. Com vista ao exercício desses direitos e de modo a prevenir o isolamento, abandono, 4 - De modo a ajudar a garantir o exercício deste direito, os Estados Partes tomam todas as medidas
negligência e segregação das crianças com deficiência, os Estados Partes comprometem-se em apropriadas para empregar professores, incluindo professores com deficiência, com qualificações em
fornecer às crianças com deficiência e às suas famílias, um vasto leque de informação, serviços e língua gestual e/ou braille e a formar profissionais e pessoal técnico que trabalhem a todos os níveis de
apoios de forma atempada. educação. Tal formação compreende a sensibilização para com a deficiência e a utilização de modos
4 - Os Estados Partes asseguram que a criança não é separada dos seus pais contra a vontade destes, aumentativos e alternativos, meios e formatos de comunicação, técnicas educativas e materiais
excepto quando as autoridades competentes determinarem que tal separação é necessária para o apropriados para apoiar as pessoas com deficiência.
superior interesse da criança, decisão esta sujeita a recurso contencioso, em conformidade com a lei e 5 - Os Estados Partes asseguram que as pessoas com deficiência podem aceder ao ensino superior
procedimentos aplicáveis. Em caso algum deve uma criança ser separada dos pais com base numa geral, à formação vocacional, à educação de adultos e à aprendizagem ao longo da vida sem
deficiência quer da criança quer de um ou de ambos os seus pais. discriminação e em condições de igualdade com as demais. Para este efeito, os Estados Partes
5 - Os Estados Partes, sempre que a família directa seja incapaz de cuidar da criança com deficiência, asseguram as adaptações razoáveis para as pessoas com deficiência.
envidam todos os esforços para prestar cuidados alternativos dentro da família mais alargada e,
quando tal não for possível, num contexto familiar no seio da comunidade. Artigo 25.º
Saúde

Artigo 24.º
Educação Os Estados Partes reconhecem que as pessoas com deficiência têm direito ao gozo do melhor estado de
saúde possível sem discriminação com base na deficiência. Os Estados Partes tomam todas as medidas
1 - Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Com vista ao apropriadas para garantir o acesso às pessoas com deficiência aos serviços de saúde que tenham em
exercício deste direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes conta as especificidades do género, incluindo a reabilitação relacionada com a saúde. Os Estados Partes
asseguram um sistema de educação inclusiva a todos os níveis e uma aprendizagem ao longo da vida, devem, nomeadamente:
direccionados para: a) Providenciar às pessoas com deficiência a mesma gama, qualidade e padrão de serviços e
a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e sentido de dignidade e auto-estima e ao programas de saúde gratuitos ou a preços acessíveis iguais aos prestados às demais, incluindo na área
fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, liberdades fundamentais e diversidade humana; da saúde sexual e reprodutiva e programas de saúde pública dirigidos à população em geral;

b) O desenvolvimento pelas pessoas com deficiência da sua personalidade, talentos e criatividade, b) Providenciar os serviços de saúde necessários às pessoas com deficiência, especialmente devido à
assim como das suas aptidões mentais e físicas, até ao seu potencial máximo; sua deficiência, incluindo a detecção e intervenção atempada, sempre que apropriado, e os serviços
destinados a minimizar e prevenir outras deficiências, incluindo entre crianças e idosos;
c) Permitir às pessoas com deficiência participarem efectivamente numa sociedade livre.
c) Providenciar os referidos cuidados de saúde tão próximo quanto possível das suas comunidades,
2 - Para efeitos do exercício deste direito, os Estados Partes asseguram que:
incluindo nas áreas rurais;
a) As pessoas com deficiência não são excluídas do sistema geral de ensino com base na deficiência e
d) Exigir aos profissionais de saúde a prestação de cuidados às pessoas com deficiência com a mesma
que as crianças com deficiência não são excluídas do ensino primário gratuito e obrigatório ou do
qualidade dos dispensados às demais, com base no consentimento livre e informado, inter alia, da
ensino secundário, com base na deficiência;
sensibilização para os direitos humanos, dignidade, autonomia e necessidades das pessoas com
b) As pessoas com deficiência podem aceder a um ensino primário e secundário inclusivo, de qualidade deficiência através da formação e promulgação de normas deontológicas para o sector público e
e gratuito, em igualdade com as demais pessoas nas comunidades em que vivem; privado da saúde;
c) São providenciadas adaptações razoáveis em função das necessidades individuais; e) Proibir a discriminação contra pessoas com deficiência na obtenção de seguros de saúde e seguros
d) As pessoas com deficiência recebem o apoio necessário, dentro do sistema geral de ensino, para de vida, sempre que esses seguros sejam permitidos pelo Direito interno, os quais devem ser
facilitar a sua educação efectiva; disponibilizados de forma justa e razoável;

e) São fornecidas medidas de apoio individualizadas eficazes em ambientes que maximizam o f) Prevenir a recusa discriminatória de cuidados ou serviços de saúde ou alimentação e líquidos, com
desenvolvimento académico e social, consistentes com o objectivo de plena inclusão. base na deficiência.

3 - Os Estados Partes permitem às pessoas com deficiência a possibilidade de aprenderem


Artigo 26.º
competências de desenvolvimento prático e social de modo a facilitar a sua plena e igual participação Habilitação e reabilitação
na educação e enquanto membros da comunidade. Para este fim, os Estados Partes adoptam as
medidas apropriadas, incluindo:
1 - Os Estados Partes tomam as medidas efectivas e apropriadas, incluindo através do apoio entre
a) A facilitação da aprendizagem de braille, escrita alternativa, modos aumentativos e alternativos, pares, para permitir às pessoas com deficiência atingirem e manterem um grau de independência
meios e formatos de comunicação e orientação e aptidões de mobilidade, assim como o apoio e máximo, plena aptidão física, mental, social e vocacional e plena inclusão e participação em todos os
orientação dos seus pares; aspectos da vida. Para esse efeito, os Estados Partes organizam, reforçam e desenvolvem serviços e
b) A facilitação da aprendizagem de língua gestual e a promoção da identidade linguística da programas de habilitação e reabilitação diversificados, nomeadamente nas áreas da saúde, emprego,
comunidade surda; educação e serviços sociais, de forma que estes serviços e programas:

11 12
a) Tenham início o mais cedo possível e se baseiem numa avaliação multidisciplinar das necessidades e Artigo 28.º
potencialidades de cada indivíduo; Nível de vida e protecção social adequados

b) Apoiem a participação e inclusão na comunidade e em todos os aspectos da sociedade, sejam


1 - Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência a um nível de vida adequado
voluntários e sejam disponibilizados às pessoas com deficiência tão próximo quanto possível das suas
para si próprias e para as suas famílias, incluindo alimentação, vestuário e habitação adequados e a
comunidades, incluindo em áreas rurais.
uma melhoria contínua das condições de vida e tomam as medidas apropriadas para salvaguardar e
2 - Os Estados Partes promovem o desenvolvimento da formação inicial e contínua para os promover o exercício deste direito sem discriminação com base na deficiência.
profissionais e pessoal técnico a trabalhar nos serviços de habilitação e reabilitação.
2 - Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à protecção social e ao gozo
3 - Os Estados Partes promovem a disponibilidade, conhecimento e uso de dispositivos e tecnologias de desse direito sem discriminação com base na deficiência e tomarão as medidas apropriadas para
apoio concebidas para pessoas com deficiência que estejam relacionados com a habilitação e salvaguardar e promover o exercício deste direito, incluindo através de medidas destinadas a:
reabilitação.
a) Assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em condições de igualdade, aos serviços de água
potável e a assegurar o acesso aos serviços, dispositivos e outra assistência adequados e a preços
Artigo 27.º
Trabalho e emprego acessíveis para atender às necessidades relacionadas com a deficiência;
b) Assegurar às pessoas com deficiência, em particular às mulheres e raparigas com deficiência e
1 - Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência a trabalhar, em condições de pessoas idosas com deficiência, o acesso aos programas de protecção social e aos programas de
igualdade com as demais; isto inclui o direito à oportunidade de ganhar a vida através de um trabalho redução da pobreza;
livremente escolhido ou aceite num mercado e ambiente de trabalho aberto, inclusivo e acessível a c) Assegurar às pessoas com deficiência e às suas famílias que vivam em condições de pobreza, o
pessoas com deficiência. Os Estados Partes salvaguardam e promovem o exercício do direito ao acesso ao apoio por parte do Estado para suportar as despesas relacionadas com a sua deficiência,
trabalho, incluindo para aqueles que adquirem uma deficiência durante o curso do emprego, adoptando incluindo a formação, aconselhamento, assistência financeira e cuidados adequados;
medidas apropriadas, incluindo através da legislação, para, inter alia:
d) Assegurar o acesso das pessoas com deficiência aos programas públicos de habitação;
a) Proibir a discriminação com base na deficiência no que respeita a todas as matérias relativas a todas
e) Assegurar o acesso igual das pessoas com deficiência a benefícios e programas de aposentação;
as formas de emprego, incluindo condições de recrutamento, contratação e emprego, continuidade do
emprego, progressão na carreira e condições de segurança e saúde no trabalho;
Artigo 29.º
b) Proteger os direitos das pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as demais, a Participação na vida política e pública
condições de trabalho justas e favoráveis, incluindo igualdade de oportunidades e igualdade de
remuneração pelo trabalho de igual valor, condições de trabalho seguras e saudáveis, incluindo a Os Estados partes garantem às pessoas com deficiência os direitos políticos e a oportunidade de os
protecção contra o assédio e a reparação de injustiças; gozarem, em condições de igualdade com as demais pessoas, e comprometem-se a:
c) Assegurar que as pessoas com deficiência são capazes de exercer os seus direitos laborais e a) Assegurar que as pessoas com deficiências podem efectiva e plenamente participar na vida política e
sindicais, em condições de igualdade com as demais; pública, em condições de igualdade com os demais, de forma directa ou através de representantes
d) Permitir o acesso efectivo das pessoas com deficiência aos programas gerais de orientação técnica e livremente escolhidos, incluindo o direito e oportunidade para as pessoas com deficiência votarem e
vocacional, serviços de colocação e formação contínua; serem eleitas, inter alia:

e) Promover as oportunidades de emprego e progressão na carreira para pessoas com deficiência no i) Garantindo que os procedimentos de eleição, instalações e materiais são apropriados, acessíveis e
mercado de trabalho, assim como auxiliar na procura, obtenção, manutenção e regresso ao emprego; fáceis de compreender e utilizar;

f) Promover oportunidades de emprego por conta própria, empreendedorismo, o desenvolvimento de ii) Protegendo o direito das pessoas com deficiências a votar, por voto secreto em eleições e referendos
cooperativas e a criação de empresas próprias; públicos sem intimidação e a concorrerem a eleições para exercerem efectivamente um mandato e
desempenharem todas as funções públicas a todos os níveis do governo, facilitando o recurso a
g) Empregar pessoas com deficiência no sector público;
tecnologias de apoio e às novas tecnologias sempre que se justificar;
h) Promover o emprego de pessoas com deficiência no sector privado através de políticas e medidas
iii) Garantindo a livre expressão da vontade das pessoas com deficiência enquanto eleitores e para este
apropriadas, que poderão incluir programas de acção positiva, incentivos e outras medidas;
fim, sempre que necessário, a seu pedido, permitir que uma pessoa da sua escolha lhes preste
i) Assegurar que são realizadas as adaptações razoáveis para as pessoas com deficiência no local de assistência para votar;
trabalho;
b) Promovendo activamente um ambiente em que as pessoas com deficiência possam participar
j) Promover a aquisição por parte das pessoas com deficiência de experiência laboral no mercado de efectiva e plenamente na condução dos assuntos públicos, sem discriminação e em condições de
trabalho aberto; igualdade com os demais e encorajar a sua participação nos assuntos públicos, incluindo:
k) Promover a reabilitação vocacional e profissional, manutenção do posto de trabalho e os programas i) A participação em organizações e associações não governamentais ligadas à vida pública e política do
de regresso ao trabalho das pessoas com deficiência. país e nas actividades e administração dos partidos políticos;
2 - Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência não são mantidas em regime de ii) A constituição e adesão a organizações de pessoas com deficiência para representarem as pessoas
escravatura ou servidão e que são protegidas, em condições de igualdade com as demais, do trabalho com deficiência a nível internacional, nacional, regional e local.
forçado ou obrigatório.

13 14
Artigo 30.º termos da presente Convenção e para identificar e abordar as barreiras encontradas pelas pessoas com
Participação na vida cultural, recreação, lazer e desporto deficiência no exercício dos seus direitos.
3 - Os Estados Partes assumem a responsabilidade pela divulgação destas estatísticas e asseguram a
1 - Os Estados Partes reconhecem o direito de todas as pessoas com deficiência a participar, em
sua acessibilidade às pessoas com deficiência e às demais.
condições de igualdade com as demais, na vida cultural e adoptam todas as medidas apropriadas para
garantir que as pessoas com deficiência:
Artigo 32.º
a) Têm acesso a material cultural em formatos acessíveis; Cooperação internacional
b) Têm acesso a programas de televisão, filmes, teatro e outras actividades culturais, em formatos
acessíveis; 1 - Os Estados Partes reconhecem a importância da cooperação internacional e a sua promoção, em
apoio dos esforços nacionais para a realização do objecto e fim da presente Convenção e adoptam as
c) Têm acesso a locais destinados a actividades ou serviços culturais, tais como teatros, museus,
medidas apropriadas e efectivas a este respeito entre os Estados e, conforme apropriado, em parceria
cinemas, bibliotecas e serviços de turismo e, tanto quanto possível, a monumentos e locais de
com organizações internacionais e regionais relevantes e a sociedade civil, nomeadamente as
importância cultural nacional.
organizações de pessoas com deficiência. Tais medidas podem incluir, inter alia:
2 - Os Estados Partes adoptam as medidas apropriadas para permitir às pessoas com deficiência terem
a) A garantia de que a cooperação internacional, incluindo os programas de desenvolvimento
a oportunidade de desenvolver e utilizar o seu potencial criativo, artístico e intelectual, não só para
internacional, é inclusiva e acessível às pessoas com deficiência;
benefício próprio, como também para o enriquecimento da sociedade.
b) Facilitar e apoiar a criação de competências, através da troca e partilha de informação, experiências,
3 - Os Estados Partes adoptam todas as medidas apropriadas, em conformidade com o direito
programas de formação e melhores práticas;
internacional, para garantir que as leis que protegem os direitos de propriedade intelectual não
constituem uma barreira irracional ou discriminatória ao acesso por parte das pessoas com deficiência c) Facilitar a cooperação na investigação e acesso ao conhecimento científico e tecnológico;
a materiais culturais. d) Prestar, conforme apropriado, assistência técnica e económica, incluindo através da facilitação do
4 - As pessoas com deficiência têm direito, em condições de igualdade com os demais, ao acesso e partilha de tecnologias de acesso e de apoio e através da transferência de tecnologias.
reconhecimento e apoio da sua identidade cultural e linguística específica, incluindo a língua gestual e 2 - As disposições do presente artigo não afectam as obrigações de cada Estado Parte no que respeita
cultura dos surdos. ao cumprimento das suas obrigações nos termos da presente Convenção.
5 - De modo a permitir às pessoas com deficiência participar, em condições de igualdade com as
demais, em actividades recreativas, desportivas e de lazer, os Estados Partes adoptam as medidas Artigo 33.º
apropriadas para: Aplicação e monitorização nacional

a) Incentivar e promover a participação, na máxima medida possível, das pessoas com deficiência nas
1 - Os Estados Partes, em conformidade com o seu sistema de organização, nomeiam um ou mais
actividades desportivas comuns a todos os níveis;
pontos de contacto dentro do governo para questões relacionadas com a implementação da presente
b) Assegurar que as pessoas com deficiência têm a oportunidade de organizar, desenvolver e participar Convenção e terão em devida conta a criação ou nomeação de um mecanismo de coordenação a nível
em actividades desportivas e recreativas específicas para a deficiência e, para esse fim, incentivar a governamental que promova a acção relacionada em diferentes sectores e a diferentes níveis.
prestação, em condições de igualdade com as demais, de instrução, formação e recursos apropriados;
2 - Os Estados Partes devem, em conformidade com os seus sistemas jurídico e administrativo,
c) Assegurar o acesso das pessoas com deficiência aos recintos desportivos, recreativos e turísticos; manter, fortalecer, nomear ou estabelecer, a nível interno, uma estrutura que inclua um ou mais
d) Assegurar que as crianças com deficiência têm, em condições de igualdade com as outras crianças, mecanismos independentes, conforme apropriado, com vista a promover, proteger e monitorizar a
a participar em actividades lúdicas, recreativas, desportivas e de lazer, incluindo as actividades implementação da presente Convenção. Ao nomear ou criar tal mecanismo, os Estados Partes terão em
inseridas no sistema escolar; conta os princípios relacionados com o estatuto e funcionamento das instituições nacionais para a
e) Assegurar o acesso das pessoas com deficiência aos serviços de pessoas envolvidas na organização protecção e promoção dos direitos humanos.
de actividades recreativas, turísticas, desportivas e de lazer. 3 - A sociedade civil, em particular as pessoas com deficiência e as suas organizações representativas,
deve estar envolvida e participar activamente no processo de monitorização.
Artigo 31.º
Estatísticas e recolha de dados Artigo 34.º
Comissão para os Direitos das Pessoas com Deficiência
1 - Os Estados Partes comprometem-se a recolher informação apropriada, incluindo dados estatísticos
e de investigação, que lhes permitam formular e implementar políticas que visem dar efeito à presente 1 - Será criada uma Comissão para os Direitos das Pessoas com Deficiência (doravante referida como
Convenção. O processo de recolha e manutenção desta informação deve: «Comissão»), que exercerá as funções em seguida definidas.
a) Respeitar as garantias legalmente estabelecidas, incluindo a legislação sobre protecção de dados, 2 - A Comissão será composta, no momento de entrada em vigor da presente Convenção, por 12
para garantir a confidencialidade e respeito pela privacidade das pessoas com deficiência; peritos. Após 60 ratificações ou adesões adicionais à Convenção, a composição da Comissão aumentará
b) Respeitar as normas internacionalmente aceites para proteger os direitos humanos e liberdades em 6 membros, atingindo um número máximo de 18 membros.
fundamentais e princípios éticos na recolha e uso de estatísticas. 3 - Os membros da Comissão desempenham as suas funções a título pessoal, sendo pessoas de
2 - A informação recolhida em conformidade com o presente artigo deve ser desagregada, conforme elevada autoridade moral e de reconhecida competência e experiência no campo abrangido pela
apropriado, e usada para ajudar a avaliar a implementação das obrigações dos Estados Partes nos presente Convenção. Ao nomearem os seus candidatos, os Estados Partes são convidados a considerar
devidamente a disposição estabelecida no artigo 4.º, n.º 3, da presente Convenção.

15 16
4 - Os membros da Comissão devem ser eleitos pelos Estados membros, sendo considerada a e transparente e a considerarem devida a disposição consignada no artigo 4.º, n.º 3, da presente
distribuição geográfica equitativa, a representação de diferentes formas de civilização e os principais Convenção.
sistemas jurídicos, a representação equilibrada de géneros e a participação de peritos com deficiência. 5 - Os relatórios podem indicar factores e dificuldades que afectem o grau de cumprimento das
5 - Os membros da Comissão são eleitos por voto secreto a partir de uma lista de pessoas nomeada obrigações decorrentes da presente Convenção.
pelos Estados Partes, de entre os seus nacionais, aquando de reuniões da Conferência dos Estados
Partes. Nessas reuniões, em que o quórum é composto por dois terços dos Estados Partes, as pessoas Artigo 36.º
eleitas para a Comissão são aquelas que obtiverem o maior número de votos e uma maioria absoluta Apreciação dos relatórios
de votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
6 - A eleição inicial tem lugar nos seis meses seguintes à data de entrada em vigor da presente 1 - Cada relatório é examinado pela Comissão, que apresenta sugestões e recomendações de carácter
Convenção. Pelo menos quatro meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações geral sobre o relatório, conforme considere apropriado e deve transmiti-las ao Estado Parte
Unidas remete uma carta aos Estados Partes a convidá-los a proporem os seus candidatos num prazo interessado. O Estado Parte pode responder à Comissão com toda a informação que considere útil. A
de dois meses. Em seguida, o Secretário-Geral elabora uma lista em ordem alfabética de todos os Comissão pode solicitar mais informação complementar aos Estados Partes relevantes para a
candidatos assim nomeados, indicando os Estados Partes que os nomearam, e submete-a aos Estados implementação da presente Convenção.
Partes na presente Convenção. 2 - Se um Estado Parte estiver significativamente atrasado na submissão de um relatório, a Comissão
7 - Os membros da Comissão são eleitos para um mandato de quatro anos. Apenas podem ser pode notificar o Estado Parte interessado da necessidade de examinar a aplicação da presente
reeleitos uma vez. No entanto, o mandato de seis dos membros eleitos na primeira eleição termina ao Convenção nesse mesmo Estado Parte, com base na informação fiável disponibilizada à Comissão, caso
fim de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, os nomes destes seis membros são o relatório relevante não seja submetido dentro dos três meses seguintes à notificação. A Comissão
escolhidos aleatoriamente pelo Presidente da reunião conforme referido no n.º 5 do presente artigo. convida o Estado Parte interessado a participar no referido exame. Caso o Estado Parte responda
através da submissão do relatório relevante, aplicam-se as disposições do n.º 1 do presente artigo.
8 - A eleição dos seis membros adicionais da Comissão deve ter lugar por ocasião das eleições
regulares, em conformidade com as disposições relevantes do presente artigo. 3 - O Secretário-Geral das Nações Unidas disponibiliza os relatórios a todos os Estados Partes.

9 - Se um membro da Comissão morrer ou renunciar ou declarar que por qualquer outro motivo, ele ou 4 - Os Estados Partes tornam os seus relatórios largamente disponíveis ao público nos seus próprios
ela não pode continuar a desempenhar as suas funções, o Estado Parte que nomeou o membro países e facilitam o acesso a sugestões e recomendações de carácter geral relativamente aos mesmos.
designará outro perito que possua as qualificações e cumpra os requisitos estabelecidos nas 5 - A Comissão transmite, conforme apropriado, às agências especializadas, fundos e programas das
disposições relevantes do presente artigo, para preencher a vaga até ao termo do mandato. Nações Unidas e outros órgãos competentes, os relatórios dos Estados Partes de modo a tratar um
10 - A Comissão estabelecerá as suas próprias regras de procedimento. pedido ou indicação de uma necessidade de aconselhamento ou assistência técnica neles constantes,
acompanhados das observações e recomendações da Comissão, se as houver, sobre os referidos
11 - O Secretário-Geral das Nações Unidas disponibiliza o pessoal e instalações necessários para o
pedidos ou indicações.
desempenho efectivo das funções da Comissão ao abrigo da presente Convenção e convocará a sua
primeira reunião.
Artigo 37.º
12 - Com a aprovação da Assembleia geral das Nações Unidas, os membros da Comissão estabelecida Cooperação entre Estados Partes e a Comissão
ao abrigo da presente Convenção recebem emolumentos provenientes dos recursos das Nações Unidas
segundo os termos e condições que a Assembleia determinar, tendo em consideração a importância 1 - Cada Estado Parte coopera com a Comissão e apoia os seus membros no cumprimento do seu
das responsabilidades da Comissão. mandato.
13 - Os membros da Comissão têm direito às facilidades, privilégios e imunidades concedidas aos 2 - Na sua relação com os Estados Partes, a Comissão tem em devida consideração as formas e meios
peritos em missão para as Nações Unidas conforme consignado nas secções relevantes da Convenção de melhorar as capacidades nacionais para a aplicação da presente Convenção, incluindo através da
sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas. cooperação internacional.

Artigo 35.º Artigo 38.º


Relatórios dos Estados Partes Relação da Comissão com outros organismos

1 - Cada Estado Parte submete à Comissão, através do Secretário-Geral das Nações Unidas, um De modo a promover a efectiva aplicação da presente Convenção e a incentivar a cooperação
relatório detalhado das medidas adoptadas para cumprir as suas obrigações decorrentes da presente internacional no âmbito abrangido pela presente Convenção:
Convenção e sobre o progresso alcançado a esse respeito, num prazo de dois anos após a entrada em
a) As agências especializadas e outros órgãos das Nações Unidas têm direito a fazerem-se representar
vigor da presente Convenção para o Estado Parte interessado.
quando for considerada a implementação das disposições da presente Convenção que se enquadrem no
2 - Posteriormente, os Estados Partes submetem relatórios subsequentes, pelos menos a cada quatro âmbito do seu mandato. A Comissão pode convidar agências especializadas e outros organismos
anos e sempre que a Comissão tal solicitar. competentes, consoante considere relevante, para darem o seu parecer técnico sobre a implementação
3 - A Comissão decide as directivas aplicáveis ao conteúdo dos relatórios. da Convenção nas áreas que se enquadrem no âmbito dos seus respectivos mandatos. A Comissão
convida agências especializadas e outros órgãos das Nações Unidas, para submeterem relatórios sobre
4 - Um Estado Parte que tenha submetido um relatório inicial detalhado à Comissão não necessita de
a aplicação da Convenção nas áreas que se enquadrem no âmbito das suas respectivas actividades;
repetir a informação anteriormente fornecida nos seus relatórios posteriores. Ao prepararem os
relatórios para a Comissão, os Estados Partes são convidados a fazê-lo através de um processo aberto b) A Comissão, no exercício do seu mandato, consulta, sempre que considere apropriado, outros
organismos relevantes criados por tratados internacionais sobre direitos humanos, com vista a

17 18
assegurar a consistência das suas respectivas directivas para a apresentação de relatórios, sugestões e 4 - As organizações de integração regional, em matérias da sua competência, podem exercer o seu
recomendações de carácter geral e evitar a duplicação e sobreposição no exercício das suas funções. direito de voto na Conferência dos Estados Partes, com um número de votos igual ao número dos seus
Estados membros que sejam Partes na presente Convenção. Esta organização não exercerá o seu
Artigo 39.º direito de voto se qualquer um dos seus Estados membros exercer o seu direito, e vice-versa.
Relatório da Comissão
Artigo 45.º
A Comissão presta contas a cada dois anos à Assembleia geral e ao Conselho Económico e Social sobre Entrada em vigor
as suas actividades e poderá fazer sugestões e recomendações de carácter geral baseadas na análise
dos relatórios e da informação recebida dos Estados Partes. Estas sugestões e recomendações de 1 - A presente Convenção entra em vigor no 30.º dia após a data do depósito do 20.º instrumento de
carácter geral devem constar do relatório da Comissão, acompanhadas das observações dos Estados ratificação ou adesão.
Partes, se os houver. 2 - Para cada Estado ou organização de integração regional que ratifique, a confirme formalmente ou
adira à presente Convenção após o depósito do 20.º instrumento, a Convenção entrará em vigor no
Artigo 40.º 30.º dia após o depósito do seu próprio instrumento.
Conferência dos Estados Partes

Artigo 46.º
1 - Os Estados Partes reúnem-se regularmente numa Conferência dos Estados Partes de modo a Reservas
considerar qualquer questão relativa à aplicação da presente Convenção.
2 - Num prazo máximo de seis meses após a entrada em vigor da presente Convenção, o Secretário- 1 - Não são admitidas quaisquer reservas incompatíveis com o objecto e o fim da presente Convenção.
Geral das Nações Unidas convoca a Conferência dos Estados Partes. As reuniões posteriores são 2 - As reservas podem ser retiradas a qualquer momento.
convocadas pelo Secretário-Geral a cada dois anos ou mediante decisão da Conferência dos Estados
Partes. Artigo 47.º
Revisão
Artigo 41.º
Depositário
1 - Qualquer Estado Parte pode propor uma emenda à presente Convenção e submetê-la ao Secretário-
Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunica quaisquer emendas propostas aos Estados
O Secretário-Geral das Nações Unidas é o depositário da presente Convenção. Partes, solicitando que lhe seja transmitido se são a favor de uma conferência dos Estados Partes com
vista a apreciar e votar as propostas. Se, dentro de quatro meses a partir da data dessa comunicação,
Artigo 42.º pelo menos um terço dos Estados Partes forem favoráveis a essa conferência, o Secretário-Geral
Assinatura
convoca-a sob os auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adoptada por uma maioria de dois
terços dos Estados Partes presentes e votantes é submetida pelo Secretário-Geral à Assembleia geral
A presente Convenção estará aberta a assinatura de todos os Estados e das organizações de integração das Nações Unidas para aprovação e, em seguida, a todos os Estados Partes para aceitação.
regional na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, a partir de 30 de Março de 2007.
2 - Uma emenda adoptada e aprovada em conformidade com o n.º 1 do presente artigo deve entrar
em vigor no trigésimo dia após o número de instrumentos de aceitação depositados alcançar dois
Artigo 43.º
Consentimento em estar vinculado terços do número dos Estados Partes à data de adopção da emenda. Consequentemente, a emenda
entra em vigor para qualquer Estado Parte no trigésimo dia após o depósito dos seus respectivos
instrumentos de aceitação. A emenda apenas é vinculativa para aqueles Estados Partes que a tenham
A presente Convenção está sujeita a ratificação pelos Estados signatários e a confirmação formal pelas
aceite.
organizações de integração regional signatárias. A Convenção está aberta à adesão de qualquer Estado
ou organização de integração regional que não a tenha assinado. 3 - Caso assim seja decidido pela Conferência dos Estados Partes por consenso, uma emenda adoptada
e aprovada em conformidade com o n.º 1 do presente artigo que se relacione exclusivamente com os
Artigo 44.º artigos 34.º, 38.º, 39.º e 40.º entra em vigor para todos os Estados Partes no 30.º dia após o número
Organizações de integração regional de instrumentos de aceitação depositados alcançar os dois terços do número dos Estados Partes à data
de adopção da emenda.
1 - «Organização de integração regional» designa uma organização constituída por Estados soberanos
de uma determinada região, para a qual os seus Estados membros transferiram a competência em Artigo 48.º
matérias regidas pela presente Convenção. Estas organizações devem declarar, nos seus instrumentos Denúncia
de confirmação formal ou de adesão, o âmbito da sua competência relativamente às questões regidas
pela presente Convenção. Subsequentemente, devem informar o depositário de qualquer alteração Um Estado Parte pode denunciar a presente Convenção mediante notificação escrita ao Secretário-
substancial no âmbito da sua competência. Geral das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano após a data de recepção da notificação
pelo Secretário-Geral.
2 - As referências aos «Estados Partes» na presente Convenção aplicam-se às referidas organizações
dentro dos limites das suas competências.
3 - Para os fins do disposto nos artigos 45.º, n.º 1, e 47.º, n.os 2 e 3, da presente Convenção,
qualquer instrumento depositado por uma organização de integração regional não será contabilizado.

19 20
Artigo 49.º
Formato acessível

O texto da presente Convenção será disponibilizado em formatos acessíveis.

Artigo 50.º
Textos autênticos

Os textos nas línguas árabe, chinesa, inglesa, francesa, russa e espanhola da presente Convenção são
igualmente autênticos.
Em fé do que os plenipotenciários abaixo-assinados, estando devidamente autorizados para o efeito
pelos seus respectivos Governos, assinaram a presente Convenção.

21
ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL Determinados em prosseguir este objectivo e, no interesse das gerações presentes e
vindouras, a criar um tribunal penal internacional com carácter permanente e
Preâmbulo
independente no âmbito do sistema das Nações Unidas, e com jurisdição sobre os

Os Estados Partes no presente Estatuto: crimes de maior gravidade que afectem a comunidade internacional no seu conjunto;

Conscientes de que todos os povos estão unidos por laços comuns e de que as suas Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional criado pelo presente Estatuto será

culturas foram construídas sobre uma herança que partilham, e preocupados com o complementar das jurisdições penais nacionais;

facto de este delicado mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer instante;


Decididos a garantir o respeito duradouro pela efectivação da justiça internacional;

Tendo presente que, no decurso deste século, milhões de crianças, homens e mulheres
convieram no seguinte:
têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a
consciência da Humanidade; CAPÍTULO I

Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à Criação do Tribunal
segurança e ao bem-estar da Humanidade;
Artigo 1.º
Afirmando que os crimes de maior gravidade que afectam a comunidade internacional
O Tribunal
no seu conjunto não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efectivamente
assegurada através da adopção de medidas a nível nacional e do reforço da cooperação É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional («o Tribunal»). O
internacional; Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo
Decididos a pôr fim à impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a
com o presente Estatuto, e será complementar das jurisdições penais nacionais. A
prevenção de tais crimes;
competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.
Relembrando que é dever de todo o Estado exercer a respectiva jurisdição penal sobre
Artigo 2.º
os responsáveis por crimes internacionais;

Relação do Tribunal com as Nações Unidas


Reafirmando os objectivos e princípios consignados na Carta das Nações Unidas e, em
particular, que todos os Estados se devem abster de recorrer à ameaça ou ao uso da A relação entre o Tribunal e as Nações Unidas será estabelecida através de um acordo a
força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou ser aprovado pela Assembleia dos Estados Partes no presente Estatuto e,
de actuar por qualquer outra forma incompatível com os objectivos das Nações Unidas; seguidamente, concluído pelo presidente do Tribunal, em nome deste.

Salientando, a este propósito, que nada no presente Estatuto deverá ser entendido
como autorizando qualquer Estado Parte a intervir num conflito armado ou nos
assuntos internos de qualquer Estado;

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
Artigo 3.º c) Os crimes de guerra;

Sede do Tribunal d) O crime de agressão.

1 - A sede do Tribunal será na Haia, Países Baixos («o Estado anfitrião»). 2 - O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão
desde que, nos termos dos artigos 121.º e 123.º, seja aprovada uma disposição em que
2 - O Tribunal estabelecerá um acordo com o Estado anfitrião relativo à sede, a ser
se defina o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência
aprovado pela Assembleiados Estados Partes e seguidamente concluído pelo presidente
relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições
do Tribunal, em nome deste.
pertinentes da Carta das Nações Unidas.
3 - Sempre que entender conveniente, o Tribunal poderá funcionar noutro local, nos
termos do presente Estatuto. Artigo 6.º

Artigo 4.º Crime de genocídio

Estatuto legal e poderes do Tribunal Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por «genocídio» qualquer um dos
actos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em
1 - O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a
parte, um grupo nacional, étnico, rácico ou religioso, enquanto tal:
capacidade jurídica necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos
seus objectivos. a) Homicídio de membros do grupo;

2 - O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções, nos termos do presente b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida pensadas para provocar a sua
qualquer outro Estado.
destruição física, total ou parcial;
CAPÍTULO II
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
Competência, admissibilidade e direito aplicável
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.
Artigo 5.º
Artigo 7.º
Crimes da competência do Tribunal
Crimes contra a Humanidade
1 - A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves que afectam a
1 - Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por «crime contra a Humanidade»
comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal
qualquer um dos actos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque,
terá competência para julgar os seguintes crimes:
generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento
a) O crime de genocídio; desse ataque:

b) Os crimes contra a Humanidade; a) Homicídio;

3 4
b) Extermínio; c) Por «escravidão» entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder
ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma
c) Escravidão;
pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em

d) Deportação ou transferência à força de uma população; particular mulheres e crianças;

e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas d) Por «deportação ou transferência à força de uma população» entende-se a

fundamentais do direito internacional; deslocação coactiva de pessoas através da expulsão ou de outro acto coercivo, da zona
em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido em direito
f) Tortura; internacional;

g) Violação, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez à força, esterilização à e) Por «tortura» entende-se o acto por meio do qual uma dor ou sofrimentos graves,
força ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a
custódia ou o controlo do arguido; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos
h) Perseguição de um grupo ou colectividade que possa ser identificado, por motivos
resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas
políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de sexo, tal como definido no
ocasionadas acidentalmente;
n.º 3, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis
em direito internacional, relacionados com qualquer acto referido neste número ou f) Por «gravidez à força» entende-se a privação de liberdade ilegal de uma mulher que
com qualquer crime da competência do Tribunal; foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição étnica de uma
população ou de cometer outras violações graves do direito internacional. Esta
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
definição não pode, de modo algum, ser interpretada como afectando as disposições de
j) Crime de apartheid; direito interno relativas à gravidez;

k) Outros actos desumanos de carácter semelhante que causem intencionalmente g) Por «perseguição» entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais
grande sofrimento, ferimentos graves ou afectem a saúde mental ou física. em violação do direito internacional por motivos relacionados com a identidade do
grupo ou da colectividade em causa;
2 - Para efeitos do n.º 1:
h) Por «crime de apartheid» entende-se qualquer acto desumano análogo aos referidos
a) Por «ataque contra uma população civil» entende-se qualquer conduta que envolva a
no n.º 1, praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio
prática múltipla de actos referidos no n.º 1 contra uma população civil, de acordo com a
sistemático de um grupo rácico sobre um ou outros e com a intenção de manter esse
política de um Estado ou de uma organização de praticar esses actos ou tendo em vista
regime;
a prossecução dessa política;
i) Por «desaparecimento forçado de pessoas» entende-se a detenção, a prisão ou o
b) O «extermínio» compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a
sequestro de pessoas por um Estado ou uma organização política, ou com a
privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de
autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa em reconhecer tal
uma parte da população;
estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação ou

5 6
localização dessas pessoas, com o propósito de lhes negar a protecção da lei por um viii) Tomada de reféns;
longo período de tempo.
b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados
3 - Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo «sexo» abrange os sexos internacionais no quadro do direito internacional, a saber, qualquer um dos seguintes
masculino e feminino, dentro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído actos:
qualquer outro significado.
i) Atacar intencionalmente a população civil em geral ou civis que não participem
Artigo 8.º directamente nas hostilidades;

Crimes de guerra ii) Atacar intencionalmente bens civis, ou seja, bens que não sejam objectivos militares;

1 - O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando iii) Atacar intencionalmente pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que
cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de
uma prática em larga escala desse tipo de crimes. acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à protecção
conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos
2 - Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por «crimes de guerra»:
armados;

a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber,


iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas
qualquer um dos seguintes actos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos
acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos em bens de
termos da Convenção de Genebra que for pertinente:
carácter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente que se

i) Homicídio doloso; revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar global concreta e directa
que se previa;
ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas;
v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, aglomerados populacionais, habitações
iii) O acto de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objectivos militares;
integridade física ou à saúde;
vi) Provocar a morte ou ferimentos a um combatente que tenha deposto armas ou que,
iv) Destruição ou apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por não tendo meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido;
quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária;
vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de tréguas, a bandeira nacional, as insígnias
v) O acto de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob protecção a servir militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas
nas forças armadas de uma potência inimiga; distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a morte ou ferimentos
graves;
vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob protecção
do seu direito a um julgamento justo e imparcial; viii) A transferência, directa ou indirecta, por uma potência ocupante de parte da sua
população civil para o território que ocupa ou a deportação ou transferência da
vii) Deportação ou transferência, ou a privação de liberdade ilegais;

7 8
totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro ou para fora desse xx) Empregar armas, projécteis, materiais e métodos de combate que, pela sua própria
território; natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam
efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional aplicável aos conflitos
ix) Os ataques intencionais a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às
armados, na medida em que tais armas, projécteis, materiais e métodos de combate
artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se
sejam objecto de uma proibição geral e estejam incluídos num anexo ao presente
agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objectivos militares;
Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos

x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a artigos 121.º e 123.º;

mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não


xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes
sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam
e degradantes;
efectuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou façam perigar
seriamente a sua saúde; xxii) Cometer actos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força,
tal como definida na alínea f) do n.º 2 do artigo 7.º, esterilização à força e qualquer outra
xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigos;
forma de violência sexual que constitua também um desrespeito grave das Convenções

xii) Declarar que não será dado abrigo; de Genebra;

xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra xxiii) Aproveitar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que

assim o determinem; determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações militares;

xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e acções xxiv) Atacar intencionalmente edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim

dos nacionais da parte inimiga; como o pessoal habilitado a usar os emblemas distintivos das Convenções de Genebra,
de acordo com o direito internacional;
xv) O facto de uma parte beligerante obrigar os nacionais da parte inimiga a participar
em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de fazer a

ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra; guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo,
nomeadamente, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra;
xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto;
xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los
xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas; para participar activamente nas hostilidades;

xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou similares, ou qualquer líquido, material ou c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as violações graves
dispositivo análogo; do artigo 3.º comum às quatro Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949, a
saber, qualquer um dos actos que a seguir se indicam, cometidos contra pessoas que
xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo
não participem directamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças
humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou
armadas que tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a
possui incisões;
combater devido a doença, lesões, prisão ou qualquer outro motivo:

9 10
i) Actos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio sob todas v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado de
as suas formas, as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura; assalto;

ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e vi) Cometer actos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força,
degradantes; tal como definida na alínea f) do n.º 2 do artigo 7.º, esterilização à força ou qualquer
outra forma de violência sexual que constitua uma violação grave do artigo 3.º comum
iii) A tomada de reféns;
às quatro Convenções de Genebra;

iv) As condenações proferidas e as execuções efectuadas sem julgamento prévio por um


vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou em grupos,
tribunal regularmente constituído e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente
ou utilizá-los para participar activamente nas hostilidades;
reconhecidas como indispensáveis;
viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o conflito,
d) A alínea c) do n.º 2 do presente artigo aplica-se aos conflitos armados que não
salvo se assim o exigirem a segurança dos civis em questão ou razões militares
tenham carácter internacional e, por conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio
imperiosas;
e de tensão internas, tais como motins, actos de violência esporádicos ou isolados ou
outros de carácter semelhante; ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante;

e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que x) Declarar que não será dado abrigo;
não têm carácter internacional, no quadro do direito internacional, a saber qualquer um
xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte beligerante a
dos seguintes actos:
mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não
i) Atacar intencionalmente a população civil em geral ou civis que não participem sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam
directamente nas hostilidades; efectuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a morte ou ponham seriamente a
sua saúde em perigo;
ii) Atacar intencionalmente edifícios, material, unidades e veículos sanitários, bem como
o pessoal habilitado a usar os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, de xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra
acordo com o direito internacional; assim o exijam;

iii) Atacar intencionalmente pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que f) A alínea e) do n.º 2 do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos armados que não
participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de tenham carácter internacional e, por conseguinte, não se aplicará a situações de
acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à protecção distúrbio e de tensão internas, tais como motins, actos de violência esporádicos ou
conferida pelo direito internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis; isolados ou outros de carácter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que
tenham lugar no território de um Estado, quando exista um conflito armado prolongado
iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às
entre as autoridades governamentais e grupos armados organizados ou entre estes
artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se
grupos.
agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objectivos militares;

11 12
3 - O disposto nas alíneas c) e e) do n.º 2 em nada afectará a responsabilidade que entrada em vigor do presente Estatuto relativamente a esse Estado, a menos que este
incumbe a todo o Governo de manter e de restabelecer a ordem pública no Estado e de tenha feito uma declaração nos termos do n.º 3 do artigo 12.º
defender a unidade e a integridade territorial do Estado por qualquer meio legítimo.
Artigo 12.º
Artigo 9.º
Condições prévias ao exercício da jurisdição
Elementos constitutivos dos crimes
1 - O Estado que se torne Parte no presente Estatuto aceitará a jurisdição do Tribunal
1 - Os elementos constitutivos dos crimes que auxiliarão o Tribunal a interpretar e a relativamente aos crimes a que se refere o artigo 5.º
aplicar os artigos 6.º, 7.º e 8.º do presente Estatuto, deverão ser adoptados por uma
2 - Nos casos referidos nas alíneas a) ou c) do artigo 13.º, o Tribunal poderá exercer a
maioria de dois terços dos membros da Assembleia dos Estados Partes.
sua jurisdição se um ou mais Estados a seguir identificados forem Partes no presente
2 - As alterações aos elementos constitutivos dos crimes poderão ser propostas por:
Estatuto ou aceitarem a competência do Tribunal de acordo com o disposto no n.º 3:
a) Qualquer Estado Parte;
a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o crime tiver
b) Os juízes, através de deliberação tomada por maioria absoluta; sido cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do
navio ou aeronave;
c) O procurador.
b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime.
As referidas alterações entram em vigor depois de aprovadas por uma maioria de dois
terços dos membros da Assembleia dos Estados Partes. 3 - Se a aceitação da competência do Tribunal por um Estado que não seja Parte no
3 - Os elementos constitutivos dos crimes e respectivas alterações deverão ser presente Estatuto for necessária nos termos do n.º 2, pode o referido Estado, mediante
compatíveis com as disposições contidas no presente Estatuto. declaração depositada junto do secretário, consentir em que o Tribunal exerça a sua
competência em relação ao crime em questão. O Estado que tiver aceite a competência
Artigo 10.º
do Tribunal colaborará com este, sem qualquer demora ou excepção, de acordo com o

Nada no presente capítulo deverá ser interpretado como limitando ou afectando, de disposto no capítulo IX.

alguma maneira, as normas existentes ou em desenvolvimento de direito internacional


Artigo 13.º
com fins distintos dos do presente Estatuto.
Exercício da jurisdição
Artigo 11.º
O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a qualquer um dos crimes a que
Competência ratione temporis
se refere o artigo 5.º, de acordo com o disposto no presente Estatuto, se:

1 - O Tribunal só terá competência relativamente aos crimes cometidos após a entrada


a) Um Estado Parte denunciar ao procurador, nos termos do artigo 14.º, qualquer
em vigor do presente Estatuto.
situação em que haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;

2 - Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada em vigor, o


Tribunal só poderá exercer a sua competência em relação a crimes cometidos depois da

13 14
b) O Conselho de Segurança, agindo nos termos do capítulo VII da Carta das Nações 4 - Se, após examinar o pedido e a documentação que o acompanha, o juízo de
Unidas, denunciar ao procurador qualquer situação em que haja indícios de ter ocorrido instrução considerar que há fundamento suficiente para abrir um inquérito e que o caso
a prática de um ou vários desses crimes; ou parece caber na jurisdição do Tribunal, autorizará a abertura do inquérito, sem prejuízo
das decisões que o Tribunal vier a tomar posteriormente em matéria de competência e
c) O procurador tiver dado início a um inquérito sobre tal crime, nos termos do disposto
de admissibilidade.
no artigo 15.º
5 - A recusa do juízo de instrução em autorizar a abertura do inquérito não impedirá o
Artigo 14.º
procurador de formular ulteriormente outro pedido com base em novos factos ou

Denúncia por um Estado Parte provas respeitantes à mesma situação.

1 - Qualquer Estado poderá denunciar ao procurador uma situação em que haja indícios 6 - Se, depois da análise preliminar a que se referem os n.os 1 e 2, o procurador concluir

de ter ocorrido a prática de um ou vários crimes da competência do Tribunal e solicitar que a informação apresentada não constitui fundamento suficiente para um inquérito,

ao procurador que a investigue, com vista a determinar se uma ou mais pessoas o procurador informará quem a tiver apresentado de tal entendimento. Tal não impede

identificadas deverão ser acusadas da prática desses crimes. que o procurador examine, à luz de novos factos ou provas, qualquer outra informação
que lhe venha a ser comunicada sobre o mesmo caso.
2 - O Estado que proceder à denúncia deverá, tanto quanto possível, especificar as
circunstâncias relevantes do caso e anexar toda a documentação de que disponha. Artigo 16.º

Artigo 15.º Transferência do inquérito e do procedimento criminal

Procurador O inquérito ou o procedimento criminal não poderão ter início ou prosseguir os seus
termos, com base no presente Estatuto, por um período de 12 meses a contar da data
1 - O procurador poderá, por sua própria iniciativa, abrir um inquérito com base em em que o Conselho de Segurança assim o tiver solicitado em resolução aprovada nos
informações sobre a prática de crimes da competência do Tribunal. termos do disposto no capítulo VII da Carta das Nações Unidas; o pedido poderá ser
renovado pelo Conselho de Segurança nas mesmas condições.
2 - O procurador apreciará a seriedade da informação recebida. Para tal, poderá
recolher informações suplementares junto dos Estados, dos órgãos da Organização das Artigo 17.º
Nações Unidas, das organizações intergovernamentais ou não governamentais ou
outras fontes fidedignas que considere apropriadas, bem como recolher depoimentos Questões relativas à admissibilidade

escritos ou orais na sede do Tribunal.


1 - Tendo em consideração o décimo parágrafo do preâmbulo e o artigo 1.º, o Tribunal

3 - Se concluir que existe fundamento suficiente para abrir um inquérito, o procurador decidirá sobre a não admissibilidade de um caso se:

apresentará um pedido de autorização nesse sentido ao juízo de instrução,


a) O caso for objecto de inquérito ou de procedimento criminal por parte de um Estado
acompanhado da documentação de apoio que tiver reunido. As vítimas poderão
que tenha jurisdição sobre o mesmo, salvo se este não tiver vontade de levar a cabo o
apresentar exposições no juízo de instrução, de acordo com o Regulamento Processual.
inquérito ou o procedimento ou não tenha capacidade efectiva para o fazer;

15 16
b) O caso tiver sido objecto de inquérito por um Estado com jurisdição sobre ele e tal Artigo 18.º
Estado tenha decidido não dar seguimento ao procedimento criminal contra a pessoa
Decisões preliminares sobre admissibilidade
em causa, a menos que esta decisão resulte do facto de esse Estado não ter vontade de
proceder criminalmente ou da sua incapacidade efectiva para o fazer; 1 - Se uma situação for denunciada ao Tribunal nos termos do artigo 13.º, alínea a), e o
procurador determinar que existem fundamentos para abrir um inquérito ou der início
c) A pessoa em causa tiver sido já julgada pela conduta a que se refere a denúncia e não
a um inquérito de acordo com os artigos 13.º, alínea c), e 15.º, deverá notificar todos os
puder ser julgada pelo Tribunal em virtude do disposto no n.º 3 do artigo 20.º;
Estados Partes e os Estados que, de acordo com a informação disponível, teriam
d) O caso não for suficientemente grave para justificar a ulterior intervenção do jurisdição sobre esses crimes. O procurador poderá proceder à notificação a título
Tribunal. confidencial e, sempre que o considere necessário com vista a proteger pessoas,
impedir a destruição de provas ou a fuga de pessoas, poderá limitar o âmbito da
2 - A fim de determinar se há ou não vontade de agir num determinado caso, o Tribunal,
informação a transmitir aos Estados.
tendo em consideração as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo
direito internacional, verificará a existência de uma ou mais das seguintes 2 - No prazo de um mês a seguir à recepção da referida notificação, qualquer Estado
circunstâncias: poderá informar o Tribunal de que está a proceder, ou já procedeu, a um inquérito
sobre nacionais seus ou outras pessoas sob a sua jurisdição, por actos que possam
a) O processo ter sido instaurado ou estar pendente ou a decisão ter sido proferida no
constituir crimes a que se refere o artigo 5.º e digam respeito à informação constante na
Estado com o propósito de subtrair a pessoa em causa à sua responsabilidade criminal
respectiva notificação. A pedido desse Estado, o procurador transferirá para ele o
por crimes da competência do Tribunal, nos termos do disposto no artigo 5.º;
inquérito sobre essas pessoas, a menos que, a pedido do procurador, o juízo de

b) Ter havido demora injustificada no processamento, a qual, dadas as circunstâncias, instrução decida autorizar o inquérito.

se mostra incompatível com a intenção de fazer responder a pessoa em causa perante a


3 - A transferência do inquérito poderá ser reexaminada pelo procurador seis meses
justiça;
após a data em que tiver sido decidida ou, a todo o momento, quando tenha ocorrido

c) O processo não ter sido ou não estar a ser conduzido de maneira independente ou uma alteração significativa de circunstâncias, decorrente da falta de vontade ou da

imparcial, e ter estado ou estar a ser conduzido de uma maneira que, dadas as incapacidade efectiva do Estado de levar a cabo o inquérito.

circunstâncias, seja incompatível com a intenção de fazer responder a pessoa em causa


4 - O Estado interessado ou o procurador poderão interpor recurso para o juízo de
perante a justiça.
recursos da decisão proferida por um juízo de instrução, tal como previsto no artigo 82.º

3 - A fim de determinar se há incapacidade de agir num determinado caso, o Tribunal Este recurso poderá seguir uma forma sumária.

verificará se o Estado, por colapso total ou substancial da respectiva administração da


5 - Se o procurador transferir o inquérito, nos termos do n.º 2, poderá solicitar ao Estado
justiça ou por indisponibilidade desta, não estará em condições de fazer comparecer o
interessado que o informe periodicamente do andamento do mesmo e de qualquer
arguido, de reunir os meios de prova e depoimentos necessários ou não estará, por
outro procedimento subsequente. Os Estados Partes responderão a estes pedidos sem
outros motivos, em condições de concluir o processo.
atrasos injustificados.

17 18
6 - O procurador poderá, enquanto aguardar uma decisão a proferir no juízo de 4 - A admissibilidade de um caso ou a jurisdição do Tribunal só poderão ser impugnadas
instrução, ou a todo o momento se tiver transferido o inquérito nos termos do presente uma única vez por qualquer pessoa ou Estado a que se faz referência no n.º 2. A
artigo, solicitar ao tribunal de instrução, a título excepcional, que o autorize a efectuar as impugnação deverá ser feita antes do julgamento ou no seu início. Em circunstâncias
investigações que considere necessárias para preservar elementos de prova, quando excepcionais, o Tribunal poderá autorizar que a impugnação se faça mais de uma vez ou
exista uma oportunidade única de obter provas relevantes ou um risco significativo de depois do início do julgamento. As impugnações à admissibilidade de um caso feitas no
que essas provas possam não estar disponíveis numa fase ulterior. início do julgamento, ou posteriormente com a autorização do Tribunal, só poderão
fundamentar-se no disposto no n.º 1, alínea c), do artigo 17.º
7 - O Estado que tenha recorrido de uma decisão do juízo de instrução nos termos do
presente artigo poderá impugnar a admissibilidade de um caso nos termos do artigo 5 - Os Estados a que se referem as alíneas b) e c) do n.º 2 do presente artigo deverão
19.º, invocando factos novos relevantes ou uma alteração significativa de circunstâncias. deduzir impugnação logo que possível.

Artigo 19.º 6 - Antes da confirmação da acusação, a impugnação da admissibilidade de um caso ou


da jurisdição do Tribunal será submetida ao juízo de instrução e, após confirmação, ao
Impugnação da jurisdição do Tribunal ou da admissibilidade do caso
juízo de julgamento em primeira instância. Das decisões relativas à jurisdição ou

1 - O Tribunal deverá certificar-se de que detém jurisdição sobre todos os casos que lhe admissibilidade caberá recurso para o juízo de recursos, de acordo com o artigo 82.º

sejam submetidos. O Tribunal poderá pronunciar-se oficiosamente sobre a


7 - Se a impugnação for feita pelo Estado referido nas alíneas b) e c) do n.º 2, o
admissibilidade de um caso em conformidade com o artigo 17.º
procurador suspenderá o inquérito até que o Tribunal decida em conformidade com o

2 - Poderão impugnar a admissibilidade de um caso, por um dos motivos referidos no artigo 17.º

artigo 17.º, ou impugnar a jurisdição do Tribunal:


8 - Enquanto aguardar uma decisão, o procurador poderá solicitar ao Tribunal

a) O arguido ou a pessoa contra a qual tenha sido emitido um mandado ou ordem de autorização para:

detenção ou de comparência, nos termos do artigo 58.º;


a) Proceder às investigações necessárias previstas no n.º 6 do artigo 18.º;

b) Um Estado que detenha o poder de jurisdição sobre um caso, pelo facto de o estar a
b) Recolher declarações ou o depoimento de uma testemunha ou completar a recolha e
investigar ou a julgar; ou por já o ter feito antes; ou
o exame das provas que tenha iniciado antes da impugnação; e

c) Um Estado cuja aceitação da competência do Tribunal seja exigida, de acordo com o


c) Impedir, em colaboração com os Estados interessados, a fuga de pessoas em relação
artigo 12.º
às quais já tenha solicitado um mandado de detenção, nos termos do artigo 58.º

3 - O procurador poderá solicitar ao Tribunal que se pronuncie sobre questões de


9 - A impugnação não afectará a validade de nenhum acto realizado pelo procurador
jurisdição ou admissibilidade. Nas acções relativas a jurisdição ou admissibilidade,
nem de nenhuma decisão ou mandado anteriormente emitido pelo Tribunal.
aqueles que tiverem denunciado um caso ao abrigo do artigo 13.º, bem como as
vítimas, poderão também apresentar as suas observações ao Tribunal. 10 - Se o Tribunal tiver declarado que um caso não é admissível, de acordo com o artigo
17.º, o procurador poderá pedir a revisão dessa decisão, após se ter certificado de que

19 20
surgiram novos factos que invalidam os motivos pelos quais o caso havia sido Artigo 21.º
considerado inadmissível nos termos do artigo 17.º
Direito aplicável
11 - Se o procurador, tendo em consideração as questões referidas no artigo 17.º,
1 - O Tribunal aplicará:
decidir transferir um inquérito, poderá pedir ao Estado em questão que o mantenha
informado do seguimento do processo. Esta informação deverá, se esse Estado o a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os elementos constitutivos do crime e o
solicitar, ser mantida confidencial. Se o procurador decidir, posteriormente, abrir um Regulamento Processual;
inquérito, comunicará a sua decisão ao Estado para o qual foi transferido o processo.
b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e os princípios e normas de direito
Artigo 20.º internacional aplicáveis, incluindo os princípios estabelecidos no direito internacional
dos conflitos armados;
Ne bis in idem

c) Na falta destes, os princípios gerais do direito que o Tribunal retire do direito interno
1 - Salvo disposição em contrário do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser
dos diferentes sistemas jurídicos existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno
julgada pelo Tribunal por actos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha
dos Estados que exerceriam normalmente a sua jurisdição relativamente ao crime,
condenado ou absolvido.
sempre que esses princípios não sejam incompatíveis com o presente Estatuto, com o
2 - Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime mencionado direito internacional nem com as normas e padrões internacionalmente reconhecidos.
no artigo 5.º, relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.
2 - O Tribunal poderá aplicar princípios e normas de direito tal como já tenham sido por
3 - O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por outro si interpretados em decisões anteriores.
tribunal por actos também punidos pelos artigos 6.º, 7.º ou 8.º, a menos que o processo
3 - A aplicação e interpretação do direito, nos termos do presente artigo, deverá ser
nesse outro tribunal:
compatível com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos, sem
a) Tenha tido por objectivo subtrair o arguido à sua responsabilidade criminal por discriminação alguma baseada em motivos tais como o sexo, tal como definido no n.º 3
crimes da competência do Tribunal; ou do artigo 7.º, a idade, a raça, a cor, a religião ou o credo, a opinião política ou outra, a
origem nacional, étnica ou social, a situação económica, o nascimento ou outra
b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade
condição.
com as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou
tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível
com a intenção de submeter a pessoa à acção da justiça.

21 22
CAPÍTULO III Artigo 25.º

Princípios gerais de direito penal Responsabilidade criminal individual

Artigo 22.º 1 - De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as
pessoas singulares.
Nullum crimen sine lege
2 - Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado
1 - Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, nos termos do
individualmente responsável e poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto.
presente Estatuto, a menos que a sua conduta constitua, no momento em que tiver
lugar, um crime da competência do Tribunal. 3 - Nos termos do presente Estatuto, será considerado criminalmente responsável e
poderá ser punido pela prática de um crime da competência do Tribunal quem:
2 - A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o
recurso à analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa a) Cometer esse crime individualmente ou em conjunto ou por intermédio de outrem,
objecto de inquérito, acusada ou condenada. quer essa pessoa seja ou não criminalmente responsável;

3 - O disposto no presente artigo em nada afectará a tipificação de uma conduta como b) Ordenar, provocar ou instigar à prática desse crime, sob forma consumada ou sob a
crime nos termos do direito internacional, independentemente do presente Estatuto. forma de tentativa;

Artigo 23.º c) Com o propósito de facilitar a prática desse crime, for cúmplice ou encobridor, ou
colaborar de algum modo na prática ou na tentativa de prática do crime,
Nulla poena sine lege
nomeadamente pelo fornecimento dos meios para a sua prática;

Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida em conformidade com
d) Contribuir de alguma outra forma para a prática ou tentativa de prática do crime por
as disposições do presente Estatuto.
um grupo de pessoas que tenha um objectivo comum. Esta contribuição deverá ser

Artigo 24.º intencional e ocorrer:

Não retroactividade ratione personae i) Com o propósito de levar a cabo a actividade ou o objectivo criminal do grupo, quando
um ou outro impliquem a prática de um crime da competência do Tribunal; ou
1 - Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de acordo com o
presente Estatuto, por uma conduta anterior à entrada em vigor do presente Estatuto. ii) Com o conhecimento de que o grupo tem a intenção de cometer o crime;

2 - Se o direito aplicável a um caso for modificado antes de proferida sentença definitiva, e) No caso de crime de genocídio, incitar, directa e publicamente, à sua prática;

aplicar-se-á o direito mais favorável à pessoa objecto de inquérito, acusada ou


f) Tentar cometer o crime mediante actos que contribuam substancialmente para a sua
condenada.
execução, ainda que não se venha a consumar devido a circunstâncias alheias à sua
vontade. Porém, quem desistir da prática do crime, ou impedir de outra forma que este

23 24
se consuma, não poderá ser punido em conformidade com o presente Estatuto pela cometidos por forças sob o seu comando e controlo efectivos ou sob a sua autoridade e
tentativa, se renunciar total e voluntariamente ao propósito delituoso. controlo efectivos, conforme o caso, pelo facto de não exercer um controlo apropriado
sobre essas forças, quando:
4 - O disposto no presente Estatuto sobre a responsabilidade criminal das pessoas
singulares em nada afectará a responsabilidade do Estado, de acordo com o direito i) Esse chefe militar ou essa pessoa tinha conhecimento ou, em virtude das
internacional. circunstâncias do momento, deveria ter tido conhecimento de que essas forças estavam
a cometer ou preparavam-se para cometer esses crimes; e
Artigo 26.º
ii) Esse chefe militar ou essa pessoa não tenha adoptado todas as medidas necessárias
Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 anos
e adequadas ao seu alcance para prevenir ou reprimir a sua prática ou para levar o

O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime, assunto ao conhecimento das autoridades competentes, para efeitos de inquérito e

não tenham ainda completado 18 anos de idade. procedimento criminal;

Artigo 27.º b) Nas relações entre superiores hierárquicos e subordinados, não referidos na alínea
a), o superior hierárquico será criminalmente responsável pelos crimes da competência
Irrelevância da qualidade oficial do Tribunal que tiverem sido cometidos por subordinados sob à sua autoridade e
controlo efectivos, pelo facto de não ter exercido um controlo apropriado sobre esses
1 - O presente Estatuto será aplicável de forma igual a todas as pessoas, sem distinção
subordinados, quando:
alguma baseada na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de
Estado ou de Governo, de membro de Governo ou do Parlamento, de representante i) O superior hierárquico teve conhecimento ou não teve em consideração a informação
eleito ou de funcionário público em caso algum eximirá a pessoa em causa de que indicava claramente que os subordinados estavam a cometer ou se preparavam
responsabilidade criminal, nos termos do presente Estatuto, nem constituirá de per si para cometer esses crimes;
motivo de redução da pena.
ii) Esses crimes estavam relacionados com actividades sob a sua responsabilidade e
2 - As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade controlo efectivos; e
oficial de uma pessoa, nos termos do direito interno ou do direito internacional, não
deverão obstar a que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa. iii) O superior hierárquico não adoptou todas as medidas necessárias e adequadas ao
seu alcance para prevenir ou reprimir a sua prática ou para levar o assunto ao
Artigo 28.º conhecimento das autoridades competentes, para efeitos de inquérito e procedimento
criminal.
Responsabilidade dos chefes militares e outros superiores hierárquicos

Artigo 29.º
Para além de outras fontes de responsabilidade criminal previstas no presente Estatuto,
por crimes da competência do Tribunal: Imprescritibilidade

a) O chefe militar, ou a pessoa que actue efectivamente como chefe militar, será Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem.
criminalmente responsável por crimes da competência do Tribunal que tenham sido

25 26
Artigo 30.º c) Agir em defesa própria ou de terceiro com razoabilidade ou, em caso de crimes de
guerra, em defesa de um bem que seja essencial para a sua sobrevivência ou de
Elementos psicológicos
terceiro ou de um bem que seja essencial à realização de uma missão militar, contra o

1 - Salvo disposição em contrário, nenhuma pessoa poderá ser criminalmente uso iminente e ilegal da força, de forma proporcional ao grau de perigo para si, para

responsável e punida por um crime da competência do Tribunal, a menos que actue terceiro ou para os bens protegidos. O facto de participar numa força que realize uma

com vontade de o cometer e conhecimento dos seus elementos materiais. operação de defesa não será causa bastante de exclusão de responsabilidade criminal,
nos termos desta alínea;
2 - Para os efeitos do presente artigo, entende-se que actua intencionalmente quem:
d) Tiver incorrido numa conduta que, presumivelmente, constitui crime da competência
a) Relativamente a uma conduta, se se propuser adoptá-la; do Tribunal, em consequência de coacção decorrente de uma ameaça iminente de
morte ou ofensas corporais graves para si ou para outrem, e em que se veja compelida
b) Relativamente a um efeito do crime, se se propuser causá-lo ou estiver ciente de que
a actuar de forma necessária e razoável para evitar essa ameaça, desde que não tenha a
ele terá lugar numa ordem normal dos acontecimentos.
intenção de causar um dano maior que aquele que se propunha evitar. Essa ameaça
3 - Nos termos do presente artigo, entende-se por «conhecimento» a consciência de que tanto poderá:
existe uma circunstância ou de que um efeito irá ter lugar numa ordem normal dos
i) Ter sido feita por outras pessoas; ou
acontecimentos. As expressões «ter conhecimento» e «com conhecimento» deverão ser
entendidas em conformidade. ii) Ser constituída por outras circunstâncias alheias à sua vontade.

Artigo 31.º 2 - O Tribunal determinará se os fundamentos de exclusão da responsabilidade criminal


previstos no presente Estatuto serão aplicáveis no caso em apreço.
Causas de exclusão da responsabilidade criminal

3 - No julgamento, o Tribunal poderá ter em consideração outros fundamentos de


1 - Sem prejuízo de outros fundamentos para a exclusão de responsabilidade criminal
exclusão da responsabilidade criminal distintos dos referidos no n.º 1, sempre que esses
previstos no presente Estatuto, não será considerada criminalmente responsável a
fundamentos resultem do direito aplicável em conformidade com o artigo 21.º O
pessoa que, no momento da prática de determinada conduta:
processo de exame de um fundamento de exclusão deste tipo será definido no
a) Sofrer de enfermidade ou deficiência mental que a prive da capacidade para avaliar a Regulamento Processual.
ilicitude ou a natureza da sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta a
Artigo 32.º
fim de não violar a lei;

Erro de facto ou erro de direito


b) Estiver em estado de intoxicação que a prive da capacidade para avaliar a ilicitude ou
a natureza da sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta a fim de não 1 - O erro de facto só excluirá a responsabilidade criminal se eliminar o dolo requerido
violar a lei, a menos que se tenha intoxicado voluntariamente em circunstâncias que lhe pelo crime.
permitiam ter conhecimento de que, em consequência da intoxicação, poderia incorrer
numa conduta tipificada como crime da competência do Tribunal, ou de que haveria o 2 - O erro de direito sobre se determinado tipo de conduta constitui crime da

risco de tal suceder; competência do Tribunal, não será considerado fundamento de exclusão de

27 28
responsabilidade criminal. No entanto, o erro de direito poderá ser considerado Artigo 35.º
fundamento de exclusão de responsabilidade criminal se eliminar o dolo requerido pelo
Exercício das funções de juiz
crime ou se decorrer do artigo 33.º do presente Estatuto.

1 - Os juízes serão eleitos membros do Tribunal para exercer funções em regime de


Artigo 33.º
exclusividade e deverão estar disponíveis para desempenhar o respectivo cargo desde o
Decisão hierárquica e disposições legais início do seu mandato.

1 - Quem tiver cometido um crime da competência do Tribunal, em cumprimento de 2 - Os juízes que comporão a Presidência desempenharão as suas funções em regime
uma decisão emanada de um governo ou de um superior hierárquico, quer seja militar de exclusividade desde a sua eleição.
ou civil, não será isento de responsabilidade criminal, a menos que:
3 - A Presidência poderá, em função do volume de trabalho do Tribunal, e após consulta
a) Estivesse obrigado por lei a obedecer a decisões emanadas do governo ou superior dos seus membros, decidir periodicamente em que medida é que será necessário que
hierárquico em questão; os restantes juízes desempenhem as suas funções em regime de exclusividade. Estas
decisões não prejudicarão o disposto no artigo 40.º
b) Não tivesse conhecimento de que a decisão era ilegal; e
4 - Os ajustes de ordem financeira relativos aos juízes que não tenham de exercer os
c) A decisão não fosse manifestamente ilegal.
respectivos cargos em regime de exclusividade serão adoptados em conformidade com

2 - Para os efeitos do presente artigo, qualquer decisão de cometer genocídio ou crimes o disposto no artigo 49.º

contra a humanidade será considerada como manifestamente ilegal.


Artigo 36.º

CAPÍTULO IV
Qualificações, candidatura e eleição dos juízes

Composição e administração do Tribunal


1 - Sob reserva do disposto no n.º 2, o Tribunal será composto por 18 juízes.

Artigo 34.º
2 - a) A Presidência, agindo em nome do Tribunal, poderá propor o aumento do número

Órgãos do Tribunal de juízes referido no n.º 1 fundamentando as razões pelas quais considera necessária e
apropriada tal medida. O Secretário comunicará imediatamente a proposta a todos os
O Tribunal será composto pelos seguintes órgãos: Estados Partes.

a) A Presidência; b) A proposta será seguidamente apreciada em sessão da Assembleia dos Estados


Partes convocada nos termos do artigo 112.º e deverá ser considerada adoptada se for
b) Uma secção de recursos, uma secção de julgamento em 1.ª instância e uma secção de
aprovada na sessão por maioria de dois terços dos membros da Assembleia dos
instrução;
Estados Partes; a proposta entrará em vigor na data fixada pela Assembleia dos Estados
c) O Gabinete do Procurador; Partes.
c):
d) A Secretaria.

29 30
i) Logo que seja aprovada a proposta de aumento do número de juízes, de acordo com As propostas de candidatura deverão ser acompanhadas de uma exposição detalhada
o disposto na alínea b), a eleição dos juízes adicionais terá lugar no período seguinte de comprovativa de que o candidato possui os requisitos enunciados no n.º 3.
sessões da Assembleia dos Estados Partes, nos termos dos n.os 3 a 8 do presente artigo
b) Qualquer Estado Parte poderá apresentar uma candidatura de uma pessoa que não
e do n.º 2 do artigo 37.º;
tenha necessariamente a sua nacionalidade, mas que seja nacional de um Estado Parte.
ii) Após a aprovação e a entrada em vigor de uma proposta de aumento do número de
juízes, de acordo com o disposto nas alíneas b) e c), subalínea i), a Presidência poderá, a c) A Assembleia dos Estados Partes poderá decidir constituir, se apropriado, uma
qualquer momento, se o volume de trabalho do Tribunal assim o justificar, propor que o comissão consultiva para o exame das candidaturas. Neste caso, a Assembleia dos
número de juízes seja reduzido, mas nunca para um número inferior ao fixado no n.º 1. Estados Partes determinará a composição e o mandato da comissão.
A proposta será apreciada de acordo com o procedimento definido nas alíneas a) e b). A 5 - Para efeitos da eleição, serão estabelecidas duas listas de candidatos:
ser aprovada, o número de juízes será progressivamente reduzido, à medida que
expirem os mandatos e até que se alcance o número previsto. A lista A, com os nomes dos candidatos que reúnam os requisitos enunciados na alínea
b), subalínea i), do n.º 3; e
3 - a) Os juízes serão eleitos de entre pessoas de elevada idoneidade moral,
imparcialidade e integridade, que reúnam os requisitos para o exercício das mais altas A lista B, com os nomes dos candidatos que reúnam os requisitos enunciados na alínea

funções judiciais nos seus respectivos países. b, subalínea ii), do n.º 3.

b) Os candidatos a juízes deverão possuir: O candidato que reúna os requisitos constantes de ambas as listas poderá escolher em
qual delas deseja figurar. Na primeira eleição de membros do Tribunal, pelo menos
i) Reconhecida competência em direito penal e direito processual penal e a necessária nove juízes serão eleitos de entre os candidatos da lista A e pelo menos cinco de entre
experiência em processos penais na qualidade de juiz, procurador, advogado ou outra os candidatos da lista B. As eleições subsequentes serão organizadas por forma a que
função semelhante; ou se mantenha no Tribunal uma proporção equivalente de juízes de ambas as listas.

ii) Reconhecida competência em matérias relevantes de direito internacional, tais como 6 - a) Os juízes serão eleitos por escrutínio secreto, em sessão da Assembleia dos
o direito internacional humanitário e os direitos humanos, assim como vasta Estados Partes convocada para esse efeito, nos termos do artigo 112.º Sob reserva do
experiência em profissões jurídicas com relevância para a função judicial do Tribunal. disposto no n.º 7, serão eleitos os 18 candidatos que obtenham o maior número de
votos e uma maioria de dois terços dos Estados Partes presentes e votantes.
c) Os candidatos a juízes deverão possuir um excelente conhecimento e serem fluentes
b) No caso em que da primeira votação não resulte eleito um número suficiente de
em, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.
juízes, proceder-se-á a nova votação, de acordo com os procedimentos estabelecidos na
4 - a) Qualquer Estado Parte no presente Estatuto poderá propor candidatos às eleições alínea a), até provimento dos lugares restantes.
para juiz do Tribunal mediante:
7 - O Tribunal não poderá ter mais de um juiz nacional do mesmo Estado. Para este
i) O procedimento previsto para propor candidatos aos mais altos cargos judiciais do efeito, a pessoa que for considerada nacional de mais de um Estado será considerada
país; ou nacional do Estado onde exerce habitualmente os seus direitos civis e políticos.

ii) O procedimento previsto no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça para propor 8 - a) Na selecção dos juízes, os Estados Partes ponderarão sobre a necessidade de
candidatos a esse Tribunal. assegurar que a composição do Tribunal inclua:

31 32
i) A representação dos principais sistemas jurídicos do mundo; Artigo 38.º

ii) Uma representação geográfica equitativa; e A Presidência

iii) Uma representação equitativa de juízes do sexo feminino e do sexo masculino. 1 - O presidente, o 1.º vice-presidente e o 2.º vice-presidente serão eleitos por maioria
absoluta dos juízes. Cada um desempenhará o respectivo cargo por um período de três
b) Os Estados Partes terão igualmente em consideração a necessidade de assegurar a
anos ou até ao termo do seu mandato como juiz, conforme o que expirar em primeiro
presença de juízes especializados em determinadas matérias, incluindo, entre outras, a
lugar. Poderão ser reeleitos uma única vez.
violência contra mulheres ou crianças.
2 - O 1.º vice-presidente substituirá o presidente em caso de impossibilidade ou recusa
9 - a) Salvo o disposto na alínea b), os juízes serão eleitos por um mandato de nove anos
deste. O 2.º vice-presidente substituirá o presidente em caso de impedimento ou recusa
e não poderão ser reeleitos, salvo o disposto na alínea c) e no n.º 2 do artigo 37.º
deste ou do 1.º vice-presidente.

b) Na primeira eleição, um terço dos juízes eleitos será seleccionado por sorteio para
3 - O presidente, o 1.º vice-presidente e o 2.º vice-presidente constituirão a Presidência,
exercer um mandato de três anos; outro terço será seleccionado, também por sorteio,
que ficará encarregue:
para exercer um mandato de seis anos; e os restantes exercerão um mandato de nove
anos. a) Da adequada administração do Tribunal, com excepção do Gabinete do Procurador; e

c) Um juiz seleccionado para exercer um mandato de três anos, em conformidade com a b) Das restantes funções que lhe forem conferidas de acordo com o presente Estatuto.
alínea b), poderá ser reeleito para um mandato completo.
4 - Embora eximindo-se da sua responsabilidade nos termos do n.º 3, alínea a), a
10 - Não obstante o disposto no n.º 9, um juiz afecto a um tribunal de julgamento em 1.ª Presidência actuará em coordenação com o Gabinete do Procurador e deverá obter a
instância ou de recurso, em conformidade com o artigo 39.º, permanecerá em funções aprovação deste em todos os assuntos de interesse comum.
até à conclusão do julgamento ou do recurso dos casos que tiver a seu cargo.
Artigo 39.º
Artigo 37.º
Juízos
Vagas
1 - Após a eleição dos juízes e logo que possível, o Tribunal deverá organizar-se nas
1 - Caso ocorra uma vaga, realizar-se-á uma eleição para o seu provimento, de acordo secções referidas no artigo 34.º, alínea b). A secção de recursos será composta pelo
com o artigo 36.º presidente e quatro juízes, a secção de julgamento em 1.ª instância por, pelo menos,
seis juízes e a secção de instrução por, pelo menos, seis juízes. Os juízes serão adstritos
2 - O juiz eleito para prover uma vaga concluirá o mandato do seu antecessor e, se esse
aos juízos de acordo com a natureza das funções que corresponderem a cada um e com
período for igual ou inferior a três anos, poderá ser reeleito para um mandato
as respectivas qualificações e experiência, por forma que cada juízo disponha de um
completo, nos termos do artigo 36.º
conjunto adequado de especialistas em direito penal e processual penal e em direito
internacional. A secção de julgamento em 1.ª instância e a secção de instrução serão
predominantemente compostas por juízes com experiência em processo penal.

33 34
2 - a) As funções judiciais do Tribunal serão desempenhadas em cada secção pelos 2 - Os juízes não desenvolverão qualquer actividade que possa ser incompatível com o
juízos. exercício das suas funções judiciais ou prejudicar a confiança na sua independência.

b): 3 - Os juízes que devam desempenhar os seus cargos em regime de exclusividade na


sede do Tribunal não poderão ter qualquer outra ocupação de índole profissional.
i) O juízo de recursos será composto por todos os juízes da secção de recursos;
4 - As questões relativas à aplicação dos n.os 2 e 3 serão decididas por maioria absoluta
ii) As funções do juízo de julgamento em 1.ª instância serão desempenhadas por três
dos juízes. Nenhum juiz participará na decisão de uma questão que lhe diga respeito.
juízes da secção de julgamento em 1.ª instância;
Artigo 41.º
iii) As funções do juízo de instrução serão desempenhadas por três juízes da secção de
instrução ou por um só juiz da referida secção, em conformidade com o presente Escusa e recusa de juízes
Estatuto e com o Regulamento Processual.
1 - A Presidência pode, a pedido de um juiz, escusá-lo do exercício de alguma das
c) Nada no presente número obstará a que se constituam simultaneamente mais de um funções que lhe confere o presente Estatuto, em conformidade com o Regulamento
juízo de julgamento em 1.ª instância ou juízo de instrução, sempre que a gestão Processual.
eficiente do trabalho do Tribunal assim o exigir.
2 - a) Nenhum juiz pode participar num caso em que, por qualquer motivo, seja posta
3 - a) Os juízes adstritos às secções de julgamento em 1.ª instância e de instrução em dúvida a sua imparcialidade. Será recusado, em conformidade com o disposto neste
desempenharão o cargo nessas secções por um período de três anos ou, decorrido esse número, entre outras razões, se tiver intervindo anteriormente, a qualquer título, num
período, até à conclusão dos casos que lhes tenham sido cometidos pela respectiva caso submetido ao Tribunal ou num procedimento criminal conexo a nível nacional que
secção. envolva a pessoa objecto de inquérito ou procedimento criminal. Pode ser igualmente
recusado por qualquer outro dos motivos definidos no Regulamento Processual.
b) Os juízes adstritos à secção de recursos desempenharão o cargo nessa secção
durante todo o seu mandato. b) O Procurador ou a pessoa objecto de inquérito ou procedimento criminal poderá
solicitar a recusa de um juiz em virtude do disposto no presente número.
4 - Os juízes adstritos à secção de recursos desempenharão o cargo unicamente nessa
secção. Nada no presente artigo obstará a que sejam adstritos temporariamente juízes c) As questões relativas à recusa de juízes serão decididas por maioria absoluta dos
da secção de julgamento em 1.ª instância à secção de instrução, ou inversamente, se a juízes. O juiz cuja recusa for solicitada poderá pronunciar-se sobre a questão, mas não
Presidência entender que a gestão eficiente do trabalho do Tribunal assim o exige; poderá tomar parte na decisão.
porém, o juiz que tenha participado na fase instrutória não poderá, em caso algum,
Artigo 42.º
fazer parte do juízo de julgamento em 1.ª instância encarregue do caso.

O Gabinete do Procurador
Artigo 40.º

1 - O Gabinete do Procurador actua de forma independente, enquanto órgão autónomo


Independência dos juízes
do Tribunal. Compete-lhe recolher comunicações e qualquer outro tipo de informação,
1 - Os juízes são independentes no desempenho das suas funções. devidamente fundamentada, sobre crimes da competência do Tribunal, a fim de as

35 36
examinar e investigar e de exercer a acção penal junto do Tribunal. Os membros do Serão recusados, em conformidade com o disposto no presente número, entre outras
Gabinete do Procurador não solicitarão nem cumprirão ordens de fontes externas ao razões, se tiverem intervindo anteriormente, a qualquer título, num caso submetido ao
Tribunal. Tribunal ou num procedimento criminal conexo a nível nacional, que envolva a pessoa
objecto de inquérito ou procedimento criminal.
2 - O Gabinete do Procurador será presidido pelo procurador, que terá plena autoridade
para dirigir e administrar o Gabinete do Procurador, incluindo o pessoal, as instalações 8 - As questões relativas à recusa do procurador ou de um procurador-adjunto serão
e outros recursos. O procurador será coadjuvado por um ou mais procuradores- decididas pelo juízo de recursos:
adjuntos, que poderão desempenhar qualquer uma das funções que incumbam àquele,
a) A pessoa objecto de inquérito ou procedimento criminal poderá solicitar, a todo o
em conformidade com o disposto no presente Estatuto. O procurador e os
momento, a recusa do procurador ou de um procurador-adjunto, pelos motivos
procuradores-adjuntos terão nacionalidades diferentes e desempenharão o respectivo
previstos no presente artigo;
cargo em regime de exclusividade.

b) O procurador ou o procurador-adjunto, segundo o caso, poderão pronunciar-se


3 - O procurador e os procuradores-adjuntos deverão ter elevada idoneidade moral,
sobre a questão.
elevado nível de competência e vasta experiência prática em matéria de processo penal.
Deverão possuir um excelente conhecimento e serem fluentes em, pelo menos, uma 9 - O procurador nomeará assessores jurídicos especializados em determinadas áreas,
das línguas de trabalho do Tribunal. incluindo, entre outras, as da violência sexual ou violência por motivos relacionados
com a pertença a um determinado sexo e da violência contra as crianças.
4 - O procurador será eleito por escrutínio secreto e por maioria absoluta de votos dos
membros da Assembleia dos Estados Partes. Os procuradores-adjuntos serão eleitos da Artigo 43.º
mesma forma, de entre uma lista de candidatos apresentada pelo procurador. O
procurador proporá três candidatos para cada cargo de procurador-adjunto a prover. A A Secretaria

menos que, aquando da eleição, seja fixado um período mais curto, o procurador e os
1 - A Secretaria será responsável pelos aspectos não judiciais da administração e do
procuradores-adjuntos exercerão os respectivos cargos por um período de nove anos e
funcionamento do Tribunal, sem prejuízo das funções e atribuições do procurador
não poderão ser reeleitos.
definidas no artigo 42.º

5 - O procurador e os procuradores-adjuntos não deverão desenvolver qualquer 2 - A Secretaria será dirigida pelo secretário, principal responsável administrativo do
actividade que possa interferir com o exercício das suas funções ou afectar a confiança Tribunal. O secretário exercerá as suas funções na dependência do presidente do
na sua independência e não poderão desempenhar qualquer outra função de carácter Tribunal.
profissional.
3 - O secretário e o secretário-adjunto deverão ser pessoas de elevada idoneidade
6 - A Presidência poderá, a pedido do procurador ou de um procurador-adjunto, escusá- moral e possuir um elevado nível de competência e um excelente conhecimento e
lo de intervir num determinado caso. domínio de, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.

7 - O procurador e os procuradores-adjuntos não poderão participar em qualquer


processo em que, por qualquer motivo, a sua imparcialidade possa ser posta em causa.

37 38
4 - Os juízes elegerão o secretário em escrutínio secreto, por maioria absoluta, tendo em qualquer um dos órgãos do Tribunal. O procurador poderá anuir a tal eventualidade em
consideração as recomendações da Assembleia dos Estados Partes. Se necessário, nome do Gabinete do Procurador. A utilização do pessoal disponibilizado a título
elegerão um secretário-adjunto, por recomendação do secretário e pela mesma forma. gratuito ficará sujeita às directivas estabelecidas pela Assembleia dos Estados Partes.
5 - O secretário será eleito por um período de cinco anos para exercer funções em
Artigo 45.º
regime de exclusividade e só poderá ser reeleito uma vez. O secretário-adjunto será
eleito por um período de cinco anos, ou por um período mais curto se assim o Compromisso solene
decidirem os juízes por deliberação tomada por maioria absoluta, e exercerá as suas
funções de acordo com as exigências de serviço. Antes de assumir as funções previstas no presente Estatuto, os juízes, o procurador, os
procuradores-adjuntos, o secretário e o secretário-adjunto declararão solenemente, em
6 - O secretário criará, no âmbito da Secretaria, uma Unidade de Apoio às Vítimas e sessão pública, que exercerão as suas funções imparcial e conscienciosamente.
Testemunhas. Esta Unidade, em conjunto com o Gabinete do Procurador, adoptará
medidas de protecção e dispositivos de segurança e prestará assessoria e outro tipo de Artigo 46.º
assistência às testemunhas e vítimas que compareçam perante o Tribunal e a outras
pessoas ameaçadas em virtude do testemunho prestado por aquelas. A Unidade Cessação de funções

incluirá pessoal especializado para atender as vítimas de traumas, nomeadamente os


1 - Um juiz, o procurador, um procurador-adjunto, o secretário ou o secretário-adjunto
relacionados com crimes de violência sexual.
cessará as respectivas funções, por decisão adoptada de acordo com o disposto no n.º

Artigo 44.º 2, nos casos em que:

O pessoal a) Se conclua que a pessoa em causa incorreu em falta grave ou incumprimento grave
das funções conferidas pelo presente Estatuto, de acordo com o previsto no
1 - O procurador e o secretário nomearão o pessoal qualificado necessário aos Regulamento Processual; ou
respectivos serviços, nomeadamente, no caso do procurador, o pessoal encarregue de
efectuar diligências no âmbito do inquérito. b) A pessoa em causa se encontra impossibilitada de desempenhar as funções definidas
no presente Estatuto.
2 - No tocante ao recrutamento de pessoal, o procurador e o secretário assegurarão os
mais altos padrões de eficiência, competência e integridade, tendo em consideração, 2 - A decisão relativa à cessação de funções de um juiz, do procurador ou de um

mutatis mutandis, os critérios estabelecidos no n.º 8 do artigo 36.º procurador-adjunto, de acordo com o n.º 1, será adoptada pela Assembleia dos Estados
Partes em escrutínio secreto:
3 - O secretário, com o acordo da Presidência e do procurador, proporá o estatuto do a) No caso de um juiz, por maioria de dois terços dos Estados Partes, com base em
pessoal, que fixará as condições de nomeação, remuneração e cessação de funções do recomendação adoptada por maioria de dois terços dos restantes juízes;
pessoal do Tribunal. O estatuto do pessoal será aprovado pela Assembleia dos Estados
Partes. b) No caso do procurador, por maioria absoluta dos Estados Partes;

4 - O Tribunal poderá, em circunstâncias excepcionais, recorrer aos serviços de pessoal


c) No caso de um procurador-adjunto, por maioria absoluta dos Estados Partes, com
colocado à sua disposição, a título gratuito, pelos Estados Partes, organizações
base na recomendação do procurador.
intergovernamentais e organizações não governamentais, com vista a colaborar com

39 40
3 - A decisão relativa à cessação de funções do secretário ou do secretário-adjunto será 4 - Os advogados, peritos, testemunhas e outras pessoas cuja presença seja requerida
adoptada por maioria absoluta de votos dos juízes. na sede do Tribunal beneficiarão do tratamento que se mostre necessário ao
funcionamento adequado deste, nos termos do acordo sobre os privilégios e
4 - Os juízes, o Procurador, os procuradores-adjuntos, o secretário ou o secretário-
imunidades do Tribunal.
adjunto, cuja conduta ou idoneidade para o exercício das funções inerentes ao cargo
em conformidade com o presente Estatuto tiver sido contestada ao abrigo do presente 5 - Os privilégios e imunidades poderão ser levantados:
artigo, terão plena possibilidade de apresentar e obter meios de prova e produzir
a) No caso de um juiz ou do procurador, por decisão adoptada por maioria absoluta dos
alegações de acordo com o Regulamento Processual; não poderão, no entanto,
juízes;
participar, de qualquer outra forma, na apreciação do caso.

b) No caso do secretário, pela Presidência;


Artigo 47.º

c) No caso dos procuradores-adjuntos e do pessoal do Gabinete do Procurador, pelo


Medidas disciplinares
procurador;
Os juízes, o procurador, os procuradores-adjuntos, o secretário ou o secretário-adjunto
d) No caso do secretário-adjunto e do pessoal da Secretaria, pelo secretário.
que tiverem cometido uma falta menos grave que a prevista no n.º 1 do artigo 46.º
incorrerão em responsabilidade disciplinar nos termos do Regulamento Processual. Artigo 49.º

Artigo 48.º Vencimentos, subsídios e despesas

Privilégios e imunidades Os juízes, o procurador, os procuradores-adjuntos, o secretário e o secretário-adjunto


auferirão os vencimentos e terão direito aos subsídios e ao reembolso de despesas que
1 - O Tribunal gozará, no território dos Estados Partes, dos privilégios e imunidades que
forem estabelecidos pela Assembleia dos Estados Partes. Estes vencimentos e subsídios
se mostrem necessários ao cumprimento das suas funções.
não serão reduzidos no decurso do mandato.
2 - Os juízes, o procurador, os procuradores-adjuntos e o secretário gozarão, no
exercício das suas funções ou em relação a estas, dos mesmos privilégios e imunidades Artigo 50.º
reconhecidos aos chefes das missões diplomáticas, continuando a usufruir de absoluta
Línguas oficiais e línguas de trabalho
imunidade judicial relativamente às suas declarações, orais ou escritas, e aos actos que
pratiquem no desempenho de funções oficiais após o termo do respectivo mandato. 1 - As línguas árabe, chinesa, espanhola, francesa, inglesa e russa serão as línguas
oficiais do Tribunal. As sentenças proferidas pelo Tribunal, bem como outras decisões
3 - O secretário-adjunto, o pessoal do Gabinete do Procurador e o pessoal da Secretaria
sobre questões fundamentais submetidas ao Tribunal, serão publicadas nas línguas
gozarão dos mesmos privilégios e imunidades e das facilidades necessárias ao
oficiais. A Presidência, de acordo com os critérios definidos no Regulamento Processual,
cumprimento das respectivas funções, nos termos do acordo sobre os privilégios e
determinará quais as decisões que poderão ser consideradas como decisões sobre
imunidades do Tribunal.
questões fundamentais, para os efeitos do presente número.

41 42
2 - As línguas francesa e inglesa serão as línguas de trabalho do Tribunal. O 5 - Em caso de conflito entre as disposições do Estatuto e as do Regulamento
Regulamento Processual definirá os casos em que outras línguas oficiais poderão ser Processual, o Estatuto prevalecerá.
usadas como línguas de trabalho.
Artigo 52.º
3 - A pedido de qualquer Parte ou qualquer Estado que tenha sido admitido a intervir
Regimento do Tribunal
num processo, o Tribunal autorizará o uso de uma língua que não seja a francesa ou a
inglesa, sempre que considere que tal autorização se justifica. 1 - De acordo com o presente Estatuto e com o Regulamento Processual, os juízes
aprovarão, por maioria absoluta, o Regimento necessário ao normal funcionamento do
Artigo 51.º
Tribunal.
Regulamento Processual
2 - O procurador e o secretário serão consultados sobre a elaboração do Regimento ou
1 - O Regulamento Processual entrará em vigor mediante a sua aprovação por uma sobre qualquer alteração que lhe seja introduzida.
maioria de dois terços dos votos dos membros da Assembleia dos Estados Partes.
3 - O Regimento do Tribunal e qualquer alteração posterior entrarão em vigor mediante
2 - Poderão propor alterações ao Regulamento Processual:
a sua aprovação, salvo decisão em contrário dos juízes. Imediatamente após a adopção,
a) Qualquer Estado Parte; serão circulados pelos Estados Partes para observações e continuarão em vigor se,
dentro de seis meses, não forem formuladas objecções pela maioria dos Estados Partes.
b) Os juízes, por maioria absoluta; ou
CAPÍTULO V
c) O procurador.
Inquérito e procedimento criminal
Estas alterações entrarão em vigor mediante a aprovação por uma maioria de dois
terços dos votos dos membros da Assembleia dos Estados Partes. Artigo 53.º

Abertura do inquérito
3 - Após a aprovação do Regulamento Processual, em casos urgentes em que a situação
concreta suscitada em Tribunal não se encontre prevista no Regulamento Processual, os 1 - O procurador, após examinar a informação de que dispõe, abrirá um inquérito, a
juízes poderão, por maioria de dois terços, estabelecer normas provisórias a serem menos que considere que, nos termos do presente Estatuto, não existe fundamento
aplicadas até que a Assembleia dos Estados Partes as aprove, altere ou rejeite na sessão razoável para proceder ao mesmo. Na sua decisão, o procurador terá em conta se:
ordinária ou extraordinária seguinte.
a) A informação de que dispõe constitui fundamento razoável para crer que foi, ou está

4 - O Regulamento processual e respectivas alterações, bem como quaisquer normas a ser, cometido um crime da competência do Tribunal;

provisórias, deverão estar em consonância com o presente Estatuto. As alterações ao


b) O caso é ou seria admissível nos termos do artigo 17.º; e
Regulamento Processual, assim como as normas provisórias aprovadas em
conformidade com o n.º 3, não serão aplicadas com carácter retroactivo em detrimento c) Tendo em consideração a gravidade do crime e os interesses das vítimas, não
de qualquer pessoa que seja objecto de inquérito ou de procedimento criminal, ou que existirão, contudo, razões substanciais para crer que o inquérito não serve os interesses
tenha sido condenada. da justiça.

43 44
Se decidir que não há motivo razoável para abrir um inquérito e se esta decisão se Artigo 54.º
basear unicamente no disposto na alínea c), o procurador informará o juízo de
Funções e poderes do procurador em matéria de inquérito
instrução.

1 - O procurador deverá:
2 - Se, concluído o inquérito, o procurador chegar à conclusão de que não há
fundamento suficiente para proceder criminalmente, na medida em que: a) A fim de estabelecer a verdade dos factos, alargar o inquérito a todos os factos e
provas pertinentes para a determinação da responsabilidade criminal, em
a) Não existam elementos suficientes, de facto ou de direito, para requerer a emissão
conformidade com o presente Estatuto e, para esse efeito, investigar, de igual modo, as
de um mandado de detenção ou notificação para comparência, de acordo com o artigo
circunstâncias que interessam quer à acusação, quer à defesa;
58.º;

b) Adoptar as medidas adequadas para assegurar a eficácia do inquérito e do


b) O caso seja inadmissível, de acordo com o artigo 17.º; ou
procedimento criminal relativamente aos crimes da jurisdição do Tribunal e, na sua
c) O procedimento não serviria o interesse da justiça, consideradas todas as actuação, o procurador terá em conta os interesses e a situação pessoal das vítimas e
circunstâncias, tais como a gravidade do crime, os interesses das vítimas e a idade ou o testemunhas, incluindo a idade, o sexo, tal como definido no n.º 3 do artigo 7.º, e o
estado de saúde do presumível autor e o grau de participação no alegado crime; estado de saúde; terá igualmente em conta a natureza do crime, em particular quando
envolva violência sexual, violência por motivos relacionados com a pertença a um
comunicará a sua decisão, devidamente fundamentada, ao juízo de instrução e ao
determinado sexo e violência contra as crianças; e
Estado que lhe submeteu o caso, de acordo com o artigo 14.º, ou ao Conselho de
Segurança, se se tratar de um caso previsto na alínea b) do artigo 13.º c) Respeitar plenamente os direitos conferidos às pessoas pelo presente Estatuto.

3 - a) A pedido do Estado que tiver submetido o caso, nos termos do artigo 14.º, ou do 2 - O procurador poderá realizar investigações no âmbito de um inquérito no território
Conselho de Segurança, nos termos da alínea b) do artigo 13.º, o juízo de instrução de um Estado:
poderá examinar a decisão do procurador de não proceder criminalmente em
a) De acordo com o disposto no capítulo IX; ou
conformidade com os n.os 1 ou 2 e solicitar-lhe que reconsidere essa decisão.

b) Mediante autorização do juízo de instrução, dada nos termos do n.º 3, alínea d), do
b) Além disso, o juízo de instrução poderá, oficiosamente, examinar a decisão do
artigo 57.º
procurador de não proceder criminalmente, se essa decisão se basear unicamente no
disposto no n.º 1, alínea c), ou no n.º 2, alínea c). Nesse caso, a decisão do procurador só 3 - O procurador poderá:
produzirá efeitos se confirmada pelo juízo de instrução.
a) Reunir e examinar provas;
4 - O procurador poderá, a todo o momento, reconsiderar a sua decisão de abrir um
inquérito ou proceder criminalmente, com base em novos factos ou novas informações. b) Convocar e interrogar pessoas objecto de inquérito e convocar e tomar o depoimento
de vítimas e testemunhas;

45 46
c) Procurar obter a cooperação de qualquer Estado ou organização intergovernamental 2 - Sempre que existam motivos para crer que uma pessoa cometeu um crime da
ou dispositivo intergovernamental, de acordo com a respectiva competência e ou competência do Tribunal e que deve ser interrogada pelo procurador ou pelas
mandato; autoridades nacionais, em virtude de um pedido feito em conformidade com o disposto
no capítulo IX, essa pessoa será informada, antes do interrogatório, de que goza ainda
d) Celebrar acordos ou convénios compatíveis com o presente Estatuto, que se mostrem
dos seguintes direitos:
necessários para facilitar a cooperação de um Estado, de uma organização
intergovernamental ou de uma pessoa; a) A ser informada, antes de ser interrogada, de que existem indícios de que cometeu
um crime da competência do Tribunal;
e) Concordar em não divulgar, em qualquer fase do processo, documentos ou
informação que tiver obtido, com a condição de preservar o seu carácter confidencial e b) A guardar silêncio, sem que tal seja tido em consideração para efeitos de
com o objectivo único de obter novas provas, a menos que quem tiver facilitado a determinação da sua culpa ou inocência;
informação consinta na sua divulgação; e
c) A ser assistida por um advogado da sua escolha ou, se não o tiver, a solicitar que lhe
f) Adoptar ou requerer que se adoptem as medidas necessárias para assegurar o seja designado um defensor oficioso, em todas as situações em que o interesse da
carácter confidencial da informação, a protecção de pessoas ou a preservação da prova. justiça assim o exija, e sem qualquer encargo se não possuir meios suficientes para lhe
pagar; e
Artigo 55.º
d) A ser interrogada na presença de advogado, a menos que tenha renunciado
Direitos das pessoas no decurso do inquérito
voluntariamente ao direito de ser assistida por um advogado.

1 - No decurso de um inquérito aberto nos termos do presente Estatuto:


Artigo 56.º

a) Nenhuma pessoa poderá ser obrigada a depor contra si própria ou a declarar-se


Intervenção do juízo de instrução em caso de oportunidade única de proceder a
culpada;
um inquérito

b) Nenhuma pessoa poderá ser submetida a qualquer forma de coacção, intimidação ou


1 - a) Sempre que considere que um inquérito oferece uma oportunidade única de
ameaça, tortura ou outras formas de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
recolher depoimentos ou declarações de uma testemunha ou de examinar, reunir ou
degradantes; e
verificar provas, o procurador comunicará esse facto ao juízo de instrução.

c) Qualquer pessoa que for interrogada numa língua que não compreenda ou não fale
b) Nesse caso, o juízo de instrução, a pedido do procurador, poderá adoptar as medidas
fluentemente será assistida, gratuitamente, por um intérprete competente e poderá
que entender necessárias para assegurar a eficácia e a integridade do processo e, em
dispor das traduções necessárias às exigências de equidade;
particular, para proteger os direitos de defesa.

d) Nenhuma pessoa poderá ser presa ou detida arbitrariamente, nem ser privada da
c) Salvo decisão em contrário do juízo de instrução, o procurador transmitirá a
sua liberdade, salvo pelos motivos previstos no presente Estatuto e em conformidade
informação relevante à pessoa que tenha sido detida, ou que tenha comparecido na
com os procedimentos nele estabelecidos.
sequência de notificação emitida no âmbito do inquérito a que se refere a alínea a), para
que possa ser ouvida sobre a matéria em causa.

47 48
2 - As medidas a que se faz referência na alínea b) do n.º 1 poderão consistir em: Artigo 57.º

a) Fazer recomendações ou proferir despachos sobre o procedimento a seguir; Funções e poderes do juízo de instrução

b) Ordenar que o processado seja reduzido a auto; 1 - Salvo disposição em contrário do presente Estatuto, o juízo de instrução exercerá as
suas funções em conformidade com o presente artigo.
c) Nomear um perito;
2 - a) Para os despachos do juízo de instrução proferidos ao abrigo dos artigos 15.º, 18.º,
d) Autorizar o advogado de defesa do detido, ou de quem tiver comparecido no Tribunal
19.º, 54.º, n.º 2, 61.º, n.º 7, e 72.º, deve concorrer a maioria de votos dos juízes que o
na sequência de notificação, a participar no processo ou, no caso dessa detenção ou
compõem.
comparência não se ter ainda verificado ou não tiver ainda sido designado advogado, a
nomear outro defensor que se encarregará dos interesses da defesa e os representará; b) Em todos os outros casos, um juiz do juízo de instrução agindo a título individual
poderá exercer as funções definidas no presente Estatuto, salvo disposição em
e) Encarregar um dos seus membros ou, se necessário, outro juiz disponível da secção
contrário prevista no Regulamento Processual ou decisão em contrário do juízo de
de instrução ou da secção de julgamento em 1.ª instância de formular recomendações
instrução tomada por maioria de votos.
ou proferir despachos sobre a recolha e a preservação de meios de prova e a inquirição
de pessoas; 3 - Independentemente das outras funções conferidas pelo presente Estatuto, o juízo de
instrução poderá:
f) Adoptar todas as medidas necessárias para reunir ou preservar meios de prova.
a) A pedido do procurador, proferir os despachos e emitir os mandados que se revelem
3 - a) Se o procurador não tiver solicitado as medidas previstas no presente artigo mas o
necessários para um inquérito;
juízo de instrução considerar que tais medidas são necessárias para preservar meios de
prova que lhe pareçam essenciais para a defesa no julgamento, o juízo consultará o b) A pedido de qualquer pessoa que tenha sido detida ou tenha comparecido na
procurador a fim de saber se existem motivos poderosos para este não requerer as sequência de notificação expedida nos termos do artigo 58.º, proferir despachos,
referidas medidas. Se, após consulta, o juízo concluir que a omissão de requerimento de incluindo medidas tais como as indicadas no artigo 56.º, ou procurar obter, nos termos
tais medidas é injustificada, poderá adoptar essas medidas oficiosamente. do disposto no capítulo IX, a cooperação necessária para auxiliar essa pessoa a preparar
a sua defesa;
b) O procurador poderá recorrer da decisão tomada pelo juízo de instrução
oficiosamente, nos termos do presente número. O recurso seguirá uma forma sumária. c) Sempre que necessário, assegurar a protecção e o respeito pela privacidade de
vítimas e testemunhas, a preservação da prova, a protecção de pessoas detidas ou que
4 - A admissibilidade dos meios de prova preservados ou recolhidos para efeitos do
tenham comparecido na sequência de notificação para comparência, assim como a
processo ou o respectivo registo, em conformidade com o presente artigo, reger-se-ão,
protecção de informação que afecte a segurança nacional;
em julgamento, pelo disposto no artigo 69.º, e terão o valor que lhes for atribuído pelo
juízo de julgamento em 1.ª instância. d) Autorizar o procurador a adoptar medidas específicas, no âmbito de um inquérito, no
território de um Estado Parte sem ter obtido a cooperação deste nos termos do
disposto no capítulo IX, caso o juízo de instrução determine que, tendo em
consideração, na medida do possível, a posição do referido Estado, este último não está

49 50
manifestamente em condições de satisfazer um pedido de cooperação face à b) A referência precisa do crime da competência do Tribunal que a pessoa tenha
incapacidade de todas as autoridades ou órgãos do seu sistema judiciário com presumivelmente cometido;
competência para dar seguimento a um pedido de cooperação formulado nos termos
c) Uma descrição sucinta dos factos que alegadamente constituem o crime;
do disposto no capítulo IX;

d) Um resumo das provas e de qualquer outra informação que constitua motivo


e) Quando tiver emitido um mandado de detenção ou uma notificação para
suficiente para crer que a pessoa cometeu o crime; e
comparência nos termos do artigo 58.º, e tendo em consideração o valor das provas e
os direitos das partes em questão, em conformidade com o disposto no presente e) Os motivos pelos quais o procurador considere necessário proceder à detenção
Estatuto e no Regulamento Processual, procurar obter a cooperação dos Estados, nos daquela pessoa.
termos do n.º 1, alínea k), do artigo 93.º, para a adopção de medidas cautelares que
visem a apreensão, em particular no interesse superior das vítimas. 3 - Do mandado de detenção deverão constar os seguintes elementos:

Artigo 58.º a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação;

Mandado de detenção e notificação para comparência do juízo de instrução b) A referência precisa do crime da competência do Tribunal que justifique o pedido de
detenção; e
1 - A todo o momento após a abertura do inquérito, o juízo de instrução poderá, a
pedido do procurador, emitir um mandado de detenção contra uma pessoa se, após c) Uma descrição sucinta dos factos que alegadamente constituem o crime.

examinar o pedido e as provas ou outras informações submetidas pelo procurador,


4 - O mandado de detenção manter-se-á válido até decisão em contrário do Tribunal.
considerar que:
5 - Com base no mandado de detenção, o Tribunal poderá solicitar a prisão preventiva
a) Existem motivos suficientes para crer que essa pessoa cometeu um crime da
ou a detenção e entrega da pessoa em conformidade com o disposto no capítulo IX do
competência do Tribunal; e
presente Estatuto.

b) A detenção dessa pessoa se mostra necessária para:


6 - O procurador poderá solicitar ao juízo de instrução que altere o mandado de

i) Garantir a sua comparência em tribunal; detenção no sentido de requalificar os crimes aí indicados ou de adicionar outros. O
juízo de instrução alterará o mandado de detenção se considerar que existem motivos
ii) Garantir que não obstruirá, nem porá em perigo, o inquérito ou a acção do Tribunal; suficientes para crer que a pessoa cometeu quer os crimes na forma que se indica
ou nessa requalificação, quer os novos crimes.

iii) Se for o caso, impedir que a pessoa continue a cometer esse crime ou um crime 7 - O procurador poderá solicitar ao juízo de instrução que, em vez de um mandado de
conexo que seja da competência do Tribunal e tenha a sua origem nas mesmas detenção, emita uma notificação para comparência. Se o juízo considerar que existem
circunstâncias. motivos suficientes para crer que a pessoa cometeu o crime que lhe é imputado e que
uma notificação para comparência será suficiente para garantir a sua presença efectiva
2 - Do requerimento do procurador deverão constar os seguintes elementos:
em tribunal, emitirá uma notificação para que a pessoa compareça, com ou sem a
a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação; imposição de medidas restritivas de liberdade (distintas da detenção) se previstas no

51 52
direito interno. Da notificação para comparência deverão constar os seguintes mandado de detenção foi regularmente emitido, nos termos das alíneas a) e b) do n.º 1
elementos: do artigo 58.º

a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação; 5 - O pedido de liberdade provisória será notificado ao juízo de instrução, o qual fará
recomendações à autoridade competente do Estado da detenção. Antes de tomar uma
b) A data de comparência;
decisão, a autoridade competente do Estado da detenção terá em conta essas

c) A referência precisa ao crime da competência do Tribunal que a pessoa alegadamente recomendações, incluindo as relativas a medidas adequadas a impedir a fuga da

tenha cometido; e pessoa.

d) Uma descrição sucinta dos factos que alegadamente constituem o crime. 6 - Se a liberdade provisória for concedida, o juízo de instrução poderá solicitar
informações periódicas sobre a situação de liberdade provisória.
Esta notificação será directamente feita à pessoa em causa.
7 - Uma vez que o Estado da detenção tenha ordenado a entrega, o detido será
Artigo 59.º colocado, o mais rapidamente possível, à disposição do Tribunal.

Procedimento de detenção no Estado da detenção Artigo 60.º

1 - O Estado Parte que receber um pedido de prisão preventiva ou de detenção e Início da fase instrutória
entrega, adoptará imediatamente as medidas necessárias para proceder à detenção,
em conformidade com o respectivo direito interno e com o disposto no capítulo IX. 1 - Logo que uma pessoa seja entregue ao Tribunal ou nele compareça voluntariamente
em cumprimento de uma notificação para comparência, o juízo de instrução deverá
2 - O detido será imediatamente levado à presença da autoridade judiciária competente assegurar-se de que essa pessoa foi informada dos crimes que lhe são imputados e dos
do Estado da detenção que determinará se, de acordo com a legislação desse Estado: direitos que o presente Estatuto lhe confere, incluindo o direito de solicitar autorização
para aguardar o julgamento em liberdade.
a) O mandado de detenção é aplicável à pessoa em causa;

2 - A pessoa objecto de um mandado de detenção poderá solicitar autorização para


b) A detenção foi executada de acordo com a lei;
aguardar julgamento em liberdade. Se o juízo de instrução considerar verificadas as
c) Os direitos do detido foram respeitados. condições enunciadas no n.º 1 do artigo 58.º, a detenção será mantida. Caso contrário, a
pessoa será posta em liberdade, com ou sem condições.
3 - O detido terá direito a solicitar à autoridade competente do Estado da detenção
autorização para aguardar a sua entrega em liberdade. 3 - O juízo de instrução reexaminará periodicamente a sua decisão quanto à liberdade
provisória ou à detenção, podendo fazê-lo a todo o momento, a pedido do procurador
4 - Ao decidir sobre o pedido, a autoridade competente do Estado da detenção
ou do interessado. Aquando da revisão, o juízo poderá modificar a sua decisão quanto à
determinará se, em face da gravidade dos crimes imputados, se verificam circunstâncias
detenção, à liberdade provisória ou às condições desta, se considerar que a alteração
urgentes e excepcionais que justifiquem a liberdade provisória e se existem as garantias
das circunstâncias o justifica.
necessárias para que o Estado de detenção possa cumprir a sua obrigação de entregar
a pessoa ao Tribunal. Essa autoridade não terá competência para examinar se o

53 54
4 - O juízo de instrução certificar-se-á de que a detenção não será prolongada por O juízo de instrução poderá proferir despacho sobre a divulgação de informação para
período não razoável devido a demora injustificada da parte do procurador. A produzir- efeitos da audiência.
se a referida demora, o Tribunal considerará a possibilidade de pôr o interessado em
4 - Antes da audiência, o procurador poderá reabrir o inquérito e alterar ou retirar parte
liberdade, com ou sem condições.
dos factos constantes da acusação. O arguido será notificado de qualquer alteração ou
5 - Se necessário, o juízo de instrução poderá emitir um mandado de detenção para retirada em tempo razoável, antes da realização da audiência. No caso de retirada de
garantir a comparência de uma pessoa que tenha sido posta em liberdade. parte dos factos constantes da acusação, o procurador informará o juízo de instrução
dos motivos da mesma.
Artigo 61.º
5 - Na audiência, o procurador produzirá provas satisfatórias dos factos constantes da
Apreciação da acusarão antes do julgamento
acusação, nos quais baseou a sua convicção de que o arguido cometeu o crime que lhe

1 - Salvo o disposto no n.º 2, e num prazo razoável após a entrega da pessoa ao Tribunal é imputado. O procurador poderá basear-se em provas documentais ou um resumo das

ou a sua comparência voluntária perante este, o juízo de instrução realizará uma provas, não sendo obrigado a chamar as testemunhas que irão depor no julgamento.

audiência para apreciar os factos constantes da acusação com base nos quais o
6 - Na audiência, o arguido poderá:
procurador pretende requerer o julgamento. A audiência terá lugar na presença do
procurador e do arguido, assim como do defensor deste. a) Contestar as acusações;

2 - O juízo de instrução, oficiosamente ou a pedido do procurador, poderá realizar a b) Impugnar as provas apresentadas pelo procurador; e
audiência na ausência do arguido, a fim de apreciar os factos constantes da acusação
c) Apresentar provas.
com base nos quais o procurador pretende requerer o julgamento, se o arguido:

7 - Com base nos factos apreciados durante a audiência, o juízo de instrução decidirá se
a) Tiver renunciado ao seu direito a estar presente; ou
existem provas suficientes de que o arguido cometeu os crimes que lhe são imputados.
b) Tiver fugido ou não for possível encontrá-lo, tendo sido tomadas todas as medidas De acordo com essa decisão, o juízo de instrução:
razoáveis para assegurar a sua comparência em Tribunal e para o informar dos factos
a) Declarará procedente a acusação na parte relativamente à qual considerou terem
constantes da acusação e da realização de uma audiência para apreciação dos mesmos.
sido reunidas provas suficientes e remeterá o arguido para o juízo de julgamento em 1.ª
Neste caso, o arguido será representado por um defensor, se o juízo de instrução instância, à fim de aí ser julgado pelos factos confirmados;
decidir que tal servirá os interesses da justiça.
b) Não declarará procedente a acusação na parte relativamente à qual considerou não
3 - Num prazo razoável antes da audiência, o arguido: terem sido reunidas provas suficientes;

a) Receberá uma cópia do documento especificando os factos constantes da acusação c) Adiará a audiência e solicitará ao procurador que considere a possibilidade de:
com base nos quais o procurador pretende requerer o julgamento; e
i) Apresentar novas provas ou efectuar novo inquérito relativamente a um determinado
b) Será informado das provas que o procurador se propõe apresentar em audiência. facto constante da acusação; ou

55 56
ii) Modificar parte da acusação, se as provas reunidas parecerem indicar que um crime CAPÍTULO VI
distinto, da competência do Tribunal, foi cometido.
O julgamento
8 - A declaração de não procedência relativamente a parte de uma acusação, proferida
Artigo 62.º
pelo juízo de instrução, não obstará a que o procurador solicite novamente a sua
apreciação, na condição de apresentar provas adicionais. Local do julgamento

9 - Tendo os factos constantes da acusação sido declarados procedentes, e antes do Salvo decisão em contrário, o julgamento terá lugar na sede do Tribunal.
início do julgamento, o procurador poderá, mediante autorização do juízo de instrução e
notificação prévia do arguido, alterar alguns factos constantes da acusação. Se o Artigo 63.º

procurador pretender acrescentar novos factos ou substitui-los por outros de natureza


Presença do arguido em julgamento
mais grave, deverá, nos termos do presente artigo, requerer uma audiência para a
respectiva apreciação. Após o início do julgamento, o procurador poderá retirar a 1 - O arguido terá de estar presente durante o julgamento.
acusação, com autorização do juízo de instrução.
2 - Se o arguido, presente em tribunal, perturbar persistentemente a audiência, o juízo
10 - Qualquer mandado emitido deixará de ser válido relativamente aos factos de julgamento em 1.ª instância poderá ordenar a sua remoção da sala e providenciar
constantes da acusação que tenham sido declarados não procedentes pelo juízo de para que acompanhe o processo e dê instruções ao seu defensor a partir do exterior da
instrução ou que tenham sido retirados pelo procurador. mesma, utilizando, se necessário, meios técnicos de comunicação. Estas medidas só
serão adoptadas em circunstâncias excepcionais e pelo período estritamente
11 - Tendo a acusação sido declarada procedente nos termos do presente artigo, a
necessário, após se terem esgotado outras possibilidades razoáveis.
Presidência designará um juízo de julgamento em 1.ª instância que, sob reserva do
disposto no n.º 9 do presente artigo e no n.º 4 do artigo 64.º, se encarregará da fase Artigo 64.º
seguinte do processo e poderá exercer as funções do juízo de instrução que se mostrem
Funções e poderes do juízo de julgamento em 1.ª instância
pertinentes e apropriadas nessa fase do processo.
1 - As funções e poderes do juízo de julgamento em 1.ª instância enunciadas no
presente artigo deverão ser exercidas em conformidade com o presente Estatuto e o
Regulamento Processual.

2 - O juízo de julgamento em 1.ª instância zelará para que o julgamento seja conduzido
de maneira equitativa e célere, com total respeito pelos direitos do arguido e tendo em
devida conta a protecção das vítimas e testemunhas.

3 - O juízo de julgamento em 1.ª instância a que seja submetido um caso nos termos do
presente Estatuto:

57 58
a) Consultará as partes e adoptará as medidas necessárias para que o processo se 7 - A audiência de julgamento será pública. No entanto, o juízo de julgamento em 1.ª
desenrole de maneira equitativa e célere; instância poderá decidir que determinadas diligências se efectuem à porta fechada, em
conformidade com os fins enunciados no artigo 68.º ou com vista a proteger informação
b) Determinará qual a língua, ou quais as línguas, a utilizar no julgamento; e
de carácter confidencial ou restrita que venha a ser apresentada como prova.

c) Sob reserva de qualquer outra disposição pertinente do presente Estatuto,


8 - a) No início da audiência de julgamento, o juízo de julgamento em 1.ª instância
providenciará pela revelação de quaisquer documentos ou de informação que não
ordenará a leitura ao arguido dos factos constantes da acusação previamente
tenha sido divulgada anteriormente, com suficiente antecedência relativamente ao
confirmados pelo juízo de instrução. O juízo de julgamento em 1.ª instância deverá
início do julgamento, a fim de permitir a sua preparação adequada para o julgamento.
certificar-se de que o arguido compreende a natureza dos factos que lhe são imputados

4 - O juízo de julgamento em 1.ª instância poderá, se se mostrar necessário para o seu e dar-lhe a oportunidade de os confessar, de acordo com o disposto no artigo 65.º, ou

funcionamento eficaz e imparcial, remeter questões preliminares ao juízo de instrução de se declarar inocente.

ou, se necessário, a um outro juiz disponível da secção de instrução.


b) Durante o julgamento, o juiz-presidente pode dar instruções sobre a condução da

5 - Mediante notificação às partes, o juízo de julgamento em 1.ª instância poderá, audiência, nomeadamente para assegurar que esta se desenrole de maneira equitativa

conforme se lhe afigure mais adequado, ordenar que as acusações contra mais de um e imparcial. Salvo qualquer orientação do juiz-presidente, as partes poderão apresentar

arguido sejam deduzidas conjunta ou separadamente. provas em conformidade com as disposições do presente Estatuto.

6 - No desempenho das suas funções, antes ou no decurso de um julgamento, o juízo de 9 - O juízo de julgamento em 1.ª instância poderá, oficiosamente ou a pedido de uma

julgamento em 1.ª instância poderá, se necessário: das partes, a saber:

a) Exercer qualquer uma das funções do juízo de instrução consignadas no n.º 11 do a) Decidir sobre a admissibilidade ou pertinência das provas; e

artigo 61.º;
b) Tomar todas as medidas necessárias para manter a ordem na audiência.

b) Ordenar a comparência e a audição de testemunhas e a apresentação de


10 - O juízo de julgamento em 1.ª instância providenciará para que o secretário proceda
documentos e outras provas, obtendo para tal, se necessário, o auxílio de outros
a um registo completo da audiência de julgamento onde sejam fielmente relatadas
Estados, conforme previsto no presente Estatuto;
todas as diligências efectuadas, registo que deverá manter e preservar.

c) Adoptar medidas para a protecção da informação confidencial;


Artigo 65.º

d) Ordenar a apresentação de provas adicionais às reunidas antes do julgamento ou às


Procedimento em caso de confissão
apresentadas no decurso do julgamento pelas partes;
1 - Se o arguido confessar nos termos do n.º 8, alínea a), do artigo 64.º, o juízo de
e) Adoptar medidas para a protecção do arguido, testemunhas e vítimas; e
julgamento em 1.ª instância apurará:

f) Decidir sobre qualquer outra questão pertinente.


a) Se o arguido compreende a natureza e as consequências da sua confissão;

59 60
b) Se essa confissão foi feita livremente, após devida consulta ao seu advogado de 5 - Quaisquer consultas entre o procurador e a defesa, no que diz respeito à alteração
defesa; e dos factos constantes da acusação, à confissão ou à pena a ser imposta não vincularão
o Tribunal.
c) Se a confissão é corroborada pelos factos que resultam:
Artigo 66.º
i) Da acusação deduzida pelo procurador e aceite pelo arguido;
Presunção de inocência
ii) De quaisquer meios de prova que confirmam os factos constantes da acusação
deduzida pelo procurador e aceite pelo arguido; e 1 - Toda a pessoa se presume inocente até prova da sua culpa perante o Tribunal, de
acordo com o direito aplicável.
iii) De quaisquer outros meios de prova, tais como depoimentos de testemunhas,
apresentados pelo procurador ou pelo arguido. 2 - Incumbe ao procurador o ónus da prova da culpa do arguido.

2 - Se o juízo de julgamento em 1.ª instância estimar que estão reunidas as condições 3 - Para proferir sentença condenatória, o Tribunal deve estar convencido de que o
referidas no n.º 1, considerará que a confissão, juntamente com quaisquer provas arguido é culpado, para além de qualquer dúvida razoável.
adicionais produzidas, constitui um reconhecimento de todos os elementos essenciais
Artigo 67.º
constitutivos do crime pelo qual o arguido se declarou culpado e poderá condená-lo por
esse crime. Direitos do arguido

3 - Se o juízo de julgamento em 1.ª instância estimar que não estão reunidas as 1 - Durante a apreciação de quaisquer factos constantes da acusação, o arguido tem
condições referidas no n.º 1, considerará a confissão como não tendo tido lugar e, nesse direito a ser ouvido em audiência pública, tendo em conta o disposto no presente
caso, ordenará que o julgamento prossiga de acordo com o procedimento comum Estatuto, a uma audiência conduzida de forma equitativa e imparcial e às seguintes
estipulado no presente Estatuto, podendo transmitir o processo a outro juízo de garantias mínimas, em situação de plena igualdade:
julgamento em 1.ª instância.
a) A ser informado, sem demora e de forma detalhada, numa língua que compreenda e
4 - Se o juízo de julgamento em 1.ª instância considerar necessária, no interesse da fale fluentemente, da natureza, motivo e conteúdo dos factos que lhe são imputados;
justiça, e em particular no interesse das vítimas, uma explanação mais detalhada dos
factos integrantes do caso, poderá: b) A dispor de tempo e de meios adequados para a preparação da sua defesa e a
comunicar livre e confidencialmente com um defensor da sua escolha;
a) Solicitar ao procurador que apresente provas adicionais, incluindo depoimentos de
testemunhas; ou c) A ser julgado sem atrasos indevidos;

b) Ordenar que o processo prossiga de acordo com o procedimento comum estipulado d) Salvo o disposto no n.º 2 do artigo 63.º, o arguido terá direito a estar presente na

no presente Estatuto, caso em que considerará a confissão como não tendo tido lugar e audiência de julgamento e a defender-se a si próprio ou a ser assistido por um defensor

poderá transmitir o processo a outro juízo de julgamento em 1.ª instância. da sua escolha; se não o tiver, a ser informado do direito de o tribunal lhe nomear um
defensor sempre que o interesse da justiça o exija, sendo tal assistência gratuita se o
arguido carecer de meios suficientes para remunerar o defensor assim nomeado;

61 62
e) A inquirir ou a fazer inquirir as testemunhas de acusação e a obter a comparência das com os direitos do arguido ou com a realização de um julgamento equitativo e
testemunhas de defesa e a inquirição destas nas mesmas condições que as imparcial.
testemunhas de acusação. O arguido terá também direito a apresentar defesa e a
2 - Enquanto excepção ao princípio do carácter público das audiências estabelecido no
oferecer qualquer outra prova admissível, de acordo com o presente Estatuto;
artigo 67.º, qualquer um dos juízos que compõem o Tribunal poderá, a fim de proteger
f) A ser assistido gratuitamente por um intérprete competente e a serem-lhe facultadas as vítimas e as testemunhas ou o arguido, decretar que um acto processual se realize,
as traduções necessárias que a equidade exija, se não compreender perfeitamente ou no todo ou em parte, à porta fechada ou permitir a produção de prova por meios
não falar a língua utilizada em qualquer acto processual ou documento produzido em electrónicos ou outros meios especiais. Estas medidas aplicar-se-ão, nomeadamente, no
tribunal; caso de uma vítima de violência sexual ou de um menor que seja vítima ou testemunha,
salvo decisão em contrário adoptada pelo Tribunal, ponderadas todas as circunstâncias,
g) A não ser obrigado a depor contra si próprio, nem a declarar-se culpado, e a guardar
particularmente a opinião da vítima ou da testemunha.
silêncio, sem que este seja tido em conta na determinação da sua culpa ou inocência;
3 - Se os interesses pessoais das vítimas forem afectados, o Tribunal permitir-lhes-á que
h) A prestar declarações não ajuramentadas, oralmente ou por escrito, em sua defesa; e
expressem as suas opiniões e preocupações em fase processual que entenda

i) A que lhe não seja imposta quer a inversão do ónus da prova, quer a impugnação. apropriada e por forma a não prejudicar os direitos do arguido nem a ser incompatível
com estes ou com a realização de um julgamento equitativo e imparcial. Os
2 - Para além de qualquer outra revelação de informação prevista no presente Estatuto, representantes legais das vítimas poderão apresentar as referidas opiniões e
o procurador comunicará à defesa, logo que possível, as provas que tenha em seu preocupações quando o Tribunal o considerar oportuno e em conformidade com o
poder ou sob o seu controlo e que, no seu entender, revelem ou tendam a revelar a Regulamento Processual.
inocência do arguido, ou a atenuar a sua culpa, ou que possam afectar a credibilidade
das provas da acusação. Em caso de dúvida relativamente à aplicação do presente 4 - A Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas poderá aconselhar o procurador e o

número, cabe ao Tribunal decidir. Tribunal relativamente a medidas adequadas de protecção, mecanismos de segurança,
assessoria e assistência a que se faz referência no n.º 6 do artigo 43.º
Artigo 68.º
5 - Quando a divulgação de provas ou de informação, de acordo com o presente
Protecção das vítimas e das testemunhas e sua participação no processo Estatuto, representar um grave perigo para a segurança de uma testemunha ou da sua
família, o procurador poderá, para efeitos de qualquer diligência anterior ao
1 - O Tribunal adoptará as medidas adequadas para garantir a segurança, o bem-estar
julgamento, não apresentar as referidas provas ou informação, mas antes um resumo
físico e psicológico, a dignidade e a vida privada das vítimas e testemunhas. Para tal, o
das mesmas. As medidas desta natureza deverão ser postas em prática de uma forma
Tribunal terá em conta todos os factores pertinentes, incluindo a idade, o sexo, tal como
que não seja prejudicial aos direitos do arguido ou incompatível com estes e com a
definido no n.º 3 do artigo 7.º, e o estado de saúde, assim como a natureza do crime, em
realização de um julgamento equitativo e imparcial.
particular, mas não apenas quando este envolva elementos de violência sexual, de
violência relacionada com a pertença a um determinado sexo ou de violência contra 6 - Qualquer Estado poderá solicitar que sejam tomadas as medidas necessárias para
crianças. O procurador adoptará estas medidas, nomeadamente durante o inquérito e o assegurar a protecção dos seus funcionários ou agentes, bem como a protecção de toda
procedimento criminal. Tais medidas não poderão prejudicar nem ser incompatíveis a informação de carácter confidencial ou restrito.

63 64
Artigo 69.º b) A sua admissão atente contra a integridade do processo ou resulte em grave prejuízo
deste.
Prova
8 - O Tribunal, ao decidir sobre a relevância ou admissibilidade das provas apresentadas
1 - Em conformidade com o Regulamento Processual e antes de depor, qualquer
por um Estado, não poderá pronunciar-se sobre a aplicação do direito interno desse
testemunha se comprometerá a fazer o seu depoimento com verdade.
Estado.

2 - A prova testemunhal deverá ser prestada pela própria pessoa no decurso do


Artigo 70.º
julgamento, salvo quando se apliquem as medidas estabelecidas no artigo 68.º ou no
Regulamento Processual. De igual modo, o Tribunal poderá permitir que uma Infracções contra a administração da justiça
testemunha preste declarações oralmente ou por meio de gravação em vídeo ou áudio,
1 - O Tribunal terá competência para conhecer das seguintes infracções contra a sua
ou que sejam apresentados documentos ou transcrições escritas, nos termos do
administração da justiça, quando cometidas intencionalmente:
presente Estatuto e de acordo com o Regulamento Processual. Estas medidas não
poderão prejudicar os direitos do arguido, nem ser incompatíveis com eles. a) Prestação de falso testemunho, quando há a obrigação de dizer a verdade, de acordo
com o n.º 1 do artigo 69.º;
3 - As partes poderão apresentar provas que interessem ao caso, nos termos do artigo
64.º O Tribunal será competente para solicitar oficiosamente a produção de todas as b) Apresentação de provas, tendo a parte conhecimento de que são falsas ou que foram
provas que entender necessárias para determinar a veracidade dos factos. falsificadas;

4 - O Tribunal poderá decidir sobre a relevância ou admissibilidade de qualquer prova, c) Suborno de uma testemunha, impedimento ou interferência na sua comparência ou
tendo em conta, entre outras coisas, o seu valor probatório e qualquer prejuízo que depoimento, represálias contra uma testemunha por esta ter prestado depoimento,
possa acarretar para a realização de um julgamento equitativo ou para a avaliação destruição ou alteração de provas ou interferência nas diligências de obtenção de
equitativa dos depoimentos de uma testemunha, em conformidade com o Regulamento prova;
Processual.
d) Entrave, intimidação ou corrupção de um funcionário do Tribunal, com a finalidade
5 - O Tribunal respeitará e atenderá aos privilégios de confidencialidade estabelecidos de o obrigar ou o induzir a não cumprir as suas funções ou a fazê-lo de maneira
no Regulamento Processual. indevida;

6 - O Tribunal não exigirá prova dos factos do domínio público, mas poderá fazê-los e) Represálias contra um funcionário do Tribunal, em virtude das funções que ele ou
constar dos autos. outro funcionário tenham desempenhado; e

7 - Não serão admissíveis as provas obtidas com violação do presente Estatuto ou das f) Solicitação ou aceitação de suborno na qualidade de funcionário do Tribunal, e em
normas de direitos humanos internacionalmente reconhecidas quando: relação com o desempenho das respectivas funções oficiais.

a) Essa violação suscite sérias dúvidas sobre a fiabilidade das provas; ou 2 - O Regulamento Processual estabelecerá os princípios e procedimentos que
regularão o exercício da competência do Tribunal relativamente às infracções a que se
faz referência no presente artigo. As condições de cooperação internacional com o

65 66
Tribunal, relativamente ao procedimento que adopte de acordo com o presente artigo, n.os 2 e 3 do artigo 56.º, do n.º 3 do artigo 61.º, do n.º 3 do artigo 64.º, do n.º 2 do artigo
reger-se-ão pelo direito interno do Estado requerido. 67.º, do n.º 6 do artigo 68.º, do n.º 6 do artigo 87.º e do artigo 93.º, assim como os que se
apresentem em qualquer outra fase do processo em que uma tal divulgação possa
3 - Em caso de decisão condenatória, o Tribunal poderá impor uma pena de prisão não
estar em causa.
superior a cinco anos, ou uma multa, de acordo com o Regulamento Processual, ou
ambas. 2 - O presente artigo aplicar-se-á igualmente aos casos em que uma pessoa, a quem
tenha sido solicitada a prestação de informação ou provas, se tenha recusado a
4 - a) Cada Estado Parte tornará extensivas as normas penais de direito interno que
apresentá-las ou tenha entregue a questão ao Estado, invocando que tal divulgação
punem as infracções contra a realização da justiça às infracções contra a administração
afectaria os interesses da segurança nacional do Estado, e o Estado em causa confirme
da justiça a que se faz referência no presente artigo, e que sejam cometidas no seu
que, no seu entender, essa divulgação afectaria os interesses da sua segurança
território ou por um dos seus nacionais;
nacional.

b) A pedido do Tribunal, qualquer Estado Parte submeterá, sempre que o entender


3 - Nada no presente artigo afectará os requisitos de confidencialidade a que se referem
necessário, o caso à apreciação das suas autoridades competentes para fins de
as alíneas e) e f) do n.º 3 do artigo 54.º, nem a aplicação do artigo 73.º
procedimento criminal. Essas autoridades conhecerão do caso com diligência e
accionarão os meios necessários para a sua eficaz condução. 4 - Se um Estado tiver conhecimento de que informações ou documentos do Estado
estão a ser, ou poderão vir a ser, divulgados em qualquer fase do processo, e considerar
Artigo 71.º
que essa divulgação afectaria os seus interesses de segurança nacional, tal Estado terá o

Sanções por desrespeito ao Tribunal direito de intervir com vista a ver resolvida esta questão em conformidade com o
presente artigo.
1 - Em caso de comportamento em desrespeito ao Tribunal, tal como perturbar a
audiência ou recusar-se deliberadamente a cumprir as suas instruções, o Tribunal 5 - O Estado que considere que a divulgação de determinada informação poderá afectar

poderá impor sanções administrativas que não impliquem privação de liberdade, como, os seus interesses de segurança nacional adoptará, em conjunto com o procurador, a

por exemplo, a expulsão temporária ou permanente da sala de audiências, a multa ou defesa, o juízo de instrução ou o juízo de julgamento em primeira instância, conforme o

outra medida similar prevista no Regulamento Processual. caso, todas as medidas razoavelmente possíveis para encontrar uma solução através da
concertação. Estas medidas poderão incluir:
2 - O processo de imposição das medidas a que se refere o número anterior reger-se-á
pelo Regulamento Processual. a) A alteração ou a clarificação dos motivos do pedido;

Artigo 72.º b) Uma decisão do Tribunal relativa à relevância das informações ou dos elementos de
prova solicitados, ou uma decisão sobre se as provas, ainda que relevantes, não
Protecção de informação relativa à segurança nacional poderiam ser ou ter sido obtidas junto de fonte distinta do Estado requerido;

1 - O presente artigo aplicar-se-á a todos os casos em que a divulgação de informação c) A obtenção da informação ou de provas de fonte distinta ou numa forma diferente;
ou de documentos de um Estado possa, no entender deste, afectar os interesses da sua ou
segurança nacional. Tais casos incluem os abrangidos pelas disposições constantes dos

67 68
d) Um acordo sobre as condições em que a assistência poderá ser prestada, incluindo, i) Ordenar a revelação; ou
entre outras, a disponibilização de resumos ou exposições, restrições à divulgação,
ii) Se não ordenar a revelação, inferir, no julgamento do arguido, quanto à existência ou
recurso ao procedimento à porta fechada ou à revelia de uma das parte, ou aplicação
inexistência de um facto, conforme se mostrar apropriado.
de outras medidas de protecção permitidas pelo Estatuto ou pelo Regulamento
Processual. Artigo 73.º

6 - Realizadas todas as diligências razoavelmente possíveis com vista a resolver a Informação ou documentos disponibilizados por terceiros
questão por meio de concertação, e se o Estado considerar não haver meios nem
condições para que as informações ou os documentos possam ser facultados ou Se um Estado Parte receber um pedido do Tribunal para que lhe forneça uma

revelados sem prejuízo dos seus interesses de segurança nacional, notificará o informação ou um documento que esteja sob sua custódia, posse ou controlo, e que lhe

procurador ou o Tribunal nesse sentido, indicando as razões precisas que tenha sido comunicado a título confidencial por um Estado, uma organização

fundamentaram a sua decisão, a menos que a descrição específica dessas razões intergovemamental ou uma organização internacional, tal Estado Parte deverá obter o

prejudique, necessariamente, os interesses de segurança nacional do Estado. consentimento do seu autor para a divulgação dessa informação ou documento. Se o
autor for um Estado Parte, este poderá consentir em divulgar a referida informação ou
7 - Posteriormente, se decidir que a prova é relevante e necessária para a determinação documento ou comprometer-se a resolver a questão com o Tribunal, salvaguardando-se
da culpa ou inocência do arguido, o Tribunal poderá adoptar as seguintes medidas: o disposto no artigo 72.º Se o autor não for um Estado Parte e não consentir em
divulgar a informação ou o documento, o Estado requerido comunicará ao Tribunal que
a) Quando a divulgação da informação ou do documento for solicitada no âmbito de um
não lhe será possível fornecer a informação ou o documento em causa, devido à
pedido de cooperação, nos termos da capítulo IX do presente Estatuto ou nas
obrigação previamente assumida com o respectivo autor de preservar o seu carácter
circunstâncias a que se refere o n.º 2 do presente artigo, e o Estado invocar o motivo de
confidencial.
recusa estatuído no n.º 4 do artigo 93.º:

Artigo 74.º
i) O Tribunal poderá, antes de chegar a qualquer uma das conclusões a que se refere a
subalínea ii) da alínea a) do n.º 7, solicitar consultas suplementares com o fim de ouvir o Requisitos para a decisão
Estado, incluindo, se for caso disso, a sua realização à porta fechada ou à revelia de uma
das partes; 1 - Todos os juízes do juízo de julgamento em 1.ª instância estarão presentes em cada
uma das fases do julgamento e nas deliberações. A Presidência poderá designar, caso a
ii) Se o Tribunal concluir que, ao invocar o motivo de recusa estatuído no n.º 4 do artigo caso, um ou vários juízes substitutos, em função das disponibilidades, para estarem
93.º, dadas as circunstâncias do caso, o Estado requerido não está a actuar de harmonia presentes em todas as fases do julgamento, bem como para substituírem qualquer
com as obrigações impostas pelo presente Estatuto, poderá remeter a questão nos membro do juízo de julgamento em 1.ª instância que se encontre impossibilitado de
termos do n.º 7 do artigo 87.º, especificando as razões da sua conclusão; e continuar a participar no julgamento.

iii) O Tribunal poderá tirar as conclusões que entender apropriadas, em razão das 2 - O juízo de julgamento em 1.ª instância fundamentará a sua decisão com base na
circunstâncias, ao julgar o arguido, quanto à existência ou inexistência de um facto; ou apreciação das provas e do processo no seu conjunto. A decisão não exorbitará dos
factos e circunstâncias descritos na acusação ou nas alterações que lhe tenham sido
b) Em todas as restantes circunstâncias:

69 70
feitas. O Tribunal fundamentará a sua decisão exclusivamente nas provas produzidas pelas vítimas, por outras pessoas interessadas ou por outros Estados interessados, bem
ou examinadas em audiência de julgamento. como as observações formuladas em nome dessas pessoas ou desses Estados.

3 - Os juízes procurarão tomar uma decisão por unanimidade e, não sendo possível, por 4 - Ao exercer os poderes conferidos pelo presente artigo, o Tribunal poderá, após a
maioria. condenação por crime que releve da sua competência, determinar se, para fins de
aplicação dos despachos que lavrar ao abrigo do presente artigo, será necessário tomar
4 - As deliberações do juízo de julgamento em 1.ª instância serão e permanecerão
quaisquer medidas em conformidade com o n.º 1 do artigo 93.º
secretas.
5 - Os Estados Partes observarão as decisões proferidas nos termos deste artigo como
5 - A decisão será proferida por escrito e conterá uma exposição completa e
se as disposições do artigo 109.º se aplicassem ao presente artigo.
fundamentada da apreciação das provas e as conclusões do juízo de julgamento em 1.ª
instância. Será proferida uma só decisão pelo juízo de julgamento em 1.ª instância. Se 6 - Nada no presente artigo será interpretado como prejudicando os direitos
não houver unanimidade, a decisão do juízo de julgamento em 1.ª instância conterá as reconhecidos às vítimas pelo direito interno ou internacional.
opiniões tanto da maioria como da minoria de juízes. A leitura da decisão ou de uma
Artigo 76.º
sua súmula far-se-á em audiência pública.

Aplicação da pena
Artigo 75.º

1 - Em caso de condenação, o juízo de julgamento em 1.ª instância determinará a pena a


Reparação em favor das vítimas
aplicar tendo em conta os elementos de prova e as exposições relevantes produzidos
1 - O Tribunal estabelecerá princípios aplicáveis às formas de reparação, tais como a no decurso do julgamento.
restituição, a indemnização ou a reabilitação, que hajam de ser atribuídas às vítimas ou
2 - Salvo nos casos em que seja aplicado o artigo 65.º e antes de concluído o julgamento,
aos titulares desse direito. Nesta base, o Tribunal poderá, oficiosarnente ou a
o juízo de julgamento em 1.ª instância poderá, oficiosamente, e deverá, a requerimento
requerimento, em circunstâncias excepcionais, determinar a extensão e o nível dos
do procurador ou do arguido, convocar uma audiência suplementar, a fim de conhecer
danos, da perda ou do prejuízo causados às vítimas ou aos titulares do direito à
de quaisquer novos elementos de prova ou exposições relevantes para a determinação
reparação, com a indicação dos princípios nos quais fundamentou a sua decisão.
da pena, de harmonia com o Regulamento Processual.
2 - O Tribunal poderá lavrar despacho contra a pessoa condenada, no qual determinará
3 - Sempre que o n.º 2 for aplicável, as pretensões previstas no artigo 75.º serão ouvidas
a reparação adequada a ser atribuída às vítimas ou aos titulares de tal direito. Esta
pelo juízo de julgamento em 1.ª instância no decorrer da audiência suplementar referida
reparação poderá, nomeadamente, assumir a forma de restituição, indemnização ou
no n.º 2 e, se necessário, no decorrer de qualquer nova audiência.
reabilitação.

4 - A sentença será proferida em audiência pública e, sempre que possível, na presença


Se for caso disso, o Tribunal poderá ordenar que a indemnização atribuída a título de
do arguido.
reparação seja paga por intermédio do Fundo previsto no artigo 79.º

3 - Antes de lavrar qualquer despacho ao abrigo do presente artigo, o Tribunal poderá


solicitar e tomar em consideração as pretensões formuladas pela pessoa condenada,

71 72
CAPÍTULO VII 3 - Se uma pessoa for condenada pela prática de vários crimes, o Tribunal aplicará
penas de prisão parcelares relativamente a cada um dos crimes e uma pena única, na
As penas
qual será especificada a duração total da pena de prisão. Esta duração não poderá ser

Artigo 77.º inferior à da pena parcelar mais elevada e não poderá ser superior a 30 anos de prisão
ou ir além da pena de prisão perpétua prevista no artigo 77.º, n.º 1, alínea b).
Penas aplicáveis
Artigo 79.º
1 - Sem prejuízo do disposto no artigo 110.º, o Tribunal pode impor à pessoa condenada
por um dos crimes previstos no artigo 5.º do presente Estatuto uma das seguintes Fundo a favor das vítimas

penas:
1 - Por decisão da Assembleia dos Estados Partes, será criado um fundo a favor das

a) Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30 vítimas de crimes da competência do Tribunal, bem como das respectivas famílias.

anos; ou 2 - O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas e quaisquer outros bens
declarados perdidos revertam para o fundo.
b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau da ilicitude do facto e as condições
pessoais do condenado o justificarem. 3 - O fundo será gerido de harmonia com os critérios a serem adoptados
pela Assembleia dos Estados Partes.
2 - Além da pena de prisão, o Tribunal poderá aplicar:

a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos no Regulamento Processual; Artigo 80.º

b) A perda de produtos, bens e haveres provenientes, directa ou indirectamente, do Não interferência no regime de aplicação de penas nacionais e nos direitos
crime, sem prejuízo dos direitos de terceiros que tenham agido de boa fé. internos

Artigo 78.º Nada no presente capítulo prejudicará a aplicação, pelos Estados, das penas previstas
nos respectivos direitos internos, ou a aplicação da legislação de Estados que não
Determinação da pena
preveja as penas referidas neste capítulo.
1 - Na determinação da pena, o Tribunal atenderá, de harmonia com o Regulamento
Processual, a factores tais como a gravidade do crime e as condições pessoais do
condenado.

2 - O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a aplicar, o período durante o qual
o arguido esteve sob detenção por ordem daquele. O Tribunal poderá ainda descontar
qualquer outro período de detenção que tenha sido cumprido em razão de uma
conduta constitutiva do crime.

73 74
CAPÍTULO VIII c) O mesmo procedimento será aplicado sempre que o Tribunal, ao conhecer de recurso
interposto unicamente da sentença condenatória, considerar haver fundamentos
Recurso e revisão
comprovativos de uma redução da pena nos termos da alínea a) do n.º 2.

Artigo 81.º
3 - a) Salvo decisão em contrário do juízo de julgamento em 1.ª instância, o condenado

Recurso da sentença condenatória ou absolutória ou da pena permanecerá sob prisão preventiva durante a tramitação do recurso.

1 - A sentença proferida nos termos do artigo 74.º é recorrível em conformidade com o b) Se o período de prisão preventiva ultrapassar a duração da pena decretada, o

disposto no Regulamento Processual, nos seguintes termos: condenado será posto em liberdade; todavia, se o procurador também interpuser
recurso, a libertação ficará sujeita às condições enunciadas na alínea c) infra.
a) O procurador poderá interpor recurso com base num dos seguintes fundamentos:
c) Em caso de absolvição, o arguido será imediatamente posto em liberdade, sem
i) Vício processual; prejuízo das seguintes condições:

ii) Erro de facto; ou i) Em circunstâncias excepcionais e tendo em conta, nomeadamente, o risco de fuga, a
gravidade da infracção e as probabilidades de o recurso ser julgado procedente, o juízo
iii) Erro de direito;
de julgamento em 1.ª instância poderá, a requerimento do procurador, ordenar que o
b) O condenado, ou o procurador no interesse daquele, poderá interpor recurso com arguido seja mantido em regime de prisão preventiva durante a tramitação do recurso;
base num dos seguintes fundamentos:
ii) A decisão proferida pelo juízo de julgamento em 1.ª instância nos termos da subalínea
i) Vício processual; i) será recorrível de harmonia com o Regulamento Processual.

ii) Erro de facto; 4 - Sem prejuízo do disposto nas alíneas a) e b) do n.º 3, a execução da sentença
condenatória ou da pena ficará suspensa pelo período fixado para a interposição do
iii) Erro de direito; ou
recurso, bem como durante a fase de tramitação do recurso.
iv) Qualquer outro motivo susceptível de afectar a equidade ou a regularidade do
Artigo 82.º
processo ou da sentença.
Recurso de outras decisões
2 - a) O procurador ou o condenado poderá, em conformidade com o Regulamento
Processual, interpor recurso da pena decretada invocando desproporção entre esta e o 1 - Em conformidade com o Regulamento Processual, qualquer uma das Partes poderá
crime. recorrer das seguintes decisões:

b) Se, ao conhecer de recurso interposto da pena decretada, o Tribunal considerar que a) Decisão sobre a competência ou sobre a admissibilidade do caso;
há fundamentos susceptíveis de justificar a anulação, no todo ou em parte, da sentença
b) Decisão que autorize ou recuse a libertação da pessoa objecto de inquérito ou de
condenatória, poderá convidar o procurador e o condenado a motivarem a sua posição
procedimento criminal;
nos termos das alíneas a) ou b) do n.º 1 do artigo 81.º, após o que poderá pronunciar-se
sobre a sentença condenatória nos termos do artigo 83.º

75 76
c) Decisão do juízo de instrução de agir por iniciativa própria, nos termos do n.º 3 do elementos de prova para decidir. Tendo o recurso da decisão ou da pena sido
artigo 56.º; interposto somente pelo condenado, ou pelo procurador no interesse daquele, não
poderão aquelas ser modificadas em prejuízo do condenado.
d) Decisão relativa a uma questão susceptível de afectar significativamente a tramitação
equitativa e célere do processo ou o resultado do julgamento, e cuja resolução imediata 3 - Se, ao conhecer do recurso de uma pena, o juízo de recursos considerar que a pena
pelo juízo de recursos poderia, no entender do juízo de instrução ou do juízo de é desproporcionada relativamente ao crime, poderá modificá-la nos termos do capítulo
julgamento em 1.ª instância, acelerar a marcha do processo. VII.

2 - Quer o Estado interessado quer o procurador poderão recorrer da decisão proferida 4 - O acórdão do juízo de recursos será tirado por maioria dos juízes e proferido em
pelo juízo de instrução, mediante autorização deste, nos termos do artigo 57.º, n.º 3, audiência pública. O acórdão será sempre fundamentado. Não havendo unanimidade,
alínea d). Este recurso seguirá uma forma sumária. deverá conter as opiniões da maioria e da minoria de juízes; contudo, qualquer juiz
poderá exprimir uma opinião separada ou discordante sobre uma questão de direito.
3 - O recurso só terá efeito suspensivo se o juízo de recursos assim o ordenar, mediante
requerimento, em conformidade com o Regulamento Processual. 5 - O juízo de recursos poderá emitir o seu acórdão na ausência da pessoa absolvida ou
condenada.
4 - O representante legal das vítimas, o condenado ou o proprietário de boa fé de bens
que hajam sido afectados por um despacho proferido ao abrigo do artigo 75.º poderá Artigo 84.º
recorrer de tal despacho, em conformidade com o Regulamento Processual.
Revisão da sentença condenatória ou da pena
Artigo 83.º
1 - O condenado ou, se este tiver falecido, o cônjuge sobrevivo, os filhos, os pais ou
Processo sujeito a recurso qualquer pessoa que, em vida do condenado, dele tenha recebido incumbência
expressa, por escrito, nesse sentido, ou o procurador no seu interesse, poderá
1 - Para os fins do disposto no artigo 81.º e no presente artigo, o juízo de recursos terá
submeter ao juízo de recursos um requerimento solicitando a revisão da sentença
todos os poderes conferidos ao juízo de julgamento em 1.ª instância.
condenatória ou da pena pelos seguintes motivos:

2 - Se o juízo de recursos concluir que o processo sujeito a recurso enferma de vícios


a) A descoberta de novos elementos de prova:
tais que afectem a regularidade da decisão ou da sentença, ou que a decisão ou a
sentença recorridas estão materialmente afectadas por erros de facto ou de direito, ou i) De que não dispunha aquando do julgamento, sem que essa circunstância pudesse
vício processual, ela poderá: ser imputada, no todo ou em parte, ao requerente; e

a) Anular ou modificar a decisão ou a pena; ou ii) De tal forma importantes que, se tivessem ficado provados no julgamento, teriam
provavelmente conduzido a um veredicto diferente;
b) Ordenar um novo julgamento perante um outro juízo de julgamento em 1.ª instância.
b) A descoberta de que elementos de prova, apreciados no julgamento e decisivos para
Para os fins mencionados, poderá o juízo de recursos reenviar uma questão de facto
a determinação da culpa, eram falsos ou tinham sido objecto de contrafacção ou
para o juízo de julgamento em 1.ª instância à qual foi submetida originariamente, a fim
falsificação;
de que esta decida a questão e lhe apresente um relatório, ou pedir, ela própria,

77 78
c) Um ou vários dos juízes que intervieram na sentença condenatória ou confirmaram a CAPÍTULO IX
acusação hajam praticado actos de conduta reprovável ou de incumprimento dos
Cooperação internacional e auxílio judiciário
respectivos deveres de tal forma graves que justifiquem a sua cessação de funções nos
termos do artigo 46.º Artigo 86.º

2 - O juízo de recursos rejeitará o pedido se o considerar manifestamente infundado. Obrigação geral de cooperar
Caso contrário, poderá o juízo, se julgar oportuno:
Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto,
a) Convocar de novo o juízo de julgamento em 1.ª instância que proferiu a sentença cooperar plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da
inicial; competência deste.

b) Constituir um novo juízo de julgamento em 1.ª instância; ou Artigo 87.º

c) Manter a sua competência para conhecer da causa; Pedidos de cooperação: disposições gerais

a fim de determinar se, após a audição das partes nos termos do Regulamento 1 - a) O Tribunal está habilitado a dirigir pedidos de cooperação aos Estados Partes.
Processual, haverá lugar à revisão da sentença. Estes pedidos serão transmitidos pela via diplomática ou por qualquer outra via
apropriada escolhida pelo Estado Parte no momento da ratificação, aceitação,
Artigo 85.º
aprovação ou adesão ao presente Estatuto.
Indemnização do detido ou condenado
Qualquer Estado Parte poderá alterar posteriormente a escolha feita nos termos do
1 - Quem tiver sido objecto de detenção ou prisão ilegais terá direito a reparação. Regulamento Processual.

2 - Sempre que uma decisão final seja posteriormente anulada em razão de factos b) Se for caso disso, e sem prejuízo do disposto na alínea a), os pedidos poderão ser
novos ou recentemente descobertos que apontem inequivocamente para um erro igualmente transmitidos pela Organização Internacional de Polícia Criminal (INTERPOL)
judiciário, a pessoa que tiver cumprido pena em resultado de tal sentença condenatória ou por qualquer organização regional competente.
será indemnizada, em conformidade com a lei, a menos que fique provado que a não
2 - Os pedidos de cooperação e os documentos comprovativos que os instruam serão
revelação, em tempo útil, do facto desconhecido lhe seja imputável, no todo ou em
redigidos na língua oficial do Estado requerido ou acompanhados de uma tradução
parte.
nessa língua, ou numa das línguas de trabalho do Tribunal ou acompanhados de uma
3 - Em circunstâncias excepcionais e em face de factos que conclusivamente tradução numa dessas línguas, de acordo com a escolha feita pelo Estado requerido no
demonstrem a existência de erro judiciário grave e manifesto, o Tribunal poderá, no uso momento da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao presente Estatuto.
do seu poder discricionário, atribuir uma indemnização, de acordo com os critérios
Qualquer alteração posterior será feita de harmonia com o Regulamento Processual.
enunciados no Regulamento Processual, à pessoa que, em virtude de sentença
absolutória ou de extinção da instância por tal motivo, haja sido posta em liberdade.

79 80
3 - O Estado requerido manterá a confidencialidade dos pedidos de cooperação e dos Artigo 88.º
documentos comprovativos que os instruam, salvo quando a sua revelação for
Procedimentos previstos no direito interno
necessária para a execução do pedido.

Os Estados Partes deverão assegurar-se de que o seu direito interno prevê


4 - Relativamente aos pedidos de auxílio formulados ao abrigo do presente capítulo, o
procedimentos que permitam responder a todas as formas de cooperação
Tribunal poderá, nomeadamente em matéria de protecção da informação, tomar as
especificadas neste capítulo.
medidas necessárias à garantia da segurança e do bem-estar físico ou psicológico das
vítimas, das potenciais testemunhas e dos seus familiares. O Tribunal poderá solicitar Artigo 89.º
que as informações fornecidas ao abrigo do presente capítulo sejam comunicadas e
tratadas por forma que a segurança e o bem-estar físico ou psicológico das vítimas, das Entrega de pessoas ao Tribunal

potenciais testemunhas e dos seus familiares sejam devidamente preservados.


1 - O Tribunal poderá dirigir um pedido de detenção e entrega de uma pessoa, instruído

5 - O Tribunal poderá convidar qualquer Estado que não seja Parte no presente Estatuto com os documentos comprovativos referidos no artigo 91.º, a qualquer Estado em cujo

a prestar auxílio ao abrigo do presente capítulo com base num convénio ad hoc, num território essa pessoa se possa encontrar, e solicitar a cooperação desse Estado na

acordo celebrado com esse Estado ou por qualquer outro modo apropriado. detenção e entrega da pessoa em causa. Os Estados Partes darão satisfação aos
pedidos de detenção e de entrega em conformidade com o presente capítulo e com os
Se, após a celebração de um convénio ad hoc ou de um acordo com o Tribunal, um procedimentos previstos nos respectivos direitos internos.
Estado que não seja Parte no presente Estatuto se recusar a cooperar nos termos de tal
convénio ou acordo, o Tribunal dará conhecimento desse facto à Assembleia dos 2 - Sempre que a pessoa cuja entrega é solicitada impugnar a sua entrega perante um

Estados Partes ou ao Conselho de Segurança, quando tiver sido este a submeter o facto tribunal nacional com base no princípio ne bis in idem previsto no artigo 20.º, o Estado

ao Tribunal. requerido consultará, de imediato, o Tribunal para determinar se houve uma decisão
relevante sobre a admissibilidade. Se o caso for considerado admissível, o Estado

6 - O Tribunal poderá solicitar informações ou documentos a qualquer organização requerido dará seguimento ao pedido. Se estiver pendente decisão sobre a

intergovernamental. Poderá igualmente requerer outras formas de cooperação e auxílio admissibilidade, o Estado requerido poderá diferir a execução do pedido até que o

a serem acordadas com tal organização e que estejam em conformidade com a sua Tribunal se pronuncie.

competência ou o seu mandato.


3 - a) Os Estados Partes autorizarão, de acordo com os procedimentos previstos na

7 - Se, contrariamente ao disposto no presente Estatuto, um Estado Parte recusar um respectiva legislação nacional, o trânsito, pelo seu território, de uma pessoa entregue ao

pedido de cooperação formulado pelo Tribunal, impedindo-o assim de exercer os seus Tribunal por um outro Estado, salvo quando o trânsito por esse Estado impedir ou

poderes e funções nos termos do presente Estatuto, o Tribunal poderá elaborar um retardar a entrega.

relatório e submeter a questão à Assembleia dos Estados Partes ou ao Conselho de


b) Um pedido de trânsito formulado pelo Tribunal será transmitido em conformidade
Segurança, quando tiver sido este a submeter o facto ao Tribunal.
com o artigo 87.º Do pedido de trânsito constarão:

i) A identificação da pessoa transportada;

81 82
ii) Um resumo dos factos e da respectiva qualificação jurídica; b) Se o Tribunal tiver tomado a decisão referida na alínea a) em conformidade com a
notificação feita pelo Estado requerido, em aplicação do n.º 1.
iii) O mandado de detenção e entrega.
3 - Se o Tribunal não tiver tomado uma decisão nos termos da alínea a) do n.º 2, o
c) A pessoa transportada será mantida sob custódia no decurso do trânsito.
Estado requerido poderá, se assim o entender, estando pendente a determinação do

d) Nenhuma autorização será necessária se a pessoa for transportada por via aérea e Tribunal nos termos da alínea b) do n.º 2, dar seguimento ao pedido de extradição

não esteja prevista qualquer aterragem no território do Estado de trânsito. formulado pelo Estado requerente sem, contudo, extraditar a pessoa até que o Tribunal
decida sobre a admissibilidade do caso. A decisão do Tribunal seguirá a forma sumária.
e) Se ocorrer uma aterragem imprevista no território do Estado de trânsito, poderá este
exigir ao Tribunal a apresentação de um pedido de trânsito nos termos previstos na 4 - Se o Estado requerente não for Parte no presente Estatuto, o Estado requerido,

alínea b). O Estado de trânsito manterá a pessoa sob detenção até à recepção do pedido desde que não esteja obrigado por uma norma internacional a extraditar o interessado

de trânsito e à efectivação do trânsito. Todavia, a detenção ao abrigo da presente alínea para o Estado requerente, dará prioridade ao pedido de entrega formulado pelo

não poderá prolongar-se para além das noventa e seis horas subsequentes à aterragem Tribunal, no caso de este se ter decidido pela admissibilidade do caso.

imprevista, se o pedido não for recebido dentro desse prazo.


5 - Quando um caso previsto no n.º 4 não tiver sido declarado admissível pelo Tribunal,

4 - Se a pessoa reclamada for objecto de procedimento criminal ou estiver a cumprir o Estado requerido poderá, se assim o entender, dar seguimento ao pedido de

uma pena no Estado requerido por crime diverso do que motivou o pedido de entrega extradição formulado pelo Estado requerente.

ao Tribunal, este Estado consultará o Tribunal após ter decidido anuir ao pedido.
6 - Relativamente aos casos em que o disposto no n.º 4 seja aplicável, mas o Estado

Artigo 90.º requerido se veja obrigado, por força de uma norma internacional, a extraditar a pessoa
para o Estado requerente que não seja Parte no presente Estatuto, o Estado requerido
Pedidos concorrentes decidirá se procede à entrega da pessoa em causa ao Tribunal ou se a extradita para o
Estado requerente. Na sua decisão, o Estado requerido terá em conta todos os factores
1 - Um Estado Parte que, nos termos do artigo 89.º, receba um pedido de entrega de
relevantes, incluindo, entre outros:
uma pessoa formulado pelo Tribunal e receba igualmente, de qualquer outro Estado,
um pedido de extradição relativo à mesma pessoa, pelos mesmos factos que motivaram a) A ordem cronológica dos pedidos;
o pedido de entrega por parte do Tribunal, deverá notificar o Tribunal e o Estado
requerente de tal facto. b) Os interesses do Estado requerente, incluindo, se relevante, se o crime foi cometido
no seu território, bem como a nacionalidade das vítimas e da pessoa reclamada; e
2 - Se o Estado requerente for um Estado Parte, o Estado requerido dará prioridade ao
pedido do Tribunal: c) A possibilidade de o Estado requerente vir a proceder posteriormente à entrega da
pessoa ao Tribunal.
a) Se o Tribunal tiver decidido, nos termos dos artigos 18.º ou 19.º, da admissibilidade
do caso a que respeita o pedido de entrega, e tal determinação tiver tido em conta o 7 - Se um Estado Parte receber um pedido de entrega de uma pessoa formulado pelo

inquérito ou o procedimento criminal conduzido pelo Estado requerente relativamente Tribunal e um pedido de extradição formulado por um outro Estado Parte relativamente

ao pedido de extradição por este formulado; ou à mesma pessoa por factos diferentes dos que constituem o crime objecto do pedido de
entrega:

83 84
a) O Estado requerido dará prioridade ao pedido do Tribunal, se não estiver obrigado requerido e outros Estados, devendo, se possível, ser menos rigorosos face à natureza
por uma norma internacional a extraditar a pessoa para o Estado requerente; particular de que se reveste o Tribunal.

b) O Estado requerido terá de decidir se entrega a pessoa ao Tribunal ou a extradita 3 - Se o pedido respeitar à detenção e à entrega de uma pessoa já condenada, deverá
para o Estado requerente, se estiver obrigado por uma norma internacional a extraditar conter ou ser acompanhado dos seguintes documentos:
a pessoa para o Estado requerente. Na sua decisão, o Estado requerido considerará
a) Uma cópia do mandado de detenção dessa pessoa;
todos os factores relevantes, incluindo, entre outros, os constantes do n.º 6 do presente
artigo; todavia, deverá dar especial atenção à natureza e à gravidade dos factos em b) Uma cópia da sentença condenatória;
causa.
c) Elementos que demonstrem que a pessoa procurada é a mesma a que se refere a
8 - Se, em conformidade com a notificação prevista no presente artigo, o Tribunal se sentença condenatória; e
tiver pronunciado pela inadmissibilidade do caso e, posteriormente, a extradição para o
Estado requerente for recusada, o Estado requerido notificará o Tribunal dessa decisão. d) Se a pessoa procurada já tiver sido condenada, uma cópia da sentença e, em caso de
pena de prisão, a indicação do período que já tiver cumprido, bem como o período que
Artigo 91.º ainda lhe falte cumprir.

Conteúdo do pedido de detenção e de entrega 4 - Mediante requerimento do Tribunal, um Estado Parte manterá, no que respeita a
questões genéricas ou a uma questão específica, consultas com o Tribunal sobre
1 - O pedido de detenção e de entrega será formulado por escrito. Em caso de urgência,
quaisquer requisitos previstos no seu direito interno que possam ser aplicados nos
o pedido poderá ser feito através de qualquer outro meio de que fique registo escrito,
termos da alínea c) do n.º 2. No decurso de tais consultas, o Estado Parte informará o
devendo, no entanto, ser confirmado através dos canais previstos na alínea a) do n.º 1
Tribunal dos requisitos específicos constantes do seu direito interno.
do artigo 87.º

Artigo 92.º
2 - O pedido de detenção e entrega de uma pessoa relativamente à qual o juízo de
instrução tiver emitido um mandado de detenção, ao abrigo do artigo 58.º, deverá Prisão preventiva
conter ou ser acompanhado dos seguintes documentos:
1 - Em caso de urgência, o Tribunal pode solicitar a prisão preventiva da pessoa
a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo informação suficiente que permita a procurada até à apresentação do pedido de entrega e dos documentos de apoio
sua identificação, bem como informação sobre a sua provável localização; referidos no artigo 91.º

b) Uma cópia do mandado de detenção; e 2 - O pedido de prisão preventiva será transmitido por qualquer meio de que fique
registo escrito e conterá:
c) Os documentos, declarações e informações necessários para satisfazer os requisitos
do processo de entrega pelo Estado requerido; contudo, tais requisitos não deverão ser a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo informação suficiente que permita a
mais rigorosos do que os que devem ser observados em caso de um pedido de sua identificação, bem como informação sobre a sua provável localização;
extradição em conformidade com tratados ou convénios celebrados entre o Estado

85 86
b) Uma exposição sucinta dos crimes pelos quais a pessoa é procurada, bem como dos c) Interrogar qualquer pessoa que seja objecto de inquérito ou de procedimento
factos alegadamente constitutivos de tais crimes, incluindo, se possível, a data e o local criminal;
da sua prática;
d) Notificar documentos, nomeadamente documentos judiciários;
c) Uma declaração que certifique a existência de um mandado de detenção ou de uma
e) Facilitar a comparência voluntária perante o Tribunal de pessoas que deponham na
decisão condenatória contra a pessoa procurada; e
qualidade de testemunhas ou de peritos;
d) Uma declaração de que o pedido de entrega relativo à pessoa procurada será
f) Proceder à transferência temporária de pessoas, em conformidade com o n.º 7;
enviado posteriormente.

g) Realizar inspecções a locais ou sítios, nomeadamente a exumação e o exame de


3 - Qualquer pessoa mantida sob prisão preventiva poderá ser posta em liberdade se o
cadáveres enterrados em fossas comuns;
Estado requerido não tiver recebido, em conformidade com o artigo 91.º, o pedido de
entrega e os respectivos documentos no prazo fixado pelo Regulamento Processual. h) Realizar buscas e apreensões;
Todavia, essa pessoa poderá consentir na sua entrega antes do termo do período se a
legislação do Estado requerido o permitir. Nesse caso, o Estado requerido procede à i) Transmitir registos e documentos, nomeadamente registos e documentos oficiais;

entrega da pessoa reclamada ao Tribunal, o mais rapidamente possível.


j) Proteger vítimas e testemunhas, bem como preservar elementos de prova;

4 - O facto de a pessoa reclamada ter sido posta em liberdade em conformidade com o


k) Identificar, localizar e congelar ou apreender o produto de crimes, bens, haveres e
n.º 3 não obstará a que seja de novo detida e entregue se o pedido de entrega e os
instrumentos ligados aos crimes, com vista à sua eventual declaração de perda, sem
documentos de apoio vierem a ser apresentados posteriormente.
prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé; e

Artigo 93.º
l) Prestar qualquer outra forma de auxílio não proibida pela legislação do Estado

Outras formas de cooperação requerido, destinada a facilitar o inquérito e o procedimento por crimes da competência
do Tribunal.
1 - Em conformidade com o disposto no presente capítulo e nos termos dos
procedimentos previstos nos respectivos direitos internos, os Estados Partes darão 2 - O Tribunal tem poderes para garantir à testemunha ou ao perito que perante ele

seguimento aos pedidos formulados pelo Tribunal para concessão de auxílio, no âmbito compareça de que não serão perseguidos, detidos ou sujeitos a qualquer outra

de inquéritos ou procedimentos criminais, no que se refere a: restrição da sua liberdade pessoal, por facto ou omissão anteriores à sua saída do
território do Estado requerido.
a) Identificar uma pessoa e o local onde se encontra, ou localizar objectos;
3 - Se a execução de uma determinada medida de auxílio constante de um pedido
b) Reunir elementos de prova, incluindo os depoimentos prestados sob juramento, bem apresentado ao abrigo do n.º 1 não for permitida no Estado requerido em virtude de um
como produzir elementos de prova, incluindo perícias e relatórios de que o Tribunal princípio jurídico fundamental de aplicação geral, o Estado em causa iniciará sem
necessita; demora consultas com o Tribunal com vista à solução dessa questão. No decurso das
consultas, serão consideradas outras formas de auxílio, bem como as condições da sua

87 88
realização. Se, concluídas as consultas, a questão não estiver resolvida, o Tribunal c) O Estado requerido poderá, oficiosamente ou a pedido do procurador, autorizar a
alterará o conteúdo do pedido conforme se mostrar necessário. divulgação posterior de tais documentos ou informações, os quais poderão ser
utilizados como meios de prova, nos termos do disposto nos capítulos V e VI e no
4 - Nos termos do disposto no artigo 72.º, um Estado Parte só poderá recusar, no todo
Regulamento Processual.
ou em parte, um pedido de auxílio formulado pelo Tribunal se tal pedido se reportar
unicamente à produção de documentos ou à divulgação de elementos de prova que 9 - a):
atentem contra a sua segurança nacional.
i) Se um Estado Parte receber pedidos concorrentes formulados pelo Tribunal e por um
5 - Antes de denegar o pedido de auxílio previsto na alínea l) do n.º 1, o Estado outro Estado, no âmbito de uma obrigação internacional, e cujo objecto não seja nem a
requerido considerará se o auxílio poderá ser concedido sob determinadas condições entrega nem a extradição, esforçar-se-á, mediante consultas com o Tribunal e esse
ou se poderá sê-lo em data ulterior ou sob uma outra forma, com a ressalva de que, se outro Estado, por dar satisfação a ambos os pedidos, adiando ou estabelecendo
o Tribunal ou o procurador aceitarem tais condições, deverão observá-las. determinadas condições a um ou outro pedido, se necessário;

6 - O Estado requerido que recusar um pedido de auxílio comunicará, sem demora, os ii) A não ser possível, os pedidos concorrentes observarão os princípios fixados no artigo
motivos ao Tribunal ou ao procurador. 90.º

7 - a) O Tribunal poderá pedir a transferência temporária de uma pessoa detida para b) Todavia, sempre que o pedido formulado pelo Tribunal respeitar a informações, bens
fins de identificação ou para obter um depoimento ou outra forma de auxílio. A ou pessoas que estejam sob o controlo de um Estado terceiro ou de uma organização
transferência realizar-se-á sempre que: internacional ao abrigo de um acordo internacional, os Estados requeridos informarão o
Tribunal em conformidade, e este dirigirá o seu pedido ao Estado terceiro ou à
i) A pessoa der o seu consentimento, livremente e com conhecimento de causa; e
organização internacional.

ii) O Estado requerido concordar com a transferência, sem prejuízo das condições que
10 - a) Mediante pedido, o Tribunal cooperará com um Estado Parte e prestar-lhe-á
esse Estado e o Tribunal possam acordar.
auxílio na condução de um inquérito ou julgamento relacionado com factos que

b) A pessoa transferida permanecerá detida. Esgotado o fim que determinou a constituam um crime da jurisdição do Tribunal ou que constituam um crime grave à luz

transferência, o Tribunal reenviá-la-á imediatamente para o Estado requerido. do direito interno do Estado requerente.

8 - a) O Tribunal garantirá a confidencialidade dos documentos e das informações b):

recolhidas, excepto se necessários para o inquérito e os procedimentos descritos no


i) O auxílio previsto na alínea a) deve compreender, a saber:
pedido.
1) A transmissão de depoimentos, documentos e outros elementos de prova recolhidos
b) O Estado requerido poderá, se necessário, comunicar os documentos ou as
no decurso do inquérito ou do julgamento conduzidos pelo Tribunal; e
informações ao procurador a título confidencial. O procurador só poderá utilizá-los para
recolher novos elementos de prova. 2) O interrogatório de qualquer pessoa detida por ordem do Tribunal;

ii) No caso previsto na alínea b), i), 1):

89 90
1) A transmissão dos documentos e de outros elementos de prova obtidos com o auxílio pronuncie, a menos que o Tribunal tenha especificamente ordenado que o procurador
de um Estado necessita do consentimento desse Estado; continue a reunir elementos de prova, nos termos do artigo 18.º ou 19.º

2) A transmissão de depoimentos, documentos e outros elementos de prova fornecidos, Artigo 96.º


quer por uma testemunha quer por um perito, será feita em conformidade com o
Conteúdo do pedido sob outras formas de cooperação previstas no artigo 93.º
disposto no artigo 68.º

1 - Todo o pedido relativo a outras formas de cooperação previstas no artigo 93.º será
c) O Tribunal poderá, em conformidade com as condições enunciadas neste número,
formulado por escrito. Em caso de urgência, o pedido poderá ser feito por qualquer
deferir um pedido de auxílio formulado por um Estado que não seja parte no presente
meio que permita manter um registo escrito, desde que seja confirmado através dos
Estatuto.
canais indicados na alínea a) do n.º 1 do artigo 87.º
Artigo 94.º
2 - O pedido deverá conter, ou ser instruído com, os seguintes documentos:
Suspensão da execução de um pedido relativamente a inquérito ou a
a) Um resumo do objecto do pedido, bem como da natureza do auxílio solicitado,
procedimento criminal em curso
incluindo os fundamentos jurídicos e os motivos do pedido;
1 - Se a execução imediata de um pedido prejudicar o desenrolar de um inquérito ou de
b) Informações tão completas quanto possível sobre a pessoa ou o lugar a identificar ou
um procedimento criminal relativos a um caso diferente daquele a que se reporta o
a localizar, por forma a que o auxílio solicitado possa ser prestado;
pedido, o Estado requerido pode suspender a execução do pedido por tempo
determinado, acordado com o Tribunal. Contudo, a suspensão não deve prolongar-se c) Uma exposição sucinta dos factos essenciais que fundamentam o pedido;
além do necessário para que o inquérito ou o procedimento criminal em causa sejam
efectuados no Estado requerido. Este, antes de decidir suspender a execução do d) A exposição dos motivos e a explicação pormenorizada dos procedimentos ou das

pedido, verifica se o auxílio não poderá ser concedido de imediato sob determinadas condições a respeitar;

condições.
e) Toda a informação que o Estado requerido possa exigir de acordo com o seu direito

2 - Se for decidida a suspensão de execução do pedido em conformidade com o n.º 1, o interno para dar seguimento ao pedido; e

procurador poderá, no entanto, solicitar que sejam adoptadas medidas para preservar
f) Toda a informação útil para que o auxílio possa ser concedido.
os elementos de prova, nos termos da alínea j) do n.º 1 do artigo 93.º
3 - A requerimento do Tribunal, um Estado Parte manterá, no que respeita a questões
Artigo 95.º
genéricas ou a uma questão específica, consultas com o Tribunal sobre as disposições

Suspensão da execução de um pedido por impugnação de admissibilidade aplicáveis do seu direito interno, susceptíveis de serem aplicadas em conformidade com
a alínea e) do n.º 2. No decurso de tais consultas, o Estado Parte informará o Tribunal
Se o Tribunal estiver a apreciar uma impugnação de admissibilidade, de acordo com o das disposições específicas constantes do seu direito interno.
artigo 18.º ou 19.º, o Estado requerido poderá suspender a execução de um pedido
formulado ao abrigo do presente capítulo enquanto aguarda que o Tribunal se 4 - O presente artigo aplicar-se-á, se for caso disso, a qualquer pedido de auxílio dirigido
ao Tribunal.

91 92
Artigo 97.º Artigo 99.º

Consultas Execução dos pedidos apresentados ao abrigo dos artigos 93.º e 96.º

Sempre que, ao abrigo do presente capítulo, um Estado Parte receba um pedido e 1 - Os pedidos de auxílio serão executados de harmonia com os procedimentos
constate que este suscita dificuldades que possam obviar à sua execução ou impedi-la, previstos na legislação interna do Estado requerido e, a menos que o seu direito interno
o Estado em causa iniciará, sem demora, as consultas com o Tribunal com vista à o proíba, na forma especificada no pedido, aplicando qualquer procedimento nele
solução desta questão. Tais dificuldades podem revestir as seguintes formas: indicado ou autorizando as pessoas nele indicadas a estarem presentes e a
participarem na execução do pedido.
a) Informações insuficientes para dar seguimento ao pedido;
2 - Em caso de pedido urgente, os documentos e os elementos de prova produzidos na
b) No caso de um pedido de entrega, o paradeiro da pessoa reclamada continuar
resposta serão, a requerimento do Tribunal, enviados com urgência.
desconhecido a despeito de todos os esforços ou a investigação realizada permitiu
determinar que a pessoa que se encontra no Estado requerido não é manifestamente a 3 - As respostas do Estado requerido serão transmitidas na sua língua e forma originais.
pessoa identificada no mandado; ou
4 - Sem prejuízo dos demais artigos do presente capítulo, sempre que for necessário
c) O Estado requerido ver-se-ia compelido, para cumprimento do pedido na sua forma para a execução com sucesso de um pedido, e não haja que recorrer a medidas
actual, a violar uma obrigação constante de um tratado anteriormente celebrado com coercivas, nomeadamente quando se trate de ouvir ou levar uma pessoa a depor de sua
outro Estado. livre vontade, mesmo sem a presença das autoridades do Estado Parte requerido se tal
for determinante para a execução do pedido, ou quando se trate de examinar, sem
Artigo 98.º
proceder a alterações, um sítio público ou um outro local público, o procurador poderá

Cooperação relativa à renúncia, à imunidade e ao consentimento na entrega dar cumprimento ao pedido directamente no território de um Estado, de acordo com as
seguintes modalidades:
1 - O Tribunal não pode dar seguimento a um pedido de entrega ou de auxílio por força
do qual o Estado requerido devesse actuar de forma incompatível com as obrigações a) Quando o Estado requerido for o Estado em cujo território haja indícios de ter sido

que lhe incumbem à luz do direito internacional em matéria de imunidade dos Estados cometido o crime e existir uma decisão sobre a admissibilidade tal como previsto nos

ou de imunidade diplomática de pessoa ou de bens de um Estado terceiro, a menos que artigos 18.º ou 19.º, o procurador poderá executar directamente o pedido, depois de ter

obtenha previamente a cooperação desse Estado terceiro com vista ao levantamento da levado a cabo consultas tão amplas quanto possível com o Estado requerido;

imunidade.
b) Em outros casos, o procurador poderá executar o pedido após consultas com o

2 - O Tribunal não pode dar seguimento à execução de um pedido de entrega por força Estado Parte requerido e tendo em conta as condições ou as preocupações razoáveis

do qual o Estado requerido devesse actuar de forma incompatível com as obrigações que esse Estado tenha eventualmente argumentado. Sempre que o Estado requerido

que lhe incumbem em virtude de acordos internacionais à luz dos quais o verificar que a execução de um pedido nos termos da presente alínea suscita

consentimento do Estado de envio é necessário para que uma pessoa pertencente a dificuldades, consultará de imediato o Tribunal para resolver a questão.

esse Estado seja entregue ao Tribunal, a menos que o Tribunal consiga, previamente,
5 - As disposições que autorizam a pessoa ouvida ou interrogada pelo Tribunal ao
obter a cooperação do Estado de envio para consentir na entrega.
abrigo do artigo 72.º a invocar as restrições previstas para impedir a divulgação de

93 94
informações confidenciais relacionadas com a segurança nacional aplicar-se-ão de igual 2 - O Tribunal poderá solicitar uma derrogação dos requisitos estabelecidos no n.º 1 ao
modo à execução dos pedidos de auxílio referidos no presente artigo. Estado que lhe tenha entregue uma pessoa e, se necessário, facultar-lhe-á, em
conformidade com o artigo 91.º, informações complementares. Os Estados Partes
Artigo 100.º
estarão habilitados a conceder uma derrogação ao Tribunal e deverão envidar esforços

Despesas nesse sentido.

1 - As despesas ordinárias decorrentes da execução dos pedidos no território do Estado Artigo 102.º

requerido serão por este suportadas, com excepção das seguintes, que correrão a cargo
Termos usados
do Tribunal:
Para os fins do presente Estatuto:
a) As despesas relacionadas com as viagens e a protecção das testemunhas e dos
peritos ou com a transferência de detidos ao abrigo do artigo 93.º; a) Por «entrega» entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal, nos
termos do presente Estatuto;
b) As despesas de tradução, de interpretação e de transcrição;
b) Por «extradição» entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado,
c) As despesas de deslocação e de estada dos juízes, do procurador, dos procuradores-
conforme previsto num tratado, numa convenção ou no direito interno.
adjuntos, do secretário, do secretário-adjunto e dos membros do pessoal de todos os
órgãos do Tribunal;

d) Os custos das perícias ou dos relatórios periciais solicitados pelo Tribunal; CAPÍTULO X

e) As despesas decorrentes do transporte das pessoas entregues ao Tribunal pelo Execução da pena
Estado de detenção; e
Artigo 103.º
f) Após consulta, quaisquer despesas extraordinárias decorrentes da execução de um
Função dos Estados na execução das penas privativas de liberdade
pedido.

1 - a) As penas privativas de liberdade serão cumpridas num Estado indicado pelo


2 - O disposto no n.º 1 aplicar-se-á, sempre que necessário, aos pedidos dirigidos pelos
Tribunal, a partir de uma lista de Estados que lhe tenham manifestado a sua
Estados Partes ao Tribunal. Neste caso, o Tribunal tomará a seu cargo as despesas
disponibilidade para receber pessoas condenadas.
ordinárias decorrentes da execução.

b) Ao declarar a sua disponibilidade para receber pessoas condenadas, um Estado


Artigo 101.º
poderá formular condições acordadas com o Tribunal e em conformidade com o
Regra da especialidade presente capítulo.

1 - Nenhuma pessoa entregue ao Tribunal nos termos do presente Estatuto poderá ser c) O Estado indicado no âmbito de um determinado caso dará prontamente a conhecer
perseguida, condenada ou detida por condutas anteriores à sua entrega, salvo quando se aceita ou não a indicação do Tribunal.
estas constituam crimes que tenham fundamentado a sua entrega.

95 96
2 - a) O Estado da execução informará o Tribunal de qualquer circunstância, incluindo o Artigo 104.º
cumprimento de quaisquer condições acordadas nos termos do n.º 1, que possam
Alteração da indicação do Estado da execução
afectar materialmente as condições ou a duração da detenção. O Tribunal será
informado com, pelo menos, 45 dias de antecedência sobre qualquer circunstância 1 - O Tribunal poderá, a todo o momento, decidir transferir um condenado para uma
dessa natureza, conhecida ou previsível. Durante este período, o Estado da execução prisão de um outro Estado.
não tomará qualquer medida que possa ser contrária às suas obrigações ao abrigo do
artigo 110.º 2 - A pessoa condenada pelo Tribunal poderá, a todo o momento, solicitar-lhe que a
transfira do Estado encarregado da execução.
b) Se o Tribunal não puder aceitar as circunstâncias referidas na alínea a), deverá
informar o Estado da execução e proceder de harmonia com o n.º 1 do artigo 104.º Artigo 105.º

3 - Sempre que exercer o seu poder de indicação em conformidade com o n.º 1, o Execução da pena

Tribunal tomará em consideração:


1 - Sem prejuízo das condições que um Estado haja estabelecido nos termos do artigo

a) O princípio segundo o qual os Estados Partes devem partilhar da responsabilidade na 103.º, n.º 1, alínea b), a pena privativa de liberdade é vinculativa para os Estados Partes,

execução das penas privativas de liberdade, em conformidade com os princípios de não podendo estes modificá-la em caso algum.

distribuição equitativa estabelecidos no Regulamento Processual;


2 - Será da exclusiva competência do Tribunal pronunciar-se sobre qualquer pedido de

b) A aplicação de normas convencionais do direito internacional amplamente aceites revisão ou recurso. O Estado da execução não obstará a que o condenado apresente

que regulam o tratamento dos reclusos; um tal pedido.

c) A opinião da pessoa condenada; Artigo 106.º

d) A nacionalidade da pessoa condenada; Controlo da execução da pena e das condições de detenção

e) Outros factores relativos às circunstâncias do crime, às condições pessoais da pessoa 1 - A execução de uma pena privativa de liberdade será submetida ao controlo do

condenada ou à execução efectiva da pena, apropriados com vista à designação do Tribunal e observará as normas convencionais internacionais amplamente aceites em

Estado da execução. matéria de tratamento dos reclusos.

4 - Se nenhum Estado for designado nos termos do n.º 1, a pena privativa de liberdade 2 - As condições de detenção serão reguladas pela legislação do Estado da execução e

será cumprida num estabelecimento prisional designado pelo Estado anfitrião, em observarão as normas convencionais internacionais amplamente aceites em matéria de

conformidade com as condições estipuladas no acordo que determinou o local da sede tratamento dos reclusos; em caso algum devem ser menos ou mais favoráveis do que

previsto no n.º 2 do artigo 3.º Neste caso, as despesas relacionadas com a execução da as aplicáveis aos reclusos condenados no Estado da execução por infracções análogas.

pena ficarão a cargo do Tribunal.


3 - As comunicações entre o condenado e o Tribunal serão livres e terão carácter
confidencial.

97 98
Artigo 107.º Artigo 109.º

Transferência do condenado depois de cumprida a pena Execução das penas de multa e das medidas de perda

1 - Cumprida a pena, a pessoa que não seja nacional do Estado da execução poderá, de 1 - Os Estados Partes aplicarão as penas de multa, bem como as medidas de perda
acordo com a legislação desse mesmo Estado, ser transferida para um outro Estado ordenadas pelo Tribunal ao abrigo do capítulo VII, sem prejuízo dos direitos de terceiros
obrigado a aceitá-la ou ainda para um outro Estado que aceite acolhê-la, tendo em agindo de boa fé e em conformidade com os procedimentos previstos no respectivo
conta a vontade expressa pela pessoa em ser transferida para esse Estado, a menos direito interno.
que o Estado da execução autorize essa pessoa a permanecer no seu território.
2 - Sempre que um Estado Parte não possa tornar efectiva a declaração de perda,
2 - As despesas relativas à transferência do condenado para um outro Estado nos deverá tomar medidas para recuperar o valor do produto, dos bens ou dos haveres cuja
termos do n.º 1 serão suportadas pelo Tribunal se nenhum Estado as tomar a seu cargo. perda tenha sido declarada pelo Tribunal, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa
fé.
3 - Sem prejuízo do disposto no artigo 108.º, o Estado da execução poderá igualmente,
de harmonia com o seu direito interno, extraditar ou entregar por qualquer outro modo 3 - Os bens, ou o produto da venda de bens imóveis ou, se for caso disso, da venda de
a pessoa a um Estado que tenha solicitado a sua extradição ou a sua entrega para fins outros bens obtidos por um Estado Parte por força da execução de uma decisão do
de julgamento ou de cumprimento de uma pena. Tribunal serão transferidos para o Tribunal.

Artigo 108.º Artigo 110.º

Restrições ao procedimento criminal ou à condenação por outras infracções Reexame pelo Tribunal da questão de redução de pena

1 - A pessoa condenada que esteja detida no Estado da execução não poderá ser 1 - O Estado da execução não poderá libertar o recluso antes de cumprida a totalidade
objecto de procedimento criminal, condenação ou extradição para um Estado terceiro da pena proferida pelo Tribunal.
em virtude de uma conduta anterior à sua transferência para o Estado da execução, a
2 - Somente o Tribunal terá a faculdade de decidir sobre qualquer redução da pena e,
menos que o Tribunal tenha dado a sua aprovação a tal procedimento, condenação ou
ouvido o condenado, pronunciar-se-á a tal respeito.
extradição, a pedido do Estado da execução.

3 - Quando a pessoa já tiver cumprido dois terços da pena, ou 25 anos de prisão em


2 - Ouvido o condenado, o Tribunal pronunciar-se-á sobre a questão.
caso de pena de prisão perpétua, o Tribunal reexaminará a pena para determinar se
3 - O n.º 1 deixará de ser aplicável se o condenado permanecer voluntariamente no haverá lugar à sua redução. Tal reexame só será efectuado transcorrido o período
território do Estado da execução por um período superior a 30 dias após o acima referido.
cumprimento integral da pena proferida pelo Tribunal, ou se regressar ao território
4 - Aquando do reexame a que se refere o n.º 3, o Tribunal poderá reduzir a pena se
desse Estado após dele ter saído.
constatar que se verificam uma ou várias das condições seguintes:

a) A pessoa tiver manifestado, desde o início e de forma contínua, a sua vontade em


cooperar com o Tribunal no inquérito e no procedimento;

99 100
b) A pessoa tiver, voluntariamente, facilitado a execução das decisões e despachos do Acta Final poderão participar nos trabalhos da Assembleia na qualidade de
Tribunal em outros casos, nomeadamente ajudando-o a localizar bens sobre os quais observadores.
recaíam decisões de perda, de multa ou de reparação que poderão ser usados em 2 - A Assembleia:
benefício das vítimas; ou a) Examinará e adoptará, se adequado, as recomendações da comissão preparatória;

c) Outros factores que conduzam a uma clara e significativa alteração das b) Transmitirá à Presidência, ao procurador e ao secretário as linhas orientadoras gerais
circunstâncias, suficiente para justificar a redução da pena, conforme previsto no no que toca à administração do Tribunal;
Regulamento Processual.
c) Examinará os relatórios e as actividades do Bureau estabelecido nos termos do n.º 3 e
5 - Se, aquando do reexame inicial a que se refere o n.º 3, o Tribunal considerar não tomará as medidas apropriadas;
haver motivo para redução da pena, ele reexaminará subsequentemente a questão da
d) Examinará e aprovará o orçamento do Tribunal;
redução da pena com a periodicidade e nos termos previstos no Regulamento
Processual. e) Decidirá, se for caso disso, alterar o número de juízes nos termos do artigo 36.º;

Artigo 111.º f) Examinará, de harmonia com os n.os 5 e 7 do artigo 87.º, qualquer questão relativa à
não cooperação dos Estados;
Evasão

g) Desempenhará qualquer outra função compatível com as disposições do presente


Se um condenado se evadir do seu local de detenção e fugir do território do Estado da
Estatuto ou do Regulamento Processual.
execução, este poderá, depois de ter consultado o Tribunal, pedir ao Estado no qual se
encontra localizado o condenado que lho entregue em conformidade com os acordos 3 - a) A Assembleia será dotada de um Bureau composto por 1 presidente, 2 vice-
bilaterais ou multilaterais em vigor, ou requerer ao Tribunal que solicite a entrega dessa presidentes e 18 membros por ela eleitos por períodos de três anos.
pessoa ao abrigo do capítulo IX. O Tribunal poderá, ao solicitar a entrega da pessoa, b) O Bureau terá um carácter representativo, atendendo nomeadamente ao princípio da
determinar que esta seja entregue ao Estado no qual se encontrava a cumprir a sua distribuição geográfica equitativa e à necessidade de assegurar uma representação
pena, ou a outro Estado por ele indicado. adequada dos principais sistemas jurídicos do mundo.

CAPÍTULO XI c) O Bureau reunir-se-á as vezes que forem necessárias, mas, pelo menos, uma vez por
ano. Apoiará a Assembleia no desempenho das suas funções.
Assembleia dos Estados Partes

4 - A Assembleia poderá criar outros órgãos subsidiários que julgue necessários,


Artigo 112.º
nomeadamente um mecanismo de controlo independente que proceda a inspecções,
Assembleia dos Estados Partes avaliações e inquéritos em ordem a melhorar a eficiência e economia da administração
do Tribunal.
1 - É constituída, pelo presente instrumento, uma Assembleia dos Estados Partes. Cada
um dos Estados Partes nela disporá de um representante, que poderá ser coadjuvado
por substitutos e assessores. Outros Estados signatários do presente Estatuto ou da

101 102
5 - O presidente do Tribunal, o procurador e o secretário ou os respectivos CAPÍTULO XII
representantes poderão participar, sempre que julguem oportuno, nas reuniões
Financiamento
da Assembleia e do Bureau.
6 - A Assembleia reúne na sede do Tribunal ou na sede da Organização das Nações Artigo 113.º
Unidas uma vez por ano e, sempre que as circunstâncias o exigirem, reunirá em sessão
extraordinária. A menos que o presente Estatuto estabeleça em contrário, as sessões Regulamento financeiro

extraordinárias são convocadas pelo Bureau, oficiosamente ou a pedido de um terço


Salvo disposição expressa em contrário, todas as questões financeiras atinentes ao
dos Estados Partes.
Tribunal e às reuniões da Assembleia dos Estados Partes, incluindo o seu Bureau e os
seus órgãos subsidiários, serão reguladas pelo presente Estatuto, pelo Regulamento
7 - Cada um dos Estados Partes disporá de um voto. Todos os esforços deverão ser
Financeiro e pelas normas de gestão financeira adoptados pela Assembleia dos Estados
envidados para que as decisões da Assembleia e do Bureau sejam adoptadas por
Partes.
consenso. Se tal não for possível, e a menos que o Estatuto estabeleça em contrário:

Artigo 114.º
a) As decisões sobre as questões de fundo serão tomadas por maioria de dois terços
dos membros presentes e votantes, sob a condição que a maioria absoluta dos Estados Pagamento de despesas
Partes constitua quórum para o escrutínio;
As despesas do Tribunal e da Assembleia dos Estados Partes, incluindo o seu Bureau e
b) As decisões sobre as questões de procedimento serão tomadas por maioria simples os seus órgãos subsidiários, serão pagas pelos fundos do Tribunal.
dos Estados Partes presentes e votantes.
Artigo 115.º
8 - O Estado Parte em atraso no pagamento da sua contribuição financeira para as
despesas do Tribunal não poderá votar nem na Assembleia nem no Bureau se o total Fundos do Tribunal e da Assembleia dos Estados Partes
das suas contribuições em atraso igualar ou exceder a soma das contribuições
correspondentes aos dois anos anteriores completos por ele devidos. A AssembleiaGeral As despesas do Tribunal e da Assembleia dos Estados Partes, incluindo o seu Bureau e
poderá, no entanto, autorizar o Estado em causa a votar na Assembleia ou no Bureau se os seus órgãos subsidiários, inscritas no orçamento aprovado pela Assembleia dos
ficar provado que a falta de pagamento é devida a circunstâncias alheias ao controlo do Estados Partes, serão financiadas:
Estado Parte. a) Pelas quotas dos Estados Partes;

b) Pelos fundos provenientes da Organização das Nações Unidas, sujeitos à aprovação


9 - A Assembleia adoptará o seu próprio regimento.
da Assembleia Geral, em especial no que diz respeito às despesas relativas a questões
remetidas para o Tribunal pelo Conselho de Segurança.
10 - As línguas oficiais e de trabalho da Assembleia dos Estados Partes serão as línguas
oficiais e de trabalho da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

103 104
Artigo 116.º 2 - Quaisquer diferendos entre dois ou mais Estados Partes relativos à interpretação ou
à aplicação do presente Estatuto, que não forem resolvidos pela via negocial num
Contribuições voluntárias
período de três meses após o seu início, serão submetidos à Assembleia dos Estados

Sem prejuízo do artigo 115.º, o Tribunal poderá receber e utilizar, a título de fundos Partes. A Assembleia poderá procurar resolver o diferendo ou fazer recomendações

adicionais, as contribuições voluntárias dos governos, das organizações internacionais, relativas a outros métodos de resolução, incluindo a submissão do diferendo ao

dos particulares, das empresas e demais entidades, de acordo com os critérios Tribunal Internacional de Justiça, em conformidade com o Estatuto desse Tribunal.

estabelecidos pela Assembleia dos Estados Partes nesta matéria.

Artigo 120.º
Artigo 117.º
Reservas
Cálculo das quotas
Não são admitidas reservas a este Estatuto.
As quotas dos Estados Partes serão calculadas em conformidade com uma tabela de
quotas que tenha sido acordada com base na tabela adoptada pela Organização das Artigo 121.º
Nações Unidas para o seu orçamento ordinário, e adaptada de harmonia com os
Alterações
princípios nos quais se baseia tal tabela.

1 - Expirado o período de sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto,


Artigo 118.º
qualquer Estado Parte poderá propor alterações ao Estatuto. O texto das propostas de
Verificação anual de contas alterações será submetido ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que
o comunicará sem demora a todos os Estados Partes.
Os relatórios, livros e contas do Tribunal, incluindo os balanços financeiros anuais, serão
verificados anualmente por um revisor de contas independente. 2 - Decorridos pelo menos três meses após a data desta notificação, a Assembleia dos
Estados Partes decidirá na reunião seguinte, por maioria dos seus membros presentes e
votantes, se deverá examinar a proposta. A Assembleia poderá tratar desta proposta,

CAPÍTULO XIII ou convocar uma conferência de revisão se a questão suscitada o justificar.

Cláusulas finais 3 - A adopção de uma alteração numa reunião da Assembleia dos Estados Partes ou
numa conferência de revisão exigirá a maioria de dois terços dos Estados Partes,
Artigo 119.º
quando não for possível chegar a um consenso.
Resolução de diferendos
4 - Sem prejuízo do disposto no n.º 5, qualquer alteração entrará em vigor, para todos
1 - Qualquer diferendo relativo às funções judiciais do Tribunal será resolvido por os Estados Partes, um ano depois que sete oitavos de entre eles tenham depositado os
decisão do Tribunal. respectivos instrumentos de ratificação ou de aceitação junto do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas.

105 106
5 - Quaisquer alterações aos artigos 5.º, 6.º, 7.º e 8.º do presente Estatuto entrarão em
vigor, para todos os Estados Partes que as tenham aceitado, um ano após o depósito Artigo 123.º
dos seus instrumentos de ratificação ou de aceitação. O Tribunal não exercerá a sua
Revisão do Estatuto
competência relativamente a um crime abrangido pela alteração sempre que este tiver
sido cometido por nacionais de um Estado Parte que não tenha aceitado a alteração, ou 1 - Sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, o Secretário-Geral da
no território desse Estado Parte. Organização das Nações Unidas convocará uma conferência de revisão para examinar
qualquer alteração ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir nomeadamente, mas
6 - Se uma alteração tiver sido aceite por sete oitavos dos Estados Partes nos termos do
não exclusivamente, sobre a lista de crimes que figura no artigo 5.º A Conferência estará
n.º 4, qualquer Estado Parte que a não tenha aceite poderá retirar-se do presente
aberta aos participantes na Assembleia dos Estados Partes, nas mesmas condições.
Estatuto com efeito imediato, não obstante o disposto no n.º 1 do artigo 127.º, mas sem
2 - Em qualquer momento ulterior, a requerimento de um Estado Parte e para os fins
prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 127.º, mediante notificação da sua retirada o
enunciados no n.º 1, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, mediante
mais tardar um ano após a entrada em vigor desta alteração.
aprovação da maioria dos Estados Partes, convocará uma conferência de revisão.
7 - O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas comunicará a todos os
3 - A adopção e a entrada em vigor de qualquer alteração ao Estatuto examinada numa
Estados Partes quaisquer alterações que tenham sido adoptadas em reunião
conferência de revisão serão reguladas pelas disposições do artigo 121.º, n.os 3 a 7.
da Assembleia dos Estados Partes ou numa conferência de revisão.

Artigo 124.º
Artigo 122.º
Disposição transitória
Alteração de disposições de carácter institucional
Não obstante o disposto nos n.os 1 e 2 do artigo 12.º, um Estado que se torne Parte no
1 - Não obstante o disposto no artigo 121.º, n.º 1, qualquer Estado Parte poderá, em presente Estatuto poderá declarar que, durante um período de sete anos a contar da
qualquer momento, propor alterações às disposições do presente Estatuto, de carácter data da entrada em vigor do presente Estatuto no seu território, não aceitará a
exclusivamente institucional, a saber, artigos 35.º, 36.º, n.os 8 e 9, 37.º, 38.º, 39.º, n.os 1 competência do Tribunal relativamente à categoria de crimes referidos no artigo 8.º,
(as primeiras duas frases), 2 e 4, 42.º, n.os 4 a 9, 43.º, n.os 2 e 3, 44.º, 46.º, 47.º e 49.º O quando haja indícios de que um crime tenha sido praticado por nacionais seus ou no
texto de qualquer proposta será submetido ao Secretário-Geral da Organização das seu território. A declaração formulada ao abrigo deste artigo poderá ser retirada a
Nações Unidas ou a qualquer outra pessoa designada pela Assembleia dos Estados qualquer momento. O disposto neste artigo será reexaminado na conferência de
Partes, que o comunicará sem demora a todos os Estados Partes e aos outros revisão a convocar em conformidade com o n.º 1 do artigo 123.º
participantes na Assembleia.
Artigo 125.º

2 - As alterações apresentadas nos termos deste artigo, sobre as quais não seja possível
Assinatura, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
chegar a um consenso, serão adoptadas pela Assembleia dos Estados Partes ou por
uma conferência de revisão por uma maioria de dois terços dos Estados Partes. Tais 1 - O presente Estatuto estará aberto à assinatura de todos os Estados na sede da
alterações entrarão em vigor, para todos os Estados Partes, seis meses após a sua Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em Roma, a 17 de
adopção pela Assembleia ou, conforme o caso, pela conferência de revisão. Julho de 1998, continuando aberto à assinatura no Ministério dos Negócios Estrangeiros

107 108
de Itália, em Roma, até 17 de Outubro de 1998. Após esta data, o presente Estatuto tiver assumido, não afectando também a cooperação com o Tribunal no âmbito de
continuará aberto na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, até 31 inquéritos e de procedimentos criminais relativamente aos quais o Estado tinha o dever
de Dezembro de 2000. de cooperar e que se iniciaram antes da data em que a retirada começou a produzir
efeitos; a retirada em nada afectará a prossecução da apreciação das causas que o
2 - O presente Estatuto fica sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação dos Estados
Tribunal já tivesse começado a apreciar antes da data em que a retirada começou a
signatários. Os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados
produzir efeitos.
junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
Artigo 128.º
3 - O presente Estatuto fica aberto à adesão de qualquer Estado. Os instrumentos de
adesão serão depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Textos autênticos

Artigo 126.º O original do presente Estatuto, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês
e russo fazem igualmente fé, será depositado junto do Secretário-Geral das Nações
Entrada em vigor
Unidas, que enviará cópia autenticada a todos os Estados.

1 - O presente Estatuto entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao termo de um


Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados pelos respectivos
período de 60 dias após a data do depósito do 60.º instrumento de ratificação, de
Governos, assinaram o presente Estatuto.
aceitação, de aprovação ou de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas. Feito em Roma, aos 17 dias do mês de Julho de 1998.

2 - Em relação ao Estado que ratifique, aceite ou aprove o presente Estatuto, ou a ele


adira após o depósito do 60.º instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou
de adesão, o presente Estatuto entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao termo de
um período de 60 dias após a data do depósito do respectivo instrumento de
ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão.

Artigo 127.º

Retirada

1 - Qualquer Estado Parte poderá, mediante notificação escrita e dirigida ao Secretário-


Geral da Organização das Nações Unidas, retirar-se do presente Estatuto. A retirada
produzirá efeitos um ano após a data de recepção da notificação, salvo se esta indicar
uma data ulterior.

2 - A retirada não isentará o Estado das obrigações que lhe incumbem em virtude do
presente Estatuto enquanto Parte do mesmo, incluindo as obrigações financeiras que

109 110
5 - No caso de haver diversas partes com interesse comum na mesma causa, elas serão, para os fins 3 - Quando um Estado que não é membro das Nações Unidas for parte numa causa, o Tribunal (*)
das disposições precedentes, consideradas como uma só parte. Qualquer dúvida sobre este ponto será fixará a importância com que ele deverá contribuir para as despesas do Tribunal (*). Esta disposição
resolvida por decisão do Tribunal (*). não será aplicada se tal Estado já contribuir para as referidas despesas.
6 - Os juízes designados em conformidade com os nºs 2, 3 e 4 deste artigo deverão preencher as
condições exigidas pelos artigos 2, 17, n.º 2, 20 e 24 do presente Estatuto. Tomarão parte nas Artigo 36
decisões em condições de completa igualdade com os seus colegas.
1 - A competência do Tribunal (*) abrange todas as questões que as partes lhe submetam, bem como
Artigo 32 todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções
em vigor.
1 - Os membros do Tribunal (*) perceberão vencimentos anuais. 2 - Os Estados partes do presente Estatuto poderão, em qualquer momento, declarar que reconhecem
2 - O presidente receberá, por um ano, um subsídio especial. como obrigatória ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a
mesma obrigação, a jurisdição do Tribunal (*) em todas as controvérsias jurídicas que tenham por
3 - O vice-presidente receberá um subsídio especial correspondente a cada dia em que desempenhe as
objecto:
funções de presidente.
a) A interpretação de um tratado;
4 - Os juízes designados em conformidade com o artigo 31 que não sejam membros do Tribunal (*)
receberão uma remuneração correspondente a cada dia em que exerçam as suas funções. b) Qualquer questão de direito internacional;

5 - Esses vencimentos, subsídios e remunerações serão fixados pela Assembleia Geral e não poderão c) A existência de qualquer facto que, se verificado, constituiria violação de um
ser diminuídos enquanto durarem os mandatos. compromisso internacional;

6 - Os vencimentos do escrivão serão fixados pela Assembleia Geral, por proposta do Tribunal (*). d) A natureza ou a extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso
internacional.
7 - O regulamento elaborado pela Assembleia Geral fixará as condições pelas quais serão concedidas
pensões aos membros do Tribunal (*) e ao escrivão e as condições pelas quais os membros do Tribunal 3 - As declarações acima mencionadas poderão ser feitas pura e simplesmente ou sob condição de
(*) e o escrivão serão reembolsados das suas despesas de viagem. reciprocidade da parte de vários ou de certos Estados, ou por prazo determinado.

8 - Os vencimentos, subsídios e remunerações acima mencionados estarão isentos de qualquer 4 - Tais declarações serão depositadas junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, que as
imposto. transmitirá, por cópia, às partes contratantes do presente Estatuto e ao escrivão do Tribunal (*).
5 - Nas relações entre as partes contratantes do presente Estatuto, as declarações feitas de acordo
Artigo 33 com o artigo 36 do Estatuto do Tribunal (*) Permanente de Justiça Internacional e que ainda estejam
em vigor serão consideradas como importando a aceitação da jurisdição obrigatória do Tribunal (*)
As despesas do Tribunal (*) serão custeadas pelas Nações Unidas da maneira que for decidida pela Internacional de Justiça, pelo período em que ainda devem vigorar e em conformidade com os seus
Assembleia Geral. termos.
6 - Qualquer controvérsia sobre a jurisdição do Tribunal (*) será resolvida por decisão do próprio
CAPÍTULO II Tribunal (*).

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL (*) Artigo 37

Artigo 34 Sempre que um tratado ou convenção em vigor disponha que um assunto deve ser submetido a uma
jurisdição a ser instituída pela Sociedade das Nações (**) ou ao Tribunal (*) Permanente de Justiça
1 - Só os Estados poderão ser partes em causas perante o Tribunal (*). Internacional, o assunto deverá, no que respeita às partes contratantes do presente Estatuto, ser
2 - Sobre as causas que lhe forem submetidas, o Tribunal (*), nas condições prescritas pelo seu submetido ao Tribunal (*) Internacional de Justiça.
Regulamento, poderá solicitar informação de organizações internacionais públicas e receberá as
informações que lhe forem prestadas, por iniciativa própria, pelas referidas organizações. Artigo 38

3 - Sempre que, no julgamento de uma causa perante o Tribunal (*), for discutida a interpretação do
1 - O Tribunal (*), cuja função é decidir em conformidade com o direito internacional as controvérsias
instrumento constitutivo de uma organização internacional pública ou de uma convenção internacional
que lhe forem submetidas, aplicará:
adoptada em virtude do mesmo, o escrivão notificará a organização internacional pública interessada e
enviar-lhe-á cópias de todo o expediente escrito. a) As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
Artigo 35 b) O costume internacional, como prova de uma prática geral aceite como direito;
c) Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
1 - O Tribunal (*) será aberto aos Estados partes do presente Estatuto.
d) Com ressalva das disposições do artigo 59, as decisões judiciais e a doutrina dos
2 - As condições pelas quais o Tribunal (*) será aberto a outros Estados serão determinadas pelo
publicistas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a
Conselho de Segurança, ressalvadas as disposições especiais dos tratados vigentes; em nenhum caso,
determinação das regras de direito.
porém, tais condições colocarão as partes em posição de desigualdade perante o Tribunal (*).

6 7
2 - A presente disposição não prejudicará a faculdade do Tribunal (*) de decidir uma questão ex aequo
et bono, se as partes assim convierem.

CAPÍTULO III

PROCESSO

Artigo 39

1 - As línguas oficiais do Tribunal (*) serão o francês e o inglês. Se as partes concordarem em que todo
o processo se efectue em francês, a sentença será proferida em francês. Se as partes concordarem em
que todo o processo se efectue em inglês, a sentença será proferida em inglês.
2 - Na ausência de acordo a respeito da língua que deverá ser utilizada, cada parte poderá, nas suas
alegações, usar aquela das duas línguas que preferir; a sentença do Tribunal (*) será proferida em
francês e em inglês. Neste caso, o Tribunal (*) determinará ao mesmo tempo qual dos dois textos fará
fé.
3 - A pedido de uma das partes, o Tribunal (*) poderá autorizá-la a usar uma língua que não seja o
francês ou inglês.

Artigo 40

1 - As questões serão submetidas ao Tribunal (*), conforme o caso, por notificação do acordo especial
ou por uma petição escrita dirigida ao escrivão. Em qualquer dos casos, o objecto da controvérsia e as
partes deverão ser indicados.
2 - O escrivão comunicará imediatamente a petição a todos os interessados.
3 - Notificará também os membros das Nações Unidas por intermédio do Secretário-Geral e quaisquer
outros Estados com direito a comparecer perante o Tribunal (*).

Artigo 41

1 - O Tribunal (*) terá a faculdade de indicar, se julgar que as circunstâncias o exigem, quaisquer
medidas provisórias que devam ser tomadas para preservar os direitos de cada parte.
2 - Antes que a sentença seja proferida, as partes e o Conselho de Segurança deverão ser informados
imediatamente das medidas indicadas.

Artigo 42

1 - As partes serão representadas por agentes.


2 - Estas poderão ser assistidas perante o Tribunal (*) por consultores ou advogados.
3 - Os agentes, os consultores e os advogados das partes perante o Tribunal (*) gozarão dos
privilégios e imunidades necessários ao livre exercício das suas atribuições.

Artigo 43

1 - O processo constará de duas fases: uma escrita e outra oral.


2 - O processo escrito compreenderá a comunicação ao Tribunal (*) e às partes de memórias, contra
memórias e, se necessário, réplicas, assim como quaisquer peças e documentos em apoio das
mesmas.
3 - Essas comunicações serão feitas por intermédio do escrivão na ordem e dentro do prazo fixados
pelo Tribunal (*).

8
O texto da Convenção inclui as modificações introduzidas
pelo Protocolo n° 14 (STCE n° 194), entrado em vigor
em 1 de Junho de 2010. O texto da Convenção foi
anteriormente modificado nos termos das disposições SUMÁRIO
do Protocolo n° 3 (STE n° 45), entrado em vigor
em 21 de Setembro de 1970, do Protocolo n° 5 (STE    n° 55),
entrado em vigor em 20 de Dezembro de 1971 e
do Protocolo n° 8 (STE n° 118), entrado em vigor
em 1 de Janeiro de 1990, incluindo ainda o texto do Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem
Protocolo n° 2 (STE n° 44) que, nos termos do seu artigo 5°, e das Liberdades Fundamentais........................................ 5
parágrafo 3°, fazia parte integrante da Convenção desde a
sua entrada em vigor em 21 de Setembro de 1970. Todas as Protocolo adicional....................................................... 33
disposições modificadas ou acrescentadas por estes Protocolos
foram substituídas pelo Protocolo n° 11 (STE n° 155), a partir
Protocolo n° 4.............................................................. 37
da data da entrada em vigor deste, em 1 de Novembro
de 1998. A partir desta data, o Protocolo n° 9 (STE n° 140),
entrado em vigor em 1 de Outubro de 1994, foi revogado e Protocolo n° 6.............................................................. 41
o Protocolo n° 10 (STE n° 146) ficou sem objecto.
Protocolo n° 7.............................................................. 45
O estado das assinaturas e ratificações da Convenção e seus
Protocolos, bem como a lista completa das declarações e
reservas, podem ser consultados em www.conventions.coe.int. Protocolo n° 12............................................................ 51

Protocolo n° 13............................................................ 55
Apenas fazem fé as versões inglesa e francesa da Convenção. Esta
tradução não é uma versão oficial da Convenção.

Tribunal Europeu dos Direitos do Homem


Council of Europe
F-67075 Strasbourg cedex
www.echr.coe.int

3
Convenção para a Protecção
dos Direitos do Homem
e das Liberdades Fundamentais
Roma, 4.11.1950

Os Governos signatários, Membros do Conselho da Europa,


Considerando a Declaração Universal dos Direitos do Homem
proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em 10 de Dezembro de 1948,
Considerando que esta Declaração se destina a assegurar o
reconhecimento e aplicação universais e efectivos dos direitos
nela enunciados,
Considerando que a finalidade do Conselho da Europa é
realizar uma união mais estreita entre os seus Membros e que
um dos meios de alcançar esta finalidade é a protecção e
o desenvolvimento dos direitos do homem e das liberdades
fundamentais,
Reafirmando o seu profundo apego a estas liberdades
fundamentais, que constituem as verdadeiras bases da justiça e
da paz no mundo e cuja preservação repousa essencialmente,
por um lado, num regime político verdadeiramente democrático
e, por outro, numa concepção comum e no comum respeito dos
direitos do homem,
Decididos, enquanto Governos de Estados Europeus animados
no mesmo espírito, possuindo um património comum de ideais
e tradições políticas, de respeito pela liberdade e pelo primado
do direito, a tomar as primeiras providências apropriadas para

5
assegurar a garantia colectiva de certo número de direitos ARTIGO 3°
enunciados na Declaração Universal,
Proibição da tortura
Convencionaram o seguinte:
Ninguém pode ser submetido a torturas, nem a penas ou
ARTIGO 1° tratamentos desumanos ou degradantes.

Obrigação de respeitar os direitos do homem ARTIGO 4°


As Altas Partes Contratantes reconhecem a qualquer pessoa Proibição da escravatura e do trabalho forçado
dependente da sua jurisdição os direitos e liberdades definidos
1. Ninguém pode ser mantido em escravidão ou servidão.
no título I da presente Convenção.
2. Ninguém pode ser constrangido a realizar um trabalho
forçado ou obrigatório.
TÍTULO I 3. Não será considerado “trabalho forçado ou obrigatório”
DIREITOS E LIBERDADES no sentido do presente artigo:

ARTIGO 2° a) Qualquer trabalho exigido normalmente a uma pessoa


submetida a detenção nas condições previstas pelo
Direito à vida artigo 5° da presente Convenção, ou enquanto estiver
1. O direito de qualquer pessoa à vida é protegido pela lei. em liberdade condicional;
Ninguém poderá ser intencionalmente privado da vida, salvo b) Qualquer serviço de carácter militar ou, no caso
em execução de uma sentença capital pronunciada por um de objectores de consciência, nos países em que
tribunal, no caso de o crime ser punido com esta pena pela lei. a objecção de consciência for reconhecida como
2. Não haverá violação do presente artigo quando a morte legítima, qualquer outro serviço que substitua o serviço
resulte de recurso à força, tornado absolutamente necessário: militar obrigatório;
a) Para assegurar a defesa de qualquer pessoa contra c) Qualquer serviço exigido no caso de crise ou de
uma violência ilegal; calamidade que ameacem a vida ou o bem - estar da
comunidade;
b) Para efectuar uma detenção legal ou para impedir a
evasão de uma pessoa detida legalmente; d) Qualquer trabalho ou serviço que fizer parte das
obrigações cívicas normais.
c) Para reprimir, em conformidade com a lei, uma revolta
ou uma insurreição.

6 7
ARTIGO 5° 2. Qualquer pessoa presa deve ser informada, no mais breve
prazo e em língua que compreenda, das razões da sua prisão e
Direito à liberdade e à segurança de qualquer acusação formulada contra ela.
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade e segurança. 3. Qualquer pessoa presa ou detida nas condições previstas
Ninguém pode ser privado da sua liberdade, salvo nos casos no parágrafo 1, alínea c), do presente artigo deve ser
seguintes e de acordo com o procedimento legal: apresentada imediatamente a um juiz ou outro magistrado
a) Se for preso em consequência de condenação por habilitado pela lei para exercer funções judiciais e tem direito a
tribunal competente; ser julgada num prazo razoável, ou posta em liberdade durante
b) Se for preso ou detido legalmente, por desobediência a o processo. A colocação em liberdade pode estar condicionada
uma decisão tomada, em conformidade com a lei, por a uma garantia que assegure a comparência do interessado em
um tribunal, ou para garantir o cumprimento de uma juízo.
obrigação prescrita pela lei; 4. Qualquer pessoa privada da sua liberdade por prisão ou
c) Se for preso e detido a fim de comparecer perante a detenção tem direito a recorrer a um tribunal, a fim de que este
autoridade judicial competente, quando houver suspeita se pronuncie, em curto prazo de tempo, sobre a legalidade
razoável de ter cometido uma infracção, ou quando da sua detenção e ordene a sua libertação, se a detenção for
houver motivos razoáveis para crer que é necessário ilegal.
impedi-lo de cometer uma infracção ou de se pôr em 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou detenção em
fuga depois de a ter cometido; condições contrárias às disposições deste artigo tem direito a
d) Se se tratar da detenção legal de um menor, feita indemnização.
com o propósito de o educar sob vigilância, ou da
ARTIGO 6°
sua detenção legal com o fim de o fazer comparecer
perante a autoridade competente; Direito a um processo equitativo
e) Se se tratar da detenção legal de uma pessoa 1. Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja
susceptível de propagar uma doença contagiosa, de um examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável
alienado mental, de um alcoólico, de um toxicómano ou por um tribunal independente e imparcial, estabelecido pela
de um vagabundo; lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus
f) Se se tratar de prisão ou detenção legal de uma pessoa direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o fundamento
para lhe impedir a entrada ilegal no território ou contra de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra
a qual está em curso um processo de expulsão ou de ela. O julgamento deve ser público, mas o acesso à sala
extradição. de audiências pode ser proibido à imprensa ou ao público
durante a totalidade ou parte do processo, quando a bem da
moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional numa

8 9
sociedade democrática, quando os interesses de menores ou a Igualmente não pode ser imposta uma pena mais grave do que
protecção da vida privada das partes no processo o exigirem, a aplicável no momento em que a infracção foi cometida.
ou, na medida julgada estritamente necessária pelo tribunal, 2. O presente artigo não invalidará a sentença ou a pena de
quando, em circunstâncias especiais, a publicidade pudesse ser uma pessoa culpada de uma acção ou de uma omissão que,
prejudicial para os interesses da justiça. no momento em que foi cometida, constituía crime segundo
2. Qualquer pessoa acusada de uma infracção presume-se os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações
inocente enquanto a sua culpabilidade não tiver sido legalmente civilizadas.
provada.
ARTIGO 8°
3. O acusado tem, como mínimo, os seguintes direitos:
a) Ser informado no mais curto prazo, em língua que Direito ao respeito pela vida privada e familiar
entenda e de forma minuciosa, da natureza e da causa 1. Qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida
da acusação contra ele formulada; privada e familiar, do seu domicílio e da sua correspondência.
b) Dispor do tempo e dos meios necessários para a 2. Não pode haver ingerência da autoridade pública no
preparação da sua defesa; exercício deste direito senão quando esta ingerência estiver
c) Defender-se a si próprio ou ter a assistência de prevista na lei e constituir uma providência que, numa
um defensor da sua escolha e, se não tiver meios sociedade democrática, seja necessária para a segurança
para remunerar um defensor, poder ser assistido nacional, para a segurança pública, para o bem - estar
gratuitamente por um defensor oficioso, quando os económico do país, a defesa da ordem e a prevenção das
interesses da justiça o exigirem; infracções penais, a protecção da saúde ou da moral, ou a
protecção dos direitos e das liberdades de terceiros.
d) Interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de
acusação e obter a convocação e o interrogatório das ARTIGO 9°
testemunhas de defesa nas mesmas condições que as
testemunhas de acusação; Liberdade de pensamento,
de consciência e de religião
e) Fazer-se assistir gratuitamente por intérprete, se não
1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
compreender ou não falar a língua usada no processo.
de consciência e de religião; este direito implica a liberdade
ARTIGO 7° de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade
de manifestar a sua religião ou a sua crença, individual ou
Princípio da legalidade colectivamente, em público e em privado, por meio do culto, do
1. Ninguém pode ser condenado por uma acção ou uma ensino, de práticas e da celebração de ritos.
omissão que, no momento em que foi cometida, não constituía 2. A liberdade de manifestar a sua religião ou convicções,
infracção, segundo o direito nacional ou internacional. individual ou colectivamente, não pode ser objecto de

10 11
outras restrições senão as que, previstas na lei, constituírem 2. O exercício deste direito só pode ser objecto de restrições
disposições necessárias, numa sociedade democrática, à que, sendo previstas na lei, constituírem disposições necessárias,
segurança pública, à protecção da ordem, da saúde e moral numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a
públicas, ou à protecção dos direitos e liberdades de outrem. segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime,
a protecção da saúde ou da moral, ou a protecção dos direitos
ARTIGO 10° e das liberdades de terceiros. O presente artigo não proíbe
Liberdade de expressão que sejam impostas restrições legítimas ao exercício destes
direitos aos membros das forças armadas, da polícia ou da
1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão.
administração do Estado.
Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade
de receber ou de transmitir informações ou ideias sem que ARTIGO 12°
possa haver ingerência de quaisquer autoridades públicas e
sem considerações de fronteiras. O presente artigo não impede Direito ao casamento
que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de
cinematografia ou de televisão a um regime de autorização se casar e de constituir família, segundo as leis nacionais que
prévia. regem o exercício deste direito.
2. O exercício desta liberdades, porquanto implica
deveres e responsabilidades, pode ser submetido a certas ARTIGO 13°
formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela Direito a um recurso efectivo
lei, que constituam providências necessárias, numa sociedade
democrática, para a segurança nacional, a integridade Qualquer pessoa cujos direitos e liberdades reconhecidos na
territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a presente Convenção tiverem sido violados tem direito a recurso
prevenção do crime, a protecção da saúde ou da moral, a perante uma instância nacional, mesmo quando a violação tiver
protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a sido cometida por pessoas que actuem no exercício das suas
divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a funções oficiais.
autoridade e a imparcialidade do poder judicial.
ARTIGO 14°
ARTIGO 11°
Proibição de discriminação
Liberdade de reunião e de associação
O gozo dos direitos e liberdades reconhecidos na presente
1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de reunião Convenção deve ser assegurado sem quaisquer distinções, tais
pacífica e à liberdade de associação, incluindo o direito de, como as fundadas no sexo, raça, cor, língua, religião, opiniões
com outrem, fundar e filiar-se em sindicatos para a defesa dos políticas ou outras, a origem nacional ou social, a pertença a
seus interesses.

12 13
uma minoria nacional, a riqueza, o nascimento ou qualquer ARTIGO 17°
outra situação.
Proibição do abuso de direito
ARTIGO 15°
Nenhuma das disposições da presente Convenção se pode
Derrogação em caso de estado de necessidade interpretar no sentido de implicar para um Estado, grupo
1. Em caso de guerra ou de outro perigo público que ou indivíduo qualquer direito de se dedicar a actividade ou
ameace a vida da nação, qualquer Alta Parte Contratante praticar actos em ordem à destruição dos direitos ou liberdades
pode tomar providências que derroguem as obrigações reconhecidos na presente Convenção ou a maiores limitações
previstas na presente Convenção, na estrita medida em que o de tais direitos e liberdades do que as previstas na Convenção.
exigir a situação, e em que tais providências não estejam em ARTIGO 18°
contradição com as outras obrigações decorrentes do direito
internacional. Limitação da aplicação de restrições aos direitos
2. A disposição precedente não autoriza nenhuma As restrições feitas nos termos da presente Convenção aos
derrogação ao artigo 2°, salvo quanto ao caso de morte referidos direitos e liberdades só podem ser aplicadas para os
resultante de actos lícitos de guerra, nem aos artigos 3°, 4° fins que foram previstas.
(parágrafo 1) e 7°.
3. Qualquer Alta Parte Contratante que exercer este direito
de derrogação manterá completamente informado o Secretário-
TÍTULO II
Geral do Conselho da Europa das providências tomadas e TRIBUNAL EUROPEU
dos motivos que as provocaram. Deverá igualmente informar o DOS DIREITOS DO HOMEM
Secretário - Geral do Conselho da Europa da data em que essas
disposições tiverem deixado de estar em vigor e da data em ARTIGO 19°
que as da Convenção voltarem a ter plena aplicação.
Criação do Tribunal
ARTIGO 16° A fim de assegurar o respeito dos compromissos que resultam,
Restrições à actividade política dos estrangeiros para as Altas Partes Contratantes, da presente Convenção e dos
seus protocolos, é criado um Tribunal Europeu dos Direitos do
Nenhuma das disposições dos artigos 10°, 11° e 14° pode ser Homem, a seguir designado “o Tribunal”, o qual funcionará a
considerada como proibição às Altas Partes Contratantes de título permanente.
imporem restrições à actividade política dos estrangeiros.

14 15
ARTIGO 20° 2. O mandato dos juízes cessará logo que estes atinjam a
idade de 70 anos.
Número de juízes
3. Os juízes permanecerão em funções até serem substituídos.
O Tribunal compõe-se de um número de juízes igual ao número Depois da sua substituição continuarão a ocupar-se dos assuntos
de Altas Partes Contratantes. que já lhes tinham sido cometidos.
4. Nenhum juíz poderá ser afastado das suas funções, salvo
ARTIGO 21°
se os restantes juízes decidirem, por maioria de dois terços, que
Condições para o exercício de funções o juiz em causa deixou de corresponder aos requisitos exigidos.
1. Os juízes deverão gozar da mais alta reputação moral e
ARTIGO 24°
reunir as condições requeridas para o exercício de altas funções
judiciais ou ser jurisconsultos de reconhecida competência. Secretaria e relatores
2. Os juízes exercem as suas funções a título individual. 1. O Tribunal dispõe de uma secretaria, cujas tarefas e
3. Durante o respectivo mandato, os juízes não poderão organização serão definidas no regulamento do Tribunal.
exercer qualquer actividade incompatível com as exigências
2. Sempre que funcionar enquanto tribunal singular, o Tribunal
de independência, imparcialidade ou disponibilidade exigidas
será assistido por relatores que exercerão as suas funções
por uma actividade exercida a tempo inteiro. Qualquer questão
sob autoridade do Presidente do Tribunal. Estes integram a
relativa à aplicação do disposto no presente número é decidida
secretaria do Tribunal.
pelo Tribunal.

ARTIGO 22° ARTIGO 25°


Assembleia plenária do Tribunal
Eleição dos juízes
O Tribunal, reunido em assembleia plenária:
Os juízes são eleitos pela Assembleia Parlamentar relativamente
a cada Alta Parte Contratante, por maioria dos votos expressos, a) Elegerá o seu presidente e um ou dois vice-presidentes
recaindo numa lista de três candidatos apresentados pela Alta por um período de três anos. Todos eles são reelegíveis;
Parte Contratante. b) Criará secções, que funcionarão por período
determinado;
ARTIGO 23°
c) Elegerá os presidentes das secções do Tribunal, os
Duração do mandato e destituição quais são reelegíveis;
1. Os juízes são eleitos por um período de nove anos. Não d) Adoptará o regulamento do Tribunal;
são reelegíveis. e) Elegerá o secretário e um ou vários secretários-adjuntos;

16 17
f) Apresentará qualquer pedido nos termos do artigo 26°, ARTIGO 27°
n° 2.
Competência dos juízes singulares
ARTIGO 26° 1. Qualquer juiz singular pode declarar a inadmissibilidade
Tribunal singular, comités, secções e tribunal pleno ou mandar arquivar qualquer petição formulada nos termos
do artigo 34° se essa decisão puder ser tomada sem posterior
1. Para o exame dos assuntos que lhe sejam submetidos, o apreciação.
Tribunal funcionará com juiz singular, em comités compostos
por 3 juízes, em secções compostas por 7 juízes e em tribunal 2. A decisão é definitiva.
pleno composto por 17 juízes. As secções do tribunal constituem 3. Se o juiz singular não declarar a inadmissibilidade ou não
os comités por período determinado. mandar arquivar uma petição, o juiz em causa transmite-a a um
2. A pedido da Assembleia Plenária do Tribunal, o Comité comité ou a uma secção para fins de posterior apreciação.
de Ministros poderá, por decisão unânime e por período ARTIGO 28°
determinado, reduzir para cinco o número de juízes das
secções. Competência dos comités
3. Um juiz com assento na qualidade de juiz singular não 1. Um comité que conheça de uma petição individual
procederá à apreciação de qualquer petição formulada contra formulada nos termos do artigo 34° pode, por voto unânime:
a Alta Parte Contratante em nome da qual o juiz em causa a) Declarar a inadmissibilidade ou mandar arquivar a
tenha sido eleito. mesma sempre que essa decisão puder ser tomada sem
4. O juiz eleito por uma Alta Parte Contratante que seja parte posterior apreciação; ou
no diferendo será membro de direito da secção e do tribunal b) Declarar a admissibilidade da mesma e proferir ao
pleno. Em caso de ausência deste juiz ou se ele não estiver em mesmo tempo uma sentença quanto ao fundo sempre
condições de intervir, uma pessoa escolhida pelo Presidente do que a questão subjacente ao assunto e relativa à
Tribunal de uma lista apresentada previamente por essa Parte interpretação ou à aplicação da Convenção ou dos
intervirá na qualidade de juiz. respectivos Protocolos for já objecto de jurisprudência
5. Integram igualmente o tribunal pleno o presidente do bem firmada do Tribunal.
Tribunal, os vice-presidentes, os presidentes das secções e outros 2. As decisões e sentenças previstas pelo n° 1 são definitivas.
juízes designados em conformidade com o regulamento do
3. Se o juiz eleito pela Alta Parte Contratante, parte no
Tribunal. Se o assunto tiver sido deferido ao tribunal pleno nos
litígio, não for membro do comité, o comité pode, em qualquer
termos do artigo 43°, nenhum juiz da secção que haja proferido
momento do processo, convidar o juiz em causa a ter assento
a decisão poderá naquele intervir, salvo no que respeita ao
no lugar de um dos membros do comité, tendo em consideração
presidente da secção e ao juiz que decidiu em nome da Alta
todos os factores relevantes, incluindo a questão de saber se
Parte Contratante que seja Parte interessada.

18 19
essa Parte contestou a aplicação do processo previsto no n° 1, ARTIGO 31°
alínea b).
Atribuições do tribunal pleno
ARTIGO 29°
O tribunal pleno:
Decisões das secções quanto a) Pronunciar-se-á sobre as petições formuladas nos
à admissibilidade e ao fundo
termos do artigo 33° ou do artigo 34°, se a secção
1. Se nenhuma decisão tiver sido tomada nos termos dos tiver cessado de conhecer de um assunto nos termos do
artigos 27° ou 28°, e se nenhuma sentença tiver sido proferida artigo 30° ou se o assunto lhe tiver sido cometido nos
nos termos do artigo 28°, uma das secções pronunciar-se-á termos do artigo 43°;
quanto à admissibilidade e ao fundo das petições individuais
b) Pronunciar-se-á sobre as questões submetidas ao
formuladas nos termos do artigo 34°. A decisão quanto à
Tribunal pelo Comité de Ministros nos termos do artigo
admissibilidade pode ser tomada em separado.
46°, n° 4; e
2. Uma das secções pronunciar-se-á quanto à admissibilidade
c) Apreciará os pedidos de parecer formulados nos termos
e ao fundo das petições estaduais formuladas nos termos do
do artigo 47°.
artigo 33°. A decisão quanto à admissibilidade é tomada
em separado, salvo deliberações em contrário do Tribunal ARTIGO 32°
relativamente a casos excepcionais.
Competência do Tribunal
ARTIGO 30° 1. A competência do Tribunal abrange todas as questões
Devolução da decisão a favor do tribunal pleno relativas à interpretação e à aplicação da Convenção e dos
respectivos protocolos que lhe sejam submetidas nas condições
Se um assunto pendente numa secção levantar uma questão previstas pelos artigos 33°, 34°,46° e 47°.
grave quanto à interpretação da Convenção ou dos seus
2. O Tribunal decide sobre quaisquer contestações à sua
protocolos, ou se a solução de um litígio puder conduzir a
competência.
uma contradição com uma sentença já proferida pelo Tribunal,
a secção pode, antes de proferir a sua sentença, devolver a ARTIGO 33°
decisão do litígio ao tribunal pleno, salvo se qualquer das
partes do mesmo a tal se opuser. Assuntos interestaduais
Qualquer Alta Parte Contratante pode submeter ao Tribunal
qualquer violação das disposições da Convenção e dos seus
protocolos que creia poder ser imputada a outra Alta Parte
Contratante.

20 21
ARTIGO 34° b) O autor da petição não sofreu qualquer prejuízo
significativo, salvo se o respeito pelos direitos do
Petições individuais homem garantidos na Convenção e nos respectivos
O Tribunal pode receber petições de qualquer pessoa singular, Protocolos exigir uma apreciação da petição quanto ao
organização não governamental ou grupo de particulares fundo e contanto que não se rejeite, por esse motivo,
que se considere vítima de violação por qualquer Alta Parte qualquer questão que não tenha sido devidamente
Contratante dos direitos reconhecidos na Convenção ou nos apreciada por um tribunal interno.
seus protocolos. As Altas Partes Contratantes comprometem - se 4. O Tribunal rejeitará qualquer petição que considere
a não criar qualquer entrave ao exercício efectivo desse direito. inadmissível nos termos do presente artigo. O Tribunal poderá
decidir nestes termos em qualquer momento do processo.
ARTIGO 35°
ARTIGO 36°
Condições de admissibilidade
1. O Tribunal só pode ser solicitado a conhecer de um Intervenção de terceiros
assunto depois de esgotadas todas as vias de recurso internas, 1. Em qualquer assunto pendente numa secção ou no tribunal
em conformidade com os princípios de direito internacional pleno, a Alta Parte Contratante da qual o autor da petição seja
geralmente reconhecidos e num prazo de seis meses a contar nacional terá o direito de formular observações por escrito ou
da data da decisão interna definitiva. de participar nas audiências.
2. O Tribunal não conhecerá de qualquer petição individual 2. No interesse da boa administração da justiça, o
formulada em aplicação do disposto no artigo 34° se tal presidente do Tribunal pode convidar qualquer Alta Parte
petição: Contratante que não seja parte no processo ou qualquer outra
a) For anónima; pessoa interessada que não o autor da petição a apresentar
observações escritas ou a participar nas audiências.
b) For, no essencial, idêntica a uma petição anteriormente
examinada pelo Tribunal ou já submetida a outra 3. Em qualquer assunto pendente numa secção ou no tribunal
instância internacional de inquérito ou de decisão e não pleno, o Comissário para os Direitos do Homem do Conselho
contiver factos novos. da Europa poderá formular observações por escrito e participar
nas audiências.
3. O Tribunal declarará a inadmissibilidade de qualquer
petição individual formulada nos termos do artigo 34° sempre ARTIGO 37°
que considerar que:
Arquivamento
a) A petição é incompatível com o disposto na Convenção
ou nos seus Protocolos, é manifestamente mal fundada 1. O Tribunal pode decidir, em qualquer momento do
ou tem carácter abusivo; ou processo, arquivar uma petição se as circunstâncias permitirem
concluir que:

22 23
a) O requerente não pretende mais manter tal petição; 3. Em caso de resolução amigável, o Tribunal arquivará o
b) O litígio foi resolvido; assunto, proferindo, para o efeito, uma decisão que conterá
uma breve exposição dos factos e da solução adoptada.
c) Por qualquer outro motivo constatado pelo Tribunal, não
se justifica prosseguir a apreciação da petição. 4. Tal decisão será transmitida ao Comité de Ministros, o qual
velará pela execução dos termos da resolução amigável tais
Contudo, o Tribunal dará seguimento à apreciação da petição como constam da decisão.
se o respeito pelos direitos do homem garantidos na Convenção
assim o exigir. ARTIGO 40°
2. O Tribunal poderá decidir - se pelo desarquivamento Audiência pública e acesso aos documentos
de uma petição se considerar que as circunstâncias assim o
1. A audiência é pública, salvo se o Tribunal decidir em
justificam.
contrário por força de circunstâncias excepcionais.
ARTIGO 38° 2. Os documentos depositados na secretaria ficarão acessíveis
ao público, salvo decisão em contrário do presidente do
Apreciação contraditória do assunto
Tribunal.
O Tribunal procederá a uma apreciação contraditória do
assunto em conjunto com os representantes das Partes e, se for ARTIGO 41°
caso disso, realizará um inquérito para cuja eficaz condução Reparação razoável
as Altas Partes Contratantes interessadas fornecerão todas as
facilidades necessárias. Se o Tribunal declarar que houve violação da Convenção
ou dos seus protocolos e se o direito interno da Alta Parte
ARTIGO 39° Contratante não permitir senão imperfeitamente obviar às
consequências de tal violação, o Tribunal atribuirá à parte
Resoluções amigáveis
lesada uma reparação razoável, se necessário.
1. O Tribunal poderá, em qualquer momento do processo,
colocar-se à disposição dos interessados com o objectivo de ARTIGO 42°
se alcançar uma resolução amigável do assunto, inspirada no
Decisões das secções
respeito pelos direitos do homem como tais reconhecidos pela
Convenção e pelos seus Protocolos. As decisões tomadas pelas secções tornam - se definitivas em
2. O processo descrito no n° 1 do presente artigo é conformidade com o disposto no n° 2 do artigo 44°.
confidencial.

24 25
ARTIGO 43° ARTIGO 45°
Devolução ao tribunal pleno Fundamentação das sentenças e das decisões
1. Num prazo de três meses a contar da data da sentença 1. As sentenças, bem como as decisões que declarem a
proferida por uma secção, qualquer parte no assunto poderá, admissibilidade ou a inadmissibilidade das petições, serão
em casos excepcionais, solicitar a devolução do assunto ao fundamentadas.
tribunal pleno. 2. Se a sentença não expressar, no todo ou em parte, a
2. Um colectivo composto por cinco juízes do tribunal pleno opinião unânime dos juízes, qualquer juiz terá o direito de lhe
aceitará a petição, se o assunto levantar uma questão grave juntar uma exposição da sua opinião divergente.
quanto à interpretação ou à aplicação da Convenção ou dos
seus protocolos ou ainda se levantar uma questão grave de ARTIGO 46°
carácter geral. Força vinculativa e execução das sentenças
3. Se o colectivo aceitar a petição, o tribunal pleno 1. As Altas Partes Contratantes obrigam-se a respeitar as
pronunciar-se- á sobre o assunto por meio de sentença. sentenças definitivas do Tribunal nos litígios em que forem
partes.
ARTIGO 44°
2. A sentença definitiva do Tribunal será transmitida ao
Sentenças definitivas Comité de Ministros, o qual velará pela sua execução.
1. A sentença do tribunal pleno é definitiva. 3. Sempre que o Comité de Ministros considerar que a
2. A sentença de uma secção pronunciar-se-á definitiva: supervisão da execução de uma sentença definitiva está a ser
a) Se as partes declararem que não solicitarão a entravada por uma dificuldade de interpretação dessa sentença,
devolução do assunto ao tribunal pleno; poderá dar conhecimento ao Tribunal a fim que o mesmo se
pronuncie sobre essa questão de interpretação. A decisão de
b) Três meses após a data da sentença, se a devolução do
submeter a questão à apreciação do tribunal será tomada por
assunto ao tribunal pleno não for solicitada;
maioria de dois terços dos seus membros titulares.
c) Se o colectivo do tribunal pleno rejeitar a petição de
4. Sempre que o Comité de Ministros considerar que uma Alta
devolução formulada nos termos do artigo 43°.
Parte Contratante se recusa a respeitar uma sentença definitiva
3. A sentença definitiva será publicada. num litígio em que esta seja parte, poderá, após notificação
dessa Parte e por decisão tomada por maioria de dois terços
dos seus membros titulares, submeter à apreciação do Tribunal
a questão sobre o cumprimento, por essa Parte, da sua
obrigação em conformidade com o n° 1.

26 27
5. Se o Tribunal constatar que houve violação do n° 1, o fazer acompanhar de uma exposição com a sua opinião
devolverá o assunto ao Comité de Ministros para fins de divergente.
apreciação das medidas a tomar. Se o Tribunal constatar que 3. O parecer do Tribunal será comunicado ao Comité de
não houve violação do n° 1, devolverá o assunto ao Comité de Ministros.
Ministros, o qual decidir-se-á pela conclusão da sua apreciação.
ARTIGO 50°
ARTIGO 47°
Despesas de funcionamento do Tribunal
Pareceres
As despesas de funcionamento do Tribunal serão suportadas
1. A pedido do Comité de Ministros, o Tribunal pode emitir
pelo Conselho da Europa.
pareceres sobre questões jurídicas relativas à interpretação da
Convenção e dos seus protocolos. ARTIGO 51°
2. Tais pareceres não podem incidir sobre questões relativas
Privilégios e imunidades dos juízes
ao conteúdo ou à extensão dos direitos e liberdades definidos
no título I da Convenção e nos protocolos, nem sobre outras Os juízes gozam, enquanto no exercício das suas funções, dos
questões que, em virtude do recurso previsto pela Convenção, privilégios e imunidades previstos no artigo 40° do Estatuto do
possam ser submetidas ao Tribunal ou ao Comité de Ministros. Conselho da Europa e nos acordos concluídos em virtude desse
3. A decisão do Comité de Ministros de solicitar um parecer artigo.
ao Tribunal será tomada por voto maioritário dos seus membros
titulares.
TÍTULO III
ARTIGO 48° DISPOSIÇÕES DIVERSAS
Competência consultiva do Tribunal
O Tribunal decidirá se o pedido de parecer apresentado pelo ARTIGO 52°
Comité de Ministros cabe na sua competência consultiva, tal
como a define o artigo 47°. Inquéritos do Secretário - Geral
Qualquer Alta Parte Contratante deverá fornecer, a
ARTIGO 49°
requerimento do Secretário-Geral do Conselho da Europa, os
Fundamentação dos pareceres esclarecimentos pertinentes sobre a forma como o seu direito
1. O parecer do Tribunal será fundamentado. interno assegura a aplicação efectiva de quaisquer disposições
desta Convenção.
2. Se o parecer não expressar, no seu todo ou em parte,
a opinião unânime dos juízes, qualquer juiz tem o direito de

28 29
ARTIGO 53° a presente Convenção se aplicará, sob reserva do n° 4 do
presente artigo, a todos os territórios ou a quaisquer dos
Salvaguarda dos direitos do homem territórios cujas relações internacionais assegura.
reconhecidos por outra via
2. A Convenção será aplicada ao território ou territórios
Nenhuma das disposições da presente Convenção será designados na notificação, a partir do trigésimo dia seguinte à
interpretada no sentido de limitar ou prejudicar os direitos data em que o Secretário - Geral do Conselho da Europa a tiver
do homem e as liberdades fundamentais que tiverem sido recebido.
reconhecidos de acordo com as leis de qualquer Alta Parte
3. Nos territórios em causa, as disposições da presente
Contratante ou de qualquer outra Convenção em que aquela
Convenção serão aplicáveis tendo em conta as necessidades
seja parte.
locais.
ARTIGO 54° 4. Qualquer Estado que tiver feito uma declaração de
conformidade com o primeiro parágrafo deste artigo pode, em
Poderes do Comité de Ministros
qualquer momento ulterior, declarar que aceita, a respeito de
Nenhuma das disposições da presente Convenção afecta os um ou vários territórios em questão, a competência do Tribunal
poderes conferidos ao Comité de Ministros pelo Estatuto do para aceitar petições de pessoas singulares, de organizações
Conselho da Europa. não governamentais ou de grupos de particulares, conforme
previsto pelo artigo 34° da Convenção.
ARTIGO 55°
ARTIGO 57°
Renúncia a outras formas de resolução de litígios
Reservas
As Altas Partes Contratantes renunciam reciprocamente, salvo
acordo especial, a aproveitar-se dos tratados, convénios ou 1. Qualquer Estado pode, no momento da assinatura desta
declarações que entre si existirem, com o fim de resolver, por Convenção ou do depósito do seu instrumento de ratificação,
via contenciosa, uma divergência de interpretação ou aplicação formular uma reserva a propósito de qualquer disposição da
da presente Convenção por processo de solução diferente dos Convenção, na medida em que uma lei então em vigor no seu
previstos na presente Convenção. território estiver em discordância com aquela disposição. Este
artigo não autoriza reservas de carácter geral.
ARTIGO 56° 2. Toda a reserva feita em conformidade com o presente
Aplicação territorial artigo será acompanhada de uma breve descrição da lei em
causa.
1. Qualquer Estado pode, no momento da ratificação ou
em qualquer outro momento ulterior, declarar, em notificação
dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, que

30 31
ARTIGO 58° 4. Para todo o signatário que a ratifique ulteriormente, a
Convenção entrará em vigor no momento em que se realizar o
Denúncia depósito do instrumento de ratificação.
1. Uma Alta Parte Contratante só pode denunciar a presente 5. O Secretário-Geral do Conselho da Europa notificará
Convenção ao fim do prazo de cinco anos a contar da data da todos os membros do Conselho da Europa da entrada em
entrada em vigor da Convenção para a dita Parte, e mediante vigor da Convenção, dos nomes das Altas Partes Contratantes
um pré - aviso de seis meses, feito em notificação dirigida ao que a tiverem ratificado, assim como do depósito de todo o
Secretário - Geral do Conselho da Europa, o qual informará as instrumento de ratificação que ulteriormente venha a ser feito.
outras Partes Contratantes.
Feito em Roma, aos 4 de Novembro de 1950, em francês
2. Esta denúncia não pode ter por efeito desvincular a
e em inglês, os dois textos fazendo igualmente fé, num só
Alta Parte Contratante em causa das obrigações contidas na
exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho da
presente Convenção no que se refere a qualquer facto que,
Europa. O Secretário-Geral enviará cópias conformes a todos
podendo constituir violação daquelas obrigações, tivesse
os signatários.
sido praticado pela dita Parte anteriormente à data em que a
denúncia produz efeito.
3. Sob a mesma reserva, deixará de ser parte na presente Protocolo adicional
Convenção qualquer Alta Parte Contratante que deixar de ser
membro do Conselho da Europa.
4. A Convenção poderá ser denunciada, nos termos dos à Convenção de Protecção dos
parágrafos precedentes, em relação a qualquer território a que Direitos do Homem e das Liberdades
tiver sido declarada aplicável nos termos do artigo 56°.
Fundamentais
ARTIGO 59°
Paris, 20.3.1952
Assinatura e ratificação
1. A presente Convenção está aberta à assinatura dos
(Epígrafes dos artigos acrescentadas e texto modificado nos
membros do Conselho da Europa. Será ratificada. As
termos das disposições do Protocolo n° 11, a partir da entrada
ratificações serão depositadas junto do Secretário - Geral do
deste em vigor, em 1 de Novembro de 1998)
Conselho da Europa.
2. A União Europeia poderá aderir à presente Convenção. Os Governos signatários, Membros do Conselho da Europa,
3. A presente Convenção entrará em vigor depois do depósito Resolvidos a tomar providências apropriadas para assegurar
de dez instrumentos de ratificação. a garantia colectiva de direitos e liberdades, além dos que já
figuram no título I da Convenção de Protecção dos Direitos do

32 33
Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em Roma em condições que assegurem a livre expressão da opinião do povo
4 de Novembro de 1950 (abaixo designada “a Convenção”). na eleição do órgão legislativo.
Convieram no seguinte: ARTIGO 4°
ARTIGO 1° Aplicação territorial
Protecção da propriedade Qualquer Alta Parte Contratante pode, no momento da
assinatura ou da ratificação do presente Protocolo, ou em
Qualquer pessoa singular ou colectiva tem direito ao
qualquer momento posterior, endereçar ao Secretário - Geral
respeito dos seus bens. Ninguém pode ser privado do que
do Conselho da Europa uma declaração em que indique que as
é sua propriedade a não ser por utilidade pública e nas
disposições do presente Protocolo se aplicam a territórios cujas
condições previstas pela lei e pelos princípios gerais do direito
relações internacionais assegura.
internacional.
Qualquer Alta Parte Contratante que tiver feito uma declaração
As condições precedentes entendem - se sem prejuízo do direito
nos termos do parágrafo anterior pode, a qualquer momento,
que os Estados possuem de pôr em vigor as leis que julguem
fazer uma nova declaração em que modifique os termos de
necessárias para a regulamentação do uso dos bens, de acordo
qualquer declaração anterior ou em que ponha fim à aplicação
com o interesse geral, ou para assegurar o pagamento de
do presente Protocolo em relação a qualquer dos territórios em
impostos ou outras contribuições ou de multas.
causa.
ARTIGO 2° Uma declaração feita em conformidade com o presente artigo
Direito à instrução será considerada como se tivesse sido feita em conformidade
com o parágrafo 1 do artigo 56° da Convenção.
A ninguém pode ser negado o direito à instrução. O Estado,
no exercício das funções que tem de assumir no campo da ARTIGO 5°
educação e do ensino, respeitará o direito dos pais a assegurar
Relações com a Convenção
aquela educação e ensino consoante as suas convicções
religiosas e filosóficas. As Altas Partes Contratantes consideram os artigos 1°, 2°,
3° e 4° do presente Protocolo como adicionais à Convenção
ARTIGO 3° e todas as disposições da Convenção serão aplicadas em
Direito a eleições livres consequência.

As Altas Partes Contratantes obrigam - se a organizar, com


intervalos razoáveis, eleições livres, por escrutínio secreto, em

34 35
ARTIGO 6° Protocolo n° 4
Assinatura e ratificação
O presente Protocolo está aberto à assinatura dos membros do em que se reconhecem certos direitos
Conselho da Europa, signatários da Convenção; será ratificado
ao mesmo tempo que a Convenção ou depois da ratificação
e liberdades além dos que já figuram
desta. Entrará em vigor depois de depositados dez instrumentos na Convenção e no Protocolo
de ratificação. Para qualquer signatário que a ratifique
ulteriormente, o Protocolo entrará em vigor desde o momento
adicional à Convenção
em que se fizer o depósito do instrumento de ratificação. Estrasburgo, 16.9.1963
Os instrumentos de ratificação serão depositados junto do
Secretário -Geral do Conselho da Europa, o qual participará a (Epígrafes dos artigos acrescentadas e texto modificado nos
todos os Membros os nomes daqueles que o tiverem ratificado. termos das disposições do Protocolo n° 11, a partir da entrada
Feito em Paris, aos 20 de Março de 1952, em francês e em deste em vigor, em 1 de Novembro de 1998)
inglês, os dois textos fazendo igualmente fé, num só exemplar, Os Governos signatários, membros do Conselho da Europa,
que será depositado nos arquivos do Conselho da Europa.
O Secretário - Geral enviará cópia conforme a cada um dos Resolvidos a tomar as providências apropriadas para assegurar
Governos signatários. a garantia colectiva de direitos e liberdades, além dos que
já figuram no título I da Convenção de Salvaguarda dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada
em Roma em 4 de Novembro de 1950 (abaixo designada
“a Convenção”), e nos artigos 1° a 3° do primeiro Protocolo
Adicional à Convenção, assinado em Paris
em 20 de Março de 1952,
Convieram no seguinte:

ARTIGO 1°
Proibição da prisão por dívidas
Ninguém pode ser privado da sua liberdade pela única razão
de não poder cumprir uma obrigação contratual.

36 37
ARTIGO 2° ARTIGO 5°
Liberdade de circulação Aplicação territorial
1. Qualquer pessoa que se encontra em situação regular em 1. Qualquer Alta Parte Contratante pode, no momento da
território de um Estado tem direito a nele circular livremente e a assinatura ou ratificação do presente Protocolo ou em qualquer
escolher livremente a sua residência. outro momento posterior, comunicar ao Secretário - Geral do
2. Toda a pessoa é livre de deixar um país qualquer, incluindo Conselho da Europa uma declaração na qual indique até que
o seu próprio. ponto se obriga a aplicar as disposições do presente Protocolo
nos territórios que forem designados na dita declaração.
3. O exercício destes direitos não pode ser objecto de
outras restrições senão as que, previstas pela lei, constituem 2. Qualquer Alta Parte Contratante que tiver feito uma
providências necessárias, numa sociedade democrática, para declaração nos termos do parágrafo precedente pode, quando
a segurança nacional, a segurança pública, a manutenção da o desejar, fazer nova declaração para modificar os termos de
ordem pública, a prevenção de infracções penais, a protecção qualquer declaração anterior ou para pôr fim à aplicação do
da saúde ou da moral ou a salvaguarda dos direitos e presente Protocolo em relação a qualquer dos territórios em
liberdades de terceiros. causa.
4. Os direitos reconhecidos no parágrafo 1 podem 3. Uma declaração feita em conformidade com este artigo
igualmente, em certas zonas determinadas, ser objecto de considerar - se - á como feita em conformidade com
restrições que, previstas pela lei, se justifiquem pelo interesse o parágrafo 1 do artigo 56° da Convenção.
público numa sociedade democrática. 4. O território de qualquer Estado a que o presente Protocolo
se aplicar em virtude da sua ratificação ou da sua aceitação
ARTIGO 3° pelo dito Estado e cada um dos territórios aos quais o Protocolo
Proibição da expulsão de nacionais se aplicar em virtude de declaração feita pelo mesmo Estado em
conformidade com o presente artigo serão considerados como
1. Ninguém pode ser expulso, em virtude de disposição
territórios diversos para os efeitos das referências ao território
individual ou colectiva, do território do Estado de que for
de um Estado contidas nos artigos 2° e 3°.
cidadão.
5. Qualquer Estado que tiver feito uma declaração nos termos
2. Ninguém pode ser privado do direito de entrar no território
do n° 1 ou 2 do presente artigo poderá, em qualquer momento
do Estado de que for cidadão.
ulterior, declarar que aceita, relativamente a um ou vários dos
ARTIGO 4° seus territórios referidos nessa declaração, a competência do
Tribunal para conhecer das petições apresentadas por pessoas
Proibição de expulsão colectiva de estrangeiros singulares, organizações não governamentais ou grupos de
particulares, em conformidade com o artigo 34° da Convenção
São proibidas as expulsões colectivas de estrangeiros.

38 39
relativamente aos artigos 1° a 4° do presente Protocolo ou
alguns de entre eles.
Protocolo n° 6
ARTIGO 6°
à Convenção para a Protecção dos
Relações com a Convenção
Direitos do Homem e das Liberdades
As Altas Partes Contratantes considerarão os artigos 1° a 5°
deste Protocolo como artigos adicionais à Convenção e todas as
Fundamentais Relativo à abolição da
disposições da Convenção se aplicarão em consequência. Pena de Morte
ARTIGO 7° Estrasburgo, 28.4.1983

Assinatura e ratificação
1. O presente Protocolo fica aberto à assinatura dos membros (Epígrafes dos artigos acrescentadas e texto modificado nos
do Conselho da Europa, signatários da Convenção; será termos das disposições do Protocolo n° 11, a partir da entrada
ratificado ao mesmo tempo que a Convenção ou depois deste em vigor, em 1 de Novembro de 1998)
da ratificação desta. Entrará em vigor quando tiverem sido Os Estados membros do Conselho da Europa signatários do
depositados cinco instrumentos de ratificação. Para todo o presente Protocolo à Convenção para a Protecção dos Direitos
signatário que o ratificar ulteriormente, o Protocolo entrará do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em Roma
em vigor no momento em que depositar o seu instrumento de em 4 de Novembro de 1950 (daqui em diante designada
ratificação. “a Convenção”),
2. O Secretário - Geral do Conselho da Europa terá
Considerando que a evolução verificada em vários Estados
competência para receber o depósito dos instrumentos de
membros do Conselho da Europa exprime uma tendência geral
ratificação e notificará todos os membros dos nomes dos
a favor da abolição da pena de morte;
Estados que a tiverem ratificado.
Acordaram no seguinte:
Em fé do que os abaixo assinados, para tal devidamente
autorizados, assinaram o presente Protocolo. ARTIGO 1°
Feito em Estrasburgo, aos 16 de Setembro de 1963, em francês Abolição da pena de morte
e em inglês, os dois textos fazendo igualmente fé, num único
exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho da A pena de morte é abolida. Ninguém pode ser condenado a tal
Europa. O Secretário -Geral enviará cópia conforme a cada um pena ou executado.
dos Estados signatários.

40 41
ARTIGO 2° entrará em vigor, no que respeita a esse território, no primeiro
dia do mês seguinte à data de recepção da declaração pelo
Pena de morte em tempo de guerra Secretário - Geral.
Um Estado pode prever na sua legislação a pena de morte para 3. Qualquer declaração feita em aplicação dos dois números
actos praticados em tempo de guerra ou de perigo iminente de anteriores poderá ser retirada, relativamente a qualquer
guerra; tal pena não será aplicada senão nos casos previstos território designado nessa declaração, mediante notificação
por esta legislação e de acordo com as suas disposições. dirigida ao Secretário - Geral. A retirada produzirá efeito no
Este Estado comunicará ao Secretário - Geral do Conselho da primeiro dia do mês seguinte à data da recepção da notificação
Europa as disposições correspondentes da legislação em causa. pelo Secretário - Geral.

ARTIGO 3° ARTIGO 6°
Proibição de derrogações Relações com a Convenção
Não é permitida qualquer derrogação às disposições Os Estados partes consideram os artigos 1° a 5° do
do presente Protocolo com fundamento no artigo 15° da presente Protocolo como artigos adicionais à Convenção e,
Convenção. consequentemente, todas as disposições da Convenção são
aplicáveis.
ARTIGO 4°
ARTIGO 7°
Proibição de reservas
Assinatura e ratificação
Não são admitidas reservas às disposições do presente
Protocolo com fundamento no artigo 57° da Convenção. Este Protocolo fica aberto à assinatura dos Estados membros
do Conselho da Europa signatários da Convenção. Será
ARTIGO 5° submetido a ratificação, aceitação ou aprovação. Um Estado
Aplicação territorial do Conselho da Europa não poderá ratificar, aceitar ou aprovar
este Protocolo sem ter simultânea ou anteriormente ratificado
1. Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou
a Convenção. Os instrumentos de ratificação, aceitação ou
no momento do depósito do seu instrumento de ratificação,
aprovação serão depositados junto do Secretário - Geral do
de aceitação ou de aprovação, designar o território ou os
Conselho da Europa.
territórios a que se aplicará o presente Protocolo.
2. Qualquer Estado pode, em qualquer momento posterior,
mediante declaração dirigida ao Secretário - Geral do Conselho
da Europa, alargar a aplicação deste Protocolo a qualquer
outro território designado na sua declaração. O Protocolo

42 43
ARTIGO 8° Europa. O Secretário - Geral do Conselho da Europa dele
enviará cópia devidamente certificada a cada um dos Estados
Entrada em vigor membros do Conselho da Europa.
1. O presente Protocolo entrará em vigor no primeiro dia
do mês seguinte à data em que cinco Estados membros do
Conselho da Europa tenham exprimido o seu consentimento em Protocolo n° 7
ficarem vinculados pelo Protocolo, em conformidade com as
disposições do artigo 7°.
2. Relativamente a qualquer Estado membro que exprima
à Convenção para a Protecção
posteriormente o seu consentimento em ficar vinculado pelo dos Direitos do Homem
Protocolo, este entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte
à data de depósito do instrumento de ratificação, de aceitação
e das Liberdades Fundamentais
ou de aprovação. Estrasburgo, 22.11.1984
ARTIGO 9°
(Epígrafes dos artigos acrescentadas e texto modificado nos
Funções do depositário
termos das disposições do Protocolo n° 11, a partir da entrada
O Secretário - Geral do Conselho da Europa notificará aos deste em vigor, em 1 de Novembro de 1998)
Estados membros do Conselho:
Os Estados membros do Conselho da Europa, signatários do
a) Qualquer assinatura; presente Protocolo;
b) O depósito de qualquer instrumento de ratificação, de
Decididos a tomar novas providências apropriadas para
aceitação ou de aprovação;
assegurar a garantia colectiva de certos direitos e liberdades
c) Qualquer data de entrada em vigor do presente pela Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e
Protocolo, em conformidade com os artigos 5° e 8°; das Liberdades Fundamentais, assinada em Roma em 4 de
d) Qualquer outro acto, notificação ou comunicação Novembro de 1950 (abaixo designada “a Convenção”);
relativos ao presente Protocolo.
Convieram no seguinte:
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados
para este efeito, assinaram o presente Protocolo. ARTIGO 1°

Feito em Estrasburgo, aos 28 dias de Abril de 1983, em francês Garantias processuais em caso
de expulsão de estrangeiros
e em inglês, fazendo ambos os textos igualmente fé, num único
exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho da 1. Um estrangeiro que resida legalmente no território de um
Estado não pode ser expulso, a não ser em cumprimento de

44 45
uma decisão tomada em conformidade com a lei, e deve ter a ARTIGO 3°
possibilidade de:
Direito a indemnização em caso de erro judiciário
a) Fazer valer as razões que militam contra a sua
expulsão; Quando uma condenação penal definitiva é ulteriormente
b) Fazer examinar o seu caso; e anulada ou quando é concedido o indulto, porque um facto
novo ou recentemente revelado prova que se produziu um erro
c) Fazer - se representar, para esse fim, perante a
judiciário, a pessoa que cumpriu uma pena em virtude dessa
autoridade competente ou perante uma ou várias
condenação será indemnizada, em conformidade com a lei ou
pessoas designadas por essa autoridade.
com o processo em vigor no Estado em causa, a menos que se
2. Um estrangeiro pode ser expulso antes do exercício dos prove que a não revelação em tempo útil de facto desconhecido
direitos enumerados no n° 1, alíneas a), b) e c), deste artigo, lhe é imputável no todo ou em parte.
quando essa expulsão seja necessária no interesse da ordem
pública ou se funde em razões de segurança nacional. ARTIGO 4°

ARTIGO 2° Direito a não ser julgado


ou punido mais de uma vez
Direito a um duplo grau de jurisdição 1. Ninguém pode ser penalmente julgado ou punido pelas
em matéria penal
jurisdições do mesmo Estado por motivo de uma infracção pela
1. Qualquer pessoa declarada culpada de uma infracção qual já foi absolvido ou condenado por sentença definitiva, em
penal por um tribunal tem o direito de fazer examinar por conformidade com a lei e o processo penal desse Estado.
uma jurisdição superior a declaração de culpabilidade ou
2. As disposições do número anterior não impedem a
a condenação. O exercício deste direito, bem como os
reabertura do processo, nos termos da lei e do processo penal
fundamentos pelos quais ele pode ser exercido, são regulados
do Estado em causa, se factos novos ou recentemente revelados
pela lei.
ou um vício fundamental no processo anterior puderem afectar o
2. Este direito pode ser objecto de excepções em relação a resultado do julgamento.
infracções menores, definidas nos termos da lei, ou quando
3. Não é permitida qualquer derrogação ao presente artigo
o interessado tenha sido julgado em primeira instância pela
com fundamento no artigo 15° da Convenção.
mais alta jurisdição ou declarado culpado e condenado no
seguimento de recurso contra a sua absolvição. ARTIGO 5°
Igualdade entre os cônjuges
Os cônjuges gozam de igualdade de direitos e de
responsabilidades de carácter civil, entre si e nas relações com
os seus filhos, em relação ao casamento, na constância do

46 47
matrimónio e aquando da sua dissolução. O presente artigo aprovação pelo referido Estado, e cada um dos territórios a que
não impede os Estados de tomarem as medidas necessárias no o Protocolo se aplica, em virtude de uma declaração subscrita
interesse dos filhos. pelo referido Estado nos termos do presente artigo, podem ser
considerados territórios distintos para os efeitos da referência ao
ARTIGO 6° território de um Estado feita no artigo 1°.
Aplicação territorial 6. Qualquer Estado que tiver feito uma declaração em
1. Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou conformidade com o n° 1 ou 2 do presente artigo poderá, em
no momento do depósito do seu instrumento de ratificação, qualquer momento ulterior, declarar que aceita, relativamente
aceitação ou aprovação, designar o ou os territórios a que o a um ou vários dos seus territórios referidos nessa declaração,
presente Protocolo se aplicará e declarar em que medida se a competência do Tribunal para conhecer das petições
compromete a que as disposições do presente Protocolo sejam apresentadas por pessoas singulares, organizações não
aplicadas nesse ou nesses territórios. governamentais ou grupos de particulares, em conformidade
com o artigo 34° da Convenção relativamente aos artigos 1°
2. Qualquer Estado pode, em qualquer momento ulterior e
a 5° do presente Protocolo ou alguns de entre eles.
por meio de uma declaração dirigida ao Secretário - Geral
do Conselho da Europa, estender a aplicação do Protocolo ARTIGO 7°
a qualquer outro território designado nessa declaração. O
Protocolo entrará em vigor, em relação a esse território, no Relações com a Convenção
primeiro dia do mês seguinte ao termo de um prazo de dois Os Estados Partes consideram os artigos 1° a 6° do presente
meses a partir da data de recepção dessa declaração pelo Protocolo como artigos adicionais à Convenção e todas as
Secretário – Geral. disposições da Convenção se aplicarão em consequência.
3. Qualquer declaração feita nos termos dos números
anteriores pode ser retirada ou modificada em relação a ARTIGO 8°
qualquer território nela designado, por meio de uma notificação Assinatura e ratificação
dirigida ao Secretário - Geral. A retirada ou a modificação
produz efeitos a partir do primeiro dia do mês seguinte ao O presente Protocolo fica aberto à assinatura dos Estados
termo de um prazo de dois meses após a data de recepção da membros do Conselho da Europa, signatários da Convenção.
notificação pelo Secretário - Geral. Ficará sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação. Nenhum
Estado membro do Conselho da Europa poderá ratificar,
4. Uma declaração feita nos termos do presente artigo será
aceitar ou aprovar o presente Protocolo sem ter, simultânea
considerada como tendo sido feita em conformidade com o n° 1
ou previamente, ratificado a Convenção. Os instrumentos de
do artigo 56° da Convenção.
ratificação, de aceitação ou de aprovação serão depositados
5. O território de qualquer Estado a que o presente Protocolo junto do Secretário - Geral do Conselho da Europa.
se aplica, em virtude da sua ratificação, aceitação ou

48 49
ARTIGO 9° da Europa. O Secretário - Geral do Conselho da Europa
enviará cópia autenticada a cada um dos Estados membros do
Entrada em vigor Conselho da Europa.
1. O presente Protocolo entrará em vigor no primeiro dia do
mês seguinte ao termo de um prazo de dois meses a partir da
data em que sete Estados membros do Conselho da Europa Protocolo n° 12
tenham expresso o seu consentimento em estar vinculados pelo
Protocolo nos termos do artigo 8°.
2. Para o Estado membro que exprima ulteriormente o seu
à Convenção para a Protecção
consentimento em ficar vinculado pelo Protocolo, este entrará dos Direitos do Homem
em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao termo de um prazo
de dois meses a partir da data do depósito do instrumento de
e das Liberdades Fundamentais
ratificação, aceitação ou aprovação. Roma, 4.11.2000
ARTIGO 10°
Entrada em vigor na ordem internacional: 1 de abril de 2005.
Funções do depositário
Portugal ainda não ratificou o Protocolo nº 12. Série de tratados
O Secretário - Geral do Conselho da Europa notificará aos europeus nº 177.
Estados membros do Conselho da Europa:
Os Estados membros do Conselho da Europa, signatários do
a) Qualquer assinatura; presente Protocolo,
b) O depósito de qualquer instrumento de ratificação,
Tendo em conta o princípio fundamental segundo o qual todas
aceitação ou aprovação;
as pessoas são iguais perante a lei e têm direito a uma igual
c) Qualquer data de entrada em vigor do presente protecção pela lei;
Protocolo nos termos dos artigos 6° e 9°;
Decididos a tomar novas medidas para promover a igualdade
d) Qualquer outro acto, notificação ou declaração
de todas as pessoas através da implementação colectiva de
relacionados com o presente Protocolo.
uma interdição geral de discriminação prevista na Convenção
Em fé do que os signatários, devidamente autorizados para este para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades
efeito, assinaram o presente Protocolo. Fundamentais, assinada em Roma a 4 de Novembro de 1950
(adiante designada “a Convenção”);
Feito em Estrasburgo, a 22 de Novembro de 1984, em francês
e inglês, fazendo ambos os textos igualmente fé, num único Reafirmando que o princípio da não-discriminação não obsta
exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho a que os Estados partes tomem medidas para promover uma

50 51
igualdade plena e efectiva, desde que tais medidas sejam notificação dirigida ao Secretário-Geral. A retirada ou a
objectiva e razoavelmente justificadas; modificação produz efeitos no primeiro dia do mês seguinte ao
termo de um prazo de três meses a contar da data de recepção
Acordam no seguinte:
da notificação pelo Secretário-Geral.
ARTIGO 1º 4. Qualquer declaração feita em conformidade com o
presente artigo é considerada como tendo sido feita nos termos
Interdição geral de discriminação
do nº 1 do artigo 56º da Convenção.
1. O gozo de todo e qualquer direito previsto na lei deve ser
5. Qualquer Estado que tenha feito uma declaração nos
garantido sem discriminação alguma em razão, nomeadamente,
termos do nº 1 ou do nº 2 do presente artigo pode, em
do sexo, raça, cor, língua, religião, convicções políticas ou
qualquer momento ulterior, declarar, relativamente a um
outras, origem nacional ou social, pertença a uma minoria
ou mais territórios designados nessa declaração que aceita
nacional, riqueza, nascimento ou outra situação.
a competência do Tribunal para conhecer das petições
2. Ninguém pode ser objecto de discriminação por parte apresentadas por pessoas singulares, organizações não
de qualquer autoridade pública com base nomeadamente nas governamentais ou grupos de particulares tal como previsto no
razões enunciadas no número 1 do presente artigo. artigo 34º da Convenção, ao abrigo do artigo 1º do presente
Protocolo.
ARTIGO 2º
ARTIGO 3º
Aplicação territorial
1. Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou Relações com a Convenção
do depósito do seu instrumento de ratificação, aceitação ou
Os Estados Partes entendem os artigos 1º e 2º do presente
aprovação, designar o ou os territórios a que estenderá a
Protocolo como artigos adicionais à Convenção, sendo as
aplicação do presente Protocolo.
disposições da Convenção correspondentemente aplicadas.
2. Qualquer Estado pode, em qualquer momento ulterior,
mediante declaração dirigida ao Secretário-Geral do Conselho ARTIGO 4º
da Europa, tornar extensiva a aplicação do presente Protocolo a
Assinatura e ratificação
qualquer outro território designado na declaração. O Protocolo
entrará em vigor, relativamente a esse território, no primeiro dia O presente Protocolo está aberto à assinatura dos Estados
do mês seguinte ao termo de um prazo de três meses a contar membros do Conselho da Europa signatários da Convenção e
da data de recepção da declaração pelo Secretário-Geral. ficará sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação. Nenhum
3. Qualquer declaração feita nos termos dos dois números Estado membro do Conselho da Europa pode ratificar,
anteriores pode ser retirada ou modificada, relativamente a aceitar ou aprovar o presente Protocolo sem ter simultânea
qualquer território designado nessa declaração, mediante ou previamente ratificado a Convenção. Os instrumentos de

52 53
ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados junto do Feito em Roma, a 4 de Novembro de 2000, em francês e
Secretário-Geral do Conselho da Europa. em inglês, fazendo ambos os textos igualmente fé num único
exemplar que será depositado nos arquivos do Conselho da
ARTIGO 5º Europa. O Secretário-Geral do Conselho da Europa transmitirá
Entrada em vigor uma cópia autenticada a cada um dos Estados membros do
Conselho da Europa.
1. O presente Protocolo entrará em vigor no primeiro dia
do mês ao termo de um prazo de três meses a contar da data
em que dez Estados membros do Conselho da Europa tenham Protocolo n° 13
expresso o seu consentimento em ficarem vinculados pelo
presente Protocolo, de acordo com o disposto no artigo 4º.
2. Relativamente a qualquer Estado membro que expresse à Convenção para a Protecção dos
ulteriormente o seu consentimento em ficar vinculado pelo Direitos do Homem e das Liberdades
presente Protocolo, este entrará em vigor no primeiro dia do
mês seguinte ao termo de um prazo de três meses a contar da Fundamentais, Relativo à Abolição
data de depósito do instrumento de ratificação, aceitação ou da Pena de Morte em quaisquer
aprovação.
circunstâncias
ARTIGO 6º
Vilnius, 3.5.2002
Funções do Depositário
O Secretário-Geral do Conselho da Europa notificará todos os Os Estados membros do Conselho da Europa, signatários do
Estados membros do Conselho da Europa: presente Protocolo,
a) de qualquer assinatura;
Convictos de que o direito à vida é um valor fundamental numa
b) do depósito de qualquer instrumento de ratificação, sociedade democrática e que a abolição da pena de morte é
aceitação ou aprovação; essencial à protecção deste direito e ao pleno reconhecimento
c) de qualquer data de entrada em vigor do presente da dignidade inerente a todos os seres humanos;
Protocolo em conformidade com os seus artigos 2º e 5º;
Desejando reforçar a protecção do direito à vida garantido
d) de qualquer acto, notificação ou comunicação relativos pela Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das
ao presente Protocolo. Liberdades Fundamentais, assinada em Roma
Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados em 4 de Novembro de 1950 (a seguir designada “a
para o efeito, assinaram o presente Protocolo. Convenção”);

54 55
Tendo em conta que o Protocolo n° 6 à Convenção, relativo à ou aprovação, designar o território ou os territórios a que se
abolição da pena de morte, assinado em Estrasburgo aplicará o presente Protocolo.
em 28 de Abril de 1983, não exclui a aplicação da pena de 2. Qualquer Estado pode, em qualquer momento ulterior,
morte por actos cometidos em tempo de guerra ou de ameaça mediante declaração dirigida ao Secretário - Geral do Conselho
iminente de guerra; da Europa, tornar extensiva a aplicação do presente Protocolo a
Resolvidos a dar o último passo para abolir a pena de morte em qualquer outro território designado na declaração. O Protocolo
quaisquer circunstâncias, entrará em vigor, para esse território, no primeiro dia do mês
seguinte ao decurso de um período de três meses após a data
Acordam no seguinte: da recepção da declaração pelo Secretário - Geral.
ARTIGO 1° 3. Qualquer declaração formulada nos termos dos dois
números anteriores pode ser retirada ou modificada, no que
Abolição da pena de morte respeita a qualquer território designado naquela declaração,
mediante notificação dirigida ao Secretário - Geral. Tal retirada
É abolida a pena de morte. Ninguém será condenado a tal
ou modificação produzirá efeito no primeiro dia do mês
pena, nem executado.
seguinte ao decurso de um período de três meses após a data
ARTIGO 2° da recepção da notificação pelo Secretário - Geral.

Proibição de derrogações ARTIGO 5°


As disposições do presente Protocolo não podem ser objecto de Relações com a Convenção
qualquer derrogação ao abrigo do artigo 15° da Convenção.
Os Estados Partes consideram as disposições dos artigos 1°
ARTIGO 3° a 4° do presente Protocolo adicionais à Convenção, aplicando-
se-lhes, em consequência, todas as disposições da Convenção.
Proibição de reservas
ARTIGO 6°
Não é admitida qualquer reserva ao presente Protocolo,
formulada ao abrigo do artigo 57° da Convenção. Assinatura e ratificação

ARTIGO 4° O presente Protocolo está aberto à assinatura dos Estados


membros do Conselho da Europa que tenham assinado a
Aplicação territorial Convenção. O Protocolo está sujeito a ratificação, aceitação ou
1. Qualquer Estado pode, no momento da assinatura ou do aprovação. Nenhum Estado membro do Conselho da Europa
depósito do respectivo instrumento de ratificação, aceitação poderá ratificar, aceitar ou aprovar o presente Protocolo
sem ter, simultânea ou anteriormente, ratificado, assinado

56 57
ou aprovado a Convenção. Os instrumentos de ratificação, Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados
de aceitação ou de aprovação serão depositados junto do para o efeito, assinaram o presente Protocolo.
Secretário -Geral do Conselho da Europa.
Feito em Vilnius, em 3 de Maio de 2002, em francês e em
ARTIGO 7° inglês, fazendo ambos os textos igualmente fé, num único
exemplar que será depositado nos arquivos do Conselho
Entrada em vigor da Europa. O Secretário – Geral do Conselho da Europa
1. O presente Protocolo entrará em vigor no primeiro dia do transmitirá cópia autenticada do presente Protocolo a todos os
mês seguinte ao termo de um período de três meses após a data Estados membros.
em que dez Estados membros do Conselho da Europa tenham
manifestado o seu consentimento em vincular-se pelo presente
Protocolo, nos termos do disposto no seu artigo 6°.
2. Para cada um dos Estados membros que manifestarem
ulteriormente o seu consentimento em vincular-se pelo presente
Protocolo, este entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte
ao termo de um período de três meses após a data do depósito,
por parte desse Estado, do seu instrumento de ratificação, de
aceitação ou de aprovação.

ARTIGO 8°
Funções do depositário
O Secretário - Geral do Conselho da Europa notificará todos os
Estados membros do Conselho da Europa :
a) De qualquer assinatura;
b) Do depósito de qualquer instrumento de ratificação, de
aceitação ou de aprovação;
c) De qualquer data de entrada em vigor do presente
Protocolo, nos termos dos artigos 4° e 7°;
d) De qualquer outro acto, notificação ou comunicação
relativos ao presente Protocolo.

58 59
CARTA SOCIAL EUROPEIA REVISTA 8) As trabalhadoras, em caso de maternidade, têm direito a uma protecção especial;

SÉRIE DE TRATADOS EUROPEUS /163 […] 9) Toda a pessoa tem direito a meios apropriados de orientação profissional, com vista a
ajudá-la a escolher uma profissão conforme às suas aptidões pessoais e aos seus
interesses;
Os Governos signatários, membros do Conselho da Europa:
Considerando que o objectivo do Conselho da Europa é realizar uma união mais estreita entre os seus 10) Todas as pessoas têm direito a meios apropriados de formação profissional;
membros, a fim de salvaguardar e de promover os ideais e os princípios, que são o seu património
11) Todas as pessoas têm o direito de beneficiar de todas as medidas que lhes permitam
comum e de favorecer o seu progresso económico e social, nomeadamente pela defesa e pelo gozar do melhor estado de saúde que possam atingir;
desenvolvimento dos direitos do homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que, nos termos da Convenção para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das 12) Todos os trabalhadores e os seus dependentes têm direito à segurança social;
Liberdades Fundamentais, assinada em Roma em 4 de Novembro de 1950, e dos seus Protocolos, os
13) Todas as pessoas carecidas de recursos suficientes têm direito à assistência social e
Estados membros do Conselho da Europa comprometem-se a assegurar às suas populações os direitos médica;
civis e políticos e as liberdades especificadas nestes instrumentos;
14) Todas as pessoas têm o direito de beneficiar de serviços sociais qualificados;
Considerando que, pela Carta Social Europeia aberta à assinatura em Turim, em 18 de Outubro de
1991, e pelos seus Protocolos, os Estados membros do Conselho da Europa comprometem-se a
15) Todas as pessoas com deficiência têm direito à autonomia, à integração social e à
assegurar às suas populações os direitos sociais especificados nesses instrumentos, a fim de melhorar participação na vida da comunidade;
o seu nível de vida e de promover o seu bem-estar;
16) A família, como célula fundamental da sociedade, tem direito a uma protecção
Tendo em conta que a Conferência Ministerial sobre os Direitos do Homem, realizada em Roma em 5
social, jurídica e económica apropriada para assegurar o seu pleno desenvolvimento;
de Novembro de 1990, sublinhou a necessidade, por um lado, de preservar o carácter indivisível de
todos os direitos do homem, quer sejam civis, políticos, económicos, sociais ou culturais e, por outro, 17) As crianças e adolescentes têm direito a uma protecção social, jurídica e económica
de dar um novo impulso à Carta Social Europeia; apropriada;
Decididos, conforme acordado na Conferência Ministerial reunida em Turim, em 21 e 22 de Outubro de
18) Os nacionais de uma das Partes têm o direito de exercer no território de uma outra
1991, a actualizar e a adaptar o conteúdo material da Carta, a fim de ter em conta, em particular, as Parte qualquer actividade lucrativa, em pé de igualdade com os nacionais desta última,
mudanças sociais fundamentais ocorridas desde a sua adopção; sob reserva das restrições fundadas em razões sérias de carácter económico ou social;
Reconhecendo a utilidade de inscrever numa Carta revista, destinada a substituir progressivamente a
19) Os trabalhadores migrantes originários de uma das Partes e suas famílias têm
Carta Social Europeia, os direitos garantidos pela Carta tal como foram alterados, os direitos garantidos
direito a protecção e à assistência no território de qualquer outra Parte;
pelo Protocolo Adicional de 1988, e de acrescentar novos direitos;
comprometem-se ao que se segue: 20) Todos os trabalhadores têm direito à igualdade de oportunidades e de tratamento
em matéria de emprego e de profissão, sem discriminação baseada no sexo;
PARTE I
21) Os trabalhadores têm direito à informação e à consulta na empresa;

As Partes reconhecem como objectivo de uma política que prosseguirão por todos os meios úteis, nos 22) Os trabalhadores têm o direito de participar, na determinação e na melhoria das
planos nacional e internacional, a realização de condições próprias a assegurar o exercício efectivo dos condições de trabalho e do meio de trabalho na empresa;
direitos e princípios seguintes:
23) Toda a pessoa idosa tem direito a uma protecção social;

1) Toda a pessoa deve ter a possibilidade de ganhar a sua vida por um trabalho 24) Todos os trabalhadores têm direito a uma protecção em caso de despedimento;
livremente empreendido;
25) Todos os trabalhadores têm direito à protecção dos seus créditos em caso de
2) Todos os trabalhadores têm direito a condições de trabalho justas; insolvência do seu empregador;

3) Todos os trabalhadores têm direito à segurança e à higiene no trabalho; 26) Todos os trabalhadores têm direito à dignidade no trabalho;

4) Todos os trabalhadores têm direito a uma remuneração justa que lhes assegure, 27) Todas as pessoas com responsabilidades familiares que ocupem ou desejem ocupar
assim como às suas famílias, um nível de vida satisfatório; um emprego têm direito de o fazer sem ser submetidas a discriminações e, tanto quanto
possível, sem que haja conflito entre o seu emprego e as suas responsabilidades
5) Todos os trabalhadores e empregadores têm o direito de se associar livremente em familiares;
organizações nacionais ou internacionais para a protecção dos seus interesses
económicos e sociais; 28) Os representantes dos trabalhadores na empresa têm direito à protecção contra os
actos susceptíveis de lhes causarem prejuízo e devem beneficiar de facilidades
6) Todos os trabalhadores e empregadores têm o direito de negociar colectivamente; adequadas ao desempenho das suas funções;

7) As crianças e os adolescentes têm direito a uma protecção especial contra os perigos 29) Todos os trabalhadores têm o direito de serem informados e consultados nos
físicos e morais a que se encontrem expostos; processos de despedimentos colectivos;

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
30) Toda a pessoa tem direito à protecção contra a pobreza e a exclusão social; Artigo 3.º

31) Toda a pessoa tem direito à habitação. Direito à segurança e à higiene no trabalho

Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à segurança e à higiene no trabalho, as Partes
comprometem-se, em consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores:
PARTE II

As Partes comprometem-se a considerar-se ligadas, nos termos previstos na parte III, pelas obrigações 1) A definir, executar e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria
decorrentes dos artigos e parágrafos seguintes. de segurança, saúde dos trabalhadores e do meio de trabalho. Essa política terá como objectivo
primordial melhorar a segurança e a higiene profissionais e prevenir os acidentes e os danos
Artigo 1.º para a saúde que resultem do trabalho, estejam ligados ao trabalho ou ocorram no decurso do
trabalho, designadamente reduzindo ao mínimo as causas dos riscos inerentes ao meio de
trabalho;
Direito ao trabalho
2) A adoptar regulamentos de segurança e de higiene;
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito ao trabalho, as Partes comprometem-se:
3) A adoptar medidas de controlo da aplicação desses regulamentos;
1) A reconhecer como um dos seus principais objectivos e responsabilidades a realização e a
4) A promover a instituição progressiva de serviços de saúde no trabalho para todos os
manutenção do nível mais elevado e mais estável possível de emprego, com vista à realização trabalhadores, com funções essencialmente preventivas e de aconselhamento.
do pleno emprego;

2) A proteger de modo eficaz o direito de o trabalhador ganhar a sua vida por meio de um Artigo 4.º
trabalho livremente empreendido;
Direito a uma remuneração justa
3) A estabelecer ou a manter serviços gratuitos de emprego para todos os trabalhadores;

4) A assegurar ou a favorecer uma orientação, uma formação e uma readaptação profissionais Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito a uma remuneração justa, as Partes
apropriadas. comprometem-se:

Artigo 2.º 1) A reconhecer o direito dos trabalhadores a uma remuneração suficiente para lhes assegurar,
assim como às suas famílias, um nível de vida decente;
Direito a condições de trabalho justas
2) A reconhecer o direito dos trabalhadores a uma taxa de remuneração acrescida para as horas
de trabalho suplementar, com excepção de certos casos particulares;
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito a condições de trabalho justas, as Partes
comprometem-se: 3) A reconhecer o direito dos homens e mulheres a uma remuneração igual para um trabalho de
valor igual;
1) A fixar uma duração razoável ao trabalho diário e semanal, devendo a semana de trabalho ser
4) A reconhecer o direito de todos os trabalhadores a um prazo razoável de pré-aviso no caso de
progressivamente reduzida, tanto quanto o aumento da produtividade e os outros factores em
cessação do emprego;
jogo o permitam;
5) A não autorizar descontos nos salários, a não ser nas condições e limites prescritos pelas leis
2) A prever dias feriados pagos; ou regulamentos nacionais ou fixados por convenções colectivas ou sentenças arbitrais.
3) A assegurar um período anual de férias pagas de quatro semanas, pelo menos;
O exercício destes direitos deve ser assegurado quer por meio de convenções colectivas livremente
4) A eliminar os riscos inerentes às ocupações perigosas ou insalubres e, quando esses riscos celebradas, quer por métodos legais de fixação de salários, quer por qualquer outro modo apropriado
ainda não tenham podido ser eliminados ou suficientemente reduzidos, a assegurar aos às condições nacionais.
trabalhadores empregados nessas ocupações quer uma redução da duração do trabalho quer
férias pagas suplementares;
Artigo 5.º
5) A assegurar um descanso semanal que coincida, tanto quanto possível, com o dia da semana
reconhecido como dia de descanso pela tradição ou pelos usos do país ou da região; Direito sindical

6) A providenciar que os trabalhadores sejam informados por escrito, logo que possível, e, de
Com vista a garantir ou promover a liberdade dos trabalhadores e dos empregadores de constituírem
qualquer modo, o mais tardar nos dois meses subsequentes ao início do seu emprego, dos
aspectos essenciais do contrato ou da relação de trabalho; organizações locais, nacionais ou internacionais para a protecção dos seus interesses económicos e
sociais e de aderirem a estas organizações, as Partes comprometem-se a que a legislação nacional não
7) A diligenciar que os trabalhadores que efectuem um trabalho nocturno beneficiem de medidas restrinja nem seja aplicada de modo a restringir esta liberdade. A medida em que as garantias
que tenham em conta a natureza especial desse trabalho. previstas no presente artigo se aplicarão à polícia será determinada pelas leis ou pelos regulamentos

3 4
nacionais. O princípio da aplicação destas garantias aos membros das Forças Armadas e a medida em nacionais;
que se aplicarão a esta categoria de pessoas são igualmente determinados pelas leis ou regulamentos
9) A determinar que os trabalhadores menores de 18 anos ocupados em certos empregos
nacionais.
determinados pela legislação ou regulamentação nacionais devem ser submetidos a observação
médica regular;
Artigo 6.º
10) A assegurar uma protecção especial contra os perigos físicos e morais a que as crianças e
Direito à negociação colectiva adolescentes estejam expostos, nomeadamente contra os que resultem de forma directa ou
indirecta do seu trabalho.

Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à negociação colectiva, as Partes comprometem-
Artigo 8.º
se:

Direito das trabalhadoras à protecção da maternidade


1) A favorecer a consulta paritária entre trabalhadores e empregadores;

2) A promover, quando necessário e útil, a instituição de processos de negociação voluntária Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito das trabalhadoras à protecção damaternidade, as
entre os empregadores ou suas organizações, de um lado, e as organizações de trabalhadores, Partes comprometem-se:
de outro, com o fim de regulamentar as condições de emprego através de convenções
colectivas;
1) A assegurar às trabalhadoras, antes e depois do parto, uma interrupção do trabalho com uma
duração total mínima de 14 semanas, quer por meio de uma licença paga, quer por prestações
3) A favorecer a instituição e utilização de processos apropriados de conciliação e arbitragem
apropriadas da segurança social, ou por fundos públicos;
voluntária para resolução dos conflitos de trabalho;
e reconhecem:
2) A considerar como ilegal para o empregador proceder ao despedimento de uma mulher
durante o período compreendido entre o momento em que esta notifica o empregador da sua
4) O direito dos trabalhadores e dos empregadores a acções colectivas no caso de conflitos de
gravidez e o fim da sua licença de maternidade, ou numa data tal que o prazo de pré-aviso
interesses, incluindo o direito de greve, sob reserva das obrigações decorrentes das convenções
expire durante esse período;
colectivas em vigor.
3) A assegurar às mães que aleitem os seus filhos pausas suficientes para esse fim;
Artigo 7.º
4) A regulamentar o trabalho nocturno das mulheres grávidas, puérperas ou lactantes;
Direito das crianças e dos adolescentes à protecção
5) A proibir o trabalho das mulheres grávidas, puérperas ou lactantes em trabalhos subterrâneos
nas minas e em quaisquer outros trabalhos de carácter perigoso, insalubre ou penoso, e a tomar
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito das crianças e dos adolescentes à protecção, as medidas apropriadas para proteger os direitos dessas mulheres em matéria de emprego.
Partes comprometem-se:
Artigo 9.º
1) A fixar em 15 anos a idade mínima de admissão ao emprego, bem como as excepções
admissíveis para crianças empregadas em determinados trabalhos ligeiros que não impliquem o
Direito à orientação profissional
risco de prejudicar a sua saúde, moralidade ou educação;

2) A fixar em 18 anos a idade mínima de admissão ao emprego em certas ocupações Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à orientação profissional, as Partes comprometem-
consideradas como perigosas ou insalubres; se a proporcionar ou a promover, tanto quanto necessário, um serviço que auxiliará todas as pessoas,
incluindo as pessoas com deficiência, a resolver os problemas relativos à escolha de uma profissão ou
3) A proibir que as crianças ainda sujeitas a escolaridade obrigatória se empreguem em
ao aperfeiçoamento profissional, tendo em conta as características do interessado e a relação entre
trabalhos que as privem do pleno benefício desta escolaridade;
estas e as possibilidades do mercado de emprego; esta ajuda deverá ser prestada gratuitamente tanto
4) A limitar a duração do trabalho dos trabalhadores com menos de 18 anos, de acordo com as aos jovens, incluindo as crianças em idade escolar, como aos adultos.
exigências do seu desenvolvimento e, mais particularmente, das necessidades da sua formação
profissional; Artigo 10.º

5) A reconhecer o direito dos jovens trabalhadores e aprendizes a uma remuneração justa ou a


Direito à formação profissional
um subsídio apropriado;

6) A determinar que as horas que os adolescentes consagram à formação profissional durante o Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à formação profissional, as Partes comprometem-
período normal de trabalho, com o consentimento do empregador, sejam consideradas como se:
parte do trabalho diário;
1) A assegurar ou a favorecer, tanto quanto necessário, a formação técnica e profissional de
7) A fixar em quatro semanas, no mínimo, a duração das férias pagas anuais dos trabalhadores
todas as pessoas, incluindo as pessoas com deficiência, consultadas as organizações
menores de 18 anos;
profissionais de empregadores e de trabalhadores, e a conceder meios que permitam o acesso
ao ensino técnico superior e ao ensino universitário, segundo o critério único de aptidão
8) A proibir o emprego dos trabalhadores menores de 18 anos em trabalhos nocturnos, com
individual;
excepção de empregos concretamente determinados por legislação ou regulamentação

5 6
2) A assegurar ou a favorecer um sistema de aprendizagem e outros sistemas de formação de 4) A tomar medidas, mediante a conclusão de acordos bilaterais ou multilaterais apropriados ou
jovens, rapazes e raparigas, nos seus diversos empregos; por outros meios e sob reserva das condições fixadas nestes acordos, para assegurar:

3) A assegurar ou a favorecer, tanto quanto necessário: a) A igualdade de tratamento entre os nacionais de cada uma das Partes e os nacionais
das outras Partes no que respeita aos direitos à segurança social, incluindo a
a) Medidas apropriadas e facilmente acessíveis tendo em vista a formação dos trabalhadores conservação dos benefícios concedidos pelas legislações de segurança social, quaisquer
adultos; que possam ser as deslocações que as pessoas protegidas possam efectuar entre os
territórios das Partes;
b) Medidas especiais tendo em vista a reconversão profissional dos trabalhadores adultos,
tornada necessária pela evolução técnica ou por uma orientação nova do mercado de trabalho; b) A atribuição, a manutenção e o restabelecimento dos direitos à segurança social por
meios como, por exemplo, a soma dos períodos de segurança ou de emprego
4) A assegurar ou a favorecer, tanto quanto necessário, medidas particulares de reciclagem e de completados de harmonia com a legislação de cada uma das Partes.
reinserção dos desempregados de longa duração;
Artigo 13.º
5) A encorajar a plena utilização dos meios previstos em disposições apropriadas, tais como:
Direito à assistência social e médica
a) A redução ou abolição de todas as propinas e encargos;
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à assistência social e médica, as Partes
b) A concessão de assistência financeira nos casos apropriados;
comprometem-se:
c) A inclusão nas horas normais de trabalho do tempo consagrado aos cursos
suplementares de formação frequentados durante o emprego pelo trabalhador, a pedido 1) A assegurar que qualquer pessoa que não disponha de recursos suficientes e que não esteja
do seu empregador; em condições de os angariar pelos seus próprios meios ou de os receber de outra fonte,
designadamente por prestações resultantes de um regime de segurança social, possa obter uma
d) A garantia, por meio de um controlo apropriado, consultadas as organizações assistência apropriada e, em caso de doença, os cuidados necessários ao seu estado;
profissionais de empregadores e de trabalhadores, da eficácia do sistema de
aprendizagem e de qualquer outro sistema de formação para jovens trabalhadores e, de 2) A assegurar que as pessoas que beneficiem de tal assistência não sofram, por esse motivo,
uma maneira geral, da protecção adequada dos jovens trabalhadores. uma diminuição dos seus direitos políticos ou sociais;

Artigo 11.º 3) A determinar que qualquer pessoa possa obter, através de serviços competentes de carácter
público ou privado, os esclarecimentos e o auxílio pessoal necessários para prevenir, abolir ou
aliviar o estado de carência de ordem pessoal e de ordem familiar;
Direito à protecção da saúde
4) A aplicar as disposições constantes dos parágrafos 1, 2 e 3 do presente artigo, em plano de
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à protecção da saúde, as Partes comprometem-se igualdade com os seus nacionais, aos nacionais das outras Partes que se encontrem legalmente
a tomar, quer directamente, quer em cooperação com as organizações públicas e privadas, medidas no seu território, de acordo com as obrigações por elas assumidas em virtude da Convenção
Europeia de Assistência Social e Médica, assinada em Paris, em 11 de Dezembro de 1953.
apropriadas tendentes, nomeadamente:

Artigo 14.º
1) A eliminar, na medida do possível, as causas de uma saúde deficiente;

2) A estabelecer serviços de consulta e de educação no que respeita à melhoria da saúde e ao Direito ao benefício dos serviços sociais
desenvolvimento do sentido da responsabilidade individual em matéria de saúde;
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito de beneficiar de serviços sociais, as Partes
3) A prevenir, na medida do possível, as doenças epidémicas, endémicas e outras, assim como
comprometem-se:
os acidentes.

1) A encorajar ou a organizar serviços que utilizem métodos próprios de serviço social e que
Artigo 12.º
contribuam para o bem-estar e desenvolvimento dos indivíduos e dos grupos na comunidade,
bem como para a sua adaptação ao meio social;
Direito à segurança social
2) A encorajar a participação dos indivíduos e das organizações de beneficência ou outras na
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à segurança social, as Partes comprometem-se: criação ou manutenção desses serviços.

1) A estabelecer ou a manter um regime de segurança social;

2) A manter o regime de segurança social num nível satisfatório, pelo menos igual ao necessário
para a ratificação do Código Europeu de Segurança Social;

3) A esforçar-se por elevar progressivamente o nível do regime de segurança social;

7 8
Artigo 15.º 2) Assegurar às crianças e aos adolescentes um ensino primário e secundário gratuitos, assim
como favorecer a regularidade da frequência escolar.
Direito das pessoas com deficiência à autonomia, à integração social e à participação na vida
da comunidade Artigo 18.º

Com vista a garantir às pessoas com deficiência, independentemente da sua idade, da natureza e da Direito ao exercício de uma actividade lucrativa no território das outras Partes
origem da sua deficiência, o exercício efectivo do direito à autonomia, à integração social e à
participação na vida da comunidade, as Partes comprometem-se, designadamente: Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito ao exercício de uma actividade lucrativa no
território de qualquer Parte, as Partes comprometem-se:
1) A tomar as medidas necessárias para pôr à disposição das pessoas com deficiência uma
orientação, uma educação e uma formação profissional no quadro do direito comum sempre que 1) A aplicar os regulamentos existentes num espírito liberal;
for possível ou, se não o for, através de instituições especializadas públicas ou privadas;
2) A simplificar as formalidades em vigor e a reduzir ou a suprimir os encargos financeiros e
2) A favorecer o seu acesso ao emprego por meio de toda e qualquer medida susceptível de outras taxas a pagar pelos trabalhadores estrangeiros ou pelos seus empregadores;
encorajar os empregadores a contratarem e a manterem em actividade pessoas com deficiência
no meio usual de trabalho e a adaptarem as condições de trabalho às necessidades dessas 3) A liberalizar, individual ou colectivamente, os regulamentos que regem o emprego dos
pessoas ou, em caso de impossibilidade motivada pela deficiência, mediante a adaptação ou a trabalhadores estrangeiros;
criação de empregos protegidos em função do grau de incapacidade. Estas medidas podem e reconhecem:
justificar, se for caso disso, o recurso a serviços especializados de colocação e de
acompanhamento; 4) O direito de saída dos seus nacionais que desejem exercer uma actividade lucrativa no
território de outras Partes.
3) A favorecer a sua plena integração e participação na vida social, designadamente através de
medidas, incluindo apoios técnicos, que visem ultrapassar os obstáculos à comunicação e à
Artigo 19.º
mobilidade e permitir-lhes o acesso aos transportes, à habitação, às actividades culturais e aos
tempos livres.
Direito dos trabalhadores migrantes e das suas famílias à protecção e à assistência
Artigo 16.º
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito dos trabalhadores migrantes e das suas famílias à
Direito da família a uma protecção social, jurídica e económica protecção e à assistência no território de qualquer Parte, as Partes comprometem-se:

Com vista a assegurar as condições de vida indispensáveis ao pleno desenvolvimento da família, célula 1) A manter ou a assegurar a existência de serviços gratuitos apropriados, encarregados de
auxiliar estes trabalhadores e, nomeadamente, de lhes fornecer informações exactas e a tomar
fundamental da sociedade, as Partes comprometem-se a promover a protecção económica, jurídica e
todas as medidas úteis, desde que a legislação e a regulamentação nacionais o permitam, contra
social da vida de família, designadamente por meio de prestações sociais e familiares, de disposições toda a propaganda enganadora sobre a emigração e a imigração;
fiscais, de encorajamento à construção de habitações adaptadas às necessidades das famílias, de ajuda
aos lares de jovens ou de quaisquer outras medidas apropriadas. 2) A adoptar, dentro dos limites da sua jurisdição, medidas apropriadas para facilitar a partida, a
viagem e o acolhimento destes trabalhadores e das suas famílias e a assegurar-lhes, nos limites
Artigo 17.º da sua jurisdição, durante a viagem, os serviços sanitários e médicos necessários, assim como
boas condições de higiene;
Direito das crianças e adolescentes a uma protecção social, jurídica e económica 3) A promover a colaboração, conforme os casos, entre os serviços sociais públicos ou privados
dos países de emigração e de imigração;
Com vista a assegurar às crianças e aos adolescentes o exercício efectivo do direito a crescer num
ambiente favorável ao desabrochar da sua personalidade e ao desenvolvimento das suas aptidões 4) A garantir a estes trabalhadores que se encontrem legalmente no seu território, quer estas
matérias sejam reguladas por lei ou regulamento quer sejam submetidas ao controlo das
físicas e mentais, as Partes comprometem-se a tomar, quer directamente quer em cooperação com as
autoridades administrativas, um tratamento não menos favorável do que aos seus nacionais no
organizações públicas ou privadas, todas as medidas necessárias e apropriadas que visem: que respeita às matérias seguintes:

1: a) Remuneração e outras condições de emprego e de trabalho;

a) Assegurar às crianças e aos adolescentes, tendo em conta os direitos e os deveres dos pais, b) Filiação em organizações sindicais e fruição dos benefícios resultantes de convenções
os cuidados, a assistência, a educação e a formação de que necessitem, nomeadamente colectivas;
prevendo a criação ou a manutenção de instituições ou de serviços adequados e suficientes para
esse fim; c) Habitação;

b) Proteger as crianças e adolescentes contra a negligência, a violência ou a exploração; 5) A assegurar a estes trabalhadores, que se encontrem legalmente no seu território, um
tratamento não menos favorável do que aos seus próprios nacionais no que respeita a impostos,
c) Assegurar uma protecção e uma ajuda especial do Estado à criança ou adolescente temporária taxas e contribuições referentes ao trabalho, pagas a título de trabalhador;
ou definitivamente privados do seu apoio familiar;
6) A facilitar, tanto quanto possível, o reagrupamento da família do trabalhador migrante

9 10
autorizado a fixar-se no território; Artigo 22.º

7) A assegurar a estes trabalhadores, que se encontrem legalmente no seu território, um Direito de tomar parte na determinação e na melhoria das condições de trabalho e do meio de
tratamento não menos favorável do que aos seus nacionais em acções judiciais respeitantes às trabalho
questões mencionadas no presente artigo;

8) A garantir a estes trabalhadores, que residam regularmente no seu território, que não Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito dos trabalhadores a tomarem parte na
poderão ser expulsos, a não ser que ameacem a segurança do Estado ou violem a ordem pública determinação e na melhoria das condições de trabalho e do meio de trabalho na empresa, as Partes
ou os bons costumes; comprometem-se a tomar ou a promover medidas que permitam aos trabalhadores ou aos seus
representantes, em conformidade com a legislação e a prática nacionais, contribuírem:
9) A permitir, no quadro dos limites fixados por lei, a transferência de qualquer parte dos
salários e das economias dos trabalhadores migrantes que estes desejem transferir;
a) Para a determinação e a melhoria das condições de trabalho, da organização do trabalho e do
10) A estender a protecção e a assistência previstas no presente artigo aos trabalhadores meio de trabalho;
migrantes que trabalhem por conta própria, tanto quanto as medidas em questão sejam
aplicáveis a esta categoria; b) Para a protecção da saúde e da segurança na empresa;

11) A favorecer e a facilitar o ensino da língua nacional do Estado de acolhimento ou, se neste c) Para a organização de serviços e equipamentos sociais e sócio-culturais na empresa;
houver várias, de uma delas, aos trabalhadores migrantes e aos membros das suas famílias;
d) Para o controlo do respeito da regulamentação nestas matérias.
12) A favorecer e a facilitar, na medida do possível, o ensino da língua materna do trabalhador
migrante aos seus filhos. Artigo 23.º

Artigo 20.º Direito das pessoas idosas a uma protecção social

Direito à igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e de profissão, Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito das pessoas idosas a uma protecção social, as
sem discriminação baseada no sexo Partes comprometem-se a tomar ou a promover quer directamente quer em cooperação com
organizações públicas ou privadas, medidas apropriadas que visem, designadamente:
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à igualdade de oportunidades e de tratamento em
matéria de emprego e de profissão, sem discriminação baseada no sexo, as Partes comprometem-se a - Permitir às pessoas idosas permanecerem durante o maior período de tempo possível membros
reconhecer esse direito e a tomar as medidas apropriadas para assegurar ou promover a sua aplicação de pleno direito da sociedade, mediante:
nos seguintes domínios:
a) A atribuição de recursos suficientes que lhes permitam levar uma existência decente
a) Acesso ao emprego, protecção contra o despedimento e reinserção profissional; e participar activamente na vida pública, social e cultural;

b) Orientação e formação profissionais, reciclagem, reabilitação profissional; b) A difusão das informações relativas aos serviços e equipamentos ao dispor das
pessoas idosas e a possibilidade de estas a eles recorrerem;
c) Condições de emprego e de trabalho, incluindo a remuneração;
- Permitir às pessoas idosas escolher livremente o seu modo de vida e levar uma existência
d) Progressão na carreira, incluindo a promoção. independente no seu ambiente habitual, enquanto o desejarem e tal for possível, mediante:

Artigo 21.º a) A disponibilização de habitações apropriadas às suas necessidades e estado de saúde


ou de ajudas adequadas com vista ao arranjo da habitação;
Direito à informação e à consulta
b) Os cuidados de saúde e os serviços que o seu estado exigir;
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito dos trabalhadores à informação e à consulta na
- Garantir às pessoas idosas que vivam em instituições a assistência apropriada, no respeito da
empresa, as Partes comprometem-se a tomar ou a promover medidas que permitam aos trabalhadores
sua vida privada, e a participação na determinação das condições de vida da instituição.
ou aos seus representantes, em conformidade com a legislação e a prática nacionais:

Artigo 24.º
a) Ser informados regularmente ou em tempo oportuno e de maneira compreensível sobre a
situação económica e financeira da empresa onde trabalham, considerando-se que a divulgação
de certas informações susceptíveis de prejudicar a empresa poderá ser recusada ou que poderá Direito à protecção em caso de despedimento
exigir-se que estas permaneçam confidenciais; e
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à protecção em caso de despedimento, as Partes
b) Ser consultados em tempo útil sobre as decisões previstas que sejam susceptíveis de afectar
comprometem-se a reconhecer:
substancialmente os interesses dos trabalhadores e, nomeadamente, sobre aquelas que tenham
consequências importantes para a situação do emprego na empresa.
a) O direito de os trabalhadores não serem despedidos sem motivo válido ligado à sua aptidão
ou comportamento, ou baseado nas necessidades de funcionamento da empresa, do

11 12
estabelecimento ou do serviço; c) Para desenvolver ou promover serviços, públicos ou privados, em particular os
serviços de guarda de crianças durante o dia e outras formas de guarda;
b) O direito dos trabalhadores despedidos sem motivo válido a uma indemnização adequada ou a
outra reparação apropriada. 2) A prever a possibilidade de cada um dos pais, durante um período posterior à licença de
maternidade, obter uma licença parental para acompanhamento de um filho, cuja duração e
Para esse efeito, as Partes comprometem-se a assegurar ao trabalhador que considere ter sido objecto condições serão fixadas pela legislação nacional, pelas convenções colectivas ou pela prática;
de uma medida de despedimento sem motivo válido direito de recurso contra essa medida perante um
3) A assegurar que as responsabilidades familiares não possam, como tais, constituir motivo
órgão imparcial.
válido de despedimento.

Artigo 25.º
Artigo 28.º

Direito dos trabalhadores à protecção dos seus créditos em caso de insolvência do seu
Direito dos representantes dos trabalhadores à protecção na empresa e facilidades a
empregador
conceder-lhes

Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito dos trabalhadores à protecção dos seus créditos
A fim de assegurar o exercício efectivo do direito dos representantes dos trabalhadores a exercerem as
em caso de insolvência do seu empregador, as Partes comprometem-se a prever que os créditos dos
suas funções de representantes, as Partes comprometem-se a assegurar que, na empresa:
trabalhadores resultantes de contratos de trabalho ou de relações de emprego sejam garantidos por
uma instituição de garantia ou por qualquer outra forma efectiva de protecção.
a) Beneficiem de uma protecção efectiva contra os actos que possam prejudicá-los, incluindo o
despedimento, e que sejam motivados pela sua qualidade ou pelas suas actividades de
Artigo 26.º representantes dos trabalhadores na empresa;

Direito à dignidade no trabalho b) Gozem de facilidades apropriadas, que lhes permitam exercer rápida e eficazmente as suas
funções, tendo em conta o sistema de relações profissionais existentes no país, assim como as
necessidades, importância e possibilidades da empresa em causa.
Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito de todos os trabalhadores à protecção da sua
dignidade no trabalho, as Partes comprometem-se, em consulta com as organizações de empregadores
Artigo 29.º
e de trabalhadores:

Direito à informação e à consulta nos processos de despedimento colectivo


1) A promover a sensibilização, a informação e a prevenção em matéria de assédio sexual no
local de trabalho, ou em relação com o trabalho, e a tomar todas as medidas apropriadas para
proteger os trabalhadores contra tais comportamentos; A fim de assegurar o exercício efectivo do direito dos trabalhadores a serem informados e consultados
em caso de despedimento colectivo, as Partes comprometem-se a assegurar que os empregadores
2) A promover a sensibilização, a informação e a prevenção em matéria de actos condenáveis ou informem e consultem os representantes dos trabalhadores em tempo útil, antes desses
explicitamente hostis e ofensivos dirigidos reiteradamente contra qualquer assalariado no local despedimentos colectivos, sobre as possibilidades de os evitar ou de limitar o seu número e de atenuar
de trabalho ou em relação com o trabalho, e a tornar todas as medidas apropriadas para
as suas consequências, por exemplo, recorrendo a medidas sociais de acompanhamento que visem,
proteger os trabalhadores contra tais comportamentos.
designadamente, o apoio à reclassificação ou à reinserção dos trabalhadores em causa.

Artigo 27.º
Artigo 30.º

Direito dos trabalhadores com responsabilidades familiares à igualdade de oportunidades e de


tratamento Direito à protecção contra a pobreza e a exclusão social

Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à igualdade de oportunidades e de tratamento Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à protecção contra a pobreza e a exclusão social,
entre trabalhadores de ambos os sexos com responsabilidades familiares, e entre estes trabalhadores e as Partes comprometem-se:
os outros trabalhadores, as Partes comprometem-se:
a) A tomar medidas, no quadro de uma abordagem global e coordenada, para promover o
acesso efectivo, designadamente, ao emprego, à habitação, à formação, ao ensino, à cultura, à
1) A tomar medidas apropriadas:
assistência social e médica das pessoas que se encontrem ou corram o risco de se encontrar em
situação de exclusão social ou de pobreza, e da sua família;
a) Para permitir aos trabalhadores com responsabilidades familiares entrar e
permanecer na vida activa ou regressar a ela após uma ausência devida a essas b) A reexaminar essas medidas com vista à sua adaptação, se necessário.
responsabilidades, incluindo medidas no domínio da orientação e da formação
profissionais;

b) Para ter em conta as suas necessidades no que respeita às condições de emprego e à


segurança social;

13 14
Artigo 31.º correspondente da Carta Social Europeia e, se for caso disso, do seu Protocolo Adicional de 1988, deixará
de se aplicar à Parte em causa, no caso de esta se encontrar vinculada ao primeiro dos dois instrumentos
Direito à habitação supracitados ou a ambos os instrumentos.

Com vista a assegurar o exercício efectivo do direito à habitação, as Partes comprometem-se a tomar
medidas destinadas a:
PARTE IV

1) Favorecer o acesso à habitação de nível suficiente;


Artigo C
2) Prevenir e reduzir o estado de sem-abrigo, com vista à sua eliminação progressiva;
Controlo da aplicação dos compromissos constantes da presente Carta
3) Tornar o preço da habitação acessível às pessoas que não disponham de recursos suficientes.
A aplicação dos compromissos jurídicos constantes da presente Carta será submetida ao mesmo
controlo que o da Carta Social Europeia.

PARTE III Artigo D

Artigo A Reclamações colectivas

Compromissos 1 - As disposições do Protocolo Adicional à Carta Social Europeia que prevêem um sistema de
reclamações colectivas aplicar-se-ão às disposições aceites em cumprimento da presente Carta para os
1 - Sob reserva do disposto no artigo B infra, cada uma das Partes compromete-se: Estados que tenham ratificado o referido Protocolo.

a) A considerar a parte I da presente Carta como uma declaração que fixa os objectivos cuja 2 - Qualquer Estado que não esteja vinculado pelo Protocolo Adicional à Carta Social Europeia prevendo
realização assegurará por todos os meios úteis, conforme as disposições do parágrafo um sistema de reclamações colectivas poderá, aquando do depósito do seu instrumento de ratificação,
introdutório da referida parte; aceitação ou aprovação da presente Carta ou em qualquer outro momento posterior, declarar, por
notificação dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, que aceita o controlo das obrigações
b) A considerar-se vinculada a, pelo menos, seis dos nove artigos seguintes da parte II da Carta: aceites em virtude da presente Carta segundo o processo previsto no referido protocolo.
artigos 1.º, 5.º, 6.º, 7.º, 12.º, 13.º, 16.º, 19.º e 20.º;

c) A considerar-se vinculada a um número suplementar de artigos ou parágrafos numerados da


parte II da Carta, que escolherá, de maneira a que o número total dos artigos e parágrafos PARTE V
numerados que a vinculam não seja inferior a 16 artigos ou a 63 parágrafos numerados.

Artigo E
2 - Os artigos ou parágrafos escolhidos segundo as disposições das alíneas b) e c) do parágrafo 1 do
presente artigo serão notificados ao Secretário-Geral do Conselho da Europa no momento do depósito do
instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação. Não discriminação

3 - Cada uma das Partes poderá, em qualquer momento posterior, declarar, por notificação dirigida ao O gozo dos direitos reconhecidos na presente Carta deve ser assegurado sem qualquer distinção
Secretário-Geral, que se considera vinculada a qualquer outro artigo ou parágrafo numerado que figure baseada, nomeadamente, na raça, na cor, no sexo, na língua, na religião, nas opiniões políticas, ou em
na parte II da Carta e que ainda não tinha aceite, conforme as disposições do parágrafo 1 do presente
quaisquer outras opiniões, na ascendência nacional ou na origem social, na saúde, na pertença a uma
artigo. Estes compromissos ulteriores serão considerados parte integrante da ratificação, da aceitação ou
da aprovação e produzirão os mesmos efeitos a partir do primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um minoria nacional, no nascimento ou em qualquer outra situação.
período de um mês após a data da notificação.
Artigo F
4 - Cada Parte disporá de um sistema de inspecção do trabalho apropriado às suas condições nacionais.
Derrogações em caso de guerra ou de perigo público
Artigo B
1 - Em caso de guerra ou em caso de outro perigo público ameaçando a vida da nação, qualquer Parte
Relações entre a Carta Social Europeia e o Protocolo Adicional de 1988 pode tomar medidas que derroguem as obrigações previstas pela presente Carta, na estrita medida em
que a situação o exija e na condição de que essas medidas não estejam em contradição com as
1 - Nenhuma Parte Contratante da Carta Social Europeia ou Parte do Protocolo Adicional de 5 de Maio de obrigações decorrentes do direito internacional.
1988 pode ratificar, aceitar ou aprovar a presente Carta sem se considerar vinculada, pelo menos, pelas
disposições correspondentes às disposições da Carta Social Europeia e, se for caso disso, do Protocolo 2 - Qualquer Parte que tenha exercido este direito de derrogação deverá, num prazo razoável, informar
Adicional, às quais se encontrava vinculada. cabalmente o Secretário-Geral do Conselho da Europa das medidas tomadas e dos motivos que as
justificaram. Deve igualmente informar o Secretário-Geral da data em que essas medidas tenham
2 - A aceitação das obrigações de qualquer disposição da presente Carta terá como efeito que, a partir cessado de estar em vigor e daquela em que as disposições da Carta que ela tenha aceite tenham de
da data da entrada em vigor dessas obrigações relativamente à Parte em causa, a disposição novo plena aplicação.

15 16
Artigo G a data em que três Partes tenham comunicado ao Secretário-Geral a sua aceitação.

Restrições Para qualquer Parte que a tiver aceite posteriormente, a alteração entrará em vigor no primeiro dia do
mês seguinte ao decurso de um período de um mês após a data em que essa Parte tiver informado o
Secretário-Geral da sua aceitação.
1 - Os direitos e princípios enunciados na parte I, desde que sejam postos em execução e o exercício
efectivo destes direitos e princípios, tal como estão previstos na parte II, não poderão ser objecto de 4 - Qualquer alteração as partes III a VI da presente Carta entrará em vigor no primeiro dia do mês
restrições ou limitações não especificadas nas partes I e II, com excepção das previstas na lei e que seguinte ao decurso de um período de um mês após a data em que todas as Partes tiverem informado o
sejam necessárias, numa sociedade democrática, para garantir o respeito dos direitos e liberdades de Secretário-Geral da sua aceitação.
outrem ou para proteger a ordem pública, a segurança nacional, a saúde pública e os bons costumes.

2 - As restrições permitidas em resultado da presente Carta aos direitos e obrigações reconhecidos na


mesma não podem ser aplicadas, a não ser para o fim para o qual foram previstas.
PARTE VI
Artigo H
Artigo K
Relações entrre a Carta e o direito interno ou os acordos internacionais
Assinatura, ratificação e entrada em vigor
As disposições da presente Carta não prejudicam as disposições de direito interno nem os tratados,
convenções ou acordos bilaterais ou multilaterais que estão ou entrarão em vigor e que sejam mais 1 - A presente Carta está aberta à assinatura dos Estados membros do Conselho da Europa. Ela será
submetida à ratificação, aceitação ou aprovação. Os instrumentos de ratificação, de aceitação ou de
favoráveis às pessoas protegidas.
aprovação serão depositados junto do Secretário-Geral do Conselho da Europa.

Artigo I 2 - A presente Carta entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um período de um
mês após a data em que três Estados membros do Conselho da Europa tiverem manifestado o seu
Aplicação dos compromissos aceites consentimento em estarem abrangidos pela presente Carta, de acordo com o disposto no parágrafo
anterior.
1 - Sem prejuízo dos meios de aplicação enunciados nestes artigos, as disposições pertinentes dos
3 - Para qualquer Estado membro que manifeste posteriormente o seu consentimento em estar
artigos 1.º a 31.º da parte II da presente Carta são aplicadas:
abrangido pela presente Carta, esta entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um
período de um mês após a data do depósito do instrumento de ratificação, de aceitação ou de aprovação.
a) Pela legislação ou pela regulamentação;
Artigo L
b) Por convenções celebradas entre empregadores ou organizações de empregadores e
organizações de trabalhadores;
Aplicação territorial
c) Por uma combinação destes dois métodos;
1 - A presente Carta aplica-se no território metropolitano de cada Parte. Qualquer signatário pode, no
d) Por outros meios apropriados. momento da assinatura ou no momento do depósito do seu instrumento de ratificação, de aceitação ou
de aprovação, precisar, em declaração feita ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, o território que
2 - Os compromissos decorrentes dos parágrafos 1, 2, 3, 4, 5 e 7 do artigo 2.º, dos parágrafos 4, 6 e 7 é considerado para este fim como seu território metropolitano.
do artigo 7.º, dos parágrafos 1, 2, 3, 4 e 5 do artigo 10.º e dos artigos 21.º e 22.º da parte II da
presente Carta considerar-se-ão cumpridos logo que essas disposições forem aplicadas, de acordo com o 2 - Qualquer signatário pode, no momento da assinatura ou no momento do depósito do instrumento de
parágrafo 1 do presente artigo, à grande maioria dos trabalhadores interessados. ratificação, de aceitação ou de aprovação, ou em qualquer outro momento posterior, declarar, em
notificação dirigida ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, que a Carta, no todo ou em parte, se
aplicará naquele ou naqueles territórios não metropolitanos designados na dita declaração e em relação
Artigo J
aos quais ela assegura as relações internacionais ou assume a responsabilidade internacional.
Especificará nesta declaração os artigos ou parágrafos da parte II da Carta que aceita como obrigatórios
Alterações no que respeita a cada um dos territórios designados na declaração.

1 - Qualquer alteração das partes I e II da presente Carta destinada a alargar os direitos garantidos pela 3 - A Carta aplicar-se-á ao território ou aos territórios designados na declaração referida no parágrafo
presente Carta e qualquer alteração às partes III a VI, proposta por uma Parte ou pelo Comité precedente a partir do primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um período de um mês após a data
Governamental, é comunicada ao Secretário-Geral do Conselho da Europa e transmitida pelo Secretário- em que o Secretário-Geral tiver recebido a notificação desta declaração.
Geral às Partes da presente Carta.
4 - Qualquer Parte poderá, em qualquer momento posterior, declarar, em notificação dirigida ao
2 - Qualquer alteração proposta de acordo com as disposições do parágrafo anterior é examinada pelo Secretário-Geral do Conselho da Europa, que, no que respeita a um ou a vários territórios aos quais a
Comité Governamental, que submete o texto adoptado à aprovação do Comité de Ministros, após Carta se aplica em virtude do parágrafo 2 do presente artigo, aceita como obrigatório qualquer artigo ou
consulta à Assembleia Parlamentar. Após a sua aprovação pelo Comité de Ministros, esse texto será parágrafo numerado que não tinha ainda aceite no que respeita a este ou a estes territórios. Estes
comunicado às Partes, com vista à sua aceitação. compromissos posteriores serão considerados parte integrante da declaração original no que respeita ao
território em questão e produzirão os mesmos efeitos a partir do primeiro dia do mês seguinte ao
3 - Qualquer alteração feita à parte I e à parte II da presente Carta entrará em vigor, relativamente às decurso de um período de um mês após a data da recepção da notificação pelo Secretário-Geral.
Partes que a tenham aceite, no primeiro dia do mês seguinte ao decurso de um período de um mês após

17 18
Artigo M

Denúncia

1 - Nenhuma Parte pode denunciar a presente Carta antes do decurso de um período de cinco anos após
a data em que a Carta entrou em vigor para ela, ou antes do decurso de qualquer outro período
posterior de dois anos e, em qualquer caso, com um pré-aviso de seis meses deverá ser notificado o
Secretário-Geral do Conselho da Europa, que disso informará as outras Partes.

2 - Qualquer Parte pode, de acordo com o disposto no parágrafo anterior, denunciar qualquer artigo ou
parágrafo da parte II da Carta que tenha aceite, sob reserva de que o número de artigos ou parágrafos
aos quais essa Parte fica vinculada não seja nunca inferior a 16 no primeiro caso e a 63 no segundo e de
que o número de artigos ou parágrafos continue a compreender os artigos escolhidos por esta Parte de
entre aqueles a que se faz referência especial no artigo A, parágrafo 1, alínea b).

3 - Qualquer Parte pode denunciar a presente Carta, ou qualquer artigo ou parágrafo da parte II da
Carta nas condições previstas no parágrafo 1 do presente artigo, no que se refere a qualquer território a
que se aplique a Carta em virtude de uma declaração feita conforme o parágrafo 2 do artigo L.

Artigo N

Anexo

O anexo à presente Carta faz parte integrante da mesma.

Artigo O

Notificações

O Secretário-Geral do Conselho da Europa notificará os Estados membros do Conselho e o Director-


Geral da Repartição Internacional do Trabalho:

a) De qualquer assinatura;

b) Do depósito de qualquer instrumento de ratificação, de aceitação ou de aprovação;

c) De qualquer data de entrada em vigor da presente Carta, de acordo com o seu artigo K;

d) De qualquer declaração em cumprimento dos artigos A, parágrafos 2 e 3, D, parágrafos 1 e 2,


F, parágrafo 2, e L, parágrafos 1, 2, 3 e 4;

e) De qualquer alteração de acordo com o artigo J;

f) De qualquer denúncia de acordo com o artigo M;

g) De qualquer outro acto, notificação ou comunicação que digam respeito à presente Carta.
Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados para o efeito, assinaram a presente
Carta revista.

Feita em Estrasburgo em 3 de Maio de 1996, em francês e em inglês, fazendo os dois textos


igualmente fé, num só exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho da Europa. O
Secretário-Geral do Conselho da Europa transmitirá cópias certificadas como conformes a cada um dos
Estados membros do Conselho e ao Director-Geral da Repartição Internacional do Trabalho.

19
PROTOCOLO ADICIONAL À CARTA SOCIAL EUROPEIA PREVENDO UM SISTEMA DE RECLAMAÇÕES COLECTIVAS Artigo 5.º

SÉRIE DE TRATADOS EUROPEUS /158 […] As reclamações são dirigidas ao Secretário-Geral, o qual acusa a sua recepção , e informa a Parte
Contratante posta em causa, transmitindo-as de imediato ao Comité de Peritos Independentes.
Preâmbulo
Artigo 6.º
Os Estados membros do Conselho da Europa, signatários do presente Protocolo à Carta Social
Europeia, aberta à assinatura em Turim a 18 de Outubro de 1961 (a seguir designada por "a Carta"): O Comité de Peritos Independentes pode solicitar à Parte Contratante posta em causa e à organização
Determinados a adoptar novas medidas destinadas a melhorar a aplicação efectiva dos direitos sociais autora da reclamação que lhe submeta, por escrito, no prazo por ele estipulado, informações e
consagrados pela Carta; observações sobre a admissibilidade da reclamação.

Considerando que este objectivo pode ser atingido em particular pelo estabelecimento de um
Artigo 7.º
procedimento de reclamações colectivas que, entre outros, permitirá reforçar a participação dos
parceiros sociais e das organizações não governamentais;
1. Se o Comité de Peritos Independentes decide admitir uma reclamação, informa desse facto as Partes
acordam no seguinte:
Contratantes da Carta, por intermédio do Secretário-Geral. O Comité solicita à Parte Contratante posta
em causa e à organização autora da reclamação que lhe submetam por escrito, no prazo por ele
Artigo 1.º
estipulado, todas as explicações ou informações adequadas, e às outras Partes Contratantes do
presente Protocolo as observações que desejem transmitir-lhe no mesmo prazo.
As Partes Contratantes do presente Protocolo reconhecem o direito de apresentar reclamações
2. No caso de a reclamação ser apresentada por uma organização nacional de empregadores ou de
alegando uma aplicação não satisfatória da Carta às seguintes organizações:
trabalhadores, ou por uma outra organização não governamental, nacional ou internacional, o Comité
a) Organizações internacionais de empregadores e de trabalhadores a que alude o parágrafo 2 de Peritos Independentes informa desse facto, por intermédio do Secretário-Geral, as organizações
do artigo 27.º da Carta; internacionais de empregadores ou de trabalhadores previstas no parágrafo 2 do artigo 27.º da Carta,
b) Outras organizações internacionais não governamentais dotadas do estatuto consultivo junto convidando-as a formular observações no prazo por ele estipulado.
do Conselho da Europa e inscritas na lista elaborada para este efeito pelo Comité 3. Com base nos esclarecimentos, informações ou observações submetidos ao abrigo dos parágrafos 1
Governamental; e 2 acima, a Parte Contratante posta em causa e a organização autora da reclamação podem
c) Organizações nacionais representativas de empregadores e de trabalhadores sujeitas à submeter, por escrito, todas as informações ou observações complementares, no prazo estipulado pelo
jurisdição da Parte Contratante posta em causa pela reclamação. Comité de Peritos Independentes.
4. No âmbito do exame da reclamação, o Comité de Peritos Independentes pode proceder a uma
Artigo 2.º audição com os representantes das Partes.

1. Qualquer Estado Contratante pode, por outro lado, ao manifestar o seu consentimento em vincular- Artigo 8.º
se ao presente Protocolo, nos termos do disposto no artigo 13.º, ou em qualquer outro momento
posterior, declarar reconhecer o direito de contra ele apresentarem reclamações a outras organizações 1. O Comité de Peritos Independentes elabora um relatório descrevendo as medidas adoptadas para
nacionais não governamentais representativas sujeitas à sua jurisdição e que sejam particularmente examinar a reclamação e apresenta as suas conclusões quanto a saber se a Parte Contratante posta
qualificadas nas matérias reguladas pela Carta. em causa assegurou ou não de forma satisfatória a aplicação da disposição da Carta visada pela
2. Estas declarações podem ser feitas para um período determinado. reclamação.
3. As declarações são remetidas ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, que delas transmite 2. O relatório é comunicado ao Comité de Ministros. É também comunicado à organização que
cópias às Partes Contratantes e que assegura a respectiva publicação. apresentou a reclamação e às Partes Contratantes da Carta, sem que estas tenham a faculdade de
proceder à sua publicação.
Artigo 3.º O relatório é transmitido à Assembleia Parlamentar e tornado público simultaneamente com a
resolução prevista no artigo 9.º ou, o mais tardar, no prazo de quatro meses após a sua transmissão
As organizações internacionais não governamentais e as organizações nacionais não governamentais ao Comité de Ministros.
mencionadas, respectivamente, nos artigos 1.º, b), e 2.º apenas podem apresentar reclamações,
segundo o procedimento previsto nestes artigos, nos domínios para os quais tenham sido reconhecidas Artigo 9.º
particularmente qualificadas.
1. Com base no relatório do Comité de Peritos Independentes, o Comité de Ministros adopta uma
Artigo 4.º resolução por maioria dos votantes. Caso o Comité de Peritos Independentes constate uma aplicação
não satisfatória da Carta, o Comité de Ministros adopta, por maioria de dois terços dos votantes, uma
A reclamação deve ser apresentada por escrito, dizer respeito a uma disposição da Carta aceite pela recomendação dirigida à Parte Contratante posta em causa. Em ambos os casos só as Partes
Parte Contratante posta em causa e indicar em que medida esta última não terá assegurado de modo Contratantes da Carta podem participar na votação.
satisfatório a aplicação da disposição visada.

Rua do Vale de Pereiro, n.º 2 | 1269-113 Lisboa – Portugal | Tel. +351 213 820 300 | Fax +351 213 820 301
correio@gddc.pt | www.ministeriopublico.pt 2
2. A pedido da Parte Contratante posta em causa, o Comité de Ministros pode decidir, sempre que o Artigo 16.º
relatório do Comité de Peritos Independentes suscite questões novas, por maioria de dois terços das
Partes Contratantes na Carta, consultar o Comité Governamental. O Secretário-Geral do Conselho da Europa notificará aos Estados membros do Conselho:
a) Todas as assinaturas;
Artigo 10.º
b) O depósito de todos os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação;

A Parte Contratante posta em causa dará indicações sobre as medidas que tiver adoptado para dar c) A data de entrada em vigor do presente Protocolo, nos termos do artigo 14.º;
cumprimento à recomendação do Comité de Ministros no próximo relatório a dirigir ao Secretário-Geral d) Qualquer outro acto, notificação ou declaração relacionado com o presente Protocolo.
em cumprimento do artigo 21.º da Carta.

Artigo 11.º Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados para o efeito, assinaram o presente
Protocolo.

Os artigos 1.º a 10.º do presente Protocolo aplicam-se igualmente aos artigos da parte II do Primeiro Feito em Estrasburgo, a 9 de Novembro de 1995, em francês e inglês, ambos os textos fazendo
Protocolo Adicional à Carta, relativamente aos Estados partes deste Protocolo, na medida em que estes igualmente fé, num único exemplar, que será depositado nos arquivos do Conselho da Europa. O
artigos tenham sido aceites. Secretário-Geral do Conselho da Europa comunicará cópia autenticada a cada um dos Estados
membros do Conselho da Europa.
Artigo 12.º

Os Estados partes do presente Protocolo consideram que o primeiro parágrafo do anexo à Carta,
relativo à parte III, tenha a seguinte leitura:
"Fica entendido que a Carta contém compromissos jurídicos de carácter internacional cuja aplicação
está submetida apenas ao controlo previsto na parte IV da Carta e nas disposições no presente
Protocolo."

Artigo 13.º

1. O presente Protocolo é aberto à assinatura dos Estados membros do Conselho da Europa signatários
da Carta, que podem manifestar o seu consentimento em se vincularem através de:
a) Assinatura sem reserva de ratificação, aceitação ou aprovação; ou
b) Assinatura com reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, seguida de ratificação,
aceitação ou aprovação.
2. Um Estado membro do Conselho da Europa não pode manifestar o seu consentimento em vincular-
se ao presente Protocolo sem prévia ou simultaneamente ter ratificado a Carta.
3. Os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados junto do Secretário-Geral
do Conselho da Europa.

Artigo 14.º

1. O presente Protocolo entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao decurso de um período de um
mês após a data em que cinco Estados membros do Conselho da Europa tenham manifestado o seu
consentimento em se vincularem ao Protocolo, nos termos do disposto no artigo 13.º
2. Para qualquer Estado membro que tiver manifestado posteriormente o seu consentimento em
vincular-se ao Protocolo este entrará em vigor no 1.º dia do mês seguinte ao decurso de um período de
um mês após a data do depósito do instrumento de ratificação ou aprovação.

Artigo 15.º

1. Qualquer Parte Contratante pode, a qualquer momento, denunciar o presente Protocolo, dirigindo
uma notificação ao Secretário-Geral do Conselho da Europa.
2. A denúncia produzirá efeitos no 1.º dia do mês seguinte ao decurso de um período de 12 meses
após a data da recepção da notificação pelo Secretário-Geral.

3 4
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/393 C 202/394 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

O Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão proclamam solenemente como Carta dos Direitos TÍTULO I
Fundamentais da União Europeia o texto a seguir reproduzido.
DIGNIDADE

Artigo 1.o
CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA
Dignidade do ser humano

Preâmbulo A dignidade do ser humano é inviolável. Deve ser respeitada e protegida.


Os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união cada vez mais estreita, decidiram partilhar um
futuro de paz, assente em valores comuns. Artigo 2.o
Direito à vida
1. Todas as pessoas têm direito à vida.
Consciente do seu património espiritual e moral, a União baseia-se nos valores indivisíveis e uni­
versais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da solidariedade; assenta nos 2. Ninguém pode ser condenado à pena de morte, nem executado.
princípios da democracia e do Estado de direito. Ao instituir a cidadania da União e ao criar um
espaço de liberdade, segurança e justiça, coloca o ser humano no cerne da sua ação.
Artigo 3.o
Direito à integridade do ser humano
A União contribui para a preservação e o desenvolvimento destes valores comuns, no respeito pela 1. Todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua integridade física e mental.
diversidade das culturas e tradições dos povos da Europa, bem como da identidade nacional dos
Estados-Membros e da organização dos seus poderes públicos aos níveis nacional, regional e local;
2. No domínio da medicina e da biologia, devem ser respeitados, designadamente:
procura promover um desenvolvimento equilibrado e duradouro e assegura a livre circulação das
pessoas, dos serviços, dos bens e dos capitais, bem como a liberdade de estabelecimento.
a) O consentimento livre e esclarecido da pessoa, nos termos da lei;

Para o efeito, é necessário, conferindo-lhes maior visibilidade por meio de uma Carta, reforçar a b) A proibição das práticas eugénicas, nomeadamente das que têm por finalidade a seleção das
proteção dos direitos fundamentais, à luz da evolução da sociedade, do progresso social e da pessoas;
evolução científica e tecnológica.
c) A proibição de transformar o corpo humano ou as suas partes, enquanto tais, numa fonte de
lucro;
A presente Carta reafirma, no respeito pelas atribuições e competências da União e na observância do
princípio da subsidiariedade, os direitos que decorrem, nomeadamente, das tradições constitucionais e d) A proibição da clonagem reprodutiva dos seres humanos.
das obrigações internacionais comuns aos Estados-Membros, da Convenção Europeia para a Proteção
dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, das Cartas Sociais aprovadas pela União e Artigo 4.o
pelo Conselho da Europa, bem como da jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia e
do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Neste contexto, a Carta será interpretada pelos órgãos Proibição da tortura e dos tratos ou penas desumanos ou degradantes
jurisdicionais da União e dos Estados-Membros tendo na devida conta as anotações elaboradas sob a Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas desumanos ou degradantes.
autoridade do Praesidium da Convenção que redigiu a Carta e atualizadas sob a responsabilidade do
Praesidium da Convenção Europeia.
Artigo 5.o
Proibição da escravidão e do trabalho forçado

O gozo destes direitos implica responsabilidades e deveres, tanto para com as outras pessoas 1. Ninguém pode ser sujeito a escravidão nem a servidão.
individualmente consideradas, como para com a comunidade humana e as gerações futuras.
2. Ninguém pode ser constrangido a realizar trabalho forçado ou obrigatório.

Assim sendo, a União reconhece os direitos, liberdades e princípios a seguir enunciados. 3. É proibido o tráfico de seres humanos.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/395 C 202/396 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

TÍTULO II Artigo 11.o


LIBERDADES Liberdade de expressão e de informação
1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de
Artigo 6.o opinião e a liberdade de receber e de transmitir informações ou ideias, sem que possa haver
Direito à liberdade e à segurança
ingerência de quaisquer poderes públicos e sem consideração de fronteiras.

Toda a pessoa tem direito à liberdade e segurança. 2. São respeitados a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social.

Artigo 12.o
Artigo 7.o
Liberdade de reunião e de associação
Respeito pela vida privada e familiar
1. Todas as pessoas têm direito à liberdade de reunião pacífica e à liberdade de associação a todos
Todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua vida privada e familiar, pelo seu domicílio e pelas os níveis, nomeadamente nos domínios político, sindical e cívico, o que implica o direito de, com
suas comunicações. outrem, fundarem sindicatos e de neles se filiarem para a defesa dos seus interesses.

2. Os partidos políticos ao nível da União contribuem para a expressão da vontade política dos
Artigo 8.o cidadãos da União.
Proteção de dados pessoais
1. Todas as pessoas têm direito à proteção dos dados de caráter pessoal que lhes digam respeito. Artigo 13.o
Liberdade das artes e das ciências
As artes e a investigação científica são livres. É respeitada a liberdade académica.
2. Esses dados devem ser objeto de um tratamento leal, para fins específicos e com o consenti­
mento da pessoa interessada ou com outro fundamento legítimo previsto por lei. Todas as pessoas
têm o direito de aceder aos dados coligidos que lhes digam respeito e de obter a respetiva retificação. Artigo 14.o
Direito à educação
1. Todas as pessoas têm direito à educação, bem como ao acesso à formação profissional e
3. O cumprimento destas regras fica sujeito a fiscalização por parte de uma autoridade indepen­ contínua.
dente.
2. Este direito inclui a possibilidade de frequentar gratuitamente o ensino obrigatório.
o
Artigo 9.
3. São respeitados, segundo as legislações nacionais que regem o respetivo exercício, a liberdade
Direito de contrair casamento e de constituir família de criação de estabelecimentos de ensino, no respeito pelos princípios democráticos, e o direito dos
O direito de contrair casamento e o direito de constituir família são garantidos pelas legislações pais de assegurarem a educação e o ensino dos filhos de acordo com as suas convicções religiosas,
nacionais que regem o respetivo exercício. filosóficas e pedagógicas.

Artigo 15.o
o
Artigo 10. Liberdade profissional e direito de trabalhar
Liberdade de pensamento, de consciência e de religião 1. Todas as pessoas têm o direito de trabalhar e de exercer uma profissão livremente escolhida ou
1. Todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este aceite.
direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, bem como a liberdade de mani­
festar a sua religião ou a sua convicção, individual ou coletivamente, em público ou em privado, 2. Todos os cidadãos da União têm a liberdade de procurar emprego, de trabalhar, de se estabe­
através do culto, do ensino, de práticas e da celebração de ritos. lecer ou de prestar serviços em qualquer Estado-Membro.

3. Os nacionais de países terceiros que sejam autorizados a trabalhar no território dos Estados-
2. O direito à objeção de consciência é reconhecido pelas legislações nacionais que regem o -Membros têm direito a condições de trabalho equivalentes àquelas de que beneficiam os cidadãos da
respetivo exercício. União.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/397 C 202/398 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

Artigo 16.o Artigo 21.o


Liberdade de empresa Não discriminação
É reconhecida a liberdade de empresa, de acordo com o direito da União e as legislações e práticas 1. É proibida a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou
nacionais. social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões políticas ou outras, pertença a
uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual.

Artigo 17.o 2. No âmbito de aplicação dos Tratados e sem prejuízo das suas disposições específicas, é proibida
Direito de propriedade toda a discriminação em razão da nacionalidade.
1. Todas as pessoas têm o direito de fruir da propriedade dos seus bens legalmente adquiridos, de
os utilizar, de dispor deles e de os transmitir em vida ou por morte. Ninguém pode ser privado da
sua propriedade, exceto por razões de utilidade pública, nos casos e condições previstos por lei e Artigo 22.o
mediante justa indemnização pela respetiva perda, em tempo útil. A utilização dos bens pode ser Diversidade cultural, religiosa e linguística
regulamentada por lei na medida do necessário ao interesse geral.
A União respeita a diversidade cultural, religiosa e linguística.

2. É protegida a propriedade intelectual. Artigo 23.o


Igualdade entre homens e mulheres
Deve ser garantida a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios, incluindo em
Artigo 18.o matéria de emprego, trabalho e remuneração.
Direito de asilo
É garantido o direito de asilo, no quadro da Convenção de Genebra de 28 de julho de 1951 e do O princípio da igualdade não obsta a que se mantenham ou adotem medidas que prevejam regalias
Protocolo de 31 de janeiro de 1967, relativos ao Estatuto dos Refugiados, e nos termos do Tratado específicas a favor do sexo sub-representado.
da União Europeia e do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (a seguir designados
"Tratados").
Artigo 24.o
Direitos das crianças
Artigo 19.o
1. As crianças têm direito à proteção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar. Podem exprimir
Proteção em caso de afastamento, expulsão ou extradição livremente a sua opinião, que será tomada em consideração nos assuntos que lhes digam respeito, em
1. São proibidas as expulsões coletivas. função da sua idade e maturidade.

2. Todos os atos relativos às crianças, quer praticados por entidades públicas, quer por instituições
2. Ninguém pode ser afastado, expulso ou extraditado para um Estado onde corra sério risco de privadas, terão primacialmente em conta o interesse superior da criança.
ser sujeito a pena de morte, a tortura ou a outros tratos ou penas desumanos ou degradantes.

3. Todas as crianças têm o direito de manter regularmente relações pessoais e contactos diretos
TÍTULO III com ambos os progenitores, exceto se isso for contrário aos seus interesses.
IGUALDADE
Artigo 25.o
Artigo 20.o
Direitos das pessoas idosas
Igualdade perante a lei
A União reconhece e respeita o direito das pessoas idosas a uma existência condigna e independente
Todas as pessoas são iguais perante a lei. e à sua participação na vida social e cultural.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/399 C 202/400 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

Artigo 26.o Artigo 32.o


Integração das pessoas com deficiência Proibição do trabalho infantil e proteção dos jovens no trabalho
A União reconhece e respeita o direito das pessoas com deficiência a beneficiarem de medidas É proibido o trabalho infantil. A idade mínima de admissão ao trabalho não pode ser inferior à idade
destinadas a assegurar a sua autonomia, a sua integração social e profissional e a sua participação em que cessa a escolaridade obrigatória, sem prejuízo de disposições mais favoráveis aos jovens e
na vida da comunidade. salvo derrogações bem delimitadas.

TÍTULO IV Os jovens admitidos ao trabalho devem beneficiar de condições de trabalho adaptadas à sua idade e
de proteção contra a exploração económica e contra todas as atividades suscetíveis de prejudicar a
SOLIDARIEDADE sua segurança, saúde ou desenvolvimento físico, mental, moral ou social, ou ainda de pôr em causa a
sua educação.
Artigo 27.o
Direito à informação e à consulta dos trabalhadores na empresa
Artigo 33.o
Deve ser garantida aos níveis apropriados, aos trabalhadores ou aos seus representantes, a informação
Vida familiar e vida profissional
e consulta, em tempo útil, nos casos e nas condições previstos pelo direito da União e pelas
legislações e práticas nacionais. 1. É assegurada a proteção da família nos planos jurídico, económico e social.

Artigo 28.o 2. A fim de poderem conciliar a vida familiar e a vida profissional, todas as pessoas têm direito a
proteção contra o despedimento por motivos ligados à maternidade, bem como a uma licença por
Direito de negociação e de ação coletiva maternidade paga e a uma licença parental pelo nascimento ou adoção de um filho.
Os trabalhadores e as entidades patronais, ou as respetivas organizações, têm, de acordo com o
direito da União e as legislações e práticas nacionais, o direito de negociar e de celebrar convenções
coletivas aos níveis apropriados, bem como de recorrer, em caso de conflito de interesses, a ações Artigo 34.o
coletivas para a defesa dos seus interesses, incluindo a greve. Segurança social e assistência social
1. A União reconhece e respeita o direito de acesso às prestações de segurança social e aos
serviços sociais que concedem proteção em casos como a maternidade, doença, acidentes de trabalho,
Artigo 29.o
dependência ou velhice, bem como em caso de perda de emprego, de acordo com o direito da União
Direito de acesso aos serviços de emprego e com as legislações e práticas nacionais.
Todas as pessoas têm direito de acesso gratuito a um serviço de emprego.
2. Todas as pessoas que residam e se desloquem legalmente no interior da União têm direito às
prestações de segurança social e às regalias sociais nos termos do direito da União e das legislações e
Artigo 30.o práticas nacionais.
Proteção em caso de despedimento sem justa causa
Todos os trabalhadores têm direito a proteção contra os despedimentos sem justa causa, de acordo
3. A fim de lutar contra a exclusão social e a pobreza, a União reconhece e respeita o direito a
com o direito da União e com as legislações e práticas nacionais.
uma assistência social e a uma ajuda à habitação destinadas a assegurar uma existência condigna a
todos aqueles que não disponham de recursos suficientes, de acordo com o direito da União e com
as legislações e práticas nacionais.
Artigo 31.o
Condições de trabalho justas e equitativas
Artigo 35.o
1. Todos os trabalhadores têm direito a condições de trabalho saudáveis, seguras e dignas.
Proteção da saúde
Todas as pessoas têm o direito de aceder à prevenção em matéria de saúde e de beneficiar de
2. Todos os trabalhadores têm direito a uma limitação da duração máxima do trabalho e a cuidados médicos, de acordo com as legislações e práticas nacionais. Na definição e execução de
períodos de descanso diário e semanal, bem como a um período anual de férias pagas. todas as políticas e ações da União é assegurado um elevado nível de proteção da saúde humana.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/401 C 202/402 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

Artigo 36.o 2. Este direito compreende, nomeadamente:


Acesso a serviços de interesse económico geral
a) O direito de qualquer pessoa a ser ouvida antes de a seu respeito ser tomada qualquer medida
A União reconhece e respeita o acesso a serviços de interesse económico geral tal como previsto nas
individual que a afete desfavoravelmente;
legislações e práticas nacionais, de acordo com os Tratados, a fim de promover a coesão social e
territorial da União.
b) O direito de qualquer pessoa a ter acesso aos processos que se lhe refiram, no respeito pelos
legítimos interesses da confidencialidade e do segredo profissional e comercial;

Artigo 37.o
c) A obrigação, por parte da administração, de fundamentar as suas decisões.
Proteção do ambiente
Todas as políticas da União devem integrar um elevado nível de proteção do ambiente e a melhoria 3. Todas as pessoas têm direito à reparação, por parte da União, dos danos causados pelas suas
da sua qualidade, e assegurá-los de acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável. instituições ou pelos seus agentes no exercício das respetivas funções, de acordo com os princípios
gerais comuns às legislações dos Estados-Membros.

Artigo 38.o 4. Todas as pessoas têm a possibilidade de se dirigir às instituições da União numa das línguas dos
Tratados, devendo obter uma resposta na mesma língua.
Defesa dos consumidores
As políticas da União devem assegurar um elevado nível de defesa dos consumidores. Artigo 42.o
Direito de acesso aos documentos
Qualquer cidadão da União, bem como qualquer pessoa singular ou coletiva com residência ou sede
TÍTULO V social num Estado-Membro, tem direito de acesso aos documentos das instituições, órgãos e orga­
CIDADANIA nismos da União, seja qual for o suporte desses documentos.

Artigo 39.o Artigo 43.o


Direito de eleger e de ser eleito nas eleições para o Parlamento Europeu Provedor de Justiça Europeu
1. Todos os cidadãos da União gozam do direito de eleger e de serem eleitos para o Parlamento Qualquer cidadão da União, bem como qualquer pessoa singular ou coletiva com residência ou sede
Europeu no Estado-Membro de residência, nas mesmas condições que os nacionais desse Estado. social num Estado-Membro, tem o direito de apresentar petições ao Provedor de Justiça Europeu,
respeitantes a casos de má administração na atuação das instituições, órgãos ou organismos da
União, com exceção do Tribunal de Justiça da União Europeia no exercício das respetivas funções
jurisdicionais.
2. Os membros do Parlamento Europeu são eleitos por sufrágio universal direto, livre e secreto.
Artigo 44.o
Direito de petição
Artigo 40.o
Qualquer cidadão da União, bem como qualquer pessoa singular ou coletiva com residência ou sede
Direito de eleger e de ser eleito nas eleições municipais social num Estado-Membro, goza do direito de petição ao Parlamento Europeu.
Todos os cidadãos da União gozam do direito de eleger e de serem eleitos nas eleições municipais do
Estado-Membro de residência, nas mesmas condições que os nacionais desse Estado. Artigo 45.o
Liberdade de circulação e de permanência
1. Qualquer cidadão da União goza do direito de circular e permanecer livremente no território
Artigo 41.o
dos Estados-Membros.
Direito a uma boa administração
1. Todas as pessoas têm direito a que os seus assuntos sejam tratados pelas instituições, órgãos e 2. Pode ser concedida liberdade de circulação e de permanência, de acordo com os Tratados, aos
organismos da União de forma imparcial, equitativa e num prazo razoável. nacionais de países terceiros que residam legalmente no território de um Estado-Membro.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/403 C 202/404 PT Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016

Artigo 46.o Artigo 50.o


Proteção diplomática e consular Direito a não ser julgado ou punido penalmente mais do que uma vez pelo mesmo delito
Todos os cidadãos da União beneficiam, no território de países terceiros em que o Estado-Membro de Ninguém pode ser julgado ou punido penalmente por um delito do qual já tenha sido absolvido ou
que são nacionais não se encontre representado, de proteção por parte das autoridades diplomáticas e pelo qual já tenha sido condenado na União por sentença transitada em julgado, nos termos da lei.
consulares de qualquer Estado-Membro, nas mesmas condições que os nacionais desse Estado.

TÍTULO VI TÍTULO VII


DISPOSIÇÕES GERAIS QUE REGEM A INTERPRETAÇÃO E A APLICAÇÃO DA CARTA
JUSTIÇA

Artigo 47.o Artigo 51.o


Âmbito de aplicação
Direito à ação e a um tribunal imparcial
Toda a pessoa cujos direitos e liberdades garantidos pelo direito da União tenham sido violados tem 1. As disposições da presente Carta têm por destinatários as instituições, órgãos e organismos da
direito a uma ação perante um tribunal nos termos previstos no presente artigo. União, na observância do princípio da subsidiariedade, bem como os Estados-Membros, apenas
quando apliquem o direito da União. Assim sendo, devem respeitar os direitos, observar os princípios
e promover a sua aplicação, de acordo com as respetivas competências e observando os limites das
Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja julgada de forma equitativa, publicamente e num competências conferidas à União pelos Tratados.
prazo razoável, por um tribunal independente e imparcial, previamente estabelecido por lei. Toda a
pessoa tem a possibilidade de se fazer aconselhar, defender e representar em juízo.
2. A presente Carta não torna o âmbito de aplicação do direito da União extensivo a competên­
cias que não sejam as da União, não cria quaisquer novas atribuições ou competências para a União,
É concedida assistência judiciária a quem não disponha de recursos suficientes, na medida em que nem modifica as atribuições e competências definidas pelos Tratados.
essa assistência seja necessária para garantir a efetividade do acesso à justiça.

Artigo 48.o Artigo 52.o


Presunção de inocência e direitos de defesa Âmbito e interpretação dos direitos e dos princípios
1. Todo o arguido se presume inocente enquanto não tiver sido legalmente provada a sua culpa. 1. Qualquer restrição ao exercício dos direitos e liberdades reconhecidos pela presente Carta deve
ser prevista por lei e respeitar o conteúdo essencial desses direitos e liberdades. Na observância do
princípio da proporcionalidade, essas restrições só podem ser introduzidas se forem necessárias e
2. É garantido a todo o arguido o respeito dos direitos de defesa. corresponderem efetivamente a objetivos de interesse geral reconhecidos pela União, ou à necessidade
de proteção dos direitos e liberdades de terceiros.
Artigo 49.o
Princípios da legalidade e da proporcionalidade dos delitos e das penas 2. Os direitos reconhecidos pela presente Carta que se regem por disposições constantes dos
1. Ninguém pode ser condenado por uma ação ou por uma omissão que, no momento da sua Tratados são exercidos de acordo com as condições e limites por eles definidos.
prática, não constituía infração perante o direito nacional ou o direito internacional. Igualmente não
pode ser imposta uma pena mais grave do que a aplicável no momento em que a infração foi
cometida. Se, posteriormente à infração, a lei previr uma pena mais leve, deve ser essa a pena 3. Na medida em que a presente Carta contenha direitos correspondentes aos direitos garantidos
aplicada. pela Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, o
sentido e o âmbito desses direitos são iguais aos conferidos por essa Convenção. Esta disposição não
obsta a que o direito da União confira uma proteção mais ampla.
2. O presente artigo não prejudica a sentença ou a pena a que uma pessoa tenha sido condenada
por uma ação ou por uma omissão que, no momento da sua prática, constituía crime segundo os
princípios gerais reconhecidos por todas as nações.
4. Na medida em que a presente Carta reconheça direitos fundamentais decorrentes das tradições
constitucionais comuns aos Estados-Membros, tais direitos devem ser interpretados de harmonia com
3. As penas não devem ser desproporcionadas em relação à infração. essas tradições.
7.6.2016 PT Jornal Oficial da União Europeia C 202/405

5. As disposições da presente Carta que contenham princípios podem ser aplicadas através de atos
legislativos e executivos tomados pelas instituições, órgãos e organismos da União e por atos dos
Estados-Membros quando estes apliquem o direito da União, no exercício das respetivas competên­
cias. Só serão invocadas perante o juiz tendo em vista a interpretação desses atos e a fiscalização da
sua legalidade.

6. As legislações e práticas nacionais devem ser plenamente tidas em conta tal como precisado na
presente Carta.

7. Os órgãos jurisdicionais da União e dos Estados-Membros têm em devida conta as anotações


destinadas a orientar a interpretação da presente Carta.

Artigo 53.o
Nível de proteção
Nenhuma disposição da presente Carta deve ser interpretada no sentido de restringir ou lesar os
direitos do Homem e as liberdades fundamentais reconhecidos, nos respetivos âmbitos de aplicação,
pelo direito da União, o direito internacional e as Convenções internacionais em que são Partes a
União ou todos os Estados-Membros, nomeadamente a Convenção Europeia para a Proteção dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, bem como pelas Constituições dos Estados-
-Membros.

Artigo 54.o
Proibição do abuso de direito
Nenhuma disposição da presente Carta deve ser interpretada no sentido de implicar qualquer direito
de exercer atividades ou praticar atos que visem a destruição dos direitos ou liberdades por ela
reconhecidos ou restrições desses direitos e liberdades maiores do que as previstas na presente Carta.

*
* *
O texto que precede retoma, adaptando-a, a Carta proclamada em 7 de dezembro de 2000 e
substitui-a a partir da data de entrada em vigor do Tratado de Lisboa.

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