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O labirinto de labirintos

Tem coisas que são como um burburinho em nossa mente, um grilo falante,
consciência/inconsciente, senão, não é consciência. Aqui, da cachola, sai um coelho, o coelho
insiste em mostrar a cara, mas, assustado volta para dentro da cartola.

As velhas coisas novas ressurgem aos olhos, me lembro de uma canção do


Chico, Janelas abertas 02, de um trecho assim: “Eu poderia abrir as portas de dentro a dentro /
Percorrer correndo corredores em silêncio / Perder as paredes aparentes do edifício / Penetrar
no labirinto / O labirinto de labirintos / Dentro do apartamento (...)”.

Vistos por dentro somos iguais, perdidos em pensamentos, e, aqui fico com um gosto
de velho no novo, ou um novo envelhecendo. Há pensamentos, coisas, que mudam imitando o
antigo, antigo no sentido pejorativo agora, na política, na fortaleza de Repúblicas
ultrapassadas e ditatoriais que ressurgem.

Há situações que se encaixam muito bem na continuação dessa canção de Chico


Buarque de Holanda, “Beijo de uma deusa morta / Deus morto fêmea língua gelada / Língua
gelada com nada”. E segue o labirinto “Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília / E em
cada um matar um membro da família / Até que a plenitude e a morte coincidissem / Um dia /
O que aconteceria / De qualquer jeito, / Mas / Eu prefiro abrir a janela / Para todos os insetos”.

Essa postura de se resguarda, se ausentar dos problemas, uma eterna procrastinação,


de nada adianta. Firme nos pensamentos, atuante nas atitudes, um revolucionário na vida.
Não continue a bater a cabeça naquele armário que fica ao meio do caminho, mude então o
dito cujo de lugar. Assim como um velho, ressurge o ser das cinzas, Fênix que fortemente
levanta após a tempestade.

Muitos dos nossos terráqueos, ditos humanos, lambem na podridão das coisas tiranas,
criadas por um senhor tirano. Tirano, desfavorecido de qualquer bondade, e, que massacra
pessoas, se ausenta de responsabilidades, exclui ainda mais os excluídos.

Resolvi de agora em diante não mais falar o nome dessa besta fera, mas todos aí
sabem de quem eu falo, e, o triste é que outros resolvem imitar essa peste, e alinha-se o trio
obscuro, os cavaleiros do apocalipse sem cavalos.

Andando pelas ruas da cidade - esse poderia ser um trecho do início de uma linda
canção, só que não; a cidade fede a corrupção, atos sombrios rondam um alinhamento político
de coniventes. Asfaltos cobrem com piche a mente humana e o mau gosto impera na
reestruturação, revitalização do nada, para lugar nenhum. Como disse um amigo e excelente
arquiteto, de verde e de área permeável, com grama, terra pra ser plantada, uma edificação
voltada para a essência humana, que resgata parques, áreas floridas, não tem nada, é o fruto
da podridão da corrupção que se levanta.

Então, chega um cidadãozinho aqui ao meu lado, “vamos brincá”, “vamos troca umas
ideias” - o netinho me arrastando para a vida. Lembro-me do que escrevi noutra feita. Velho -
um velho, cheio de velhas boas esperanças novas, velhas ideias, do velho. E a aparente
calmaria reflete o canto de um pássaro que lá fora se esbalda com uma fruta no bico.

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