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Na rede, sem a rede.

Quando a luz falta em nossas casas, nas suas não sei, mas, pra mim, um homem
só e com todos, está sendo bom. Ficar desligado, fora um pouco de tudo isso que, por
vezes, é o que nos coloca fora de nós mesmos, de nossa essência. Voltamos com essa
falta ao que mais complementa aquilo que é realmente nosso, o essencial, vida e ligação
com o Cosmos. Poder olhar para a lua, lembrar-me dela e sentir o barulho da suavidade
do silêncio, claro, dentro de casa, velas, romantismo criado no ar, o eu e o mim se
olham num abraço apertado em mim mesmo, bom. Somos seres já de luz, não essa aí,
mas, nossas ligações com o espiritual, tudo aquilo que está além da matéria e um
simples banho frio, não sei como, mas, leva-nos para esse caminho de sentirmo-nos
bem, físico, alma, bem estar, alegria e contentamento.

Não falo por hipocrisia, claro que precisamos da luz elétrica, precisamos e,
manter os alimentos ali na geladeira, pra que não estraguem. Precisamos num momento
de frio, de um banho quente, mas, num momento impar, esse sentimento de ficar longe
das redes sociais, de sentir um banho frio, um sentimento de natureza, é ótimo.

Quantas curtidas à toa, quanto tempo perdido. Todos são bacanas ali, nas redes
sociais. Todos se alimentam bem. Churrasco, felicidade, ninguém triste. Mas os
problemas, a tristeza, a sensação de estarmos vivos, essa sim importa. Vivos com toda a
imperfeição do mundo, renascemos, assim com a FÊNIX, das cinzas, é preciso ir às
cinzas, é preciso viver para saber viver. Não há filtros no real, mas, há muitas
possibilidades, aí que se encontra o verdadeiro ato da vida.

É preciso saber viver, não é? Letra de música, um bordão para a vida. Mas,
estamos muito imersos no imediato. Todos andando pelas ruas olhando para as telas de
seus celulares. Fora esse marasmo, esse vício de acomodações há um imenso objeto no
ar, surgem possibilidades, mas, ali se encontram todos de olho nas telas as proezas que,
caso continuem nessa inércia de olhar para essas pequenas telas, nunca conseguirão
realizar. A vida está no concreto, no objetivo que dá ligação com o subjetivo. A vida é
algo mais que um simples apertar de teclas.

E na cozinha, umas quatro velas iluminam o meu ato de cozinhar, sim,


cozinhando para mim mesmo, naquele momento um ser mais importante, eu cuidando
de mim mesmo. Lembro-me de quando morava na roça, e, no fogo frita o alho pra
depois jogar o feijão. Na outra panela douro, selo uns pedaços de carne, depois vai
mandioca, delícia, vaca atolada à luz de velas. Sou ainda um amante à moda antiga.
Penso e dou risada, sim, claro, à luz de velas com seja uma personagem feminina, um
cheiro de mulher, mas, estou feliz, imagino aquela que queria ali, diante de mim naquele
momento, simples assim, sou feliz pela minha própria existência, dizem que o amor
nasce de nosso olhar pra dentre de nós mesmos. Amo a mim mesmo, amo a minha
existência, daí então outros me serão e eu serei simples assim como o arroz que doura e
o cheiro que, lhes digo, só eu sentirei, você, querido e amado leitor, acredite, gosto e sei
fazer um bom prato, caso queira, agora é melhor ainda, à luz de velas, penso aqui numa
boa companhia, isso, já está diante de mim. Aí está tudo, poder pensar em pessoas
legais e saber que existo assim, como alguém que completa e que também pode ser
completado, mas que só, também pleno. Engraçado tudo isso vir à tona com a ausência
da luz elétrica, incrível.

Aqui na biblioteca, vendo os livros à minha frente, claro aqui preciso estar aqui,
não é? Preciso da luz elétrica, internet para escrever esse texto, ajeitar outras coisas,
enfim, a vida que está no uso da eletricidade, a vida do homem moderno, mas, já há um
tempo trago em mim um cuidado com o ser esse homem moderno, pode tornar-se um
atraso em termos de transição, ou pegar a contramão e chegar ao nada. Eis aí as
possibilidades, no simples, simples assim, mas, pleno e feliz. Assim a vida, assim seja
divina a existência do simples fato de estar vivo pra ouvir o pássaro que me desperta
todos os dias.

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