Você está na página 1de 2

Atualidade e correria

Todos os dias, levantamos de nosso sonho e sono querido. Acordar, pés no chão
e um suspiro fundo. Dali a pouco esquentar água e o café quase saindo e vai, vamos. Pra
correria do dia, vamos que vamos. Nem percebemos o quanto, mas, corremos.
Infindável corrida pra poder parar um pouco e ver que corremos. Precisamos disso. Uns
de dinheiro, serviço, trabalho, outros, dar manutenção ao trabalho, estudar,
conhecimento, manutenção do conhecimento e sobrevivência. Vivemos assim num
emaranhado de necessidades, nadar contra a corredeira, crescemos.
Desenvolvimento, em extensão, se envolver, desenvolver, desenvolver em
movimento. O movimento é interno e externo. Capacidade e espiritualidade,
conhecimento, vivências e se envolver. Com soluções ou sem aos problemas, assim
vamos, assim vivemos. Lendas e mitos de uma evolução que é conseguida pelo esforço,
porém, de tanto esforço percebemos que também há por trás de tudo um engodo, sim,
continue se esforçando, física e mentalmente e no mental reflita bem, seus direitos,
pense neles e sobre eles. Está recebendo seus direitos? Estão lhe pagando o que merece?
E o que acontece pra ir tanto dinheiro à especulação e mãos de poucos, politicamente
(no sentido sujo) isso que acontece!
Enquanto uns não pensam as ratazanas sobem e pegam o queijinho que ficou,
por descuido, sobre a mesa exalando cheirinho gostoso de quero mais, simples assim,
ficou à mostra, no descuido. Lá vem a turminha, pequena e poderosa, roer a riqueza do
brasileiro descuidado. O descuido é uma fraqueza. É cômodo ser assim, não pensar,
dizer que política é pra outros, mas, política está também em como agir e, se não age,
agem por ti. Simples assim. Tipo um samba de uma nota só e bem aguda. Ave Cesar,
ave correria. Tudo gira num ritmo acelerado. Os Embalos de Sábado a Noite ao cubo,
santa correria. Aqui fico pensando, uma cerveja gelada, aconchego, minha casa. Corre
que corre e depois descansa pra depois correr de novo, lembrando aqui do cachorro
tentando pegar o próprio rabo.
E vai e anda dá o dedão pra o buzão, que passa lotado, é essa m... Planalto, o
cavalo de cigano a galopado, pintado e desbotando. E vai, puxa, empurra e vai. Assim
fico pensando, quantas horas perdidas esperando essa lata velha, quantas horas
esperando, pra depois, mais uma vez ajudar a enriquecer os bolsos do dono da empresa,
melhoras, nada, enganação, isso é fato, não é? E sai aos solavancos, penso no final do
dia, penso nela como todos pensamos. Penso nela, e no cheiro de algo saindo no forno,
mas, penso nela, assim, gelada, descendo goela abaixo, refrescante gole de cerveja.
Não sou adepto ao final de semana, não penso nisso. Por mim, na vontade,
precisão e podendo, o gole desce também na segunda. Aos pontapés com a moldagem
imposta a nós. A hipocrisia rola solta, e, nossa, tem hora que temos de segurar e respirar
fundo, tanta conversa fiada. Político dando homilia, nós, ali, né, fazer o quê, escutando,
cansados, mas, se estão falando pra nós, somos o centro da atenção. Penso no estilingue
que fazia quando era jovenzinho, de borracha de soro, não errava nada, penso que numa
só estilingada e o papagaio ficava ali, quieto. Deixa disso, pensamento, isso, apenas
isso. Agora um menino grande né, um senhor quase idoso, mas, acredito que na pontaria
ainda consigo chegar próximo ao queixo de uma anta, não no sentido literal, mas, né,
tem anta também entre os homens, e segue a hipocrisia. Pra hipócritas, hipócrita e meio.
Tudo junto e misturado, assim com tudo junto se escreve separado e separado
escreve junto. A vida assim como num redemoinho, vem, faz ventania danada, poeira
pra todo lado, algo vai, mas, depois de tudo, calmaria. Isso é a vida. Quantas e quantas
vezes chega diante de nós o caos, o fim de tudo, como se tudo fosse desabar, isso vem
com a correria, mas, isso está aqui, foi embutido em nós, juntamente com a religião, o
tempo, que, depois vemos que é tudo um eterno presente. Mas, vem, massacra. Não
corra! Olha a contra mão! Não beba! Não morra!
Tudo bem e vem em doses ditatoriais, daí que eu digo que bom mesmo era
quanta havia jovem aqui, em mim, eu mesmo, arrogantemente saudável, que, sem
pensar muito, dava murro no queixo do cavalo da vida. Isso é bom. Juventude,
indomável, James Dean, e vai, somos um baila comigo eterno, rebelde cavalo
indomável, mas, agora, liso, experto, cansa, sacode, mas, ali, na sabedoria da dita massa
cinzenta, espreita e não se expõe, só fica observando e age homeopaticamente, em doses
diárias de contrariedade e rebeldia pensante.
E passa o bonde, passa boi, passa boiada, e lembro o Manuel Bandeira.
Lembrança da poesia moderna, Oswald de Andrade que diz que pra dizerem melhor,
mió, pra milho dizem mio, pra telha dizem teia, pra telhado, teiado e, assim “vão
fazendo telhados”. Sim fazemos telhados todos os dias, construção da vida, abrigo
conquistado por todos nós. Esforço de uma simples fala, que dá murro em ponta de faca
todo o santo dia. E vai, estica aperta e vai, vai conquistando, sendo devorado, vai
vivendo, assim, na vida. Lembro o Drummond, que num de seus poemas, Cidadezinha
Qualquer, encerra, como encerro agora o meu artigo: Eita vida besta meu Deus!

Você também pode gostar