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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: Lugares de Memória e o ensino de história
PROFESSORA: Ana Rita Fonteles
ALUNO: Antônio Lucas Melo da Mota

A partir das discussões levantadas pelo filme Narradores de Javé, em relação com os
textos de Durval Muniz Albuquerque e Michael Pollak debata as relações entre memória e
identidade.

O filme Narradores de Javé conta a história dos moradores da cidade Vale de Javé e o
drama vivido por essas famílias. Este sofrimento é causado por uma informação de que
vai ser construído uma represa o que acarretará o inundamento de todo o vilarejo. Nesse
sentido, a única maneira de impedir este fato é provar que a localidade de Javé possui
um valor histórico e, precisa ser preservado. Sabendo disso, os moradores mobilizaram-
se a fim de construir uma memória do povo com a cidade de Javé. Desse modo, o carteiro
é escolhido para escrever a história da região e, tem a missão de entrevistar os
moradores, ou seja, a partir dos relatos de vida escrever um livro mostrando a ideia de
pertencimento de um grupo em relação a um lugar de memória, no caso, o Vale de Javé.
E no que diz respeito às narrativas orais, o carteiro devia ter tomado cuidado quanto à
interpretação desse material, tendo em vista que o Halbwachs argumenta que: “ cada
memória é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda
conforme o lugar que ocupo, e que mesmo este lugar muda segundo as relações que
mantenho com os outros meios “. Ou seja, a memória é construído coletivamente e, está
submetida a constantes transformações. Sendo assim, no filme mostra que cada pessoa
ao ser entrevistada conta uma história diferente, porém com a mesma encenação, isto é,
alterando os heróis que fundaram a cidade de Javé, pois estes personagens tinham o
objetivo de engrandecer o relato e torná-lo fantástico, visto que a simbologia do herói
representava o ancestral de cada entrevistado. Desse modo, percebe-se que a memória
possui um nível afetivo e, segundo o Durval: “ a memória afetiva surge das emoções que
depositamos em cada recordação, ela é como o gosto que provém da sensação evocada
ou lembrada”. E para Benjamin: “é deste nível das memórias que depende a preservação
da identidade ou personalidade de um grupo”.
E em relação aos acontecimentos grandiosos, no filme fala sobre a necessidade de
escrever uma história científica, porém o carteiro não tomou os devidos cuidados aos
aspectos teóricos e metodológicos que envolvem trabalhar com memórias no campo
historiográfico, ou melhor, o encarregado por escrever a história do vilarejo de Javé
negligenciou o esclarecimento do método, no que diz respeito à coleta de dados
memoráveis da população que habitava aquela cidade.
Além disso, as histórias tinham um aspecto muito pessoal com o entrevistado e ao
mesmo tempo um lado heroico por parte dos personagens. Nesse sentido, o Antônio Biá
responsável por escrever a história de Javé precisava ter cruzado as fontes para reduzir o
grau de incerteza dos dados recolhidos, visto que os relatos de vida eram fantasiosos, os
quais tornavam difíceis de colocar no papel. Este acontecimento mostra a árdua missão
do carteiro no tocante à escrita da história. Sendo que, neste caso do filme, a principal
fonte histórica é as narrativas orais do povo de Javé, o que dificulta a autenticidade dos
dados devido à incerteza da fonte.
E a respeito da entrega do livro, o carteiro devolveu o documento em branco e o trabalho
dele tornou-se em vão, o que faz os moradores viverem o drama de ver a cidade ser
inundada. Diante disso, portanto, no texto de Michael Pollak ressalta a necessidade de
dar uma criticidade aos relatos de vida individual por meio do cruzamento de informações
obtidas a partir de fontes diferentes.

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