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Universidade de Brasília

Faculdade de Direito

Estudo de caso: Princípios e regras em decisões do STF.

Trabalho apresentada pelo aluno Efinéias Stroppa


dos Santos como parte da avaliação da Disciplina
Introdução ao Estudo do Direito I, sob a orientação
da Professora. Dra. Claudia Rosane Roesler.
Brasília, janeiro/2011
Estudo de Caso: Príncipios e regras em decisões do STF

Neste trabalho tentaremos identificar a aplicação de princípios e regras em duas


decisões do STF selecionadas para estudo. As duas decisões selecionadas trata do mesmo
tema, que é a penhorabilidade de imóvel bem de família em caso de fiança concedida em
contrato de locação urbana, entretanto resolvem o conflito de forma diversa. Vamos aos casos.

RE 352.940-4 SP
Neste recurso extraordinário o ministro Carlos Veloso, relator do processo e voto
vencedor, votou pela impenhorabilidade do imóvel bem de família no caso de fiança em
contrato de locação urbana.
O primeiro fundamento de seu voto é que a regra que possibilita essa penhora, Lei
8.245, de 1991- inciso VII do art. 3°-, não foi recepcionada pela Emenda Constitucional
26/2000 que estabeleceu no art. 6° da Constituição Federal o direito de moradia como direito
fundamental. Para ele a penhorabilidade do bem de família constitui desrespeito ao direito
constitucional de moradia, portanto a norma perdeu sua validade.
O direito de moradia não é uma regra, pois não regulamenta suas condições de
aplicação. Ao definir o direito a moradia o constituinte não regulamentou como isso
aconteceria, criando então um princípio que fundamenta políticas de estado visando
concretizar esse direito, serve de base para outras normas e vincula o legislador e o executivo
a não tomarem iniciativas que contrariem esse direito. Mas não se trata de uma regra, pois não
possui o grau de determinabilidade e regulação suficientes para tal. Portanto o primeiro
argumento do relator foi fundamentado em um princípio constitucional.
O segundo fundamento do voto é que a lei deu tratamento diferente a situações
idênticas, pois permitiu que o mesmo imóvel de família alvo de proteção contra a penhora,
fosse penhorado em caso de fiança em locação urbana. Invoca então o relator o princípio
isonômico, que determina que onde exista a mesma razão prevaleça a mesma regra de direito.
Trata-se aqui novamente de argumento baseado em princípio. O princípio isonômico, como o
próprio nome diz, é um princípio, pois não regulamenta suas condições de aplicação e possui
numerosas exceções. Mesmo assim não deixa de estar presente em nosso direito e é aplicado
para fundamentar decisões como esta em análise, evitando que sejam cometidas injustiças no
caso concreto. Caracterizando-se assim como um princípio.
Portanto nesta decisão foram utilizados dois fundamentos baseados em princípios para
decidir o caso.

RE 407.688-8 SP
Neste recurso extraordinário decidiu o STF, diferentemente do caso anterior, pela
penhorabilidade do imóvel bem de família em caso de fiança em locação urbana.
Analisaremos os votos um a um.
Min. Cezar Peluso (Relator).
Segundo o Ministro Relator a norma em questão ao permitir a penhora em caso de
fiança em locação urbana não fere o direito de moradia, pois tem como objetivo dar
concretude ao mesmo facilitando a locação. Assim estaria o legislador ampliando as
possibilidades de garantias para locação, disseminando o direito à moradia. Para ele direito
de moradia é diferente do direito de ser proprietário do imóvel onde mora.
Além disso a norma não fere o principio isonômico, pois trata de modo diferente
situações distintas. Para ele a exceção difere da norma geral (impenhorabilidade do bem de
família) por ser uma forma de concretizar o direito a moradia do locador.
O relator baseou seu argumento em regras. Defende ele a aplicação da regra que
determina a penhorabilidade em caso de fiança em locação urbana por considera-la válida e
em harmonia com a constituição. Analisou ele somente se existia um conflito de normas entre
a regra e a constituição, e não o encontrando determinou a aplicação da regra.
Min. Eros Grau
Este ministro em seu voto defende que a propriedade do bem imóvel residencial
possibilita ao individuo e sua família prover a sua subsistência. Portanto, vincula o ministro a
regra da impenhorabilidade ao princípio da garantia da dignidade da pessoa humana. A
dignidade da pessoa humana trata-se de princípio dos mais conhecidos. Não pode ser
considerado regra, pois não delimita as condições de sua aplicação e não possui a estrutura
clássica das regras, não trazendo uma hipótese normativa. É um princípio que nosso direito
considera superior e alvo de máxima proteção.
O segundo argumento também é baseado em princípios, pois diz que a possibilidade
de penhora em situação limite fere o princípio da isonomia. A situação limite considerada é
aquela em que o locatário adquire imóvel à custa da inadimplência do aluguel e da
consequente penhora do imóvel do fiador. Ficaria assim o locatário, agora proprietário de
imóvel, protegido da penhora.
O princípio da isonomia também não é uma regra jurídica. Ele não força o legislador a
tratar a todos com rigorosa igualdade, mas sim possibilita a anulação de atos que tratem de
forma desigual na ausência de políticas contrárias em vigor. Assim pode ser considerado um
principio[CITATION Ron02 \p 44-45 \y \l 1046 ].
Outro argumento utilizado pelo Ministro é o de que o direito a moradia não é mera
norma programática, mas que é norma que possui força vinculante.
Assim o ministro vota, baseado nesses princípios, pela não recepção da lei que
excepcionou a regra da impenhorabilidade pela EC n. 20.
Min. Joaquim Barbosa.
Este Ministro argumenta que o caso representa o embate entre o direito à moradia e o
direito à liberdade, expresso pela autonomia de vontade ao contratar. Para ele no caso deve
prevalecer o direito à liberdade, pois se trata de uma relação típica do direito privado e o
individuo possui essa autonomia para abrir mão do seu direito à moradia.
Resolve assim o ministro o conflito aplicando o princípio da autonomia de vontade nas
relações privadas. Trata-se aqui também de um princípio, visto não disciplinar uma situação.
Apenas enuncia uma diretriz que é valida juntamente com outros princípios ou regras
podendo até mesmo ser sobreposta por estes, mas sem perder a eficácia.
Min. Carlos Brito
O Ministro Carlos Brito afirma que a constituição qualifica a moradia como uma
necessidade especial, e como tal, entende ele que a torna indisponível. Isto é, não pode o
proprietário por ato de vontade usar o imóvel para garantir situação de terceiro.
A meu ver, o Ministro aplica o princípio da indisponibilidade de direitos fundamentais.
Esse princípio afirma que direitos como a dignidade da pessoa humana são indisponíveis, isto
é, não pode o sujeito abrir mão deles. Trata-se de princípio amplamente aplicado em nosso
direito e que possui várias regras para defendê-lo.
Portanto, baseado em princípio vota o Ministro pela impenhorabilidade do bem de
família em caso de fiança urbana.
Min. Gilmar Mendes
O Ministro Gilmar Mendes explícita em seu texto que vota baseado no princípio da
autonomia privada. Trata-se de princípio já explanado na análise do voto do Min. Joaquim
Barbosa que votou baseado neste mesmo princípio.
Ministra Elen Gracie
Acompanhou o relator.
Min. Marco Aurélio
Para o Ministro Marco Aurélio a Constituição ao garantir o direito à moradia não
confere impenhorabilidade ao bem da família. Quem garante tal direito é a lei. Portanto a
exceção prevista em lei não é inconstitucional.
O Ministro Marco Aurélio resolve o conflito dizendo que a regra é válida e aplicando
ela ao caso, sem recorrer a princípios.
Min. Celso de Mello
Defende esse Ministro a interpretação das normas de direito privado de acordo com
princípios constitucionais. Afirma ele que neste caso é justificável interpretar que o bem é
impenhorável para assegurar a proteção constitucional ao direito de moradia. Afirma ele
também, citando Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que a norma fere o
princípio da isonomia ao tratar de forma diversa o fiador e o locatário.
Assim, vota o Ministro pela impenhorabilidade do bem dando em fiança na locação,
fundamentando seus dois argumentos em princípios.
Min. Sepúlveda Pertence
Vota pela possibilidade de penhora por considerar que a lei dá efetividade ao direito de
moradia, ao tornar a locação mais acessível a mais pessoas. Assim vota o ministro com um
argumento fundado em regras, pois apenas diz que a regra cumpre seu objetivo e deve ser
aplicada.
Min. Nelson Jobim
Vota pela aplicação da norma ao considerar as consequências pragmáticas de sua
decisão no mundo real. Para ele a impenhorabilidade tiraria a possibilidade de locação de uma
serie de pessoas necessitadas.
Portanto baseia sua decisão na regra existente e nas consequências praticas da decisão.

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