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Aula 4

Calagem e gessagem
Meta

Apresentar os princípios norteadores da recomendação de calcário e gesso na


cafeicultura.

Objetivos

Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de:


1 - Caracterizar a importância e as funções do calcário e do gesso.
2 - Determinar as situações onde o uso é necessário.
3 - Calcular a necessidade e a quantidade de calcário e gesso, partindo dos dados de
análises do dolo.

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O que é calagem?

Olá pessoal!

Nas aulas anteriores estudamos os elementos minerais, os mecanismos que


afetam sua disponibilidade e o processo de amostragem de solos e folhas,
conhecimentos fundamentais para o diagnóstico da fertilidade e para a correta
recomendação de corretivos e fertilizantes.
Percebam que, da aula anterior em diante, passamos a estudar os
procedimentos pela ordem dos acontecimentos, para que todos possam
compreender os processos e interferir corretamente em todas as operações que
envolvem a nutrição mineral do cafeeiro. Vejam:

AMOSTRAGEM DE
SOLO E FOLHAS

LABORATÓRIO

CALAGEM ADUBAÇÃO GESSAGEM

CORRETIVA

PLANTIO

PÓS - PLANTIO EM
COBERTURA

FORMAÇÃO

PRODUÇÃO

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A partir de agora, daremos um importante passo em nossos estudos -
trataremos da CALAGEM - pratica agrícola extremamente importante para
neutralizar a acidez do solo.

Mas afinal, o que é calagem?

A calagem é a prática da aplicação e incorporação ao


solo de calcário ou de qualquer outro material que neutralize a
acidez do solo para elevação do pH.

Calcários: São produtos derivados da moagem de rochas calcárias, constituídas


basicamente de Carbonato de Cálcio e Magnésio.

Quando se aplica calcário (CaCO3 - carbonato de cálcio e MgCO3 - carbonato


de magnésio), as reações resultantes são as seguintes:

H+ + CaCO3 → Ca+2 + H2O + CO2


H+ + MgCO3 → Mg+2 + H2O + CO2

Percebam que o íon H+ foi neutralizado pela adição dos carbonatos do


calcário, liberando cálcio e magnésio – que são macronutrientes – além de água e
gás carbônico. Reação semelhante acontece com o alumino tóxico. Veja:

Al+3 + 3CaCO3 → Ca+2 + AI (OH)3 + 3CO2


Al+3 + 3MgCO3 → Mg+2 + AI (OH)3 + 3CO2

A calagem é, então, uma prática fundamental para a melhoria do ambiente


radicular das plantas e a condição primária para ganhos de produtividade nos solos,
sobretudo nas regiões tropicais.
No Brasil, têm sido usadas, anualmente, cerca de 12 milhões de toneladas de
calcário. Esta quantidade é no mínimo, cinco vezes menor que a necessária. Tal
fato, sem duvida, representa um dos importantes fatores condicionantes da baixa
produtividade vegetal em nosso país. Relacionado a isto, infelizmente, o que se
observa no campo é que os agricultores valorizam muito mais a prática da adubação

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do que a calagem. É um grande engano, pois através da prática da calagem
apresenta-se a eficiência dos fertilizantes, consequentemente, aumentando o
retorno econômico da adubação.
Dentre os benefícios de uma correta prática da calagem, destacam-se:
→ Diminuição da toxidez por H+, Al3+
Bases do solo – nutrientes de
e Mn2+, explicadas pelas reações da página carga positiva (Ca, Mg, K e Na).
Mineralização – Processo de
anterior, liberando espaço nos colóides
decomposição da matéria orgânica
para as bases do solo; do solo, promovida por
microorganismos, que resulta na
→ Aumento da mineralização da
liberação de nutrientes para a
matéria orgânica; solução do solo, principalmente
Nitrogênio, Enxofre, Fósforo e Boro.
→ Fornecimento de cálcio e
magnésio, pois os mesmos fazem parte da constituição dos calcários.
→ Aumento da disponibilidade de fósforo e molibdênio, que em solos ácidos
estão presente em formas fixadas e de menor disponibilidade.
→ Aumento da capacidade de troca catiônica do solo: explicado pela
neutralização do H+, que não é trocável com a solução do solo.
→ Por todos os motivos já expostos, a calagem aumenta a eficiência das
adubações.

Com calagem Sem calagem

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Assim, podemos concluir que a calagem é de extrema importância para o
cafeeiro. A tabela abaixo traz dados experimentais que comprovam a eficiência da
calagem para a cultura:

Aumentos de produtividade obtidos com a prática de calagem em


cafezais, em diferentes regiões cafeeiras:

Produção média em sacas


Características beneficiadas/ha
Regiões Aumento em %
das lavouras
Sem calagem Com calagem
Catuaí amarelo
Patrocínio-MG 14,9 26,2 75%
(3,5 x 2m)
Capelinha MG Catuaí amarelo 11,0 18,0 63%
Vitoria da
Catuaí amarelo 10,9 21,1 93%
Conquista BA
Catuaí amarelo
Varginha MG 10,7 27,9 160%
(3,5 x 2m)
Mundo Novo
Realeza MG 15,0 29,3 95%
(4 x 2m)
Fonte: adaptado de IBC/Fundação Procafé

Determinação da necessidade de calagem

Bom, já conhecemos os efeitos nocivos da acidez do solo e como o calcário


atua para neutralizá-los. Também percebemos que a prática da calagem traz outros
importantes benefícios – e que talvez o mais importante deles seja o aumento da
eficiência das adubações.
A partir de agora, estudaremos os principais métodos utilizados em Minas
Gerais para a recomendação da calagem. De antemão, posso adiantar que
utilizamos os resultados da amostragem de solo, feita a tempo para permitir a
calagem antecedendo as adubações.
Entretanto, a utilização dos resultados das análises para as recomendações
compreende algumas etapas, puramente mecânicas, ou seja, cálculos a serem
feitos. Existem programas de computador que o fazem automaticamente, mas o
profissional cuidadoso, que zela pela qualidade de seus serviços, não pode
depender exclusivamente da máquina.

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No Brasil pelas suas dimensões e diversidade de clima e solo, existem
diversos métodos de recomendação, aplicados conforme a região. Em nosso estado
utilizamos os dois principais: “Método da neutralização do alumínio e elevação dos
teores de cálcio e magnésio” e “Método da Saturação por Bases”.

Método da Neutralização do Alumínio e da elevação dos


teores de Cálcio e Magnésio

Este método é utilizado nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso. As doses de calcário são calculadas visando neutralizar o teor
de alumínio trocável e fornecer cálcio e magnésio, quando os teores desses
nutrientes estiverem abaixo de 2 cmolc/dm3.
O livro abaixo faz parte da “cabeceira” de técnicos e agrônomos no Estado de
Minas Gerais. A 5ª Aproximação, como é mais conhecida, é a base de
recomendação de corretivos e fertilizantes em nosso estado.

A 5ª Aproximação estabelece a seguinte fórmula


para o método em estudo:

NC= Y[Al3+ - (mt x t/100)] + [ X - (Ca2+ + Mg2+)]

Parece grego, né?

Mas é muito simples! Veja:

→ NC = necessidade de calagem (em toneladas/ha);


→ Y = valor variável em função da capacidade
tampão da acidez do solo e que pode ser definido de acordo com a textura do solo
(tabela abaixo):
Solo Argila Y
% (g/kg)
Arenoso 0 – 15 (ate 150) 0,0 – 1,0
Textura media 15 – 35 (150 – 350) 1,0 – 2,0
Argiloso 35 – 60 (350 – 600) 2,0 – 3,0
Muito argiloso 60 – 100 (600 – 1000) 3,0 – 4,0

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→ Al3+ = teor de alumínio do solo (análise de solo);
→ mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura, em % (no caso do
café = 25%);
→ t = CTC efetiva, em cmolc/dm3 (valor calculado em função da análise do
solo);
→ X = valor variável em função das necessidades de Ca e Mg das culturas,
(no caso específico do cafeeiro utilizaremos o valor 3,5);
→ Ca2+ = teor de cálcio do solo (análise de solo);
→ Mg2+ = teor de magnésio do solo (análise de solo);

Nada melhor do que um exemplo para verificar a compreensão:


Os dados abaixo foram retirados de um laudo de análise de solo:

Profundidade K Ca Mg Al H+Al
pH
cm mg/dm³ .................. cmolc/dm³ ..................
0 - 20 4,3 31 1,0 0,6 0,5 3,8

Considerando a analise de solo acima, calcule a necessidade de calagem e a


quantidade final pelo método da neutralização do alumínio e da elevação dos teores
de cálcio e magnésio, considerando o PRNT do calcário: 70%; que a cultura já está
implantada e que o cultivar utilizado é de porte baixo, com espaçamento adensado.
O solo possui 35% de argila.

Vejamos a fórmula novamente:

NC= Y [Al3+ - (mt x t/100)] + [ X - (Ca2+ + Mg2+)]

→ O valor Y é sempre tabelado em função do tipo do solo. No caso especifico


do mesmo (35% de argila), terá valor de 2,0;
→ O valor Al+³ faz parte da análise do solo. Em nosso caso, corresponde a
0,5 cmolc/dm3;
→ O valor mt também é tabelado, para o cafeeiro sempre apresenta o valor
de 25%;

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→ O valor t = CTC efetiva, cuja expressão matemática que o representa é a
seguinte: t = SB + Al.
Portanto, para calcular t, antes temos que calcular a SB (soma de bases)
SB = Ca + Mg + K + Na
Não podemos esquecer de um problema apresentado na aula 2: Ca e Mg
estão em cmolc/dm3 e o K está em mg/dm³. Para converter o potássio em cmolc/dm3,
basta dividir o valor em mg/dm³ por 391:
31/391 = 0,08 cmolc/dm3.
Agora podemos calcular a soma de bases. Considerando Na = 0,0, temos:
SB = 1,0 + 0,6 + 0,08 = 1,68 cmolc/dm3.
Finalmente podemos voltar para o t:
t = SB + Al
t = 1,68 + 0,5 = 2,18 cmolc/dm3.

→ O valor X é em função da exigência da cultura, também é tabelado, no


caso especifico do cafeeiro terá valor de 3,5;
Os teores de Ca e Mg são obtidos no laudo. Em nosso caso, Ca = 1,0
cmolc/dm3 e Mg= 0,6 cmolc/dm3.

Então vamos aos cálculos:

NC= Y[Al3+ - (mt x t/100)] + [ X - (Ca2+ Mg2+)]

Momento da matemática: em equações numéricas eliminamos


primeiro os parênteses (...), depois os colchetes [...] e por último as
chaves {...}. Quanto às operações: iniciamos pelas potenciações e
radiciações, seguidos por multiplicação e divisão e finalizamos com
as somas e subtrações. Atenção redobrada para não errar! Ah! Não podemos nos
esquecer que entre o Y e o primeiro colchetes existe um sinal de multiplicação!

NC = 2[0,5 - (25 x 2,18/100)] + [ 3,5 - (1,0 + 0,6)]


NC = - 0,09 + 1,9
NC = 1,81 t/ha de calcário com 100% de PRNT, profundidade de 20 cm e
superfície de cobertura de 100%.
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Importante!
Os dois métodos abordados na sequência expressam os seus
resultados em toneladas por hectare e consideram PRNT = 100%,
profundidade de incorporação do
calcário = 20 cm e 100% da PRNT: Poder Relativo de Neutralização
Total. Indica o percentual de calcário
superfície do terreno coberta por realmente ativo. Na prática é determinado
calcário. pela granulometria (quando mais fino, mais
ativo) e pelo teor de substâncias
Então, caso o calcário seja neutralizantes da acidez (maior teor, maior
adquirido com PRNT diferente de atividade). Assim, quanto maior o PRNT,
melhor é o calcário e menor será a
100%, incorporado numa quantidade requerida. Aprenda a calcular o
profundidade maior ou menor que PRNT de um calcário na página 14, do
Boletim Técnico 01 da Associação Nacional
20 cm ou a superfície coberta por para Difusão de Adubos (ANDA), disponível
calcário for menor que 100%, a em nossa plataforma ou no sítio:
http://anda.org.br/multimidia/boletim_01.pdf
dose a ser aplicada deverá ser
corrigida, utilizando a fórmula abaixo:

QC= NC x SC x PF x 100
100 20 PRNT

Onde:

→ QC: Quantidade de calcário a ser aplicada (em toneladas/ha);


→ NC: Necessidade de calagem (em toneladas/ha), considerando SC =
100%, PF = 20 cm e PRNT = 100%;
→ SC: Superfície do terreno a ser coberta por calcário (%). No cafeeiro varia
de 50% (cultivares de porte alto com espaçamento tradicional e calagem feita em
faixas) a 100% (cultivares de porte baixo com espaçamento adensado e calagem em
área total);
→ PF: Profundidade de incorporação do calcário (cm). Na implantação, a
incorporação do calcário geralmente é feita para 20 cm. Em cafeeiros já
implantados, onde não fazemos a incorporação mecânica, consideramos PF = 8 cm;
→ PRNT: Poder relativo de neutralização total do calcário (%).

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Voltando ao nosso caso: PRNT do calcário = 70%, a cultura já está
implantada (PF = 8 cm) e o cultivar utilizado é de porte baixo, com espaçamento
adensado (SC = 100%)
Então temos que NC = 1,81 t/ha, SC = 100%, PF = 8 cm e PRNT = 70%
Após cálculos:
QC = NC x (SC/100) x (PF/20) x (100/PRNT)
QC = 1,81 x (100/100) x (8/20) x (100/70)

QC = 1,03 t/ha de calcário com 70% de PRNT, a uma profundidade de 8 cm e


uma cobertura de 100% na área.

Percebam a importância de se calcular a QC. Se não tivéssemos feito,


utilizaríamos doses muito maiores do que necessário, promovendo assim um
aumento do pH para além da faixa ideal da disponibilidade dos nutrientes.

Método da saturação por bases

Esse método é utilizado nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e,
em alguns casos, na região dos cerrados. Baseia-se na estreita relação que existe
entre o pH e a saturação por
Saturação por bases: é o percentual que as
bases (V%), ou seja, quanto bases do solo ocupam na CTC a pH 7 (T). Na
maior o pH, maior a V% do solo. prática, significa o percentual que os
elementos essenciais de carga positiva (Ca,
Ao se fazer a correção Mg, K e Na) ocupam entre todos os elementos
para elevar a saturação por de carga positiva. Para calcular, utilizamos a
fórmula: V = (SB / T) x 100
bases (V%) a níveis adequados
às culturas, elevando também o pH, consequentemente, há eliminação do excesso
de Al (tóxico) e elevação dos teores de Ca e Mg.
Este método tem a importante característica de levar em consideração as
exigências das culturas na definição da quantidade do corretivo a ser adicionado ao
solo, alem de ter a vantagem da facilidade dos cálculos e na flexibilidade de
adaptação para diferentes culturas, de acordo com suas exigências.
Para calcular a necessidade de calagem utilizando esse método, utilizamos a
fórmula:
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NC = T(Ve-Va)
100

Onde:

→ NC = necessidade de calagem (em toneladas/ha);


→ T (CTC a pH 7) = SB + (H + Al), em cmolc/dm3. O valor de H + Al é retirado
da análise do solo e o da SB é calculado pela fórmula abaixo:
SB (Soma de bases) = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, em cmolc/dm3. Os valores são
obtidos na análise do solo.
→ Ve = Saturação por bases desejada ou esperada. Para a cultura do café, a
saturação ideal é de 60%.
→ Va = Saturação por bases atual do solo: V = (SB / T) x 100, em %.

Muita atenção! A calagem é recomendada quando a V% do solo


encontra-se mais de 10% abaixo do recomendável para as culturas.
No caso do café, a calagem deve ser recomendada quando a V% for
inferior a 50%. Caso contrário, não se aplica, pois as doses serão muito baixas,
dificultando a distribuição homogênea.

Atualmente há produtores que trabalham com o Ve = 50% para lavoura


cafeeira em produção e Ve = 60% para o plantio da lavoura cafeeira. Adotar ou não
esta experiência dependerá da sua observação.

Vamos calcular?
Para efeito de comparação, vamos empregar a mesma análise de solo e
as mesmas informações utilizadas no método anterior.

Relembrando:
Profundidade K Ca Mg Al H+Al
pH
cm mg/dm³ .................. cmolc/dm³ ..................
0 – 20 4,3 31 1,0 0,6 0,5 3,8

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Considerando a analise de solo acima, calcule a necessidade de calagem e a
quantidade final pelo método da saturação por bases, considerando o PRNT do
calcário: 70%; que a cultura já está implantada e que o cultivar utilizado é de porte
baixo, com espaçamento adensado. O solo possui 35% de argila.

É importante ressaltar que este cálculo compreende uma sequência de


operações que não mudam em nenhum contexto. É a famosa “receita de bolo”.
Inicialmente temos que calcular a Soma de Bases (SB), para permitir o
cálculo da CTC a pH 7 (T).
SB = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+
Novamente devemos converter o K, que está em mg/dm 3 para cmolc/dm3.
Simples: divida o valor por 391.
31/391 = 0,08 cmolc/dm3.
Potássio resolvido, agora podemos calcular a soma de bases. Considerando
Na = 0,0, temos:
SB = 1,0 + 0,6 + 0,08 = 1,68 cmolc/dm3.
Com o valor da soma de bases, podemos calcular o valor de T:
T = SB + (H + Al)
T = 1,68 + 3,8 = 5,48 cmolc/dm3.
A saturação por bases esperada (Ve) para a cultura do café é 60%.
A saturação por bases atual é determinada pela fórmula:
Va = (SB / T) x 100
Va = (1,68 / 5,48) x 100
Va = 30,66%. Como é inferior a 50%, tiramos daqui uma conclusão
importante: a calagem será necessária.
Calculando:

NC = T(Ve-Va)
100

NC = 5,48 x (60 – 30,66)


100

NC = 1,61 t/ha de calcário com 100% de PRNT, profundidade de 20 cm e


superfície de cobertura de 100%.

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Porém, este método também expressa os resultados em toneladas por
hectare, considerando o PRNT do calcário = 100%, profundidade de incorporação =
20 cm e 100% da superfície do terreno coberta por calcário.
Para atender ao desafio proposto:

QC= NC x SC x PF x 100
100 20 PRNT

Onde:

→ QC: Quantidade de calcário a ser aplicada (em toneladas/ha);


→ NC: Necessidade de calagem (em toneladas/ha);
→ SC: Superfície do terreno a ser coberta por calcário (%);
→ PF: Profundidade de incorporação do calcário (cm);
→ PRNT: Poder relativo de neutralização total do calcário (%).

Temos que NC = 1,61 t/ha, SC = 100%, PF = 8 cm e PRNT = 70%.


Após os cálculos:
QC = NC x (SC/100) x (PF/20) x (100/PRNT)
QC = 1,61 x (100/100) x (8/20) x (100/70)

QC = 0,92 t/ha de calcário com 70% de PRNT, a uma profundidade de 8 cm e


uma cobertura de 100% na área.

Dúvida praticamente inevitável:


O primeiro método estudado (neutralização do alumínio e
elevação dos teores de cálcio e magnésio) indicou a utilização de
1,03 t/ha de calcário. Na saturação por bases, esta quantidade
caiu para 0,92 t/ha. Afinal, quanto utilizar?
Os dois métodos utilizam indicadores diferentes para propor a quantidade de
calcário a ser utilizada. Na maioria das vezes, nas regiões cafeeiras onde o
problema do “alumínio” não é tão grave quanto no cerrado, o método da saturação

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por bases indicará maior quantidade. Para não errar nunca: recomende a utilização
da maior quantidade indicada pelos dois métodos.

Qual calcário utilizar?

Até poucos anos atrás, os calcários eram classificados em calcítico,


magnesiano e dolomítico. A distinção, na antiga e na nova classificação, ocorre
pelos teores de óxidos de cálcio e magnésio. Em todos eles, predomina os teores de
cálcio. No entanto, perceba que os dolomíticos apresentam uma composição mais
equilibrada em relação às demandas do cafeeiro:

Mas afinal, qual deles utilizar?


Para a cultura do café, a relação ideal entre cálcio e magnésio é de 3 para 1,
ou seja, os teores de cálcio devem ser três vezes maiores que os teores de
magnésio.
Se essa relação estiver baixa, significa que os teores de magnésio estão mais
altos do que deveriam. Assim recomendamos calcários onde a relação
cálcio/magnésio seja maior. Exemplos: Calcítico A, B ou Dolomítico A (pela nova
classificação).

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Se a relação estiver alta, significa que os teores de magnésio estão baixos.
Assim recomendamos calcários onde a relação cálcio/magnésio seja menor.
Exemplos: Dolomítico B e C (pela nova classificação).
Em nossa região, a segunda situação é mais comum do que a primeira.

Os calcários também são classificados pelo PRNT:

Grupo A: PRNT entre 45 e 60%;


Grupo B: PRNT entre 60,1 e 75%;
Grupo C: PRNT entre 75,1 e 90%;
Grupo D: PRNT superior a 90%.

Para escolher o grupo a ser utilizado, duas considerações são necessárias:


→ Calcários de maior PRNT são mais caros. Mas como a quantidade a ser
utilizada é menor, geralmente apresentam menor custo de produto e de frete.
→ Calcários de maior PRNT agem mais rápido, aumentando a eficiência das
adubações.

Quando e como aplicar calcário?

Considerando que as plantas são mais sensíveis à acidez quando novas,


principalmente logo após a germinação, é preciso que a acidez do solo esteja, pelo
menos na sua maior parte, já corrigida no ato do plantio.
Quando se usa calcário, o ideal é fazer a aplicação de 2 a 3 meses antes do
plantio para que as reações esperadas se
processem. O calcário é uniformemente distribuído
sobre a superfície do solo manualmente ou por
meio de maquinas próprias e é, então, incorporado
com arado e grade até a profundidade de 20cm
(camada arável), profundidade (PF) considerada
no cálculo da quantidade de calcário a ser usada
(QC). Esse período, entre calagem e plantio, Aplicador de calcário

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depende da umidade no solo, para que as reações do calcário no solo se
processem.
.
→ Entre aplicar com solo seco ou aplicar com menor
antecedência, escolha a segunda opção.
→ A distribuição do calcário deve ser uniforme sobre a
superfície do solo. Posteriormente, devemos incorporá-lo
a profundidade desejada.
→ Doses maiores que 5 t/ha devem ser parceladas em duas vezes, metade
aplicada antes da aração ou gradagem pesada e a outra metade antes da gradagem
de nivelamento.

Gessagem

A gessagem constitui uma importante prática agrícola muito empregada na


cafeicultura. Para compreender os benefícios da utilização do gesso agrícola, é
importante compreender sua constituição:

Gesso Agrícola é um subproduto da fabricação de adubos fosfatados, obtido da


reação do ácido sulfúrico sobre a rocha fosfatada, realizada com o fim de
produzir ácido fosfórico. Isto quer dizer que o gesso é subproduto da fabricação
do H3PO4. Observe: Ca10(PO4)6F2 + 10 H2SO4 + 2O H2O = 10 CaSO4.2H2O + 6
H3PO4 + 2 HF
Traduzindo: Rocha fosfatada + ácido sulfúrico + água, dá origem ao gesso
agrícola (sulfato de cálcio dihidratado), ácido fosfórico (dos adubos fosfatados) e
ácido fluorídrico.

O gesso agrícola (CaSO4) quando aplicado ao solo úmido, dissocia-se em


Ca2+ e no ânion SO42- que é capaz de descer no perfil, processo em que é
acompanhado pelo cálcio. Em profundidade, aumenta os teores de cálcio no subsolo
favorecendo o sistema radicular, o que também aumenta a resistência da planta à
falta de água e neutraliza o alumínio.
Como? O SO42- (sulfato) forma com o alumínio presente nos colóides a
molécula Al2(SO4)3 que é lixiviada.

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Logo podemos concluir que as principais funções do gesso agrícola são:
→ Fornecer Ca em profundidade;
→ Reduzir a saturação de Al nas camadas mais profundas do solo;
→ Aprofundar e melhorar a distribuição do sistema radicular;
→ Aumentar a resistência ao déficit hídrico (falta de água).

Importante!
A gessagem não modifica o pH e não substitui a calagem.
A gessagem deve ser feita junto ou após a calagem, para potencializar
seus efeitos.

Portanto, o gesso agrícola deve ser encarado como importante insumo para a
agricultura, mas devido a suas características, tem seu emprego limitado a situações
particulares bem definidas, uma vez que o uso indiscriminado e sem critérios pode
acarretar problemas em vez de benefícios para o agricultor.
De uns anos para cá algumas indústrias de fertilizantes vem estimulando o
seu uso. Apesar de vários estudos mostrarem o potencial da utilização do gesso na
agricultura, ainda persistem junto a extencionistas e agricultores, muitas dúvidas no
que se refere a como, quando e quanto utilizar deste insumo.

Quando aplicar gesso?

Na aula anterior (amostragem de solo) apontamos a necessidade de, a cada


3 ou 4 anos, coletar amostras de solo na camada de 20-40 cm, pois é exatamente
nessa camada que o gesso atua.
Com o resultado da análise em mãos, recomendamos a utilização de gesso
quando pelo menos uma das condições abaixo for identificada:
→ Apresentar menos que 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+;
→ Teores maiores que 0,5 cmolc/dm3 de Al3+;
→ Saturação de Al (m) igual ou superior a 30%.

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Para se calcular a quantidade a ser aplicada do produto, existem algumas
metodologias baseadas nas características químicas e físicas do solo. No entanto,
estas fórmulas ainda necessitam ser amplamente avaliadas em ensaios de campo
nas mais diversas condições de solo e culturas:

Malavolta (1991), propõe:


NG = (0,4 x t - Ca2+) x 2,5, ou
NG = (Al3+ - 0,2 x t) x 2,5.

Onde:
→ NG = Necessidade de gesso, em t/ha
→ t = CTC efetiva = SB + Al
→ Ca+2 = teor de cálcio, em cmolc/dm3
→ Al3+ = teor de alumínio, em cmolc/dm3
Este método baseia-se na premissa de que para se elevar o teor de Ca ou
diminuir o teor de Al em 1 cmolc/dm3 são necessárias cerca de 2,5 t de gesso/ha e
que o solo deve apresentar, na camada de 20 a 40 cm, um teor de Ca 2+ superior a
40 % de sua CTC efetiva ou um teor de Al3+ inferior a 20 % da CTC efetiva.
Mais recentemente, Malavolta propôs, para a cultura de café, que a
participação mínima do Ca2+ na CTC efetiva da camada de 20 a 40 cm deva ser de
60 %, ou seja:
NG = (0,6 x CTC efetiva - Ca2+) x 2,5

A 5ª aproximação propõe, entre outros métodos, a recomendação da


gessagem pelo teor de argila do solo. Basta usar a tabela:

Teor de argila Gesso


Até 15% 0,5 t/ha
De 15 a 35% 1,0 t/ha
De 36 a 60% 1,5 t/ha
Maior que 61% 2,0 t/ha

Da mesma forma que na calagem, também temos que recomendar a


quantidade de gesso (QG), em função da espessura da camada a ser corrigida e da
superfície do terreno a ser coberta por gesso:

80
QG = NG x SC/100 x EC/20

Onde:
→ QG: Quantidade de gesso a ser aplicada (em toneladas/ha);
→ NG: Necessidade de gessagem (em toneladas/ha);
→ SC: Superfície do terreno a ser coberta por gesso (%);
→ EC: Espessura da camada (cm). Por exemplo: Numa amostragem de solo
de 20-40 cm, a espessura da camada é de 20 cm;

Vejamos um exemplo pratico! Dada a análise abaixo:


Profundidade K Ca Mg Al H+Al
pH
cm mg/dm³ .................. cmolc/dm³ ..................
20-50 4,0 20 0,9 0,5 1,9 4,9
OBS: Profundidade de amostragem: 20-50 cm. Portanto, a espessura da camada (EC) é 30 cm.
Percebemos aqui um caso típico de gessagem, pois o teor de alumínio está
maior do que 0,5 cmolc/dm³.
Vamos utilizar o método proposto por Malavolta:
NG = (0,6 x t - Ca2+) x 2,5
Onde:
→ t = CTC efetiva = SB + Al
Não esquecer: o potássio (K), quando vier na unidade mg/dm 3, deve ser
dividido por 391. Logo, o valor do potássio já transformado será = 0,05. Então:
t = (0,9 + 0,5 + 0,05) + 1,9 = 3,35 cmolc/dm³.
Voltando ao cálculo da NG = (0,6 x 3,35 – 0,9) x 2,5 = 2,78 t/ha de gesso.
Calculando a QG:
QG = NG x (SC/100) x (EC/20)
QG = 2,78 x (100/100) x (30/20) = 4,17 t/ha de gesso.
Outra maneira de se calcular a gessagem em cafeeiro, é o
recomendado pelo Boletim Técnico 100 do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC).

Argila (em g/kg) x 6 = kg/ha de gesso a aplicar.

Ate a próxima aula e bons Estudos!

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