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FRAGMENTOS DE FONTES FRANCISCANAS (SÉCULOS XIII-XIV)

1. Vita I: da novidade de São Francisco

“ (...) E foi assim que o seu ensinamento [de São Francisco] mostrou com evidência que a sabedoria
do mundo era loucura, e em pouco tempo, sob a orientação de Cristo, mudou os homens para a
sabedoria de Deus pela simplicidade de sua pregação. (...) Um espírito novo reanimou o coração
dos escolhidos e neles derramou a unção de salvação ao surgir o servo de Cristo como um astro no
firmamento, irradiando uma santidade nova e prodígios inauditos. Por ele renovaram-se os
antigos milagres, quando foi plantada no deserto deste mundo, com um sistema novo mas à
maneira antiga, a videira frutífera, que dá flores com o suave perfume das santas virtudes e estende
por toda parte os ramos da santa religiosidade. (1 Cel 89)

2. Vita I: fama da nova Ordem!

“Vi uma enorme multidão [Cf. Ap 7,9] de homens vinda a nós e querendo viver conosco este gênero
de vida e esta Regra de santa religião. Parece-me ter ainda em meus ouvidos [Cf. Ct 2, 14] o seu
rumor, indo e vindo [Cf. Gn 8,3], conforme a disposição da obediência. Vi que os caminhos pareciam
apinhados de gente vinda de quase todas as nações [Cf. At 2,5]; vêm franceses, apressam-se
espanhóis, correm alemães e ingleses e se adianta uma multidão enorme de outras línguas
diversas.” (1 Cel 27)

3. Vita II: Desconfiança nos livros

“(...) sofria quando a ciência era procurada com desprezo da virtude, principalmente se não
permanecia cada um na vocação a que tinha sido chamado desde o começo. Dizia: “Os meus
irmãos que se deixam arrastar pela curiosidade da ciência vão se encontrar de mãos vazias no dia
da retribuição. (...) Porque virá uma tribulação em que os livros não vão servir para nada, e serão
jogados nas janelas e nos desvãos”. Não dizia isso porque não gostasse dos estudos das Escrituras,
mas para afastar a todos dos estudos supérfluos, pois preferia que fossem bons pela caridade e não
sabidos por curiosidade. Pressentia que não tardariam a vir tempos em que a ciência seria ocasião
de ruína, enquanto o espírito seria uma base sólida para a vida espiritual. A um irmão leigo que foi
pedir sua licença para ter um saltério deu cinza em vez do livro.” (2 Cel 195)

4. Vita II: Lamento e prece de Celano

Tu [São Francisco] que passaste fome, já te alimentas com a flor do trigo; tu que eras um sedento, já
bebes na torrente do prazer. Mas, não acreditamos que estejas de tal ponto inebriado com a fartura
da casa de Deus, que tenhas esquecido teus filhos (...), nós que, de fato, vês mornos pela desídia,
lânguidos pela preguiça e semivivos pela negligência. O pequeno rebanho já te segue com passo
inseguro. (...) Lembra-te, pai, da universalidade de todos os teus filhos, pois tu (...) sabes bem como,
atormentados por intricados perigos, só de longe seguem os teus vestígios. Dá-lhes força para que
possam resistir. Purifica-os para que resplandeçam. (Cf. 2 Cel 221-224)

5. Vita II: Problemas com a singularidade

“Vede o que está fazendo este avarento. Mesmo cheio e empanturrado, tem inveja de seus
esfomeados irmãozinhos. Ele ainda haverá te ter uma morte macabra”. A palavra do Santo foi logo
seguida pela vingança. O perturbador dos irmãos subiu ao vaso de água para beber, mas, de
repente, afogando-se na água, morreu. (...) Horroroso mal é a avareza dos homens, quando até nos
pássaros é punido dessa maneira (2 Cel 47)

6. Documento de 1266: Destruição de biografias de São Francisco

(...) Item precipit generale capitulum per obedientiam, quod omnes legende de beato Francisco olim
facte deleantur, et ubi extra ordinem inveniri poterunt, ipsas fratres studeant amovere, cum illa
legenda, que facta est per generalem ministrum, fuerit compilata prout ipse habuit ab ore eorum, qui
cum b. Francisco quase semper fuerunt et cuncta certitudinaliter sciverint et probata ibi sint posita
diligenter.

(LITTLE, A.G.. Deffinitiones facte in capitulo parisiensi ordinis fratrum minorum (1266). Archivum
Franciscanum Historicum 7, 1914. p. 678.)

[Além disso, o capitulo geral manda sob obediência que sejam destruídas todas as legendas do
bem-aventurado Francisco compostas anteriormente e que, onde possam ser encontradas fora da
Ordem, os frades cuidem de retirá-las, pois a legenda escrita pelo ministro geral foi compilada com a
ajuda daquilo que ele mesmo ouviu da boca daqueles que estiveram quase sempre com o bem-
aventurado Francisco, e tudo o que se pode saber com certeza e com provas foi nela inserido com
cuidado].

7. I Fioretti di San Francesco: influências do Pensamento dos Espirituais franciscanos

De como São Francisco ensinou a Frei Deus, ainda que o frade menor fale com a
Leão o que é a perfeita alegria língua do Anjo e saiba os caminhos das
estrelas e as virtudes das ervas, e lhe fossem
revelados todos os tesouros da terra, e
“Vindo uma vez São Francisco de Perusa para conhecesse as virtudes dos pássaros e dos
Santa Maria dos Anjos com Frei Leão, era peixes e de todos os animais, e das pedras e
tempo do inverno e o frio grandíssimo o das águas; escreve que não está nisso a
cruciava fortemente. Chamou Frei Leão, que ia perfeita alegria”. E andando ainda mais um
indo na frente, e disse assim: “Frei Leão, se pedaço, São Francisco chamou com força: “Ó
acontecer, por graça de Deus, que os frades Frei Leão, ainda que o frade menor soubesse
menores dêem em todas as terras grande pregar tão bem que convertesse todos os
exemplo de santidade e de boa edificação; infiéis para a fé de Cristo; escreve que aí não
apesar disso, escreve e anota diligentemente há perfeita alegria”. E durando esse modo de
que não está aí a perfeita alegria”.  E andando falar bem duas milhas, Frei Leão, com grande
mais adiante, São Francisco chamou-o uma admiração, lhe perguntou, dizendo: “Pai, eu te
segunda vez: “Ó Frei Leão, ainda que o frade peço da parte de Deus que tu me digas onde
menor ilumine os cegos, estenda os há perfeita alegria”. E São Francisco lhe
encolhidos, expulse os demônios, faça os respondeu: “Quando nós estivermos em Santa
surdos ouvirem e coxos andarem, e os mudos Maria dos Anjos, tão molhados pela chuva,
falarem e, o que é coisa maior, ressuscite os enregelados pelo frio, enlameados de barro,
mortos de quatro dias; escreve que não está aí aflitos de fome, e batermos à porta do lugar, e
a perfeita alegria”.  E, andando um pouco, São o porteiro vier irado e disser: Quem sois vós?
Francisco gritou forte: “Ó Frei Leão, se o frade E nós dissermos: Nós somos dois dos vossos
menor soubesse todas as línguas, todas as frades. E ele disser: Vós não dizeis a verdade,
ciências e todas as escrituras, de modo que aliás sois dois marotos que andais enganando
soubesse profetizar e revelar não somente as o mundo e roubando as esmolas dos pobres;
coisas futuras mas até os segredos das ide embora; e não nos abrir, e fizer-nos ficar
consciências e das pessoas; escreve que não fora na neve e na água, com o frio e com a
está nisso a perfeita alegria”.  Andando um fome até de noite; então, se nós suportarmos
pouco mais adiante, São Francisco ainda tanta injúria e tanta crueldade, e tantas
chamava forte: “Ó Frei Leão, ovelhinha de despedidas pacientemente, sem nos
perturbarmos, e sem murmurar dele, e por nó com aquele bastão: se nós suportarmos
pensarmos humildemente que aquele porteiro todas essas coisas pacientemente e com
nos conhece de verdade, que Deus o faz falar alegria, pensando nas penas de Cristo bendito,
contra nós; ó Frei Leão, escreve que aqui há que temos que aguentar por seu amor; ó Frei
perfeita alegria. E se, apesar disso, Leão, escreve que aqui e nisto há perfeita
continuássemos batendo, e ele saísse para alegria.  E, por isso, ouve a conclusão, Frei
fora perturbado, e nos expulsasse como Leão. Acima de todas as graças e dons do
velhacos importunos, com vilanias e bofetões, Espírito Santo, que Cristo concede aos seus
dizendo: Ide embora daqui, ladrõezinhos muito amigos, está a de vencer a si mesmo e de boa
vis, ide ao hospital, porque aqui vós não vontade, por amor de Cristo, suportar penas,
comereis, nem vos abrigareis; se nós injúrias, opróbrios e mal-estares; porque de
suportarmos isso pacientemente, com alegria todos os outros dons de Deus nós não
e com bom amor; ó Frei Leão, escreve que podemos nos gloriar, pois não são nossos mas
aqui há alegria perfeita.  E se nós, mesmo de Deus, como diz o Apóstolo: Que é que tu
constrangidos pela fome, pelo frio e pela noite, tens que não recebeste de Deus? E se
ainda batermos mais, chamarmos e pedirmos recebeste dele, por que te glorias, como se o
por amor de Deus com muito pranto que nos tivesses por ti? Mas na cruz da tribulação e da
abra e nos ponha para dentro assim mesmo, e aflição nós podemos nos gloriar, pois diz o
ele escandalizado disser: Estes são patifes Apóstolo: Não quero me gloriar a não ser na
importunos, eu os pagarei bem, como cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.  Para
merecem; e sair para fora com um bastão louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho
cheio de nós, e nos agarrar pelo capuz e jogar Francisco. Amém. (Fior 8)
por terra, e nos revirar na neve e nos bater nó

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