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Ano B – São Marcos

TEMPO DO ADVENTO. PRIMEIRA SEMANA. QUARTA-FEIRA

SÃO FRANCISCO XAVIER

Memória

– O zelo apostólico de São Francisco Xavier.

– Conquistar novos apóstolos para Cristo.

– A eficácia apostólica da nossa vida.

São Francisco nasceu no castelo de Xavier no dia 7 de agosto de 1506. Estudou em Paris,
onde conheceu Santo Inácio de Loyola. Foi um dos membros fundadores da Companhia de
Jesus. Ordenado sacerdote em Roma em 1537, dedicou-se principalmente a levar a cabo obras
de caridade. Em 1541, partiu para o Oriente, e durante dez anos evangelizou incansavelmente a
Índia e o Japão, convertendo muitas almas. Morreu em 1552, na ilha de Shangchuan, na China.
I. QUE APROVEITARÁ AO HOMEM ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?1 Estas
palavras de Jesus calaram fundo na alma de São Francisco Xavier e levaram-no a uma mudança
de vida radical.
De que serviriam todos os tesouros desta vida, se deixássemos passar o essencial? Para que
quereríamos êxitos e aplausos, triunfos e prêmios, se no fim não encontrássemos a Deus? Tudo
teria sido um engodo, uma perda de tempo: o fracasso mais completo. São Francisco Xavier
compreendeu o valor da sua alma e das almas dos outros, e Cristo passou a ser o verdadeiro
centro da sua vida. Desde então, o zelo pelas almas foi nele “uma apaixonada impaciência”2.
Sentiu na sua alma o premente apelo da salvação do mundo inteiro e firmou-se na disposição de
dar a vida para conquistar almas para Cristo3.
A impaciência santa que consumiu o seu coração fez com que escrevesse, quando já se
encontrava no longínquo Oriente, estas palavras que revelam bem o que foi a sua vida: “...e os
cristãos nativos, privados de sacerdotes, a única coisa que sabem é que são cristãos. Não há
ninguém que lhes celebre a Missa, ninguém que lhes ensine o Credo, o Pai-Nosso... Por isso,
desde que aqui cheguei, não me dei a um momento de repouso: dediquei-me a percorrer as
aldeias, a batizar as crianças que ainda não tinham recebido esse sacramento. Deste modo,
purifiquei um número ingente de crianças que, como se costuma dizer, não sabiam distinguir a
mão direita da esquerda. As crianças não me deixavam recitar o Ofício divino nem comer nem
descansar, enquanto não lhes ensinasse alguma oração”4.
O Santo contemplava – como nós atualmente – o imenso panorama de tantas pessoas que não
têm quem lhes fale de Deus. Continuam a ser realidade nos nossos dias as palavras do Senhor: A
messe é muita, mas os operários poucos5. Isto é o que fazia São Francisco Xavier escrever, com
o coração cheio de um santo zelo: “Nestas paragens, são muitíssimos os que não se tornam
cristãos, simplesmente por faltar quem os faça tais. Muitas vezes, sinto uma vontade louca de
percorrer as Universidades da Europa, principalmente a de Paris, e pôr-me a gritar por toda a
parte, como quem perdeu o juízo, para sacudir os que têm mais ciência do que caridade e gritar-
lhes: Ai, como são tantas as almas que, pela vossa apatia, ficam excluídas do Céu e se precipitam
no inferno!”
“Oxalá pusessem neste assunto o mesmo interesse que põem nos seus estudos! Com isso
poderiam prestar contas a Deus da sua ciência e dos talentos que lhes foram confiados. Na
verdade, talvez muitos deles, impressionados por estas considerações e pela meditação das
realidades divinas, se dispusessem a ouvir o que Deus lhes diz e, abandonando as cobiças e
interesses humanos, se dedicassem por inteiro à vontade e ao querer de Deus. Decerto, diriam de
coração: Senhor, aqui me tens; que queres que eu faça? Envia-me aonde queiras, nem que seja à
Índia”6.
Esse mesmo zelo deve arder no nosso coração. Mas, geralmente, o Senhor quer que o
manifestemos no lugar em que nos encontramos: na família, no meio do trabalho, com os nossos
amigos e colegas. “Missionário. – Sonhas em ser missionário. Tens vibrações como as de Xavier,
queres conquistar para Cristo um império. O Japão, a China, a Índia, a Rússia..., os povos frios do
norte da Europa, ou a América, ou a África, ou a Austrália...

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“Fomenta esses incêndios em teu coração, essa fome de almas. Mas não esqueças que és
mais missionário «obedecendo». Geograficamente longe desses campos de apostolado, trabalhas
«aqui» e «ali». Não sentes – como Xavier! – o braço cansado, depois de administrares a tantos o
batismo?”7 Quantas pessoas com o coração e a alma pagã não encontramos nas nossas ruas e
praças, na Universidade, na vida comercial, na política...!
II. E DISSE-LHES: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura8. Todos os
cristãos devemos sentir-nos urgidos a cumprir essas palavras em qualquer lugar em que nos
encontremos, com valentia, com audácia, como nos recorda o Papa João Paulo II: “Nós, os
cristãos, estamos chamados à valentia apostólica, baseada na confiança no Espírito”9.
Olhamos ao nosso redor e percebemos que são incontáveis os que ainda não conhecem a
Cristo. Até muitos dos que foram batizados vivem como se Cristo não os tivesse redimido, como
se Ele não estivesse realmente presente no meio de nós. Quantos não se encontram hoje como
ovelhas sem pastor10, sem uma direção precisa nas suas vidas, desorientados, perdendo o
melhor do seu tempo porque não sabem para onde ir!
Enchemo-nos de compaixão, como fazia o Senhor, por essas pessoas que, embora
humanamente pareçam triunfar, na realidade estão a caminho do fracasso, porque não se sentem
nem se comportam como filhos de Deus que se dirigem para a Casa do Pai. Que pena se alguém
deixasse de encontrar o Mestre pela nossa omissão, pela falta desse espírito apostólico!

De mil formas diferentes, com umas palavras ou outras, sempre com uma conduta exemplar,
devemos fazer-nos eco daquelas palavras que o Papa João Paulo II pronunciou no lugar de
nascimento de São Francisco, em Xavier: “Cristo precisa de vós e vos chama para ajudar milhões
de irmãos vossos a ser plenamente homens e salvar-se. Vivei com esses nobres ideais na vossa
alma e não cedais à tentação das ideologias do hedonismo, do ódio e da violência que degradam
o homem. Abri o vosso coração a Cristo, à sua lei de amor, sem condicionar a vossa
disponibilidade, sem medo às respostas definitivas, porque o amor e a amizade não têm
ocaso”11.
E se alguma vez não sabemos o que dizer aos nossos amigos e parentes para que se sintam
comprometidos nesta tarefa divina, a mais alegre de todas, pensemos de que modo São
Francisco Xavier foi conquistado para a grande missão que o Senhor lhe preparava, enquanto
realizava os seus estudos: “Razões?... Que razões daria o pobre Inácio ao sábio
Xavier?”12 Poucas e pobres para realizar a mudança profunda na alma do amigo. Devemos ser
audazes e confiar sempre na graça, na ajuda da Virgem e dos Santos Anjos da Guarda.
Peçamos ao Senhor que “acenda em nós o amor que abrasava São Francisco Xavier pela
salvação das almas...13 Peçamos a Santa Maria que sejam muitos os que arrastemos conosco
para que se convertam por sua vez em novos apóstolos.
III. SÃO FRANCISCO XAVIER, como fizeram todas as almas santas, sempre pedia aos
destinatários das suas cartas “a ajuda das suas orações”14, pois o apostolado deve alicerçar-se
no sacrifício pessoal, na oração própria e alheia. Em todos os momentos, e sobretudo se alguma
vez as circunstâncias nos impedem de levar a cabo um apostolado mais direto, devemos ter muito
presente a eficácia da nossa dor, do trabalho bem feito, da oração.
Santa Teresa de Lisieux, intercessora das missões juntamente com São Francisco Xavier,
apesar de nunca ter saído do seu convento, sentia intensamente o zelo pela salvação das almas,
mesmo das mais longínquas. Experimentava no seu coração as palavras de Cristo na
Cruz: Tenho sede, e abrasava o seu coração em desejos de chegar aos lugares mais afastados.
“Quereria – escreve – percorrer a terra pregando o vosso Nome e plantando na terra infiel a vossa
gloriosa Cruz. Mas não me bastaria uma só missão, pois desejaria poder anunciar
simultaneamente o vosso Evangelho em todos os lugares do mundo, até nas ilhas mais
longínquas. Quereria ser missionária, não apenas durante uns anos, mas tê-lo sido desde a
criação do mundo, e continuar a sê-lo até à consumação dos séculos”15. E certa vez em que,
estando já muito doente, dava um breve passeio, e uma irmã lhe recomendou que se detivesse e
descansasse, a Santa respondeu-lhe: “Sabe o que me dá forças? Pois bem, ando para um
missionário. Penso que, lá muito longe, pode haver um quase esgotado nas suas excursões
apostólicas, e para diminuir-lhe a fadiga, ofereço a Deus a minha”16. E a sua oração e o seu
sacrifício chegaram até esses lugares.
O zelo pelas almas deve manifestar-se em todas as ocasiões. Não podem servir de desculpa a
doença, a velhice ou o aparente isolamento. Por meio da Comunhão dos Santos, podemos chegar
muito longe. Tão longe quanto grande for o nosso amor a Cristo. Então, a vida inteira, até o nosso

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último suspiro aqui na terra, terá servido para levar almas ao Céu, como aconteceu com São
Francisco Xavier, que morreu diante das costas da China, desejando poder levar a essas terras
a Boa Nova de Cristo. Não se perde nenhuma oração, nenhuma dor oferecida com amor: todas,
de um modo misterioso mas real, produzem o seu fruto. Esse fruto que um dia, pela misericórdia
de Deus, veremos no Céu e nos encherá de uma alegria impossível de conter.
(1) Mc 8, 36; (2) João Paulo II, Discurso em Xavier, 6-XI-1982; (3) cfr. F. Zubillaga,Cartas y
escritos de San Francisco Javier, BAC, Madrid, 1953, 54, 4; (4) Liturgia das Horas, Das cartas de
São Francisco Xavier a Santo Inácio; (5) Mt 9, 37; (6) Liturgia das Horas, op. cit.; (7) Josemaría
Escrivá, Caminho, n. 315; (8) Mc 16, 15; (9) João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 7-XII-1990, n.
30; (10) Mt 9, 36; (11) João Paulo II, Discurso em Xavier, cit.; (12) Josemaría Escrivá, op. cit., n.
798; (13) Oração depois da comunhão; (14) cfr. João Paulo II, Discurso em Xavier, cit.; (15) Santa
Teresa de Lisieux, História de uma alma, XI, 13; (16) ib., XII, 9.

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