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5. É regra viver o ensinamento de Cristo: o encontro de Francisco de


Assis com o Evangelho

ORAÇÃO INICIAL

PREPARAR A VIDA COM SABEDORIA

– TEXTO 1 (do Evangelho de São Marcos 5, 18-20): 18Quando ele (Jesus) subia para
a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompa-nhá-lo.
19Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: “Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-
lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti”. 20Foi-se ele e
começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se
admiravam.

– TEXTO 2: Hoje os meus pensamentos alcançaram o santo conflito de minha alma.


Quantas vezes senti vontade de desistir.
Quantas vezes me vi sem forças para levantar e continuar o passo.
Quantas vezes a escuridão inundou o meu interior e a distância de mim mesmo
mergulhou o meu ser na inexistência, na morte em vida.
Meus Deus! Quantas situações e atuações nesta vida.
Quantas vezes... quantas vezes... não sei, perdi a conta.
De mais a mais, a paradoxal realidade era ainda combalida pela conflituosa vontade
que ora se convencia, ora se remoía em culpa (quanto a isso, sou opinioso, o ser
humano não merece sentir remorso, uma vez que, somente o arrependimento é o
caminho para o abraço de Deus).
Mas, tem uma coisa que ainda me deixa sem jeito, mais que tudo, nessa história: a
convicção consciente da Tua presença, que era certa e constrangedora, naqueles
momentos de insensatez, pois atoleimado com aquilo que não entendia, me colocava
em passiva e tortuosa dúvida sobre o merecimento: do amor? Da compaixão? Da
misericórdia? Do perdão? Da graça? Ainda não sabia!

Tradução livre – Micael Angele: “Diários”.


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AQUECENDO O CORAÇÃO... (preparando o caminho)

• O que sou neste mundo? Ser franciscano secular é ser um escolhido para
seguir os passos de Jesus; ser imitador da sua vida e das suas obras; e acolher
o Reino de Deus interna e externamente. É escutar, diariamente, a voz de
Jesus me chamando. [...] lembro-me do dia em que professei a regra
franciscana secular, foi um dia muito especial...

• “Vem e segue-me!” (Mt 9,9). “...e naquele dia eu larguei tudo para seguir-te...”
(Micael Angele). Ainda escuto a voz de Jesus me chamando?

• “Se, realmente, eu soubesse que Cristo vive em mim, com certeza saberia a
real dimensão dessa graça e viveria a vida querendo viver Nele!” (Micael
Angele). O que posso apreender desse pensamento?

ENCONTRAR FRANCISCO DE ASSIS EM SEUS ENCONTROS

Mesmo transcorrido três anos de sua conversão, São Francisco de Assis ainda
conflitava com questões que batiam de frente à sua decisão de seguir os passos de
Jesus, quanto a isso, há certa normalidade, em se tratando da fé. Talvez, perguntas
como, o que fazer? Como fazer? Com quem fazer? Para quem fazer? Em nome de
quem? Tenham permeado o pensamento do “Pobrezinho de Assis”. Entretanto, Deus
é o momento certo, seja o tempo que for. E foi nessa lógica que ele, ao escutar o
Evangelho, é tomado pela certeza que aquele era o momento confirmador da sua
vocação pois, instantemente, colocou-se em disposição prática por amor a Cristo e
aos seus irmãos. O relato a seguir compõe parte dos escritos de Frei Tomás de Celano
sobre a vida de Francisco de Assis.

TEXTUALIZANDO... (Frei Tomás de Celano – Primeira vida de São Francisco de


Assis – capítulo 22, 1-10)

1 Mas, como em um dia foi lido nessa igreja o evangelho de como o Senhor
enviou seus discípulos para pregar, o santo de Deus, aí presente, ouvindo bem as
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palavras do evangelho, depois da celebração da missa suplicou ao sacerdote que lhe


explicasse o evangelho.
2 Depois que ele lhe explicou tudo em ordem (cf. Est 15,9), ouvindo são
Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem
levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas
túnicas (cf. Mt 10,9-10; Mc 6,8; Lc 9,3; 10,4), mas pregar o reino de Deus e a
penitência (cf. Lc 9,2; Mc 6,12), ficou logo exultante (cfr. Lc 1,47) e 3 disse: “É isso que
eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração”.
4 Então o pai santo se apressou, transbordando de gozo (cfr. 2 Cor 7,4), para
cumprir o salutar aviso, e não suportou nenhuma demora para começar a cumprir o
que ouvira. 5 Desamarrou imediatamente os calçados (cfr. Ex 3,5), tirou o bastão das
mãos e, contente com a túnica, substituiu a correia por uma corda.
6 Então, preparou para ele mesmo uma túnica que apresentava uma imagem
da cruz, para nela repelir todas as fantasias demoníacas. 7 Ele a fez muito áspera para
nela crucificar a carne com os vícios (cfr. Gal 5,24) e pecados: 8 Finalmente, ele a fez
paupérrima e descuidada, para que nunca pudesse ser desejada pelo mundo.
9 E tratou de fazer as outras coisas que ouvira com a maior diligência, com a
maior reverência. 10 Porque não tinha sido um ouvinte surdo do Evangelho. Antes,
confiando à sua louvável memória tudo que ouvira, cuidava de levar tudo adiante
diligentemente.

POR UMA ASSIS UNIVERSAL: REFLEXÕES PARA UM NOVO TEMPO.

Segundo a teologia cristão, o Evangelho se refere à Boa Nova apresentada por


Jesus Cristo em sua encarnação. Boa Nova que apresenta o que ele fez, ensinou e,
principalmente, que revela o amor de Deus pela humanidade e seu desejo de salvá-
la do pecado e da morte. Em função disso, é tarefa comum a todos os cristãos “‘ouvir
religiosamente a Palavra de Deus e proclamá-la com confiança’, mais especificamente
o Evangelho.” (DICIONÁRIO FRANCISCANO). Ora, se a escuta do Evangelho sugere
uma atitude funcional, o que isso significa, então, para a vida franciscana secular?
Talvez, a melhor definição para responder a essa pergunta seja o conceito
dado pelo decreto “Perfectae caritatis” quando aponta que “o seguimento de Cristo
proposto no Evangelho, norma última da vida religiosa, seja para todos os institutos a
regra suprema”. Isso, explica o motivo pelo qual o Evangelho aprofundou-se
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fortemente em Francisco acompanhando-o por todo o curso de sua vida. Para o


“Poverello de Assis” o Evangelho se tornou regra proferida publicamente e
normativamente escrita.
Ao escutar o Evangelho na igrejinha de Santa Maria, Francisco de Assis não
só percebe a sua vocação, mas a ressignifica “encarnando” o Evangelho como própria
razão de sua vida: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo
fazer com todo o meu coração” (CELANO). Esse é o caráter ideal e absoluto de
evangelicidade franciscana. Esse, deve ser o desejo de cada franciscano e
franciscana secular: “o que proferi como regra da minha vida é o próprio Cristo, porque
a minha profissão é evangélica e possui caráter vitalício”. Logo, Francisco nos convida
a “perceber no Evangelho, antes de tudo, a pessoa de seu protagonista: Jesus Cristo,
homem perfeito e filho de Deus [...]” (DICIONÁRIO FRANCISCANO).
Contudo, ao assumir, conscientemente, Jesus Cristo em minha vida, uma série
de disposições acompanha a minha decisão. Não há como professar o Evangelho e
não querer “encarná-lo” em meus encontros e desencontros nesta vida. Não há como
assumir o Cristo e torná-lo um mero símbolo da minha vaidade ou justificativa para os
meus desacertos. Não há como viver o Evangelho ao modo de Francisco de Assis e
não querer imitar em tudo o Nosso Senhor Jesus Cristo, buscando a perfeição
amorosa da santidade no Verbo Encarnado, assim como fez nosso Pai Seráfico.

(partilha fraterna)

• “A decisão é tua! A decisão é tua! São muitos os convidados. São muitos os


convidados. Quase ninguém tem tempo. Quase ninguém tem tempo.” (Pe.
Zezinho). O que influenciou a minha convicta escolha pelo Evangelho ao modo
de Francisco de Assis?

• Como compreendo a profissão religiosa ao Evangelho?

• Como compreendo a profissão religiosa à regra de uma ordem, instituto ou


congregação?

• A minha vocação, eu a vejo como uma graça recebida do Senhor? Como um


direito adquirido? Ou como um favor que estou fazendo a Deus e a à Igreja?
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• Tenho me achado com direitos adquiridos diante de Deus e da Igreja?


Conservo sinceramente o sentido da minha indignidade diante do Senhor?
Guardo no coração o senso da Santidade de Deus, de quem não sou digno de
ser servo e de quem não mereço ser franciscano secular professo?

Irmãos e irmãs, a resposta ao chamado de Jesus se dá pela escolha responsável em


segui-Lo. Entretanto, o seguimento traz em si suas exigências práticas as quais não
seriam possíveis sem a compreensão da Boa Nova de Cristo em nossa vida de
consagrados. Há quem segue Jesus por seu batismo e há aqueles que, como
Francisco, Clara e seus irmãos, são escolhidos à serem propagadores da mensagem
de Jesus entre os irmãos e irmãs deste mundo. Consagrados ao Evangelho por meio
da sua profissão e serviço, as irmãs e irmãos franciscanos seculares são convidados,
constantemente, à lembrança da responsabilidade da sua vocação e missão diante
de Deus, da Igreja e dos homens.

GESTO FRATERNO: VIVER O EVANGELHO DE CRISTO (Lc 4, 18-19)

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas.

18O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar
a Boa-Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, 19para anunciar aos
cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os
cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.

“[...] Aquela admoestação, antes entendida como convite a reconstruir pedra por pedra
a ruína da capelinha, com os anos revelou ao jovem seu pleno significado. Ele era
chamado a “coisas maiores”: “renovar”, em espírito de obediência, a Igreja que, na
época, era investida por divisões e heresias.” (Vatican News).

ORAÇÃO FINAL

Ó Glorioso Deus Altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, concedei-me uma fé


verdadeira, uma esperança firme, um amor perfeito. Dai-me Senhor, o reto sentir e
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conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais de
dar-me. Amém.

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