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Vincentian Family Office — Oficina de la Familia Vicenciana — Bureau de la Famille Vincentienne

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Roma, 18 de fevereiro de 2024


Primeiro domingo da Quaresma

A todos os membros do Movimento da Família Vicentina

ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO


SER APAIXONADO POR JESUS

Queridos irmãos e irmãs em São Vicente,

Que a graça e a paz de Jesus estejam sempre conosco!

Na minha carta de 27 de setembro de 2016, incentivei a refletir sobre São Vicente de


Paulo como “Místico da Caridade”. Desde aquela carta e com base nas Regras Comuns e nas
Constituições da Congregação da Missão, temos meditado sobre o que fez dele um Místico da
Caridade.

No capítulo dez das Regras Comuns, referente aos fundamentos de nossa


espiritualidade, São Vicente sugere que é possível encontrar tudo na Eucaristia.

No Santo Sacrifício da Missa, Jesus se oferece a cada instante em algum lugar do


mundo. A presença de Jesus sob as espécies do pão e do vinho não se limita ao tempo da
Eucaristia, mas é oferecida a nós como um dom suplementar de valor inestimável, presente 24
horas por dia nos sacrários do mundo. Não se trata de uma presença de meia hora, ou de uma

1
hora, mas de 24 horas por dia, dia e noite. Quando passamos em frente a uma igreja, uma
capela, um lugar onde há um sacrário e onde Jesus habita, podemos ficar completamente
distraídos, sem perceber ou não nos lembrar daquele que está presente ali, sob as espécies de
pão, e às vezes está presente apenas há em alguns metros de distância, ou até mesmo ao nosso
alcance. Os lembretes físicos podem nos ajudar: “Quanto à lâmpada do Santíssimo, Jesus, meu
Deus! É preciso com certeza mantê-la acesa”1, e isto é ainda necessário realizar.

Na história da Igreja, desde a primeira Eucaristia, quando Jesus se ofereceu na Última


Ceia sob as espécies de pão e vinho, existem muitos exemplos de milagres eucarísticos que
confirmaram a presença real de Jesus na Eucaristia; muitos casos de pessoas que não
precisavam de nenhum outro alimento para viver, além da Eucaristia; inúmeras conversões
graças à presença constante de Jesus nos Sacrários do mundo. Inúmeras pessoas passaram e
continuam a passar horas e horas diante do Sacrário ou durante a exposição do Santíssimo
Sacramento, muitas vezes sem dizer nada, sem levar uma lista de pedidos que pretendem
solicitar a Jesus, mas simplesmente para estar com Ele, para permanecer em silêncio, para dar
a Jesus a oportunidade de falar quando Ele quiser e de dizer o que Ele pensa ser apropriado e
necessário para eles.

“Quando passardes por alguma povoação, saudareis o anjo da guarda daquele lugar
e nas paragens do coche ireis à igreja, se não estiver muito longe. Ficará uma para ver
se arranja hospedagem e as outras irão adorar o Santíssimo Sacramento”2.

Algumas paróquias, capelas e comunidades religiosas realizam a adoração ao


Santíssimo Sacramento durante 24 horas por dia. Às vezes, um grupo, ou até mesmo uma única
pessoa, permanece com Jesus para que nunca fique sozinho. Para alguns, o encontro com Jesus
ocorre no meio da noite, quando a maioria das pessoas dorme. Para muitos de nós, pode surgir
a dúvida: Como essas pessoas conseguem ficar, não por alguns minutos, mas por horas em
frente ao Sacrário ou durante a exposição do Santíssimo Sacramento? Como elas conseguem
fazer isso?

Duas respostas me vêm à mente:

1) ESSAS PESSOAS CREEM NA PRESENÇA REAL DE JESUS SOB


A FORMA DE PÃO E VINHO.

2) ELAS SÃO APAIXONADAS POR JESUS.

Aprender o catecismo, participar da Santa Missa todos os dias ou todos os domingos,


participar de palestras sobre o tema da Eucaristia ou ler livros sobre o assunto, etc., não são
suficientes para nos conduzir a crer na presença real de Jesus sob as espécies de pão e vinho e
a sermos apaixonados por Jesus. Isso só acontece por meio da graça, da misericórdia e do amor

1
SV II, Carta 817, à Claude Dufour à Saintes, 4 de julho de 1646, p. 704.
2
SV, Conferência de 4 de agosto de 1658, às quatro Irmãs enviadas para Calais, p. 812.

2
incondicional de Jesus. Ele nos espera 24 horas por dia para que o visitemos no silêncio interior,
abramos os nossos corações e possamos aguardar o momento oportuno para Ele nos dizer o
que deseja.

Cada um de nós é convidado a fazer uma reflexão pessoal: Onde me encontro em


relação aos dois pontos mencionados acima?

Na peregrinação da fé, não deveria ser amedrontador, desanimador ou mesmo chocante


o fato de perceber que ainda não estou onde gostaria de estar. Eu não deveria me abalar com
as dúvidas que carrego dentro de mim há anos e anos. O mais importante não é o que eu penso
de mim mesmo, mas o que Jesus pensa de mim!

Jesus nos espera 24 horas por dia e a qualquer momento, seja qual for o estado em que
nos encontremos, com as dúvidas, as alegrias ou as tristezas que Lhe apresentamos. São
Vicente aconselha: “Depois de terem adorado o Santíssimo Sacramento e de lhe terem
oferecido o trabalho que vão fazer, pedirão a Ele a graça de dizer aos pobres doentes o que
Ele deseja que lhes seja dito da sua parte para a salvação deles”3.

Por meio de nossas visitas regulares a Jesus no Sacrário e através da adoração regular
ao Santíssimo Sacramento, Jesus leva-nos a derrubar os muros e obstáculos, e começa a nos
preencher com sua paz interior, abrindo nossos corações para dar novos passos em direção ao
momento no qual seremos capazes, sem hesitar, de responder-Lhe positivamente. São Vicente
nos dá um exemplo concreto: “Ora, quando lhes disserem alguma coisa descortês que tenham
dificuldade em suportar, não respondam, mas elevem o vosso coração a Deus para lhe pedirem
a graça de sofrer por isso por Seu amor, e vão contar o vosso desgosto a Nosso Senhor no
Santíssimo Sacramento”4.

Escrevendo estas linhas, reconheço a distância que me separa dos dois pontos
mencionados acima. Estou convencido de que, para todos nós, uma resposta positiva é a
condição fundamental para uma conversão permanente que traz consigo todos os outros meios
espirituais que nos ajudam em nossa peregrinação.

Gostaria de apresentar o exemplo de um leigo que conheci há alguns anos em Roma.


Seu testemunho de vida reflete de maneira extraordinária os dois pontos mencionados acima.

Ele se chama Arnoldo, é casado e tem três filhos. Seu nome é bastante conhecido na
Itália e em outros países. Ele é originário de uma família italiana de prestígio. Como filósofo,
escritor, poeta e empresário, seu futuro parecia promissor. Porém, ele abandonou tudo para se
dedicar a uma Fundação chamada “Fundação Casa do Espírito e das Artes”. Sua esposa e seus

3
Coste XIII, 766 ; document 186, Sur la préparation des malades de l’Hôtel-Dieu à la confession générale (1636).
4
SV, Conferência de 23 de julho de 1656, sobre o amor dos sofrimentos físicos e morais, p. 583.

3
três filhos, de 9, 12, e 14 anos, lhe ouviram dizer: “Desculpe, eu devo ir falar com Jesus”. Estas
são algumas de suas reflexões sobre Jesus, a Eucaristia e o amor de Deus5:

Ao longo dos anos, sempre e a cada dia, ou pelo menos inúmeras vezes, existe essa
relação de Cristo, presente na Eucaristia... Ele é verdadeiramente presente no mundo.
Ele respira no mundo. Ele está em cada Sacrário.

Creio que é o amor de Deus que me toca. E isso sempre me surpreende. Quando menos
espero, quando me sinto menos digno de seu amor, ele me toca, me estende a mão, me
faz perceber o quanto me ama. É sempre Ele quem nos estende a mão... Penso que Deus
é um apaixonado que “está sempre à nossa porta”, esperando que a abramos para Ele.

O encontro com Cristo lhe marca para sempre. É como uma ferida aberta. Quando
Cristo nos toca, nos fere, o homem começa a morrer de amor, a ser consumido pelo
amor... Eu só tenho certeza de que estou apaixonado por Cristo, porque Ele me tocou,
porque sinto que essa “ferida aberta” dá sentido à vida, porque ninguém jamais me
tocou tão profundamente quanto Ele, ninguém foi até o mais profundo do meu espírito,
acariciando-o, como Cristo faz.

É Ele, no Sacrário, presente na Eucaristia, que desce às profundezas da alma para


saciar sua sede... A Eucaristia, por assim dizer, sustenta o corpo e o espírito com uma
seiva secreta; ativa uma segunda circulação na qual flui um sangue misterioso, um
sangue de amor.

Cristo na Eucaristia ainda está na cruz e ao mesmo tempo já ressuscitou: Ele continua
a se doar, até o fim dos tempos, para salvar cada ser humano... A cruz e a Eucaristia
são dois “escândalos” absurdos para a mentalidade do mundo, porque revelam o ápice
supremo do amor... A Eucaristia age sobre a consciência humana e a transforma em
amor.

A comunhão é, antes de tudo, uma experiência, não um ritual, e uma experiência supõe
uma relação, uma vontade, uma inteligência e um coração face à presença de Deus,
que acreditamos ser Deus por meio da fé.

Se eu não comungar durante alguns dias, sentirei falta da Eucaristia. A Eucaristia é


uma necessidade, não se pode evitá-la. Podem tirar tudo de mim, mas não a Eucaristia.
Nenhuma tentação e nenhum pecado podem me levar a renunciar a Eucaristia.

Adoração ao Santíssimo Sacramento e visita a Jesus no Sacrário

5
Essas reflexões foram retiradas do livro de Arnoldo Mosca Mondadori e Monica Mondo, Il farmaco
dell’Immortalità, Dialogo sulla vita e l’Eucaristia [O Médico da Imortalidade, Diálogo sobre a Vida e a
Eucaristia], Scholé, Editrice Morcelliana, Brescia, 2019. Trata-se de uma entrevista com Monica Mondo
conduzida por Arnoldo Mondadori.

4
Inspirados pelos numerosos exemplos de pessoas cujos testemunhos nos ajudam a
aprofundar nossa fé pessoal na presença real de Jesus na Eucaristia e nosso amor a Jesus, somos
convidados a viver esse tempo especial do ano litúrgico, a Quaresma, como um tempo
extraordinário da graça em preparação para o Jubileu do 400º Aniversário da Fundação da
Congregação da Missão e o Jubileu de toda a Igreja, a fim de adotar medidas concretas nesse
sentido. Que a Eucaristia seja, para todo o Movimento da Família Vicentina, cada congregação,
cada associação de leigos, assim como para todos aqueles que vivem a espiritualidade e o
Carisma Vicentino sem pertencer a nenhum ramo da Família, cada vez mais o centro e a
inspiração daquilo que somos.

Gostaria de agradecer a todas as comunidades, grupos e pessoas que já organizam


regularmente a adoração comunitária do Santíssimo Sacramento, bem como as visitas pessoais
a Jesus presente no Sacrário. Para as comunidades que não praticam a adoração semanal do
Santíssimo Sacramento, gostaria de incentivá-las a começar a realizá-la durante este período
de Quaresma e a torná-la uma prática regular de oração. Os grupos de leigos podem organizar
a adoração ao Santíssimo Sacramento conforme considerarem adequado nas paróquias, nas
capelas ou nos locais onde se reúnem. As outras pessoas que não pertencem a um grupo
específico, podem verificar onde é possível participar da adoração ao Santíssimo Sacramento.
Além da adoração ao Santíssimo Sacramento, Jesus nos espera no Sacrário durante as 24 horas
do dia. Como cada congregação e associação leiga da Família Vicentina tem o desejo de que
seus membros cresçam em número e santidade, Jesus certamente não ficará indiferente ao
nosso pedido.

Que Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, São Vicente de Paulo e todos os Santos,
Bem-Aventurados e Servos de Deus do Movimento da Família Vicentina intercedam por nós!

Seu irmão em São Vicente,

Tomaž Mavrič, CM

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