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hora, mas de 24 horas por dia, dia e noite. Quando passamos em frente a uma igreja, uma
capela, um lugar onde há um sacrário e onde Jesus habita, podemos ficar completamente
distraídos, sem perceber ou não nos lembrar daquele que está presente ali, sob as espécies de
pão, e às vezes está presente apenas há em alguns metros de distância, ou até mesmo ao nosso
alcance. Os lembretes físicos podem nos ajudar: “Quanto à lâmpada do Santíssimo, Jesus, meu
Deus! É preciso com certeza mantê-la acesa”1, e isto é ainda necessário realizar.
“Quando passardes por alguma povoação, saudareis o anjo da guarda daquele lugar
e nas paragens do coche ireis à igreja, se não estiver muito longe. Ficará uma para ver
se arranja hospedagem e as outras irão adorar o Santíssimo Sacramento”2.
1
SV II, Carta 817, à Claude Dufour à Saintes, 4 de julho de 1646, p. 704.
2
SV, Conferência de 4 de agosto de 1658, às quatro Irmãs enviadas para Calais, p. 812.
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incondicional de Jesus. Ele nos espera 24 horas por dia para que o visitemos no silêncio interior,
abramos os nossos corações e possamos aguardar o momento oportuno para Ele nos dizer o
que deseja.
Jesus nos espera 24 horas por dia e a qualquer momento, seja qual for o estado em que
nos encontremos, com as dúvidas, as alegrias ou as tristezas que Lhe apresentamos. São
Vicente aconselha: “Depois de terem adorado o Santíssimo Sacramento e de lhe terem
oferecido o trabalho que vão fazer, pedirão a Ele a graça de dizer aos pobres doentes o que
Ele deseja que lhes seja dito da sua parte para a salvação deles”3.
Por meio de nossas visitas regulares a Jesus no Sacrário e através da adoração regular
ao Santíssimo Sacramento, Jesus leva-nos a derrubar os muros e obstáculos, e começa a nos
preencher com sua paz interior, abrindo nossos corações para dar novos passos em direção ao
momento no qual seremos capazes, sem hesitar, de responder-Lhe positivamente. São Vicente
nos dá um exemplo concreto: “Ora, quando lhes disserem alguma coisa descortês que tenham
dificuldade em suportar, não respondam, mas elevem o vosso coração a Deus para lhe pedirem
a graça de sofrer por isso por Seu amor, e vão contar o vosso desgosto a Nosso Senhor no
Santíssimo Sacramento”4.
Escrevendo estas linhas, reconheço a distância que me separa dos dois pontos
mencionados acima. Estou convencido de que, para todos nós, uma resposta positiva é a
condição fundamental para uma conversão permanente que traz consigo todos os outros meios
espirituais que nos ajudam em nossa peregrinação.
Ele se chama Arnoldo, é casado e tem três filhos. Seu nome é bastante conhecido na
Itália e em outros países. Ele é originário de uma família italiana de prestígio. Como filósofo,
escritor, poeta e empresário, seu futuro parecia promissor. Porém, ele abandonou tudo para se
dedicar a uma Fundação chamada “Fundação Casa do Espírito e das Artes”. Sua esposa e seus
3
Coste XIII, 766 ; document 186, Sur la préparation des malades de l’Hôtel-Dieu à la confession générale (1636).
4
SV, Conferência de 23 de julho de 1656, sobre o amor dos sofrimentos físicos e morais, p. 583.
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três filhos, de 9, 12, e 14 anos, lhe ouviram dizer: “Desculpe, eu devo ir falar com Jesus”. Estas
são algumas de suas reflexões sobre Jesus, a Eucaristia e o amor de Deus5:
Ao longo dos anos, sempre e a cada dia, ou pelo menos inúmeras vezes, existe essa
relação de Cristo, presente na Eucaristia... Ele é verdadeiramente presente no mundo.
Ele respira no mundo. Ele está em cada Sacrário.
Creio que é o amor de Deus que me toca. E isso sempre me surpreende. Quando menos
espero, quando me sinto menos digno de seu amor, ele me toca, me estende a mão, me
faz perceber o quanto me ama. É sempre Ele quem nos estende a mão... Penso que Deus
é um apaixonado que “está sempre à nossa porta”, esperando que a abramos para Ele.
O encontro com Cristo lhe marca para sempre. É como uma ferida aberta. Quando
Cristo nos toca, nos fere, o homem começa a morrer de amor, a ser consumido pelo
amor... Eu só tenho certeza de que estou apaixonado por Cristo, porque Ele me tocou,
porque sinto que essa “ferida aberta” dá sentido à vida, porque ninguém jamais me
tocou tão profundamente quanto Ele, ninguém foi até o mais profundo do meu espírito,
acariciando-o, como Cristo faz.
Cristo na Eucaristia ainda está na cruz e ao mesmo tempo já ressuscitou: Ele continua
a se doar, até o fim dos tempos, para salvar cada ser humano... A cruz e a Eucaristia
são dois “escândalos” absurdos para a mentalidade do mundo, porque revelam o ápice
supremo do amor... A Eucaristia age sobre a consciência humana e a transforma em
amor.
A comunhão é, antes de tudo, uma experiência, não um ritual, e uma experiência supõe
uma relação, uma vontade, uma inteligência e um coração face à presença de Deus,
que acreditamos ser Deus por meio da fé.
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Essas reflexões foram retiradas do livro de Arnoldo Mosca Mondadori e Monica Mondo, Il farmaco
dell’Immortalità, Dialogo sulla vita e l’Eucaristia [O Médico da Imortalidade, Diálogo sobre a Vida e a
Eucaristia], Scholé, Editrice Morcelliana, Brescia, 2019. Trata-se de uma entrevista com Monica Mondo
conduzida por Arnoldo Mondadori.
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Inspirados pelos numerosos exemplos de pessoas cujos testemunhos nos ajudam a
aprofundar nossa fé pessoal na presença real de Jesus na Eucaristia e nosso amor a Jesus, somos
convidados a viver esse tempo especial do ano litúrgico, a Quaresma, como um tempo
extraordinário da graça em preparação para o Jubileu do 400º Aniversário da Fundação da
Congregação da Missão e o Jubileu de toda a Igreja, a fim de adotar medidas concretas nesse
sentido. Que a Eucaristia seja, para todo o Movimento da Família Vicentina, cada congregação,
cada associação de leigos, assim como para todos aqueles que vivem a espiritualidade e o
Carisma Vicentino sem pertencer a nenhum ramo da Família, cada vez mais o centro e a
inspiração daquilo que somos.
Que Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, São Vicente de Paulo e todos os Santos,
Bem-Aventurados e Servos de Deus do Movimento da Família Vicentina intercedam por nós!
Tomaž Mavrič, CM