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Nessa mesma direcção, Labov (2008) afirma que a mudança não pode ser um fenómeno
idiossincrático, posto que a língua é “um instrumento usado pelos membros da comunidade
para se comunicar entre si”. Por conseguinte, “só podemos dizer que a língua mudou quando
um grupo de falantes usa um padrão diferente para se comunicar entre si”. (LABOV, 2008, p.
320).
Conceito de Mudança linguística
A mudança é um processo inerente à própria língua natural humana, qualquer língua natural
humana evolui. Evolui o sistema linguístico, evolui aqueles que o usem (comunidade
linguística).
De acordo com Charles Bally (Apud COSERIU, 1979: 15), “a língua muda sem cessar e não
pode continuar funcionando senão não mudando”. Trata-se do paradoxo da linguagem que
nos leva à compreensão de que a língua vive em equilíbrio instável.
A mudança linguística, para Faraco, possui algumas características, tais como: ela é contínua
e própria a todas as línguas, assim cada estado de língua é produto de um processo histórico, o
que já apontara Saussure, a língua é ao mesmo tempo estática e evolutiva. Apesar de ser
contínua, a mudança é lenta e gradual, ou seja, a mudança não é algo imediato nem integral,
mas sim gradativa, atingindo partes da língua, sendo que a substituição de um termo por outro
passa por um período intermediário, em que os dois elementos coexistem como variantes até
um desaparecer totalmente. Além disso, a mudança é regular, ou seja, as mudanças
linguísticas não acontecem aleatoriamente, pois quando um elemento está em processo de
mudança, esse processo é regular e alcança todas as suas ocorrências. Por fim, a mudança
nunca atinge todo o sistema da língua, mas sim uma parte, como já afirmara Saussure que as
mudanças ocorrem em elementos isolados, não afectando o sistema como um todo. Assim, as
mudanças podem ocorrer em qualquer domínio da língua.
De acordo com Batibo (1992, apud Winford 2003, p. 258), o processo de mudança linguística
envolve cinco estádios que vão desde o uso da L1 como único sistema linguístico de que o
falante dispõe, passando por períodos intermédios de transição de monolinguismo a
bilinguismo, até à completa “extinção” da L1 e consequente substituição pela L27. A
delimitação dos cinco estádios não é claramente visível, uma vez que a erosão linguística
opera em tempos distintos nos vários falantes.
Desde que a Lingüística passou a ser encarada como ciência, na segunda metade do século
XIX, a mudança passou a ser uma preocupação dos estudiosos de língua. A princípio,
acreditava-se que a língua evoluía paulatina e gradualmente para atingir uma fase final de
plenitude, quando estacionaria, caracterizando, assim, uma civilização superior.
Mas, como disse Sapir, “não podemos antecipar a deriva e manter, ao mesmo tempo, nosso
espírito de casta” (Id., p. 157). Fica-se, portanto, em relação à flexão da segunda pessoa, com
o conflito mental: a aceitação consciente e incômoda da forma flexionada e o desejo
inconsciente de empregar a forma simplificada.
Causas da mudança linguística
Factores individuais
Má audição/compreensão do falante.
Falhas de memória.
Problemas de visão.
Não corresponde a desvios resultantes da fala, só quando se generaliza (vindo dum subgrupo
da comunidade) e impondo-se gradualmente até ser reconhecida como regra (ex. Informar de
que: o «de» tem tendência a desaparecer).
Nem sempre a variação implica mudança no sistema, porém toda a mudança resulta da
variabilidade do sistema.
A mudança não se restringe à variação dentro da família para ser considerada como tal tem de
transmitir-se a toda a comunidade.
O segundo princípio se orienta pelo problema da transição, isto é, pelo reconhecimento de que
“entre quaisquer dois estágios observados de uma mudança em progresso, normalmente se
tentaria descobrir o estágio interveniente que define a trilha pela qual a estrutura A evoluiu
para a estrutura B” (p. 122). Por exemplo, o estudo diacrónico da formação do pronome
“você” no português revela que a mudança entre “vossa mercê” e “você” não se deu
abruptamente, mas gradualmente uma forma inovadora esteve em competição com a pré-
existente, até que aquela prevalecesse em detrimento do completo apagamento desta.
Depois de as minhas pesquisas conclui-se que as mudanças, sejam elas fónicas, lexicais,
semânticas, sintácticas ou morfológicas, estão sempre latentes, convivem com os usuários da
língua em qualquer momento sincrónico e podem, a qualquer momento, fazer parte da deriva
e incorporar-se ao sistema.
Às pessoas que julgam ter a língua portuguesa se estruturado no século XVI, com Camões, e,
a partir daí, permanecendo fixa, inalterável, respondemos que a língua é processo dinâmico e
apresentamos algumas variantes na segunda parte desse trabalho. É certo que algumas se
diluirão com o tempo e a pressão da norma culta ensinada nas escolas; outras, entretanto,
impõem-se, seguem o rumo da deriva e “ficam para sempre assinaladas na história da língua”
(SAPIR, 1971: 155).
Portanto, daí que a mudança está associada ao funcionamento das línguas, ou, em outras
palavras, fenómeno essencialmente funcional, no sentido de que está relacionado o às
estratégias comunicativas que os usuários utilizam nos diferentes eventos de uso.
Referência bibliográfica
LABOV, W. Princípios del cambio linguístico: factores sociales. Trad. Pedro Martín
Butragueño. Madrid: Gredos, 2006. 2 v.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. I. Fundamentos empíricos para uma mudança
linguística. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2006.