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UNIVERSIDADE ROVUMA – EXTENSÃO DE CABO DELGADO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DE LÍNGUAS E ARTES

Curso de Licenciatura em Ensino de Português, 1º Ano, 1º Semestre, 2022

Amissina Latifo Estevão

Introdução

A literatura situa-se forçosamente no devir temporal e no transcurso histórico. As obras literárias,


porém, não se inserem no discurso temporal de modo fortuito, nem como uma gigantesca
colecção de indivíduos absolutamente alheios uns aos outros.

“É lógico, por conseguinte, que os historiadores e os estudiosos do fenômeno literário, movidos


por autênticas exigências críticas, ou, algumas vezes, por razões meramente didáticas, tenham
procurado estabelecer determinadas divisões e balizas no domínio vastíssimo da literatura.”

“Tem de reconhecer-se, todavia, que as tentativas levantas a efeito, no campo da periodização


literária apresentam, muitas vezes, acentuada heterogeneidade e carência de fundamentação.”

“O recurso ao conceito puramente numérico de século revela-se desprovido de qualquer


valor crítico.”

Um período não se caracteriza por uma perfeita homogeneidade estilística, mas pela prevalência
de um determinado estilo.

Periodização da Literatura

Tão inconsistente como a divisão em séculos da história literária, revela-se a fixação dos
períodos literários segundo acontecimentos políticos ou sociais: “literatura do reinado de Luís
XIV”, “literatura elisabetana” ou “vitoriana”, etc. Este enfeudamento da história literária à
história geral, política ou social – enfeudamento que já durou muitos anos e que ainda persiste –,
radical numa concepção viciada do fenómeno literário: este é entendido como uma espécie de
epifenómeno dos factores políticos e sociais, e portanto como um elemento carecente de
autonomia e desenvolvimento próprio
Parece-nos que o Prof. René Wellek encontrou o caminho justo, ao definir o período literário
como “uma seção de tempo dominada por um sistema de normas, convenções e padrões
literários, cuja introdução, difusão, diversificação, integração e desaparecimento podem ser
seguidos por nós”. Esta definição apresenta o período literário como uma “categoria histórica”
ou como uma “ideia reguladora”, excluindo quer a tendência nominalista, quer a tendência
metafísica, pois os caracteres distintivos de cada período estão enraizados na própria realidade
literária e são indissociáveis de um determinado processo histórico.

Era Medieval

Foi a primeira manifestação literária da Língua Portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade
Média, período em que Portugal estava no
processo de formação nacional. Nessa época em que há o predomínio da oralidade, a poesia é
marcada pelas cantigas trovadorescas, que possuem uma estreita relação com a música, o canto e
a dança.

Dividiu-se em: Primeira Época ou Trovadorismo (1189) e Segunda Época (1434).

Era Clássica

Classicismo (1527): Valorização dos aspectos culturais


efilosóficos da cultura das antigas Grécia e Roma; influência do pensamento humanista;
Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo; críticas as explicações e a visão de
mundo pautada pela religião; Racionalismo: valorização das explicações baseadas na ciência;
busca do equilíbrio, rigor e pureza formal; Universalismo: abordagem de temas universais como,
por exemplo, os sentimentos humanos. Barroco (1580): Textos ricos com profunda elaboração
formal. Arcadismo (1756):- Textos bucólicos,- Valorização do homem,- Linguagem simples,-
Imitação dos modelos da literatura da Antiguidade Clássica e do Renascimento.

Romatismo (1825)

Movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa
que perdurou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo
contrária ao racionalismo que marcou o período neoclássico e buscou um nacionalismo
que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.
Realismo/Naturalismo (1865)

Motivados pelas teorias científicas


filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e asociedade em sua
totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizadada vida como fizeram os
românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do quotidiano massacrante, do
amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos
poderosos. Uma característica comum ao Realismo é o seu forte poder de crítica, adoptando uma
objectividade que faltou ao romantismo.

Simbolismo – (1900)

Os temas são místicos, espirituais. Abusa-se da sinestesia, sensação produzida pela


interpenetração de órgãos sensoriais: "cheiro doce" ou "grito vermelho", das aliterações
(repetição de letras ou sílabas numa mesma oração: "Na messe que estremece") e das
assonâncias, repetição fónica das vogais: repetição da vogal "e" no mesmo exemplo de
aliteração, tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.

Modernismo – (1915)

Surge em oposição às restrições da literatura realista. Caracteriza-se pela introdução de novos


elementos estilísticos e por uma radicalização da estrutura narrativa não linear, com o emprego
de linhas temporais desconexas, por exemplo.

Assim fundamentada, a periodização literária não se confunde com qualquer espécie de tipologia
literária, de teor psicológico ou filosófico, visto que os esquemas tipológicos desconhecem a
historicidade dos valores literários.

Na definição proposta por René Wellek, o período é definido por um “sistema de normas,
convenções e padrões literários”, isto é, por uma convergência organizada de elementos, e não
por um único elemento. O romantismo, por exemplo, é constituído por uma constelação de traços
– hipertrofia do eu, conceito de imaginação criadora, irracionalismo, pessimismo, anseio de
evasão, etc, - e não por um único traço.
Cada um dos elementos formativos da estética romântica pode ter existido anteriormente, isolado
ou integrado noutro sistema de valores estéticos, sem que tal fato implique a existência de
romantismo nos séculos XVI ou XVII, por exemplo.

Falar de romantismo a propósito de Eurípedes, Shakespeare, etc., representa um asserto


desprovido de sentido histórico e de rigor crítico, mesmo quando se acrescenta ao vocábulo
“romantismo” uma expressão como avant la lettre ou outra semelhante.

A definição de Wellek claramente demonstra que o conceito de período literário não se identifica
com uma mera divisão cronológica, pois cada período se define pelo predomínio, e não pela
vigência absoluta e exclusivista, de determinados valores.

Um período não se caracteriza por uma perfeita homogeneidade estilística, mas pela prevalência
de um determinado estilo.

O historiador italiano Eugenio Battisti diz que “a possibilidade de reduzir tudo a poucos e
simples conceitos é um mito metodológico, somente fruto da ignorância ou da preguiça”.

Na França, por exemplo, durante o século XVII, coexistem um estilo barroco e um estilo
clássico, com caracteres diferentes e até opostos, mas apresentando freqüentes interferências
mútuas.

O conceito de período literário, tal como o entendemos, implica ainda outra consequência muito
importante: os períodos não se sucedem de modo rígido e linear, como se fossem entidades
discretas, blocos monolíticos justapostos, mas sucedem-se através de zonas difusas de
imbricação e de interpenetração.

O processo de formação e desenvolvimento de um período literário é vagaroso e complexo,


subsistindo em cada período novo, em grau variável, elementos do período anterior. No
romantismo persistem elementos neoclássicos, como persistem no realismo elementos
românticos.

A utilização de datas precisas para assinalar o fim de um período e o início de outro, como se
tratasse de marcos a separar dois terrenos contíguos, não possui valor crítico, apenas lhe podendo
ser atribuída uma simples função de balizagem, como que a indicar um momento particularmente
representativo na aparição de um período.

O estudo da periodização literária exige uma perspectiva comparativa, pois os grandes períodos
literários, como a Renascença, o maneirismo, o barroco, o classicismo, o romantismo, etc., não
são exclusivos de uma determinada literatura nacional, abrangendo antes as diferentes literaturas
européias e americanas, embora não se manifestem em cada uma delas na mesma data e do
mesmo modo.

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