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Valgi Hajy Alde

Resumo sobre A evolucao da ciencia Hidrologia e Evaporação e Evapotranspiração

Curso de Licenciatura em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário com


Habilitações em Ecoturismo

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2021
Breve referência à História da Hidrologia

Sugere-se a leitura do excelente livro de A.K. Biswas, "History of Hydrology", no qual o autor
faz uma interessante recapitulação dos principais marcos no progresso da Hidrologia, desde a
Antiguidade aos fins do século XIX. Os elementos que a seguir se apresentam foram extraídos
desse livro e do "Handbook of Applied Hydrology" de Ven Te Chow.

A Hidrologia na Antiguidade Oriental (Egipto, Mesopotâmia, China)

A civilização egípcia floresceu à volta do Nilo. Para além das extensivas obras de irrigação do
tempo dos Faraós, há a referir a barragem de Saad-El-Kafara, datada de cerca de 2800 a.c. e cujos
encontros permaneceram até aos nossos dias. A importância dada à água, em particular às obras
de irrigação e controle de cheias, na China Antiga era tão grande que, diz a lenda, um engenheiro
que dirigiu grandes obras hidráulicas acabou por se tornar o imperador Yü, o Grande. Manual de
Hidrologia

Se a Hidráulica, pelo impacto directo das obras, ocupava o primeiro plano, a necessidade de
conhecimentos sobre a ocorrência e a distribuição da água tornava-se também muito importante.
Sendo a irrigação no Nilo feita por inundação, a medição dos níveis nesse rio foi desde logo
sendo feita, através dos "nilómetros" (cisternas com escalas graduadas ligadas ao rio por condutas
subterrâneas). O nilómetro de Roda, próximo do Cairo, tem um registo contínuo de níveis de 641
d.c. a 1890 d.c., constituindo a mais longa série hidrológica do mundo. A Mesopotâmia (nome
que significa "entre rios") era uma região fértil, atravessada pelos rios Tigres e Eufrates, ambos
de regime muito irregular, obrigando a grandes cuidados com os diques de protecção contra
cheias e obras de irrigação. Essa preocupação aparece bem explícita no famoso Código de
Hamurabi, imperador da Babilónia (cerca de 1700 a.c.)

A Hidrologia na Antiguidade Clássica - Grécia e Roma

As primeiras tentativas de explicação da circulação da água (donde surgem os rios?) aparecem


com os filósofos gregos. Platão apresenta o conceito dum mar subterrâneo (Tartarus) com
inúmeras ligações à superfície, dando origem aos rios, lagos e mares. Aristóteles defendia que o
frio transformava o ar em água e isso acontecia tanto nas altas montanhas como no interior da
terra, sendo essa a origem dos rios. Note-se que os Gregos dispunham de observações limitadas
de muitos fenómenos e da sua interligação o que de certa forma explica a sua incapacidade de
descobrirem o conceito do ciclo hidrológico. Apesar disso, filósofos como Anáxagoras e
Teófrasto apresentaram hipóteses próximas da concepção moderna do ciclo hidrológico,
infelizmente caídas no esquecimento devido à influência dominante de Aristóteles. A civilização
romana não foi tão fértil como a grega em pensadores, tendo no entanto produzido grandes obras
de engenharia através da aplicação empírica da experiência adquirida. Apesar disso, Vitruvius
apresenta no seu livro "De architectura libridecem" um conceito bastante claro do ciclo
hidrológico, com a precipitação dando origem ao escoamento e a evaporação como fonte das
nuvens. Há a referir ainda Hero de Alexandria que escreve que o caudal depende da área e da
velocidade mas este conceito não se impôs até ao século XVI.

A Hidrologia na Idade Média

A Idade Média na Europa foi dominada ideologicamente pela Igreja que se opôs fortemente à
pesquisa experimental, baseando-se nos dogmas e na escolástica, para evitar o aparecimento de
heresias. Foi um período de cerca de 13 séculos de fraco desenvolvimento científico com o
correspondente reflexo na Hidrologia.

A Hidrologia no Renascimento - Século XVI

O Renascimento corresponde ao desabrochar definitivo do pensamento científico e da


experimentação. A partir do século XVI, a Hidrologia, com as ciências irmãs da Hidráulica e da
Meteorologia não parou de se desenvolver. Manual de Hidrologia

Leonardo da Vinci, conhecido sobretudo como um pintor de génio, tinha nos seus cadernos de
notas conceitos essencialmente correctos sobre o ciclo hidrológico, sobre o escoamento em
superfície livre e sobre a distribuição de velocidades numa secção. Bernard Palissy, um cientista
francês, apresentou a primeira formulação clara e completa do ciclo hidrológico, baseada em
observações. Apresentou também ideias sobre o escoamento subterrâneo.

A Hidrologia nos Séculos XVII e XVIII

O século XVII é o século de Galileo, Kepler, Newton, Harvey, Descartes, Van Leeuwenhoek. No
domínio da Hidrologia salientam-se os nomes de Perrault e Halley. Benedeto Castelli apresenta
uma explicação clara da relação entre caudal, secção transversal e velocidade, sistematizando
ideias anteriores de Hero e Leonardo da Vinci. Perrault, no seu livro "Da origem das fontes",
demonstra brilhantemente que o escoamento no rio Sena (cabeceiras) podia ser totalmente
explicado a partir da precipitação, apresentando um balanço hídrico rudimentar. Mariotte realizou
experiências similares e outras respeitantes à medição de velocidades. Halley, muito conhecido
pelos seus trabalhos de Astronomia, tomou como exemplo o mar Mediterrâneo e mostrou que a
evaporação dos mares era amplamente suficiente para justificar os escoamentos dos rios. Os
desenvolvimentos dos conceitos do ciclo hidrológico no século XVII e seguintes estão ligados às
medições de precipitação, evaporação e caudal. É assim que começam a surgir os primeiros
instrumentos hidrométricos modernos: udómetros, tinas de evaporação. O século XVIII
testemunha o florescimento das medições hidrológicas e do desenvolvimento teórico. Podem
referir-se como marcos fundamentais a medição de velocidade com o tubo de Pitot, a equação de
Bernouilli (conservação de energia) e a fórmula de Chézy para o cálculo do caudal numa secção
transversal dum escoamento.

A Hidrologia no Século XIX

A ciência da Hidrologia avançou muito rapidamente durante o século XIX. Verificaram-se


progressos importantes na medição de variáveis hidrológicas, nomeadamente com a introdução
de udógrafos para registo contínuo da precipitação e de molinetes para a medição de velocidades
em rios e canais. Nos países mais industrializados, iniciou-se a colheita sistemática de dados
hidrológicos e a sua análise. Em termos de conceptualização teórica, os marcos mais
significativos a registar são: - o estudo de perfis de velocidade em canais, por Darcy e Bazin; - a
equação de Manning para o cálculo de caudais em escoamentos turbulentos Manual de
Hidrologia

Evaporação

Dentro do ciclo hidrológico, a evaporação é o processo físico no qual se transfere água do estado
líquido para a atmosfera no estado de vapor, ocorrendo principalmente devido à radiação solar e
aos processos de difusão turbulenta e molecular.
De uma superfície líquida qualquer, exposta à acção da radiação solar (ou a outra fonte de
energia), devido à evaporação partículas de água escapam para a atmosfera.
Entretanto, simultaneamente a esse processo ocorre uma “troca” de partículas no sentido inverso,
na medida que partículas de água na forma gasosa presentes na atmosfera se chocam com a
superfície líquida e são absorvidas por esta. A evaporação continua então até que ocorra um
equilíbrio entre o número de partículas que escapam para a atmosfera e o número de partículas
que são absorvidas pela superfície líquida. Quando esse equilíbrio acontece, tem-se que o ar em
contacto com a água está saturado, isto é, está com sua capacidade máxima de vapor de água
preenchida, para aquelas condições de temperatura e pressão. Conforme a pressão e temperatura,
tem-se diferentes graus de saturação do ar.
Portanto, a evaporação compreende uma troca de água entre dois corpos, que são a superfície
evaporante e a atmosfera. Para que esse processo ocorra, é necessária uma fonte de energia (no
caso, a radiação solar) e de um gradiente de concentração de vapor.
Tal gradiente é dado pela diferença entre a pressão de saturação do vapor, na temperatura da
superfície evaporante, e a pressão de vapor do ar. Em outras palavras, esse gradiente pode ser
entendido como a diferença entre a pressão de vapor quando o ar está saturado (que seria a
pressão máxima, pois estaria com a máxima quantidade de vapor) e a pressão de vapor do ar nas
condições reais, no instante em que está sendo analisado o processo.
Factores que influenciam o processo de evaporação
Pode-se dizer que a ocorrência da evaporação em uma bacia hidrográfica é função de:
 Radiação solar: constitui a principal fonte de energia para o processo de evaporação, que
consome cerca de 585 cal/g (à 25o C) (Tucci, 2000). A quantidade de radiação emitida
pelo Sol que atinge a superfície terrestre não é uniforme, variando com a posição
geográfica, a presença de gases na atmosfera, a época do ano e as condições climáticas
locais;
 Pressão de vapor: como já comentado, a existência de um gradiente de concentração de
vapor é uma das condições necessárias para a ocorrência do processo, sendo a evaporação
diretamente proporcional a tal gradiente;
 Temperatura do ar: a temperatura tem influência no sentido de que, quanto maior a
temperatura, maior é a capacidade do ar em ter vapor de água (o ar suporta uma maior
quantidade de vapor), sendo maior a pressão de saturação do ar, aumento o gradiente de
concentração de vapor e, assim, aumentando a evaporação;
 Humidade do ar: a humidade do ar representa a quantidade de vapor de água presente no
ar, interferindo na pressão exercida por essa quantidade de vapor. Quanto maior a
humidade, tem-se que a quantidade de vapor presente é mais próxima da quantidade
máxima possível (saturação) e, portanto, mais próxima é a pressão exercida por essa
quantidade de vapor em relação à pressão de saturação (ou seja, menor é o gradiente), e
menor é a evaporação;
 Vento: o vento actua no sentido de renovar o ar saturado acima da superfície evaporante
(ele retira o ar com maior humidade ou saturado e repõe com ar mais seco), permitindo
sempre a ocorrência de um gradiente de concentração de vapor.
Evapotranspiração
O termo evapotranspiração é empregado para denotar a evaporação que ocorre a partir do solo em
conjunto com a transpiração dos vegetais, em uma bacia hidrográfica.
Além dos estudos hidrológicos de modo geral, a evapotranspiração constitui um interesse
especial para o balanço hídrico agrícola, onde são avaliadas as disponibilidades e as demandas
hídricas, servindo para verificar a necessidade de irrigação (época, quantidade).
A evapotranspiração é um dos processos envolvidos na interação solovegetação atmosfera,
através da qual ocorrem trocas de calor, energia e água, e que constitui objeto de estudo de muitas
pesquisas atualmente.
Evapotranspiração potencial x real
Evapotranspiração potencial (ETP) é a quantidade de água transferida para a atmosfera por
evaporação e transpiração, na unidade de tempo, de uma superfície extensa completamente
coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água (Penman, 1956, apud Tucci, 2000).
Enquanto que a evapotranspiração real é a quantidade de água transferida para a atmosfera por
evaporação e transpiração, nas condições reais (existentes) de fatores atmosféricos e umidade do
solo. Logo, a evapotranspiração real é igual ou menor que a evapotranspiração potencial (ETR £
ETP).

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