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FIGURAS DE ESTILO

Quadro - síntese

A nível fónico

Aliteração Repetiçã o intencional de sons consonâ nticos Olha a bolha d'água no galho!
dentro da mesma palavra ou em vá rias Olha o orvalho! Cecília Meireles
palavras seguidas.
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
Camõ es
Assonância Repetiçã o intencional dos mesmos sons Tem um nome estranho a Isa.
vocá licos dentro da mesma palavra ou em Não é Isabel nem Isaura,
vá rias palavras seguidas. também não é Isadora
e não chega a ser Elisa
nem um resto de Luisa.
A Isa é Isa, é isso." Joã o Pedra Mésseder

Onomatopeia Aliteraçã o que imita ruídos do mundo físico, Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno.
por meio do ritmo das palavras ou dos sons. Á lvaro de Campos
Este conjunto de sons pode formar palavras A sineta tilintou. O tiquetaque do relógio.
com sentido (palavras onomatopaicas). Bramindo o negro mar de longe brada. Camõ es

A nível morfossintático

Anacoluto Consiste na alteraçã o brusca da construçã o - Ó senhor doutor. O senhor vai ver que o
sintá ctica inicial da frase, resultante de uma Alentejo… Eu tenho aí uma herdade, havemos de
mudança inesperada do pensamento, pelo que ir. Vergílio Ferreira
a ideia inicial pode ficar momentaneamente
incompleta. No discurso oral, pela sua Eu, que cair não pude neste engano
espontaneidade, este tipo de construçã o é (Que é grande dos amantes a cegueira),
frequente; no discurso escrito, decorre de Encheram-me, com grandes abondanças,
efeitos expressivos, provocando sempre um O peito de desejos e esperanças. Camõ es
efeito inesperado, prendendo, assim, a atençã o
do leitor.
Anáfora Repetiçã o, no início de frases ou de versos Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele
sucessivos, de uma palavra ou expressã o. andar, vedes aquele concorrer às praças… (IV)
Pe.
Antó nio Vieira
Assíndeto Consiste na omissã o das conjunçõ es Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
(copulativas) entre palavras ou frases Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo.
sucessivas, que passam a estar separadas Bocage
através de vírgulas.
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente. Cesá rio
Verde

Elipse Omissã o de uma palavra ou palavras que se Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste
subentendem facilmente. Desterro. Vitorino Nemésio
Equivalente a: Quero perder-me neste Pisã o,
[quero perder-me] nesta Pereira, [quero perder-
me] neste Desterro.

Enumeração É a apresentaçã o sucessiva de vá rios Um grito que atravessava as paredes, as portas,


elementos da mesma classe gramatical. a sala, os ramos do cedro.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Gradação Disposiçã o dos termos ou das ideias por ordem Os vales aspiram a ser outeiros, e os outeiros a ser
crescente ou decrescente. montes, e os montes a ser Olimpos e a exceder as
nuvens. Pe. Antó nio Vieira.
Hipérbato/ Consiste na inversã o da ordem normal das Gato escaldado de água fria tem medo.
Inversão/ palavras na oraçã o, ou da ordem das oraçõ es Provérbio
Anástrofe no período. Tirar Inês ao mundo determina. Camõ es
Interrogaçã Nã o é uma verdadeira pergunta para a qual se Não é tudo isto verdade? (I) Pe. Antó nio Vieira
o Retórica espere resposta. O seu objectivo é dar
vivacidade ao discurso, criar expectativa.
Paralelismo Repetiçã o da mesma estrutura frá sica, nã o Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra,
implicando necessariamente a repetiçã o das vai-se ao mar… (I) Pe. Antó nio Vieira
mesmas palavras. Permite salientar ideias,
sentimentos e criar efeitos sonoros. Ondas do mar de Vigo, Ondas do mar levado,
(Paralelismo anafó rico, semântico e de Se vistes meu amigo, Se vistes o meu amado,
construçã o) E ai Deus se virá cedo! E ai Deus se virá cedo!
(Martim Codax)
Pleonasmo Repetiçã o de uma ideia, já expressa, pelo (...) gritar e ninguém responder é a tristeza mais
emprego de palavra ou frase de significado triste que eu conheci." Alves Redol
idêntico com o objectivo de reforçar essa ideia.
O pleonasmo é uma redundâ ncia. Vi, claramente visto, o lume vivo. Camõ es
Polissíndeto É o contrá rio do assíndeto, ou seja, é a Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e
repetiçã o intencional de conjunçõ es. no jardim e onde quer que nos encontremos.
Sebastiã o da Gama

Quiasmo Estrutura cruzada de quatro elementos, Ó minha menina loura,


agrupados dois a dois. Assim, o segundo grupo Ó minha loura menina,
apresenta os mesmos elementos do primeiro, Dize a quem te vê agora
mas invertendo a ordem. Que já foste pequenina..." Fernando Pessoa

Repetição repetiçã o de palavras para intensificar/ Olhai, peixes, lá do mar para terra. Não, não: não
reforçar uma ideia, ou exprimir a duraçã o de é isso o que vos digo. Pe. Antó nio Vieira
alguma coisa.

Zeugma Consiste na omissã o de algum termo contido O noivo vai a cavalo e o arrependimento à garupa.
numa proposiçã o anterior. Provérbio
(= O arrependimento [vai] à garupa)

A nível semântico

Antonomásia Substituiçã o de um nome pró prio por uma Cessem do sábio grego e do troiano Camões
palavra ou expressã o que o designem de modo
inconfundível.
Alegoria Série de metá foras, comparaçõ es, imagens, O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece
utilizadas para concretizar um pensamento ou um monge; com aqueles seus raios estendidos,
uma realidade abstracta. parece uma estrela; com aquele não ter osso nem
espinhas, parece a mesma brandura, a mesma
mansidão. E debaixo desta aparência tão
modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...), o dito
polvo é o maior traidor do mar." (V) Pe. Antó nio
Vieira
Antítese Apresentaçã o de um contraste ou oposiçã o Ganhe um momento o que perderam anos
entre duas ideias ou duas coisas. Saiba morrer o que viver não soube! Bocage
Cf. Oxímoro e Paradoxo.
Apóstrofe/ Chamamento ou interpelaçã o de pesssoas ou Tu, só tu, puro Amor, com força crua Camõ es
Invocação de alguma coisa personificada.

Comparação Consiste em estabelecer uma relaçã o de "[Os seus olhos] eram azuis como o céu e o mar
semelhança por meio da conjunçã o como ou de em dias luminosos, azuis como os miosótis junto
outra expressã o equivalente (à semelhança de, dos ribeiros, azuis como a nossa felicidade, os
tal, mais do que...), ou de verbos que sirvam nossos risos, o nosso amor."
para comparar (parecer, assemelhar-se, Ilse Losa
lembrar...).
Disfemismo Consiste em dizer de forma violenta/chocante Esticar o pernil.
aquilo que poderia ser apresentada de uma Bater a bota.
forma mais suave.
Eufemismo Consiste em expressar uma ideia ou uma Tirar Inês ao mundo determina. Camõ es
realidade desagradá vel de uma forma
atenuada, mais suave.

Hipálage Figura que atribui a certas palavras o que As tias faziam meias sonolentas. Eça de
pertence a outras da mesma frase. Consiste na Queiró s
deslocaçã o de uma palavra, usualmente um Dá-me cá esses ossos honrados. Eça de
adjetivo, para a associar a outra, em geral um Queiró s
nome, à qual nã o diz respeito semanticamente. Beatriz abria os olhos molhados de culposas
lágrimas. Camilo Castelo Branco
Hipérbole Exagero de uma determinada realidade, de É uma das figuras mais comuns na linguagem
forma positiva ou negativa corrente: um calor de morrer; surdo como uma
porta; suar em bica; ficar sem pinga de sangue.

Imagem É a figura que permite a representaçã o Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo Fernando
sensível de uma ideia. Abarca outras figuras Pessoa
como a metá fora, a comparaçã o ou a Com fios feitos de lágrimas passadas
metonímia, revelando-se mais ampla e rica de Os meninos de Huambo fazem alegria. Manuel
sugestõ es. Rui
Ironia Consiste em exprimir uma ideia dizendo E irritando-se mais:
precisamente o contrá rio. - Deixe, que a sua mãe também é um bom
anjinho, não haja dúvida! Ferreira de Castro

Lítote Consiste em emitir uma ideia afirmativa, Nariz alto no meio e não pequeno. Bocage
porém através da negaçã o do seu contrá rio, (=nariz grande)
atenuando, assim, o impacto da declaraçã o A Joana não é nada feia. (= é bonita)
direta.
Metáfora Consiste na substituiçã o de um termo por "As tuas mãos são passarinhos brancos." Ilse
outro, com o qual apresenta semelhanças. É Losa
uma espécie de comparaçã o abreviada, porque
nã o está presente a palavra ou expressã o "- Uma borboleta branca - retorquiu Sexta-Feira -
comparativa. é um malmequer que voa." Michel Tournier
Metonímia Designaçã o de uma realidade (entidade) O excomungado não tem queda para as letras.
através de um nome que se atribui (=estudo) Aquilino Ribeiro
normalmente a outra realidade (entidade) Cesse tudo o que a Musa antiga canta
distinta da primeira, mas com a qual Camõ es
estabelece uma estreita relaçã o. A relaçã o Ele é uma grande cabeça.
estabelecida é de semelhança qualitativa, (= ele é muito inteligente)
enquanto que na sinédoque estabelece-se uma
relaçã o de semelhança quantitativa.
Oxímoro Aproxima-se da antítese, mas representa em Ficaste cheirando orquídeas inodoras. Salette
relaçã o a ela uma intensificaçã o porque Tavares
exprime uma contradiçã o no seio de um juízo.
É uma antítese mais directa. Silêncio eloquente; conforto grosseiro; morto
Cf. Antítese e Paradoxo. vivo.
Paradoxo Afirmaçã o que, à primeira vista, parece Ando sem me mover, falo calado Camõ es
absurda, nã o faz sentido, mas que pode O mito é o nada que é tudo Fernando Pessoa
esclarecer, de modo inédito e surpreendente, o
significado do real e da vida. O paradoxo é uma
infracçã o ao verosímil, à s leis da vida ou da
natureza.
Cf. Antítese e Oxímoro.
Perífrase Caracteriza-se pelo emprego de muitas "Que despois de morta foi rainha" Camõ es
palavras para exprimir o que se podia dizer ( = Inês de Castro)
mais concisamente.
Personificação/ Atribuiçã o de características humanas a seres O vento soluça e geme… Antó nio Nobre
Animismo inanimados, abstractos e a animais irracionais.
Sinédoque Caso específico da metonímia baseado na Que, da ocidental praia lusitana, Camõ es
relaçã o de semelhança quantitativa: a parte (= Portugal)
pelo todo, o singular pelo plural, o hipó nimo
pelo hiperó nimo ou vice-versa.
Sinestesia Consiste na mistura de sensaçõ es que "E fere a vista com brancuras quentes,
pertencem a sentidos diferentes. A larga rua macadamizada." Cesá rio Verde
Tinha um sorriso amargo. Eça de Queiró s

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