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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 19

OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA: NORMAS GERAIS SOBRE O INSTITUTO


CONSTANTES DOS ARTS. 32 A 34 DO ESTATUTO DA CIDADE

Alexandre Levin
Mestre e doutorando em Direito Público pela PUC – SP; Professor do Curso de Especialização em Direito
Administrativo da Cogeae/PUC – SP; Procurador do Município de São Paulo

Sumário: 1. Introdução. 2. A necessidade de edição de lei municipal específica baseada no


plano diretor municipal. 2.1. Lei municipal específica. 2.2. Fundamento no plano diretor
municipal. 3. Natureza jurídica. 4. Objetivos da operação urbana consorciada. 5. Medidas
urbanísticas possíveis para a implementação das operações urbanas consorciadas. 6. Requi-
sitos da lei específica que cria a operação urbana consorciada. 6.1. Definição da área a ser
atingida. 6.2. Programa básico de ocupação da área. 6.3. Programa de atendimento econômico
e social para a população diretamente afetada pela operação. 6.4. Finalidades da operação.
6.5. Estudo prévio de impacto de vizinhança. 6.6. Contrapartida a ser exigida em função da
utilização dos benefícios previstos nos incs. I e II do § 2º do art. 32 do Estatuto da Cidade.
7. Considerações finais. Referências bibliográficas.

1. INTRODUÇÃO O delineamento legal do instituto ora em co-


A operação urbana consorciada foi instituída mento – e sua aplicação por meio de leis muni-
como instrumento de política urbana pelo art. 4º, cipais – vem sendo objeto de intensas controvér-
inc. V, alínea p, da Lei nº 10.257/01, autodenomi- sias doutrinárias e de críticas por parte de juris-
nada Estatuto da Cidade. A mesma lei dedicou tas e urbanistas.2
uma seção própria à normatização do instituto, de- Dentre as críticas que comumente são apon-
finindo-o em linhas gerais1 nos seus arts. 32 a 34. tadas, pode-se citar as seguintes: a) as opera-
Nos termos da própria definição legal do ins- ções urbanas funcionam somente em áreas da
trumento, presente no art. 32, § 1º, do Estatuto, o cidade em que já há interesse do mercado imo-
seu objetivo é alcançar em uma área transforma- biliário, fator que pode aumentar a disparidade
ções urbanísticas estruturais, melhorias sociais intraurbana; b) o aumento do preço dos imóveis
e a valorização ambiental. Trata-se de medida na área objeto da operação urbana, e a falta de
importante para fins de revitalização urbanística um programa de atendimento social no plano da
de áreas degradadas da cidade, ou mesmo para intervenção, pode forçar a população residente
o incremento de infraestrutura viária, habitacio- na área a deixar o local (a denominada gentrifi-
nal, de transporte, saneamento básico, enfim, cação); c) o investimento privado nem sempre é
da realidade urbanística de uma dada região do suficiente para arcar com o programa de obras
Município. proposto, o que pode levar o Poder Público a

1. Diz-se normatização geral, pois, como é sabido, à União cabe a edição de normas gerais de direito urbanístico, nos
termos do que preceitua o seu art. 24, inc. I. Ademais, é o Município o principal executor da política urbana (art. 182
da Carta) e de seus instrumentos correlatos, entre eles, o que ora se estuda.
2. MARICATO, Ermínia; FERREIRA, João Sette Whitaker. Operação urbana consorciada: diversificação urbanística
participativa ou aprofundamento da desigualdade?. In: OSÓRIO, Letícia Marques. Estatuto da Cidade e reforma ur-
bana: novas perspectivas para as cidades brasileiras. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002.

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dispor de recursos do erário; d) muitas vezes o do processo de urbanização (art. 2º, inc. IX); e c)
resultado é apenas favorável ao mercado imobi- recuperação dos investimentos do Poder Público
liário, restando ausente a efetiva melhora do es- de que tenha resultado a valorização de imóveis
paço urbano; e) a alteração dos índices de ocu- urbanos (art. 2º, inc. XI).
pação acaba por contribuir para a já excessiva A primeira diretriz citada no parágrafo ante-
verticalização nas grandes cidades, em prejuízo rior indica a vontade do legislador de promover
do meio ambiente urbano. a participação da iniciativa privada na ativida-
Resultados como os que foram expostos aci- de urbanística como parceira4 do Poder Público
ma são, evidentemente, contrários às diretrizes municipal.
da política urbana indicadas no art. 2º do Esta- A intenção do legislador é possibilitar à Ad-
tuto da Cidade. ministração Pública suprir a insuficiência de re-
Não obstante, as experiências práticas nega- cursos públicos para a (re)ordenação urbanística
tivas de utilização do instituto não devem servir de determinada área do Município a partir da uti-
de impedimento à sua utilização em prol da me- lização do capital privado, em regime de coope-
lhoria do espaço urbano e da garantia de cida- ração com os particulares, proprietários ou não
des sustentáveis. A questão é que as regras que dos imóveis situados na região da cidade objeto
disciplinam o instrumento devem ser interpreta- da intervenção.
das e aplicadas sempre levando-se em conta as Conforme explica Karlin Olbertz, em obra de
diretrizes da política urbana enumeradas no já indispensável leitura sobre o tema das operações
citado art. 2º da Lei 10.257/01.3 urbanas consorciadas, este tipo de intervenção
É com base nesses alicerces normativos que pode ser enquadrado naquilo que se convencio-
serão estudadas a seguir as regras gerais sobre nou chamar de urbanismo concertado, que por
as operações urbanas consorciadas previstas sua vez se vincula ao conceito mais amplo de
administração concertada. Trata-se, segundo a
nos arts. 32 a 34 do Estatuto da Cidade.
autora citada, de uma concepção de urbanismo
Nesse sentido, pode-se afirmar que a ope- em que há a atuação de entes estatais em con-
ração urbana consorciada, tal como configurada junto com particulares no exercício da atividade
na sobredita lei federal, é fundamentada, espe- urbanística, mediante a aplicação de técnicas e
cialmente, nas seguintes diretrizes: a) coopera- métodos variados.5 Substitui-se o urbanismo re-
ção entre os governos, a iniciativa privada e os gulamentar, ou mesmo o urbanismo de planeja-
demais setores da sociedade no processo de mento, por uma atuação urbanística em que os
urbanização, em atendimento ao interesse so- esforços e recursos do Poder Público e da ini-
cial (art. 2º, inc. III, da Lei nº 10.257/01); b) justa ciativa privada são somados em prol da efetiva
distribuição dos benefícios e ônus decorrentes transformação da realidade urbana.

3. Tais diretrizes consubstanciam verdadeiros princípios de direito urbanístico. Baseando-nos na lição de Celso Antônio
Bandeira de Mello, podemos afirmar que tais diretrizes constituem mandamentos nucleares do sistema de normas
de direito urbanístico. (Curso de direito administrativo. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2003). Todos os instrumentos de
política urbana devem ser aplicados seguindo os rumos dessas diretrizes, sob pena de ilegitimidade.
4. José dos Santos Carvalho Filho (Comentários ao Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/01 e Medida Provisória nº
2.220/2001. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 212) ensina que o regime de parceria é caracterizado pela
cooperação mútua entre a Administração e os administrados, alvitrando fins que retratem interesses da coletividade.
De forma isolada, nem aquela nem estes conseguem atingir determinados objetivos comuns. Mas, quando se associam
o Poder Público e o setor privado, seja este representado pelas comunidades gerais, seja pelo segmento produtivo em-
presarial, é possível alcançar, com êxito, fins públicos, deles resultando benefícios para todos. É a mesma lógica que
justifica a existência das parcerias público-privadas, reguladas pela Lei federal nº 11.079/04.
5. OLBERTZ, Karlin. Operação urbana consorciada. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 45. No mesmo sentido, Paulo José
Villela Lomar (Operação urbana consorciada. In: DALLARI, Adilson Abreu; FERRAZ, Sergio (Coord.). Estatuto da
Cidade – Comentários à Lei Federal nº 10.257/2001. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 251) equipara a operação urbana
consorciada a uma parceria público-privada. Diz o autor que a definição legal de ‘operação urbana’ adota a participa-
ção dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados sob a coordenação do Poder Público
Municipal como elemento fundamental da aplicação do instrumento.

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A segunda diretriz apontada é a da justa dis- A terceira diretriz citada – a da recuperação


tribuição dos benefícios e ônus decorrentes do dos investimentos do Poder Público de que tenha
processo de urbanização (art. 2º, inc. IX, da Lei nº resultado a valorização de imóveis urbanos (art.
10.257/01). Tal diretriz é claramente decorrência 2º, inc. XI, da Lei nº 10.257/01) – guarda estreita
do princípio da isonomia, amplamente garantido relação com a diretriz comentada nos parágra-
no nosso Texto Constitucional, especialmente no fos anteriores.
caput do seu art. 5º.6
De fato, são ambas fundamentadas no prin-
Com efeito, a operação urbana consorciada cípio da isonomia. Busca-se impedir que investi-
tem como um dos seus objetivos evitar que as me- mentos realizados com recursos do erário bene-
lhorias estruturais de uma dada área da cidade, ficiem de forma desproporcional os proprietários
promovidas com a utilização de recursos do erá- de imóveis da área objeto da operação urbana. A
rio, beneficiem tão somente os proprietários dos ideia é que a mais-valia fundiária urbana decor-
imóveis ali situados, a partir da valorização desses rente do incremento da infraestrutura urbanística
bens, experimentada em decorrência das obras
seja compensada pelo pagamento de contrapar-
públicas de incremento da infraestrutura local.
tidas por parte dos proprietários. É o mesmo prin-
Na aplicação da operação urbana consorcia- cípio que fundamenta a cobrança da contribui-
da, os proprietários da área objeto da intervenção ção de melhoria, a qual, aliás, também é prevista
(definida em lei municipal, como será visto adian- como um instrumento de política urbana pelo art.
te), bem como os demais investidores privados, 4º, inc. IV, b, da Lei nº 10.257/01.
destinarão recursos ao Poder Público, por meio
de prestações definidas na Lei nº 10.257/01 como Em conclusão, afirma-se que a operação ur-
contrapartidas (art. 33, VI), financeiras ou não, a bana consorciada deve ser utilizada como instru-
fim de poderem gozar dos benefícios criados pe- mento urbanístico se e quando forem respeitadas
la legislação que definir a operação. Esses bene- as diretrizes de política urbana que fundamen-
fícios podem ser, dentre outros, a modificação de tam a sua previsão normativa. Em caso contrá-
índices e características de parcelamento, uso e rio, sua aplicação estará eivada de ilegitimidade,
ocupação do solo, a alteração das normas edilí- e medidas judiciais poderão ser propostas para
cias e a regularização de construções realizadas questioná-la ou mesmo inviabilizá-la.
em desacordo com a legislação vigente (art. 32, Após esse breve intróito, passamos à análise
§ 2º, da Lei nº 10.257/01). Voltar-se-á ao tema dos dispositivos da Lei nº 10.257/01 que regem
mais à frente.
o instituto em comento.
Da mesma forma, os ônus decorrentes do
adensamento imobiliário e populacional, resul- 2. A NECESSIDADE DE EDIÇÃO DE LEI
tante da modificação dos índices de ocupação do MUNICIPAL ESPECÍFICA BASEADA NO
solo, também devem ser suportados por aqueles PLANO DIRETOR MUNICIPAL
que se beneficiaram da operação. Assim, as con-
2.1. Lei municipal específica
trapartidas pagas pelos proprietários beneficiados
serão utilizadas, justamente, para o incremento da O caput do art. 32 do Estatuto da Cidade exige
infraestrutura urbana que possibilite atender ao que cada operação urbana consorciada seja cria-
aumento da demanda proveniente desse maior da por lei municipal específica,7 baseada no plano
adensamento na área objeto da intervenção. diretor. O dispositivo segue as demais prescrições

6. O mesmo princípio pode ser considerado como um dos fundamentos da responsabilidade objetiva do Estado, tal como
configurada no nosso sistema jurídico, em especial pelo art. 37, § 6º, da Constituição Federal.
7. Aqui vale recorrermos à observação feita por Diogenes Gasparini (O Estatuto da Cidade. São Paulo: NDJ, 2002. p. 34)
quanto ao fato de que lei específica é a que trata de um só assunto. Não obstante, ressalva o autor que, na verdade, todas
as leis deveriam, por força do art. 7º, II, da Lei Complementar federal nº 95, de 26.2.98, que dispõe sobre a elaboração,
a redação, a alteração e a consolidação das leis, tratar de um só tema, na medida em que esse dispositivo prescreve que
‘a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão’. Nesse
sentido, a lei específica indicada no caput do art. 32 do Estatuto da Cidade deve tão somente referir-se à operação ur-
bana consorciada de uma referida área da cidade, e não a outros temas que não lhe sejam intimamente relacionados.

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da Lei nº 10.257/01 que exigem lei municipal es- Ora, esses novos índices urbanísticos re-
pecífica para a aplicação de vários dos instrumen- presentam limitações diferenciadas ao direito
tos de política urbana previstos na norma geral. de propriedade e ao direito de construir dos pro-
prietários de imóveis urbanos. Portanto, somente
Com efeito, exigem lei municipal específica
podem ser fixados por meio de lei, justamente a
para sua criação, dentre outros, o parcelamento,
lei específica indicada no caput do art. 32 da Lei
a edificação ou utilização compulsórios de imó-
veis urbanos, o direito de preempção, a outorga nº 10.257/01.
onerosa do direito de construir e a transferência De outra parte, tais benefícios somente po-
do direito de construir. derão ser utilizados pelos proprietários, usuários
A exigência de lei municipal específica é de- permanentes e investidores privados a partir do
corrência direta do princípio da legalidade (art. pagamento de contrapartidas ao Poder Público,
5º, II, da Constituição), aplicável especialmente sejam elas pecuniárias ou não, como adiante
à função administrativa nos termos do art. 37, ca- será abordado.
put, da Carta. Isso porque da aplicação do plano Portanto, vê-se que, no âmbito das opera-
de operação urbana consorciada decorrerão di- ções urbanas consorciadas, outras obrigações
reitos e obrigações a todos os que forem nela en- podem ser criadas para os particulares que par-
volvidos, especialmente aos proprietários de imó- ticiparem dessa ação urbanística conjunta com
veis situados na área abrangida pela operação.8 o Poder Público. Por sua própria natureza, tais
De fato, nas operações urbanas consorcia- obrigações somente podem ser criadas por lei,
das poderão ser previstas, dentre outras medi- em evidente observância ao princípio da legali-
das, modificação de índices e características de dade previsto na Lei Maior. Daí a necessidade de
parcelamento, uso e ocupação do solo e subsolo, edição de lei específica para a criação do instru-
bem como alterações das normas edilícias (art. mento urbanístico ora em estudo e a impossibili-
32, § 2º, I, da Lei nº 10.257/01) e regularização dade evidente de sua criação/alteração mediante
de construções, reformas ou ampliações executa- decreto do Executivo municipal.9
das em desacordo com a legislação vigente (art. É de ressaltar, também, que a possibilidade
32, § 2º, II, da Lei nº 10.257/01). de modificação dos índices urbanísticos na área
Em outras palavras, a lei específica que cria objeto da operação consorciada (prevista nos
a operação urbana pode prever coeficientes de já citados incs. I e II do § 2º do art. 32 da Lei nº
aproveitamento, índices de ocupação e tamanhos 10.257/01) acaba por interferir na ordenação ur-
máximos e mínimos de lotes diferenciados, espe- banística de área significativa da cidade, quan-
cíficos para a sua área de abrangência. Trata-se, do não da Urbe como um todo. Não há como se
na verdade, de uma exceção ao plano diretor e permitir que transformação de tal magnitude seja
à lei de zoneamento municipal. Um novo diplo- realizada a partir de um simples ato normativo
ma legislativo especialmente editado para uma editado pelo Poder Executivo municipal. Neces-
nova configuração urbanística da área objeto da sária a edição de lei que obedeça não só às re-
operação urbana. gras do processo legislativo ordinário, mas aos

8. Explica Karlin Olbertz (2011, p. 65) que, tratando-se da operação urbana consorciada, que em última análise signi-
fica a execução de um plano urbanístico e a transformação de índices e usos até então vigentes, não se pode prescin-
dir da elaboração de lei, uma vez que o plano especial da operação produzirá direitos e obrigações gerais para a
área delimitada.
9. Nesse sentido, ressalta José dos Santos Carvalho Filho (2006, p. 217) que, impondo o Estatuto que as operações con-
sorciadas sejam previstas em lei municipal, está, ao mesmo tempo, vedando que sua implementação se formalize por
mero decreto do Executivo. Lembra, ainda, o autor que ao decreto, no caso de regulamentação da lei, caberá apenas
traçar regras gerais de complementação de caráter meramente administrativo, principalmente aquelas que digam res-
peito à atuação dos órgãos municipais. Assim, decreto do Executivo municipal pode apenas regulamentar a lei que
cria a operação urbana consorciada, mas nunca criar obrigações aos proprietários e investidores privados da área ob-
jeto da intervenção, ou mesmo promover a modificação de índices de ocupação e/ou aproveitamento dos imóveis ur-
banos localizados na área em questão.

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princípios da gestão democrática das cidades, o nicípio sobre a qual incidirá a operação urbana
que pressupõe a participação da população no consorciada, ou seja, para que o instrumento
processo que cria o referido ato legislativo. Aliás, possa ser aplicado, o plano diretor deve indicar
a participação popular faz-se necessária não so- a utilização das operações urbanas consorciadas
mente no momento da elaboração da lei específi- e prever, entre outras, as seguintes medidas: “I
ca que cria a operação urbana consorciada, mas – a modificação de índices e características de
também durante a execução do plano da opera- parcelamento, uso e ocupação do solo e subsolo,
ção, nos termos do que prescreve o inc. VII do bem como alterações das normas edilícias, con-
art. 33 da Lei nº 10.257/01. siderado o impacto ambiental delas decorrente;
II – a regularização de construções, reformas ou
2. 2. Fundamento no plano diretor municipal
ampliações executadas em desacordo com a le-
O texto do art. 32, caput, da Lei nº 10.257/01, gislação vigente”, conforme prescreve o art. 42,
ora em análise, determina que a lei municipal deli- II, desse diploma legal.12 Tal ressalva é bastante
mitadora da área objeto da operação urbana con- oportuna, pois, de fato, o citado art. 42, inc. II, da
sorciada seja baseada no plano diretor. Lei nº 10.257/01 estabelece que as disposições
A questão que se coloca é a de como inter- requeridas pelo art. 32 do mesmo diploma legal
pretar tal disposição. A lei específica deve delimi- devem obrigatoriamente constar da lei que insti-
tar área já previamente definida – ainda que em tui o plano diretor municipal.
linhas gerais – pelo plano diretor municipal como Por derradeiro, vale ressaltar o entendimen-
sujeita à aplicação da operação consorciada? Ou to de Victor Carvalho Pinto, que invoca o princí-
deve tal lei específica apenas seguir as diretrizes pio da reserva de plano como fundamento para
gerais da política urbana municipal indicadas na a necessidade de que o plano diretor preveja as
lei que cria o plano diretor? A doutrina não é unís- bases para a utilização do direito de preempção,
sona sobre o tema. das operações consorciadas e da transferência
José dos Santos Carvalho Filho afirma ex- do direito de construir.13
pressamente que ao ser elaborado ou revisto Com efeito, o princípio da reserva de plano,
o plano diretor, já será necessário que, previa- consagrado no art. 182 da Constituição Federal,
mente, sejam apontadas, nas diversas áreas do promove o plano diretor à categoria de principal
zoneamento em que se divide a cidade, aquelas instrumento da política de desenvolvimento e de
em que se admitirá a operação consorciada.10 expansão urbana. O Texto Constitucional, nesse
sentido, é expresso ao determinar que as exi-
Ainda que sem abordar diretamente a ques-
gências fundamentais de ordenação da cidade
tão da expressa definição da área objeto de ope-
devem estar definidas na lei que institui o plano
ração urbana consorciada no plano diretor muni-
(art. 182, § 2º).
cipal, afirma Paulo José Villela Lomar que a or-
denação urbanística mediante operação urbana A finalidade da norma constitucional é, jus-
consorciada deve ser exercida com base nessa tamente, evitar que leis municipais esparsas re-
lei municipal, posto que o art. 32 do Estatuto da gulamentem – cada qual a seu modo – a forma
Cidade atende à determinação constitucional no de organização urbanística das cidades, em evi-
sentido de que toda intervenção urbana deve ser dente prejuízo ao planejamento urbano local, cujo
efetuada com base em planejamento urbanístico sentido é definido especialmente na lei que insti-
expresso no plano diretor.11 tui o plano diretor de cada Município.
Já no entender de Diogenes Gasparini, para Nessa esteira, o Estatuto da Cidade busca
que a lei municipal possa definir a área do Mu- atribuir ao plano diretor municipal – e somente a

10. CARVALHO FILHO, 2006, p. 217.


11. LOMAR, 2003, p. 269-270.
12. GASPARINI, 2002, p. 182.
13. PINTO, Victor Carvalho. Direito urbanístico: plano diretor e direito de propriedade. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005. p. 224-225.

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ele – a regulamentação de diversos instrumentos banas consorciadas poderão ser aplicadas.14 Tal
urbanísticos que venham a ser aplicados no âm- previsão evita que o instrumento seja utilizado de
bito local. Dentre eles, pode-se citar: a) parcela- forma casuística e oportunista, sem a devida con-
mento, edificação ou utilização compulsórios de sonância com o planejamento urbanístico, cujas
imóveis urbanos (art. 5º da Lei nº 10.257/01), in- diretrizes estão expressas no plano diretor local.
clusive no que se refere à delimitação das áreas
E, por sua vez, a lei municipal específica que
urbanas onde poderá ser aplicado o instrumen-
cria a operação urbana consorciada deve definir –
to, considerando a existência de infraestrutura e
aí, sim, de forma detalhada – o perímetro de cada
de demanda para utilização (art. 42, I); b) o di-
intervenção. Essa nos parece a melhor exegese
reito de preempção (art. 25 da Lei nº 10.257/01;
do texto do art. 32, caput, do Estatuto da Cida-
c) a outorga onerosa do direito de construir e do
de, segundo o qual é a lei específica que delimita
direito de alteração do uso (arts. 28 a 31); d) a
área para aplicação de operações consorciadas.
transferência do direito de construir (art. 35); e e)
as operações urbanas consorciadas. 3. NATUREZA JURÍDICA
Assim, da lei que institui o plano diretor muni- Antes de enquadrar a operação consorciada
cipal devem constar a possibilidade de ser utiliza- em uma das categorias jurídicas existentes em
do o instrumento da operação urbana consorciada
nosso ordenamento, vale transcrever o conceito
e as medidas que poderão ser utilizadas no caso
legal do instituto, constante do art. 32, § 2º, da
de sua aplicação (art. 42, II, do Estatuto da Cida-
Lei nº 10.257/01:
de), as quais constituirão, como já dito, exceções à
aplicação dos índices urbanísticos já previamente Art. 32, § 1º: Considera-se operação ur-
definidos pelo plano diretor para todo o território bana consorciada o conjunto de intervenções
urbano (art. 32, § 2º, I e II, do mesmo Estatuto). e medidas coordenadas pelo Poder Público
municipal, com a participação dos proprie-
Não há previsão expressa na Lei nº 10.257/01
tários, moradores, usuários permanentes e
a respeito da necessidade de serem definidos
investidores privados, com o objetivo de al-
previamente – e de forma detalhada – os perí-
cançar em uma área transformações urbanís-
metros das áreas em que será aplicado o instru-
ticas estruturais, melhorias sociais e a valo-
mento da operação urbana consorciada já na lei
rização ambiental.
que institui o plano diretor. Tal exigência acabaria
por dificultar a própria implantação do instituto, Vê-se que a Lei nº 10.257/01 define o insti-
posto que o crescimento/desenvolvimento da ci- tuto como o conjunto de intervenções e medidas
dade pode fazer surgir a necessidade de altera- coordenadas pelo Poder Público municipal, com
ção dos perímetros de cada operação. a participação da iniciativa privada, com a finali-
dade de atingir as finalidades indicadas.
Mas a lei que institui o plano diretor municipal
deve apontar as áreas da cidade – de acordo com A questão que se coloca é como enquadrar
o zoneamento local – em que as operações ur- esse conjunto de intervenções e medidas em

14. Nesse sentido, o § 2º do art. 225 da Lei municipal nº 13.430/02, que instituiu o plano diretor estratégico do Municí-
pio de São Paulo, com a seguinte redação: Ficam delimitadas áreas para as novas Operações Urbanas Consorciadas
Diagonal Sul, Diagonal Norte, Carandiru-Vila Maria, Rio Verde-Jacú, Vila Leopoldina, Vila Sônia e Celso Garcia,
Santo Amaro e Tiquatira, além das existentes Faria Lima, Água Branca, Centro e Águas Espraiadas, com os períme-
tros descritos nas suas leis específicas e indicadas no Mapa nº 09, integrante desta lei. Ainda de acordo com o mesmo
diploma legal, outras Operações Urbanas Consorciadas poderão ser definidas nas Áreas de Intervenção, indicadas no
Mapa nº 09, integrante desta lei (art. 225, § 3º). Assim, vê-se que o plano diretor paulistano seguiu a interpretação
aqui sugerida: o plano diretor municipal indica as áreas da cidade em que o instrumento da operação urbana consor-
ciada poderá ser implementado, e a lei específica de cada operação define com precisão o perímetro de abrangência
de cada uma dessas operações. Não obstante, o Quadro nº 13, anexo à Lei nº 13.430/02, define o perímetro de algumas
das operações urbanas indicadas acima: Operação Urbana Carandiru-Vila Maria; Operação Urbana Celso Garcia;
Operação Urbana Diagonal Norte (com Sub-áreas Pirituba/Jaraguá; Tietê e Lapa); Operação Urbana Diagonal Sul;
Operação Urbana Rio Verde/Jacú-Pêssego; Operação Urbana Vila Leopoldina; Operação Urbana Vila Sônia; Opera-
ção Urbana Santo Amaro; Operação Urbana Tiquatira, justamente as que ainda não haviam sido criadas antes da
edição do plano diretor paulistano.

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alguma categoria já conhecida na ciência do Di- na consorciada, elemento obrigatório da lei espe-
reito. Caso isso não seja possível, poder-se-ia cífica que cria cada operação, conforme art. 33,
concluir que estamos diante de uma nova espécie caput, da Lei nº 10.257/01. Dentre tais medidas
de instituto, sem similar no sistema jurídico pátrio. estão, além do ato bilateral indicado no parágra-
No nosso entender, não é possível considerar, fo anterior: a) a realização de desapropriações e
simplesmente, a operação urbana consorciada co- obras públicas na área objeto da operação con-
mo uma das espécies de parcerias público-priva- sorciada – que devem ser custeadas, ainda que
das indicadas no art. 2º da Lei nº 11.079/04,15 ape- não exclusivamente, pelos particulares beneficia-
sar da previsão de participação dos particulares dos com a alteração dos índices urbanísticos no
prevista no sobredito art. 32 do Estatuto da Cidade. perímetro da intervenção; b) a expedição de atos
administrativos concessivos de licença de cons-
Como é sabido, tanto a concessão patrocina- truir/reformar segundo os novos parâmetros fixa-
da quanto a concessão administrativa são espé- dos pela lei específica que cria a intervenção; c)
cies de contratos firmados entre a iniciativa priva- a realização de estudo prévio de impacto de vizi-
da e a Administração Pública, após a realização nhança (art. 33, inc. V, da Lei nº 10.257/01); d) os
do prévio procedimento licitatório nos termos do atos de controle da operação, obrigatoriamente
art. 10 e seguintes da citada Lei nº 11.079/04. compartilhado com representantes da sociedade
A operação urbana consorciada – não obs- civil (art. 33, inc. VII, da Lei nº 10.257/01), enfim,
tante pressupor, como um dos seus elementos, são várias as categorias jurídicas que compõem
o ato jurídico bilateral16 consistente na permissão esse conjunto de intervenções e medidas deno-
para construir acima dos parâmetros ordinários de minado operação urbana consorciada.
aproveitamento do solo mediante o pagamento de De fato, como visto, na execução da operação
contrapartidas pelo interessado – não é constituí- urbana consorciada são expedidos atos administra-
da, unicamente, de um acordo de vontades en- tivos ampliativos de direito (licenças para construir/
tre Poder Público e particular. Essa avença entre reformar/utilizar o imóvel, certificados de conclusão,
iniciativa privada e Administração Pública é ape- autorizações, todos eles nos termos do “zonea-
nas um dos elementos do conjunto de medidas mento específico” criado para a área objeto da ope-
que levam à execução da operação consorciada. ração, mediante pagamento de contrapartidas);
Na realidade, esse plexo de medidas é des- são expedidos atos de controle pelo órgão criado
tinado à consecução do plano da operação urba- especialmente para tal finalidade,17 que deverá

15. Lei federal que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da Admi-
nistração Pública.
16. Celso Antônio Bandeira de Mello (2003, p. 420) equipara os atos bilaterais aos atos convencionais, ou seja, aos con-
tratos administrativos e à concessão de serviço público, por exemplo. Ricardo Marcondes Martins (Efeitos dos vícios
dos atos administrativos. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 119) considera o contrato administrativo espécie de normas
administrativas bilaterais, posto que dependem, para serem produzidas, além da manifestação do Estado ou de quem
lhe faça as vezes, da manifestação de vontade do particular. É o caso das licenças concedidas mediante o pagamento
de contrapartidas ao Poder Público municipal, como ocorre na realização das operações urbanas consorciadas.
17. Controle esse que não afasta, obviamente, o controle realizado pelos órgãos tradicionalmente voltados para tal fina-
lidade, como o Poder Judiciário, os Tribunais de Contas e o Ministério Público. O controle da execução do plano da
operação urbana consorciada com a participação da sociedade civil segue a diretriz da política urbana indicada no
art. 2º, inc. II, da Lei nº 10.257/01, qual seja, a necessidade de se efetivar a gestão democrática da cidade por meio
da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação,
execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. Ressaltou-se a importância
de ser criado órgão próprio para o controle da operação urbana, no sentido de se garantir a efetiva aplicação dos re-
cursos auferidos da iniciativa privada na execução do plano da operação consorciada e participação de represen-
tantes da sociedade civil na atividade controladora. Nesse sentido, a Lei nº 13.769/04, do Município de São Paulo,
que altera dispositivos da lei que criou a Operação Urbana Faria Lima, em seu art. 17, institui o Grupo de Gestão
da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, coordenado pela Empresa Municipal de Urbanização – EMURB,
contando com a participação de órgãos municipais, de entidades representativas da sociedade civil organizada, vi-
sando a definição e implementação do Programa de Intervenções da Operação Urbana, bem como a definição de apli-
cação dos seus recursos.

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26 BDM – Boletim de Direito Municipal – Janeiro/2013

contar com a participação da sociedade civil, con- Sobre a questão, manifesta-se Paulo José
forme assinalado; são realizados procedimentos Villela Lomar no sentido de que a realização da
administrativos específicos, como o estudo pré- operação urbana consorciada pressupõe a bus-
vio de impacto de vizinhança, as licitações para ca de transformações urbanísticas estruturais
contratação das obras na área objeto da opera- acompanhadas, necessariamente, de melhorias
ção e as desapropriações dos imóveis necessá- sociais e da valorização ambiental da área obje-
rios à execução de tais obras. Ou seja, percebe- to da intervenção. Para o autor, esse é o enten-
-se que a operação urbana consorciada não pode dimento mais consentâneo com a definição, as
ser enquadrada em apenas uma das categorias diretrizes gerais e os demais requisitos exigidos
jurídicas de Direito Administrativo. para a realização da operação consorciada.19

Na verdade, a operação urbana consorciada Ainda segundo o autor citado, intervenções


é um conjunto de atos administrativos, contratos urbanas de menor envergadura podem visar ape-
administrativos e procedimentos administrativos nas à valorização ambiental, ou apenas a melho-
realizados no exercício da função urbanística – rias sociais, mas a operação urbana consorciada
umas das facetas da função administrativa –, para não estará completa se faltar a realização de um
fins de consecução de um plano de transforma- destes objetivos.20
ção urbanístico/ambiental de uma determinada No mesmo sentido, Karlin Olbertz ressalta
área do Município18. A peculiaridade desse ins- que, para a configuração da operação urbana
trumento é que a função urbanística é exercida consorciada, faz-se necessária uma intervenção
com a participação da iniciativa privada, que a no espaço orientada ao cumprimento concomi-
financiará (ainda que não totalmente) mediante tante dos três objetivos elencados no dispositivo
o pagamento de contrapartidas (não obrigatoria- em comento. Para a autora, essa conclusão de-
mente financeiras), aplicáveis exclusivamente na corre, além da interpretação gramatical do so-
área da operação, conforme estabelece o art. 33, bredito preceito, do fato de que cada uma des-
§ 1º, da Lei nº 10.257/01. sas finalidades pode traduzir, de forma isolada,
ao menos um instrumento urbanístico distinto da
4. OBJETIVOS DA OPERAÇÃO operação urbana consorciada. Como exemplos,
URBANA CONSORCIADA cita a autora um instrumento que pode promover
transformações urbanísticas estruturais de modo
O art. 32, § 1º, do Estatuto da Cidade indica mais imediato – o parcelamento; um instrumento
como objetivos da operação urbana consorciada: que se volta a melhorias sociais de forma prepon-
a) o atingimento de transformações urbanísticas derante – a instituição de zona especial de inte-
estruturais; b) a conquista de melhorias sociais; resse social; e instrumentos orientados de modo
e c) a valorização ambiental. mais direto à valorização ambiental – unidades
A dúvida que eventualmente pode surgir da de conservação e limitações administrativas.21
leitura do preceito é se tais finalidades devem ne- As conclusões a que chegaram os autores
cessariamente ser atingidas conjuntamente, ou citados nos parecem irretocáveis. A execução do
se é válido o plano da operação urbana consor- plano da operação urbana consorciada pressu-
ciada que preveja o atingimento de apenas um põe, como visto, alterações dos índices de parce-
desses escopos. lamento, uso e ocupação do solo e das normas

18. Concorda-se, neste ponto, com Karlin Olbertz (2011, p. 63), que afirma que a operação urbana consorciada não pode
ser considerada apenas um plano. Nas palavras da autora, o plano compõe a operação, mas a operação, como totali-
dade, não pode ser reduzida ao plano enquanto seu componente. Entendimento diverso resultaria na desconsideração
do modo de operacionalização do plano, que também é elemento da operação e propicia a continuidade do processo de
planejamento até o atingimento de seus resultados.
19. LOMAR, 2003, p. 248-249.
20. Idem, p. 249.
21. OLBERTZ, op. cit., p. 68.

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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 27

edilícias municipais. Ou seja, cria-se uma legis- cas estruturais na área objeto da intervenção,
lação própria, especialmente elaborada para a mas sempre tendo em conta a necessidade de
área objeto da intervenção, em evidente exceção serem promovidas, na mesma região, melhorias
ao que dispõe o plano diretor municipal para o sociais23 e valorização ambiental.
restante da urbe.
5. MEDIDAS URBANÍSTICAS POSSÍVEIS
Uma intervenção dessa magnitude somente PARA A IMPLEMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES
pode ser justificada se suas finalidades corres- URBANAS CONSORCIADAS
ponderem à modificação urbanística estrutural da
área acompanhada da melhoria dos indicadores O Estatuto da Cidade elenca, no seu art. 32,
sociais da população de baixa renda moradora § 2º, incs. I e II, de forma não exaustiva, algumas
do local atingido, além da valorização ambiental medidas urbanísticas que podem ser previstas na
da região. lei que cria a operação urbana consorciada, com
o intuito de que seus objetivos sejam alcançados
Como visto, existe a possibilidade de aplica- e de que a iniciativa privada seja induzida a parti-
ção de instrumentos específicos de direito urba- cipar do projeto em conjunto com o Poder Público.
nístico para o alcance de cada um dos objetivos
elencados no § 1º do art. 32. Assim, a modifica- A primeira dessas medidas é a modificação
ção urbanística estrutural de uma dada área da de índices e características de parcelamento, uso
cidade pode ser atingida a partir da aplicação do e ocupação do solo e subsolo.
instrumento previsto no art. 5º da Lei nº 10.257, Sabe-se que o plano diretor, em conjunto
qual seja, parcelamento, edificação ou utilização com a lei de zoneamento municipal, define os
compulsórios de imóveis urbanos;22 as melhorias coeficientes de aproveitamento24 para cada área
sociais de uma determinada região do Município da cidade, a taxa de ocupação25 dos lotes pelas
podem ser alcançadas com a aplicação dos ins- edificações, os tamanhos mínimos e máximos
trumentos jurídicos de regularização fundiária, dos lotes, os usos possíveis para cada proprieda-
como, por exemplo, a concessão de uso espe- de imóvel nos termos fixados pelo zoneamento,
cial para fins de moradia, regulamentada pela e diversas outras regras referentes à fixação de
Medida Provisória nº 2.220/01; e a valorização índices urbanísticos. São regras que valem para
ambiental, por instrumentos como a instituição definir a ocupação e o uso do solo de todo o ter-
de área de preservação ambiental, definida pelo ritório do Município.
art. 15 da Lei Federal nº 9.985/00, que institui o
No entanto, o Estatuto da Cidade, no sobre-
Sistema Nacional de Unidades de Conservação
dito art. 32, § 2º, inc. I, prevê a possibilidade de
da Natureza. Portanto, cada um desses objetivos
fixação – pela lei municipal específica que cria a
conta com instrumentos legais próprios destina-
operação urbana consorciada – de índices urba-
dos ao seu alcance.
nísticos diferenciados para a área objeto da ope-
Assim, a aplicação da operação urbana con- ração. Em outras palavras, as regras de ocupa-
sorciada deve ser reservada para hipóteses em ção previamente definidas pelas leis municipais
que se pretende alcançar, conjuntamente, as de uso e ocupação do solo para essa área po-
três finalidades elencadas no dispositivo. Deve- dem ser alteradas pela lei específica que cria a
-se buscar promover transformações urbanísti- intervenção urbana.

22. Referido instrumento é analisado de forma detalhada em obra de nossa autoria: Parcelamento, edificação e utilização
compulsórios de imóveis públicos urbanos. Belo Horizonte: Fórum, 2010.
23. Daí a necessidade de que conste da lei específica que aprovar a operação urbana consorciada o programa de atendi-
mento econômico e social para a população diretamente afetada pela operação, conforme previsão contida no art. 33,
inc. III, da Lei nº 10.257/01.
24. O próprio Estatuto da Cidade define coeficiente de aproveitamento como a relação entre a área edificável e a área do
terreno (art. 28, § 1º).
25. Ensina José Afonso da Silva (Direito urbanístico brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 255) que a taxa de
ocupação refere-se à superfície do terreno a ser ocupada com a construção. É um índice que estabelece a relação entre
a área ocupada pela projeção horizontal da construção e a área do lote.

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28 BDM – Boletim de Direito Municipal – Janeiro/2013

Assim, a título exemplificativo, pode-se ima- des do qual resultarão os recursos necessários
ginar hipótese de fixação, pelo plano diretor mu- ao cumprimento das metas da operação consor-
nicipal, de coeficiente de aproveitamento equiva- ciada (por exemplo, a revitalização da área atin-
lente a 2 (dois) para determinada área da cida- gida pela intervenção).
de. Caso essa mesma área seja objeto de uma
Da mesma forma, a lei que cria a operação
operação urbana consorciada, seu coeficiente de
urbana consorciada pode admitir tipos de uso
aproveitamento pode ser alterado para 4 (quatro).
proibidos pela legislação municipal aplicável à
Ou seja, o proprietário de lote situado no períme-
área. Assim, por exemplo, em uma área exclu-
tro da operação poderá construir o dobro do que
sivamente residencial, a lei que cria a operação
poderia se a intervenção não fosse implantada,
pode passar a permitir uso comercial, fator que
desde que pague as contrapartidas exigidas, as
também pode induzir os proprietários de imóveis
quais também devem estar definidas na lei espe-
situados nessa região a participar da ação con-
cífica que cria a operação, conforme previsto no
sorciada com o Poder Público.
art. 33, inc. VI, do Estatuto da Cidade.
Prevê, outrossim, o mesmo inc. I do § 2º do
Obviamente, tais medidas servem para atrair
art. 32 do Estatuto da Cidade a possibilidade de
investimentos privados para a consecução dos
alteração das normas edilícias. Assim, pode a lei
objetivos da operação urbana consorciada, já que
que cria a operação urbana consorciada prever
os proprietários e investidores pagam26 ou forne-
novas regras disciplinadoras do direito de cons-
cem algum outro tipo de contrapartida (como a
truir na área objeto da intervenção, diversas da-
construção de um conjunto habitacional para po-
quelas válidas até então. Nas palavras de Karlin
pulação de baixa renda, por exemplo) para terem
Olbertz, é cabível que o plano da operação pre-
o direito de construir de acordo os novos índices
veja recuo, alinhamento, nivelamento, gabarito de
urbanísticos criados pela lei específica da ope-
altura, espaços não edificáveis, estética, dentre
ração urbana consorciada.
outros parâmetros, diversos daqueles que até en-
E tais contrapartidas deverão ser aplicadas tão vigoravam para a área focalizada.27
– obrigatoriamente – no âmbito da própria ope-
Sobre a questão, José dos Santos Carvalho
ração urbana consorciada, conforme previsão do
Filho afirma que essa previsão de alteração de
art. 33, § 1º, da Lei nº 10.257/01, sob pena de
normas edilícias permitida pelo Estatuto tem sen-
desvio de finalidade do ato concessivo da licen-
tido fluido e impreciso, posto que, na realidade, a
ça, já que a alteração dos índices urbanísticos é
alteração de índices de parcelamento e de uso e
prevista exclusivamente para gerar recursos para
ocupação do solo normalmente já encerra a ideia
a operação urbana, e não como fonte ordinária
de alteração de normas edilícias.28
de recursos para a Administração Pública.
Com efeito, nas hipóteses em que a lei que
Para o proprietário de imóvel urbano situado
cria a operação urbana consorciada altera índi-
na área da operação consorciada – e para os in-
ces urbanísticos como o coeficiente de aprovei-
vestidores em geral – pode ser bastante interes-
tamento e a taxa de ocupação, está a alterar, em
sante construir acima dos parâmetros urbanísti-
verdade, as normas referentes à edificação so-
cos ordinários. Afinal, em um mesmo lote pode-
rá ser construída uma edificação com metragem bre o terreno.
maior. Daí o pagamento da contrapartida ao Po- No entanto, e conforme bem explica o mesmo
der Público, a concretizar esse acordo de vonta- autor, o Estatuto da Cidade quis admitir, com tal

26. Esse pagamento pode ser realizado por meio de certificados de potencial adicional de construção – os chamados
CEPAC’s, títulos do governo municipal, livremente negociáveis no mercado, emitidos justamente com a finalidade de
servirem para o pagamento da área de construção que supere os padrões estabelecidos pela legislação de uso e ocu-
pação do solo, até o limite fixado pela lei específica que aprovar a operação urbana consorciada (art. 34, § 2º, do Es-
tatuto da Cidade).
27. OLBERTZ, 2011, p. 106.
28. CARVALHO FILHO, 2006, p. 219.

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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 29

previsão, outras alterações além das provenien- irregulares de terrenos, públicos ou privados, por
tes das mudanças dos índices urbanísticos. Nes- população de baixa renda. Por meio de tal ins-
se sentido, edificações que seriam consideradas trumento de convalidação, podem ser iniciados
irregulares pelas leis municipais que regulam o procedimentos de regularização fundiária, a fim
direito de construir passam a ser permitidas pela de que a situação das construções em que resi-
lei que cria a operação consorciada.29 de essa população seja legalizada.32
No mesmo sentido, a previsão do inc. II do Sobre o tema, Karlin Olbertz ressalta que,
referido art. 32 da Lei nº 10.257/01, segundo a não obstante o Estatuto da Cidade não tratar, es-
qual a lei que cria a operação urbana consorcia- pecificamente, da regularização da propriedade
da pode prever a regularização de construções, ou da posse do lote, mas apenas da construção,
reformas ou ampliações executadas em desacor- reforma ou ampliação da edificação, a outorga
do com a legislação vigente. da titulação (legitimação da propriedade ou da
O dispositivo refere-se à possibilidade de se- posse) é medida cabível nas operações urbanas
rem consideradas regulares situações jurídicas consorciadas, tendo em vista a previsão genérica
contrárias à legislação vigente até então para a do art. 32, § 2º, da Lei nº 10.257/01, segundo o
área objeto da ação consorciada. A medida guar- qual outras medidas podem ser previstas na lei
da bastante semelhança com a anistia conferi- específica, além das indicadas nos incs. I e II do
da a imóveis irregulares, que é frequentemente mesmo dispositivo.33
estabelecida por meio de leis municipais espar- Com efeito, o rol de medidas proposto nes-
sas. Trata-se, na realidade, de convalidação de se dispositivo, conforme já ressaltado, não é ta-
situações jurídicas irregulares, de acordo com a xativo, e a regularização fundiária pode ser me-
definição proposta por José dos Santos Carva- dida de extrema importância para o atingimen-
lho Filho.30 to das metas da operação urbana consorciada,
Assim, a fim de que sejam atingidas as fina- especialmente em face do disposto no já citado
lidades da operação urbana consorciada, a lei art. 2º, inc. XIV, do Estatuto, que prescreve como
municipal específica pode prever a regularização uma das diretrizes essenciais da política urbana
de construções, reformas e ampliações dos imó- a regularização fundiária e urbanização de áreas
veis localizados na área da intervenção, a partir ocupadas por população de baixa renda median-
do estabelecimento de parâmetros diferenciados te o estabelecimento de normas especiais de ur-
em relação aos até então vigentes. O mesmo di- banização, uso e ocupação do solo e edificação,
ploma legal pode prever, também, o estabeleci- consideradas a situação socioeconômica da po-
mento de contrapartidas a serem entregues pelos pulação e as normas ambientais.
beneficiários dessas regularizações.31 Portanto, instrumentos de regularização fun-
Tal medida pode ser particularmente impor- diária podem – ou melhor, devem – ser previstos
tante na hipótese (bastante frequente) em que na lei específica que criar a operação urbana con-
estão presentes na área da operação ocupações sorciada. Assim, a legitimação da propriedade ou

29. Evidentemente, tais alterações das normas edilícias não podem comprometer a segurança da edificação e, consequen-
temente, dos seus moradores e frequentadores.
30. CARVALHO FILHO, 2006, p. 219.
31. Importante, nesse particular, a ressalva feita por Evangelina Pinho e Fernando Guilherme Bruno Filho em Comentá-
rios feitos aos artigos 32 a 34 do Estatuto da Cidade (In: Estatuto da Cidade comentado: Lei nº 10.257 de 10 de julho
de 2001. Organizadora: Liana Portilho Mattos. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 223). Os autores alertam no
sentido de que a previsão da medida de regularizações das construções não pode ser realizada com ênfase desmesu-
rada; não se pode resumir a operação urbana consorciada apenas (...) à regularização mediante contrapartidas, pois
tal não se sustentaria sob a ótica dos princípios consubstanciados no art. 2º do Estatuto, em especial seus incs. IV e VI.
32. José dos Santos Carvalho Filho (Op. cit., loc. cit.) lembra que a medida ora em comento guarda consonância com a
diretriz urbanística de proporcionar, sempre que possível, a regularização fundiária dos terrenos da cidade (art. 2º,
XIV, do Estatuto).
33. OLBERTZ, 2011, p. 107.

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30 BDM – Boletim de Direito Municipal – Janeiro/2013

da posse de áreas ocupadas por população de nas consorciadas. Uma leitura descontextualiza-
baixa renda pode ser obtida por meio de instru- da do dispositivo pode levar à interpretação de
mentos como a concessão de uso especial para que a delimitação legal da área objeto da ope-
fins de moradia (MP nº 2.220/01); a concessão de ração consorciada é faculdade do Poder Público
direito real de uso (art. 7º do Dec.-lei nº 271/67); municipal, em face da utilização da expressão
o direito de superfície (arts. 21 a 24 do Estatuto poderá delimitar.
da Cidade); o usucapião especial de imóvel urba-
Todavia, não é essa a finalidade do preceito.
no (arts. 9º a 14 do Estatuto da Cidade), dentre
O art. 32, caput, do Estatuto estabelece, na ver-
outros. Nada impede que a aplicação de tais ins-
trumentos seja prevista na própria lei específica dade, que, na hipótese de ser implementado o
que cria a operação urbana consorciada como instituto, a lei específica deve indicar – com pre-
uma das medidas tendentes ao atingimento das cisão – a área objeto da operação consorciada,
metas do plano da ação conjunta. sob pena de invalidade. Essa conclusão é con-
firmada pelo disposto no art. 33, inc. I, do mes-
Todos os benefícios citados podem ser con- mo diploma, que indica como um dos requisitos
cedidos mediante o pagamento de contraparti- obrigatórios da lei específica a definição da área
das pelos interessados. Esse pagamento é con- a ser atingida.
sequência da adesão do particular ao plano de
ação conjunta com o Poder Público (relação con- Portanto, e como bem adverte José dos
tratual). Tais contraprestações devem estar defini- Santos Carvalho Filho, o art. 32, caput, da Lei
das – em espécie e montante – na lei municipal nº 10.257/01 deve ser interpretado em conjunto
específica que criar a operação urbana consor- com o art. 33, inc. I, da mesma lei. Nas palavras
ciada, nos termos que preceitua o art. 33, inc. VI, do autor, numa interpretação sistemática, preva-
do Estatuto da Cidade. lece o art. 33 e seu inc. I, que dão caráter de exi-
gência à definição da área, impondo-se conste
Esses e outros requisitos obrigatórios da lei no plano da operação consorciada.35
específica que cria a operação urbana consorcia-
da serão objetos do próximo item deste estudo. Com efeito, a definição precisa da área ob-
jeto da operação urbana consorciada é exigên-
6. REQUISITOS DA LEI ESPECÍFICA QUE cia inafastável para a sua implantação. A própria
CRIA A OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA natureza do instituto assim o exige. Afinal, e con-
O art. 33 do Estatuto da Cidade determina forme já salientado, o perímetro urbano em que
que o plano da operação urbana consorciada será aplicado o instrumento constitui região da
deve constar da lei específica que aprovar o ins- cidade sujeita às novas regras impostas pela lei
trumento, e elenca os seus requisitos mínimos. que cria a operação, e não às leis de uso e ocu-
São itens que não podem faltar no diploma que pação do solo válidas para todo o território mu-
cria a intervenção, sob pena de invalidade.34 nicipal (e que são válidas também para a área
objeto da operação consorciada antes de sua
A seguir analisamos, ainda que de forma su- implantação). Trata-se de um “recorte” no mapa
mária, cada um desses elementos. urbano, do qual resultará um território objeto de
6.1. Definição da área a ser atingida regras diferenciadas de ocupação.
A questão já foi enfrentada quando da aná- Posto tratar-se de exceção às regras ordiná-
lise da redação do caput do art. 32 da Lei nº rias de ocupação do solo – e, portanto, ao próprio
10.257/01, que prevê que lei municipal específi- planejamento urbanístico municipal –, a definição
ca, baseada no plano diretor, pode delimitar área da área em que será implantada a ação consor-
do Município para aplicação de operações urba- ciada deve ser realizada com exatidão.

34. O Estatuto da Cidade é norma geral de direito urbanístico, editada com fundamento no art. 24, inc. I, da Constitui-
ção Federal. Suas disposições são de observância obrigatória por Estados, Distrito Federal e Municípios, que mantêm
a competência suplementar em matéria urbanística, conforme art. 24, §§ 1º e 2º, e art. 30, incs. II e VIII, da Carta.
35. CARVALHO FILHO, 2006, p. 220.

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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 31

Tal definição deve ser condizente com as di- construção de unidades de habitação social, de
retrizes do plano diretor municipal (conforme art. terminais rodoviários e metroviários, dentre ou-
32, caput, do Estatuto da Cidade) e resultado de tras. Assim, o programa de intervenções deve ser
amplo estudo acerca da necessidade e das fina- apresentado junto ao programa básico de ocupa-
lidades da implantação do instrumento. A parti- ção da área.38
cipação popular na confecção do plano da ope-
Outrossim, o programa de ocupação deve
ração consorciada – especialmente daqueles di-
dispor acerca da fixação dos índices urbanísticos
retamente afetados – é imprescindível, sob pena
para a área objeto da intervenção, ou seja, deve
de ofensa ao princípio da gestão monocrática das
definir o coeficiente de aproveitamento, a taxa
cidades, previsto no art. 2º, incs. II e XIII, e nos
de ocupação, tamanhos mínimos e máximos de
arts. 43 a 45 da Lei nº 10.257/01.
lotes, enfim, os novos parâmetros de uso e ocu-
Outrossim, e conforme bem aponta Karlin Ol- pação do solo válidos para a área.
bertz,36 a definição da área objeto da operação é
O sucesso da operação urbana consorciada e
obrigatória também em função do que dispõe o
a adesão dos interessados dependem de um pro-
art. 33, § 1º, da Lei nº 10.257/01, segundo o qual
grama básico de ocupação da área bem-elabora-
os recursos obtidos com a outorga dos benefícios
do, pois é a partir dele que os proprietários, mora-
somente poderão ser aplicados na própria área
dores, usuários permanentes e investidores priva-
em que a intervenção for aplicada.
dos decidirão participar da ação consorciada com
6.2. Programa básico de ocupação da área o Poder Público, garantindo os recursos neces-
Outro elemento obrigatório do plano da ope- sários à consecução dos objetivos da operação.
ração urbana consorciada é o programa básico 6.3. Programa de atendimento econômico
de ocupação da área (art. 33, II). Desse programa e social para a população diretamente afetada
deve constar o projeto urbanístico a ser desen- pela operação
volvido na área da cidade objeto da operação.37
Tal exigência é fruto da preocupação do le-
Deve indicar, por exemplo, as obras no sistema
gislador com a situação da população residente
viário e de transporte coletivo a serem implemen-
na área abrangida pela operação urbana consor-
tadas, o plano de construção de habitações de
ciada, especialmente a de baixa renda.
interesse social na área, as melhorias no siste-
ma de saneamento básico, obras de drenagem Visa evitar que a valorização imobiliária da
e criação de espaços públicos de lazer. área objeto da intervenção resulte na expulsão
da população que habitava a região, em virtude
No programa básico, devem ser indicadas,
de sua incapacidade de arcar com os altos cus-
também, as obras e intervenções por meio das
tos de moradia no local.39
quais será realizado o projeto em questão: as
desapropriações necessárias, a construção ou Com efeito, a melhoria do tecido urbano de-
prolongamento de vias, implantação de viadutos, corrente da realização da intervenção na área

36. OLBERTZ, 2011, p. 88-89.


37. No mesmo sentido, José dos Santos Carvalho Filho, 2006, p. 220.
38. A Lei nº 13.260/01 do Município de São Paulo, que criou a Operação Urbana Consorciada Água Espraiada, apresenta,
em seu art. 3º, o programa de intervenções na área objeto da intervenção: Art. 3º O Programa de Intervenções, garan-
tindo o pleno desenvolvimento urbano e preservando a qualidade ambiental da região, tem por objetivo a complemen-
tação do sistema viário e de transportes, priorizando o transporte coletivo, a drenagem, a oferta de espaços livres de
uso público com tratamento paisagístico e o provimento de Habitações de Interesse Social para a população moradora
em favelas atingida pelas intervenções necessárias (...). Em seguida, o mesmo dispositivo elenca as obras e interven-
ções por meio das quais será implantado o projeto urbanístico criado para a área.
39. No caso de existência de população de baixa renda residente na região, a operação urbana deve definir uma área para
a construção de habitações de interesse social destinada a essa população. Essa medida visa evitar a ocorrência de
lesão ao direito à moradia dessa população, de modo que não seja expulsa da área devido à valorização imobiliária
decorrente das melhorias proporcionadas pela operação urbana (In: INSTITUTO PÓLIS. Estatuto da Cidade: guia
para implementação pelos municípios e cidadãos. Coordenação de Raquel Rolnik. Brasília: Câmara dos Deputados,
2001. p. 132).

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acarreta – pode-se dizer que invariavelmente – a ticas estruturais, melhorias sociais e a valoriza-
valorização dos imóveis nela situados. Trata-se de ção ambiental.
fenômeno lógico: nas áreas em que há forte in-
Evidentemente, a lei que cria a operação não
vestimento público (e, no caso da operação con-
deve limitar-se a prever, em seu texto, as finalida-
sorciada, também privado), ocorre a valorização
des definidas pelo referido dispositivo da Lei nº
imobiliária. Isso não agride as diretrizes do Es-
10.257/01 nem objetivos genéricos e abstratos.
tatuto da Cidade aplicáveis à operação urbana
As metas devem estar previstas de forma con-
consorciada, posto que é justamente em função
creta no plano: a construção de uma avenida, a
da valorização dos imóveis que os investidores
revitalização de uma área degradada, a implan-
privados são atraídos para participar da ação
tação de um novo sistema viário, a regularização
conjunta com o Poder Público.
fundiária de determinadas ocupações existentes
Todavia, há de se ressaltar que esse incre- no local, a criação de parques e outras áreas ver-
mento do valor dos imóveis não pode significar des, dentre outras.40
prejuízo para a população que já habitava a área
Todas essas finalidades devem ser fruto de
antes da intervenção. Isso porque uma das dire-
um planejamento urbano detalhado, realizado a
trizes básicas da Lei nº 10.257/01 é justamente
partir de um estudo que apresente as reais ne-
a garantia do direito à moradia (art. 2º, I), asse-
cessidades da área que será objeto da operação.
gurado, também, em norma constitucional (art.
Isso em virtude do já referido princípio da reser-
6º da Carta) como direito social a ser promovido
va de plano, consagrado no art. 182 da Consti-
pelo Estado.
tuição Federal.
Daí a necessidade de serem previstos no pla-
A explicitação concreta desses objetivos pos-
no da operação consorciada instrumentos urba-
sibilitará aos investidores privados conhecer os
nísticos que assegurem, tanto quanto possível,
rumos pretendidos pela ação consorciada, a for-
a permanência da população de baixa renda que
necer subsídios para sua decisão de participar
já habitava a área anteriormente à intervenção.
ou não da operação em conjunto com a Adminis-
Dentre tais medidas, pode-se citar a instituição
tração municipal. Também permitirá um controle
de zonas especiais de interesse social (art. 42-A,
maior do andamento da intervenção por parte da
inc. V, do Estatuto da Cidade), a construção de
sociedade civil, a impedir que seja realizada com
habitações populares no local, e os instrumen-
intuito meramente especulativo, em desrespeito
tos de regularização fundiária, como a conces-
às diretrizes gerais de política urbana previstas
são especial de uso para fins de moradia (MP nº
no Estatuto da Cidade.
2.220/01), a concessão de direito real de uso (art.
7º do Dec.-lei nº 271/67) e o direito de superfície Por derradeiro, vale apresentar ressalva feita
(arts. 21/24 da Lei nº 10.257/01). por José dos Santos Carvalho Filho: a referência
à necessidade de que sejam explicitados no pla-
6.4. Finalidades da operação
no as finalidades da operação é desnecessária,
Outro item obrigatório do plano da operação posto que tais finalidades, como alvo da opera-
urbana consorciada é a explicitação das finalida- ção, já devem figurar no programa básico da in-
des da intervenção. tervenção. Nas palavras do autor, é impossível
conceber um projeto básico sem que nele figu-
Conforme já ressaltado, o art. 32, caput, da
rem os objetivos a que se destina.41
Lei nº 10.257/01 determina que qualquer opera-
ção urbana consorciada deve ter como objetivo Com efeito, do programa básico de ocupação
alcançar em uma área transformações urbanís- da área, requisito do plano municipal previsto no

40. Nas palavras de Karlin Olbertz (2011, p. 90), não há razão jurídica que justifique a interpretação da exigência tal
como ela significasse a mera repetição das finalidades gerais e abstratas previstas naquele dispositivo legal. Tampou-
co tal interpretação seria compatível com o processo de planejamento, que exige a definição precisa dos objetivos a se-
rem alcançados.
41. CARVALHO FILHO, 2006, p. 220.

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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 33

sobredito inc. II do art. 33 do Estatuto, já devem sorciada, ainda que em um perímetro específico
constar os objetivos da operação, sob pena de da cidade, causa impactos em grande parte do
descaracterização do programa enquanto tal. A território urbano, especialmente nas áreas limí-
lei, nesse caso, quis deixar expresso que obje- trofes à da intervenção. Faz-se necessário, por-
tivos concretos da operação devem constar do tanto, verificar se da implantação da ação consor-
plano, e não apenas metas abstratas, de difícil ciada decorrerão efeitos negativos para os locais
aferição quanto aos respectivos alcances pelos não contidos em seu perímetro. Na possibilidade
órgãos de controle. Afinal, não há como ser ve- de ocorrência desses danos, medidas devem ser
rificado o sucesso da intervenção sem que suas previstas no próprio plano para evitá-los ou com-
finalidades sejam detalhadas no plano. pensá-los, sob pena da impossibilidade de se ini-
6.5. Estudo prévio de impacto de vizinhança ciar a ação consorciada.

Do plano da operação urbana consorciada 6.6. Contrapartida a ser exigida em função da


deve constar, ainda, o estudo prévio de impacto utilização dos benefícios previstos nos incs. I e II
de vizinhança, cuja execução está disciplinada, do § 2º do art. 32 do Estatuto da Cidade
em linhas gerais, nos arts. 36 a 38 do Estatuto Conforme já explicitado, a lei que cria a ope-
da Cidade.42 ração urbana consorciada pode prever índices
O art. 36 determina caber à lei municipal a de- urbanísticos diferenciados para a área objeto da
finição quanto aos empreendimentos e atividades intervenção. Tamanhos mínimos e máximos de lo-
privados ou públicos em área urbana que depen- tes, coeficientes de aproveitamento, taxas de ocu-
derão de elaboração de estudo prévio de impac- pação, uso atribuível ao imóvel, todos esses índi-
to de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou ces podem ser modificados em relação aos pre-
autorizações de construção, ampliação ou fun- vistos nas leis de ocupação urbana aplicáveis ao
cionamento a cargo do Poder Público municipal. Município (e que continuam válidas para as áreas
Portanto, o Município tem autonomia para fixar as em que não é aplicada a operação consorciada).
normas que definirão que tipo de empreendimen- Os proprietários e investidores privados que
to dependerá da prévia realização do EIV como desejarem utilizar esses benefícios devem arcar
requisito para a expedição da respectiva licen- com contrapartidas a serem pagas ao Poder Pú-
ça de construção, ampliação ou funcionamento. blico. É justamente aí que está o aspecto contra-
Entretanto, a mesma Lei nº 10.257/01 exige tual do instituto. Tais contrapartidas servirão para
a elaboração do EIV como condição para a rea- financiar os investimentos públicos realizados
lização de operação urbana consorciada. Aqui para a revitalização da área objeto da operação
não há escolha para o Poder Público municipal: e possibilitarão, ao mesmo tempo, a captura da
na hipótese de aplicação do instrumento da ope- valorização imobiliária pela Administração, em
ração urbana consorciada, o estudo de impacto homenagem ao princípio da justa distribuição dos
de vizinhança deverá ser, obrigatoriamente, rea- benefícios decorrentes do processo de urbaniza-
lizado, sob pena de invalidade da lei que cria a ção (art. 2º, inc. IX).
intervenção.
Assim como as modificações dos índices
A exigência legal ora em análise é justificada urbanísticos devem constar, de forma expressa,
pelo fato de que a implantação da operação con- da lei que cria a operação urbana consorciada

42. A Lei nº 10.257/01 não exige, de forma expressa, a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a implan-
tação da operação urbana consorciada. Trata-se de omissão injustificável por parte do legislador. Não obstante, pa-
rece-nos que o EIA deve ser exigido em toda e qualquer hipótese de aplicação do instrumento da operação urbana
consorciada, em vista dos evidentes impactos ambientais provenientes de intervenções urbanísticas desse porte. No
mesmo sentido, Karlin Olbertz (2011, p. 93) lembra que o art. 32, § 2º, I, do Estatuto da Cidade exige que as altera-
ções dos índices urbanísticos e das normas edilícias sejam realizadas levando-se em conta o impacto ambiental delas
decorrente. Ora, para que se conheça tal impacto, é necessária a realização do EIA. Vale lembrar, ainda, que o próprio
Estatuto da Cidade determina em seu art. 38 que a elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de
estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental.

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34 BDM – Boletim de Direito Municipal – Janeiro/2013

– em respeito, como já dito, ao princípio da lega- emissão desses certificados, bem como a possi-
lidade –, a previsão das contrapartidas a serem bilidade de utilização para o pagamento da área
pagas pelos interessados para terem direito ao da construção que supere os padrões estabele-
usufruto de tais benefícios também deve estar cidos pela legislação de uso e ocupação do solo,
indicada no mesmo diploma legal. Tal previsão até o limite fixado pela mesma lei (art. 34, § 2º,
é imprescindível para a viabilização da opera- do Estatuto da Cidade).
ção, posto que é por meio dela que a iniciativa
conhecerá a contraprestação a ser paga, e po- 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
derá decidir se tem interesse ou não em partici- A operação urbana consorciada pode ser
par da ação conjunta. utilizada como importante instrumento para a
revitalização de áreas degradadas da cidade,
Vale ressaltar que a contrapartida a ser paga
ou mesmo para a requalificação urbanística de
pelo interessado não tem necessariamente cará-
determinado perímetro urbano, especialmente
ter pecuniário. O particular pode arcar com uma
nas hipóteses em que o Poder Público municipal
contraprestação em bens, em construção ou em
não conta com os recursos necessários à execu-
serviço, por exemplo. Nas palavras de Diogenes ção de obra de tal magnitude.
Gasparini, o beneficiário pagará certa quantia
em dinheiro pela ampliação do coeficiente de Outrossim, é instituto que serve para recu-
aproveitamento ou construirá uma certa obra de perar os investimentos públicos que resultem em
interesse público (hospital) ou social (conjunto valorização extraordinária dos imóveis situados
habitacional para população de baixa renda), ou na área da intervenção, em homenagem ao prin-
executará um serviço de interesse público (refor- cípio da justa distribuição dos bônus decorrentes
ma de um hospital).43 do processo de urbanização (art. 2º, inc. IX, da
Lei nº 10.257/01), derivação do princípio da iso-
Outrossim, importante salientar que a lei nomia previsto constitucionalmente.
que cria a operação deve indicar, com exati-
O instrumento somente será aplicado de for-
dão, a forma de cálculo dessas contrapartidas.
ma válida caso sejam observadas as diretrizes
O montante a ser pago não pode ser calculado
de política urbana indicadas no art. 2º da Lei nº
caso a caso, sob pena de atentado ao princípio
10.257/01. Assim, deve-se rechaçar, inclusive ju-
da isonomia, dado que diferentes interessados dicialmente, qualquer tentativa de utilização do
no mesmo benefício não podem estar sujeitos instituto apenas para fins de especulação imobi-
ao pagamento de contrapartidas diversas ou liária, ou mesmo sua aplicação sem planejamen-
desproporcionais.44 to prévio que impeça o parcelamento do solo, a
Por derradeiro, cabe ressaltar que o art. 34 edificação ou o uso excessivo ou inadequado em
da Lei nº 10.257/01 prevê a possibilidade de pa- relação à infraestrutura urbana.
gamento da contrapartida por meio de certifica- As experiências negativas de aplicação do
dos de potencial adicional de construção – os instrumento não justificam seja o instituto consi-
denominados Cepacs. Trata-se de títulos emi- derado inadequado para o atingimento dos obje-
tidos pelo Município, livremente negociados, e tivos da política urbana. A ação consorciada, tal
conversíveis em direito de construir exclusiva- como prevista no Estatuto da Cidade, e desde que
mente na área objeto da operação (art. 34, § 1º, aplicada de acordo com as suas diretrizes, é ferra-
da Lei nº 10.257/01). A lei municipal específica menta importante com a qual conta a Administra-
que criar a operação consorciada pode prever a ção municipal na busca do pleno atingimento das

43. GASPARINI, 2002, p. 183.


44. Esse alerta também é feito por Diogenes Gasparini (Op. cit., p. 184), verbis: o valor da contrapartida deve ser calcu-
lado mediante fórmulas matemáticas, levando-se em conta o incremento patrimonial auferido pelo interessado. Essas
fórmulas deverão constar da lei específica que, nos termos do art. 32 do Estatuto da Cidade, delimitará a área em que
as operações urbanas consorciadas poderão ocorrer. O valor da contrapartida não pode, portanto, ser simplesmente
estimado pelo funcionário, nem declarado por comissão designada para tanto.

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DOUTRINA, PARECERES E ATUALIDADES 35

funções sociais da cidade, nos termos prescritos MARICATO, Ermínia; FERREIRA, João Sette
pelo art. 182 da Constituição Federal. Buscou-se Whitaker. Operação urbana consorciada: diver-
demonstrar, neste artigo, a partir da análise das sificação urbanística participativa ou aprofun-
normas gerais sobre o instrumento, a veracidade damento da desigualdade? In: OSÓRIO, Letícia
dessas afirmações. Marques. Estatuto da Cidade e reforma urbana:
novas perspectivas para as cidades brasileiras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Comen- MARTINS, Ricardo Marcondes. Efeitos dos
tários ao Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/01 e vícios dos atos administrativos. São Paulo: Ma-
lheiros, 2008.
Medida Provisória nº 2.220/2001. 2. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2006. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso
de direito administrativo. 15. ed. São Paulo: Ma-
GASPARINI, Diogenes. O Estatuto da Cida-
lheiros, 2003.
de. São Paulo: NDJ, 2002.
OLBERTZ, Karlin. Operação urbana consor-
INSTITUTO PÓLIS. Estatuto da Cidade: guia ciada. Belo Horizonte: Fórum, 2011.
para implementação pelos municípios e cidadãos.
Coordenação de Raquel Rolnik. Brasília: Câmara PINHO, Evangelina; BRUNO FILHO, Fernan-
do Guilherme. Comentários feitos aos artigos 32
dos Deputados, 2001.
a 34 do Estatuto da Cidade. In: Estatuto da Cida-
LEVIN, Alexandre. Parcelamento, edificação de comentado: Lei nº 10.257 de 10 de julho de
e utilização compulsórios de imóveis públicos ur- 2001. Organizadora: Liana Portilho Mattos. Belo
banos. Belo Horizonte: Fórum, 2010. Horizonte: Mandamentos, 2002.
LOMAR, Paulo José Villela. Operação urbana PINTO, Victor Carvalho. Direito urbanístico:
consorciada. In: DALLARI, Adilson Abreu; FER- plano diretor e direito de propriedade. São Pau-
RAZ, Sergio (Coord.) Estatuto da Cidade – Co- lo: Revista dos Tribunais, 2005.
mentários à Lei federal nº 10.257/01. São Paulo: SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico
Malheiros, 2003. brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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