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– Arte vem do grego techne (técnica), isto é, qualquer atividade humana submetida a regras. A técnica é a
habilidade para desempenhar uma atividade.
– Para Aristóteles havia uma distinção entre ciência-Filosofia e arte-técnica. O primeiro caso envolvia a
necessidade, o segundo, a contingência. Dentro do segundo âmbito, ele efetuou ainda a distinção entre
práxis (ação) e poiésis (fabricação).
– Dualidade: artes liberais x as artes servis ou mecânicas.
– Mecânica: é uma técnica para realizar algo difícil, uma tarefa penosa. Quando alguém não consegue
remover uma pedra pesada com a força de seus braços, ele pode criar uma alavanca que o auxilie. Com
menos força ele pode realizar a tarefa.
– Na verdade, na Antigüidade clássica havia uma concepção de que os trabalhos manuais deviam ser
desempenhados por pessoas inferiores. Ao contrário do trabalho intelectual, este permitido apenas a
homens livres, o trabalho manual era desprezado. Dentre as chamadas artes liberais estavam a geometria, a
retórica, a lógica, a música e a própria filosofia.
– Aristóteles, na Política, menciona que alguns nasceram para ser escravos. Platão, no Teeteto, sustenta que o
filósofo é aquele que, se não consegue dobrar o próprio cobertor, sabe entretanto vestir o manto do
homem livre.
– A partir do Renascimento, vemos cair por terra o preconceito da Antigüidade em relação às artes
mecânicas. Há um grande movimento no sentido de valorizá-las e de alçá-las à condição de artes liberais.
O próprio capitalismo a valorizará. O gênio, o construtor, o inventor pode sujar as mãos, não há problema
nisso. Veja-se o exemplo de um Leonardo Da Vinci: ele pinta, ele esculpi, ele constrói engenhocas, ele
desenha... enfim ele suja as mãos. Não se trata de pensar apenas, mas de modelar, de dar vida e concretude
às idéias.
– Em fins do séc XVII e início do séc. XVIII surge o conceito de belas-artes, isto é, aquelas voltadas à
expressão singular do belo: pintura, escultura, arquitetura, poesia, música, teatro e dança. Separa-se nesse
contexto o belo do útil.
– O artista que trabalha com artes técnicas voltadas à utilidade para o homem (como por exemplo a
medicina, a agricultura e a culinária), este ainda deve obediência às regras e preceitos deixados pela
tradição. Já o artista, este encontra-se em outro nível. Sua arte é ação individual, inspiração, e o que
importa é a sua sensibilidade, o seu gênio criador.
– O técnico é um aplicador de regras; o artista é um inspirado, um iluminado.
– Com a separação do tipo de arte voltada exclusivamente à beleza, surge o chamado juízo de gosto e com
ele os três pilares que constituirão o surgimento da estética como disciplina, como ramo de estudo. Os
pilares são: o artista gênio-criador; o belo por ele construído; e o público que julga a obra de arte. A figura
do público espectador torna-se imprescindível para a avaliação da obra de arte.
– Entre os séculos XIX e XX observamos modificar-se novamente a relação entre arte e técnica. O avanço
da ciência e da tecnologia oferecem novo aparato aos artistas, o que obviamente provoca novas reflexões,
novos olhares sobre o que é arte. A expressão artística utiliza cada vez mais a ciência e a técnica. Confirma-
se a suspeita de que na verdade ciência e técnica nunca se separaram.
– A arte não perde sua ligação com o ideal de beleza, mas subordina-se à verdade, isto é, a arte quer exprimir
a realidade.
– Pensador do início do século XX, Benjamin (1892-1940) na verdade interessou-se por uma gama de
assuntos, dentre eles a estética. Em obras como “pequena história da fotografia” (1931), e “A obra de arte
na época de sua reprodutibilidade técnica” (1936), ele reflete sobre os processos através dos quais se
produziam as novas artes: o cinema e a fotografia.
– Ele indaga sobre a autenticidade da obra de arte, sua aura, seu caráter único, sobretudo quando analisada
dentro de um contexto no qual o avanço a técnica apresenta inovações substanciais e muda a própria
maneira de pensar e de fazer arte.
– Antes de Benjamin, muitos outros filósofos discutiram a arte. O matemático Pitágoras, por exemplo,
atrelava à arte noções como ordem, simetria e equilíbrio. Depois dele, Platão, desconfiado de que os
atrativos da arte pudessem confundir a nossa busca pela verdade, achou melhor evitá-la e chegou mesmo a
Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, composta de elementos especiais e temporais: a aparição
única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia de
montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas,
desse galho...
A unicidade da obra de arte é idêntica à sua inserção no contexto da tradição. Sem dúvida, essa tradição é algo
muito vivo, extraordinariamente variável. Uma antiga estátua de Vênus, por exemplo, estava inscrita numa certa
tradição entre os gregos, que faziam dela um objeto de culto, e em outra tradição na Idade Média, quando os doutores
da Igreja viam nela um ídolo malfazejo. O que era comum às duas tradições, contudo, era a unicidade da obra, ou em
outras palavras, a sua aura.
A forma mais primitiva de inserção da obra de arte no contexto da tradição se exprimia no culto. As mais
antigas obras de arte, como sabemos, surgiram a serviço de um ritual, inicialmente mágico, e depois religioso. O que é
de importância decisiva é que esse modo de ser aurático da obra de arte nunca se destaca completamente de sua função
ritual.
Em outras palavras, o valor único da obra de arte “autêntica” tem sempre um fundamento teológico, por mais
remoto que seja: ele pode ser reconhecido, como ritual secularizado, menos nas formas mais profanas do culto do belo.
Essas formas profanas do culto do belo, surgidas na Renascença e vigentes durante três séculos, deixaram manifesto
esse fundamento.
Citações de A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica