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Florianópolis
2017
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Florianópolis
2017
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MARCIEL EVANGELISTA CATANEO
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09
2 SOBRE A COMPREENSÃO DE JUSTIÇA........................................................ 11
2.1 NOS PRIMORDIOS DA FILOSOFIA................................................................ 11
2.2 A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DE JUSTIÇA...................................................... 13
2.3 A POSSIBILIDADE DO NOVO ENTRE NÓS.................................................. 16
3 SOBRE A JUSTIÇA RESTAURATIVA.............................................................. 23
3.1 O MOVIMENTO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA............................................. 23
3.2 A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO UM NOVO PARADIGMA...................... 26
3.3 A JUSTIÇA RESTAURATIVA NAS RESOLUÇÕES DA ONU E DO CNJ ....... 32
4 DIÁLOGO ENTRE JUSTIÇA RESTAURATIVA E FILOSOFIA.......................... 41
4.1 RESTAURAR A EQUIDADE: DIALOGANDO COM ARISTÓTELES............... 41
4.2 RESTAURAR A AUTONOMIA: DIALOGANDO COM KANT........................... 47
4.3 RESTAURAR A AÇÃO COMUNICATIVA: DIALOGANDO COM
HABERMAS............................................................................................................ 50
5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 64
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1 INTRODUÇÃO
justiça restaurativa e para os fundamentos filosóficos que nos foram legados por
Aristóteles, Kant e Habermas.
A justiça é uma virtude, e como tal, está ligada ao hábito de praticar ações
justas, como uma disposição nossa e escolha racional, no dizer de Aristóteles,
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[...] todos os homens entendem por justiça aquela disposição de caráter que
torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir
justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se
entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é
injusto. (ARISTÓTELES, 1991, p. 96).
para determinado problema a fase de triunfo cede lugar a um período de crise, que é
o momento que antecede o surgimento de uma mudança significativa, de um novo
paradigma. Kuhn chama este movimento de revolução científica. As crises terminam
quando emerge um novo paradigma que purifica ou corrige a concepção sobre a
realidade e, além disso, apresenta uma nova visão da realidade ainda não existente
até então. Kuhn chama atenção para o fato de que a aceitação de um novo
paradigma não depende tanto da sua capacidade de resolver os problemas que o
velho paradigma não consegue resolver, mas sim pela capacidade que o novo
paradigma possui para resolver os problemas futuros.
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral (inciso XXXIII); a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (inciso XXXV);
a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a prestação social
alternativa (inciso XLVI, d); não haverá penas cruéis (inciso XLVII, e); é assegurado
aos presos o respeito à integridade física e moral (inciso XLIX); aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (inciso LV).
Tais pressupostos constitucionais corroboram com a crítica aqui
apresentada ao sistema tradicional de justiça, meramente retributivo, que não
contribui com a observância e respeito aos direitos e garantias fundamentais, e não
realiza a dimensão racional comunicativa, impossibilitando o reestabelecimento das
relações comunitárias rompidas pelo evento crime.
Cruz (2013) debruça-se sobre as oportunidades que podem ser
encontradas no direito constitucional e infraconstitucional para experiências de
justiça restaurativa. Registra a articulista que a Constituição Federal, em seu art. 98,
inciso I, prevê a instituição dos juizados especiais, com competência para a
conciliação e transação em casos de infração penal de menor potencial ofensivo. No
inciso II do citado artigo encontramos a indicação de constituição da justiça de paz,
com competência para exercer atribuições conciliatórias sem caráter jurisdicional.
Muito embora expressem o viés que se preocupa com “o fazer justiça”, o
que manifesta a essência do sistema retributivo e dos dispositivos normativos do
direito pátrio, é possível identificar na Constituição e na legislação infraconstitucional
oportunidades para que outras práticas venham se somar à ação penal no sistema
jurídico brasileiro. Este é o objetivo da Justiça Restaurativa: considerar tais avanços,
prospectar oportunidades, propor novidades.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), segundo Cruz (2013), no
seu art. 126, também oportuniza práticas restaurativas, ao recepcionar o instituto da
remissão, previsto no art. 77 do Código Penal. Nesse caso, o processo poderá ser
excluído, suspenso ou extinto, desde que a composição do conflito seja acordada
entre as partes, de forma livre e consensual. A articulista também aponta
possibilidades restaurativa no amplo leque de medidas socioeducativas previstas no
art. 112 do ECA, com destaque para a obrigação de reparar o dano, positivada no
artigo II do artigo em comento.
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Por fim, na quarta parte do seu lapidar trabalho, Howard Zehr apresenta o
novo paradigma, as novas lentes o novo olhar sobre o crime, sobre as necessidade,
obrigações e responsabilidade que este evento traumático traz para a vítima,
ofensor e sociedade. As novas lentes, o novo olhar exige um compromisso com uma
motivação inicial, um critério permanente, um objetivo final: a restauração das
relações e vínculos rompidos pelo fato delituoso.
estado ideal. Percebam que não se busca, por não ser possível, voltar ao estado
anterior ao evento, mas ao estado ideal, ao desejável nas relações entre os afetados
pelo evento. O foco passa a ser a “reparação” das violações decorrentes do crime
em um modelo de justiça diferente do modelo meramente retributivo.
E, afirma Howard Zehr (2008) com toda a sua obra e militância, que a
grande novidade e ponto fulcral para o sucesso da iniciativa, bem como a sua mais
significativa diferenciação e distância das práticas meramente retributivas de
condução da justiça é, sem dúvida o “empoderamento” das partes. Vítima, ofensor,
comunidade e sociedade passam da condição de passividade para a condição de
sujeitos ativos no processo e real interessados na busca de uma solução que
permita, salvaguardadas limitações, a continuidade das relações pessoais e
comunitárias. Quem são, na justiça retributiva, vítima, ofensor, comunidade? Quem
são na Justiça Restaurativa, vítima, ofensor, comunidade? Estas são as novas
lentes, o novo paradigma, a irrupção da alvissareira novidade.
Zehr (2008), autor referência para a apresentação que aqui se faz, afirma
que precisamos trocar as lentes com as quais costumeiramente vemos o crime, a
transgressão e o delito. Apresenta a “lente” retributiva como um paradigma, ainda
hegemônico, em crise; e a “lente” restaurativa como o novo paradigma emergente.
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Com o seu livro, sua obra e sua militância, Howard Zehr demonstra as
razões do esgotamento da visão retributiva de justiça, na qual a apuração da culpa é
mais importante do que a solução do problema e isto faz com que o foco, as lentes,
se voltem para o passado impossibilitando ou dificultando a visão de um futuro
melhor e diferente. E o faz, em síntese didática, pedagógica e explicativa,
apresentada na forma de quadro sinótico nas páginas 199-201, do seu livro capital.
(ZEHR, 2008, p. 199-201).
Por fim, nos cabe fazer eco à reflexão de Howard Zehr (2008) e registrar
que no foco restaurativo o contexto social, econômico e moral do comportamento do
ofensor não é ignorado e sim, considerado como relevante para que possam ser
encontradas as portas que abrem os caminhos para a restauração da realidade ideal
nas relações pessoais e sociais, rompidas pelo evento danoso.
por ser uma justiça informal mais simplificada e célere. Tal concepção não
corresponde à realidade pois constataram as pesquisadoras de que a Justiça
Restaurativa, tomada em sua plenitude, não é uma Justiça célere, mas é uma justiça
exigente, processual. E pode ser inclusive até mais demorada do que a justiça
punitiva, dada a necessidade de um número maior de encontros para se obter
resultados positivos.
Outro Mito consiste na concepção de que a Justiça Restaurativa apenas
se presta a crimes e infrações menos graves ou de menor potencial ofensivo, o que
ganhou força no Brasil a partir dos Juizados Especiais Criminais.
E o mito considerado central pelas pesquisadoras: o da Justiça
Restaurativa como “método” consensual de resolução de conflitos. Domina a
compreensão de que a Justiça Restaurativa é um método que se presta a oferecer
uma prestação pontual, um produto pacificador, e que, resolvendo o conflito, estará
evitando a “criminalidade”, a “reincidência” e a “vitimização”.
A equidade é uma virtude, uma espécie de meio termo entre o vício pelo
excesso de justiça e o vício pela falta de justiça. A igualdade por si só não garante a
realização da justiça. Para tanto, deve ser acompanhada da equidade, para não
incorrer no vício, pela sua falta, a injustiça, ou pelo seu excesso, a opressão.
Fica bem claro, pois, que em todas as coisas o meio-termo é digno de ser
louvado, mas que às vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras
vezes para a deficiência. Efetivamente, essa é a maneira mais fácil de
atingir o meio-termo e o que é certo. (ARISTÓTELES, 1991, p. 38).
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Por essa mesma razão, se diz que somente a justiça, entre todas as
virtudes, é o “bem do outro”, visto que se relaciona com o nosso próximo,
fazendo o que é vantajoso a um outro, seja um governante, seja um
associado. Ora, o pior dos homens é aquele que exerce a sua maldade
tanto para consigo mesmo como para com os seus amigos, e o melhor não
é o que exerce a sua virtude para consigo mesmo, mas para com um outro;
pois que difícil tarefa é essa. (ARISTÓTELES, 1991, p. 82).
[...] os legisladores tornam bons os cidadãos por meio de hábitos que lhes
incutem. Esse é o propósito de todo legislador, e quem não logra tal
desiderato falha no desempenho da sua missão. Nisso, precisamente,
reside a diferença entre as boas e as más constituições. (ARISTÓLES,
1991, p. 27).
que deu origem ao conflito como cidadãos, partícipes de uma comunidade política,
portadores de direitos e de deveres. Busca caminhos alternativos para a
compreensão e aplicação da lei e ao fazê-lo, não somente confirma a sua
importância, mas transcende a mera letra, explicitando o seu espírito. Assim como a
equidade faz com a virtude, admitindo diferentes possibilidades de mensuração e
calibração do justo meio, conforme as especificidades do caso concreto.
Mas até que ponto um homem pode desviar-se sem merecer censura? Isso
não é fácil de determinar pelo raciocínio, como tudo que seja percebido
pelos sentidos; tais coisas dependem de circunstâncias particulares, e quem
decide é a percepção. (ARISTÓTELES, 1991, p. 38).
como base a lei – determinada pelo próprio indivíduo. E para tal, exercerá a
autonomia.
Resgatar a autonomia é resgatar o protagonismo dos sujeitos. Vimos no
capítulo 2 desta monografia que Howard Zehr (2008) considera o empoderamento
da vítima, do agressor e da comunidade como o ganho mais significativa do novo
paradigma, da Justiça Restaurativa. Os procedimentos desta nova ótica, transforma
os sujeitos envolvidos no evento delituoso em protagonistas, tirando-os da apatia e
passividade que estes atores ocupam na justiça meramente retributiva, apelando
para a boa vontade e responsabilidade.
Sobre este aspecto, Cataneo (2013b, p. 28) nos diz ainda que entre todos
os bens com os quais contamos para a realização da dimensão moral da nossa
existência, na reflexão kantiana, se destaca a ideia da "boa vontade". A boa vontade
é o único bem de que podemos dispor sem nenhum tipo de restrição, pois nos
pertence por inteiro, está sempre ao nosso alcance, é nosso. E coerente com o
princípio da autonomia, a boa vontade constitui o núcleo e princípio da atitude moral
e da determinação da lei moral na filosofia kantiana. Neste escopo, a boa vontade,
guiada pela racionalidade, dá-nos a noção de "dever". Estabelece a noção de dever
é o objetivo primeiro da reflexão de Kant sobre a moralidade. A noção do dever
implica um conhecimento (a priori) e um reconhecimento, a posteriori, das
responsabilidades e obrigações advindas das nossas escolhas. Por isso, dever é
uma obrigação que, consciente e livremente, o indivíduo impõe a si mesmo, uma
faculdade que permite a "internalização" da moral e da lei.
Por isso, ele apresenta a sua teoria da ação comunicativa como uma
situação ideal na qual:
[...] “para que possa haver acordo na coisa é preciso que um ouvinte o sele,
de certo modo, voluntariamente, através do reconhecimento de uma
pretensão de validade criticável [...] fins ilocucionários (ato de fala completo)
não podem ser atingidos por outro caminho que não seja o da cooperação”
[...] (HABERMAS, 2000, p. 68).
5 CONCLUSÃO
e do hábito de praticar boas ações, ações justas. A Justiça é uma virtude integral,
porque compreende todas as outras. A Justiça é uma virtude perfeita, porque quem
a possui pode utilizá-la não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos
outros, e como tal, desejável e necessária para a vida política.
Vimos que os pensadores e doutrinadores modernos, ao se debruçarem
sobre o conceito de Justiça, indicam um paradoxo, uma vez que o conceito se
apresenta como absoluto, mas, ao mesmo tempo, revela-se como um conceito
relativo, que depende do tempo, do espaço e da opinião das pessoas, sofrendo
contínuas mudanças. No qual se encontram o que está em conformidade com o
direito, bem como a virtude de dar a cada um aquilo que é seu; a ordem das
relações humanas ou a conduta de quem se ajusta a essa ordem; a razão de ser ou
o fundamento da norma, e os fins que legitimam sua vigência e eficácia; um direito
de alguém, e um dever de todos de respeitá-lo.
As diferentes concepções de Justiça nos colocam diante do desafio de
compreender a norma como uma orientação para as nossas condutas e não como
objetivo e finalidade última do Direito. O Direito é mais do que norma, é fato, é valor.
E a Justiça, como realização do Direito, visa produzir a igualdade nas relações
humanas. O que implica, muitas vezes, por atenção ao fato e ao valor em tratar
desiguais de forma desigual para restabelecer a igualdade possível.
Compreendemos a Justiça como uma qualidade possível e necessária de
uma ordem social, que se realiza através do Direito. O que não implica em uma
relação direta de causa e efeito – a positivação de um direito não garante a sua
observância. E podemos perceber que sob o primado da dignidade da pessoa
humana e da garantia dos direitos fundamentais, muito embora expressem o viés
que se preocupa com “o fazer justiça”, é possível identificar na Constituição e na
legislação infraconstitucional oportunidades para que outras práticas venham se
somar à ação penal no sistema jurídico brasileiro.
Aristóteles, que, não sendo rígida, se adapta à forma da pedra e assim, cumpre
melhor a sua função.
Com Immanuel Kant buscamos compreender o conceito de autonomia e
relacioná-lo com a natureza da Justiça Restaurativa.
Vimos que Kant busca compreender a moralidade, ou seja, a moral
realmente vivida, e extrair daí um princípio que possa fundamentar, filosófica e
metafisicamente, a própria moral. Kant encontra no ser humano racional e livre o
princípio da autonomia e o escolhe como o princípio que fundamenta a moral - e
também a lei e o direito, no ser humano e por consequência, na sociedade.
Mostramos no decorrer do trabalho que a autonomia se manifesta no
indivíduo como independência da vontade em relação a todo desejo ou objeto de
desejo e a sua capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria,
que é a da razão. A autonomia é condição indispensável para que o processo de
empoderamento levado à efeito pelas práticas restaurativas tenha êxito. É também
condição necessária para que o processo de ressignificação da cultura do conflito
possa se estabelecer. A corresponsabilidade, voluntariedade, participação e
alteridade, princípios resguardados nas práticas restaurativas, também pressupõe a
autonomia do indivíduo racional e livre.
Constatamos que Kant elevou o princípio da autonomia à condição de
fundamento dos sistemas legais da sociedade moderna como um todo. E, ao fazê-
lo, elevou o indivíduo moderno à condição de legislador, pois é este que tem o poder
de determinar a própria lei; e de servo da moralidade e das leis, pela boa vontade de
realizar o que a autonomia da sua vontade escolheu.
E concluímos que, ao promover a alteridade e o empoderamento de todos
os que tem interesse na resolução da situação de conflito, a Justiça Restaurativa
conta com a noção de individuo autônomo, que alcançou a maioridade kantiana, a
capacidade de legislar, para a realização dos princípios restaurativos da
consensualidade e confidencialidade, e de assumir com responsabilidade os
compromissos e obrigações advindas do processo de busca da correção e
reparação dos danos.
Nas observações críticas que fizemos, alhures, ao modelo meramente
retributivo de justiça se encontra a constatação de que este reserva um papel
secundário, ou marginal, para os principais interessados na solução do conflito e na
busca por corrigir e reparar os males causados por este. Aprendemos com Kant que,
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sem cultivar a autonomia, o ser humano corre o risco, sempre recorrente, de ser
conduzido, manipulado, reduzido a coisa qualquer.
Com Jürgen Habermas buscamos compreender o conceito de ação
comunicativa e relacioná-lo com a natureza da Justiça Restaurativa.
Destacamos a proposta da ação comunicativa de Habermas e a sua
característica fundamental, de buscar a definição das regras balizadores das
condutas sociais - entre estas a moralidade e o direito, através do diálogo, na
comunidade dos falantes. Nesta, vimos que os falantes são sujeitos racionais e
livres, tais como em Kant, que se dispõem a participar de um contexto discursivo
que favoreça o entendimento e o consenso.
No diálogo com a Justiça Restaurativa podemos perceber que a proposta
da ação comunicativa se manifesta como um processo apropriado para envolver os
interessados no esforço de tratar das causas e corrigir a situação de conflito. Nesta
o conhecimento instrumental permite ao ser humano, no contexto discursivo e na
posição de falante, explicitar e buscar satisfazer as suas necessidades; e o
conhecimento comunicativo, o empoderamento, impelindo-o a emancipar-se de
todas as formas de repressão social, entre as quais, as amarras culturais do
paradigma retributivo, presentes no indivíduo e nas instituições jurídicas.
Podemos concluir que tanto Habermas quanto a Justiça Restaurativa
apontam como caminho do Direito o caminho da comunicação. Como ciência
essencialmente humana, o Direito visa aproximar pessoas, culturas, mentalidades.
Como proposta restaurativa das relações rompidas pelo conflito, a Justiça
Restaurativa mantém o seu foco nas necessidades da vítima, do agressor e da
comunidade. E busca envolver e responsabilizar todos os atingidos e interessados
na solução do conflito. O respeito, a humildade e o encantamento, valores
preservados pelas práticas restaurativas, são também os valores considerados na
ação comunicativa.
Também consideramos propícia à nossa reflexão sobre a necessidade de
mudança nas lentes com as quais se vê o conflito a crítica que Habermas faz ao
poder da tecnocracia. Sob o poder desta, as decisões práticas que afetam a
coletividade são resolvidas por uma minoria de experts, de especialistas, reduzindo
ou eliminando o poder político dos indivíduos e coletividade, bem como o direito de
participarem da solução dos seus problemas. É o que se dá no paradigma retributivo
da justiça penal, no qual o protagonismo da vítima, agressor e comunidade é
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, Ricardo Jardim. A cultura: o homem como ser no mundo. In: HÜHNE,
Leda Miranda (org.). Fazer filosofia. São Paulo: UAPÊ, 1996. p. 30-74.
______. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso
em: 03/11/2017.
65
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2. Edição. São Paulo: Saraiva, 2005.
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como ideologia. Lisboa: Edições 70. 1968.
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. 20ª edição. Rio de Janeiro: Agir, 2001.
66
KANT, Immanuel. A paz perpétua a outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2002
(Coleção Textos Filosóficos).
SILVA, Karina Duarte Rocha da. Justiça Restaurativa e sua Aplicação no Brasil.
2007. 84 f. Monografia (Graduação em Direito) Faculdade de Direito, da
Universidade de Brasília. Disponível em:
<https://parnamirimrestaurativa.files.wordpress.com/2014/10/justic3a7a-restaurativa-
e-sua-aplicac3a7c3a3o-no-brasil.pdf>. Acesso em 07/11/2017.