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Uma História Inconveniente

“O indivíduo que possui um genuíno domínio sobre seu autocontrole tende a desenvolver
uma capacidade rara e valiosa: a habilidade de determinar as próprias ações. Uma pessoa
assim não se sentirá tentada a mudar bovinamente de posição apenas para ser mais um no
meio da massa. Ela não cederá por conta de pressões, de opiniões volúveis, de sabedorias
populares etc.”
(Leornard Read)

Atualmente, em nossa sociedade, somos direcionados cada vez mais para o


consumismo exacerbado, já que apresentamos a tendência de comprar, praticamente tudo o
que nos é empurrado. Desde pequenos, somos ensinados a viver o hoje e nunca planejar o
amanhã . Quando a realidade bate à porta que nos acerca é tarde demais, já nos encontramos
em uma situação financeira desagradável e que pode piorar ainda mais.
Vivemos em um paradoxo intrigante, quanto pior é a situação financeira, menos a
pessoa quer pensar na resolução do problema. A maioria dos indivíduos, não possuem a
envergadura moral suficiente, para enxergar sua real situação financeira, reconhecendo que
sua saúde financeira está ruim e finalmente procurar ajuda, ao contrário, conformam-se em
permanecer com sua atual situação financeira e afirmar que isso é completamente normal,
que apenas os ricos e os avarentos é que sabem e tem a necessidade de administrar suas
finanças. “Quando eu ganhar muito dinheiro eu vou saber administrá-lo”. Uma falácia, pois
se observarmos os casos de pessoas que enriqueceram repentinamente, como por exemplo,
os ganhadores dos prêmios das loterias, perceberemos que um grande percentual desses
indivíduos acaba por desperdiçar esse dinheiro voltando a sua antiga condição de pobreza e
nunca mais alcançarão o patamar da riqueza novamente. Portanto, quando não houver mais
a possibilidade para protelar a dívida, as pessoas descobrirão da pior forma (e mais
dolorosa) que elas têm que aprender a gerir o seu dinheiro.
Dessa forma, as armadilhas estão montadas em todos os lugares: As mídias sociais
exercem um enorme poder de influência, capturando o tempo produtivo das pessoas e
mostrando como suas vidas são ruins e como precisam gastar o seu dinheiro para que
possam melhorar suas vidas e só assim possuir uma vida feliz, mas elas desconhecem que a
verdadeira felicidade, está na convivência com seus filhos/pais. Tomemos o Instagram
como exemplo: Ele é extremamente eficaz para as empresas, pois o alcance de suas
postagens são avassaladores. Agora considerando o fato de que as pessoas com o seu
cotidiano repleto de aborrecimentos e estresse, acabam buscando uma forma de preencher o
vazio que enxergam em suas vidas, encontrando assim algum tipo de refúgio nas redes
sociais. Elas veem e desejam qualquer coisa que é postada, já que, poucas postagens bastam
para despertar o desejo de compra no usuário. Assim, sempre surgirá algum produto ou
serviço que será alvo do desejo de consumo dos indivíduos e mesmo que não exista a
necessidade real para a compra, as pessoas ainda terão a vontade de adquiri-lo.
O cartão de crédito por sua vez, exerce o seu poder nas pessoas dando a elas uma
sensação de possuir dinheiro, sem realmente possuí-lo. Mas, na verdade a real função do
cartão de crédito é emprestar o dinheiro e se ele não for pago no prazo, serão cobrados juros
altíssimos. O que acaba por produzir pessoas que vivem para pagar faturas de cartão,
recebem e quase todo o salário vai para pagar a dívida, como não possuem reservas para
passar o mês, são obrigadas a utilizar o cartão novamente para custear suas despesas
mensais. Pronto, está estabelecido o ciclo de endividamento, que parece ser infindável e
assim elas trabalharão para pagar contas pelo resto de suas vidas, e sempre estarão com o
salário ou com uma boa parte dele comprometido com a fatura do mês seguinte.
Há quem diga, que uma saída para fugir dessa situação é parcelar todas as compras
feitas, ledo engano, a curto prazo essa medida parece ser uma solução extremamente eficaz,
mas com o passar do tempo essa decisão mostrará ser um grande erro. Em vez de ficar com
um mês de salário comprometido, ela terá três ou mais meses, pois conforme ela vai
parcelando as compras, vai “sobrando” dinheiro no cartão para serem realizadas mais
compras, assim quando ela descobrir que não pode mais parcelar e acabar colocando as
contas na ponta do lápis (se um dia ela vier a fazer isso) descobrirá que as compras
parceladas já comprometeram o seu suado trabalho por vários meses. O cartão de crédito
possui outra consequência maléfica: O total rastreio de todos os seus gastos, enchendo
assim os bancos de dados dos governos e das empresas, fazendo com que eles estabeleçam
padrões de comportamentos e elaborem políticas de controle social e produtos cada vez
mais personalizados, fazendo com que nada saia do controle do imposto de renda,
induzindo as pessoas a gastarem cada vez mais.

A falta do planejamento a longo prazo é outro fator que contribui para que as
pessoas caminhem sempre com problemas financeiros. Nós somos ensinados desde
pequenos a nos planejarmos para qual profissão iremos seguir, mas nunca somos ensinados
a tratar sobre dinheiro. A maioria esmagadora das pessoas, não se planejam mensalmente,
elas vivem mês após mês sem nenhum tipo de planejamento financeiro e quando acontece
algum imprevisto, são pegas desprevenidas e tendem a pedir socorro a parentes, bancos ou
agiotas.
O time de futebol alemão Bayern de Munique, por exemplo, possui um
planejamento de 10 anos. Não estou afirmando que precisamos fazer igual ao Bayern, mas
sim nos preocuparmos em manter um planejamento a longo prazo no âmbito das finanças.
Com uma planilha simples é possível realizar um orçamento de um ano de receitas,
despesas e de poupança, o que tornará a vida financeira mais fácil, pois é um meio de
planejar os gastos ao longo do ano.
Alguns afirmam que, somente os solteiros e os casados que não possuem filhos
conseguem poupar dinheiro, é verdade que essa não é uma tarefa fácil, mas também não é
um feito impossível.
A falta de experiência religiosa profunda também acaba por afetar a vida financeira.
Como a religião dá sentido a existência das pessoas, sem ela e consequentemente com a
ausência de um guia para as suas vidas, as pessoas ficam reféns de qualquer situação, pois
procuram desesperadamente preencher o sentido de suas vidas. É a religião que nos molda e
nos ensina a controlar os nossos impulsos.
Somando a isso presenciamos um nível cultural e educacional¹ extremamente
degradado em todas as camadas da sociedade. Portanto, possuir um cartão de crédito sem
ter educação financeira é um erro fatal, que juntamente com o advento da ferramenta de
compra online, o esvaziamento da experiência religiosa e o bombardeamento diário de
propagandas de todos os tipos, acabaram por transformar os indivíduos em máquinas de
consumo em massa, que compram por impulso produtos que não precisam, transformando o
consumo no único objeto de alegria de suas vidas e consequentemente, seguindo o lema:
“consumir, consumir, consumir”, alimentando assim, um hedonismo desenfreado em suas
vidas.

NOTAS
1. Que junto com a experiência religiosa profunda serve para nortear as pessoas como
indivíduo perante a sociedade, o mundo e Deus.

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