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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de

Efluentes em Paulistana-PI

AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA) DO LANÇAMENTO DE


EFLUENTES EM PAULISTANA-PI

2021
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.........................................................................................................5
1 CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DA ÁREA.............................................................6
1.1 Recursos Hídricos...............................................................................................9
1.2 Pluviometria.......................................................................................................11
1.3 Uso e Ocupação do Solo...................................................................................12
2. METODOLOGIA......................................................................................................14
2.1 Dados de Geoprocessamento...........................................................................14
2.2 Ensaios de Solo.................................................................................................14
2.3 Metodologia de Avaliação de Impactos.............................................................17
2.3.1 Checklist.....................................................................................................17
2.3.2 Redes de Interação.....................................................................................18
2.3.3 Método de Modelagem adotado.................................................................18
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES.............................................................................20
3.1 Geoprocessamento...........................................................................................20
3.2 Resultados dos Ensaios de Solo.......................................................................21
3.3 Checklist............................................................................................................25
3.4 Rede de Interação (ANEXO).............................................................................27
3.5 Modelagem........................................................................................................30
4 CONSIDERAÇÕES E PROPOSTAS DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS.................31
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Tipologias de Solo identificadas em Paulistana-PI.......................................8

Figura 2 - Tipologias de Solo em Paulistana-PI, Segundo CPRM (2004)....................9

Figura 3 - Hidrografia do Município de Paulistana-PI.................................................10

Figura 4 - Distribuição das precipitações no período 2020/2021...............................11

Figura 5 - Uso e Ocupação do Solo............................................................................12

Figura 6 - Ventos Predominantes na Área da ETE em junho.....................................13

Figura 7 - Materiais da determinação de umidade pelo método speedy....................14

Figura 8 - Vala escavada para ensaio de percolação................................................15

Figura 9 - Vala do ensaio de percolação com camada de brita no fundo..................16

Figura 10 - Procedimentos da Identificação Visual e tátil .......................................16

Figura 11 -Procedimentos principais da geração de modelo de fluxo no


MODELMUSE............................................................................................................19

Figura 12- Imagem raster para execução do modelo de elevação............................20

Figura 13 - Curvas de Nível da Região obtidas por Modelo de Elevação..................21

Figura 14 - Lençol a 1,2m de profundidade................................................................22

Figura 15 - Ciclo da Matéria Orgânica do Solo...........................................................28

Figura 16 - Vegetação da área do lançamento...........................................................29

Figura 17 - Modelo de Fluxo.......................................................................................30

Figura 18 - Modelo de Fluxo com efeito "Contour Grid".............................................30

Figura 19 - Pluma de contaminação modelada para as condições de fim de plano..31


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Efluentes em Paulistana-PI

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Funções da previsão de impactos nos Estudos Ambientais.....................17

Quadro 2- Parâmetros do MODELMUSE...................................................................19

Quadro 3- Resultados do Ponto 01 para classificação táctil-visual............................22

Quadro 4 - Resultados do Ponto 02 para classificação táctil-visual...........................23

Quadro 5- Resultados dos Ponto 03 para classificação táctil-visual..........................23

Quadro 6 - Qualidades Gerais dos Efluentes de Sistemas Lagoa de Estabilização


com Lagoas de Maturação em série...........................................................................26

Quadro 7 - Ações de Monitoramento e Controle........................................................32

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Efluentes em Paulistana-PI

APRESENTAÇÃO

A presente Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) objetiva atender devidamente às


indagações do Parecer _________ acerca dos efeitos ambientais da disposição do
lançamento de efluentes tratados de Paulistana-PI quando se atingir cobertura de
esgotamento suficiente. Buscou-se inicialmente a caracterização da área onde
ocorrerá o lançamento quanto aos aspectos fisiográficos e pedológicos, seguida da
caracterização dos usos do solo. Posteriormente, são apresentadas as metodologias
aplicadas pelo estudo e os resultados obtidos para elucidação das repercussões
ambientais do lançamento previsto em projeto.

Responsáveis Técnicos

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
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1 CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DA ÁREA

O município de Paulistana situa-se na Mesorregião Sudeste Piauiense e


pertence à microrregião do Alto Médio Canindé. O território municipal abrange área
de 1.941,111Km2, havendo predominância do Bioma Caatinga. Quanto aos aspectos
fisiográficos, a sede municipal situa-se a 359m acima do nível do mar. Os solos da
região, em grande parte provenientes da alteração de granitos, gnaisses, mármores,
filito, quartzito e xisto, são rasos ou pouco espessos, jovens, às vezes pedregosos,
ainda com influência do material subjacente (CPRM, 2004).
Dentre os solos regionais, predominam latossolos álicos e distróficos de
textura média a argilosa, presença de misturas vegetais fase caatinga hipoxerófila
(grameal) e/ou caatinga/cerrado caducifólio. Secundariamente, solos podzólicos
vermelho-amarelos, textura média a argilosa, fase pedregosa e não pedregosa com
misturas e transições vegetais, floresta sub-caducifólia/caatinga, além de areia
quartzosas, que compreendem solos arenosos essencialmente quartzosos,
profundos, drenados, desprovidos de minerais primários, de baixa fertilidade, com
transições vegetais, fase caatinga hiperxerófila e/ou cerrado sub-caducifólio/floresta
sub-caducifólia (Jacomine et al;1986).
Segundo levantamento da EMBRAPA (1983), no município de Paulistana,
ocorrem as tipologias de solo Podzólico Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico
(PE), Bruno Não Calcico, Solos Litólicos e Regossolo. Segundo caracterização da
FUNCEME (2014), os Solos Podzólicos Vermelho-Amarelo Eutróficos compreendem
solos com horizonte B textural, não hidromórficos e com argila de atividade
baixa.Apresentam de média a alta saturação de bases (V%), baixa saturação com
alumínio, menor acidez, bem como conteúdo mineralógico que detém quantidade
significativa de minerais primários facilmente decomponíveis. Consoante Sampaio
(2006), os minerais primários são herdados do material originário e mantêm sua
composição praticamente inalteradas, a exemplo do quartzo,feldspatos,
plagioclases, micas, piroxenas, anfíbolas, olivinas etc.

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Efluentes em Paulistana-PI

Os solos Bruno Não Cálcicos são solos moderadamente profundos a rasos,


tendo, em geral, sequência de horizontes A, Bt e C, com espessura do A + Bt, entre
30 e 90 cm, textura arenosa ou média no horizonte A e média ou argilosa no Bt. Há
ainda mudança abrupta do A para Bt. O horizonte A constitui zona de mistura de
matéria orgânica e substâncias minerais, com bastante influência do clima e alta
atividade biológica (CPRM,2014). Segundo dados da EMBRAPA, o Horizonte B
textural (Bt) é um horizonte mineral subsuperficial com textura francoarenosa ou
mais fina, em que houve incremento de argila (fração < 0,002mm), orientada ou
não,desde que não exclusivamente por descontinuidade de material originário,
resultante de acumulação ou concentração absoluta ou relativa decorrente de
processos de iluviação.
Conforme descrito por Jacomine (2009), Os solos litólicos caracterizam-se
pela ocorrência de horizonte A assente diretamente sobre rocha e/ou Cr, ou sobre
material com 90% (por volume) ou mais de sua massa constituída por fragmentos de
rocha com diâmetro superior a 2mm, que apresentam um contato lítico ou
fragmentário dentro de 50cm da superfície do solo. Como salientado por EMBRAPA
(2014), as limitações aos usos nessa categoria de solo estão relacionadas à pouca
profundidade, presença de rochas e aos declives acentuados , fatores limitantes ao
crescimento radicular e ao uso de máquinas.
Os regossolos correspondem aos solos minerais não consolidados com
desenvolvimento pedológico incipiente. Essa classe de solos abrange extensas
regiões do Globo em especial em áreas sujeitas a climas áridos e semi-áridos , em
regiões de vulcanismo recente e áreas montanhosas. Segundo Brasil (1972), os
regossolos são solos jovens, medianamente profundos, de textura arenosa e às
vezes cascalhenta, em todo o perfil, caracterizam-se pela baixa retenção de
umidade, baixos valores de troca catiônica (CTC) e baixos teores de matéria
orgânica. As imagens a seguir apresentam a caracterização pedológica genérica do
município de Paulistana-PI.

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Efluentes em Paulistana-PI

Figura 1- Tipologias de Solo identificadas em Paulistana-PI

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

Figura 2 - Tipologias de Solo em Paulistana-PI, Segundo CPRM (2004)

Fonte: CPRM (2004)

1.1 Recursos Hídricos

O município de Paulistana insere-se na Bacia do Rio Canindé, com a


ocorrência de riachos intermitentes em seus limites territoriais. O manancial
superficial artificial, Açude Ingazeiras, é a fonte de abastecimento para Paulistana e
Acauã. O riacho do Maninho é um corpo hídrico de vazão reduzida que deságua no
Rio Canindé. A presença de água nos córregos afluentes ao Rio Canindé é
altamente dependente do regime de chuvas da região. Para a finalidade deste
estudo, foram observados os dados mais recentes para o parâmetro como
complementação das análises desenvolvidas.

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Efluentes em Paulistana-PI

Quanto ao manancial subterrâneo, segundo argumentado pela CPRM (2004),


a ocorrência apenas de rochas cristalinas pré-cambrianas, englobadas em
complexos representados litologicamente por granitos, gnaisses, filitos, mármores,
quartzitos e xistos, condiciona a verificação de água subterrânea em fraturas e
fendas, de modo que os reservatórios subterrâneos caracterizam-se pela
aleatoriedade, descontinuidade e pequena extensão. Nesse contexto, a vazão
produzida por poços são reduzidas e sofrem efeito de salinização. Devido a este
fator natural, o abastecimento do município ocorre por captação em manancial
superficial, o Açude Ingazeiras.

No mapa abaixo, elaborado pelo autor, são destacados os corpos hídricos


existentes nas proximidades da malha urbana municipal com a ressalva de que o
Riacho do Maninho é um córrego intermitente que perde toda a sua vazão no
período de estiagem, apesar de, ilustrativamente, estar sendo destacado no mapa
seu caminhamento com respectivos contornos topográficos obtidos por ferramenta
de geoprocessamento do software QGIS 3.16.

Figura 3 - Hidrografia do Município de Paulistana-PI

Fonte: Autor (2021)

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1.2 Pluviometria

Com o intuito de apresentar dados empíricos da precipitação do município de


Paulistana-PI, serão transcritas informações pluviométricas aferidas pela Estação
Meteorológica situada nas coordenadas geográficas 08°07’48.0”S 41°08’24.0”W. A
estação teve início de suas atividades em 31 de agostos de 2007 e encontra-se ativa
até o momento atual (2021). Localiza-se a 375,00 m de altitude em relação ao nível
do mar em região de solo com textura média. Seu código na base de dados
pluviométricos Agritempo 1 é INMET.543.
Com relação ao período mais recente, o gráfico apresentado abaixo reúne as
precipitações identificadas no intervalo de janeiro de 2020 a janeiro de 2021. Foram
considerados todos os dados diários de precipitação aferidos pela estação
meteorológica para o período.

Figura 4 - Distribuição das precipitações no período 2020/2021

Distribuição das chuvas (mm)


30

25

20
precipitação (mm)

h (precipitação) (mm)
15

10

0
12/2019 03/2020 06/2020 09/2020 01/2021 04/2021

Fonte: Agritempo (2021)

Conforme se verifica, não foram registradas precipitações durante o período


compreendido pelos meses de maio a dezembro de 2020. Para o presente estudo, a
condição de estiagem favorece a perda completa de vazão pelo riacho do maninho,
o que indica que o futuro lançamento de efluentes tratados dar-se-á em solo na
maior parte do ano.

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Efluentes em Paulistana-PI

1.3 Uso e Ocupação do Solo

Em visita a campo, constatou-se que na Área Diretamente Afetada pelo


Lançamento e em raio de entorno de extensão de 350m não foram identificadas
propriedades agrícolas. Com o auxílio de ferramenta de sensoriamento remoto,
calculou-se uma distância em torno de 800m para a primeira atividade agrícola. A
malha urbana situa-se entre 250 e 350m do lançamento de efluentes.

Figura 5 - Uso e Ocupação do Solo

Fonte: Google Earth,2021

Percebe-se que a nordeste da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) há


tendência de aumento de ocupação residencial. Há, nas proximidades da BR-407,
remanescentes de vegetação xerófita, característica da Caatinga. Como será
discutido posteriormente, este é o tipo de vegetação predominante no acesso ao
ponto de Lançamento dos Efluentes. Na imagem acima, destacado em verde,
encontra-se a produção agrícola remotamente identificada.
Em azul, destacou-se o caminhamento do córrego intermitente, ressaltando
que a delimitação possui caráter ilustrativo, de modo que no momento da execução

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do estudo não havia fluxo de água. Adicionalmente, será apresentado o padrão de
ventos preponderantes no município.

Figura 6 - Ventos Predominantes na Área da ETE em junho

Fonte: Windy.com (2021)

A ocorrência de ventos preponderantes na direção noroeste favorece a


dispersão de eventuais emissões odorantes no local da ETE. Contudo, o parâmetro
é variável, havendo mudanças periódicas na dinâmica das direções dos ventos. No
mês de setembro, por exemplo, os ventos assumem a direção sul-sudeste, o que
conduziria as emissões odorantes para a área de influência do açude Ingazeiras.
Quanto à velocidade, os ventos podem assumir valores de 16.1 a 32.2Km/h.

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2. METODOLOGIA
As metodologias aplicadas neste estudo envolveram duas vertentes de
análise. A primeira corresponde a parâmetros dos solos no local onde ocorrerá o
lançamento de efluentes tratados. A segunda vertente envolve a avaliação dos
impactos possíveis ocasionados pelo lançamento e as alternativas ambiental e
tecnicamente viáveis para a mitigação dos impactos do lançamento.

2.1 Dados de Geoprocessamento

Este estudo aplicou imagens de satélite do LANDSAT 08 obtidas pela


plataforma USGS para modelagem das curvas de nível com aplicação do Software
QGIS 3.16. Além disso, os mapas apresentados neste estudo utilizaram arquivos
shapefiles obtidos nas bases de dados do IBGE, a exemplo dos shapes de limites
territoriais.

2.2 Ensaios de Solo

Os ensaios executados no curso do córrego intermitente foram ensaio de


umidade com speedy, classificação visual e táctil e ensaio de percolação. A umidade
pelo método speedy baseia-se na medição indireta da pressão obtida pela reação
entre o carbureto de cálcio e a umidade do material amostrado. Os materiais
requeridos pelo ensaio é o conjunto speedy (figura abaixo) e ampolas com cerca de
6,5g de carbureto de cálcio (CaC2).

Figura 7 - Materiais da determinação de umidade pelo método speedy

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Efluentes em Paulistana-PI

Fonte: Autor (2021)

A NBR 13969:1997 aborda os procedimentos necessários à realização do


ensaio de percolação. Neste ensaio, os materiais necessários são cronômetro, trado
com 150mm de diâmetro, régua, dispositivo para medição do nível de água na cava
e água em abundância (NBR, 1997). Nos procedimentos do ensaio, procede-se
inicialmente a saturação do solo com preenchimento da vala até a profundidade de
0,30m. Após a saturação, adiciona-se 0,15m de água na cava acima da brita,
cuidando-se para que durante todo o ensaio não seja permitido que o nível da água
supere 0,15m. O ensaio deve prosseguir até que se obtenha diferença de
rebaixamento dos níveis entre as duas determinações sucessivas inferior a 0,015m.

Figura 8 - Vala escavada para ensaio de percolação

Fonte: Autor (2021)

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Para classificação táctil-visual, foram perfurados três pontos amostrais com
profundidade de 1,2 m com auxílio de trado manual. Como argumentado por EESC-
USP(2010), o objetivo dos testes de identificação tátil-visual é definir os dois grupos
que têm as maiores percentagens de ocorrência e, também fornecer os dados
qualitativos visando a caracterização do material. Os autores comentam que a
identificação não pode ser entendida apenas como um processo de denominação do
solo, mas deve conter informações adicionais para melhor detalhamento. A
sensação ao tato é usada para definir a sensação na palma da mão; com a
experiência analítica do executor do ensaio é possível definir se a amostra é de um
solo grosso ou de um fino.

Figura 9 - Vala do ensaio de percolação com camada de brita no fundo

Fonte: Autor(2021)

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Efluentes em Paulistana-PI
Figura 10 - Procedimentos da Identificação Visual e tátil

Fonte: Autor (2021)

2.3 Metodologia de Avaliação de Impactos

Sánchez (2013) argumenta que um dos principais objetivos da Avaliação de


Impacto Ambiental é a previsão de alterações nos sistemas naturais e sociais
decorrentes de um projeto de desenvolvimento. O quadro abaixo sintetiza as
funções da previsão de impactos nos Estudos Ambientais.

Quadro 1- Funções da previsão de impactos nos Estudos Ambientais

Estimar a magnitude (intensidade) dos impactos ambientais;


Fornecer informações para a etapa seguinte, avaliação da importância dos
impactos;
Prognosticar a situação futura do ambiente com o projeto em análise;
Comparar e selecionar alternativas;

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Fornecer subsídios para a definição de medidas mitigadoras;
Fonte: Sanchez (2013)

Como o enfoque deste estudo é o lançamento de efluentes tratados em


córrego intermitente, as metodologias de AIA escolhidas para análise deverão ser
suficientes e adequadas para concretização dos objetivos acima elencados. Sabe-se
que a intensidade encontra-se intimamente relacionada às vazões de efluentes e à
qualidade do efluente final tratado. Deste modo, serão comentadas a seguir as
metodologias aplicadas por esta AIA.

2.3.1 Checklist
Devido ao seu caráter preliminar e simplificado, a escolha da aplicação do
checklist relaciona-se à necessidade de elencar os impactos mais previsíveis do
lançamento de efluentes tratados em corpo hídrico intermitente. Para
aprofundamento das discussões, serão adotadas ainda as metodologias de Rede de
Interação e Modelagem.

2.3.2 Redes de Interação


Segundo Stein et al (2018), as redes de interação são utilizadas para
estabelecer a relação causa-condição-efeito dos impactos, possibilitando
acrescentar valores em seus dados, como magnitude, importância e probabilidade
dos eventos adversos. Apesar de admitida a relevância do acréscimo de
informações proporcionado pela rede de interação, considerou-se que as dimensões
espaciais deveriam ser retratadas em associação com os dados de solo, o que
justifica a aplicação de simulações.

2.3.3 Método de Modelagem adotado

O transporte de contaminantes pelos interstícios do solo pode ocorrer


mediante a atuação de processos destrutivos e não destrutivos. Os processos
destrutivos envolvem a biodegradação dos compostos pelo metabolismo microbiano

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ou a ocorrência de reações químicas com o solo. Já os processos não destrutivos
são de natureza puramente física e envolvem a dispersão e a advecção.
O processo de dispersão mecânica é decorrente da aleatoriedade do regime
de escoamento da água em meio poroso, de modo que os caminhos tortuosos
limitam o tempo de trânsito e aumentam o tempo de retenção de contaminantes no
solo. A dispersão mecânica consiste no espalhamento em relação à direção média
devido à variação da velocidade em magnitude e direção no espaço dos vazios. A
advecção é o processo pelo qual o soluto é carregado pela água em movimento,
com concentração constante, e velocidade média.
Contudo a complexidade do transporte de matéria em solo envolve ainda os
fenômenos relativos à alteração da natureza dos compostos, ou seja, as reações
químicas e microbiológicas. Dentre as reações químicas, pode-se citar a adsorção-
desadsorção, reação ácido-base, solubilização-precipitação, oxirredução,
complexação, biodegradação ou síntese microbiana. Diante da dificuldade de serem
consideradas todas as variáveis possíveis relativas ao transporte de contaminantes
em solo, aplicou-se neste estudo a interface de modelagem ModelMuse com uso da
aplicação MODFLOW-2005.

Os parâmetros utilizados para a modelagem mimetizaram as condições


testadas em campo, como a taxa de percolação aplicada (0.08m 3.m-2.D). Para maior
agilidade no processamento das informações, o modelo fora executado para período
de 365 dias, considerando três períodos distintos de geração de efluentes até a
vazão de 11,4 L.s-1 (fim de plano). Quanto ao nível do lençol mais próximo,
considerou-se o valor obtido com a perfuração com trado manual, 1.2m. A seguir,
são sintetizadas as considerações estabelecidas neste modelo.

Quadro 2- Parâmetros do MODELMUSE

 Contorno de Área de Estudo abrangendo o lançamento e o caminhamento do


córrego intermitente.
 Aplicação dos “Heads” para determinação do Fluxo
 Uso da cota negativa (1.2) como nível do aquífero mais superficial
 Aplicação dos processos “Dispersão” e “Advecção”

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 Período simulado 365 dias
 Opção “SINK and SOURCE” para vincular o ponto de lançamento ao objeto
gráfico da interface ModelMuse.
 Parâmetro “Pumping rate” ajustado para níveis crescentes de vazão até a vazão
de fim de plano
 Demonstração dos resultados em escala de cor (Efeito Rainbow), onde valores
maiores são retratados por cores mais quentes.
Fonte: Autor (2021)

Figura 11 -Procedimentos principais da geração de modelo de fluxo no


MODELMUSE

Estabelecer quantidade de Layers,


Criar Novo MODFLOW profundidade de aquífero,
configurações da grade.

No campo “Modflow Packages and


Importar Aquivo Programs”, habilitar o pacote de
Shapefile da Área de transporte de contaminantes e de
Estudo fluxo (heads).

Executar os modelos de fluxo e de


transporte.

Fonte: AGESPISA (2021)

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção serão abordados os resultados das metodologias discutidas


anteriormente. Inicialmente, serão apresentados os dados topográficos da região da
sub-bacia do Riacho do Maninho, inserindo as curvas de nível constatadas na área e
o regime hidráulico do riacho intermitente. Posteriormente, serão discutidos os
resultados das análises de solo desempenhadas no ponto de lançamento no
caminhamento do riacho intermitente, sendo discutidos os aspectos ambientais
relevantes à condição de lançamento de efluentes futura. Finalmente, serão
expostas as considerações obtidas pelas metodologias de avaliação de impactos
ambientais.

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI
3.1 Geoprocessamento

As imagens raster da área da sub-bacia foram obtidas pela plataforma do


Serviço Geológico dos Estados Unidos (United States Geological Survey- USGS) e
geoprocessadas com o auxílio do software QGIS 3.16. O satélite LANDSAT 8 orbita
o planeta Terra em órbita próxima ao polo sul e adquire aproximadamente 740
cenas por dia em um sistema de referências mundial (Worldwide Reference System-
2) caracterizado por PATH/ROW para escolha da cena desejada. A imagem abaixo
apresenta a imagem raster obtida para a área de Paulistana-PI.

Figura 12- Imagem raster para execução do modelo de elevação

Fonte: Autor (2021)

Figura 13 - Curvas de Nível da Região obtidas por Modelo de Elevação

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

Fonte: AGESPISA (2021)

3.2 Resultados dos Ensaios de Solo

Os resultados dos ensaios de solo desempenhados possibilitaram constatar


que se trata de um material permeável com alta taxa de infiltração mesmo saturado,
teor de umidade do solo em campo de 3,6% no mês de Julho (método speedy) e
densidade do material no campo de 0,920g/cm 3. Em relação ao aspecto do solo, de
modo geral, verificou-se a ocorrência de solo areno-argiloso com alterações em sua
coloração ao longo do perfil prospectado. Os padrões identificados foram amarelado,
creme amarelado, avermelhado e cinza escuro. Durante o procedimento da
perfuração do ensaio de classificação táctil-visual, em um dos pontos amostrados,
foi encontrada água, indicando profundidade de lençol de entre 1,0 m e 1,2m.

Figura 14 - Lençol a 1,2m de profundidade

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
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Fonte: AGESPISA (2021)

A seguir serão apresentados os perfis identificados in loco nos três pontos


escolhidos no caminhamento do córrego intermitente. O ponto amostral no qual se
verificou o lençol corresponde àquele em cujo perfil se identificou material de
coloração cinza escura. O resultado corrobora com as observações de EMBRAPA
(2009), uma vez que, segundo os autores, solos acinzentados indicam ambientes
hidromórficos (áreas encharcadas) comuns nas proximidades de cursos d’água ou
áreas com sérias deficiências de drenagem. O quadro a seguir sintetiza as
constatações de campo para o primeiro ponto amostral.

Quadro 3- Resultados do Ponto 01 para classificação táctil-visual

FURO 01 PROF.(m)

Areno argiloso, com presença de matéria orgânica creme De 0,00 a 0,20


Areno-argilosa, de coloração creme amarelado De 0,20 e 0,40
Areno-argilosa de coloração amarelada De 0,40 a 0,60
Areno-argilosa de coloração amarelada De 0,60 a 0,80
Areno-argilosa de coloração amarelada De 0,80 a 1,20

Fonte:AGESPISA (2021)

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
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Consoante EMBRAPA (2009), os solos amarelados e avermelhados podem
apresentar esta característica devido ao alto poder pigmentante dos óxidos de ferro,
onde as cores vermelhas dependem principalmente do conteúdo de sesquióxidos e
óxidos de ferro não hidratados (hematita) ao passo que as cores amarelas ou bruno-
amareladas dependem do teor de óxidos hidratados do mineral. Em todos os pontos
amostrais, à exceção do segundo, verificou-se um predomínio do perfil amarelado
(Podzólico Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico), o que enfatiza o dado de
classificação de EMBRAPA (1983) apresentado neste estudo na seção de
“Caracterização Genérica da Área”. Os quadros a seguir detalham os resultados.

Quadro 4 - Resultados do Ponto 02 para classificação táctil-visual

FURO 02 PROF.(m)

Areno argiloso, com presença de matéria orgânica creme De 0,00 a 0,20

Areno-argilosa, de coloração avermelhada De 0,20 e 0,40


Areno-argilosa, de coloração avermelhada De 0,40 a 0,60
De 0,60 a 1,00

Silte argiloso de cor cinza escuro

Areno-argilosa, de coloração avermelhada com presença de De 1,00 a 1,20


lençol freático

Fonte: AGESPISA (2021)

Quadro 5- Resultados dos Ponto 03 para classificação táctil-visual

FURO 03 PROF.(m)

De 0,00 a 0,60
Areno-argilosa de coloração amarelada

Areno Argilosa cinza-avermelhado De 0,60 a 1,00

Silte arenoso de cor amarelado De 1,00 a 1,20

Fonte: AGESPISA (2021)

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

Quanto ao ensaio de Percolação, obteve-se taxa de percolação do solo (m 3.m-


2
.D-1) de 0,080 por interpolação. Consoante preconizado pela tabela A.1 da NBR
13969/97, para conversão de taxa de percolação em taxa de aplicação superficial,
calculou-se que a taxa de máxima de aplicação em m 3/m2. D situa-se entre 0,09 e
0,065. Abaixo se encontram as tabelas de aferição utilizadas no ensaio.

Tabela 1 Resultados do ensaio de percolação

Cota de Taxa de
Intervalo de
Leituras Abaixamento Percolação Média (Min/M)
Medição (Min)
da Água(m) (Min/m)
1ª 0,1200 9 75,0
2ª 0,0500 9 180,0
3ª 0,0450 9 200,0
284,2
4ª 0,0450 9 200,0
5ª 0,0200 9 450,0
6ª 0,0150 9 600,0
Fonte: AGESPISA (2021)

Tabela 2 Conversão de Valores

CONVERSÃO DE VALORES NBR 13969/97


Taxa Máxima de
Taxa de Taxa de Taxa máxima de
Aplicação Diária
Percolação Percolação (Min/m) aplicação diária
(m3/m2.D)
40 ou menos 0,200 400 0,065
80 0,140 600 0,053
120 0,120 1200 0,037
160 0,100 1400 0,032
200 0,090 2400 0,024
400 0,065 2860
Fonte: AGESPISA (2021)

Desempenhando-se a interpolação dos dados conforme se apresenta abaixo,


tem-se que a taxa máxima de aplicação diária para o solo em estudo é de
0,0794m3.m-2.D-1.

MIN/M 200 284,2 400


Taxa de Aplicação 0,09 X 0,065

x−0,09 284,2−200
=
0,065−0,09 400−200

X = 0,0794 m3.m-2.D-1

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

3.3 Checklist

Aspectos Ambientais Efeitos do Lançamento de Efluentes Tratados


Matriz Componente
Ambiental
 Aporte de Matéria Orgânica
 Aporte de Nutrientes
Solos  Mudança no aspecto do solo com
alteração da cor
 Aumento da umidade
 Alteração de Parâmetros físicoquímicos
Meio Físico Recursos  Contribuições ao lençol freático
Hídricos  Escoamento de efluentes tratados
 Formação de regiões de acúmulo de efluentes
tratados
 Alteração da umidade do ar
Qualidade do ar  Emissões Odorantes
 Aerossóis
Meio Biótico  Instauração de espécies
 Modificações na paisagem xerófita
Cobertura vegetal
 Avanço de Comunidades de Consumidores
e Paisagem
Primários
 Mudanças ecossistêmicas a jusante
Meio Antrópico População das  Proliferação de Vetores
proximidades  Desconforto por emissões odorantes
 Alteração paisagística

Como demonstrado acima, o checklist desempenhado objetivou expor os


efeitos mais diretos do lançamento de efluentes tratados no caminhamento do
córrego intermitente. Inicialmente, apesar de submetidos ao tratamento composto
por uma lagoa facultativa e duas lagoas de maturação, devido a fatores
tecnológicos, haverá um remanescente de matéria orgânica mensurado pela
Demanda Bioquímica de Oxigênio remanescente. Os efeitos diretos nos solos é a
alteração de seus parâmetros fisicoquímicos.
Em se tratando dos recursos hídricos, cabe ressaltar que, apesar de a região,
de modo geral, apresentar lençol profundo, na área do córrego intermitente
encontra-se água em profundidade de 1,2m o que sustentou a consideração de que
os lançamentos terão efeito sobre a qualidade deste lençol pouco profundo. Quanto
à qualidade do ar, as características dos efluentes advindos de lagoas de maturação

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

são menos susceptíveis ao metabolismo anaeróbio, responsável pela geração de


odores. Entretanto, em cenário de acúmulo de efluentes, devido à presença de DBO
remanescente, poderá haver a geração de odores, o que embasou a consideração
deste impacto na área.
Aspectos paisagísticos e bióticos podem ainda sofrer influência do
lançamento, uma vez que a região caracteriza-se pelo predomínio de xerófitas.
Considerou-se que o aumento da umidade poderá aumentar a complexidade dos
organismos estabelecidos e influenciar a paisagem da área. Aconselha-se,
entretanto, que o regime de lançamento seja monitorado para se evitar a instauração
de ecossistemas assemelhados a pântanos. O quadro a seguir sintetiza informações
qualitativas de efluentes gerados por sistemas assemelhados ao de Paulistana.
Posteriormente, serão apresentadas as reflexões embasadoras da rede de interação
de impactos.

Quadro 6 - Qualidades Gerais dos Efluentes de Sistemas Lagoa de Estabilização


com Lagoas de Maturação em série

Parâmetro Unidade Concentração


DBO mg.L-1 50.8
Sólidos Sedimentáveis mg.L-1 0,3
Sólidos totais dissolvidos mg.L-1 464,2
Escherichia coli NMP/100mL 1,1x103
Nitrato mg.L-1 5,0
Nitrito mg.L-1 0,065
Cloretos mg.L-1 130
pH - 7,5
Temperatura °C 29

Fonte: AGESPISA (2021)

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Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

3.4 Rede de Interação (ANEXO)

A ferramenta da Rede de Interação aplicada neste estudo possibilitou a


elucidação das possíveis repercussões ambientais da prática do lançamento de
efluentes tratados no caminhamento do Córrego Intermitente Riacho do Maninho.
Devido às dimensões da rede, sua apresentação dar-se-á em folha em anexo a este
estudo. Na rede de interação, além dos tradicionais mecanismos de causa e efeito,
foram adicionadas a natureza, magnitude e reversibilidade do impacto identificado.
Deste modo, essa seção abordará as reflexões tomadas para consideração das
relações presentes na rede de interação, bem como exporá alguns dados
quantitativos para aprofundamento das discussões.
Inicialmente, vale pontuar que os efluentes que serão lançados são tratados
e, deste modo, já passaram pelas unidades tecnológicas destinadas à atenuação
dos seus contaminantes, de modo que as discussões pautar-se-ão em parâmetros
qualitativos esperados para o tratamento desempenhado pelo Sistema de
Esgotamento Sanitário de Paulistana-PI. À luz dessa informação, esta seção dedica-
se a explanar as interações presentes na rede de interação da presente Avaliação
de Impacto Ambiental.
Na ETE do município, há, para desempenho do tratamento,uma Lagoa
Facultativa seguida de duas Lagoas de Maturação em série. Deste modo, para
análise das repercussões ambientais do lançamento de efluentes tratados, faz-se
necessário considerar as eficiências de projeto relativas aos parâmetros abordados.
Primeiramente, o lançamento de esgotos tratados representa um aporte adicional de
matéria orgânica e umidade ao solo. Considerando a DBO efluente de 72,44mg.L-1, ter-
se-á ,para a vazão de efluentes tratados em fim de plano, um aporte de 71,35Kg.D -1
de matéria orgânica em solo.
Consoante discutido por EMBRAPA (2015), o ciclo de decomposição da
matéria orgânica pode ser rápido, para o caso de solos bem drenados, arejados e
pouco ácidos ou, muito lento, nos solos quando há excesso de água ou
ácidos.Como discutido no item anterior, com base nos dados de percolação do solo,
considera-se que a matéria orgânica disposta terá ciclo de decomposição acelerado.
Conforme apontado por Vizier (1983), em regiões tropicais, as condições climáticas

28
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

com períodos de estiagem mais severos favorecem a formações de compostos


húmicos mais estáveis. Por esta razão, considerou-se que o aporte de matéria
orgânica advinda do lançamento de efluentes tratados aumentará a fertilidade do
solo na área do córrego intermitente, havendo repercussões ecossistêmicas dessas
alterações. O esquema abaixo explanado por Fontana (2009) apresenta a dinâmica
da matéria orgânica no solo.

Figura 15 - Ciclo da Matéria Orgânica do Solo

Decomposição Humificação

Matéria Orgânica do
Mineralização Solo (MOS) Translocação

Estabilização Interação

Fonte: FONTANA (2009)

A decomposição corresponde à transformação de moléculas compostas em


moléculas simples. Segundo argumentado por Anderson e Swift (1983), distinguem-
se duas fases básicas na decomposição: primeiro a degradação física e segundo a
química. Com respeito à liberação dos produtos finais, pode-se diferenciar a
liberação de substâncias voláteis da liberação de elementos minerais ou compostos
químicos simples. A decomposição é resultante dos metabolismos numa rede
alimentar bastante ramificada. Segundo Silva e Mendonça (2007), as substâncias
húmicas (ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e humina) e outras macromoléculas
orgânicas intrisicamente resistentes ao ataque microbiano (lignina) compõe a fração
estável, sendo a mesma protegida pela associação com componentes minerais do
solo.

29
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

Figura 16 - Vegetação da área do lançamento

Fonte: AGESPISA (2021)

Vale salientar que as características da vegetação da área de lançamento são


próprias da Caatinga, com espécies de xerófitas. Acredita-se que o aspecto árido da
região seja influenciado nas proximidades pelas vazões de efluentes tratados.
Consoante dados de projeto, a vazão de fim de plano será de 11,4 L/s ou 41,04m 3/h.
Com base nas características do solo apresentadas anteriormente, provavelmente
haverá acúmulo de efluentes tratados devido à considerável taxa de aplicação em
solo. Por este motivo, foram considerados na rede de interação os impactos
“contribuições ao lençol freático” e “escoamento de esgotos tratados”.
Na rede de interação, considerou-se que as alterações fisicoquímicas de
águas subterrâneas configuram impactos irreversíveis passíveis de ações de
monitoramento e controle. Conforme apresentado no anexo II da resolução
CONAMA n° 420/09, tem-se a Lista de Valores Orientadores para Solos e Águas
Subterrâneas. Com vistas aos princípios da prevenção e precaução, é relevante
considerar que a atividade de lançamento de efluentes tratados não ocasione o
aumento dos parâmetros em níveis acima dos VRQs relatados nesse dispositivo
legal.

30
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

3.5 Modelagem
Anteriormente à etapa de execução da pluma de contaminação, é preciso
desempenhar uma modelagem de fluxo na área de estudo. Os “heads”, ou seja, as
cotas de fluxo compreendidas pelo programa são visualmente apresentadas em
padrão “Rainbow” no qual as cores mais frias indicam as cotas mais baixas e, por
conseguinte, as direções de fluxo.

Figura 17 - Modelo de Fluxo

Fonte: MODELMUSE (2021)

Figura 18 - Modelo de Fluxo com efeito "Contour Grid"

Fonte: MODELMUSE(2021)

31
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

Executado o modelo de fluxo, procedeu-se a modelagem da pluma de


contaminação a partir do ponto de lançamento de efluentes. Como apresentado na
figura abaixo, os efeitos apresentam caráter radial e se estendem a uma distância de
247,08m. Vale salientar que a modelagem considerou as vazões em níveis
crescentes, acompanhando avanços futuros na cobertura de esgotamento sanitário
da cidade. As regiões destacadas em amarelo e laranja despenderão maiores
esforços no sentido de controle e monitoramento.

Figura 19 - Pluma de contaminação modelada para as condições de fim de plano

Fonte:MODELMUSE(2021)

4 CONSIDERAÇÕES E PROPOSTAS DE MITIGAÇÃO DE IMPACTOS

Com base nos ensaios de solo desempenhados, acredita-se que no início de


plano haverá manutenção da taxa de aplicação em níveis próximos ao limiar de
0,079m3.m-2.D-1, reiterando-se que deverão ser estabelecidos pontos de
monitoramento da qualidade do manancial subterrâneo situados na área de
influência acusada pela pluma de contaminação dos efluentes em condição de fim
de plano, havendo ainda a necessidade de acompanhamento da formação de água
parada ou escoamentos de efluentes tratados.

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Efluentes em Paulistana-PI

Atualmente, Paulistana conta apenas com 82 ligações de esgoto ativas o que


não gerou vazão suficiente para o pleno funcionamento das lagoas de estabilização.
Contudo, o prognóstico apresentado neste estudo extrapola as condições
verificáveis no cenário atual e considera o aumento da cobertura para fim de plano.

Ainda nas reflexões ensejadas pelo aumento das vazões efluentes ao longo
do tempo, este estudo reforça o desempenho de programa de monitoramento da
qualidade ambiental que verifique as alterações previstas na rede de interação, além
daqueles parâmetros inerentes à qualidade dos recursos hídricos. O quadro síntese
a seguir pontua ações que devam ser realizadas pela companhia para mitigação dos
impactos de lançamento, sem prejuízo de restrições/orientações adicionais do órgão
ambiental competente pela outorga e licenciamento ambiental.

Quadro 7 - Ações de Monitoramento e Controle

Atividade Período Fontes de Dados


Avaliação da Ao longo da vida útil de projeto e em Análises fisicoquímicas e
qualidade da água faixa pelo menos coerente à estimada bacterológicas executadas
subterrânea pelo prognóstico apresentado segundo normas pertinentes
Verificação de
Tão logo ocorram contribuições de
alterações Análises fisicoquímicas
efluentes tratados na área
qualitativas no solo
Controle de gases
Frequentemente em estações Métodos intrumentais /padrões
ou emissões
elevatórias e na área da ETE CONAMA
odorantes
Estudos de
Médio prazo com o objetivo de diminuir Estudo de caso/Prospecção de
Alternativas de
as vazões efluentes usuários
Reuso
Acompanhamento Tão logo ocorram contribuições de Levantamentos
do Meio Biótico efluentes tratados na área florísticos/faunísticos
Constatação das Ao longo da vida útil do projeto por
Plano Diretor/Atividades
dinâmicas de uso e vincular-se a impactos no meio
instauradas na área
ocupação do solo antrópico
Fonte: AGESPISA (2021)

33
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Lançamento de
Efluentes em Paulistana-PI

REFERÊNCIAS

ANDERSON, J. M., & SWIFT, M. J. (1983). Decomposition in Tropical Forests. In S.


L. Sutton, T. C. Whitmore, & A. C. Chadwick (Eds.), Tropical Rain Forest: Ecology
and Management (pp. 287-308). Oxford: Special Publication No. 2 of the British
Ecological Society, Blackwell Scientific Publications.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento exploratório-reconhecimento de


solos do Estado de Pernambuco. Recife, 1973. v.1, 359p. (Boletim técnico, 26).

CONAMA. Resolução Nº 420, de 28 de dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios


e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias
químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas.
Brasil, 2009.   

CPRM. Diagnóstico do Município de Paulistana. MME, Fortaleza, 2004.

CPRM. Minerais Argilosos. MME, 2014. Disponível em: < http: //www .cprm .gov.br/
publique/CPRM-Divulga/Canal-Escola/Minerais-Argilosos-1255.html> . Acesso em:
22 de agosto de 2021.

EMBRAPA. Propriedades físicas e químicas de Podzólico Vermelho Amarelo


adensado do Sertão pernambucano. 2015.

FUNCEME. Podzólicos Vermelho-Amarelo Eutrófico. Disponível em: < http ://


www .funceme.br/?p=1010>. Acesso em: 24 de agosto de 2021.

JACOMINE, P.K. A Nova Classificação Brasileira de Solos. Anais da Academia


Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, vols. 5 e 6, p.161-179, 2008-2009.

JACOMINE, P.K.T.. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do


Estado do Piauí. Rio de Janeiro. EMBRAPA-SNLCS/SUDENE-DRN. 1986. 782 p
ilust.

NBR 13969. Tanques Sépticos- Unidades de tratamento complementar e


disposição final dos efluentes líquidos –Projeto, Construção e Operação.
ABNT, Rio de Janeiro, 1997.

SAMPAIO, E. Mineralogia do Solo. Departamento de Geociências, UEVORA, 2006.

SÁNCHES, L.E. Avaliação de Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. 2.ed.


São Paulo. Oficina de Textos, 2013.

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