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Política

1. Introdução 4
Conceitos Gerais 4
Conceito de Ciência 4
A filosofia como Aspecto da Ciência Política 8
A Sociologia como Aspecto da Ciência Política 9
Juridicidade como Aspecto da Ciência Política 10
A ciência Política e Direito Constitucional 12

2. A formação do Estado e seus Elementos 15


Teorias de formação 15
Teoria da formação natural 17
Teoria da formação contratual 18

3. A Política e o Estado 31
Estado 31
Governo 37
Estado 37
Nação 37
País 38
Comunidade 38
Sociedade 38
Política 38

4. Formação Política No Brasil 42


Os Três Poderes 42
Poder Executivo 45
Poder Legislativo 45
Poder Judiciário 47
Historicidade 48
Poder, Função e Orgão 50

5. Capitalismo, Socialismo 53
Sistemas Econômicos 53

6. Referências Bibliográficas 59
1. Introdução

Conceitos Gerais do seu estudo, e do conhecimento dos seus


conceitos e fundamentos históricos.
A Ciência política é uma ciência
A partir de agora, serão abor- dados
que é discutida há anos, embora, assim como a
alguns conceitos para que se possa
democracia, não seja algo que se torna
compreender o objeto de estu- do da melhor
obsoleto, ou ultra- passado, até porque a
maneira.
política existe desde que foi necessária a
formação
Conceito de Ciência
da sociedade.
Política sempre será um tema atual e É de suma importância antes de
constante, o que demonstra de forma entender o conceito de ciência
inequívoca a importância

4
política, entender o conceito de ciên- cia. zando-se métodos, sejam racionais ou
Abaixo, o significado de ciên- cia experimentais, para que conhe- cer
trazido pelo dicionário para que se possa determinado objeto.
extrair sua definição no caso proposto. Além da definição trazida pelo
dicionário, que é uma definição mais atual de
1 - Conhecimento profundo so-
bre alguma coisa. ciência, há outras definições que são
2 - Utilização desse conheci- historicamente importantes e que merecem
mento como fonte de informa- destaque.
ção; noção: não tive ciência dos Em razão dessas outras con-
acontecimentos. ceituações de ciência é que hoje é possível se
3 - Conhecimento ou saber ex- extrair o conceito de de- mocracia
cessivo conseguido pela prática,
contemporâneo.
raciocínio ou reflexão.
4 - Reunião dos saberes organi- Desde a Antiguidade, com o
zados obtidos por observação, pensamento aristotélico, até a idade moderna,
pesquisa ou pela demonstração de com Kant, os conceitos de filosofia e de
certos acontecimentos, fa- tos, ciência se confundiam. Os pensadores não
fenômenos, sendo sistema- tizados distingui-
por métodos ou de ma- neira am o método filosófico do método científico.
racional: as normas da ciência.
5 - [Por Extensão] Análise, ma- Aliás, é pertinente anotar que os
téria ou atividade que se baseia grandes cientistas eram, também, filósofos.
numa área do conhecimento: a
ciência da matemática.
6 - [Por Extensão] Saber adqui-
rido através da leitura; erudi-
ção.2

Diante dos conceitos acima ex- postos,


pode-se concluir que o con- ceito de ciência, é
o conhecimento aprofundado de determinada
área do conhecimento, obtido com pes- quisas
e outras formas de aprofun- damento do
objeto pretendido, utili-

5
Immanuel Kant, foi um im- portante tal forma imbrincados, que não se fazia
filósofo prussiano que vi- veu de 1724 a nenhuma distinção entre eles.
1804.
Aristóteles também foi um im-
portante e conhecido filósofo e em- bora
tenha vivido nos anos 385 a.c a 323 a.c., suas
ideias são conhecidas e estudadas até os dias
atuais.
Ambos viam a ciência sob a mesma
ótica, ainda com a enorme diferença do
período em que vi- veram. E dessa forma, ao longo dos anos
surgiram inúmeras teorias do conceito de
ciência até chegar ao conceito trazido pelo
dicionário an- teriormente.
A partir da definição atual de ciência,
será trazido o conceito de política.

A palavra “política” vem do gre-


Thomás de Aquino (1215 a 1274) go “politéia”. Tal palavra era
diferente de Aristóteles e Kant, entendia a usada para se referir a tudo re-
ciência como “a assimilação da men te lacionado a polis (cidade/es- tado)
e a vida em coletividade. Portanto,
dirigida ao conhecimento da coisa”.
podemos chegar a um ponto em
Anote-se que Thomás de Aquino, a comum ao afirmar que a política
exemplo de Santo Agostinho, procuraram está relacionada diretamente com
adequar a filosofia grega com o pensamento a vida em so- ciedade no sentido
cristão. de fazer com que cada indivíduo
Desta forma, os conceitos de ciência e expresse suas diferenças e
de filosofia continuaram de conflitos sem que isso seja
transformado em um caos social.3

Mais adiante, será estudado a política


mais a fundo.

6
Por agora, é necessário extrair apenas dos fatos e das ideias referidas aos
o seu conceito principal para assim entender ordenamentos políticos da
o conceito de ciência política e dar sociedade debaixo do tríplice
seguimento ao estudo. A conceituação trazida aspecto: filosófico, jurídico ou
acima, mostra a política como decorrente político propriamente dito e
da cidade e da vida em coletividade com o sociológico.
intuito de mediar, minimizar a ocorrência de
Dessa forma percebe-se que a ciência
conflitos gravosos aos que vivem em uma
política possui vários aspec- tos que não são
coletividade,
políticos própria- mente ditos. Esses aspectos
garantindo uma estabilidade.
podem ser sociológicos, jurídico-filosóficos
Partindo desses pressupostos, pode se
(o que para Kant e Aristóteles eram sinônimos
extrair o conceito de ciência política como o
de ciência política e de- pois foi superada essa
estudo aprofunda- dos das relações e
ideia), e tam- bém políticos como citado.
estruturas, dos processos e do modo de
Desde o surgimento da vida em
organização, da cidade, Estado, ou de uma
sociedade, necessitou-se de re- gras para
forma geral, da sua coletividade, que tenha
facilitar o convívio entre as pessoas que
por objetivo trazer estabilidade, jus- tiça e
viviam em comunidade. Nem sempre essas
garantir os direitos da socieda- de envolvida.
regras fo-
Segundo Paulo Bonavides:
ram consideradas justas ou atentas aos direitos
humanos, dignidade da pessoa humana e
A Ciência Política, em sentido
lato, tem por objeto o estudo dos outros termos que se dedicam ao ser humano
acontecimentos, das insti- tuições como de- tentor de direitos.
e das ideias políticas, tanto em
sentido teórico (dou- trina) como
em sentido prático (arte), referido
ao passado, ao presente e às
possibilidades fu- turas.4

Ainda neste sentido, afirma Paulo


Bonavides quanto a ciência Política em
sentido lato que:

Nessa mesma e larga acepção,


cabe o exame das instituições,

7
No entanto, com o passar do tempo, A filosofia como Aspecto da
essas regras, conceitos filo- sóficos, e Ciência Política
sociológicos começaram a despertar o
interesse pelo seu estu- do. Aristóteles como dito anterior- mente
Como se vê, o estudo da ciên- cia não diferia ciência política de filosofia. Essa
política também não é novo, e mudou ao ideia se propagou em decorrência da grande
longo do tempo. De acor- do com as importância que a filosofia tinha nessa época.
convicções morais, polí- ticas e até mesmo Platão, por exemplo, defendia que a
filosóficas de cada tempo, bem como dos sociedade deveria ser gover- nada pelos
costumes de cada localidade. filósofos que eram, no seu entender, os mais
Fato é que houve aumento gra- dativo preparados para exercer o poder.
no estudo da ciência política ao passo que a Ele entendia que a aristocracia seria a
sociedade evoluía pa- ra que se pudesse melhor forma de governo, pois seria o
entender o proces- so no qual se estava governo dos melhores, e os melhores seriam
inserido. os filósofos, até por uma questão de menor
Saber o contexto no qual se estava propensão à corrupção.
inserido, a forma como se davam os processos Na idade antiga, a filosofia era
políticos foram os fatores primordiais no entendida como uma ciência, assim na
despertar de interesse da sociedade no estudo concepção de Bonavides:
da ciência política.
Desde a mais alta antiguidade
clássica, principalmente desde
Sócrates, Platão e Aristóteles, os
assuntos políticos impres- sionam
o gênero humano, se- quioso de
conhecê-los e apro- fundá-los.5

Na Europa medieval, como afirma


Paulo Bonavides, a Filosofia se funde com a
teologia ao se ocupar de temas políticos.

8
E quando estes se definem, mo- A sociologia, é um dos aspec- tos que são
derna e contemporaneamente,
relevantes para esse es- tudo.
numa ciência já organizada e
autônoma, conservam alguns de Para tanto, é necessário obser- var a
seus cultores a posição tra- historicidade da evolução polí- tica no âmbito
dicional de prestígio de análise sociológico.
filosófica, dando nos manuais,
tratados e compêndios de ciên- cia Com efeito, na sociologia po-
política lugar sempre hon- roso e lítica de Max Weber, abre-se o
destacado, senão por ve- zes capítulo de fecundos estudos
predominante, ao aspecto pertinentes à política científica, à
estritamente filosófico dos pro- racionalização do poder, à le-
blemas.6 gitimação das bases sociais em
que o poder repousa: inquire-se ali
Alguns pensadores de língua inglesa e da influência e da natureza do
aparelho burocrático; inves- tiga-
francesa impulsionaram a ciência política sob
se o regime político, a es- sência
a óptica da filo- sofia. dos partidos, sua orga- nização,
Entretanto não se pode estag- nar nas sua técnica de combate e
concepções filosóficas, em- bora seja de proselitismo, sua liderança, seus
extrema importância e o fato que impulsionou programas; interrogam-se as
o estudo da ciência política, outros aspectos formas legítimas de autori- dade,
como autoridade legal, tradicional
também são de suma importância nesse
e carismática; in- daga-se da
estudo. administração pú- blica, como
nela influem os atos legislativos,
A Sociologia como Aspecto da ou como a força dos parlamentos,
Ciência Política sob a égide de grupos
socioeconômicos pode-
rosíssimos, empresta à demo-
cracia algumas de suas peculia-
ridades mais flagrantes.7

A sociologia, assim como a fi- losofia,


faz parte do estudo da ciên- cia política.
O estudo da sociedade, da sua forma
de organização, das relações sociais, da
cultura, etc., é extrema- mente importante
para se compre- ender os processos sociais
que im-

9
pulsionaram o desenvolvimento da ciência política através dos anos.
Esse estudo é de suma impor- tância, pois não é possível falar de ciência política, sem falar da
socie- dade, da sua forma de organização, cultura e os demais aspectos trazi- dos pela sociologia à
ciência política. Não há o que se falar em ciên-
cias sociais sem falar no povo que a compõe, em sua cultura ou seu con- ceito de justiça.
E é exatamente esse o objeto de estudo da sociologia.

Juridicidade como Aspecto da Ciência Política

Segundo os que defendiam a ideia de ciência política em seu as- pecto jurídico, nesse contexto,
o seu estudo era considerado “simples corpo de normas”.
Tendência de cunho exclusiva- mente jurídico vem represen- tada por Kelsen, que constrói
uma Teoria Geral do Estado, onde leva às últimas conse- quências, no estudo da princi- pal
instituição geradora de fe- nômenos políticos, o seu forma- lismo de inspiração kantista e
funda em bases estritamente monistas, de feição jurídica, a nova teoria que assimilou o Es-
tado ao Direito e tantos protes- tos arrancou de filósofos e pen-
sadores durante as últimas dé- cadas.8

Hans Kelsen, foi um impor- tante filósofo e jurista austríaco au- tor de vários livros e
conhecido prin- cipalmente por desenvolver a pirâ- mide escalonada que leva seu nome e que retrata
a subsidiariedade das normas de um Estado.

A doutrina de Kelsen tem sua originalidade em banir do Es- tado todas as implicações
de or- dem moral, ética, histórica, so- ciológica, criando o Estado co- mo puro conceito,
agigantan- do-lhe o aspecto formal, retin- ta-mente jurídico, escurecendo a realidade
estatal com seus elementos constitutivos, mate- riais, conforme vimos. Chega à
hipertrofia, já descomunal, do elemento formal — o poder, posto que dissimulado este
na santidade inviolável de normas concebidas como direito puro.9

Nas concepções de Kelsen, conforme aponta Paulo Bonavides, o Estado deve ser visto de
forma a não levar em conta os aspectos filosó- ficos e sociológicos, e sim como di- reito puro.
Dessa forma deveria afastar também as concepções éticas, mo- rais e históricas,
restringindo-se aos aspectos jurídicos formais.

10
Essa teoria criada por Kelsen, foi Dessa forma pode-se obser- var a
amplamente criticada por parte da doutrina. relevância encontrada em estu- dar a ciência
Essa crítica se deu, em razão de tornar política nos seus mais diversos aspectos.
os juristas sem preceitos éticos e morais e de Isto porque a ciência política engloba
apagar as raízes históricas que se deram no aspectos filosóficos, sociológicos como acima
estudo da filosofia e sociologia, se aplicasse estudado, e não somente o aspecto jurídico
somente o aspecto jurídico da ciência política. como apontado por Hans Kelsen.
Há uma enorme diferenciação entre os
doutrinadores e escritores que versam sobre
ciências políticas. Não há portanto um
conceito único, ou ao menos que aborde os
três aspectos envolvidos em seu es- tudo, ou
voltam para o lado jurídico
ou para o lado da filosofia.
Para estes era de suma impor- tância Esse posicionamento varia de um país
preservar as origens da ciên- cia política, bem ou região para a outra, bem como no
como um estado com princípios éticos e posicionamento do escri- tor.
morais, pois sem estes considerava-se Fato é que não há um consenso entre os
impossível um estado justo e voltado ao bem escritores sobre a aborda- gem dos três
comum. aspectos: filosófico, jurídico e sociológico.
Entendiam que um estado que não
Nem sequer a respeito do nome
observava os demais aspectos da ciência
pelo qual possamos todos reco-
política, não seria um go- verno para o povo e nhecê-la. No mundo anglo-
haveria grandes chances de ser inescrupuloso americano, a Ciência Política ou
e se atentar somente a sua vontade e o bem versa a experiência política vivi-
pessoal. da e acumulada nas instituições
(onde as forças políticas com-
petitivas impõem os interesses em
jogo), com feição de estudo
pragmático, ou despreza forte-
mente o lado teórico.10

11
A ciência Política e Direito Daqui se pode extrair também a
Constitucional fecunda dedução de que, quan- to
menos desenvolvida a socie- dade,
Cabe ressaltar, já de início, que embora quanto mais grave seu atraso
a ciência política e o direito constitucional econômico, mais instá- veis e
sejam coisas diferen- tes, em muitos aspectos oscilantes as instituições políticas.
se encon- tram e por vezes até se confundem, Do mesmo passo, me- nos amplo
mostrando-se a necessidade de tra- zer e eficaz será então o Direito
apontamentos sobre seu con- teúdo, bem Constitucional em sua capacidade
de organizar insti- tuições que
como fazer diferencia- ções. abranjam de modo efetivo toda a
esfera de com- portamento e
decisão do grupo político.11

No Brasil, com a volta da de-


mocracia, logo após o período dita- torial, foi
o ponto crucial, pois foi saindo do período
ditatorial que o direito constitucional
começou a caminhar para se tornar autônomo.
Antes desse período o direito
A ciência política e o direito constitucional era visto e ensinado como parte
constitucional tiveram sucessivas da ciência política.
aproximações e afastamento ao lon- go dos Após essa enorme mudança no Brasil,
anos não houve espaço para se questionar as suas
Segundo Bonavides pode se deduzir raízes históricas ou discussões filosóficas do
que as instituições políticas são mais instáveis controle de constitucionalidade. O mesmo
e oscilantes de acordo com o seu atraso ou aconteceu com outros países.
evolução econômica, e de forma direta atinge Logo após a separação entre a ciência
o Direito Constitucional, como se explica no política e o direito constitu- cional, o
trecho a seguir: neoconstitucionalismo e a teoria dos direitos
fundamentais se agregaram à constituição e
surgiram dúvidas sobre o procedimento e a
organização, principalmente com essas novas
integrações.

12
Não foi colocada em debate a comunicar com a ciência política mas de
legitimidade do controle de consti- forma a não se misturar ou confundir.
tucionalidade, mas sim a sua me- todologia de Entretanto é possível se extrair a partir
uso e suas aplicações, dentro do que chamado das informações expostas até o momento que
de constitu- cionalismo democrático. a ciência política e o direito constitucional,
Essa e outras implicações fize- ram após suas idas e vindas se encontram hoje de
com que o direito constitucional se tornasse forma mais coerente.
ainda mais independen- te em razão de suas O direito constucional ganhou seu
peculiaridades e da necessidade de uma maior espaço e em contrapartida a ciência política se
aten- ção, principalmente ao que diz res- peito tornou uma ciência autônoma.
a metodologia e aplicação do controle de A separação dessas duas ciên- cias não
constitucionalidade. impediu que estas cami- nhassem juntas,
A separação que pode se dizer que até portanto, embora no momento atual sejam
o momento se deu de forma bem teórica conside- radas como sendo duas ciências
trouxe a afirmação da constituição como distintas, não é comum que estas sejam
norma, e a im- portância do Supremo estudadas de forma isolada, sem que se
Tribunal Fe- deral na democracia e como mencione e estude a outra, bem como seus
guar- dião da Constituição e de suas com- conceitos históricos, suas raízes e a ligação
petências e minimizando as dúvidas sobre a entre as duas desde o nascimento.
metodologia do controle de Ainda há divergências sobre a
constitucionalidade e suas implica- ções. separação dessas duas ciências.
Assim ergueu-se um muro entre Para alguns a as duas ciências devem
política e direito, retirando a juridicidade como caminhar de maneira inde- pendente,
aspecto da ciência política. enquanto que para outros as ciências sociais e
Atualmente o direito constitu- cional o direito cons- titucional, embora reconheça
se encontra de forma mais consolidado, e as suas peculiaridades e que não são portanto
portanto não está mais ameaçado, pois neste a mesma ciência, devem caminhar juntas por
mo- mento está com a sua base rígida e fazerem parte do mesmo objeto de estudo.
formada, sendo portanto capaz de se

13
2. A formação do Estado e seus Elementos

Teorias de formação nizou-se socialmente onde deveria haver um

V
poder central, que contro- laria as relações
árias teorias surgiram com o passar dos
entre os componen- tes da sociedade.
anos para tentar ex-
A ideia é a de que o homem precisou
plicar o surgimento do Estado.
organizar-se em sociedade como um instinto
Numa primeira perspectiva, sustenta-
de sobrevivência.
se que o Estado e a Socie- dade, muito
Esta ideia foi muito difundida na
embora sejam entida- des distintas, teriam
Grécia Antiga.
aparecido já nos primórdios das civilizações,
Aristóteles, inclusive, susten- tava que
pois o homem, ser social que é, desde que
o homem, para viver fora da sociedade, deveria
reuniu-se com outros homens, orga-
ser ou um deus

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ou um bruto. natural necessidade humana, pois percebeu-se
Para outros pensadores, o ho- mem que não seria mais pos- sível a convivência
teria uma vocação inata para viver em em sociedade sem a existência de uma
sociedade. autoridade central, uma estrutura de poder que
O ser humano, normalmente, seria um pudesse resolver os litígios existen- tes entre
ser frágil, que precisaria da proteção da os componentes da socie- dade, preservando-
Sociedade para poder sobreviver. se, desta forma, a paz social e o bem comum.
Em sentido contrário, existiu outra É preciso mencionar, ainda, que uma
corrente que sustentou a tese de que Estado e terceira corrente de pensa- mento entende que
Sociedade surgiram em momentos distintos. somente se pode falar no surgimento do
Esta cor- rente afirmava que o surgimento do Estado a par- tir do momento em que as
Estado não se deu propriamente pela socieda- des adquiriram forma política, com
necessidade de convivência dos homens entre características bem estruturadas e
si, mas, sim, pela cres- cente complexidade das diferenciadas.
relações so- ciais, o que levou ao surgimento Segundo os pensadores desta corrente,
de conflitos no seio social, conflitos es- tes encabeçada por Karl Schi- midt, somente é
que deveriam ser resolvidos para que não possível falar em surgimento do Estado a
houvesse ameaça à paz da comunidade. partir do momento que surge a ideia de sobe-
Desta forma, separando-se o momento rania aliada a seu efetivo exercício.
de surgimento do Estado e da Sociedade, A discussão sobre o momento em que
obviamente quebra- se a ideia de um se pode dizer que houve o surgimento do
surgimento linear do Estado. Estado ainda perma- nece.
Explica-se. Quanto à forma de surgimento do
Uma vez que o surgimento do Estado Estado, podemos destacar dois ti- pos:
se daria em razão da neces- sidade de
pacificação dos conflitos sociais, com o  Originária, onde o Estado sur- ge a
consequente regra- mento das relações partir de agrupamentos humanos que
humanas, cada Estado teria seu próprio até então ainda não tinham sido
tempo, por assim dizer, de surgimento. organizados; e
A formação dos Estados, por- tanto,
obedeceu a uma gradativa e  Derivada, onde o Estado sur-

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ge a partir da fragmentação ou fusão aqui, o núcleo formador do Estado se
de outros Estados já an- teriormente
encontra na família.
existentes.
Para outros, a formação do Es- tado se
A corrente da formação origi- nária do deu em razão de relações de força e de
Estado subdivide-se, ainda, em dois grupos: dominação. Portanto, pa- ra os defensores
desta teoria, o Es- tado teve sua gênese por
Teoria da formação natural: causa de atos de força, de violência ou de
con- quista. Defende-se que os grupos mais
Os adeptos dessa teoria sus- tentam fortes, por meio da guerra e do poderio
que a formação do Estado se dá de forma militar, conquistavam e subjugavam os
natural, prescindindo, portanto, de qualquer grupos mais fracos, como forma de conquista
ato humano neste sentido. Não haveria, de ter- ritório e, consequentemente, de ter- ras
portan- to, um “contrato social” para a for- e de riquezas naturais. Neste ce- nário, o
mação do Estado. Justamente pela negação do Estado surge como forma de monitorar de
contrato social, esta cor- rente é também forma mais eficiente o grupo social
chamada de “não contratualista”. subjugado, para que fosse possível uma
Uma vez que não teria tido um ato melhor explora- ção econômica por parte do
volitivo direcionado especifica- mente para a grupo explorador.
formação do Estado, os adeptos desta teoria Para outros, ainda, a formação do
passaram a des- crever possíveis formas de Estado teve origem em um viés econômico. A
surgi- mento do mesmo. partir do momento em que houve o aumento
Para alguns, a origem se deu de forma das necessida- des materiais tendentes a
familiar ou patriarcal. Sustentam os propiciar a sobrevivência humana, e, ainda,
defensores desta cor- rente que, com o passar face à complexidade das relações sociais que
dos anos, houve uma expansão das famílias, criaram litígios no seio da socie- dade, foi
as quais formaram verdadeiros com- plexos necessário que os homens organizassem-se de
organizacionais, onde existia uma verdadeira modo que fosse possível otimizar o
estrutura social e funcional, com a repartição aproveitamento e o uso dos bens retirados da
de ativi- dades e funções observando-se as nature- za, e, ainda, com o desiderato de me-
aptidões de cada membro. Destarte, lhor repartir esses produtos entre os membros
do corpo social. Aliás, cos-

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tuma-se afirmar que o precursor desta teoria foi o filósofo grego Pla- tão, que, em sua obra ‘A
República’, disse que “um Estado nasce das ne- cessidades dos homens; ninguém basta a si mesmo,
mas todos nós precisamos de muitas coisas”.
Marx e Engels também foram pensadores que defenderam a ori- gem do Estado sob o viés
econômico. A propósito, este último afir-
ma, em sua obra ‘A Origem da Fa- mília, da Propriedade Privada e do Estado’ que “o Estado é antes um
produto da sociedade, quando ela chega a determinado grau de desen- volvimento”. 13
Ainda dentro da teoria não contratualista do Estado, alguns pensadores defendem que a gênese
do Estado se deu pelo próprio desen- volvimento interno da sociedade. Afirmam estes que apenas dentro
de sociedades que possuem um grau maior de desenvolvimento é que ha- veria de fato a necessidade de
cria- ção do Estado. Este atuaria como forma de controle das condutas so- ciais e ainda como guardião
da paz social.
A propósito das teorias não contratualistas, cite-se:
Várias teorias tentam explicar e justificar a origem do Estado. Com efeito, além da
perspectiva contratualista – mais em voga – poderiam ser mencionadas ou- tras
vertentes de explicação da origem do Estado e do poder político que não esse “consenso
contratualista”, tais como a de Augusto Comte (a origem esta- ria na força do número
ou da riqueza), a de algumas corren- tes psicanalíticas (a origem do Estado estaria na
morte, por homicídio, do irmão ou no com- plexo de Édipo), a de Gumplo- wicz (o
Estado teria surgido do domínio de hordas nômados violentas sobre populações ori-
entadas para a agricultura).14

Teoria da formação contratual:

Para os defensores desta teo- ria, a formação do Estado se deu pe- la vontade dos indivíduos,
uma vez que cresciam os litígios entre os in- tegrantes, e uma vez que as relações sociais tornavam-
se cada vez mais complexas.
De forma resumida, estas são as correntes de pensamento que procuram explicar como foi
que sur- giram os Estados, de forma originá- ria.
Como visto, para além da for- mação originária do Estado, temos

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também a formação derivada.
Neste tipo de formação estatal, um novo Estado é criado a partir de outro ou outros Estados já
existen- tes.
A formação derivada pode se dar por meio da fragmentação, onde há uma separação de grupos
sociais do Estado originário, criando Esta- dos independentes.
Podemos citar como exemplos de tal forma, a independência das colônias americanas dos
Estados europeus.
A partir do momento em que as colônias adquiriram independên- cia econômica e financeira das
me- trópoles, novos Estados foram se formando.
A formação derivada do Esta- do também pode se dar por meio de união, onde Estados que já
existiam unem-se entre eles e formam uma nova figura política, observando-se que, neste caso, há a
supressão de diferenças étnicas, econômicas e culturais dos Estados que foram incorporados a outros.
Para Lenio Streck, analisando- se as teorias explicativas e justifi- cadoras, “é possível afirmar
que o Estado é um fenômeno original e histórico de dominação. Cada mo- mento histórico e o
correspondente
modo de produção (prevalecente) engendram um determinado tipo de Estado.”15
O Estado moderno para ele, portanto, tem a sua gênese em razão das necessidades do
capitalismo as- cendente, ainda nos tempos medie- vais.
Destarte, o Estado não segui- ria uma evolução linear, que o con- duziria ao
aperfeiçoamento. Seriam as condições econômico-sociais que ditariam a forma de dominação efi-
ciente para que fossem atendidos os interesses das classes hegemônicas. Neste viés, o Estado
surgiriam como uma forma de dominação.

As classes hegemônicas é que ditariam as regras do Estado, para que fossem mantidos os
seus inte- resses, em detrimento dos demais.
O Estado, na teoria contra- tualista, teria um sentido instru-

19
mental, ou seja, seria fruto da cria- ção Essa tomada de posição coloca termo
racional dos homens, com o ob- jetivo de ao estágio pré-político (estado de natureza) e
servir de instrumento para o atingimento de deflagra o início da sociedade política (estado
fins determinados já desde o momento civil).
condicionante de sua criação. Para os autores dessa escola de
Por outro lado, a corrente não pensamento, o estado de natureza, ou estado
contratualista, também conhecida como pré-político, possui defi- ciências por ser
orgânica, sustenta que o es- tado social seria encarado apenas co- mo um fato histórico,
natural ao homem. Esta posição é conhecida uma ocor- rência natural, e, para suprir estas
como Es- tado Natural, ou seja, o Estado seria deficiências, a razão humana pres- supõe o
fruto natural do agrupamento do homem em estado civil, ou estado con- tratual.
sociedade, não existindo qualquer ato volitivo O Estado Civil, portanto, surge como
direcionado es- pecificamente para este fim. uma forma de legitimar o po- der político
Passa-se, portanto, do Estado Natural, porque, anote-se, a par- tir do momento que se
para, com o surgimento das teorias encara o Es- tado como um acordo de
contratualistas, o início do Estado Social e vontades, tácito ou expresso, dos membros da
Político. comunidade, todos devem subme- ter-se ao
Os teóricos contratualistas, em verdade, seu poder, pois não há co- mo voltar atrás de
colocaram como fruto de um acordo de algo que se acor- dou.
vontades, seja ele tá- cito ou expresso, tanto a Concluindo este raciocínio, na mesma
origem do Estado como também o esteira de pensamento, Le- nio Streck leciona:
fundamento do poder político.
Pode-se dizer, então, que: A – o
estado de natureza, como hipó-
tese lógica negativa, reflete co-
mo seria o homem e seu conví-
vio fora do contexto social; B – o
contrato representa o instru-
mento de emancipação em face do
estado de natureza e de legi-
timação do poder político; e C – o
estado civil, portanto, surge como
uma criação racional, sustentado
com consenso dos indivíduos.

20
Passemos, então, a analisar o Estado descreve que, em seu estado de na- tureza, “o
de Natureza. homem é o lobo do ho- mem”.
O Estado de Natureza, segun- do o Nesta perspectiva, o estado ci- vil seria
pensamento dos seus defenso- res, seria uma uma necessidade, para con- ter o ego dos
hipótese lógica nega- tiva. Com isto quer homens e propiciar, desta forma, a paz social.
dizer-se que ele não existe de per si, mas O Leviatã seria um monstro que deveria ser
como opo- sição ao estado civil. Se um responsável por amedrontar os ho- mens, de
indiví- duo está fora do Estado Civil, ele es- forma que estes não des- respeitassem as
taria, logicamente, no Estado de Na- tureza. regras impostas pa- ra uma convivência
O Estado de Natureza tem o objetivo harmônica tanto quanto possível, evitando-se
primordial de justificar ou de legitimar a assim, a guerra de todos contra todos.
existência de uma so- ciedade organizada Para Hobbes, a natureza do homem é
politicamente, pois tem o objetivo de egoísta, de modo que a tendência é que um
demonstrar o que seria o homem fora do tente impor ao outro a sua vontade. Para
contexto político, ou seja, fora de uma socie- evitar-se o extermínio dos indivíduos, estes
dade politicamente organizada para a re- alizam um acordo de paz, ou o con- trato
consecução da paz social. social, e, para que este contrato social seja
É importante anotar que a ideia de respeitado, Hobbes de- fende a existência de
como seria este estado de natureza não é um soberano (ou Leviatã), que puna aqueles
consensual. Com isto quer-se dizer que a que transgredirem as regras instituídas para o
forma como os pensadores contratualistas convívio social.
enxer- gam o tal estado não é a mesma. Não há qualquer dificuldade em se
Alguns contratualistas, a e- xemplo de concluir que este autor, des- tarte, utiliza a
Thomas Hobbes e Spi- noza, entendem que o ideia (ou ficção) do es- tado de natureza para
estado de na- tureza nada mais é do que o caos, justificar ou legitimar a existência de um
um estado de guerra, onde predominam as poder central absoluto.
paixões e não há qualquer im- pedimento para Esta visão do homem selva- gem em
que ocorra a vitória do mais forte, numa seu estado de natureza foi muito utilizada para
guerra de todos contra todos. Aliás, é bom justificar a exis- tência de um soberano
ressaltar que Hobbes, em sua obra ‘O Leviatã’ absoluto,

21
pois, somente havendo um poder central instabilidade política presente no estado
absoluto é que seria evitada a guerra civil. medieval levou à necessidade de uma teoria
A teoria contratualista hob- besiana para justificar a reu- nião dos indivíduos sob
tomou corpo no início da sociedade um poder soberano e único, unificando,
politicamente organizada, com o surgimento assim, a sociedade.
dos Estados abso- lutos. Por outro lado, em sentido dia-
O rei absoluto não conhecia qualquer metralmente oposto, Jean Jacques Rousseau
impedimento para exter- nar a sua vontade, defende que o homem, em seu estado de
que era imposta aos súditos. Note-se que o natureza é puro, é bom.
absolu- tismo aparece no início da idade mo- O estado de natureza, na visão de
derna, estando atrelado, portanto, ao final da Rousseau, é um estado de felici- dade, plena e
idade medieval, que tinha por característica comum, sendo que esta felicidade seria o
vários poderes descentralizados. estado primi- tivo da humanidade.
Como bem ressaltado por Len- nio A partir do momento em que o ser
Streck, o estado medieval tinha por humano reúne-se em uma socie- dade, ele
características: encontra-se preso a ferros, onde o
estabelecimento da proprie- dade privada atua
A – permanente instabilidade
no sentido de des- virtuá-lo. A propriedade
política, econômica e social; B –
distinção e choque entre poder privada, portanto, corrompe o homem de seu
espiritual e poder temporal; C – estado natural, e o torna mau.
fragmentação do poder, me- O mito do bom selvagem é utilizado para
diante a infinita multiplicação de denotar a existência de um ser humano puro,
centros internos de poder político, inocente em seu es- tado natural.
distribuídos aos no- bres, bispos, A partir do momento em que ele é
universidades, rei- nos,
corrompido pela propriedade privada, ele
corporações, etc.; D – sis- tema
jurídico consuetudinário torna-se mau, exsurgin- do-se daí a
embasado em regalias nobiliár- necessidade do Estado para regular a
quicas; E – relações de depen- propriedade privada, e, portanto, evitar a
dência pessoal, hierarquia de guerra civil.
privilégios. Podemos estabelecer, portan- to, três
estágios no pensamento de Rousseau: um
Neste contexto, o estado civil se
estado de natureza,
apresenta como uma forma de or- ganizar
politicamente uma socieda- de sob um poder
central. A crescente

22
onde os seres humanos são inocen- tes, puros Percebe-se que entre o contra-
e bons; o surgimento da sociedade civil como tualismo de Hobbes e Rousseau existe um
algo negativo, pois retira do homem a pureza abismo, estando cada um em um extremo do
e a bondade, tendo a propriedade priva- da pensamento.
como o centro da corrupção hu- mana; e um Assumindo uma posição inter-
terceiro estágio, que é o do estado civil, que mediária, fazendo uma espécie de síntese
surgem para re- gular a propriedade privada. entre o pensamento de Hob- bes e Rousseau,
Enquanto que Hobbes defen- dia que a surge a teoria com- tratualista de John Locke.
monarquia absolutista se- ria o sistema Para este pensador, o estado de
político ideal, pois a existência de natureza nem é a guerra de todos contra todos
concorrência do poder poderia causa a guerra e nem é um estado de felicidade plena. O
civil, Rousseau defendia que a República estado de natu- reza seria um estado em que
seria a forma ideal de se governar. haveria uma certa paz relativa. Nele os ho-
Para Rousseau, sendo a pro- priedade mens possuiriam um domínio ra- cional das
privada o principal fator de corrupção paixões e dos interesses, até um certo ponto,
humana, o estado deveria preservar a res pois a razão per- mitiria que os homens
pública, ou a coisa pública, destruindo, de tivessem uma percepção acerca de limites à
certa forma, a noção de propriedade privada ação humana, e estes limites seriam os
ab- soluta. direitos naturais.
Esta ideia de propriedade pri- vada Contudo, muito embora os ho- mens
servindo a fim social deitou raí- zes na ideia possuam esta paz relativa, não haveria alguém
que hoje temos de fun- ção social da que pudesse servir para colocar termo aos
propriedade. litígios que porventura viessem a existir no
Enquanto que o liberalismo pregava a seio social.
propriedade privada abso- luta, com o advento E é neste contexto que surge o contrato
do estado social, passou-se a defender a ideia social segundo pensamento de Locke.
de que a propriedade privada deveria cum- O estado civil, nesta perspec- tiva,
prir uma função social. surge para que haja um ente que possa impor
O poder do proprietário não poderia o cumprimento de decisões, colocar fim aos
ser exercido em confronto com o bem litígios, e evitar a guerra civil.
comum.

23
Muito embora haja essa diver- gência que é o receptor dos poderes a ele transferidos
exposta entre o pensamento desses três pelos indivíduos, sen- do, portanto, o
autores, há um ponto em comum: o estado responsável por res- guardar a segurança da
surgiria como for- ma de um acordo de sociedade, e a preservação da espécie,
vontades entre seus indivíduos, para regular o evitando a guerra civil.
bem estar social. É interessante trazer à colação a letra
O contrato social seria, por- tanto, o do pacto estabelecida por Hobbes, que cada
que permitiu a passagem do estado de um dos integran- tes da sociedade deve dizer:
natureza para o estado civil: antes do contrato
social, existia o estado de natureza; após, Cedo e transfiro meu direito de
passou a existir o estado civil. governar-me a mim mesmo a este
A teoria contratualista serve, portanto, homem, ou a esta assem- bleia de
para legitimar e para jus- tificar a existência homens, com a condi- ção de
do Estado. transferires a ele teu di- reito,
autorizando de maneira
Mas qual seria o conteúdo des- te
semelhante todas as suas ações.
pacto, desse acordo ou contrato? Para Feito isso, à multidão assim unida
Hobbes, os indivíduos transfe- rem, a partir numa só pessoa se chama Estado,
do contrato social, to- dos os seus poderes em latim civitas. É esta a geração
enquanto socie- dade para outrem (o daquele grande Le- viatã (...). É
soberano) em troca de segurança e com o nele que consiste a essência do
objetivo de preservação da espécie. Estado, a qual pode ser assim
definida: uma pessoa de cujos atos
Isto é: para que haja o fim da guerra de todos uma grande multi- dão, mediante
contra todos, existe uma re- núncia pelos pactos recípro- cos uns com os
indivíduos do exercício direto do poder, para outros, foi insti- tuída por cada um
que haja a pro- teção dos mesmos pelo como autora, de modo a ela poder
Leviatã, ou soberano. usar a força e os recursos de
Segundo a concepção de Hob- bes, todos, de ma- neira que considerar
conveni- ente, para assegurar a
expressa em sua obra ‘O Levia- tã’, o Estado
paz e a defesa comum. Àquele que
é colocado na figura de um “deus mortal” é portador dessa pessoa se chama
(soberano), que se encontra abaixo do “deus soberano e dele se diz que possui
imortal”, poder soberano. Todos os
restantes são súditos.

Por outro lado, segundo a teo- ria


contratualista de John Locke, os poderes não
seriam transferidos de

24
forma total para o poder soberano. Este estaria limitado e circunscrito à proteção dos direitos já
existentes no estado de natureza.
Os direitos naturais do homem seriam o limite do poder do Estado, e a preservação dos mesmos
seria a finalidade deste.
Portanto, o Estado surgiria co- mo uma forma de preservar e con- solidar os direitos naturais já
exis- tentes, e como forma de evitar a ge- neralização dos conflitos que por- ventura surgissem no seio
da socie- dade. Aqui, a vontade do soberano não é a vontade do Estado. Passa-se a privilegiar a
vontade da maioria.
Não é difícil anotar que a teo- ria contratualista de Hobbes serviu para justificar o poder
autoritário, enquanto que a teoria contratualista de Locke privilegiava a vontade do povo, da maioria,
como vontade po- lítica.
Percebe-se bem que, no caso da teoria hobbesiana, o contrato so- cial transfere ao soberano um
poder ilimitado, sem qualquer limitação ou vínculo com direitos naturais. O soberano tudo pode. Não
existe ne- nhum parâmetro para a ação estatal, na medida em que, exceto com rela- ção à vida, os
indivíduos transferem
todos os demais direitos ao alvedrio do governante.
Nas palavras pontuais de Lê- nio Streck:

O Estado e o Direito se cons- troem pela demarcação de limi- tes pelo soberano que, por
não ser partícipe na convenção ins- tituidora e, recebendo por todo desvinculado o poder
dos indi- víduos, tem aberto o caminho para o arraigamento de sua so- berania.

Em contrapartida, no pensamento de Locke, a preservação dos direitos naturais são a tônica da


passagem do estado de natureza para o estado civil. Locke afirma que somente com a criação do
Estado é que os direitos naturais serão garantidos de forma mais eficaz. Portanto, o contrato social
na visão de Locke é traçado pelos direitos naturais, e o poder político é por eles delimitado.
O pensamento de Locke foi a base do pensamento liberal, uma vez que o poder do estado encontraria
limites nos direitos que os indivíduos já possuíam.
Nas próprias palavras do pen- sador:
A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liberdade natural e
re- vestir-se dos elos da sociedade

25
civil é concordando com outros condição de fruição de tais direitos por parte
homens em juntar-se e unir-se em
dos indivíduos. Não há ali- enação de direitos
uma comunidade, para vi- verem
confortável, segura e no contratualis- mo pensado por Locke, ao
pacificamente uns com os ou- contrário do contratualismo Hobbesiano. E-
tros, num gozo seguro de suas xiste, sim, a abdicação do “fazer justiça com
propriedades e com maior se- as próprias mãos”.
gurança contra aqueles que de- la A ideia de poder estatal pre- gada por
não fazem parte.18 Locke é a de um poder li- mitado,
circunscrito. Enquanto que para Hobbes o
O pensamento liberal, da mes- ma erro do governante estaria na fraqueza, para
forma que Locke, entende que a intervenção Locke o er- ro do governante estaria no
estatal deve se dar de forma mínima, e que o excesso, no agigantamento do Estado inva-
poder do es- tado encontra limites nos direitos dindo a esfera de direitos naturais dos
privados das pessoas. indivíduos, sendo que, no caso de excesso,
O contrato social, na percep- ção de Locke admitia o direito de resistência contra a
Locke engendra duas faces: a de associação, tirania.
quando se forma a so- ciedade civil, Estamos, repita-se, diante de dois
agregando-se os indi- víduos; e a de extremos quando comparamos as teorias
submissão, que é quando aparece o poder contratualistas de Hobbes e de Locke.
político, poder este que já nasce limitado O primeiro é o pai do autori- tarismo.
pelos direitos naturais. E o segundo é o pai do libe- ralismo.
Destarte, o ser humano não entraria no Um defende o Estado sem qualquer
estado civil de mãos va- zias, mas sim, limite, enquanto que o ou- tro defende um
trazendo consigo to- dos os direitos que já Estado limitado nos direitos naturais e
possuía no es- tado de natureza. individuais dos indivíduos.
Pode-se concluir a partir daí, que os Ainda podemos encontrar na obra de
direitos naturais exercem uma dupla função Locke a defesa de um con- trole do Executivo
no estado civil: por um lado, atuam como pelo Legislativo, e o controle social do
inibidores do poder estatal, que não pode des- governo.
respeitá-los. Por outro lado, obri- gam o
Estado a propiciar a máxima

26
Nas palavras dele, “porque o consenso de preservarem suas vidas,
é dado aos governantes so- mente sob a transferem a outrem não partí-
condição de que exer- çam o poder dentro dos cipe (homem ou assembleia de
limites esta- belecidos”.19 homens) todos os seus poderes
– não há, ainda, que se falar em
Norberto Bobbio ainda lecio- na, de direitos, pois estes só aparecem
forma precisa, que: com o Estado. Ou seja: para pôr
fim à guerra, despojam-se do que
(...) através dos princípios de um possuem em troca da segu- rança
direito natural preexisten- te ao do Leviatã. Contrapondo Hobbes,
Estado, de um Estado ba- seado para Locke, o poder es- tatal é
no consenso, de subor- dinação do essencialmente um po- der
poder executivo ao poder delimitado. O erro do sobe- rano
legislativo, de poder limi- tado, de não será a fraqueza, mas o
direito de resistência, Locke expôs excesso. E, em consequência, para
as diretrizes fun- damentais do isso, admite o direito de
estado liberal [...]. 20 resistência. A soberania abso-
luta, incontrastável, do primei- ro
Locke, portanto, defende o que cede passo à teoria do pai do
podemos chamar de jusnaturalismo individualismo liberal, na qual
ainda consta o controle do Exe-
contratualista, sendo que o Estado, portanto,
cutivo pelo Legislativo e o con-
seria um exercício racional que encontraria sua trole do governo pela sociedade
razão de ser e seu fundamento na necessidade (cernes do pensamento liberal).
de proteção dos direitos naturais e da Altera-se o conteúdo do contra-
liberdade dos indivíduos. to, se comparado com Hobbes.
Para bem fixar o exposto aci- ma, Em Locke, a existência perma-
ressalte-se a precisa lição de Le- nio Streck: nência dos direitos naturais cir-
cunscreve os limites da conven-
Resumidamente, pode-se reto- ção e do poder dela derivado. O
mar este debate para dizer que, pacto de consentimento que se
para Hobbes, o contrato social, à estabelece serve para preservar e
maneira de um pacto em favor de consolidar os direitos preexis-
terceiro, é firmado entre os tentes no estado natural. A con-
indivíduos que, com o objetivo venção é firmada no intuito de
resguardar a emersão e a gene-
ralização do conflito. Através
dela, os indivíduos dão o seu
consentimento para a entrada no
estado civil e, posterior- mente,
para a formação do go- verno
quando, então, se assume
princípio da maioria.

27
Feitas essas colocações acerca do contratualismo pregado por Hob- bes e por Locke, resta ainda
analisar o contratualismo de Rousseau.
Antes de qualquer coisa, é im- portante anotar que Rousseau en- tendia que a pessoa que
verdadeira- mente fundou a sociedade civil foi o primeiro que delimitou um terreno e disse ‘isto aqui é
meu’. Ou seja, a so- ciedade civil nasceu com a proprie- dade privada, e esta última foi a cau- sadora da
desigualdade social. A desigualdade, por sua vez, é a causa primária da hostilidade entre os ho- mens.
Enquanto Hobbes afirmava que o homem é o lobo do homem, Rousseau defendia que, na
verdade, era a sociedade que transformava o homem em lobo do homem. O ho- mem seria, portanto,
corrompido pela sociedade. E, para reparar este mal que a sociedade fazia ao ho- mem, necessário que
este se organi- zasse politicamente para que o Esta- do garantisse a sua liberdade.
A sociedade criava no homem instintos e ‘apetites’ que este não possuía no estado natural. O
Estado seria a correção para este mal, pois, uma vez vivendo em uma sociedade civil, o homem teria
que deixar de lado seus instintos e seus apetites
para pensar coletivamente. O individualismo deveria ser deixado de lado para que houvesse a paz
social e a busca do bem comum.
Veja-se as palavras de Rous-
seau:

No entanto, ainda que esse no- vo estado acarrete privações de muitas das vantagens que
lhe concede a natureza, obtém compensações muito grandes, suas faculdades se
exercitam e se ampliam, suas ideias se de- senvolvem, seus sentimentos se enobrecem e
sua alma se eleva até um grau tal que – se o mau uso da nova condição com fre- quência
não lhe aviltasse, fa- zendo que se situe mais abaixo de seu estado originário – teria que
agradecer sem parar o feliz instante em que foi arrancado para sempre daquele lugar,
convertendo o animal estúpido e limitado que era, em um ser inteligente, em um
homem.22

Percebe-se claramente o que se expôs anteriormente: o Estado surgiria como forma de


reparar o mal que a propriedade privada causou ao homem.
Este Estado, segundo a sua concepção, seria regido pela vontade geral. Em seu entender, a
vontade particular encontra-se eivada de ví- cios e de egoísmos, pois estaria voltada unicamente
para a proteção

28
dos interesses particulares. Já a mum, lançou as bases do pensamen- to
vontade geral, ao contrário, estaria voltada democrático.
para a consecução do bem comum, este sim Feitas essas considerações a- cerca das
objetivo do Estado. É bom que se diga que teorias sobre a origem do Estado, passa-se a
o Es- analisar os seus elementos.
tado, na concepção de Rousseau, não tem Voltando um pouco ao que já foi
como característica a sub- missão dos exposto, foi visto que as socie- dades
governados, mas, sim, a união entre eles. medievais caracterizavam-se pela
Todos seriam iguais, e não haveria que descentralização do poder polí- tico. Não
se falar em propriedade privada, mas em res havia um poder centra- lizado, mas sim a
pública. Tudo seria público em sua existência do po- der difuso, dividido em
concepção. Neste ponto difere-se de Locke feudos.
por querer a abolição da propriedade privada.
Contudo, da mesma forma que o teórico britâ-
nico, Rousseau entendia que o poder do
Estado encontraria limites no próprio pacto. A
vontade geral é expressa pela lei. A razão de
ser dessa legalidade é impor limites ao poder
político.
Podemos sintetizar o pensa- mento de As deficiências deste modelo medieval
Rousseau dizendo que a vontade geral é o levaram à necessidade de organização política
todo, a abolição do privado. Uma vez que da sociedade sob a autoridade de um poder
exista a prote- ção do bem comum, não cen- tral. Assim, pode-se falar que os ele-
haveria mais espaço para a propriedade mentos materiais do Estado são o povo e o
privada, e para interesses privados. território. Os elementos for- mais seriam o
Pode-se dizer que a grande governo, o poder e a autoridade ou soberano.
contribuição do pensamento de Rousseau para Há quem defenda, modernamente, a existên-
a ciência política é o fato de que a vontade cia da finalidade como elemento do Estado.
geral, assim defendida como a vontade Tal concepção passou a ter espaço a partir da
direcio- nada para a proteção do bem co- ultrapassagem do Estado Liberal para o
Estado Social.

29
3. A Política e o Estado

O
rio, para que se possa entender e ainda
Conceito de Estado é um con-ceito
diferenciar os principais tipos de Estado, uma
amplo que permite várias
vez que dos concei- tos trazidos pelo mesmo,
interpretações. vários se- rão objeto de estudo da ciência po-
Após feitas as devidas conside- rações lítica.
sobre sua formação, será tra- zido ao estudo Dentro dos conceitos à seguir
seus conceitos, bem como suas características expostos, será trazido como objeto de estudo
e termos relacionados para melhor compre- alguns conceitos que põem ser vistos como
ensão do termo. evolução de outros.
A seguir pode se ver os con- ceitos de O Estado vai se dar em dife- rentes
Estado segundo o dicioná- significados, principalmente

31
pela época ao qual se refere, pois ao longo
dos anos o conceito de Estado sofreu 9. luxo, pompa, fausto.
transformações significati- vas. 10. rol, inventário.
A seguir, será estudado alguns
11.condição em que se encontra
conceitos de Estado de forma apro- fundada, um sistema, caracterizada pelo
pois são de suma impor- tância ao objeto do conjunto de todas as suas pro-
estudo e poderá à partir destes se observar as priedades físicas.24
trans- formações históricas deste.
O dicionário, conforme men- cionado Após a exposição dos signifi- cados de
traz como conceito de Esta- do: Estado, será abordado en- tão a sua forma de
surgimento e con- sequentemente os conceitos
1. Conjunto de qualidades ou
características com que as coi- sas desta- cados.
se apresentam; conjunto de O ser humano possui a neces- sidade
condições em que se encontram de se relacionar uns com os outros, desde que
em determinado momento. começou a vida em sociedade.
2. condição física de uma pes- soa Pode-se trazer como marco da vida em
ou animal, ou de alguma parte de sociedade os anos 800 a.c, com surgimento da
seu corpo. “polis”, que eram as cidades-estados gregas.
3. cada um dos grupos so- ciais
existentes na Idade Média, em
particular na monarquia
francesa (cle- ro, nobreza e
povo).
5. país soberano, com es-
trutura própria e politica-
mente organizado.
6. conjunto das institui- ções
(governo, forças ar- madas,
funcionalismo pú- blico etc.) que Com o surgimento da socieda- de e
controlam e administram uma das relações, houve a necessi- dade de
nação. organização dessa coletivi-
7. forma de governo, regi- me
político.
8. divisão territorial de determi-
nados países.

32
dade e da tomada de decisões a par- tir que o Estado surgiu para mediar os interesses
vontade individual combinada com a vontade comuns e individuais, po- de se entender que
do grupo e manter a ordem, ou seja, fazer o Estado surgiu exatamente em razão da
política. política. Sem a existência da política, não
Cada membro dessa socieda- de, existiria também o Estado.
possui interesses diferentes, con- cepções Para que o Estado consiga exercer seu
diferentes de aspectos éti- cos, morais, papel de forma eficaz é necessário que ele
diferentes entendimen- tos de certo e errado, seja soberano, ou seja, aquele que tem o poder
justo e injusto. Onde há um aglomerado de in- supre- mo.
divíduos pertencentes a uma coleti- vidade, Só dessa forma, com o poder
surge também os conflitos e soberano, pode o Estado ser capaz de
a necessidade de solucioná-los. combinar e mediar os interesses individuais e
Há sempre alguém que é res- ponsável coletivos, garantindo a ordem e assim a
pela tomada de decisão em nome da segurança e o bem estar coletivo.
coletividade com o aval dos mesmo para que Para Thomas Hobbes, impor- tante
facilite a vida dentro dessa coletividade. teórico político, o Estado é po- der soberano.
À partir dessa ideia do ser hu- mano
como um ser que vive em cole- tividade O soberano de um Estado, quer
representado por alguém que toma decisões seja uma assembleia ou um ho-
em seu nome pa- ra organizar e coletividade mem, não se encontra sujeito às
que pos- teriormente foi chamada de socieda- leis civis. Dado que tem o poder
de, que surgiu os primeiros resquí- cios de de fazer e revogar as leis, pode
quando lhe aprouver libertar-se
Estado.
dessa sujeição, revogando as leis
A política é uma ciência que surgiu que o estorvam e fazendo outras
anterior ao Estado, ainda quando nem mesmo novas; por consequência já antes
havia definição do mesmo com este nome, em era livre. Porque é livre quem
ou- tras palavras, a política já existia, antes pode ser livre quando quiser. E a
mesmo de se chamar política. ninguém é possível estar obrigado
perante si mes- mo, pois quem
Com essa concepção de que a política
pode obrigar pode libertar,
é anterior ao Estado, e de portanto quem está obrigado
apenas perante si mesmo não está
obrigado. 25

33
“ESTADO = POVO + TERRITÓRIO + CONJUNTO DE NORMAS
UNIVERSAIS (constituição + leis)”

Ainda a partir da concepção de Thomas Hobbes, dente de suas atitudes, não poderia ser
ilustrado na figura acima se pode notar que para considerada injusta, devendo ser respeitada
que haja um Estado é necessário alguns requisitos: por todos os integrantes da coletividade.
unidade de comando, on- de ele é soberano, Thomas Hobbes foi um grande defensor
territorialidade, grupo de pessoas comprometidas do absolutismo, para ele o poder do Estado era
Para Hobbes, o Estado, deten- tor do soberano e indi- visível, essa concepção
poder soberano é detentor de todo o poder, e embora de grande valia para o presente estudo
não sujeito as regras por ele impostas, em e para evolução do conceito de Es- tado, já foi
outras pala- vras, as regras eram impostas a tempos superada.
pelo Estado, porém somente os civis eram os Escritor da obra “O Leviatã”, Hobbes
que deveriam cumpri-las, pois na sua tenta nessa obra justificar a soberania, de
concepção, o Estado co- mo soberano poderia explicar a sobreposi- ção da soberania do
ter qualquer ato, independente das leis, pois Estado, inclu- sive sobre a carta maior: a
se- riam para um bem maior, o bem da Consti- tuição, desde que em nome da co-
coletividade. letividade, em outras palavras, para manter a
Nesta seara, o estado indepen ordem e controlar o povo, pois somente com
um governo sobe- rano isso seria possível.
Hobbes deu uma enorme con-
tribuição social com suas obras. Neste
momento foi citado “O Le- viatã” por causa
de seu conteúdo di- reto na construção do
Estado como poder soberano. Sendo assim é
im- possível falar de Estado sem men- cioná-
lo com a devida atenção, bem como a sua
obra ora citada.

34
conceito.
Após essa mudança na forma de se
viver, a comunidade precisa se organizar, pois
esta precisava se sustentar, proteger de outros
gru- pos, assim surgindo as “polis” como já
explicado acima.
As cidade-estado, ou polis co- mo
também é conhecida, é um con- ceito
utilizado na contemporanei- dade para assim
Muitos filósofos criaram con- ceitos ilustrar e melhor entender as comunidades que
de Estado ao longos séculos, pois como visto vivi- am de uma forma meramente didá- tica.
anteriormente esses conceitos passaram por Dessa forma não eram deno- minadas
enormes mudanças, algumas mais relevantes cidades-estados pelos po- vos que a
outras pouco mencionadas na atua- lidade. habitavam.
Antes que houvesse o primeiro
conceito definido de Estado, embora com
outros nomes ou ainda sem um estudo mais
aprofundado, estes já existiam.
Nas comunidades mais anti- gas que
eram criadas pelos laços familiares não havia
no que se falar em Estado, mas foi após a
mudança na forma de viver dos grupos com a
transição de uma vida baseada na convivência
em grupo familiar para uma vida com grupo
com diversas famílias unidas numa mesma A palavra Estado como será visto
socie- dade, que se pode dizer que se ini- ciou através da sua origem trazida pelo dicionário
o estado, mas não ainda seu é de origem latina que remete a ideia de
Status:

35
es·ta·do
(Latim status, -us, posição de pé,
postura, posição, estado, si-
tuação, condição, forma de go-
verno, regime). 26

Dessa forma eram visto as pes- soas


nessa época, por seu Status, por sua condição
social, função exercida dentro da coletividade,
bem como a localidade onde vivia. Maquiavel defendia a ideia de que um
A partir daí iniciou-se um lon- go Estado hereditário seria mais eficaz, como
processo de transição até chegar ao conceito traz em seu livro “o príncipe”.
de estado que se pode ver hoje.
Digo, pois, que, nos Estados he-
Outro filósofo que merece ser reditários e acostumados à li-
mencionado devido a sua enorme nhagem de seus príncipes, são
contribuição ao conceito de Estado foi bem menores as dificuldades para
Maquiavel. conservá-los do que nos
Maquiavel, por suas concep- ções novos...27
consideradas imorais e/ou des- provido de
limites e valores. O em- prego da palavra Foi Maquiavel quem trouxe o primeiro
maquiavélico sur- giu exatamente em conceito de Estado mais próximo do que se
decorrência de suas teorias, pois, para pode observar hoje.
Maquiavel os fins justificavam os meios, em Hobbes e Maquiavel possuíam visões
ou- tras palavras, tudo era válido para chegar diferentes sobre o Estado, uma dessas razões é
ao objetivo pretendido, inde- pente de valores, serem de épocas diferentes.
princípios morais, ética, da necessidade de Abaixo a concepção de Ma- quiavel
trapaça ou crueldade, etc. sobre o Estado:
Para ele essa deveria ser a postura de O príncipe não precisa ser pie-
um príncipe a fim de garantir o bem estar da doso, fiel, humano, íntegro e re-
comunidade. ligioso, bastando que aparente
possuir tais qualidades (...). O
príncipe não deve se desviar do

36
bem, mas deve estar sempre Governo
pronto a fazer o mal, se neces-
Ocupado pelas pessoas por tempo
sário. 28
determinado as posições e os cargos do
bes: Estado. Independente do regime político
A seguir a concepção de Hob-
adotado se pode di- zer que há os cargos do
(...) ao introduzir aquela restri- Estado, reis, presidentes e governadores, por
ção sobre si mesmos sob a qual os exemplo.
vemos viver nos Estados, é o Em outras palavras é aquele que
cuidado com sua própria con-
administra o Estado
servação e com uma vida mais
satisfeita. (...) quando não há um
poder visível capaz de os manter Estado
em respeito, forçando- os, por
O Estado existe para além dos
medo do castigo, ao cumprimento
de seus pactos e ao respeito governos, em outras palavras, en- quanto os
governantes entram e
àquelas leis de natu- reza.29

Após mencioná-los e trazer


conceituações, distinções em suas
concepções de Estado, é necessário trazer ao estudo algumas distinções entre: Povo, Nação, Governo,
País, Sociedade e Estado.
Estes, embora convivam har- moniosamente e por vezes sejam confundidos entre si possuem
suas peculiaridades, logo, são coisas dis- tintas e portanto merecem ser abor- dadas ainda que de foram
breve e sucinta garantindo um panorama não somente do Estado, mas de sua organização e
características de acordo com a atualidade no Brasil, já que por hora a historicidade foi tra- tada
anteriormente.
saem do Estado, ele permanece, in- dependente de quem está no gover- no.
Os governantes, ou seja, aque- les que ocupam cargos dentro do Es- tado passaram a ser
conhecidos co- mo políticos em decorrência de e- xercer atividades políticas.

Nação

O conceito de nação remete o nacionalismo e a união de um mes- mo povo, em outras


palavras o com- partilhamento de aspectos culturais, idioma, entre outros.

37
País Política
Traz um conceito mais gené- rico, que
A política está em todos os lugares,
define tudo aquilo que se encontra no
segundo Aristóteles os seres humanos são
território dominado pe- lo Estado.
seres políticos e não nasceram para viverem
Comunidade isolados, mas sim em grupos.
E é exatamente dessa relação de
São menos complexas que a sociedade convivência em comunidade que nasce a
e mais antiga forma de se vivem em grupo, política.
compartilhando suas ideias e culturas dentro Com a criação das cidades, chamada
de um mesmo espaço. de polis, as pessoas come- çaram a viver
Na comunidade não há muita coletivamente, ou seja, em comunidade e a
institucionalização, em outras pala- vras se partir dessa con- vivência em grupo que era
pode resumir a comunidade somente como uma ino- vação imensa para as pessoas que
um agrupamento de pessoas, diferente da surgiram também os conflitos.
sociedade co- mo será visto à seguir a sua Com essa convivência e o sur-
defini- ção. gimento dos conflitos, viver em uma
sociedade demandou de uma orga- nização,
Sociedade divisão de trabalhos, nor- mas impôs e até
mesmo a forma de se comportar era objeto
Agrupamento de pessoas que se
importante para a sociedade.
relacionam e vivem de forma or- ganizada a
Assim o termo política come- çou
fim de obter objetivos comuns por meio do
adquirir o sentido de arte do go- verno, ainda
grupo, que pos- suem culturas, costumes e
segundo Aristóteles.
hábitos comuns, são mais institucionaliza-
Por causa dessa evolução e da
das, e organizadas com melhor orde- namento
necessidade de organizar essa socie- dade que
e divisão das tarefas como se pode ver.
começara a viver mais próximas umas das
Embora exista outras definições para
outras, que se começou a questionar como
sociedade, como a união de não humanos,
seria tratado as questões da cidade, em outras
esta é a que melhor ilustra o objetivo
palavras, começou a existir conflitos e
pretendi- do.
demandas a serem resol-

38
vidas, dentro daquele espaço co- mum. que se tratava em punições despro-
porcionais.
1- Ciência do governo dos po-
Para melhor ilustrar, será uti- lizado
vos.
um exemplo:
2 - [Política] Direção de um Es-
tado e determinação das formas de Um homem mata o filho de outrem,
sua organização. assim sua punição será a morte do seu em
3 - [Política] Mecanismo de circunstâncias idênticas ou ainda de forma
orientação administrativa de mais cruel, por aquele que perdeu o seu
Estados. filho.
4 - [Política] Conjunto dos ne-
gócios de Estado, maneira de os Por isso a frase é associada a lei de
conduzir. Talião pois a pena estava dire- tamente ligada
ao fato ocorrido e em proporções maiores.
5 - [Figurado] Maneira hábil de
Não se ouvia falar em direitos
agir; astúcia.
humanos, dignidade da pessoa hu- mana,
6 - [Figurado] Modo cortês e menos ainda em direitos so- ciais e princípios.
civil de agir; cortesia, civili- dade. Estes só puderam ser observados séculos
7 - [Figurado] Boa capacidade depois com a promulgação das Constituições.
para se relacionar com outras Mas não se engane em pensar que as
pessoas. concepções de Talião não são mais utilizados
8 - Prática de oferecer direcio- nos dias atuais. Mui- to embora promulgada
namentos ou de exercer influ- as constitui- ções, ainda há pessoas que
ência no modo como algo possuem esse pensamento.
Com o passar dos anos a lei de Talião
(partido, opinião pública, elei- passou a perder a sua força e as pessoas
tores etc.).30 começaram a procurar novas soluções para os
Existe várias formas de reso- lução de seus confli- tos.
conflitos, uma delas é por meio de emprego Uma dessas forma de solução de
de força, onde o mais forte vence. conflitos encontradas foi a toma-
Quem nunca ouviu a expres- são “olho
por olho, dente por den- te”?
Essa expressão é muito utiliza- da para
se referir a lei de Talião, que se baseava
exatamente nesse ideal,

39
da de decisão a partir da vontade unânime do quanto a quem seria o representante e a forma
grupo. Esta foi por um período de tempo dessa escolha.
muito utilizada por muitos grupos. Essa foi a grande questão en- frentada
Outra forma foi a consulta dos Deuses, pelo grupo, afinal era muito recente e ainda não
mas nem sempre era pos- sível a sua sabiam como li- dar com essa questão.
interpretação, por vezes não era clara, e em A política está diretamente li- gada a
outras o enten- dimento era diferente para convivência em grupo. Como dito há
cada in- tegrante do grupo. necessidade de tomada de decisões
Sendo assim surgiram outros métodos, constantes, pois é necessá- rio resolver
na medida em que este já não era mais em conflitos, diferenças de opinião, e na forma de
alguns casos consi- derado satisfatório. lidar com as decisões para o coletivo e os
A decisão por maioria por exemplo foi méto- dos necessários para tanto, e quem
uma das medidas ado- tadas para solução de serão as pessoas responsáveis para cada
conflitos na comunidade. função.
Essas formas de organização da As formas com que cada grupo
sociedade na tomada de decisões que afetam o resolveu essas questões foram bem distintas
grupo é um dos objetos de atenção da política. umas das outras, pois va- riam de uma
Com o passar dos séculos e di- ante da coletividade para ou- tra, sendo que muitas
imensa quantidade de pes- soas que sofreram mu- danças e evoluções ao longo do
conviviam dentro do mes- mo grupo, ficou tem- po. Cada coletividade optou por um
cada vez mais difícil e complexo a tomada de regime político, bem como a forma de
decisões. representação de escolha de seus
Assim se fez necessário que os povos representantes e de organização dos
tivessem seus representantes para melhor representantes.
organizar, pois, manter o grupo reunido No Brasil, a forma de governo adotada
durante todo o tempo inviabilizaria a tomada no presente momento é o presidencialismo,
de de- cisões e outros aspectos, como o sus- este será estudado a mais a diante de forma
tento da comunidade e de suas famí- lias. Mas aprofunda- da, para o momento é necessário
com essa necessidade de representação, criou- mencionar que sua divisão e organização se
se a indagação dá em três poderes: Executivo, legislativo e
judiciário.

4
4. Formação Política No Brasil

Os Três Poderes A separação dos poderes tem como


objetivo evitar a concentração de poderes
O sistema de governo vigente no

O
absolutos na mão de uma só pessoa.
Brasil é o Presidencialismo. Como o próprio
Houve um tempo em que todo o poder
nome já sugere, nes- ta forma de governo o há
concentrava-se nas mãos do governante
o presiden- te como autoridade máxima do
absolutista, que o exer- cia sem qualquer
po- der executivo, como figura principal
limite ou freio.
no governo.
Obviamente tal fórmula de go- verno
Entretanto, este não é sobera- no, ou
fazia com que os abusos se perpetrassem, uma
seja, o presidente não detém o poder de forma
vez que, inexis- tindo qualquer controle
absoluta.
externo, o

42
governo seria regido pela vontade do soberano. para melhor garantir o cumprimen- to da
Com o final do período absolu- tista, Constituição.
especialmente após a revolu- ção francesa, os A Constituição atribui a cada um
teóricos procura- ram uma forma de governo desses, competências na criação de leis e na
em que o poder não ficasse concentrado nas administração dentro de sua competência.
mãos de uma única pessoa, mas que fosse Dessa forma, pode-se dizer que há
dividido, de forma que um exercesse controle competências comuns, ou se- ja, que são de
sobre o outro. responsabilidade da União, Estados, Distrito
Tal sistema de governo é co- nhecido Federal e dos Municípios e também compe-
como sistema de “freios e contrapesos”, pois tências que são privativas de cada ente.
um poder contro- laria o outro, e teria a Abaixo, o artigo 23 da Consti- tuição
finalidade de coibir abusos. Federal, traz o rol de compe- tências comuns:
E para cumprir tal desiderato, o
sistema de freios e contrapesos ex- pressa a Art. 23. É competência comum da
independência e harmonia entre os poderes. União, dos Estados, do Dis- trito
Ora, não faria qualquer sen- tido Federal e dos Municípios:
estabelecer a competência do legislativo de I - zelar pela guarda da
julgar o Presidente da República nos casos de Constituição, das leis e das ins-
crimes de responsabilidade, se houvesse a sub- tituições democráticas e con-
missão do primeiro ao segundo. servar o patrimônio público;
Ou seja, não haveria nenhuma isenção II - cuidar da saúde e assis-
em um julgamento onde o órgão julgado fosse tência pública, da proteção e
hierárquicamen- te submisso à pessoa que garantia das pessoas portado- ras
deveria ser julgada. de deficiência;
O sistema de freios e contra- pesos é III - proteger os documen-
atribuído a Montesquieu, em sua obra “Do tos, as obras e outros bens de
espírito das leis”. valor histórico, artístico e cul-
tural, os monumentos, as paisa-
A República Federativa Presi-
gens naturais notáveis e os sí- tios
dencialista é formada pela união, Estados, arqueológicos;
Distrito Federal e Municí- pios, cada um com
suas atribuições IV - impedir a evasão, a
destruição e a descaracteriza- ção
de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou
cultural;
V - proporcionar os meios de
acesso à cultura, à educação e à
ciência;

43
VI - proteger o meio am- Parágrafo único. Leis com-
biente e combater a poluição em plementares fixarão normas para a
qualquer de suas formas; cooperação entre a Uni- ão e os
VII - preservar as florestas, a Estados, o Distrito Fede- ral e os
fauna e a flora; Municípios, tendo em vista o
equilíbrio do desenvolvi- mento e
VIII - fomentar a produção do bem-estar em âm- bito
agropecuária e organizar o nacional.32
abastecimento alimentar;
O Estado Brasileiro, na con-
IX - promover programas de temporaneidade se divide em três poderes
construção de moradias e a
melhoria das condições habita- como foi mencionado no ca- pítulo anterior de
cionais e de saneamento básico; forma breve.
A própria constituição em seu artigo
X - combater as causas da segundo traz a divisão entre os poderes: “São
pobreza e os fatores de margi-
Poderes da União, independentes e
nalização, promovendo a inte-
gração social dos setores desfa- harmônicos entre si, o Legislativo, o
vorecidos; Executivo e o Ju- diciário”.
A partir de agora, será abor- dado com
XI - registrar, acompanhar e
mais propriedade e a devi- da atenção esses três
fiscalizar as concessões de di-
reitos de pesquisa e exploração de poderes bem como suas características e
recursos hídricos e minerais em forma- ção.
seus territórios;
XII - estabelecer e im-
plantar política de educação pa- ra
a segurança do trânsito.
4
Poder Executivo executivo além do Presidente da República
são os Governadores de Estado e Prefeitos.
O poder executivo tem como chefe o
Cabe ressaltar que, muito em- bora a
presidente da República.
criação e votação das leis seja papel do
O poder executivo é composto pelos
legislativo e que cabe ao Presidente da
ministérios que são formado por ministros
República sancionar a lei como será visto a
indicados pelo chefe do poder executivo, o
seguir, o presi- dente pode fazer Medida
Presidente da República.
Provisória que como o próprio nome diz
Esse órgão é responsável pela
possui caráter provisório.
administração do Brasil, como o próprio
Apesar de provisório, essa me- dida
nome já diz, além de repre- sentar o Brasil no
pode se converter em lei caso seja aprovada
exterior e cuida da economia do país.
no congresso poste- riormente.
Quem exerce função no poder

Poder Legislativo das normas vigentes em todo terri- tório


nacional.
O poder legislativo consiste no
O congresso possui um siste- ma
congresso nacional que é o órgão responsável
bicameral, ou seja, é composto por suas casas:
pela criação das leis e
A câmara dos Depu-

45
tados e o Senado Federal. Onde são
representantes do povo e dos Estados
respectivamente.
A câmara é composta por 513
deputados e o senado por 81 senado- res, ambos
eleitos pelo povo através do voto direto,
diferente dos minis- tros que conforme
mencionado aci- ma é indicado pelo
presidente da re- pública.
As propostas de lei elaborada ainda
que aprovadas pelas duas cas- as, podem ser
Abaixo é mencionado o sim- bologia
vetadas pelo Presi- dente da República,
da arquitetura do Congres- so:
mesmo fazen- do parte do poder executivo,
pois sancionar as leis é papel do Presi- dente. A simbologia do projeto de
Sancionar neste contexto sig- nifica Niemeyer colocou o Congresso
afirmar, ou seja, validar a lei que por ora foi como o prédio mais alto da Pra- ça
aprovada pelas duas casas do poder dos Três Poderes, ou seja, a
legislativo, trazendo efetivação a aprovação. preponderância do poder do povo,
por meio de sua repre- sentação.
É ainda competência do poder
As duas conchas sim- bolizam o
legislativo fiscalizar os atos do poder poder e a relação de contrapesos
executivo. implícita no sis- tema bicameral.
A arquitetura do Congresso Nacional A cúpula con- vexa da Câmara,
tem toda uma simbologia, extraída da maior e chapa- da no alto,
Constituição Federal. sugeriria que aquele plenário está
aberto ao impacto direto de
A seguir a imagem do Con- gresso
ideologias, tendên- cias, anseios e
Nacional, que foi concebido por um dos paixões do povo. Já a cúpula
grandes nomes da arqui- tetura Oscar côncava do Senado, menor,
Niemayer. Este é repre- sentado por suas duas retrataria um local pro- pício para
casas: Câma- ra dos Deputados e Senado reflexão, serenidade, ponderação,
Federal. equilíbrio, onde são valorizados o
peso da expe- riência e o ônus da
maturida- de.33

Em outras palavras, a concha da


câmara é virada para cima em de-

46
corrência da constituição estabele- cer que O Poder legislativo é em âm- bito
todo poder emana do povo, dessa forma os Nacional representado pelo congresso, ou
deputado represen- tam a vontade do povo seja, é exercido pelos Deputados Estaduais e
tomando, já o senado é voltado para baixo re- Senadores; nos Estados, os Deputados Estadu-
presentando a vontade do Estado. ais e nos municípios os vereadores.

Poder Legislativo

Da União Dos Estados Do Distrito Federal Dos Municípios

Congresso Assembléia Câmara Câmara


Nacional Legislativa Legislativa Municipal

Senado Deputados
Câmara dos Deputados Vereadores
Federal Estaduais
Deputados Distritais

Deputados
Senadore Federais
s

Poder Judiciário
das instancias e das mais diversas áreas do
O poder judiciário, é o órgão direito.
responsável pelo resolução das lides e dos Abaixo uma ilustração da for- ma de
conflitos sejam eles causados pelos cidadãos e organização do poder judi- ciário na esfera
também entre os cidadãos e o Estado. Federal, Estadual e Municipal seguindo
Este é composto pelos juízes respectivamen- te sua hierarquia:

47
Conselho Nacional de Justiça
Superior Tribunal Federal

STJ TSE STM


TST
TJ TRF TRE
TRT

Juiz de Juiz Vara do Juiz


Juiz
Direito Eleitoral Trabalho Militar
Federal

Legendas:

STJ: Supremo Tribunal de Justiça TST: TJ: Tribunal de Justiça


Tribunal Superior do Trabalho TSE: TRF: Tribunais Regionais Federais
Tribunal Superior Eleitoral TRE: STM: Superior Tribunal Militar TRT:
Tribunal Regional Eleitoral Tribunal Regional do Trabalho

Esses órgãos possuem compe- tência


diferentes de acordo com a sua matéria e O princípio da separação dos três
revisão recursal. poderes, bem como o princípio de soberania
O tema “poder judiciário” pos- sui precisa ser observada por dois ângulos
enorme amplitude, mas para o momento, as distintos, pois vem de épocas distintas. Na
informações ora tra- zidas são suficientes Grécia Antiga, no século IV.a.c, Aristóteles
para o estudo, tendo em vista objeto de foi o primeiro a propor a separação do poder
Estudo: Ciências Políticas. em três, para poder garantir justiça, igualdade
e democracia.
Historicidade O princípio da separação dos três
Essa forma de separação dos poderes e poderes foi elaborado por Aris- tóteles em sua
da organização nem sem- pre foi dessa forma. obra “A Política”, que defendia a separação
do Estado em:

48
Poder Deliberativo, Poder Executivo e Poder glaterra onde contribuiu para o fim da
Judiciário. monarquia absolutista.
Nessa época não se pode dar Charles de Montesquieu por sua vez
seguimento a essa teoria de forma aplicada traz a concepção de sepa- ração dos três
por causa dos governa- dores, mesmo após o poderes com poderes igualitários, como se vê
fim do império romano, e somente na idade atualidade.
mo- derna voltou-se a discutir as ideias de
separação dos poderes, demo- cracia e Estado
moderno que foi discutido por John Locke
Á partir das ideias de Aristó- teles
surge John Locke, defendendo a teoria dos
três poderes, porém traz o poder legislativo
com superio- ridade quanto aos demais como
se poder ver em sua obra “Segundo tratado
sobre o governo civil”.
Ainda que já se falasse desde
Aristóteles e que possuísse extrema relevância
somente foi inserida na Constituição atual e
ainda foi inserido como cláusula pétrea, ou
seja, não poderá ser modificada.
Com o falecimento de John Locke,
Montesquieu que teve for- mação iluminista,
influenciado pe- los seus pensamentos, de
Platão e Aristóteles tornou a ideia de sepa-
John Locke foi um filósofo ração dos três poderes a mais forte, pois
contratualista, que ficou conhecido como “pai embora fosse muito influente as ideias de
do liberalismo” e também por defender a Locke não foi muito aceita, pelo fato de
liberdade religiosa bem como a tolerância defender que o poder legislativo deveria ter
religiosa. poderes supe- riores aos demais.
Suas ideias no século XVII fo- ram de Montesquieu por sua vez, criou em sua
grande influência em vários países, mas teoria, a divisão de três
principalmente na In-

49
poderes iguais, com nenhum su- perior ao Como se sabe, os países me- nores não
outro da forma que po- demos observar na possuem a mesma divi- são.
contempora- neidade. O poder executivo, que tem a função
Seu livro The spirit of the Laws que de administração escolhe se- cretários ou
concretizou a teoria de- finitiva dos três ministros (dependen- do do órgão) para cada
poderes. Sua teoria é base de todos os países área para melhor atender a interesses especí-
democrá- ticos. ficos, em outras palavras, cria o ministério da
Em sua obra dividiu os três poderes saúde elegendo pes- soas aptas para resolver
em: Executivo, Legislativo e Judiciário. questões relacionadas a saúde, ministério da
Gerando no Brasil o tão conhecido “sistema educação com ministros para resol- ver
de freios e con- trapesos”, onde um serve para questões ligadas a educação, e etc.
li- mitar o poder do outro impedindo abuso de A Constituição Federal como acima
poder. mencionado traz o executivo, legislativo e
Segundo Montesquieu, todo homem judiciário como Poderes harmônicos e
que detém o poder, tende a abusar dele independentes entre si.
Entretanto, vale trazer ao mo- mento
que o poder é uno, indivisível, e indelegável,
conforme afirma Pedro Lenza
Como pode unir a ideia de separação
dos três poderes e a ideia de que o poder é
indivisível?

Poder, Função e Orgão

O Brasil, por sua dimensão territorial, Montesquieu trouxe em seu estudo a


precisou se dividir, tendo assim os Estados e combinação entre estado, Poder e função.
os Estados se di- vidirem em Municípios, os Ainda na atualidade existe alguns
governa- dores sendo portanto um Estado doutrinadores que trazem a divisão do poder
composto para melhor atender ao seu em três poderes, apesar dessa teoria estar
objetivo. por parte

50
ultrapassada em termos didáticos, isso porque ou da natureza típica de outro,
entende-se que o poder é uno, que o termo quando houver expressa previ- são
correto a ser utilizado seria órgãos que lhes (e aí surge as funções atípi- cas) e,
seria atribuído funções ao invés de poder. diretamente, quando houver
Pedro Lenza, é um dos apoia- dores de erro delegação por parte do poder
na utilização errônea constituinte originário.
do termo “poder”
A partir das concepções de Pedro
Isso porque o poder é uno e in- Lenza trazidas acima, pode se extrair que
divisível. O poder não se tri- existe dois tipos de funções a ser excedida:
parte. O poder é um só, mani- Funções típicas e Funções atípicas.
festando-se através de órgãos que
exercem funções. Assim, todos os Funções Típicas: São as funções que
atos praticados pelo Estado são próprias do órgão por atribuição
decorrem de um só Po- der, uno e constitucional. As funções típicas são também
indivisível. Esses atos adquirem
cha- madas de PREDOMINANTE ou
diversas formas, através do
exercício das diver- sas funções SUBSTANCIAL.
pelos diferentes ór- gãos. Assim o
órgão legislativo exerce uma Funções Atípicas: As fun- ções
função típica, ine- rente à sua atípicas são aquelas exercidas por um poder
natureza, além de funções que não possui com- petência para tal, sendo
atípicas. este com- petência típica de outro poder que
exerce por excepcionalidade e com previsão
E continua o autor com seu
normativa.
entendimento:
Exemplo:
Os “Poderes” (órgãos) indepen- Poder executivo
dentes entre si, cada qual atu-
ando dentro de sua parcela de - Prática de atos de chefia e atos de
competência constitucional- administração – Função Típica
mente estabelecida e assegu- rada
- Presidente sancionando ou Vetando,
quando da manifestação do poder
constituinte originá- rio. Nesse além de expedir Medidas provisórias –
sentido, as atribui- ções Função atípica
asseguradas não poderão ser
delegadas de um Poder (ór- gão) a
outro. Trata-se do prin- cípio da
indelegabilidade de atribuições.
Um órgão só pode- rá exercer
atribuições de outro,

51
5. Capitalismo e Socialismo

Sistemas Econômicos tamente ligados ao sistema político que se

P
adota nos dias atuais.
ara finalizar o estudo sobre ciência
A União Soviética tinha
política, necessário fa-
ideologia do Socialismo, por outro lado
zer uma breve análise acerca dos sis- temas
os Estados Unidos possui
econômicos, que são, basica- mente, dois:
ideologia Capitalista, os demais países
capitalismo, socialismo e comunismo.
se apoiavam a um País ou outro, na medida
Antes de mais nada, é preciso ressaltar
de suas ideologias.
que os sistemas econômi- cos que se conhece
O capitalismo, basicamente, é um
hoje estão dire-
sistema econômico que privile- gia a
propriedade privada dos meios

53
de produção, e a busca do lucro. O quantidades de capital", e não
capitalismo trabalha com a ideia de mercado referir-se a um sistema de pro-
competitivo, lucro, e utili- zação de mão de dução.
obra assalariada. Em 1867, Proudhon usou o ter-
Neste sistema econômico, o lucro do mo capitalista para referir-se a
mercado fica nas mãos dos donos dos meios possuidores de capital, e Marx e
Engels referiam-se à "forma de
de produção, que contratam trabalhadores,
produção baseada em capital"
mediante o pagamento de salários previamen- ("kapitalistische Produktions-
te determinados. form") e, no Das Kapital, "Kapi-
Em seu sentido etimológico, a palavra talist" (um possuidor privado de
‘capitalismo’ vem do latim ‘capitale’, que capital). Nenhum deles, po- rém,
significa ‘principal, chefe’. Daí pode-se usou os termos em alusão ao
concluir que o capitalismo centra-se na figura significado atual das pala- vras. A
primeira pessoa que as- sim o fez,
do capitalista, do empresário, do chefe da porém, de uma forma impactante
empresa, conforme cita-se: foi Werner Sombart em seu
Capitalismo Moderno, de 1902.
A palavra capital vem do latim Max Weber, um amigo próximo e
capitalis, que vem do proto- indo- colega de Sombart, usou o termo
europeu kaput, que quer dizer em sua obra A Ética Protestante e
"cabeça", em referência às o Espírito do Capitalismo, de
cabeças de gado, como era me- 1904.37
dida a riqueza nos tempos na-
tigos. A conexão léxica entre o Essa característica revela uma outra
comércio de gado e a economia
que surgiu após: a luta entre classes. De um
pode ser vista em nomes de vá-
rias moedas e palavras que dizem lado, temos o capi- talista, o burguês, o
respeito ao dinheiro: proprietário dos meios de produção. De outro
O primeiro uso da palavra Ka- lado, temos a classe trabalhadora, que é a
pitalist foi em 1848 no Mani- grande maioria da população. Estes vivem da
festo Comunista de Marx e En- sua força de trabalho, do seu salário. Esta
gels; porém, a palavra Kapita- classe é conhecida também como
lismus, que é "capitalismo" em
proletariado.
alemão, não foi usada. O pri-
meiro uso da palavra capita- lismo O capitalismo, como já dito, visa à
é dedicado ao romancista acumulação de capital.
Thackeray, em 1854, com a qual Tem profunda ligação com a ideia do
quis dizer "posse de grandes feudalismo, onde o dono da terra “explorava”
aqueles que ali vi- viam. Neste sistema, quem
é o dono

54
Ou proprietário dos meios de produção O capitalismo está diretamen- te
(que podem ser máquinas, terras, etc.), é ligado à ideia de liberdade. O Es- tado deve se
quem realmente fica com o lucro da atividade. abster de intervir nas relações privadas.
Como oposição à ideia capita- lista,
surge o sistema do socialismo. Aqui, a ideia é
o Estado Social, preo- cupado em assegurar
direitos míni- mos para que todos possam
viver com dignidade, e sem exploração e-
conômica demasiada. Busca-se di- minuir as
desigualdades, de forma que uns fiquem com
todas as rique- zas, e outros fiquem
miseráveis.
O socialismo funda-se, basica- mente,
Este sistema sofreu grandes críticas na na ideia de propriedade pú- blica dos meios
história da humanidade, em razão de de produção. Ou se- ja, abomina-se a ideia de
promover a desigual- dade e o acúmulo de que os mei- os de produção estejam
riquezas nas mãos de uma minoria. Os unicamente nas mãos de poucos. O Estado
críticos deste sistema afirmam que uma so- seria o detentor dos meios de produção, e
ciedade que produz tanta riqueza não pode ser distribuiria os lucros de forma iso- nômica.
tão desigual. O socialismo seria, segundo seus
O capitalismo liga-se à ideia de livre- defensores, uma reação aos efeitos do
mercado, de liberalismo eco- nômico, de capitalismo na sociedade, como a
estado mínimo. Ou seja, está diretamente desigualdade.
ligado à liberdade econômica, liberdade nas O proletariado, cansado de ser
contrata- ções, prevalência dos pactos, etc. explorado, passa a exigir que o Esta- do
Os defensores deste sistema defendem intervenha nas relações priva- das, e distribua
que o Estado não deve in- terferir nas relações os lucros de forma isonômica, a fim de
econômicas, pois os homens são livres para diminuir o abis- mo social entre a burguesia e
com- tratar, para comprar, para vender, etc. o pro- letariado.
Os teóricos do socialismo di- zem que
há uma injusta concentra- ção de riqueza e
poder nas mãos de

55
um pequeno segmento da sociedade, que é a do proletariado.
burguesia, a qual possui o controle do capital Esta ideia sustenta o desapa-
e tira a sua rique- za da exploração de outras recimento das classes sociais, bem como da
classes sociais, como o proletariado, promo- noção de patriotismo. Ou seja, não haveria
vendo a desigualdade social e o en- Estado e nem o- pressão.
gessamento das classes. Uma vez que não haveria Es- tado, os
meios de produção seriam de propriedade de
todos, e a riqueza seria distribuída de forma
igualitária a todos.
Lembre-se que no socialismo defende-
se a ideia de distribuição isonômica, onde
cada um receberia uma parte de acordo com a
ati- vidade que desenvolvia.
As críticas à ideias do socialis- mo e
do comunismo estão direta- mente ligadas à
profunda acumu- lação de riquezas por parte
do Es- tado e generalização da miséria.
Obviamente que nenhum sis- tema
O socialismo defende, ainda, uma
econômico está imune a críti- cas, mas é bom
condição melhor para os traba- lhadores, que,
lembrar que aqui fo- ram estudadas as formas
à época do surgimen- to de suas ideias, eram
puras das ideias.
extremamen- te maltratados nos locais de
Estes sistemas deram lugar a
traba- lho, sendo submetidos a jornadas de
derivações, como o capitalismo libe- ral, o
trabalho desgastantes e ilimitadas.
neoliberalismo, o socialismo utópico, etc.,
Por outro lado, o comunismo seria a
mas aqui não é o local adequado para o
face mais radical do socia- lismo, e, segundo
aprofundamento dessas questões.
Karl Marx, seria o desfecho natural de uma
revolução

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lítica, e nas relações da economia e do Estado.
A base do socialismo era a so-
cialização dos meios de produção e o fim da
divisão da sociedade em clas- ses.
Por outro lado, o capitalismo tem
ideologia inversa ou seja, tem como
ideologia o acúmulo do ca- pital.
Abaixo um quadro compara- tivo
elencando as principais distin- ções entre o
Foram citadas aqui apenas as capitalismo e o socialis- mo de forma mais
características essenciais para o que se reputa objetiva, para me- lhor concluir o estudo da
uma noção da ciência po- Ciência Po- lítica.

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