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VIESES COGNITIVOS DECISIVOS NOS RESULTADOS ELEITORAIS:

A INFLUÊNCIA DOS MEDIA E DAS SONDAGENS EM PARTICULAR

Por João Pedro Galhofo

[Assistente convidado de Direito e Economia na Universidade Europeia/ Mestre em Direito na


especialidade de Economia e Políticas Públicas pela Faculdade de Direito de Lisboa]

Palavras- chave: Economia Comportamental; Vieses Cognitivos; Eleições nacionais;


Influência dos Media; Sondagens eleitorais.

I. Nota Introdutória:

No âmbito da Disciplina de Economia Comportamental do Mestrado de Direito e


Prática Jurídica na especialidade de Economia e Políticas Públicas pretende levar-se a
cabo uma análise comportamental dos cidadãos eleitores mediante os actos eleitorais
nacionais e as consequências económicas da sua participação política ou abstenção,
aprofundando em particular o caso dos Media e das sondagens como elementos
determinantes para os resultados eleitorais e para abstenção eleitoral. Aprofundar-se-á
igualmente a perspectiva dos agentes políticos mediante esta distorção da realidade
política levada a cabo pelos órgãos de comunicação social e pelas supostas empresas
independentes que, por amostragem, realizam sondagens por intermédio de Centros de
investigação ou frequentemente a pedido dos próprios partidos políticos, a parte mais
interessada neste sinalagma de direitos e deveres cívicos de participação democrática
existente entre eleitos e eleitores.

Após 44 anos do 25 de Abril de 1974, o problema da influência dos Media nos


resultados eleitorais, commumente aceites na opinião pública como um Quarto Poder
emanado das audiências dos espectadores e dos ouvintes, continua a ser um problema
real e permanece por resolver, agravando-se inclusive a questão da abstenção entre os
mais jovens, desmotivados e desidentificados com uma classe política indiferente à
alienação do eleitorado jovem pela actividade político-partidária e sobretudo pelos seus
representantes. O Contrato Social encontra-se deslaçado por uma narrativa política
altamente vocacionada para os problemas da Economia, deixando o discurso politizado
e consciente da importância da reforma do próprio sistema eleitoral subalternizado face
à preponderância do equilíbrio das contas públicas e do controlo da Dívida Pública.

Em 1999, o Prof. Doutor Francisco Soares chamava a atenção para a influência dos
1
Media e das Sondagens recordando que alguns dos mais publicitados estudos de
opinião são promovidos pelos próprios canais de televisão, jornais e revistas, de forma
crescente funcionando em “pool”, para repartir custos e aumentar a difusão da notícia.
Por outras palavras, são os próprios Media que criam “sound bites” relativamente a
números que ficam registados na opinião pública, que muitas vezes passa a publicada
ou comentada, servindo de pretexto para notícias e respectivos programas de análise ou
comentário político nos principais canais de televisão em Portugal. Tal facto gera desde
logo um conflito com os princípios deontológicos do Estatuto do Jornalista, uma vez
que a própria notícia corre o risco de ser influenciado pelo estudo sobre o qual se baseia,
que lhe é fornecido por forças políticas ou por centros de sondagens que lhe são afectos.

II. O Comportamento grupal dos eleitores e dos agentes políticos

Os eleitores são tendencialmente racionais nas escolhas de participação política que


executam, mesmo quando se abstêm existe uma motivação que equacionado o custo de
oportunidade e após uma análise custo- benefício podem ser suficientemente fortes para
que votem ou para que se abstenham. As razões que motivam a participação num acto
eleitoral ou a sua auto- exclusão dessa intervenção cívica podem ser diversas, mas neste
campo impera sobretudo a análise das probabilidades e da estatística. Um eleitor
mediamente informado deslocar-se-á à sua secção de voto em virtude da informação de
que dispõe face ao conjunto de candidatos mas, porventura, uma parte significativa do
eleitorado é suficientemente desinformado para desconhecer sequer o cabeça de lista
candidato ao acto eleitoral em causa.

1
SOARES, FRANCISCO, “Os Media e as Sondagens (Breve Reflexão)”, pp.8-17, Revista Assuntos
Eleitorais, Nº5, 1999, STAPE;
Esta desinformação aproveita sobretudo aos candidatos a funções públicas ou político-
partidárias que tendo conhecimento do ruído comunicacional proveniente do seio dos
próprios partidos2 e não raras vezes dos meios de comunicação social só actuam,
esclarecendo os eleitores e desfazendo esses vieses cognitivos quando tal facto lhes seja
prejudicial, ou por via da opinião pública e publicada ou por via das sondagens. Esta
situação é verificável em todas as eleições de âmbito nacional, levando os eleitores a
depositar o seu voto mediante os factos de que têm conhecimento sobre o percurso do
candidato e sobretudo mediante a credibilidade e identificação que têm para com o
mesmo, sempre segundo padrões sociais que lhes são suavemente impostos pelo
comentário político nos mais diversos meios de comunicação social ou de forma sub-
reptícia através da concretização mental de resultados definidos aprioristicamente, os
quais de nada vale contrariar porque segundo o comportamento grupal ou societário
definiu que, a dita maioria, votaria naquele sentido.

Por outro lado, os agentes políticos fecham-se frequentemente em grupos de


pensamento ou reflexão dentro dos próprios partidos, assumindo uma posição de defesa
face à participação da sociedade civil naquilo que commummente denominam de
Gabinetes de Estudos, liderados por uma figura de referência partidária interna estando
a liderança dos mesmos absolutamente vedada a outsiders da máquina partidária, por se
entender que qualquer outra personagem externa não seria representativa dos interesses
da maioria dos militantes de um partido político. Os Partidos ficam assim reféns dos
meios de financiamento impróprios, ou seja, dos donativos que provêm de fora da sua
intervenção política, e que por isso não advêm das suas receitas próprias, o que
frequentemente origina grupos de interesse e de pressão na decisão a tomar nos
plenários de militantes do partido e até do sentido de voto dos dirigentes. Todavia, para
além da ausência da participação da sociedade civil nas decisões internas partidárias
sucede frequentemente os agentes políticos terem participação activa em programas de
comentário ou debates políticos com uma periodicidade absolutamente regular, o que
independentemente das suas actividades profissionais acumuladas com as políticas,
pode significar que os próprios agentes políticos se tornem vítimas da sua notabilidade,
que a progressão na carreira académica ou profissional seja influenciado em função da
sua participação televisiva, ou até que haja candidatos naturais a determinados cargos

2
TRIGO PEREIRA, PAULO, “Portugal: Dívida Pública e Défice Democrático”, pp.65-77, Edições FFMS,
2012;
públicos em função da sua sobre- exposição mediática e do alcance e influência do seu
comentário político e da audiência habitual que obtém no mesmo, criando autênticas
clientes de espectadores.

III. Os vieses cognitivos eleitorais

Como sabemos os cidadãos eleitores possuem uma racionalidade limitada, a qual não
lhes permite conhecer todos os factos que justificam uma decisão eleitoral e que
contempla um certo grau de emotividade ou sensibilidade no momento da escolha de
determinado candidato. Por outras palavras, na iminência da participação ou da própria
decisão democrática existe uma panóplia de factores emocionais ou de identificação
afectiva que podem levar o eleitor a fazer determinada escolha ao invés da escolha
absolutamente racional. Factores tão diversos coma origem geográfica do candidato, o
seu género ou até a amizade que o eleitor tem pelo candidato ou pela sua família
biológica ou política podem logicamente justificar a escolha de um candidato em
detrimento de outro. Apesar de nesses casos não estarmos perante uma escolha
perfeitamente racional, ela é ainda racional apesar do grau de subjectividade que possa
imperar na decisão e que a justifique pessoalmente.

Vieses cognitivos como a ancoragem, a representatividade, o enquadramento, o efeito


de dotação e o comportamento de manada justificam a maioria das escolhas dos
eleitores portugueses. O eleitorado nacional guia-se principalmente pelas decisões
passadas em actos nacionais, pelo ponto de partida familiar do qual partem para a
participação democrática e pela análise do que podem ganhar ou perder no seu
quotidiano com determinada escolha política, numa espécie de análise custo- benefício a
curto e médio prazo do seu sentido de voto. Nesse sentido, os padrões políticos e
democráticos pelo qual se guiam influência drasticamente o seu sentido de voto, não se
apercebendo muitas vezes que se encontra numa situação de viés, ou seja, perante uma
distorção da realidade por meio de um erro de percepção de que o agente económico
não se apercebe, justificando a sua escolha através de um juízo pouco maturado ou de
uma ilógica da realidade perante os factos que dela emanam. A confiança ou falta de
confiança que os eleitores depositam nos eleitos e nas instituições democráticas
influencia naturalmente a actuação ou participação eleitoral dos cidadãos, criando a
percepção errónea de que estão sempre devidamente representados ou pelo contrário de
que não representantes directos ou indirectos seus nos órgãos de soberania, a este viés
cognitiva o estudo da Economomia Comportamenal denomina de Representatividade.
Para além disso, o Enquadramento social, cultural ou meramente geográfico do qual o
agente económico provém influência naturalmente o sentido do seu voto. Um cidadão
europeu tem um conjunto de preocupações e ambições políticas e económicas para o
seu País que um cidadão africano ou indiano obviamente não terá, em virtude do
próprio grau de desenvolvimento do seu próprio País, da sua cultura e até da sua
religião ou do seu número de filhos. Nesse sentido, o Enquadramento do agente decisor
fundamental, justificando a sua escolha racional através da circunstância e do local onde
a decisão é tomada, uma vez que nenhuma escolha eleitoral ou não pode ser indiferente
ao contexto do indivíduo e da importância e urgência que o próprio concede àquela
decisão.

O efeito de dotação ou mais frequentemente entendido por efeito de posse de


determinado bem ou decisão tolda o raciocínio do agente económico tornando-o
dependente de decisões passadas ou mesmo refém delas por forma a justifica-las na
plenitude no momento presente, este viés é frequente em contexto familiar e tem
justificado ao longo de décadas o sentido de voto da maioria das famílias portuguesas
que se interessa ou que se envolve na participação cívica ou política nacional. Por outras
palavras, o efeito de dotação é um erro de percepção do indivíduo que não lhe permite
perceber que estão tão agarrado ao seu sentido de voto do passado que
insconscientemente votará sempre no mesmo sentido, justificando a sua escolha com a
decisão familiar, com a sua proveniência ou tão simplesmente com o medo da mudança
e com o desconhecimento de outra realidade que não seja aquela a que se habituou a
conhecer durante décadas, preferindo manter o sobejamente conhecido Status quo. A
classe política é profundamente conhecedora deste viés e tem actuando na escolha dos
seus candidatos vislumbrando ou antecipando o receio de alterações abruptas na
composição das suas listas de candidatos, dando lugar a uma autêntica alternância de
personagens e de lugares nos diversos órgãos de soberania, justificada com o medo da
mudança dos eleitores quando a realidade nos mostra que se trata de puro tacticismo e
manutenção de poderes instalados nos partidos políticos e de influência na máquina do
Estado.
Existe ainda um viés determinante na decisão dos eleitores portugueses que se
denomina de efeito de manada e que abunda na opinião pública e publicada nacional e
que se explica não só pelo conformismo e falta de pensamento crítico e de informação,
ou mesmo de desinformação, o que tem justificado comportamentos massivos no
momento da decisão eleitoral. Para este efeito, a influência dos Media e das sondagens
tem sido absolutamente preponderante e uma constante inegável. Não raras vezes o
eleitorado português prefere o sedentarismo intelectual perante a escolha a que é
desafiado a realizar e acredita em informação que lhe é transmitida de forma mais
cómoda em determinado programa televisivo, artigo de comentário político ou até
mesmo no seu grupo de amigos mais próximo, bastando-lhe essa parca informação,
tantas vezes assente no ruído ou na ideologia política do emissor, para que tome a sua
decisão em consciência e com uma tranquilidade em nada justificada. Este viés
cognitivo no âmbito da participação eleitoral democrática é talvez o mais relevante, uma
vez que justifica um certo grau de irracionalidade dos agentes e os desresponsabiliza no
seu inconsciente pela sua própria escolha, fazendo-os acreditar que só decidiram em
determinado sentido porque a maioria assim o entendeu fazer e porque caso optassem
em sentido contrário a sua decisão nada alteraria perante a realidade que dizem
conhecer da situação política vigente. Sucede que é exactamente esse raciocínio que o
Professor Paulo Otero tem denominado de Democracia Totalitária, no sentido em que as
maiorias dos eleitores e dos decisores políticos tem servido ao longo de 44 anos de
Democracia portuguesa para justificar decisões intoleráveis e diluindo a
responsabilidade individual tanto de eleitos como de eleitores numa substância
inorgânica a que dão o nome de eleitorado ou, por outro lado, de classe política. Esta
Democracia assenta num contrato de confiança entre os eleitos e os seus eleitores, mas
não pode usurpar funções para além do mandato que foi confiado aos primeiros estando
estritamente obrigados aos programas eleitorais dos partidos pelos quais foram
candidatos, pelo que a Maioria eleita não pode impor-se às Minorias democráticas sob
pena de se tornar Totalitária, perdendo portanto a sua natureza democrática.
IV. A influência dos Media nos resultados eleitorais

Os Mass Media, actualmente reconhecidos exclusivamente por Media, são parte


interventiva na participação política e dos resultados eleitorais dos partidos políticos,
que são parte insubstituível para a sobrevivência e manutenção sã da Democracia
participativa. A influência dos órgãos de comunicação social, tantas vezes referidos
como um Quarto Poder do Estado, a par dos três outros poderes fundamentais, é
determinante para a obtenção de determinado resultado eleitoral em actos de amplitude
nacional, uma vez que transmitem e difundem determinada informação ou notícia com
relevância político- partidária a todos os espectadores ou ouvintes interessados em
conhecer melhor os candidatos ou em saber qual o ponto da situação político de
determinada disputa eleitoral, permitindo-lhes quase instantaneamente e m função disso
decidir o seu voto a cada dia de campanha eleitoral até ao dia final das eleições.

Os Media são determinantes para a obtenção de determinado resultado eleitoral,


podendo exponenciar a visibilidade de um candidato ou por outro lado confiná-lo à
reserva do tempo de antena, da mesma forma que a opinião que determinados opinion
makers formem de determinado candidato ao longo da campanha pode ser crucial para o
sucesso da sua candidatura, podendo influenciar positiva ou negativamente o sentido de
voto dos eleitores. Actualmente, todos os partidos políticos tem um Gabinete de
imprensa constituído por um manancial de assessores de imprensa ao dispor das suas
estruturas dirigentes e bem relacionados com o maior número de jornalistas e fazedores
de opinião possível com vista a influenciar a percepção que os seus órgãos de
comunicação social tenham ou estejam a construir de determinado político em ascensão
e sobretudo dos seus líderes partidárias. Os próprios Media fazem à partida uma leitura
enviesada da imagem dos dirigentes partidários em virtude daquilo que lhes é dado a
conhecer através da forma mais fácil e acessível, que são os próprios assessores de
comunicação, imagem ou simplesmente de imprensa dos partidos. Estas funções
exercem uma dupla qualidade e importância, podendo servir de forças de bloqueio de
acesso e disponibilidade à informação, ou ao invés de canal aberto e acesso qualificado
a toda a informação disponibilizada para o exterior da actividade e das tomadas de
posição de determinado partido, ainda toda a informação seja previamente seleccionada
e revista pelos próprios emissores das notícias, os próprios líderes partidários.
Os programas de comentário e de debate político são movidos pelos interesses dos seus
actores políticos, que vão agindo ora como analistas da situação política ora como
interventores de acordo com os seus interesses político- partidários ou como defensores
dos interesses corporativos da sua profissão ou da sua família política, agindo
alternadamente numa qualidade ou noutra de acordo com as suas conveniências e
ambições pessoais e profissionais. Nesta circunstância, os telespectadores são uma presa
fácil para os comentadores televisivos que laborando neste erro de percepção não se
apercebem que é possível intervir politicamente enquanto se faz comentário televisivo e
que é possível é fazer análise política sem transparecer que se está a tomar posição
enquanto parte interessada, de acordo com a nossa ideologia ou partido político. Repare-
se na quantidade de ex- líderes partidários, ex- governantes e actuais Deputados à
Assembleia da República que semanalmente realizam análise política em canal aberto
ou por cabo, sem nenhum tipo de fiscalização deontológica da sua conduta pelos
próprios órgãos nacionais com competências próprias nesse sentido, de fiscalização e
disciplina. Não se conhece qualquer processo intentado por este género de órgãos
nacionais por motivo de conduta imprópria, usurpação de funções ou incompatibilidade
funcional dos comentadores televisivos militados nos seus próprios partidos, pelo que se
supõe que os mesmos não consideram que haja responsabilidades enquanto militantes
de base a este nível de intervenção pública. Confunde-se aqui com a responsabilidade
enquanto militantes pela prestação televisiva com a responsabilidade deontológica
profissional, a qual salvo raríssimas excepções nunca foi questionada perante
comentadores especialistas em determinadas matérias que confluíram a sua análise para
áreas de investigação que exorbitam as suas habilitações académicas e competências
profissionais.

V. A relevância das Sondagens nos resultados eleitorais

Existem três tipos de sondagens eleitorais, aquelas que são realizadas por centros de
investigação das universidades, as realizadas pelos próprios órgãos de comunicação
social e as realizadas internamente pelos próprios partidos através da constituição de um
gabinete de sondagens que integra funcionários e dirigentes partidários. Neste contexto,
existe um padrão comportamental entre todos que é o método de escolha mais fácil e
rápido para a obtenção de informação estatística sobre os resultados eleitorais
previsíveis no próximo acto eleitoral. Esta amostragem significa que é realizada uma
entrevista ou um inquérito num universo de cidadãos eleitores que respondendo a um
rol de questões sobre determinada candidatura se torna aferível o seu sentido de voto no
dia das eleições, olvidando contudo uma série de obstruções à obtenção de uma resposta
fidedigna, como as situações de reserva mental segundo a qual o indivíduo pode afirmar
algo e realizar o oposto do declarado, da desistência de última hora quando havia dita
que participaria no acto e acabou por não ir votar, ou o inverso, quando previa abster-se
mas em função do desagrado com o candidato que capitalizou maior número de apoios e
votos o eleitor decide fazer uso do voto útil. Esta aliás é a circunstância mais
imprevisível e indecifrável do panorama político português, a situação de perante a
potencial vitória de um candidato sobre o qual não recairia as nossas intenções de voto
decidirmos no último instante exercer o direito de voto para condicionar a sua hipotética
vitória e conceder o maior número de votos ao candidato que preferimos, tentando
influenciar outros a atribuir alguma utilidade ao seu voto, mudando-o na último
momento para os partidos que em clima de total alternância democrática possam
efectivamente obter a maioria parlamentar ou governar, ou seja, para os dois maiores
partidos portugueses ou para os chamados partidos do arco da governação. Esta
interpretação da realidade política foi desconstruída em Portugal com a desconsideração
pela praxe constitucional levada a cabo pela actual maioria parlamentar que suporta um
Governo minoritário socialista desde Outubro de 2015.

VI. Os mecanismos legislativos de controlo dos resultados eleitorais

É necessária uma reforma urgente do sistema eleitoral português, sendo que há


actualmente condições únicas no quadro parlamentar vigente para uma reforma
profunda do sistema eleitoral em virtude de um entendimento de regime entre os dois
maiores partidos portugueses no que diz respeito a áreas tão sensíveis como a Justiça, a
Educação e a Saúde. Nesse sentido, seria necessário como forma de prevenir e combater
assimetrias informativas entre eleitores e eleitos uma maior proximidade entre eles só
concretizável através da implantação de listas uninominais com voto preferencial que
elegesse os candidatos por ordem com as preferências depositadas em urna do
eleitorado. No fundo, a reforma que se pretende visa garantir uma maior proximidade e
em simultânea responsabilização directa e efectiva dos eleitos pelos eleitores de acordo
com o seu Círculo eleitoral de origem, fazendo eleger os candidatos de acordo com o
maior número de votos por ordem preferencial através do conhecido Método de Hondt,
ou seja do mais votado para o menos votado.

Outra das possibilidades, sistema eleitoral aliás já implementada há anos no Brasil é o


voto obrigatório, regime segundo o qual o cidadão que não exerça o seu direito de voto
é penalizado a título meramente pecuniário com uma coima pelo seu não exercício do
dever de votar. No fundo, actualmente a diferença mais significativa entre o sistema
eleitoral português e o sistema eleitoral brasileiro é a forma como se encara e enquadra
legalmente o exercício do voto- como um direito constitucional consagrado cujo
exercício depende da liberdade individual e consciência do eleitor- ou- como um dever
constitucional cujo exercício não depende da liberdade individual mas antes é imposto
pelo Estado, considerando-se uma obrigação individual perante o próprio Estado, tal
como o cumprimento do pagamento das obrigações fiscais ou quaisquer outras.

Existem ainda outros mecanismos legislativos de controlo dos resultados eleitorais tais
como a possibilidade de uma regulamentação por via legislativa dos centros de
sondagens e a extinção dos gabinetes de sondagens dos partidos por via legislativa, a
centralização de um Observatório Nacional dos resultados eleitorais que juntamente
com o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgasse sondagens oficiais
antecipadamente e nunca no período de reflexão após intensas semanas de campanha
eleitoral, que é o momento mais adequado para que sejam reveladas. Para além dos
mecanismos já enunciados, há um mecanismo de impossibilidade de capacidade
eleitoral passiva, leia-se ser eleito, para cidadãos maiores de 35 anos de idade que
pretendam ser candidatos às funções de Presidentes da República, quando não tenham
exercido o seu direito/ dever de voto, o mesmo se poderia aplicar a outras funções como
Deputado à AR ou Presidente de Câmara Municipal. Por último, o mecanismo de
responsabilização jurídica e não meramente político dos titulares de cargos públicos ou
políticos influenciaria nitidamente os resultados eleitorais, uma vez que os eleitores
assimilariam que a continuidade de determinados políticos dependeriam exclusivamente
do modo como exerceriam o seu mandato, da prestação de condutas pelas suas
propostas, tomadas de posição públicas e iniciativas legislativas, e também pelos seus
sentidos de voto, assim como pelo respeito estrito pela legalidade dos seus actos e da
conduta ética e adequada ao exercício das suas funções.
RESUMO:

O presente artigo científico analisa os vieses cognitivos decisivos para a obtenção de


determinados resultados eleitorais e a influência dos Media e das Sondagens nesses
mesmos resultados. Reconhecendo-se o notório afastamento dos eleitores face aos seus
representantes e o descontentamento público dos cidadãos face a comportamentos
nepotistas e de irresponsabilidade política dos Eleitos, concluiu-se na presente
investigação que a abstenção eleitoral resulta directamente de um conjunto de distorções
cognitivas que leva os cidadãos a não exercerem o seu direito de voto, que a Economia
Comportamental denomina de “Vieses Cognitivos”. Para estas perspectivas distorcidas
da realidade política, para a qual contribui massivamente a forma como os Media
actuam em momentos de disputas eleitorais, contribuem determinantemente as
Sondagens que se têm transformado num elemento decisivo da formação da vontade
eleitoral expressa na decisão de abstenção ou de exercício de voto através dos vieses da
Ancoragem, do comportamento de Manada e o efeito de Dotação eleitoral. Por fim,
aborda-se ainda a urgência de uma reforma do sistema eleitoral português com opção
pelo voto preferencial dos Eleitos, com vista a aproximar eleitores dos Eleitos e a que os
primeiros possam fiscalizar com transparência e a responsabilizar politicamente a
intervenção e participação político- partidária destes últimos.

Análise comparativa das Eleições nacionais mais participadas da Democracia


portuguesa desde 1976:

Resultados Legislativas 1976: Autárquicas 1979: Legislativas 2015: Autárquicas 2017:

Tx. Participação 83,53% 71,86% 55,86% 54,97%


eleitoral nacional
Abstenção 16,47% 28,14% 44,14% 45,03%

Votos B/N 4,7%. 2,76% 3,75% 4,55%.


BIBLIOGRAFIA:

- SOARES, FRSANCISCO, “Os Media e as Sondagens: Breve Reflexão”, pp.8 a 17, in


Eleições- Revista de assuntos eleitorais, Nº 5 (Abril), 1999;

- SOARES, FRANCISCO E EVARISTO, TERESA, “ Recenseamento eleitoral:


disfuncionamentos e novas perspectivas”, pp. 25 a 43

- MAGALHÃES, PEDRO, “Sondagens, eleições e opinião pública”, in FFMS- Fundação


Francisco Manuel dos Santos, 2011;

- MAGALHÃES. PEDRO; AGUIAR-CONRARIA, LUÍS E MARIA, MIGUEL PEREIRA, “As


sondagens e os resultados eleitorais em Portugal”, in Boletim Da Sociedade Portuguesa
de Estatística, 2011;

- MAGALHÃES, PEDRO, “Exposição às sondagens, mobilização cognitiva e


comportamento eleitoral : as eleições gerais de 2002 em Portugal “, in Itinerários : a
investigação nos 25 anos do ICS- Instituto de Ciências Sociais da ULisboa;

- TRIGO PEREIRA, PAULO, “Portugal: Dívida Pública e Défice Democrático”, in FFMS-


Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012;

- DA CRUZ BELO, ANTÓNIO, “Sondagens eleitorais, sua divulgação e comportamento


eleitoral dos portugueses”, Tese de Doutoramento ULisboa, nº 95, 2013;

- BACALHAU, MÁRIO, “Os portugueses e a política quatro anos depois do 25 de Abril :


sondagem à opinião pública”, in IFOP-Instituto de Estudos de Desenvolvimento.

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