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I. Nota Introdutória:
Em 1999, o Prof. Doutor Francisco Soares chamava a atenção para a influência dos
1
Media e das Sondagens recordando que alguns dos mais publicitados estudos de
opinião são promovidos pelos próprios canais de televisão, jornais e revistas, de forma
crescente funcionando em “pool”, para repartir custos e aumentar a difusão da notícia.
Por outras palavras, são os próprios Media que criam “sound bites” relativamente a
números que ficam registados na opinião pública, que muitas vezes passa a publicada
ou comentada, servindo de pretexto para notícias e respectivos programas de análise ou
comentário político nos principais canais de televisão em Portugal. Tal facto gera desde
logo um conflito com os princípios deontológicos do Estatuto do Jornalista, uma vez
que a própria notícia corre o risco de ser influenciado pelo estudo sobre o qual se baseia,
que lhe é fornecido por forças políticas ou por centros de sondagens que lhe são afectos.
1
SOARES, FRANCISCO, “Os Media e as Sondagens (Breve Reflexão)”, pp.8-17, Revista Assuntos
Eleitorais, Nº5, 1999, STAPE;
Esta desinformação aproveita sobretudo aos candidatos a funções públicas ou político-
partidárias que tendo conhecimento do ruído comunicacional proveniente do seio dos
próprios partidos2 e não raras vezes dos meios de comunicação social só actuam,
esclarecendo os eleitores e desfazendo esses vieses cognitivos quando tal facto lhes seja
prejudicial, ou por via da opinião pública e publicada ou por via das sondagens. Esta
situação é verificável em todas as eleições de âmbito nacional, levando os eleitores a
depositar o seu voto mediante os factos de que têm conhecimento sobre o percurso do
candidato e sobretudo mediante a credibilidade e identificação que têm para com o
mesmo, sempre segundo padrões sociais que lhes são suavemente impostos pelo
comentário político nos mais diversos meios de comunicação social ou de forma sub-
reptícia através da concretização mental de resultados definidos aprioristicamente, os
quais de nada vale contrariar porque segundo o comportamento grupal ou societário
definiu que, a dita maioria, votaria naquele sentido.
2
TRIGO PEREIRA, PAULO, “Portugal: Dívida Pública e Défice Democrático”, pp.65-77, Edições FFMS,
2012;
públicos em função da sua sobre- exposição mediática e do alcance e influência do seu
comentário político e da audiência habitual que obtém no mesmo, criando autênticas
clientes de espectadores.
Como sabemos os cidadãos eleitores possuem uma racionalidade limitada, a qual não
lhes permite conhecer todos os factos que justificam uma decisão eleitoral e que
contempla um certo grau de emotividade ou sensibilidade no momento da escolha de
determinado candidato. Por outras palavras, na iminência da participação ou da própria
decisão democrática existe uma panóplia de factores emocionais ou de identificação
afectiva que podem levar o eleitor a fazer determinada escolha ao invés da escolha
absolutamente racional. Factores tão diversos coma origem geográfica do candidato, o
seu género ou até a amizade que o eleitor tem pelo candidato ou pela sua família
biológica ou política podem logicamente justificar a escolha de um candidato em
detrimento de outro. Apesar de nesses casos não estarmos perante uma escolha
perfeitamente racional, ela é ainda racional apesar do grau de subjectividade que possa
imperar na decisão e que a justifique pessoalmente.
Existem três tipos de sondagens eleitorais, aquelas que são realizadas por centros de
investigação das universidades, as realizadas pelos próprios órgãos de comunicação
social e as realizadas internamente pelos próprios partidos através da constituição de um
gabinete de sondagens que integra funcionários e dirigentes partidários. Neste contexto,
existe um padrão comportamental entre todos que é o método de escolha mais fácil e
rápido para a obtenção de informação estatística sobre os resultados eleitorais
previsíveis no próximo acto eleitoral. Esta amostragem significa que é realizada uma
entrevista ou um inquérito num universo de cidadãos eleitores que respondendo a um
rol de questões sobre determinada candidatura se torna aferível o seu sentido de voto no
dia das eleições, olvidando contudo uma série de obstruções à obtenção de uma resposta
fidedigna, como as situações de reserva mental segundo a qual o indivíduo pode afirmar
algo e realizar o oposto do declarado, da desistência de última hora quando havia dita
que participaria no acto e acabou por não ir votar, ou o inverso, quando previa abster-se
mas em função do desagrado com o candidato que capitalizou maior número de apoios e
votos o eleitor decide fazer uso do voto útil. Esta aliás é a circunstância mais
imprevisível e indecifrável do panorama político português, a situação de perante a
potencial vitória de um candidato sobre o qual não recairia as nossas intenções de voto
decidirmos no último instante exercer o direito de voto para condicionar a sua hipotética
vitória e conceder o maior número de votos ao candidato que preferimos, tentando
influenciar outros a atribuir alguma utilidade ao seu voto, mudando-o na último
momento para os partidos que em clima de total alternância democrática possam
efectivamente obter a maioria parlamentar ou governar, ou seja, para os dois maiores
partidos portugueses ou para os chamados partidos do arco da governação. Esta
interpretação da realidade política foi desconstruída em Portugal com a desconsideração
pela praxe constitucional levada a cabo pela actual maioria parlamentar que suporta um
Governo minoritário socialista desde Outubro de 2015.
Existem ainda outros mecanismos legislativos de controlo dos resultados eleitorais tais
como a possibilidade de uma regulamentação por via legislativa dos centros de
sondagens e a extinção dos gabinetes de sondagens dos partidos por via legislativa, a
centralização de um Observatório Nacional dos resultados eleitorais que juntamente
com o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgasse sondagens oficiais
antecipadamente e nunca no período de reflexão após intensas semanas de campanha
eleitoral, que é o momento mais adequado para que sejam reveladas. Para além dos
mecanismos já enunciados, há um mecanismo de impossibilidade de capacidade
eleitoral passiva, leia-se ser eleito, para cidadãos maiores de 35 anos de idade que
pretendam ser candidatos às funções de Presidentes da República, quando não tenham
exercido o seu direito/ dever de voto, o mesmo se poderia aplicar a outras funções como
Deputado à AR ou Presidente de Câmara Municipal. Por último, o mecanismo de
responsabilização jurídica e não meramente político dos titulares de cargos públicos ou
políticos influenciaria nitidamente os resultados eleitorais, uma vez que os eleitores
assimilariam que a continuidade de determinados políticos dependeriam exclusivamente
do modo como exerceriam o seu mandato, da prestação de condutas pelas suas
propostas, tomadas de posição públicas e iniciativas legislativas, e também pelos seus
sentidos de voto, assim como pelo respeito estrito pela legalidade dos seus actos e da
conduta ética e adequada ao exercício das suas funções.
RESUMO: