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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

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Valter Pomar
sexta-feira, 29 de maio de 2020
Valter Pomar
As origens e desafios atuais do Programa Democrático e
Popular
Arquivo do blog
Roteiro da aula "As origens e desa ios atuais do
▼ 2020 (37)
Programa Democrá tico e Popular" ► Julho (4)
29 de maio, 19h00 ► Junho (8)
▼ Maio (4)
As origens e desafios
Me foi solicitado que falasse com você s sobre as origens atuais do Programa
Democráti...
e desa ios ATUAIS do programa democrá tico e popular.
Resolução Política
A questã o que me proponho a discutir é : porque alguns O tempo corre a nosso
falam de “programa socialista”, de “estraté gia socialista”, favor?

de “governo socialista” e outros falam de “programa A SITUAÇÃO E NOSSAS


TAREFAS
democrá tico-popular”, de “estraté gia democrá tico-
popular”, de “governo democrá tico popular”. ► Abril (9)

E ainda: porque para alguns estes termos querem dizer ► Março (6)

coisas completamente diferentes, enquanto outros ► Fevereiro (6)

consideram que se trata de duas maneiras diferentes de ► 2019 (39)

dizer praticamente a mesma coisa? ► 2018 (98)

Para responder esta questã o, vamos voltar a 1905, a um ► 2017 (93)

livro publicado por Lenin, intitulado “Duas tá ticas da ► 2016 (136)

social-democracia na revoluçã o democrá tica”. ► 2015 (152)

Nã o vou falar do conteú do do livro, vou falar do tı́tulo. ► 2014 (185)

Lenin fala de duas tá ticas. Na linguagem moderna, a ► 2013 (172)

gente falaria de duas ESTRATEGICAS. Na é poca, 1905, o ► 2012 (89)

termo estraté gia ainda nã o havia se generalizado como ► 2011 (143)

parte do vocabulá rio utilizado na polı́tica. As pessoas


usavam o termo tá tica no sentido de estraté gia (como Tema CAMARADAS
fazer para ganhar uma guerra); e també m usavam o Espetacular
Ltda..
termo tá tica no sentido de tá tica mesmo (como fazer Tecnologia do
para ganhar uma batalha). Blogger.

Lenin també m fala de revoluçã o democrá tica. Revoluçã o


democrá tica queria dizer revoluçã o BURGUESA. E
quando ele falava de duas tá ticas, ele estava se referindo
a duas polı́ticas, que conduziam a dois tipos diferentes de
revoluçã o democrá tica. Ambas seriam burguesas. Uma
seria protagonizada pela grande burguesia. Outra seria
protagonizada pelo campesinato.
Lenin defendia que a revoluçã o democrá tica
protagonizada pelo campesinato deveria ser apoiada
pelo proletariado. E admitia inclusive que pudesse
existir, por um certo tempo, um governo revolucioná rio
conjunto, do proletariado e do campesinato. Lenin dava a
esta hipoté tico governo (que nã o ocorreu em 1905, mas

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ocorreu em 1917) um nome que ele mesmo dizia ser 关注者( 513
horroroso, uma fó rmula algé brica: DITADURA 人) 下一步
DEMOCRATICO REVOLUCIONARIA DO PROLETARIADO
E DO CAMPESINATO.
Lenin defendia, para horror dos mencheviques, que o
proletariado poderia cumprir um papel hiper ativo numa
revoluçã o DEMOCRATICA, ou seja, NUMA REVOLUÇAO
DEMOCRATICO BURGUESA. Por que? Porque ele achava
que, fazendo isto, o proletariado estaria radicalizando e
acelerando o processo, tornando mais fá cil a etapa
seguinte, a luta pelo socialismo.
Neste exemplo que eu dei já ica claro de que
problemá tica surgiu o termo democrá tico popular:
revoluçã o democrá tica... revoluçã o democrá tico-
popular... revoluçã o socialista.
Lenin poderia ter dito: duas tá ticas, uma conduz a uma
revoluçã o democrá tico burguesa, outra conduz a uma
revoluçã o democrá tico popular. 关注
Mas atençã o: nesse momento, Lenin imagina o seguinte
cená rio: os operá rios vã o apoiar o campesinato, farã o
uma revoluçã o democrá tica hiper radical, mas em algum
momento a aliança vai se romper, os antigos camponeses
continuarã o defendendo o capitalismo e os operá rios
defenderã o o socialismo.
Neste caso, portanto, a revoluçã o democrá tico-popular é
uma coisa e a revoluçã o socialista é outra coisa.
Agora vamos dar um salto de 12 anos, vamos para 1917.
Nas Teses de Abril e em outros textos, Lenin vai defender
algo FORMALMENTE parecido com o que ele defendeu
em 1905, mas há uma mudança fundamental.
Em 1905 ele defende que o proletariado apoie o
campesinato para radicalizar a revoluçã o burguesa, para
tornar mais rá pida a passagem para uma segunda etapa,
onde se dará a realizaçã o das demandas socialistas do
proletariado.
Em 1917 ele defende que o proletariado SE apoie no
campesinato para realizar uma revoluçã o socialista, que
vai atender as demandas democrá ticas do campesinato.
Nã o nos importa aqui discutir os detalhes do problema,
mas apenas atentar para que nesse momento ressurge a
noçã o do democrá tico-popular, agora como duas coisas
simultâ neas:
-continua sendo uma modalidade de revoluçã o
democrá tico-burguesa
-mas agora é uma revoluçã o democrá tico-burguesa que
se dá como PARTE de uma revoluçã o socialista
Neste caso, portanto, a revoluçã o democrá tico-popular e
a revoluçã o socialista fazem parte do mesmo processo.
Nã o sã o a mesma coisa, mas també m nã o sã o coisas
distintas no tempo e no espaço.
Agora vamos dar mais um salto no tempo e vamos até
1920, no II Congresso da Internacional Comunista.
Neste Congresso houve uma comissã o que debateu a
Questã o Colonial e coube a Lenin apresentar o relató rio
da comissã o para o plená ria do Congresso.
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Vejamos um pedaço do que ele disse, no dia 26 de julho:


“gostaria de sublinhar particularmente a questã o do
movimento democrá tico-burguê s nos paı́ses atrasados.
Esta foi precisamente a questã o que suscitou algumas
divergê ncias. Discutimos sobre se, do ponto de vista dos
princı́pios e da teoria, era ou nã o correcto declarar que a
Internacional Comunista e os partidos comunistas devem
apoiar o movimento democrá tico-burguê s nos paı́ses
atrasados; em resultado desta discussã o chegá mos à
decisã o unâ nime de que deve falar-se de movimento
revolucionário nacional em vez de movimento
«democrático-burguês». Nã o resta a menor dú vida de
que qualquer movimento nacional só pode ser
democrático-burguês, pois a massa principal da
populaçã o nos paı́ses atrasados é constituı́da pelo
campesinato, que representa as relaçõ es capitalistas
burguesas. Seria utó pico pensar que os partidos
proletá rios, se é que eles podem surgir em geral em tais
paı́ses, sã o capazes de aplicar nestes paı́ses atrasados
uma tá ctica comunista sem manter determinadas
relaçõ es com o movimento camponê s e sem o apoiar na
prá tica. Mas aqui foram feitas objecçõ es de que se
falá ssemos de movimento democrá tico-burguê s se
apagaria qualquer diferença entre os movimentos
reformista e revolucioná rio. Entretanto, nos ú ltimos
tempos esta diferença manifestou-se nos paı́ses coloniais
e atrasados com inteira clareza, porque a burguesia
imperialista procura com todas as forças implantar o
movimento reformista també m entre os povos
oprimidos. Entre a burguesia dos paı́ses exploradores e a
dos coloniais veri icou-se uma certa aproximaçã o, pelo
que, muito frequentemente - e talvez mesmo na maioria
dos casos - a burguesia dos paı́ses oprimidos, apesar de
apoiar os movimentos nacionais, luta ao mesmo tempo
de acordo com a burguesia imperialista, isto é ,
juntamente com ela, contra todos os movimentos
revolucioná rios e as classes revolucioná rias. Na
comissã o isto foi demonstrado de forma irrefutá vel, e
nó s considerá mos que a ú nica coisa correcta era ter em
atençã o esta diferença e substituir em quase toda a parte
a expressã o «democrá tico-burguê s» pela expressã o
«revolucioná rio-nacional». O sentido desta mudança
consiste em que nó s, como comunistas, só devemos
apoiar e só apoiaremos os movimentos libertadores
burgueses nos paı́ses coloniais nos casos em que esses
movimentos sejam verdadeiramente revolucioná rios, em
que os seus representantes nã o nos impeçam de educar e
organizar num espı́rito revolucioná rio o campesinato e
as amplas massas de explorados. Mas se nã o existirem
essas condiçõ es, os comunistas devem lutar nestes paı́ses
contra a burguesia reformista, à qual també m pertencem
os heró is da II Internacional. Nos paı́ses coloniais
existem já partidos reformistas, e os seus representantes
dizem-se por vezes sociais-democratas e socialistas. A
distinçã o mencionada foi aplicada a todas as teses, e
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penso que graças a isto o nosso ponto de vista está agora


formulado de um modo mais preciso”.
Notem que aqui aparece um outro conceito, para
abordar uma outra situaçã o.
Em 1905 Lenin falava de revoluçã o democrá tica
camponesa com apoio do proletariado, em 1917 ele
falará de revoluçã o socialista com apoio do campesinato,
mas nos dois casos ele está falando da Rú ssia, uma das
grandes potê ncias do mundo e um paı́s imperialista.
Em 1920, no texto que acabo de ler, ele está falando dos
paı́ses coloniais. E nesses paı́ses ele introduz uma
diferença entre a movimento democrá tico-burgues e
movimento revolucioná rio nacional.
Notem que a base do raciocı́nio é o mesmo: nos dois
casos, onde está a grande burguesia, está a alternativa
menos radical; e onde está o camponê s, está a alternativa
mais radical, que deve ser apoiada pelos proletá rios e
comunistas.
Qual a diferença entã o? Por qual motivo ele nã o usa os
termos de 1905? Por qual motivo ele nã o sua os termos
de 1917? Um motivo é ó bvio: a Rú ssia nã o era um paı́s
colonial. Nos paı́ses colonizados, a questã o NACIONAL (a
independê ncia) era a divisora de á guas.
Mas e a questã o, digamos, econô mico-social?
No mesmo relató rio, um pouco mais adiante, Lenin dirá o
seguinte: “O trabalho prá tico dos comunistas russos nas
coló nias anteriormente pertencentes ao tsarismo, em
paı́ses tã o atrasados como o Turquestã o e outros,
colocou perante nós a questão de como devem ser
aplicadas a táctica e a política comunistas em
condições pré-capitalistas, pois o traço característico
mais importante destes países é o facto de neles
dominarem ainda as relações pré-capitalistas, e por
isso não se pode sequer falar ali de um movimento
puramente proletário. Nestes paı́ses quase nã o há
proletariado industrial. Apesar disto, també m ali temos
assumido e devemos assumir o papel de dirigentes. O
nosso trabalho mostrou-nos que nestes paı́ses é preciso
vencer di iculdades colossais, mas os resultados prá ticos
do nosso trabalho mostraram també m que, apesar destas
di iculdades, se pode despertar nas massas a aspiraçã o a
um pensamento polı́tico independente e a uma
actividade polı́tica independente també m lá onde quase
nã o há proletariado. (...) Compreende-se perfeitamente
que os camponeses, que se encontram numa
dependê ncia semifeudal, possam assimilar muito bem a
ideia da organizaçã o sovié tica e realizá -la na prá tica. E
igualmente claro que as massas oprimidas, exploradas
nã o só pelo capital mercantil mas també m pelos feudais
e por um Estado que assente sobre bases feudais, podem
també m aplicar esta arma, este tipo de organizaçã o nas
condiçõ es em que se encontram. A ideia da organizaçã o
sovié tica é simples e pode ser aplicada nã o só à s relaçõ es
proletá rias mas també m à s relaçõ es camponesas feudais
e semifeudais”.
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Notem: ele está defendendo que a organizaçã o


SOVIETICA, ou seja, atravé s de CONSELHOS, organismos
de democracia direta, nã o é unicamente aplicá vel em
paı́ses capitalistas que estã o vivendo situaçõ es de
revoluçã o socialista. Mas també m em situaçõ es pré -
capitalistas.
Lenin fala també m o seguinte: “os Sovietes camponeses,
os Sovietes dos explorados sã o um instrumento ú til nã o
só para os paı́ses capitalistas, mas també m para os paı́ses
com relaçõ es pré -capitalistas, e que a propaganda da
ideia dos Sovietes camponeses, dos Sovietes de
trabalhadores, em toda a parte, tanto nos paı́ses
atrasados como nas coló nias, é um dever incondicional
dos partidos comunistas e dos elementos que estã o
dispostos a criar partidos comunistas; e lá onde as
condiçõ es o permitam devem tentar imediatamente a
organizaçã o de Sovietes do povo trabalhador. (...) “o
proletariado dos paı́ses avançados pode e deve ajudar as
massas trabalhadoras atrasadas e que o
desenvolvimento dos paı́ses atrasados poderá sair da sua
etapa actual quando o proletariado vencedor das
repú blicas sovié ticas estender a mã o a essas massas e
puder prestar-lhes apoio. (...)
Note que estamos diante de um novo problema: quando
voce tem paı́ses pré -capitalistas ajudados por paı́ses
socialistas, como voce chama o tipo de sociedade que
existe nesses paı́ses? Como voce chama o processo
revolucioná rio que cria este tipo de situaçã o?
Nã o dá para chamar APENAS de “capitalistas”, mas
també m nã o dá para chamar AINDA de socialistas.
Sabendo isto, Lenin fala o seguinte: "A questã o foi
colocada do seguinte modo: poderemos considerar
correcta a a irmaçã o de que o está gio capitalista de
desenvolvimento da economia nacional é inevitá vel para
os povos atrasados que estã o agora a libertar-se e entre
os quais se observa agora, depois da guerra, um
movimento na via do progresso? Respondemos
negativamente a esta questã o. Se o proletariado
revolucioná rio vitorioso realizar entre eles uma
propaganda sistemá tica e os governos sovié ticos forem
em sua ajuda com todos os meios de que dispõ em, é
errado supor que o está gio capitalista de
desenvolvimento é inevitá vel para os povos atrasados.
Em todas as coló nias e paı́ses atrasados devemos nã o só
formar quadros independentes de combatentes,
organizaçõ es partidá rias, nã o só realizar uma
propaganda imediata pela organizaçã o de Sovietes
camponeses e procurar adaptá -los à s condiçõ es pré -
capitalistas, mas a Internacional Comunista deve
estabelecer e fundamentar teoricamente a tese de que os
paı́ses atrasados, com a ajuda do proletariado dos paı́ses
avançados, podem passar ao regime sovié tico e, atravé s
de determinadas etapas de desenvolvimento, ao
comunismo, evitando o está dio capitalista de
desenvolvimento”.
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Viram a frase: “os paı́ses atrasados, com a ajuda do


proletariado dos paı́ses avançados, podem passar ao
regime sovié tico e, atravé s de determinadas etapas de
desenvolvimento, ao comunismo, evitando o está dio
capitalista de desenvolvimento”.
Ou seja: ele está agora falando da possibilidade de um
CAMINHO ao COMUNISMO, que nã o seria o mesmo da
Rú ssia, nem o mesmo caminho dos demais capitalistas
avançados.
Porque ele nã o chama de SOCIALISMO, simplesmente?
Ele vai falar de “regime sovié tico”, entendendo por isto
um regime de “sovietes camponeses”, que ele mesmo
falou antes que a “massa principal da populaçã o nos
paı́ses atrasados é constituı́da pelo campesinato, que
representa as relaçõ es capitalistas burguesas”.
As vezes parece uma salada de conceitos, de categorias,
mas existe uma certa ordem nesta confusã o, o que nó s
podemos chamar de “estacas no pâ ntano”.
Estaca 1: paı́ses pré -capitalistas, onde o campesinato é
maioria explorada, a tarefa é libertar os camponeses da
exploraçã o, torna-los proprietá rios livres;
Estaca 2: onde o pré -capitalismo for combinado com a
exploraçã o colonial, é preciso fazer um movimento
nacional para acabar com a condiçã o colonial, mas
novamente quem pode fazer um movimento
verdadeiramente radical nesse sentido sã o os
camponeses;
Estaca 3: nos dois casos, mesmo que os camponeses
protagonizem, se icar só nisso, o desfecho poderá ser o
desenvolvimento capitalista;
Estaca 4: mas se os camponeses se organizarem em
sovietes, se os camponeses contarem com o apoio dos
comunistas, se os camponeses contarem com o apoio do
Estado socialista (no caso, a URSS), entã o será possı́vel
chegar “atravé s de determinadas etapas de
desenvolvimento, ao comunismo, evitando o está dio
capitalista de desenvolvimento”.
Portanto, notem que estamos diante de algo parecido,
mas diferente, do que foi dito em 1905 e do que foi dito
em 1917.
Em 1905 ele defende que o proletariado RUSSO apoie o
campesinato para radicalizar a revoluçã o burguesa, para
tornar mais rá pida a passagem para uma segunda etapa,
onde se dará a realizaçã o das demandas socialistas do
proletariado, em transiçã o ao comunismo.
Em 1917 ele defende que o proletariado RUSSO SE apoie
no campesinato para realizar uma revoluçã o socialista,
que vai atender as demandas democrá ticas do
campesinato, em transiçã o ao comunismo.
Em 1920 ele defende que o proletariado RUSSO e
mundial apoie o campesinato dos paı́ses atrasados e
colonizados, para realizar um caminho alternativo de
transiçã o ao comunismo.
Alguns anos depois, quando Lenin já tinha morrido, outro
congresso da Internacional Comunista tenta por ordem
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nesta taxonomia e aprovam a seguinte resoluçã o:


(ver pá gina 50 e 51 de
file:///E:/Desktop/2020%20MAIO/IC%20SOBRE%20AMERIC
A%20LATINA.pdf)
Como você s podem ver, a ideia de uma estrada reta
capitalismo/socialismo/comunismo já está virando um
caminho de rato, com vá rios caminhos paralelos, com
vias elevadas e com vias subterrâ neas, caminhos mais
longos e outros mais curtos, com estradas de mã o ú nica,
duas mã os, vá rias pistas e por aı́ vai.
A pró xima parada nessa nossa arqueologia do termo
democrá tico-popular é a China, um texto escrito por Mao
Zedong e publicado, segundo consta, no dia 15 de janeiro
de 1940 na revista Cultura Chinesa, sob o tı́tulo
POLITICA E CULTURA DA NOVA DEMOCRACIA.
Vejam esse trecho do texto: “Desde as dinastias de Chow
e Chin, a China tem sido uma sociedade feudal. Sua
polı́tica e sua economia tê m tido esse cará ter. Assim
també m tem sido sua cultura — re lexo de sua polı́tica e
de sua economia.
Contudo, desde a agressã o do capitalismo estrangeiro
e desde que alguns elementos capitalistas começaram
gradualmente a crescer na sociedade chinesa, isto é , nos
cem anos decorridos desde a Guerra do Opio até a atual
guerra anti-japonesa, a China tornou-se, passo a passo,
uma sociedade colonial, semi-colonial e semi-feudal.
Atualmente, nos territó rios ocupados, nossa sociedade é
de cará ter colonial; nas á reas nã o-ocupadas. é semi-
colonial; enquanto em ambos os lados predomina ainda
o sistema feudal. Esta é a isionomia da sociedade
chinesa de nossos dias; por outras palavras, sua
«condiçã o nacional». A polı́tica e a economia dominantes
sã o portanto de cará ter colonial, semi-colonial semi-
feudal; e assim també m é a cultura.
Essa polı́tica, essa economia e essa cultura
dominantes sã o os objetivos visados por nossa
revoluçã o. Sã o a velha polı́tica, a velha economia e a
velha cultura coloniais, semi-coloniais e semi-feudais
que nó s visamos eliminar, para em seu lugar
estabelecermos algo de precisamente oposto: nova
polı́tica, nova economia e nova cultura.
Qual seria, entã o, o conteú do da nova politiea e da
nova economia da naçã o chinesa? E qual o conteú do da
nova cultura?
O processo histó rico da revoluçã o chinesa deve ser
dividido em dois está gios: primeiro, a revoluçã o
democrá tica, e depois a revoluçã o socialista — dois
processos revolucioná rios de cará ter inteiramente
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diferente. A democracia aqui mencionada nã o é a velha


democracia, a democracia do velho tipo, mas a Nova
Democracia, a democracia de novo tipo.
Pode-se concluir, portanto, que a nova polı́tica, a nova
economia e a nova cultura da naçã o chinesa nada mais
sã o do que a polı́tica, a economia e a cultura da Nova
Democracia.
Esta é a caracterı́stica histó rica da atual revoluçã o
chinesa. Todo aquele que, estando empenhado no
trabalho revolucioná rio na China, nã o compreender esta
caracterı́stica histó rica, nã o será capaz de dirigir a
revoluçã o ou de conduzı́-la à vitó ria. Pelo contrá rio, será
desprezado pelo povo e acabará inevitavelmente num
lamentá vel fracasso.
Qual a novidade? O que virá em seguida:
IV - A Revolução Chinesa é Parte de Revolução
Mundial
A caracterı́stica histó rica da revoluçã o chinesa é que
ela se divide em duas etapas: a revoluçã o democrá tica e
a revoluçã o socialista. A democracia da primeira etapa
nã o é uma democracia no sentido geral, mas um tipo
novo, especial, de estilo chinê s, a Nova Democracia.
Como foi entã o formada esta caracterı́stica histó rica? Ela
existiu primitivamente durante os ú ltimos cem anos ou
só apareceu depois?
Um estudo super icial do desenvolvimento histó rico
da China e do mundo revelará que tal caracterı́stica
histó rica nã o existia nos dias da Guerra do Opio ou no
perı́odo que a seguiu imediatamente, e só tomou forma
depois da primeira guerra imperialista mundial e da
Revoluçã o Russa de Outubro. Detenhamo-nos agora no
estudo do processo de sua formaçã o.
E evidente que se a atual sociedade da China é de
cará ter colonial, semi-colonial e semi-feudal, o processo
da revoluçã o chinesa deve ser dividido em duas etapas: a
primeira etapa é a que visa transformar a sociedade
colonial, semi-colonial e semi-feudal numa sociedade
independente e democrá tica, enquanto que a segunda
etapa visa impulsionar a revoluçã o para diante a im de
construir uma sociedade socialista, o que estamos
realizando agora é a primeira etapa da revoluçã o
chinesa.
Pode-se dizer que a primeira etapa começou nos dias
da Guerra do Opio em 1840, isto é , no tempo em que a
sociedade chinesa principiava a modi icar-se, de sua

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forma feudal original, para a forma semi-colonial e semi-


feudal. Durante este perı́odo, tivemos a Revoluçã o de
Tai-Ping, a Guerra Sino-Francesa, a Guerra Sino-
Japonesa, o Movimento Reformador de 1898,
a Revoluçã o de 1911, o Movimento de 4 de maio,
o Movimento de 30 de maio, a Expediçã o do Norte, a
Revoluçã o Agrá ria, o Movimento de 9 de dezembro e a
atual Guerra Anti-Japonesa. Todos esses movimentos, de
um certo ponto de vista, visaram a realizaçã o da
primeira etapa da revoluçã o chinesa. Foram movimentos
do povo chinê s, em perı́odos diferentes e com diferentes
graduaçõ es, tendendo para este objetivo — combater o
imperialismo e o feudalismo e lutar pelo
estabelecimento de uma sociedade democrá tica
independente. A Revoluçã o de 1911 foi apenas a sua
realizaçã o num sentido mais concreto. Esta revoluçã o,
pelo seu cará ter social, era democrá tico-burguesa e nã o
social-proletá ria. Ela ainda nã o foi concluı́da e exige,
assim, nosso continuado esforço, porque os inimigos
desta revoluçã o ainda estã o extremamente fortes na
atualidade. Ao aludir à revoluçã o, dizia o dr. Sun Yat-Sen:
«A revoluçã o ainda nã o está terminada e a ela nossos
camaradas devem continuar dando seus esforços».
Referia-se ê le a esta revoluçã o democrá tico-burguesa .
Ocorreu uma transformaçã o na revoluçã o
democrá tico burguesa da China, depois da irrupçã o da
primeira guerra imperialista mundial e da construçã o do
Estado socialista na sexta parte do mundo, com a vitó ria
da Revoluçã o Russa de Outubro de 1917.
Antes disso, a revoluçã o democrá tico-burguesa
chinesa pertencia à categoria da velha revoluçã o
democrá tico-burguesa mundial e dela fazia parte. A
partir daquela é poca, a revoluçã o democrá tico-burguesa
chinesa tem modi icado o seu cará ter e pertence agora à
categoria da nova revoluçã o democrá tico-burguesa. No
que diz respeito à frente revolucioná ria, ela é uma parte
da revoluçã o socialista-proletá ria mundial.
Por que? Porque a primeira guerra imperialista
mundial e a vitoriosa Revoluçã o Socialista de Outubro
modi icaram a trajetó ria do mundo, traçando uma nı́tida
linha divisó ria entre as duas etapas histó ricas.
Na é poca em que o capitalismo mundial entra em
colapso numa sesta parte do globo, enquanto em outras
partes tem revelado claramente sintomas de decadê ncia;
quando a parte restante do mundo capitalista nã o pode
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continuar sem depender, mais do que nunca, das colô nias


e semi-colô nias; quando o Estado Socialista está
consolidado e proclama sua decisã o de ajudar a luta dos
movimentos de libertaçã o de todas as colô nias e semi-
colô nı́as; e quando o proletariado dos paı́ses capitalistas
está se libertando dia a dia da in luê ncia dos partidos
social-democratas imperialistas e també m se declara
desejoso de ajudar esse movimento de libertaçã o; numa
tal é poca, qualquer revoluçã o das colô nias e semi-
colô nias contra o imperialismo ou o capitalismo
internacional, nã o pode mais pertencer à categoria da
velha revoluçã o mundial democrá tico-burguesa, mas sı́m
a uma nova categoria. Nã o é mais parte da velha
revoluçã o mundial burguesa ou capitalista, mas da nova
revoluçã o mundial — a revoluçã o socialista-proletá ria.
Esta espé cie de colô nias semi-colô nias revolucioná rias
nã o devem ser consideradas aliadas da frente contra-
revolucioná ria do capitalismo mundial, mas sim aliadas
da frente da revoluçã o socialista mundial.
Ainda que, de acordo com o seu cará ter social, a
primeira fase da primeira etapa desta revoluçã o colonial
e semi-colonial seja fundamentalmente democrá tico-
burguesa, e seus objetivos concretos sejam afastar os
obstá culos que impedem o desenvolvimento do
capitalismo, esta espé cie de revoluçã o nã o é mais do
velho tipo, dirigido somente pela classe burguesa e
visando simplesmente o estabelecimento de uma
sociedade capitalista ou de um paı́s sob a ditadura da
classe burguesa, mas sim de um novo tipo dirigido
inteira ou parcialmente pelo proletariado e objetivando
o estabelecimento de uma nova sociedade democrá tica
ou de um paı́s governado, em sua primeira etapa, pela
aliança de diversas classes revolucioná rias. Este tipo de
revoluçã o, devido à s variaçõ es da situaçã o do inimigo e
nas condiçõ es desta aliança, pode ser dividido num certo
nú mero de fases durante o seu processo, mas nenhuma
mudança ocorrerá em seu cará ter fundamental, que será
o mesmo até o advento da revoluçã o socialista.
Este tipo de revoluçã o é um grande golpe no
imperialismo, e por isso nã o é admitido e sim combatido
pelos imperialistas. Em contraposiçã o, é admitido pelo
socialismo e apoiado pelo Estado Socialista e pelo
proletariado socialista internacional. Assim, este tipo de
revoluçã o tornou-se parte integrante da revoluçã o
mundial socia ista-proletá ria.
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

«A revoluçã o da China faz parte da revoluçã o


mundial». Esta acertada tese foi proposta desde 1924-
1927, durante o perı́odo da Grande Revoluçã o da China.
Ela foi apresentada pelos comunistas e aprovada por
todos que participavam na luta anti-ı́mperiaı́ista e anti-
feudal naquela é pó ca. Sucedia apenas que o signi icado
da teoria nã o estava muito desenvolvido ainda, e o que
nó s possuı́amos era somente uma compreensã o nebulosa
da questã o. Lembro-me de que quando o sr. Chiang Kaı́-
Shek falou em Swatow, em 1925, durante a sua
expediçã o contra Chen Chiung-Ming, ê le també m disse:
«A revoluçã o da China faz parte da revoluçã o mundial».
Esta «revoluçã o mundial» nã o é a velha revoluçã o
mundial burguesa, que há muito já icou para trá s, mas
sim a nova revoluçã o mundial, a revoluçã o socialista. Do
mesmo modo, essa «parte» nã o signifı́ca uma parte da
velha revoluçã o burguesa, poré m uma parte da nova
revoluçã o socialista. Isto constitui uma modi icaçã o
extraordinà riamente grande, uma modi icaçã o sem
precedentes na histó ria do mundo, em geral, e na histó ria
da China, em particular.
Baseando-se na acertada teoria de Stá lin foi que os
comunistas chineses apresentaram esta justa tese. Já em
1918 dizia Stá lin, em artigo comemorativo do primeiro
aniversá rio da Revoluçã o de Outubro:
«Sã o os seguintes os trê s aspectos mais
importantes da grande signi icaçã o
mundial da Revoluçã o de Outubro. Em
primeiro lugar, ela amplia o alcance do
problema nacional, começando pelo
problema particular da luta contra a
opressã o nacional e indo até o problema
geral da libertaçã o dos povos oprimidos,
colô nias e semi-colô nias, do jugo do
imperialismo. Em segundo lugar, amplia a
possibilidade e abre o verdadeiro caminho
para esta libertaçã o, favorece em grande
parte o trabalho de libertaçã o dos povos
oprimidos ocidentais e orientais, atraindo-
os para a frente comum da luta vitoriosa
contra o imperialismo. Em terceiro lugar,
lança uma ponte entre o Ocidente
socialista e o Oriente escravizado, isto é ,
estabele uma nova frente revolucioná ria
anti-imperialista, ligando o proletariado
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ocidental e os povos oprimidos orientais


atravé s da Revoluçã o Russa» (1).
Desde a publicaçã o desse artigo, Stá lin tem
desenvolvido continuamente a teoria a respeito da
revoluçã o colonial e semi-colonial, procurando
diferenciá -la do velho tipo de revoluçõ es e da sua
transformaçã o numa parte da revoluçã o socialista-
proletá ria. Esta teoria foi expljcada mais clara e
corretamente num artigo publicado em 30 de junho de
1925, quando Stá lin sustentava uma polê mica com os
nacionalistas iugoslavos daquela é poca. O artigo,
intitulado «Mais Uma Vez o Problema Nacional», dizia
em certa parte:
«O camarada Semich refere-se a uma
passagem do folheto
de Stá lin «O Marxismo e o Problema
Nacional», escrito no im de 1912. Ali está
dito que «a luta nacional é uma luta das
classes burguesas entre si». Com isto, ê le
parece insinuar a correçà o de sua pró pria
fó rmula para de inir a signi icaçã o social
do movimento nacional nas presentes
condiçõ es histó ricas. Mas o folheto de
Stá lin foi escrito antes da guerra
imperialista, numa é poca em que a
questã o nacional nã o tinha assumido
ainda uma signi icaçã o de amplitude
mundial aos olhos dos marxistas, e quando
a exigê ncia bá sica dos marxistas a
respeito do direito de auto-determinaçã o
era considerada, nã o uma parte da
revoluçã o proletá ra, mas uma parte da
revoluçã o democrá tico-burguesa. Seria
ridı́culo ignorar o fato de que, desde entã o,
uma modi icaçã o fundamental teve lugar
na situaçã o internacional, que a guerra,
por um lado, e a Revoluçã o de Outubro na
Rú ssia, por outro lado converteram a
questã o nacional de parte integrante da
revoluçâ o democrá tico-burguesa em
parte integrante da revoluçã o socialista-
proletá ria. Já em Outubro de 1916, em seu
artigo «Resumo da Discussã o sobre a
Auto-Determinaçã o», dizia Lê nin que o
ponto bá sico da questã o nacional,
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

referente ao direito de auto-determinaçã o


tinha deixado de ser parte do movimento
democrá tico geral, tornando-se parte
integrante da revoluçã o proletá ria
socialista geral. Nã o mencionarei os
trabalhos sub sequentes sobre a questã o
nacional feitos por Lê nin e outros
representantes do comunismo russo. Em
vista de tudo isto, que signi icaçã o pode
agora ser atribuı́da à referê ncia do
camarada Semich a uma certa passagem
do folheto de Stá lin, escrito no perı́odo da
revoluçã o democrá tico-burguesa na
Rú ssia, desde que, como resultado da nova
situaçã o histó rica, entramos numa nova
é poca, na é poca da revoluçã o proletá ria
mundial? A ú nica signi icaçã o que lhe
pode ser atribuı́da é que o camarada
Semich discute sem levar em consideraçã o
o espaço e o tempo, sem levar em
consideraçã o as atuais condiçõ es
histó ricas. Por isso ê le viola os mais
elementares princı́pios da dialé tica e
deixa de levar em conta o fato de que
aquilo que é certo em determinada
situaçã o histó rica pode vir a ser errado
em outra situaçã o histó rica» (2).
Disto podemos depreender que há duas
categorias de revoluções. A primeira, pertencente à
categoria burguesa ou capitalista, tornou-se assunto
do passado desde a irrupção da primeira guerra
imperialista mundial em 1914, e especialmente
desde a Revolução de Outubro de 1917. Daí em
diante, começou a segunda categoria de revolução
mundial, a revolução mundial proletária ou
socialista, tendo o proletariado dos países
capitalistas como a sua força principal, e os povos
oprimidos das colônias e semi-colônias como seus
aliados. Não importa a que classe ou partido
pertençam os elementos oprimidos que participam
na revolução, nem se êles, na prática ou
ideologicamente, compreendem ou não o seu
signi icado. Na medida em que são anti-
imperialistas, sua revolução faz parte da revolução

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mundial proletária-socialista, e êles se tornam seus


aliados.
A signi icaçã o da revoluçã o chinesa está hoje
grandemente ampliada, porque ela veio se processando
numa é poca em que a crise polı́tica e econô mica do
capitalismo conduz o mundo, passo a passo, para a
segunda guerra imperialista, quando a Uniã o Sovié tica
alcançou o perı́odo de transiçã o do Socialismo para o
Comunismo e tem a possibilidade de orientar e ajudar o
proletariado, os povos oprimidos e todas as massas
revolucioná rias do mundo; quando as forças proletá rias
dos vá rios paı́ses capitalistas estã o crescendo mais e
mais; e quando o Partido Comunista, o proletariado, os
camponeses, a intelectualidade e a pequenb-burguesia
tornam-se uma poderosa e independente força polı́tica.
Numa é poca como essa, nã o devemos concluir que foi
grandemente a signi icaçã o mundial da revoluçã o
chinesa? Claro que sim. A revoluçã o chinesa é uma
grandiosa parcela da revoluçã o mundial!
Esta primeira etapa da revolução chinesa (que,
por sua vez é dividida em muitas sub-etapas), de
acordo com o seu caráter social, é uma nova
revolução democrático-burguesa e não a revolução
socialista-proletária, embora de há muito ela se
tivesse tornado parte desta última e uma
considerável parte, uma importante aliada no
presente. A primeira fase ou etapa desta revolução
não visa certamente, e de fato não pode visar,
estabelecer uma sociedade capitalista dirigida pela
burguesia, mas sim estabelecer uma Nova
Democracia governada pela aliança de diversas
classes revolucionárias. Depois do cumprimento
desta primeira etapa, ela se desenvolverá para a
segunda etapa, a im de estabelecer-se a sociedade
socialista na China.
Portanto, notem que estamos diante de diferentes tipos
de resposta, em parte porque sã o problemas diferentes,
em parte porque as pessoas estã o tateando a busca de
uma fó rmula que dê conta de ALGO TRANSITORIO QUE
PODE VIR A ACONTECER. OU NAO.
Na China vai acontecer em 1949. E se você s forem a
busca do “Programa Comum da Conferê ncia Consultiva
Polı́tica do Povo Chinê s” promulgado na vé spera da
fundaçã o da Repú blica Popular da China, verã o que os
chineses falam que se trata do ”programa da frente ú nica
da democracia popular da China, alé m de desempenhar o
papel como a constituiçã o provisó ria. O Programa
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

Comum foi aprovado pela primeira Sessã o Plená ria da


Conferê ncia Consultiva Polı́tica do Povo Chinê s e
promulgado no dia 29 de setembro de 1949. Antes da
promulgaçã o da Constituiçã o da Repú blica Popular da
China em 1954, o programa desempenhava o papel como
a constituiçã o provisó ria”.
E na Constituiçã o aprovada em 1954 será dito o seguinte:
Preâmbulo
Como resultado de mais de um sé culo de luta heró ica,
o povo chinê s — sob a direçã o do Partido Comunista da
China — alcançou inalmente, em 1949, uma grande
vitó ria na revoluçã o popular contra o imperialismo, o
feudalismo e o capital burocrá tico; liquidou, assim um
longo perı́odo de opressã o e escravidã o, e criou a
Repú blica Popular da China, ditadura democrá tica do
povo. O regime de democracia-popular na República
Popular da China — isto é: o regime da nova
democracia — assegura a nosso país a possibilidade
de liquidar por via pací ica a exploração e a miséria,
e de construir uma sociedade socialista, próspera e
feliz.
O período que vai da criação da República Popular
da China até à construção da sociedade socialista é
um período de transição. Constituem tarefas
fundamentais do Estado no perı́odo de transiçã o a
realizaçã o gradual da industrializaçã o socialista do paı́s
e a execuçã o gradual das transformaçõ es socialistas na
agricultura, na indú stria artesanal e na indú stria e
comé rcio capitalistas. Durante os ú ltimos anos o povo de
nosso paı́s travou com ê xito uma luta de grandiosas
proporçõ es visando à transformaçã o do sistema agrá rio,
à resistê ncia à agressã o norte-americana, à ajuda ao
povo coreano, ao esmagamento dos elementos contra-
revolucioná rios e à restauraçã o da economia nacional.
Assim foram preparadas as condiçõ es necessá rias para o
desenvolvimento econô mico plani icado e para a
passagem gradual à sociedade socialista.
Notem que o termo democrá tico popular já comparece
aı́. E vai se naturalizando uma nova equaçã o. Junto da
equaçã o CAPITALISMO-SOCIALISMO-COMUNISMO,
passa a existir a equaçã o PRE-CAPITALISMO (feudal,
semicolonial ou semelhante)-REGIME DEMOCRATICO-
POPULAR-SOCIALISMO- CAPITALISMO.
Processo similar ocorreu, pouco antes, no Leste Europeu.
Isso ica claro no seguinte texto:

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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

As Democracias Populares da
Europa Oriental
Eugene Reale, 1947, do PCI
Poderemos admitir que uma nova constituição dos povos,
um novo regime social, seja um dos resultados da última
guerra? Estaremos, hoje, ante uma nova concepção de Estado,
ante uma forma nova de democracia? No conflito entre o regime
capitalista e o regime socialista do mundo contemporâneo pode,
até certo ponto, apresentar-se uma terceira forma, que não
tenha o caráter peculiar nem de um nem de outro, mas
represente historicamente uma expressão própria, uma solução
particular, um fato bem diferenciado e individualizado?
A essas perguntas, que muitos escritores e figuras políticas
tem apresentado e que interessa a camadas cada vez mais
amplas de estudiosos, devemos responder que uma tal
eventualidade não é apenas possível, mas diremos quase
natural, desde que se tenha a consciência da inelutabilidade do
desenvolvimento histórico; não apenas possível mas lógico,
desde que se tenha a compreensão do conceito de progresso,
para o qual nada se pode fossilizar em fórmulas fixas e
imutáveis.
Depois da primeira guerra mundial, a revolução dos
operários e camponeses na Rússia representou a rutura violenta
com o velho mundo capitalista, e o regime comunista significou
exatamente o contrário do regime burgues. Dada a tese,
colocava-se a sua antítese: desenvolvida até o último grau a
crise da sociedade capitalista, concretizava-se o fim de seu
superamento — o bolchevismo.
A revolução bolchevique foi a grande conquista dos tempos
modernos, no sentido em que significou a libertação definitiva
do trabalho em relação ao capital e a sua organização por si
mesmo e de modo autônomo. Assim como a revolução francesa
tinha realizada a liquidação do mundo feudal, a revolução
bolchevique realizava a liquidação da sociedade capitalista.
O grande processo histórico que teve início em 1917, com a
Revolução soviética, está longe de ter-se encerrado e o seu
desenvolvimento foge, por isso, a uma análise definitiva.
Ao contrário, aquele processo histórico que teve início em
1789, com a Revolução Francesa concluiu seu ciclo e oferece
suficiente perspectiva para uma análise completa.
Também ali foi aberta uma voragem no seio da velha
sociedade europeia, uma nova, radical e temerária afirmação
ideológica, que libertou o homem das peias dos privilégios
feudais e ofereceu um novo conceito do cidadão, em
contraposição às velhas fórmulas de uma sociedade erguida
sobre a desigualdade e os privilégios.
Também ali, se desenvolveu num processo ininterrupto de
guerras para a afirmação desses princípios, numa série
alternada de progressos e retrocessos, de revoluções e reações
internas, de aventuras ditatoriais e de empresas
contrarrevolucionárias por parte da Europa coligada.
Como a União Soviética de hoje, a França exportava, então,
com as bandeiras do Diretório e com as águias napoleônicas,
um princípio novo que seria o germe de toda a história futura.
Quando aqueles capítulos se encerraram, quando o déspota
corso terminou a sua parte, o quadro que se apresentou —
vencido ou vencedor que ele tinha sido — foi de todo novo: a
estrutura social da Europa estava completamente transformada.

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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
Realizou-se, através do grande contraste entre o princípio do
absolutismo e o princípio revolucionário, uma terceira forma de
regime dos povos que não tem o caráter peculiar de um ou de
outros desses extremos, mas é e quer ser uma expressão
histórica própria.
A França havia afirmado os princípios imortais dos direitos
do homem e a Europa embora os tendo combatido, e
combatendo-os, acabou por assimilá-los. "A Grécia mesmo
derrotada triunfou sobre seus ferozes vencedores".
Era natural que esse processo fosse mais evidente,
sobretudo nas zonas de maior atrito e desgaste, naqueles países
onde mais violenta se desenvolveu a luta, onde mais viva se
manifestou a contenda.
Nos países colocados nos limites da nação iniciadora e
irradiadora, na Itália e na Alemanha, o processo de reação-
assimilação foi mais imediato e veloz, abrindo caminho a novas
combinações políticas e a novas formas ideológicas que,
revividas nas grandes revoluções de 1848, tornaram-se
irresistíveis afirmações populares.
Hoje, graças ao impulso que havia animado aquela primeira
orientação, o princípio democrático triunfante é uma conquista
definitiva, reconhecida em todo o mundo. O processo se renova
atualmente nos países colocados nas proximidades da nova
grande nação iniciadora e irradiadora — a URSS.
A nova Europa, que nasce das ruínas da segunda guerra
mundial mostra, nos países onde foi maior o atrito entre as duas
formas opostas de organização social, os sinais já visíveis e
individualizados de uma profunda transformação de estrutura
política e econômica.
Nasce uma nova forma constitucional, uma nova organização
do Estado, que já superou as velhas formas de organização
capitalista, mas que não é, pelo menos na acepção estrita da
palavra, uma verdadeira e exata organização socialista ou
comunista da sociedade.
Na Polônia, Checoslováquia, Iugoslávia, Bulgária e em geral
em toda a Europa centro e sul-oriental está se processando uma
experiencia nova: estes países assumem agora a sua grande
função mediadora entre a civilização de tipo nitidamente
capitalista e a civilização de tipo soviético.
Esses países se erguiam sobre uma estrutura semi-feudal e,
por vezes, realmente semibárbara, incapazes de resistir às
pressões externas, porque estavam internamente desunidos,
arruinados, carcomidos, apodrecidos.
Às fronteiras da nação socialmente mais evoluída do mundo
se extendia ainda, antes da última guerra uma grande faixa de
países atrasados, fundados sobre uma economia anacrônica e
mantidos nessas condições para constituir um cinturão de
segurança, uma barreira contra a União Soviética.
Sociedades como essas, nas quais dominava a grande
propriedade latifundiária de origem feudal, rebeldes a todo o
progresso, surdas a qualquer voz de renovação, não podiam ser
senão sociedades em dissolução.
Em cada um desses países, com efeito, uma cadeia de
interes- ses oprimia o povo e toda a nação estava subjugada por
essa cadeia.
Daí o equilíbrio instável sobre o qual se erguiam os próprios
agrupamentos nacionais; uma vez arrebentada aquela cadeia,
todas as relações sociais estariam convulsionadas.
O Exemplo da Polônia e seus Vizinhos
Pensemos, por exemplo, na Polônia de antes de 1939.
O latifundiário polaco, tipo social bem próximo do junker
prussiano, era o verdadeiro senhor do Estado e toda a
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
organização política do país só existia em função da defesa de
seus privilégios. Nesses setores, onde não penetrava a
influencia direta do grande proprietário polaco, intervinham dois
de seus naturais aliados, o clero católico atrasado, ávido e
reacionário, e o grande capital financeiro estrangeiro.
O regime de Pilsudski, inicialmente, e o de seus sucessores,
depois, não foi senão a expressão dessa coalizão.
A odiosa política de opressão das minorias, o
antissemitismo, o fanatismo nacionalista e, naturalmente, o
caráter antissoviético de todas as iniciativas diplomáticas do
governo, estavam a serviço dessa mesma coalizão.
Pensemos na Albânia do rei Zogú, completamente submetida
a Mussolini, mesmo antes da ocupação armada fascista;
pensemos na Iugoslávia de Stojadinovich, de Alexandre e do
Príncipe Paulo. Ali os antagonismos étnicos eram
artificiosamente exasperados até o fanatismo em benefício de
uma restrita classe dirigente da monarquia de grandes
proprietários sérvios, que apoiavam a monarquia e, por sua
vez, obtinham a força e a autoridade.
Também ali, a monarquia era completamente dependente,
no plano internacional, das grandes potencias ocidentais
(França, Grã-Bretanha e por alguns momentos, Itália e
Alemanha), que, através da organização monárquica,
controlavam a vida econômica e política da nação.
Faltava, em suma, em cada um desses países, uma
verdadeira unidade popular e um governo que fosse a
expressão da vontade do povo.
Eram regimes camuflados com os ouropéis da falsa
democracia, por vezes abertamente ditatoriais, fascistas, ou
filo-fascistas.
A igreja católica na Polônia, a igreja ortodoxa na Iugoslávia,
participavam desse sistema de interesses, e, especialmente
sobre as camadas rurais e as camadas mais atrasadas do
proletariado urbano, desenvolviam sua ação narcotizante da
vontade e das aspirações das grandes massas populares.
A natural aliança entre operários e camponeses, base
fundamental da unidade popular, era assim dificultada e mesmo
virtualmente impedida.
As consequências desse sistema são bem conhecidas. Ao
primeiro choque dos grandes interesses em oposição a velha
estrutura se esboroou. Habituados a enganar o próprio povo
com fórmulas vazias, com vãs declarações nacionalistas, com a
ostentação de uma força insubsistente, os governos fascistas e
filo-fascistas da Europa centro e sul-oriental foram varridos em
poucos dias por um inimigo aguerrido, que conhecia bem a falta
de preparação política e militar daquelas nações.
Após inútil derramamento de sangue (quem não se recorda
da carga de cavalaria polaca contra as divisões couraçadas
alemãs nas planícies abertas do Vístula?) os povos tiveram que
sofrer todos os horrores da ocupação nazista, todas as
consequências extremas da criminosa política de suas velhas
classes dirigentes.
Dois Fatos Novos
Mas através da guerra dois fatos novos se concretizaram:
1. — Foi afinal destruída aquela rede de interesses e de cumplicidades
que envilecia aqueles povos.
2. — Apresentou-se afinal a oportunidade de realizar, através da
resistência à opressão hitlerista e da luta contra os colaboracionistas,
aquela guerra verdadeiramente nacional, na qual as grandes massas
populares conquistaram consciência de sua própria força e de seus
interesses próprios.

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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
Sobre esses dois fatos históricos, de fundamental
importância, se firmaram as bases dessa nova forma de regime
político que se chama democracia popular.
E, de fato, um novo mundo nasce das ruínas da segunda
guerra mundial.
Ali, onde se quebraram as ondas mais terríveis da
tempestade; ali, onde se combateu a guerra mais
sanguinolenta; ali, onde o exército hitlerista se encontrou com
os exércitos soviéticos e se despedaçou; ali se realiza hoje
aquela nova forma política que provavelmente está destinada a
ter, durante muito tempo, uma profunda repercussão sobre a
história europeia.
Um problema fundamental se apresentou a esses povos após
a libertação: seria possível voltar aos regimes de falsa
democracia parlamentar com os quais essas nações se tinham
governado, com os insucessos que eram de todos conhecidos e
sentidos antes do segundo conflito mundial?
Os regimes que haviam surgido após a primeira guerra
mundial e que representavam o verdadeiro cordão sanitário
com o qual as potencias ocidentais pretendiam assediar a União
Soviética, não podiam ser restaurados, nem correspondiam de
nenhuma maneira aos interesses daquelas populações.
De outro lado, a própria guerra, com seus longos anos de
luta contra o invasor nazista, em vez de refrear tinha
despertado o sentimento nacional, a consciência da
individualidade dos povos.
Todo o povo tem necessidade de uma forma constitucional
própria, que corresponde às suas exigências específicas, que se
adapte às suas condições particulares e, dessa maneira, não era
possível adotar uma organização social nascida em diferente
clima histórico, imposta em meio àquela comoção social que foi
a Revolução de Outubro, amadurecida e elaborada através de
um longo e profundo processo revolucionário.
A democracia popular, como nova concepção do Estado,
como novo sistema político de nosso tempo, nasce da falencia
das velhas castas dirigentes e da velha estrutura reacionária, do
espírito das guerrilhas, da experiencia da luta contra o opressor
hitleriano e o colaboracionismo interno, do reforçamento da
consciência nacional das populações.
E, como vemos, uma solução que nasce concretamente da
própria natureza dos acontecimentos, das novas exigências
provocadas pelas transformações sociais que a guerra operou.
Duas Definições sobre as Novas Democracias
Na sua ordem do dia, aos exércitos soviéticos, a 1.° de Maio
de 1946, Stalin declarava:
"O enfraquecimento e a liquidação das
principais forças do fascismo e da opressão
mundial, conduziram a profundas
transformações na vida política dos povos do
mundo, a um notável desenvolvimento do
movimento democrático dos povos.
Amadurecidas pela experiencia da guerra, as
massas populares compreenderam que não se
pode confiar o destino do Estado a dirigentes
reacionários, que apenas procuram atingir
objetivos estreitos de egoismo de classe, em
contraste com os interesses do povo.
Precisamente por isso, os povos que não
querem viver nas condições que tinham vivido
até então, tomam os destinos de seus Estados
nas próprias mãos, edificam uma ordem
democrática- e dirigem uma luta ativa contra as
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
forças da reação, contra os incendiários de uma
nova guerra."
E Molotov, em seu discurso pronunciado por ocasião da
celebração do 28.° aniversário da Revolução de Outubro,
declarou:
"Em uma série de países europeus realizaram-
se reformas sociais de grande vulto, com a
liquidação dos restos do poderio territorial e
feudal e a transferência da posse da terra aos
camponeses não proprietários, o que liquidou a
capacidade de resistência de que dispunham
anteriormente as forças reacionárias fascistas e
estimulou o renascimento do movimento
democrático e socialista nesses mesmos
países."
A "Democracia Popular" é uma forma de regime político no
qual o povo exerce, não apenas em aparência, mas na realidade
e numa ampla medida, o poder governamental e
administrativo. A eliminação da instituição monárquica é uma
das primeiras realizações dessa nova democracia. Eliminado
esse centro, em torno do qual se aglomeravam todos os restos
de um sistema baseado na desigualdade econômica, as novas
repúblicas populares puderam romper a unidade das forças
reacionárias. Completado o confisco ou expropriação das
grandes propriedades territoriais, divididos os latifúndios entre
os camponeses necessitados de terra, liquidadas as uniões
monopolistas do capital, nacionalizadas as grandes indústrias e
os bancos, postos sob a direção estatal os transportes ainda sob
o controle das grandes empresas privadas, as novas repúblicas
populares puderam deixar intacta, sem perigo, a propriedade
privada, média e pequena, puderam fazer subsistir todas as
outras formas de economia capitalista.
Não se pode, assim, falar de economia socialista ou
sovietizada, mas sim de uma economia de fundamentos sociais,
de uma economia profundamente democrática, de um
programa de saneamento e de renovação nacional, como é
compreendida em muitos países capitalistas e, também, por
partidos não socialistas, programa tanto mais indispensável e
urgente naquela zona europeia, quanto mais ela tinha ficado
para trás no caminho do progresso, devido aos obstáculos
opostos pelos velhos regimes reacionários.
Liberdade dos Indivíduos e dos Grupos
Originada na luta pela libertação, a democracia popular
tutela a liberdade dos indivíduos e dos grupos, como o maior
dos bens, como conquista própria de sua formação histórica e à
qual não seria possível renunciar sem desnaturar-se, como
premissa indispensável a todo o progresso ulterior. A liberdade
de consciência é o principio regulador das relações entre o
Estado e as várias confissões nacionais. Na Polônia e em muitos
outros países, as propriedades pertencentes às comunidades
religiosas, embora muito grandes, ficaram isentas de confisco
ou expropriação. Segundo as regras de toda a sã e viril
concepção de liberdade, a liberdade da Igreja tem seus justos
limites no livre exercício da religião.
O estado leigo, zeloso de suas atribuições, intervém contra
toda tentativa de intromissão da Igreja no campo estritamente
político.
Da mesma forma que durante a guerra de guerrilhas,
aqueles padres que foram encontrados de armas na mão contra
o povo, haviam sido tratados, da mesma maneira que todos os
outros colaboracionistas, segundo as leis de guerra, assim hoje
aquela parte do clero que colaborou com o opressor nazista e
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
pretendia continuar a servir-se de seus meios espirituais para
sabotar a obra do governo, foi colocada em condições de não
causar dano. Mas, felizmente, a maior parte do clero colocou-se
ao lado do povo na luta contra o invasor e, hoje,
completamente livre no exercício de sua atividade religiosa,
observa lealmente seus deveres para com o Estado.
São estes critérios, reguladores das relações entre o Estado
e a Igreja, critérios de legislação Socialista?
Não é necessária uma longa argumentação para demonstrar
que estas normas não cabem no âmbito das reformas
especificamente socialista, mas são antes conquistas de direito
constitucional moderno, comuns a todos os Estados democratas
e, por isso, pertencem tanto à democracia socialista como à
clássica democracia liberal, tendo sido por esta última
codificadas, não só na conhecida fórmula cavouriana, como
naquele livro valioso de Montalembert, "A Igreja livre no Estado
livre".
A política religiosa que hoje vem se desenvolvendo nas
novas repúblicas populares da Europa centro e sul-oriental é,
antes, sob certos aspectos, ainda menos avançada e radical do
que a política religiosa desenvolvida em relação à Igreja
Nacional do Estado Frances, durante a grande Revolução e logo
após.
Na Polônia, por exemplo, um milhão de hectares de bens
eclesiásticos ficaram isentos do confisco ou expropriação,
enquanto que na França, durante a Revolução de 89, junto aos
bens dos emigrados foram confiscados as propriedades
religiosas. Na Itália, sob o governo da Direita, foi promulgada a
lei sobre o eixo Eclesiástico: e no entanto o Estado de Saboia
não era na verdade nenhum Estado Socialista...
Na nova forma constitucional das democracias populares, o
poder executivo é emanação direta do povo.
Isto quer dizer que os novos Estados surgidos desta guerra
na Europa centro e sul-oriental, não são organizações políticas
no velho sentido burgues, isto é, uma democracia formal e
parlamentar na qual o povo elege as câmaras e estas se limitam
a discutir e a promulgar as leis, enquanto o poder executivo,
dependente na realidade unicamente da camarilha das forças
reacionárias no poder, as aplica a seu talante e conveniência.
Nenhuma Separação de Poderes
Nas Repúblicas Populares não há nenhuma separação entre
poder legislativo e poder executivo; o povo participa
diretamente da administração do Estado e da cousa pública,
através dos representantes por ele eleitos e ante ele
diretamente responsáveis. A burocracia parasitária, dependente
unicamente do poder constituído, surda às necessidades e
aspiração do povo, foi eliminada.
Toda a vida econômica, a vida artística, a vida cultural,
existem em função e a serviço do povo.
Os comites populares na Iugoslávia, os Comites nacionais na
Checoslováquia, os comitês da frente patriótica da Bulgária, os
comitês de Libertação Nacional na Albânia, representam todas
as categorias de trabalhadores, operários e camponeses
artesãos, técnicos e intelectuais, exercem o controle direto e
garantem a execução da vontade popular. Um novo despertar
político e econômico é o grande fato novo que se realiza nesta
radical transformação do conceito de Estado e das relações
sociais.
O governo não é mais, para as massas populares, qualquer
cousa de estranho e de outros interesses, mas o seu próprio
governo, o governo da maioria, a expressão do próprio povo. As
velhas classes dominantes desaparecem, os obstáculos são
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
removidos, a vida política é aberta à participação dos melhores,
na livre ascensão dos valores humanos. Um marco no caminho
dos povos foi atingido.
Parece evidente, mesmo ao mais superficial observador, que
esta profunda transformação que se realizou e continua a
realizar-se, não é somente uma pura e simples restauração dos
princípios democráticos nos países onde a influencia fascista, ou
a macaqueação filo-fascista, os haviam desnaturado.
Os princípios democráticos, tomados na habitual acepção
burguesa da palavra, não seriam suficientes para explicar a
profunda renovação que esta guerra, tão nitidamente
influenciada por motivos ideológicos novos, havia operado
naquela zona europeia.
A transformação verificada no países colocados nas
proximidades das fronteiras do grande Estado Socialista e
libertados pelo exército vermelho, leva em si o germe da maior
das revoluções dos tempos modernos, compreendida como nova
concepção das relações sociais, e daí surgirem formas que
também podem ser transitórias como liquidação teórica das
concepções burguesas e como a defesa permanente de algumas
determinadas conquistas da humanidade.
Trata-se agora de um tipo especial que já superou a era da
burguesia como concepção e como modo de viver. Trata-se de
uma forma especial de democracia, que se desenvolve das
premissas gerais do socialismo.
O Socialismo na Etapa Atual
O Socialismo é, na atual etapa, o positivo do processo
histórico.
Através da crítica socialista do sistema burgues, dissolveu-se
aquele aglomerado de formas sociais do capitalismo, que a
Revolução Francesa havia deixado.
Não se trata, pois, de restauração de princípios democráticos
burgueses, mas de afirmação de princípios democráticos
socialistas.
A nova corrente, que irrompe na história contemporânea,
não é mais a Revolução de 89, é a Revolução de nosso século, a
Revolução socialista.
Indubitavelmente, esta guerra operou uma transformação
geral, a que não se subtraiu nenhuma das nações que dela
tenha participado.
O Estado Socialista, que num processo de ordenação
revolucionária tinha durante três decenios elaborado e superado
algumas das suas manifestações originárias, pôde ulteriormente
aperfeiçoar a sua forma política. A União Soviética, que deu ao
Ocidente a contribuição de suas energias frescas e novas, e que
com essa contribuição pôde salvá-lo do retorno à barbárie
medieval, abriu-se nesse mesmo tempo, cada vez mais, ao
Ocidente, assimilando aquilo que a civilização do ocidente havia
independentemente conquistado nesses anos, no campo da
ciência e do progresso humanos.
Por sua parte, mesmo as grandes nações capitalistas não
podem subtrair-se à atração das grandes conquistas sociais da
União Soviética.
A História, de resto, é toda baseada sobre essa troca de
força e de valores, sobre essa perpétua relação do deve e
haver, somente no qual e através do qual a humanidade pode
avançar.
Um mundo em decomposição, uma artificiosa barreira criada
pela reação desapareceu para sempre no fluxo desta guerra.
As novas democracias populares representam como que
uma ponte lançada entre duas épocas: a época capitalista e a
época socialista.
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular
É portanto uma grande experiencia de renovação social,
destinada a ter uma repercussão profundíssima na história do
mundo.
Uma experiencia fundada sobre a libertação, sobre o
trabalho, sobre a justiça social: eis o que se está realizando por
trás daquilo que Mister Churchill, chamou de "cortina de ferro".
Qual a etapa mais recente deste processo todo?
Em 1978, no mesmo PC da China, se adotou um
programa de Reformas e Abertura.
E qual a conclusã o que se chegou?
Fallad-. Las cuatro modernizaciones implicarán la
introducción de capitales extranjeros en China, y esto
dará lugar inevitablemente a las inversiones privadas.
¿No conducirá esto a un capitalismo miniaturizado?
Deng. Al fin y al cabo, la política que seguimos en
nuestra construcción sigue siendo la de apoyarnos en
nuestros propios esfuerzos como recurso principal y
procurar ayuda exterior como recurso auxiliar, política
elaborada en su tiempo por el Presidente Mao. Por
más amplia que sea la apertura al exterior y por
elevada que sea la suma de capitales extranjeros que
entren en China, éstos ocuparán un porcentaje
insignificante y no afectarán a nuestro sistema
socialista de propiedad social. La absorción de fondos
y tecnologías del exterior e incluso la construcción de
fábricas en China por parte de países extranjeros
podrán servirnos como factor complementario para
desarrollar nuestras fuerzas productivas socialistas.
Por supuesto, es posible que con esto se introduzcan
en el país ciertas cosas decadentes propias del
capitalismo, y de esto tenemos clara conciencia, pero
no es nada temible.

OU seja, se chegou a conclusã o de que o SOCIALISMO em


si mesmo é um processo de transiçã o, com
caracterı́sticas diferentes a depender da é poca histó rica
em que ocorre & a depender do tipo de sociedade onde
ocorre; e que nesse processo de transiçã o vã o
COINCIDIR, se COMBINAR e LUTAR entre si diferentes
MODOS DE PRODUÇAO.
Portanto, quanto os governos dirigidos por partidos
comunistas no Leste Europeu e na China diziam que
eram regimes democrá tico-populares, o que no fundo
eles estavam dizendo é que estavam na FASE INICIAL DE
CONSTRUÇAO DO SOCIALISMO.
Pois bem, chegamos agora no Brasil de 1987, no V
Encontro Nacional do PT, quando o Partido tenta dar
uma formulaçã o mais detalhada para sua estraté gia e seu
programa de transformaçã o.
Como você s poderã o perceber, todas as confusõ es e
todas as conclusõ es que expliquei antes, incidem na
resoluçã o do congresso petista, consciente ou
inconscientemente.
Naquele momento, em que o socialismo parecia ser uma
perspectiva muito pró xima, o programa democrá tico e
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09/07/2020 Valter Pomar: As origens e desafios atuais do Programa Democrático e Popular

popular era visto como claramente articulado com o


socialismo.
Depois de 1991, quando o socialismo parecia ser uma
perspectiva cada vez mais distante, o programa
democrá tico e popular era visto como algo “EM SI
MESMO”, como se fosse uma modalidade do capitalismo
e nã o como a “fase inicial do socialismo”.
Lembro, mais uma vez, que ele pode ser qualquer uma
destas coisas; ou nenhuma delas. Pois estamos
discutindo nã o sobre o nome de algo que existe, mas sim
sobre o nome que devemos dar para algo que queremos
que venha a existir.
Eu pessoalmente acho correto falar de programa
democrá tico e popular, para deixar claro que se trata de
contemplar interesses democrá ticos e populares que nã o
necessariamente sã o os interesses socialistas estrito
senso.
Mas, por outro lado, acho necessá rio deixar claro que se
trata de um programa democrá tico e popular
ARTICULADO ao socialismo ou, de preferencia, um
programa democrá tico-popular E socialista, para deixar
claro em que perspectiva estraté gica nos situamos.
Pois a nossa perspectiva estraté gica é : nã o é possı́vel
implementar um programa democrá tico e popular sem
atacar as bases do capitalismo.
Se tentamos fazer isso, o capitalismo virá contra nó s e
nã o teremos nem socialismo, nem programa
democrá tico popular.
Portanto, é melhor deixar clara a articulaçã o, a conexã o
entre reforma agrá ria, democracia polı́tica, soberania
nacional e PROPRIEDADE SOCIAL DOS GRANDES MEIOS
DE PRODUÇAO, mais PODER DA CLASSE
TRABALHADORA.
Terminei.

Postado por Orientação Militante às 19:30

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