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I (10 valores)
Ao fim da tarde de ontem, a Presidência da República (PR) publicou na sua
página web a receção dos seguintes diplomas:
i) Um decreto da Assembleia da República (AR) para ser promulgado como lei,
contendo alterações às regras de rotulagem dos iogurtes e sobremesas lácteas
embaladas;
ii) Um decreto do governo para ser promulgado como decreto-lei [ao abrigo da
alínea b) do n.º 1 do art.º 198.º da CRP], contendo preceitos atinentes a deveres
em matéria de defesa nacional, bem assim como as bases gerais do
funcionamento das Forças Armadas.
No discurso final do congresso do Partido da Juventude Digital (PJD), o
respetivo líder — licenciado em Direito e candidato nas próximas eleições a deputado
na AR — entende que o PR deveria requerer a fiscalização concreta da
constitucionalidade dos diplomas, com fundamento em violação das reservas
competenciais constitucionalmente previstas. Além disso — entende —, relativamente
ao segundo conjunto de medidas, nunca o Governo poderia "utilizar um decreto
regulamentar" para disciplinar a matéria respeitante a defesa nacional, sem autorização
da Assembleia da República.
II (6 valores)
I
1.
a. Não.
O PR não tem legitimidade processual ativa em sede de controlo (fiscalização)
concreto(a) da constitucionalidade e da legalidade; apenas as partes vencidas no
processo ou o Ministério Público (art.º 280.º da CRP) o poderiam fazer (mas
apenas mais tarde, aquando da eventual suscitação de um litígio em Tribunal);
O PR apenas poderia desencadear o controlo preventivo da constitucionalidade
(art.º 278.º da CRP). Mesmo o controlo abstrato sucessivo não seria possível,
pois os diplomas ainda não estavam em vigor;
O PR poderia ainda, caso o entendesse e fundamentasse, vetar politicamente o
diploma, nos termos do art.º 136.º da CRP;
Fator de valorização: relacionamento entre os diferentes tipos de veto e
sua superação.
b.
Distinção entre as várias reservas constitucionalmente previstas: reservas da AR
(art.os 164.º e 165.º da CRP) e reserva do Governo (art.º 198.º, n.º 2 da CRP);
A matéria do primeiro decreto é uma matéria concorrente; a não existência de
inconstitucionalidade orgânica; a paridade entre lei e decreto-lei;
A matéria do segundo decreto é uma matéria de reserva absoluta de competência
legislativa da AR [art.º 164.º, alínea d)];
A inconstitucionalidade orgânica decorrente de o Governo não poder
disciplinar estes domínios;
A inconstitucionalidade formal decorrente de estas matérias não poderem
ser disciplinadas por decreto-lei, mas apenas por lei orgânica (art.º 166.º,
n.º 2, da CRP);
Fator de valorização: o regime das leis orgânicas.
II
A competência do PR para nomear e exonerar os membros do Governo, sob
proposta do PM (art. 133.º/h e 187.º/2) – a existência de um poder partilhado;
Os Ministros são os membros do Governo (art. 183.º/1) a quem cabe a direção
política de um determinado departamento governamental – no caso, a pasta
ministerial da cultura;
o Porém, o Governo é autónomo no desenvolvimento da sua política
perante o PR, que não lhe pode dar ordens nem ditar orientações (art.
191.º/2);
A competência legislativa do Governo (art. 165.º/1 [o enunciado não concretiza
por que via seria conferida a proteção aos escritores, mas poder-se-á equacionar
a recondução da matéria às al. b), f e/ou i)]; 198.º/1/b); a competência do
Conselho de Ministros para aprovação das propostas de lei (art. 167.º/1,
200.º/1/c) e para aprovação dos decretos-leis (art. 200.º/1/d);
A eventual inconstitucionalidade material de uma solução assim determinada,
por violação do princípio da igualdade (art. 13.º).
III
a)
Distinção entre órgãos constitucionais e órgãos de soberania; exemplificação;
A tipologia constitucionalmente consagrada de órgão de soberania (art.º 110.º da
CRP);
Definição de competência enquanto parcela de poder decisório;
Tipos de competência: constitucional, legal, regulamentar; normadora, não
normadora; expressa, implícita; concorrente, exclusiva, etc.
O Conselho de Estado enquanto órgão constitucional com competência
consultiva
b)
O referendo enquanto consulta popular sobre uma questão de RIN (art.º 115.º); a
referenda enquanto fase do procedimento legislativo após a promulgação dos
diplomas (art.º 140.º da CRP) e antes da publicação dos mesmos;
A necessidade de publicação dos resultados dos referendos e dos diplomas
sujeitos a referenda (art.º 119.º da CRP).