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5 – CARACTERIZAÇÃO DAS OLEAGINOSAS PARA

PRODUÇÃO DE BIODIESEL

5.1 – Evolução da Ocupação Territorial da Produção Agrícola

Desde a década de 70, a tendência da expansão da fronteira agrícola foi a ocupação dos
“espaços” geográficos da Região Centro-Oeste. Juntamente com esse movimento, incentivado
pelo Governo Federal, ocorreu o deslocamento da atividade dos principais centro produtores de
grãos (Região Sul e Sudeste) para as áreas de cerrado localizadas na fronteira agrícola.

A mudança estratégica dos investimentos do setor agropecuário brasileiro para o bioma do


cerrado forçou o Governo Federal (via instituições de fomento, pesquisa entre outros) e a
iniciativa privada a desenvolverem tecnologias de produção competitivas, investirem em infra-
estrutura e em um parque industrial que consolidasse a cadeia produtiva no interior do Brasil, o
que pode ser visualizado quando analisada a evolução das exportações e do PIB das cadeias
produtivas do Brasil.

O cerrado é considerado um dos biomas mais ameaçados do mundo. As estimativas apontam que
dos 2 milhões de quilômetros quadrados originais de vegetação nativa, resta apenas 20%. Assim,
a expansão da atividade agropecuária pressiona que cada vez mais as áreas remanescentes, como
as áreas do Sul dos Estados do Piauí e Maranhão, que ainda possuem expressiva cobertura de
vegetação nativa.

Atualmente, a fronteira agrícola avança para a colonização de novas áreas de cerrado na


Amazônia Legal (Maranhão, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins entre outros) e no sul da Região
Nordeste (Bahia, Piauí etc.). Com a evolução da fronteira, caracterizada pelo avanço do
latifúndio, são deflagrados aumentos dos conflitos por posse da terra, pressões sobre a fauna e a
flora e sobre a população local, advindas do aumento dos fluxos migratórios (do campo para a
cidade).

Tomando como exemplo municípios localizados na região do Alto Parnaíba, no Sul do Piauí,
nota-se que somente em 1993 a soja começou a ser plantada na região e de forma muito
conservadora. No entanto, em 2002, a área ocupada por essa cultura já tinha multiplicado por
seis a área original e aparentemente essa atividade está em franca expansão.

Com vistas para a diversificação da Matriz Energética Brasileira e da acelerada taxa de expansão
da fronteira agrícola, o Governo Federal elaborou o Plano Nacional de Agroenergia, que
concretiza o alinhamento de diversas políticas governamentais como política tributária, de
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abastecimento, agrícola, agrária, creditícia, fiscal, energética, de ciência e tecnologia, ambiental,


industrial, de comércio internacional e de relações exteriores entre outras.

Parte das premissas adotadas pelo Governo Federal para estimular a cadeia de produção
agroenergética envolvem o aproveitamento de áreas antropizadas/improdutivas, contribuindo
para a redução da taxa de expansão da fronteira agrícola e ao mesmo tempo barrando processos
de degradação de sistemas ambientais ameaçados, e a otimização das vocações regionais,
incentivando interiorização da cadeia de produção de biocombustíveis, a inclusão social e a
integração às diferentes dimensões do agronegócio.

Dentro das diretrizes expostas no Plano, a agroenergia apresenta quatro vertentes principais:

• álcool;

• biodiesel;

• florestas energéticas cultivadas; e,

• resíduos agroflorestais.

O plano aponta, conforme exposto na figura 5.01, as áreas favoráveis para a expansão da
agricultura de energia no país, considerando as culturas agrícolas perenes e anuais com maior
potencialidade.

O Programa Biodiesel está inserido nesse contexto de incentivo ao agronegócio da biomassa


energética. Os principais insumos do processo de produção desse biocombustível são a matéria
graxa, que pode ser obtida através do óleo vegetal, e o álcool, onde tanto o etanol como o
metanol podem ser obtidos da biomassa. A demanda de óleo vegetal necessária para atender as
unidades industriais que estarão em operação em 2007 (tabela 5.01) é da ordem de 1.877.000
litros. Somente a produção de soja (tabela 5.02) seria capaz de atender essa demanda atual, com
a possibilidade de industrialização de 67.572.000 toneladas de grãos para essa finalidade.

Faz-se necessário lembrar que esses insumos (oleaginosas) necessários à produção de biodiesel
são commodities agrícolas e de alto valor agregado na indústria química ou alimentícia,
comercializados via bolsa de valores e destinados principalmente ao atendimento do mercado
externo, influenciando a Balança Comercial Brasileira.

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Tabela 5.01 – Necessidade de Óleo Vegetal para Atender a Necessidade da Indústria de Biodi-
esel em Operação em 2007.

CAPACIDADE INDUSTRIAL INSTA- NECESSIDADE DE ÓLEO VEGETAL


REGIÃO LADA PARA A PRODUÇÃO DE B100 NA INDUSTRIA DO BIODISEL
EM 2007 (10³L) (10³L)*

Norte 8 8

Nordeste 248 248

Sudeste 718 718

Centro-Oeste 426 426

Sul 477 477

Total 1.877 1.877

*Razão aproximada de 1:1, segundo MMA e TECPAR (informação pessoal). Elaboração: STCP, 2006.

Tabela 5.02 – Produção, Área Plantada e Potencialidade de Produção de Óleo Vegetal

POSSIBILIDADE
PRODUÇÃO ÁREA PLANTADA TEOR DE ÓLEO DE PRODUÇÃO
OLEAGINOSA
(2004, em t) (2004, em ha) (%) DEÓLEO BRUTO
(10³L)

Soja 49.549.941 21.601.340 18 8.918,9

Algodão 3.798.480 1.159.677 15 569,7

Palma 909.285 87.553 20 181,8

Amendoim 236.488 105.434 39 92,2

Mamona 138.745 176.090 50 69,3

Girassol 66.000 45.600 42 27,7

Babaçu 118.723 - 6 7,1


Fonte: IBGE, 2006. Elaboração: STCP, 2006

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Figura 5.01 – Área de Expansão da Agricultura de Energia*

Fonte: Plano Nacional de Agroenergia, 2005

*Deve atentar-se ás áreas ocupadas por unidades de conservação, terras indígenas e biomas ameaçados.
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5.2 – Contextualização das Oleaginosas no Brasil


As oleaginosas são plantas que contém um alto teor de óleo, tanto a partir de suas sementes (soja,
colza/canola, girassol) como a partir de seus frutos (palma, babaçu, coco), podendo ser utilizadas
para a produção de óleo vegetal. Outra característica importante de algumas dessas plantas é o
fato de que após a extração do óleo, os subprodutos podem ser utilizados para diferentes
aplicações.

No Brasil, com o modelo adotado para o desenvolvimento do Programa Biodiesel, a cadeia de


produção desse biocombustível utiliza como principal matéria-prima espécies oleaginosas*. A
diversidade de culturas agrícolas (oleaginosas) a serem empregadas é grande e varia conforme as
características de cada região ou Estado brasileiro.

Para cada Estado e região do País, o desenvolvimento das cadeias produtivas das diferentes
espécies oleaginosas precisa levar em consideração fatores que envolvem o meio ambiente e suas
inter-relações com a sociedade moderna. Esta inter-relação é vislumbrada por várias entidades
governamentais e privadas, no sentido de indicar os melhores cultivares a serem explorados.

A EMBRAPA, em 2003, levantou o potencial de cultivo de oleaginosas, mencionando a soja


para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a mamona para o Nordeste e a palma para a região
Amazônica. Considerou ainda o girassol, o amendoim e as palmáceas tropicais como viáveis e
potenciais produtoras de biodiesel.

Campos (2003) destaca para a região Norte, por exemplo, a utilização de matérias-primas como
a palma, o babaçu e a soja. Na região Nordeste, as oleaginosas com destaque são o babaçu, a
soja, a mamona, a palma (dendê), o algodão e o côco. Em relação ao Centro-Oeste destaque para
a soja, mamona, algodão, girassol e dendê. Para o Sul a soja, a colza, o girassol e o algodão. Para
a região Sudeste a soja, a mamona, o algodão e o girassol (tabela 5.03 e figura 5.02).

Nota-se que a soja possui potencial de cultivo em todas as regiões brasileiras, com destaque para
as que tradicionalmente a produzem: a região Centro-Oeste e a região Sul.

Tabela 5.03 - Diferentes Matérias-primas para Extração de Óleos Vegetais Utilizados para
Avaliação das Cadeias Produtivas nas Regiões do Brasil
REGIÃO OLEAGINOSAS
Norte dendê, babaçu, soja
Nordeste soja, mamona, palma (dendê), algodão, côco
Sudeste soja, mamona, algodão, girassol, amendoim
Sul soja, colza, girassol, algodão,
Centro-Oeste soja, mamona, algodão, girassol, dendê
Fonte: Campos (2003) adaptado por STCP

*Pode-se utilizar óleos e gorduras provenientes de outras fontes.


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Figura 5.02 - Distribuição de Algumas Oleaginosas nas Regiões Brasileiras

Fonte: Atlas do Biodiesel, in BiodieselBr

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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

A relação entre a produtividade agrícola e consequente produtividade de óleo por hectar de


determinadas oleaginosas é apresentada na tabela 5.04. Nota-se que a mamona é a cultura que
apresenta maior teor de óleo em sua semente.

O babaçu, em contrapartida, é a que apresenta o menor teor de óleo, mas possui a vantagem de
ser nativa. Esta cultura apresenta a maior produtividade de frutos (cerca de 15 t/ha) e a terceira
maior produção de óleo com 0,90 t/ha.

A palma, apesar de possuir quase metade da porcentagem de teor de óleo em relação à mamona,
tem a maior produtividade quando comparada a todas as matérias-primas correlacionadas, sendo
superada apenas pelo babaçu (15 t/ha). A produção de óleo da palma é muito expressiva, cerca
de 2,0 t/ha.

Outra oleaginosa de destaque é o pinhão-manso, muito cultivada em países como a Índia e Cuba.
Nos cultivos perenes nesses países, a planta do pinhão manso chega a atingir uma produtividade
de 8 t/ha de sementes (com produtividade média de 6 t/ha de sementes e 2,4 t/ha de óleo), sendo
sua máxima produção atingida após 20 anos*. No Brasil, desconhece-se o potencial dessa espécie
para cultivo comercial.

Tabela 5.04 - Relação Entre a Produtividade e a Produção Anual de Óleos


TEOR DE ÓLEO PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO DE ÓLEO
MATÉRIA-PRIMA
(% média) (t/ha.ano) (kg/ha.ano)
Mamona 50 1.500 750
Girassol 42 1.600 672
Amendoim 39 1.800 702
Canola (colza) 38 1.800 684
Palma (dendê) 20 10.000 2.000
Soja 18 2.200 396
Algodão 15 1.800 270
Pinhão Manso 40 6.000 2.400
Babaçu 6 15.000 900
Fonte: CONAB (Abril,2004)

Além das características produtivas de cada oleaginosa, cabe destacar as principais


características dos óleos puros das três espécies de maior destaque para o presente documento: a
soja, a palma (dendê) e a mamona (tabela 5.05).

*Disponível em:<www.pinhaomanso.com.br>. Acesso em 27/04/2006.


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Tabela 5.05 - Principais Características dos Óleos Puros de Dendê, Soja e Mamona

CARACTERÍSTICAS DENDÊ SOJA MAMONA


Cor Avermelhado Amarelo Claro Amarelo Claro
Densidade Relativa a 25ºC 0,922-0,936 0,916-0,922 0,959-0,961
Índice de Saponificação 193-203 180-200 175-183
Poder Calorífico (kcal/kg) 9500 9440 986
Aspecto Líquido Viscoso Óleo Líquido Óleo Denso
Fonte: Nahas e Neto

5.2.1 – Região Norte

Abundante em espécies de palmeiras e apta para o cultivo da espécie exótica Elaeis Guineensis
(dendezeiro/palma), a região Norte é caracterizada por sua extensão territorial, vasto
recobrimento florestal existente, clima úmido e equatorial (em grande parte de sua área de
abrangência) e altos índices de precipitação.

Na região destaca-se o estado do Pará como maior produtor de óleo de palma, produzindo 100
mil toneladas, numa área de 50 mil hectares*. Segundo Campos 2003, esse Estado possui “2
milhões de hectares de terras improdutivas com clima e solo apropriados para a palma, com toda
a infra-estrutura, inclusive porto e energia elétrica a uma distância máxima de 200 km de
Belém”. A produtividade do palma/dendezeiro na Região Amazônica é superior a 5,0 t de óleo
por hectare/ano e é possível utilizar-se também de outras espécies oleaginosas nativas para o
abastecimento de pequenas unidades industriais, que contribuiriam para resolver o déficit
energético da Região Norte, principalmente em comunidades praticamente isoladas e/ou de
difícil acesso.

Nas áreas de cerrado em Rondônia, Pará, Roraima e Tocantins, a cultura da soja tem-se
destacado com o aumento da área de plantio e incremento da produtividade. O desenvolvimento
e expansão dessa cultura serão abordados posteriormente neste item.

5.2.2 – Região Nordeste

O Centro Nacional de Pesquisa do Algodão e o Centro Nacional de Pesquisas do Semi-Árido,


ambas unidades da Embrapa buscam desenvolver variedades de oleaginosas competitivas
comercialmente para a Região Nordeste, focando espécies de baixo custo de produção (figura
5.03), além de desenvolver estudos para o Zoneamento Agroclimático de Risco para a cultura da
mamona no Nordeste. Recentemente, o CNPA desenvolveu duas variedades de mamona para a
região do semi-árido nordestino.

Outra espécie com potencial de adaptação ao nordeste brasileiro é o pinhão manso, que surge
como uma alternativa ainda mais viável se comparada à mamona. O pinhão manso é capaz de se
desenvolver em áreas onde o solo é pouco fértil e de clima desfavorável à maioria das culturas
tradicionais, como no caso da região do semi-árido. Para as regiões Sudeste, o Centro-Oeste e o

*Disponível em:<www.biodiselbr.com>. Acesso em 27/04/2006.


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Nordeste do Brasil o pinhão manso pode ser considerado como uma das alternativas de matéria-
prima para produção de biodiesel*.

Figura 5.03 - Fruto do Pinhão-Manso e Mamona

Fonte: www.biodieselecooleo.com.br Fonte: EMBRAPA

No Estado da Bahia a área cultivada de mamona é superior a 150 mil hectares com produção
superior a 100 toneladas de baga, representando grande parte da produção nacional.

A mamona, além do valor econômico, possui um valor social, com a prática da agricultura
familiar e para que essa agricultura seja fortalecida é necessário treinamento e qualificação dos
produtores da região (isto, enquadra-se para todas as regiões do país), para enfrentar um mercado
competitivo e tecnologicamente mais avançado, caso contrário, poderá trazer conseqüências
sociais graves.

Um dos Estados potencialmente atrativo ao plantio de culturas de oleaginosas é o Maranhão. O


Estado possui três fitofisionomias diferentes de vegetação: o Semi-Árido, o Cerrado e a
Amazônia. Alternativas perenes como é o caso do babaçu, constitui-se em opções para o
desenvolvimento das áreas interioranas do Estado. O babaçu possui 17 milhões de hectares
nativos nos estados nordestinos (PARENTE, 2004).

No município de Quixeramobim (Ceará) há um projeto experimental de cultivo da mamona para


fabricação de biodiesel, em uma área de 70 hectares e com produção de 350 litros/dia de
biodiesel. Segundo informações de uma empresa local, no Estado da Bahia, a Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), transforma óleos residuais usando metanol.

5.2.3 – Região Centro-Oeste

A região Centro-Oeste é a grande produtora nacional de grãos, destacando-se a cultura da soja. O


potencial da região qualifica o cultivo de soja, mamona, algodão e girassol como principais
espécies para a produção do biodiesel. Além disso, Tocantins e Goiás possuem grandes áreas de
babaçu.

Esta região se beneficiou de políticas de fortalecimento econômico de vários fundos, como o


Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), que foi criado pela
Constituição Federal de 1988, como instrumento para alavancar a economia local.

*Disponível em:<www.pinhaomanso.com.br.>. Acesso em 27/04/2006.


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Nesse contexto de expansão da agricultura, a soja aparece como importante geradora de divisas
para a região. Isso pode ser visualizado com a evolução na produção dessa leguminosa. Em
1970, a produção pelo Centro-Oeste era de 2% , passou para 20% em 1980 e 40% em 1990. A
produção doméstica seguiu com a consolidação da produção de soja na Região Centro-Oeste,
que na safra de 2003 respondeu por 45,6%, seguida pela região Sul, com 40,5% da produção
total de 52 milhões de toneladas. Em 2004, a produção de soja na Região atingiu o patamar de
48% do total nacional deixando a região Sul para trás com 35%.

Além da soja, a cultura do algodão também tem destaque econômico na região. Adicionalmente,
a Região Centro-Oeste, tem a mamoeira como cultura destinada à rotação com o cultivo da soja,
diversificando a fonte de renda dos produtores.

Com o objetivo de “desenvolver conhecimentos científicos e tecnológicos que permitam a


utilização de óleos vegetais para a produção de biodiesel, a partir de sementes oleaginosas
adaptadas à produção no cerrado”, o Programa Estadual de Biodiesel de Mato Grosso do Sul
pretende utilizar o nabo forrageiro (figura 5.04) para a produção de óleo, auxiliando o agricultor
com uma fonte de renda alternativa. O nabo forrageiro entra no sistema de rotação de culturas no
cerrado, minimizando a compactação do solo, produzindo massa verde e reduzindo a infestação
de plantas daninhas durante a época de pousio das áreas agrícolas.

A Universidade Federal de Mato Grosso é responsável por um projeto de desenvolvimento social


em Guariba (município de Colniza), localidade isolada do Noroeste mato-grossense. O
município não é atendido pela rede da Eletrobrás e a geração de energia elétrica é realizada
através de uma termoelétrica a óleo diesel. O projeto consiste em abastecer esse distrito com
biodiesel para produção de energia elétrica, utilizando-se como matéria-prima óleos vegetais de
espécies nativas, com a castanha-do-pará.

Figura 5.04 – Nabo Forrageiro e Plantio de Soja

Fonte: www.biodieselecooleo.com.br, Chapadão do Céu/GO Fonte: Cavilha, 2006, Interior do Paraná

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5.2.4 – Região Sudeste

No contexto brasileiro a região Sudeste é a mais representativa em diferentes setores,


principalmente no econômico e industrial. Em função da variação de altitude e de outros
parâmetros climáticos, o Sudeste possui características propícias para uma agricultura de alta
tecnologia e produtividade. Nessa região destaca-se o cultivo de oleaginosas como a soja,
amendoim, mamona, algodão e girassol.

No Estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do País, a rotação de cultura nas
regiões canavieiras é realizada com o plantio de amendoim. Essa espécie apresenta baixo custo
de produção e alto retorno econômico (devido à sua rusticidade necessita menores investimentos
em adubação e defensivos agrícolas), propicia a nitrogenação do solo e reduz as populações de
nematóides do solo (efeito alelopático). Existe uma gama de pesquisas em desenvolvimento
sobre esta espécie no Estado de São Paulo.

Na região do semi-árido do Estado de Minas Gerais, o Governo Estadual está fomentando o


plantio de mamona e pinhão-manso, em parceria da Empresa de Pesquisa Agropecuária de
Minas Gerais (EPAMIG). A EPAMIG está realizando, em seus campos experimentais, testes
com o pinhão-manso a fim de estabelecer diretrizes técnicas para o seu cultivo comercial.

Esta Região é a que mais utiliza o óleo diesel. Se for analisado em termos regionais, o consumo
de diesel ocorre principalmente na região Sudeste (44%), seguido pelo Sul (20%), Nordeste
(15%), Centro-Oeste (12%) e Norte (9%).

5.2.5 – Região Sul

A colonização imigrante na Região Sul do Brasil teve por base a pequena propriedade agrícola
como fonte de renda. Essa colonização, associada aos fatores físicos, é responsável pelo
aparecimento de paisagens agropastoris distintas de outras regiões brasileiras. A medida em que
começou a receber importante imigração européia, o Sul começou a diversificar e ampliar sua
produção agrícola.

O Paraná constitui-se num dos Estados pioneiros a criar o Programa de Biocombustível. Este
programa visa o desenvolvimento de tecnologia de produção utilizando o álcool etílico no
processo industrial (responsabilidade do TECPAR) e a estruturação de um sistema sustentado de
produção de oleaginosas, visando o benefício das propriedades agrícolas familiares.

Conforme os estudos desenvolvidos para essa região, as principais oleaginosas cultivadas são a
soja, a canola, o girassol e o algodão.

O girassol constitui-se numa fonte de óleo para a produção do biodiesel. A definição do


zoneamento agroclimático para o girassol, juntamente com o desenvolvimento de diretrizes
técnicas e tecnologias específicas para o cultivo do grão no Estado são as metas do Programa de
Bioenergia do Estado do Paraná. Dados da CONAB, da EMBRAPA e do USDA, apontam que a
área cultivada com girassol no Brasil é de aproximadamente 80 mil hectares. Segundo Samrig
(1988), essa cultura tem-se destacado pela adaptação climática, sendo resistente a baixas
temperaturas e a seca, adaptando-se bem a solos argilosos e arenosos.

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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

A área semeada com canola no Brasil, no ano de 2000, foi de 18.900 hectares, sendo 10.900 ha
no Rio Grande do Sul e 8.000 ha no Paraná (Embrapa Trigo). O óleo de canola possui o menor
teor de gorduras saturadas, apenas 7%, contra 12 % no de girassol.

Contudo, a produção mais expressiva é a da soja. O Estado do Paraná é o que possui maior
quantidade produzida (toneladas) com 58% do total da região Sul. A representatividade de Santa
Catarina nas três culturas comparadas é pouco significativa em relação aos demais Estados do
Sul. Para a soja, por exemplo, seu percentual é de 4% da quantidade produzida regionalmente
(tabela 5.06).

Visando essa grande fonte que é a soja, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), realiza testes
em carros movidos a biodiesel à base de óleo de soja. A região Sul do país é a segunda maior
produtora de soja do Brasil.

Tabela 5.06 - Principais Culturas Perenes Oleaginosas Produzidas na Região Sul


QUANTIDADE ÁREA PLANTADA
PRODUZIDA (t) (ha)
ESTADO LAVOURA TEMPORÁRIA
1996 2004 1996 2004

Algodão herbáceo (caroço) 287.061 90.171 181.916 47.315

Paraná Amendoim (em casca) 5.558 8.660 2.897 4.242

Soja (em grão) 6.440.468 10.219.005 2.386.743 4.011.021

Algodão herbáceo (caroço) - - - -

Santa Catarina Amendoim (em casca) 607 130 508 57

Soja (em grão) 404.876 641.748 167.368 314.469

Algodão herbáceo (caroço) - - - -


Rio Grande do
Sul Amendoim (em casca) 4.404 6.208 4.146 4..733

Soja (em grão) 4.235.532 5.541.714 2.547.152 3.984.337

Algodão herbáceo (caroço) 287.061 90.171 181.916 47.315

REGIÃO SUL Amendoim (em casca) 10.569 14.998 7.551 9.032

Soja (em grão) 11.080.876 16.402.467 5.101.263 8.309.827


Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

5.3 - Principais Oleaginosas Utilizadas

5.3.1 - Soja

A soja é uma planta da família das leguminosas. É um pequeno arbusto com altura variando de
40 centímetros a 2 metros de altura, apresenta folhas, ramos e flores avermelhadas. É originária
do Sudeste Asiático. No Brasil, sua introdução é remetida ao século XIX no Estado da Bahia.

A soja tem maior fonte de proteínas do que de óleo, porém constitui-se numa importante
matéria-prima à indústria alimentícia e química, pois grande parte da produção de óleo brasileira
(90%) advém dessa leguminosa (HOLANDA, 2004). Os grãos de soja consistem de 30% de
carboidrato, 18% de óleo (85% não saturado), 14% de umidade e 38% de proteína (SOLAE,
2006).

Muito utilizado na fabricação de produtos alimentícios, o óleo de soja tem várias outras
aplicações, dentre as quais pode citar: cosmética, farmacêutica, alimentícia, veterinária, nutrição
animal, industrial na produção de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes entre outros.

A expansão agrícola seguindo novas regiões, além da Sul e Sudeste, deve-se a vários fatores,
entre eles o baixo valor de terras no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A partir de meados dos
anos 1980, observa-se uma ocupação mais efetiva das novas regiões da agricultura, com
características de modernização, na qual se destacam o Centro-Oeste e os cerrados nordestinos
(em particular os municípios de Balsas-MA e Barreiras-BA) com a produção de grãos
(CASTILLO e VENCOVSKI, 2004).

Junto à expansão agrícola, o tamanho médio das propriedades aumenta e incorpora novas
tecnologias. Associa-se a esse fato o aumento da malha de escoamento da produção e a
viabilização de sistemas que propiciem esse escoamento (CASTILLO e VENCOVSKI, 2004).

Em termos regionais e até estaduais, Campos (2003) expôs que no ano de 2003, “a
disponibilidade brasileira imediata de biodiesel a partir de soja se concentra na perspectiva do
diferencial entre a capacidade nominal de produção da ordem de 51 milhões de toneladas, para
uma capacidade de processamento de 36 milhões de toneladas, com a correspondente produção
de óleo de soja da ordem de cinco bilhões de litros e a capacidade de produção de biodiesel que é
da ordem de 1,5 bilhão de litros, sendo 47% no Centro-Oeste e 40% na Região Sul”.

De acordo com os dados do IBGE (2004), a região que possui maior área plantada de soja e a
maior quantidade produzida atualmente é a região Centro-Oeste. Ela detém 48% da produção
brasileira, seguida pela região Sul que apresenta 35% da produção nacional. O restante do
território brasileiro produz 17% do total (tabela 5.07).

Salienta-se a evolução e o aumento significativo no que tange o plantio da soja da região Centro-
Oeste. Em oito anos a área plantada no Centro-Oeste quase triplicou de tamanho. Sua produção,
em 2004, aumentou 265% em relação a 1996, ou seja, sua produção em toneladas de grãos teve
aumento quase triplicado.

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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Tabela 5.07 - Relação Entre a Área Plantada e Valores de Produção da Soja


QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO
ÁREA PLANTADA (ha)
REGIÃO PRODUZIDA (t) (mil R$)
1996 2004 1996 2004 1996 2004
Norte 7.644 359.434 15.192 946.649 2.850 556.602
Nordeste 506.520 1.321.505 860.032 3.659.065 195.717 2.086.781
Sudeste 1.034.618 1.876.303 2.144.404 4.514.944 504.502 2.859.407
Sul 5.101.263 8.309.827 11.080.876 16.402.467 2.432.251 11.524.136
Centro-Oeste 3.706.111 9.734.271 9.066.370 24.026.816 1.689.009 15.600.750

Brasil 10.356.156 21.601.340 23.166.874 49.549.941 4.824.329 32.627.677


Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

A região Nordeste é a que apresenta a melhor produtividade média no Brasil, com 2,77 t/ha
estando 0,475 t/ha acima da média brasileira (tabela 5.08). Nessa região, onde se desenvolveu
rapidamente o agronegócio, aponta-se como principais vantagens para o cultivo comercial da
soja a facilidade de financiamento (70% dos financiamentos são negociados diretamente com as
tradings), proximidade aos mercados fornecedores de insumos e implementos agrícolas e o valor
da terra (que gira em torno de 40 a 80 sacas de soja/ha).

A região Centro-Oeste tem produtividade média registrada em torno de 2,47 t/ha. Semelhante à
região Nordeste, o Centro-Oeste, também possui algumas facilidades (a disponibilidade e preço
da terra, financiamentos etc.), porém a logística para obtenção de insumos e escoamento da
produção não é favorável, fazendo com que o retorno financeiro da lavoura seja menor, quando
comparado a regiões produtoras do Nordeste, com isso o investimento em aportes tecnológicos
também é menor, comparativamente. As regiões Sudeste e Sul são caracterizadas pela
produtividade média de 2,42 t/ha e 1,98 t/ha, respectivamente. Nessas regiões o tamanho médio
das propriedades e o aporte tecnológico é inferior ao das áreas de fronteira agrícola (salvo
exceções de grandes grupos empresariais e produtores de soja semente), justificando assim o
baixo aproveitamento das áreas comparativamente com as outras regiões.

Tabela 5.08 - Rendimento Médio da Produção da Soja

REGIÃO PRODUTIVIDADE (t/ha) em 2004


Norte 2,633
Nordeste 2,776
Sudeste 2,419
Sul 1,978
Centro-Oeste 2,476
Brasil 2,301
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal adaptado por STCP

O programa de melhoramento genético da soja, realizado nas últimas décadas, principalmente


pela EMBRAPA, possibilitou a cultura adaptar-se a diferentes latitudes e climas, ocupando assim
grande parte do País. A espécie é sensível ao fotoperíodo, sendo considerada planta de dia curto,
onde a faixa de adaptabilidade de cada cultivar varia à medida que se desloca em direção ao
5.14 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

norte e ao sul (cultivares de ciclo longo possuem adaptabilidade mais ampla, possibilitando sua
utilização em faixas mais abrangentes de latitudes e épocas de semeadura). Além do mais,
práticas de manejo conservacionistas (como o cultivo mínimo, o Sistema Plantio Direto - SPD e
o sistema de rotação de culturas) permitiram que o custo de produção fosse mais competitivo e
que os impactos ao meio ambiente fossem minimizados. Porém, salienta-se que devido ao fato
do Brasil ser constituído por diferentes ecossistemas, as tecnologias de manejo
conservacionistas, desenvolvidas para a cultura da soja, não estão disseminadas e disponíveis
para todas as regiões do País, sendo ainda necessários estudos e programas de conscientização
para a classe agrícola.

5.3.2 - Mamona

A mamona (Ricinus communis) é uma planta conhecida desde a antiguidade, tendo sua origem
indefinida. É conhecida no Brasil desde os tempos coloniais. Segundo Savy Filho et al. (1999) o
cultivo da mamona tem sido praticado tradicionalmente no País, por pequenos e médios
produtores. Esse fato caracteriza sua produção como uma importante alternativa agrícola para o
semi-árido brasileiro, por sua resistência à seca e seu manejo.

É uma planta de porte arbustivo. Os frutos, em geral, possuem espinhos. As sementes podem
variar de tamanho, formato e, principalmente de coloração. Destas, extrai-se o óleo de mamona
ou rícino, que contém 90% de ácido ricinoléico, o que representa uma fonte praticamente pura
deste ácido graxo. Esse componente caracteriza o óleo de mamona como uma grande
oportunidade de aplicações industriais.

Para a produção do óleo é utilizado a semente da mamona. Um subproduto derivado do processo


de extração do óleo é a torta, rica em nitrogênio, fósforo e potássio que pode ser utilizada na
recuperação de solos degradados. As folhas também podem ser utilizadas para criação do bicho-
da-seda, os restos culturais podem ser devolvidos ao solo servindo como biomassa. De acordo
com pesquisas realizadas pela EMBRAPA, a amêndoa de mamona, no Brasil, pode representar
70% em peso da baga e contém entre 43% e 49% de óleo.

A aplicação do óleo está em diversos segmentos da indústria química tais como cosméticos,
lubrificantes para motores de alta rotação, carburantes de motores a diesel e como fluído
hidráulico em aeronaves (ABOISSA, 2005). Por ser uma planta que se adapta as condições
nordestinas, é a principal cultura na produção de biodiesel, não somente pelo desempenho,
utilização, produtividade, mas pelo seu papel social, uma vez que os custos com insumos são
relativamente baixos, podendo ser cultivada pela agricultura familiar.

Estudos desenvolvidos pela Embrapa no Nordeste utilizam o cultivo de diferentes variedades da


mamona, visando um aumento de produtividade. Nesses termos, a produtividade da mamona se
situa em torno de 450 – 500 kg/ha. As novas variedades, desenvolvidas e lançadas pelo Órgão, a
BRS Nordestina e BRS Paraguassu demonstram um rendimento médio de 1.500 kg/ha. Possuem
caráter de adaptação à agricultura familiar no Nordeste, pois tem um pequeno porte e sistema de
sementes que não são totalmente liberadas, oportunizando a colheita manual (BRASIL, 2005).

A produção da mamoeira ocorre em quase todas as zonas subtropicais e tropicais do mundo, sem
dependência de propriedades físico-químicas do solo específicas. Em termos de Brasil, encontra-
se a produção da mamona consorciada com o cultivo de feijão e milho (figura 5.05), utilizando-

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.15


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

se a agricultura familiar com meios rudimentares de trabalho e insumos, ou a agricultura em


escala comercial com mecanização e intenso uso de insumos (ABOISSA, 2005).

Na figura 5.05 pode ser visualizado o ciclo de vida da mamona em consórcio com outra cultura,
o feijão. O plantio deve ser iniciado no período chuvoso que varia de região para região. Em até
60 dias, deve-se proceder ao plantio, tendo a colheita do primeiro cacho de 4 a 6 meses,
posteriormente ao plantio. A produção contínua persiste por cerca de 100 dias. Ao final desse
processo erradica-se a planta e inicia-se um novo ciclo.

Em termos nacionais a maior produção desta oleaginosa concentra-se nos Estados da Bahia, do
Mato Grosso e Ceará. Nesses termos de produção nacional, a área plantada no Estado da Bahia
foi de 150 mil hectares (83% de total da área com mamona no país), distribuída, basicamente, em
quatro microrregiões: Irecê (109.354 ha. – 62,4%), Jacobina (17.730 ha. – 10%), Senhor do
Bonfim (7.090 ha. – 4%) e Seabra (5.620 – 3%) (tabela 5.09).

Em relação à área plantada, a quantidade produzida e o valor da produção, destaca-se a região


Nordeste como a mais representativa em todo o território nacional. Sua área plantada com
mamona corresponde a 95% de todo o País. A quantidade produzida pelo nordeste em 2004, é
91% da produção nacional, enquanto que, da região Sul, com menor representatividade, é
inferior a 1% (tabela 5.10). A região Centro-Oeste concentra apenas 3,4% de áreas plantadas
com a mamona produzindo 6% da produção brasileira de mamona em baga.

Figura 5.05 – Ciclo de Vida da Mamona Consorciada com o Feijão

Fonte: EMBRAPA in Holanda, 2005

5.16 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Tabela 5.09 - Porcentagem da Produção de Mamona nos Estados Mais Representativos


ESTADO PORCENTAGEM
Bahia 83%
Mato Grosso 6%

Ceará 5%
Total em relação à produção brasileira 94%
Fonte: IBGE, 2005

Tabela 5.10 - Relação Entre a Área Plantada e Valores de Produção da Mamona


QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO
ÁREA PLANTADA (ha)
REGIÃO PRODUZIDA (t) (mil R$)
1996 2004 1996 2004 1996 2004
Norte - - - - - -
Nordeste 127.626 167.282 39.508 126.662 9.681 128.665
Sudeste 1.264 2.300 1.444 2.530 295 2.053
Sul 107 569 86 1.049 18 658
Centro-Oeste 206 5.939 308 8.504 73 4.946
Brasil 129.203 176.090 41.346 138.745 10.067 136.322
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Ao tratar da produtividade média observa-se que a região nordeste, mesmo sendo a maior
produtora é a que possui o menor rendimento de produção por área plantada, cerca de 31kg/ha a
menos que a média brasileira de 2004. Isso se deve, pois é uma cultura tradicional da agricultura
familiar nessa região, que possui baixa tecnologia de produção. O melhor rendimento médio é
encontrado na região Sul, com 1,071 kg/ha a mais que o rendimento no nordeste (tabela 5.11),
que pode ser explicado pelo acesso a assistência técnica, em termos comparativos com a região
Nordeste.

Tabela 5.11 - Rendimento Médio da Produção da Mamona


REGIÃO PRODUTIVIDADE (t/ha) EM 2004
Norte -
Nordeste 0,772
Sudeste 1,148
Sul 1,843
Centro-Oeste 1,431
Brasil 1,3
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal adaptado por STCP

A EMBRAPA Algodão desenvolveu Diretrizes Técnicas (2003) e o Zoneamento Agroclimático


para a cultura da mamona no semi-árido brasileiro e, segundo essa fonte, a mamona se adapta
melhor em altitudes superiores a 300m, com relevo aplainado e suavemente ondulada, com solos
profundos. A operação de revolvimento do solo (aração) deve ser feita cerca de três meses antes
2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.17
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

do plantio de maneira convencional respeitando as características do solo. O plantio,


propriamente dito deve ser realizado quando o conjunto de três características é propício: a
umidade, a luminosidade e a temperatura.
Deve-se buscar áreas de relevo plano (declividade máxima de 12%) para proceder o plantio da
mamona, pois essa planta tem pouca capacidade de proteção contra a erosão e crescimento
inicial muito lento.

Há vários estudos envolvendo espécies de mamona que obtenham melhores indicadores e


resultados. Na tabela 5.12 há a apresentação das características de dois tipos de cultivares a
mamona.

Tabela 5.12 - Parâmetros e Características dos Cultivares Nordestina e Paraguaçu


CARACTERÍSTICAS
PARÂMETROS
NORDESTINA PARAGUAÇU
Ano de Lançamento 1998 1999
Ciclo Médio 250 dias 250 dias
Produtividade 1500 kg/ha 1500 kg/ha
Potencial Produtivo 4000 kg/ha 4000 kg/ha
Formato do cacho cônico amorfo
Cor da Semente preta preta
Forma de Colheita Manual parcelada Manual parcelada
Teor de Óleo 48,90% 47,72%
Fonte: SBRT, 2005

No Brasil, as áreas destinadas ao cultivo da mamona têm crescido, sendo também explorada no
Cerrado das Regiões Nordeste e Centro-Oeste, visando, principalmente à produção do biodiesel
(BELTRÃO et al., 2002).

Segundo dados da FAO (2005) existe um déficit na produção de óleo de mamona, o que tem
obrigado o país a importar o produto. O alto valor do óleo de mamona no mercado é um entrave
para sua aplicação no biodiesel*.

5.3.3 - Palma

A palma (dendezeiro – Elaeis Guineensis) é uma palmeira de origem africana. Inicialmente a


palma era utilizada para a ornamentação, somente quando ocorreu seu plantio comercial é que
iniciou o processo de extração de seu óleo na Malásia. A introdução da palma no Brasil deu-se
por meio dos escravos no século XVI, com a denominação de palmeira de dendê (agropalma).
Destacam-se como produtores de palma os Estados do Pará, Bahia e Amapá.

*Os entraves com a agricultura familiar residem na dificuldade em se obter processos industriais que suportam ou
atendam o estilo de cultivo praticado por este grupo econômico.
5.18 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

A palmeira do dendê é um cultivo perene que inicia sua produção de frutos a partir de 3 anos,
após a semeadura. Tem vida econômica entre 20 a 30 anos mantendo sua produtividade alta até
meados do décimo sétimo ano, podendo cada ano render até 5 toneladas de óleo por hectare, 10 a
12 cachos de frutos, com peso entre 20 a 30 kg e cada cacho produzindo de 1000 a 3000 frutos**.
Para o cultivo da palma as condições climáticas devem caracterizar-se como um clima tropical,
com períodos definidos de chuva.

Comparando a produção do óleo de dendê com a produção de soja e amendoim, observa-se uma
significativa diferença em termos produtivos, pois a primeira apresenta valores muito mais
elevados do que as duas outras culturas citadas. (tabela 5.13)

Tabela 5.13 - Comparação da Produtividade de Óleo


MATÉRIA-PRIMA PRODUTIVIDADE DE ÓLEO
Dendê 3700 kg/hectares
Soja 389 kg/hectares
Amendoim 857 kg/hectares
Fonte: BiodieselBr

Grande parte dos plantios de palma está localizado nos Estados do Pará e da Bahia. Ao todo, o
Brasil possui cerca de 86 mil hectares ocupados com o cultivo da palma (dendezeiro). Na Bahia,
a área cultivada (cerca de 40 mil hectares) localiza-se, principalmente, na região costeira do
Estado, composta pelas microrregiões de Valença - com 33.025 mil hectares, Santo Antônio de
Jesus com 5.410 mil hectares, Ilhéus-Itabuna com 2.681 mil hectares e Porto Seguro com 350
hectares. Em relação ao nível de produtividade da Bahia, observa-se que é baixo devido à idade
dos dendezais (acima de 20 anos) e a tecnologia empregada no manejo (EMBRAPA, 2005).

O Pará possui um bom nível de produtividade, alcançado através do uso de tecnologias mais
modernas no processo produtivo. Tem expandido sua área de cultivo e alcançado produtividade
acima de seis toneladas por hectare. Essa alta produtividade rendeu ao estado a instalação de
uma planta de produção de biodiesel em março de 2005 da Agropalma

No que tange aos aspectos de área plantada no Brasil, percebe-se, segundo dados do IBGE, que o
cultivo da palma se desenvolve nos Estados do Norte e Nordeste do País (tabela 5.14).

A região norte produz 81% do total da produção brasileira, enquanto que a região nordeste
contribui com 19% da produção. Em termos de área plantada a diferença entre as duas regiões é
de cerca de 4.000 ha.

Em relação ao rendimento médio da produção observa-se que a região Norte apresenta um


rendimento médio por hectare três vezes superior ao rendimento da região Nordeste (tabela
5.15). Algumas características da palma são apresentadas na tabela 5.16.

**Disponível em:<www.biodiesel.com.br>. Acesso em 27/04/2006.


2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.19
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Tabela 5.14 - Relação Entre a Área Plantada e Valores de Produção da Palma (Dendê)
QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO
ÁREA PLANTADA (ha)
REGIÃO PRODUZIDA (t) (mil R$)
1996 2004 1996 2004 1996 2004
Norte 42.830 45.969 613.628 738.241 73.214 56.489
Nordeste 30.099 41.584 126.634 171.044 10.034 28.348
Sudeste - - - - - -
Sul - - - - - -
Centro-Oeste - - - - - -
Brasil 72.929 87.553 740.262 909.285 83.248 84.838
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Tabela 5.15 - Rendimento Médio da Produção da Palma - Dendê


REGIÃO PRODUTIVIDADE (t/ha) EM 2004

Norte 16,061
Nordeste 4,113
Sudeste -
Sul -
Centro-Oeste -
Brasil 10,386
Fonte: IBGE, 2004 adaptado por STCP

Tabela 5.16 - Parâmetros e Características da Palma


PARÂMETROS CARACTERÍSTICAS
Forma da fruta Tenera
Origem África
Crescimento 50 - 70 cm/ano
Cor da folha Verde
Fruto maduro Amarelo dourado / vermelho
Período de incubação 12 – 15 meses
Início da colheita 30 meses após o plantio no campo
Densidade da plantação 136-160 palmas por hectare
Número de cachos 12 cachos/ano
Frutos e 1.000 – 3.000 frutos
peso por cachos 20 – 30 kg
Tamanho e forma do fruto 5 cm - oval
Óleo por mesocarpo 20 – 50%
Óleo por cacho 25 – 28%
Produção de óleo 5 – 8 tons/hectare/ano
Fonte: Biodiesel Br

5.20 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

O diagrama da figura 5.06 mostra, de forma simplificada, como se produz o óleo de palma.

Segundo dados da BiodieselBR, os frutos que são colhidos em campo são transportados para a
fábrica, onde após a pesagem, são transferidos para o esterilizador. Após são cozidos a uma
temperatura média de 135ºC sob pressão de 2 a 3 kg/cm², por aproximadamente uma hora.
Depois de esterilizados e cozidos os frutos passam pelo debulhador, onde ocorre a separação dos
cachos e frutos.

Através de uma prensa mecânica, é extraído o óleo do mesocarpo (parte intermediária do fruto)
carnoso do fruto. Em seguida, o óleo cru obtido na prensagem, é transferido para o desaerador. É
nesse momento que as partículas pesadas são separadas e removidas. Segue-se então para a
clarificação e purificação para a remoção de umidade, sujeira e outras impurezas.

Nesse momento, há frações que necessitam de diferentes tratamentos, quais sejam:

• As fibras e impurezas retidas na peneira voltam para a prensagem;

• O óleo bruto é colocado num tanque de decantação através de bomba centrífuga. Neste
tanque ocorre a separação do óleo e da borra.

O óleo é colocado num tanque de armazenagem, enquanto a borra é processada em uma


centrífuga, seguindo para o decantador secundário, onde após separação do óleo é transferida
para lagoas.

Desse processo, a torta resultante é processada e em seguida ocorre a secagem da fibra. A fibra
seca pode ser utilizada como combustível na caldeira a vapor.

No final do processo, o que sobra são as amêndoas com as cascas. As amêndoas são separadas
das cascas no moinho quebrador. As cascas são destinadas para combustível ou matéria-prima
para carvão ativado. As amêndoas são armazenadas para posterior beneficiamento.

5.3.4 - Babaçu

A distribuição geográfica do babaçu (Orbignya speciosa) abrange áreas do Centro-Oeste (menor


representatividade), Norte e principalmente Nordeste. Os Estados do Maranhão e Piauí são os
principais detentores de babaçuais. Respectivamente a quantidade produzida em 2004 foi
109.982 e 5.849 toneladas de amêndoas. Nesse contexto, o Maranhão aparece como detentor de
93% do que é produzido no País.

Na tabela 5.17 é apresentada a produção extrativista por regiões brasileiras. A representatividade


do Nordeste, com 98%, ou seja, 116.583 toneladas no ano de 2004 é um diferencial que, caso
sejam criadas as condições para o estabelecer a da cadeia de beneficiamento do óleo de babaçu,
coloca essa região como potencial produtora deste óleo.

Em ambas as regiões, houve um decréscimo da quantidade produzida ocorrido num intervalo de


tempo de oito anos. No Nordeste a diminuição foi de 5.987 toneladas, enquanto que na região
Norte, a produção decresceu mais de 50%.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.21


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Figura 5.06 - Processamento do Óleo de Palma

Fonte: Adaptado de Rittener (1995)

Tabela 5.17 – Produção Extrativista do Babaçu


QUANTIDADE PRODUZIDA (t amêndoas)
REGIÃO
1996 2004
Norte 4.724 2.140
Nordeste 122.570 116.583
Sudeste 13 -
Sul - -
Centro-Oeste - -
Brasil 127.308 118.723
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

5.22 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Segundo dados do Brasil (2005), suas sementes possuem de 65% a 68% de um óleo similar ao
óleo de dendê, tendo uma produtividade de 4 a 8 quilogramas de óleo por ano por palmeira. A
mesma fonte indica uma ocupação na base de 17 milhões de hectares de babaçuais no Brasil.
Destaca que a área onde ocorre a concentração de palmeiras exploráveis é de 100 mil ha,
localizados às margens dos rios do Piauí, Maranhão e Ceará.

A associação desses fatores demonstra a fragilidade e a importância do manejo na exploração


dos babaçuais e de outras palmeiras nativas e que ocorrem espontaneamente.

5.3.5 - Girassol

O girassol (Helianthus annuus) é uma dicotiledônea anual que tem sua origem no Norte do
Continente Americano. Tem como principal característica para cultivo a resistência apresentada à
seca, ao frio e ao calor, adaptando-se a diferentes condições edáficas e a diferentes períodos de
insolação.

Em termos de área plantada de 2000 a 2002, a região Centro-Oeste foi a maior em quantidade de
hectares plantados, 84% do total nacional. Seguida da região Sul e por fim da Sudeste. O Estado
com maior destaque é Goiás (tabela 5.18).

A produção do girassol restringe-se as três regiões citadas na tabela 5.19, sendo que Goiás possui
uma produção de 42,8 mil toneladas, correspondente a 64% do cultivo (tabela 5.19). Junto a esse
Estado, aparece o Mato Grosso do Sul cuja área plantada e a produção mostram significativo
aumento.

Normalmente, o girassol não é a principal cultura de uma propriedade agrícola, sendo cultivado
após a cultura da soja (safrinha), o que a torna uma cultura de alto risco de investimento na
região Centro-Oeste (escassez de chuvas no período de granação).

Tabela 5.18 – Cultura do Girassol no Brasil

ÁREA PLANTADA QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO


REGIÃO (mil ha) PRODUZIDA (mil t) (mil R$)*

2000/01 2001/02 2000/01 2001/02 2000/01 2001/02


Norte - - - - - -
Nordeste - - - - - -
Sudeste 1,9 1,9 2,8 2,6 n.d. n.d.
Sul 5,2 5,0 7,2 6,8 n.d. n.d.
Centro-Oeste 29,9 38,7 46,3 56,6 n.d. n.d.
Brasil 37,0 45,6 56,3 66,0 n.d. n.d.
*n.d. - informação não disponível
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.23


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Tabela 5.19 – Cultura do Girassol por Estado Produtor

ÁREA EM MIL ha PRODUÇÃO EM MIL TONELADAS


REGIÃO
2000/01 2001/02 2000/01 2001/02
Paraná 0,5 0,5 0,8 0,8
Rio Grande do Sul 4,7 4,5 6,4 6,0
São Paulo 1,9 1,9 2,8 2,6
Mato Grosso 2,6 2,6 3,7 3,9
Mato Grosso do Sul 3,8 5,5 5,7 9,9
Goiás 23,5 30,6 36,9 42,8
BRASIL 37,0 45,6 56,3 66,0
Fonte: CONAB disponível em www.bndes.gov.br.

O emprego do óleo de girassol na indústria alimentícia, o fato desta cultura requerer alto aporte
tecnológico (alto investimento) e a cerosidade que seus grãos apresentam (é necessário um pré-
refino do óleo bruto para o processo de produção de biodiesel), são os entraves que dificultam a
inclusão do girassol na cadeia do biodiesel.

O Centro Nacional de Pesquisa de Soja elaborou e divulgou as especificações técnicas da cultura


do girassol, na publicação técnica “Sistema de Produção N°. 1” (EMBRAPA, 2005).

O girassol é uma cultura que se adapta bem a diversos ambientes, podendo tolerar temperaturas
baixas e períodos de estresse hídrico.A germinação é inibida com temperaturas do solo inferiores
a 4ºC, mostrando-se satisfatória com valores superiores a 8 a 10ºC. Temperaturas baixas durante
a germinação retardam a emergência e induzem a formação de plântulas pequenas.

Com relação à reação da planta ao fotoperíodo, o girassol é classificado como espécie insensível.
Entretanto, algumas variedades comportam-se como plantas de dia curto e outras como de dia
longo.

5.3.6 - Amendoim

O amendoim (Arachis hypogea) é uma espécie originária do Brasil, sendo que na literatura
consta sua utilização pelos indígenas. Atualmente, utiliza-se seu óleo na indústria alimentícia.

Sua composição é maior em óleo do que em proteína, sendo sua produção totalmente
mecanizável. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o
amendoim forrageiro dos cultivares BR-1 e BRS-151 L-7 apresentam resistência à seca e
adequação ao plantio no semi-árido, podendo render sem irrigação, 750 l/ha de óleo ou quase
2.100 l/ha quando da utilização do plantio irrigado.

Na tabela 5.20, constam os dados da produção brasileira de amendoim em 1996 e em 2004. Num
contexto geral, observa-se um crescimento em todas as regiões brasileiras, tanto em quantidade
produzida como em área plantada. Destaca-se a região Sudeste como a principal produtora,
detendo 76% da área plantada no País e 81% da quantidade produzida do amendoim em casca.

5.24 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

A região Nordeste apresenta-se em segundo lugar com 7% da produção e 10% da área total
plantada. Nota-se uma menor produtividade em comparação a região Sudeste.

Tabela 5.20 – Produção do Amendoim no Brasil

ÁREA PLANTADA QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO


REGIÃO (ha) PRODUZIDA (t casca) (mil R$)

1996 2004 1996 2004 1996 2004


Norte 206 395 195 598 102 541
Nordeste 7.296 10.452 6.553 15.734 2.258 9.639
Sudeste 65.304 80.188 136.240 191.874 65.316 189.641
Sul 7.551 9.032 10.569 14.998 5.226 20.036
Centro-Oeste 515 5.367 721 13.284 304 12.163
Brasil 80.872 105.434 154.278 236.488 73.206 232.019
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

De toda a participação do Sudeste, o Estado de São Paulo aparece como principal produtor com
uma área plantada de 73.070 ha e 178.100 toneladas de amendoim em casca. Sua
representatividade é de 93% da produção da Região e 75% da nacional. Nesse estado o plantio
de amendoim é feito, principalmente, nas áreas de reforma da cana-de-açúcar, devido à baixa
necessidade de investimento em insumos que essa cultura necessita, ao retorno em produtividade
e ao mesmo tempo de qualidade ao solo que a mesma proporciona.

Os Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Paraná têm climas propícios à cultura, já que
possuem calor e umidade suficientes. Para um bom rendimento e boa qualidade o amendoim
requer, durante o seu desenvolvimento, temperatura constante, um pouco elevada, e suprimento
uniforme de água, principalmente no período de frutificação. Na época da colheita e da secagem
é necessário que o tempo esteja seco para evitar a germinação das sementes.

Além do clima, o solo constitui um fator importante para esta cultura. O amendoim pode ser
cultivado com êxito em quase todos os tipos do solo, desde que férteis. Todavia, o mais
apropriado é o leve (maiores teores de areia), de boa fertilidade, bem drenado, que não encharca
com as chuvas. Em terras desse tipo, o ginóforo (ou esporão), que nada mais é do que o
prolongamento do ovário da planta com o fruto, penetra facilmente chão e as vagens se
desenvolvem normalmente.

Na cultura do amendoim, dentre as diferentes práticas, destaca-se, pela sua importância, o


preparo do solo que, se bem feito, facilitará também outras medidas exigidas pela cultura. A
resistência à penetração pode prejudicar o desenvolvimento do sistema radical da planta, pois as
raízes são finas e volumosas, impedindo uma absorção dos nutrientes. Também a capacidade de
armazenamento de água fica bastante reduzida. Para tanto, uma só aração é insuficiente, sendo
necessárias duas, pelo menos. Uma delas pode ser efetuada no fim das chuvas, em maio mais ou
menos; e a outra cerca de trinta dias antes do plantio.

A adubação orgânica é sempre importante, quer seja pela incorporação dos restos de culturas,
quer seja pelo plantio e incorporação de adubos verde, ou simplesmente pela incorporação de
palhas, cascas, estercos e tortas.

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.25


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Nas práticas culturais é necessário, para evitar a concorrência das ervas daninhas e melhorar as
propriedades físicas do solo, o uso de cultivador de enxadinhas, tipo planet, entre linhas. As
plantas daninhas podem também ser controladas através do uso de herbicidas.

A colheita do amendoim, graças às máquinas modernas existentes no mercado, pode ser feita
mecanicamente. O implemento é adaptado em trator e realiza, com total eficiência, em duas
linhas, as operações de cortar, arrancar, sacudir, limpar e enfileirar. Possui todos os dispositivos
de ajuste para os diferentes espaçamentos e condições de solo e lavoura. Esta escavadeira-
colhedeira levanta o amendoim do chão com todo o cuidado, elimina a terra, deposita a colheita
em fileiras regulares, sem perda nem acúmulo.

A secagem ou cura do amendoim, qualquer que seja o processo, é uma operação da maior
importância. Quando arrancada, as vagens de amendoim contêm entre 35 a 40% de umidade que
necessita ser reduzida a 10% ou menos, antes de serem armazenadas com segurança. Nas zonas
produtoras, devido ao processo de colheita adotado, tolera-se um teor de umidade de 13% e até
mais, em anos de pequena produção ou grande procura das fabricas de óleo, o que, entretanto, é
contra-indicado.

O amendoim se conserva por vários meses sem perda do poder germinativo ou de suas
qualidades para óleos, quando convenientemente armazenado. Os armazéns devem ser bem
secos e ventilados com as vagens ensacadas ou a granel, com tratamento de fumigante
apropriados. O teor de umidade das vagens não deve ser superior a 10%.

Na operação de fumigamento os paióis e depósitos devem passar por um polvilhamento ou


mesmo nebulização de fumigante visando impedir possíveis infestações ou reinfestações de
insetos.

5.3.7 - Algodão

Segundo dados da ABOISSA (2005), o algodão (Gossypium hirsutum) é uma planta fibrosa,
oleaginosa e protéica. Após a separação da fibra, o óleo é o principal produto. Do algodão pode-
se obter vários subprodutos como a farinha integral, o óleo bruto, a torta e o farelo.

Segundo dados do IBGE, a principal região produtora de algodão em 2004 em termos de


quantidade produzida e de área plantada é a Centro-Oeste. Sua participação é de 67% das
toneladas e 58% do total de área plantada (tabela 5.21).

O estado do Mato Grosso é o que mais produz. Cerca de 74% da produção do Centro-Oeste, o
que correspondente a 50% da nacional.

Segundo o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR (2006), o teor de óleo do algodão é de 18%.
A capacidade da cultura é cerca de 30kg/ha de óleo. Porém, um dos entraves na utilização do
óleo de algodão é o gossipol. O gossipol é um pigmento natural presente no farelo de algodão e
no óleo, que pode ser classificado tanto como um fator tóxico, como um fator anti-nutricional. O
óleo obtido das sementes de algodão é de coloração escura, provocada por pigmentos que
acompanham o gossipol no interior das glândulas distribuídas nos cotilédones e hipocótilo da
planta. A presença desses compostos leva à necessidade de se proceder ao refinamento do óleo
para eliminação através do calor, uma vez que os mesmos são termolábeis e durante o refino são
destruídos, o que eleva o custo de industrialização do biodiesel.
5.26 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

Tabela 5.21 – Produção do Algodão Herbáceo em Caroço no Brasil


ÁREA PLANTADA QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO
REGIÃO (ha) PRODUZIDA (t) (mil R$)
1996 2004 1996 2004 1996 2004
Norte 5.257 3.304 5.011 7.724 2.335 5.671
Nordeste 209.772 297.169 88.071 788.272 41.210 1.070.181
Sudeste 162.290 139.564 236.569 359.666 107.774 490.105
Sul 181.916 47.315 287.061 90.171 129.952 113.638
Centro-Oeste 196.994 672.325 335.301 2.552.647 142.734 3.505.416
Brasil 756.229 1.159.677 952.013 3.798.480 424.050 5.185.011
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal

Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma
grande oportunidade de negócios. A segunda metade da década de 90 significou um marco na
migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras para o cerrado
brasileiro. Hoje esta região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o Estado
de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado
tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem
mecanização total da lavoura, programas de incentivo à cultura implementada pelos Estados da
região e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologias modernas. Este último aspecto tem feito com
que o cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e
no mundo, em áreas não irrigadas.

A Embrapa vem participando decisivamente da produção do algodão no cerrado através da


geração e transferência de tecnologias. A cada ano, são lançadas, pelo menos, duas novas
cultivares e sendo desenvolvidos novos sistemas de produção e de manejo integrado de pragas e
doenças, visando atender a uma demanda crescente por novas tecnologias. As Diretrizes
Técnicas para a cultura foram compiladas da publicação “Sistemas de Produção N°. 2” do Centro
Nacional de Pesquisa do Algodão – EMBRAPA.

O algodoeiro é muito sensível à temperatura. Noites frias ou temperaturas diurnas baixas


restringem o crescimento das plantas levando-as à emissão de poucos ramos frutíferos. Por isso,
a semeadura é aconselhável em regiões ou épocas em que as temperaturas permaneçam entre 18º
e 30ºC, nunca ultrapassando o limite inferior de 14ºC e superior a 40ºC.

Dependendo do clima e da duração do ciclo, o algodoeiro necessita de 700 a 1.300mm de chuva


para atender suas necessidades de água. No período da floração há necessidade de 50% a 60%
dessa água (50 a 70 dias), quando a massa foliar está completamente desenvolvida.

A partir de 1997/98, para efeito de crédito e seguro agrícola, foi introduzido o zoneamento
agrícola, o qual é baseado na definição das regiões e épocas de semeadura com menor risco de
perdas por adversidades climáticas.

Por se tratar de uma planta oleaginosa, o algodoeiro herbáceo, afirma-se, teoricamente, como
exigente, no que se refere ao solo, preferindo aqueles de textura média, profundos, ricos em
matéria orgânica, permeáveis, bem drenados e de boa fertilidade. No entanto, trata-se de uma
cultura de larga adaptação, no que se refere às condições edáficas, podendo ser cultivada em

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.27


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

diversos tipos de solo de características físicas adversas e menos férteis, desde que sejam
efetuadas as devidas correções, de forma que passem a apresentar características suficientes para
atender às necessidades básicas ao seu pleno desenvolvimento por outro lado, solos rasos,
excessivamente arenosos e/ou pedregosos, demasiadamente argilosos e/ou siltosos e de baixa
permeabilidade, devem ser evitados por suas características de difícil correção. Áreas sujeitas a
encharcamento também são desfavoráveis ao cultivo do algodoeiro por não suportarem baixa
oxigenação no ambiente radicular.

O manejo do solo pode ser convencional, preparo mínimo, sistema plantio direto ou semidireto.

O produtor deve adquirir sementes de qualidade, para que o seu plantio resulte na reprodução das
características especificadas pela descrição da cultivar, com o máximo de uniformidade. O
controle de qualidade das sementes é regulamentado pelo Governo Federal em legislação
específica que trata do comércio e fiscalização de sementes e mudas.

A produção de algodão em caroço é mais influenciada pelo espaçamento entre fileiras e as


características tecnológicas da fibra, pela densidade. Geralmente, tem-se verificado uma
tendência de redução do espaçamento entre fileiras e aumento da densidade de plantas.
Entretanto, os resultados já obtidos permitem inferir que, nem sempre a produtividade é maior
numa condição de alta população (EMBRAPA, 2006).

A relação entre a produção de algodão e a população de plantas depende das condições


edafoclimáticas nas quais a cultura se desenvolve. Assim, embora a redução do espaçamento
entre fileiras possa reduzir os custos de produção sem alterar significativamente a produção de
fibra, a qualidade desta pode ser sensivelmente deteriorada.

Para as condições do cerrado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, considerando-se as


cultivares atualmente em uso, a população de plantas deve estar entre 80.000 a 120.000
plantas/ha.

A manipulação da arquitetura da planta do algodoeiro através de biorreguladores de crescimento


é uma estratégia agronômica que visa o incremento da produção e maior eficiência no uso de
defensivos e na colheita.

Reguladores de crescimento são compostos sintéticos que atuam no metabolismo da planta


inibindo a síntese dos hormônios de crescimento (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e
ácido abissísico). Os efeitos esperados destes produtos na planta do algodoeiro são: plantas mais
compactas, maior penetração de luz no dossel da planta, frutificação mais precoce, maior
produção por planta, maior número de capulhos por plantas, menor incidência de pragas e maior
eficiência na colheita.

O plantio comercial do algodão e a escassez de mão-de-obra no meio rural contribuíram para a


utilização, em larga escala, da mecanização do cultivo, sendo a colheita através de colheitadeiras
automotrizes, um dos principais segmentos necessários para viabilizar a exploração da cultura
em grandes áreas. A colheita mecanizada é extremamente vantajosa em relação à manual, pois os
custos operacionais são reduzidos, há melhoria na qualidade do produto colhido, a colheita é
feita com maior rapidez, o teor de impurezas é menor, evita a presença de contaminantes, além
de economia de mão-de-obra nas operações de recepção do produto colhido, pesagem e
utilização de sacarias, o que inviabilizaria grandes extensões de cultivo. A umidade ideal da
fibra, para se proceder à colheita, é de 12% com 95% dos capulhos abertos.

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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

O beneficiamento do algodão é feito nas Algodoeiras, é a etapa prévia para a sua industrialização
e consiste na separação da fibra das sementes por processos mecânicos, com mínima depreciação
das qualidades intrínsecas da fibra e a obtenção de um bom tipo de algodão, de maneira a atender
às exigências da indústria têxtil e de fiação.

5.3.8 - Pinhão Manso

Saturnino et al. (2005) reuniu em publicação informações técnicas sobre a cultura do pinhão-
manso. Segundo os autores, a EPAMIG foi pioneira nas pesquisas agronômicas com esta espécie
no Brasil, tendo entre 1982 e 1985, desenvolvido uma série de trabalhos, em diversas regiões do
Estado de Minas Gerais, que foram interrompidas em 1985 e retomadas em 2004. As primeiras
pesquisas com o pinhão manso (Jatropha curcas L.) foram patrocinadas pela financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP) do Banco do Brasil. Atualmente, as pesquisas inserem-se dentro do
Programa de Geração de Tecnologia para Culturas Oleaginosas Perenes na Região Semi-Árida
no Estado de Minas Gerais, financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).

A espécie tem sido utilizada em outros países (como Egito, Índia, Tailândia e países da África)
em projetos de cunho sócio/humanitário/ambiental, uma vez que seu óleo substitui a lenha e o
carvão vegetal utilizado pelas populações carentes em seu ambiente doméstico. Essa providência
diminuiu a taxa de desmatamento, o número de casos de doenças pulmonares (o óleo de pinhão
manso queima sem emitir fumaça), a valorização do trabalho feminino na agricultura familiar
(através da geração de emprego e renda para as mulheres, o aumento de renda pela fabricação de
sabão) e permitiu a geração de energia nas comunidades.

A espécie pinhão-manso é uma planta da família Euphorbiaceae, a qual atinge a altura de 3 a 12


metros e diâmetro de caule de 20 cm. O tronco tem tendência a se ramificar desde a base, as
folhas são decíduas e a desfolha ocorre no final da época seca ou durante a estação fria. A planta
permanece em repouso até o começo da primavera ou da época das chuvas, nas regiões secas.

Drummond et al. (1984 apud SATURNINO et al., 2005) relata que, sob as condições de Minas
Gerais, a florada do pinhão manso aparece após o período da seca e os frutos podem ser colhidos
de fevereiro a abril. Porém, segundo Saturnino et al. (2005), o período de frutificação se estendeu
até o mês de junho/julho em 2.004 devido ao período chuvoso ter se prolongado.

Conforme Brasil (1985 apud SATURNINO et al, 2005), não obstante a sua tolerância à seca, a
produtividade do pinhão manso é bastante afetada pela distribuição irregular de chuvas e também
pela ação prolongada de ventos na época da floração.

A planta do pinhão manso pode ser propagada via estaquia, enxertia, sementes e
micropropagação (em pesquisa).

A propagação via sementes apresenta muitos inconvenientes tais como a falta de padrões de
produção e comercialização no Brasil, uniformidade de germinação e a produção de frutos a
partir do quarto ano de plantio. O Processo de enxertia é realizado da mesma forma quem em
outras plantas, oferecendo rápido desenvolvimento em relação às plantas não-enxertadas. Esse
tipo de muda encontra-se disponível no comércio indiano (SATURNINO et al., 2005).

O processo de estaquia tem sido uma das maneiras mais comuns de multiplicação vegetativa do
pinhão manso, devido à facilidade de enraizamento e a abundância de ramos que essa espécie
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5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

apresenta. A desvantagem desse processo é o desenvolvimento da raiz pivotante que não ocorre
(o sistema radial é mais superficial), o que limita a capacidade da espécie de tolerar a secas
(HELLER, 1996, apud SATURNINO et al., 2005). Resultados coletados na estação experimental
EPAMIG-FEGR, do Norte de Minas Gerais, mostraram que a colheita de frutos pode ocorrer
após sete meses do plantio via estaquia.

Trabalhos de pesquisa com pinhão manso encontram-se em andamento em empresas de pesquisa


agropecuária, universidades, empresas agrícolas e organizações não governamentais de diversos
Estados brasileiros, entre os quais: Acre, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima, Tocantins e há
intenções manifestas de plantio comercial por parte de produtores desses Estados (SATURNINO
et al., 2005).

As conclusões de um projeto desenvolvido pela EPAMIG evidenciaram algumas diretrizes sobre


a cultura do pinhão manso (SATURNINO et al., 2005):

• a espécie exige boa fertilidade e um nível de umidade satisfatório do solo para ter alta
produção de sementes;

• a correção do solo (através da calagem) propicia um efeito positivo sobre o


desenvolvimento do pinhão manso.

De acordo com o Projeto, recomenda-se plantar pinhão manso em solos nutricionalmente pobres
desde que se façam covas profundas (75 cm) e que as adubem com pelo menos 10 litros de
esterco colocado no fundo. Isto estimula um rápido desenvolvimento da raiz pivotante,
garantindo melhor absorção de água e a formação de raízes secundárias em profundidade. Tais
fatores são fundamentais para que a planta explore melhor a fertilidade do solo e se adapte a
estresses, como o de seca. Já se observou associação de micorrizas com o pinhão manso, o que
representa importante estratégia para disponibilizar o macronutriente fósforo à planta.

Peixoto (1973 apud SATURNINO et al., 2005) recomenda que, após o pegamento das mudas, se
faça a adubação com 100 gramas de nitrocálcio ou outra fonte com igual equivalência de
nitrogênio, 400 gramas de fosforita (ou fosfato de araxá, ou farinha de ossos), 50 gramas de
cloreto ou sulfato de potássio, incorporando-se a mistura na camada superficial de 5 a 10 cm da
cova. Contudo, se faz necessário a aplicação das mesmas fontes e quantidades de adubos após
seis meses, pois a demanda metabólica na fase inicial de desenvolvimento da planta é pequena.
A quantidade de adubos químicos e orgânicos deve ser calculada de acordo com a idade desta,
porém, na carência da interpretação e recomendação de adubação, pode-se aplicar anualmente,
para cada pé de pinhão manso, as seguintes quantidades de fertilizantes: 20 litros de esterco, 120
gramas de nitrocálcio, 100 gramas de cloreto ou sulfato de potássio, 200 gramas de farinha de
ossos ou fosforita.

O pinhão manso pode ser cultivado em diversos sistemas: plantação convencional, em quadras,
solteiro ou consorciado, em cercas vivas ou em renques de contenção de encostas. A escolha do
sistema vai depender das condições locais e dos objetivos do agricultor. Para se fazer uso do
sistema de irrigação, deve-se considerar que o crescimento da planta está associado com o
volume de água contida no solo, ou da freqüência adequada de irrigação das plantas. Nos
estádios iniciais, a planta de pinhão manso é sensível a excesso de umidade, portanto a irrigação
deve ser promovida conforme a necessidade (SATURNINO et al., 2005).

5.30 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda


5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel

As atividades de preparo do solo serão estabelecidas conforme as características de cada local:


limpeza do terreno, subsolagem, aração, gradagem, marcação de covas em curvas de nível,
sulcamento ou apenas do coveamento.

A melhor época de plantio, constatada em pesquisas realizada pela EPAMIG, é no final do


inverno e início da primavera, ou no começo da estação chuvosa (tabela 5.22 e 5.23).

Tabela 5.22 – Efeito da Época de Plantio sobre a Produção Média de Sementes de Pinhão
Manso

MÊS DO PLANTIO PRODUÇÃO (g/PLANTA)

Outubro 660

Junho 397

Agosto 351

Novembro 313

Janeiro 87

Março 74

Setembro 64

Fevereiro 47

Abril 44

Julho 29

Maio 2

Fonte: Ratree (2004 apud Saturnino et al, 2005)

Tabela 5.23 – Produtividade de Pinhão Manso no Primeiro Ciclo de Produção, em Cultura


Irrigada por Gotejamento (Janaúba, Minas Gerais, 2005).

ESPAÇAMENTO DENSIDADE N° DE ÉPOCA DO ÉPOCA DA PRODUTIVIDADE


(PLANTAS/HA) PLANTAS PLANTIO COLHEITA (KG/PLANTA)

4mx3m 833 1.619 Out 2004 Jun/Ago 2005 0,402 (1)

8mx2m 600 1.197 Nov 2004 Jun/Ago 2005 0,317 (2)

8mx2m 600 1.500 Nov/Dez 2001 Jun/Ago 2005 0,093 (2)

(1) Colheita total (2) Colheita parcial

Fonte: NNEMinas Agro-Florestal Ltda (apud SATURNINO et al., 2005)

2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.31

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