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Item 5
Item 5
PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Desde a década de 70, a tendência da expansão da fronteira agrícola foi a ocupação dos
“espaços” geográficos da Região Centro-Oeste. Juntamente com esse movimento, incentivado
pelo Governo Federal, ocorreu o deslocamento da atividade dos principais centro produtores de
grãos (Região Sul e Sudeste) para as áreas de cerrado localizadas na fronteira agrícola.
O cerrado é considerado um dos biomas mais ameaçados do mundo. As estimativas apontam que
dos 2 milhões de quilômetros quadrados originais de vegetação nativa, resta apenas 20%. Assim,
a expansão da atividade agropecuária pressiona que cada vez mais as áreas remanescentes, como
as áreas do Sul dos Estados do Piauí e Maranhão, que ainda possuem expressiva cobertura de
vegetação nativa.
Tomando como exemplo municípios localizados na região do Alto Parnaíba, no Sul do Piauí,
nota-se que somente em 1993 a soja começou a ser plantada na região e de forma muito
conservadora. No entanto, em 2002, a área ocupada por essa cultura já tinha multiplicado por
seis a área original e aparentemente essa atividade está em franca expansão.
Com vistas para a diversificação da Matriz Energética Brasileira e da acelerada taxa de expansão
da fronteira agrícola, o Governo Federal elaborou o Plano Nacional de Agroenergia, que
concretiza o alinhamento de diversas políticas governamentais como política tributária, de
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel
Parte das premissas adotadas pelo Governo Federal para estimular a cadeia de produção
agroenergética envolvem o aproveitamento de áreas antropizadas/improdutivas, contribuindo
para a redução da taxa de expansão da fronteira agrícola e ao mesmo tempo barrando processos
de degradação de sistemas ambientais ameaçados, e a otimização das vocações regionais,
incentivando interiorização da cadeia de produção de biocombustíveis, a inclusão social e a
integração às diferentes dimensões do agronegócio.
Dentro das diretrizes expostas no Plano, a agroenergia apresenta quatro vertentes principais:
• álcool;
• biodiesel;
• resíduos agroflorestais.
O plano aponta, conforme exposto na figura 5.01, as áreas favoráveis para a expansão da
agricultura de energia no país, considerando as culturas agrícolas perenes e anuais com maior
potencialidade.
Faz-se necessário lembrar que esses insumos (oleaginosas) necessários à produção de biodiesel
são commodities agrícolas e de alto valor agregado na indústria química ou alimentícia,
comercializados via bolsa de valores e destinados principalmente ao atendimento do mercado
externo, influenciando a Balança Comercial Brasileira.
Tabela 5.01 – Necessidade de Óleo Vegetal para Atender a Necessidade da Indústria de Biodi-
esel em Operação em 2007.
Norte 8 8
*Razão aproximada de 1:1, segundo MMA e TECPAR (informação pessoal). Elaboração: STCP, 2006.
POSSIBILIDADE
PRODUÇÃO ÁREA PLANTADA TEOR DE ÓLEO DE PRODUÇÃO
OLEAGINOSA
(2004, em t) (2004, em ha) (%) DEÓLEO BRUTO
(10³L)
*Deve atentar-se ás áreas ocupadas por unidades de conservação, terras indígenas e biomas ameaçados.
5.4 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel
Para cada Estado e região do País, o desenvolvimento das cadeias produtivas das diferentes
espécies oleaginosas precisa levar em consideração fatores que envolvem o meio ambiente e suas
inter-relações com a sociedade moderna. Esta inter-relação é vislumbrada por várias entidades
governamentais e privadas, no sentido de indicar os melhores cultivares a serem explorados.
Campos (2003) destaca para a região Norte, por exemplo, a utilização de matérias-primas como
a palma, o babaçu e a soja. Na região Nordeste, as oleaginosas com destaque são o babaçu, a
soja, a mamona, a palma (dendê), o algodão e o côco. Em relação ao Centro-Oeste destaque para
a soja, mamona, algodão, girassol e dendê. Para o Sul a soja, a colza, o girassol e o algodão. Para
a região Sudeste a soja, a mamona, o algodão e o girassol (tabela 5.03 e figura 5.02).
Nota-se que a soja possui potencial de cultivo em todas as regiões brasileiras, com destaque para
as que tradicionalmente a produzem: a região Centro-Oeste e a região Sul.
Tabela 5.03 - Diferentes Matérias-primas para Extração de Óleos Vegetais Utilizados para
Avaliação das Cadeias Produtivas nas Regiões do Brasil
REGIÃO OLEAGINOSAS
Norte dendê, babaçu, soja
Nordeste soja, mamona, palma (dendê), algodão, côco
Sudeste soja, mamona, algodão, girassol, amendoim
Sul soja, colza, girassol, algodão,
Centro-Oeste soja, mamona, algodão, girassol, dendê
Fonte: Campos (2003) adaptado por STCP
O babaçu, em contrapartida, é a que apresenta o menor teor de óleo, mas possui a vantagem de
ser nativa. Esta cultura apresenta a maior produtividade de frutos (cerca de 15 t/ha) e a terceira
maior produção de óleo com 0,90 t/ha.
A palma, apesar de possuir quase metade da porcentagem de teor de óleo em relação à mamona,
tem a maior produtividade quando comparada a todas as matérias-primas correlacionadas, sendo
superada apenas pelo babaçu (15 t/ha). A produção de óleo da palma é muito expressiva, cerca
de 2,0 t/ha.
Outra oleaginosa de destaque é o pinhão-manso, muito cultivada em países como a Índia e Cuba.
Nos cultivos perenes nesses países, a planta do pinhão manso chega a atingir uma produtividade
de 8 t/ha de sementes (com produtividade média de 6 t/ha de sementes e 2,4 t/ha de óleo), sendo
sua máxima produção atingida após 20 anos*. No Brasil, desconhece-se o potencial dessa espécie
para cultivo comercial.
Tabela 5.05 - Principais Características dos Óleos Puros de Dendê, Soja e Mamona
Abundante em espécies de palmeiras e apta para o cultivo da espécie exótica Elaeis Guineensis
(dendezeiro/palma), a região Norte é caracterizada por sua extensão territorial, vasto
recobrimento florestal existente, clima úmido e equatorial (em grande parte de sua área de
abrangência) e altos índices de precipitação.
Na região destaca-se o estado do Pará como maior produtor de óleo de palma, produzindo 100
mil toneladas, numa área de 50 mil hectares*. Segundo Campos 2003, esse Estado possui “2
milhões de hectares de terras improdutivas com clima e solo apropriados para a palma, com toda
a infra-estrutura, inclusive porto e energia elétrica a uma distância máxima de 200 km de
Belém”. A produtividade do palma/dendezeiro na Região Amazônica é superior a 5,0 t de óleo
por hectare/ano e é possível utilizar-se também de outras espécies oleaginosas nativas para o
abastecimento de pequenas unidades industriais, que contribuiriam para resolver o déficit
energético da Região Norte, principalmente em comunidades praticamente isoladas e/ou de
difícil acesso.
Nas áreas de cerrado em Rondônia, Pará, Roraima e Tocantins, a cultura da soja tem-se
destacado com o aumento da área de plantio e incremento da produtividade. O desenvolvimento
e expansão dessa cultura serão abordados posteriormente neste item.
Outra espécie com potencial de adaptação ao nordeste brasileiro é o pinhão manso, que surge
como uma alternativa ainda mais viável se comparada à mamona. O pinhão manso é capaz de se
desenvolver em áreas onde o solo é pouco fértil e de clima desfavorável à maioria das culturas
tradicionais, como no caso da região do semi-árido. Para as regiões Sudeste, o Centro-Oeste e o
Nordeste do Brasil o pinhão manso pode ser considerado como uma das alternativas de matéria-
prima para produção de biodiesel*.
No Estado da Bahia a área cultivada de mamona é superior a 150 mil hectares com produção
superior a 100 toneladas de baga, representando grande parte da produção nacional.
A mamona, além do valor econômico, possui um valor social, com a prática da agricultura
familiar e para que essa agricultura seja fortalecida é necessário treinamento e qualificação dos
produtores da região (isto, enquadra-se para todas as regiões do país), para enfrentar um mercado
competitivo e tecnologicamente mais avançado, caso contrário, poderá trazer conseqüências
sociais graves.
Nesse contexto de expansão da agricultura, a soja aparece como importante geradora de divisas
para a região. Isso pode ser visualizado com a evolução na produção dessa leguminosa. Em
1970, a produção pelo Centro-Oeste era de 2% , passou para 20% em 1980 e 40% em 1990. A
produção doméstica seguiu com a consolidação da produção de soja na Região Centro-Oeste,
que na safra de 2003 respondeu por 45,6%, seguida pela região Sul, com 40,5% da produção
total de 52 milhões de toneladas. Em 2004, a produção de soja na Região atingiu o patamar de
48% do total nacional deixando a região Sul para trás com 35%.
Além da soja, a cultura do algodão também tem destaque econômico na região. Adicionalmente,
a Região Centro-Oeste, tem a mamoeira como cultura destinada à rotação com o cultivo da soja,
diversificando a fonte de renda dos produtores.
No Estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do País, a rotação de cultura nas
regiões canavieiras é realizada com o plantio de amendoim. Essa espécie apresenta baixo custo
de produção e alto retorno econômico (devido à sua rusticidade necessita menores investimentos
em adubação e defensivos agrícolas), propicia a nitrogenação do solo e reduz as populações de
nematóides do solo (efeito alelopático). Existe uma gama de pesquisas em desenvolvimento
sobre esta espécie no Estado de São Paulo.
Esta Região é a que mais utiliza o óleo diesel. Se for analisado em termos regionais, o consumo
de diesel ocorre principalmente na região Sudeste (44%), seguido pelo Sul (20%), Nordeste
(15%), Centro-Oeste (12%) e Norte (9%).
A colonização imigrante na Região Sul do Brasil teve por base a pequena propriedade agrícola
como fonte de renda. Essa colonização, associada aos fatores físicos, é responsável pelo
aparecimento de paisagens agropastoris distintas de outras regiões brasileiras. A medida em que
começou a receber importante imigração européia, o Sul começou a diversificar e ampliar sua
produção agrícola.
O Paraná constitui-se num dos Estados pioneiros a criar o Programa de Biocombustível. Este
programa visa o desenvolvimento de tecnologia de produção utilizando o álcool etílico no
processo industrial (responsabilidade do TECPAR) e a estruturação de um sistema sustentado de
produção de oleaginosas, visando o benefício das propriedades agrícolas familiares.
Conforme os estudos desenvolvidos para essa região, as principais oleaginosas cultivadas são a
soja, a canola, o girassol e o algodão.
A área semeada com canola no Brasil, no ano de 2000, foi de 18.900 hectares, sendo 10.900 ha
no Rio Grande do Sul e 8.000 ha no Paraná (Embrapa Trigo). O óleo de canola possui o menor
teor de gorduras saturadas, apenas 7%, contra 12 % no de girassol.
Contudo, a produção mais expressiva é a da soja. O Estado do Paraná é o que possui maior
quantidade produzida (toneladas) com 58% do total da região Sul. A representatividade de Santa
Catarina nas três culturas comparadas é pouco significativa em relação aos demais Estados do
Sul. Para a soja, por exemplo, seu percentual é de 4% da quantidade produzida regionalmente
(tabela 5.06).
Visando essa grande fonte que é a soja, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), realiza testes
em carros movidos a biodiesel à base de óleo de soja. A região Sul do país é a segunda maior
produtora de soja do Brasil.
5.3.1 - Soja
A soja é uma planta da família das leguminosas. É um pequeno arbusto com altura variando de
40 centímetros a 2 metros de altura, apresenta folhas, ramos e flores avermelhadas. É originária
do Sudeste Asiático. No Brasil, sua introdução é remetida ao século XIX no Estado da Bahia.
A soja tem maior fonte de proteínas do que de óleo, porém constitui-se numa importante
matéria-prima à indústria alimentícia e química, pois grande parte da produção de óleo brasileira
(90%) advém dessa leguminosa (HOLANDA, 2004). Os grãos de soja consistem de 30% de
carboidrato, 18% de óleo (85% não saturado), 14% de umidade e 38% de proteína (SOLAE,
2006).
Muito utilizado na fabricação de produtos alimentícios, o óleo de soja tem várias outras
aplicações, dentre as quais pode citar: cosmética, farmacêutica, alimentícia, veterinária, nutrição
animal, industrial na produção de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes entre outros.
A expansão agrícola seguindo novas regiões, além da Sul e Sudeste, deve-se a vários fatores,
entre eles o baixo valor de terras no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A partir de meados dos
anos 1980, observa-se uma ocupação mais efetiva das novas regiões da agricultura, com
características de modernização, na qual se destacam o Centro-Oeste e os cerrados nordestinos
(em particular os municípios de Balsas-MA e Barreiras-BA) com a produção de grãos
(CASTILLO e VENCOVSKI, 2004).
Junto à expansão agrícola, o tamanho médio das propriedades aumenta e incorpora novas
tecnologias. Associa-se a esse fato o aumento da malha de escoamento da produção e a
viabilização de sistemas que propiciem esse escoamento (CASTILLO e VENCOVSKI, 2004).
Em termos regionais e até estaduais, Campos (2003) expôs que no ano de 2003, “a
disponibilidade brasileira imediata de biodiesel a partir de soja se concentra na perspectiva do
diferencial entre a capacidade nominal de produção da ordem de 51 milhões de toneladas, para
uma capacidade de processamento de 36 milhões de toneladas, com a correspondente produção
de óleo de soja da ordem de cinco bilhões de litros e a capacidade de produção de biodiesel que é
da ordem de 1,5 bilhão de litros, sendo 47% no Centro-Oeste e 40% na Região Sul”.
De acordo com os dados do IBGE (2004), a região que possui maior área plantada de soja e a
maior quantidade produzida atualmente é a região Centro-Oeste. Ela detém 48% da produção
brasileira, seguida pela região Sul que apresenta 35% da produção nacional. O restante do
território brasileiro produz 17% do total (tabela 5.07).
Salienta-se a evolução e o aumento significativo no que tange o plantio da soja da região Centro-
Oeste. Em oito anos a área plantada no Centro-Oeste quase triplicou de tamanho. Sua produção,
em 2004, aumentou 265% em relação a 1996, ou seja, sua produção em toneladas de grãos teve
aumento quase triplicado.
A região Nordeste é a que apresenta a melhor produtividade média no Brasil, com 2,77 t/ha
estando 0,475 t/ha acima da média brasileira (tabela 5.08). Nessa região, onde se desenvolveu
rapidamente o agronegócio, aponta-se como principais vantagens para o cultivo comercial da
soja a facilidade de financiamento (70% dos financiamentos são negociados diretamente com as
tradings), proximidade aos mercados fornecedores de insumos e implementos agrícolas e o valor
da terra (que gira em torno de 40 a 80 sacas de soja/ha).
A região Centro-Oeste tem produtividade média registrada em torno de 2,47 t/ha. Semelhante à
região Nordeste, o Centro-Oeste, também possui algumas facilidades (a disponibilidade e preço
da terra, financiamentos etc.), porém a logística para obtenção de insumos e escoamento da
produção não é favorável, fazendo com que o retorno financeiro da lavoura seja menor, quando
comparado a regiões produtoras do Nordeste, com isso o investimento em aportes tecnológicos
também é menor, comparativamente. As regiões Sudeste e Sul são caracterizadas pela
produtividade média de 2,42 t/ha e 1,98 t/ha, respectivamente. Nessas regiões o tamanho médio
das propriedades e o aporte tecnológico é inferior ao das áreas de fronteira agrícola (salvo
exceções de grandes grupos empresariais e produtores de soja semente), justificando assim o
baixo aproveitamento das áreas comparativamente com as outras regiões.
norte e ao sul (cultivares de ciclo longo possuem adaptabilidade mais ampla, possibilitando sua
utilização em faixas mais abrangentes de latitudes e épocas de semeadura). Além do mais,
práticas de manejo conservacionistas (como o cultivo mínimo, o Sistema Plantio Direto - SPD e
o sistema de rotação de culturas) permitiram que o custo de produção fosse mais competitivo e
que os impactos ao meio ambiente fossem minimizados. Porém, salienta-se que devido ao fato
do Brasil ser constituído por diferentes ecossistemas, as tecnologias de manejo
conservacionistas, desenvolvidas para a cultura da soja, não estão disseminadas e disponíveis
para todas as regiões do País, sendo ainda necessários estudos e programas de conscientização
para a classe agrícola.
5.3.2 - Mamona
A mamona (Ricinus communis) é uma planta conhecida desde a antiguidade, tendo sua origem
indefinida. É conhecida no Brasil desde os tempos coloniais. Segundo Savy Filho et al. (1999) o
cultivo da mamona tem sido praticado tradicionalmente no País, por pequenos e médios
produtores. Esse fato caracteriza sua produção como uma importante alternativa agrícola para o
semi-árido brasileiro, por sua resistência à seca e seu manejo.
É uma planta de porte arbustivo. Os frutos, em geral, possuem espinhos. As sementes podem
variar de tamanho, formato e, principalmente de coloração. Destas, extrai-se o óleo de mamona
ou rícino, que contém 90% de ácido ricinoléico, o que representa uma fonte praticamente pura
deste ácido graxo. Esse componente caracteriza o óleo de mamona como uma grande
oportunidade de aplicações industriais.
A aplicação do óleo está em diversos segmentos da indústria química tais como cosméticos,
lubrificantes para motores de alta rotação, carburantes de motores a diesel e como fluído
hidráulico em aeronaves (ABOISSA, 2005). Por ser uma planta que se adapta as condições
nordestinas, é a principal cultura na produção de biodiesel, não somente pelo desempenho,
utilização, produtividade, mas pelo seu papel social, uma vez que os custos com insumos são
relativamente baixos, podendo ser cultivada pela agricultura familiar.
A produção da mamoeira ocorre em quase todas as zonas subtropicais e tropicais do mundo, sem
dependência de propriedades físico-químicas do solo específicas. Em termos de Brasil, encontra-
se a produção da mamona consorciada com o cultivo de feijão e milho (figura 5.05), utilizando-
Na figura 5.05 pode ser visualizado o ciclo de vida da mamona em consórcio com outra cultura,
o feijão. O plantio deve ser iniciado no período chuvoso que varia de região para região. Em até
60 dias, deve-se proceder ao plantio, tendo a colheita do primeiro cacho de 4 a 6 meses,
posteriormente ao plantio. A produção contínua persiste por cerca de 100 dias. Ao final desse
processo erradica-se a planta e inicia-se um novo ciclo.
Em termos nacionais a maior produção desta oleaginosa concentra-se nos Estados da Bahia, do
Mato Grosso e Ceará. Nesses termos de produção nacional, a área plantada no Estado da Bahia
foi de 150 mil hectares (83% de total da área com mamona no país), distribuída, basicamente, em
quatro microrregiões: Irecê (109.354 ha. – 62,4%), Jacobina (17.730 ha. – 10%), Senhor do
Bonfim (7.090 ha. – 4%) e Seabra (5.620 – 3%) (tabela 5.09).
Ceará 5%
Total em relação à produção brasileira 94%
Fonte: IBGE, 2005
Ao tratar da produtividade média observa-se que a região nordeste, mesmo sendo a maior
produtora é a que possui o menor rendimento de produção por área plantada, cerca de 31kg/ha a
menos que a média brasileira de 2004. Isso se deve, pois é uma cultura tradicional da agricultura
familiar nessa região, que possui baixa tecnologia de produção. O melhor rendimento médio é
encontrado na região Sul, com 1,071 kg/ha a mais que o rendimento no nordeste (tabela 5.11),
que pode ser explicado pelo acesso a assistência técnica, em termos comparativos com a região
Nordeste.
No Brasil, as áreas destinadas ao cultivo da mamona têm crescido, sendo também explorada no
Cerrado das Regiões Nordeste e Centro-Oeste, visando, principalmente à produção do biodiesel
(BELTRÃO et al., 2002).
Segundo dados da FAO (2005) existe um déficit na produção de óleo de mamona, o que tem
obrigado o país a importar o produto. O alto valor do óleo de mamona no mercado é um entrave
para sua aplicação no biodiesel*.
5.3.3 - Palma
*Os entraves com a agricultura familiar residem na dificuldade em se obter processos industriais que suportam ou
atendam o estilo de cultivo praticado por este grupo econômico.
5.18 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel
A palmeira do dendê é um cultivo perene que inicia sua produção de frutos a partir de 3 anos,
após a semeadura. Tem vida econômica entre 20 a 30 anos mantendo sua produtividade alta até
meados do décimo sétimo ano, podendo cada ano render até 5 toneladas de óleo por hectare, 10 a
12 cachos de frutos, com peso entre 20 a 30 kg e cada cacho produzindo de 1000 a 3000 frutos**.
Para o cultivo da palma as condições climáticas devem caracterizar-se como um clima tropical,
com períodos definidos de chuva.
Comparando a produção do óleo de dendê com a produção de soja e amendoim, observa-se uma
significativa diferença em termos produtivos, pois a primeira apresenta valores muito mais
elevados do que as duas outras culturas citadas. (tabela 5.13)
Grande parte dos plantios de palma está localizado nos Estados do Pará e da Bahia. Ao todo, o
Brasil possui cerca de 86 mil hectares ocupados com o cultivo da palma (dendezeiro). Na Bahia,
a área cultivada (cerca de 40 mil hectares) localiza-se, principalmente, na região costeira do
Estado, composta pelas microrregiões de Valença - com 33.025 mil hectares, Santo Antônio de
Jesus com 5.410 mil hectares, Ilhéus-Itabuna com 2.681 mil hectares e Porto Seguro com 350
hectares. Em relação ao nível de produtividade da Bahia, observa-se que é baixo devido à idade
dos dendezais (acima de 20 anos) e a tecnologia empregada no manejo (EMBRAPA, 2005).
O Pará possui um bom nível de produtividade, alcançado através do uso de tecnologias mais
modernas no processo produtivo. Tem expandido sua área de cultivo e alcançado produtividade
acima de seis toneladas por hectare. Essa alta produtividade rendeu ao estado a instalação de
uma planta de produção de biodiesel em março de 2005 da Agropalma
No que tange aos aspectos de área plantada no Brasil, percebe-se, segundo dados do IBGE, que o
cultivo da palma se desenvolve nos Estados do Norte e Nordeste do País (tabela 5.14).
A região norte produz 81% do total da produção brasileira, enquanto que a região nordeste
contribui com 19% da produção. Em termos de área plantada a diferença entre as duas regiões é
de cerca de 4.000 ha.
Tabela 5.14 - Relação Entre a Área Plantada e Valores de Produção da Palma (Dendê)
QUANTIDADE VALOR DA PRODUÇÃO
ÁREA PLANTADA (ha)
REGIÃO PRODUZIDA (t) (mil R$)
1996 2004 1996 2004 1996 2004
Norte 42.830 45.969 613.628 738.241 73.214 56.489
Nordeste 30.099 41.584 126.634 171.044 10.034 28.348
Sudeste - - - - - -
Sul - - - - - -
Centro-Oeste - - - - - -
Brasil 72.929 87.553 740.262 909.285 83.248 84.838
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Norte 16,061
Nordeste 4,113
Sudeste -
Sul -
Centro-Oeste -
Brasil 10,386
Fonte: IBGE, 2004 adaptado por STCP
O diagrama da figura 5.06 mostra, de forma simplificada, como se produz o óleo de palma.
Segundo dados da BiodieselBR, os frutos que são colhidos em campo são transportados para a
fábrica, onde após a pesagem, são transferidos para o esterilizador. Após são cozidos a uma
temperatura média de 135ºC sob pressão de 2 a 3 kg/cm², por aproximadamente uma hora.
Depois de esterilizados e cozidos os frutos passam pelo debulhador, onde ocorre a separação dos
cachos e frutos.
Através de uma prensa mecânica, é extraído o óleo do mesocarpo (parte intermediária do fruto)
carnoso do fruto. Em seguida, o óleo cru obtido na prensagem, é transferido para o desaerador. É
nesse momento que as partículas pesadas são separadas e removidas. Segue-se então para a
clarificação e purificação para a remoção de umidade, sujeira e outras impurezas.
• O óleo bruto é colocado num tanque de decantação através de bomba centrífuga. Neste
tanque ocorre a separação do óleo e da borra.
Desse processo, a torta resultante é processada e em seguida ocorre a secagem da fibra. A fibra
seca pode ser utilizada como combustível na caldeira a vapor.
No final do processo, o que sobra são as amêndoas com as cascas. As amêndoas são separadas
das cascas no moinho quebrador. As cascas são destinadas para combustível ou matéria-prima
para carvão ativado. As amêndoas são armazenadas para posterior beneficiamento.
5.3.4 - Babaçu
Segundo dados do Brasil (2005), suas sementes possuem de 65% a 68% de um óleo similar ao
óleo de dendê, tendo uma produtividade de 4 a 8 quilogramas de óleo por ano por palmeira. A
mesma fonte indica uma ocupação na base de 17 milhões de hectares de babaçuais no Brasil.
Destaca que a área onde ocorre a concentração de palmeiras exploráveis é de 100 mil ha,
localizados às margens dos rios do Piauí, Maranhão e Ceará.
5.3.5 - Girassol
O girassol (Helianthus annuus) é uma dicotiledônea anual que tem sua origem no Norte do
Continente Americano. Tem como principal característica para cultivo a resistência apresentada à
seca, ao frio e ao calor, adaptando-se a diferentes condições edáficas e a diferentes períodos de
insolação.
Em termos de área plantada de 2000 a 2002, a região Centro-Oeste foi a maior em quantidade de
hectares plantados, 84% do total nacional. Seguida da região Sul e por fim da Sudeste. O Estado
com maior destaque é Goiás (tabela 5.18).
A produção do girassol restringe-se as três regiões citadas na tabela 5.19, sendo que Goiás possui
uma produção de 42,8 mil toneladas, correspondente a 64% do cultivo (tabela 5.19). Junto a esse
Estado, aparece o Mato Grosso do Sul cuja área plantada e a produção mostram significativo
aumento.
Normalmente, o girassol não é a principal cultura de uma propriedade agrícola, sendo cultivado
após a cultura da soja (safrinha), o que a torna uma cultura de alto risco de investimento na
região Centro-Oeste (escassez de chuvas no período de granação).
O emprego do óleo de girassol na indústria alimentícia, o fato desta cultura requerer alto aporte
tecnológico (alto investimento) e a cerosidade que seus grãos apresentam (é necessário um pré-
refino do óleo bruto para o processo de produção de biodiesel), são os entraves que dificultam a
inclusão do girassol na cadeia do biodiesel.
O girassol é uma cultura que se adapta bem a diversos ambientes, podendo tolerar temperaturas
baixas e períodos de estresse hídrico.A germinação é inibida com temperaturas do solo inferiores
a 4ºC, mostrando-se satisfatória com valores superiores a 8 a 10ºC. Temperaturas baixas durante
a germinação retardam a emergência e induzem a formação de plântulas pequenas.
Com relação à reação da planta ao fotoperíodo, o girassol é classificado como espécie insensível.
Entretanto, algumas variedades comportam-se como plantas de dia curto e outras como de dia
longo.
5.3.6 - Amendoim
O amendoim (Arachis hypogea) é uma espécie originária do Brasil, sendo que na literatura
consta sua utilização pelos indígenas. Atualmente, utiliza-se seu óleo na indústria alimentícia.
Sua composição é maior em óleo do que em proteína, sendo sua produção totalmente
mecanizável. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o
amendoim forrageiro dos cultivares BR-1 e BRS-151 L-7 apresentam resistência à seca e
adequação ao plantio no semi-árido, podendo render sem irrigação, 750 l/ha de óleo ou quase
2.100 l/ha quando da utilização do plantio irrigado.
Na tabela 5.20, constam os dados da produção brasileira de amendoim em 1996 e em 2004. Num
contexto geral, observa-se um crescimento em todas as regiões brasileiras, tanto em quantidade
produzida como em área plantada. Destaca-se a região Sudeste como a principal produtora,
detendo 76% da área plantada no País e 81% da quantidade produzida do amendoim em casca.
A região Nordeste apresenta-se em segundo lugar com 7% da produção e 10% da área total
plantada. Nota-se uma menor produtividade em comparação a região Sudeste.
De toda a participação do Sudeste, o Estado de São Paulo aparece como principal produtor com
uma área plantada de 73.070 ha e 178.100 toneladas de amendoim em casca. Sua
representatividade é de 93% da produção da Região e 75% da nacional. Nesse estado o plantio
de amendoim é feito, principalmente, nas áreas de reforma da cana-de-açúcar, devido à baixa
necessidade de investimento em insumos que essa cultura necessita, ao retorno em produtividade
e ao mesmo tempo de qualidade ao solo que a mesma proporciona.
Os Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Paraná têm climas propícios à cultura, já que
possuem calor e umidade suficientes. Para um bom rendimento e boa qualidade o amendoim
requer, durante o seu desenvolvimento, temperatura constante, um pouco elevada, e suprimento
uniforme de água, principalmente no período de frutificação. Na época da colheita e da secagem
é necessário que o tempo esteja seco para evitar a germinação das sementes.
Além do clima, o solo constitui um fator importante para esta cultura. O amendoim pode ser
cultivado com êxito em quase todos os tipos do solo, desde que férteis. Todavia, o mais
apropriado é o leve (maiores teores de areia), de boa fertilidade, bem drenado, que não encharca
com as chuvas. Em terras desse tipo, o ginóforo (ou esporão), que nada mais é do que o
prolongamento do ovário da planta com o fruto, penetra facilmente chão e as vagens se
desenvolvem normalmente.
A adubação orgânica é sempre importante, quer seja pela incorporação dos restos de culturas,
quer seja pelo plantio e incorporação de adubos verde, ou simplesmente pela incorporação de
palhas, cascas, estercos e tortas.
Nas práticas culturais é necessário, para evitar a concorrência das ervas daninhas e melhorar as
propriedades físicas do solo, o uso de cultivador de enxadinhas, tipo planet, entre linhas. As
plantas daninhas podem também ser controladas através do uso de herbicidas.
A colheita do amendoim, graças às máquinas modernas existentes no mercado, pode ser feita
mecanicamente. O implemento é adaptado em trator e realiza, com total eficiência, em duas
linhas, as operações de cortar, arrancar, sacudir, limpar e enfileirar. Possui todos os dispositivos
de ajuste para os diferentes espaçamentos e condições de solo e lavoura. Esta escavadeira-
colhedeira levanta o amendoim do chão com todo o cuidado, elimina a terra, deposita a colheita
em fileiras regulares, sem perda nem acúmulo.
A secagem ou cura do amendoim, qualquer que seja o processo, é uma operação da maior
importância. Quando arrancada, as vagens de amendoim contêm entre 35 a 40% de umidade que
necessita ser reduzida a 10% ou menos, antes de serem armazenadas com segurança. Nas zonas
produtoras, devido ao processo de colheita adotado, tolera-se um teor de umidade de 13% e até
mais, em anos de pequena produção ou grande procura das fabricas de óleo, o que, entretanto, é
contra-indicado.
O amendoim se conserva por vários meses sem perda do poder germinativo ou de suas
qualidades para óleos, quando convenientemente armazenado. Os armazéns devem ser bem
secos e ventilados com as vagens ensacadas ou a granel, com tratamento de fumigante
apropriados. O teor de umidade das vagens não deve ser superior a 10%.
5.3.7 - Algodão
Segundo dados da ABOISSA (2005), o algodão (Gossypium hirsutum) é uma planta fibrosa,
oleaginosa e protéica. Após a separação da fibra, o óleo é o principal produto. Do algodão pode-
se obter vários subprodutos como a farinha integral, o óleo bruto, a torta e o farelo.
O estado do Mato Grosso é o que mais produz. Cerca de 74% da produção do Centro-Oeste, o
que correspondente a 50% da nacional.
Segundo o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR (2006), o teor de óleo do algodão é de 18%.
A capacidade da cultura é cerca de 30kg/ha de óleo. Porém, um dos entraves na utilização do
óleo de algodão é o gossipol. O gossipol é um pigmento natural presente no farelo de algodão e
no óleo, que pode ser classificado tanto como um fator tóxico, como um fator anti-nutricional. O
óleo obtido das sementes de algodão é de coloração escura, provocada por pigmentos que
acompanham o gossipol no interior das glândulas distribuídas nos cotilédones e hipocótilo da
planta. A presença desses compostos leva à necessidade de se proceder ao refinamento do óleo
para eliminação através do calor, uma vez que os mesmos são termolábeis e durante o refino são
destruídos, o que eleva o custo de industrialização do biodiesel.
5.26 2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel
Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma
grande oportunidade de negócios. A segunda metade da década de 90 significou um marco na
migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras para o cerrado
brasileiro. Hoje esta região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o Estado
de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado
tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem
mecanização total da lavoura, programas de incentivo à cultura implementada pelos Estados da
região e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologias modernas. Este último aspecto tem feito com
que o cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e
no mundo, em áreas não irrigadas.
A partir de 1997/98, para efeito de crédito e seguro agrícola, foi introduzido o zoneamento
agrícola, o qual é baseado na definição das regiões e épocas de semeadura com menor risco de
perdas por adversidades climáticas.
Por se tratar de uma planta oleaginosa, o algodoeiro herbáceo, afirma-se, teoricamente, como
exigente, no que se refere ao solo, preferindo aqueles de textura média, profundos, ricos em
matéria orgânica, permeáveis, bem drenados e de boa fertilidade. No entanto, trata-se de uma
cultura de larga adaptação, no que se refere às condições edáficas, podendo ser cultivada em
diversos tipos de solo de características físicas adversas e menos férteis, desde que sejam
efetuadas as devidas correções, de forma que passem a apresentar características suficientes para
atender às necessidades básicas ao seu pleno desenvolvimento por outro lado, solos rasos,
excessivamente arenosos e/ou pedregosos, demasiadamente argilosos e/ou siltosos e de baixa
permeabilidade, devem ser evitados por suas características de difícil correção. Áreas sujeitas a
encharcamento também são desfavoráveis ao cultivo do algodoeiro por não suportarem baixa
oxigenação no ambiente radicular.
O manejo do solo pode ser convencional, preparo mínimo, sistema plantio direto ou semidireto.
O produtor deve adquirir sementes de qualidade, para que o seu plantio resulte na reprodução das
características especificadas pela descrição da cultivar, com o máximo de uniformidade. O
controle de qualidade das sementes é regulamentado pelo Governo Federal em legislação
específica que trata do comércio e fiscalização de sementes e mudas.
O beneficiamento do algodão é feito nas Algodoeiras, é a etapa prévia para a sua industrialização
e consiste na separação da fibra das sementes por processos mecânicos, com mínima depreciação
das qualidades intrínsecas da fibra e a obtenção de um bom tipo de algodão, de maneira a atender
às exigências da indústria têxtil e de fiação.
Saturnino et al. (2005) reuniu em publicação informações técnicas sobre a cultura do pinhão-
manso. Segundo os autores, a EPAMIG foi pioneira nas pesquisas agronômicas com esta espécie
no Brasil, tendo entre 1982 e 1985, desenvolvido uma série de trabalhos, em diversas regiões do
Estado de Minas Gerais, que foram interrompidas em 1985 e retomadas em 2004. As primeiras
pesquisas com o pinhão manso (Jatropha curcas L.) foram patrocinadas pela financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP) do Banco do Brasil. Atualmente, as pesquisas inserem-se dentro do
Programa de Geração de Tecnologia para Culturas Oleaginosas Perenes na Região Semi-Árida
no Estado de Minas Gerais, financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
A espécie tem sido utilizada em outros países (como Egito, Índia, Tailândia e países da África)
em projetos de cunho sócio/humanitário/ambiental, uma vez que seu óleo substitui a lenha e o
carvão vegetal utilizado pelas populações carentes em seu ambiente doméstico. Essa providência
diminuiu a taxa de desmatamento, o número de casos de doenças pulmonares (o óleo de pinhão
manso queima sem emitir fumaça), a valorização do trabalho feminino na agricultura familiar
(através da geração de emprego e renda para as mulheres, o aumento de renda pela fabricação de
sabão) e permitiu a geração de energia nas comunidades.
Drummond et al. (1984 apud SATURNINO et al., 2005) relata que, sob as condições de Minas
Gerais, a florada do pinhão manso aparece após o período da seca e os frutos podem ser colhidos
de fevereiro a abril. Porém, segundo Saturnino et al. (2005), o período de frutificação se estendeu
até o mês de junho/julho em 2.004 devido ao período chuvoso ter se prolongado.
Conforme Brasil (1985 apud SATURNINO et al, 2005), não obstante a sua tolerância à seca, a
produtividade do pinhão manso é bastante afetada pela distribuição irregular de chuvas e também
pela ação prolongada de ventos na época da floração.
A planta do pinhão manso pode ser propagada via estaquia, enxertia, sementes e
micropropagação (em pesquisa).
A propagação via sementes apresenta muitos inconvenientes tais como a falta de padrões de
produção e comercialização no Brasil, uniformidade de germinação e a produção de frutos a
partir do quarto ano de plantio. O Processo de enxertia é realizado da mesma forma quem em
outras plantas, oferecendo rápido desenvolvimento em relação às plantas não-enxertadas. Esse
tipo de muda encontra-se disponível no comércio indiano (SATURNINO et al., 2005).
O processo de estaquia tem sido uma das maneiras mais comuns de multiplicação vegetativa do
pinhão manso, devido à facilidade de enraizamento e a abundância de ramos que essa espécie
2006 © STCP Engenharia de Projetos Ltda 5.29
5 – Caracterização de Diferentes Oleaginosas para a Produção de Biodiesel
apresenta. A desvantagem desse processo é o desenvolvimento da raiz pivotante que não ocorre
(o sistema radial é mais superficial), o que limita a capacidade da espécie de tolerar a secas
(HELLER, 1996, apud SATURNINO et al., 2005). Resultados coletados na estação experimental
EPAMIG-FEGR, do Norte de Minas Gerais, mostraram que a colheita de frutos pode ocorrer
após sete meses do plantio via estaquia.
• a espécie exige boa fertilidade e um nível de umidade satisfatório do solo para ter alta
produção de sementes;
De acordo com o Projeto, recomenda-se plantar pinhão manso em solos nutricionalmente pobres
desde que se façam covas profundas (75 cm) e que as adubem com pelo menos 10 litros de
esterco colocado no fundo. Isto estimula um rápido desenvolvimento da raiz pivotante,
garantindo melhor absorção de água e a formação de raízes secundárias em profundidade. Tais
fatores são fundamentais para que a planta explore melhor a fertilidade do solo e se adapte a
estresses, como o de seca. Já se observou associação de micorrizas com o pinhão manso, o que
representa importante estratégia para disponibilizar o macronutriente fósforo à planta.
Peixoto (1973 apud SATURNINO et al., 2005) recomenda que, após o pegamento das mudas, se
faça a adubação com 100 gramas de nitrocálcio ou outra fonte com igual equivalência de
nitrogênio, 400 gramas de fosforita (ou fosfato de araxá, ou farinha de ossos), 50 gramas de
cloreto ou sulfato de potássio, incorporando-se a mistura na camada superficial de 5 a 10 cm da
cova. Contudo, se faz necessário a aplicação das mesmas fontes e quantidades de adubos após
seis meses, pois a demanda metabólica na fase inicial de desenvolvimento da planta é pequena.
A quantidade de adubos químicos e orgânicos deve ser calculada de acordo com a idade desta,
porém, na carência da interpretação e recomendação de adubação, pode-se aplicar anualmente,
para cada pé de pinhão manso, as seguintes quantidades de fertilizantes: 20 litros de esterco, 120
gramas de nitrocálcio, 100 gramas de cloreto ou sulfato de potássio, 200 gramas de farinha de
ossos ou fosforita.
O pinhão manso pode ser cultivado em diversos sistemas: plantação convencional, em quadras,
solteiro ou consorciado, em cercas vivas ou em renques de contenção de encostas. A escolha do
sistema vai depender das condições locais e dos objetivos do agricultor. Para se fazer uso do
sistema de irrigação, deve-se considerar que o crescimento da planta está associado com o
volume de água contida no solo, ou da freqüência adequada de irrigação das plantas. Nos
estádios iniciais, a planta de pinhão manso é sensível a excesso de umidade, portanto a irrigação
deve ser promovida conforme a necessidade (SATURNINO et al., 2005).
Tabela 5.22 – Efeito da Época de Plantio sobre a Produção Média de Sementes de Pinhão
Manso
Outubro 660
Junho 397
Agosto 351
Novembro 313
Janeiro 87
Março 74
Setembro 64
Fevereiro 47
Abril 44
Julho 29
Maio 2