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Dissertação - Marcos Jerônimo Dias Júnior - 2016
Dissertação - Marcos Jerônimo Dias Júnior - 2016
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
GOIÂNIA
2016
MARCOS JERÔNIMO DIAS JÚNIOR
GOIÂNIA
2016
Ficha catalográfica elaborada automaticamente
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a), sob orientação do Sibi/UFG.
Ao Núcleo de Estudos Marxista desta Faculdade, a todos os membros e amigos (as) pela
contribuição inquestionável à minha formação acadêmica pelas enriquecedoras
discussões teóricas tão necessárias para a elaboração deste estudo.
Aos professores (as) Ivone Garcia, Nancy, Régis e Ged que propiciaram momentos
únicos em suas disciplinas e contribuíram muito no meu processo de formação e
desenvolvimento. Em especial pelos ensinamentos que instigaram e fomentaram minhas
reflexões, utopias e pensamentos contestador e crítico a respeito da Educação escolar
articulado a totalidade social.
Aos meus queridos amigos (as) Glauber, Paulo, Sherry, Renata e Jane que me
incentivaram e sempre estiveram por perto dispostos a me ajudar, ouvindo minhas
angústias e dividindo momentos alegres, permanecendo sempre presentes na partilha de
minhas dificuldades. A todos os meus colegas da 27º turma de Mestrado do Programa
de Pós-Graduação da Faculdade de Educação que, durante o mestrado, dividiram
comigo as dificuldades e os prazeres da vida acadêmica, em especial as amigas do
NEPIEC e aos meus companheiros Rômulo e Wanderson.
A minha honra e afeto aos professores Régis e Marcelo Húngaro e a professora Ivone
que tanto admiro e tão gentilmente aceitaram o meu convite de contribuir em minha
formação ao participarem de minha banca de qualificação e defesa. À Capes, pela bolsa
de estudo concedida durante parte da construção deste trabalho.
RESUMO
DIAS JÚNIOR, Marcos Jerônimo. Ontology, ideology, curriculum and subliminal violence:
relations and contradictions in physical education. 240f. Dissertation (Program of Post Graduate
Studies in Education) – Education Faculty, Federal University of Goiás, Goiânia, 2016.
The class struggle and the contradiction between capital and labor in the current historical
moment will constitute the relationship between work, education and school education,
reverberating in the field of curriculum and teaching constituting ideological mechanisms and
subliminal violence elements. In this context, this study aimed to understand the relationships
and contradictions forms between ontology, ideology, curriculum and subliminal violence in
Physical Education. Based on dialectical historical materialism, we propose an investigative
process that has as its core the curriculum and its role in human development. We start from the
following questions: what ontological, ideological and subliminal violence elements are present
in the curriculum field and how these relations are manifested in Physical Education? This is a
survey that sought to grasp the totality and concreteness of the object from the bibliographic and
documentary analysis of the projects, programs and curriculum guidelines of the State of Goiás
Education Department, articulated to an empirical research, which in summary we analyze the
establishment and implementation of a fetish curriculum. We understand the need of opposition
to the fetish curriculum, the importance of teachers and teachers strive to build a unified plan of
human formation and education toward the ontological perspective of education.
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
INTRODUÇÃO
1
Esse núcleo de pesquisas e estudos estava vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal
de Goiás, era subdivido em duas linhas de estudos e pesquisa – linha marxismo e linha Frankfurtiana.
Tinha como temática sociedade, subjetividade e educação. Foi extinto em 2014, sendo criados, a partir
dele, dois novos núcleos, sendo um deles o Núcleo de Estudos Marxistas, do qual participamos.
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documental, realizamos um trabalho empírico para que fosse possível uma compreensão
verdadeiramente concreta do objeto de investigação.
O campo empírico do processo investigativo são cinco escolas da Regional de
Anápolis, que integra a Rede Estadual de Educação do estado de Goiás (composta por
38 regionais de educação). Os documentos utilizados para análise foram a reforma
educacional ‟Pacto da Educação”, sete ‟cadernos de reorientações curricular” e o
chamado “currículo referência” da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte
de Goiás (SEDUCE).
No trabalho empírico, foram escolhidas como campo específico cinco escolas da
regional da subsecretaria de Anápolis. As cinco escolas da regional Anápolis, por sua
vez, foram escolhidas pelas seguintes razões: maior número de alunos, diversidade de
regiões, ofertasse tanto ensino fundamental segunda fase como o ensino médio,
diferentes estruturas físicas, tivesse pelo menos um professor de educação física efetivo.
Todas as escolas utilizadas como campo de pesquisa têm como características gerais
uma média de 800 alunos, funcionam nos três turnos (matutino, vespertino, noturno),
possuem biblioteca ativa e o número de trabalhadores da educação, tanto administrativo
quanto professores (as), são em média 40% de contratos temporários.
A investigação empírica realizou-se por meio de entrevistas semiestruturadas
com dezenove sujeitos, dez professores (as), que trabalham com a disciplina educação
física, e nove coordenadores (as) pedagógicos. Sobre os procedimentos de análise dos
dados das entrevistas, pautamo-nos em cinco eixos categoriais: os dados de
identificação, atuação profissional, formação de professores, trabalho na escola e campo
do currículo. A análise das entrevistas foi realizada com base nos fundamentos teórico-
metodológicos da ontologia materialista histórica.
Sobre os dez professores (as), lotados com a disciplina educação física, na rede
estadual de educação do estado de Goiás, todos são vinculados a subsecretaria regional
de Anápolis, sendo cinco efetivos e cinco contratos temporários. No total, foram seis
professoras e quatro professores, com média de idade de 23 a 40 anos, sendo seis com
graduação em Universidades públicas e quatro em Faculdades particulares, todos do
estado de Goiás. Cinco realizaram a graduação em licenciatura plena, quatro em
bacharelado e licenciatura e uma professora possui o curso de pedagogia, sendo que três
possuem pós-graduação lato sensu — dois na área da saúde (fisiologia do exercício e
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instrumentos da práxis social que nos ajuda a construir novas objetivações para o
desenvolvimento do ser humano, da sociedade e o fortalecimento da nossa luta contra-
hegemônica aos ditames do sistema do capital.
No terceiro e último capítulo, pretendemos trazer a discussão da particularidade
de um componente curricular que, no atual momento histórico, apresenta-se de maneira
mais complexa, diante de outras áreas do conhecimento escolar, a especificidade da
educação física como componente do ‟currículo fetiche”. Com o objetivo de aprofundar
o entendimento da realidade complexa e contraditória orientado pela perspectiva
ontológica de educação.
Nas considerações finais tentaremos realizar uma síntese de todo trabalho, na
busca de contribuir em novas reflexões sobre o currículo escolar destacando a
importância de repensarmos a formação inicial e continuada de professores e apresentar
possibilidades para o aprofundamento e desenvolvimento de futuras pesquisas
enfatizando a temática do ensino.
19
CAPÍTULO I
ONTOLOGIA, EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA
2
Ao longo deste trabalho, iremos utilizar o termo desumanização com base em Marx e associado à
categoria ‟alienação” (MARX, 2010). O referente autor usa deste termo, ao longo de suas obras,
principalmente quando se refere às implicações da economia política, na qual representamos pela sua obra
final – O capital. Nessas análises sobre a economia política, há uma ‟unidade sistemática de conceitos”
que no contexto fundamentam uma ontologia materialista histórica do ser social capaz de indicar as
categorias mais universais da realidade e do ser humano e dar base para analisar questões epistemológicas
que implicam no processo de humanização e desumanização (COUTINHO, 2010). Portanto, no ‟reflexo
dialético do próprio real”, desumanização é uma categoria fruto das articulações entre as forças
produtivas e as relações de produção revelada no modo de produção capitalista constituída a partir do
distanciamento e digressão da dimensão ontológica do conceito de humanização presente no contexto das
análises de Marx sobre a economia política (LUKÁCS, 2013).
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3
Neste trabalho, o termo categoria é compreendido como uma forma de ser e determinação de existência,
produto da realidade concreta, apreendida como uma síntese de múltiplas determinações sociais e
históricas complexas entre a unidade e a diversidade, o singular e o universal, a particularidade e a
totalidade e a subjetividade e objetividade (MARX e ENGELS, 2007).
4
Segundo Saviani (2012a, p. 12), com base em Marx, trabalho não material “[...] trata-se aqui das
propriedades do mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). Produção de ideias,
conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção de saber,
seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana.
Obviamente, a educação situa-se nessa categoria do trabalho não material”.
5
Abordamos esse termo na perspectiva marxista, ao contrário da forma burguesa de acúmulo de dinheiro,
mas no sentido ontológico como apropriação das objetivações materiais e espirituais mais desenvolvidas
historicamente que possibilita o desenvolvimento do gênero e da individualidade humana.
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6
Referimo-nos a este termo desde uma perspectiva ontológica, como a caracterização real e concreta
necessária do ser enquanto ser social presente na dimensão do gênero humano para o desenvolvimento da
vida socioeconômica, na qual consideramos o trabalho o elemento preponderante da essência e existência
humana (LUKÁCS, 2013).
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8
De acordo com Lukács (2013) na compreensão da ontologia somente a gênese pode expor as formas
ontologicamente concretas, as tendências dos movimentos, as estruturas e dinâmica de uma determinada
espécie de ser em seu ser-propriamente-assim concreto e neste sentido avançar até as suas legalidades
específicas e ao seus tipos conceitualmente generalizados e fragmentados em sua essência.
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Isso podemos observar, em outra análise de Lukács (2013, p. 544), quando afirma
que ‟[...] o homem singular enquanto ser genérico só pode objetivar as suas paixões
como membro da sociedade à qual pertence”. Constamos ainda que o ser social é
concebido não em uma sociedade determinada e isolada, mas numa sociedade
construída historicamente pela coletividade. ‟O ser humano na medida em que é ser
humano e não somente um ser vivo puramente biológico, fato que jamais acontece na
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realidade, não pode ser, em última análise, separado de sua totalidade social concreta”
(LUKÁCS, 2012, p.346). Assim, podemos afirmar que, no processo de humanização, há
uma reciprocidade ontológica e dialética entre indivíduo e sociedade, pois não há
sociedade sem indivíduos e nem indivíduos sem sociedade.
Cabe ressaltar que pensar a formação humana é indispensável à análise da
estrutura e dinâmica do modo de produção da sociedade a partir da totalidade social,
pois depende das condições socioeconômicas e culturais construídas pelos próprios
seres humanos. Nas palavras de Marx (2011a, p. 25), ‟[...] os homens fazem a sua
própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles
quem escolhem as circunstâncias, sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram
transmitidas assim como se encontram”.
Nesse processo, o movimento histórico dos atos produzidos pelos seres humanos,
na prática social, é o critério inicial para o concreto e a verdade. ‟Ora, se examinarmos,
ontologicamente, tais atos, eles serão sempre atos concretos de um homem concreto
dentro de uma parte concreta de uma sociedade concreta” (LUKÁCS, 2013, p. 284).
Enfatizamos que tal constatação materialista é um dos pontos essenciais para a
compreensão do processo de humanização que envolve tanto o viver e o agir em
sociedade como também o pensar e o fazer críticos.
Por essas razões, reafirmamos que os elementos ontológicos da estrutura
constitutiva do ser humano estão diretamente relacionados às influências objetivas
advindas da realidade concreta, por sua vez, tais influências são socialmente
construídas.
Todavia, precisamente por causa dessa concretude, que nasce de uma
indissociável concomitância operativa entre o homem singular e as
circunstâncias sociais em que atua, todo ato singular alternativo contém em si
uma série de determinações sociais gerais que, depois da ação que delas
decorre, tem efeitos ulteriores, independentemente das intenções conscientes,
produzindo alternativas de estrutura análoga e fazendo surgir séries causais
cuja legalidade vai além das intenções contidas nas alternativas. Portanto, as
legalidades objetivas do ser social estão indissoluvelmente ligadas a atos
individuais de caráter alternativo, mas possuem ao mesmo tempo uma
estringência social que é independente de tais atos (LUKÁCS, 2012, p. 345).
Como nos diz Marx (2011, p. 43), ‟[...] toda produção é apropriação da natureza
pelo indivíduo no interior de e mediada por uma determinada forma de sociedade”. A
vida econômica produtiva é, portanto, um dos fundamentos ontológicos essenciais para
o processo de humanização, efetivada somente em sociedade. Na mesma perspectiva,
Lukács (2012) afirma ‟[...] a produção, enquanto momento predominante, é aqui
entendida no sentido mais amplo possível, no sentido ontológico, como produção e
reprodução da vida humana” (p. 336).
Essa produção e reprodução da vida social material e não material, que envolve a
subjetividade e a objetividade, atividades nas quais materializam a formação do gênero
e da individualidade humana no processo de humanização se estabelecem e se efetivam
a partir e por meio do elemento ontológico fundante e preponderante dos indivíduos
enquanto seres sociais, o trabalho. Dessa maneira, uma compreensão ontológica do ser
enquanto ser social necessita do desvelamento do sentido ontológico do trabalho.
Conforme Marx (2010, p. 84), ‟[...]a vida produtiva é, porém, a vida genérica. É a
vida engendradora de vida. No modo da atividade vital, encontra-se o caráter inteiro de
umas espécies, seu caráter genérico; e a atividade consciente livre é o caráter genérico
do homem”. A apropriação e objetivação pela mediação do trabalho são os princípios
ontológicos primordiais de todo o processo de humanização e do desenvolvimento
histórico das relações sociais que constituem a sociedade.
Conforme Marx (2010, p. 85), ‟[...] o objeto do trabalho é, portanto, a objetivação
da vida genérica do homem: quando o homem se duplica não apenas na consciência,
intelectual[mente], mas operativa, efetiva[mente], contemplando-se, por isso, a si
mesmo num criado mundo por ele”. Devemos aprofundar a análise ontológica sobre a
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9
Ressaltamos que nos baseamos na teoria do valor em Marx (2011, 2013). No limite do texto, não iremos
aprofundar tal análise, mas destacamos, neste momento, o ‟valor” como um importante elemento
ontológico.
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Assim, a sociedade é uma ação recíproca de autoprodução dos seres humanos pelo
trabalho. Segundo Duarte (2006), ‟[...] a dialética entre objetivação e apropriação
constitui a própria dinâmica do trabalho e, na perspectiva marxista, o trabalho é a
atividade fundamental com base na qual vai sendo constituída a realidade social” (p.
115). Onde existir relação socioeconômica em qualquer forma e tempo histórico haverá
trabalho, exteriorização, práxis, objetivação, apropriação, internalização e prévia
ideação — características ontológicas essenciais e específicas do gênero humano.
Portanto, o ser social, através do trabalho no interior da vida social produtiva, constrói
sua humanização, a socialidade, a vida real, a racionalidade e também o
desenvolvimento de valores, ética, os significados e símbolos que norteiam esta
sociedade.
Como podemos perceber, avançamos muito na compreensão da formação do
gênero e da individualidade e do processo de humanização quando nos fundamentamos
na concepção ontológica materialista histórica. ‟Essa função de generalização filosófica
não diminui a exatidão científica das análises teórico-econômicas e singulares, apenas
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10
Seres livres advêm da concepção de liberdade de Marx articulada ao trabalho e como produto da práxis
humana. De acordo com as circunstâncias reais, significa romper com os aprisionamentos históricos e a
possibilidade da apropriação do ser humano das suas propriedades e capacidades do gênero que possa
dominar a natureza e orientar teleologicamente suas atividades na prática social (DUARTE, 2013).
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educação adquire real significado, como objeto da reflexão ontológica, somente quando
analisada como um dos complexos que compõe o ser da sociedade”. Educação,
portanto, é uma categoria que compõe o ser em seu ‟ser-propriamente-assim concreto”
como fundamento essencial no ‟devir-a-ser” durante a construção da socialidade
humana, das relações materiais e culturais, do desenvolvimento do gênero e da
individualidade humana pelo processo de apropriações e objetivações.
11
A categoria ontológica do ‟ser universal” representa a possibilidade e capacidade material e ideal
produtiva de desenvolvimento das propriedades ontológicas do gênero constituída pelas apropriações e
objetivações socialmente construídas e da intencionalidade da práxis, num processo sócio-histórico que
distancia e recua as barreiras naturais, ampliam a condição humana de existência e cria novas atividades
conscientes (MARTINS, 2012a).
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[...] a educação do homem é direcionada para formar nele uma prontidão para
decisões alternativas de determinado feitio; ao dizer isso, não temos em
mente a educação no sentido mais estrito, conscientemente ativo, mas como a
totalidade de todas as influências exercidas sobre o novo homem em processo
de formação. […] o maior erro na avaliação de tais processos consiste no
hábito de considerar somente os impactos positivos como resultados da
educação (LUKÁCS, 2013, p. 295).
p. 57). Nesta dependência entre pôr teleológico e causalidade, a educação como práxis
social influencia no agir do ser social, no ato de buscar as alternativas para a construção
de possibilidades, decisões e escolhas na prática social.
No caso dos seres humanos, sua atividade vital, que é o trabalho, distingue-se
daquelas de outras espécies vivas por ser uma atividade consciente que se
objetiva em produtos que passam a ter funções definidas pela prática social.
Por meio do trabalho, o ser humano incorpora, de forma historicamente
universalizadora, a natureza ao campo dos fenômenos sociais. Nesse
processo, as necessidades humanas se ampliam, ultrapassando o nível das
necessidades de sobrevivência e surgindo necessidades propriamente sociais
(SAVIANI e DUARTE, 2012, p. 21).
12
Atualmente com as reestrurações produtivas e reformulações do mundo do trabalho, os indivíduos da
classe trabalhadora sofreram variadas denominações ampliando a análise sobre o proletariado que Marx
(2012) enfatiza ao tratar sobre a escola. No limite deste trabalho, não iremos entrar na discussão
específica sobre o mundo do trabalho e as formas da classe trabalhadora.
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função social da escola, da efetivação da práxis. Além disso, está provida de uma
dicotomização intensa entre ciência e filosofia, indivíduo e sociedade e uma dissociação
entre teoria e prática. Visa, na maioria das circunstâncias históricas, à preparação para a
reprodução de valores, competências e habilidades para o mercado.
Esse cenário propicia à maioria dos indivíduos a alienação, leva ao
conformismo, ao ajuste, à adaptação, à apatia e ao desinteresse sobre as formas de
apropriação de valores objetivos mais desenvolvidos e complexos do gênero humano no
sentido da humanização. E, o distanciamento de objetivações nucleares que possibilita o
desenvolvimento da individualidade dentro de um projeto de pores teleológicos de
emancipação sobre as formas burguesas do ‟ter”, ‟ser” e ‟estar”.
Como ressalta Mészáros (2008), a educação que temos hoje é organizada ‟[...]
da maneira mais tacanha, como a única forma certa e adequada de preservar os padrões
civilizados dos que são designados para educar e governar, contra a anarquia e a
subversão” (p. 49). Para nós, essa tendência civilizatória trata-se de um processo para e
a serviço do capital direcionada a uma formação excludente, mercantilizada, mecânica,
coisificada, alienante e com discursos românticos13 voltada à mera adaptação dos
sujeitos a uma realidade violenta legitimada pelos interesses burgueses.
Essa realidade nos possibilita uma apreensão crítica de elementos e mecanismos
contraditórios para irmos além da aparência e criarmos novas maneiras de objetivações
dentro da escola. Além disso, cria novas necessidades de identificar; compreender e
ampliar os elementos culturais nucleares que precisam ser assimilados; reorganizar os
objetivos e funções escolares; descobrir as formas adequadas de desenvolvimento do
trabalho pedagógico e reformular os princípios políticos de luta contra-hegemônica
(SAVIANI, 2012a).
Necessitamos, então, urgentemente, de uma atividade de
‟contrainternalização”, coerente e sustentada, que não se esgote na negação
— não importando quão necessário isso seja como uma fase nesse
empreendimento — e que defina seus objetivos fundamentais, como a
criação de uma alternativa abrangente concretamente sustentável ao que já
existe (MÉSZÁROS, 2008, p. 56).
13
Utilizamos o termo romântico com base em Gramsci (1991), quando traz, na discussão sobre a escola
unitária, as influências da década de 1930 de princípios que prejudicam a luta contra a escola mecânica e
jesuítica. Para nós, está diretamente relacionado aos princípios ideológicos da escola nova que fragmenta
a luta, distorce e inverte a função social da escola.
44
14
A individualidade para si coincide com o processo de humanização no sentido ontológico, tem como
fundamento uma vida plena de conteúdo da riqueza cultural produzida pela evolução das objetivações do
gênero humano, uma formação livre e universal (DUARTE, 2013).
45
educativo. De acordo com Saviani (2012a, p. 13), ‟[...] trabalho educativo é o ato que
produz, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens”. Propicia apropriações
que ampliam as atividades humanas e os conhecimentos sociais e naturais para a
produção e reprodução da vida socioeconômica.
A atividade humana, ao longo da história, vai constituindo as objetivações,
desde os objetos stricto sensu, bem como a linguagem e as relações
cotidianas entre os seres humanos, até as formas mais elevadas de
objetivação humana, como a arte, a ciência e a filosofia. Cada indivíduo tem
de se apropriar ao menos de um mínimo desses resultados da atividade social
para poder viver sua cotidianidade. São as circunstâncias concretas da vida de
cada um que determinarão quais objetivações do gênero humano deverão ser
necessariamente apropriadas pelo indivíduo para que ele assegure sua
sobrevivência (DUARTE, 2013, p. 38).
do mundo ou episódios” (p. 467).Ao emergir no ato do pôr teleológico como prévia
ideação, a ideologia implica em todas as práxis, tornando-se elemento da configuração e
materialização de determinada visão de mundo, composta por finalidades e objetivos
construídos pelos seres humanos a partir dos conflitos sociais.
Como categoria que institui as visões de mundo, a ideologia constitui a
consciência e a concepção dos indivíduos singulares sobre a totalidade social,
materializa-se nas ações na realidade concreta e nas reações às perguntas advindas da
prática social, bem como no processo de objetivações e apropriações, assim como tende
a se totalizar como força dominante na estrutura social produtiva.
A produção de ideias, de representações, da consciência, está, em princípio,
imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio
material dos homens, com a linguagem da vida real. O representar, o pensar,
o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem, aqui, como emanação
direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a produção
espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política, das leis, da
moral, da religião, da metafísica etc. de um povo. Os homens são produtores
de suas representações, de suas ideias e, assim por diante, mas os homens
reais, ativos, tal como são condicionados por um determinado
desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele
corresponde, até chegar às suas formações mais desenvolvidas. A consciência
não pode jamais ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é
o seu processo de vida real (MARX e ENGELS, 2007, p. 93-94).
15
Teorização é aqui compreendida a partir dos fundamentos do materialismo histórico dialético, ou seja, a
teoria não se dissocia da prática. “Toda prática necessita de uma teorização que se manifesta somente na
prática. O que significa que, no trabalho tomado em si mesmo, é a práxis que estabelece o critério
absoluto da teoria” (LUKÁCS, 2013, p. 94).
56
dominante: ‟[...]toda a relação dominante foi declarada como uma relação religiosa e
transformada em culto, culto ao direito, culto ao estado, etc. Por toda parte, girava-se
em torno de dogmas e da crença em dogmas. O mundo foi canonizado numa escala cada
vez maior” (p. 84).
Essas narrativas de base ideológica se expressam em uma visão unilateral como
um falseamento, não como sinônimo de mentira, dos verdadeiros interesses da
humanidade no sentido ontológico. ‟Porém, verdade ou falsidade, ainda não fazem de
um ponto de vista uma ideologia” (LUKÁCS,2013, p. 467). São falsas diante do
verdadeiro sentido ontológico da essência e desenvolvimento do ser enquanto ser social,
porém são reais, já que partem das contradições da realidade concreta. As reais
determinações estão escondidas de forma subliminar e escamoteadas por ações humanas
interessadas, estão postas de forma velada dentro da macroestrutura econômica, política
e cultural. Todavia, manifestam-se concretamente, com o intuito de garantir interesses
particulares, contribuindo, assim, na intensificação da alienação dos trabalhadores e na
perpetuação das relações de poder.
Dia após dia, torna-se assim claro que as relações de produção nas quais a
burguesia se move não têm um caráter uno, simples, mas um caráter dúplice;
que, nas mesmas relações em que se produz a riqueza, também se produz a
miséria; que, nas mesmas relações em que há desenvolvimento das forças
produtivas, há uma força produtora de repressão; que essas relações só
produzem a riqueza burguesa, ou seja: a riqueza da classe burguesa,
destruindo continuamente a riqueza dos membros integrantes dessa classe e
produzindo um proletariado sempre crescente (MARX, 2009, p. 139).
16
Lukács (2013) denomina a aparência de “[…] deformação fenomênica da essência” (p. 382).
59
17
Nos próximos itens deste capítulo, iremos retomar e aprofundar a discussão da categoria trabalho
alienado e alienação.
60
Ainda segundo Lukács (2013), ‟[...] nesse ponto, faz-se necessária uma gênese
ontológica-social, executada de modo objetivamente científico, para que se possa
detectar, por trás das formas fenomênicas, a essência autêntica” (p. 383). É preciso
revelar, com a ajuda do conhecimento científico e filosófico, as formas fenomênicas que
impedem a leitura do processo dialético sobre a totalidade social e que impedem
também a construção de uma práxis emancipatória, que para nós é o desenvolvimento
de novas formas de realizar a formação humana no sentido ontológico. Desmascarar os
elementos e mecanismos da ideologia do capital é uma necessidade para o pleno
desenvolvimento do gênero humano e da individualidade do ser social.
Portanto, se os representantes teóricos dos proletários quiserem conseguir
alguma coisa com a sua atividade literária, deverão insistir, sobretudo, em
que sejam eliminadas todas as fraseologias que enfraquecem a consciência do
acirramento dessa oposição, todas as fraseologias que mascaram essa
oposição e até oferecem aos burgueses o ensejo de, por segurança,
aproximar-se dos comunistas por força de seus devaneios filantrópicos
(MARX e ENGELS, 2007, p. 452).
Compreende-se, a partir do que foi exposto até aqui, a dinâmica das relações
entre a vida produtiva, a atividade educativa e os elementos e mecanismos ideológicos
que implicam na formação humana. Segundo Marx (2013), ‟[...] de fato, a legenda do
pecado original teológico nos conta como o homem foi condenado a comer seu pão com
o suor de seu rosto; mas é a história do pecado original econômico que nos revela como
pode haver gente que não tem nenhuma necessidade disso”. Para compreendermos
melhor a conjuntura complexa e contraditória da ideologia do capital e as implicações
na educação escolar, é necessário analisar a constituição e o desenvolvimento dos
principais elementos e mecanismos que constituem esta ideologia.
Para que seja possível compreender todo esse movimento em sua essência e
captar as condições, objetivos e componentes econômicos, históricos, culturais e
políticos que constituem a ideologia dominante da sociedade contemporânea, é preciso,
portanto, identificar e analisar a constituição dos pré-juízos que sustentam os elementos
e mecanismos ideológicos do capital na atualidade e que explicam, justificam e
legitimam, aparentemente, a atual realidade violenta e desumana em que vivemos.
O desvelamento e a compreensão das contradições são os primeiros movimentos
necessários para a construção de novos caminhos emancipatórios, tanto para as
atividades educativas quanto para a sociedade de maneira geral.
18
Classe social é uma categoria essencial na teoria marxiana, na qual abordamos como uma característica
da sociedade capitalista constituída por duas classes fundamentais a burguesia e a classe trabalhadora-
proletariado com interesses antagônicos. Está relacionada à estrutura socioeconômica, papel político e aos
conflitos sociais. (BOTTOMORE, 2012).
64
um conceito bem mais amplo, que abrange a liberdade do indivíduo, não só na área
econômica, mas também na área política e social” (p. 9). Tanto para as elites feudais
quanto para a burguesia em ascensão e, mesmo para a cada vez maior classe proletária,
a ideologia liberal representava na aparência os melhores princípios para todos que
poderiam servir de base estruturante à nova organização societal, o capitalismo.
Na gênese do pensamento moderno burguês, a razão se torna o principal
instrumento de poder ao transformar a natureza, o próprio homem e realizar a apreensão
objetiva da totalidade social. O racionalismo, que visa o domínio das forças da natureza
pela ciência, por meio da razão, o homem supostamente passa a ter a possibilidade de
controlar não só toda a natureza, mas os outros homens.
Tais ideias, fundamentadas no princípio geral ‟liberdade e igualdade”, originam-
se das contradições daquele contexto social e histórico dentre as quais destacamos a
ascensão da burguesia. O conjunto de ideias que constituem o liberalismo é composto
de elementos e mecanismos ideológicos que justificavam e legitimavam a necessidade
de abertura das relações sociais, econômicas, culturais e políticas. Um dos principais
representantes dessa ‟nova ideologia” foi John Locke, um dos maiores intelectuais do
liberalismo, defensor da ideia da propriedade natural dentro dos princípios do
liberalismo democrático e crítico das ideias metafísicas e do inatismo, defendidas por
instituições religiosas e pela monarquia, que representavam os centros das decisões
econômicas e políticas da época.
Segundo Mészáros (2008, p. 42), os princípios ideológicos propostos por Locke
se manifestam ainda no atual momento histórico: ‟[...] no final tudo se reduzia a
relações de poder nuas e cruas, impostas com extrema brutalidade e violência nos
primórdios do desenvolvimento capitalista”. Esta ‟nova ideologia” denominada de
maneira geral como liberalismo colocava como proposição primordial a negação do
controle hegemônico absolutista das monarquias e da igreja e propagava a necessidade
do domínio total da natureza e da vida material produtiva por todos os seres humanos.
Conforme Chaves (2007), o liberalismo é uma liberdade para o indivíduo ter o
direito a ‟[...] não ser coagido, não obrigado a fazer, nem impedido a fazer a terceiros.
Ser livre, portanto, não deve ser confundido com ‘ter condições materiais de fazer’, ‘ter
recursos para fazer’, ‘ter poder de fazer’, ‘ter capacidade de fazer’ alguma coisa” (p.
11). Aparentemente, tal proposição ideológica possui elementos e mecanismos que se
apresentam como algo essencial ao desenvolvimento dos seres humanos e da sociedade.
66
Mas, em sua essência, visa à manutenção da ordem capitalista, dos interesses burgueses
que impedem o desenvolvimento pleno de toda a sociedade e, consequentemente, a
formação dos seres humanos no sentido ontológico.
No sentido de defesa do liberalismo, Locke (1983a, p. 45) afirmava que “[...]
seja que consideremos a razão natural, que nos diz terem os homens, uma vez nascidos,
têm direito à própria preservação, e, consequentemente, à comida e à bebida e a tudo
quanto a natureza lhes fornece para a subsistência”. Tal projeto ideológico legitimava a
necessidade da constituição de um indivíduo livre e igual perante a natureza e a lei.
A filosofia liberal sustenta-se no princípio fundamental de que quando o
indivíduo, ao se associar com outros indivíduos, passa a viver em sociedade,
a liberdade torna-se o seu bem supremo e, enquanto tal, tem preponderância
sobre qualquer outro bem que possa ser imaginado. [...] a liberdade é
essencial para e por nos preservar um espaço privado, inviolável, que não
possa ser transgredido pelos nossos semelhantes. Para o liberalismo, é
imperativo, na nossa vida em sociedade, buscar a maior liberdade possível
para cada indivíduo que seja compatível com igual liberdade para todos
(CHAVES, 2007, p.7-8).
início a um tempo marcado por novas concepções e uma visão de mundo que,
rapidamente, torna-se hegemônica. Essa elaboração ideal propagada e defendida pela
burguesia, classe precursora destes elementos e mecanismos ideológicos, foi sendo
apropriada pelos seres humanos, ao longo do processo histórico, como sendo a essência
e a existência da superação do atraso social da idade média.
A constituição do liberalismo, paralelamente, construiu ideologicamente o
indivíduo e legitimou, em seu nome, as reivindicações burguesas, alardeando
as conquistas viabilizadas na luta como conquistas dessa entidade ideológica.
As barreiras feudais que tolhiam o comércio foram vistas como a negação do
direito de o indivíduo realizar, livremente, as trocas. As normas das
corporações foram denunciadas como instrumentos que tolhiam a liberdade
do indivíduo de produzir livremente (ALVES, 2007, p. 79).
O proprietário não deveria mais ser o rei ou o senhor feudal, mas o próprio
indivíduo, pois sua riqueza está em seu corpo, que é a própria propriedade do ser.
Portanto, a propriedade natural do ser humano, associada ao direito à liberdade e à
igualdade já garantida pela lei da natureza, começa a ter importância primordial no
processo de legitimação da constituição dos princípios liberais burgueses. A liberdade
deveria organizar e regular as ações em sociedade e que qualquer indivíduo pode
realizar o que achar importante sem precisar da vontade de outra pessoa.
Sob este prisma, o indivíduo seria posto na sociedade com a capacidade e
liberdade de transformar a natureza em propriedade em si, através da técnica e da
ciência, por meio da empregabilidade de sua propriedade natural, ou seja, o trabalho,
com base na lei da razão e do direito privado. O indivíduo, ao desenvolver esta
68
independente da totalidade social, somente por sua capacidade individual inerente à lei
da natureza e da razão.
Percebe-se que, no decorrer da história, esses elementos e mecanismos
ideológicos que constituem o liberalismo foram sendo internalizados por todos,
principalmente no atual momento histórico, movimento essencial para a manutenção do
sistema do capital.
O liberalismo, enquanto visão de mundo, impregnou todos os campos de
atividade da burguesia e todas as ações burguesas. Como não poderia deixar
de ocorrer, também a educação sofreu o influxo dessa visão de mundo.
Enquanto doutrina, o liberalismo deve ser visto como a expressão mais
desenvolvida da visão de mundo burguesa (ALVES, 2007, p. 79).
19
Categoria entendida como objeto social produto do trabalho humano, desenvolvida na produção
burguesa constituída por valor de uso com predominância do valor de troca, reflete aos homens os
caracteres e propriedades sociais e as relações objetivas da vida material produtiva. Apresentam-se
73
(MARX E ENGELS, 2010). Mas, na essência, vai cada vez mais se configurando
materialmente como uma sociedade exploradora, violenta, desigual, injusta e
excludente, que leva à desumanização. ‟Naturalmente, do ponto de vista da
autopercepção eternizante do capital, a relação do presente, tanto com o passado como
com o futuro, deve ser deliberadamente deturpada” (MÉSZÁROS, 2011, p. 605).
Marx e Engels (2007, p. 94) destacam que ‟[...] em toda ideologia, os homens e
suas relações aparecem de cabeça para baixo como numa câmara escura, este fenômeno
resulta do seu processo histórico de vida, da mesma forma como a inversão dos objetos
na retina resulta de seu processo de vida físico”. Logo, a ideologia do capital se
constitui e é constituída pela estrutura e dinâmica socioeconômica, apresentando-se sob
a forma de um ideal da classe burguesa que, ao ocultar as contradições, inverte e
distorce o real em detrimento dos interesses particulares.
[...] em nossa sociedade tudo está impregnado de ideologia, quer a
percebemos, quer não. Além disso, em nossa cultura liberal-conservadora, o
sistema ideológico socialmente estabelecido e dominante funciona de modo a
apresentar – ou desvirtuar” – suas próprias regras de seletividade,
preconceito, discriminação e até distorção sistemática como ‟normalidade” e
‟objetividade” e ‟imparcialidade científica” (MÉSZÁROS, 2012, p. 57).
20
A estrutura são as relações materiais da base econômica e a superestrutura condiciona a existência e as
formas do estado e da consciência social que inclui as relações não materiais. Um movimento histórico,
desigual e não autônomo. A organização social nasce na estrutura que constitui, fundamenta e determina
as condições da superestrutura para além das percepções deterministas e economicistas pensadas na
lógica formal (BOTOMORE, 2012).
76
encontra. Não pode haver nada mais falso, portanto, do que considerar relações de
classe bem determinadas isoladas dessa posição que ocupam na respectiva totalidade”.
Nesse contexto, ambas as classes se distanciam do caráter ontológico estabelecido na
relação entre ser social e sociedade.
A classe possuinte e a classe do proletariado representam a mesma
autoalienação humana. Mas a primeira das classes se sente bem e aprovada
nessa autoalienação humana, sabe que a alienação é seu próprio poder e nela
possui a aparência de uma existência humana; a segunda, por sua vez, sente-
se aniquilada nessa alienação, vislumbra nela sua impotência e a realidade de
uma existência desumana (MARX, 2011a, p. 48).
21
As forças produtivas estão relacionadas aos meios de produção, à força de trabalho e as relações de
produção são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas (MARX, 2008).
22
De acordo com Marx (2012, p.33), ‟o salário é a soma em dinheiro que o capitalista paga por um
determinado tempo de trabalho ou pela prestação de um determinado trabalho”. Um valor troca para o
trabalhador que vende a disposição de sua força de trabalho como mercadoria e como valor útil para o
capitalista que a compra com o valor menor que o trabalhador cria com o intuito da extrair o excedente
pela exploração.
77
Nessa sociedade, a escola realiza, por vezes, uma função distorcida e objetiva,
uma formação empobrecida, caracterizada pela busca de resultados rápidos visando à
preparação mínima da força de trabalho para o mercado e, ao mesmo tempo,
contraditoriamente, objetiva também um certo tipo de acolhimento social que busca
minimizar os graves problemas sociais enfrentados pela classe trabalhadora, inclusive a
pobreza, ou ainda valendo-se de determinados mecanismos ideológicos violentos como
as provas estandartizadas (LIBÂNEO, 2012).
Na atualidade, conforme Duarte (2012), essa forma de educação acaba por
contribuir na intensificação da exploração do trabalho, cada vez mais violenta, arbitrária
e imediatista. Mészáros (2008, p. 45) destaca que ‟[...] uma das funções principais da
educação formal, nas nossas sociedades, é produzir tanta conformidade ou ‟consenso”
quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites
institucionalizados e legalmente sancionados”. Tal contexto nos leva a perder cada vez
mais o sentido e o significado do trabalho e da educação como criação e emancipação
humanas, porém, na contradição, são estes princípios e características da ideologia do
sistema do capital que nos levam à construção de novos caminhos.
Nessas condições, a escola tende a aprofundar a separação entre trabalho manual
e intelectual, estabelecendo uma formação para o comando e outra para a execução.
Uma educação escolar dualista que oferece uma formação intelectual para os filhos da
burguesia e um treinamento manual para os filhos da classe trabalhadora.
Dia após dia, torna-se assim mais claro que as relações de produção nas quais
a burguesia se move não têm um caráter uno, simples, mas um caráter
dúplice; que, nas mesmas relações em que se produz a riqueza, também se
produz a miséria; que, nas mesmas relações em que há desenvolvimento das
forças produtivas, há uma força produtora de repressão; que essas relações só
produzem a riqueza burguesa, ou seja: a riqueza da classe burguesa,
destruindo continuamente a riqueza dos membros integrantes dessa classe e
produzindo um proletariado sempre crescente (MARX, 2009, p. 139).
81
Numa síntese, diante de tudo o que foi exposto neste capítulo, podemos afirmar
que a educação escolar é produto e, ao mesmo tempo, produtora de mecanismos e
elementos ideológicos, mas traz em si contradições que podem levar ao conhecimento e
a uma formação no sentido da humanização e daí a importância do desvelamento desses
mesmos mecanismos como a construção de novos caminhos. A educação escolar é,
portanto, espaço onde podemos criar formas de luta contra-hegemônica.
82
CAPÍTULO II
objetivo faz perguntas” (LUKÁCS, 2013, p. 518). É nessa relação entre o natural e o
social, o sujeito e o objeto, a objetividade e a subjetividade, o singular e o plural que a
cultura humana é produzida. Forma um conjunto de conhecimentos/saberes e valores
que se manifestam na história como produtos das atividades humanas e patrimônio da
humanidade.
Segundo Lukács (2012, p. 287), ‟[...] as formas de objetividade do ser social se
desenvolvem à medida que a práxis social surge e se explicita a partir do ser natural,
tornando-se cada vez mais claramente sociais”. Por meio da produção, apropriação e
objetivação da cultura desenvolvida pela práxis, os seres humanos colocam em
movimento o objeto, a realidade a qual pertencem e o próprio ser que se objetiva.
Assim, a cultura não se constitui e se manifesta no imediato da vida individual e
em particularidades isoladas das relações materiais e sociais, mas articulada
dialeticamente ao universal, à historicidade e à totalidade em uma realidade concreta
composta por contradições.
O objeto nesse caso é, primeiramente, a produção material. Indivíduos
produzindo em sociedade – por isso, o ponto de partida é, naturalmente, a
produção dos indivíduos socialmente determinada. O caçador e o pescador,
singulares e isolados, pelos quais começam Smith e Ricardo, pertencem às
ilusões desprovidas de fantasia das robinsonadas do século XVIII, ilusões
que de forma alguma expressam, como imaginam os historiadores da cultura,
simplesmente uma reação ao excesso de refinamento e um retorno a uma vida
natural mal-entendida (MARX, 2011, p. 39).
23
A partir dos fundamentos teórico-metodológicos da perspectiva ontológica de educação, o conceito de
‟trabalho como princípio educativo” foi discutido no capítulo 1, principalmente nos itens 1.1 e 1.2.
24
De acordo com Saviani (2012, p. 67), "[...] elaboração do saber não é sinônimo de produção de saber. A
produção do saber é social, ocorre no interior das relações sociais. A elaboração do saber implica
expressar de forma elaborada o saber que surge da prática social".
89
Para que isso seja efetivado, o ser social necessita criar uma significação para os
objetos naturais e sociais não de forma arbitrária, ‟[...] precisa conhecer a natureza do
objeto para poder adequá-lo às suas finalidades. Ou seja, para que o objeto possa ser
transformado e inserido na ‟lógica” da atividade humana, é preciso que o ser humano se
aproprie de sua ‟lógica natural” (DUARTE, 2013, p. 28). Remetendo-nos às palavras de
Lukács (2013), a gênese da ciência relacionada à razão não pode se afastar de sua forma
originária, ou seja, do trabalho, ‟[...]se originam da investigação referente a necessidade
prática e ao melhor modo de satisfazê-las, ou seja, da tentativa de encontrar os melhores
meios no trabalhar” (p. 60). Desse modo, os seres humanos, para se objetivarem na
90
Para Lukács (2013, p. 57), ‟[...] em suma, o ponto no qual o trabalho se liga ao
surgimento do pensamento científico e ao seu desenvolvimento é, do ponto de vista da
ontologia do ser social, exatamente aquele campo por nós designado como investigação
dos meios”. Tais meios estão vinculados à apropriação dos conhecimentos dos objetos
da natureza, aos nexos causais, ao processo no qual se efetivam na prática social e aos
instrumentos e produtos do trabalho fundamentais para o desenvolvimento produtivo da
sociedade e do ser social, ou seja, da individualidade e do gênero.
Os seres humanos como produtos dos atos de humanização precisam conhecer
os conceitos nucleares numa visão de síntese da realidade real e concreta, da
complexidade da natureza e da sociedade, as contradições das relações sociais e as
transformações históricas. Trata-se de um processo árduo e complexo que se torna
historicamente uma necessidade ontológica que os eleva à condição, cada vez maior, de
apropriar da riqueza cultural. Proporciona a construção e elaboração de saberes
objetivos cada vez mais complexos, elaborados e sistematizados para a coletividade e o
desenvolvimento da vida produtiva.
Desse modo, a vida produtiva torna-se cada vez mais complexa por meio dos
atos humanos de conhecimento, apropriação e objetivação dos meios, dos modos de
execução e dos produtos do trabalho, que, por sua vez, levam os seres humanos
ànecessidade de novos saberes objetivos autônomos, mais elaborados e sistematizados,
91
artes orientadas pelo ensino mediado pelo trabalho docente. Ou seja, relacionado às
condições de ensino e do desenvolvimento do trabalho docente, o currículo deve
trabalhar os saberes elaborados, complexos e ‟clássicos” da cultura que foram
historicamente construídos pelos seres humanos.
Vê-se, assim, que para existir a escola não basta a existência do saber
sistematizado. É necessário viabilizar as condições de sua transmissão e
assimilação. Isso implica dosá-lo e sequenciá-lo de modo que a criança passe
gradativamente do seu não domínio ao seu domínio. Ora, o saber dosado e
sequenciado para efeitos de sua apropriação no espaço escolar, ao longo de
um tempo determinado, é o que nós convencionamos chamar de ‟saber
escolar” (SAVIANI, 2012a, p.17).
25
Termo utilizado por Marx (2013) para definir a estrutura e a dinâmica do modo de produção capitalista.
96
26
Entendemos a categoria ‟conceitos nucleares” com base na definição de ‟conceito” desenvolvido por
Vigotski (2001), para o qual um conceito é uma síntese histórica, só podendo ser compreendida na
relação com outros conceitos. O conceito não é simplesmente um conjunto de conexões associativas que
se assimilam com a ajuda da memória, nem um hábito mental automático, mas um autêntico e completo
ato do pensamento.
97
27
O termo ferramenta é aqui utilizado no sentido Marxiano, refere-se a um produto histórico realizado
pelos seres humanos na e para a vida produtiva, para a efetivação de novas objetivações com base nos
objetos presentes na natureza e nas relações sociais (MARX, 2010).
98
Sendo assim, com base na análise dos dados tanto das entrevistas quanto dos
documentos utilizados nesta pesquisa, afirmamos que o currículo escolar se efetiva na
prática social e incide no movimento do desenvolvimento humano somente por meio do
ensino realizado pelo trabalho docente que, por sua vez, em suas especificidades de
forma perceptiva ou não, somente se materializa com base em um determinado projeto
curricular. Observa-se que ‟[...] ao assumir o ensino de uma matéria, os professores,
geralmente, partem de um conteúdo já estabelecido num projeto pedagógico curricular”
(LIBÂNEO, 2011a, p. 97). Entretanto, o ensino não se estabelece, necessariamente de
maneira absoluta, na lógica de causa e efeito perante o que é estabelecido no currículo e
sempre da mesma forma, pois isso depende de uma síntese de múltiplas determinações.
Dentre as determinações que possibilitam a construção de condições de ir além
da lógica formal de causa e efeito, destacamos a formação inicial e continuada do
professor, a compreensão das pressuposições da rede de ensino, a visão ideológica de
mundo, a concepção política, apreensão científica e filosófica do currículo, o domínio
dos conteúdos, a compreensão pedagógica das formas de mediação entre o sujeito e o
objeto de conhecimento, o tempo e espaço para o ato de ensinar e as condições de
trabalho do professor(a).
Não há como pensar em um trabalho pedagógico deslocado dos
condicionantes sociais, políticos, culturais, econômicos, bem como das
próprias condições pessoais dos sujeitos que ensinam e aprendem. A
trajetória de vida dos professores, a sua origem de classe, a sua formação, o
estágio que se encontram na carreira, também determinam o modo como os
docentes conduzem a sua carreira (ASSIS, 2012, p.120).
102
Diante das questões que analisamos nas entrevistas e nos documentos, no atual
momento histórico, o currículo parece tornar-se o instrumento do âmbito escolar onde
mais se revelam mecanismos e elementos ideológicos e de violência contra a formação
humana no âmbito escolar.
As escolas são usadas para propósitos hegemônicos no ensino de valores
culturais e econômicos e de propensões supostamente "compartilhadas por
todos" e que, ao mesmo tempo, "garantem" que apenas um número
determinado de alunos seja selecionado para níveis mais altos de educação
por causa da sua "capacidade" em contribuir para a maximização da produção
de conhecimento tecnológico de que a economia necessita (APPLE, 2006, p.
101).
De acordo com Gramsci (1991, p. 7), ‟[...] todos os homens são intelectuais,
pode-se-ia dizer, então; mas nem todos os homens desempenham, na sociedade, a
função de intelectuais”. Isso se estabelece, principalmente, em razão dessas condições e
determinações da realidade atual, gestada pelos interesses capitalistas. A seleção,
organização e distribuição dos saberes escolares tornam-se um forte aspecto ideológico
em favor da manutenção da macroestrutura socioeconômica. Mas, sem perder de vista a
contradição — esses mesmos saberes escolares, organizados de forma “neutra” com
base nos princípios do capital, tanto mantêm e aprofundam as coisas como estão quanto
permitem o questionamento e negação da realidade, a identificação das contradições, o
emergir de novas necessidades e a construção da sensibilidade crítica para a construção
árdua de caminhos de mudança que vão para além do capital.
119
O currículo atual, proposto pela rede, em análise, é permeado pela dinâmica das
principais perspectivas curriculares das escolas públicas no Brasil, é uma construção
histórica, socioeconômica e ideopolítica, advinda da estrutura de tendências
educacionais, nas quais, com base nesta pesquisa, destacamos o ‟tecnicismo” e o
‟escolanovismo” (SAVIANI, 2012a). O tecnicismo teve sua proeminência, nos meados
do século XX, enfatizava a aproximação da educação com as necessidades e a vida
produtiva das fábricas e do processo tecnocrático industrial e administrativo para o
desenvolvimento econômico.
Ao final das décadas de 1960 e 1970, quando ao modelo taylorista-fordista se
contrapõem novos parâmetros de organização e gerenciamento do sistema
produtivo, quando a ordem social subjuga-se de modo absoluto aos ditames
da acumulação flexível, as demandas pela formação do indivíduo apto a
adequar-se a esses novos tempos, obviamente, recaem sobre a educação
escolar. No esteio da reestruturação do capital em curso, as ideias da ‟teoria
do capital humano” tornavam-se palavras de ordem (MARTINS, 2010, p.
17).
28
Termo utilizado por Saviani (2012a), ver páginas 5 e 6.
29
Essa teoria, composta por discursos e narrativas, será melhor analisada no próximo item deste capítulo.
121
atualmente, nas variadas propostas curriculares das redes públicas municipais, estaduais
e federais em todo Brasil. A estrutura dessas teorias educacionais implica nas dinâmicas
das perspectivas curriculares que, por sua vez, não se estabelecem na lógica de uma
concepção sequencial, onde uma teoria e uma perspectiva foram superando à outra ou as
teorias, na lógica formal, sobrepõem as perspectivas curriculares.
Na particularidade pesquisada e na lógica da educação básica brasileira, ausente
de um sistema de educação, vemos, contraditoriamente, em confluência, as duas teorias
presentes nas perspectivas curriculares constituídas. As teorias educacionais
propiciaram a constituição de perspectivas curriculares que, atualmente, tornaram-se
hegemônicas no âmbito escolar. Tanto as teorias educacionais quanto as perspectivas
curriculares se direcionam na legitimação e propagação dos ditames do sistema do
capital, consequentemente, incidem na formação humana.
A proposta curricular da rede de ensino analisada é parte constituinte e
constituída pela atual conjuntura societal do modo de produção, caracterizada como
uma sociedade da mercadoria e uma educação mercantilizada. Para Libâneo (2013),
atualmente, no Brasil, configuram-se duas perspectivas curriculares hegemônicas, um
currículo caracterizado como instrumental e outro definido como um currículo
intercultural.
Para o autor, o currículo instrumental é caracterizado por uma proposta de
desenvolvimento de competências mínimas, inserção dos alunos no mundo do consumo
e das tecnologias interessadas ao sistema do capital. Além disso, influencia na
construção da consciência da comunidade escolar para não ir contra o sistema,
mascarados por mecanismos ideológicos de valores para a cidadania, de solidariedade,
socialização, paz, harmonia e empregabilidade.
Mantém, aí, uma escola de conteúdos mínimos necessários ao trabalho e
emprego, mas realça-se ainda mais a noção de aprendizagem como aquisição
de habilidades dissociadas do seu conteúdo e significado pouco contribuindo
para o desenvolvimento das capacidades intelectuais e a formação da
personalidade. Define-se, assim, uma proposta de educação voltada para os
mais pobres, visando atender a suas necessidades mínimas, suficientes para
empregos e sobrevivência social (LIBÂNEO, 2013, p. 59).
média do IDEB e coloca isto como grande avanço não existe nenhuma preocupação
com a formação humana. Eu tenho vergonha se minha filha falar que alcançou esta
nota, não esta querendo um bom professor e aluno nunca, sem falar das condições
opressoras que foram realizadas para aumentar esta nota como as imposições para os
professores das matérias críticas treinarem os alunos”. Sujeito C8: ‟É uma questão
delicada, hoje eu vejo o estado e as propostas curriculares muito preocupado com
números, índices e estatísticas, uma escola adequação para alcançar um suposto nível
ideal no IDEB, tem que sair bem nas avaliações externas, uma supervalorização dos
números e fica restrito em preocupar muito com isso, aprovar todos os alunos para
menos reprovações não tendo o intuito em preocupar com o desenvolvimento integral
do aluno. As condições para alcançar isto na maioria das vezes não são boas”.
O objetivo central do documento Pacto da Educação se resume em ‟ser
referência nacional em educação”. Essa afirmação requer alguns questionamentos: para
que? Por quê? Para quem? Quais as condições? Quais os interesses reais e concretos? O
que está, de forma subliminar, nesse interesse de ser referência? O currículo, nessa
proposta, é imposto como demanda, como currículo referência padronizado, engessado
com base no mínimo para toda a rede. Segundo os professores, a proposta curricular é
composta por um grande número de conteúdos, expectativas e eixos temáticos
fragmentados e isolados que propiciam somente o trabalho superficial dos conteúdos e
chegam ao final do ano sem cumprir todas as exigências burocráticas cobradas no
currículo referência.
O currículo referência30 é proposto no Pacto da Educação numa estreita relação
com o ensino. Já na primeira ação do pilar dois, com o título adotar práticas de ensino
de auto impacto na aprendizagem, podemos observar tal aproximação e interesse
ideológico. Esse instrumento, mesmo de forma oculta, coloca o currículo como eixo
norteador de todos os pilares31, o qual atribui um papel central na organização da
educação escolar, no processo de ensino-aprendizagem, na direção da articulação
30
Documento curricular imposto em 2012 pela rede estadual composto por eixos temáticos, conteúdos,
competências e habilidades.
31
O documento de reforma educacional goiana ‟Pacto pela educação: um futuro melhor exige
mudanças”, é constituído por cinco pilares: 1- Valorizar e fortalecer o profissional da Educação, 2-Adotar
práticas de ensino alto impacto na aprendizagem, 3- Reduzir significamente a desigualdade educacional,
4- Estruturar sistema de reconhecimento e remuneração por mérito, 5- Realizar profunda reforma na
gestão e na infraestrutura da rede estadual de ensino.
130
32
Nesta pesquisa, investigamos o currículo e o ensino nos anos finais ou segunda etapa do Ensino
Fundamental (6º ao 9º anos) e Ensino Médio; é a estas etapas/níveis que nos referimos quando utilizamos
a expressão Educação Básica.
131
33
Bimestralização é um dos termos centrais identificado no caderno 5 das reorientações e muito utilizado
pelos professores (as) nas entrevistas. Este termo se refere a separação por bimestres, em forma de listas,
de conteúdos, eixos temáticos e expectativas de aprendizagem já definidos pela rede de ensino.
133
habilidades que o mercado exige, o dia-dia, ser flexível, direcionado ao cotidiano, ligar
sempre com a vontade dos alunos, tendo isto já está bom” (C5).
Além disso, essa perspectiva curricular cria, na contradição, a ilusão idealista34
da garantia do sucesso dos alunos na produção material da vida social ao juntar com a
massa de trabalhadores no mercado de trabalho, através do acúmulo quantitativo de
conhecimentos presentes no currículo escolar. Saberes relativos ao cotidiano dos alunos
conquistados pelo esforço individual, promovendo suposto desenvolvimento econômico
da sociedade e do indivíduo. Para Marx e Engels (2010a, p. 50), ‟[...] para oprimir uma
classe é preciso poder garantir-lhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma
existência servil”. Essas condições transparecem na realidade por meio de mecanismos
ideológicos, como por exemplo, a valorização do discurso da diferença como estratégia
de harmonização das relações sociais nos países pobres, escondendo-se os conflitos
econômicos de poder e as desigualdades entre grupos e classes sociais. Além disso, a
propagação do discurso que existe emprego para todos e bons salários para aqueles que
se esforçam, basta esforço, mérito, ser eficiente e criativo.
A função metodológica e social do currículo da rede se aproxima da articulação
realizada por Mészáros (2008) sobre a relação entre educação escolar e capital, ou seja,
há uma proposta de construção de uma educação para os ricos e uma educação para os
pobres, que precisam ser controlados pelos interesses dominantes que selecionam
alguns para servir de modelo para enfatizar a ideologia da culpabilização dos indivíduos
que não conseguem êxito nas relações materiais da vida social. ‟Para sermos honestos,
devemos reconhecer que o campo do currículo finca suas raízes no próprio solo do
controle social” (APPLE, 2004, p. 85). Um currículo que separa o trabalho manual e
intelectual, dicotomiza a teoria da prática, nega a historicidade e a totalidade social e
submete professores e alunos a uma pseudodemocratização.
Logo, o projeto curricular objetiva, de maneira interessada ideologicamente,
garantir aos alunos a confluência contraditória da permanência na vida escolar com
autovalorização do cotidiano utilitarista e pragmático com conhecimentos da cultura
popular e negação dos saberes ‟clássicos” da ciência, da filosofia e da arte e, ao mesmo
tempo, a cobrança destes saberes voltados a eficiência e eficaz pautada em metas e
34
"O adjetivo ‘idealista’ é usado aqui não com referência à adesão a ideias, mas com referência ao
princípio segundo o qual os problemas sociais são resultados de mentalidades errôneas, acarretando a
crença de que a difusão pela educação de novas ideias entre os indivíduos, especialmente os das novas
gerações, levaria a superação daqueles problemas" (DUARTE, 2010, p.35).
134
índices. Outros pontos que podemos destacar são a inserção e adaptação ao mercado de
trabalho, a construção das possibilidades de sucesso na vida profissional e a formação e
desenvolvimento na direção da construção da cidadania.
Pensar nas escolas como mecanismos de distribuição cultural é importante,
pois, como o marxista italiano Antonio Gramsci observou, um elemento
crítico para a ampliação da dominação ideológica de determinadas classes
sobre outras é o controle do conhecimento que preserva e produz as
instituições de determinada sociedade (APPLE, 2006, p. 61).
35
Termo utilizado por Marx (2013) para caracterizar a existência real do objeto ou instrumento, porém, a
funcionalidade é alterada pelos seres humanos por uma reflexão ilusória e idealista de orientação
ideológica.
135
necessários para viver e perpetuar sua espécie” (MARX e ENGELS, 2010, p. 46). Os
indivíduos da classe trabalhadora passam a vender o que restou, a força de trabalho, a
sua única riqueza, em troca de salário e de produção de excedente por meio da
exploração.
É neste contexto violento que os dados da realidade concreta nos revelam a
constituição do currículo fetiche que traz consigo, como parte constitutiva, elementos
categoriais pautados em determinados fundamentos ideopolíticos. Estes propiciam
implicações e contradições ideológicas marcantes que levam ao que Apple (2006)
denomina de processo de rotulação no trabalho educativo escolar. ‟O processo de
rotulação tende a funcionar como uma forma de controle que busca homogeneizar a
realidade social, eliminar percepções incompatíveis e usar meios, supostamente
terapêuticos, para criar um consenso moral, valorativo e intelectual” (p.176). Esse
instrumento, utilizado como forma de controle ideológico, de acordo com os interesses
da classe dominante, é apresentado como não totalitário e nem determinista, mas
democrático e flexível de caráter pluralista.
Entendemos que se trata de um currículo eclético e híbrido, de base filosófica
neopositivista, pragmático e marcadamente liberal, complementado por princípios do
idealismo subjetivo, produto da “subjetividade cognoscível do em-si” e da lógica formal
de pensamento. ‟A unidade da ciência, para o neopositivismo, é a unidade da linguagem
científica, segundo o modelo da física moderna. [...] A ciência trata dos fenômenos
como fórmulas matemáticas ideais sujeitas à manipulação, sem considerar seu caráter
ontológico” (DELLA FONTE, 2010, p. 92).
O currículo fetiche é, portanto, manipulador, pautado na fragmentação da
racionalidade técnico-científica, na neutralidade, na burocratização, na proposição do
fim da historicidade, no discurso, no esfacelamento da totalidade social, no
desaparecimento das lutas de classe e na exaltação de uma cidadania de possibilidades.
Dentre as características do currículo mais citadas pelos sujeitos da pesquisa,
destacamos a burocratização, que, em nossa leitura, reproduz um tipo de
homogeneização formalista do conhecimento, que acaba por tornar-se um conjunto de
regras prescritas para o professor. Tanto é que, nas propostas curriculares, confundem-
se e atravessam-se objetivos e conteúdos de ensino.
Na gênese do pensamento fetichizado, particularmente das correntes ligadas
ao que designamos como ‟miséria da razão”, situa-se, ainda, um outro
fenômeno da maior importância. Pensamos na tendência da economia
138
De acordo com os dados desta pesquisa, até aqui analisados, eles expressam e
revelam implicações e contradições de elementos categoriais ideológicos presentes na
perspectiva do currículo fetiche, dentre os quais destacamos o que denominamos de
propriedade intelectual e relativismo cultural intersubjetivo, ambos tendo como base a
confluência de princípios do neopositivismo e do liberalismo com o complemento de
elementos da corrente culturalista pós-moderna.
A primeira categoria — propriedade intelectual — aproxima-se das propostas da
perspectiva neotecnicista, apresentada no item 2.3, e está ligada ao contexto,
características e princípios ressaltados e verificados na análise que fizemos sobre a
constituição dos princípios ideológicos do capital. É importante ressaltar que, embora
oculta, a valorização da propriedade intelectual, na relação com o currículo e ensino,
perpassa os documentos e as entrevistas que analisamos. Esse elemento categorial é
caracterizado pela dinâmica de constituição e desenvolvimento da ‟sociedade da
mercadoria” e do ‟homem mercantil” articulados, intrinsecamente, aos princípios da
doutrina ideológica do liberalismo. ‟A meta é a formação de um indivíduo preparado
para a constante adaptação às demandas do processo de reprodução do capital”
(DUARTE, 2006, p. 63).
A segunda categoria, denominada de relativismo cultural intersubjetivo, tem
como determinação última o pragmatismo, atrelado aos princípios dos discursos,
narrativas da pós-modernidade e da tendência do multiculturalismo com ênfase na
cultura popular e nos saberes do cotidiano. ‟Cabe observar que o que se encontra, no
centro de formulações como multi/interculturalismo e os Estudos Culturais, não é a
defesa da diversidade cultural, mas o relativismo ontológico e o ceticismo
epistemológico” (DELLA FONTE, 2011, p.34), o que perpassa pelos princípios da
perspectiva neoconstrutivista analisado no item anterior. Tem preponderância na
particularidade desta pesquisa, nos relatos dos professores e seus princípios estão
presentes nas tendências curriculares hegemônicas atualmente no Brasil.
146
36
Nossa referência para a discussão do conceito de dinheiro está em Marx (2011, p. 90 a 270).
149
37
Argumenta a ilusão da existência de uma realidade concreta e de uma teoria do conhecimento que
explique e compreenda a realidade concreta. Tem como base a metafísica, o idealismo e a singulariedade
poética que se opõem às relações objetivas críticas que envolvem a construção de uma nova ordem social
em uma sociedade sem qualquer tipo de exploração e sem classes sociais (DELLA FONTE,2010).
151
Para Mészáros (2012, p. 58), ‟[...] naturalmente, aqueles que aceitam, de modo
imediato, a ideologia dominante como a estrutura objetiva do discurso ‟racional” e
‟erudito” rejeitam como ilegítimas todas as tentativas de identificar os pressupostos
ocultos e os valores implícitos com que está comprometida a ordem dominante”. Esses
160
CAPÍTULO III
distendeu os tendões e compreendeu que, com a mão, poderia fazer muitas coisas para
garantir a sua sobrevivência” (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 40).
Logo, os atos históricos na relação entre apropriação e objetivação, dentro do
contexto socioeconômico, torna-se a dinâmica central da construção dos saberes
objetivos sobre a corporeidade incorporada ao gênero humano.
Com efeito, aquilo que acontece com o ser natural na utilização da pedra e
que é totalmente heterogêneo com relação ao seu uso como faca ou como
machado, podendo sofrer essa transformação somente quando o homem põe
cadeias causais corretamente conhecidas, acontece também no próprio
homem com os seus movimentos etc., na sua origem biológico-institiva. O
homem deve pensar seus movimentos expressamente para aquele
determinado trabalho e executá-los em contínua luta contra aquilo que há
nele de meramente instintivo, contra si mesmo (LUKÁCS, 2013, p. 80).
cada ser humano singular (no interior de sua classe, nação etc.), o espaço
concreto de suas possibilidades de reação e de ação (LUKÁCS, 2012, p. 53).
No âmbito escolar, lócus que possui, como eixo central, o trato com o
conhecimento elaborado, algumas das temáticas mais complexas e desenvolvidas ao
decorrer da história que compõe a cultura corporal, destacam-se: a ginástica, os jogos,
os esportes, as danças e as lutas abordadas nas dimensões econômica, biológica, social e
política. Esses são um dos saberes escolares nucleares que formam os conteúdos do
176
6.4 – Sequências didáticas e convite à ação (2009b), ambos voltados para o ensino
fundamental; o caderno número 7 – Referências Curriculares para o ensino médio
(2010) e o Currículo Referência da rede estadual (2012), na especificidade da educação
física, que traz os eixos temáticos, as competências, as habilidades e as expectativas de
aprendizagem para todas as escolas do estado. Esses documentos, que circunscrevem a
tendência da perspectiva curricular — o currículo fetiche – revela princípios,
contradições, elementos e mecanismos que servem de proposições para o ensino da
educação física da rede. Esses documentos foram elaborados entre os anos de 2004 a
2010 e suas propostas desenvolvidas a partir do ano de 2012.
De acordo com Rodrigues e Soares Junior (2014, p. 206), para a construção das
proposições de todo o processo de debate e reflexão desses documentos na
especificidade da educação física,
[…] foi utilizado, como referência teórico-metodológica, o método dialético
de conhecimento baseado na pedagogia histórico-crítica, fundamentado nas
obras de Saviani (2008) e de Gasparin (2003) e na concepção da Educação
Física crítico-superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nesta
perspectiva, cabe à Educação Física o trato pedagógico de conjunto de
conhecimentos relacionados à cultura corporal, tais como o esporte, a
ginástica, a dança, os jogos, etc.
38
Segundo Saviani (2012a), esta teoria pedagógica emerge para além das propostas crítico-reprodutivistas
e consolida-se, em 1979, como uma abordagem pautada pelos fundamentos materialistas, históricos e
dialéticos com função pedagógica e política para além do capital.
180
Essas análises nos trazem a reflexão de que para a efetivação dessas propostas
— Pedagogia Histórico-Crítico e a Crítico-Superadora — a apropriação, a assimilação e
o domínio dos fundamentos teórico-metodológicos para a construção de uma práxis,
propícia à necessidade de uma compreensão teórica de base científica e filosófica sólida
da concepção de ser humano, sociedade, educação, conhecimento e escola por parte dos
professores (as). Além disso, necessita-se, em nossa análise, da consolidação de um
projeto de formação humana, na direção da perspectiva ontológica de educação, uma
sensibilidade crítica na organização do trabalho educativo escolar, saberes científicos e
filosóficos sobre o ato de ensinar, apropriação consistente sobre os conhecimentos da
educação física a serem trabalhados presentes no currículo e princípios políticos que
caminham na luta contra-hegemônica, na defesa da socialização da riqueza material e
não material, e da democratização da sociedade para além dos ditames do capital.
De acordo com Saviani (2012a), a pedagogia histórico-crítica,
[...] procura-se fundar e objetivar historicamente a compreensão da questão
escolar, a defesa da especificidade da escola e a importância do trabalho
escolar como elemento necessário ao desenvolvimento cultural, que concorre
para o desenvolvimento humano em geral. A escola é, pois, compreendida
com base no desenvolvimento histórico da sociedade; assim compreendida,
torna-se possível a sua articulação com a superação da sociedade vigente em
direção a uma sociedade sem classes, a uma sociedade socialista. É dessa
forma que se articula a concepção política socialista com a concepção
pedagógica histórico-crítica, ambas fundadas no mesmo conceito geral de
realidade, que envolve a compreensão da realidade humana, como sendo
construída pelos próprios homens, a partir do processo de trabalho, ou seja,
da produção das condições materiais ao longo do tempo (p.88).
Para alcançar esses objetivos, emerge a necessidade de uma boa formação inicial
e continuada, que se direciona aos fundamentos teóricos, científicos e filosóficos da
perspectiva ontológica de educação e não como se observa nas propostas dos referentes
documentos. Imposições imediatas e pragmáticas, uma gama muito grande de
181
para o trabalho com o currículo e ensino da educação física, seis deles propõem a
necessidade urgente da construção de um livro didático para a educação física.
Recorrem também à mera reprodução de experiências de professores, quando eram
alunos, a cópia dos manuais, presentes nas sequências didáticas, as atividades que os
próprios alunos indicam, reprodução das meras ‟cartilhas” da prática dos esportes ou
recaem nas aulas livres, onde são disponibilizados alguns materiais, sendo que, com a
prática da orientação, os alunos praticam alguma atividade, o chamado ‟rola bola”.
Em suma, a forma invertida em que a proposta é colocada, num processo
forçado de tentar conciliar discursos e visões pedagógicas e políticas conservadoras e a
aparência de concepções críticas, recai em umas das proposições do currículo fetiche, na
especificidade da educação física. Quer conciliar o inconciliável e transmitir a imagem,
que é uma única e ótima proposta necessária para a destruição de todas as mazelas e a
crise pela qual passa a escola pública e os problemas do trato com o currículo e ensino
da educação física escolar.
A concepção anunciada na proposta desaparece, no nível da constelação dos
discursos, fazendo, ideologicamente, a proposta emergir como algo necessário para
reproduzir, fielmente, a formação de diversas identidades. Assim sendo, expressar uma
proposta crítica, emancipatória, humanista e progressista de currículo e ensino não
garante a materialização das mesmas, principalmente, da forma como é apresentada
nesses documentos, ausente de um processo de investigação coerente com a exposição,
distante das contradições da realidade real e concreta, sendo, ainda, constituído,
legitimado e propagado por variados mecanismos ideológicos, cuja conjuntura e
contradições possibilitam a construção de caminhos contra-hegemônicos.
A concepção, que norteia a proposta curricular de uma rede de ensino, tem que
ser do conhecimento pleno dos professores, sendo necessário que os docentes
conheçam, profundamente, a concepção com base numa filosofia científica e tenham
consciência do processo e do produto da organização do ensino e aprendizagem.
Partimos da pressuposição de que o mais importante e que sustenta um bom currículo e
ensino de educação física deve ter, como fundamentos, a concepção ontológica de
educação.
No caminho árduo e complexo da luta contra-hegemônica, temos que começar a
propagar, cientificamente, que o currículo e ensino da educação física escolar não
podem ser constituídos por receitas e manuais de sequências didáticas servindo para
185
como sinônimo de saúde e atividade física, tendo em vista uma melhor bem-estar para
enfrentar a luta diária dos estudos e da vida futura. ‟Vejo assim, se a escola não tivesse
a educação física para desestressar e fazer algo de diferente, acho que a escola estava
perdida” (P2). Dos dez professores (as) de educação física, oito professores direcionam
a organização do trabalho docente como sendo um momento da teoria (sala de aula) e
outro da prática (quadra), mas, ao mesmo tempo, todos ressaltam a importância dos dois
momentos.
A quadra, como ambiente da escola, é compreendida como o local propício para
o desenvolvimento de atividades voltadas a ‟jogos” e local somente da prática.
Observamos que a aula prática é considerada, por alguns professores, como um
momento desprovido de conhecimentos, no qual estão ausentes ciência e filosofia. Um
local onde, na maioria das vezes, os alunos controlam as atividades ali desenvolvidas. A
análise dos relatos nos permite captar também que há predominância dos meninos, neste
momento em que os alunos assumem o controle da aula. ‟Olha, nas aulas práticas, é
meio complicado, tendo que colocar todos na quadra, mas as meninas quase não fazem,
nesta fase de adolescência, querem preocupar com o cabelo, unha e celular” (P1). Isto
nos mostra um direcionamento do trabalho educativo que leva ao relativismo
caracterizado pela falta de orientação e compreensão do que e como ensinar e, do objeto
nuclear de conhecimento da educação física.
Na caracterização geral do currículo fetiche, na especificidade da educação
física, muitos dizem que melhorou com a proposta de reorientação curricular, pois antes
não tinham nenhum direcionamento sobre o que ensinar na educação física. ‟Antes era
somente fazer exercício, era jogar bola, agora tem outras áreas de jogos, lutas, bem
estar, saúde, agora tá mais amplo, já tem algo mais direcionado, pois antes não tinha”.
(P.3). Mas, relatam: ‟Sobre o currículo de educação física, ainda está muito vago e
incompleto. De forma geral, não vejo que o aluno não tem, hoje os alunos ficam na
sala, passa regras e textos para os alunos copiarem ou coloca jogos de xadrez para os
meninos jogarem, nem ir para a quadra nem vão mais. Antes era atividade física, hoje
nem isto. Nossos professores ainda estão muito perdidos sobre o currículo de educação
física” (C8). ‟Hoje, a maioria dos professores cruzam os braços e deixam a bola e aula
rolarem” (P.2). Isto nos mostra a importância de repensarmos a formação inicial e
continuada de professores (as) e enfatizar o par dialético entre conteúdo/método como
momento preponderante na organização do trabalho educativo escolar.
188
cotidiano dos alunos ligados à cultura corporal e aos que servem como suporte para o
mercado de trabalho.
Nos documentos que tratam da especificidade da educação física, os discursos e
narrativas partem da aparência como se fossem suposições críticas. Às vezes os
discursos se aproximam de um trato com o ensino verdadeiramente crítico, porém,
recaem na contradição entre a aparência da proposta e a essência da concepção.
O ensino da Educação Física pode ser responsável pela formação humana
dos estudantes, no sentido da ampliação de suas capacidades e
potencialidades corporais, intelectuais, comunicativas, afetivas, artísticas,
técnicas, éticas, sociais e políticas. Cabe aos professores ampliarem as
referências de pensamento dos estudantes, elaborarem uma leitura de mundo
sobre a realidade social, a partir dos elementos da cultura corporal,
possibilitarem aos estudantes, gradativamente, superar o saber do senso
comum sobre o esporte, jogo, dança, ginástica, lutas, em direção à
construção de um pensamento crítico, explicativo sobre a constituição dessas
diferentes manifestações corporais na história da humanidade, como também
em nosso cotidiano (GOIÁS, 2009e, p. 105).
docente que, infelizmente, satisfaz o que a rede, a escola, os alunos e pais esperam da
educação física escolar. Isso nos mostra, superficialmente, uma tendência do atual
cenário precário da formação de professores e da própria prática dos docentes, no
componente educação física, que necessitam de propostas que vão além das
perspectivas relativistas.
Observa-se a presença do mecanismo ideológico que, num currículo eclético
como a proposta do currículo fetiche, respeitando o mínimo proposto pela rede, o ensino
de qualquer coisa possui um grande valor. Possibilita a legitimação e propagação de
ideias da ineficácia da universidade para ser professor (a) de educação física escolar, a
reprodução de conhecimento com base no cotidiano e na experiência bem como a
reprodução de práticas como fonte para a efetivação de uma boa aula de educação
física. Os conhecimentos da faculdade, dicotomizados em teoria e prática, voltados ao
trabalho com o currículo e ensino da educação física escolar, são colocados como
superados, em desuso, fora da realidade. ‟A questão da teoria e prática é um problema,
pois quando estamos na faculdade é somente o conhecimento técnico e teoria e, quando
chega na realidade que está atuando, na prática é outra coisa, vai muito além da
teoria. Vai mais do perfil de cada professor, do dom, das várias realidades regionais e
das identidades dos alunos” (P3). Alguns professores percebem a fragilidade dos
próprios cursos, mas, ao mesmo tempo, colocam a culpa em si, dizendo que poderiam
ter aproveitado mais o curso e ter construído uma formação diferente para superar as
dificuldades que enfrentam, ignorando as contradições da totalidade social.
Os professores (as), com base na proposta do currículo da rede, rotulam
dicotomias que negam a teoria e os saberes da graduação. Colocam a teoria como
sinônimo de faculdade e uma das saídas relatadas para o enfrentamento das dificuldades
com o trabalho da disciplina educação física dentro das escolas é a experiência. Muitos
sujeitos das entrevistas ressaltaram, incluindo os coordenadores (as), que é normal, na
faculdade, não se propiciar de uma boa formação, pois a função delimitada a esta
instituição é somente propiciar as pistas para que o sujeito ‟autônomo” venha a buscar
os conhecimentos. ‟É no dia dia que você vai aperfeiçoando seu conhecimento, temos
que buscar novos conhecimentos juntamente com os alunos, vamos vendo o que eles
mais gostam de aprender” (P2). Os professores (as) recaem no poderoso discurso
violento e ideológico de que é somente na prática e na experiência em sala que os
192
pelo arrocho salarial e por uma educação pública de qualidade, atrelado à expansão da
globalização do capital, emergiram e expandiram-se novas concepções pedagógicas e
ideias críticas sobre a organização, direcionamento da dinâmica curricular e do trabalho
educativo escolar (SAVIANI, 2012).
Novas propostas ditas críticas, fundamentadas em concepções ‟humanistas e
progressistas” de educação e sociedade, em contraposição às teorias conservadoras e
reprodutivistas, algumas se contrapondo aos ditames do capital, começaram a ser
difundidas, nas discussões sobre a educação escolar, e também no componente
curricular educação física (COLETIVO DE AUTORES, 2009). Essa conjuntura de
produções teóricas implicaram novas construções e reformulações, principalmente em
questões epistemológicas, sobre o papel, a função e os objetivos do currículo da
educação física escolar e reflexões referente ao ensino39.
Nesse período, as discussões foram ampliadas pela necessidade de
transformação das contradições do próprio contexto socioeconômico, das retrógradas
teorias tradicionais conservadoras e a procura do estatuto científico e filosófico para a
área educacional. Essas discussões contribuíram para a legitimação da necessidade da
abertura de novos cursos de pós-graduação, em educação e educação física, e a
consequente proliferação de pesquisas acadêmicas voltadas para a compreensão das
relações entre educação, sociedade e educação física. A abertura científica, filosófica e
política promoveram e impulsionaram a construção de conhecimentos para um
movimento renovador da educação física escolar, com maior sensibilidade crítica para
além das dinâmicas curriculares até então hegemônicas, voltadas à aptidão física e às
concepções higienista, militarista e esportivista.
De acordo com Coletivo de Autores (2009, p. 55), ‟[…] os movimentos
renovadores da educação física se caracterizam pela presença de princípios, em torno do
ser humano, sua identidade e valor, tendo, como fundamento, os limites e interesses do
homem, surgindo como crítica a determinadas correntes”.
Esse movimento buscou legitimar a educação física escolar com uma nova visão
ligada a teorias críticas da educação, que se aproximam da discussão com as relações
sociais, culturais, valores humanistas, o respeito às diferentes identidades, a diversidade
39
Até os anos de 1980, a Educação Física brasileira constitui-se o currículo e ensino basicamente pela
prática de atividades físicas, fundadas em métodos ginástico e desportivo que visam à manutenção da
saúde – entendida somente em seus aspectos biofisiológicos – ou a educação psicomotora, com uma
concepção pedagógica de cunho tecnicista (ORTIGARA, 2002).
197
e competir mais, num mercado dito pautado na aparência pela igualdade, liberdade e
fraternidade, eram alguns dos objetivos que norteavam o currículo e ensino da educação
física escolar, mesmo sendo consolidadas em diferentes épocas e apresentadas de
diversas formas.
A educação física era considerada uma mera atividade neutra e a-histórica
voltada a atividades físicas biomecânicas de repetição de movimentos, que tinham
importância mercadológica para ajudar no desenvolvimento do sistema do capital.
“Nessa linha de raciocínio, pode-se constatar que o objetivo é desenvolver a aptidão
física. O conhecimento que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades
corporais que lhe permitam atingir o máximo rendimento de sua capacidade física”
(COLETIVO DE AUTORES, 2012, p. 37). Recaíam em proposições e determinações
no currículo e ensino que legitimavam a hegemônica burguesa como o individualismo, a
competitividade, mas mascarados por mecanismos ideológicos que naturalizavam todo
o contexto violento.
Uma onda de adequação do ser humano como indivíduo puramente biológico à
sociedade econômica, em razão dos ditames do capital, é formulada com base em um
ideal de ‟corpo mercadoria”. Tudo em nome da saúde, da ordem e do progresso do
mercado. ‟Entre os mecanismos por eles utilizados, destaca-se a Educação física,
disciplinadora dos corpos e da vontade... apologia da saúde física como
responsabilidade individual” (SOARES, 2001, p. 135). Os exercícios físicos mecânicos
e repetitivos eram a fonte das tendências dentro do reducionismo biologicista. Era
proposto, nas dinâmicas curriculares, um desenvolvimento puramente anatômico e
fisiológico do corpo e do movimento orientado para adaptação de acordo com as
mudanças das reestruturações das forças produtivas.
Evidenciar os aspectos da biologização e naturalização do homem e da
sociedade se faz necessário, uma vez que a educação física, no século XIX,
constitui-se, basicamente, a partir de um conceito anatomofisiológico do
corpo e dos movimentos que esta realiza. O seu referencial estará carregado
de intenções como: regenerar a raça, fortalecer a vontade, desenvolver a
moralidade e defender a pátria. As ciências biológicas e a moral burguesa
estão na base de suas formulações práticas. Desta forma, torna-se
indispensável frisar que o espaço dado à educação física, neste período,
significou disciplinarização de movimentos, domesticação, pois se configura
como mais um canal, absolutamente dominado pela burguesia, para veicular
o seu modelo de corpo, de atividade física, de saúde... a sua visão de mundo
(BRACHT, 1997, p. 49).
207
relações sociais, fruto das atuais lutas de classes e relações de poder. Ao irmos à raiz
dessa nova tendência da educação física, observa-se que não tem nada de novo, são
novas roupagens da ideologia liberal e do positivismo com novos componentes e
mecanismos complementares presentes no pensamento pós-moderno.
[...] filha do liberalismo e do positivismo, deles absorveu o gosto pelas leis,
pelas normas, pela hierarquia, pela disciplina, pela organização da forma. Do
liberalismo, forjou suas “regras” para os esportes modernos (que, não por
acaso, surgiram na Inglaterra), dando-lhes a aparência de serem “universais”
e vencer na vida pelo seu próprio esforço. Do positivismo, absorveu, com
muita propriedade, sua concepção de homem como ser puramente biológico e
orgânico, ser que é determinado por caracteres genéticos e hereditários, que
precisa ser “adestrado”, “disciplinado”. Um ser que se avalia pelo que
resiste.(SOARES, 2001, p. 49).
40
Livro escrito em 1843, orientado à crítica a filosofia alemã, principalmente aos neohegelianos. Ver “A
sagrada família ou a crítica da crítica crítica contra Bruno Bauer e consortes”. São Paulo, Boitempo,
2011.
214
para as pessoas, esmagadas pela máquina de triturar que com sua engrenagem
composta pelo fetichismo da mercadoria e alienação do trabalho, violenta-as
de forma subliminar em seus íntimos recônditos (MASCARENHAS, 2015, p.
54).
Acreditamos, com base nas contradições das relações sociais e nos fundamentos
teórico-metodológicos da perspectiva ontológica de educação, na possibilidade de
construção de novos caminhos para o currículo e o ensino da educação física escolar
para além dos componentes, mecanismos e elementos ideológicos e de violência
subliminar de um currículo fetiche. De acordo com Saviani (2012a),
[...] imbuído dessa concepção, trata-se de penetrar no interior dos processos
pedagógicos, reconstruindo suas características objetivas e formulando as
diretrizes pedagógicas que possibilitarão a reorganização do trabalho
educativo sob os aspectos das finalidades e objetivos da educação, das
instituições formadoras, dos agentes educativos, dos conteúdos curriculares e
dos procedimentos pedagógicos-didáticos que movimentarão um novo éthos
educativo voltado à construção de uma nova sociedade, nova cultura, um
novo homem (p. 81).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
concepção de que o objeto, o sujeito e a vida do ser social são frutos da vontade e
consciência humana permeada por ideologias.
A formação dos seres humanos, como seres sociais, foi compreendida como
produto estabelecido na historicidade da vida social produtiva, dentro da relação entre o
homem e a natureza, o indivíduo e a sociedade, a objetividade e a subjetividade, o
sujeito e o objeto, o particular e a totalidade. Nesse sentido, demonstramos que a
educação, como objeto da ontologia, compõe o ser, refina e aprofunda o caráter social
humano, reelabora finalidades da vida produtiva, dissemina os saberes objetivos, a
cultura e cria novas formas e conteúdo de sociabilidade, que se manifestam, tanto na
singularidade genérica quanto na individualidade do ser social. O pôr teleológico e o par
dialético apropriação e objetivação são elementos constitutivos do trabalho e as células
geradoras da vida social, do desenvolvimento e da complexificação da educação, como
práxis social, manifestam-se, na educação escolar e no currículo, que, por sua vez, é
parte constitutiva do ser social.
Percebemos que a educação e a educação escolar somente se manifestam na
realidade permeada por determinadas ideologias de classe. A ideologia, na essência do
conceito, foi aprendida, nesta pesquisa, como parte constitutiva da formação do ser
social, uma elaboração de prévia-ideação da realidade, no momento ideal do pôr
teleológico, forma-se na consciência e manifesta-se nos conflitos sociais, no
desenvolvimento do pensamento humano sobre a realidade. Trata-se de um conceito
erigido nas lutas de classe e nas relações de poder, que institui visões de mundo,
constitui a consciência e a concepção dos indivíduos singulares sobre a totalidade
social, materializa-se nas ações na realidade concreta, nas reações às perguntas advindas
da prática social e dos conflitos socioeconômicos, travados na produção material e não-
material, bem como no processo de objetivações e apropriações.
Configura-se, assim, um cenário educacional escolar que se direciona no sentido
em que a classe dominante constrói a ideologia e a classe dominada tende a se apropriar
e reproduzir essa ideologia como se fosse sua e única. Vimos que, atualmente, a classe
dominante é pautada pela ideologia do sistema do capital que implica a educação
escolar e o currículo. Logo, o currículo fetiche constitui e é constituído por
componentes e mecanismos ideológicos que corroboram para que os interesses da classe
dominante sejam propagados e os princípios do capital legitimados e expandidos.
226
dos problemas mais difíceis de ser enfrentado talvez seja, justamente, o desafio de
propiciar uma formação que amplie a consciência dos professores. Em nosso trabalho
de análise das entrevistas, vimos que é candente a necessidade de que o professor de
educação física compreenda a importância da relação teoria e prática. Acreditamos que
essa compreensão passa, necessariamente, pela apropriação de uma concepção de
formação e desenvolvimento humano, pelo domínio dos conhecimentos específicos da
área e pelo domínio de conhecimentos pedagógico-didáticos.
Acreditamos que, mesmo diante das atuais condições de precarização e
intensificação do trabalho docente, devemos tentar construir novas possibilidades e
condições para o trabalho com o currículo e o ensino para além do relativismo. Iniciar
uma luta, desde o cotidiano da sala de aula até os cursos de formação inicial e
continuada, insistir na formação de grupos de estudos e na realização de pesquisas em
parceria com as instituições de formação.
A pesquisa que realizamos sobre o currículo e o ensino de educação física na
rede estadual de Goiás, leva-nos a considerar que se faz urgente uma ‟guerra de
posição” frente à determinadas concepções e práticas curriculares e de ensino que, na
aparência, são consideradas críticas e progressistas, mas que, na essência, desvalorizam
o conhecimento dos professores e levam a uma formação frágil; esta, possivelmente,
levará o estudante a reproduzir princípios que levam à desumanização. Chegamos nestas
considerações finais com a consciência de que, para ser um bom professor, inclusive de
educação física, precisamos ter muito conhecimento e não a negação da razão e da
teoria e a exaltação do pragmatismo.
A maioria dos professores e professoras que foram sujeitos desta pesquisa
confirmam a concepção pragmática de formação que perpassa por todos os cursos de
licenciatura, de que os cursos têm muita teoria e pouca prática. No entanto, o que nossa
pesquisa revela é que há pouca teoria nos cursos, pois os professores não estão
conseguindo compreender a realidade em que realizam seu trabalho e, se não a
compreendem, não conseguem transformá-la.
O currículo deve continuar a ser uma temática de preocupação entre nós,
professores e pesquisadores. Isso se dá, principalmente, em razão das contínuas
reestruturações do sistema do capital, das transformações de seus mecanismos
ideológicos, da criação de novos elementos de violência subliminar e da forte tendência
230
REFERÊNCIAS
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Boitempo, 2010.
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__________. O debate contemporâneo das teorias pedagógicas. In: MARTINS, Lígia
Márcia; DUARTE, Newton (Orgs). Formação de professores limites contemporâneos e
alternativas necessárias. São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2010.
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. São Paulo, SP: Boitempo, 2013.
__________. Crítica da filosofia do direito de Hegel. 3 Ed. São Paulo, SP: Boitempo,
2013a.
__________. Crítica do Programa de Gotha. São Paulo, SP: Boitempo, 2012.
__________. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da
economia política. São Paulo,SP: Ed. Boitempo, 2011.
__________. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo, SP: Boitempo, 2011a.
__________. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2010.
__________. Trabalho assalariado e capital; Salário, preço e lucro. 2 Ed. São Paulo,
SP: Expressão popular, 2010a
__________. A miséria da filosofia: resposta á filosofia da miséria do Sr. Proudhon. 1
Ed. São Paulo, SP: Expressão popular, 2009.
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ANEXOS
ATUAÇÃO PROFISSIONAL
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
I-Unidade
escolar:_______________________________________________________________
( ) 61 anos ou mais
I- Há quanto tempo atua na carreira docente? Há quanto tempo trabalha na rede? Nesta
escola? Este tempo faz diferenças nas suas atuações como professor(a)? Como?
II- Trabalha em outra(s) escola(s) ou redes? Se sim, percebe algumas diferenças nas
propostas entre as instituições e redes? Existem diferenças na concepção de educação
física e do currículo entre as escolas e as redes?
III- Quantas horas, em média, você trabalha por semana, considerando as atividades
para além da sala de aula dentro e fora da escola? Exerce outra
atividade/profissão/função fora da área educacional? Algumas dessas horas de trabalho
envolvem a questão do currículo escolar?
IV- Por que escolheu a profissão de professor? E quais as motivações para a escolha da
educação física?
V- Se pudesse teria outra profissão? Por quê? Quais as motivações atuais para o
desenvolvimento do seu trabalho?
3. FORMAÇÃO:
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I- Você achou suficiente a sua formação inicial para ingressar na carreira docente? O
que poderia ter sido melhor e quais pontos você percebeu que foram primordiais para
seu trabalho?
II-Em sua opinião, quais conhecimentos para a formação de professores você iria
propor para um bom trabalho nas escolas?
IV- Durante a sua formação teve contato com as discussões do campo do currículo e do
currículo de educação física? Achou satisfatório?
V- Você percebeu mudanças nas propostas curriculares das redes desde a sua formação
até os dias atuais? Se sim, você se lembra quais foram?
4. TRABALHO NA ESCOLA:
I- Quais são as atividades que você realiza na escola? (O que ensina e outras atividades
que realiza). Quais seus principais propósitos/objetivos?
II- Quais são os principais problemas e desafios vivenciados em seu trabalho na rede? E
nesta escola? Em sua opinião, o que é necessário para enfrentá-los?
III- Em sua opinião, o que é um trabalho educativo (ensino ou trabalho docente) ideal?
O que os alunos esperam de um professor?
IV- Qual(is) a(s) função(ões) e objetivo(s) da educação escolar? (pra rede, você,
professores e alunos)
V- O currículo proposto pela rede influência na organização do seu trabalho? Por quê?
5. CAMPO DO CURRÍCULO:
Muito obrigado por sua colaboração! Lembramos que sua participação tem total
anonimato e sigilo garantidos.