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27 de Marpenoth, Ano 1

Querido diário,
Aprendi que é assim que se deve começar um di-
ário... só não me recordo com quem exatamente...
Enfim, creio que devo me apresentar!
Sou Doutor Dominique Veltstra Sternvoch
Lange, mas acredito que apenas Dominique seja mais
do que suficiente.
Começo a escrever este diário sem a promessa de
fazê-lo todos os dias, pois não tenho o tempo e muito
menos a paciência para tanto.
Mas acredito que anotar algumas coisas venha a
ser importante futuramente, uma vez que minha me-
mória não é uma das melhores...
Estou viajando rumo a uma cidadezinha à Oeste
com um nome engraçado.
Ouvi rumores sobre estarem precisando de um es-
pecialista na área.
Novas oportunidades?
Talvez...
Verei o que me aguarda quando chegar lá.

Cavalo bonitinho
18 de Nightal, Ano 1

Querido diário,
A cidadezinha era realmente pequena, pratica-
mente uma vila no meio do nada, rodeada por areia e
mato.
Quando cheguei, senti algo no peito, um aperto e
cócegas ao mesmo tempo... bem estranho...
Fui recebido por dois gentis cavalheiros. Um deles
era maior e vestia armadura, enquanto o outro, ma-
gricela e cabeçudo, ficou me encarando com um sorriso
bobo nos lábios.
Ambos empunhavam espadas e pareciam não to-
mar banho há dias, pois o aspecto e cheiro eram de
matar...
Imaginei que fossem os guardas da cidade, então
me dirigi diretamente até eles.
Eles foram bem prestativos e educados.
O magricela tomou as rédeas de meu cavalo, di-
zendo que o levaria para os estábulos.
O outro me guiou próximo a fogueira em uma
espécie de “sala receptiva”.
Era uma estrutura grande de metal enferrujado,
com grades estreitas e, imagino eu que um pouco de
sangue manchava o chão... ou era sopa de tomate?
Eu adoro sopa de tomate, principalmente se tiver
alho e manjericão... hmmmm...
Enfim, me senti bem protegido, na verdade.
Só não entendi muito bem porquê ele amarrou
meus braços e pernas.
Quando o magricela retornou, os dois conversa-
ram por alguns minutos enquanto me estudavam com
os olhos.
Fiquei esperando eles entrarem em um acordo,
seja lá o que estivessem discutindo, enquanto batia
meus pés no ritmo de uma música que lembrei.
Por fim, um terceiro apareceu para falar comigo.
Ele era bem afeiçoado e parecia tomar banho re-
gularmente, além de sua armadura estar menos suja...
um pouco...
Começou a se forçar para falar em palavras re-
buscadas, mas eu não entendi quase nada do que ele
estava tentando dizer.
Apenas concordei com a cabeça quando ouvi: “pre-
cisamos de um médico, você pode nos ajudar?”
E assim comecei a trabalhar no porão de uma
casa grandona e nobre.
Mas antes de tudo, precisei fazer uma bela lim-
peza porque o lugar estava imundo... e claro, tomar
um banho quente e relaxante.
28 de Nightal, Ano 1

Querido diário,
Já faz uma semana que os cavalheiros me acolhe-
ram e, aparentemente, há muitas pessoas doentes
nesta cidade, mesmo que, de fato, eu não tenha per-
missão para vê-las... o que dificulta um pouco meu
trabalho.
Estou produzindo muitos analgésicos, pomadas e
chá.
O chá é para mim, na verdade... de camomila.
Eles não gostam de chá, o que me deixa intrigado.
Recentemente, o cavalheiro bem afeiçoado per-
guntou se eu conseguiria produzir algo com um in-
grediente específico que ele arranjara.
Assim que abriu a bolsinha que carregava no
cinto, imediatamente reconheci a flor de beladona.
Como um bom alquimista, expliquei exatamente
as propriedades da planta, seus estágios, toxidade e
usos.
Pela forma que ele sorriu, acredito que tenha en-
tendido plenamente minhas explicações, e pediu que eu
produzisse algo “para afastar os pensamentos ruins”,
pois a população estava muito agitada.
Adverti que o calmante provido da beladona é ex-
tremamente forte e que deveria ser administrado em
dosagens muito pequenas. Crianças nem deveriam
pensar na possibilidade de beber algo assim.
Ele assentiu, dizendo que traria mais algumas
flores e qualquer outro ingrediente que eu precisasse.
Bem... como ele se mostrou entusiasmado, eu fiz
uma simples listinha:
> Cáscara-sagrada
> Dente-de-leão
> Erva-cidreira
> Echinacea
> Louro
> Malva
> Tomilho
> Unha-de-gato
> Valeriana
> Alfazema
> Camomila
> Canela
> Alecrim
> Arnica
> Babosa
> Calêndula
10 de Flamerule, Ano 2

Querido diário,
Havia esquecido de atualizar meus registros aqui,
mas acredito que você, como um pedaço de couro com
alguns papeis costurados possa me perdoar...
Não é?
Enfim... tenho trabalhado muito durante esses
meses em que estive ausente. Os senhores parecem
mais confiantes comigo e até permitem que eu faça
caminhadas pelo bosque nas proximidades para coletar
cogumelos e outros ingredientes que encontro.
Uma vez me distanciei um pouco e acabei levando
uma flechada no joelho. Um dos senhores veio cor-
rendo, perguntando o que eu estava fazendo e eu res-
pondi que tinha sido atacado enquanto pegava algu-
mas flores de arnica.
Ele me ajudou a levantar, mas insisti que os
agressores ainda poderiam estar por perto. Com um
sorriso estranho o homem disse que poderiam ser
goblins e que, caso eles se aproximassem, ele “daria
um jeito”.
Acredito que as princesas das histórias se senti-
riam protegidas com aquele discurso breve e confesso
que, embora eu tenha ficado um pouco lisonjeado,
ainda não tinha certeza do tamanho daqueles goblins,
uma vez que a flecha era exatamente do tamanho das
flechas presentes na aljava do senhor que me socor-
rera.
De qualquer forma, retornamos para a cidade e
comecei o meu próprio tratamento, pois eu sou o único
que tem o mínimo de conhecimento médico por aqui.
Algumas semanas de repouso, muitas xícaras de
chá e já me sinto disposto novamente.
De volta ao trabalho!
02 de Ches, Ano 2

Querido diário,
Hoje, enquanto trabalhava em algumas poções,
ouvi uns chiados baixinhos, adoráveis eu diria. Foi en-
tão que comecei a minha super busca para descobrir
do que se tratava e, após horas revirando o cômodo,
encontrei um pequeno buraco na parede... quase im-
perceptível.
Abaixei-me com um pouco de dificuldade e vi algo
felpudo guinchando lá dentro. Não consegui distinguir
exatamente o que era, mas acredito que seja um pe-
queno roedor.
Vou colocar algumas sobras do meu café-da-ma-
nhã para ele. Quem sabe eu não consiga um novo
amigo para me fazer companhia...
13 de Ches, Ano 2

Querido diário,
Fazem alguns dias desde que estou tentando ga-
nhar a confiança do meu pequeno hóspede e, mesmo
que lentamente, sinto que estou fazendo progresso.
Consegui vê-lo fora da toca por um breve ins-
tante. Seu corpo é realmente minúsculo, mas é bem
gordinho, os pelos são dourados e os grandes olhos ne-
gros refletem tudo.
Percebi que ele gostou muito do meu cereal, prin-
cipalmente do trigo.
Vou começar a colocar mais alguns ramos próxi-
mos de sua toca...
30 de Ches, Ano 2

Querido diário,
Venho apresentar a você: Alphonsine, minha mais
nova assistente e companheira noturna.

Ela ama trigo

Depois de conquistar sua confiança, ela começou a


andar pela sala mais livremente, subindo no meu om-
bro até.
Ensinei a ela que não se deve comer meus livros,
muito menos minhas anotações... espero que ela não
tenha comido nenhuma tão importante, pois não me
lembro mais...
Pedi um livro de biologia para um dos cavalheiros
e, mesmo que não fosse o volume certo, ainda assim
encontrei algumas informações que me foram úteis.
Descobri que Alphonsine é uma camundonga, pois
sua pelagem e estrutura física revelaram sua “femi-
nilidade” ... se é que se pode dizer assim.
É fundamental que ela tenha alimento e água
frescos, além de um ambiente limpo e saudável para
se exercitar.
Arrumei o laboratório para que ela tenha muitas
aventuras em seu pequeno mundinho, além de provi-
denciar os grãos mais saborosos possíveis.
Os dias estão sendo muito mais proveitosos, uma
vez que tenho com quem conversar...
Espero cuidar bem desta pequenina.
(Várias páginas foram removidas, deixando somente
rastros de papel rasgado)
17 de Kythorn, Ano 3

Querido diário,
Há alguns dias conheci uma Elfa extremamente
gentil e inteligente, seu nome é Kalya Elkalyn, uma
viajante de terras distantes, assim como eu.
Seu objetivo é entregar um bastão para seu dono,
o Sr. Sol. Acredito que deve ser um cavalheiro muito
inteligente também, pois a poção de magia que ele
guardou no bastão é muito boa... espero conhecê-lo
para descobrir a receita...
Como ela não tinha uma rota definida e estava
seguindo seus instintos, dei-lhe a ideia de viajarmos
até Águas Profundas, pois lá é um lugar bem movi-
mentado e eu conheço alguém que talvez possa ajudá-
la.
Conheço?
Seu nome me fugiu da mente agora... acho que ti-
nha algo a ver com bolo... eu gosto de bolo!
Talvez eu lembre quando chegarmos lá.
Enfim, enquanto viajamos, Srta. Elkalyn está
sendo muito prestativa em me ensinar a língua élfica.
Anoto aqui algumas palavras que mais gostei:
Arael – Coração
Arivae – Luz do sol
Daoin/Daoine – Estrela/Estrelas
Ebrath – Amigo (a)
Evaliir – Música
Faer – Magia
Gyrah – Pássaro
Laranlas – Senhora nobre
Veluthe – Belo (a)

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