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TRF-1 AC 00047489820094013200 5fd04
TRF-1 AC 00047489820094013200 5fd04
RELATÓRIO
Apela a autora, alegando que: a) “ao fazer constar no edital de abertura do PSC/2009
as datas para matrícula dos convocados em repescagem, bem como o local para a realização desta,
a UFAM deixou claro que tais atos integram o processo seletivo, devendo ser regidos pelas regras do
referido edital, que, por sua vez, prevê que quaisquer editais, normas complementares e avisos
oficiais sobre o Concurso serão publicadas pela COMVEST”; b) agindo assim, a ré “cria para si, por
ato próprio, referida obrigação de publicação, existindo justa e legítima expectativa daqueles que
participam do certame a esse respeito”, “não podendo tal violação ser suprida pela publicação de
edital em jornal de grande circulação”; c) tal obrigação também decorre da “regra de respeito e
vinculação ao edital”, no qual não há “qualquer dispositivo que embase a distinção feita pela UFAM
entre atos a serem publicados no site da COMVEST e atos a serem publicados única e
exclusivamente nas páginas da PROEG ou da UFAM”, que, “unilateralmente, modificou o
procedimento para publicação de editais relativos ao concurso”; d) “o administrador não pode, a seu
bel prazer, determinar a não publicação de dada informação” enquanto há dispositivo nesse sentido,
sendo-lhe vedado “se valer de qualquer expediente astucioso de interpretação para fugir da
aplicação das regras editalícias”; e) tal arbitrariedade “gerou danos concretos e de larga extensão à
autora, pois devido única e exclusivamente à divulgação falha, esta perdeu o prazo para a efetivação
de sua matrícula”; f) o edital “é ato normativo editado pela administração pública para disciplinar a
realização do vestibular, estando subordinado à lei”; g) o “edital explicitou as regras que regeriam o
relacionamento entre a UFAM e os candidatos a uma vaga em um dos seus cursos”; h) “quaisquer
alterações deveriam ser seguidas de comunicação aos candidatos através de nova publicação a ser
feita através dos mesmos veículos nos quais o edital original fora publicado”; i) “o poder público
encontra-se sujeito às regras do edital em um grau superior ao dos candidatos, visto ter elaborado os
seus termos e escolhido o seu conteúdo”; j) “a ré também acabou por violar princípio da moralidade,
na medida em que não primou pela boa-fé”, sendo que os “interessados no vestibular jamais
tomaram conhecimento de que as dadas para a matrícula dos convocados na terceira repescagem
não seriam publicadas pela CONVEST, mas diretamente pela UFAM”; k) “a convocação para
matrícula no vestibular na véspera da data marcada para sua realização é ato desprovido de
razoabilidade, pois desconsidera a necessidade de um lapso temporal maior” para publicidade.
Foram apresentadas contrarrazões.
É o relatório.
VOTO
Observa-se que a alteração do período para matrícula feita pelo Edital n. 25/2008 (fls.
83-86 e 117-122) não foi divulgada no mesmo veículo que publicou o Edital n. 24 (abertura do
certame).
Por oportuno e curioso, destaco o seguinte trecho trazido pela própria ré, tanto na
manifestação de fls. 64-73 quanto na contestação (fls. 136-145):
... Aliás, já entendeu o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em decisões
bem recentes, que a publicação da forma pretendida pela Autora (apenas
pela Internet, que considera ‘meio adequado”) é que não atende ao princípio
da publicidade. Veja-se:
“ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. ENSINO SUPERIOR.
APROVAÇÃO EM VESTIBULAR. MATRÍCULA INTEMPESTIVA.
DIVULGAÇÃO EXCLUSIVAMENTE PELA INTERNET. PERDA DO
PRAZO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.
CARACTERIZAÇÃO.
I - Comprovado nos autos que a perda do prazo fixado pela instituição de
ensino para a realização da matrícula, em virtude de aprovação em regular
processo seletivo, deu-se por circunstâncias alheias à vontade da aluna,
uma vez que a convocação para a referida matrícula ocorreu
exclusivamente pela internet, não há dúvida de que, além de violar o
princípio da publicidade, impede aos candidatos carentes o acesso à
universidade, como na hipótese dos autos.
II - Apelação e remessa oficial desprovidas. Sentença mantida”.
(TRF 1ª Região, 6ª T., AC 00635000176375/GO, ac. unânime, publ. E-
DJF1 de 16/02/2009)
Por outro lado, diz o Aviso de Edital referente à terceira repescagem, de fls. 83-85:
Para efetivar a Matrícula Institucional o candidato classificado deverá:
a) No período de 02 a 03 de março de 2009, preencher o CADASTRO
ESTUDANTIL, conforme instruções do instituto.
Ocorre que tal documento foi publicado no jornal somente em 03/03/2009 (fl. 83), ou
seja, no último dia para cumprimento da providência exigida para matrícula, fato que fere os
princípios constitucionais da publicidade, legalidade e razoabilidade.
Como se vê, houve vício na divulgação das informações necessárias para a efetivação
da matrícula, o que redundou na perda do prazo para preenchimento da vaga por parte da autora.
A Lei n. 9.784/1999, embora fale de processo administrativo, na verdade regula a
atividade processual da Administração, disciplinando, inclusive, o processo burocrático, como o caso
de matrícula de estudante em universidade pública.
A forma de comunicação dos atos administrativos está disposta no art. 26 da referida
lei, exigindo-se meio que assegure a ciência do interessado. Apenas “no caso de interessados
indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido” é prevista intimação por meio de
publicação em jornal.
Por outro lado, julgou esta Corte, em situação semelhante: “1. O simples
aborrecimento ou incômodo pessoal não é suficiente para resultar em indenização por dano moral.
Precedentes. 2. Não logrou o postulante demonstrar grave ofensa à sua imagem, decorrente de
situação vexatória a que tenha sido publicamente exposto, apta a dar ensejo ao pleiteado dano
moral”(AC 200733000062830, Rel. Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma,
e-DJF1 de 30/04/2012).
Não vislumbro o cabimento de indenização por danos morais, porquanto cuida-se de
mero dissabor a que todos os usuários estão sujeitos.
Dou parcial provimento à apelação tão somente para permitir a matrícula pretendida
pela autora.