Você está na página 1de 4

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO fls.1/4


APELAÇÃO CÍVEL 0004748-98.2009.4.01.3200 (2009.32.00.004818-0)/AM

RELATÓRIO

Trata-se de ação ordinária ajuizada com o objetivo de se declarar “nulos os atos


administrativos praticados pela UFAM que impediram a matrícula da autora, quais sejam a
publicação errônea do edital de convocação e o registro de sua falta no sistema do PROEG”.
Na sentença, foi julgado improcedente o pedido, “extinguindo o feito com resolução do
mérito, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil”, condenando-se a autora ao
pagamento de honorários advocatícios de R$ 500,00, cuja exigência fica suspensa, nos termos do
art. 12 da Lei n. 1.060/50.
Considerou a juíza sentenciante:
Durante a instrução do feito, não houve a juntada de documentos ou
produção de outras provas capazes de alterar a situação posta nos autos ou
mesmo o convencimento deste Juízo acerca dos fatos e do direito pleiteado.
Sendo assim, os argumentos esposados na decisão de fls. 102/104
permanecem válidos e passam a integrar também as razões de decidir (...).
(...) a turma na qual a Autora estaria atrelada, acaso tivesse efetivado a sua
matrícula em 2009, já está no terceiro ano de aulas. Ademais, após o
ocorrido, outros processos seletivos para a UFAM já ocorreram, tendo tido a
Autora a oportunidade de ingressar naquela instituição (...).
Desta feita, também não se justifica o pleito de pagamento de danos morais,
já que o prejuízo alegado decorreu unicamente de ato da própria Autora.

Apela a autora, alegando que: a) “ao fazer constar no edital de abertura do PSC/2009
as datas para matrícula dos convocados em repescagem, bem como o local para a realização desta,
a UFAM deixou claro que tais atos integram o processo seletivo, devendo ser regidos pelas regras do
referido edital, que, por sua vez, prevê que quaisquer editais, normas complementares e avisos
oficiais sobre o Concurso serão publicadas pela COMVEST”; b) agindo assim, a ré “cria para si, por
ato próprio, referida obrigação de publicação, existindo justa e legítima expectativa daqueles que
participam do certame a esse respeito”, “não podendo tal violação ser suprida pela publicação de
edital em jornal de grande circulação”; c) tal obrigação também decorre da “regra de respeito e
vinculação ao edital”, no qual não há “qualquer dispositivo que embase a distinção feita pela UFAM
entre atos a serem publicados no site da COMVEST e atos a serem publicados única e
exclusivamente nas páginas da PROEG ou da UFAM”, que, “unilateralmente, modificou o
procedimento para publicação de editais relativos ao concurso”; d) “o administrador não pode, a seu
bel prazer, determinar a não publicação de dada informação” enquanto há dispositivo nesse sentido,
sendo-lhe vedado “se valer de qualquer expediente astucioso de interpretação para fugir da
aplicação das regras editalícias”; e) tal arbitrariedade “gerou danos concretos e de larga extensão à
autora, pois devido única e exclusivamente à divulgação falha, esta perdeu o prazo para a efetivação
de sua matrícula”; f) o edital “é ato normativo editado pela administração pública para disciplinar a
realização do vestibular, estando subordinado à lei”; g) o “edital explicitou as regras que regeriam o
relacionamento entre a UFAM e os candidatos a uma vaga em um dos seus cursos”; h) “quaisquer
alterações deveriam ser seguidas de comunicação aos candidatos através de nova publicação a ser
feita através dos mesmos veículos nos quais o edital original fora publicado”; i) “o poder público
encontra-se sujeito às regras do edital em um grau superior ao dos candidatos, visto ter elaborado os
seus termos e escolhido o seu conteúdo”; j) “a ré também acabou por violar princípio da moralidade,
na medida em que não primou pela boa-fé”, sendo que os “interessados no vestibular jamais
tomaram conhecimento de que as dadas para a matrícula dos convocados na terceira repescagem
não seriam publicadas pela CONVEST, mas diretamente pela UFAM”; k) “a convocação para
matrícula no vestibular na véspera da data marcada para sua realização é ato desprovido de
razoabilidade, pois desconsidera a necessidade de um lapso temporal maior” para publicidade.
Foram apresentadas contrarrazões.
É o relatório.

TRF-1ª REGIÃO/IMP.15-02-04 Desembargador Federal João Batista Moreira


/conversion/tmp/activity_task_scratch/576981741.doc
Criado por Adalberto
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO fls.2/4

APELAÇÃO CÍVEL 0004748-98.2009.4.01.3200 (2009.32.00.004818-0)/AM

VOTO

Como fundamento da sentença, foi transcrito trecho da decisão em que indeferido o


pedido de liminar, que diz:
... como bem argumentou a Ré, a competência para a matrícula dos
aprovados no exame em questão é da Pro-Reitoria de Ensino e Graduação –
PROEG e não da COMVEST, que cuida apenas da realização da seleção do
certame, o que se encerra com a divulgação da lista dos aprovados.
Eventuais convocações para repescagem são feitas pela PROEG e, no caso
específico da 3ª chamada que incluía a autora, o edital foi publicado em jornal
de grande circulação (...) e na página da instituição (...) que, aliás, é o portal
no qual se encontra o link para a COMVEST, que não possui site autônomo
(...).
E nada mais correto que publicar na página da UFAM, uma vez que o Edital
do concurso do PSC/2009 não é da COMVEST, mais sim, da instituição (...).
Assim, entendo não ter havido violação dos princípios da publicidade, da
legalidade, da moralidade ou qualquer outro vício capaz de justificar a perda
do prazo da matrícula da Autora.

Consta do Edital n. 024/2008, em questão (fls. 39-40):


6 – DA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS
6.1 – A relação final dos candidatos classificados será divulgada nos veículos
de comunicação da cidade de Manaus, afixada na sede da COMVEST,
enviada a cada município participante e disponibilizada na página
www.comvest.ufam.edu.br, tão logo sejam concluídos os serviços
necessários à obtenção dos resultados.
...
7.17 – A COMVEST divulgará, sempre que necessário, editais, normas
complementares e avisos oficiais sobre o concurso.
...
8.3 – Se houver candidatos aprovados e classificados que deixarem de
efetuar sua Matrícula Institucional, será divulgada uma lista de candidatos
para o preenchimento destas vagas (repescagem). A matrícula Institucional
dos candidatos que preencherão essas vagas será efetuada nos dias 03 a 05
de fevereiro de 2009, no Auditório Eulálio Chaves, Campus Universitário,
Setor Sul.
8.4 – Todos os candidatos aprovados e classificados deverão antes da
matrícula Institucional preencher o Cadastro Estudantil, disponibilizado na
página www.proeg.ufam.edu.br no período de 07 a 15.01.2009. (grifei)

Alega a UFAM, na manifestação de fls. 64-73:


O Aviso de Edital de Matrícula Institucional relativo à Terceira Repescagem
foi publicado no jornal de maior tiragem e circulação do Estado do Amazonas
(“A Crítica”), edição do dia 03 de março de 2009, remetendo-se a uma lista
divulgada na página da UFAM na Internet, na qual constava o nome da
Autora. Esta, entretanto, não compareceu para se matricular em nenhum dos
dois dias seguintes (04 e 05 de março de 2009), informados no Aviso de
Edital, razão pela qual perdeu o direito à vaga (...). (grifei)

TRF-1ª REGIÃO/IMP.15-02-04 Desembargador Federal João Batista Moreira


/conversion/tmp/activity_task_scratch/576981741.doc
Adalberto
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO fls.3/4

Observa-se que a alteração do período para matrícula feita pelo Edital n. 25/2008 (fls.
83-86 e 117-122) não foi divulgada no mesmo veículo que publicou o Edital n. 24 (abertura do
certame).
Por oportuno e curioso, destaco o seguinte trecho trazido pela própria ré, tanto na
manifestação de fls. 64-73 quanto na contestação (fls. 136-145):
... Aliás, já entendeu o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em decisões
bem recentes, que a publicação da forma pretendida pela Autora (apenas
pela Internet, que considera ‘meio adequado”) é que não atende ao princípio
da publicidade. Veja-se:
“ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. ENSINO SUPERIOR.
APROVAÇÃO EM VESTIBULAR. MATRÍCULA INTEMPESTIVA.
DIVULGAÇÃO EXCLUSIVAMENTE PELA INTERNET. PERDA DO
PRAZO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.
CARACTERIZAÇÃO.
I - Comprovado nos autos que a perda do prazo fixado pela instituição de
ensino para a realização da matrícula, em virtude de aprovação em regular
processo seletivo, deu-se por circunstâncias alheias à vontade da aluna,
uma vez que a convocação para a referida matrícula ocorreu
exclusivamente pela internet, não há dúvida de que, além de violar o
princípio da publicidade, impede aos candidatos carentes o acesso à
universidade, como na hipótese dos autos.
II - Apelação e remessa oficial desprovidas. Sentença mantida”.
(TRF 1ª Região, 6ª T., AC 00635000176375/GO, ac. unânime, publ. E-
DJF1 de 16/02/2009)

“(...) APROVAÇÃO EM VESTIBULAR. CONVOCAÇÃO PARA A


MATRÍCULA REALIZADA EXCLUSIVAMENTE PELA INTERNET. PERDA
DO PRAZO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE.
1. A divulgação exclusivamente pela internet dos prazos para a realização
da matrícula dos alunos viola o princípio da publicidade, por impedir aos
candidatos carentes a sua ciência, como no caso da apelada.
2. Sentença confirmada (...)”
(TRF 1ª Região, 6ª T., AMS 2006.35.00.014185-0/GO, ac. unânime, publ.
DJ de 03/12/2007)

Por outro lado, diz o Aviso de Edital referente à terceira repescagem, de fls. 83-85:
Para efetivar a Matrícula Institucional o candidato classificado deverá:
a) No período de 02 a 03 de março de 2009, preencher o CADASTRO
ESTUDANTIL, conforme instruções do instituto.

Ocorre que tal documento foi publicado no jornal somente em 03/03/2009 (fl. 83), ou
seja, no último dia para cumprimento da providência exigida para matrícula, fato que fere os
princípios constitucionais da publicidade, legalidade e razoabilidade.
Como se vê, houve vício na divulgação das informações necessárias para a efetivação
da matrícula, o que redundou na perda do prazo para preenchimento da vaga por parte da autora.
A Lei n. 9.784/1999, embora fale de processo administrativo, na verdade regula a
atividade processual da Administração, disciplinando, inclusive, o processo burocrático, como o caso
de matrícula de estudante em universidade pública.
A forma de comunicação dos atos administrativos está disposta no art. 26 da referida
lei, exigindo-se meio que assegure a ciência do interessado. Apenas “no caso de interessados
indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido” é prevista intimação por meio de
publicação em jornal.

TRF-1ª REGIÃO/IMP.15-02-04 Desembargador Federal João Batista Moreira


/conversion/tmp/activity_task_scratch/576981741.doc
Adalberto
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO fls.4/4

Nesse sentido a jurisprudência desta Corte: “Constando do Edital do Processo


Seletivo, como na hipótese, que as informações relativas aos prazos e requisitos para matrícula
seriam divulgadas tanto no sítio oficial da instituição ‘quanto na imprensa local’, a convocação
exclusivamente pela internet para a realização da matrícula dos alunos excedentes viola o princípio
da publicidade, por não permitir a todos os candidatos a sua ciência” (REOMS 0003530-
87.2009.4.01.3700/MA, Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, 6ª Turma, e-DJF1
30/09/2011). Na mesma acepção: REOMS 200435000036896, Rel. Desembargador Federal João
Batista Moreira, Quinta Turma, DJ de 12/05/2005.
Confiram-se outros precedentes desta Turma:
... 1. Mantém-se a matrícula de estudante que perdeu o prazo para ingresso
em Universidade, visto que sua convocação, em terceira chamada, deu-se
apenas via site da instituição de ensino e listas afixadas nas suas
dependências, muito embora o próprio edital do certame previsse o "contato
individual com cada candidato selecionado da segunda chamada em diante,
para efeito de comunicação de resultado". Além disso, não houve publicação
no Diário Oficial, como também estava previsto no regulamento do exame
vestibular. Aplicação dos princípios da publicidade, razoabilidade e vinculação
ao edital.
2. Apelação da FUB e remessa oficial desprovidas.
(AMS 200834000277840, Rel. Desembargador Federal Fagundes de Deus, e-
DJF1 de 29/07/2011)

... 1. Tem direito à matrícula em instituição de ensino superior o candidato


que, convocado em 6ª chamada, dela não teve conhecimento em razão de
ineficaz publicação do ato, seja porque não havia previsão editalícia de sua
realização, seja pelo fato de a mesma ter ocorrido cinco meses após a última
chamada definida no edital.
2. Em tais situações, cabe à instituição de ensino a ampla e eficaz divulgação
do edital de convocação, inclusive com a comunicação direta dos
interessados, sob pena de violação aos princípios da razoabilidade e da
publicidade.
3. Remessa oficial improvida.
(REOMS 200341000049113, Rel. Juiz Federal Convocado Marcelo Velasco
Nascimento Albernaz, DJ de 13/09/2004)

Por outro lado, julgou esta Corte, em situação semelhante: “1. O simples
aborrecimento ou incômodo pessoal não é suficiente para resultar em indenização por dano moral.
Precedentes. 2. Não logrou o postulante demonstrar grave ofensa à sua imagem, decorrente de
situação vexatória a que tenha sido publicamente exposto, apta a dar ensejo ao pleiteado dano
moral”(AC 200733000062830, Rel. Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma,
e-DJF1 de 30/04/2012).
Não vislumbro o cabimento de indenização por danos morais, porquanto cuida-se de
mero dissabor a que todos os usuários estão sujeitos.
Dou parcial provimento à apelação tão somente para permitir a matrícula pretendida
pela autora.

TRF-1ª REGIÃO/IMP.15-02-04 Desembargador Federal João Batista Moreira


/conversion/tmp/activity_task_scratch/576981741.doc
Adalberto

Você também pode gostar