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1.

Discussão

- Cabimento de ação rescisória em face de sentença/acórdão


na qual houve condenação do reclamante ao pagamento de
honorários sucumbenciais, tendo por fundamento a decisão do STF
sobre o tema. Incidência do art. 525, §§12 a 15 do CPC.

3. Doutrina:

Consoante se fundamentou na decisão acima, cabível a ação


rescisória para rescindir sentença condenatória que tenha por base
lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF.
As regras do art. 525, §§12 a 15, do CPC, subsidiam a
utilização do instrumento processual para tanto.
Destacam-se lições doutrinárias a respeito:

Sempre foi controvertida a doutrina quanto à situação de haver


certa decisão sobre a qual pese autoridade de coisa julgada,
decidida com base em lei que, posteriormente, seja tida como
inconstitucional, pelo controle concentrado ou difuso, pelo
supremo Tribunal Federal. Hoje, a lei disciplina expressamente
esta situação quando a decisão rescindenda é título executivo
(art. 525, §§12 a 15 do CPC e art. 535, §§5º e 8º). O CPC/15 trata
da possibilidade de rescisória também quando a lei for declarada
inconstitucional pelo STF em controle difuso. Entretanto, a
rescindibilidade abrange quaisquer sentenças, não só as que se
consubstanciam em título executivo. Desde, é claro, que não
tenha havido modulação. Cogita-se, aqui, da possibilidade de
tal sentença ser rescindida com base na alegação de violação
à norma jurídica, quando a lei aplicada tenha sido,
posteriormente, declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, em ação direta de inconstitucionalidade.
Como observamos, esta questão só se coloca se o STF não tiver
declarado que a sua decisão, naquele caso, deve produzir efeitos
ex nunc. Se esta declaração tiver ocorrido, o problema não se põe
(art. 27 da Lei 9.868/99).
[...]
O prazo para ação rescisória com base na declaração de
inconstitucionalidade da lei em que se fundamenta a decisão
rescindenda é de dois anos, a contar da decisão da ADI, desde
que o prazo total não ultrapasse cinco anos, conforme já fizemos
referência no Capítulo 3, item 3.1.2.4., aos arts. 525, § 15 e 535 §
8º.
(ARRUDA ALVIM, Teresa. Ação Rescisória e Querella
Nullitatis: Semelhanças e Diferenças. 2ª Ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2020. pp. 311-312)

Quanto ao prazo para ajuizamento da ação rescisória,


apontam-se, ainda, as seguintes considerações a respeito:

O §15 do art. 525 e o § 8º do art. 535 do CPC prescrevem uma


regra especial de contagem de prazo para a ação rescisória, no
caso de a decisão rescindenda estar em desarmonia com a
orientação do Supremo Tribunal Federal em tema de jurisdição
constitucional – decisão essa considerada aqui como decisão
paradigma.
[...]
A decisão do Supremo Tribunal Federal deve ter sido
proferida após o trânsito em julgado da decisão rescindenda.
A desarmonia entre a decisão rescindenda e o Supremo
Tribunal Federal revela-se, assim, depois da coisa julgada.
Se essa desarmonia é congênita – a decisão rescindenda
transitou em julgado já em dissonância com a orientação do
Supremo Tribunal Federal -, o caso é mais simples e dispensa
ação rescisória: a obrigação reconhecida na sentença é
considerada inexigível, sendo possível que, em impugnação ao
cumprimento de sentença, alegar essa inexigibilidade (art. 525, §§
12 e 14, e art. 535, §§ 5º e 7º).
A distinção é plenamente justificável. É preciso dar mais proteção
à coisa julgada que surgiu em um momento anterior à decisão do
Supremo Tribunal Federal.
Sobre o assunto, ocorreu um fato curioso. O STF,
ainda no período da vacatio do CPC-2015, teve de
enfrentar esse tema e chegou à conclusão idêntico,
valendo-se do regramento do CPC-2015, como mais
um argumento decisório: se a decisão do STF é
posterior à coisa julgada, o caso é de ação
rescisória. Mais um exemplo de eficácia persuasiva
do CPC-2015 no seu período de vacância.
O prazo para o ajuizamento dessa ação rescisória conta-se a
partir do trânsito em julgado da decisão do Supremo Tribunal
Federal . Há, aqui, uma regra especial para o início da contagem
do prazo: em vez de começar a fluir da data em que a decisão
rescindenda transitou em julgado, o prazo começa a correr da
data em que a decisão paradigma transitou em julgado (DIDIER
JR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito
Processual Civil. V. 3 . 15 Ed. Salvador: Editora Juspodium, 2018.
pp. 546/553)
4. Discussão

Atendidas as considerações doutrinárias a respeito, conclui-se


não haver discordância quanto à possibilidade de ajuizamento da
ação rescisória para rescindir título executivo fundado em lei ou ato
normativo declarado inconstitucional pelo STF.

Para tanto, aplica-se a sistemática apregoada pelos §§ do art.


525 do CPC.

Observa-se, ainda, que o prazo decadencial para ajuizamento


da ação deve ser contado a partir do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo STF, em controle concentrado ou difuso.

Há que se considerar, ainda, que eventual modulação dos


efeitos da decisão proferida por aquela corte pode alterar o marco
inicial do prazo decadencial, ou até mesmo inviabilizar a hipótese
de ação rescisória, no caso de os efeitos da Lei inconstitucional
serem temporalmente preservados para regrar as relações jurídicas
anteriores.

Sobre o tema, destaca-se a jurisprudência das cortes


superiores:

[...]

IV. As teses com efeito vinculante e eficácia erga


omnes , fixadas pelo STF, tanto em julgamento de ação de
controle concentrado de constitucionalidade, como em
controle difuso, em sistemática de repercussão geral, geram
efeito rescisório em relação às decisões judiciais
supervenientes, ou seja, as proferidas após a fixação da tese
pelo STF, caso em que é preciso a interposição de recurso
próprio, inclusive embargos de declaração, para aplicação da
tese (Tema RG/STF 360 - RE 611503, Relator: Min. TEORI
ZAVASCKI, Relator p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 20/08/2018, DJe-053 de 19/03/2019; ED-
AgReg-Rcl 15724, Red. Min. Alexandre de Moraes, DJE 151, de
17/06/2020 e AgR, Relator: Min. Alexandre de Moraes, Primeira
Turma, julgado em 15/04/2020, DJe-118 de 13/05/2020), sob
pena de formação de coisa julgada inconstitucional. Para as
decisões com trânsito em julgado anteriores ao julgamento
pelo Supremo Tribunal, o efeito rescisório deve ser aplicado
pela ação rescisória, nos termos do § 15 do art. 525, para as
execuções entre particulares, e art. 535, § 8º, do CPC, para as
execuções contra a Fazenda Pública. Inteligência das teses
firmadas nos Temas 360 e 733 da Tabela de Repercussão
Geral. V. O efeito vinculante e a eficácia erga omnes também se
aplicam às hipóteses de medidas cautelares decididas pelo
Plenário do STF em ações de controle de constitucionalidade, nos
termos do art. 11, § 1º, da Lei nº 9.868/1999. VI. Sob esse
enfoque, adota-se o entendimento de que a fixação de tese com
efeito vinculante e eficácia erga omnes pelo STF, tanto em ação
de controle concentrado de constitucionalidade quanto em
controle difuso , em sistemática de repercussão geral, gera efeito
rescisório: (a) para os processos em curso, pela interposição de
recurso próprio, inclusive embargos de declaração (Tema RG/STF
360 - RE 611503, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Relator p/
Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
20/08/2018, DJe-053 de 19/03/2019. Vide: ED-AgReg-Rcl 15724,
Red. Min. Alexandre de Moraes, DJE 151, de 17/06/2020 e AgR,
Relator: Min. Alexandre de Moraes, Primeira Turma, julgado em
15/04/2020, DJe-118 de 13/05/2020) ; (b) para os processos em
fase de execução, pela arguição de inexigibilidade da obrigação,
por embargos à execução, impugnação ou exceção de pré-
executividade, se a decisão transitou em julgado após a fixação
da tese pelo STF, na forma dos arts. 525, §§ 12 e 14, 535, §§ 5º e
7º do CPC/2015 (com seus correspondentes do CPC/1973: art.
741, parágrafo único, do CPC, do art. 475-L, § 1º ), e 884, § 5º, da
CLT; ou (c) mediante propositura de ação rescisória, se a decisão
transitou em julgado antes da fixação da tese pelo STF (§ 15 do
art. 525 e § 8º do art. 535 do CPC/2015) . VII. No caso dos autos ,
a Reclamante ajuizou reclamação trabalhista, pretendendo a
condenação do Reclamado ao pagamento de parcelas
trabalhistas . Em sentença, afastou-se a arguição de
incompetência da Justiça do Trabalho, " ante a ausência de
demonstração cabal da existência de regime jurídico próprio ". Ao
analisar o recurso ordinário interposto pelo Reclamado, o Tribunal
Regional manteve o entendimento quanto à competência da
Justiça do Trabalho, contrariando a interpretação conforme, fixada
pelo STF. O agravo de instrumento em recurso de revista do
Reclamado foi conhecido e desprovido, operando-se o trânsito em
julgado em 25/02/2016 , ou seja, após o julgamento, pelo Plenário
do Supremo Tribunal Federal, da medida cautelar na ADI nº
3.395/MC (Rel. Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em
05/04/2006 , DJ 10/11/2006). Em fase de execução de sentença,
o Juízo de Primeiro Grau e a Corte Regional rejeitaram
novamente a arguição de incompetência da Justiça do Trabalho
para julgar o presente feito, sob o fundamento da imutabilidade da
coisa julgada. VIII. Assim sendo, adotando-se o fator
cronológico objetivo previsto no Tema nº 360 da Tabela de
Repercussão Geral ( trânsito em julgado após a decisão do
STF ), há de se declarar a inexigibilidade da obrigação
fundada em sentença exequenda que deixou de aplicar
entendimento do STF. Ao afastar do caso concreto a
incidência do 535, §§ 5º e 7º, do CPC e do art. 884, § 5º, da
CLT, a Corte Regional decidiu em desconformidade com o
entendimento sedimentado nos Temas nº 360 e 733 da Tabela
de Repercussão Geral do STF, violando, desse modo, o art.
114, I, da CF, com a interpretação conforme atribuída pela ADI
nº 3.395/DF. IX. Não viola a garantia da coisa julgada o
reconhecimento da eficácia rescisória quando a decisão tenha
descumprido precedente do STF, julgando contrariamente à tese
firmada pelo seu Plenário, pois os dispositivos do art. 535, § 5º,
do CPC, bem como o do § 5º do art. 884 da CLT, já declarados
constitucionais (ADI 2.418, Relator Min. TEORI ZAVASCKI,
Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2016, DJe-243 de 17/11/2016), "
buscam harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da
Constituição, agregando ao sistema processual brasileiro, um
mecanismo com eficácia rescisória de sentenças revestidas de
vício de inconstitucionalidade qualificado ". X. Recurso de revista
de que se conhece e a que se dá provimento" (RR-1485-
35.2013.5.22.0101, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz
Ramos, DEJT 09/10/2020).

Ressalte-se que o acórdão paradigma do TST, acima


colacionado, destaca três hipóteses de efeitos rescisórios, a
depender do momento em que a sentença, fundada em lei
inconstitucional, foi proferida:

1) Processos em curso:

O questionamento da matéria inconstitucional deve se dar


pela interposição de recurso próprio, inclusive embargos de
declaração;

2) Processos em fase de execução

Pela arguição de inexigibilidade da obrigação, por embargos


à execução, impugnação ou exceção de pré-executividade, se a
decisão que se fundou em lei inconstitucional transitou em
julgado após a fixação da tese pelo STF, na forma dos arts. 525,
§§ 12 e 14, e 884, § 5º, da CLT;

Destaque-se a possibilidade de alegação em embargos à


execução, pelo art. 884 da CLT.

Com efeito, o STF estabeleceu tese por ocasião do


julgamento do Tema de repercussão geral 360 - STF - RE 611503,
reconhecendo que a alegação de inexigibilidade do título pode se
dar mediante a via de embargos de execução, na hipótese de a
sentença exequenda ser posterior ao trânsito em julgado da
declaração de inconstitucionalidade:

São constitucionais as disposições normativas do


parágrafo único do art. 741 do CPC, do § 1ºdo art. 475-L,
ambos do CPC/73, bem como os correspondentes
dispositivos do CPC/15, o art.525, § 1º, III e §§ 12 e 14, o
art. 535, § 5º. São dispositivos que, buscando harmonizar
a garantia da coisa julgada com o primado da
Constituição, vieram agregar ao sistema processual
brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de
sentenças revestidas de vício de inconstitucionalidade
qualificado, assim caracterizado nas hipóteses em que (a)
a sentença exequenda esteja fundada em norma
reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar norma
inconstitucional, seja por aplicar norma em situação ou
com um sentido inconstitucionais; ou (b) a sentença
exequenda tenha deixado de aplicar norma
reconhecidamente constitucional; e (c) desde que, em
qualquer dos casos, o reconhecimento dessa
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade tenha
decorrido de julgamento do STF realizado em data
anterior ao trânsito em julgado da sentença
exequenda.

(RE 611503 - Repercussão Geral – Mérito - Órgão


julgador: Tribunal Pleno - Relator(a): Min. TEORI
ZAVASCKI - Redator(a) do acórdão: Min. EDSON
FACHIN - Julgamento: 20/08/2018 - Publicação:
19/03/2019)

Nesse sentido, o seguinte julgado:

[...]

3 - Encontram-se exaustivamente declinados no acórdão


embargado os fundamentos pelos quais o agravo de instrumento
não reunia condições de provimento, valendo destacar os
seguintes trechos: "Contudo, no caso concreto, o trânsito em
julgado do título executivo ocorreu após os julgamentos do
STF sobre a licitude da terceirização, e, diante desse
contexto, o TRT declarou a inexigibilidade do título executivo,
com base nos artigos 884, § 5º, da CLT, e 525, § 12, do CPC,
assentando que ' o julgamento proferido pelo STF ressalvou os
processos nos quais tenha operado a coisa julgada na data do
referido julgamento (30/08/2018), o que não é o caso dos autos,
pois o trânsito em julgado do presente feito ocorreu em
01/03/2019'. Esse posicionamento está em conformidade com os
seguintes julgados proferidos por esta Corte Superior: (...)" (fls.
1545-1546). Concluiu-se, assim, que " não há falar em ofensa
literal e direta ao artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição da
República nos moldes exigidos no artigo 896, § 2º, da CLT" (fl.
1550).

4 - Desse modo, não se constata omissão no julgado capaz de


justificar a oposição dos presentes embargos de declaração.

(ED-AIRR-11479-55.2017.5.03.0011, 6ª Turma, Relatora Ministra


Katia Magalhaes Arruda, DEJT 24/09/2021).

3) Ação rescisória,

No caso de a decisão transitar em julgado antes da fixação da


tese pelo STF (§ 15 do art. 525 e § 8º do art. 535 do CPC/2015),
estando o processo em fase de execução ou não.

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