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By Infood
Como era
Quando entrei na gastronomia profissional, não tínhamos muitos objetivos a longo prazo.
Cozinheiros e cozinheiras procuravam chefes de cozinha em busca da técnica, do
aprendizado, da experiência… Nossa cabeça voltava-se para o procedimento. E, nas
rodas de conversa, sentados em latas de gordura vegetal, restaurantes estrelados,
chefes inovadores, equipamentos, utensílios e sonhos profissionais misturavam-se em
assuntos que nos levavam longe, 2 minutos depois da mise en place completa e 10
minutos antes das portas do restaurante abrir.
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Acredito sinceramente que nos preparamos para justamente o presente que vivemos.
Pois desta vida onde muitos começaram na pia e foram para o fogão, o que ficou foi a
experiência do fazer. Mas faltava alguma coisa, e nós sabíamos disso. E agora,
encontramos o que faltava, que é a responsabilidade com quem nos permite cozinhar: os
produtores.
Responsabilidades
E todo nosso mundo se voltou para o início da cadeia. Fomos até lá para conhecermos o
produto e encontramos um tesouro. Pessoas incríveis, com trajetórias de vidas
memoráveis, que lutam diariamente para sobreviver. Engolidas por uma realidade que
até então se importava mais com o resultado do que com o processo, baseada em uma
monocultura agrícola voltada para o lucro.
Somos guardiões destas famílias e destas histórias. Somos o elo da mesa com o campo
e o mar. Estar na cozinha é só uma das formas de expressão. Não somos meros
fazedores de comida boa. As técnicas são estruturais dentro da cozinha profissional,
mas sem a História, a gastronomia se transforma em um produto simplório e estéril.
Diariamente provamos fatos físicos, químicos e biológicos dentro de uma cozinha. Não
havíamos ainda entendido nosso papel antropológico. Agora entendemos. Um(a)
cozinheiro(a), antes de mais nada é um(a) contador(a) de história. Das muitas narrativas
que envolvem a representatividade do alimento na cadeia produtiva, sendo um agente
modificador de economias locais, apresentando novas possibilidades de hábitos
alimentares de forma sustentável e responsável.
Inserir o aluno no seu contexto social e promover possibilidades de mudança, por saber
seu futuro papel na cadeia produtiva é uma das grandes responsabilidades da educação
em gastronomia. Chega de somente alimentar o mercado com a necessidade de uma
força de trabalho especializada. O aluno e o professor precisam sair da sala de aula.
Tomar para si a responsabilidade do seu entorno, promovendo o mapeamento para
compra de produtos regionais (objetivando suas aulas práticas) e parcerias para aulas
de campo. Fazendo o aluno conhecer e valorizar a produção dos alimentos. Esta
medida, além de promover a economia local, transforma instituições de ensino em
patrocinadores de cultura alimentar. Afinal, esta responsabilidade é de todos.
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