Quebrando fronteiras, um

cristianismo multicultural e
plurissocial
Por TercerAngel -20 de fevereiro de 2021

“Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de

Cristo Jesus, e nosso irmão Sóstenes, para a igreja de Deus que
está em Corinto, para aqueles que foram santificados em Cristo
Jesus e chamados para ser seu povo santo, juntos com todos os
que em toda parte invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor deles e de nós: Deus nosso Pai e o Senhor Jesus
Cristo vos dêem graça e paz. "

No istmo que conecta o Peloponeso e a Grécia

continental, a atual Corinto foi construída cercada
pela planície costeira de Vocha a oeste, as
montanhas Gerania a leste, as montanhas Oneia a
sul e os Velo-Vocha, Nemea, Argos- Comunidades
micênicas, Nauplia, Epidaurus e Loutraki Agii
Theodori.

Sua chave estratégica era o Diolkos, uma antiga

rota de sulco e transporte terrestre que permitia
que os navios fossem transportados através do
Istmo de Corinto, do Golfo de Corinto (Mar Jônico)
ao Golfo Sarônico (Mar Egeu), ou vice-versa,
evitando o perigosa circunavegação do Peloponeso,
especialmente do Cabo Malea, tão temido por suas
fortes tempestades.

Periandro, tirano de Corinto, buscou uma solução que tornasse o

transporte entre o mar Jônico e o Egeu mais barato, rápido e
menos perigoso… os diolkos: uma rota terrestre que cruzava o
istmo no ponto mais estreito para unir os dois mares. Foi
construída uma estrada asfaltada de calcário de 6 quilômetros de
extensão, com largura de 10 metros na parte que desaguava no
mar e entre 3 metros e meio e 6 metros, nos trechos
intermediários. Como os trilhos de um trem, ele tinha 2 ranhuras
paralelas a uma distância de um metro e meio entre elas ao
longo de todo o diolkos.

A atual Corinto, 78 quilômetros a oeste de Atenas, é

cercada, no sentido horário, por Lechaio, Isthmia,
Kechries, Examilia e a antiga Corinto, uma cidade-
estado que data do início do século VIII aC. C.,
comandado pela família Bacchiad, mais tarde por
Cypselus e seu filho Periandro, conhecido como
Tiranos.

Então veio a aliança com Esparta dentro da Liga do

Peloponeso, o divórcio de Esparta, a Liga Aqueana e
em 146 aC. C., Corinto foi completamente
saqueada e destruída pelo exército romano.
Reconstruída em 44 AC, era a capital
administrativa da província da Acaia, a cidade
conhecida pelo Apóstolo Paulo, destruída por um
terremoto em 1858 DC. Novamente reconstruída,
foi devastada por um incêndio em 1928 DC.
Novamente reconstruída, em 1933 ocorreu
novamente um grande incêndio. No entanto, hoje
existe um Corinto.

A sociedade
O 1 º. A Epístola aos Coríntios foi escrita por Paulo
de Tarso, da cidade de Éfeso, como uma carta à
comunidade cristã da cidade.

Eram dias por volta da Páscoa em 54 DC. e Paulo

estava em uma viagem missionária que já fazia três
anos, e ele planejava visitar a Macedônia e depois
voltar a Corinto.

Em Éfeso, ele recebeu perguntas dos cristãos

coríntios, talvez por meio de Estéfanas, Fortunato e
Acaico.
O apóstolo escreveu a uma igreja multirracial e
multiclasse composta de judeus e gentios, escravos
e livres, a quem Paulo advertiu que suas reuniões
"fazem mais mal do que bem" porque a Ceia do
Senhor havia reforçado as divisões
socioeconômicas entre eles. Alguns comeram
demais. Outros não tinham absolutamente nada.

"Em primeiro lugar, ouvi dizer que, quando vocês se

reúnem como igreja, há divisões entre vocês e, até
certo ponto, eu acredito. Certamente, deve haver
grupos sectários entre vocês, para mostrar quem
tem a aprovação de Deus. Quando se encontram,
não é mais para comer a Ceia do Senhor, porque
cada um vai adiante para comer o seu próprio
jantar, de modo que uns ficam com fome enquanto
outros se embriagam. Não têm casa para comer e
beber? Ou será que eles menosprezam a igreja de
Deus e querem envergonhar os que não têm nada?
O que devo dizer a eles? Vou elogiá-los por isso?
Claro que não! "
1ª Coríntios 11: 18-22

Michael J. Rhodes explica, em um artigo publicado

na revista 'Studies in Christian Ethics' - um artigo
intitulado 'Organizando as cadeiras na comunidade
amada', reproduzido em Christianity Today - que
para entender a crítica de Paulo, devemos
considerar a maneira como a comida funcionava na
sociedade coríntia. A cidade tinha uma hierarquia
definida, uma escala social e econômica específica.
A posição de uma pessoa nessa escala dependia de
seu capital social.

A obtenção de um desses rótulos facilitou a

obtenção das oportunidades econômicas e da rede
social da qual sua sobrevivência poderia depender.

Em Corinto, as refeições comunais eram uma

maneira importante de as pessoas reivindicarem
seu lugar na escada ou mesmo subir um degrau.

Mas Paulo declara que tal comportamento não

deve ocorrer na comunidade cristã.

"Irmãos, considerem sua própria vocação: muitos

de vocês não são sábios, pelos padrões meramente
humanos; nem muitos são poderosos nem muitos
de origem nobre. Mas Deus escolheu a loucura do
mundo para envergonhar os sábios e escolheu os
fracos do mundo para envergonhar os poderosos.
Deus também escolheu os mais baixos e
desprezados, e o que não é nada, para anular o que
é, de modo que em sua presença ninguém se glorie.
1ª Coríntios 1: 26-29
Em Éfeso, Paulo respondeu a indagações que de Corintos talvez
Estéfanas ou Fortunato ou Acaicus ou todos os três reuniram, e
esse foi o motivo da carta.

O corpo
Paulo não pretende dissolver aquela igreja
multirracial e multiclasse, nem reduzir o papel que a
comida desempenha em sua vida comunitária, mas
exige que eles "acolham uns aos outros" na forma
como celebram.

"Portanto, meus irmãos, quando vos reunirdes para

comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tiver
fome, coma em casa, para que as vossas reuniões
não sejam dignas de condenação."
1ª de Coríntios 11: 33-34

Rhodes, palestrante do Antigo Testamento no Carey

Baptist College e pastor assistente na Downtown
Church, uma igreja multiétnica em Memphis,
explica: "No jargão da hospitalidade, o verbo grego
traduzido como 'esperar' pode se referir a dar boas-
vindas a alguém, semelhante a como podemos falar
de alguém no ramo de hospitalidade 'servindo' às
mesas. Como a igreja de Corinto 'acolheria uns aos
outros'? "

Isso é reforçado logo depois, quando ele os lembra

que embora sejam uma congregação étnica e
economicamente diversa, cada indivíduo é membro
do único corpo de Cristo. Os vários membros usam
seus vários dons para o bem de todos.

O fragmento é chocante e vale a pena ler na

íntegra:

«Ora, o corpo não consiste num só membro, mas

em muitos. Se o pé dissesse:« Como não sou mão,
não pertenço ao corpo », não deixaria por isso de
fazer parte do o corpo. E, se o ouvido disser: "Já que
não sou olho, não sou do corpo", isso não significa
que deixaria de ser uma parte do corpo. Se todo o
corpo fosse um olho, o que seria o ouvido? Se todo
o corpo estivesse ouvindo, qual seria o cheiro? Na
realidade, Deus colocou cada membro do corpo
como quisesse. Se todos fossem um membro, o que
seria o corpo? A verdade é que há muitos membros,
mas o corpo é apenas um.

O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de

você". Nem pode a cabeça dizer aos pés: "Não
preciso deles". Pelo contrário, os membros do
corpo que parecem mais fracos são indispensáveis,
e os que parecem menos honrados tratamos com
especial honra. E os membros que nos parecem
menos apresentáveis são tratados com modéstia
especial, enquanto os mais apresentáveis não
requerem tratamento especial. Assim, Deus
organizou os membros do nosso corpo, dando
maior honra aos que tinham menos, de forma que
não haja divisão no corpo, mas que seus membros
cuidem igualmente uns dos outros. Se um dos
membros sofre, os outros compartilham seu
sofrimento; e se um deles recebe honra, os outros
se alegram com ele. "
1ª Coríntios 12: 14-27
Rhodes: "Deus presta atenção em onde as pessoas
estão na hierarquia social, mas apenas para
privilegiar aqueles que estão na base. Por causa
disso, Paulo chama a igreja para receber uns aos
outros de uma forma que se encaixe neste arranjo
contracultural. Evitando privilegiar os socialmente
poderosos e por conceder ativamente homenagem
especial aos socialmente marginalizados, o
Corinthians se uniria para melhor, e não para pior. "

Ruínas da antiga Corinto. Em Corinto surgiu uma das mais belas

ordens arquitetônicas, bem como os princípios de medida
proporcional aplicáveis a estátuas e figuras. Mas não só a arte se
destacava, a indústria do bronze que a cidade possuía era a de
maior qualidade de sua época. Os melhores fornos de todo o
Mediterrâneo estavam lá. Afrodite era a protetora da cidade, a
deusa da beleza, amor, desejo, luxúria, sexo ... E assim era sua
cidade protegida, assim como sua deusa. Cheio de excessos
tanto na beleza quanto no tangível. Corinto foi, segundo
Pausânias, a mais idílica das cidades do período clássico.

Os desafios
Havia mais problemas na comunidade de Corinto, e
Paulo expressa isso em 11.34: "Vou colocar o resto
em ordem quando for".
Por exemplo, a questão da ressurreição, que Paulo
afirma com precisão:

“Ora, se é pregado que Cristo ressuscitou dos

mortos, como alguns de vocês dizem que não há
ressurreição? Se não há ressurreição, nem mesmo
Cristo ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou,
nossa pregação É inútil, e nem a sua fé. Além disso,
viríamos a ser falsas testemunhas de Deus por
termos testificado que Deus ressuscitou Cristo, o
que não teria acontecido se os mortos não tivessem
ressuscitado na verdade. Porque, se os mortos são
não ressuscitou, nem Cristo ressuscitou. E se Cristo
não ressuscitou, a vossa fé é ilusória e ainda estais
nos vossos pecados. 18 Neste caso, também os que
morreram em Cristo estão perdidos. Se a nossa
esperança em Cristo fosse apenas para isso vida,
seríamos os mais miseráveis de todos os mortais. "
1ª de Coríntios 15: 12-19

Talvez no centro da cena estivesse, como costuma

acontecer, o ego, a vaidade, a ausência de amor,
que causa divisões:
“Eu imploro, irmãos, em nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, que todos vivam em harmonia e que
não haja divisões entre vocês, mas que
permaneçam unidos na mesma mente e no mesmo
propósito. Eu digo isto, meu irmãos, porque alguns
familiares de Chloe me informaram que existem
rivalidades entre vocês. Quero dizer que uns dizem:
"Eu sigo o Pablo", outros dizem: "Eu, Apolo",
outros: "Eu, Cefas" e outros: "Eu, para Cristo. "
Quão! Cristo está dividido? Paulo foi crucificado por
você? Ou eles foram batizados em nome de Paulo?
Graças a Deus não batizei nenhum de vocês, exceto
Crispo e Gaius, então ninguém pode dizer que
foram batizados em meu nome. Bem, eu também
batizei a família de Stefanas; Fora isso, não me
lembro de batizar mais ninguém. "
1ª de Coríntios 1: 10-16

Mas o assunto era complexo.

Óscar López, presidente da Igreja Adventista do

Sétimo Dia na Espanha, escreveu na Revista
Adventista: "Corinto tinha um grande porto
marítimo onde os marinheiros de todo o mundo se
reuniam, atraídos não apenas pelo comércio, mas
também pelos prazeres sexuais que prostitutas
sagradas de Afrodite oferecian aos visitantes. Nessa
próspera cidade marítima, Paulo fundou uma igreja
cristã. Ser cristão em uma cidade assim pede e
exige ajustes constantes. É um terreno familiar para
muitos de nós. Crentes em um ambiente hostil. No
caso de Corinto , uma igreja cristã em território
idólatra. "

Uma prévia disso aparecerá um pouco mais tarde:

“Já é de domínio público que existe entre vocês um

caso de imoralidade sexual que nem mesmo entre
os pagãos é tolerado, a saber, que um de vocês tem
a esposa de seu pai por esposa. E disso você se
orgulha! em vez disso, lamentou o que aconteceu e
expulsou aquele que fez tal coisa de entre vocês? "
1ª de Coríntios 5: 1-2
Paulo: “Os judeus pedem sinais milagrosos e os gentios buscam
sabedoria, enquanto pregamos a Cristo crucificado”.

A solidariedade
Óscar López, em seu artigo 'A uma Igreja peculiar,
uma carta espetacular', aponta: “Em uma cidade
como Corinto onde a religião consistia em se
prostituir e onde as heteras exibiam suas
qualidades e habilidades como companheiras, Pablo
diz que o fato que um convivia com a mulher do seu
pai é indigno até do mundo gentio. O problema não
é o crime, mas a hipocrisia de quem o comete. Não
há pecados mais ou menos graves, há atitudes mais
ou menos condenáveis.

(…) Pablo não aponta para fora, mas olha para

dentro. Muitos cristãos gostam de falar sobre a
imoralidade do mundo. Há uma sensação de bem-
estar quando falamos sobre como os outros fazem
as coisas mal. Sentimo-nos bem, protegidos,
especiais e melhores quando vemos como os outros
são imorais. Mas Paulo afirma o seguinte: “Não
quero dizer que vos separais dos imorais deste
mundo ... antes vos escrevo para que não vos unais
com aqueles que, chamando-se irmãos, são imorais,
gananciosos, idólatras, malditos , bêbados ou
ladrões "(1 Coríntios 5: 10-11).

Paulo insiste em um Jesus que transcende o

sociocultural. E afirma a necessidade de
permanecer nesse modelo:
“Os judeus pedem sinais milagrosos e os gentios
buscam sabedoria, enquanto pregamos a Cristo
crucificado. Esta mensagem é causa de tropeço para
os judeus, e é loucura para os gentios, mas para
aqueles a quem Deus chamou, os mesmos judeus
que Gentios Cristo é o poder de Deus e a sabedoria
de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que
a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais
forte do que a força humana. "
1ª de Coríntios 1: 22-25

Há mais três reflexões de Pablo que ajudam a

romper fronteiras e a se reconhecer no outro, em
tempos de crise socioeconômica para muitos, e
sócio-cultural para outros, ou para todos:

Em 8: 1-2: “Quanto ao que é sacrificado aos ídolos,

é verdade que todos nós temos conhecimento. O
conhecimento incha, enquanto o amor edifica.
Quem pensa que sabe algo ainda não sabe como
deve saber. Quem ama Deus é conhecido por ele. "
Em 10: 23-24: "" Tudo é permitido ", mas nem tudo
é benéfico." Tudo é permitido ", mas nem tudo é
construtivo. Que ninguém busque os próprios
interesses, mas os dos outros."
Em 10: 31-33: “Em conclusão, quer comais, quer
bebais, quer façais outra coisa, fazei tudo para a
glória de Deus. Não façais tropeçar a ninguém, nem
aos judeus, nem aos gentios, nem à igreja de Deus.
sim, procuro agradar a todos em tudo. Não procuro
os meus próprios interesses, mas os dos outros,
para que sejam salvos. ”