O controle de pragas e doenças de lavouras vem sendo efetuado desde que o
homem teve a percepção dessa necessidade, em virtude destas comprometerem o crescimento e o desenvolvimento vegetal, reduzindo a qualidade e especialmente a quantidade do produto a ser colhido. Grande importância tem sido dada à industria química de pesticidas desde sua instituição juntamente com o processo de modernização da agricultura no Brasil, e especialmente a partir do advento do plantio direto, baseado essencialmente no controle químico das ervas daninhas. A disponibilidade de novos pesticidas tem sido maior a cada dia, favorecendo a expansão do mercado consumidor que atinge níveis cada vez mais relevantes dentro da economia do sistema agrícola. Juntamente a isso, há a preocupação com o impacto ambiental destes produtos, especialmente no solo, já que este recebe, geralmente, os maiores volumes de pesticidas. Quando um pesticida atinge o solo poderá ser transformado pelos processos físico, químicos ou biológicos. O conhecimento destes mecanismos ou processos é importante para que se possa controlar a persistência do pesticida e minimizar seus efeitos deletérios ao meio ambiente, pois, por mais específico que o produto seja, provavelmente afetará outros organismos além do inseto, fungo, bactéria, vírus ou planta que são alvo de controle (MUSUMECI, 1992). As características do pesticida e as condições ambientais determinarão a persistência do produto. A volatilidade é um dos indicativos da persistência do pesticida no ambiente, este pode se mover através dos poros do solo como um gás volátil dependendo da pressão de vapor do composto, da sua adsorsão aos colóides do solo, da sua solubilidade, da intensidade dos ventos, da temperatura ambiente e do teor de água existente no solo. As perdas por volatilização podem ser confundidas com as perdas de pesticidas por fotodegradação em função das dificuldades na diferenciação de ambas. O mecanismo de fotodegradação ou fotodecomposição é desencadeado quando a molécula do pesticida absorve a energia da radiação solar excitando os seus elétrons, podendo ocorrer a ruptura de ligações e inativação da molécula (DEUBER, 1992). Além disso, em casos de solo seco as moléculas de pesticidas adsorvidas ou depositadas sobre as pequenas partículas do solo, podem ser arrastadas pelo vento. Em áreas de topografia inclinada os pesticidas são passíveis de serem arrastados pelo deflúvio, especialmente em solos argilosos e muito argilosos, nos quais a infiltração da água é mais lenta e difícil (DEUBER,1992). Outros processos como a oxidação, redução, hidrólise, e a formação de complexos são formas de degradação química dos pesticidas (LANGENBACH, 1994). A reatividade química dos mesmos dependerá de fatores como o teor de água no solo, o pH, a temperatura e o teor de oxigênio, de modo que altos teores de água favorecem a hidrólise (DEUBER, 1992), alguns valores de pH podem favorecer a ionização (THEISEN, 1998), bem como, a elevação da temperatura tende a acelerar a degradação, e o teor de oxigênio determinará se as reações serão aeróbicas ou anaeróbicas. O pesticida no solo também poderá estar sujeito ao fluxo descendente de água do perfil, ou ao processo de lixiviação (MATTOS, 1999). O tipo de solo influi significativamente na lixiviação dos pesticidas em função dos diferentes teores e tipos de argila, além do teor de matéria orgânica, que determinarão a capacidade adsortiva dos solos. Em geral, solos com elevados teores de argila e matéria orgânica apresentam uma maior Capacidade de Troca de Cátions (CTC), o que contribui para a maior persistência do pesticida no solo, em função da maior adsorção deste aos colóides orgânicos e minerais, reduzindo, entretanto, a quantidade de produto na solução do solo, e, conseqüentemente, diminuindo a quantidade de produto sujeita a lixiviação e contaminação das águas subterrâneas (RIEDER, 2000; MORAES, 2000; PAES, 1999; PAULO, 1986/91; SILVA, 1981; FONTES, 1980). Considerando-se a atuação dos pesticidas sobre os microrganismos do solo, esta pode ser vista de duas formas: os agrotóxicos suprimirem as populações ou funções das comunidades, como por exemplo o efeito dos inseticidas organoclorados sobre o crescimento populacional das bactérias gram negativas no solo (LANGENBACH, 1995); ou, os microrganismos metabolizarem os compostos químicos diminuindo sua atividade ou alterando seu período de persistência no solo, neste sentido os microrganismos podem usar os pesticidas como fonte de nutrientes, como no caso do herbicida ametryne, que fornece energia e nitrogênio aos fungos e bactérias do solo (DEUBER, 1992). Dessa forma, a dissipação dos pesticidas no solo, depende da interelação dos diversos fatores constituintes do meio ambiente em que este se encontra e das características intrínsecas da molécula do produto.
Referências bibliográficas:
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