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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar aspectos da historiografia da
Instrução Pública no município de Ji-Paraná/RO tendo como recorte temporal o final da
década de 1930 até meados da década de 1980. Os recortes apresentados nesse estudo,
traduzem-se na apreciação dos documentos capazes de anunciar o número de escolas
criadas na época em questão, as instituições responsáveis pela efetivação das mesmas, a
presença de homens e mulheres à frente da educação e a localização das escolas nos
projetos de assentamentos criados nesse período. Para construção da pesquisa utilizou-
se os seguintes recursos metodológicos: entrevistas, análise de documentos de época e
imagens que retratam as experiências com educação na região.
1
- Até o ano de 1943 o território que constitui o Estado de Rondônia pertencia ao Estado de Mato Grosso.
O Presidente Getúlio Vargas através do Decreto-Lei 5.812 de 13 de setembro de 1943 criou 5 (cinco)
territórios federais entre eles o Território Federal do Guaporé. Na ocasião este território era constituído
Segundo Menezes (1983) conta-se que um grupo de pessoas estimulado pela
grande seca que assolou a região Nordeste, entre 1877 e 1880 aportou nas terras que
hoje formam o município de Ji-Paraná. Para a ocupação da área, a exemplo dos rios
Madeira e Guaporé; eles utilizaram o rio Machado (Ji-Paraná) que serviu como estrada
para constituir o processo de interiorização desse espaço amazônico. Os primeiros
habitantes estabeleceram-se na confluência do Rio Urupá, formando a primeira
povoação, denominada Urupá2. O povoado servia de base para o abastecimento
daqueles que residiam no local e região, principalmente seringueiros e garimpeiros,
atraídos pela extração da borracha proveniente da floresta nativa e por pedras preciosas
como o diamante.
O jornalista João Vilhena apresenta em seu livro “Os Pioneiros”, diversos fatos
históricos relacionados à constituição do município de Ji-Paraná, o autor utiliza relatos
de muitos pioneiros que aqui chegaram desde o ano de 1912; segundo Vilhena (1999),
em 1914 com a construção da Linha Telegráfica; Marechal Rondon levantou na
localidade uma estação telegráfica e denominando-a Presidente Afonso Pena,
inaugurando em 14 de dezembro do mesmo ano. O autor destaca que aos poucos a
população local foi incorporando o nome “Presidente Afonso Pena” ao povoado.
Menezes (1983) assinala que o município de Ji-Paraná pertencia ao município de
Porto Velho, do qual foi desmembrado através e da Lei nº 6.448, de 11 de outubro de
1977 quando foi emancipado. De acordo com o autor a Vila de Rondônia foi sede dos
seringais de M. Corbaxo e Cia., Assensi e Cia., “que determinou aquele fabrico de
Urupá3 e os seringais Itapirema, de Antonio Mariano do Lago que transferiu a partir daí
para diversos outros proprietários4.
Segundo Menezes (1983),
Teve seu início como povoação com o estendimento da Linha
Telegráfica, serviço executado por Mariano Rondon que ali chegou
em 1909 implantando a estação que denominou de Estação Presidente
Pena, em homenagem ao então Presidente Afonso Augusto Moreira
Pena. Essa Estação foi localizada à jusante do rio Urupá e à margem
esquerda do rio Ji-Paraná. Era uma edificação tosca coberta de olhos
por 4 (quatro) municípios sendo eles: Lábrea, Porto Velho, Santo Antônio do Madeira e Guajará-Mirim.
Nesse sentido, o povoado de Presidente Afonso Pena ficou pertencendo ao município de Santo Antônio
do Madeira, sendo elevado, a categoria de Distrito de Vila de Rondônia como assegurava a Lei 7470 de
17 de abril de 1945. No ano de 1977 através do Decreto-Lei nº 6448, de 11 de outubro foi elevado a
categoria de município passando a se chamar Ji-Paraná.
2
Ver Hugo (1991, p.276) que destaca “O povoado de Rondônia chamou-se outrora Presidente Afonso
Pena e ainda Urupá por causa dos índios e rio homônimos.
3
- http://www.camaraji-parana.com.br/index2.php?ver_pagina=historia. Acesso em 03/03/2012.
4
- Ver Menezes (1983) que nomeia os proprietários dessa área destinada à extração da seringa na região
da Vila de Rondônia.
de palha, cuja a fotografia está no 1º livro Retalhos para a História de
Rondônia, pouco tempo depois substituída pela que ainda hoje está
edificada em adobe revestida de argamassa de cimento cobertura de
telha tipo Marselha. (MENEZES, 1983, p. 211)
5
Ver: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=ro. Acesso em 09/03/2012.
6
- Ver (PERDIGÃO & BASSEGIO, 1992, p. 175) que apontam os Estados do Paraná, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais como os estados que mais contribuíram
com migrantes para colonização do Estado de Rondônia entre os anos de 1970 e 1988.
O que dizem os documentos, as imagens e os relatos orais a respeito dos
primeiros anúncios sobre Instrução Pública na região?
7
- Grafia utilizada na língua portuguesa na década de 1930 para escrita da palavra “mixta”. Ver os
Relatórios de Instrução Pública do Estado de Mato Grosso recebidos na época.
8
- Ainda não há notícias de que a pessoa que responde pelo cargo de professor na escola identificada, se;
se trata de uma professora ou professor.
de um internato para o Ensino Rural na região. Na ocasião apresentavam para a criação
desse internato de acordo com Gomes (2006) as seguintes justificativas;
A rarefação das populações rurais;
A necessidade de concentrar despesas e fiscalização;
A conveniência de se resguardar o educando das influências
negativas de famílias desorientadas ou mal-organizadas das
comunidades rurais;
Diante da possibilidade de melhor aparelhamento ao trabalho
educacional, pretendia o governo do Território instalar internatos em
seis pontos que reunissem as seguintes condições:
Terra firme e não alagável nas cheias;
Entroncamento de vias de comunicação, maior densidade
demográfica, salubridade.
Os pontos visados seriam os seguintes:
[...]
Rondônia, (grifo meu) antigo Presidente Pena, ponto anda
não atingido pela rodovia Porto Velho - Cuiabá, em construção pela
Segunda Companhia Rodoviária Independente do Exército Nacional,
estação telegráfica em funcionamento.
[...] (GOMES, 2006, p. 87)
Menezes (1983) destaca que Padre Adolfo Ruhr9 egresso da Prelazia de Humaitá
chegou a Vila de Rondônia em 1949, além de vigário, hospedava também engenheiros e
funcionários que ajudavam na construção da BR que ligaria Porto Velho a Cuiabá.
Padre Adolfo também dava assistência de cunho religioso às povoações que localizam
desde a Vila de Rondônia à Vilhena. Nesse sentido, Padre Adolfo segundo o autor “deu
enorme contribuição ao ensino, fundando as primeiras escolas de alfabetização, onde a
seu pedido a esposa do seringalista Walmar Meira ia ministrar as aulas ao ar livre”
(p.215).
Na Revista Ji-Paraná e sua História, há uma sessão destinada a relatar os
aspectos relacionados às premissas da história da educação local, onde, destaca-se que;
9
- Ver outras obras que refere-se ao Padre Adolfo Ruhr (MENEZES, 1983) como Padre Adolfo Rohl
(REVISTA JI-PARANÁ E SUA HISTÓRIA, 2004) ou Padre Adolfo Röhl (HUGO, 1991).
Em 1957, Dona Nenê Gadelha mudou-se para Porto Velho acompanhando seu
marido que fora transferido. Para continuar o trabalho com a educação de crianças,
Dona Nenê comunicou a uma amiga (Dona Beatriz Ferreira da Silva) que solicitasse o
cargo de professora à responsável pela educação no Território Federal de Rondônia a
Professora Marise Castiel10. Dona Beatriz Ferreira da Silva atendeu ao pedido de Dona
Nenê Gadelha e enviou a carta.
[...] A carta foi levada em mão a Porto Velho por Cleide Meira, esposa
do seringalista Walmar Meira Paes de Barreto que exercia grande
influência social e política na localidade. Ao receber o pedido de Dona
Beata, e verificar a caligrafia e também o conteúdo da carta, a diretora
decidiu não só aceitar, mas também contratá-la como primeira
professora do distrito. (REVISTA JI-PARANÁ E SUA HISTÓRIA, p.
18, 2004)
10
- A Professora Marise Magalhães da Costa Castiel exerceu o cargo de diretora de Divisão de Educação
na década de 1950 atuando muitas vezes como interlocutora na solução de problemas relacionados à
educação entre o Território Federal do Guaporé e o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais.
Território Federal de Rondônia. Na ocasião, ao abrir os projetos de assentamentos o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária deveria entre outras tarefas
construir e entregar escolas para a população que passaria a residir e cultivar as terras
recebidas; além das escolas, deveria também construir poços e barracões para
armazenamento de mantimentos que resultavam das colheitas realizadas pelos
assentados. Um dossiê encontrado revela que para o PIC11 Ouro Preto foram construídas
101 (cento e uma) escolas, para o PAR12 Pirineos foram construídas 06 (seis) escolas. O
quadro a seguir revela a urgência de como a demanda por educação apresentava-se na
região em questão. O número de 405 (quatrocentos e cinco) escolas criadas entre os
anos de 1969 e 1987 sustenta essa assertiva.
11
- Projeto de Integração e Colonização. De acordo com o INCRA foram criados os seguintes projetos de
integração e Colonização: Ouro Preto, Signey Grião, Ji-Paraná, Paulo Assis Ribeiro e Padre Adolfo Rhol
entre os anos de 1970 e 1975.
12
- Projeto de Assentamento Rápido. Foram criados os seguintes projetos de assentamento rápido:
Burareiro, Gleba G, BR-364, Gleba Jacundá ente os anos de 1975 e 1982.
13
- Número de escolas construídas pelo INCRA no Projeto de Colonização Ouro Preto entre as décadas
de 1970 e 1995.
Analisando alguns documentos.
14
- Sistema empregado em larga escala nas décadas de 1970 a 1980 em que as famílias que não possuíam
seu pedaço de terra moravam e trabalhavam em terras alheias. Assinava-se um contrato ou
“apalavravam” (acordavam pela palavra) que da colheita realizada metade ficaria com o dono da
propriedade e metade com o trabalhador.
órgãos, a uma determinada escola, o professor da referida escola colhia uma assinatura
do profissional responsável pela supervisão dos trabalhos.
Em 2004 a Secretaria Municipal de Educação do município de Ji-Paraná
produziu um documento evidenciando uma relação de escolas que foram extintas 15 e/ou
desativadas16, e outras que seriam transferidas para serem geridas por outros
municípios. O documento ainda aponta que as escolas pólos receberiam os alunos das
escolas extintas e/ou desativadas para comporem seu quadro. Além do número de
escolas, esse documento destaca o ano em que estas escolas começaram a funcionar e o
ano em que foram extintas, desativadas ou transferidas para outro município.
Um dado relevante é o número de alunos atendidos por estas escolas na ocasião
de sua extinção ou desativação. Atente-se, que a escola que atendia o menor número,
somava 04 (quatro) crianças matriculadas. A escola que atendia o maior número somava
47 (quarenta e sete) alunos matriculados. O documento evidencia que muitas dessas
escolas rurais do município deixam de funcionar, em razão de mudanças nas
características da propriedade rural. Uma só pessoa passou a adquirir os lotes e
transformou-os em grandes propriedades e fazendo com que as famílias passem a buscar
outras terras em localidades distantes da BR 364, criando novos núcleos de povoações e
começando um novo ciclo na interiorização da colonização do Estado de Rondônia.
Considerações Finais
15
- As escolas que fossem extintas ou desativadas enviariam seus alunos para as chamadas escolas pólos
localizadas num ponto estratégico da zona rural. As escolas pólos atendem um público que vai desde o 1º
ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio.
16
- No documento fica evidente que algumas das escolas desativadas poderiam ser reativadas caso a
comunidade sentisse a necessidade.
Outra consideração em destaque é que a comunidade rural tinha a tarefa de fazer
um levantamento das pessoas que tivesse freqüentado a escola, que mostrasse maiores
habilidades e aceitasse assumir o cargo de professor/professora. Encontrado a pessoa,
está era indicada para exercer a docência na escola da comunidade; na maioria das
vezes, o órgão responsável por gerir a educação local acatava a indicação.
A título dos Relatórios de Instrução Pública estabelecidos pelo governo de Mato
Grosso; o Território Federal do Guaporé (e depoisTerritório Federal de Rondônia)
continuou a fazer o uso de sistemática igual. Prova disso são as atuações da Agência
Regional de Educação na década de 1970 e Delegacia Regional de Educação na década
de 1980 que incumbiam-se de realizar a supervisão dos trabalhos exercidos pelos/pelas/
professores/professoras das escolas rurais.
Sobre a prática dos professores e professoras que experienciaram a docência nas
primeiras escolas da região do município de Ji-Paraná, assinala-se que este trabalho abre
caminhos para que outras pesquisas possam dar “voz” a esses sujeitos, para que estes
possam contar através da oralidade suas trajetórias face às situações adversas
enfrentadas por estes/estas ou aqueles/aquelas que contribuíram para a formação
intelectual da comunidade local e região do período em questão.
Referencias Bibliográficas
Periódico:
Documentos de época:
Depoimento Oral: