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INSTRUÇÃO PÚBLICA NO MUNICIPIO DE JI-PARANÁ/RO ENTRE 1939 A

1980: ASPECTOS HISTORIOGRÁFICOS.

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar aspectos da historiografia da
Instrução Pública no município de Ji-Paraná/RO tendo como recorte temporal o final da
década de 1930 até meados da década de 1980. Os recortes apresentados nesse estudo,
traduzem-se na apreciação dos documentos capazes de anunciar o número de escolas
criadas na época em questão, as instituições responsáveis pela efetivação das mesmas, a
presença de homens e mulheres à frente da educação e a localização das escolas nos
projetos de assentamentos criados nesse período. Para construção da pesquisa utilizou-
se os seguintes recursos metodológicos: entrevistas, análise de documentos de época e
imagens que retratam as experiências com educação na região.

Palavras-Chave: Instrução Pública, Projetos de Assentamentos, Ji-Paraná.

O presente texto trata de apresentar aspectos que introduzem a historiografia da


Instrução Pública na região do município de Ji-Paraná/RO compreendendo o final da
década de 1930 até meados da década de 1980. Nesta abordagem sobre a “Instrução
Pública” no município em questão serão apresentados alguns documentos encontrados
no APMT – Arquivo Público de Mato Grosso, nos arquivos do INCRA – Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (unidade de Ji-Paraná/RO), e da SEMED –
Secretaria Municipal de Educação de Ji-Paraná que indicam as primeiras escolas, sua
localização e algumas das primeiras professoras e professores que empreitaram a
experiência na docência, apesar das adversidades naquela época. Assinala-se ainda, que
neste estudo, a princípio; não será objeto de compreensão sobre as maneiras, as
estratégias ou os meios utilizados por essas primeiras professoras ou professores para
dar conta da aprendizagem dos meninos e meninas sob sua responsabilidade; contudo,
este trabalho abre caminho para outros apontamentos através de pesquisas, que
investigue como a “Instrução Pública” se constituiu a partir de 1939, no espaço que
corresponde atualmente ao município de Ji-Paraná.
Para melhor situar o leitor a respeito da região em foco na pesquisa, destacam-se
alguns detalhes da geografia e história da região, que caracterizam as mudanças locais,
proporcionando a compreensão de como o município de Ji-Paraná1 se constituiu, desde,
o seu surgimento como povoado, até torna-se município.

1
- Até o ano de 1943 o território que constitui o Estado de Rondônia pertencia ao Estado de Mato Grosso.
O Presidente Getúlio Vargas através do Decreto-Lei 5.812 de 13 de setembro de 1943 criou 5 (cinco)
territórios federais entre eles o Território Federal do Guaporé. Na ocasião este território era constituído
Segundo Menezes (1983) conta-se que um grupo de pessoas estimulado pela
grande seca que assolou a região Nordeste, entre 1877 e 1880 aportou nas terras que
hoje formam o município de Ji-Paraná. Para a ocupação da área, a exemplo dos rios
Madeira e Guaporé; eles utilizaram o rio Machado (Ji-Paraná) que serviu como estrada
para constituir o processo de interiorização desse espaço amazônico. Os primeiros
habitantes estabeleceram-se na confluência do Rio Urupá, formando a primeira
povoação, denominada Urupá2. O povoado servia de base para o abastecimento
daqueles que residiam no local e região, principalmente seringueiros e garimpeiros,
atraídos pela extração da borracha proveniente da floresta nativa e por pedras preciosas
como o diamante.
O jornalista João Vilhena apresenta em seu livro “Os Pioneiros”, diversos fatos
históricos relacionados à constituição do município de Ji-Paraná, o autor utiliza relatos
de muitos pioneiros que aqui chegaram desde o ano de 1912; segundo Vilhena (1999),
em 1914 com a construção da Linha Telegráfica; Marechal Rondon levantou na
localidade uma estação telegráfica e denominando-a Presidente Afonso Pena,
inaugurando em 14 de dezembro do mesmo ano. O autor destaca que aos poucos a
população local foi incorporando o nome “Presidente Afonso Pena” ao povoado.
Menezes (1983) assinala que o município de Ji-Paraná pertencia ao município de
Porto Velho, do qual foi desmembrado através e da Lei nº 6.448, de 11 de outubro de
1977 quando foi emancipado. De acordo com o autor a Vila de Rondônia foi sede dos
seringais de M. Corbaxo e Cia., Assensi e Cia., “que determinou aquele fabrico de
Urupá3 e os seringais Itapirema, de Antonio Mariano do Lago que transferiu a partir daí
para diversos outros proprietários4.
Segundo Menezes (1983),
Teve seu início como povoação com o estendimento da Linha
Telegráfica, serviço executado por Mariano Rondon que ali chegou
em 1909 implantando a estação que denominou de Estação Presidente
Pena, em homenagem ao então Presidente Afonso Augusto Moreira
Pena. Essa Estação foi localizada à jusante do rio Urupá e à margem
esquerda do rio Ji-Paraná. Era uma edificação tosca coberta de olhos

por 4 (quatro) municípios sendo eles: Lábrea, Porto Velho, Santo Antônio do Madeira e Guajará-Mirim.
Nesse sentido, o povoado de Presidente Afonso Pena ficou pertencendo ao município de Santo Antônio
do Madeira, sendo elevado, a categoria de Distrito de Vila de Rondônia como assegurava a Lei 7470 de
17 de abril de 1945. No ano de 1977 através do Decreto-Lei nº 6448, de 11 de outubro foi elevado a
categoria de município passando a se chamar Ji-Paraná.
2
Ver Hugo (1991, p.276) que destaca “O povoado de Rondônia chamou-se outrora Presidente Afonso
Pena e ainda Urupá por causa dos índios e rio homônimos.
3
- http://www.camaraji-parana.com.br/index2.php?ver_pagina=historia. Acesso em 03/03/2012.
4
- Ver Menezes (1983) que nomeia os proprietários dessa área destinada à extração da seringa na região
da Vila de Rondônia.
de palha, cuja a fotografia está no 1º livro Retalhos para a História de
Rondônia, pouco tempo depois substituída pela que ainda hoje está
edificada em adobe revestida de argamassa de cimento cobertura de
telha tipo Marselha. (MENEZES, 1983, p. 211)

A partir de 1956 quando,

A abertura efetiva da BR 364, a adoção da agricultura como


modelo econômico e os projetos de assentamento e de colonização
executados pelo INCRA, facilitaram às correntes migratórias o
povoamento do espaço geográfico do Território Federal de Rondônia.
Esses povoadores constituíram vários núcleos habitacionais no eixo
Vilhena/Ariquemes a partir de 1961, tendo como referencial as
estações telegráficas da Comissão Rondon. (MATIAS, 1998, p. 137)

Devido à pressão política provocada pelo rápido povoamento das terras


rondonienses, onde os núcleos populacionais transformaram-se em grandes cidades,
Matias (1998) assinala que o governador Humberto Guedes promoveu a primeira
divisão geográfica de Rondônia, com a finalidade de descentralizar a administração,
ordenar o processo de ocupação humana e estimular o desenvolvimento do interior.
[...] o governador do Território requereu a presidência da República,
através do Ministério do Interior, a criação dos municípios de
Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena, em outras
terras desmembradas do município de Porto Velho. Esses municípios
foram criados a partir do decreto-lei nº 6.448, de 11 de outubro de
1977, baixado pelo presidente Ernesto Geisel. (MATIAS, 1998, p.
137)

Atualmente o município de Ji-Paraná conta com uma população de 116.6105


habitantes; formada por migrantes advindos de estados da região Sul e Sudeste do início
dos anos de 1970 e final da década de 19806, e, de estados da região Centro Oeste e
Nordeste a partir da década de 1990. Dividido pelo Rio Ji-Paraná ou Machado, a cidade
constituiu-se através do Primeiro Distrito reunindo as primeiras casas, igrejas e o Museu
Marechal Rondon (antiga Estação Telegráfica construída por Marechal Cândido
Rondon no início da década de 1910) e pelo Segundo Distrito que segundo Feitoza
(2010) “com o passar do tempo, as pessoas foram aglutinando-se”, e “na atualidade
constitui-se um importante centro comercial” (p.4).

5
Ver: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=ro. Acesso em 09/03/2012.
6
- Ver (PERDIGÃO & BASSEGIO, 1992, p. 175) que apontam os Estados do Paraná, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais como os estados que mais contribuíram
com migrantes para colonização do Estado de Rondônia entre os anos de 1970 e 1988.
O que dizem os documentos, as imagens e os relatos orais a respeito dos
primeiros anúncios sobre Instrução Pública na região?

A partir de alguns documentos encontrados no APMT (Arquivo Público de Mato


Grosso), nos arquivos do INCRA subdivisão de Ji-Paraná, e da SEMED (Secretaria de
Educação do Município de Ji-Paraná/RO), construiu-se um esboço das primeiras
informações que atestam a criação das primeiras escolas na região de Ji-Paraná desde o
final da década de 1930 quando a localidade era denominada Presidente Afonso Pena
até o ano de 1987. No APMT encontrou-se, no Relatório de Instrução Pública de 1942,
informações que versavam sobre as escolas que localizavam-se nos municípios de Santo
Antônio do Madeira e Guajará-Mirim (na ocasião municípios pertencentes ao Estado de
Mato Grosso). Observou-se que na parte em que se refere ao “Quadro Demonstrativo de
Escolas Isoladas” nos municípios mato-grossenses, apontava-se que no município de
Santo Antônio do Madeira, entre as escolas das outras localidades, havia uma escola
“mixta7” localizada na povoação de Presidente Pena na data de 30 de junho de 1939. O
documento destaca uma seqüência para a enumeração das escolas localizadas no Estado
de Mato Grosso; a escola da povoação de Presidente Afonso Pena figura como a escola
de número 240, outro destaque é que a escola tinha como professor/professora o/a
Senhor/Senhora8 Ivan Meira atuando na escola citada.
Gomes (2006) apresenta dados contidos no ofício nº 145, de 10 de abril de
1946, onde constam informações sobre 27 escolas Públicas do Território Federal do
Guaporé e os respectivos números de alunos matriculados no ano de 1945. O autor
evidencia que para a região da povoação de Rondônia havia uma escola denominada
“Escola Rural Rondônia” fundada em 1946 e em relação ao número de crianças
assistidas por essa escola não há um quantitativo informado. Atente-se que para a
ocasião o número de crianças assistidas por todas as escolas do Território Federal do
Guaporé era de 1.240. O autor destaca também dados estatísticos da situação
educacional referente ao Ensino Pré-Primário, ao Ensino Fundamental Comum, ao
Ensino Complementar e ao Supletivo no Território Federal do Guaporé no ano de 1944;
as informações apresentadas segundo o autor estavam anexadas ao projeto de instalação

7
- Grafia utilizada na língua portuguesa na década de 1930 para escrita da palavra “mixta”. Ver os
Relatórios de Instrução Pública do Estado de Mato Grosso recebidos na época.
8
- Ainda não há notícias de que a pessoa que responde pelo cargo de professor na escola identificada, se;
se trata de uma professora ou professor.
de um internato para o Ensino Rural na região. Na ocasião apresentavam para a criação
desse internato de acordo com Gomes (2006) as seguintes justificativas;
A rarefação das populações rurais;
A necessidade de concentrar despesas e fiscalização;
A conveniência de se resguardar o educando das influências
negativas de famílias desorientadas ou mal-organizadas das
comunidades rurais;
Diante da possibilidade de melhor aparelhamento ao trabalho
educacional, pretendia o governo do Território instalar internatos em
seis pontos que reunissem as seguintes condições:
Terra firme e não alagável nas cheias;
Entroncamento de vias de comunicação, maior densidade
demográfica, salubridade.
Os pontos visados seriam os seguintes:
[...]
Rondônia, (grifo meu) antigo Presidente Pena, ponto anda
não atingido pela rodovia Porto Velho - Cuiabá, em construção pela
Segunda Companhia Rodoviária Independente do Exército Nacional,
estação telegráfica em funcionamento.
[...] (GOMES, 2006, p. 87)

Menezes (1983) destaca que Padre Adolfo Ruhr9 egresso da Prelazia de Humaitá
chegou a Vila de Rondônia em 1949, além de vigário, hospedava também engenheiros e
funcionários que ajudavam na construção da BR que ligaria Porto Velho a Cuiabá.
Padre Adolfo também dava assistência de cunho religioso às povoações que localizam
desde a Vila de Rondônia à Vilhena. Nesse sentido, Padre Adolfo segundo o autor “deu
enorme contribuição ao ensino, fundando as primeiras escolas de alfabetização, onde a
seu pedido a esposa do seringalista Walmar Meira ia ministrar as aulas ao ar livre”
(p.215).
Na Revista Ji-Paraná e sua História, há uma sessão destinada a relatar os
aspectos relacionados às premissas da história da educação local, onde, destaca-se que;

[...] A tarefa de ensinar as primeiras letras aos alunos ficou a cargo da


dona de casa Raimunda Gadelha ou dona Nenê Gadelha, como era
conhecida pela comunidade. Nos idos de 1952, ela passou a transmitir
seus conhecimentos a um reduzido grupo de crianças sem
remuneração pelo serviço. A professora lecionava numa sala de aula
improvisada, construídas inicialmente com troncos de árvores e
coberta de palhas, anos depois substituída por outra de tábuas e telhas
de zinco pelo governo. (REVISTA JI-PARANÁ E SUA HISTÓRIA,
p. 18, 2004)

9
- Ver outras obras que refere-se ao Padre Adolfo Ruhr (MENEZES, 1983) como Padre Adolfo Rohl
(REVISTA JI-PARANÁ E SUA HISTÓRIA, 2004) ou Padre Adolfo Röhl (HUGO, 1991).
Em 1957, Dona Nenê Gadelha mudou-se para Porto Velho acompanhando seu
marido que fora transferido. Para continuar o trabalho com a educação de crianças,
Dona Nenê comunicou a uma amiga (Dona Beatriz Ferreira da Silva) que solicitasse o
cargo de professora à responsável pela educação no Território Federal de Rondônia a
Professora Marise Castiel10. Dona Beatriz Ferreira da Silva atendeu ao pedido de Dona
Nenê Gadelha e enviou a carta.

[...] A carta foi levada em mão a Porto Velho por Cleide Meira, esposa
do seringalista Walmar Meira Paes de Barreto que exercia grande
influência social e política na localidade. Ao receber o pedido de Dona
Beata, e verificar a caligrafia e também o conteúdo da carta, a diretora
decidiu não só aceitar, mas também contratá-la como primeira
professora do distrito. (REVISTA JI-PARANÁ E SUA HISTÓRIA, p.
18, 2004)

De acordo com a Revista Ji-Paraná e sua História (2004) a nomeação de Dona


Beata ocorreu em 16 de abril de 1958, fato que imediatamente foi comunicado por meio
do telégrafo à futura professora. Outro destaque dado é que a professora Beatriz Ferreira
da Silva passou a lecionar na “Escola Isolada Gonçalves Dias” que tinha apenas uma
sala de aula e outro aposento para onde se mudara a professora, o marido e os três
filhos.
Feitoza (2010) assinala que “as primeiras escolas implantadas na cidade de Ji-
Paraná foram: Escola Gonçalves Dias em 1970 que era conhecida como Grupo Escolar,
Marechal Rondon em 1971 e Júlio Guerra em 1972” (p.4). A autora realizou uma
análise de documentos encontrados na Representação de Ensino e Secretaria Municipal
de Educação de Ji-Paraná, e assegura que estes evidenciam diversos aspectos das
primeiras impressões sobre a história da educação local; entretanto a partir dos
documentos presentes nos arquivos da SEMED, constatou-se que desde o final da
década de 1960 e decorrer das décadas de 1970 e 1980 foram criadas em Ji-Paraná 16
(dezesseis) escolas na zona urbana, sendo 10 (dez) no Primeiro Distrito, 6 (seis) no
Segundo Distrito e outras 389 escolas localizadas na zona rural.
Dados relevantes foram coletados também nos arquivos do INCRA, órgão que
dispõe de documentação que versa sobre a organização dos projetos de colonização
agrária estabelecidos pelo governo federal com a intenção de povoar as terras do

10
- A Professora Marise Magalhães da Costa Castiel exerceu o cargo de diretora de Divisão de Educação
na década de 1950 atuando muitas vezes como interlocutora na solução de problemas relacionados à
educação entre o Território Federal do Guaporé e o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais.
Território Federal de Rondônia. Na ocasião, ao abrir os projetos de assentamentos o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária deveria entre outras tarefas
construir e entregar escolas para a população que passaria a residir e cultivar as terras
recebidas; além das escolas, deveria também construir poços e barracões para
armazenamento de mantimentos que resultavam das colheitas realizadas pelos
assentados. Um dossiê encontrado revela que para o PIC11 Ouro Preto foram construídas
101 (cento e uma) escolas, para o PAR12 Pirineos foram construídas 06 (seis) escolas. O
quadro a seguir revela a urgência de como a demanda por educação apresentava-se na
região em questão. O número de 405 (quatrocentos e cinco) escolas criadas entre os
anos de 1969 e 1987 sustenta essa assertiva.

Quadro de Escolas criadas entre 1969/1987 na região de Ji-Paraná


Área Período Nº de escolas Arquivo – Nº de escolas - Dossiê
SEMED INCRA
Ji-Paraná 1969 a 1987 95 -
Ouro Preto d’Oeste 1970 a 1982 183 10113
Presidente Médici 1971 a 1983 66 -
Projeto Riachuelo 1978 a 1987 67 -
Total 19 anos 405 -
Fonte: DECRETOS DAS ESCOLAS. Decreto de Criação das Escolas do Município de Ji-Paraná. Ji-
Paraná, 1993. CATÁLOGO.

De acordo com Perdigão e Bassegio (1992) a superfície do PIC Ouro Preto


possuía uma área de 512.585 hectares, constituindo assim, a terceira maior área de
assentamento dentro do Território Federal de Rondônia, esta localidade segundo os
autores recebeu a partir do ano de 1970 o segundo maior número de famílias assentadas
somando 5.162, sendo o maior número na região de Ji-Paraná. Nesse sentido,
possivelmente esses dados asseguram uma das explicações para o grande número de
escolas criadas na área do PIC Ouro Preto. Para melhor compreensão de como se dava
essa relação da dimensão geográfica entre Ouro preto do Oeste e Ji-Paraná; destaca-se
que na ocasião da criação do município de Ji-Paraná, a extensão deste abrangia as terras
desmembradas, para a criação dos seguintes municípios: Alvorada D’Oeste, Nova
Brasilândia d’Oeste, Nova União, Mirante da Serra, Ouro Preto do Oeste, Presidente
Médici, Teixeirópolis e Urupá.

11
- Projeto de Integração e Colonização. De acordo com o INCRA foram criados os seguintes projetos de
integração e Colonização: Ouro Preto, Signey Grião, Ji-Paraná, Paulo Assis Ribeiro e Padre Adolfo Rhol
entre os anos de 1970 e 1975.
12
- Projeto de Assentamento Rápido. Foram criados os seguintes projetos de assentamento rápido:
Burareiro, Gleba G, BR-364, Gleba Jacundá ente os anos de 1975 e 1982.
13
- Número de escolas construídas pelo INCRA no Projeto de Colonização Ouro Preto entre as décadas
de 1970 e 1995.
Analisando alguns documentos.

De acordo com Feitoza (2010), as escolas que localizavam-se na zona rural


funcionavam dentro do sistema multisseriado. Nesse sistema, o professor assumia todas
as responsabilidades dentro do espaço escolar como: Cuidar da limpeza da sala de aula,
fazer e servir a merenda e executar o plano de aula. Para o Professor Ruben Ariste
Vieira da Silva, (jun. 2012): “[...] a escola contava apenas com os professores, no inicio
não possuía diretoria, secretaria, zeladoria, merendeiras, cabia ao professor a realização
destas tarefas, o que dificultava as aulas”.
Nesse sentido, para entender a participação de homens e mulheres na docência
das escolas da região, percebeu-se o seguinte; para o número de 27 (vinte sete) escolas
apresentadas, conseguiu-se, identificar 18 (dezoito) mulheres atuando como professoras
e 6 (seis) homens ocupando o cargo de professores. Das 27 (vinte sete) “atas de
resultados finais”, 3 (três) escolas omitiram o nome do/da responsável pelos alunos
impossibilitando assim identificar quem responsabilizava-se pela educação das crianças.
Observou-se ainda, que a Escola Hélio de Palma Arruda tinha como regente um
professor, assinala-se que na ata de resultado final do ano de 1977, este fazia a divisão
turma nos seguintes aspectos; primeiro o professor nomeou 8 (oito) meninos, em
seguida abriu um espaço para a escrita da palavra “FEMININA” e construiu uma
relação de nomes de 7 (sete) meninas, possivelmente este professor obteve em sua
formação noções do que diziam os Regulamentos de Instrução Pública em relação as
sala de aula para meninos e meninas. Atente-se que o Artigo 137 do Regulamento da
Instrução Pública do Estado de Mato Grosso no ano de 1942 dizia que não seriam
matriculados “c) os meninos em classes femininas e as meninas em classes masculinas”.
Nesse sentido, considera-se que esses aspectos conduzem as maneiras, de se
organizar a educação dentro do que determinava a legislação vigente nas décadas
anteriores a 1970; refletiam ainda, nas práticas do referido professor. Nas atas finais dos
anos posteriores, observou-se; que este professor deixou de atender a referida escola e
no ano de 1979 e uma professora passa a ocupar o cargo, sendo substituída em 1980
outro professor.
Na região do PIC Ouro Preto, Gleba 2, Lote 5A, encontrou-se a Escola Artur
Virgilio que no ano de 1975 atendia a 79 alunos, no ano de 1977 possuía 68 alunos, em
1978 foram matriculados apenas 48 alunos; esses dados foram encontrados em atas
finais dos respectivos anos. As atas finais desses anos foram assinadas pelas
professoras: Maria da Penha Silva e Angélica Firmino Alves atestando os serviços
prestados, no atendimento das turmas de 1ª até a 4ª série. Todavia, a 1ª série, era a turma
que possuía o maior número de alunos matriculados. Entende-se, que na medida em que
os meninos e meninas iam amadurecendo com a idade; também ocorria uma nítida
evasão escolar. Postula-se, que esta evasão, estivesse ancorada à necessidade do
responsável pelo núcleo familiar em ter mais braços ajudando no trabalho da lavoura,
para o qual evidencia-se: o preparo da terra, o plantio e a colheita dos produtos
agrícolas destinados à sobrevivência das famílias. Outro dado importante que merece
ser destacado, é que o número de alunos vai reduzindo nos anos seguintes e isso pode
ser explicado pelo fato de que muitas famílias que chegavam dos outros estados
brasileiros trabalhavam no sistema de “meeiro14” enquanto esperavam pela liberação
das terras ofertadas pelo INCRA ou pudesse adquirir por si; seu próprio pedaço de terra.
Quando uma dessas alternativas era cumprida a família deixava a região.
Em relação às distâncias, para se chegar a escola a criança fazia na ocasião, um
percurso que variava entre 2 (dois) e 5 (cinco) quilômetros. Observa-se que, geralmente
as escolas distanciavam cerca de 5 (cinco) a 10 (dez) quilômetros uma das outras.
Em relação aquisição de professores; a carência de pessoas formadas fazia com
que aqueles que apresentassem ter freqüentado o mínimo de vida escolar ou fosse a
pessoa mais qualificada na região, pudesse ser indicada ou escolhida para ser o/a
professor/professora na comunidade. Muitas vezes, a criação ou construção da escola
estava condicionada a um local próximo da igreja, por se tratar de um ponto de
referência para encontro das famílias da localidade; ou a escola, até mesmo, funcionaria
no prédio da igreja. O padre era o interlocutor entre os problemas da comunidade e as
autoridades do município.
Um sistema de supervisão e acompanhamento das escolas rurais perdurou por
muito tempo e foi realizado por órgãos como: a AGREC – Agência Regional de
Educação e Cultura na década de 1970 e DRE – Delegacia Regional de Educação na
década de 1980. Cabia os professores informar a esses órgãos, seus planejamentos,
consultas a comunidades e atas de resultados finais. Para cada visita por agentes desses

14
- Sistema empregado em larga escala nas décadas de 1970 a 1980 em que as famílias que não possuíam
seu pedaço de terra moravam e trabalhavam em terras alheias. Assinava-se um contrato ou
“apalavravam” (acordavam pela palavra) que da colheita realizada metade ficaria com o dono da
propriedade e metade com o trabalhador.
órgãos, a uma determinada escola, o professor da referida escola colhia uma assinatura
do profissional responsável pela supervisão dos trabalhos.
Em 2004 a Secretaria Municipal de Educação do município de Ji-Paraná
produziu um documento evidenciando uma relação de escolas que foram extintas 15 e/ou
desativadas16, e outras que seriam transferidas para serem geridas por outros
municípios. O documento ainda aponta que as escolas pólos receberiam os alunos das
escolas extintas e/ou desativadas para comporem seu quadro. Além do número de
escolas, esse documento destaca o ano em que estas escolas começaram a funcionar e o
ano em que foram extintas, desativadas ou transferidas para outro município.
Um dado relevante é o número de alunos atendidos por estas escolas na ocasião
de sua extinção ou desativação. Atente-se, que a escola que atendia o menor número,
somava 04 (quatro) crianças matriculadas. A escola que atendia o maior número somava
47 (quarenta e sete) alunos matriculados. O documento evidencia que muitas dessas
escolas rurais do município deixam de funcionar, em razão de mudanças nas
características da propriedade rural. Uma só pessoa passou a adquirir os lotes e
transformou-os em grandes propriedades e fazendo com que as famílias passem a buscar
outras terras em localidades distantes da BR 364, criando novos núcleos de povoações e
começando um novo ciclo na interiorização da colonização do Estado de Rondônia.

Considerações Finais

A respeito da educação estabelecida nas áreas que compunham o município de


Ji-Paraná foi possível neste primeiro momento registrar a primeira escola “mixta”
construída no final da década de 1930 pelo governo de Mato Grosso anterior a criação
do Território Federal do Guaporé, carecendo ainda por investigar o percurso vivenciado
pela pessoa que respondia pela educação das crianças naquela época. Constatou-se
também, que para as áreas que compunham os projetos de colonização realizados pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária a partir da década de 1970, este
tinha como tarefa construir as escolas e entregá-las para os assentados. Esta tarefa
continuou a ser exercida até o final dos anos 1990.

15
- As escolas que fossem extintas ou desativadas enviariam seus alunos para as chamadas escolas pólos
localizadas num ponto estratégico da zona rural. As escolas pólos atendem um público que vai desde o 1º
ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio.
16
- No documento fica evidente que algumas das escolas desativadas poderiam ser reativadas caso a
comunidade sentisse a necessidade.
Outra consideração em destaque é que a comunidade rural tinha a tarefa de fazer
um levantamento das pessoas que tivesse freqüentado a escola, que mostrasse maiores
habilidades e aceitasse assumir o cargo de professor/professora. Encontrado a pessoa,
está era indicada para exercer a docência na escola da comunidade; na maioria das
vezes, o órgão responsável por gerir a educação local acatava a indicação.
A título dos Relatórios de Instrução Pública estabelecidos pelo governo de Mato
Grosso; o Território Federal do Guaporé (e depoisTerritório Federal de Rondônia)
continuou a fazer o uso de sistemática igual. Prova disso são as atuações da Agência
Regional de Educação na década de 1970 e Delegacia Regional de Educação na década
de 1980 que incumbiam-se de realizar a supervisão dos trabalhos exercidos pelos/pelas/
professores/professoras das escolas rurais.
Sobre a prática dos professores e professoras que experienciaram a docência nas
primeiras escolas da região do município de Ji-Paraná, assinala-se que este trabalho abre
caminhos para que outras pesquisas possam dar “voz” a esses sujeitos, para que estes
possam contar através da oralidade suas trajetórias face às situações adversas
enfrentadas por estes/estas ou aqueles/aquelas que contribuíram para a formação
intelectual da comunidade local e região do período em questão.

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THOMPSON, Paul. A voz do passado: História Oral. Tradução Lólio Lourenço de


Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

VILHENA, João. Os Pioneiros – Curiosidades e Relatos Inéditos. Ji-Paraná: Editora Ji-


Paraná Agora, 1999.

Periódico:

EDUCAÇÃO. Ji-Paraná e sua história. Ji-Paraná: Certa Comunicação Editora, jan.


2004.

DECRETOS DAS ESCOLAS. Decreto de Criação das Escolas do Município de Ji-


Paraná. Ji-Paraná, 1993. CATÁLOGO.

Documentos de época:

Regulamento de Instrução Pública do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, outubro de 1942.


APMT – 1942.

Diretor Geral de Instrução Pública. Quadro Demonstrativo das Escolas Isoladas” do


Estado de Mato Grosso. Cuiabá. 31.12.1942. APMT – Lata Antiga. (localização das
escolas no município de Santo Antônio do Madeira entre elas uma escola “mixta” na
povoação de Presidente Pena).

Depoimento Oral:

SILVA, R. A. V. Ruben Ariste Vieira da Silva. Depoimento (jun.2010) Entrevistadores:


A. P. C. de Melo & V. dos S. Alves. Ji-Paraná: 2010. 2 fita cassete (80 min.) 3 ½ pps,
estéreo. Entrevista concedida ao Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia;
DCHS/UNIR.

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