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Organizadores

Antônio Campos
Cláudia Cordeiro

Um painel da poesia pernambucana


dos séculos XVI ao XXI

2ª edição
Ampliada, revista e atualizada
Inclui índices onomástico e de títulos e primeiros versos

Recife, 2010
3
Copyright dos textos© dos autores
Copyright da edição© 2010 Carpe Diem - Edições e Produções

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, nem apropriada ou estocada em
sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da Editora.

Organização
Antônio Campos | Cláudia Cordeiro

Editoria
Antônio Campos

Assessoria Técnico-Administrativa (IMC)


Kamila Nascimento | Leila Teixeira | Veronika Zydowicz
Auxiliar de pesquisa
Andréia Caroline Pereira de Oliveira
Projeto gráfico
Patrícia Lima
Revisão
Norma Baracho Araújo
Revisão de texto* e atualização do Índice Onomástico**
* N.O. A ortografia dos poemas foi mantida de acordo com a 2ª tiragem impressa da obra (2006) e
os originais dos novos poetas desta edição.
** De: Apresentação, Prefácio, Poetas que participam desta antologia e Fortuna Crítica.
Cláudia Cordeiro
Revisão de provas e atualização do Índice de Títulos e Primeiros Versos.. Revisão da 2ª. edição on line.

Fotos
Assis Lima
Impressão
Gráfica Santa Marta
P452 Pernambuco, terra da Poesia: um painel da poesia pernambucana dos sécu-
los XVI ao XXI./ organizadores: Antônio Campos, Cláudia Cordeiro.
2. ed. rev. e atual. - Recife: Carpe Diem Edições e Produções Ltda,
2010.
757 p.

ISBN 978-85-62648-09-0
Inclui índice onomástico.

1. Poesia brasileira - séculos XVI ao XXI 2. Poesia pernambucana .


I. Campos, Antônio (org.) II. Cordeiro, Claudia (org.) III. Título

CRB4/1544 CDU 821.134.3(81)-82


Impresso no Brasil
Printed in Brazil

Carpe Diem - Edições e Produções


Rua do Chacon, 335, Casa Forte, Recife, PE
55 81 32696134 | www.editoracarpediem.com.br

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Epígrafes

“Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso


da música. Tem o peso da palavra nunca
dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o
peso de uma lembrança. Tem o peso de
uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa
como pesa uma ausência. E a lágrima que
não se chorou. Tem o imaterial peso
da solidão no meio de outros.”

Clarice Lispector
(In Clarice fotobiografia, 2009)

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TECENDO A MANHÃ
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto


(In A educação pela pedra, 1996)

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Orientações Prévias

1. Convenções
* Escritores(as) cujos dados e poemas foram enviados espe-
cialmente para esta antologia por eles(as) próprios(as) ou
seus espólios e outros contatos.
** Escritores(as) nascidos(as) em Pernambuco.

2. Referências bibliográficas
As referências bibliográficas completas encontram-se ao
final do volume. Tivemos acesso a obras raras do acervo
da Biblioteca Pública Estadual e destacamos a importância,
para este trabalho, das seguintes fontes:

LIMA, Joaquim Inácio de. Biografias de Joaquim Inácio de


Lima. Recife: Typ. de Manoel Figueirôa de Faria & Filho,
1895.
MELLO, Antonio Joaquim de. Biografias de alguns poetas e ho-
mens illustres da Província de Pernambuco. Recife: Typographia
Universal, 1856.
MELLO, Henrique Capitolino Pereira. Pernambucanas illus-
tres. Recife: Typographia Mercantil, 1879, 182 p.

Ao final dos poemas, registramos: o título da obra con-


sultada, o ano da edição e respectiva(s) página(s) e/ou a dis-
ponibilidade do texto na Internet, além de alguns outros
poucos dados que julgamos de absoluta importância.
Os principais sítios virtuais que serviram de referência
para nossas consultas foram:

9
Academia Brasileira de Letras: <http://www.academia.org.br>
Biblioteca Nacional: <http://www.bn.br/>
Fundação Casa de Rui Barbosa: <http://www.casaruibarbosa.
gov.br>
Fundação Joaquim Nabuco. Coordenadoria de Documentos
Textuais:
<http://www.fundaj.gov.br/docs/indoc/dotex/doctex.html>
Instituto Maximiano Campos: <http://www.imcbr.org.br>
Interpoética: <http://www.interpoetica.com>
Itaú Cultural. Panorama Poesia e Crônica:
<http://www.itaucultural.org.br/>
Plataforma para Poesia. Sítio Virtual Pernambucano da Poesia
Contemporânea em Língua Portuguesa:
<http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/paglinks2.
htm>

Há casos em que escritores(as) ou seus espólios, editores


e outros contatos enviaram os poemas especialmente para
esta antologia. Entretanto, em alguns casos, não indicaram
suas fontes bibliográficas, razão por que nem sempre nos foi
possível citá-las.
Muitos(as) cederam poemas inéditos para esta antolo-
gia. Registramos essa informação ao final dos poemas, nos
casos em que fomos cientificados desse ineditismo.
Toda a documentação biobibliográfica e poemas, fontes
de cessão direta do(a) escritor(a) ao Instituto Maximiano
Campos (IMC) já fazem parte de seus arquivos.

3. Ortografia
A ortografia dos poemas foi mantida de acordo com a
2ª tiragem impressa da obra (2006) e os originais dos novos
poetas desta edição.

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SUMÁRIO

Apresentação de Antônio Campos, 33

Prefácio de Cláudia Cordeiro, 37

Bento Teixeira ( ± 1550-1600)


Descripção do Recife de Paranambuco, 45
Canto de Proteu, 47

Rita Joanna de Souza (1696-1718)**


[Fotos. Registro histórico de
Henrique Capitolino Pereira de Mello,
in Pernambucanas Ilustres, 1879], 48

Manuel de Souza Magalhães (1744- 1800)**


Soneto, 55
Outro, 56

Luiz Alves Pinto (± 1745 – ± 1815)**


O amor mal correspondido, 57

João Nepomuceno da Silva Portella (1766-1810)**


Encômio de repetição, 59

Frei Caneca (1779-1825)**


Décimas, 64
Entre Marília e a pátria, 66

1
1
Francisco Ferreira Barreto (1790-1851)**
Anacreôntica, 67
Soneto, 69

Natividade Saldanha (1796-1830)**


Soneto, 70
Aos filhos da pátria, 71

Maciel Monteiro (1804-1869)**


Um sonho, 72
Inspiração súbita, 74

Tobias Barreto (1839-1889)


Eu amo o gênio, 76
A escravidão, 77

Vitoriano Palhares (1840-1890)**


Negro adeus, 78
Cantando, 79

Carneiro Vilela (1846-1913)**


Ninho de Condor, 80
Serenata, 82

Francisco Altino de Araújo (1849–)**


A uma menina, 84

Francisca Izidora Gonçalves da Rocha (1855-1918)**


Cena campestre, 85
Ilha de coral, 88

Anna Alexandrina Cavalcanti D‟Albuquerque (1860–)**


O negro, 90
O que mais queres?, 93

12
Joanna Tiburtina da Silva Lins (±1860-1905)**
Meus sonhos, 94
A virtude, 95

Maria Heraclia de Azevedo (±1860–)**


Ceticismo, 96

Medeiros e Albuquerque (1867-1934)**


Artistas, 98
17 de Novembro de 1889, 99

Faria Neves Sobrinho (1872-1927)**


O rio, 101
Cego de amor, 102

Demóstenes de Olinda (1873-1900)**


Noiva mística, 103
Cromo, 104

Paulo de Arruda (1873-1900)**


Desespero, 105
Covardia, 106

Targélia Barreto de Meneses (1879-1909)**


Soneto, 107
Violetas, 108

Bastos Tigre (1882-1957)**


Sintaxe feminina, 109
Argumento de defesa, 110

Emília Leitão Guerra (1883-1966)**


Amo-te, 111
Se eu pudesse voar, 112

1
3
Mario Melo (1884-1959)**
Sonhando, 114
Ausente, 115

Edwiges de Sá Pereira (1885-1959)**


Pela noite, 116
A uma estrela, 117

Manuel Bandeira (1886-1968)**


Arte de amar, 118
Profundamente, 119

Paulino de Andrade (1886–)**


Olinda, 121
A emoção, 122

Adelmar Tavares (1888-1963)**


A cidade de Recife, 123
Trovas, 124

Ulisses Lins de Albuquerque (1889-1979)**


A seriema, 125
Conceição, 126

Esdras Farias (1889-1955)**


Feliz de ti que ainda choras, 127
Para você mesmo, Esdras, 128

Olegário Mariano (1889-1958)**


Arrependimento, 129
As almas das cigarras, 130

Ascenso Ferreira (1895-1965)**


Noturno, 131
Trem de Alagoas, 133

14
Joaquim Cardozo (1897-1978)**
Chuva de caju, 136
Canção para os que nunca irão nascer, 137

Múcio Leão (1898-1969)**


As luas, 140
Os países inexistentes, 141

Austro Costa (1899-1953)**


Capibaribe, meu rio, 143
O canto do cisne, 144

Vanildo Bezerra (1899-1989)**


Quixote morto, 145
Televisão, 146

Vicente do Rego Monteiro (1899-1970)**


Carnaval frevo, 147
Poema 100% nacional, 148

Gilberto Freyre (1900-1987)**


O outro Brasil que vem aí, 149
Silêncio em Apipucos, 152

Alcides Lopes de Siqueira (1901-1977)**


Pantaleão, 153
Teia de Penélope, 157

Pedro Xisto (1901-1987)**


Hai Ku & Tanka (Waka), 158

Eugênio Coimbra Jr. (1905-1972)**


Pobre amor, 160
Dois sonetos de abril, 161

1
5
Solano Trindade (1908-1974)**
Foi assim..., 163
Tem gente com fome, 167

Helder Camara [Dom] (1909-1999)


No silêncio das árvores, 169
Até o fim, 170

Benedito Cunha Melo (1911-1981)* **


Maio, 171
Trovas, 172

Mauro Mota (1911-1984)* **


Humildade, 173
Morte sucessiva, 174

Waldemar Cordeiro (1911-1992)* **


Prólogo, 176
Soneto, 177

Waldemar Lopes (1911-2006)**


Lição antiga, 178
Soneto da vida e da morte, 179

Lourival Batista (1915-1992)**


Homenagem à Virgem Maria, 180
Pagando motes, 182

Odile Vital César Cantinho (1915)* **


Rio da saudade, 184
Axioma, 185

Celina de Holanda (1915-1999)* **


Viagens de Celina, 186
Aos que me querem como eles; Elogio da
mulher pobre, 186
Os amigos, 187
Elegias para o padre Romano Zufferey, 188

16
Tomás Seixas (1916-1993)**
Colhidos da sombra: A bailarina, 190
Acontece, 191
Sonata à Lílian ou As sombras no espelho (exc.), 192

Carlos Moreira (1918)**


Açucena, 194
Soneto do tédio, 195

Deolindo Tavares (1918-1942)**


Ausência, 196
O poeta, 198

Homero do Rêgo Barros (1919)* **


Ver o Recife, 199
O sol, 200

Clélia Silveira (1920)**


A uma Maria qualquer, 201
Edifício apagado, 202

João Cabral de Melo Neto (1920-1999)**


O cão sem plumas (fragmentos: I / Paisagem
do Capibaribe, 203
IV / Discurso do Capibaribe), 207
Fábula de um arquiteto, 211

Potiguar Matos (1921-1996)**


Nem te sonhava mais, pássaro de fogo, 212
A relva macia..., 213

Zé Dantas – José de Sousa Dantas Filho (1921-1962)**


Acauã, 214
A volta da Asa Branca, 215

Edson Régis (1923-1966)**


Composições I e II, 216
Ausência, 218

1
7
César Leal (1924)*
O sonâmbulo, 219
Cidade ou Cidadela?, 220

William Ferrer Coelho (1924-2006)*


Simun, 222
Proposta, 223

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924-2008)**


Depoimento, 224
Do ser expectante, 228

Waldimir Maia Leite (1925-2010)* **


Ofício do semeador, 231
Ofício da busca, 233

Geraldino Brasil (1926-1996)*


Sextina do gato bárbaro, 234
Desconversa, 236

Edmir Domingues (1927-2001)**


Sextina da vida breve, 237
Soneto, 239

Ariano Suassuna (1927)


A infância (com mote de Maximiano Campos), 240
A Acauhan – A malhada da Onça
(com mote de Janice Japiassu), 241

Deborah Brennand (1927)**


No bosque, 242
Maçãs negras, 243

Job Patriota (1929-1992)* **


Esses teus seios pulados..., 244
Na madrugada esquisita..., 244

18
Carlos Pena Filho (1930-1960)**
A Solidão e sua porta, 245
Soneto do desmantelo azul, 246

Audálio Alves (1930-1999)**


O órfão de Belém, 247
Geografia do campo soberano, 249

Lúcio Ferreira (1930)* **


Dúvidas, 250
Construção, 251

Mauro Salles (1932)* **


Recife, 252
Mudança, 255

Olímpio Bonald Neto (1932)* **


Amor ultramilênio, 256
O poeta, quando jovem. (Lendo Augusto
dos Anjos), 257

Nelson Saldanha (1933)* **


Animula, 258
Tempo, instante, coração, 259

Montez Magno (1934)* **


A forma resplandente, 260
Os girassóis de Van Gogh, 261

Cyl Gallindo (1935)* **


Comícios íntimos, 262
Ser criança em noite de Natal, 264

Orley Mesquita (1935-2006)*


Café concerto, 265
Desejo, 266

1
9
Sebastião Uchoa Leite (1935-2003)**
Corações insensíveis, 267
Drácula, 268

Francisco Bandeira de Mello (1936)* **


O equilibrista, 269
O advento da flor, 270

Esman Dias (1937)*


Fusão, 271
Aluvião, 272

Myriam Brindeiro (1937)* **


AMA (DOR) AS, 274
(H) INOCÊNCIA (poema pascal em sete dores), 275

Severino Filgueira (1937)


Passeio, 277
Seguro, 278

Jorge Wanderley (1938-1999)**


Matinê, 279
Poema, 281

Arnaldo Tobias (1939-2002)**


S.O.S. Brasil, 282
Sem título, 283

Eugênia Menezes (1939)*


Sonho de pedra, 284
Gênese, 286

Janice Japiassu (1939)*


A verdade e sua sombra, 288
Amor de águas de seda, 290

20
Lenilde Freitas (1939)
Mulher, 292
Aquário, 293

Paulo Cardoso (1939-2002)**


Da viagem, 294
Recife antigo e novo, 295

Maria da Paz Ribeiro Dantas (1940)*


Visita, 296
Cigano do ar, 297

Maria de Lourdes Hortas (1940)*


Noturno, 298
Interpretação das ruínas, 299

Paulo Bandeira da Cruz (1940-1993)**


Soneto de Chang, 302
O Evangelho consoante João da
Silveira Severino (frag.), 303

Ana Maria César (1941)* **


Sem formalidade, 311
O rio da insensatez, 312

Chicão – Francisco José Trindade Barrêtto (1941)**


Pecador e justo, 313
Natal, 314

Maximiano Campos (1941-1998)**


O filho, 315
Apelo ao Quixote, 316

Tarcísio Meira César (1941-1988)


Soneto do entardecer, em Rússia, 317
Hiroschima meu amor, 318

2
1
Suzana Brindeiro Geyerhahn (1942-1996)* **
Recife, 319
Mes rapports avec Rimbaud, 320

Alberto da Cunha Melo (1942-2007)* **


Canto dos emigrantes, 321
Dual, 322

Ângelo Monteiro (1942)*


Os pontos cardeais, 329
O vice Deus, 330

Sérgio Bernardo (1942)* **


Bernburg, amarga lembrança, 332
Apipucos, casa 77, 333

José Carlos Targino (1943)**


Uma voz, duas vozes, 334
A luz imóvel, 336

Marcus Accioly (1943)* **


A Terra – O Sertão, 337
Treino de sombra, 339

Orismar Rodrigues (1943-2007)**


Apelo, 342
Outono, 344

Cloves Marques (1944)*


Ponte em haicai, 345
Cruz em haicai, 346

Domingos Alexandre (1944)* **


Bruxelas, 347
Tarde em Itamaracá, 350

22
Everardo Norões (1944)*
A música..., 351
A construção, 352

Jaci Bezerra (1944)


No rastro da verdade iniciada, 353
Um dia, capitão, contarei essa história, 354

Lourdes Sarmento (1944)* **


Canto de cristais, 355
Observação, 356

Marcelo Mário de Melo (1944)* **


Pó & Ema, 357
Macrolove, 358

Marcos Cordeiro (1944)* **


A Cabra do Moxotó, 360
Chore Bahia mísera!, 361

Sebastião Vila Nova (1944)


Clave oculta, 363
Anotações a oeste de Aldebarã, 364

Almir Castro Barros (1945)* **


Escorados na tarde, 365
Cinzas, 366

Ivanildo Vila Nova (1945)**


Mote em decassílabo, 367
Eu vejo tanta beleza..., 370

Jairo Lima (1945)**


as águas de tua hora, 371
o porto de tua hora, 373

2
3
José Rodrigues de Paiva (1945)
Jardins suspensos, 374
Canção, 376

Paulo Caldas (1945)* **


Círculo amoroso, 378
O sol além da minha rua, 380

Vital Corrêa de Araújo (1945)* **


Opera aperta (Alvo pudico alvo), 381
Opera aperta (Licor ao luar), 382

Wilson Araújo de Sousa (WAS) (1945)*


O gênio da raça castanha, 383
Engenho d‟Uchoa, 384

Gladstone Vieira Belo (1946)* **


Postal romântico, 387
Latitude urbana, 388
Discurso semiótico, 389

Antonio de Campos (1946)**


Para nós um operário nasceu, 390
Outras juras, 391

José Almino (1946)* **


Recife, essa doença, 392
Para Maximiano Campos, 393

Sérgio Moacir de Albuquerque (1946-2008)* **


Cantos da definitiva primavera, 395
Então eles se perdiam naquele
amoroso delírio..., 398

Celso Mesquita (1947)* **


A seguir os passos das musas, 400
A velha metáfora, 401

24
José Mário Rodrigues (1947)* **
A cidade, 402
Lamento, 403

Lourdes Nicácio (1947)* **


Canção da floresta, 404
O lavrador e o templo, 405

Luiz Carlos Duarte (1947)**


Poema amarelo, 406
Livro de Francisca, 407

Ésio Rafael (1948)* **


Cheio de vidas, 409
As mãos, 410

Marco Polo Guimarães (1948)* **


Duas paisagens, 411
Blue, 413

Pedro Américo de Farias (1948)* **


Impropérios, 414
Paralelepípedro, 415

Vernaide Wanderley (1948)*


Afagos de Pablo, 416
Em respeito aos que retornam, 417

Bartyra Soares (1949)* **


Desafio, 418
Persistência, 420

Dedé Monteiro – José Rufino da Costa Neto (1949)**


Sem mamãe, 421
Fim de feira, 422

2
5
Fernando Monteiro (1949)* **
Grafito I, 425
Grafito II, 426

Maurício Motta (1949)* **


A hipnotizadora francesa, 427
Golpe de Estado, 428

Paulo Bruscky (1949)* **


[Poema visual], 429
[Poema visual], 430

Tereza Tenório (1949)* **


Face amada, 431
Amor, 432

Alvacir Raposo (1950)*


Há de vibrar teu corpo em claridade..., 433
É noite de São João. Toda cidade..., 434

Lucila Nogueira (1950)*


E se inda houver amor, 435
Sentimento súbito, 436

Elizabeth Hazin (1951)**


Recife, 440
soneto das tempestades, 441

Juhareiz Correya (1951)**


Passagem na ponte, 442
Canção para Victor Jara, 444

Márcia Maia (1951)* **


Dos caminhos de ir e voltar, 445
Decomposição, 447

26
Cícero Melo (1952)*
A terceira pele, 448
Os mortos, 449

Marilena de Castro (1952)*


A roda da vida, 450
O silêncio das pedras, 453

Eduardo Diógenes (1954)* **


O não do sim, 454
E o depois eu conto, 455

Dione Barreto (1955)*


O Compromisso, 456
Assombração, 457

Walter Cabral de Moura (1955)*


De sempre, 458
Desejo no arrecife, 460

Tarcísio Regueira (1956)* **


Néon, 461
Maria, José, Jesus, 462

Zeto – José Antônio do Nascimento Filho (1956-2002)* **


Meu amigo, 466
No batente de pau do casarão, 467

Luiz Carlos Monteiro (1957)**


Poema-falácia, 468
Poema sertaniense ou nas ruas da velha cidade, 469

Paulo Gustavo (1957)* **


Soneto da transfiguração, 470
Mãe, 471

2
7
Erickson Luna (1958-2007)* **
Epitáfio para um burocrata, 472
Do moço e do bêbado, 473

Flávio Chaves (1958)**


Uma canção de amor para Violeta, 475
A alma como testemunha, 477

Francisco Espinhara (1960-2007)* **


Natureza morta, 478
Black Sabbath, 479

Luis Manoel Siqueira (1960)* **


Bolsa de valores, 480
Planos de João Mauricio de Nassau-siegne ao
pisar em terra firme, 481

Eduardo Martins (1962)* **


O lado aberto, 482
Geografia do mal, 483

Isac Santos (1962)*


Cântico, 484
Reincidente, 485

Cida Pedrosa (1963)* **


a lágrima tatuada, 486
luaredo, 487

Tadeu Alencar (1963)*


Álbum de família, 463
Lord Jim, 464
Lápide, 465

Weydson Barros Leal (1963)* **


A ponte da Boa Vista, 488
Quadro, 490

28
Marcelo Pereira (1964)* **
Demasiado humano, mas sem piedade, 491
Uma charada tropical, 492

Ivan Marinho (1965)*


Fragmento do acaso, 493
Alberto da Cunha Melo, 494
Poesia IV, 495

Mário Hélio (1965)*


Sinestesias, 496
Katorga, 498

Fátima Ferreira (1965)**


Caleidoscópio, 500
Fragmentos da Pátria, 501

Marcos D‟Morais (1966)* **


Antes das cidades existiam poetas, 502
Atracar, 503

Silvana Menezes (1967)*


Quero escrever meus versos..., 504
As andorinhas..., 505

Antônio Campos (1968)* **


Reino Verde, 506
O aniversário, 508
A espera, 509

S.R. Tuppan (1969)* **


Vida, 510
Caminhos misteriosos, 512

Múcio de Lima Góes (1969)* **


Poema em auto-relevo, 513
Insensação, 514
Naufrágio, 515

2
9
Malungo – José Carlos Farias da Silva (1969)* **
Deuses sonoros, 517
Harpas, 518

Micheliny Verunschk (1972)* **


Esfinge, 519
Tróia, 520

Pietro Wagner (1972)* **


Aves, 521
Anuário 2. Logofania, 524

Delmo Montenegro (1974)* **


O cão lingüístico, 525
non-music: eyeliner, 526

Antonio Marinho (1987)* **


Tristeza Noturna, 533
Sem Palavras, 534

Notas Biobibliográficas, 535

Fortuna crítica e notas:


Cartografia poética de Pernambuco, Hildeberto Bar-
bosa Filho (Prefácio da primeira edição), 693
A Terra da Poesia, Gilberto Mendonça Teles
(orelha da primeira edição), 699
Notas da organizadora Cláudia Cordeiro
(primeira edição), 703

Bibliografia, 707

Agenda, 719

Índice de Títulos e Primeiros Versos, 732

Índice Onomástico, 749

30
* Dados e poemas fornecidos ao Instituto Maximiano Campos
(IMC), pelo(a) autor(a) ou seus espólios e contatos, especial-
mente para esta antologia conforme documentação arquivada
no acervo literário do Instituto, no anos de 2005 e 2010.
** Escritores(as) nascidos(as) em Pernambuco.

3
1
32
Apresentação

Pernambuco em Antologias
Antônio Campos*

O Instituto Maximiano Campos surgiu da necessidade


de preservar a memória do escritor Maximiano Campos,
meu pai. Memória não apenas dele, mas também da fa-
mília, do trabalho, dos seus amigos – na quase totalidade
escritores –, do seu Estado, da sua região Nordeste, enfim
do Brasil. Para ser fiel ao seu espírito plural e coletivo, o
IMC, além de conservar, promover e divulgar a obra de
Maximiano, realiza e apoia eventos culturais, como tam-
bém concursos literários.
Entre as atividades que o IMC vem desenvolvendo,
devo destacar a publicação de livros, a exemplo desta
coleção, Pernambuco em Antologias, que revela a literatura
pernambucana em verso e prosa. As obras, organizadas
por mim em parceria com grandes amigos, são um vasto
mural da produção literária pernambucana.
O livro Pernambuco, terra da poesia, idealizado por mim
e pela ensaísta Cláudia Cordeiro, é um painel da poesia
pernambucana entre os séculos XVI e XXI. Ao reunir 161
poetas em quase 600 páginas de poemas, tivemos como
resultado um registro magnífico de várias situações, paisa-
gens e sentimentos vivenciados, tanto por parte dos auto-
res quanto pelos leitores que “viajam” ao lerem a obra. É
um registro físico da literatura nacional, desde o marco da
Literatura Brasileira, com o poema Prosopopeia, de Ben-
to Teixeira, até produções locais da famosa Geração 65,
da qual o próprio Maximiano fez parte. A toda hora, em
toda parte, encontro um poeta, agradecido por participar

33
da obra, ou escritores e críticos a comentá-la, citando des-
conhecer autores nela revelados. É uma forma de termos
conosco a história de Pernambuco de uma maneira mais
clara e sublime, através da Arte Poética.
Como em todos os escritos poéticos, esses trajetos não
se desenrolam de maneira uniforme. Cada poeta e cada
poema têm suas próprias características, assim como avalia-
ções, julgamentos e encantamentos singulares – reservados
aos leitores desta coletânea. Uma estética sucede-se à outra,
assim como um juízo a outro. A história da Arte Poética está
longe de formar um todo homogêneo e unânime. Assim,
acreditamos que a principal tarefa da poesia tem sido, atra-
vés dos séculos, falar das verdades que habitam em cada
homem, em cada escritor, de uma forma atemporal e que
possibilita ao próprio homem se reconhecer, independen-
temente da época. Concordo com Ferreira Gullar que diz:
“Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao so-
frimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer, uma
luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que
nasce das mãos e do espírito dos homens.”, pois a poesia é
isso. É a verdade absoluta em cada um de nós.
O sucesso de Pernambuco, terra da poesia despertou em
mim o interesse de produzir outro livro. Desta vez, volta-
do à área da ficção. O outro volume da coleção é Panorâ-
mica do conto em Pernambuco, fruto da minha parceria com
o escritor Cyl Gallindo. A obra, cuja produção demandou
a leitura detalhada de mais de 500 textos em livros, re-
vistas, internet e até mesmo em acervos pessoais cedidos
pelos próprios autores, resultou em uma síntese do que
há de melhor na literatura de contos.
Nessa coletânea de contos, tivemos prazerosas des-
cobertas, desde a inédita Margarida Cantarelli até o ex-
governador de Pernambuco Barbosa Lima Sobrinho; na
extensão do conceito de pernambucanidade, incluímos

34
Graciliano Ramos, visto que morou em Buíque durante
boa parte de sua infância, assim como a ucraniana Clarice
Lispector, que se dizia recifense por ter morado no Recife
quando criança e onde realizou os estudos primários. Essas
inserções são possíveis, porque, a partir da primeira obra,
adotamos o critério de “Domicílio Literário”, que trans-
cende ao do simples registro biográfico da naturalidade.
Histórias da infância, amizades, aventuras e grandes
amores são narrados por escritores como Amílcar Dória
Matos (recém-falecido), Benito Araújo, Fátima Quintas,
Gilberto Freyre, Luzilá Gonçalves, Raimundo Carrero e
tantos outros não menos importantes que estes antes ci-
tados. Como afirmou Gallindo, “as coletâneas são como
as publicações de obras completas de autores vivos: ficam
sempre incompletas”, mas acredito piamente que fizemos
um belo trabalho.
Lançada a antologia de contos, era chegado o momento
de voltar a atenção para a publicação de uma antologia de
crônicas. Desta feita, a parceria na organização seria com
o professor Luiz Carlos Monteiro. A antologia Cronistas de
Pernambuco reflete um esforço literário de forte expressivi-
dade cultural, no sentido de trazer a lume escritores de pe-
ríodos diferenciados da vida e da história pernambucanas.
São autores de variada origem e tendência profissional e
artística, do século XIX até os dias atuais. A importância
dessa contribuição cultural evidencia-se pelo registro lite-
rário que tais autores empreenderam na forma da crôni-
ca, reunindo pequenos ou grandes acontecimentos, fatos e
eventos cotidianos que a notícia de jornal não pode expri-
mir com a poesia e a sutilidade que a crônica requer.
O mundo, cada vez mais individualista e fragmentado,
precisa unir-se, e uma antologia é uma tentativa de união.
João Cabral de Melo Neto mostra que a reunião de diver-
sos cantos é a responsável por uma grande manhã:

35
“Um galo sozinho não tece uma manhã
ele precisará sempre de outros galos.
(...) para que a manhã, desde uma teia tênue
se vá tecendo, entre todos os galos.”
O sociólogo Renato Carneiro Campos, em um ensaio
intitulado Joaquim Nabuco: um agitador de ideias, afirma que,
se tivesse que escolher um Estado, na Federação, para re-
presentar D. Quixote, este Estado seria Pernambuco, pois
“Não lhe faltam magreza, loucura e sonho para tanto”.
Realmente, Renato tinha razão. Pernambuco, com suas
revoluções falhadas e seus movimentos libertários abafados
a ferro e a fogo, é uma espécie de D. Quixote da Federação.
Em virtude dos seus ideais republicanos, manifestados em
1817, quando foi proclamada a República de Pernambuco,
e em 1824, quando se desenrolou a Confederação do Equa-
dor, o território da antiga Província de Pernambuco perdeu
as Comarcas das Alagoas e a do São Francisco. Contudo, Per-
nambuco resistiu e nunca deixou de sonhar e de fazer arte.
Certa vez, Alceu Amoroso Lima disse que, quando o
Brasil está em crise, se volta para cá, para a região cortada
pelo Rio São Francisco, que é conhecido como o “Rio da
Integração Nacional”.
Que o sol de Pernambuco e a força de sua poesia e
de seus ideais libertários, forjados na luta de gerações,
acendam uma luz no meio da escuridão e nos mostre o
verdadeiro caminho da nação brasileira. A série Pernam-
buco em Antologias é exatamente isso. É um meio de mos-
trar ao Brasil e ao mundo o valor desta terra iluminada,
tanto pelo sol estampado em nossa bandeira, quanto no
valor histórico, cultural e intelectual do nosso povo. Além
de ser uma homenagem sincera que prestamos ao nosso
Estado e a cada um dos pernambucanos.

*Advogado, Escritor, Presidente do


Instituto Maximiano Campos (IMC).

36
Prefácio
Nova colheita da poesia da terra

“Um dos serviços importantes,


que à sua terra devem os brasileiros, é não
deixar perder-se toda a sua literatura
antiga, mesmo tal qual é, como na
máxima parte já se tem perdido, dando
esta perda causa a supor-se, que ela é
absolutamente nenhuma.”
Antonio Joaquim de Mello (in Biografias de
Alguns Poetas e Homens Illustres da Província de Per-
nambuco, 1856, p. 4.)

“(...) e a „Terra da Poesia‟ se


desdobrará pelos quatro pontos cardeais
do mapa brasileiro.”
Gilberto Mendonça Teles (in Pernambuco, terra
da poesia. Um painel da literatura pernambucana
dos séculos XVI ao XXI, 2005, orelha).

Pernambuco, terra da poesia. Um painel da poesia pernam-


bucana dos séculos XVI ao XXI, há cinco anos de sua pri-
meira edição (2005), desdobra seus horizontes e se projeta
no mundo literário como integrante da coleção Pernambuco
em Antologias, graças à iniciativa do Instituto Maximiano
Campos, IMC, através de seu presidente, o escritor, advoga-
do e poeta Antônio Campos, que se tem revelado um raro
empreendedor cultural em Pernambuco. É com ele, em par-
ceria com os escritores Cyl Gallindo e Luiz Carlos Monteiro,
que se compõem um painel mais abrangente da poesia e da
prosa da terra: Panorâmica do conto em Pernambuco, em se-
gunda edição, e Cronistas de Pernambuco, em primeira edição,
onde a literatura pernambucana emerge em sua singulari-

37
dade de expressão na vitrina do tempo presente, para todos
que, por interesses de pesquisa, análise, estudo ou simples
prazer estético, se movam em direção à arte literária no Es-
tado. No entanto, é preciso observar que o Pernambuco, terra
da poesia preserva, nesta segunda edição, o seu caráter docu-
mental e histórico, mais inclusivo que seletivo, mais exposi-
ção que análise, imprimindo, na linha do tempo, o percurso
da poesia através de quatro séculos.
É fácil constatar que essa mesma identidade permite à
obra mais facilmente pontuar-se nas mais diversas áreas da
leitura e do conhecimento, seja enquanto fonte, nas páginas
de monografias, dissertações e teses – a exemplo, das teses
de douramento de Isabel de Andrade Moliterno, “Imagens,
reverberações na poesia de Alberto da Cunha Melo: uma lei-
tura estilística”, defendida em 2008, na Universidade de São
Paulo, e a de Marcos D‟Morais Cunha, “A poesia da Geração
65”, defendida neste ano de 2010, na Faculdade de Letras
da Universidade do Porto – seja em jornais, revistas e uma
variada gama de publicações também e especialmente do
mundo eletrônico, onde verbetes e poemas são largamente
utilizados numa teia que se amplia e se enriquece e ultrapas-
sa as fronteiras dos “quatro pontos cardeais do mapa brasi-
leiro”, conforme previsto por Gilberto Mendonça Teles.
Essa repercussão de caráter externo incide na construção
de uma história da própria obra que se adensa com os novos
fatos que constrói, como a inserção de novo item no volume
a sua Fortuna Crítica, guardando as presenças na primeira
edição de dois grandes representantes da literatura brasilei-
ra, os poetas e críticos literários Gilberto Mendonça Teles e
Hildeberto Barbosa Filho. No que se refere à sua tessitura,
abriga-se, aqui, o registro da participação do poeta, jorna-
lista e sociólogo Alberto da Cunha Melo, que se incumbiu,
na primeira edição, da difícil tarefa de resgatar a estrutura
de palavras, versos e estrofes de poemas coletados em obras
raras do setor de mesmo nome da Biblioteca Pública Es-

38
tadual. O poeta morreu em 13 de outubro de 2007, mas,
além de sua presença poética, indispensável, resguarda-se
aqui o registro de sua participação na elaboração do volu-
me. É, em nome desse único ausente da nossa convivência,
que urge registrar e agradecer a todos que se somaram à
construção da obra na primeira edição, Raimundo Gade-
lha, editor; Helena M. Uchara, coordenação editorial; Leila
Teixeira, assessoria técnico-administrativa; Isabel de Andra-
de Moliterno, revisão; Ninon Tásia da Silva Alves, auxiliar
de pesquisa; Luiz Arrais, projeto gráfico; Elisa M. B. Torres,
editoração eletrônica; Assis Lima, fotos; Elisa M. B. Torres e
Nádia Reinig Moreira; nomes que fundam, neste parágrafo,
nossa diretriz de repercussão e exemplo.
Enriquecendo o caráter de abrangência, revelam-se, nes-
ta edição, mais 12 poetas, dois deles de grande representa-
ção para a história da literatura pernambucana: Ulisses Lins
de Albuquerque (1889-1979) e Alcides Lopes de Siqueira
(1901-1977), situados no início do século XX, além de inau-
gurar a homenagem ao poeta compositor e folclorista Zé
Dantas (1921-1962), em nome dos que se notabilizaram
através do cancioneiro popular. Eles se somam aos poetas
Job Patriota, Lourival Batista e Zeto, a linhagem poética in-
crustada no Sertão do Pajeú, que se projeta hoje na inclusão
de uma das maiores lideranças literárias do sertão, o poeta
Dedé Monteiro (primeiro lugar do 4º Prêmio Internacional
Poesia ao Vídeo 2010) e se estende para Ésio Rafael, com
sua relevante atuação na vida da poesia do repente, até o
ponto final da coletânea representada pelo poeta Antonio
Marinho. A tradição poética se eleva na presença da grande
poetisa pernambucana Maria do Carmo Campello de Melo,
contemporânea e amiga de Celina de Holanda Cavalcanti,
atuações inesquecíveis da vida cultural do Estado. A nova
presença de Suzana Brindeiro Geyerhahn resgata a convi-
vência distante com a poesia da Geração 65, que se alteia
aqui, graças ao contato do professor e poeta Luiz Carlos

39
Monteiro, com a poesia de um de seus maiores incentivado-
res o poeta Galdstone Vieira Belo, citado em diversas fontes
sobre essa geração. Colheu-se também a poesia dos mais
contemporâneos, Tadeu Alencar, Ivan Marinho, Múcio de
Lima e Góes e Antônio Campos, o parceiro organizador
desta obra, que revela a poesia que o acompanha entre suas
diversas atuações na área literária, seja como articulista, en-
saísta e conferencista.
Enriquecem-se também os verbetes com atualizações,
mas se mantém a formatação original em nome do perfil
histórico, elo didático entre a exemplificação do texto poéti-
co e o compromisso informativo da obra. Há que se agrade-
cer a todos que colaboraram com o envio de suas atualiza-
ções e novas informações, especialmente aos poetas Marcos
Cordeiro e Myriam Brindeiro.
É preciso recordar que o critério de “domicílio literá-
rio”, legado pelo grande mestre, poeta e crítico César Leal,
utilizado desde a primeira edição, representa o suporte teó-
rico para a inserção de poetas que não nasceram em Per-
nambuco, mas cuja produção literária e atuação no mundo
cultural do Estado se revestem de significativa notoriedade.
Seguindo a objetividade de um “painel” e obedecendo ao
critério documental investido no caráter histórico, a obra
exibe o transcurso de diversos estilos e gerações, como a de
65, que, lançada por César Leal, recebeu dele o incentivo e
registra presença decisiva na literatura brasileira.
Amparados na natureza primeva da vida literária per-
nambucana, berço de nosso nativismo literário há 409 anos,
Prosopopeia (1601), esta edição homenageia a ficcionista Cla-
rice Lispector, que destinou a poesia que escreveria a suas
personagens, como em Joanna, de Perto do coração selvagem
(1943), numa verdadeira poética do narrar, como pontua Ná-
dia Batella Gotlib, em Clarice, uma vida que se conta (2009, p.
196), com anuência de críticos como Sérgio Milliet, Antonio
Candido e Massaud Moisés; lembrando a Geografia funda-

40
dora da escritora Clarice, na nossa Terra da poesia, tão bem
fundamentada por Antônio Campos em seu artigo do livro
Diálogos contemporâneos (2010, p. 35). Foi em Pernambuco
que a menina Clarice definiria seu destino de escritora em
língua portuguesa e daria os primeiros passos em sua poéti-
ca de ficção. Portanto, a homenagem transcende ao caráter
cronológico dos 90 anos de seu nascimento, e registra a sua
definitiva presença em nossa literatura, devidamente inse-
rida nas páginas da edição 2010 da Panorâmica do conto em
Pernambuco, organizada por Antônio Campos e Cyl Gallin-
do. Pequeno fragmento de texto de Clarice Lispector é uma
das nossas epígrafes, que se une à permanência do poema
“Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, inseri-
do na primeira edição, em função de um dado histórico:
também comemoramos, neste ano de 2010, os 90 anos de
nascimento do poeta de Educação pela pedra.
Mais se alargam os horizontes, mais se conscientiza a na-
cionalidade da urgência de muitos outros painéis, panora-
mas e antologias da literatura brasileira, que precisam ser
editados, não apenas para a preservação do presente, mas
também, para o resgate e perpetuação do nosso passado
literário, conforme a lição de Antonio Joaquim de Mello, na
nossa epígrafe. Cultua-se, aqui, essa lição ao modo de outra
que estes versos de João Cabral de Melo Neto nos ensinam:
“(..) se encorpando em tela, entre todos,/ se erguendo tenda,
onde entrem todos,/ se entretendendo para todos, no toldo”
desta segunda edição do Pernambuco, terra da poesia, colheita
da poesia da terra, no celeiro dos nomes de todos poetas e
dos construtores desta segunda edição nesta homenagem:
Adelmar Tavares; Andréia Caroline Pereira de Oliveira;
Alberto da Cunha Melo; Alcides Lopes de Siqueira; Almir
Castro Barros; Alvacir Raposo; Ana Maria César; Ângelo
Monteiro; Anna Alexandrina Cavalcanti D‟Albuquerque;
Antônio Campos; Antonio de Campos; Antonio Marinho;
Ariano Suassuna; Arnaldo Tobias; Ascenso Ferreira; Assis

41
Lima; Audálio Alves; Austro Costa; Bartyra Soares; Bastos
Tigre; Benedito Cunha Melo; Bento Teixeira; Carlos Morei-
ra; Carlos Pena Filho; Carneiro Vilela; Celina de Holanda;
Celso Mesquita; César Leal; Chicão – Francisco José Trin-
dade Barrêto; Cícero Melo; Cida Pedrosa; Clélia Silveira;
Cloves Marques; Cyl Gallindo; Deborah Brennand; Dedé
Monteiro – José Rufino da Costa Neto; Delmo Montenegro;
Demóstenes de Olinda; Deolindo Tavares; Dione Barreto;
Domingos Alexandre; Edmir Domingues; Edson Régis;
Eduardo Diógenes; Eduardo Martins; Edwiges de Sá Perei-
ra; Elizabeth Hazin; Emília Leitão Guerra; Erickson Luna;
Esdras Farias; Ésio Rafael; Esman Dias; Eugênia Menezes;
Eugênio Coimbra Jr.; Everardo Norões; Faria Neves Sobri-
nho; Fátima Ferreira; Fernando Monteiro; Flávio Chaves;
Francisca Izidora Gonçalves da Rocha; Francisco Altino de
Araújo; Francisco Bandeira de Mello; Francisco Espinhara;
Francisco Ferreira Barreto; Frei Caneca; Geraldino Brasil;
Gilberto Freyre; Gladstone Vieira Belo; Helder Camara
[Dom]; Homero do Rêgo Barros; Isac Santos; Ivan Mari-
nho; Ivanildo Vila Nova; Jaci Bezerra; Jairo Lima; Janice
Japiassu; Joanna Tiburtina da Silva Lins; João Cabral de
Melo Neto; João Nepomuceno da Silva Portella; Joaquim
Cardozo; Job Patriota; Jorge Wanderley; José Almino; José
Carlos Targino; José Mário Rodrigues; José Rodrigues de
Paiva; Juhareiz Correya; Leila Teixeira; Lenilde Freitas;
Lourdes Nicácio; Lourdes Sarmento; Lourival Batista; Luci-
la Nogueira; Lúcio Ferreira; Luis Manoel Siqueira; Luiz Al-
ves Pinto; Luiz Carlos Duarte; Luiz Carlos Monteiro; Maciel
Monteiro; Malungo – José Carlos Farias da Silva; Manuel
Bandeira; Manuel de Souza Magalhães; Marcelo Mário de
Melo; Marcelo Pereira; Márcia Maia; Marco Polo Guimarães;
Marcos Cordeiro; Marcos D‟Morais; Marcus Accioly; Maria
da Paz Ribeiro Dantas; Maria de Lourdes Hortas; Maria
do Carmo Barreto Campello de Melo; Maria Heraclia de
Azevedo; Marilena de Castro; Mário Hélio; Mario Melo;

42
Maurício Motta; Mauro Mota; Mauro Salles; Maximiano
Campos; Medeiros e Albuquerque; Micheliny Verunschk;
Montez Magno; Múcio Leão; Múcio de Lima Góes; Myriam
Brindeiro; Natividade Saldanha; Nelson Saldanha; Nor-
ma Baracho Araújo; Odile Vital César Cantinho; Olegário
Mariano; Olímpio Bonald Neto; Orismar Rodrigues; Orley
Mesquita; Patrícia Lima; Paulino de Andrade; Paulo Ban-
deira da Cruz; Paulo Bruscky; Paulo Caldas; Paulo Cardoso;
Paulo de Arruda; Paulo Gustavo; Pedro Américo de Farias;
Pedro Xisto; Pietro Wagner; Potiguar Matos; Rita Joanna de
Souza; S.R. Tuppan; Sebastião Uchoa Leite; Sebastião Vila
Nova; Sérgio Moacir de Albuquerque; Sérgio Bernardo; Se-
verino Filgueira; Silvana Menezes; Solano Trindade; Suzana
Brindeiro Geyerhahn; Tadeu Alencar; Tarcísio Meira César;
Tarcísio Regueira; Targélia Barreto de Meneses; Tereza Te-
nório; Tobias Barreto; Tomás Seixas; Ulisses Lins de Albu-
querque; Vanildo Bezerra; Vernaide Wanderley; Vicente do
Rego Monteiro; Vital Corrêa de Araújo; Vitoriano Palhares;
Waldemar Cordeiro; Waldemar Lopes; Waldimir Maia Lei-
te; Walter Cabral de Moura; Weydson Barros Leal; William
Ferrer Coelho; Wilson Araújo; Zé Dantas – José de Souza
Dantas Filho; Zeto – José Antônio do Nascimento Filho.

Olinda, 10 outubro de 2010.


Cláudia Cordeiro
Professora pós-graduada em
Literatura Brasileira, ensaísta e webdesigner

43
44
Bento Teixeira
(± 1550-1600)

PROSOPOPÉIA
[fragmentos]

DESCRIP –
ção do Recife de Paranambuco.

XVII
PERA A parte do Sul, onde a pequena,
Vrsa, se vé de guardas rodeada,
Onde o Ceo luminoso, mais serena,
Tem sua influyção, & temperada.
Iunto da noua Lusitania ordena,
A natureza, mãy bem atentada,
Hum porto tam quieto, & tam seguro,
Que pera as curuas Naos serue de muro.

XVIII
He este porto tal, por esta posta,
Huma cinta de pedra, inculta, & viua,
Ao longo da soberba, & larga costa,
Onde quebra Neptuno a furia esquiua.
Antre a praya, & pedra descomposta,
O estanhado elemento se diriua,
Com tanta mansidão, que huma fateyxa,
Basta ter à fatal Argos anneyxa.

45
XIX
Em o meyo desta obra alpestre, & dura,
Huma boca rompeo o Mar inchado,
Qua na lingoa dos barbaros escura,
Paranambuco, de todos he chamado.
De Para, na que he Mar, Puca rotura
Feyta com furia desse Mar Salgado,
Que sem no deriuar, commetter mingoa,
Coua do Mar se chama em nossa lingoa

XX
Pera entrada da barra, á parte esquerda,
Està huma lagem grande, & espaçosa,
Que de Pyratas fora total perda,
Se huma torre tiuera sumptuosa.
Mas quem por seus seruiços bõs não herda,
Desgosta de fazer cousa lustrosa,
Que a condição do Rey que não he franco,
O vassallo faz ser nas obras manco.

XXI
Sendo os Deoses á lagem já chegados,
Estando o vento em calma, o Mar quieto,
Depois de estarem todos sossegados,
Per mandado do Rey, & per decreto.
Proteu no Ceo, cos olhos enleuados,
Como que inuistigava alto secreto,
Com voz bem entoada, & bom meneyo,
Ao profundo silencio, larga o freyo.

(In Naufrágio & Prosopopéia.


Afonso Luiz Piloto e Bento Teyxeyra, 2001, p. 97-98)

46
CANTO DE PROTEU

XXII
Pellos ares retumbe o graue accento,
De minha rouca voz, confusa, & lenta,
Qual toruão espantoso, & violento,
De repentina, & horrida tormenta.
Ao Rio de Acheronte turbulento,
Que em sulphureas burbulhas arrebenta,
Passe com tal vigor, que imprima espanto,
Em Minos riguroso, & Radamantho.

XXIII
De lanças, & descudos encantados,
Não tratarey em numerosa Rima,
Mas de Barões Ilustres afamados,
Mais que quantos a Musa nam sublima.
Seus heroycos feytos extremados,
Affinarão a dissoante prima,
Que não he muyto tam gentil subjeyto,
Supplir com seus quilates meu defeyto.

XXIV
Não quero no meu Canto alguma ajuda,
Das noue moradoras de Parnaso,
Nem material tam alta quer que alluda,
Nada ao essencial deste meu caso.
Porque dado que a forma se me muda,
Em falar a verdade, serey raso,
Que assim cõuem fazello, quem escreue
Se á justiça quer dar o que se deue.

(In Naufrágio & Prosopopéia.


Afonso Luiz Piloto e Bento Teyxeyra, 2001, p. 99)

47
Rita Joanna de Souza
(1696-1718)**

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 95)

48
(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 96)

49
(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 97)

50
(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 98)

51
(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 99)

52
(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 100)

53
(In Pernambucanas illustres, 1879, primeira capa)

54
Manuel de Souza Magalhães
(1744-1800)**

SONETO (1)

Se eu não vivera tão empobrecido,


De ouro fino um cajado hoje vos dera.
Se eu do Cisne canoro a voz tivera,
Cantara o vosso ser enobrecido.

Sei que de vós, Prelado enriquecido,


A minha data a escusa merecera.
Que em louvar-vos vos não engrandecera,
Porque nascestes todo engrandecido.

Muitos farão melhor, mas por vaidade;


Por dádiva, e louvor sobra o que elejo:
De amor sobra a fiel sinceridade.

Feliz mil vezes eu hoje me vejo!


Não achando que dar, tenho vontade;
Não chegando a aplaudir, tenho desejo!

(1) Ao Bispo D. Diogo de Jesus Jardim

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da


Província de Pernambuco. 1856, p. 44)

55
OUTRO (1)

O nosso Arão exulta de alegria!


Nosso Moisés tem gostos semelhantes!
Pelas núpcias dos ótimos infantes,
Pelos anos da ínclita Maria.

Exprime o gosto de uma Artilharia


Nas línguas, e clamores fulminantes;
Do outro o clero em cheiros fumegantes
Da goma de Sabá, que aos Céus envia.

César guerreiro os louros afiança,


Quando sobre os altares com ternura
Brota o jardim os frutos da Esperança.

Ambos gostam de ver tão firme, e pura


Nos esposos da paz a segurança
E nos anos da mãe nossa ventura.

(1) Por ocasião das festas dos casamentos dos Infantes de Portugal e
Espanha em 1784, as quais se celebraram em Pernambuco no mes-
mo ano, e no dia aniversário do natalício da Rainha D. Maria IV,
sendo Governador José César de Menezes, e Bispo D. Diogo.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da


Província de Pernambuco, 1856, p. 45)

56
Luiz Alves Pinto
(± 1745 – ± 1815)**

O AMOR MAL CORRESPONDIDO


(excerto de comédia – ato I – cena 1 – clorinda)

“Fiéis vassalos, tenha hoje Albânia


A maior glória, que lograra nunca;
A nossa pátria hoje se renova
Com o domínio que se lhe divulga.
Floribelo e Celauro generosos
Príncipe este de Atenas sempre augusta,
Aquele dessa Epiro vencedora,
Meus fortes aliados o promulgam.
Breve no ar flutuantes e galhardas,
Tantos pendões vereis quantas as turmas,
Que em rápidos ginetes alentados
Acompanharam as guerreiras turbas.
Ver hoje espero os dois triunfadores
Do inimigo soberbo, que subjuga
As margens do Paciolo, e a quem a Grécia
Obsequiosa adorações faculta.
Dos domínios opimos de troante
Já sois dominadores. Com injúria
Das cortes ilíricas, indigno
Ele os nossos limites descompunha.
Mas já frio receio a nossos peitos
Deixara de assaltar, que com astúcia
Nos infundia o indômito contrário,

57
De perfídia e ambição não vista fúria.
Por toda a Grécia as novas se espalharam,
Que impelidas à vergonhosa fuga,
Do rei Troante as tropas mais soberbas
Corriam derrotadas e confusas.
Soube que o Valeroso Florisbelo
O escudo embraça; a grande espada empunha
Vence e despoja dos vitais alentos
Dessa Grécia a fortíssima coluna.
Celauro rompe com a cavalaria
Todo o exército; mas com mais fortuna.
Eles repetiram as tristes ânsias
Em que o império desse Rei flutua.
Excelsa glória os coroa, e de mim longe
O apoucá-la em vozes diminutas;
Apenas em períodos mui breves
Minha idéia a catástrofe debuxa:
E havendo original, é desacerto
Fiar-se nas idéias da pintura.
(Vozes) Vivam os nossos generais, etc.

(In Biografias de Joaquim Inácio de Lima, 1895, p. 49-53)

58
João Nepomuceno da Silva Portella
(1766-1810)**

ENCÔMIO DE REPETIÇÃO

Bendita sejas,
Ó doce Bárbara,
Ó virgem cândida,
Mártir fortíssima!
Destes louvores
Tu és mui digna;
Ouve benigna
Nossos clamores.

Cântico

Quando gravaste
No duro mármore
Do lenho Lenho sacro
O sinal místico
Ao Pai irado
Então confessas,
Que a lei professas
Do Deus chagado...

Ardendo em ira
O cego Idólatra,
Do peito exala
Furor terrífico

59
A ser feroz
No seu delírio
Do teu martírio
Primeiro algoz.
Do Pai tirano
Fugindo tímida,
Que contra ti
Se lança pérfido
Para livrar-te,
Com mais brandura,
A pedra dura
Por si se parte

Ao Juiz fero
Da lei gentílica
Rival te acusa,
Cruel, indômito.
Já rio tormento
A aguda dor
Obra o rigor
Sanguinolento.

Às mãos entregue
De algozes ímpios,
Cruéis açoites
Te deram rígidos:
Mas tudo isto
Mais te declara
Esposa cara
De Jesus Cristo

Correndo o sangue
Das chagas horridas,
Da prisão triste
Nas trevas lançam-te.

60
Para animar-te
Deus piedoso,
Divino Esposo,
Vem consolar-te.

Contigo sendo
De graça pródigo,
As tuas chagas
Cura benéfico.
Mas o tirano,
Com seu prestígio,
Nega o prodígio
Do Soberano

Rasgar teus lados


Decreta rábido
E que te arranquem
Os peitos cândidos.
Vão prosseguindo
Nos teus flagelos
Mortais cutelos
Chagas abrindo

Do teu pudor O
casto lírio, Que
da pureza
Rebenta florido,
Pretende a fúria
De Monstros duros
De olhos impuros
Sinta a injúria.

A Deus oraste
Com fervor íntimo:
As tuas súplicas

61
Atende provido.
De claridade
A estola pura
Cobre a candura
Da virgindade.

Da tua vida
Já vais, ó Bárbara,
Dar por Jesus
Os passos últimos.
O Juiz forte,
Sem mais detença,
Deu a sentença
Da tua morte.

Teu pai insano


De infernal cólera,
Se of ‟rece a dar-te
Golpe mortífero:
Do monte chega
Fera obstinada,
Levanta a espada,
E o golpe emprega.

Rebenta vivo
O sangue tépido!...
Da impiedade
Fenece a vítima.
Voas contente
Com Deos a estar,
E a descansar
Eternamente.

Lá de Deus Alto
Ao trono fúlgido

62
Dirige as nossas
Súplicas fervidas.
Pois de louvores
Tu és mui digno
Ouve, benigna
Nossos clamores.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da


Província de Pernambuco, 1856, p. 16-19).

63
Frei Caneca
(1779-1825)**

DÉCIMAS
Se amor vive além da morte,
Eterno o meu há-de ser:
Se amor dura só na vida
Hei de amar-te até morrer.

GLOSA
Que um peito, Anália, sensível,
Desses teus olhos ferido
Não te caia aos pés rendido,
Me parece um impossível.
Antes só tenho por crível
Que todo a ti se transporte,
E te reste amor tão forte,
Em teu serviço jocundo,
Que te ame além do mundo
Se amor vive além da morte.

Por essa força atrativa


Que te pôs a natureza,
Minha alma antes ilesa
Já de si se vê cativa.
De amor numa chama viva
O peito sinto-me arder;

64
E se posso hoje prever
Os sucessos do futuro,
Entre os fogos de amor puro
Eterno o meu há de ser.

Mais forte que o gordiano,


É o nó que a ti me prende;
Fica certa que não fende
Da morte o ferro tirano;
Porque trazer-te-ei ufano
Num fundo d‟alma esculpida,
Ou ao nada reduzida
Deve ser a minha essência;
Que nego a sobrevivência
Se amor dura só na vida.

Em ambas suposições
Não és de mim separada;
Que me estás amalgamada
Da mente nas sensações;
E pois modificações
Só por si não pode ser,
Hás de eterna em mim vier,
Se eu tenho uma alma imortal;
Ou se ela é material,
Hei de amar-te até morrer.

(In Obras políticas e literárias de Frei Joaquim do


Amor Divino Caneca, 1876. II tomo, p. 11-12)

65
ENTRE MARÍLIA E A PÁTRIA

Entre Marília e a pátria


Coloquei meu coração:
A pátria roubou-me todo;
Marília que chore em vão.

Quem passa a vida que eu passo,


Não deve a morte temer;
Com a morte não se assusta
Quem está sempre a morrer.

A medonha catadura Da
morte fria e cruel, Do
rosto só muda a cor Da
pátria ao filho infiel.

Tem fim a vida daquele


Que à pátria não soube amar;
A vida do patriota
Não pode o tempo acabar.

O servil acaba inglório


Da existência a curta idade:
Mas não morre o liberal,
Vive toda a Eternidade!

(In Obras políticas e literárias de Frei Joaquim do


Amor Divino Caneca, 1876. II tomo, p 11-12)

66
Francisco Ferreira Barreto
(1790-1851)**

ANACREÔNTICA

Vem escutar-me
Oh! Lilia! Vem!
O amor, que eu tenho,
De amor provém.

Nize é formosa
Márcia também:
Tanta beleza
Não me entretém.

Outras contemplo,
Mil graças têm;
Mas eu às outras
Não quero bem.

Não tens tesouros


Que dês a alguém;
E até por isto
Te quero bem.

Jove tratou-te
Só com desdém.
Melhor, não deves
Nada a ninguém.

67
Juntem-se todas,
Tudo me deem:
Desprezo tudo,
Que as outras têm.

Amor tão puro


Já viu alguém?
O amor, que eu tenho,
De amor provém.

68
SONETO

Surge Capibaribe, que serpeja


Desencrespando a pálpebra rugosa:
Eis levanta a cabeça majestosa,
Que em torrentes de espuma lhe branqueja.

Reluz a espádua, a testa lhe goteja;


É verde musgo a barba respeitosa:
Traz negros musgos na madeixa idosa,
E a urna de cristal nas mãos lhe alveja.

Salve, ó Rego imortal! (bradou sorrindo)


Irá teu nome invicto, e celebrado
Ao Tejo, ao Sena, ao Ebro, ao Zaire, e ao Indo!

Três vezes mergulhou precipitado,


Não disse mais; e rápido fugindo,
Foi levar seu tributo ao Mar Salgado.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da


Província de Pernambuco, 1856, pp. 51 e 56, II tomo)

69
Natividade Saldanha
(1796-1830)**

SONETO

Se, no seio da pátria carinhosa,


Onde sempre é fagueira a sorte dura,
Inda lembras, e lembras com ternura,
Os meigos dias da união ditosa;

Se entre os doces encantos de que goza


Teu peito divinal, tua alma pura,
Suspiras por um triste sem ventura,
Que vive em solidão cruel, penosa;

Se lamentas, com mágoa, a minha sorte,


Recebe este meus aís, oh minha amante,
Talvez núncios fiéis da minha morte.

E se mais não nos virmos, e eu distante


Sofrer da parca dura o férreo corte:
Amou-me, dize, então morreu constante.

(In História geral da literatura pernambucana.


(Séculos XVI-XX), 1955, p. 35)

70
AOS FILHOS DA PÁTRIA

Filhos da Pátria, jovens brasileiros


Que as bandeiras seguis do márcio nume
Lembrem-vos Guararapes, e esse cume,
Onde brilharam Dias e Negreiros!

Lembrem-vos esses golpes tão certeiros,


Que às mais cultas Nações deram ciúme,
Seu exemplo segui, segui seu lume,
Filhos da Pátria, jovens brasileiros.

Esses, que alvejam campos, níveos ossos,


Dando a vida por vós constante e forte,
Inda se prezam de chamar-se nossos.

Ao fiel cidadão prospera a sorte


Sejam iguais aos seus os feitos vossos
Imitai vossos pais até na morte.

(In História geral da literatura pernambucana.


(Séculos XVI-XX), 1955, p. 36)

71
Maciel Monteiro
(1804-1869)**

UM SONHO
Ao embarque e partida de uma Senhora.

Ela foi-se! E com ela foi minh‟alma


n‟asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!

Voava a brisa e no atrevido rapto


frisava do Oceano a face lisa:
eu que a brisa acalmar tentava insano,
com meus suspiros alentava a brisa!

No horizonte esconder-se anuviado


eu a vi; e dois pontos luminosos
apenas onde ela ia me mostravam:
eram eles seus olhos lacrimosos!

Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,


que me sorria lá dos olhos seus;
e dalém ondulando uma aura amiga
aos meus ouvidos repetiu adeus!

Nada mais via eu, nem mesmo um raio


fulgir a furto a esperança bela;
mas meus olhos ilusos descobriram
numa amável visão a imagem dela.

72
Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
ao bafejar da vespertina aragem;
se aos olhos eu perdia a imagem sua,
no meu peito eu achava a sua imagem.

Ela foi-se! ... E com ela foi minh‟alma


na asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!

Rio de Janeiro, 1851

(Disponível em: Maciel Monteiro: textos escolhidos, ABL:


<http://www.academia.org.br/imortais/cads/27/monteiro2.htm>)

73
INSPIRAÇÃO SÚBITA
A Rosina Stoltz em uma representação da “Favorita”.

Gênio! Gênio!... inda mais! Supremo esforço


da mão de Deus no ardor do entusiasmo!
És anjo ou és mulher, tu que nos roubas
do culto o amor, o êxtase do pasmo?

Na pujança do vôo a águia soberba


tenta o céu devassar, exausta pára:
nas asas do lirismo, tu de Jeová
ao templo chegas, e te prostras n‟ara.

Aí, c‟roada de fulgente auréola,


no concerto dos anjos te misturas;
e se cantas na terra, são teus hinos
harmonias que ouviste nas alturas;

aí aspiras o lustral perfume,


que das urnas sagradas se evapora:
eis porque tua voz parece ungida
dos olores da flor, que orvalha a aurora.

Aí do coração na harpa animada,


as cordas descobriste de ouro estreme,
que se vibram de amor, ateiam n‟alma
paixão que goza e sofre e canta e geme.

Aí o idioma típico aprendeste,


que entendem todos e que tudo exprime:
é assim teu olhar o verbo vivo,
é teu gesto a linguagem mais sublime.

74
Mistério augusto que do Eterno ao fiat
surgiste, qual visão que atrai, fascina;
se da mulher teu corpo veste a forma,
arde no gênio tua chama divina.

Mulher ou anjo! Cumpre a missão tua!


Seja a crença deleite, a fé doçura;
toda a terra ame ao céu nos seus prodígios,
adore o Criador na criatura.

Rio de Janeiro, 1852

(In Poesias, 1905. Disponível em:


Maciel Monteiro: textos escolhidos, ABL:
<http://www.academia.org.br/imortais/cads/27/monteiro.htm>)

75
Tobias Barreto
(1839-1889)

EU AMO O GÊNIO

Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido


Tirou-me o pranto no pungir da dor;
Há sempre um gozo no correr das lágrimas,
Há sempre um riso no murchar da flor...

Vê-se no templo se elevar o incenso


Puro, expressivo que se queima aí; E
Deus aspira o matinal perfume
D‟etéreas flores que espalhou em ti...

Quando, sublime de sofrer, m‟alma


Rompe dos prantos o sombrio véu,
São glórias tuas, virginais desmaios,
Quedas de rosas nos jardins do céu.

E quem não sente clarear o sonho,


A ideia santa dum viver melhor?
E as harmonias dum amor que torna
A fronte altiva, o coração maior?

Na voz dos mares, na expressão dos ventos


Há um mistério de fazer pensar...
Nas forças d‟alma, no poder do gênio
Há um segredo que me faz chorar...

(In Antologia de Antologias: 101 poetas brasileiros


“revisitados”, 1997. p. 238)

76
A ESCRAVIDÃO

Se Deus é quem deixa o mundo


Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo


Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus, Em
seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...

(In Dias e noites, 1868)

77
Vitoriano Palhares
(1840-1890)**

NEGRO ADEUS

Adeus! Já nada tenho que dizer-te.


Minhas horas finais trêmulas correm.
Dá-me o último riso, pra que eu possa
Morrer cantando, como as aves morrem.

Ai daquele que fez do amor seu mundo!


Nem deuses nem demônios o socorrem.
Dá-me o último olhar, para que eu possa
Morrer sorrindo, como os anjos morrem.

Foste a serpente, e eu, vil, ainda te adoro!


Que vertigens meu cérebro percorrem!
Mente a última vez, para que eu possa
Morrer sonhando, como os doidos morrem.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 57)

78
CANTANDO

Ela cantava, sua voz dizia:


– Meu Deus, que gelo, que frieza aquela!…
Eu solitário, taciturno, ouvia…
Vozes de um anjo na cantiga dela.

Ela cantava no meu crânio ardente, Toda


minh‟alma estremecia louca! Quanta
harmonia a transbordar cadente, Dos
róseos lábios da purpúrea boca!

Ela cantava… no gelado peito,


Senti o sangue derreter-se em chamas,
E o coração a desprezar afeito,
Do puro anelo laborou nas flamas.

Ela cantava… me recordo ainda…


Ouço seu canto ressoa-me n‟alma!…
Ah o mistério dessa voz tão linda
Da doce vida perturbou-me a calma.

Ela cantava… Deus, porém não queira


Que eu escute, ainda, aquela voz tão terna!…
A alma que senta do sepulcro à beira
Só quer os cantos da harmonia eterna!…

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 58)

79
Carneiro Vilela
(1846-1913)**

NINHO DE CONDOR

Sem seu ninho o condor nos cumes da montanha.


Até à luz do sol, que nasce ele se banha
E banha-se na luz do sol, quando descamba.
Na hora em que os cipós, qual rede frouxa e bamba,
Balouçam-se ao bolir do vento perfumado,
E abrem flores à luz o cálice orvalhado,
E elevam-se do rio os úmidos vapores
Como gaze sutil bordada de esplendores
Cercando de um noivado um leito em seus mistérios,
Ergue o condor o voo aos términos aéreos.

Dali, da atmosfera além das superfícies


Domina os alcantis e as úberes planícies,
E, fitando no azul olhar que não descora,
Bebe em haustos de fogo o ar que o revigora,
Em plena liberdade, ao gozo do que queira,
É rei de todo o espaço, é rei da terra inteira.

Nada pode causar-lhe ao ânimo pujante


Desânimo ou terror, quer perto, quer distante,
Ou suba até seus pés, nos gritos das panteras,
No rugido do mar, maior do que o das feras,
No sussurro da mata o silvo das serpentes,
No ronco atroador das úmidas torrentes
Rolando da montanha às pedras da bacia,
Todo o estranho rumor que aos céus a terra envia:

80
Ou desça sobre si das túrbidas alturas,
Ao embate feroz das nuvens em torturas,
Por entre o ribombar de rábidos trovões,
O raio que estaleja em lívidos clarões;
Nada, nada o perturba: em seu longo passeio
Sorri do vendaval surgindo-lhe do meio.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 75)

81
SERENATA

Vem, não tardes, vem depressa,


Anjo belo entre os mais belos!
Pousa a pálida cabeça
No colchão de meus cabelos.

Sentes frio, tens receio Da


frieza desses lugares? Tens
o leito de meu seio, Tens o
sol de meus olhares!

Tens sede, queimam-te os lábios


Loucos, tímidos desejos?
Entre os perfumes arábios
Terás o mel de meus beijos.

Tens medo? crês ameaços? Da


vida roubar-te a calma? Tens o
escudo de meus braços, Tens a
força de minh‟alma.

Tens sono? fecha-te os cílios


Da sonolência o vapor?
Dos sonhos entre os idílios
Terás meu leito de amor

És pobre? Penúria extrema,


O orgulho te abate assim?
Com meus beijos por diadema,
Terás a riqueza em mim.

O que te falta? O que queres?


Amor da terra e do céu?
Mais do que às outras mulheres,
Tudo, tudo, dar-te-ei eu.

82
Mas não tardes! Vem depressa!
Já murcha do cálix a flor.
Pousa a pálida cabeça.
Dos meus seios no calor.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p 77-78)

83
Francisco Altino de Araújo
(1849–)**

A UMA MENINA

Pergunta ao céu azul por que é tão belo,


Por que tão agitado e sonhador,
A face mostra limpa e suspirosa?
e ele te dirá: “por teu amor!...”

A nuvem rósea vem sonhar contigo,


E os crepúsculos beijaram-te esta boca,
Onde eu guardara as flores de minh‟alma,
E a autora os risos seus concentra louca!...

O pássaro nas selvas canta e cisma;


Balouça-se o vergel em seus enganos;
Prende-se o céu à terra!... oh! tudo vive,
E palpita no dia dos teus anos!

A noite diz à estrela de seu colo:


“Vem comigo pensar nessa criança.”
A tarde diz: e “vou dar-lhe os meus palores”
O dia diz: e “eu trago-lhe a esperança.”

Fazem-te mal; magoam-te a ternura,


Bolem-te d‟alma no celeste alvor!...
Mas vão caindo as penas alvas de anjo
E erguendo-se a mulher ainda em flor!...

(In Parnaso brasileiro, 1885, p. 548-549)

84
Francisca Izidora Gonçalves da Rocha
(1855-1918)**

CENA CAMPESTRE

Em dourados salões, ao som da orquestra,


Entre harmonias, perenal rumor,
Mortal veneno nos corrompe as crenças...
É só no campo que se encontra o amor!

Era ao cair da tarde. – Eu divagava


À margem de um riacho cristalino,
E as auras perpassando pelas balsas,
Vinham cheirosas, modulando um hino.

Gentil cabana divisei ao longe,


Como um berço florido dos amores...
E o cafeeiro, com seus frutos róseos,
Juncava a relva de alvacentas flores.

Além, a roça, o canavial espesso,


Como um verde lençol cobria o prado;
Uma planta de fumo no terreiro,
Parasitas azuis sobre o telhado.

Rosas, manjericão e bananeiras,


A par dos bem-me-queres vicejavam,
E à fresca sombra do ingazeiro curvo
Diamantinas cascatas borbulhavam.

85
Rosa habitava ali, por entre as selvas,
– Rosinha, a fada desses prados belos...
Saia de chita, cabeção de rendas
E um cravo branco oculto entre os cabelos.

Diríeis uma Dríade erradia,


Astro banhado em divinais fulgores;
Ossian talvez sonhara assim Malvina...
Riso nos lábios e no seio amores.

Rosa estava sentada no batente


E no seu colo uma criança ria,
Tinha ao lado um balaio de costuras
E aos pés um cachorrinho que dormia.

Em pé, na porta, prazenteiro e alegre,


Um camponês gentil, – o esposo dela;
Olhos negros e crespos os cabelos
Molduravam-Ihe a fronte altiva e bela.

Na campina – rosadas borboletas –


Duas lindas crianças que brincavam,
Riam-se, e o riso de seus lábios frescos
Repetiam-me as brisas que passavam.

Que cena bela! que mimoso quadro!


Rubens pintando a vida à luz do amor!
O rio e as selvas murmurando trenas,
Em festa o campo, a natureza em flor!

A casa era pequena e tão bonita,


Coberta de sapé e trepadeiras...
Crendo ser algum ninho em meio às flores,
Passavam nela as aves prazenteiras.

86
Sob os galhos flexíveis dos salgueiros
Cantava a juriti canções saudosas...
Juntava a voz ao murmurar da fonte
E ao ciciar d‟aragem sobre as rosas.

Meu Deus! quanta ventura neste quadro,


E como o coração fala de amores!
Que estrofes lindas de um poema d‟ouro!
Que lindo prisma de animadas cores!

(In Escritoras brasileiras do século XIX, p. 761)

87
ILHA DE CORAL

Lá nas plagas de flores e harmonias


No seio azul da Polinésia linda,
Aonde as auras embalando os sândalos
Sacodem ramos de fragrância infinda...

Onde as palmeiras no cetim das nuvens


Entrelaçam gentis frondes rendadas,
E à laranjeira os rouxinóis se aninham
Cantando idílios nas manhãs douradas.

Num quadro belo sobre o mar pacífico,


Como a gaivota em transparente lago,
A ilha de Otaiti surge graciosa
Sorrindo às vagas no amoroso afago...

– Vênus formada num frouxel d‟espumas


Da luz d‟aurora em divinais fulgores...
Orna-lhe o cinto de corais e pérolas...
No colo airoso desabrocham flores!...

Lá onde a natureza é um poema


E os céus estrofes cintilantes d‟oiro...
Um dia Eles chegaram com as aves,
Que voam ledas para um fruto loiro...

No declívio relvoso da floresta,


Entre murtas, ao pé da cachoeira,
Teceram de aloés uma cabana
Enastrada com folhas de amoeira.

À sombra dos bambus passava Arinda


No róseo lábio o narguilé cheiroso...
E entre as rendas da saia se mostrava
Indiscreto e faceiro o pé mimoso...

88
Soltas as tranças perfumando a brisa,
E o peito em ondas d‟infantil prazer,
Como a gazela do deserto Assírio
Inocente e gazil sempre a correr...

Depois cansada, vacilante, trêmula,


– Borboleta de amor – mole, indolente
Ia de amante descansar nos braços,
Bem como a estrela no sendal d‟Oriente!

Que floridas canções pela espessura


Entre risos e amor cingindo a vida!
Como era belo o pensativo poeta...
– Novo Rinaldo nos jardins de Armida!

....................................................................................

De tarde, nas canoas d‟insulares,


Com bandeiras de juncos e plumagens,
Corriam sobre as ondas do oceano
Às vezes a pescar como os selvagens.

Que transportes de amor em doce enlevo!


Que cena bela de risonhas cores!
Eram dois gênios que passavam rindo...
– na quadra festival mais dois cantores!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 180-181)

89
Anna Alexandrina Cavalcanti
D‟Albuquerque
(1860–)**

O NEGRO

Desce a noite sombria do horizonte


Enrolando o universo em negro véu,
Uma a uma as estrelas vão fulgindo,
Quais pirilampos, pelo azul do céu.

Do sacro bronze a voz inspiradora,


Pelo espaço ressoa molemente,
A brisa do crepúsculo pela relva
Travessa se espreguiça docemente.

O canário no ninho já pousado


Conchega-se à consorte pipilando,
E passando-lhe o bico n‟áurea pluma,
Vai endechas de amor lhe murmurando.

A viração da noite vai frisando


Do lago de safira a face lisa,
Além, sob o alpendre duma choça,
Um grupo de dois seres se divisa.

São vítimas da ambição e tirania,


Seres livres que os homens algemaram
No viço da existência, dois escravos
Que no mesmo regaço se embalaram.

90
O negro, qual carvalho secular, Levanta
o busto forte e vigoroso, Ampara a fraca
irmã no braço hercúleo,
Conchega-a ao peito com desvelo ansioso.

Senta-a nos joelhos lhe amimando a face.


Pousa-lhe os braços sobre o colo nu,
Contempla-a triste e lá no imo d‟alma
Diz: “pobrezinha, não rirás mais tu?”

Tão jovens! ...quando a aurora da existência


Resplende divinal na tua fronte!...
Quando ainda a virgínea adolescência
Perfuma os lírios de tu‟alma insone!...

Tão bela!... quem já teve do teu rosto


A doçura tocante, a placidez?...
Quem já teve a meiguice dos teus olhos,
Quem já teve o cetim da tua tez?

Quem já teve o langor dos teus olhares


Nos êxtases sublimes da oração?...
Quem na frase exprimiu tanta inocência,
Quem teve mais amor no coração?

Ninguém, e no entanto a tirania


Na fronte te imprimiu a marca infame:
O branco manda ao negro que não pense,
O branco manda ao negro que não ame.

Déspota!... ao coração e ao pensamento


Arremessa o grilhão negro, aviltante!
Eu vingança, porém, peço ao futuro,
Na expressão de Goethe agonizante!

91
E além, entre as brumas do horizonte,
Um ponto luminoso vai surgindo,
É a civilização, que altiva e ousada,
Nas trevas da ignorância avança rindo.

Caminha, avança, aurora redentora,


Da América nos turvos horizontes!
Que este século ainda possa ver a luz
Da remissão fulgir em vossas frontes!

E estreitando o negro o débil corpo


Da irmã querida, seu amor mais puro,
Fitou o céu de estrelas recamado,
Pendeu a fronte e murmurou: Futuro!

(In Escritoras brasileiras do século XIX, 2000, p. 907-908)

92
O QUE MAIS QUERES?

Dou-te o meu coração cheio de enlevos,


As es‟pranças repletas de fulgores,
Dum futuro sonhado cor-de-rosa,
O que mais posso dar-te, meus amores?!...

Ah! Dou-te os sentimentos de minh‟alma,


As minhas ilusões ainda em flores,
Um peito que transborda de ternura,
O que mais posso dar-te, meus amores?

Dou-te mais esta vida que só prezo


Se partilhas comigo os dissabores,
As glórias e venturas deste mundo,
O que mais posso dar-te, meus amores?!...

Dou-te tudo, oh! querido de minh‟alma


Pra merecer um só dos teus favores,
Alma e vida contente sacrifico,
O que mais posso dar-te, meus amores?!...

(In Escritoras brasileiras do século XIX, 2000, p. 905)

93
Joanna Tiburtina da Silva Lins
(± 1860-1905)**

MEUS SONHOS
“Se o futuro atirar-me algumas palmas
As palmas do cantor são todas tuas.”

Eis meus sonhos gentis, eis minhas horas


De doce inspiração!
Eis os sorrisos, os cruéis agrores
Dum triste coração!

Notas sem arte, que no ardor da cisma


Saltou meu peito um dia,
Não têm eles a luz dos grandes gênios,
Não têm maga harmonia.

Flores crestadas com o soprar do vento


De atroz contrariedade,
Exprimem as descrenças prematuras
De minha mocidade.

Transuntos de um viver que se alimenta


De tristes ilusões
São os idos e ternos companheiros
De minhas solidões.

Crestados como são com o sopro ardente


Do fatal impossível,
Mal podem exprimir um sentimento
Sublime, indefinível!

94
A VIRTUDE

Os prazeres da vida se extinguem,


Os sorrisos transformaram-se em prantos;
Só a santa virtude viceja
Lindas flores de gratos encantos.

Se as tormentas oprimem o peito,


Se a desgraça na vida ressurge,
Inda assim a virtude é mais bela,
Mais formoso seu brilho refulge

De que valem soberbos troféus, Se


a virtude não orna a nobreza!
Quando ausente essa deusa reside,
Fogem galas, brasões a riqueza.

Só é ela quem traz a ventura,


Quem resiste aos horrores da morte!
A virtude é o grato santelmo
Que nos livros dos transes da sorte!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 163-165)

95
Maria Heraclia de Azevedo
(± 1860–)**

(Fragmentos)

CETICISMO

Qu‟importam lágrimas de saudade infinda,


Se o amor traz mágoas e amarguras tantas;
Qu‟importam juras, se mentidas todas,
Insultam, mancham nossas almas santas!

Tudo se acaba!... e se esvaece ávida


Como a florzinha que se esfolha ao vento;
Amor é menos que uma flor que murcha,
A vida é menos do que um sonho lento!

NOITES DA POETISA

Dormem! Sozinha e assustada e trêmula


Desfolho o livro do cruel destino!
Dormem! Eu choro suplicando à Virgem
Me cubra a fronte com seu véu divino!

96
CONFIDÊNCIAS

Astro brilhante, majestosa lua,


Que mil pesares me despertas n‟alma,
Oh não me deixes na tristeza imersa,
E do meu peito o sofrimento acalma!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 166 a 168)

97
Medeiros e Albuquerque
(1867-1934)**

ARTISTAS

Senhora, eu não conheço a frase almiscarada


dos formosos galãs que vão aos teus salões
nem conheço também a trama complicada
que envolve, que seduz e prende os corações...

Sei que Talma dizia aos juvenis atores


que o Sentimento é mau, se é verdadeiro e são...
e quem menos sentir os ódios e os rancores
mais pode simular das almas a paixão.

E, por isto talvez, eu, que não sou artista,


nem nestes versos meus posso infundir calor,
desvio-me de ti, fujo de tua vista,
porque não sei dizer-te o meu imenso amor.

(In Pecados, 1889. Disponível em: Medeiros e


Albuquerque: textos escolhidos, ABL:
<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=524&sid=235>)

98
17 DE NOVEMBRO DE 1889
(Por ocasião da partida de D. Pedro II)

Pobre rei a morrer, da velha raça


dos Braganças perjuros e assassinos,
hoje que o sopro frio da desgraça
leva os teus dias, leva os teus destinos
do duro exílio para o longe abrigo,
hoje, tu que mataste Pedro Ivo,
Nunes Machado e tantos mais valentes,
hoje, a bordo da nau, onde, cativo,
segues, deixando o trono hoje tu sentes
que enfim soou a hora do castigo!

Pobre rei a morrer, – de Sul a Norte,


a valorosa espada de Caxias
com quanta dor e quanta nobre morte
da nossa história não encheu os dias,
de sangue as suas páginas banhando!
Digam-no dos Farrapos as legendas!

Digam-no os bravos de 48!


Falem ainda as almas estupendas
de 17 e 24, afoito
grupo de heróis, que sucumbiu lutando.

Alma podre de rei, que, não podendo


ganhar amigos pelo teu heroísmo,
as outras almas ias corrompendo
pela baixeza, pelo servilismo,
por tudo quanto a consciência abate,
– alma podre de rei, procura em volta
do teu ruído trono desabado
que amigo te ficou, onde a revolta

99
possa encontrar indômito soldado
que lhe venha por ti dar-nos combate.

De tanta infâmia e tanta covardia –


só covardia e infâmia, eis o que resta!
A matilha, a teu mando, que investia
contra nós, – nesta hora tão funesta,
volta-se contra teu poder passado!
Rei, não se ilude a consciência humana...
Quem traidores buscou – acha traidores!
Os vendidos da fé republicana,
os desertores de ontem – desertores,
hoje voltam do teu pra o nosso lado!

Vai! Que as ondas te levem mansamente...


Por esse mar, que vais singrar agora,
– arrancado a um cadáver ainda quente –
anos há que partiu, oceano afora,
o coração do heróico Ratcliff.

A mesma vaga que, ao levá-lo, entoava


do livre mar eterno o livre canto,
como o não redirá, sublime e brava,
ao ver que passa no seu largo manto,
da monarquia o lutuoso esquife!

(Últimos versos, in Poesias, 1904.


Disponível em: Medeiros e Albuquerque: textos
escolhidos, ABL: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/
cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=524&sid=235>)

100
Faria Neves Sobrinho
(1872-1927)**

O RIO

É sempre o mesmo leito pedregoso


e, sobre o mesmo leito, o mesmo rio,
a soluçar queixoso
o mesmo murmúrio...

Tão só, no eterno marulhar das mágoas,


não são mesmas as águas...

E eu penso em mim, nas ilusões fanadas,


sempre desfeitas, sempre renovadas...

E comparo-me ao rio, tristemente...


E comparo-as às aguas da corrente.

(In Faria Neves Sobrinho. Poesias, 1949, p. 72)

10
1
CEGO DE AMOR

Minha ventura única na terra


tem sido o contemplar-te;
mas, se te ofende que, contrito, eu veja
o que de venustez em ti se encerra,
faze um sinal e, mínimo que seja,
compreenderei, e deixarei de olhar-te.

Tolher-me-á a cegueira, de repente...


mas não fiques tranquila
de que eu mais te não veja, estando cego:
Dentro da noite escura do meu pego,
clara, indelevelmente,
terei gravada a tua imagem bela
no fundo da pupila;
e, satisfeito, quando
me virem tateando
em passadas a esmo
e a causa me indagarem, sorridente,
vendo-te sempre dentro de mim mesmo,
feliz, responderei Ceguei por ela!

(Publicação póstuma. In Faria Neves Sobrinho.


Poesias, 1949, p. 265)

102
Demóstenes de Olinda
(1873-1900)**

NOIVA MÍSTICA

Pelas sarças de luz da imensa altura


Passas de estrelas fúlgidas cercada,
Noiva, cantando salmos de ventura
Pelos lábios de rosa da alvorada.

Assim vejo-te em sonhos. Doce e pura


Vejo-te agora do luar banhada Cheia
de graça, ungida de ternura, Para os
meus olhos, cândida, voltada.

Custe-me a dor, quero viver te amando!


E se um dia baixares sobre a terra,
Role aos teus pés meu coração cantando,

Role e morra sereno, ativo e forte


Como quem morre impávido na guerra
Sorrindo para a glória e para a morte!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 71)

10
3
CROMO

Eu cismo: contemplo a aurora


Que estende o manto de prata
Por sobre a terra. Descora
A flor que um riso desata.

De um lago no regaço Serena


um cisne. As estrelas Dormem
no colo do espaço… Mimosas,
trêmulas, belas.

O sol desperta. Ao silvedo A


brisa em doce vertigem
Passa cantando um segredo;

Enquanto (oh! Vida ditosa!)


Duas crianças dirigem
Leve batel cor de rosa.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 72)

104
Paulo de Arruda
(1873-1900)**

DESESPERO

Basta, Senhor! O bárbaro castigo


Que me infliges, não é castigo, é morte;
Não me parece de um Deus clemente e forte
Mas de um mortal e acérrimo inimigo!

Vês? Arquejo de dor, arquejo e sigo


Sem conforto, sem fé, triste e sem norte;
Sem, como tu, achar um braço amigo
Que essa cruz ao Calvário me transporte!

Basta! Ao menos suavizar a angústia intensa


Que eu levo a errar por essa estrada imensa
No desespero eterno de um precito;

Que não me arranque mais tão cruelmente


Pedaços da alma o látego candente
Desse amor infernal, atroz, maldito!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 65)

10
5
COVARDIA

Sombra que adoro, e temo, e osculo, e odeio,


Fugir-te ao encanto embalde aspiro e tento…
Se bem longe és de mim, neste momento,
Toda escárnio sorris dentro em meu seio.

Quando te foste, eu te disse e até jurei-o


Eterno adeus de eterno esquecimento.
Mas bem longe és agora e é meu tormento
Maior, ver-me de ti somente cheio.

Quero esquecer-te e mais te anseio e vejo,


Sinto que me feriste cruelmente:
Resisto e sofro, luto e te desejo:

E a alma assim, nesta luta, se me exala:


Morro sorrindo, aos poucos, lentamente;
Morro beijando a mão que me apunhala!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 67)

106
Targélia Barreto de Meneses
(1879-1909)**

SONETO
A Venâncio Filho

Em vão tentais nos ocultar a chama


Que o vosso peito alastra e que o devora,
Nós, as mulheres, fracas muito embora,
Sabemos ler no olhar do homem que ama.

No lábio que, agitando-se, descora,


Traduzimos a frase que se inflama!
E muita vez no gelo se derrama
Fogo que o peito de afeição vigora.

O homem é assim inconsciente,


Sempre ostentando aquilo que não sente:
Quando jura um afeto está fingindo;

Quando se diz liberto está cativo!


Ironia cruel! Por que motivo
Há de o homem viver sempre mentindo?

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 883)

10
7
VIOLETAS

Se um sentimento cada flor resume


E os destinos da flor não são vulgares,
É que as flores variam no perfume
Lírios, rosas, boninas, nenúfares.

Vem Musa! Aproveitemo-nos da hora


De mais viço nos campos. Amanhece.
Quero entre as flores descobrir agora
Com que flor a minh‟alma se parece.

Vendo ruínas quando às vezes sonha,


Eco talvez de glórias fugidias,
Minh‟alma é a violeta, flor tristonha
Com que se enfeitam mortas alegrias.

Quando, ao baixar ao túmulo profundo,


Tu doce amiga, visitar me fores,
Numa cruz de violetas mostra ao mundo
Que foi minh‟alma a alma dessas flores.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 886-887)

108
Bastos Tigre
(1882-1957)**

SINTAXE FEMININA

Leio: “Meu bem não passa-se um só dia


Que de você não lembre-me”... Ora dá-se!
Mas que terrível idiossincrasia!
Este anjo tem as regras de sintaxe!

Continuo: “Em ti penso noite e dia... Se


como eu amo a ti, você me amasse!”
Não! É demais! Com bruta grosseria A
gramática insulta em plena face!

Respondo: “Sofres? Sofrerei contigo...


Por que razão te ralas e consomes?
Não vês em mim teu dedicado amigo?

Jamais, assim, por teu algoz me tomes!


Tu me colocas mal! Fazes comigo
O mesmo que fizeste com os pronomes!”...

10
9
ARGUMENTO DE DEFESA

Disse alguém, por maldade ou por intriga,


Que eu de Vossa Excelência mal dissera:
Que tinha amantes, que era “fácil”, que era
Da virtude doméstica, inimiga.

Maldito seja o cérebro que gera


Infâmias tais que em cólera maldigo!
Se eu disse tal, que tenha por castigo
O beijo de uma sogra ou de uma fera!

Senhora! pondo a mão sobre a consciência,


Minha palavra, impávida, protesta
Contra essa intriga da maledicência!

Indague a amigos meus; qualquer atesta


Que eu acho e sempre achei Vossa Excelência
Feia demais para não ser honesta...

(In Bastos Tigre. Disponível em:


<http://www.revista.agulha.nom.br/@bt.html#argumento>)

110
Emília Leitão Guerra
(1883-1966)**

AMO-TE

Quando os teus olhos fito e leio neles quanto


Sou amada por ti, meu doce e nobre amigo,
Minh‟alma, do prazer, veste o purpúreo manto
Como te adoro então e como te bendigo!

E me deixo embalar no mar sereno e quieto


Dos castos ideais, dos pensamentos sãos,
Pois é tão puro e bom, tão calmo o nosso afeto
Que eu penso ver em ti algum de meus irmãos.

Ponho os olhos nos teus e vejo aí tu‟alma,


Alma impoluta e boa, alma sincera e calma,
A sonhar, a sonhar, sempre a sonhar comigo...

de joelhos, então, ao Redentor do mundo


esta dita agradeço, em êxtase profundo,
Amo-te muito, muito, oh! meu sincero amigo.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1059-1060)

11
1
SE EU PUDESSE VOAR

Se Amor quisesse me emprestar as asas...


Se eu pudesse voar!...
Silêncio, coração! Em vão te abrasas
Neste desejo que te faz chorar.

Ai! Não irás dizer a teu Amado


Todo o carinho de teu grande amor;
Nem a saudade que te traz vergado,
Nem desta ausência a cruciante dor.

Que vale acalentar uma quimera?


Que vale aos quatro ventos segredar:
Quem me dera umas asas, quem me dera?!
Asas não tens, não poderás voar.

Não poderás transpor o imenso espaço


Que te separa de teu doce Bem.
Hoje não cingirás em terno abraço
Esse que é teu, só teu, de mais ninguém,

Sozinha e triste, a suspirar de mágoa.


Seu dia natalício hei de passar,
De fronte ao peito e de olhos rasos d‟água...
Quem me dera voar!

Em vão! Em vão! Baldado o meu anseio!


Quisera rir e em prantos me desfaço,
Mesmo assim, meu Amor, te aperto ao seio,
Num carinhoso, num sincero abraço.

112
Da ausência o vero amor frustrou o intento;
O espaço não nos pode separar,
Estou contigo pelo pensamento,
Mesmo sem asas, mesmo sem voar.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1062-1063)

11
3
Mario Melo
(1884-1959)**

SONHANDO

Se eu tivesse algum dia essa ventura


Que há tantos anos peço e ainda não vejo.
Porque não queres o que mais desejo,
Ou desejas trazer-me em desventura;

Se um dia tu dissesses – ó sim, jura


Satisfazer o que procuro e almejo –
Se tu dissesses, ao trocar dum beijo:
– Sou tua, é tua esta alma toda pura,

De meus braços nem Deus te arrancaria.


Que importa a morte, se morrer queria,
Para quem ama a lenitivo doce?

Que mais venturas desejar podia


Se a minha vida fosse a tua vida
Se o meu viver a tua vida fosse?

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 122)

114
AUSENTE

A vida é assim, querida: de hora em hora


Tudo, no mundo, pode ser mudado.
Para extinguir as trevas, fez-se a aurora.
Para toldar a aurora o céu nublado.

Quantos terão, pela existência afora


Nossos felizes dias invejados?
No entanto, hoje – distante – tua alma chora
E eu trago o peito em mágoas afogado.

Mas breve hei de transpor esses escolhos


Sangrando embora os pés por sobre espinhos
Para satisfazer nossos desejos,

Pois, meus olhos têm falta de teus olhos,


Os teus afetos, sede de carinhos
E os nossos lábios fome de mais beijos.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 123)

11
5
Edwiges de Sá Pereira
(1885-1959)**

PELA NOITE

Anda o silêncio perturbando tudo:


Solerte e audaz as portas do passado
Abrindo, o seu olhar, curioso e agudo,
Entra os recessos desse lar sagrado...

– Na hipocrisia de um desígnio mudo


Que estranho Nume presidiu teu fado?
Só por escárnio tem o cetro e o escudo
Da quietação da paz, do sem-cuidado!

Da alma que muito sofre e já não sonha


Não sei de um só mais íntimo recanto
Que o teu passo não pise, não transponha

Para aguar a dor que não confortas,


Para arrancar sem compaixão mais pranto
Neste insano pavor das horas mortas!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 131)

116
A UMA ESTRELA

À estrela que acompanha a lua


Eu, curiosa, perguntei um dia:
– Qual de vós vale mais, a que flutua
No céu azul da minha fantasia,

Ou tu que, no correr da noite fria,


Erras no céu, assim pálida e nua,
Das esferas ouvindo essa harmonia
Que, até de ouvi-la, o velho mar estua?

E a clara estrela disse-me: “Criança,


Quando fanada a última esperança,
A alma ficar-te de ilusões vazia,

Inda hás de ver-me fulgurar, divina;


Mas onde encontrará a que ilumina
O céu azul da tua fantasia”?

(In Seleta de autores pernambucanos I, 1987, p. 163)

11
7
Manuel Bandeira
(1886-1968)**

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.


A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

(In Antologia poética, 1977, p. 142)

118
PROFUNDAMENTE

Quando ontem adormeci


Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei


Não ouvi mais vozes e risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

– Estavam todos dormindo


Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente

Quando eu tinha seis anos


Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

11
9
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo. Profundamente.

(In Presença poética do Recife, p. 204)

120
Paulino de Andrade
(1886–)**

OLINDA

No alto, a paisagem verde-escura e acidentada.


Em baixo, o ouro da praia e a saudade do mar…
Sugere lendas… reis magos… terra encantada…
Fidalgas castelãs… troveiros a cantar.

É bem de vela sob a tragédia sagrada


Do crepúsculo: é grande, heróica. É singular!…
Eu, quando a vejo assim, tenho a alma amplificada,
E uma dilatação de beleza no olhar.

E se, pela alterosa e lendária Palmira,


Longa e empolgada, a vista amplamente se estira,
Lembro o Nebo sob a ânsia imoral de Moisés!…

E um ninho azul coroa a epopeica cidade…


Rumina o coqueiral uma velha saudade
E a saudade do mar rumoreja-lhe aos pés.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 173)

12
1
A EMOÇÃO

Ela me vem assim: esquiva… dúbia… estranha…


– Vejo-a sem mesmo a ver… sinto-a não sei por quê…
Dá-me bem a impressão de uma coisa que arranha
O interior da alma… e só a alma sente, e a alma vê.

E o cabelo hirto, as mãos crispadas… Como que


Incendiada a pupila, eu sinto – é uma aranha
Pela teia dos meus nervos… E ninguém crê
Uma aranha capaz de tão alta façanha…

E é uma aranha no entanto – eu a sinto, eu a vejo,


Sem realmente a sentir, sem propriamente a ver,
– É bem como se vira, e sentira um lampejo...

Vibram-me os nervos… Crespa e fulva entra-me o ser,


Flui-me n‟alma um longínquo, um vago rumorejo…
– É ela, a aranha, na faina a tecer… a tecer…

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 175)

122
Adelmar Tavares
(1888-1963)**

A CIDADE DE RECIFE

Pátria do meu amor! Recife linda, como


te guarda o meu saudoso olhar! Velas ao
longe... Os coqueirais de Olinda, e uma
terra a nascer da água do mar...

Um céu de estrelas que entrevejo ainda.


Sob as pontes, o rio a se estirar...
Noites de lua... que saudade infinda...
brancas... que dão vontade de chorar...

Filho ingrato, parti... Mas nem um dia,


deixei de te lembrar, por mundo alheio,
onde me trouxe a glória fugidia.

Pátria, quando eu morrer, piedosa e boa,


dá que eu durma o meu sono no teu seio,
como um seio de Mãe que ama e perdoa...

(In Noite cheia de estrelas, 1925. Disponível em:


ABL – Adelmar Tavares. Textos
escolhidos: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/
sys/start.htm?infoid=16&sid=156>)

12
3
TROVAS

Trovas, – cantiga do povo,


alma ingênua dos caminhos,
de lavradores, cigarras,
mulheres, e passarinhos...
*
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo...
*
Para definir o Poeta,
Só mesmo em versos defino.
– É um homem que fica velho,
com o coração de menino...
*
Minha Mãe, minha velhinha,
Deus te abençoe, e acompanhe,
porque uma Mãe neste mundo,
quanto mais velha, mais Mãe.
*
A morte não é tristeza,
é fim... É destinação...
Tristeza é ficar na vida
depois que os sonhos se vão...

(In Poesias completas, 1958. Disponível em:


ABL – Adelmar Tavares. Textos escolhidos:
<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/
sys/start.htm?infoid=16&sid=156>)

124
Ulisses Lins de Albuquerque
(1889-1979)**

A SERIEMA

Andeja, airosa, arisca, ei-la, a seriema,


Em seus passeios diurnos pela estrada,
– Errante senhorita enamorada
Das seduções do azul da Borborema.

Vendo-a, à lembrança ocorre-me um problema:


Talvez que uma princesa desterrada
Viesse aos bosques assim transfigurada,
Curtir de atroz desgosto a angústia extrema...

Às vezes, por se ver tão solitária,


Estrangulando as próprias mágoas, canta.
E ei-la garbosa, assim, trauteando uma ária.

Mas, nesse canto é como que ela esteja


Traduzindo, aos soluços da garganta,
Os desalentos da alma sertaneja.

12
5
CONCEIÇÃO

Selvática fazenda, hoje sagrada


Para mim, por ter sido no teu seio
Que a minha doce Inah, tão resignada,
Calma, a sorrir, cerrar os olhos veio!

No teu silêncio, casa abandonada,


Perdida aqui destes sertões em meio,
Vaga minha ´alma, trêmula, ajoelhada,
Vasando as dores de que vivo cheio.

Já não bastava aos vínculos primeiros


Sentir-me preso a ti, vendo, em lembrança,
Meu pai à sombra dos jatobazeiros!

Hoje, aqui em redor das sombras, erra


Minha`alma, enfim, que de evocar não cansa
Toda a ventura que eu perdi na terra!

126
Esdras Farias
(1889-1955)**

FELIZ DE TI QUE AINDA CHORAS

Eu te vejo chorar. Não imaginas


Que bem me faz te ver assim chorando!
Felizes os que choram quando e quando
E que as dores escoam das retinas.

E lágrimas e dores vão rolando


Amargas, dolorosas, assassinas,
Nessas duas turquesas pequeninas
Que são teus olhos quando estão chorando.

Feliz de ti, criatura, que ainda choras!


Pobre desta minh‟alma dolorida
Que nem pode chorar naquelas horas,

Que quisera chorar, calmo e profundo,


Todos os males que me fez a vida
Todas as coisas que me fez o mundo!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 159)

12
7
PARA VOCÊ MESMO, ESDRAS

O que até hoje me tem dado a vida


Eu darei a quem queira; tantas são
as glórias tristes de uma situação
na poeira deste mundo conseguida.

Mas esses que, ainda assim, confiados vão


subindo, sem saber qual a descida,
bem podem ver que o sonho da subida
é mais ou menos como estar no chão...

O que o mundo, porém, me deu de puro, o


que o mundo, porém, me deu de nobre (não
sei se é uma desgraça ou se é um dom),

(digo-o por minha honra e o meu futuro)


Foi que eu me resignasse por ser pobre
E não me arrependesse de ser bom.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 161)

128
Olegário Mariano
(1889-1958)**

ARREPENDIMENTO

Deste amor torturado e sem ventura


Resta-me o alívio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
Não vale o que te dei de encantamento.

Abri para o teu sonho o firmamento,


Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.

Hoje, ambos à mercê de sorte avessa, Se


para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.

Padecemos idêntico suplício:


Tu – corroída de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifício.

(In Cantigas de encurtar caminho, 1949. Disponível em:


ALB – Olegário Mariano.
Textos escolhidos: <http://www.academia.org.br/
abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=432&sid=228>)

12
9
AS ALMAS DAS CIGARRAS

As cigarras morreram... Todavia


Sinto um leve rumor tranquilo e lento
Que vai, de ramaria em ramaria,
Lento e tranquilo como o pensamento.

As cigarras não são, porque, outro dia,


Vi que soltavam o último lamento...
E o vento? Deve ser a alma do vento
Que entre os ramos das árvores cicia...

Entretanto o rumor parece eterno...


Agora que as estrelas se acenderam,
Vibra num coro, em serenata, ao luar...

Contam os lavradores que, no inverno,


As almas das cigarras que morreram
Ressuscitam nas folhas a cantar.

(In Últimas cigarras, 1920. Disponível em:


ALB – Olegário Mariano. Textos
escolhidos: <http://www.academia.org.br/
abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=432&sid=228>)

130
Ascenso Ferreira
(1895-1965)**

NOTURNO

Sozinho, de noite,
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

– Que diabo tu vieste fazer aqui, Ascenso?

O rio soturno
tremendo de frio,
com os dentes batendo
nas pedras do cais,
tomado de susto
sem poder falar...
o rio tem coisas
para me contar:

– Corre, senão o Pai-do-Poço te pega, condenado!

13
1
Das casas fechadas e
mal-assombradas
com as caras tisnadas
que o incêndio queimou
pelas janelas esburacadas
eu sinto, tremendo,
que um olho de fogo
medonho me olhou:

– Olha que o Papa-Figo te agarra, desgraçado!

Dos brutos guindastes


de vultos enormes
ainda maiores
nessa escuridão...
os braços de ferro,
pesados e longos,
parece quererem
suster-me do chão!

– Ai! Eu tenho medo dos guindastes


por causa daquele bicão!

Sozinho, de noite,
nas ruas desertas
do velho Recife
que atrás do arruado
moderno ficou...
criança de novo
eu sinto que sou:

– Larga de ser vagabundo, Ascenso!

132
TREM DE ALAGOAS

O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…

– Vou danado pra Catende,


vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.

– Adeus !
– Adeus !

Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...

– Adeus morena do cabelo cacheado !

– Vou danado pra Catende,


vou danado pra Catende,
com vontade de chegar...

Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,

13
3
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar

– Vou danado pra Catende,


vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

Na boca da mata
há furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar:

– Ali dorme o Pai-da-Mata


– Ali é a casa das caiporas

– Vou danado pra Catende,


vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

Meu Deus ! Já deixamos


a praia tão longe…
No entanto avistamos
bem perto outro mar...

Danou-se ! Se move, se
arqueia, faz onda... Que
nada ! É um partido já
bom de cortar...

134
– Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

Cana caiana,
cana roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar...

– Adeus morena do cabelo cacheado !

– Ali dorme o Pai-da-Mata !


– Ali é a casa das caiporas

– Vou danado pra Catende,


vou danado pra Catende
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

(In Voz poética, 1997, p. 13)

13
5
Joaquim Cardozo
(1897-1978)**

CHUVA DE CAJU

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?


Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus
[e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes
[dos viveiros
E em noites de lua cheia passam rondando
[os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Tereza ou Maria.

1936

(In Joaquim Cardozo. Poemas. Disponível em:


<http://www.joaquimcardozo.com/
paginas/joaquim/poemas/chuva.htm>)

136
CANÇÃO PARA OS QUE NUNCA IRÃO NASCER

Na modulada canção que agora canto


Para aqueles que nunca irão nascer
Nunca irão receber uma presença
Pois do pré-nascimento voz nenhuma
Deles visitara no seu puro abandono,
E em seu isolamento.

Essa canção é única, é de puro silêncio


De julgamento próximo aos que nunca hão de nascer
Canção de um só para os que sós estarão
Nesse abandono total antes de nascer
Antes de ouvirem outras canções
E a espera na canção a voz de alguém.

Os que ficarão somente almas


Somente espíritos remotos
À espera de uma voz que se anuncie. Sobre
o silêncio do silêncio, inda silêncio;
Silêncio de decibéis até os nadas negativos.

Inversão da voz, inversão


Em ruídos profundamente fuscos.
Os que ficaram almas:
Crianças que não mais virão ao mundo
Talvez ficaram nos gases das esferas,
Invólucros das líquidas estrelas.

Para eles cantarei através do além


De todos os silêncios,
Para eles cantarei; para aqueles
Que estão entre quazais,
Pelas ondas de rádio a minha voz escutarão.

13
7
No espaço reflexo e no tempo inverso – PT
É o operador que realiza:
A passagem do Eléctron ao Pósitron – C
O operador C atua em forma esférica.
Quando o espaço-tempo marcha para o futuro,
Seguindo a esfera, o espaço-tempo, por trás,
Pelo passado vem voltando.

P.C.T. P.C.T. P.C.T.

Oh! almas das regiões do P.C.T.


Crianças que nunca irão nascer
E a sua voz nunca se ouvirá
Através do silêncio do universo.
Nem mesmo do ventre das mulheres
Há um som surgido e abençoado
Que nunca se esperou.

Crianças que nunca irão nascer,


Tampouco, tampouco irão morrer.
Mas se noite e dia sem fôlego ficaram
Nunca lhes acenderá respiração
Mesmo porque não puderam vir a ser.
Não conseguiram a respiração;
Ficaram simples, soltas entre as estrelas.

Pois ficaram nas nebulosas e nas galáxias


Na sombra dos quazais e no pulsar
Das ondas hertzianas; em todo o mundo
Na solidão eterna das estrelas;
Que as Cefeides se iluminem
E que se estendam para mais ainda.

138
Mesmo no esplendor de longínquos universos,
Través a voz do rádio, esta canção
Ouvirás; longínqua e inesperada;
Ouvirás através das ondas hertzianas
que irão além dos quazais.

Reflexo do espaço, noutro espaço


Inversão do tempo negativo em positivo;
Daqueles que ficarão na escuridão
De onde nasceram, de onde apareceram.
Eu canto a canção dos que nunca viveram
E ficarão na treva para sempre.
Canto com a voz das ondas hertzianas
Que longínquos irão se propagando.
Cujo som acompanham
Por espaços tão lúgubres e longos

Crianças que ficarão sem ser


No íntimo das negras nebulosas;
Nebulosas que estão na Via-Láctea.

Morreram as vossas vidas


Nasceram as vossas almas:
– Agora, ao mesmo tempo anima e animum.

– E os que nasceram e depois morreram.

Agora estão dormindo, deliciosamente


Dormindo no sono das almas.

(In Um livro aceso e nove canções sombrias, 1981, s.p.)

13
9
Múcio Leão
(1898-1969)**

AS LUAS

Sobre a população desta amarga cidade


Pairam, longínquas, as sombras de duas grandes luas.

Elas velam o sono de Deus.


Uma está posta sobre os olhos de Deus,
E é por seu intermédio que os divinos olhos
Penetram os pensamentos e as dores
Do coração aflitíssimo dos homens.

A outra lua está colocada sobre o cérebro de Deus;


– E é a música, e é o sonho, e é o maravilhamento
De novas artes puras e perfeitas,
Que os homens jamais hão de conhecer.

(In Poesias, 1949. Disponível em: ALB – Múcio Leão.


Textos escolhidos: <http://www.academia.org.br/
abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=473&sid=222)

140
OS PAÍSES INEXISTENTES

– Queres partir comigo para países muito distantes,


Para países que dormem,
Embalados por oceanos que ninguém conhece?

Oh! Vamos juntos! Vamos partir para esses meus


mundos misteriosos!
Levar-te-ei a planícies brancas, cobertas de neve
como as do Alaska.
Verás que há na altura um sol gelado, envolto
[na poeira
nívea da neve.
E verás que um vento – um vento que uiva nos
[montes alvos –
Vem beijar teus cabelos cheirosos.

Levar-te-ei a montanhas encantadas, onde habitam


dragões de olhos de fogo.
Verás que no céu as estrelas se desfazem,
Mandando raios dourados coroarem tua
[fronte serena.
Levar-te-ei às ilhas paradisíacas,
Que estão dormindo no ritmo das ondas mansas.
Lá as árvores dormindo no ritmo das ondas mansas.
Lá as árvores cheias de sombras são feitas de
[humanas ternuras
E os pássaros que cantam têm uma voz límpida
[como violinos.

Levar-te-ei a esses mundos estranhos,


A esses mundos formosos que nunca ninguém viu.

14
1
E tu hás de repousar a cabeça no meu peito,
Deslumbrada pelos meus países inexistentes.

(In Poesias, 1949. Disponível em:


ALB – Múcio Leão. Textos escolhidos:
<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=473&sid=222)

142
Austro Costa
(1899-1953)**

CAPIBARIBE, MEU RIO


(fragmento)

Capibaribe, meu rio,


espelho do meu olhar,
quero fazer-te o elogio,
mas penso: se te elogio
é a mim que estou a elogiar...

Capibaribe, meu rio,


espelho do meu sonhar...
Meu velho Capibaribe,
Meu irmão de sonho e amor...

Capibaribe, meu rio,


que vida levamos nós!
Tu corres, eu rodopio...
E há quarenta anos a fio:
Sempre juntos e tão sós!

Capibaribe, meu rio,


vinhas de longe, a correr.
E olhando o meu desafio
Paraste para me ver.

(In Presença poética do Recife, p. 87)

14
3
O CANTO DO CISNE

Mil amores cantei. Fáceis amores...


Vagas quimeras... leves utopias...
Vãos devaneios de que enchi meus dias
Nos vinte anos azuis dos sonhadores...

Mil amores cantei... mas, entre flores,


Beijos, risos, promessas, fantasias,
Vi-os bater as asas fugidias...
Não me deixaram lágrimas, nem dores.

Este, porém, que se aprimora em pranto


E renúncia em minh‟alma – estranho e santo
Amor, a que não trazes teu socorro,

Este, sim! vale o canto que te oferto.


Ouve-o, e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto,
O meu canto de Cisne. Canto-o e morro!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 263)

144
Vanildo Bezerra
(1899-1988)**

QUIXOTE MORTO

Os últimos passantes, como tudo,


Sumiram num cortejo sonolento
E o cavaleiro audaz corria ao vento,
Tendo na espada a cruz, no altar a escudo.

Lembrando figurinos de um entrudo,


As flores cirandavam no relento...
Para adornar, após fatal momento,
Deram os faunos verbenas e veludo.

Vestindo um balandrau, fogoso infante,


A noite, em vertical, cortou no meio...
Cantava a cotovia num mirante.

A luz bruxuleava homens pobres


Assim como se achava, estava alheio,
Aquele das feições guapas e nobres.

(In Aprendiz de bissexto, 1983, p. 12)

14
5
TELEVISÃO

Tenho minha calma consumida


Pela imagem e a voz que vêm de fora.
A sala tão quieta, as cores calmas,
Destacadas dos quadros das paredes,
Das frutas na fruteira repousadas,
Nos pratos descansando em velha arca,
O silêncio envolvente, quase morno
De acolhedora cadeira, cujos braços,
Me apóiam, como outrora imagem santa
Me envolvia em som e vulto santo,
Na certeza da paz e segurança.
Mas a imagem e a voz que vêm de fora,
Abruptamente abalam minha calma
Com mensagens agourentas ou guerreiras
Parecendo que do vídeo escorre sangue
Que inunda minha sala de silêncio
E se serve dos pratos repousados
E vai manchar os quadros das paredes
E inutilizar as frutas não servidas
E sufocar a cadeira acolhedora
Ou o vulto santo que me protegia.
A música que me chaga de permeio
Viola o ninar e as cirandas
Do reclinado corpo que a escuta
Massacrado pela imagem e a voz monótona
Que vêm de fora para minha sala.

(In Aprendiz de bissexto, 1983, p. 46)

146
Vicente do Rego Monteiro
(1899-1970)**

CARNAVAL FREVO

Um guarda-chuva
Dois guarda-chuvas
Cem guarda-chuvas

Girando
como piões
se entrechocando
dançam

E os pés

gotas
ressaltantes
estalam
marulham
sobre o chão

(In Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor, 2004, p. 192)

14
7
POEMA 100% NACIONAL

(In Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor, 2004, p. 202)

148
Gilberto Freyre
(1900-1987)**

O OUTRO BRASIL QUE VEM AÍ

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das
[três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero
[o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e
[o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro

14
9
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e
[novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias
[e tratores europeus e
norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem
[criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil
[sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos

150
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas
[comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

(In Gilberto Freyre. Poesia reunida, 1980)

15
1
SILÊNCIO EM APIPUCOS

As mangueiras
o telhado velho
o pátio branco
as sombras da tarde cansada
até o fantasma da judia rica
tudo esta à espera do romance começado

um dia sobre os tijolos soltos


a cadeira de balanço será o principal ruído
as mangueiras
o telhado
o pátio
as sombras
o fantasma da moça
tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno.

(In Voz poética, 1977)

152
Alcides Lopes de Siqueira
(1901-1977)**

PANTALEÃO

Fazenda velha querida,


velha mansão avoenga,
velho solar dos meus pais,
estou aqui vim te ver,
vim acabar com as saudades
que eu não suportava mais.

Há tempos que eu desejava


pisar teu solo sagrado
ó meu querido rincão.
E aqui estou a abraçar –te
aqui estou a beijar-te
com os olhos e o coração.

Quero rever um a um
os meus amigos de infância
e os sítios onde brinquei:
o pátio da casa grande,
lagoa, ilhas, cacimbas,
veredas por onde andei.

15
3
Queridos entes anônimos,
pequenos seres tão caros
ao vê-los quanta emoção...
É como se eu apanhasse
pedaços da minha vida
que andassem soltos no chão...

Pedaços da minha vida


que aqui ficaram dispersos e
eu nunca pude esquecer
pedaços da minha vida,
lembranças do meu passado
que eu vim agora rever

Quero rever tudo, tudo...


E quero me recordar
de tudo que se passou
primeiro quero saber
que é feito da casa grande
a casa do meu avô.

Aqui nesta casa grande


a minha avó costumava
as suas roupas tecer.
Quando eu fazia uma trela,
corria para o seu colo,
prá ela me defender.

Por este pátio tão grande,


eu já menino grandote,
mas travesso e brincalhão
passava o dia correndo
brincando de vaquejada,
brincando de apartação.

154
De noite neste terreiro,
quando era noite de lua,
eu vinha me acomodar,
junto ao velho calumbi
e ouvia atento as histórias,
que ele sabia contar...

E quando o velho não vinha,


eu mais outros meninos,
brincava de coelho saí,
ou de cantiga de roda,
enquanto as pessoas grandes
conversavam com meu pai.

Nesta e na outra lagoa,


quando elas iam secando,
eu vinha passarinhar.
Armado de meu bodoque,
jogava pedra nas rolas
que vinham bebericar.

Nesta cacimba ... era aqui


onde eu pegava piaba,
traíra e curimatã.
E junto com a meninada
fazia galinha gorda,
nadava toda manhã.

Nesta barreira mais alta


a gente fazia lama
brincava de escorregar
de vez em quando um subia,
rolava prá beira d`água.
Tibungo. E toca a nadar.

15
5
Fazenda velha querida,
ó como estás diferente
cadê o povo daqui?
Cadê os teus moradores?
Cadê os teus vaqueiros
do tempo em que aqui vivi?

Fazenda velha querida,


tudo mudou.foi o tempo
que tudo gasta e desfaz.
Aquele tempo saudoso
que aqui tão ditoso
passou para nunca mais...

Sertânia, 1954.

156
TEIA DE PENÉLOPE

A ilusão, trama fluídica, se tece


No tear sutil do nosso pensamento.
Brilha. Treme. Depois desaparece
Como a pluma tangida pelo vento.

Urde-se outra ilusão. Por um momento


Nos fascina. Em seguida, se destece.
E o tear, nesse incessante movimento,
Fia nova ilusão, se outra fenece...

Ilusões! Fios de ouro se esgarçando,


E após, se recompondo, – eis, resumida,
À urdidura que a ideia vai tramando.

E, por dias alegres ou tristonhos,


A existência, tecida e retecida,
É a Teia de Penélope dos Sonhos.

15
7
Pedro Xisto
(1901–)**

HAI KU & TANKA (WAKA)

no orvalho da face
agora um toque de sol
– instante do sangue

manga semi-aberta
de quimono: leque e mão
chamam primavera

brisa abril que brincas


(culto oh culto de bambus)
flâmulas e flautas

primavera volta
(só eu sou do sonho ao sol)
primavera em volta

chuvinhas viviam:
fios fibrilas vidrilhos
titilam tilintam

precoce abandono
de folhas ao sol e ao solo
recolhe-as o outono

158
venha astro magnânimo:
na terra as celestes eras
penhasco e crisântemo

as sós sepulturas
caídas: ai! descaem púrpuras:
as folhas caducas

cá jerusalém
(tem o pó que o tempo tem)
lá jesus: além…

invertido amor
de fogo vivo a mar morto
o castigo-mor

nada sobrenada
branco e branco sobre branco
nada sobra nada

a areia das horas


e o sangue minado em gotas
na terra dos homens

aves no ar se encantam?
e pelo espaço astronautas?
(anjos nos arcanos)

(In Seleta de autores pernambucanos, v. 1, 1987, p. 546)

15
9
Eugênio Coimbra Jr.
(1905-1972)**

POBRE AMOR

Senhora, vou contar-vos um segredo


que há muito tempo docemente embalo.
Se não vos contei já, não foi por medo
que avaro fui somente em conservá-lo.

Faz vinte anos que tendes um vassalo


(Vede que tudo começou bem cedo).
Desde então nem vos olho nem vos falo.
Feliz, muito feliz, com este segredo.

A vida separou nossos caminhos:


Tivestes rosas, eu só tive espinhos.
E ambos envelhecemos. Mas como arde

Aquele estranho afeto do passado!


– Mas, o segredo ficará guardado
que agora é tarde, amor. É muito tarde

(In Seleta de autores pernambucanos, 1967, p. 174)

160
DOIS SONETOS DE ABRIL

I
Tépido sol de abril, céu azulado
Com nuvens brancas, natureza viva.
E o vento rodopiando na lasciva
Folhagem deste parque abandonado.

Hora do meio-dia. Enamorado


Gorjeio de ave alada, terna e esquiva
Desde como lembrança rediviva
Do meu pobre passado sem passado.

Busco a mim mesmo. A tarde tece cores


Novas na meia luz, entre a folhagem
O homem não está. Fugiu com seus amores

Ficou-lhe a sombra que se curva e chora


Lembrando a paisagem outra paisagem
Retocada de luz. Havia aurora.

II
Agora, neste abril, olhos fechados.
Mãos sobre o peito – derradeira imagem.
Foram-se outros abris na vã miragem
De outros abris felizes, sossegados.

Este abril te levou. Foi na paisagem


De um meio inverno e luares desolados
Que afinal nós nos vimos separados
E tu te foste na final viagem.

16
1
Sempre voltaste quando no abandono
Te achavas só. Apagaram-se os círios
E agora não vens mais que eterno é o sono.
Não sei como viver o mês de maio.
Se é o mês das flores, mandar-te-ei dois lírios
Tão brancos quanto o teu último desmaio.

(Eugênio Coimbra Jr. que se fez passagens, 1983, p. 41-42)

162
Solano Trindade
(1908-1974)**

FOI ASSIM...

Recife
Rua Direita
fundo das Águas Verdes
das mulheres perdidas
aí eu nasci

Recife
“Pontos” de facão cumprido
piano tocando valsa
pregões de negros nas praças
operários cigarreiros
soldado do 49.

Recife
“Jacaré sessenta”
“Uma vez só”
“Minha velha”
“Ostra chegada agora”

Recife
“Chora menino
pra comprar pitomba”
“O homem da bassoura
vai simbora”.

16
3
Recife
Greve no porto
Conflito na rua do Imperador.

Foi assim...

Recife
Charanga fazendo retreta
festejando minha roupa nova
no pátio do Terço embandeirado

Recife
Presépio de avencas
cheiro de canela
pastorinhas leves
menino Deus de pernas para cima
puríssimas canções.

Recife
Natal em Afogados
com bumba-meu-boi
e chegança

Recife
Campina de Bode
procissão dos Martírios
senhor de lindos cachos
carregado por pretos
de capa preta

Recife
festa do Poço
música bandeira
primeiro amor

164
Foi assim...

Recife
mamãe fazendo manguzá
papai batendo sola
Recife
pamonha

cuscuz e
angu Recife
cachaça boa
com “Maria Rachada”
um doce caju.

Recife Xangô da Baiana


na praia do Pina
para seu Exu.

Recife
Capibaribe
“Chapéu de sol”
Toureiro de Santo Antônio

Recife
Negro Umbelino
rico pra burro
dono do bairro
de São José

Recife
frevo
serenata
melhor carnaval do mundo

16
5
melhor cidade da terra
melhor cantinho de céu
pra não perder a saudade.

(In Ritmo, amor e luta nos cantares de Solano Trindade, 1988)

166
TEM GENTE COM FOME

Trem sujo da Leopoldina,


correndo correndo, parece
dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem gente com fome...

Piiiii!

Estação de Caxias,
de novo a correr,
de novo a dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem gente com fome...

Vigário Geral,
Lucas, Cordovil,
Brás de Pina,
Penha Circular,
Estação da Penha,
Olaria,
Ramos
Bonsucesso,
Carlos Chagas,
Triagem, Mauá,
trem sujo da Leopoldina,
correndo correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem gente com fome...

16
7
Tantas caras tristes,
querendo chegar,
em algum destino,
em algum lugar...

Trem sujo da Leopoldina,


correndo correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem gente com fome.

Só nas estações,
quando vai parando,
lentamente,
começa a dizer:
se tem gente com fome,
dai de comer...
se tem gente com fome,
dai de comer...
se tem gente com fome,
dai de comer...

Mas o freio de ar,


todo autoritário,
manda o trem calar:
P s i u u u u u u u u u....

(In Tem gente com fome e outros poemas. Antologia poética, p.7-8)

168
Helder Camara [Dom]
(1909-1999)

NO SILÊNCIO DAS ÁRVORES

ainda há
o agitar dos ramos,
movidos pelo vento...
No silêncio das águas
ainda há
o marulho das vagas
ou o cantar da correnteza
atravessando as pedras...
No silêncio dos céus,
ainda há
o palpitar das estrelas carregado
de mensagens. Aprende que não
basta falar para atingires o
silêncio... Enquanto os cuidados
te agitam ainda não penetraste
na área do grande silêncio.
E aí, somente aí,
se escuta a voz de Deus.

(In Um olhar sobre a cidade, 1976, p. 17)

16
9
ATÉ O FIM

Não, não pares.


É graça divina
começar bem.
Graça maior,
persistir na caminhada certa
manter o ritmo...
mas a graça das graças
é não desistir.
Podendo ou não podendo,
caindo, embora,
aos pedaços,
chegar até o fim. . .

(In O deserto é fértil, 1983, p. 47)

170
Benedito Cunha Melo
(1911-1981)* **

MAIO

Numa clara visão de céus escampos,


Voltas, enfim, mais pródigo em carinhos:
Ouço mais vozes, Maio, pelos ninhos,
Vejo mais flores, Maio, pelos campos...

Mais insetos reluzem como lampos, Ao


teu sol matinal pelos caminhos, Que os
dias vão encher de passarinhos E as
noites vão cobrir de pirilampos.

Ouve, Maio feliz, quando te fores,


Tu que és o mês dos noivos e das flores
E todo o coração da terra invades,

Abre-me o seio, as tuas mãos piedosas,


E deixa um pouco dessas tuas rosas,
Para a minha alma que só tem saudades.

(In Benedito Cunha Melo. Poesia seleta, 2009)

17
1
TROVAS

Fez lembrar-me a voz do grilo,


Noite a dentro; aqui, ali,
A paz de um mundo tranquilo,
Em que já cri... cri... cri... cri...

– Lampião de luz apagada


Que vento mau te soprou?
– Não foi vento, não foi nada,
Meu tempo é que se apagou.

Já viste o que faz o orvalho, À


noite – no Campo Santo?
Chega às cruzes, como orvalho,
Cai das cruzes, como pranto.

Velho portão, já sem tranca,


Resto do que foi solar,
Somente o vento ficou
Para te abrir e fechar.

172
Mauro Mota
(1911-1984)* **

HUMILDADE

Que a voz do poeta nunca se levante


para ter ressonâncias nas alturas.
Que o canto, das contidas amarguras,
somente seja a gota transbordante.

Que ele, através das solidões escuras


do ser, deslize no preciso instante.
Saia da avena do pastor errante,
sem aplausos buscar de outras criaturas.

Que o canto simples, natural, rebente,


água da fonte límpida, do fundo
da alma, de amor e de humildade cheio.

Que o canto glorificará somente


a origem, quando mais ninguém no mundo
saiba ele de quem foi ou de onde veio.

(In Mauro Mota. Poesia, 2001, p. 43)

17
3
MORTE SUCESSIVA

Não tenhas medo.


Tudo já aconteceu. Agora
será menos do que a cena final.
Apenas o cair das cortinas,
os dedos fechando as pálpebras antepostas
à derradeira paisagem
longe, cada vez mais longe, diluída quase na
[incolor distância.
Sentes na boca
o sangue dos princípios e esse gosto
de fim nunca sentido antes.
Não tenhas medo,
tudo já aconteceu. Agora
será somente a conclusão.
Esquece as gravuras do catecismo da infância
nos claros domingos de sinos paroquiais.
O diabo de espeto furando os olhos dos pecadores,
e eles caindo nas caldeiras infernais.
Partiste suave
que nem sentiste quase, mais suave
ainda será daqui a pouco.
Não tenhas medo da viagem sem volta e
[sem saber para onde
pois várias vezes já habitas lá.
Talvez tenhas perdido a memória
da casa de alpendres da cidadezinha,
o menino debaixo dos cajueiros.
Foi ele quem te deu a primeira
noção de saída do mundo, o primeiro
conhecimento da morte sucessiva e múltipla.
O piano do sobrado de azulejo
e a moça tocando a valsa do mês de maio,

174
a mãe, a mulher, as rosas
na jarra azul abrindo,
os ponteiros
como uma pinça
extraindo
as horas felizes do relógio da sala,
não se foram sós, foram levando a tua vida fugitiva.

Não tenhas medo


do instante derradeiro,
e que de ti encontrará bem pouco,
criatura dispersa tantas vezes
e tantas vezes morta.
Perdeste a integridade primitiva,
sombra do corpo ausente e do espírito distante,
não tenhas medo,
tudo já aconteceu.

(In Mauro Mota. Poesia, 2001, p. 59)

17
5
Waldemar Cordeiro
(1911-1992)* **

PRÓLOGO

Usaria ao falar de Sibonei


palavras refletidas nas estrelas,
todo o charme de sírio dentre aquelas
e o sol de fogo em que me incendiei.

Perdido em meio à imensidão do mar


– navegante indeciso quanto ao porto –
alongo o olhar às praias: vejo um horto,
folhas mortas que o vento vai levar.

Sibonei – vida minha e sumo bem!


Por não tê-la em meus braços é que eu
me sinto tão sem pátria qual judeu
que morresse sem ver Jerusalém.

Ela se foi... e eu já chegando ao fim...


Viva, se morta; eu morto, se ainda vivo.
Se da presença dela hoje me privo,
feito lembrança, ela estará em mim.

(In Salão de sombras, 1992, p.13)

176
SONETO
A meu pai

Sempre a espreitá-lo a morte que não cansa


veio ceifá-lo às horas matinais
de um domingo de julho. Um céu lilás
está chorando lágrimas de criança.

Farda de herói, inquebrantável lança,


peito coberto de brasões morais,
combatente de lutas desiguais,
como um crente meu pai enfim descansa.

De meu pai proliferam-se as ramagens


dos filhos que ele fez a sua imagem,
no seu prolongamento tão profundo.

Recebo de meu pai com dignidade


o dom conformativo da humildade,
a decisão de suportar o mundo.

(In Salão de sombras, 1992, p.126)

17
7
Waldemar Lopes
(1911-2006)**

LIÇÃO ANTIGA

Entre as filas de verde um homem vem e vai:


na moldura rural, o seu vulto pequeno
sob o capote escuro. Esse vulto é o do Pai,
a irrigar o pomar, no aclive do terreno.

Facho desfeito, o sol sobre a paisagem cai


e a água rebrilha, branca. O céu, azul-sereno,
faz-se um canto de luz que flutua e se esvai
na asa leve da brisa. O dia esplende, pleno.

E tudo o Pai esquece, a regar as raízes:


a vida quase ao fim, o corpo a definhar,
a insônia, a tosse rouca, a febre, as hemoptises.

Seu legado será esta lição perfeita:


se a morte se aproxima, é tempo de plantar;
outros farão depois a festa da colheita.

(In Cinza de estrelas, 2001, p. 47)

178
SONETO DA VIDA E DA MORTE

Cai o silêncio escuro. Em pólos da alma


apaga a mão da noite as mais radiosas
flores do céu. O eco do vivido
vem no choro das águas, à distância.

Espesso véu de treva a sombra espalma


sobre os caminhos mortos. Silenciosas
imagens do passado, ou do perdido
tempo, em que foi tão bela a flor da infância.

Tudo é pó e memória. Vem da essência


das coisas: a alegria é também triste.
No mar do acaso sempre falta um norte.

Isso resume a angústia da existência.


Mas o véu do mistério ainda resiste:
Que vem à vida pelas mãos da morte?

(In Escritores vivos de Pernambuco, 2001, p. 201)

17
9
Lourival Batista
(1915-1992)**

HOMENAGEM À VIRGEM MARIA

Tu, ó Virgem soberana,


és Rainha universal,
casta, meiga e divinal,
fruto de Joaquim e Ana,
imaculada e humana,
remédio de nosso pranto,
estrela que e todo canto
mostra o mais puro brilho
Filha do Pai, Mãe do Filho,
Esposa do Espírito Santo.

Pura tu és entre as puras,


grandes mistérios encerras,
exemplo de santas terras,
enviada das alturas,
consolo nas amarguras,
alegria de nosso canto,
a sombra que faz teu manto,
cobre príncipe e maltrapilho.
Filha do Pai, Mãe do Filho,
Esposa do Espírito Santo.

180
Tu surgiste do primeiro
poder perfeito e profundo.
Pra seres mãe do segundo,
foste esposa do terceiro.
De Ti nasceu o Cordeiro
na gruta em pobre recanto,
e os animais por encanto
não te causaram empecilho.
Filha do Pai, Mãe do Filho,
Esposa do Espírito Santo.

(No livro Natal pernambucano, 1992, p. 9)

18
1
PAGANDO MOTES
(fragmentos)

Do Gosto para o desgosto O


quadro é bem diferente Ser
moço é ser sol nascente Ser
velho é ser um sol posto
Pelas rugas do meu rosto
O que fui hoje não sou
Ontem estive hoje não estou.
Que o sol ao nascer fulgura
Mas ao se pôr deixa escura
A parte que iluminou

(Louro, “pagando” um antigo mote. Cf. Urbano Lima)

Senti das paixões abalos E


desesperos medonhos Sonhos,
sonhos e mais sonhos Sem
jamais realizá-los
Na fronte senti os halos
Das auras da juventude
Mas nunca tive a virtude
De dormir entre dois seios
Não tive amores sonhei-os
Mas possuí-los não pude.

(Louro “pagando” o mote do poeta Raimundo Asfora.


Cf. Urbano Lima)

182
Sua vida inda está boa
A minha é que está ruim
A sua está no princípio
A minha está bem no fim
Estou perto de estar longe
De quem está perto de mim

(Louro respondendo a cantador novo, nos últimos anos.


Cf. Urbano Lima)

(In Um certo louro do Pajeú, 2001, p. 15, 40, 41)

18
3
Odile Vital César Cantinho
(1915)* **

RIO DA SAUDADE

O rio da minha infância


Dependia da chuva.
No verão, com a seca,
Ele sumia
E a minha alegria ansiava
À espera do inverno.

Inverno sem neve e sem neblina


Um fio d‟água, ocasional ribeiro
Que com a chuva surgia sorrateiro.

No mundo da criança tudo se transforma


Muda de cor, de luz e de volume
Transmuda em estrela um simples vaga-lume

Amo o rio que cai em bátegas dos telhados


E escorrega pelas bicas
Rio caudal, cristalino, doce e frio
Rio que eu bebia e me banhava.
Rio da saudade, rio da minha infância
No qual minha pureza naufragava.

184
AXIOMA

Sou a semente que se biparte


E se estufa
E cresce púbere para o devir
Sou a água que alimenta o grão
E se transforma em veículo do
Dar-se
Sou o sol que luta para chegar
E sopra o morno calor do aconchego
Sou o sinal de todos os tempos
Sou o sonho
Sou o reflexo
O grito
A fúria
O abandono
Sou o redemoinho que tudo recomeça
E tenta a luta e sabe que é
Nada.

18
5
Celina de Holanda
(1915-1999)* **

VIAGENS DE CELINA

AOS QUE ME QUEREM COMO ELES


Não serei de outro
mas daquele
que ordena a beleza
à vida
rege o amor
pelos ciclos da lua
faz crescer os ovários
dos ouriços do mar.

Se apago esta paixão


talvez me apague.

ELOGIO DA MULHER POBRE


Eu te respeito
pelo teu mundo aberto
e por saberes no corpo tudo que sabes.
Pelo difícil acordo
entre o possível
e a incerteza
que é teu filho.
Pela denúncia que és
e a utopia

186
(mal entendido sonho)
essa tensão
em teus olhos
tombados sobre a mesa.

OS AMIGOS
Os amigos chegam, ponho a mesa.
Branca, estendida a esperança.
Às sombras
rogo o ensejo do contraste
equilíbrio de opostos
necessário
ao claro, para a imagem.
Ó, a tristeza
de sermos o que somos e não
como queriam que fôssemos os que
amamos.
Os amigos chegam,
venham de onde vierem, ponho a mesa.

(In As viagens, 1995, p.112, 154, 205)

18
7
ELEGIAS PARA O PADRE ROMANO ZUFFEREY

PRIMEIRA ELEGIA
Um homem passou em minha vida
com a alegria de suas bem-aventuranças.
Seu nome era Romano Zufferey.

Sua luta em favor da vida marcou


de beleza o que era pequeno, delicado
e humilde. Quando nada podia conter
a nossa lágrima, sua presença afirmava:
vou, onde for a sua mágoa.

Um dia ele me disse: “A verdade


vale a vida, a justiça vale a vida”.
Para não esquecer fiz uma placa
e coloquei na parede de onde vivo.
Mas sei: Lutou para que eu a pusesse
na minha vida.

SEGUNDA ELEGIA
Esta lágrima é de outro,
rio vazante de enchentes,
poça d‟água
desviada do azul
e o sal das vagas.
É operária
e se mistura à minha
pobreza (desigual)
na casa, a terra,
o filho e o amado
que nos falta.
Cai sobre o corpo
estático, vazio

188
do amigo
que não se negava
a qualquer lágrima.

(In As viagens, 1995, p. 369-370)

18
9
Tomás Seixas
(1916-1993)**

COLHIDOS DA SOMBRA

A BAILARINA
O teu silêncio que procura distâncias,
E te apoias de leve – no chão como se o ar te faltasse
Que distâncias percorrestes?
E o teu suor, superfície de rosa
Quem te ensinou?
Tuas mãos e os saltimbancos
Quanto tempo em conúbio
Com eles vivestes
Alada.
O chão teclado e o teu esqueleto
Tua álgebra feita de pés e mãos
E o segredo de formas nunca vistas que revelas
Crias e num instante aniquilas
Tua criação.
Por que não voas
Irmã?

190
ACONTECE

A PANTERA
“A incessante notícia de uma luta
com as panteras bruscas do invisível.”
[Paulo Mendes Campos]

Tudo é assim
Acontece
Acontece uma coisa e depois outra
Acontece o dia primeiro da Criação
Acontece o primeiro homem e acontece
[a primeira mulher
Acontece depois Caim

Acontece o tempo
Acontece o medo e acontece a esperança
Acontece o que em ti, e em mim, é receio
Acontece uma lua nova, uma flor, um morto
[pela madrugada
Em cada fração de um segundo acontecem
[séculos, milênios
Acontece uma luta, permanente e invisível
[contra o invisível
Acontece.

19
1
SONATA À LÍLIAN OU AS SOMBRAS NO ESPELHO
(Fragmento)

HEI de lembrar-me sempre de ti,


ó meu irmão enfermo,
e da penumbra densa
que por muito tempo
envolveu o nosso quarto.
Nós vivíamos então
uma época remota.
Quando o médico chegava
com os seus graves circunlóquios.
E eram tantos
os nossos caminhos de brinquedo!
Através das frestas
das altas janelas,
envidraçadas de azul, ouvíamos os rumores da rua,
que representavam fragmentos
daquela outra vida, da qual,
com o maior pavor,
já suspeitávamos, e esse era um
dos nossos maiores segredos.
.............................................................

POUCO tempo depois chegou Natal


e houve lá em casa uma grande festa.
E a festa era lá em casa,
era na rua e era na Igreja.
E todas as portas foram abertas,
de par em par.
E pessoas estranhas vieram me visitar
e me deram muitos presentes.
E me tributaram honras como
as que nas antigas cortes eram
concedidas aos pajens

192
de grande importância.
E todas essas pessoas insistiam
em dizer que eu estava muito melhor.
E aquelas visitas e aquelas palavras
eram para mim um tormento.
E houve muitos risos e muitas palavras
alegres e tinidos de copos de cristal na
mesa da sala de jantar.
Mas no meio de tanta alegria
eu me sentia inexplicavelmente assustado
e me esquecia dos variados presentes que
haviam me dado.
E era como se tivesse vivido
já outra vida e houvesse conhecido também
outra morte.
E de antemão conhecia já todas as dores
e todos os disfarces.

(In Sonata à Lílian ou as sombras no espelho, 1984, p. 13, 35-37)

19
3
Carlos Moreira
(1918)

AÇUCENA

Essa tarde durou uma açucena,


Os teus lábios perderam-se entreabertos,
Nas arestas da pedra enegrecida
Estendi meu desejo incandescente.

Tuas mãos modulavam passarinhos,


Os teus peitos caminhos e guitarras,
Mas a tarde durou uma açucena
Deixando tuas faces pressentidas

Eu perdi essa tarde uma cantiga Todo


o ouro do mar fugiu da vista,
Contemplei-te no tempo e nas aragens

Entre mim e teu sexo – nevoeiro.


Muito leve teu corpo esmaecia
Nessa tarde flor e o teu silêncio.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 71)

194
SONETO DO TÉDIO

Em teus olhos de pausa, tempo e espera


As imagens e as sombras refletidas.
Denso é o céu, densa a manhã e há formas
Submarinas pela rua antiga

Sobre o rio e nas pontes sonolentas


Vago cinzento, e entre os meus cabelos
Canta ligeiro um vento frio e fino
Que vai passar nas torres das igrejas,

Roçar, de leve, pelos velhos sinos


E voltar para o mar de onde proveio,
Levando esta canção, cantada a esmo.

Nesta manhã de tédio e bruma, quero


Quedar-me aqui junto ao teu corpo, mudo,
E ser imagem nos teus olhos ternos.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 73)

19
5
Deolindo Tavares
(1918-1942)**

AUSÊNCIA
Para Eliza, minha mãe

Atravessarei o tempo, vencerei a distância


para que minhas mãos voltem a repousar nas tuas
e minha cabeça descanse no teu seio
onde minhas dores depositarei.

As palavras de tuas preces


serão um ímã que me fará regressar a ti.
Verás então como os dias e as noites
se impregnaram nas minhas faces
e como meu espírito não se libertou da
[angústia secular;
saberás pelas minhas palavras,
as palavras que pronunciei para outros ouvidos
sempre presente em teu espírito
pela mágica de meu pensamento.

E nas pupilas de meus olhos,


encontrarás paisagens e perspectivas multiformes;
e na poeira de meus sapatos,
os caminhos tortuosos que venceram os meus pés.

Tuas lágrimas serão a minha remissão,


a remissão dos meus erros e de meus desvios;

196
e teus lábios pronunciando palavras de júbilo,
e tua voz soando na minha voz,
e meu corpo, meu espírito e meus sentidos
se reintegrarão neste instante na tua memória para
[a eternidade.

E seremos dois astros gêmeos


aproximando faces esquecidas
e percorrendo trajetórias infinitas.

(In Poesias, 1989, p. 13)

19
7
O POETA

Sou mais pobre do que Job.


Sou mais rico do que Salomão.
Sou poeta. Sou o maior de todos os descobridores.
Sem navio, sem bússola e sem leme,
descubro istmos e estrelas.
Posso ser amado e odiado, condenado e insultado,
sem odiar, sem condenar, sem insultar.
Sei tão somente amar e perdoar.
Não tenho castelos, nem rosas, nem amores,
mas, em misterioso sonho,
ora passeio no carro de Salomão,
ora durmo sobre as cinzas de Job .
Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna
das paisagens de Deus;
adormeço num som,
desperto numa cor,
morro afogado no mar de uma inesperada estrela.
Para mim não há, nem ontem, nem amanhã,
[nem depois,
vida e morte, alegria nem dor.
Para mim o dia é uma eternidade.
A eternidade o menor tempo;
para mim o tempo não existe,
pois rasguei todos os calendários do mundo.
Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena
e pureza em meu coração,
caminharei em firmes passos para o céu de Cristo ou
[de Maomé.

(In Poesias, 1989, p. 14)

198
Homero do Rêgo Barros
(1919)* **

VER O RECIFE

Ver o Recife, para mim, é como


Viajar a bordo, conhecer Paris.
Pois de satisfação igual me tomo
Ao que indo à Europa busca ser feliz...

Louvando a Capital, que eu sempre quis,


Em cujos céus, qual dilatado pomo,
Refulge a ebúrnea lua cor de giz,
É assim, ventura rara, que eu te domo!

Quanta beleza esta Cidade exige,


Ornamentada pelas suas pontes
E pelas águas do Capibaribe

Ver o Recife, neste meu País,


É dos mares galgar os horizontes,
Viajar a bordo, conhecer Paris.

(In Escritores vivos de Pernambuco, 1994, p. 22)

19
9
O SOL

O Sol é um grande artista, na verdade: À


tarde ele retrata o meu portão,
Transferindo os losangos que há na grade
Ao longo da parede, oh, perfeição!

Do sol invejo essa capacidade


Que enche minha‟alma de admiração.
Mas quando no horizonte ele se evade
Tira os painéis que fez com seu clarão.

É que no seu diário expediente


Ele pressente que tem compromisso
Inadiável, ou melhor, urgente...

E assim deixa de lado suas artes Ao


fim das tardes, para fazer isso:
Pintar de luz a terra noutras partes.

Recife, 21 de fevereiro de 1994.

(In As flores do bem, 1994)

200
Clélia Silveira
(1920)**

A UMA MARIA QUALQUER

Maria,
voltei a fazer poesia.
Regressei ao país do sonho,
saí do pesadelo da realidade.
Regressei à juventude
certa da força do meu sangue
e da capacidade
de renascer das próprias cinzas.

(In Poemas crepusculares, 1998 p. 17)

20
1
EDIFÍCIO APAGADO

O tempo passa
e, implacável, apaga
as luzes do corpo:
as pernas, trôpegas;
os olhos cegos;
órgãos retirados
nos blocos cirúrgicos.
Substituídos pelas próteses da angústia.
Os passantes apagaram as luzes
em todos os pavimentos
deixando na escuridão
o edifício do corpo.

(In Poemas crepusculares, 1998 p. 104)

202
João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)**

O CÃO SEM PLUMAS


(Fragmentos)

I / PAISAGEM DO CAPIBARIBE
§ A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

§ O rio ora lembrava


a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

§ Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

20
3
§ Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

§ Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

§ Abre-se em flores
pobres e negras
como negros.
Abre-se numa flora
suja e mais mendiga
como são os mendigos negros.
Abre-se em mangues
de folhas duras e crespos
como um negro.

§ Liso como o ventre


de uma cadela fecunda,
o rio cresce
sem nunca explodir.
Tem, o rio,
um parto fluente e invertebrado
como o de uma cadela.

204
§ E jamais o vi ferver
(como ferve
o pão que fermenta).
Em silêncio,
o rio carrega sua fecundidade pobre,
grávido de terra negra.

§ Em silêncio se dá:
em capas de terra negra,
em botinas ou luvas de terra negra
para o pé ou a mão
que mergulha.

§ Como às vezes passa com


os cães, parecia o rio
estagnar-se.

§ Suas águas fluíam então


mais densas e mornas;
fluíam com as ondas
densas e mornas
de uma cobra.

§ Ele tinha algo, então,


da estagnação de um louco.
Algo da estagnação
do hospital, da penitenciária, dos asilos,
da vida suja e abafada
(de roupa suja e abafada)
por onde se veio arrastando.

20
5
§ Algo da estagnação
dos palácios cariados,
comidos
de mofo e erva-de-passarinho.
Algo da estagnação
das árvores obesas
pingando os mil açúcares
das salas de jantar pernambucanas,
por onde se veio arrastando.

§ (É nelas,
mas de costas para o rio,
que “as grandes famílias espirituais” da cidade
chocam os ovos gordos
de sua prosa.
Na paz redonda das cozinhas,
ei-las a revolver viciosamente
seus caldeirões
de preguiça viscosa.)

§ Seria a água daquele rio


fruta de alguma árvore?
Por que parecia aquela
uma água madura?
Por que sobre ela, sempre,
como que iam pousar moscas?

§ Aquele rio
saltou alegre em alguma parte?
Foi canção ou fonte
em alguma parte?
Por que então seus olhos
vinham pintados de azul
nos mapas?
...........................................................................

206
IV/DISCURSO DO CAPIBARIBE
§ Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele.

§ Um cão, porque vive,


é agudo.
O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
é ir entre o que vive.

§ O que vive
incomoda de vida
o silêncio, o sono, o corpo
que sonhou cortar-se
roupas de nuvens.
O que vive choca,
tem dentes, arestas, é espesso.
O que vive é espesso
como um cão, um homem,
como aquele rio.

20
7
§ Como todo o real
é espesso.
Aquele rio
é espesso e real.
Como uma maçã
é espessa.
Como um cachorro
é mais espesso do que uma maçã.
Como é mais espesso
o sangue do cachorro
do que o próprio cachorro.
Como é mais espesso
um homem
do que um sangue de um cachorro.
Como é muito mais espesso
o sangue de um homem
do que um sonho de um homem.

§ Espesso
como uma maçã é espessa.
Como uma maçã
é muito mais espessa
se um homem a come
do que se um homem a vê.
Como é ainda mais espessa
se a fome a come.
Como é ainda muito mais espessa
se não a pode comer
a fome que a vê.

208
§ Aquele rio
é espesso
como o real mais espesso.
Espesso
por sua paisagem espessa,
onde a fome
estende seus batalhões de secretas
e íntimas formigas.

§ E espesso
por sua fábula espessa;
pelo fluir
de suas geleias de terra;
ao parir
suas ilhas negras de terra.

§ Porque é muito mais espessa


a vida que se desdobra
em mais vida,
como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.

20
9
§ Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave que vai
segundo conquistando
seu voo).

(In Obra completa. O cão sem plumas,


1949-1950, p. 105-107; 114-116)

210
FÁBULA DE UM ARQUITETO

A arquitetura como construir portas,


de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

2
Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

(In João Cabral de Melo Neto. Obras completas, 1994, p. 345-346)

21
1
Potiguar Matos
(1921)**

Nem te sonhava mais, pássaro de fogo


ardente luz de selva e morte.
Tuas asas translúcidas pousaram em minha dor
reacordam cem mitos
no coração dormindo.

Te amo, teu voo alto, belo


flecha disparada no infinito
tocaste minha face morta
foste deus
a vida renasceu em mar e rosa
milagre teu, pássaro ferido.

E me vou contigo na amplidão do espaço


forças não tenho para o voo
sigo teu rastro de angústia e sonho
morro e ressuscito, pássaro de fogo
em tua vertigem
de altitude e queda.

(In Poesia Sempre, 1985, p. 91)

212
V

A relva macia
de suaves tons intemporais
verde de mar
castanhos e morenos tropicais
negros da noite
abissal e devorante…
Do fundo vale nascem
névoas de sonho
a relva é tapete oriental
mitos se renovam
em carne viva
cantam canções de amor e morte…
Nos seus mistérios azulescidos
e fatais
ser vegetal e puro estou perdido
criança regressando ao ventre mãe
a solidão e paz do mundo.

(In Poesia Sempre, 1985, p. 99)

21
3
Zé Dantas –
José de Sousa Dantas Filho
(1923-1966)**

ACAUÃ

Acauã, acauã
Vive cantando
Durante o tempo do verão
No silêncio das tarde agoirando
Chamando a seca pro sertão
Chamando a seca pro sertão
Acauã, acauã
Teu canto é penoso e faz medo
Te cala acauã
Que é pra chuva voltar cedo
Que é pra chuva voltar cedo
Toda noite no sertão
Canta o joão-corta-pau
A coruja, mãe da lua O
peitica e o bacurau Na
alegria do inverno
Canta sapo, jia e rã
Mas na tristeza da seca
Só se ouve acauã
Acauã, acauã...

214
A VOLTA DA ASA BRANCA

Já faz três noites, que pro Norte relampeia,


A Asa Branca, ouvindo o ronco do trovão,
Já bateu asas, e voltou pro meu sertão,
Ai, ai, eu vou embora, vou cuidar da plantação,
Já bateu asas, e voltou pro meu sertão,
Ai, ai, eu vou embora, vou cuidar da plantação,
A seca tem de desertar da minha terra,
Mas felizmente, Deus agora se alembrou, De
mandar chuva, pra este sertão sofredor, Sertão
das mulhé séria, dos homens trabalhador, De
mandar chuva, pra este sertão sofredor, Sertão
das mulhé séria, dos homens trabalhador. Rios
correndo, as cachoeiras tão zuando,
Terra molhada, mato verde que riqueza, E
a Asa Branca, salva e canta que beleza,
Está o povo alegre, mais alegre a natureza,
E a Asa Branca, salva e canta que beleza,
Está o povo alegre, mais alegre a natureza.
Sentindo a chuva eu me recordo de Rosinha,
A linda flor do meu sertão Pernambucano,
E se a safra não atrapalhar meus plano,
Que que há, o Seu Vigário, vou casar no fim do ano!

21
5
Edson Régis
(1923-1966)**

COMPOSIÇÕES

I
Não terei a pressa
que aniquila o verso.
Na manhã presente
a flor talvez não seja
como anunciaram.

Esta é a palavra de
límpida fonte, precisa
como o sábado, nítida
e leve
como pura lágrima,
lenta, rolando
pela face:
liga teu verso
a ti mesmo
que ao céu noturno
será mais puro,
embora um mistério.

216
II
Agora que é noite
e resta apenas uma estrada
o silêncio é cultivado
até a aurora.
Na fria areia
o primitivo gesto
do poeta dorme
Asas lhe faltam,
à terra está preso.
Noite de ferro
pesa nos seus braços.

o poeta entrega-se
aos seus hábitos
e prepara uma fuga
– um novo reino
entre a vida e a morte.

(In As condições ambientes e O deserto e os números, 1971, p. 59-60)

21
7
AUSÊNCIA

Fora melhor a ausência e não ter visto


A chama dos teus gestos na paisagem
E tuas mãos de fogo pela noite
– Morte da infância, amor e desespero!

No pomar te esperei e entre horizontes


Cultivamos as lindas esperanças!
Com sortilégios me trouxeram sombras
E te perdi mais longe do que eras.

Vi dançando no espaço os teus cabelos,


Quando aqui te encontrei e nos vencemos
– Frágeis barcos lançados contra as pedras.

Contudo te esperei por muitas luas,


Sabendo que o teu corpo era tão longe
E meu apenas foi por um só dia.

(In As condições ambientes e O deserto e os números, 1971, p. 40)

218
César Leal
(1924)*

O SONÂMBULO

Os mistérios do céu
refletidos nas vagas
devolvem ao mar os nimbos
na luz dissolvidos,
a noite é um losango,
o sono é vertical,
a morte, a luz de um
sonho adormecido.
No seio da linguagem
por um astro
– vesti-lo em brumas
quando despertado,
ter sempre um ar de vivo,
se dormindo,
de morto, sempre um ar
quando acordado.
As sombras do ciclone
são árvores oblíquas,
vozes adormecidas
dentro de mim carrego,
na terra não há curvas
nem vulcões nem abismos:
– o círculo do horizonte é infinito e cego.

(In Tempo e vida na terra, 1998, p. 450)

21
9
CIDADE OU CIDADELA?
A Luciano Siqueira

Rios e mar formam tuas ilhas de


águas salgadas águas doces os
tempos idos: a paz, as pontes a
negar o que exibes hoje.

Cinzas de heróis em solo estranho,


a dor do mundo: ei-la em teu rosto.
Se uma luz nova é o que tu buscas:
só mostra sombras o teu “novo”.

Um novo carente de amor:


tua grandeza é teu passado,
as multidões perderam as ruas:
sabem todos que estão cercados.

Poucos recordam Frei Caneca, Luz


da Nação, voz brasileira. Onde se
encontram Capistrano, herói na
Espanha, Hiram Pereira?

O porte altivo de Gregório,


águas do abismo a vida inteira.
As cinzas-luz de Abreu e Lima
pedem sombra a nossa Bandeira.

Um cinturão de armas ocultas


fez da cidade a cidadela,
as armas pesam sobre todos,
sentem todos o peso delas.

220
A morte segue os nossos passos,
não escolhe a vida que rebenta,
chega veloz, nasce nas armas,
suprime a luz: morte violenta.

(In Literatura Portuguesa e Brasileira, Universidade do Porto, 2000.


Conforme referência enviada pelo próprio autor.)

22
1
William Ferrer Coelho
(1924-2006)*

SIMUN

Sou a saudade
relembrando você,
nauta dos mares distantes
e dos silêncios atlânticos.
Sou a saudade dos festejos
do frenesi das ondas
e dos encantos das noites enluaradas.
Sou saudade, sim.
Sou o simun que sopra nas tardes
do sáfaro deserto.
Confesso –
sou apenas a saudade.

222
PROPOSTA

Quisera ser o sol


para dourar teu corpo.
Quisera ser a lua
para brilhar nos teus olhos.
Quisera ser um pássaro
para pousar entre teus seios
e nidificar.
Quisera ser uma borboleta
para pousar na tua cabeça
e sugar o néctar do teu pensar.
Quisera ser um molde
para guardar sovinamente
o teu andar em busca do amor.
Quisera ser a primavera
para atapetar de flores teu caminho.
Quisera não ser outono
para encher de folhas secas teu caminhar.

22
3
Maria do Carmo Barreto Campello
de Melo
(1924-2008)*

DEPOIMENTO

I
Agora
devo só esperar que as coisas aconteçam
anti-ser anti-sendo
e surpreendendo o avesso das coisas:
o som silente do grito
estrangulado na garganta e
o anti-sol
desta manhã nasce/morrendo.

Difícil, amigo
é ser poeta nestes tempos
e nesta hora em que devo esperar
que as coisas aconteçam e
escrevo sobre a água um poema de amor
que não lerás.

Difícil é ser poeta


nestes tempos.
Difícil é ser.

224
II

O tempo, amigo, está contaminado.


Estamos todos comprometidos numa traição
que não sabemos
heróis e cúmplices de alguma coisa prestes
[a acontecer
que não acontece.
Amigo, se eu te pudesse depor
como se depõe uma veste
que face (terrível ou heróica)
eu voltaria para estas manhãs que já
nascem mortas
que palavra silente me umedeceria a boca?
Amigo, se eu te pudesse depor
(como depor o caminho como as mãos
os braços como o sonho a luz esta
rosa e o seu vermelho?)

Se eu te/me pudesse depor


amigo, se eu te/me

que noite mais escura ainda


seria nossa guarida

do que estes tempos contaminados


em que as palavras morrem em minha boca?

22
5
III

Meu espanto
e este som branco e mudo
que se evola de mim e me redime.
Mas que denúncia assumirei se me sustenho em
andaimes de vidro
e não sou senão o ressoar
do que sangra no mundo
e pede aos céus vingança?

Que fiz de minha carne? Me fiz voz?


E que voz
de raízes amargas nascidas em minha garganta
que voz
terrível ou aliciadora escolherei
para dizer-te a contaminação dos tempos em
[que vivemos
(ou morremos) anti-heróis de uma era
[que buscávamos?

Amigo,
somos combatentes derrotados de outras lutas
presos na armadilha fatal que nos armaram
e no entanto sabes
que o mel da ternura corre em nossa boca.

Mas sabes também


que o nosso desconsolo assombrará o mundo
e as estruturas serão abaladas pelo anti-grito
em que me tornarei
pois sou apenas uma voz

226
plantada no chão de mim
que me fiz grito
para rasgar
as impurezas de um tempo que se esgarça.

(In Partitura sem som, 1983)

22
7
DO SER EXPECTANTE

Percebes
de repente
uma estranheza
no convívio do teu cotidiano:
alguma coisa que antes não
– está sendo agora.
Chegas a duvidar de ti mesmo
e da tua própria existência
talvez do cenário onde cumpres um esdrúxulo papel
que não te havias reservado.

Se alguns sinais já te o anunciavam


(lembras? um dia os pássaros ficaram mudos)
estacas agora ante a descoberta de um estranho
anti-tempo que te desconcerta:

Arbustos obediente perfilam-se junto aos muros


no estreito espaço que os carros lhes concedem
enquanto a vida comprimida irrompe na
explosão amarela das acácias.

A máquina
Homem-do-Ano
senta-se à mesa da Vida servida por homens-robôs
com o anúncio da realizada profecia:
“E a máquina se fez
e habitou entre nós”.

228
Percebes:
neste contexto és inviável
e só te resta depor o sonho e erguer como um mastro
um rosto lívido ante um mundo onde sempre
[serás minoria.

Nos teus olhos


semeados de esperança
nascem madressilvas
e tomado de arrebatamento dizes:
“– Alguém me salvará.
Pelo menos um certo alguém”.
E logo verificas que te traíram o tempo e a
cronologia das lembranças.
Inútil, pois, o coração em alvoroço.
O próprio amor (bem sabes) não permitiu
[que outra face
fosse o espelho da tua face.

Por vezes
um ramo verde se insinua no vão da tua porta
e dos teus pensamentos. Mas não te iludas
é um simples presente da vida
uma de suas misericórdias.

No ritual das coisas


por terminar ainda
(há uma canção de outrora a ser esquecida)
é preciso buscar
uma fé de antes
uma coragem antiga
agora que descobriste não ser verdadeiramente tua
a vida que viveste com todas estas coisas acontecendo
pois delas te tornaste

22
9
alvo
reflexo
somatório
mítico expectador.

(In De adeus e borboletas, 1985)

230
Waldimir Maia Leite
(1925-2010)* **

OFÍCIO DO SEMEADOR

Em sua tenda de cedar,


Esta noite o homem plantará
Uma semente na mulher.
Suas mãos regarão um alqueire
Da terra fértil do corpo,
Em campo horizontal,
Até que umedeça,
Como terra chovida.

Revolverá então a terra e sobre


Ela
Jogará liquida e tépida semente.

Ao revolver, com rudes


Mãos de lavrador,
O corpo da mulher,
O homem suará ao Sol forte
E ao mister do seu lavrar de amor.

E se ouvirá um dueto quando ambos,

Terra e lavrador,
Fruírem, ao mesmo e único instante,
O jorrar do líquido semear.

23
1
Enquanto o fruto cresce,
Cuidará, o lavrador, de coibir
O também crescer de ervas
Daninhas, ao derredor.
Ao ciclo vegetativo de nove luas,
O homem colherá sonoro fruto,
Da semente que semeou,
Em terra fértil de corpo horizontal.

Um dia
(já cansado lavrador)
ao homem faltará, dentro da noite,
nova semente a semear;
enquanto terra fértil
a mulher não mais será,
ao declínio do sol de amar.

232
OFÍCIO DA BUSCA

Carrego nos ombros meus instrumentos


De trabalho: a palavra e a alma.
Todos os dias saio para a tarefa.

Sob sol ou chuva, o ofício.


De manhã e à tarde, o uso
Dos instrumentos fundamentais.

Mãos calejadas já tenho,


No árduo ofício, duro
Labor da alma e da palavra.

À noite, recolho-me com


Os instrumentos, tendo à mão
A obra sempre inacabada:
a
busca
de
Deus.

(Nota enviada pelo autor em 2005: “Este poema está em monumen-


to, à avenida Caxangá, Recife/PE”)

23
3
Geraldino Brasil
(1926-1996)*

SEXTINA DO GATO BÁRBARO

O leve pássaro
arisco e tímido
e sempre lírico,
tem morte trágica
no dente áspero
do gato bárbaro.

Já nasceu bárbaro,
o gato. O pássaro
tem seu fim áspero,
– ele que é tímido –
em morte trágica
que come o lírico.

Pássaro lírico
sempre é do bárbaro
gato de trágica
mente no pássaro.
Nunca foi tímido
seu dente áspero.

234
Seu punhal áspero
gosta do lírico
sabor do tímido.
O gato bárbaro,
seu sonho: um pássaro
em morte trágica.

Vive da trágica
desgraça o áspero;
vive do lírico
tímido pássaro
o cruel bárbaro
que come o tímido.

Olhando o tímido
que voa, a trágica
língua do bárbaro
se molha e é áspero
o olhar ao lírico
passar do pássaro.

23
5
DESCONVERSA

Queria ver o mar. Pediu que não chovesse


e não choveu. Foi ver o mar.
Temeu um dia que o vizinho viesse
conversar. Pediu para chover.
Do céu azul choveu. Era pedir, era alcançar.

Mas lhe faltava o que sempre quis.


O amor da mulher que o faria feliz.

E pensou em partir. O jeito era partir.


Outra cidade, outro caminho, o esquecimento.
Mas o problema era esquecer. Não sabia esquecer.
Foi quando se lembrou: – Eu vou pedir para esquecê-la
completamente, e que me seja indiferente vê-la.

E procurou o santo protetor. Ajoelhou-se e ia


pedir para esquecer. Foi quando estremeceu.
Foi quando se lembrou de que sempre ele atendeu.
E com receio de perder o amor de que sofria,
com reserva mental desconversou sua oração, tossiu,
olhou para o relógio, simulou espanto,
baixou o olhar ao chão, pra não fitar o santo,
fez um sinal da cruz mal feito e escapuliu.

236
Edmir Domingues
(1927-2001)**

SEXTINA DA VIDA BREVE

Em dia destes dias (muito breve)


partirei sem remorso desta vida.
Quem sentir minha falta seja forte.
Sei que a terra em meu peito será leve
se pesada me soube a dura lida
e quem viveu no bem não teme a morte.

O que vida será? Que será morte?


Que haverá que eu não saiba muito em breve?
A ciência dos homens, por mais lida,
não decifrou sentido nesta vida.
Toda filosofia que se leve
do mundo vão, nada terá de forte.

Bandeiras coloridas nalgum forte


fremem sempre de vida. Mas a morte
há de vir mansamente, o passo leve,
lembrando o acidental da vida breve.
Pois só de brevidade vive a vida,
e de mágoa de dor, de dura lida.

23
7
Quanto haverá de prêmio após a lida
A quem não se curvou, a quem foi forte?
Ou é pura ilusão do Mundo, a vida?
Ou o sono sem fim, nirvana, a morte?
Sonho a se esvanecer, fumaça breve
Que o vento mais sutil num sopro leve?

Possa eu seguir no barco de alma leve


Ganho o óbolo em suor, preço da lida.
(Não dure a travessia, seja breve).
Um copo cheio de bebida forte
ajudará a olhar de frente a Morte
como ajudou a olhar de frente a Vida.

Nunca houvesse rompido o ovo da vida


e não conheceria a dor. Mais leve
do que o ser é o não ser. A vida e a morte
são dois prismas iguais da humana lida.
Pois todo o que nasceu, ou fraco ou forte,
um só destino teve: a vida breve.

Tenha-o assim por leve a vida breve,


o espírito o mais forte em toda a lida,
e se viva na vida amando a morte.

(In O domador de palavras, 1987, p.35)

238
SONETO

E eu galguei o alcantil tendo-a em meus braços


vestida não de sol, porém de lua,
e havia cavalgadas nos espaços,
seu suave suor, e estava nua.

Houve então cavalgadas sobre a terra,


o espanto do luar que tudo via,
a grande paz que habita nessa guerra
de corpos enlaçados em porfia.

Veio depois o estranho cataclismo


desse grande vazio de depois.
À margem desse negro mar, o abismo
do mar, ao pé da soma de nós dois.

A Mão do Orvalho, então, – sabe fazê-


lo pôs estrelas sem conta em seu
cabelo.

(In Universo fechado ou construtor de catedrais, 1996, p. 312)

23
9
Ariano Suassuna
(1927)

A INFÂNCIA
(Com mote de Maximiano Campos)

Sem lei nem Rei, me vi arremessado


bem menino a um Planalto pedregoso.
Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,
vi o mundo rugir, Tigre maldoso.

O cantar do Sertão, Rifle apontado,


vinha malhar seu Corpo furioso.
Era o Canto demente, sufocado,
rugido nos Caminhos sem repouso.

E veio o Sonho: e foi despedaçado!


E veio o Sangue: o marco iluminado,
a luta extraviada e a minha grei!

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,


na Cadeia que estive e em que me acho,
a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!

(In Poemas, 1999, p.191)

240
A ACAUHAN – A MALHADA ONÇA
(Com mote de Janice Japiassu)

Aqui morava um Rei quando eu menino:


vestia ouro e Castanho no gibão.
Pedra da sorte o meu Destino
pulsava, junto ao meu, seu Coração.

Para mim, seu Cantar era divino,


quando, ao som da Viola e do bordão,
cantava, com voz rouca, o Desatino,
o sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu Pai. Desde esse dia


eu me vi como um Cego sem meu guia
que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua Efígie me queima. Eu sou a Presa,


Ele a Brasa que impele ao fogo, acesa,
Espada de ouro em Pasto ensanguentado

(1980)
(In Poemas, 1999, p.191)

24
1
Deborah Brennand
(1927)**

NO BOSQUE

Falo com lábios vermelhos


sem medo
da lei que impele o besouro
a devorar nas flores
o ouro real dos polens

e tu continuas alheio...

Falo, e dou alarme,


do veneno da serpente
nos lajedos
do lodo cegando
aqueles olhos d‟ água,

mas finges não ver.

Com a mão crestada


aponto a árvore
queimando-se no auge do verão,
e, nem sequer lamentas
o sangue iluminado da sombra.

Pisarás nas cinzas, sem doer?

(In Pomar de sombras, 1995, p. 105)

242
MAÇÃS NEGRAS

Sonhei com o teu quintal


coberto de ramagens
ofertando maçãs negras
e de repente senti

o meu coração estrangeiro.

Longe do meu tempo


à revelia dos sonhos,
levei adiante o destino,
fui a Damasco e Chipre

„Sem chorar os mortos‟.

Depois voltei sozinha


num barco de quilha azul
sobre águas de marfim
só para ver no inverno

rios chegarem ao mar.

Enfim, no longe surgiu


uma casa de teto alto
com muros rastejando
entre flores douradas:

era o pouso do acaso.

Só não fui ao teu quintal... tive medo.

(In Maçãs negras, 2001, p.13)

24
3
Job Patriota
(1929-1992)* **

Mote de Raimundo Asfora:


“Eu quero teus seios puros / Na concha das minhas mãos.”
Esses teus seios pulados
Nossos olhos insultando
São dois carvões faiscando
No fogão dos meus pecados
São dois punhais aguçados
Ameaçando os cristãos
Mas pra meus lábios pagãos
São dois sapotis maduros
“Eu quero teus seios puros
Na concha das minhas mãos”.

Mote de Raimundo Asfora:


“Frágeis, fragílimas danças / De leves flocos de espumas”
Na madrugada esquisita O
pescador se aproveita Vendo
a praia que se enfeita Vendo
o mar como se agita Ora
calmo, ora se irrita Como
panteras ou pumas Depois
se desfaz em brumas
Por sobre as duras quebranças
“Frágeis, fragílimas danças
De leves flocos de espumas”.

244
Carlos Pena Filho
(1930-1960)**

A SOLIDÃO E SUA PORTA


A Francisco Brennand

Quando mais nada resistir que valha


a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha,


a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida


do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório


e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

(In Livro geral, 1999, p.58)

24
5
SONETO DO DESMANTELO AZUL

Então pintei de azul os meus sapatos


por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente e


aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos


que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos


e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

(In Livro geral, 1999, p.77)

246
Audálio Alves
(1930-1999)**

O ÓRFÃO DE BELÉM

Movem-se os sinos
E se ergue o canto
– a voz do ferro
se une à do povo –:
Nasceste tanto,
morreste tanto,
e ainda pobre
nasces de novo.

Hoje renovas
o teu caminho
e eu já te espero
no ano que vem:
depois dos Magos,
do pão, do vinho,
– depois da morte,
depois do além.

Menino pobre,
Deus peregrino,
do homem ao céu
os ares cantam:
– Já quando eu velho,
serás menino

24
7
de mãos vazias
que ao Céu levantam-se.

Movem-se os sinos
e se ergue o canto
– a voz de ferro
se une à do povo –:
Nasceste tanto,
morreste tanto,
e ainda pobre
nasces de novo.

(In Natal pernambucano, 1992, p. 17)

248
GEOGRAFIA DO CAMPO SOBERANO

Venhas, por onde quer que venhas,


seguindo o mugir dos bois,
encontrarás o Nordeste
– inda Nordeste.
Depois
Recife, Tabocas, Rio
Formoso, Igarassu,
Cabedelo, Sirinhaém,
Porto Calvo
– seus ares calvos ainda:
os ventos de cabeleira
são do Nordeste, os de Olinda.
Aí já então preso aos lugares,
por guia tomes os mares
(não o ar que erra).
Logo,
terra verás
além
bastante acima da terra:
um arraial
construção de ar, conexão de alturas
– visão
do ar batido sob a luz mais pura:
Palmares.
Antes vontade e hoje imaginação
agora campo de bois, de incerto fumo e feijão
e outrora
cercos reais madurando
cereais da liberdade.
Venhas.

(In Antologia de didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 61)

24
9
Lúcio Ferreira
(1930)***

DÚVIDAS

O arco da imagem
num salto olímpico:
a graça
a goiva
a gravidade

Finado tempo
cobro da tarde
Pires de cinza em minha volta
Olhar
sem safra

Por isso eu sei


num adivinhar
medroso
de fogo
solto

Sei, sim
de minhas dúvidas

20 de abril de 2005

250
CONSTRUÇÃO

Entre a napa e o espelho


permaneço esférico
Não cavalgo
as curvas
nem a vermelha luz
das estrelas velhas

Penetro a forma
conservo
o teto
Gero meu jeito
fujo das redes das fronteiras
salto no primeiro orvalho

E no espaço
de meus sólidos
meus verões
construo
Visto o sereno das sombras
bebo na bilha da lua.

Janeiro de 2005

25
1
Mauro Salles
(1932)* **

RECIFE

O vento é do Pina
ou de Boa Viagem
a luz vem de longe
da velha cachoeira
Os rostos se explicam
Nassau ou Luanda

Mas de onde virá


a minha saudade?

Recife, cheguei
mas não me demoro
Não vou nem ter tempo para tomar sorvete
no Gemba
nem chupar manga no Espinheiro
ou apanhar cajus na Piedade

A cidade não esperou a minha volta


E não foi poupada nem a esquina do Bar Lafayete
onde meu avô falava mal da vida alheia

Dos galhos de velhas jaqueiras ainda pendem


longos balanços que já não me cabem
– pena que ninguém me possa de novo fazer menino

252
Naquela casa de praia
de grande varanda aberta
armei soldados de chumbo
comi siri, caranguejo

cavalas e guaiamuns
e vi meu rio Tomé pegando fogo
querendo salvar Geni
tão bonita no meio do incêndio

Recife, perdoa
se não vou ter tempo de ver o peixe-boi
do Largo do Amorin

Será que ainda vive o peixe-boi?


E as tartarugas do Derby?
E o mercado noturno do Bacurau?
E o farol de Olinda?

O carro me leva
pela Imbiribeira
que já não tem mais viveiros de tainhas
mas ainda tem a Rua Motocolombó
que os cariocas não sabem dizer

Não vou às usinas


Tiúma ou Catende
Nem vou aos engenhos
Outeiro ou São Felix
Nem vou ver Dindinha
que não tenho tempo
Vim só trabalhar
só vim trabalhar
ouvir quem não quero
Recife, que pena...

25
3
Tanta pena de voltar pra
minha casa no Rio tão
longe da minha terra
sem ter botado um calção
ido ao cinema
passeado em Caxangá
na Torre ou em Beberibe
Beberibe está cada vez
mais longe de Copacabana

o vento é do Pina
ou de Boa Viagem
Mas de onde virá
A minha saudade?

254
MUDANÇA

Retire, um a um
cada tijolo
derrube o muro
remova os alicerces
da construção

Supere as amarras
do passado
lance o último olhar
ao que existia
e foi meta e conquista
na paisagem

Depois aplaine o campo


que restou
caleje as mãos antigas
no velho arado
refaça os canteiros
esquecidos
traga o regador dos
tempos antes plante a
nova semente da
esperança

E espere confiante
a volta das flores

25
5
Olímpio Bonald Neto
(1932)* **

AMOR ULTRAMILÊNIO

Cantar o amor que passa além da vida


De Dante a Mauro Mota: a mesma empresa.
A tanto eu tentarei, por ti, querida
Gravar do nosso amor toda a grandeza.

Que esta aventura o século varou


Com a mesma chama iridescente acesa.
Qual raio laser estigmatizou
A humana lida, plena de incerteza.

E sobrepôs, ao Tempo e às cicatrizes


Dos embates da Vida, a beleza
De mil constelações de tungstênio.

Até fazer de instantes as matrizes


Da Eternidade, dando-me certeza
Que hei de te amar por todo o outro milênio!

Olinda, 31 dezembro 2000

256
Soneto RECICLADO de Olímpio Bonald Neto
(50 ANOS DEPOIS: Entre Fev 51 e Dez 04)

O POETA, QUANDO JOVEM.


(LENDO AUGUSTO DOS ANJOS)

Perto ou longe, num mar de Dor vagando,


Em vão, com a mente espadanando, tenta
E, rude, desespera-se buscando
Vencer a Solidão que o atormenta.

Num delírio de asceta o jovem empenha-se


Roubar da vida a Vida que mais ama
E abate-se, flagela-se, condena-se
A ver se da Esperança extingue a Chama.

O tempo passa. E as dores dão certeza


Da ingratidão – enzimas de arsênico –
Que, em busca a Perfeição, matam a Beleza.

E ao fim resta somente para uns poucos


O mundo cataléptico do astênico
Na Solidão asséptica dos loucos.

25
7
Nelson Saldanha
(1933)* **

ANIMULA

Deitado agora como um som que cala,


recebo sobre o corpo a alma simultânea.
Percebo-a, breve e funda, e paciente,
a alma vertical e vigilante
que me habita por dentro e me perfila,
e me torna possível este sonho
breve também e vertical, um sonho
que é mais do que parece ou mais do que suponho.
E vejo em torno da alma um resto de paisagem
e cem anjos-da-guarda adormecidos.

Recife, 15 de fevereiro de 2004

258
TEMPO, INSTANTE, CORAÇÃO

A cada instante passa um outro instante


que como o outro retorna, e se retrai.
O tempo, gota a gota, latejante,
mede o que menos fica, e o que mais vale.

O sono atrai o sono, mas o dia


dorme nos intervalos do compasso
que a pulsação da tarde, e do mormaço,
em seu constante ardor cria e recria.

O tempo, gota a gota, lento e forte,


se escoa entre as raízes escondidas
como um rastro que envolve vida e morte.

No coração refaz-se o ardor pulsante,


como o dia, que é novo em cada instante,
se renova nas lágrimas perdidas.

Recife, 2 de outubro de 2004

25
9
Montez Magno
(1934)* **

A FORMA RESPLANDENTE

Todavia, um cérebro demente


comanda o caos do mundo, visto
que nada escapa ao negro sumidouro.
Um Sol sem luz é fonte reprimente
e no escuro nenhum olho atinge o alvo
salvo se um guia estender a mão alerta
evitando a queda e o abismo conseqüente
por onde já passou aquele que luzia
e se consumiu por êmulo fracasso.

Se dentro – no interior do negro báratro –


não escapa nem a luz forte dos astros,
o cone que faz a passagem para outro plano
consome o seu ouro na vertigem da viagem
aglomerando as almas soltas no espaço
em direção ao nirvana cheio de nada,
um compacto sistema anulador de ilusões.
A esfera que contém o núcleo ardente
surge então como forma resplandente.

15 de dezembro de 2002

260
OS GIRASSÓIS DE VAN GOGH

O peso do sentir, a glória de viver,


a dupla mão percorrida
pelos campos contemplados
presos em molduras de madeira
os girassóis de Van Gogh
à venda em qualquer mercado.

À espera do vento em breve hora


dobrar os lírios brancos tardios,
anúncio e perda da forma
desgaste do musgo nas hastes
no entardecer longo e vazio.

Que ramo escolhe a flor no dia-a-dia?


Por onde anda o cheiro do seu pólen,
se vai além da sua medida,
ou se percorre a dimensão da sombra,
apenas um círculo que acende
o amarelo tingido em cada flor.

31 de março de 2002

26
1
Cyl Gallindo
(1935)* **

COMÍCIOS ÍNTIMOS
Para Ênio Silveira

Olho e vejo a praça: é


um campo aberto
onde se plantam flores
e nasce Liberdade.
Mas acintosamente estão
plantados arames farpados
e placas:
“Não pise na relva”.

Plantam-se ainda
olhos e bocas
de fuzis
nas esquinas
e nasce o medo
e eu passo
cautelosamente
e vou fazer Comícios
dentro do meu quarto.

Olho e vejo a Casa: é


um lar inviolável
onde se planta amor
e nascem filhos.
Mas acintosamente estão

262
plantados à porta soldados
e uma voz:
– Ordem superior!

Plantam-se ainda
vigília
com olhos e ouvidos
dos melhores amigos
e nasce o medo
e eu paro e
sigilosamente
vou fazer Comícios
dentro de mim mesmo.

Nota do autor: “Enviado a E. S. em 72, mas mantido inédito até


recentemente, quando foi incluído na Antologia Caliandra – Poesia
de Brasília, Org. Alan Viggiano – André Quicé Editor/95.
Vertido para o francês pela profesora Nilda Pessoa, da UFPE.”

26
3
SER CRIANÇA EM NOITE DE NATAL

Tantas vezes a fadiga se desmancha


na mão que faz aurora e faz orvalho
e fez a vida fez o homem e faz verdade.

Tantas vezes a aurora se levanta


expondo as manhãs como crianças
nas peripécias sutis da claridade.

Tantas vezes a vida se acorda


e se joga a fazer a coisa feita
que para colhê-la ao homem bastaria

lançar o coração feito uma rede


a diluir entre nós essa parede
de indiferença erguida a cada dia.

Mas se os dias se vestem destes fatos


dada a colheita de frutos imediatos
tracemos novos rumos sem segredos

que a partir dum crepúsculo universal


igualitários na posse dos brinquedos
sejamos crianças em Noite de Natal.

Brasília, 1986

264
Orley Mesquita
(1935-2006)*

CAFÉ CONCERTO

Onde dispor o silêncio ?


A asa em delta do guardanapo de papel
E o fosco do aço inoxidável
Entornam o café-com-leite no irreal.

O pão de geometria oblonga


Endurece entre a faca e o fruto.
À mesa posta,
Acendo o último cigarro.

De tudo estou farto.

26
5
DESEJO

Um perfume qualquer
Oriental e noturno.
Uma lua vulgar
Antiga e sem história.

Ruínas a sangrar
Nos lençóis da aurora,
Teu corpo a refluir
Nas falésias do instinto.

O prazer de trincar
O teu fruto maduro
E saciar meu desejo
De sonho e eternidade.

Ser pássaro contigo,


Voar ansiedades
E depois,
Silente e contido,
Colher o mel dulcíssimo da tarde.

266
Sebastião Uchoa Leite
(1935-2003)**

CORAÇÕES INSENSÍVEIS

Bate a porta da limusine


O vagabundo
Apanha a flor do chão
E entrega à florista
Brilhamos olhos
Da ceguinha
Bate a porta outra vez
Os olhos brilham

(Obras em dobras, 1960-1988, 1998, p. 47)

26
7
DRÁCULA

esvoaço janela adentro


estou aqui ao lado
do teu pescoço longo e branco
com meus dentes pontiagudos
para esse coito tão vermelho
você desperta em transe
esvoaço outra vez
à meia-luz dos lampiões
de volta à minha máscara
quando entro na sala
com a cara distinta e lívida
de olheiras esverdeadas
a minha imagem em negativo
não se reflete no espelho
você solta um grito de horror
esvoaço janela a fora.

(Obras em dobras, 1961-1988, 1998, p. 126)

268
Francisco Bandeira de Mello
(1936)* **

O EQUILIBRISTA

Tocávamos clarinete na corda bamba


subíamos às altas torres do Egito
passeávamos de pára-quedas
no sol sem fim dos dias de fogo
subíamos à capota do avião
por cima das nuvens
recitávamos poemas à lua
tocando nela

Andávamos nos parapeitos dos edifícios


de um pé só na balaustrada dos abismos
não caíamos dos fios metálicos do circo
andando de cabeça para baixo
nem do alto da torre Eiffel correndo sonâmbulo.

Só na vida é que não nos equilibrávamos.

Recife, 14 de janeiro de 1960

26
9
O ADVENTO DA FLOR

Plana, no tempo as faces submersas,


ainda não é flor mas advento
de flor, perfumes e experimentos,
materiais de rosas no ar dispersas.

Profundas cores andam inconclusas


no que não é ainda, ou presas dentro
do chão azul do lago de confusas
ondas prontas para os nascimentos

Mecânica não é, é natural


a mão em que, dançando, sugerindo
vai também o aroma, a forma e a cor

da rosa. Do contato digital


nasce o desejo em ser e, prosseguindo,
as pétalas que se unem, formam a flor.

4 de abril de 1954

270
Esman Dias
(1937)*

FUSÃO
A Carmen Brito

Santo Anjo do Senhor


Tyger! Tyger! burning bright
meu zeloso guardador
In the forests of the night
se a ti me confiou
What immortal hand or eye
a piedade divina
a divina piedade
a mão, o olho imortal
que deu forma e simetria
a ti, labareda clara,

Dá-me teu fogo claro e me incendeia!


Dá-me tua espada à noite e me defende
Sempre me rege e me ilumina a alma
Meu santo Anjo do Senhor, meu Tigre!
e minha espada, espada, espada, espada!

27
1
ALUVIÃO
A Irma Chaves

Parlo in rime aspre, et di dolcezza ignude


com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca
(Petrarca/João Cabral de Melo Neto)

Falo do que não falo quando falo:


falo do meu silêncio,
bem mais claro
que as vozes incessantes dos que falam.

Falo do que não falo: do que sou:


bicho da terra – surdo – e mau cantor.

Falo do que não falo: tão pequeno


a destilar à noite o seu veneno.

Falo, não para o mundo dos sentidos:


falo somente para o inteligível.

Falo do que percebo: coisas claras


aéreas superfícies, copos d´água.

Falo na muda fala da batuta,


clara e precisa, do maestro à música.

Falo da pedra dura, da aspereza


de pedra sobre a pedra desta mesa.

Falo de mim em tudo de que falo.


Falo dos meus espelhos quando calo.

272
Falo como quem vai a julgamento
sem esperar o indulto do seu tempo.

Falo com a voz alheia que me toca.


Falo e regresso – ileso – à minha toca.

27
3
Myriam Brindeiro
(1937)* **

AMA (DOR) AS

vejo esses olhos


rindo um chorar
p
r
o
f
u
n
d
o

nas artimanhas
a rasteira
para muitas quedas
e a ânsia
de sair
para o mundo sonhado

nos espelhos
os truques
da face e do pecado
enquanto a cama gira
e o som toca
Ave Maria

274
(H) INOCÊNCIA
(poema pascal em sete dores)

ah! (h) inocência ferida


ah! dores entrecortadas
ah! esta condição de vida

no painel / mural está


toda visão espelhada
toda missão escondida
toda canção não cantada

ah! (h) inocência ferida ...

a visão apocalíptica
no sol ficou encravada
a cada giro que dá
mostra a face apavorada

ah! (h) inocência ferida ...

caminho não percorrido


rio cheio abarreado
canoa de corredeira
peixe pulando assustado

ah! (h) inocência ferida ...

no pão o pó a semente
no vinho o sangue a uva
a benção santa consente
tantas graças como chuva

ah! (h) inocência ferida ...

27
5
nenhuma flor aparece os
frutos estão no altar
incenso queima e aquece
fumaça solta no ar

ah! (h) inocência ferida ...

o solo recebe tudo


água clarão raio e fé
espera que num segundo
nada restará de pé
ah! (h) inocência ferida ...

a porta aberta à rua


na casa a solidão
numa e noutra não acerta
a caneca com o pão
ah! (h) inocência ferida ...

(Ao sofrimento do povo brasileiro pela morte de Tancredo Neves)

276
Severino Filgueira
(1937)

PASSEIO

Muros e grades
nas cores em tecidos
sobre relva e ponte
orgânicas dos sentidos.

O tilintar dos cristais


e ágata pelas salas
para os que não ouvem
ou para o que não fala.

Sábado e domingo das


águas e do fogo pelas
terras e corações
terminados logo.

O barro das tigelas


no telefone por solstícios
fechados ao redor
dos mangues e sítios.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 254)

27
7
SEGURO

Não resta tinta sobre tinta


nas cápsulas dentro das paredes
das avenidas e dos mocambos
arrastados pelas grandes redes.

A coroa do santo e o pé do diabo


confundem as beatificações diversas
realizadas ou por se estudarem
nos tabuleiros dos mercados persas.

Não se distingue noite e dia


com novo dicionário a se fazer
conforme convento e bordel
nas suas temporadas de lazer.

Rola o universo no leilão


particular de cada um no jogo
de tênis ou dado na calçada
drenando água ou acendendo fogo.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 255)

278
Jorge Wanderley
(1938-1999)**

MATINÊ

Várias vezes ele e ela


às pressas
tiram a roupa e
se rasgam
de cima abaixo e se beijam
de cima abaixo e explodindo
na chuva na cama no armário
no carro
CORTA
a perna da vizinha a dois centímetros da minha perna
CORTA
o título devia ficar “ardentes de paixão”
e então os dois matam o marido dela
ou a mulher dele e
ficam ou não ficam com o dinheiro
e aí o detetive descobre tudo
(finais variados)
entre cores carros tiros coquetéis
apartamentos saias coxas long drinks
cerejas trigésimo andar
CORTA
mas parece que é o vizinho do outro lado que encosta
[a perna na
minha
vejam só

27
9
CORTA
está ficando mais e mais difícil
coitados dos diretores
cotados dos roteiristas
das estrelas já não gravamos os nomes
CORTA
não era o vizinho fantasmal
só um toque ao acaso
nada além disso ainda
CORTA
uma barata
passeia no carpete pardo do cinema
indiferente ao som e à imagem
deve estar voltando das compras
gorda
automática
também já viu todos os filmes
CORTA PARA RUA
SOL E QUE FIZ DA MINHA VIDA

(In 41 Poetas do Rio, 1998, p. 321-322)

280
POEMA
Para Rosalie e Carlos Lima

Se eu morrer amanhã, há de ter sido


ainda desta vez, só por aquele,
o movedor dos astros,
o que Dante
tratou bem, mas tratou mal, se andou distante,
perdido nas esferas e sem corpo:
não quero assim, fugido amante torpe,
entre fumos te ver, longínqua e pura,
que quero impuro o amor que me corrompe
e inscreve em ti o que não se ousaria,
mulher, flores não,
bosque sem fim, escuro e claro,
ó penedia
e primavera de guirlanda, o lume raro
que não redime
e amo rasgada, eu suicida, ó tudo,
ó nada, só meu sonhos, claro crime

(In 41 Poetas do Rio, 1998, p. 321-322)

28
1
Arnaldo Tobias
(1939-2002)**

S.O.S./BRASIL 6

Quando não é chuva


grossa de céu fechado
é chuva de balas
de chumbo grosso
sob céu aberto
que fere e mata
como se mata
passarinho na mata
o tempo está escuro
e a previsão não muda –
entre o Plenário
e os meios classistas
são vários (os) papéis
e atos ex (tensos)
com muitos figurantes
e coadjuvantes
para tantas falhas
e falas pelos cotovelos
forrados de calos.

(Singular & Plural, 2003, p. 103)

282
SEM TÍTULO

pelo que bem pareça


uma palafita
não é uma embarcação
segura
é uma canoa furada
(encalhada)
de porco na lama
não é uma arca
feito a de Noé
muito embora
embarque
a bordo (pro/lixo)
pessoas como bichos

em suma:
uma palafita
é o esqueleto
e o féretro
do seu arquiteto.

(In Singular & Plural, 2003, p. 120)

28
3
Eugênia Menezes
(1939)*

SONHO DE PEDRA

Dos arcos da ponte te contemplo


com o temor de ver-te acordado pelo barulho
[da guerra.
Imaginava meu desterro no Pajeú
assustada por tua ira
que me faria perder o caminho
e os olhos verde-azulado de nice.
Antes ela se foi entre contorções e uivos
amarrada pela corrente que o cego cuidadosamente
[lhe atara.
Ao contemplar-te agora
percebo teu rosto oculto por galhos desprovidos
[de folhagem.
Parece sereno.
Abres os olhos, ainda deitado,
te encouras e abotoas as esporas. Ultrapassando a
cerca de pedra colhes umbus, depois de venceres em
quatro passos a distância que
[nos separa.
Lavo as mãos no rio que sob meus pés passeia
desajeitadamente te sorrio e as estendo
mas os umbus desaparecem.
E me vejo diante de ti sem medo
sem saber se devias continuar teu repouso indefinido.

284
Pareces surpreso e assustado pelo despertar.
Trazes peixes tomados da barragem para que eu
[os prepare
o que fazemos juntos na copa do juazeiro do atalho.
Tuas mãos, agora vazias de ofertas, apenas tuas mãos
se multiplicam em quatro
e se pretendem, bravas,
fortalecidas pelos umbus e alumiadas pelos peixes.

28
5
GÊNESE

te recebo em mim pela porta do mundo.


comecei a desejar-te aos poucos:
chegavas como se de leve batesses
em busca de abrigo.

chegaste tão ágil, tão manso,


que já não te soube em mim.
me invadias,
e eu me empinava
para alcançar-te.
meu corpo fulgurava:
te favoreceu e te pediu passagem.
uma passagem que já
nos tínhamos concedido além
muito além da carne.

depois que te foste me fiz nua


gostaria em mim teu toque invisível
mas a humana carne exigente
pôs-se a cobrar-me
toquei-me e sentia escorrer
das profundezas um caldo morno
que não sabia ser
a seiva do meu corpo
a lágrima dos famintos
ou o sangue dos assassinados.

não mais vieste nesta madrugada


tinhas já coberto tua fêmea
emprenhado com a tortura do mundo

286
seu útero que não concebe
anjos ou demônios
mas povoa com a condição
do nada, nosso continente.

quero que voltes


não te quis não te soube não te chamei
e quero que voltes
a tempo de conhecer teu filho
a quem chamarei Pátria ou Dever.

(Poema inédito)

28
7
Janice Japiassu
(1939)*

A VERDADE E SUA SOMBRA

A Verdade é como uma flor


Ou como um fruto maduro
Povoado de sementes

É simples e natural
Clara, fecunda, viçosa
Alimenta a vida
E é muito cheirosa
E, para os seus amantes,
Prazerosa

A Mentira é obscura
Gritante, repetitiva
E é também multimídia
Cheia de artefatos
De intrigas
Palavrosa
Redundante Sem
clareza
Só se constrói nos vazios E
se alimenta de medos
Jamais perceberá a beleza
De um arabesco
Ou de um algarismo

288
Igual a si mesmo
Ou do riso
Quando é preciso
Ou do sexo
Sem ser explícito

28
9
AMOR DE ÁGUAS DE SEDA

Ele é tão delicado!


Eu sou a sua princesa
Ele me ama calado
E eu também, muito em silêncio
Amo seu corpo de seda

Ele ama a minha alma


Guia meu corpo com os dedos
E eu me sinto tocada
Pela brisa dos segredos

Aí ardemos de encanto
Enquanto toca um violino
Tomamos dois copos d‟água
Como se fossem dois vinhos

Eu sou das uvas vermelhas


Ele é o ser das uvas verdes
Nosso vinho se entretece
De girassóis e beleza
Dentro de quatro paredes

Ele me ama e vai embora


Comigo no coração
Meu calor nos seus sentidos
Eu fico, faço uma poesia
Depois lavo com alfazema
O suor do meu vestido

E assim amamos a vida


Que nos uniu nesse enredo
Sem perguntar se a Alegria
Pudesse ser de outro jeito

290
Eu sou o Sol, ele a Terra
Entre nós passeia a Lua
E um grande manto de estrelas
Protege da noite escura
Esse namoro encantado
De risos, rimas e sedas
E tanta delicadeza!

29
1
Lenilde Freitas
(1939)

MULHER

Escolheram-me rainha e
com doçura de fada
puseram em minha cabeça
uma coroa – enferrujada

Depois sentaram-me em um trono de dor


daquela dor não dosada
mas tudo quase com amor
e com doçura de fada

Deram-me também um cetro


não dado, só emprestado
Vestiram-me então de preto

E por julgarem que me convinha


deixaram-me ali sozinha
rainha e soberana de um mundo
despovoado.

(In Corpo lunar, 2002, p. 42)

292
AQUÁRIO

O amor em mim está maduro


como um peixe.
De tanta água repleto,
ela não nada. Pesado cochila sob pedras –
Completo

(Corpo lunar, 2002, p. 41)

29
3
Paulo Cardoso
(1939-2002)**

DA VIAGEM

No vasto panorama que aprecio


de bruços na janela da lembrança,
dou rédeas ao corcel que a vista alcança
e ao meio da viagem me extravio.

Doideja a caravana no confuso


traçado das veredas. Tonto, sinto
e vejo bifurcar o labirinto
nas armadilhas do ar baço e difuso.

Sob o brilho das luzes destiladas


nas vias das estrelas escondidas
as musas cantam odes distraídas
e os deuses pisam uvas sazonadas.

O inconformismo d‟alma irrequieta,


o bálsamo da seiva; ele aviltava
os sonhos de um menino que sonhava
com sonhos ilusórios de poeta.

Perdido, fui ao máximo que pude


na escalada de abismos e de montes,
e me encontro, afinal, nos horizontes
em estado de paz e plenitude.

(In Vigília, 2000, p. 74)

294
RECIFE ANTIGO E NOVO

Recife das serenatas


de pássaros boêmios;
de burgueses e favelados
unidos no carnaval;
de leilões e de quermesses
improvisados nos coretos
e calçadões das igrejas.

Recife das missões e


das missas celebradas por Frei Damião;
das retretas e das bandas
tocando nas procissões.

Recife de arranha-céus e pardieiros


– turístico e lendário –
vestido de coqueiros
levita sobre as águas do Capibaribe.

Recife se renova
e permanece antigo
coberto com o manto do mistérios
tecido pelos anjos
e bordado pelas ninfas.

De Olinda a Candeias
e do Cais do Porto aos canaviais
Recife antigo será sempre novo.

(In Cactos e corais, 2000, p. 43)

29
5
Maria da Paz Ribeiro Dantas
(1940)*

VISITA

Os habitantes perderam-se
longínquos
num parque de águas.

No meio da noite
a casa
corrói-se em insônia:
espera.

Ausente a menina
brinca de esconde-esconde
atrás do banquinho.
(a máquina de brincar
fotografa a infância
impregnada nos móveis).

A casa
sozinha no meio da noite
corrói-se em insônia:
espera.

296
CIGANO DO AR
Para João Cabral de Melo Neto

Não vim pra ficar


Chego de passagem

Sem teto
Sem terra
Sem ponto a marcar

Não sento poltrona


Não deito nem rolo
Na eternidade

– O Cigano do ar!

Sou o magro o fino


O concentrado puro
Nada mais que furo

Onde entro e saio


Neste ser-não-ser
Forma em que habito

A agulha do instante
O tempo agorante
O vivo de mim.

29
7
Maria de Lourdes Hortas
(1940)*

NOTURNO

Pediria ao poeta
Que trouxesse o vinho
E depois a doçura do instante antigo
Para lembrar que a vida pode ser
O farfalhar de folhas
Uma fuga de pássaro
Canto longínquo
Grito
Piscar de estrela
Soluço:
Esta chuva que escuto
Sobre o telhado.

(In Fonte de pássaros, 1999)

298
INTERPRETAÇÃO DAS RUÍNAS

Houve passos nas pedras


Dentro da madrugada
Alvoroço de pássaros
Tropel de cavalgada.
Houve um cordão de estrelas
Nas janelas das casas
As luzes das candeias
Leve fremir de asas.

Houve salas e quartos


Cozinhas e latrinas
Houve átrios, cisternas
Oficinas, tabernas
Pátios, fontes, piscinas.

Houve cítaras e harpas


Beijos, dança
Fogueiras.
Houve medo, esperança
Flores, ritos, festins
Houve guerras e trégua
Tempo de sol ou névoa
Na relva
Dos jardins.

Houve mantos e túnicas


Seda, algodão e linho.
Houve sombras mirando
As sombras do caminho.

Entre verões acesos


E ardentes temporais

29
9
Houve núpcias secretas
Rosas de lume abertas
No leito clandestino
Do feno ou dos trigais.

Alguém pintou murais


Alguém fez os mosaicos
Alguém na olaria
Riscou flores e falos
Sobre a face
Dos pratos.

Alguém armou os jogos


De água
Nos repuxos.
Alguém se sentiu deus.
Alguém se julgou bruxo.

Alguém bebendo vinho.


Outros comendo pão.
Alguns dizendo sim.
Outros dizendo não.
Longe uma voz chamando.
Outra que respondia.
Houve noite.
Houve dia. Infâncias,
solidões Amores e
traições Chegadas e
partidas: existências
cumpridas. Antes de
haver ruínas Houve os
jogos da vida.

300
EPÍLOGO

O que haverá de urgente


Diante do repouso
Destas muralhas em ruínas
Séculos e séculos
De silêncio indiferente
Sobre a certeza do pó
De vidas
Que pisamos?

(In Dança das heras, 1995)

30
1
Paulo Bandeira da Cruz
(1940-1993)**

SONETO DE CHANG

Gesto de sol e grega alvenaria


a luva de pelica do arquiduque
os pontos cardeais da alquimia
lençóis de claraboia a mão de truque.

Canários de plantão, terço de ervilhas,


subterrâneos de saguis e coelhos;
Alice no País das Maravilhas,
Mandrake se escondendo nos espelhos.

Cataratas do avô no olhar incrível


do neto que era eu, ser invisível,
no encanto magistral da flauta mágica.

E agora que sou mesmo a água e a fonte,


recolho a minha imagem no horizonte
e vejo que ela é de luz trágica.

(Na antologia Poetas da rua do Imperador, 1986, p. 64)

302
O EVANGELHO CONSOANTE
JOÃO DA SILVEIRA SEVERINO
(fragmento)

POEMA INTRODUÇÃO
1. Naquele tempo disse João
da Silveira Severino
aos homens feitos de barro
pelas mãos de Vitalino:
– Os raios de soda cáustica
do amargo sol nordestino
roeram os ossos de Deus
e as pernas do meu destino.
E andando léguas de sola
com alpercatas de rabicho
rezei as rezas da escola
com ter de carrapicho.

2. Foi assim que eu vim embora


com poemas na sacola
de fuga com Jesus Cristo,
que afinou a mão e a viola,
tocou com dedos de esmola
e desceu do crucifixo;
andando, como se anda,
coroa de espinho acesa
no socavão da aurora
sertaneja.

30
3
3. Ando a pé, mas a minhalma
continua galopando
no oculto cavalo baio;
preto na sua estrutura
de alcatrão e breu, nervura,
de alumínio e para-raios.
Cavalo, cavalo-baio,
De origem pernambucana,
feito de açúcar mascavo
corcel de cana-caiana.

POEMA EXPLICAÇÃO
4. Minha sombra em seu caminho
pratica um ser de verdade
e outro ser em desalinho.
Até que o sol feche a sombra
com sua chave de linho,
deixarei que a sombra fique
que um coxo parte é sozinho

Pincel de urtiga e cominho,


Saguão de roxo no pires,
escolho o ser e o caminho,
rastreando o passarinho
que alinhava o arco-íris.

304
SEQUÊNCIA
5. Entrarei ao Altar de Deus
sabendo que Cristo não
será mais pronunciado
nem julgado pelas cinzas,
rei que era – coroado –,
um Lampião, na Caatinga.
Porque
já existe um ser, no Nordeste,
posto no altar da restinga
crucificado, num cacto:
– Braços abertos à tarde,
mãos moldadas em Carpina,
pés atados em Correntes,
rosto pintado em Vertentes,
corpo entalhado em Olinda,
(no Alto da Sé, em Olinda).

6. Jesus Cristo Nazareno (mas


de Nazaré da Mata)
exposto ao céu e ao sereno
da noite com sua pata
de avenca e unha de lata.
Entrarei no Altar de Deus
comungando a Lua Cheia
branca hóstia consagrada
de trigo não fabricada
(nem de leite condensado)
porém do leite fervido
as expulsa vaca malhada.

30
5
7. Entrarei no Altar de Deus
com a minhalma engomada
meu verso passado a limpo
minha palavra lavrada
meu silêncio construído
com o impuro branco do nada
com a solidão povoada
e a fé me foi testada.

8. Entrarei no Altar de Deus


com minha boca enfeitada
de Estrela D‟Alva o argumento
pois a boca de um poeta
não tem céu, tem firmamento
e atravessada na goela
a mesma Rosa Amarela que
o poeta Carlos Pena copiou
da Rosa dos Ventos.

GRADUAL
9. O domingo principia
onde o gado se inicia:
– Na roupagem do vaqueiro
no avental da ventania
no ferro em brasa ferrando
as cores da liturgia.

306
10. Não há altar, laje ou mesa,
equacionada na ceia,
forrada de aparição;
sangue expurgado de Cristo
nas artéria da injeção,
mil baionetas caladas
nas faces do sacristão,
papel crepom, casimira,
aguapé, terebintina
e castiçais de agrião.

11. Não há altar, não há muro


de arrimo na salvação.
Fissuras de éter nas asas
semeadas para os anjos
por dedos de falsa mão;
de mãos em pó, decalcada,
para ao nervo da palavra
que se transforma em canção.

12. Não há faca nessa mesa


não há leque na audição.
Há ramalhete de peixes
visão de Nossa Senhora,
aleluias no alçapão.

13. Não há faca nessa mesa


nem punhal na refeição.
Apenas Jesus partindo
a nossa fome no pão:
– Fatias de Deus, caindo,
do abismo da solidão.

30
7
DA CONFISSÃO
14. Confesso que sou de barro
confesso que sou humano
confesso que no meu peito
bate um coração de pano.
Confesso que ponho o céu
na cabeça quando ando
pela vida sem chapéu.
Confesso que sou Arcanjo
primo de São Gabriel
(porém Arcanjo e Vaqueiro)
tocando fogo no gado pelos
campos de papel. Confesso
que tenho ovelhas
evangelho nas orelhas
curral de rosas de mel.

DA ORAÇÃO
15. Pai Nosso que estás vestido
com minha roupa de dor
fio de invisível tecido
ou a linha do Equador.

Utilizo Tuas luvas


(minhas mãos de lutador)
manipulo Teus milagres
de Anjo e prestidigitador.

Multiplico Tua imagem porque


sou teu criador soprando o
barro e a ferragem que te
sustentam o andor:
– Mas glorifico o Teu nome
Com minha fome (de amor).

308
.......................................................

DA COMUNHÃO
19. Batata, inhame, cuscuz,
carne-de-sol, macaxeira,
louvado seja Jesus
repartido pela Feira.
Feira de Tracunhaém
Feira de Caruaru
feiras de barro – fronteiras –
da argila de cada um.
Cará, angu, jerimum,
de segunda à sexta-feira
minha morte se alimenta
minha vida fica em jejum.
.......................................................

CRUCIFICAÇÃO E RESSUREIÇÃO
41. Em vez de crucificado
entre o bom e o Mau ladrão
Cristo de Fazenda Nova
é só de imaginação.

Laranjas-cravo de gelo
coágulos de flor na mão,
Cristo de Fazenda Nova
é só a reencarnação.

Mas o Profeta acredita


que Deus morre e ressuscita
nesse Drama da Paixão.

30
9
Com sua força inaudita,
Jesus explode, na cripta,
e sai voando do chão.

EPÍLOGO
42. No dia seguinte João
da Silveira Severino vê,
Jesus tomando cerveja
com o dinheiro do
cachê.
Mesmo assim ele acredita:
– A moça que tem na vista
só enxerga a um palmo do chão,
mas tem dois olhos na alma
abismos, como se fossem,
os próprios olhos de João.

Itamaracá, 15 de fevereiro de 1980.

(In O Evangelho consoante João da Silveira Severino


(e Outros Poemas Menores), p. 9-25)

310
Ana Maria César
(1941)* **

SEM FORMALIDADE

Me despeço de mim
em noite esdrúxula.
Inúteis tacapes na soleira do tempo
impedem o retorno de caracóis visguentos.
Nas paredes circulares do poço
marcas de dores e orgias
vividas e consumidas
em tempo de vinha e de vinho.
A última colheita
se decompõe no terreiro
enquanto as sementes
no limo úmido do porão
desmentem previsões macabras
de um cataclismo final.

Me despeço de mim
em noite esdrúxula
e parto.

31
1
O RIO DA INSENSATEZ

Parco rio da insensatez


desaguou em minha porta
lavou os degraus de ardósia
despediu-se e foi embora.

Mago rio da insensatez


desaguou em meu quintal
derrubou duas roseiras
deixou adubo pra mais.

Louco rio da insensatez


desaguou em minha vida
revirou todos meus sonhos
só deixou assombração.

Vasto rio da insensatez


desaguou em mar aberto
esticou as águas lentas
se perdeu na imensidão.

312
Chicão
(1941)**

PECADOR E JUSTO

Pecador e justo
Noite e dia
Fantasia e realidade
Vida e morte
Em mim se unem
E não mais as distingo.
Permaneço
Onde estou Pelo
que sou: Anjo e
demônio. Se
tiver sede
Mitigarei minha sede
Na fonte mais próxima
E o meu suor darei
Pela comida que saciar minha fome
Pela camisa
Pelo agasalho
Pelo abraço
Pelo abrigo
Pelo amigo
Pela necessidade primeira
Que chegar em mim.

26 de junho de 1968.

(In Construção do dia. 1980, p. 38)

31
3
NATAL

E frio ele contamina


Com calor o nosso gelo
E com a neve traz a chama
Que faz à alma um apelo
P‟ra sairmos da couraça
P‟ra suportar o degelo
Que exponha nosso ser
Aprisionado em não sê-lo
Pois, já não cabe na alma
A se estender p‟ra contê-lo.

(In Construção do dia. 1980, p. 51)

314
Maximiano Campos
(1941-1998)**

O FILHO
A Eduardo e Antônio Campos

Que seja assim:


alegre sem desconhecer
a tristeza, capaz
e uma ilusão.
Forte sem apedrejar
derrotas, rebelde,
sem destruir a mansidão.
Servo apenas do ideal e sonho,
e rei de sua vontade.
Amando as pessoas sem
deixar que nenhum medo
o faça desconhecer a liberdade.

26 de junho de 1968

(In Lavrador do tempo, 1998, p. 27)

31
5
APELO AO QUIXOTE

Não deixes que a tua


armadura enferruje.
Principalmente no peito
que é perto do coração.

Segura a espada
larga o escudo,
pois medo não é proteção.
Permite que o Sol bata na poeira
e o vento leve o sujo
do aço que te cobre.

Na loucura, só na loucura,
estarás liberto. O teu mito
é Sol, liberdade e céu aberto.

24 de abril de 1966.

(In Lavrador do tempo, 1988, p.29)

316
Tarcísio Meira César
(1941-1988)

SONETO DO ENTARDECER, EM RÚSSIA

Por uma tarde, em Rússia, à fonte ia


a minha camponesa: blusa ao vento,
tão diferente da melancolia
que linha Rilke em seu olhar nevoento.

Entardecia em Rússia e um cavalo


pastava o sol, o tempo e o capinzal.
E o cabelo que a ninguém fez mal
Dormia entre o silêncio e o intervalo

que o sol fazia, ardente sem saber


das tecelãs que no Recife iam
às fontes da manhã, para aquecer

as fábricas do campo. E com os macios


cabelos de avelã, à tarde, vinham
baronesas tecer dentro dos rios.

(In Agenda Poética do Recife, 1968, p. 87)

31
7
HIROSHIMA MEU AMOR

Nas ruas de Hiroshima ainda rodam


cantando a cirandinha nas calçadas
as crianças de luto. E mãos de fadas
as conduzem de perto e não as tocam.

com medo de magoá-las. Só as brisas


sonham devagarinho em seus cabelos
macios e lhes ofertam caramelos
feitos de tenros gnomos e corizes.

O luto que assim as veste ao meio-dia,


nas ruas incendiadas da cidade,
lembram o canto da morte que dizia:

“Era uma vez… Passou aqui um vento


louco varrido, e em plena claridade,
plantou-se a morte, como um sol nevoento”.

(In Agenda Poética do Recife, 1968, p. 89)

318
Suzana Brindeiro Geyerhahn
(1942-1996)* **

RECIFE

Adeus cabelo
cacheado Tardes
de chão molhado
Maresia
e Capibaribe.

Nunca mais Porque


alegria: fim Parque 13 de
maio: fim Volta de Dois
Irmãos: fim
Aurora: pôr-de-sol
Casa Forte: fraca
e amarela
Sítio sitiado Para
o mundo Pelo
mundo livre:
FIM.

(In Estações em segredo, p. 21)

31
9
MÊS RAPPORTS AVEC RIMBAUD

Também me exilei
Numa Harrar mas doméstica
De cassarolas e
(mais uma vez a casa
com os poemas abertos
santuários como cruzes contra vampiros,
contra panelas e cobertores imundos.
Sugada por estas correntes
da nutrição e do eterno retorno
de panelas e trouxas de roupa
sujas/limpas, limpas/sujas,
estes pares de oposição
elementares e viscosos
dentro desta ordem inexorável
em que nascem e morrem
mães e avós
mais ou menos anedóticas
aí onde uma mulher opera
com duas simples mãos
o salto natura/cultura)
sujeiras.
Numa África de comércios,
e centavos e matrimônio.

(In Estações em segredo, p. 27)

320
Alberto da Cunha Melo
(1942-2007)* **

CANTO DOS EMIGRANTES

Com seus pássaros


ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.

De uma quadra a outra


do tempo,
de uma praia a outra
do Atlântico,
de uma serra a outra
das cordilheiras,
todos emigram.

Para o corpo de Berenice


ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico,
para dentro de si
ou para todos, para sempre
todos emigram.

(Do livro Noticiário, 1979. In Os cem melhores poetas


brasileiros do século, 2001, p. 195)

32
1
DUAL
Epígrafe um

“(...)portanto meus irmãos, temos uma obrigação,


que é a de não viver de acordo com a nossa
natureza humana”. (Romanos, 8:12).

Epígrafe dois

“O homem
que quisesse viver em sabedoria e paz deveria
adaptar-se à augusta ordem dos fenômenos da
natureza e viver na natureza com a natureza”.
(Lao-Tsé)

MORTO PELA SEGURANÇA

a hemorragia interna,
que enverniza por dentro,
inferniza por dentro
a palavra estado;
e pela insegurança
de comprar na esquina,
a estas horas da noite,
uma ampola de coramina;

MORTO POR ESPARTA

enquanto os negócios prosperam


e a terra enche-se de estranhos;
e por Atenas
a cometer o engano
de cantar tão longe
de seus arsenais;

MORTO PELO OCIDENTE

onde pôneis e jatos


322 só
nos tomos da lei
conseguem chegar juntos
ao Banco Mundial;
e, pelo Oriente,
onde os bancos já chegaram;

MORTO PELO MUITO

o mais, o mosto,
o gás de uma montanha
de laranjas apodrecidas;
e pelo pouco,
o bago disputado
em soluços nos calabouços;

MORTO PELA PAZ

um branca de merda com


seus sete canhões
apontando meus laranjais;
e pela guerra que,
para destruir-nos,
não precisa estourar mais;

MORTO PELA TRISTEZA

esse modo de as margaridas


me pedirem socorro;
e pela alegria, tão
fora-da-lei:
camponesa na sala
do General-Comandante;

MORTO PELO TEMPORAL

32
3
ou seja: o “se Deus quiser”,
o “volto amanhã”,
o “cuide dos meninos”;
e pelo eterno,
que não data as cartas,
atravessa ileso as eleições de novembro
e não toma conhaques contra o inverno;

MORTO PELA UNIDADE

que reúne
todos os alvos em um céu
e dá precisão ao meu tiro;
e pela multiplicidade,
que me parte em pedaços
fáceis de controlar
pelos deuses descalços;

MORTO PELO ESPÍRITO

mero gás que retorna


à garrafa de coca
e procura explodi-la;
e, pela matéria,
tão órfã de síntese
quanto as moças de vinte
depilando seus pêlos
nos subúrbios da ordem;

MORTO PELO RACIONAL

sob as medalhas dos técnicos


e as migalhas do povo;
e pelo intuitivo,

324
o imediato
e ingente sentir
não digital;

MORTO PELO SONHO

essa floresta afogada


nas folhas caídas;
e pela realidade,
onde os enfermos estouram
os tumores dos visitantes;

MORTO PELO NECESSÁRIO

a condenação à luz
que enlouquece uma estrela;
e pelo acaso,
o tropeçar nos alarmes
e o esmagar as rãs
que circundam o cárcere;

MORTO PELO APÓSTOLO SÃO PAULO

a esmurrar-se no banho
para não masturbar-se;
e por Zorba, cuja dança adensava
a quantidade de sangue
nas extremidades dos servos;

MORTO PELO MAL

algo parecido
com carne liberada
ou Santa Tereza anunciando

32
5
maiôs Poésie na TV;
e, pelo bem,
algo mais metafísico,
mais Jesus de prata
escondido na blusa.

MORTO PELO LAR

que desaba todo dia


sem ninguém escutar;
e pelo bar,
onde o heroísmo se condensa
num laudo rotineiro
da polícia, ao passar;

MORTO PELA FÊMEA

que me pede um jantar


e uma boa lembrança
e talvez peça muito;
e, pela outra
que me pede a eternidade
e talvez peça nada;

MORTO PELA HONRA

quando as fezes dos pobres


ameaçam o fulgor
do brasão tumular;
e pela desonra
dos que mudam tarde,
quando os linchadores
ávidos não sabem
por onde começar;

326
MORTO PELA SOBRIEDADE

este assistir a seco


à própria extinção; e
pela embriaguez, este
banhar-se à noite em
doce ureia
ou receber sob o lençol
o coice de medeia;

MORTO PELA FALA

escada que sai da boca


e deixa subir os demônios;
e pelo silêncio,
inseticida queimando
no fundo do quarto
para afastar um remorso;

MORTO PELA NORMA

abutre que aqueço


à temperatura do corpo;
e pelo instinto,
bomba de efeito retardado
sob o monte antigo
de brinquedos de barro;

MORTO PELA VIRTUDE

essa tanga de velha


e desgastada platina;
e pelo pecado,
a notícia da única

32
7
e inexplicável
humildade de Deus;

MORTO PELO ÉTICO

mais Ártico pelos ursos


mais Antárticos
e pelo estético dos cursos
majestáticos;

MORTO PELOS MORTOS.

(In Carne de terceira, 1996, p. 221-233. Disponível em: Alberto da


Cunha Melo – páginas virtuais do poeta: <http://www.plataforma.
paraapoesia.nom.br/albertoduall.htm>)

328
Ângelo Monteiro
(1942)

OS PONTOS CARDEAIS
Não conheço os pontos cardeais
nasci sem os pontos cardeais
vivo sem os pontos cardeais
e morro sem os pontos cardeais.

Meu astrolábio é o ser em agonia


e meu porto é além de todo cais.

(In As Armadilhas da luz, 1992. Disponível em: Ângelo Monteiro, en-


dereço virtual do poeta: <http://www.icones.com.br/angelo>)

32
9
O VICE DEUS

Pisando a terra com garbo


Despontei
Quando já tinham desabado
Todos os tronos e altares
No coração dos homens.
E as últimas manchas do grande crepúsculo
Se desbotavam sobre os horizontes
Impermeáveis a todas as florações da luz.
Mesmo assim pisei com garbo
– Apesar de banhado pela luz escura da ironia –
O tapete das luas mortas,
Algumas vezes detendo-me diante das piras apagadas
No altar de todos os deuses
Dantes encravado no coração dos homens.
Frustrado padre de um culto sem adeptos
Ainda me vi sagrado Papa e Imperador
De um mundo por sonhar.
Mas apesar da desproporção de tantos sonhos
Só consegui ser poeta. Porque só com a poesia
É possível iludir ou contrariar a realidade.
E, como não pude escapar do destino de poeta,
Tentei ser Vice Deus.
Pois nasci num país em que a maioria
Dos homens públicos e das mulheres públicas
Aspiram sempre, uns mais, outros menos,
Se tornar vices de alguma coisa.
De vice-presidente a vice-lixeiro
O posto de vice nunca perdeu a serventia
Por restar a possibilidade
Perfeitamente em aberto
De alcançar-se a vaga do titular.
Como ser vice é ser pela metade

330
Todos se julgam felizes
Porque a metade lhes exige menos que o todo.
Mas por não querer ser metade de nada
Resolvi me passar por Vice Deus.
Sim, por Vice Deus. De uma vez que ninguém
[até agora
Alcançou este título no mundo.
E como Deus não dorme, segundo o adágio,
Contento-me em ser apenas o seu vice
Embora saiba que não possa haver alguém
Que venha a atingir, em qualquer tempo,
[o seu poder.
Não importa! É uma forma que encontrei
De estar mais perto Dele.
Como sou inteiramente Vice Deus
Pelo menos não o serei pela metade.
E já que Deus não tem metade
Dou graças a Ele, que não é pela metade,
Por todos os séculos dos séculos,
Amém.

(In Os olhos da vigília, 2001, p. 85)

33
1
Sérgio Bernardo
(1942)* **

BERNBURG, AMARGA LEMBRANÇA


Em memória da guerrilheira Olga Benário

Ah, o La Caruña
por que carregaste por mares de ferro
e ancoradouros anêmicos
a ambição agrária?

E tu rio Elba
quantas vezes fizeste alvo o sonho guerrilheiro?
Por que não refletiste os olhos de seda escarlate
no homem do terceiro mundo?

América, América Latina


lembra-te do cristo das cordilheiras
dividindo a dor e o coração em Cachabamba
Por isso o rio Yuro ainda enxágua os canteiros
[púrpuros
de Olga.

Foi por tu, mais uma vez, América, América Latina


que o maçarico do carrasco Irmfried
marcou os céus de Bernburg
com o lamento da liberdade.

Olinda, abril de 1988

332
APIPUCOS, CASA 77

Talvez existam olhos


que ainda guardam
os passeios matinais
entre perfumes
de corais
e imponentes bastões-do-imperador

Do primeiro andar
o ouro refletido
nas vidraças
pelos cachos do flamboyant

E quem foi girassol


de quase um século
não viu seu floral
lembrando
grandes desertos

Assim,
foi a floricultura
de Dolores Salgado.

Recife, 9 de abril de 1980

33
3
José Carlos Targino
(1943)**

UMA VOZ, DUAS VOZES

Quando cessou a campanha, ela disse:


“Sou imaginária no tempo
que aspira à claridade, e sou céu
acima dos celeiros, iluminada.”
Reunia-se às andorinhas, em grutas,
esvoaçante sob a estiagem.
E nenhum repouso era igual àquele,
secreto e inelutável no reino da graça.
Tinha início o conselho das aves migradoras:
fim da discórdia, primícias do semblante sem elmo
cujo dono armara no ar sete raposas enfurecidas.
Mas alguma recompensa chegou tardia,
e eu digo que vi apenas sombras à minha frente
(consumadas numa galeria
enquanto um som reboa, e as crianças saem
na vaga promissão da luz).
Agora donzelas espreitam meus ofícios,
agraciadas na réstia
que irrompe pela estrada abandonada.
Guia da água inundadora, ela disse:
“Sou alfa na folhagem,
o ventre voltando para a rota dos planetas.
Também sou ameixa do amado
e serva do vento, maravilha da graça compartilhada.”

334
Desço à hora da floração do mar,
sem ar, pelos sagrados domínios da madrugada.
Sempre andei errante e queixoso.
na escuridão, pouso das gralhas salteadoras
e do orvalho cantante.
E emudeceria se visse minha amada
no verde patamar,
como menina flamante coroada pelas nuvens,
como outrora
na sinagoga do rio, antigo domínio do eterno.
Mas hoje ando feliz, o dorso domado.
Então ela disse: “Sou imaginária agora
antes que a terra estremeça e morra,
ou eu mesma possa morrer na visão do amado”.

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 68-69)

33
5
A LUZ IMÓVEL

Madre, não é assim que justificamos os mortos.


Percorri duas vezes aquele lugar:
eles estavam sobre a montanha,
um bando enorme, e recuei às pressas.
Venha, venham, disseram as crianças,
e nenhuma resposta irrompeu em seu mundo.

Madre, um espaço infinito


há de anular teu coração, o teu também.
Meu corpo então cederá silenciosamente,
e não sob o clamor de carvões
e pedras, como queria certo mestre.
Nem toda morte é igual.

(Lírica. Poemas de José Carlos Targino, 1968, p. 19)

336
Marcus Accioly
(1943)* **

A TERRA

O SERTÃO

A – O Sertão principia
Depois que acaba a terra,
Ou, sendo mais exato,
Onde começa a pedra.

E segue o Sertão-Alto:
Pajeú, Moxotó,
Onde termina o mundo
E então começa o sol.

Ou desce o Sertão-Baixo
Do rio São Francisco,
Que ostenta uma paisagem
De pássaros e bichos.

Embora o tempo durma


Os sonos da estiagem,
Nas curtas invernadas
O verde abre a folhagem.

33
7
E quando as águas descem
Das cabeceiras curvas,
A pedra ressuscita
Lavrada pelas chuvas.

Poema integrante da série A pedra lavrada – Canto I.

(In Nordestinados, 1978, p.23. Disponível em: Panorama Poesia e


Crônica. Itaú Cultural: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexter-
nas/enciclopedia/poesia/index.cfm?fuse
action=Detalhe&CD_Verbete=584&CFID=
2735827&CFTOKEN=69471385>)

NOTA: Poema composto de 6 partes: O Sertão, A Caatinga, O Agreste, A Mata-Seca,


A Mata-Úmida e O Litoral, todas elas compostas de 5 quadras

338
TREINO DE SOMBRA

12

Há muito o que adorar (primeiro o fogo


que é um redondo deus vermelho) e após
os astros (deuses-luz que abrem um olho O
de dia e à noite acendem olhos-sóis) deus
há que adorar o deus chamado fôlego sem
que entra e sai das narinas em lençóis Deus
de vento (onde o deus-água e o deus-terra)
deuses que são sinais de Deus (América)

ó deuses-elementos (deuses fortes


como o trovão que nasce do relâmpago)
deuses das vidas (sim) deuses das mortes
(deuses dos animais e aves do campo)
deuses de azares (não) deuses das sortes
(o Pacífico-deus ou o deus-Atlântico
tinha que nome quando trouxe a nave
onde o deus-branco contra o deus-selvagem?)

é deus um rio (deus é jacaré)


deus é montanha (cada pedra é um deus)
deus (ó pantiteísmo) deus (ó fé)
é sombra sob sombras (sob véus)
sob aparências (deus às vezes é
o Deus Desconhecido que há nos Céus)
é Deus o tempo dentro dos espaços
(deus é pai na cabeça e mãe nos braços)

deus é onça ou jaguar (é deus a anta


ou tapir) deus é peixe e deus é pássaro

33
9
(deus é o homem que almoça e depois janta
o próprio homem) deus é o menos fraco
(deus é a semente de onde vem a planta
e a planta de onde vem o doce bago
e o bago de onde vem outra semente)
deus é o que vem atrás e vem na frente

13

ó Verdadeiro Deus (ó Deus dos Homens)


ó Deus das Solidões Intermináveis
(Deus das Grandes Farturas) Deus das Fomes O
(ó Deus dos Alimárias) Deus das Árvores Deus-
(ó Deus de Um Só e Deus de Vários Nomes) Vivo
Deus das Palavras Duras e Suaves
(ó Deus dos Outros Povos e dos Meus)
Deus Pai e Filho e Espírito de Deus

(levanto a minha fé à Tua Porta


Batida no meu rosto) Deus de Tudo
(eu sou um cego e Tua Luz Conforta
a minha treva) sou também um mudo
e Tua Voz é todo Som que importa
mas já não posso Ouvi-la que estou surdo
(ó Deus dos meus Silêncios) Deus das Línguas
(Deus dos Sonos Rasgados por Vigílias)

340
feito Caim eu fui um lavrador
por isso sei dos frutos que ofereço
com minhas mãos feridas (fui pastor
como Abel e por isso Te Mereço
nesta ovelha onde sofro a mesma dor
do sacrifício) busco o Teu Começo
onde o meu fim (meu meio) onde o meu pó
fechado em saco e dado à boca um nó

(ó Deus das Rodas) Deus dos Fogos Vivos


(Deus das Flechas e Lanças) Deus das Caças
e Pescas (Deus das Rochas) Deus dos Livros
Escritos pelos Tempos (Deus das Raças
do Mundo) Deus dos Livres e Cativos
(ó Deus das Alegrias e Desgraças)
Deus dos deuses (Jehovah) Senhor Meu Deus
que Estás na Terra como Estás nos Céus.

(As interrupções, X, do livro Latinomérica)

34
1
Orismar Rodrigues
(1943-2007)**

APELO
Para Maria Teresa da Costa Lima

Ressuscita-me ainda
há tempo. Salva-me
do calvário que o
tempo
condenou-me a viver.

O sol trazido nos olhos


iluminando o caminho
de cercas verdes,
está sepultado no lago.
Negras serpentes
aprisionam luas e estrelas
que fugiram do céu
em solitários raios de luz.

Ressuscita-me
enquanto guardo
aquele sonho antigo
e essa clara manhã
que o vento deixou
depois de devastar-me a casa.

342
Ressuscita-me, pois,
enquanto vela
ainda arde no castiçal de prata
e divido o leito
com velhos fantasmas.

34
3
OUTONO

Barcos no Capibaribe,
sol branco num céu cinzento.
Os pescadores lançam as redes.
Os peixes que arrecadarem
iluminarão suas mesas.

Ao longo do Cais José Estelita


arremesso ao Capibaribe
meu olhar descrente e carente.
Não recolho peixes.
À mesa sento-me sozinho.

Bebo a angústia da solidão


e deslizo em águas turvas
dentro de um carro confortável.

344
Cloves Marques
(1944)*

PONTE EM HAICAI

Sombra pelo chão.


Na calçada, espera os pés
dos que vêm e vão.

Ramalhete à ponte.
Foram tantas travessias,
Que não há quem conte.

Na ponte vazia,
vai seguindo a solidão
de noite e de dia.

34
5
CRUZ EM HAICAI

As nuvens ao vento
seguem escapando à cruz
com muito talento.

Na tarde nublada,
um prédio crucificado
por não fazer nada.

Três cruzes em vão.


Evidente desafio:
onde está o ladrão?

346
Domingos Alexandre
(1944)* **

BRUXELAS

A Esman Dias

Escurecia e o dia era tão frio


que cada rua era um desvão sombrio
e nossos passos pelo calçamento
num compasso de mudo desalento
soavam como fuga para o Eterno
ante o cerco sem fim daquele inverno.
As pessoas envoltas em seus mantos
passavam numa profusão de espantos
perdendo-se, de vez, por trás dos muros
em busca de lugares mais seguros
e o céu baixava com indiferença
a nublada carranca. A noite imensa
sem coorte de estrelas e sem lua
caía bruscamente sobre a rua.
E eu seguia sem rumo e sem saída
na noite que inundava minha vida.

Sob os arcos de um velho monumento


gemia um vagabundo sonolento
e o vento uivando para todo lado
passava como um lobo esfomeado.
Naquela noite minha solidão
se arrastava ao meu lado como um cão

34
7
que embora exposto à dor e ao abandono
se recusava a abandonar o dono.
E eu, desterrado e, ali, vagando a esmo,
carregando esse espectro de mim mesmo,
caminhava sob a garoa fria
que doía nos ossos e feria
com as pontas dos dedos o meu rosto
aumentando-me a chaga do desgosto
numa Bruxelas para sempre hostil,
a centenas de léguas do Brasil.

Há um momento em que, longe de casa,


o homem pensa em tudo que lhe abrasa
o coração, repensa toda a vida
e vê como cresceu sua ferida,
como tudo fugiu e quase nada
lhe resta do que amealhou na estrada,
vê como até o amor naquela hora
é só lembrança do que foi, outrora,
o verde imaculado da esperança;
é poeira dos passos de uma dança,
que há muito se acabou e no salão
deixou apenas ecos da canção.
Percebe, então, que em cima de tudo isso
a noite tomba no auge do seu viço
lançando um gosto amargo de derrota
nessa vida que aos poucos se desbota.
Mas não pode fugir: o tempo é escasso
(a morte nos espreita a cada passo)
e essa mesma Bruxelas que o assedia
é toda sua vida fugidia,
tudo que ele viveu ou não viveu
e para sempre, agora, se perdeu.
Vê que a dor é sem fim e que no mundo

348
nos envolve segundo por segundo.
Mesmo assim ele arrosta a chuva fria
de uma cidade estúpida e sombria
desemborca seu barco, enfuna as velas
e se perde na noite de Bruxelas.

Poema inédito.

(Disponível em: Plataforma para a poesia: <http://


www.plataforma.paraapoesia.nom.br/domingos.htm>)

34
9
TARDE EM ITAMARACÁ

As águas estão quietas


no mar em frente
e as aves repousadas
descrevem largos voos
nos limites dos ventos.
Aqui em terra,
desajeitadamente pai,
um homem executa para os filhos
os mesmos gestos
que um longínquo antepassado,
diante da caverna
legou aos seus netos vindouros.
Logo mais o sol,
como um bólido anônimo,
se lançará sobre as ondas
em direção a China,
onde um outro pai desajeitado
ensaiará noutra praia
os mesmos gestos para os filhos,
enquanto a vida passa
e a brisa marinha apaga
nossas pegadas nas areias.

(In A ordem no reino do caos, 1981)

350
Everardo Norões
(1944)*

A MÚSICA...

Sem pedir licença,


insinua-se pelos cômodos,
invade os espelhos,
derrama suas jarras de luz.

Vejo-a
pelos canteiros da casa,
na nitidez dos bordados
de minha mãe,
no brilhar de tua íris
quando os deuses descem
para beber a insensatez
das águas.

Depois,
transforma-se em seios,
goiabas,
espigas.
E nua, adormece,
enquanto a lua brinca
entre meus dedos
e as lagartixas passeiam
pelas pedras do pátio...

35
1
A CONSTRUÇÃO

Por detrás da poeira, a solidão.


E os andaimes que descem na memória:
um espaço desnudo, sem história.
E as sombras do Mestre pelo chão.

O ferrolho a ranger, a porta aberta;


as pequenas lições de geometria.
Os passos das escadas. Sobre a pia,
a mão lavando o pó da descoberta.

Os planos que se cruzam. O batente


do portão a se abrir ao Oriente:
o fantasma de mim dentro da sala.

O reboco caiado dos abismos.


Sobre as plantas, segredos e algarismos.
E o som da tua voz na minha fala.

352
Jaci Bezerra
(1944)

NO RASTRO DA VERDADE INICIADA


A Jairo Bezerra

O meu país é a lembrança


de minha infância arruinada:
arde no tempo e me alcança,
dói no meu peito, renovada.
A minha voz não se exalta,
nem faz denúncias disfarçadas:
escorre, mansa, sobre as pautas
de uma canção desesperada.
O meu país é uma casa
só por meus sonhos habitada:
seus alicerces são as asas
da solidão atormentada.
Ao escrever, abro uma porta
pelo meu sonho arquitetada:
madeira de uma época morta
de angústia e sonho tatuada.
A minha voz é o murmúrio
de uma paixão transfigurada:
soluça e morre entre os antúrios
de uma varanda desolada.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 162)

35
3
UM DIA, CAPITÃO, CONTAREI ESSA HISTÓRIA

Um dia, Capitão, contarei essa história


a quem, distante ou perto, afagar minha mão.
E sempre nova será, nos cofres da memória,
porque uma certeza terei, e terás tu, então:
todos os portos podem ser saqueados,
só não pode ser saqueado o porto do coração.

Em que livro e em que língua será ela escrita?


Hoje, os que são mais céticos, de nós indagarão.
E o que responderei, se, além das coisas ditas,
uma certeza terás, e terei eu, então:
todos os portos podem ser saqueados,
só não pode ser saqueado o porto do coração.

Onde andarei? Onde andarás? Assim, nessa incerteza,


os que bem não nos conhecem nos interrogarão.
E o vento, só o vento, pelas praias acesas
soprará, como nós, as letras de um refrão:
todos os portos podem ser saqueados,
só não pode ser saqueado o porto do coração.

Um dia não serei mais o sonho que hoje sonho,


serei só um poema e uma impossível canção,
mas tudo quanto for de poesia ou sonho
continuará repetindo, meu velho Capitão:
todos os portos podem ser saqueados,
só não pode ser saqueado o porto do coração.

(In Poemas de Jaci Bezerra, p. 37-38)

354
Lourdes Sarmento
(1944)* **

CANTO DE CRISTAIS

Onde as presas do tempo


rasgam meus pés
tingindo o chão
aporto no meu canto.

A palavra é o fogo
é o cio da vida
é o vômito da minha dor
submersa
é a memória do canto
que sopra brisa
e mandalas.

Se alguém perguntar
meu destino
entreguem meu canto

quem o entender
agoniza como eu.

35
5
OBSERVAÇÃO

O retrato move-se
na sala
observa a paisagem
sob a lua azul
observa o azul
consumindo as hortênsias
dos jardins

O retrato move-se
na moldura de prata
observa as serpentes
e os demônios
observa a filha
despertando o azul do poema

O retrato imóvel
observa o pouso das estrelas
adormece nas mãos azuis
do Infinito

356
Marcelo Mário de Melo
(1944)* **

PÓ & EMA

PÓ & EMA
A Wilson Araujo de Souza – WAS

Folha seca.
Aramado.
Só esquema.

Siso só
sem pó
nem ema
de ré
amarrado
a-amado
a cisão no
ensejo
travo
no desejo.

Pó e Ema:
porejando
sonho
marejando
saga.

Pó e Ema:
emanando luz
poemando
a vida.

35
7
MACROLOVE

Não quero ser para você


apenas
arquivo sem nome
subdiretório
backup
ou resto na lixeira.

Nem pretendo só
inserir o meu disquete
no seu drive.

Desejo ser
janela
ajuda
documento mestre
atalho
ícone principal
entre os seus programas favoritos.

Espero que você


me salve no seu disco rígido
me feche sempre com cuidado
me proteja com anti-vírus
e nos garanta com upgrades.

Quero que você me deixe


entrar nos seus arquivos
visualizar as suas impressões
me recortar
me colar
me editar
e me configurar
na sua tela inteira.

358
Mantenha sempre aberta
a sua caixa de entrada
que eu saberei clicar com jeito
o seu mouse
e penetrar nos seus periféricos
ajustando
a minha barra de ferramentas
aos contornos
da sua área de trabalho.

Por fim o apelo passional


de quem deseja com você
total integração em rede:
DELEITE-ME OU DELETE-ME!

35
9
Marcos Cordeiro
(1944)* **

A CABRA DO MOXOTÓ

A cabra do Moxotó
quando berra é ela só.
Que pede a cabra no berro,
é chuva, fartura ou é sol?
Não será, talvez, o verde
que o sol quente abocanhou?
ou ainda a esperança
que a seca avara matou?

Será seu berro o lamento que


toda mãe pronuncia quando
pressente, de véspera, a seca
que se anuncia,
tocando fogo nas ramas
com sua mão assassina?
Então a cabra lamenta
ruminando a sua sina.

Vagando pelos lajedos


na seca terra do sol,
a cabra do Moxotó é
forte como ela só.
Reinando na Borborema
de branco e luto se veste,
sua armadura de couro
é dura como o Nordeste.

360
CHORE BAHIA MÍSERA!

Chore Bahia mísera


pelo sangue de José Inácio!

Clame Bahia mísera


pelo coração de Miguel Joaquim!

Lamente Bahia mísera


pelo corpo de Domingos José!

Padeça Bahia mísera


pela dor de José Luiz!

Liberte Bahia mísera


a nossa terra ocupada.
À tua sorte mesquinha
tens ela acorrentada.

Cante Bahia mísera


a morte altiva de leões,
arcabuzados em teu solo
de torpes traições.

Não chores Pernambuco


a dor de tuas memórias.
Tua saga valorosa
dos teus filhos é História!

Não lamentes Pernambuco


teu caráter de Nação!

Na terra da liberdade!
teu sangue é redenção!

36
1
Cante Pernambuco bravo
teu sangue, teu coração!
Cante Pernambuco altivo
teu nome – Libertação!

362
Sebastião Vila Nova
(1944)

CLAVE OCULTA

Entre os sangues da guitarra


e entre as copas, meio-dia,
sete torres desabaram,
sete demônios sorriam

Os cílios roçaram nuvens


de adiadas profecias
e as tardes dos corredores
guardaram noves tardios.

Sete torres desabaram,


sete demônios sorriam.

Abriu-se a porta do mundo


à imperfeita geometria
do exercício dos disfarces,
da ponderação dos dias.

A tarde, nos corredores,


chegaram nomes tardios,
entre torres desabadas,
quando os demônios sorriam.

Entre o sangue incendiado das guitarras


e intervalos de sol das agonias.
Recife, abril de 1972
(In Teoria completa dos dias e das noites, 1979, p. 26)

36
3
ANOTAÇÕES A OESTE DE ALDEBARÃ

Meia-noite e meia a lua


transborda alva das ameias.
Sobre a mesa o alvor do linho
se transborda em lua cheia

Lua cheia, lua cheia,


como demora a manhã!

Em Alvavida alva uma estrela:


a alvorada Aldeberã.
Em Alvador dourado lume
esquecido, ó via vã!

Meu Deus, que noite, que mundo!


como demora a manhã...

Recife, março de 1970

364
Almir Castro Barros
(1945)* **

ESCORADOS NA TARDE

Rebuscavam os dias
Onde fosse o vento
Ou ensaiado jardim e extinto ninho
No ombro fraturado de esquecida estátua.

Alguns
Lembravam a solidão e sua brasa
Ou quando fartos de tudo
Se aventuravam
Em caminho de sustos sobre cordilheiras.

Do mais esquivo e mudo isto:


– Um til na voz
Ainda penso em vê-la
Numa tarde já em cinzas
Pouco feliz e sozinha –.

Poema do livro inédito Um beijo para crocodilos.

36
5
CINZAS

Revolver cinza é não vexar


O que se quer além da lágrima
Ouvir de coração magoado
Por sulcos herdados de selins em voo

Então refaço o esmaecido


Alegre ou triste, passo a passo:

Em inclemente sol
Desperdiçando peregrinos;

Ou ouro ressurgido
De baça lâmpada sobre invernos
Para deixar salgueiros como faunos
Em festa.

366
Ivanildo Vila Nova
(1945)**

MOTE EM DECASSÍLABO

Só com outro Zumbi O Quilombola


pode o negro alcançar a liberdade

Rebouças e José do Patrocínio


Tobias Barreto, Cruz e Souza
Todos eles deixaram antes da lousa
Versos, prosas, discursos e tirocínio
Mas nenhum pelejou contra o domínio
Que o branco implantou sem piedade
Somente o Zumbi serrou a grade
Que prendia os cativos de Angola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

O negro Zumbi no seu caminho


Enfrentou quase trinta expedições
Brancos, índios mulatos com canhões
Perseguindo essa águia no seu ninho
Ferro em brasa, chibata, pelourinho
Já não era cruel realidade
No quilombo existia a irmandade
Sem patrão, capataz e nem argola
Só com outro zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

36
7
Palmares permaneceu indene
Em Osenga e Guaraiguaçu
Jundía, Subupira e Carapu
Tabocas, Macacos e Aqualtene
Andálaquituche, Acotirene
Cãfúxi e Curiva ninguém há de
Esquecer tanta força de vontade
De uma raça que escrava ainda rola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

Limoeiro, Magano, Salabanga


Canga Zumba, Muissa e Acaiuba
Tapira, Abate, Zambi, Satuba
Amaro, Barriga e Danbrabanga
Canhoto, Maioio, Camoanga
Escreveram heroísmo de verdade
Contra o saque, ambição, impunidade
Mortecínio, lesão, roubo e degola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

Pela grande coragem do Zumbi


Resistiu o quilombo muitos anos
Derrotando Holandeses, Lusitanos
E os senhores de engenhos conta
Jorge Velho chegou do Piauí
Com homens e armas em quantidade
E os negros em tal disparidade
Sucumbiram aos disparos da pistola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

368
Mesmo após o decreto da Princesa
Há algemas correntes e grilhões
As mucamas, senzalas e porões
E o racismo ofendendo a natureza
Entre brancos e negros com certeza
Nunca houve nem há essa igualdade
Preconceitos ainda é realidade
No emprego, na rua, na escola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

Alguém acha que o negro é sem valor


Não merece gozar a vida branca
Ser artista, casar com mulher branca
Ter emprego, ter lar, paz e amor
Deve sempre ter cargo inferior
Ser gari ou chofer de autoridade
Pegar frete e biscate na cidade
Engraxar, bater bombo e jogar bola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

Ninguém deve discriminar a fé O


regime, o costume nem a raça
Moçambique, Macau, Rio e Mombaça
Nova Deli, Moscou, Roma e Guiné
São Paulo, Chicago e Daomé
Tudo é parte da nossa humanidade
Carne humana é da mesma qualidade
Africana, Francesa e Espanhola
Só com outro Zumbi o Quilombola
Pode o negro alcançar a liberdade

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 150-152)

36
9
Eu vejo tanta beleza
Num pássaro tão pequenino
Vai ao mato catar talo
Abre o bico canto um hino
Penera as asas e voa
Deus é quem marca o destino

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 153)

370
Jairo Lima
(1945)**

as águas de tua hora

clara senhora
atenta aos cristais que eriçam espumas
no torso oblíquo das marés encarnadas em lumbre

clara senhora

consorciados em sua rosa os ventos encenam


[clamarias
geométricos nadas

senhora clara

que das águas a faca aguda alumiada espia da


[amurada e circunda
os ferros da ampulheta crava nos temas que ainda
[não são palavras

senhora clara

ali onde as lobas bebem o rio e os ciganos afundam


[os seus cantis
ali é o longe e, depois dali, a planície dormente
[das dálias
ali a água arqueja o dorso e salta sobre telhados em
[febre que colhem,

37
1
queimam e explodem as águas
névoas se fazem nuvens, que se fazem teto, que se
[fazem água

clara senhora os teus olhos a fria água navalha

lendas de água vivas afogam tua cintura – vaga


[após vaga –

(In Livro das árias e das horas & Pequeno livro das nuvens, 2000, p. 46)

372
o porto da tua hora

em teu vértice se arrima mar de espuma rija


águas íntimas te espreitam do abismo – Olho mira –
peles de alga doce mansa desbastam a arquitetura
[do pó

a tarde, viva em suas brasas, deita tintas sobre a lã de


[planícies e colinas
já pode ser manhã
ensina a Luz às pedras ressentidas – o Calor abriga o
[Sono da loba
místicas mágicas tracejam a Dor – ainda hoje – a
[hora aflita

desejo convoca o Pássaro ao pátio das Nuvens –


vindo tão-somente de ti a Voz, não mais querer,
[somente Luna iminente,
canta em Timbales Sinos Corais Pandeiros plenas
[notas verdes – Agonia

diz ao Outro que se cale. A tua cor se esvai


[em sangue.
o porto da tua nave já não mais é ontem.
É luz. É dia.
Terra sem sombras. A Loba, exânime, fecha os olhos
[e faz de suas trevas
elegia.
Pandeiros, timbales, luzeiros, te consagram o Hoje.
Mar de cinzas. Maré morta. Maresia.

(In Livro das árias e das horas &


Pequeno livro das nuvens, 2000, p. 62)

37
3
José Rodrigues de Paiva
(1945)

JARDINS SUSPENSOS

Caíram sobre o mar


os meus jardins suspensos,
e extinguiu-se a canção
que era a voz do silêncio.

A canção de ouro e névoa,


fumos brancos de incenso,
invisíveis pilares
desses jardins suspensos.

Mas no mar a canção


sobre as ondas vogou
e às vozes do mar
suas vozes juntou.

Do silêncio das águas


construiu-se a linguagem
que elabora o poema
em líquidas imagens.

E das algas, das ondas,


das pedras, dos corais,
floresceram canções
que não se ouviram mais.

374
Canções de ouro e de névoa,
de águas passageiras,
como flores levadas
por correntes ligeiras.

Flores dos meus jardins


suspensos da canção,
que brotam do silêncio,
do mar, da solidão.

Emergiram das águas


os meus jardins suspensos,
renasceu a canção
das vozes do silêncio.

Música de ouro e névoa,


fumos brancos de incenso,
flores que são pilares
desses jardins suspensos.

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 74-75)

37
5
CANÇÃO

Violam os violões
a noite inviolável
ou vibram os violinos
à diurna luz vibrátil?

Quem sabe o que se passa


enquanto o poema nasce?
quem sabe se é o dia
ou a noite que bate
ao coração do poeta
ou à noite que o traduz
em versos claro-escuros
ou à nitidez da Luz?

Quem sabe o que se passa


ao florescer do poema,
se há risos ou se há prantos,
se há a angústia do tema,
da linguagem, da forma,
da vida que há de ter,
quem sabe o que se passa
para o poema nascer?

Quem sabe o que acontece


no interior do fruto
enquanto amadurece
minuto após minuto
até se abrir à luz
como acesa romã
e se entregar ao sol
e se fazer manhã?

376
Violam os violões
a noite inviolável
e vibram os violinos
à diurna luz vibrátil...

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 72-73)

37
7
Paulo Caldas
(1945)* **

CÍRCULO AMOROSO

Vou estar em ti
E nos teus ouvidos, minha voz
Entoará todas as canções.
Ao teu sentimento, meus versos
Comporão todos os poemas, E
sentirás meu beijo no desejo
De todos os casais.

Os meus olhos te verão pelos de Vênus


Presentes no céu de tuas noites
E cada gota de neblina a te molhar
Serão meus dedos riscando tua pele,
Meus lábios tocando a tua face

Cada raio de sol dessas manhãs


Te dará o calor do meu abraço
E quando assim pouco jeitoso
O vento enroscar os teus cabelos
Ou afagar o teu rosto
Serei eu quem estará contigo

Vou estar em ti
E transpirando a ternura dos risos infantis
Vou te espreitar nas areias do litoral

378
Te acordar ao apito das embarcações
Umedecer teus pés na grama dos parques

Vou estar em ti
Na indiferença do estranho que passa em tua rua
No incômodo das lâmpadas acesas
Na indiscrição dos homens que te olham
No balanço da folhagem tropical
No pingar intermitente da neblina
Na corola das flores mais comuns
No horizonte do mar em tua frente
Nos becos, nos copos, nos bêbados, nos bares
Nas bordas das piscinas, nos ônibus, nas fichas,
Nos orelhões, nos soldados, nos muros, nos vídeos.
Nos alimentos, nos líquidos, no asfalto, nos livros,
Nos quintais, nos hospitais e nos velórios
Na mão das crianças, no voo dos morcegos,
No suor da tua fronte
Vou estar em ti

37
9
O SOL ALÉM DA MINHA RUA

O sol além da minha rua Espia


entre folhas escondido Conduz
com luz de olhos claros O amor
pelas sombras inibido

Ilumina inquieta incita


Se espalha pelo mundo refletido
Nave de voo incandescente
Nos leva ao céu de amor tingido

Quando noite envolto em mistérios


Tristonho sonha sonhos mal dormidos
Na agonia das horas, insone espera
Se entregar ao amor amanhecido

380
Vital Corrêa de Araújo
(1945)* **

OPERA APERTA (ALVO PUDICO ALVO)

Ágil mármor das águas turbulento sêmen conturba


e vasta onda elabora entre volutas de espuma
(que o curvo vento não esgota nem abandona).

Rotas túnicas cinzas indiciam os estandartes em fuga


e trilhas lançam nos castos rostos desesperados.

Dois azuis fundos ou servos do nácar oceano


veio de brisas e assombro vem a harmonia do corpo
em forma de mulher e música ao som trêmulo
dos búzios de setembro a alma redobra.

38
1
OPERA APERTA

(LICOR AO LUAR)

I
Nos luares que moram em teu olhar mergulho
das areias no meio-dia brusco procuro o suor
das vogais, os ossos do sim após e destinos
cruzados ou torres além de mim emoldurações
de muro, represas temporais pássaros
circunflexos amamentando o fim exótico das
últimas engrenagens de mim.

II
Licores de catástrofes bebes
no leito das últimas noites
entre náufragos semens o cais do gozo unges
com sais dissolutos e cálices sem culpa
próspera a retórica do intestino
à sombra de abutres escandes
sigilo de pedra para o pudico nome.

382
Wilson Araújo (Was)
(1945)*

O GÊNIO DA RAÇA CASTANHA

humildade
cuja dignidade
mítica
e épica
habita uma américa
ibérica,
homérica e...
bíblica, recebe a
dura mas bela
missão de ser
ouvidor da rua
do brasil real
contra o brasil
oficial
da rua do ouvidor.
eis o sebastianista,
monarquista
e, ao modo de arraes, socialista.

38
3
ENGENHO D‟UCHOA
o poema é um réptil
s.u.l.

dicção víbora
jiboia
no úmido
índice
do medo
e no semiárido da paranoia

dicção víbora
causa o primeiro
impacto
na ficção vida
ao emitir
a expressão
mais compacta
de veneno:
como DEUS
é bem servido!

ficção vida
em dicção
de obra
em dobra
de cobra
que vibra
em víbora
e pica
o cisne
de outrora
na aurora
da fonte

384
sob a ponte
d‟uchoa.
uchoa:
sujeito
na espreita
do objeto
poético
estica
a língua-
víbora
e envenena
a língua
que vigora.

engenho
d‟uchoa:
nicho-obra
em obra
de cobra
criada
na espreita
e escuta com cicuta
para por
no que for
expor
a voz lírica
da exaltação
ao (do)
poeta

uchoa leite
não é (leit)
motivo
para deleite:
poeta-escorpião

38
5
encalacrado
na espreita
do horóscopo
abre a tampa
(para o tempo)
sobre o nó
(cego?)
de víboras,
vibra
a lavra
o desassossego
no livro:
minha pátria
é minha língua
ofídica.

386
Gladstone Vieira Belo
(1946)* **

POSTAL ROMÂNTICO

Diante de estrelas
e nebulosas, excitada, Meliena
descumpre regras. Declama
Rimbaud, em voz suave,
manipula dados
e desbarata cartas,
se contorcendo,
espécie de inevitável trapaça.
Delírio tremendo
das vogais liberto,
contidos soluços,
gozo infinito.

38
7
LATITUDE URBANDA

Entre um casario e outro,


hirtos e sobrepostos sobrados,
espraia-se líquida
cartografia, o Recife.

Mistério e fermentação
nas águas fecundantes,
que circundam
tão límpido espaço,
aliciando a esperança
e os nautas.

Ígneas colunas
demarcam porto e abrigo,
limites de densas reverberações,
sutilíssimo bailado.

Legendas de muitos embates


fixados em imensas retinas,
que apreendem, num azul intenso,
essa fluida e envolvente
luz, em nuances diversas
e horizontais desdobramentos.

Transparente é a sua
arquitetura, que se ergue
entrelaçada pelas linhas
infinitas de esplêndido
crepúsculo, oceânica e
duradoura miragem.

388
DISCURSO SEMIÓTICO

O signo, somente
o signo, nada mais
do que o signo.
Ele e os seus aparatos.
O signo múltiplo,
mas inviolável.

Somente o signo,
lâmina cortante,
enquanto diálogo e soma,
que se incrustam
em manuscritos velhos,
forma lapidar de segredos,
estranhas cintilações,
que se multiplicam
nesse lento contato
com o papel, lento
e torturante.

Irremediável sonata
amplificada por movimentos
que sufocam o interior
da exausta paisagem,
uma erma campina,
descrita em romances e bulas,
pergaminhos e cantos de ninar.
Mágico signo,
que prefigura e comove,
evocando em pausas
longas, quando reponta
estridente.

38
9
Antonio de Campos
(1946)**

PARA NÓS UM OPERÁRIO NASCEU

Por mais divino o menino de Maria se guarde,


O seu desejo de tâmaras
É tão humano quanto as dores do parto
E da fome que ronda seu feminino querer.

Tempo de tâmaras, aquela época não era


E doutras frutas não tinha vontade sua boca.
Chamando José para mais perto de si,
Aos ouvidos segreda-lhe o coração.

Pela manhã saiu José aos campos de Belém


Acreditando, por milagre, achar a tâmara rebelde
Para colocar nos lábios de sua noiva.
Mas o Pai da criança doutra forma dispõe as safras.

Ao voltar da rua, abatido, após a peregrinação


Por entre terras e plantações, sítios distantes,
Tem a face iluminada como por mil candeeiros:
Com virgem do povo era nascido operário
[o filho de Deus.

(In Crítica da razão vivida e outros poemas, 1982, p. 19)

390
OUTRAS JURAS

Não as juras de amor,


as de não mais te ver.
Mas se alça maior o desejo
que razão pra assim não ser.

Um raio ao chão me pusesse como


árvore morta, adormecido. Que
chama brotasse de meu tronco, e os
frutos verdes madurassem logo.

Em completo silêncio vegetal,


ao passares, quero estar sazonado,
e me caírem os frutos a teus pés
ao não me teres teu olhar lançado.

(In Feito no coração, 1995, p. 44)

39
1
José Almino
(1946)**

RECIFE, ESSA DOENÇA


(Fragmento)

Como viver sob o impacto de uma dor permanente?


Tomás Seixas

E certamente já lhe falei em Posilipo, que é um lugar


Em grego quer dizer pausa da dor.
Clarice Lispector

O rosto dessa gente me esmaga


e no gesto dos amigos
vejo o lento repetir
das tardes
onde ainda tateio
a paisagem da infância

O copo de rum
afaga,
dentro de mim,
a timidez inquieta
dessa esperança

(In Maneira de dizer, 1991)

392
PARA MAXIMIANO CAMPOS

Há nos homens daqui uma tristeza


quieta,
um lado em repouso, vaga fantasia,
um riso de sombra, a raiva discreta,
ternura hesitante,
vã teimosia.

Há nos homens de lá, manhãs


turbulenta,
jogos obscuros paixões violentas
e o gosto macabro
da pura alegria.
São fracos, são ásperos,
são cactos sozinhos.

Há nos homens daqui, um vento


ligeiro,
burrice malandra, preguiça mesquinha,
o lenço, o maneiro,
o mel da malícia.

Há nos homens de lá, bruscas


amizades
soldadas em choro, saídas do nada,
eivadas de medo,
medonhas, engraçadas,
na frente sorrisos,
por trás desalmados.
Há fúria e vingança,
traições calculadas.

39
3
Há nos homens daqui, a franca risada,
o amor do desterro,
o medo adoidado,
a mágoa vazia, memória travada,
os olhos esquecidos
nos homens de lá.

394
Sérgio Moacir de Albuquerque
(1946-2008)* **

CANTOS DA DEFINITIVA PRIMAVERA

( I I I)
Às vezes pegava minha flauta
como Anphion sobre o deserto

e acompanhava o canto matinal das aves


improvisando

entre as descargas dos automóveis

então um manto de areia


me envolvia

asas compunham um ritmo


quase africano de atabaques

e descobria riachos
nascendo por trás dos muros
ou no teto

onde não bricavam moscas


e me afastava
em cada som emitido

39
5
sonorizado
aterrorizado
ante uma possível guerra
fugindo de uma morte mitológica

atento às mínimas palavras


de qualquer desconhecido
tentando decodificar
e analisar

mensagens esparsas
de conversas cotidianas

consultando nuvens
em busca de possíveis cogumelos
passando os dedos
em tuas coxas firmes

afastando a angústia
em teu sexo caliente
analisando teus sonhos

e gestos mais obscuros


profetizando futuras desgraças
devidas à besteira dos homens

que só pensam em dinheiro


mesmo que custe a vida
de todo o planeta

dos assassinos
da produção em massa
e do lucro

396
dos destrutores
do equilíbrio das florestas
e dos peixes
dos homens – cifrões

desprovidos de qualquer sensibilidade


diante de coisas puramente humanas
sequiosos de poderio
de moedas que não sabem usar.

Então me tentavas acalmar


afirmavas teu amor
e a decadência inevitável do Sistema
provocada por suas próprias contradições

o renascimento do Homem sábio


e a inviabilidade de uma guerra nuclear
o alcance de uma consciência
cada vez mais ampla

sabotando todo o sistema destrutivo


gradativamente
e me recontavas
estórias de ursos frustrados

porque queriam tornar-se estrelas de cinema


em Hollywood.

(In Cantos da definitiva primavera, 1998)

39
7
Então eles se perdiam naquele amoroso delírio sob a luz
inventiva dos candelabros. Estariam num pequeno restau-
rante. Canções eslavas violinadas percorriam o gostoso
murmúrio ambiente. Aos poucos floresciam sonhos acalen-
tados pelo vinho. Então ele desejava que fosse eterna aque-
la momentânea paz aquecida, cariciosa, acendendo olhos.

Colhiam flores sob vitrais enquanto o sol nascia sobre po-


vos orientais, longe do ruidoso trepidar ocidental. Mon-
ges manejando estrelas ao som de longas flautas caindo
sobre paisagens milenares. Seus cantos se misturavam aos
das aves, saudando o repouso de mais um dia.

(Então ela realmente me esperava naquele ajardinado


parque, risoaberta. Quando a abraçava ela se transfor-
mava numa princesinha azul poluída pelas máquinas e
indústrias. Procurávamos algum local escondido, lá ficá-
vamos sentados, cariciosos. Minha flauta improvisava ao
sabor dos ventos, árvores, águas. Jovens passeavam rou-
pas coloridas, olhares pacíficos. Ali faríamos outra leve
refeição sob trinados de pássaros, explosões de motores
vindos das avenidas. Era Primavera. Tudo renascia à ima-
gem e semelhança de nosso intenso amor.

398
Atravessávamos iluminados arcos pontais, cantando e
dançando. Nosso caminhar noturno despertava novos re-
flexos, superfície de águas coloridas, sequencias de telas
abstratas em rápidas mutações.)

Vivia equilibrando sonhos na ponta dos dedos. Perseguia


o amor com densa avidez animal, cios prateados. Viver

era aquele eterno caminhar

e salto gasto nas pedras

...................................como um rio.

Entrar num qualquer bar

embebedar-se

recitar poemas

quebrar copos.

39
9
Celso Mesquita
(1947)* **

A SEGUIR OS PASSOS DAS MUSAS

O nada dizer sob os risos, os erros.


Ah! Multidão que faz emudecer,
Olho – me no espelho d‟água
E me vejo, quase que com os mesmos olhos.
Navego em mar alto, fora de mim,
A ver no escuro, a lembrar-me.
O que ficou está em chamas.
(Antes de partir...
Um novelo de lã me cai aos pés.)
Tenho o mar à altura da boca.
Não temo as sereias.
Surdo, cego e mudo, vivo.
Trabalho o pão e a caravela.
......................................................................................
Ilhas que desvendo
Sob a luz.
Cadência de ondas secas.
A nau é verdadeira
Como a ânsia do capitão.
Não há flores
Sob a tempestade.
Azul fora o céu
E a água que bebo.

400
A VELHA METÁFORA

A rosa, encontro na florista,


E custa caro.
O perfume é antigo e bom
Para nós dois,
Salutar carmim na sala e quarto.
Que espécie de poeta sou?
Apenas dizer um sim
Ante o espelho.
A dama está no banheiro
E seus cabelos gritam pelo perdão
(Desventura)
Antes de serem beijados.
Onde estará amanhã,
Quando eu estiver no navio passageiro?

40
1
José Mário Rodrigues
(1947)* **

A CIDADE

A Ronildo Maia Leite

Uma cidade não morre de vez.


Vai morrendo nos que nascem quase mortos.
Vai morrendo na fome dos que matam e morrem
Num círculo de extrema impossibilidade.
Vai morrendo na mesquinhez
dos homens que deveriam morrer.

Uma cidade não morre de vez.


Morre com os mangues do rio morto
afogando uma solidão que mata.

Uma cidade não morre de vez.


Morre com a morte
dos que a sonharam viva.

402
LAMENTO

Lá se foi Maria da Penha


subindo aos céus num trem de nuvens.

Lá se foi Margarida Alves


pelas veredas dos canaviais
na dança desnorteada dos ventos.

Não lamento as respirações interrompidas


sobre as pedras.
a morte é limpa e afirmativa
e suas vidas tiveram sentido.
Lamento os que ficam
sem sentido algum
e inúteis, covardes e impassíveis,
esperam apodrecer em seus domínios.

40
3
Lourdes Nicácio
(1947)* **

CANÇÃO DA FLORESTA

Abri urgente
o portal dos campos!
Contemplai águas,
pastos, sol, rebanhos;
escutai, do vento, a vida,
o verde canto,
porque no seio da floresta
há ritmo santo.

Acolhei , amigos,
o voo das andorinhas,
seiva dos lírios,
dádivas permanentes;
da oficina natural, a eternidade
ou estações que se elaboram
a todo instante.

404
O LAVRADOR E O TEMPLO

Sê como o templo natural,


este Universo,
de onde emana
a humildade;
onde um calendário
além dos olhos
tece as estações,
a eternidade.

Há tantas safras
de estrelas nesta vida;
tantos espaços
ou troncos da verdade.
Sê mais que um servo
desse plantio de luz:
lavra, em ti,
a mansidão, a paz.

40
5
Luiz Carlos Duarte
(1947)**

POEMA AMARELO

Este canário, estes cajás, a tarde


No linho dos lençóis quarando ao vento,
Preenchem a solidão que se anuncia
Em tuas mãos.

Nos infindáveis limites deste alpendre


Navega a minha sombra sem padrão,
Navega a claridade pressentida
No instante breve e mudo do canário
Pousado nas hastes desta tarde
Isenta e clara, amarelamente sã.

(In O inventário das horas, 1981, p. 72)

406
LIVRO DE FRANCISCA
(Fragmento)

POEMA PREPARATÓRIO
Dormir, dormir profundamente e mais:
Da memória arrancar todos os sonhos:
(Os cactos de prata reluzentes,
Os vaqueiros-fantasmas-transparentes,
Os mangues e cajus vitrificados),
Tomar todos os vícios como o lodo
Que se acrescenta às pedras. E acordar.

Despedir-se dos versos trabalhados


Nas dez últimas noites. E falar.
Falar simplesmente tendo o espelho
Como pálido ouvinte, o derradeiro.

Sair pela rua e olhar, olhar, olhar,


Buscar a branca música da lua,
Na vidraça do tempo jogar pedras.
Escrever sem medida, na medida
Do vento, tão somente e, se possível,
Acordar despertando novamente,
Permanecer-se insônia do poema,
E navegar, liberto, os quatro cantos
Do firmamento-teto, laje, branco.

O cancioneiro calou-me por inteiro,


Escrevo-me na primeira pessoa.
Qual a forma perfeita? Esta linguagem
Nada tem de suor ou de saliva?

Vou-me canção assim sem personagem,


Nem angústia nem mágoa nem desejo.

40
7
Por que fazer-me poema sem acaso?
Por que, então, arrancar-me da garganta
E atirar-me no branco deste espaço?

Nada vale o poema, não caminha,


Recluso jaz no livro e permanece.
Não revestem paredes suas cores,
Ninguém dança ao som da sua música.
Quanto tempo perdido, quanto tempo
Vendo ao som nascer novo momento.

Pelo poema recusei-me à vida, Postei-me


eternamente despedida, Reescrevendo-me
sempre, sempre, sempre.

Neste momento me recuso à morte,


No amor de Francisca ressuscito.

A noite das estrelas jaz no mar:


Belo instante marinho é a tormenta:
É pagão o poema – forma e rito,
Na folha-de-papel, o seu batismo:
Água e suor, em sacrifício,
O poema se faz, silente ofício.

408
Ésio Rafael
(1948)* **

CHEIO DE VIDAS...
Lúcido
Eu vi Erickson Luna
Exposto ao caos que lhe teme
Eis
O homem de Oriana Fallaci
Um mote Completo
atemporal Indecente
Visão máxima dos afagos sociais
Logo
Veio-me de chofre Israel somente
Mil vezes
No cenário externo do “Parque”
No teatro da rua do Hospício?
Eu vi
Tragando um cigarro amigo
Erickson Lunar...

40
9
AS MÃOS
A Lia de Itamaracá

As mãos do Mestre Vitalino


Tocaram pífanos e barro
As mãos de Drummond tecem no Cosmo
As mãos de Manoel Galdino pereceram para nós
Restam-nos ainda as mãos cirandeiras de
Lia de Itamaracá.

410
Marco Polo Guimarães
(1948)* **

DUAS PAISAGENS

Esta cidade que se alarga


em leque azul de seda e laca,
em girassóis de ouro e brasa,
em ventanias desatadas;
esta cidade que se alarga
em mangue cinza e praia acesa,
em manga aberta sobre a mesa,
em moça aberta sobre a cama;
esta cidade que se expande
em praça, várzea e avenida,
em superfícies, cromo e vidro,
em rios de sombra em margens nítidas;
esta cidade que se dilata
em cores rubras quaisquer que sejam,
em flexíveis linhas de frutas,
em rijas tramas de sal e fibra;
esta cidade que se amplia
em rol de roupa branca corando,
em vila branca no horizonte,
em asa branca cortando a tarde;
esta cidade que se alaga
de sol, se espicha, se espreguiça,
se vira ativa, brinca e grita,
quando chove muda, fica muda;

41
1
esta cidade se limita;
a chuva a prende em barras finas
e intransponíveis, em barras michas
e frias; prisão que a descolore
toda; esta cidade na chuva
torna-se contrátil, ostra viva
fechada; pequena, cubículo,
o homem a habita aos pedaços e
por etapas, tateando cego,
temendo abismos, correndo riscos
na rua riscada de finitos;
esta cidade que empaca, fica
implástica, imóvel, impossível;
submersa, mantém o homem
entre paredes, galochas e capas
contido; se cessa, se cerra,
se cerca, se caça, se embaça
numa dura cerração líquida
que a liquida, ínfima; caracol
sem saída; paralelepípedo
derretido; vento oleoso;
serpenteante serpente de pano
enlameado; em farrapos, a
cidade nem mais é; é só
uma caricatura anônima grafada a
carvão no muro de um terreno
baldio, onde ratazanas escondem
restos de sombras manchadas de giz.

(Poema inédito. Disponível em: Plataforma para a Poesia: <http://


www.plataforma.paraapoesia.nom.br/2005mpolo.htm>)

412
BLUE
A Cida Pedrosa

Com Eric Clapton, um branco,


aprendi um pouco de blue;
o toque mínimo da guitarra,
a busca de perfeição.
Aprendi que música não tem pressa
e o tempo
é uma coisa a ser tecida.

Com Robert Johnson, um preto,


aprendi um pouco de blue;
que música é outra maneira de dizer silêncio.
Aprendi que só valem a pena as palavras
que mudem a cor do dia.

(In A superfície do silêncio, 2002, p. 27)

41
3
Pedro Américo de Farias
(1948)* **

IMPROPÉRIOS

não sou poeta de pátrias e pátios


devagar com o andor da poesia,
poeta, a musa pode ser de barro

palavra, ave que voa e vai à toa


toada que vai e vem numa boa

espalho minha alegria e minha dor


grito e berro as palavras proibidas
impropérios que a opressão impõe

debochando nos pés do deus censor


sou um bruxo em meta de mestrados
vou em busca do meu proust perdido

414
PARALELEPÍPEDRO

canto pedregoso
em terça rima

nasci pedro, assim me encaixo


pedregulho entre pedreiras
rolando penhasco abaixo

cresci pedra por ladeiras


açudes, roças e rios
fui trempe para fogueiras

sofri febres, calafrios senti


no couro chibatas meus
ais viraram assobios

sonhei sonhos em cascatas


neles cacei capivaras
vivi com nefelibatas

habitando nuvens raras


caí que nem bendengó
amassando algumas caras

mas hoje sou pedra-mó

41
5
Vernaide Wanderley
(1948)*

AFAGOS DE PABLO
Pablo tentou fugir ao chamado da graça
– castigo venal derrubando o destino.

Ele se desfez do paletó de nuvem,


carregado de música e retalhos de terra,
símbolo de sua missão no mundo
– peregrino do canto rouco das serras.
Vestiu-se de algodão e prata,
ornou a fronte com a tiara ruiva das caatingas,
pendurou nos dedos sua mais nova composição
e afiou a viola de sete cordas sobre a amada.

416
EM RESPEITO AOS QUE RETORNAM

Voltar,
quando o portão é rosto amigo,
as avencas um tempo que cresceu
ou quando mangas já derramaram
resinas nas rosa que ficou.

Voltar,
sempre poder voltar,
por mais que essa distância
seja um sol de muitas léguas
ou espinhos que brotaram.

Voltar,
presa apenas no mormaço
de árvores abertas em leques,
voltar para reconstruir lugares
com o brilho que se trouxe.

41
7
Bartyra Soares
(1949)* **

DESAFIO

Quem se atreverá a ferir as begônias


e as avencas quando até os ventos
acautelam-se e reprimem a ânsia
de destruí-las?

Quem ousará cerrar as janelas guardando


no recato dos salões um ricto de solidão
quando nas ruas um canto fraterno une-se
à voz das folhas secas?

A quem caberá o direito de fechar


as comportas se salta do íntimo das águas
o constante aceno de quem está
sempre partindo?

Quem impedirá que na vastidão dos pastos


de inverno o tempo rumine o verde
e os pardais persigam os horizontes
molhados?

Quem tentará apagar as velas que se equilibram


nos candelabros se além das soleiras
a noite continua espessa e as estrelas mal tocam
o cimo dos montes?

418
Quem se julgará no direito de dissipar o silêncio
que sempre vem depois das grandes revelações?
E quando tudo for aquiescência quem ousará
dizer não?

41
9
PERSISTÊNCIA

O fio de cobre de tua voz


estaca oscilante sob o umbral
de minhas incertezas. Veem
de ti ou dos pardais este frêmito
este alarido, esta indecisão de cor?

Recolho tua face de olhos mínimos


e lado a lado contemplamos a dança
das mariposas que das perplexidades
acercam-se tontas. No jardim
a chuva liquefaz as margaridas.

Em ti o medo e o vento rodopiam


desordenados – girassóis sem hastes
fragmentando-se na queda louca.
Com insistência teu pulso desfia
a vida no compasso de repetida canção.

De descaso é o latir do cão


na viela esconsa. Pouco a pouco
tua voz se extingue. Sob o umbral
só as indagações das minhas incertezas
mantêm-se em alerta e persistem.

420
Dedé Monteiro –
José Rufino da Costa Neto
(1949)* **

SEM MAMÃE

Hoje é o dia em que o filho, a toda hora,


Presenteia e festeja a mãe querida,
Como eu fiz tantos anos... mas, agora,
Já não tenho o “luar” da minha vida.

Ó mamãe, nesta data colorida,


O universo respira eterna aurora!
E eu respiro do ocaso a dor pungida
Da saudade infinita da senhora.

Não há nada tão belo e comovente


Como um filho entregando o seu presente
E abraçando a razão de sua paz,

Nem mais triste que um órfão como eu,


Procurando essa JÓIA que perdeu,
Sem poder abraçá-la nunca mais.

Dedé Monteiro, 1994

42
1
FIM DE FEIRA

o lixo atapeta o chão


um caminhão se balança
quem vem de fora se lança
em cima do caminhão
um ébrio esmurra o balcão
no botequim da esquina
o gari faz a faxina
um cego ensaca a sanfona
e um vendedor dobra a lona
depois que a feira termina.

miçanga, fruta, verdura,


milho feijão e farinha,
bode, suíno, galinha,
miudeza, rapadura.
é esta a imagem pura
de uma feira nordestina
que começa pequenina,
dez horas não cabe o povo.
e só diminui de novo
depois que a feira termina

na matriz que nunca fecha


muito apressado entra alguém
mas sai vexado também
se não o carro lhe deixa
o padre gordo se queixa
do calor que lhe domina
e agita tanto a batina
quem que vê fica com pena
toca o sino pra novena
depois que a feira termina.

422
a filhinha do mendigo
sentada a seus pés, num beco,
comendo um pão doce seco
diz: papai, coma comigo.
e o velho pensa consigo
meu deus, mudai sua sina
pra que minha pequenina
não sofra o que eu sofro agora
ria a filha, o velho chora
depois que a feira termina.

um pedinte se levanta
da beira de uma calçada
chupando uma manga espada
pra servir de almoço e janta
um boi de carro se espanta
se o motorista buzina
um velho fecha a cantina
um cachorro arrasta um osso
e o pobre “assavessa” o bolso
depois que a feira termina

um camponês se engana
chega atrasado na feira
não compra mais macaxeira,
nem batata, nem banana
empurra a cara na cana
pra esquecer a ruína,
arroz, feijão, margarina,
açúcar, óleo, salada,
regressa e não leva nada
depois que a feira termina

42
3
no açougue da cidade
das cinco e meia em diante
não tem um pé de marchante
mas mosca tem com vontade
um faxineiro abre a grade
tira uma mangueira fina
rodo, pano, creolina,
deixa tudo uma beleza
mas só começa a limpeza
depois que a feira termina

e o dono da miudeza
já tendo fechado a mala
escuta o rapaz que fala
do outro lado da mesa:
– meu senhor, por gentileza,
o senhor tem brilhantina?
ele diz com voz ferina:
– aqui na mala ainda tem
mas eu não vendo a ninguém
depois que a feira termina

um jumento estropiado,
magro que só a desgraça,
quando vê que a feira passa
vai pra frente do mercado
o endereço ao danado
eu não sei quem diabo ensina
eu só sei que baixa a crina
entre as cinco e as cinco e meia
lancha, almoço, janta e ceia
depois que a feira termina.

424
Fernando Monteiro
(1949)* **

GRAFITO I

Erúpvias vias dúbias de


piedade e prazer,
luxúria e múltiplo luto
por pena e pomba fúnebre,
subterfúgio e súbita
dúvida oculta
sob a prece purpúrea
ao fogoso deus da chuva
de cinzas e fúrias,
que cuspiu sobre Estábias
e ensinou Herculano a descrer.

[In Poesia pernambucana moderna. Breve Antologia, 1999, p. 165]

42
5
GRAFITO II

Herculamum e Pompeii
sob lava em onda
e pó de pedra-pome,
após uma noite
e tudo acabar: cidades
do sono, gêmeas do
abandono, irmãs que
visitamos com receio
de sermos nós a
acordar.

[In Poesia pernambucana moderna. Breve Antologia, 1999, p. 166]

426
Maurício Motta
(1949)* **

A HIPNOTIZADORA FRANCESA

Paço do cume dos olhos


ativa íris “Globo da Morte”.
Espelho traiçoeiro
Golpe à vista Do sono
ileso prospecto de
sonho raios...
eletricidades...
Corre o Sena, corre o carro
no transcurso do corpo
da boca doce,
calma telúrica
febre de tua imagem
exposta na minha rubra
alma de desejo.

42
7
GOLPE DE ESTADO

Berço profundo
de desejosos céus
e sonhos ascéticos
notícias de golpe
guerrilhas ao norte
árvores, braços, balas
articulações ao leste
e o sentimento
crucificado de Deus.

428
Paulo Bruscky
(1949)* **

42
9
430
Tereza Tenório
(1949)* **

FACE AMADA

Era a Face Amada. A amargura


entretecera espinhos e arames
em torno da fronte assinalada
e álamos cindiram-se em mil ramos.

Signos diluíram-se no éter


em gotas de lava. Longe, em Patmos
era noite: o fogo de Sant`Elmo
rompia a trava em intervalos raros.

Ciclones varreram as praias calvas,


sismógrafos oscilaram lívidos
que o eixo da Terra vacilava.

O ódio adormecera nas entranhas


de Pandora, e o inquieto Espírito
nos recessos do Éden se ocultura.

43
1
AMOR

Disse-me que amava em mim a estrela


nua que cintila em minha fronte.
Disse-me que eu era sol e o dia.
e todas as aves do horizonte.

Ele que se deu a mim inteiro


transformou-se em sangue e maresia.
Demônios lunares o levaram
e afoguei-me lúcida e sombria.

432
Alvacir Raposo
(1950)*

XLI

Há de vibrar teu corpo em claridade,


nos extremos de um dia amanhecido;
e entre a luz e o perfil, a ambiguidade
de um vulto que se faz indefinido.

E voa a flama em cor na amenidade do


silêncio completo e sucumbido, entre
sonhos e gestos, que em verdade, são
asas de algum pássaro perdido.

No entanto, eu sei, é tua imagem lúcida


no turbilhão de cores deslumbrantes,
no amanhecer sem mácula, sem vício.

E aflora da neblina a flor translúcida,


a rosa dos teus seios delirantes,
feito o clarão de fogos de artifício.

(In Sonetos, 1999, p. 87)

43
3
XLII

É noite de São João. Toda a cidade


mergulha na fumaça das fogueiras.
E em mim, revendo antigas brincadeiras,
atiça-se este fogo de saudade.

Na rua, a meninada em liberdade,


atrás dos busca-pés... quantas carreiras!
O estrondo dos rojões e das ronqueiras,
girândolas girando em claridade.

Uma voz de repente se incendeia


Nas canções, que a sanfona mais brejeira,
espalha nos salões. Como esquecê-las?

Vaza em luz o balão da luz cheia.


O céu parece um pano de bandeira,
furado pelas brasas das estrelas.

(In Sonetos, 1999, p. 87)

434
Lucila Nogueira
(1950)*

E SE INDA HOUVER AMOR

E se inda houver amor eu me apresento.


E me entrego ao princípio do oceano.
E se me atinge a onda, úmida eu tremo
esquecida de insones desenganos.

E se inda houver amor eu me arrebento


feliz, atravessada de esperança
e mesmo lacerada inda assim tento
quebrar com meu amor todas as lanças.

E se inda houver amor terei alento


para aguentar o inútil destes anos.
e não me matarei, sonhando o tempo
em que me afogarei no seu encanto

E se inda houver amor, ah, me consente


ser pasto de tua chama, astro medonho.
E se inda houver amor, eu simplesmente
apago esta ferida do meu sono.

(In A dama de Alicante, 1990)

43
5
SENTIMENTO SÚBITO
A Cícero Belmar, Marina Nogueira e Eduardo Diógenes

porque você nada sabe da insônia


não venha assim desavisado com esse universo de
[frases protocolares
e toda uma higiene pasteurizada de ternura
cuidado e não se aproxime demais
existe uma parte de mim onde ninguém chegou ainda
e o desespero sempre faz com que a gente precise
[acreditar em tudo
estou ficando cada vez mais com medo desse
[sentimento súbito

a água que lavou as letras da biblioteca


é um sinal de que o amor e a palavra exigem renovação
que tanto estudo não resolve o desamparo
e que continua desabitada a casa que sou

finjo-me autobiográfica e renasço como personagem


espasmo de eletrochoque eu sirvo o meu senhor
ducha de eletricidade eu sirvo o meu senhor
e basta o seu tom de voz ser um pouco menos terno
que eu já sinto dor

como quem escolhe uma salada de rúcula


em um cardápio de veludo escuro
você está sentado numa poltrona de aço
que já começa a ser engolida
pelo mar vulcânico da minha loucura

não sei porque tudo vinha tão vagarosamente de


[modo calmo
e de repente foi aquele estalo aquele sobressalto

436
e você não entendeu nos intervalos de linguagem
o meu jeito pelo avesso de cantar um blue

você não entendeu nada


você não percebeu que eu sou um fósforo apagado
esquecido na fuligem com memória do passado
que a vida cai pesadamente em meu cabelo azulado
e para a tela grande perder o colorido basta uma pilha
[se gastar

por isso eu chego a ti numa bolha de sabão gigante


soprada no canudo de mamoeiro do quintal da infância
onde aprendi a noite o sol os cristais coloridos e
[as músicas ciganas
daí que basta você me tocar e eu retorno à vida
quebra-se o encanto e o feitiço
e saio para a realidade carne que se desprende
[das páginas do livro

escrevo sobre a vida como um exorcismo


não tenho remorso do que vivo
o meu poema é o sinônimo da minha pele exposta
na implosão do muro de Berlim dos sentimentos físicos

sinal vermelho
rostos vazios
caminhei coberta de sargaços na avenida
como um insignificante alfinete atraído por um ímã
e perdi o sono perambulando nos telhados
à procura das palavras mais precisas
quando finalmente descobri que o que importa mesmo
[sempre está implícito

43
7
e agora
eu só quero que você ouça minha voz subterrânea
ecoando muito além de toda superfície
mesmo que em mim nada esteja a salvo
quero que observe com perplexidade como eu
[tenho estilo
e a melancolia dos meus olhos claros
atravessa nervosamente o cosmos como um neutrino
argila submarina de abalos sísmicos na manhã de uma
[rua vazia de domingo

hoje falta-me companhia para sair e beber um vinho


nada acontece e eu não sei como faça para
[manter-me viva
nada acontece e eu fico inerte sem regresso
[nem partida
devo mudar uma vida que já não me serve
mas ando muito cansada de ser sempre eu a tomar
[todas as iniciativas

você não entendeu nada


e eu estava dizendo apenas na verdade
que subitamente eu fui ficando perturbada
você me lê somente para encontrar suas palavras
mas eu venho de uma raça de saltimbancos e acrobatas
e brilham relâmpagos da tempestade nos meus
[gestos delicados

o meu corpo flutua como sílabas de imagens congeladas


e nessa opressão desarticulada decido
[desesperadamente ficar calada
mas não esqueço o convite para ver as estrelas
[num deserto do
Marrocos

438
nem a minha estranha fuga automática daquele mun
[do cor-de-rosa entre penhascos

para voltar aqui e ficar sempre à espera do destino e


[do acaso

sentinela do nada

e a vida passa como as nuvens na janela


da próxima vez eu vou ter mais cuidado
porque das outras sei que estraguei tudo só por ter
[medo de encarar
a realidade

eu vou telefonar
depois a gente se fala
agora eu não posso acordar
entenda que eu carrego a saudade das aves migratórias
que sobrevoam os alpinistas do círculo polar

porque você nada sabe da insônia


e existe uma parte de mim onde ninguém chegou ainda
e o desespero sempre faz com que a gente precise
[acreditar em tudo
estou ficando cada vez mais com medo desse
[sentimento súbito

(Na antologia Retratos, 2004, p. 138-139)

43
9
Elizabeth Hazin
(1951)**

RECIFE

Uma cidade
mais-que-perfeita
nasce de onde
(de que é feita)?

de rio e tempo
(ou de memória)

de chuva e sal
(alguma lágrima)

de luz e bares
(tristeza clara)

de seus poetas
(uns tantos versos) :

Há que tempo que não te vejo


Noiva da revolução
Ó (minha) cidade noturna
Aflorada no mar

(In Poesia viva do Recife, 1996, p. 57)

440
soneto das tempestades

sou neto das tempestades


que sopram pelos desertos
um destino de saudades.
com seus nós quase desfeitos

eu trago a garganta aberta


escancarada vazando uma
voz suja de terra
que filtra os dias e as noites.

na ponta da minha língua o


tempo acaba ou começa?
brota em mim o som da flauta

brota mais – a flor do sangue –


ao sol que queima sem pena
neste deserto tão grande.

(In Agenda 84, Livro 7, 1984)

44
1
Juhareiz Correya
(1951)**

PASSAGEM NA PONTE

estou aqui, no meio da ponte


no raio do dia (ou no açoite da noite)
no vão desta vida, no passo das águas
amanhecendo de tarde sem hora de anoitecer desperto
com a mesma sede afogada na garganta
despejando as enchentes da fala nos rios.
estou aqui, em cima da ponte
não sou boi nem voarei além do Equador,
não vou correr da polícia,
não tenho argumentos nem malícia,
não vou pular frevo ou maracatu,
não sou punguista nem sou camelô.
dentro da ponte é onde estou
e não me interessa se você para ou passa
se você pensa qualquer coisa ou se acha graça
e desconversa direto antes de chegar na esquina.
não me interessa se você é macho ou fêmea,
ou se investe porrilhões e tantos na Bolsa de Valores.
interessa é que eu estou aqui
na ponte,
sem pregão, sem comício,
sem liquidação, sem manifesto, sem saber direito
como lhes fala de encontros e entregas e dores
e vocês têm uma pressa infernal que atrapalha

442
com os instantes contados por um sistema canalha,
dando graças ao seguro de todos os dias,
estúpida promessa,
para que os porcos não lhes cortem as cabeças.
Vocês têm famílias, posses e silêncios horríveis
para cultivar e multiplicar a vida inteira.
(e nada como palavras, só palavras, que tão
[aéreas soam,
como as que eu te ofereço, irmão,
dispara jato mais veloz no sangue do coração).
vocês não ouvem nada, eu sei,
e nada têm para dizes também.
igualmente motorizados dentro da cidade das horas
vocês não dispõem de tempo,
vocês pensam que aceleram sua própria sorte,
vocês sabem apenas que nós somos inúteis,
[jamais necessários.
no passeio da ponte sou eu quem falo
e aqui me acendo, me dou e me escangalho
aqui sou poeta, oferta, passagem.

(In Poesia viva do Recife, 1996, p. 90)

44
3
CANÇÃO PARA VICTOR JARA
“o canto tem sentidos
quando palpita nas velas
de quem morrerá cantando
as verdades verdadeiras”
(Victor Jara)

morrerei cantando, Victor Jara.


depois dos dedos cortados
as mãos sangrarão ritmos e cordas
e a canção elevará minha voz.
e me cortarão os pulsos
e os tocos dos meus braços
sem instrumentos sustentar
rubros vão balançar
sem minha canção parar.
meus dentes serão quebrados
na minha garganta prensados
na garganta entulhados
no meu canto sufocado.
meu rosto disforme de insultos
virado na sanha dos brutos
vai minha vontade cantando
na cara do povo mostrar.
além da loucura e dos urros
da soldadesca assassina
além de chutes e murros
e da bala que elimina
– nesta praça sem esportes
onde nos jogam com a morte –
meu povo não calará,
minha voz vai mais cantar, meu
canto não morrerá. morrerei
cantando, Victor Jara

(In América indignada, 1986, p. 10)

444
Márcia Maia
(1951)* **

dos caminhos de ir e voltar

tijolo cimento e brita?


asfalto concreto e aço?
talvez um laço de fita
talvez a fita sem laço.
que vede. sei como faço.
que guarde além da desdita
silêncio que não limita
grito que diz de embaraço
:
seja a palavra não dita.
que seja aquém deste espaço.

da cana que reste o bagaço.


da casa nem palafita.
à beira-mar o mormaço
à beira-rio suscita
tardes que a dor premedita
fadadas sempre ao fracasso
por crê-las longe do abraço
que a vida lhes requisita
:
não seja aquém deste espaço
não seja a palavra não dita.

o dia ainda dormita


da noite resta um pedaço

44
5
todos dormem e eu aflita
me debruço no terraço
buscando abandono lasso
que a saudade ressuscita
na lembrança inaudita
que fere qual estilhaço
:
seja a palavra enfim dita
aquém e além deste espaço.

446
decomposição

o amor apodrece como fruta


sobre a mesa.

as moscas zunem.

o sol se põe azul, no vidro


da fruteira.

no mais, além de solidão e


pasmaceira,

um cheiro acre-adocicado
de decomposição.

44
7
Cícero Melo
(1952)*

A TERCEIRA PELE

Procuro a carne da palavra adusta,


Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.

448
OS MORTOS

Agora todos mortos vão dormindo,


Diretamente para minha cama.
Deitam-se com seu sono terno, infindo.
Escondem a carcaça em meu pijama.

Dão-me todos os sonhos, sonhos idos.


Os sonhos que teceram sua trama.
Os meus sonhos dos mortos esquecidos
Dormem profundamente em minha cama,

Que não sei se estou vivo. Quero a vida!


Quando outros mortos tentam dar conforto,
Jogo o tempo na mente distraída,
Mas, uma voz me diz: o mundo é morto!

Afogados me ofertam água e vento;


Suicidas me dão armas e outra asa.
Alado, em sonho, mudo o pensamento,
Num turbilhão soergo a minha casa,

Mas esta casa não descarta um morto.


Os mortos nunca dormem, são serenos.
Levanto-me da cama – sem um porto.
Os mortos aos seus mortos cederemos.

Retorno ao quarto: abrindo a porta, atino


Intimidade pura e tão discreta:
Cantava meu avô para um menino
A canção de morrer sendo poeta.

44
9
Marilena de Castro
(1952)*

A RODA DA VIDA

Folhas
Bonecas
Velocípedes

Céu azul e sombras de mangueiras.

A casa com jardim de rosas


Meu avô na cadeira de balanço
Cheiro de comida, mamãe na cozinha No
quintal, eu chorei quando encontrei o
pintinho que eu cuidava morto.
Enterrei-o aos pés da mangueira.

Jurei nunca mais comer galinha.


Queria ser curandeira.

Nas tardes de domingo, sessão de cinema,


Lago dos Cisnes.
Sonho de ser bailarina.

Na rua uma mulher morta, olhos abertos


para o infinito
Minha mãe tapava os meus olhos para que
eu não enxergasse a morte.

450
Corria no sítio, sentia-me um passarinho
Desejava abraçar raios de sol
E pisar nas sombras dos meus passos

E na brincadeira de roda
“o pinhão entrou na roda, ó pinhão.
Roda pinhão, bambeia pinhão”

A vida girou, rodou e mudou.

Olho para o céu através da minha janela,


vejo poucas estrelas
ofuscadas pela luz do neon. Penso em meu
avô, tão companheiro na minha infância, morreu quan-
do entrei na Escola
de Medicina.

Meu pai marinheiro, só, desbravava os mares


enquanto na sua terra os seguidores
de Dr. Che Guevara eram mártires.

Vida e a morte se confundem em paredes


brancas.
Dor e nascimento com minha própria vida.

“O primeiro vagido é um hino ao sofrimento”

O pinhão entrou na roda, ó pinhão


o pinhão entrou na roda, ó pinhão
roda pinhão, bamboleia pinhão.

A roda do pinhão
pinhão da roda
A vida roda

45
1
Bamboleia

Cai

Roda outra vez nos versos do cotidiano.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 169)

452
O SILÊNCIO DAS PEDRAS

Minh‟alma se feriu na rocha nua


queimando as impurezas no fogo das
entranhas.

Profanei as terras do sentir


farejei
a sabedoria das entrelinhas
empunhei a arma da loucura
servi a escravidão da liberdade.

Fiz justiça em silêncio


no céu da boca.

Meus passos falaram


mais que as palavras que nunca disse.

E a rocha que se transformou em água


Lavou minhas mãos manchadas e vazias.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 170)

45
3
Eduardo Diógenes
(1954)* **

O NÃO DO SIM

de onde assisto aqui


ao movimento dos autos na rua
a alma imóvel,
mas, não intacta
com as notas desafinadas
de sua harpa,
insiste, e assiste tonta
ao burburinho de fora,
mas, por dentro sim
está seu tremor maior,
o mistério infindo da palavra
o poço mais recôndito
o não do sim.

454
E O DEPOIS EU CONTO

que instante
a poesia
aqui esteve
sentada à mesa?
tão rápida foi
sua passagem
que a tornou
mais paisagem
de letras e palavras
que outra qualquer
pintura
maior de alma.

quantos elmos
em metal,
a espada do verso
feriu,
antes dos Quixotes,
pois o verbo mente
mas, Cervantes e Quevedo
não se forjam
em bigorna
de ferro comum.

é dor maior
de alegrias incomuns
é tão nascer
como ser um,
tal o meu filho
olhar para mim
e saber ;
sem poesia
este aqui é um morto.
E o depois
eu conto.

45
5
Dione Barreto
(1955)*

O COMPROMISSO
Para Cida Nogueira

poucas coisas são de valia neste mundo:


a solidão ancestral
alguma delicadíssima tristeza
este gesto contínuo de perder-se
e a tua ausência
que faz de mim uma saudade necessária

tudo o que sou, trago comigo


e dou-te.
este poder de consagrar o mundo
torná-lo meu
e pertencê-lo

esta alegria de saber ser pássaro


um jeito de colorir palavras
e o meu olhar dentro do teu, configurado

não é muito
mas este é o meu compromisso com a felicidade.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 78)

456
ASSOMBRAÇÃO
para a minha avó Vitorina Barreto de Oliveira

aos 6 anos
tinha medo das almas do outro mundo

aos 10
as almas eram tão familiares
que temê-las de fato
era uma obrigação hierárquica

aos 14
já não acreditava em almas
mas, à falta de medo mais digno
conservei-as

aos 20
vi a primeira e única assombração da minha vida
e não era assombração
pior: era alma de fato

aos 30
convivo razoavelmente
com todas as coisas deste mundo
ou quase

agora
as almas que assombram
já não são as mesmas
– vestem-se melhor em seus disfarces-
e dentro de mim
ai de mim!
esta esquecida inocência

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 77)

45
7
Walter Cabral de Moura
(1955)*

DE SEMPRE

Foi quando morri. Apareceu-me um anjo.


Grande, sereno, imperturbável.
– Que fizeste lá?, perguntou-me.
– Nada. Alguma poesia.
– Isso muitos fazem, retrucou. Que mais?
– Respirei.
– Isso, mais ainda. Algo mais?
– Dormi, sonhei, o de sempre.

Olhou-me sem paixão. Era um anjo


(não havia como enganar-me,
embora não mo tivesse dito).

Fez menção de ir-se. Perguntei-lhe:


– E agora?
– Nada. É aguardar.
– Ele?
– Quem mais?
– É verdade que usa barbas? Sempre achei esse fato
extraordinário.

Quase riu. Mas era um anjo,


estava a serviço.
Voltou-me as costas, mas antes de ir

458
disse-me:
– Toma. Vou emprestar-te.
–?
– A antologia poética organizada aqui.
–!!

E tirou, não sei de onde,


um grosso volume, que passou-me.
Grande, sereno, impassível.
Interpretei esse gesto como um ato de simpatia
(embora não mo tivesse dito).
Após o que, foi embora caminhando,
nunca mais o vi.

Ainda não sei se Ele tem barbas.


Enquanto isso, tenho ocupado meu tempo
a ler o volume, a respirar
dormir, sonhar, o de sempre.

(Disponível em: <http://www.plataforma.paraapoesia.nom.


br/2005walter2.htm>)

45
9
DESEJO NO ARRECIFE
A Jomard Muniz de Britto

“A modelo negra é mais barato”


por isso é escuro o desejo
no arrecife do jogral Jomard.

Kafkianas baratas d‟água


procuram sombras nas pedras.

A modelo negra é mais baraço,


pregão, garrote, pelourinho
(que não é Pelô), antiquário atual.

A escrava que não é Isaura


nos decifra e nos devora.

a modelo negra nega (néga)


égalité, ordem e progresso,
o pacto social e o papo sindical.

(Iluminismos em luz negra,


negativos em câmara escura.)

A modelo modela o modelo


“moro num país tropical”
e demora a senzala habitual.

460
Tarcísio Regueira
(1956)* **

NÉON

Eles piscam
Como nos chamassem para a cumplicidade.

Engana nossos olhos


Em um ritual de loucura e falso prazer

Neles, cabem tudo:


Vida, morte, tudo e ilusão.

46
1
MARIA, JOSÉ, JESUS

A esquina estava lotada,


era véspera de Natal.
Uma mulher maltrapilha
pedia com a mão estendida.
Seu nome era Maria.

Junto, um homem dormia


alheio ao barulho impiedoso do mundo.
Seu nome era José.

Ouve-se um grito: Ladrão!


Uma criança corre com um relógio na mão.
De repente um freio.
Um menino morto.
Seu nome era Jesus.

A mulher olhava
para aquela triste manjedoura.
Não havia vacas,
só ratos.
Não havia estrelas,
só a luz giratória da polícia.
Não havia reis,
só homem alheios a tudo.

462
Tadeu Alencar
(1963)*

ÁLBUM DE FAMÍLIA

Farejo em meu passado um momento perdido,


Em que minha perna cruzada – calças curtas,
[meia colorida –
Toca suave na perna do homem jovem,
Recostado no banco da praça:
Missão cumprida no dia cheio,
Filhos em volta,
Em foto para o futuro.
Pelas narinas da memória aspiro a esta imagem
Como um cheiro bom,
Jaca madura,
Capaz de enternecer o brutal açoite do tempo
E de levar-me, saudoso, como agora,
Por aqueles dias em que pensava
Pudesse ter um pai para sempre;
Para sempre poder sentir-lhe o calor da
[perna indolente,
Colada na mão aflita da minha deslumbrada infância

46
3
LORDE JIM

Em meio ao turbilhão,
Ao naufrágio sem remédio
Da infância e do degredo,
Um velho marujo
Tateia o convés do horizonte –
Último pedido de sua alma aflita –
Vislumbrando nas revoltas nuvens
O imperecível olhar de um amigo.
Desde então passou a alimentar a certeza
De que raiaria a aurora polar –
Que amaina os ventos, que adoça os mares -.
E a apressá-la, correu o marujo a enfunar as velas,
A enrijecer as cordas, a lançar carvão na caldeira.
Estava tão certo do amigo quanto da aurora.
E a borrasca, como cruel atrativo, cedeu ao sono,
E o leme, desgovernado, enlouquecido,
Roubou ao sono um cardume de estrelas,
Que comandaria, dos céus, a penosa e
[contrafeita travessia.

464
LÁPIDE

Quero um túmulo de águas,


Um lago, mínimo que seja,
Onde possa descansar
Das insidiosas dores deste mundo.
As borboletas solitárias,
Voando rente à superfície,
Comporão o epitáfio do meu molhado repouso
E terei os peixes como vermes.
Os mares, os regatos, as poças d‟água
Mais escondidas,
Sepultam tantos olhares, confissões às pedras,
Miudezas da minha vida,
no desgoverno das manhãs!
Quero as águas na morte,
Porque delas me sirvo em vida,
Mergulhando com sofreguidão,
Língua e corpo,
Entre goles e banhos que me fazem planta,
Planta que sou.

46
5
ZETO –
José Antônio do Nascimento Filho
(1956-2002)* **

MEU AMIGO

Certo dia encontrei-me com um amigo


Que deixou-me contar minhas tristezas
Vendo nele ternura e sutilezas
Nos abraços que dele fiz abrigo

Mesmo hoje depois de tantos anos


Nosso amor continua assim perene
Eu querendo que ele me envenene
E ele sendo o veneno dos meus planos

Amizade igual nunca encontrei Pois


às vezes que eu o procurei Estendeu
o seu braço em minha mão

O amigo que falo não é gente


É divino e pra mim foi um presente
Que o tempo me deu, meu violão

466
NO BATENTE DE PAU DO CASARÃO
(Tema de Dedé Monteiro)

De braúna foi feito este batente


Bem sentado no chão por um pedreiro
Cada marca em seu corpo é um janeiro
Que lhe deixa prum lado mais pendente
Mesmo assim rijo, forte e resistente
Se escalda nos dias do sertão
E o passado lhe traz recordação
Do barulho de esporas e chocalhos
Que fizeram com o tempo esses mil talhos
No batente de pau de casarão

No batente da casa da fazenda


Tropecei quando ainda era bem moço
Esperei mãe trazer o meu almoço
Vi Maria sentada fazer renda
Muita gente deixava uma encomenda
Um menino batia o seu pião
Pra ficar mais macio em sua mão
Dava toques profundos na madeira
Tem até um buraco de pingueira
No batente de pau do casarão

Eu conheço a história de um batente


Que por mais de cem anos foi pisado
Quando a casa caiu foi retirado
Pra uma sombra que tinha assim na frente
E de assento serviu pra muita gente
Esperar com família o caminhão
Quantos anos ficou ali no chão
Esperando o amanhã com paciência
Acho até que existe consciência
No batente de pau do casarão

46
7
Luiz Carlos Monteiro
(1957)**

POEMA-FALÁCIA

Encontrei-a de súbito
ontem
na rua em que mora
e nesse instante abrupto
que a vi
a que vi era outra
nesse instante de ontem
onde foi
perfeito, meu equilíbrio
de imaginário navio
à deriva
ininterrupto, alado
sem sobressaltos, couraça
e não-brusco:
Falácia
– Que vem
e que passa.

(In Poemas, 2003, p. 61)

468
POEMA SERTANIENSE
OU NAS RUAS DA VELHA CIDADE

Nas ruas da velha cidade


batidas de sinos vibrando
Vai lentamente um cortejo
silencioso avançando

Procissão missa ou enterro


os sem-aviso sondando
Se procissão – Muito bem
Se funeral – Isso é mau

Rua Velha
velha igreja
última bênção
Final

(In Poemas, 2003, p. 41)

46
9
Paulo Gustavo
(1957)* **

SONETO DA TRANSFIGURAÇÃO

Num canto de jardim fez o seu bosque


Aquele sem morada nem sossego.
À noite, quando a lua era o seu norte,
Seu riso era uma flor que dava medo.

Nunca falou de si, nunca chorava...


Era feito de argila e de silêncio
E mesmo sem ter Deus tinha uma alma
Cujo nome infinito era segredo...

Diz a lenda que as horas mais furtivas


Passava a espantar-se de estar vivo
E a falar de ninguém estranhas línguas...

Um dia amanheceu transfigurado:


No seu semblante ardente um fogo extinto
Boiava como a luz dos afogados!...

470
MÃE

Mãe – dicionário de afeto


E de serviços,
Jardim do Éden
E oceano íntimo.

Quando a noite sobrevém, surgem de ti


[velhos caminhos.

Mãe – o primeiro vinho.

47
1
Erickson Luna
(1958-2007)* **

EPITÁFIO PARA UM BUROCRATA

Faz da gravata
a força
a fina veste
á tua mortalha
e teu birô
o teu esquife

Do gabinete ao túmulo
vade retro burocrata!

472
DO MOÇO E DO BÊBADO
A Fernando Pessoa

I
Por vezes vejo-me
em todo e a olho nu
na intimidade
do estar a sós comigo
e assim sem ter com quem
não fazer nada
tudo ao redor
parece retardante

II
É quando um moço
que há em mim levanta
me torna em parte
e brada apaixonando:
“não vês que a história
abre pernas à tua frente
toma-a que é fêmea
e lha fecunda co‟algum sangue
seu ventre é fértil
e ela amante insaciável
vive nos povos
a partir revoluções”

III
já outro o escuta
em rir indisfarçado
não se levanta
a embriagues não lho permite
a voz que é rouca

47
3
entrecortada por soluços
chega aos ouvidos
do poeta que reflete:
“vai
abraça-a firme
e sorve o vinho do seu romance
esconde o rosto
entre os seus seios rijos
e enlouquece
ao sabor das suas ancas
morrendo em êxtase
talvez me compreendas
e ao perigo das paixões
em quantos leitos
tem deitado a vil rameira
a quanta cria abandonando
gerações
e no entanto
seu cantar é se sereia”

IV
e já ouço passos
abro os olhos pro redor
alguém por perto
quem estava dentro
lá se esconde
e já sou eu
que não querendo conversar
lembro O Poeta
“sempre uma coisa
tão inútil quanto a outra”
talvez por isso
e é mesmo
eu não me desespere
embora saiba toda espera vã

474
Flávio Chaves
(1958)**

UMA CANÇÃO DE AMOR PARA VIOLETA

Na terra não existiu semelhante canto


tecido das maravilhas do tempo
quando circula aroma no pulsar das horas e
o ritmo do coração corre nas lembranças
do corredor da infância abrigada nos quintais
braços presos na geometria da luz dos
[castiçais
A música do teu amor em mim é meu solfejo
no exercício noturno do abraço escandido em lança
da caverna de fúria com que te devoro na
[cálida noite
onde te guardo no meu fôlego e a humanidade não
[te reconhece
Lá fora o açoite do jardim sopra lascivo e sôfrego
[nos aquece
Aspiro a fragrância dos teus sagrados gritos
e atônito me guio pelos giros de teu
[olhar-borboleta
que demarca a acrobacia de teus quadris no
[meu corpo
a flutuar na odisséia do labirinto
Canto loas na noite de ventania
amo o siroco e a lua de areia
e abelha pousas fêmea na carne de meus impulsos

47
5
enchendo de melodia as paredes cegas da paisagem
[excitada
onde geme côncava labareda de meu corpo e
[não adormeces
Um terço de favos conduz o orgasmo de nossa prece
habito hóstia e vinho na litúrgica viagem
e o espelho afoito espalha fascínio na passarela
onde a pupila aflita dilata em frenesi o sol
[e a lua
Arcanjos imaginários desfilam no sono das ruas
bailando no vértice do ar enfurecido
que o meu corpo ao penetrar no teu e tu em mim
desenha notas e claves no átrio da partitura
[ensandecida
flamejante por um anjo que reza:
um canto de amor assim nunca se viu
[na terra

(In Memorial da distância, 2002, p. 31-32. Disponível em: Plataforma


para a Poesia: <http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/
flaviocancao.htm>)

476
A ALMA COMO TESTEMUNHA

Em silêncio galopo nos braços de Deus


lendo um quintal de cartas e madrugadas
Fevereiro traz amor na fábula da sonata
e o céu, o calendário, o brinquedo: são só teus

Onde reina a infância de alfenim no almanaque


da ausência ancorada no relógio da algibeira
rebanhos de fadas ensaiam o riso no parque
como quem escreve amor no lenho da oliveira

Pastores conduzem a linguagem no rebanho do coração


o mistério soletra castelos de vinho do porto
a afagar nos teus olhos a luz viva da mão

Repicando cantigas de cristal em sino de aquarela


que o amor-verão arruma a alma e esconde o tempo
pautando metáforas agudas no horizonte da janela.

(In Memorial da distância, 2002, p. 49)

47
7
Francisco Espinhara
(1960-2007)* **

NATUREZA MORTA
A Francisco Espinhara

Aquele velho emoldurado pela janela gasta. Aquele


velho gasto.
Aquela janela de reboco áspero, sem luz que penetre.
Aquele olhar fixo, sem brilho que o alcance.
As rugas, as rugas, o retrato na penumbra, sem brisa
que o suavize.
Aquele velho sou eu.

478
BLACK SABBATH

Quero as manhãs incendiadas.


O resto do dia diabo aceso
As cabeças das mães degoladas
O monge da paz num poço preso.

Que despenquem das varandas


Flores de bálsamo perfumadas.
Venham ungidas de lavanda
As faces das crianças maceradas.

Que o golpe destro do punhal


Esfrie o sabor da língua.
As vísceras deixemos ao chacal
Ou morram mesmo à míngua.

Que o ódio atropele o amor


Não se dê à paz morada.
O mundo seja um barril de dor
A rolar incessantemente pela escada.

47
9
Luis Manoel Siqueira
(1960)* **

BOLSA DE VALORES

Um caminho no sertão
vale uma avenida
e um cavalo, mesmo velho,
um caminhão.

Um banho de enxurrada
vale, assim, a própria vida
num açude ou corredeira pelo chão.

Um aboio de vaqueiro vale um hino,


e o pião de um menino
um avião.

Um chocalho de ovelha
vale um sino
e uma casa, mesmo velha,
a solidão.

Contemplar a natureza vale a pena


um poema vale igual a uma oração.

E o valor daquela estrela imorredoura?


que igreja se compara à manjedoura?

480
PLANOS DE JOÃO MAURICIO DE
NASSAU-SIEGEN AO PISAR EM TERRA FIRME

Com pouco faço meu sonho


da espuma do mangue, manjar
a paz eu retiro e reponho
depois num feitiço medonho
ordeno um boi voar.

Nos mangues farei meu castelo


com conchas e água do mar
depois a cidade modelo
construo uma ponte no meio
e deixo a vida passar.

Um forte cercado de dentes


com mil caranguejos armados
depois um jardim replantado
com frutas de cor tropical
jamais terá Portugal
composto tão belo fado.

Então ponho fogo em Olinda


e num afago de seio
mais pontes, castelos e ainda
o canavial pelo meio:
( Recife é o umbigo da índia
e a concha que surge no meio.)

O espaço que o sonho precisa


é a rota de cem caravelas
da Ilha de Antônio Vaz
aos morros de Casa Amarela

– Talvez seja tarde demais


já não terei tempo de vê-la...

48
1
Eduardo Martins
(1962)* **

O LADO ABERTO

O lado aberto te esconde


Em tua parte palavra
Neste lado quase ponte
Que se estende para o nada

Que quase mundo some


Do outro lado da fala
Para espelhar o indizível
Em outro espelho-muralha

Em teu silêncio-livro
O lado aberto se espalha
Em lados de mil ladrilhos
De sítios de mudas caras

De seu espaço infinito


Em desenho que se cala
O lado aberto te esconde
Em lado que nunca fala.

(Disponível em: Plataforma para a Poesia:


<http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/2004eduardom.htm>)

482
GEOGRAFIA DO MAL

Recife, diluidora
Dos meus sonhos
Tens água suficiente
Para afogar-me.

Tuas lâminas de vento


Ensaiam o corte
De minhas pontes
Respiratórias.

Em ti, sou ilha,


Cercado de males
Por todos os lados.

48
3
Isac Santos
(1962)*

CÂNTICO

Rosa se foi
com seu canto.
Rosa e a rede,
rosa e a casa,
rosa e a graça.
Rosa filha
rosa terra,
rosa mãe.
Mãe de todas as rosas.
Mãe.

(In Entre uma tarde e outra, 1996, p. 34)

484
REINCIDENTE

Mais uma vez, bato a sua porta,


mais uma vez, choro.
Não por medo, não por mim.
É o vento que não sossega,
é a lua que me rouba o sono,
é a cama que não me cabe
e os lençóis.
Mais uma vez, volto
menos aflito e mais desesperado.
Não por medo, não por mim.
São as aves que não conseguem dormir,
são as crianças que não conseguem
brincar
e me fatigam, me desnudam
e fogem.

Entre uma tarde e outra, 1996, p. 46

48
5
Cida Pedrosa
(1963)* **

a lágrima tatuada

como desenhar a lágrima


que ao rosto desce

curva a curva
tragédia a tragédia

dutos canais galerias


arquitetura de dor

como desenhar a lágrima


que ao rosto desce

rio de sombra
destroços noturnos

cicatrizes encharcadas
erosões do tempo

como desenhar a lágrima


que embaça as cores
pinga o verso e tatua o poema

486
luaredo

a cidade
morre aos meus pés

o mar
e as sereias carpideiras
entoam canções de despedida

o sol
coadjuvante agora
desta trama proibida
abandona a cena e não vê a atriz
que no camarim espera

vestida de amaranto
ela vem
esvoaçante e lúdica
tal qual princesa de muralhas

a terra
é picadeiro
e os homens se desarmam
em seus segredos de coxias

a urbe
se rende ao luar
e uma palheta de sonhos
muda o rosa do mar
e devolve prata a cidade

48
7
Weydson Barros Leal
(1963)* **

A PONTE DA BOA VISTA

I – O Rio
No Recife,
desde criança aprende-se o rio
olhando-o nos olhos,
vencendo-o sobre seu dorso,
tocando-o das varandas de suas pontes.

No Recife,
cada ponte é um rito,
uma música, uma bandeira,
é a costura que seca
os seus úmidos tecidos.

No Recife,
uma ponte não é só um caminho,
um alcançar a outra margem.
Seu corpo é o abraço que damos no rio,
é a volta do laço sobre a dança do rio,
é a batalha que vence
a fronteira da água.

488
II – A Ponte
Esta ponte não se curva
ante o império do rio:
são braços de ferro
que se erguem como incêndios

Grade que guarda o passeio,


gaiola aberta
peneirando a paisagem,
da Rua Nova à Imperatriz,
a menor distância é a sua passagem.

De longe,
a ausência do arco
une um lado a outro lado:
trança de espelhos
que no espaço se inscreve.

48
9
QUADRO

Os pés, as mãos,
as pernas, os braços,
a inflexão dos passos,
a boca – o beijo – as curvas dos lábios,
o nariz, as orelhas, os arcos
das sobrancelhas,
a nuca, as costas, o pescoço,
cada milímetro do rosto,
o colo, os dedos, as unhas,
o cabelo, as coxas, o pêlo,
os cílios, os olhos em que me vejo,
as reentrâncias da pele – as dunas
do que descrevem
o riso, os dentes, a língua,
a voz – os sons – a saliva,
a palavra que seduz,
os ombros, o tronco, os joelhos,
o desenho contra a luz,
a altura, o perfil, a cintura
da mais bela criatura
que Deus, para provar a beleza, criou.
Mulher ou pintura – quem sabe –, mas carne
[do mesmo amor.

490
Marcelo Pereira
(1964)* **

DEMASIADO HUMANO, MAS SEM PIEDADE


Para Raimundo Carrero e José Castello

Um pecador sem vaidade


escreve sobre o destino.

A pena de espinhos
sangra a página em branco
e enfrenta a dor e a traição da palavra
para nos libertar.

Toda esperança é inútil mesmo a quem ama


Os músculos da existência se esgarçam
em câimbras, em espasmos, em contorções.

O pecado é sagrado: sangue e esperma


Rogamos compaixão, mas estamos nus
e cegos diante do eterno

A queda do homem diante de Deus.

(In Tatuagem, 2006, p. 118)

49
1
UMA CHARADA TROPICAL

Por dentro
sem porta de entrada
como quem guarda
um mistério

líquido, mineral
traz vida no ventre

feto, placenta
que ao outro
alimenta

e se estende
como cabelos de palha canavial
sobre o corpo

em cachos de brinco
fantasias de carnaval
de baixo

do alto a queda
é mais intensa
que o mergulho

um meteoro
(– e não a maçã de newton – embora as duas tragam
[a semente)
Fruto

492
Ivan Marinho
(1965)*

FRAGMENTO DO ACASO

Sem gravidade flutuam


Estilhaços de um espelho
E cada parte reflete
Um fragmento do acaso.

Giram dando a impressão


De serem um universo
E são, de certo, mil vezes,
A expressão original

De uma parte perdida


A se olhar eternamente
Ali, imagem pra sempre,
Como se fosse real.

E menos se vê no mundo

E no mundo só se vê.
Entérica alegria
Buscando a rima vazia
De não ser, só parecer.

Poema selecionado para a coletânea do Sintep e para Scortecci

49
3
ALBERTO DA CUNHA MELO

Condenação e sacerdócio
Fazem de alguns homens Deus,
Onipresentes nas veias
Do universo ateu.

E nas plagas da ausência


Descortinam intenções
Nunca, jamais percebidas,
Incrustadas nas ações.

Santificam heresias
Em planos da divindade
E apesar de altos voos
Só do chão cavam verdade.
E até parecem gratos
Da condenação de ver,
Assim como a assumir

Um sacerdotal dever De
levar fogo ao trono
Fazendo acordar do sono
As colônias do poder.

494
POESIA IV

E se me disponho entre o azul e o tempo


É porque não a tenho e ainda procuro,
Contando dias, horas e minutos
Como quem marca a vida na parede.

Com braços abertos tu me aguardas


E seus olhos me fitam piedosos
E, no instante, dás-me a eternidade
E a certeza de que estás à frente.

Flores que te vestem de perfume.


Águas que derramam teus cabelos.
Passos incontáveis e a distância
Dos lábios abertos para mim.

Quanto mais desejo, menos quero:

Antinomia entre se ter ou ser


Pois, se tenho a ti, o voo toma as asas
Mas, se sou teu, tu pousarás em mim
Tornando cinzas o que eram brasas.

49
5
Mário Hélio
(1965)*

SINESTESIAS

I – CANÇÃO INVERTIDA PARA MARIANA


(Para ser lida ao espelho, ou olhando pelo vidro
[do carro numa noite
Iluminada de muita chuva)

tudo o que digo a ela é o oposto


e ainda assim contrario o que digo.
não sei dizer de outro jeito o castigo
e repito o não dito, com desgosto.

como foi fácil de esquecer o rosto


de mariana, e tudo o mais, nem ligo
que ela se importe de correr perigo,
quero pra ela um ano só de agosto,

aliás, nem tempo quero mais que exista.


refletindo melhor: espaço nem.
que ela troque de mar, ou nada a vista

de se perder ou desistir de quem


não quer saber mais dela: não insista,
mariana, que eu não lhe quero bem.

496
II – PRIMEIRA CANÇÃO SINESTÉSICA PARA MARIANA

mariana, quem foi, que vaga-lume, que


salamandra ou borboleta inserta em
todas as manhas que a luz desperta te
ensinou o milagre do perfume

que acendes na palavra, que resumes


de amarelos e azuis a cor mais certa
da tua voz tão sol janela aberta
aroma que inventaste de ter lume?

agora, mariana, aurora chama,


flores têm febre, mas não são estrelas
nem pirilampos quando a luz se enrama

como se fosse um sono simples velas,


são do jeito que és: aroma e chama
no mistério de cada coisa bela.

49
7
KATORGA

há uma hora exata a morte esguia


passou nesta rua e deixou um recado:
para desocuparmos o sobrado,
sem reação, nenhuma valentia.
éramos em seis. um que obedecia
sempre a ordens severas – o ordenado
da vida – fugiu logo, bom criado
em meio ao temor do meio que temia.
há uma hora enfim? não sei, havia
o caminho que nunca é palmilhado. me
ponho no centro calado e cansado
medonho e sem rumo, eu choro agonia.
seis c+r+u+z+e+s+ na estrada a morte que+ria.
a morte é o ocaso ou acaso aguardado.
um outro que não queria ser herói,
queria ser só seu, com liberdade,
segundo as informações da verdade
igualmente outrossim também se foi.
transhistória que corres e corróis,
este era gêmeo meu. que crueldade
há em cada um que a vida invade
que quando não cega nem nos mata, dói?
fechou todas as frestas um terceiro
e misteriosamente sumiu.
perdemos mais um nosso companheiro
quando uma das vigas da casa ruiu.
o que ficou comigo era um cordeiro.
lendo um pouco pra mim me distraiu
com os versos de um poeta ligeiro.
este era da morte o mensageiro.
bebeu (que lhe dei) algo caseiro,
fechou olhos e sonhos e dormiu.

498
só eu fiquei com a minha sombra dura+
como a pedra que sobrou, como os duros
comungam com os concretos puros+
como? em segredo, co+a+gula a amargura+
como posso ser feliz à procura
dos mortos amontoados nos monturos
onde dormem paliúros, tisanuros
que a vida sem piedade enclausura?
o medo é o que me restou de ternura+
a vida acre+dita seus rumos e muros
e nós (os mais sós) sonhamos no escuro.

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 238-239)

49
9
Fátima Ferreira
(1965)**

CALEIDOSCÓPIO

Sofri que só Foi


tanta dor Que
desmontei.

Depois, juntei os cacos coloridos


Os vidrilhos, os brilhos
E fiz um caleidoscópio
Desses, belos que sol

E toda tarde em meio ao jardim


Assisto as flores azuis, laranja e
Verde esperança, que brotaram em mim

(In Retratos. A poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 97)

500
FRAGMENTOS DA PÁTRIA

Minha terra tem palmeiras


Onde cantou o sabiá Gonçalves Dias
Mas depenou, tísica, amarelou e desbotou
Tem canteiros onde passeia Cecília Meireles
E grandes sertões, as veredas de Guimarães
Rosa do amor de Diadorim
Tem sacis, Lobatos e Monteiros
E pedras no meio do caminho de Drummond
Mas também tem mortes e vidas secas

Minha terra agoniza


Sob o sol de Ipanema
E mete bala no peito de Iracema, mulher
de Alencar
que mora no Leblon

Minha terra é superego de um anjo esquálido


Que toca trombeta no Zumbi
E mete banzo e bromato no pão
E enche o peito de formal
Quando diz, pátria amada!

(In Retratos. A poesia feminina contemporânea


em Pernambuco, 2004, p. 98)

50
1
Marcos D‟Morais
(1966)* **

ANTES DAS CIDADES EXISTIAM POETAS

Antes destes teus símbolos submersos


Dos teus palácios, pontes e aquedutos
Dos afrescos, vitrais, trilhos transversos
E da matéria cinza dos viadutos

Antes das ruínas, fortes e dos arcos


Das arenas, passeios e academias
Do sol refrigerado e dos teus marcos
Como as veias de aço destas ferrovias

Quando a taverna ardia em dor perdida


E amar a biblioteca atava a vida
Do teu porto secreto uma utopia

Fazer poesia e declamar ao nada


Sem viagens colossais, vê-la florada
Neste corpo meu, a tua geografia.

502
ATRACAR
A César Leal

Empresta-me o teu éter


A tua bomba de elisão à dor
Empresta-me o teu sangue
Infectado de poemas bons
O teu terno sujo de luxo
Ao menos na fotografia
Empresta-me o teu sol
Para um novo rei melhor
As tuas cordas e teus metais
Empresta-me as palavras
Os ácidos e os sais
Empresta-me o teu mar
Os teus sonhos de corsário
Teu objeto de trabalho
Empresta-me o teu chá
E chocolate
Empresta-me o mercúrio
O chumbo e a prata
A data de aniversário
Os parabéns
Empresta-me tua agenda
O teu mapa, tua senha
E os memorandos também
Empresta-me a tua espada
O canhão, a artilharia
O vinho e as especiarias
Empresta-me tuas mãos e anéis
Tuas linhas do futuro
Tua família, teu único cão
Empresta-me a tua alma
A tua fé. Amém.

50
3
Silvana Menezes
(1967)*

Quero escrever meus versos


No teu corpo nu
Que minhas mãos façam
Sonetos em ti

Que minha boca declame


Beijos na hora exata
Da entrega dos amantes
Que o desejo ultrapasse o frevo

De uma noite de carnaval em Olinda


E os confetes e serpentinas
Sejam os nossos poros abertos
No calor dos sussurros

Quero que você componha


Sua música em mim
E assim, nos tornaremos
Belos, simplesmente

Não quero mais saber


De escrever poemas em frios papéis
Quero sim, que minha palavra
Seja apenas esse ato de amor!

504
as andorinhas sobrevoam o mar dos Milagres num
[fim de tarde de
abril, meu coração em dia de agonia
Pelas correrias da vida, sem seguranças de chegada,
Preso, saltitando em mim, se acalma
Olhando a paisagem consagrada, sagrada,
Aquele balé me encanta
Saio caminhando fascinada pela imagem sublime
Atravesso a praça em construção. E paro o dia.
Observo as aves de arribação
Enquanto o vento divino sopra as águas
Olhando a minha direita vejo o sol me sorrindo
[numa tela de
encantadora beleza de cores
A desejar-me um até amanhã imponente, certeiro
Inebriada, olho para o mar e uma andorinha solta
Voa rente as ondas finas. Senti inspiração intraduzível
Como se entre ela e o mar, estivesse eu
Leve como o vento
aquecida de amor e calmaria.

50
5
Antônio Campos
(1968)* **

REINO DO VERDE

O trono da minha terra é verde,


folhagem forte. Música, canto de canário,
galo de campina, cigarra estourando os peitos.

Não é de ouro, metal ou argamassa, é trono vivo


de cor, cheiro e graça. Vestindo o manto verde,
salpicado do branco das casas.

Trono que se banha ao sol e corre nos rios,


coberto de papoulas, jasmins, girassol.
o trono da minha terra é verde, folhagem forte.

Lavadas manhãs pousam nos pastos, flores e frutos


se abrem. E as mulheres e os seus vestidos são a sua
cor também feita de pano e carne.

As canas são punhais


fincados no massapé da Mata,
que juncado das flores dos cajás
e flamboyants, tanto cobre-se de ouro
como abre-se em chagas.

506
Em cada passada, uma poça d‟água.
A terra querendo prender o homem:
guarda o rastro da sua caminhada.

O cheiro dos bogaris


nas verdes campinas molhadas.
O rio corre lento, maior que
o terraço que rodeia a casa.

Noites de escuro, candeeiros acesos,


bandos de vaga-lumes imóveis de pavio,
cobertos de lata.

A casa é branca e o rio castanho


como o mel e as crinas dos cavalos.
O jardim não tem tamanho, dura toda
a Mata sem intervalos.

O rio se alonga, se alonga


como um enorme braço que tudo
quisesse trazer de volta.

O trono da minha terra é verde,


um verde vivo, verde mais que verde
o verde cor e sumo de todos os verdes.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p. 73)

50
7
O ANIVERSÁRIO

Neste dia de aniversário,


recordo e lembro no embalo
das velhas amizades o peso
da gasta palavra saudade.

Carrego além do corpo


a danada mania das lembranças,
na busca de salvar do tempo
reinos e sonhos da infância.

Por isso, triste,


busco as fugidias alegrias,
insisto e teimo na teimosia
de querer viver antes e além dos dias.

Modifico, transformo e faço


o meu próprio calendário,
que o tempo também se inventa
apesar do seu indomável itinerário.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p. 46)

508
A ESPERA

Esta espera é pássaro ferido,


inerte desejo de voo e altura,
acima: o céu azul e limpo,
ao lado: o sangue a escorrer puro.

Esta espera é prolongado sono,


tempo dado ao momento de partida.
É instante de decisão entre o vôo, mesmo ferido,
ou o chão sangrento, o resto de vida.

Esta espera é consciência do tempo,


hora e momento, aprendizado com a terra:
as suas estações, tempo de sol e escura noite,
verão áspero e inverno desmanchando-se em águas.

Esta espera é o coração quem destina, momento


[além das horas,
antes e depois das marcas, é tempo
aprisionado, mas tempo nosso,
certeza e engano, nosso sonho imperturbável.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p.32)

50
9
S.R. Tuppan
(1969)* **

VIDA

Eu pego da curva do sossego


Imagino uma lágrima alegre
Destes campos invento harmonia
Pois o dia é a luz do meu suor

A saudade é a lâmina certeira


A distância é a dúvida maior
Corta os campos e vivo nas veredas
Alamedas e praças todo encanto
Invadindo as casas e as narinas
O menino sozinho nas colinas
Onde o vento é viril e gemedor
Canta o povo um canto sofredor

Não me espanto ante vícios ou virtudes


A visão alarmante das cidades
Construindo com tal capacidade
A desgraça e o terror das atitudes

Mas o medo e o gemido são segredos


Conhecidos antigos da coragem
A viagem é curta ou se alonga
Nestes versos amigos da verdade

510
Vou contar a história sem delonga
Que é pro olho abrir ao Universo
O brilhar o brinquedo a bondade
E viver com tal fraternidade
Acabando o desprezo pelas gentes
Dos que não e que só e nunca irmãos
A beleza é um livro de veludo
Tomo tudo em uma aguardente
Quero corpo areia incandescente
O amor é o fogo que incendeia
Sem calor não se chega ao céu sensato
É um fato o mistério das sereias
Só não vê quem não quer ou nunca pôde
Só pode quem quer tendo vontade
Vou abrindo a idade a idéia
A cadeia é a brutalidade
A aranha sempre tece a sua teia
Salve o germe com mais fertilidade

A poesia nos salva da burrice


A tolice e a mesmice não impedem
Que o País seja um sonho e que Alice
Numa rede acorde qual donzela
Ela é bela ela é flor eu sou carinho
Vôo sóbrio de ave sobre o ninho
Quem me sabe me chama passarinho
Mas eu não sou assim tão evidente
Gente bicho minério ar planta
O espírito mau não se levanta
O juízo final já se apronta
Dou-lhe uma dou-lhe duas dou-lhe três
Mas eu vou sempre em frente
E vocês?!

51
1
CAMINHOS MISTERIOSOS

Como uma lâmina percorro teu pescoço fino


Descendo, perco-me no vale de mel acre
Dizendo-me sim, encontro teu sorriso árido
Volto a perder-me, então suspiro

Teu sexo sobre meu juízo – massacre


Do vinho da paixão do anjo imberbe
Num giro/sorvo lavas de teu vulcão dorsal
Deixo-me solto em teu fulgor total

Teus seios sugo e o leite é doce


Já teus escarros, faminto absorvo
Tal néctar bom. Se abelha fosse,

Pousaria em tua flor. Mas, sendo corvo,


Como teus milhos e a ti devolvo
Em mijo e vômito: amor, me regozijo!

512
Múcio de Lima Góes
(1969)* **

POEMA EM AUTO RELEVO

sou como Deus,


sendo às avessas:

escrevo torto
por linhas certas.

51
3
INSENSAÇÃO

Incenso aceso;
meu peso, penso,
não vem de agora.

Ontens de mim
carregados de tempo
voam por aí vidafora.

O que vejo quando me invejo,


não grito, murmuro.

Futuro? Adeus.
Pertenço a outro momento,
onde invisível transfiguro.

514
NAU FRÁGIL

quando amar
não tem siso
n
a
u
f
r
a
g
a
r

é preciso

perca
a noção
do perigo,

faça
do relento
o seu abrigo:

kamicase-se
comigo.

de que
me adianta
saber
se há vida
em marte
quando
já tive

51
5
a sorte de
saber que
há vida em
morte

516
Malungo
(1969)* **

DEUSES SONOROS

Emboladores envenenados
tiram fogo do chão.

Coqueiros digitais,
caboclos fumegantes.

Antenas azougadas,
quilombos, lama:
caótica cidade.

Maracatus ao molho:
garçons e alfaias surdas.

Ganzás em oitavas:
tenores em canto livre.

Dj’s se conectando
com a frequência do céu.

Leões encantados
introduzem o groove.

Cânticos de guitarras:
cangaceiros ao pôr do sol.

02/12/2004

51
7
HARPAS

Nas esquinas,
trombetas e clarins.
Frevos e maracatus
deslizando no aroma do som.
Infernos e primaveras:
urubus cantarolam nos jardins.

Dragões insossos
brilham dentro do freezer.
Sereias soçaites:
de tamanco e ganzá.
Serpentes mergulham
em nuvens azuis.
Jesus aterrissa leve
no Campo do Jiquiá.

05/05/2004

518
Micheliny Verunschk
(1972)* **

ESFINGE

Traz teu encanto


De cidade perdida
Junto ao meu peito
Pois nos meus mapas e manuscritos
Não te encontro.
E talvez só no teu corpo
Exista a chave
Que te decifre
Ou me devore.

51
9
TRÓIA

Toda saudade
Repousa nas palavras,
Tem cheiro de pinho
E ossos muito brancos.
Todas as saudades
São velas arreadas
Dos mastros dos batéis,
Última visão da chama apagando,
Canção de helenas nuas
Perdidas nos lábios de ílion.
Em tudo,
O teu nome de pedra,
Saudade,
Cadela morta.

520
Pietro Wagner
(1972)**

AVES

assim que foram feitas as horas um


pássaro voou pela eternidade voou
pelos ares tal pássaro que era
voaram com ele todas as esferas
erguendo os arcos
além das colunas, além das estrelas
erguendo o lume já visto
o lume, as eras

voava tal pássaro, ave que era,


voava tal pássaro e os verões
levava nas garras, tão garras que eram,
levava numa tempestade de nãos às mãos e às guerras
às guerras de pássaros, guerras,
e os infernos e as primaveras
e todas as cores de uma calmaria
continham-se continham-se
como não se contêm as alegrias

e era o pássaro um pássaro


e era a terra a terra

pássaro e terra, astros


naves navegadas

52
1
pedras de dias claros, pedras
levaram seus nomes aos profetas
levaram seus dias ao acaso
e pedras e astros,
que eram, tão sangue são as terras,
tão barcos os barcos,
tão poucos os metais e as estrelas,
que pássaro e terra pousaram

pousaram num prado vasto


um vasto solo sagrado
um só um solo sol de mastros
um só um sol de mar e astros

mas se faz na tempestade o metal que sim


o metal e a lástima desse sim
esse timbre de mortalha que se ouve quando os
[sóis pintam
as águas que se vão, as águas que se nuvenficam
verões sem pássaros

e desde estas tem tempestades


destes pássaros, destes nãos
desde a primeira matéria à primeira carne
da primeira lua, os primevos lumes
as primeiras horas dos rios
viu-se voar por sobre as pedras, estes ares
um ritmo de asas várias
ritmo de aves despertadas
que por todas as nervuras do eterno
fez cair a tarde
lágrima e minério de tempo
que fez do sol a estrela o dia
e dos pássaros a manhã de todos os nomes

522
para deixar a noite cobrei todas as casas com a cor e
[as horas da
eternidade.

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 244-245)

52
3
ANUÁRIO 2
LOGOFANIA

depois do teu nome já todos os nomes te dizem


e as aves que te levaram no inverno
calam e esperam

agora já tens todos os nomes

agora já és em todas as terras

e os mastros e as esferas
e todos os meses do ano te esperam

agora já tens teu dia


que ergues pelas eras a dividir os ares
a dizer que sal e terra
o mar e as tempestades,
temperam teu sangue
porque já é tempo das gaivotas
e levas na mão o vento
que estas aves esperam
que estas aves te deram

agora já tens os nomes


como bússolas fiéis – nelas confia –
agora já és os nomes
como mastro de pedra – eles te adiam –
agora já vês que os nomes
são ondas de terra
os montes e as cercanias
que vês quando vens sobre as ondas macias

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 246-247)

524
Delmo Montenegro
(1974)* **

O CÃO LINGÜÍSTICO

o cão lingüístico ou
a fundição de pelos S/A
socado pelos marchands
ou o grande espartilho cósmico
interagindo com as assemblages
do teu focinho de romance a óleo
que jorra dinheiro verdes
como um girassol
no plexo-sutra-em-si de 100 seios
de Shiva sonhando na madrugada cármica
o cão algébrico ou
música barroca na histeria de Newton
poemas com microtons
entre acadêmicos de frottage outro
crayon ou néon neolítico entre nós
as obras-primas do acaso

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 216)

52
5
non-music: eyeliner

Goodbye XXth Century


: estilhaços
no
yes

526
o que resta

sol-scelsi: rigor-nada

I-Ching
: paráfrase-vento

mutations

52
7
olho-cárdio-prenome
: fossa abissal

silêncio

construto-carne
que sator-opera-rotas

olho-
ilíaco
-tempestade

: casa do homem

I-Ching
: paráfrase-vento

528
metástase-ichbinlicht
-vômito
-dies irae
fragmenta

sol-scelsi: rigor-nada

52
9
geografia
: não-lugar
apartamento-deus-caos

530
homem-húmus

músculo-délfico
: via-láctea

músculo-artrópode-estrela
: liber vulgata

músculo-flor:
carcicoma-ouvido

nada

53
1
non-music: eyeliner

cadáver-homem-ouvido

pós-som
acaso

532
Antonio Marinho
(1987)* **

TRISTEZA NOTURNA

Em meio às paredes de um quarto sombrio


Já quase cinzentas de tanto escutar
Lamentos de dor, eu sinto o vazio
Brotando das telhas negras de amparar

O nada me invade me faz contemplar


Eu rezo tentando por a culpa em deus
Mas logo o perdoo ao sentir brotar
O pranto que banha estes lábios meus

Os lábios que um dia dormiram nos teus


Que já te cantaram, fizeram-te açoite
Tornaram-se tristes, qual lábios ateus,
Contando as estrelas vigias da noite

E em horas amargas a noite se esvai E


junto com ela também me desfaço Pois
sei que o sol nascendo ele vai Trazer
claridade calcada em mormaço

E fecho a janela antes que a beleza


Invada meu quarto, clareie o meu cenho,
Pois temo que a luz me leve à tristeza
Que é o que tenho, somente o que tenho

Recife, agosto de 2005

53
3
SEM PALAVRAS

Escrevi mil e uma fantasias


Pra falar-te do meu imenso amor
Que és o sol para todos os meus dias
E és o mel que adocica o meu ardor

Que és o mais belo e puro beija-flor


Sugando o néctar da minha poesia
Que me fazes voar como um condor
E que és para mim estrela-guia

Ao terminar pedi ao coração Que


escolhesse uma declaração Mas
me perdi no imenso labirinto

Achei por bem calar e concluí


Mesmo dizendo tudo que escrevi
Eu não diria a ti tudo que sinto

534
Notas Biobibliográficas

Convenções: *dados e poemas fornecidos ao Ins-


tituto Maximiano Campos (IMC) pelo(a) autor(a) ou
seus espólios e contatos especialmente para esta anto-
logia, conforme documentação arquivada no acervo
literário do Instituto, no ano de 2005; **nascidos em
Pernambuco.
Observação: Procuramos listar todas as obras dos
autores encontradas por nossa pesquisa, em verso e
em prosa. As de poesia não receberam observações
após as datas, ao contrário das demais. Mesmo quando
não nos foi possível localizar o gênero literário a que
pertencem os títulos indicados, optamos por citá-los,
para facilitar estudos posteriores de aprofundamento
biobibliográfico sobre cada autor. Excepcionalmente
citamos dentro do texto as obras poéticas de autores
cuja bibliografia muito extensa tirava a evidência de
suas poucas obras poéticas publicadas.

ADELMAR TAVARES da Silva Cavalcanti (1888-


1963)**
Advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nas-
ceu no Recife, PE, em 16 de fevereiro de 1888 e faleceu
no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963. Em
1909, concluiu o Curso de Direito, na Faculdade de
Direito do Recife. Foi redator do Jornal Pequeno e, em
1907, com o livro Descantes, obteve a consagração poé-
tica. Em 1926, ingressou na Academia Brasileira de
Letras, ocupando a Cadeira nº 11. É popularmente co-
nhecido como “Príncipe dos Trovadores Brasileiros”

53
5
Obras do autor: Descantes (1907); Trovas de trovadores
(1910); Luz dos meus olhos, Miriam (1912); A poesia das
violas (1921); Noite cheia de estrelas (1925); A linda men-
tira (1926); Poesias (1929); Trovas (coleção dos poemas
de amor) (1931); O caminho enluarado (1932); A luz
do altar (1934); Poesias escolhidas (1946); Um ramo de
cantigas (1955).

José ALBERTO Tavares DA CUNHA MELO (1942-


2007)* **
Poeta, jornalista e sociólogo, nasceu em Jaboatão, PE,
em 8 de abril de 1942 e faleceu em 13 de outubro
de 2007. Filho e neto de poetas, fez parte do Grupo
de Jaboatão que, conforme o historiador Tadeu Rocha,
constitui a nascente da Geração 65 de escritores per-
nambucanos. Seu primeiro livro de poesia, Círculo Cós-
mico, foi editado em separata da revista Estudos Uni-
versitários, em 1966, por iniciativa do poeta e crítico
César Leal. O último livro publicado em vida foi tam-
bém de poesia: O Cão de Olhos Amarelos & Outros poemas
inéditos (2006), e foi publicado pela A Girafa Editora,
nas comemorações dos 40 anos (1966-2006) de poesia
do autor. Essa obra consagrou-o definitivamente pois
obteve com ela o “Prêmio de Poesia da Academia Bra-
sileira de Letras” de 2007, anunciado dois meses antes
de sua morte. Dentre os fatos que marcaram a sua in-
tensa atividade cultural, destacam-se a sua atuação nas
Edições Pirata (1979 a 1984), movimento editorial al-
ternativo que publicou mais de 300 títulos de autores
novos e consagrados, a criação e organização do Prêmio
Anual de Poesia Carlos Pena Filho (1982 e 1983) e a edi-
toria das páginas do Commercio Cultural, do Jornal do
Commercio (1982 a 1985), bem como da coluna “Marco
Zero”, na revista Continente Multicultural. Na área ofi-
cial, exerceu vários cargos públicos, destacando-se o
de Gerente de Bem-Estar Social do SESC – Delegacia
do Estado do Acre (1980 – 1981) –, o de diretor de

536
Assuntos Culturais da Fundarpe – Fundação do Patri-
mônio Histórico e Artístico de Pernambuco (1979 a
1980 e l987 a l989) – e o cargo de Diretor do Arquivo
Público Estadual de Pernambuco (1988). Na virada do
século, foi incluído nas antologias de edição nacional,
Os cem melhores poetas brasileiros do século (2001) e 100
Anos de poesia – Um panorama da poesia brasileira no sécu-
lo XX. Mesmo avesso aos prêmios de poesia, nos quais
nunca se inscreveu, sua obra Meditação sob os Lajedos
(2002) obteve o quarto lugar da primeira versão do
“Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira”,
em vista da metodologia desse prêmio, cujos títulos
são votados por júri nacional. O mesmo ocorrendo
com o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de
Letras, em 2007, cuja inscrição não é feita pelo autor.
No livro Yacala (1999), Alfredo Bosi coloca a sua obra
à altura das dos poetas, Jorge de Lima, Carlos Pena
Filho e João Cabral de Melo Neto. No posfácio da
mesma obra, Bruno Tolentino informa que “Alberto
da Cunha Melo não só confirma sua reconhecida es-
tatura de poeta maior em nosso idioma, mas inscreve-
se definitivamente entre os grandes, os maiores vates
de nosso tempo em qualquer língua que eu conheça”.
Em 1968, na antologia Agenda poética do Recife, orga-
nizada por Cyl Gallindo, Joaquim Cardozo assim já o
apresentava: “há uma dor no poema, há uma carta,
uma comunicação para os outros, quaisquer outros;
nele a poesia existe como um „para sempre‟”. Grande
admirador da poesia do repente, publicou duas re-
portagens biográficas sobre os dois nomes definitivos
desse gênero: Jó Patriota e Louro do Pajeú. O espólio
do poeta encontra-se sob os cuidados da inventariante
Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo, a viúva do
poeta, a quem ele dedicou o livro Clau (1992) que foi
relançado em Braille pela Biblioteca Pública Estadual
de Pernambuco, na primeira homenagem que o es-
critor recebeu após sua morte, durante as atividades

53
7
da IV Festa Literária Internacional de Pernambuco.
Em 2009, a Companhia Editora de Pernambuco pu-
blicou Marco Zero, uma seleta de crônicas da coluna
(2000-2007) de mesmo nome, editada pelo poeta e
publicada na revista Continente Multicultural, da mes-
ma editora. O poeta não viveu o suficiente para ver
realizado o seu grande sonho: a publicação de Benedi-
to Cunha Melo, Poesia seleta (2009), coletânea da poesia
do pai, organizada por ele. A edição foi viabilizada
pelo amigo, poeta e ficcionista da Geração 65, José
Luiz de Almeida Melo. Alberto da Cunha Melo é de-
tentor de uma fortuna crítica considerável e, na área
acadêmica, já possui vários trabalhos monográficos,
destacando-se Faces da Resistência na Poesia de Alberto da
Cunha Melo (Fafire, 2002), de Cláudia Cordeiro, a dis-
sertação Metapoesia e profecia em Alberto da Cunha Melo
(UFPB,2005), mestrado de Norma Maria Godoy Fa-
ria, e a tese Imagens, reverberações na poesia de Alberto da
Cunha Melo: uma abordagem estilística do texto (USP,
2007), de Isabel de Andrade Moliterno. No endereço
virtual do poeta – www.albertocmelo.com – é possível ob-
ter informações mais detalhadas.
Obras do autor: Círculo cósmico (1966); Oração pelo
poema (1967); Publicação do corpo (1974); Dez poemas
políticos (1979): Noticiário (1979); Poemas à mão Livre
(1981); Soma dos sumos (1983); Poemas anteriores (1989);
Clau (1992); Carne de terceira com poemas à mão livre
(1996); Yacala (1999); Yacala (com prefácio de Alfredo
Bosi, 2000); Um certo Louro do Pajeú (2001, reporta-
gem biográfica); Um certo Jó (2002, reportagem bio-
gráfica); Meditação sob os lajedos (2002); Dois caminhos
e uma oração (2003), O cão de olhos amarelos & Outros
poemas inéditos (2006); Marco zero (2009, prosa).

ALCIDES LOPES DE SIQUEIRA (1901-1977)**


Médico e poeta, nasceu em Sertânia, em 1901, e fa-
leceu no Recife, PE, em 1997. Após terminar o Curso

538
primário em Sertânia continuou os seus estudos no
Ginásio Pernambucano do Recife. Seguindo para a
Bahia, formou-se em Medicina pela tradicional Es-
cola de Medicina da Bahia, em 1927. Exímio sone-
tista, dominava com mestria e competência a arte da
poesia. Com apurado domínio técnico das formas de
versos fixos ou livres, legou-nos uma notável obra. Foi
prefeito de Sertânia em 1937 e deputado estadual em
diversas legislaturas. Escritor dos mais profícuos, fez
parte da Sobrames – secção de Pernambuco. Fez parte
do Movimento Armorial, liderado pelo escritor Aria-
no Suassuna. Alcides Lopes de Siqueira é antologiado
no Dicionário do Folclore Nacional de Luís da Câmara
Cascudo, no Roteiro de Velhos e Grandes Cantadores de
Luiz Wilson, no Dicionário biobibliográfico de poetas per-
nambucanos (1993) de Lamartine Morais e no Novo
dicionário de Aurélio Buarque de Holanda (2009). Este
verbete deve-se à sugestão e envio de dados de Mar-
cos Cordeiro, poeta pernambucano que também faz
parte desta coletânea.
Obras do autor: Abelhas e rosas (1934); No tempo de
abadá (1961); Espelho de três faces (1985); O mundo per-
dido e outras histórias sertanejas (s.d.).

ALMIR CASTRO BARROS (1945)* **


Poeta e bacharel em Direito, é natural da cidade de
Maraial, PE, onde nasceu a 13 de agosto de 1945. For-
mou-se pela Unicap e exerce a função de assessor jurí-
dico da Fundarpe, desde agosto de 1987. É integrante
da Geração 65 de escritores pernambucanos. Por duas
vezes foi conduzido ao cargo de vice-presidente da
União Brasileira de Escritores (1989/90 – 1995). Em
2002, organizou a antologia 46 Poetas, sempre, uma
referência também para este nosso trabalho. Confor-
me afirma o autor, especialmente para esta antologia:
“Sua luta e vontade é alcançar uma poesia de mais
compreensão. No entanto, não dispensa em seu tra-

53
9
balho literário – o quase abstrato e assimétrico – para
atingir um verso de estranha ressonância e, por conse-
quência, contemporâneo de qualquer época”. César
Leal (1999) afirma: “Sua poesia apresenta influências
que o aproximam dos poetas espanhóis e italianos da
modernidade: G. Ungaretti, Eugenio Montale, Salva-
tores Quasimodo, Juan Ramon Jimenez.”
Obras do autor: Estações da viagem (1975); Os cães
da sina (1979); Ritmo dos nus (1992); O lugar da alma
(1998).

ALVACIR RAPOSO (1950)*


Nascido em Teresina, PI, em 1950, vive no Recife des-
de 1960. Formado em Medicina pela UFPE, 1974, é
oftalmologista, com pós-graduação (mestrado e dou-
torado). Atua, ainda, como docente na Universidade
Federal de Pernambuco e na Universidade de Per-
nambuco (UPE). É membro da Academia de Letras e
Artes do Nordeste, Cadeira nº 34; da Sociedade Bra-
sileira de Médicos Escritores (Sobrames-PE); da Aca-
demia Recifense de Letras e da Academia Piauiense
de Letras (membro honorário). Recebeu os seguintes
prêmios literários: Prêmio Mauro Mota – Fundarpe,
1992 e 1993; Prêmio de Poesia da APL, 1993; Prêmio
Ladjane Bandeira – Diario de Pernambuco, 1994; Prêmio
Eugênio Coimbra Jr. – Conselho Municipal de Cultura
do Recife, 1995; Prêmio de Poesia da APL, 1996.
Obras do autor: A resistência e a natividade (1994); A casa
do vinho (1994); O galo de metal (1995); Rua dos Arcos
(1996); O discurso do rei (1966); Sonetos, (1999); O territó-
rio (1999); Os tambores (2000); O pássaro e a arca (2001);
Ensaio das lâminas (2003); A chama intacta (2008).

ANA MARIA CÉSAR [Anna Maria Ventura de Lyra


e César] (1941)***
Poeta, bacharelada em Letras (Unicap) e em Direito
(UFPE), nasceu no Recife, PE, em 17 de abril de1941.

540
Realizou estudos da língua francesa na Alliance Fran-
çaise du Brésil. É membro efetivo da Academia de
Letras e Artes do Nordeste Brasileiro (ALANB) e da
União Brasileira de Escritores (UBE-PE). É sócia ho-
norária da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
(Sobrames). Foi outorgada com as medalhas:
Centená- rio da Academia Pernambucana de Letras;
Sesquicentená- rio da Biblioteca Pública do Estado de
Pernambuco. E rece- beu os prêmios literários: Vânia
Souto Carvalho – APL,
1994; Dulce Chacon – APL, 1997; Amaro Quintas de
História de Pernambuco, da Academia Pernambuca-
na de Letras, pelo seu livro A faculdade sitiada (2009).
Obras da autora: Lira e César. Juiz de Caruaru (1981,
ensaio biográfico); Gênesis (1984, crônicas); A bala e
a mitra (1994, ensaio histórico); 50 Anos do Senac em
Pernambuco (1996, história); O tom azul (1997, roman-
ce); Versos voláteis (1998); Habemus Panem. Memórias
de uma época (2000, prosa); No limiar do tempo (2005);
A faculdade sitiada (2009).

ÂNGELO José MONTEIRO (1942)*


Poeta, ensaísta, jornalista, professor de Estética e Filo-
sofia da Arte (UFPE), nasceu em Penedo, AL, em 21
de junho de 1942, filho do cirurgião-dentista Tomé
Rios Monteiro e de Maria de Lourdes Casado Mon-
teiro, operária de uma indústria têxtil. Com a morte
de sua mãe, em 1947, mudou-se com a família para
Pernambuco, residindo em várias cidades do interior,
principalmente Gravatá. Em 1982, foi aprovado com
distinção no Mestrado em Filosofia da UFPE, com a
dissertação: O conhecimento do poético em Jorge de Lima.
Pertence à Geração 65 de escritores pernambucanos.
No site pessoal do poeta, é possível obter informa-
ções mais detalhadas sobre ele.
Obras do autor: Proclamação do verde (1969); Didática da
esfinge (1971); Armorial de um caçador de nuvens (1972);
O inquisidor (1975): O ignorado (1980); O rapto das noites
54
1
ou o Sol como medida (1983); Tratado da lavação da burra
ou Introdução à transcendência brasileira (1986, ensaio); O
exílio de Babel (1990); As armadilhas da luz (1992); Reci-
tação da espera (1992); Poemas de Ângelo Monteiro (1995);
Os olhos da vigília (2002); O conhecimento do poético em
Jorge de Lima (2003, ensaio); Escolha e sobrevivência: En-
saios de educação estética (2004, ensaios).

ANNA ALEXANDRINA CAVALCANTI D’ALBU-


QUERQUE (± 1860–)**
Uma das primeiras poetisas de destaque em nosso
Estado, nasceu no Engenho Tamataúpe de Flores, na
comarca de Nazareth, Zona da Mata pernambucana,
em 1860. Era filha do tenente-coronel Joaquim Ca-
valcanti de Albuquerque, integrante da aristocracia
canavieira do Estado. Com a decadência do engenho,
Anna e sua família vieram morar no Recife. Não exis-
te data precisa de sua morte, mas se sabe que ainda
vivia em 1927. Conforme Henrique Capitolino, autor
de Pernambucanas illustres (1879), onde encontramos
seus poemas, “recebeu educação rudimentar, a única
que em geral recebem as senhoras brasileiras”. No
entanto, já aos quinze anos, escreveu “O que mais
queres!”, seu primeiro poema. Era leitora de Goethe
e de Balzac e estudiosa de História. Em seus pronun-
ciamentos, sempre lamentou as limitações impostas
à mulher em seu tempo. No Recife, colaborou com
poemas para os jornais O Ensaio, A Lucta e Correio da
Noite. Publicou igualmente versos no Almanaque de
lembranças luzo-brasileiro e no Jornal de Aracaju.

ANTÔNIO Ricardo Accioly CAMPOS (1968)**


Poeta, escritor, advogado, editor e empresário, nas-
ceu no Recife, PE, em 25 de julho de 1968, filho de
Maximiano Campos, ficcionista, poeta e advogado, e
de Ana Lúcia Arraes de Alencar, advogada e deputa-
da federal. Diplomado em Direito, pela UFPE, é es-

542
pecialista em Direito Empresarial, Eleitoral, Público
e do Entretenimento. É sócio partner da Campos Ad-
vogados empresa associada à Noronha Advogados,
com atuação em diversos países. Maximiano Campos
e seu tio Renato Carneiro Campos exerceram gran-
de influência na sua vida literária e possibilitaram,
desde a infância, a sua incursão no mundo dos livros
e a convivência com autores pernambucanos de di-
versas tendências, do grande mestre Gilberto Freyre,
então já consagrado internacionalmente, aos das ge-
rações emergentes à época, especialmente a Geração
65, à qual pertencia seu pai. À densidade desse lega-
do cultural somou-se a sua vocação nata pelo mundo
literário especialmente a arte poética que sempre o
acompanhou em seu intenso convívio social. Antes de
lançar o seu primeiro livro exclusivamente de poe-
sia, Portal de sonhos (2008), uma bela e bem cuidada
edição, Antônio Campos já lançara cinco livros seus
e mais a primeira edição desta coletânea Pernambu-
co, terra da poesia. Um painel da poesia pernambu-
cana dos séculos XVI ao XXI (2005), organizada em
parceria com Cláudia Cordeiro. Essa iniciativa veio
a consagrá-lo como um dos mais argutos pensadores
da literatura no Estado, pois há mais de três déca-
das não se reunia, em um único exemplar, um painel
de cinco séculos. A seguir, investe na edição do Pa-
norâmica do conto em Pernambuco (2007), em parceria
com Cyl Gallindo, que agora aparece em 2ª edição.
Antônio Campos faz parte de diversas organizações
sociais. À pertinência desta coletânea, destacamos:
Academia Pernambucana de Letras (posse em 2008)
e Academia de Artes e Letras de Pernambuco (posse
em 2007). É articulista do Jornal do Brasil, RJ, cola-
borador de jornais pernambucanos e conferencista.
Em 16 de março deste 2010, concluiu seu discurso na
Academia Sueca de Letras com a síntese da causa que
advoga: “Diálogo é a palavra-chave do mundo con-

54
3
temporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas”.
Impossível, no entanto, separar o poeta e escritor de
um dos mais atuantes empresários culturais brasilei-
ros, seja como editor ou como produtor internacional
de eventos, a exemplo da Fliporto – Festa Literária In-
ternacional de Pernambuco. A intensidade das ações
voltadas para a valorização da cultura brasileira, com
ênfase na literatura, tem raízes muito fundas: Com a
morte prematura do pai (1998), passou a editar todas
as obras dele, inclusive as inéditas, e o Instituto Ma-
ximiano Campos (IMC) – fundado em 2002 – passa
a ser o depositário do acervo literário e artístico do
escritor Maximiano Campos. Surge, assim, o editor
Antônio Campos, atualmente à frente da Carpe Diem
Edições e Produções e sócio de diversas editoras de
circuito nacional. Concomitantemente, Antônio trata
de intensificar o produto literário fomentando a vei-
culação das obras através do meio digital: em 2003,
Antônio lança a primeira versão do IMC na Internet
www.imcbr.org.br, com edição de Cláudia Cordeiro;
em 2008, veicula através da Fliporto Digital o projeto
MIX LEITOR D, primeiro leitor eletrônico de livros
com tecnologia de software 100% nacional e patente
requerida no segmento de e-readers no Brasil, que,
neste 2010, já é um produto lançado com absoluto
êxito no mercado nacional. Vale ressaltar que o Ins-
tituto Maximiano Campos (IMC) é uma sociedade
civil voltada para a valorização da cultura brasilei-
ra, especialmente dos valores literários, com ampla
atuação em Pernambuco e na região nordestina. Já
apoiou a publicação de mais de 100 livros de diversos
autores, e revigora a literatura emergente no Estado
através de concursos, apoio a lançamentos de livros e
outras atividades culturais. Antônio Campos é cofun-
dador do Instituto de Direito Privado da Faculdade
de Direito do Recife; Membro e Sócio Benemérito da
UBE-PE; Conselheiro da AIP; Palestrante Honorário

544
da Escola Ruy Antunes da OAB-PE, na cadeira de Di-
reito Eleitoral; foi Conselheiro Titular da 1ª Câmara
do 2º Conselho de Contribuintes da Receita Federal;
autor de artigos jurídicos e literários publicados em
periódicos, revistas e jornais; detentor da comenda
“Dom Quixote” da revista Cidadania e Justiça. “A ex-
pansão internacional das empresas nacionais tem de
estar acompanhada por uma diplomacia cultural, que
deve mostrar o melhor da arte e da produção inte-
lectual brasileiras”, a frase não representa apenas um
recorte de um discurso (Academia Sueca, 2010), mas
uma práxis que pode ser exemplificada por toda a
atuação cultural de Antônio Campos, mas principal-
mente enquanto curador da Festa Literária Interna-
cional de Pernambuco, um evento que já se inseriu
definitivamente no calendário cultural do país. A tra-
jetória desse empreendedorismo cultural remete-nos
às fontes da atuação de uma das personalidades mais
fortes da história política brasileira, o seu avô Miguel
Arraes, cujo vigor está implícito na atuação também
de seu irmão Eduardo Campos, governador de Per-
nambuco, e de sua mãe, Ana Lúcia Arraes de Alencar.
A poesia não está longe desse contexto, ela está ínsita
no ser, na inquietude, é princípio, Antônio Campos é
poeta. A principal fonte deste verbete é a Panorâmica
do conto em Pernambuco, que Cyl Gallindo redigiu para
a segunda edição, 2010.
Obras do autor: Mensagens (2002); Pense S.A. (2002);
O grande portal (2003); Direito eleitoral – Eleições 2004
(2004); A arte de advogar (2004); Viver é resistir (2005);
Pernambuco, terra da poesia, Coletânea, em parceria
com Cláudia Cordeiro, (2005); Território da palavra
(2006); Panorâmica do conto em Pernambuco, em parce-
ria com Cyl Gallindo, (2007); Portal de sonhos, poesias,
(2008). [Em]Canto – A voz do poema – leitura de Antônio
Campos, poesia CD, (s.d.); Diálogos culturais no mundo
pós-moderno, realizado em Estocolmo, março, 2010,

54
5
(2010); Clarice Lispector – uma geografia fundadora,
palestra proferida na APL, quando da comemoração
do Dia Internacional da Mulher, 25.03.2010; (2010);
A reinvenção do livro, conferência proferida na UBE-
PE, em comemoração do Dia Internacional do Livro,
23.04.2010, (2010); Diálogos contemporâneos (2010).

ANTONIO DE CAMPOS (1946)**


Poeta e tradutor, nasceu no município de Pedra, PE,
em 1946. Tem poemas seus traduzidos e publicados
na imprensa pernambucana e outros premiados, em
1982, pelo III Concurso de Poesia do Mackenzie, SP, e
I Prêmio Anual de Poesia Carlos Pena Filho, PE. Tradu-
ziu e prefaciou as Canções da Inocência e da Experiência
(1987), do poeta inglês William Blake. Em 1992, or-
ganizou a antologia Natal pernambucano, editada pe-
las Edições Bagaço, uma seleção de qualidade pouco
comum sobre esse tema.
Obras do autor: Mais forte que o mal (1979); Crítica da
razão vivida e outros poemas (1982); 20 Tiranas de amor
mais 10 canções de amor às avessas (1985); Feito no cora-
ção (1999).

ANTONIO MARINHO do Nascimento (1987)* **


Poeta, declamador e estudante de Direito, é natural
de São José do Egito, terra de poesia. Fruto de uma
família de tradição poética, é filho de Zeto e de Bia
Marinho, neto de Lourival Batista, bisneto de Antô-
nio Marinho, sobrinho de Otacílio e Dimas Batista,
de Graça Nascimento e de Job Patriota (por emoção).
Declamando desde os três e escrevendo desde os seis
anos, lançou aos dezesseis, seu primeiro livro: Nasci-
mento, pela Edições Bagaço, em 2003. Junto com ar-
tistas como Francis Hime, Olívia Byton e Bete Faria,
foi Piloto do projeto “Arca das Letras” (2006), uma
parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário
com o Ministério da Cultura. Em 2009, no lançamen-

546
to da Fliporto em Brasília, encantou uma plateia sele-
ta, que o aplaudiu com entusiasmo. Além de ter sido
publicado por jornais e revistas locais, foi também
divulgado pela imprensa nacional e internacional. É
estudante de Direito. Reside no Recife e faz recitais
por todo o Brasil. Na Internet, vê-se que Marinho se
prepara para investir no mundo virtual, seu endere-
ço, http://www.antoniomarinho.com/ (2010), anuncia
seu sítio virtual em desenvolvimento.
Obras do autor: Nascimento (2003).

ARIANO Vilar SUASSUNA (1927)


Dramaturgo, ficcionista, poeta, advogado, professor
de Estética, natural de João Pessoa, capital da Paraí-
ba, nasceu em 16 de junho de 1927, filho de Cássia
Vilar Suassuna e de João Suassuna. No ano seguinte,
seu pai deixa o governo da Paraíba e a família pas-
sa a morar no sertão, na fazenda Acauhan. Com a
revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos
políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para
Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. A partir de
1942, passou a viver no Recife, onde terminou, em
1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambu-
cano e no Colégio Oswaldo Cruz. Em 1950, bachare-
lou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Reci-
fe, onde conheceu Hermílio Borba Filho. Com ele,
fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em
1947, escreveu sua primeira peça, Uma mulher vestida
de sol. Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-
se professor de Estética na Universidade Federal de
Pernambuco. Mas nunca abandonou suas atividades
teatrais. Em 1959, em companhia de Hermílio Borba
Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste. No iní-
cio dos anos 60, interrompeu sua carreira de drama-
turgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE.
Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência, A onça
castanha e a ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura

54
7
brasileira. Aposenta-se como professor em 1994. Em
1970, lança, no Recife, o concerto “Três Séculos de
Música Nordestina – do Barroco ao Armorial”, com
uma exposição de gravura, pintura e escultura. Foi
Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no
Governo Miguel Arraes (1994-1998). Em 2000, tor-
nou-se Membro da Academia Paraibana de Letras e
Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (2000). Foi eleito para a Aca-
demia Brasileira de Letras em 3 de agosto de 1989 e
recebido em 9 de agosto de 1990. Em 1999, a Editora
Universitária da UFPE publica seu livro de poesia,
Poemas, com seleção e notas de Carlos Newton Júnior,
que, no prefácio, esclarece: “Encontra-se reunida,
neste volume, a parte mais significativa da produção
poética de Ariano Suassuna. Do ponto de vista quan-
titativo, a edição corresponde a mais da metade dos
originais datilografados aos quais tivemos acesso –
que representam, segundo o autor, quase todo o seu
trabalho em poesia”.
Obras do autor: Teatro: Uma mulher vestida de sol
(1947); Cantam as harpas de Sião (ou o Desertor de prin-
cesa) (1948); Os homens de barro (1949); Auto de João da
Cruz (1950); Torturas de um coração (1951): O arco deso-
lado (1952); O castigo da soberba (1953); O rico avaren-
to (1954); O auto da Compadecida (1955); O casamento
suspeitoso (1957); O santo e a porca (1957); O homem da
vaca e o poder da fortuna (1958); A pena e a lei (1959);
A farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina
(1962). Romance d’A pedra do reino (1971); Príncipe
do sangue do vai-e-volta (1971), O movimento armorial
(1974). Iniciação à estética, teoria literária (1975, ensaio
didático). Poemas (1999).

ARNALDO TOBIAS (1939-2002)**


Poeta, ficcionista, editor, artista gráfico, nasceu em
Bonito, PE, em 15 de novembro de 1939. Pertence

548
à Geração 65 e atuou intensamente na vida literá-
ria do Recife, onde morreu em 2002. Seu livro Po-
mar (1979) foi a fonte de criação das Edições Pirata,
editora alternativa que publicou mais de 300 títulos
de autores locais e nacionais. A iniciativa foi lidera-
da por intelectuais que, como ele, trabalhavam na
Fundação Joaquim Nabuco. Entre eles, destacam-se:
Alberto da Cunha Melo, Eugênia Menezes, Jaci Be-
zerra e Myriam Brindeiro. Editou, de 1981 a 1995,
o jornal alternativo Pró-Texto. Publicou, na impren-
sa pernambucana, vários poemas dentro da linha do
“Poema Processo”, alguns reunidos no livro póstumo
Singular e plural (2003), pelas Edições Mauritexstadt,
numa iniciativa do Instituto Maximiano Campos, que
financiou a edição. Pertenceu à União Brasileira de
Escritores (UBE-PE). E exerceu grande influência li-
terária sobre a geração de Escritores Independentes.
Obras do autor: Pomar (1979); Passaporte (1981); Nu
relato (1983); Tenda proibida (1987); O ditador e outros
contos (1981, contos); Quem sou eu? (1981, prosa); O
gavião e a coruja e o ratinho órfão (2002, prosa); Singu-
lar e plural (2003).

ASCENSO FERREIRA Carneiro Gonçalves (1895-


1965)**
Nasceu na rua dos Tocos, em Palmares, PE, na madru-
gada do dia 9 de maio de 1895 e faleceu no dia 5 de
maio de 1965, no Recife. Seu pai era o comerciante
Antônio Carneiro Torres e sua mãe a professora Maria
Luísa Gonçalves Ferreira, cujo apelido era Dona Maro-
cas. Em 1917, decidiu mudar o seu nome de registro,
Aníbal Torres, para Ascenso Carneiro Gonçalves Fer-
reira. No mesmo ano, fundou, com Antonio de Barros
Carvalho, Antonio Freire e Artur Griz, entre outros,
a sociedade Hora Literária de Palmares. Em 1922,
tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diario de
Pernambuco e A Província. Dois anos depois, passou a

54
9
escrever para os periódicos Mauriceia, Revista do Nor-
te, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade
e Revista de Antropofagia. Nessa mesma época, passa a
frequentar o “cenáculo” do Café Lafayette e se une a
um grupo de intelectuais que influenciaria sua obra
definitivamente. Nesse grupo, destacam-se: Benedito
Monteiro, Joaquim Cardozo, Osório Borba e Luís Jar-
dim. Participou, em 1926, do I Congresso Regionalista
do Nordeste e, em 1934, do Congresso Afro-Brasileiro,
ambos realizados no Recife. Seu primeiro livro de poe-
sia, Catimbó, foi lançado em 1927. Na década de 1940,
realizou conferências e estudos sobre divertimentos
populares do Nordeste. Participou da campanha pre-
sidencial de Juscelino Kubitschek, em 1955. Em 1959,
lançou no Recife o álbum duplo de discos 64 Poemas
escolhidos e 3 historietas pernambucanas. Foram publica-
dos postumamente, em 1986, O maracatu, presépios e
pastoris e O bumba meu boi: ensaios folclóricos, em livro
organizado por Roberto Benjamin. A poesia de Ascen-
so Ferreira filia-se à primeira geração do Modernismo.
Manuel Bandeira, em Apresentação da poesia brasileira
(1954, p. 162), registra: “os poemas de Ascenso são ver-
dadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha
amoravelmente a alma ora brincalhona, ora pungen-
temente nostálgica das populações dos engenhos”.
Obras do autor: Catimbó (1918); Cana Caiana (1939);
Poesias (com prefácio de Manuel Bandeira, 1951);
Poemas, 1922/1953 (1953); Xenhenhém (1953); Catimbó
e outros poemas (1963); Eu voltarei ao sol de primavera
(1985); O maracatu, presépios e pastoris (1986, ensaios);
O bumba meu boi: ensaios folclóricos (1986, ensaios).

AUDÁLIO ALVES Pereira (1930-1999)**


Nasceu no município de Pesqueira, PE, a 2 de junho
de 1930, e faleceu em 8 de abril de 1999, com 69
anos, na cidade do Recife. Ocupou a Cadeira nº 8,
da Academia Pernambucana de Letras, a partir de

550
1972. Fez o curso médio, no Ginásio Pernambucano.
Em 1955, bacharelou-se pela Faculdade de Direito
do Recife e em Línguas Neolatinas pela Universida-
de Católica de Pernambuco. Exerceu o magistério e
a advocacia, sendo assistente Jurídico do Ministério
do Trabalho. Pertenceu à Geração de 50, da poesia
pernambucana, com os poetas Mauro Mota, Carlos
Pena Filho, Edmir Domingues, Geraldo Valença e ou-
tros não menos importantes. Estreou na vida literária
em 1954 com o livro de poemas Caminhos do silên-
cio. O seu segundo livro, Alicerces da solidão (1959), já
merecia boa acolhida da crítica. E Canto agrário, de
1962, que contou com comentários do crítico francês
Armand Guilbert. Iniciou o Movimento Espectralista,
designação atribuída pelo poeta pernambucano Joa-
quim Cardozo ao sincretismo poético integral, movi-
mento de repercussão nacional. Na vida profissional,
exerceu vários cargos de direção em entidades cultu-
rais, tendo sido o idealizador e primeiro supervisor
do “Espaço Pasárgada” (1986) e diretor de Assuntos
Culturais da Fundarpe. Prefaciando o livro Canto por
enquanto (1982), Joaquim Cardozo afirma: “O que
sinto e vejo, porém, nos magníficos poemas de Audá-
lio Alves, poeta pernambucano, nascido no baixo ser-
tão de Pesqueira, é a comunicação deslumbrada desse
halo poético que envolve certas coisas do Nordeste,
do litoral sobretudo.”
Obras do autor: Caminhos do silêncio (1954); Alicerces da
solidão (1959); Olhar dá sede (1961); Canto agrário (1962);
Romanceiro do canto soberano (1966); Canto da matéria
viva (1971); Espaço migrante (1982); Canto por enquanto
(1982); O dia amanhece em minhas mãos (1987).

AUSTRO COSTA [Austriclínio Ferreira Quirino]


(1899-1953)**
Poeta, funcionário público do Estado, nasceu em Li-
moeiro, município da Zona da Mata pernambucana,

55
1
e morreu num desastre de ônibus, a 29 de outubro
de 1953, aos 54 anos. Adotou o pseudônimo literário
de Austro Costa. Foi um dos poetas mais lidos e ad-
mirados do seu tempo. Ingressou na Academia Per-
nambucana de Letras em 1949, tendo como patrono
Natividade Saldanha e fundada por Gervásio Fiora-
vanti, em 1901.
Obras do autor: Mulheres e rosas (1922); Vida e sonho
(1945); O monóculo (1950).

Maria BARTYRA SOARES da Silva (1949)* **


Poetisa e ficcionista, nasceu no município de Catende,
da Zona da Mata pernambucana. É a terceira e última
filha do contista Pelópidas Soares e de Teresinha Soa-
res. Na sua cidade natal, passou sua infância e adoles-
cência. Em 1984, transferiu-se definitivamente para o
Recife. Fez seu primeiro poema aos 6 anos de idade, na
época publicado no suplemento infantil do Diario de
Pernambuco. Estreou em livro em 1976 com a publica-
ção de Enigma, obra que segue a linha estético-filosófica
do movimento concretista. Em 1980, publicou Sombras
consolidadas, que imprime à sua poesia uma nova for-
ma de expressão marcadamente intimista, confessio-
nal e telúrica. Nos anos subsequentes, publicou mais
cinco livros – quatro de poesia. Participou de dezesseis
antologias, entre elas, Poésie du Brésil, editada em Pa-
ris, França. O livro Oratório da paixão, extenso poema
dramático escrito em parceria com a poetisa Maria do
Carmo Barreto Campello de Melo, mereceu encenação
nos mais diversos locais da capital pernambucana e do
interior do Estado. Como contista e poeta, é detentora
de vários prêmios literários. Com Arquitetura da luz, foi
uma das premiadas em 2001 no concurso “Prêmios Li-
terários Cidade do Recife”, promovido pela Fundação
de Cultura da Prefeitura do Recife. Pertence à Acade-
mia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro e à União
Brasileira de Escritores (UBE/PE).

552
Obras da autora: Enigma (1976); Sombras consolidadas
(1980); O primeiro quadrante (1985); No rosto do tempo
(1987); Da permanência e da temporalidade. Um tempo
de Catende (1987, ensaio); Veredictos (1995), Estrela em
trânsito (1997); Arquitetura da luz (2004); Oferendas
(2007); Silêncio das velas vivas (2009, contos).

Manuel BASTOS TIGRE (1882-1957)**


De múltiplos talentos, o poeta também foi compositor
e teatrólogo. Atuou com êxito no jornalismo, no tea-
tro, na engenharia e na publicidade especialmente. É
dele a letra do primeiro jingle publicitário brasileiro,
“Chopp em garrafa”, feito em parceria com Ary Bar-
roso, em 1934. Nasceu no Recife, PE, a 12 de março
de 1882, filho de Delfino da Silva Tigre e de Maria
Leontina Bastos Tigre. Faleceu no Rio de Janeiro, a 2
de agosto de 1957. Estudou no Colégio Diocesano de
Olinda, PE, onde compôs os primeiros versos e criou
o jornalzinho humorístico O Vigia. Diplomou-se pela
Escola Politécnica, em 1906. Prestou concurso para
Bibliotecário do Museu Nacional (1915) com tese so-
bre a Classificação Decimal. Mais tarde, transferiu-se
para a Biblioteca Central da Universidade do Brasil,
onde serviu por mais de 20 anos. Exerceu a profissão
de bibliotecário por 40 anos, e é considerado o pri-
meiro bibliotecário por concurso, no Brasil.
Obras do autor: Saguão da posteridade (1902); Versos per-
versos (1905): O maxixe (1906); Moinhos de vento (1913);
O rapadura (1915); Grão de bico (1915); Bolhas de sabão
(1919); Arlequim (1922); Fonte da carioca (1922); Ver e
amar (1922); Penso, logo... eis isto (1923); A ceia dos coro-
néis (1924); Meu bebê (1924); Poemas da primeira infância
(1925); Brinquedos de Natal (1925); Chantez Clair (1926);
Zig-Zag (1926); Carnaval: poemas em louvor ao Momo
(1932); Poesias humorísticas (1933); Entardecer (1935); As
parábolas de Cristo (1937); Getúlio Vargas (1937); Uma
coisa e outra (1937); Li-Vi-Ouvi (1938); Senhorita vitami-

55
3
na (1942, teatro); Recitália (1943); Aconteceu ou podia ter
acontecido (1944); Cancionário (1946); Conceitos e precei-
tos (1946); Musa gaiata (1949); Sol de inverno (1955).

BENEDITO Tavares da CUNHA MELO (1911-


1981)* **
Poeta, professor e jornalista, nasceu no município
pernambucano de Goiana, a 25 de março de 1911,
filho do tabelião e poeta Alberto Tavares da Cunha
Melo e de Virgínia Tavares de Miranda Lins. Faleceu
em Jaboatão, no dia 6 de outubro de 1981, aos 70
anos de idade. Pelo seu pendor poético sempre ligado
à sua região, recebeu o título de Cidadão Jaboatonen-
se, através de Projeto de Lei elaborado pela Câmara
Municipal de Jaboatão. Além da poesia, cultivava o
jornalismo, sendo fundador e redator-chefe do Jaboa-
tão Jornal, periódico mensal criado em 1950, em que,
por mais de 20 anos, manteve uma coluna de trovas
intitulada “Trovas e Trovoadas”, com textos predomi-
nantemente satíricos. Foi o autor do Hino de Jaboatão,
que recebeu música de Nina de Oliveira, e autor do
Hino do Padroeiro Santo Amaro, com música do padre
Chromácio Leão. No bairro jaboatonense de Barra de
Jangada, há um colégio estadual com o seu nome, ho-
menagem sugerida por requerimento parlamentar do
então deputado José Luiz de Almeida Melo. Por se tra-
tar de um homem ligado à cultura literária, a Biblio-
teca Municipal também possui o seu nome. Embora
nascido fora daquele município, fixou residência em
Jaboatão em 1924, onde conquistou fortes amizades.
Seu filho, o poeta Alberto da Cunha Melo não viveu o
suficiente para ver publicada a antologia que organi-
zou de seu pai, Benedito Cunha Melo. Poesia seleta. Ela
foi publicada dois anos após a sua morte, graças à ini-
ciativa do escritor e poeta José Luiz de Almeida Melo,
com lançamento no Instituto Histórico de Jaboatão
dos Guararapes (IHJ), em dezembro de 2009.

554
Obras do autor: Folhas secas (1939, trovas); Versos diver-
sos (1948, sonetos e trovas); Nuvens de pó (1949, sone-
tos e trovas); Da morte, folhas secas e outras trovas (1954);
Perfis (1954, trovas satíricas); Canto de cisne (1980, tro-
vas); Benedito Cunha Melo. Poesia seleta (2009).

BENTO TEIXEIRA (± 1550-1600)


Professor, advogado e nosso primeiro poeta. Foram
muitas as discussões sobre a procedência, nome com-
pleto (Bento Teixeira Pinto?), data de nascimento e
autoria de vários textos atribuídos a Bento Teixeira.
Algumas questões estão resolvidas, outras ainda susci-
tam controvérsias, como o ano de nascimento: 1540,
1550, 1561 ou 1565? Mas a maioria dos historiadores
considera como certo o seu nascimento no Porto, o
fato de ser cristão-novo, e de ter chegado ao Brasil,
em companhia da família, por volta de 1567. Tam-
bém é constante a referência à sua formação: Bento
Teixeira chegou a formar-se pelo Colégio Jesuítico da
Bahia. O magistério, a advocacia e o comércio foram
suas fontes de sobrevivência. Em 1594, denunciou-se
perante o Visitador do Santo Ofício, e assassinou a
esposa por adultério. Em 1595, foi preso em Olinda
e embarcado para Lisboa, onde abjurou o judaísmo e
obteve liberdade condicional. No entanto não chegou
a ver publicado o seu poema épico Prosopopeia (1601),
escrito provavelmente entre 1584 e 1587, porque
morreu na prisão antes de ser libertado. Bento Tei-
xeira é considerado, cronologicamente, o primeiro
poeta da Literatura Brasileira, graças a Prosopopeia,
poema épico, com 94 estâncias em oitava-rima e de-
cassílabos heroicos, segundo o modelo camoniano,
em torno de Jorge Albuquerque Coelho, donatário
da Capitania de Pernambuco, e de seu irmão, Duar-
te, cujos feitos militares o poeta desejava exaltar. A
crítica literária, quase em uníssono, discute o valor
estético dessa obra, mas não o seu valor histórico, que

55
5
é indiscutível. Pernambuco orgulha-se de ter sido o
motivo do primeiro canto da Literatura Brasileira. É
esse fato que nos fez publicar, na grafia original da
época, os fragmentos dessa obra, firmando assim o
registro histórico e seu caráter documental, funda-
mento primeiro deste nosso trabalho.
Obra do autor: Prosopopeia (1601).

CARLOS Martins MOREIRA (1918-1993)


Poeta, advogado, escritor, nasceu em Alagoas Gran-
de, PB, em 16 de novembro de 1918. Filho do comer-
ciante Rodolpho Martins Moreira e Evangelina Torres
Moreira, chegou a Pernambuco com um ano de idade.
Carlos Moreira pertence cronologicamente à Geração
de 45 e é membro da Academia Pernambucana de Le-
tras, ocupando a Cadeira nº 26, desde 1972, tendo
por patrono Regueira Costa. É considerado um dos
maiores renovadores do soneto, desde a publicação,
em 1953, do seu primeiro livro, intitulado Os sonetos.
Versos como “Punhais perfuram gritos no telhado”
impressionaram alguns grandes nomes de nossa poe-
sia, como Carlos Pena Filho, prefaciador daquele livro.
Apesar do arrojo imagético de Os sonetos, a obra por
inteiro de Carlos Moreira foi marcada por uma gran-
de identificação com a sua terra, através de poemas de
extrema simplicidade e força evocativa, a exemplo dos
que compõem o livro O município. Assim inicia Carlos
Pena Filho o prefácio de Os sonetos: “Carlos Moreira,
que só agora estreia em livro, está cronologicamente
instalado na Geração de 45 (...), A sua renovação, se
não é numerosa, é muito nítida, quando se apresenta
e funda-se, principalmente, no divórcio de substan-
tivos e adjetivos milenarmente juntos. Antes, mesmo
no modernismo brasileiro, não havia a utilização do
adjetivo imprevisto, novo, renovado”.
Obras do autor: Os sonetos (1953); O município (1953);
Consolidação de vozes e cantos (poemas, s.d.).

556
CARLOS Souto PENA FILHO (1930-1960)**
Poeta, jornalista, crítico literário e bacharel em Di-
reito, nasceu no Recife, a 17 de maio de 1929, e fa-
leceu em um desastre automobilístico em 1 de julho
de 1960, aos 31 anos de idade. Filho dos portugueses
Carlos Souto Pena (comerciante) e de Laurinda Souto
Pena (do Lar), fez o curso primário em Portugal e se-
cundário no Colégio Nóbrega do Recife. A Faculdade
de Direito do Recife, onde concluiu seu bacharelado,
ostenta, em seus jardins, um busto do poeta. Alber-
to da Cunha Melo, no verbete da Antologia didática
de poetas pernambucanos (1988, v. 1, p. 79), esclarece
sobre a poética do autor do “Soneto do desmantelo
azul”: “Há quem acredite que Carlos Pena Filho, por
ter morrido tão moço, não teve tempo para criar a
obra importante a que estaria destinado, por talento
e capacidade de trabalho. Mas essa é uma posição re-
lativista que, hoje, com a consagração do público e da
crítica, perde muito de sua capacidade de argumen-
tação. O certo é que Carlos Pena deixou uma obra
de surpreendente atualidade, dando continuidade
à renovação do soneto, iniciada por Carlos Moreira,
e enriquecendo a poesia pernambucana e brasileira
com imagens estranhamente líricas, sem esquecer
homens, terras e mares pernambucanos. A Geração
de 65, além da influência nítida de João Cabral de
Melo Neto, revela a sombra leve e delicada da poesia
de Carlos Pena Filho, na obra de alguns de seus me-
lhores nomes. No prefácio que escreveu para o Livro
geral, última obra (reunião dos livros anteriores) de
Pena, informa o escritor Ariano Suassuna: “Literaria-
mente, seu maior dom talvez fosse, segundo ressaltou,
certa vez, César Leal, a elegância e a pureza do verso.
Quanto à poesia, segundo declarou certa vez o pró-
prio poeta, em conferência na Faculdade de Filosofia
de Pernambuco, sentia-se ele um tanto perplexo en-
tre duas linhas mestras de sua poesia, a formalista e a

55
7
regionalista. A síntese dar-se-ia inevitavelmente, não
interrompesse a morte, de modo tão brutal e prema-
turo, o leve e puro som de sua voz”.
Obras do autor: O tempo da busca (1952); Memórias do
boi Serapião (1956); Livro geral [incluindo Cinco aparições,
Dez sonetos escuros, A vertigem lúcida, Poemas sem data, O
tempo da busca e Guia prático da cidade do Recife] (1959).

Joaquim Maria CARNEIRO VILELA (1846-1913)**


Romancista, poeta, dramaturgo e jornalista, nasceu
no Recife em 9 de abril de 1846 e faleceu nos Afoga-
dos, subúrbio da mesma cidade, a 1 de julho de 1913.
Formou-se em Direito em 1866. Principal fundador
da Academia Pernambucana de Letras. Lúcia Miguel
Pereira, biógrafa desse escritor, informa que era em-
penhado em explorar as informações sobre a vida no
Recife, no século XIX, em suas produções literárias.
O romance, A emparedada da rua Nova (1936-1938),
foi motivo de um grande ensaio fotográfico do jorna-
lista pernambucano Marcus Prado.
Obras do autor: Margaridas (versos). Romances: A
emparedada da rua Nova (1936-1938); lná (1879); lara
(in Revista Brasileira, 1880); Noêmia (1894); Menina
de luto (s.d.); Noivados originais (s.d.); O esqueleto (s.d.);
Três crônicas (s.d.); Os mistérios da rua Aurora (s.d.);
A gandaia (s.d.); Um drama íntimo (s.d.); Era maldita
(s.d.); Eterno tema (s.d.); Os filhos do governador (s.d.).

CELINA DE HOLANDA Cavalcanti de Albuquer-


que (1915-1999)* **
Nasceu e cresceu nos engenhos Ypiranga e Pantorra,
no município do Cabo, PE. Foi na cidade do Recife
que viveu os melhores momentos de sua vida literá-
ria. Sempre atuante e fraterna, foi amiga de Roma-
no Zufferey, suíço, padre, assistente e líder da Ação
Católica Operária (Recife), movimento comprometi-
do com a liberdade e a dignidade do homem. As ele-

558
gias ao padre Romano Zufferey, que Celina publicou em
1985, celebrizam a poetisa que sempre será. Entre os
anos de 1979 a 1984, atuou intensamente nas Edições
Pirata, movimento editorial pernambucano. Celina
morreu no Recife, PE, em 3 de junho de 1999, mas
sua poesia continua a encantar as novas gerações, ela
é a sua presença eternizada em todos que contaram
com o privilégio de sua convivência. O livro Viagens
gerais, lançado em 1995, é sua obra mais completa,
reunindo todos os livros publicados até aquele ano e
ainda os inéditos Afago e faca e Tarefas de Nigiam.
Obras da autora: O espelho e a rosa (1970); A mão extre-
ma (1976); Sobre esta cidade de rios (1979); Roda d’água
(1981); As viagens (1984); Pantorra, o engenho (1990);
Viagens gerais (1995).

CELSO MESQUITA do Nascimento (1947)* **


Poeta e médico psiquiatra, faz parte da Geração 65 de
poetas pernambucanos. Nasceu no Recife, PE, em 7
de novembro de 1947.
Obras do autor: Programa do sonho (1980); Poemas de
Celso Mesquita (1997).

Francisco CÉSAR LEAL (1924)*


Professor, poeta e crítico de poesia, nasceu a 20 de
março de 1924, em Saboeiro, CE, C.L. é uma das
mais atuantes personalidades do mundo literário
pernambucano. Iniciou sua carreira literária em Belo
Horizonte, na revista Vocação. Em Minas Gerais, tor-
nou-se amigo de Emílio Moura, Cristiano Martins e
dos jovens Fábio Lucas, Rui Mourão e Edmir Fonseca.
Por motivos políticos, foi transferido para vários Es-
tados, chegando ao Recife em 1952, onde ingressou
no Diario de Pernambuco, como repórter, sendo mais
tarde assistente da direção durante o período em que
Mauro Mota foi diretor do jornal. O Recife é hoje seu
domicílio literário. Professor Emérito da Universida-

55
9
de Federal de Pernambuco, onde fundou o Progra-
ma de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em
Letras. Antes de implantar os cursos pós-graduados,
visitou várias Universidades norte-americanas, sendo
o primeiro poeta da língua portuguesa a gravar seus
poemas, ao vivo, para a Biblioteca de Poesia da Uni-
versidade de Harvard. Conselheiro titular da Fundaj
(1980-1988), como representante do MinC. Por in-
dicação de Celso Furtado, o presidente José Sarney
nomeou-o para o Conselho Federal de Cultura e, em
seguida, para o Conselho Superior de Liberdade de
Criação e Expressão do Ministério da Justiça. Inte-
grou, no governo de Itamar Franco, o Grupo dos 17,
da Comissão Nacional do Cinema (1993-1994). Pu-
blicou, em 2004, o capítulo sobre o Recife em História
da literatura da América Latina (“Recife as Cultural Cen-
ter”), obra monumental: três volumes, escrita por 209
scholars do mundo inteiro. No Diario de Pernambuco
e em Estudos Universitários lançou o Grupo chamado
Geração 65, além de outras gerações, por isso é pos-
sível ver seu nome inserido entre os dessas gerações,
mas, conforme o próprio César, sua poesia não se en-
caixa nos parâmetros de nenhuma delas, nem na de
65 nem nas anteriores. Tem vinte e um livros publica-
dos, entre os quais Tempo e vida na terra (1998), Dimen-
sões temporais na poesia e outros ensaios, em dois volumes
(2004), ambos pela Imago, do Rio de Janeiro. É “Ca-
valiere” da Ordem do Mérito da República da Itália.
De 2000 até agora, participou de dez antologias, sen-
do três no exterior: Literatura portuguesa e brasileira
contemporânea (editada pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2000); Literatura brasileira
(Editora Universitária, Lisboa, 2000); Antologia de la
poesia brasileña (Ediciónes Laiovento, Espanha, 2001,
509p.); 100 Anos de poesia – um panorama da poesia bra-
sileira no século XX (2002). Tem cerca de 220 ensaios
publicados no Brasil e no exterior em suplementos

560
literários e revistas de cultura. Foi sob a orientação de
César Leal que imprimimos, neste painel, o conceito
de “domicílio literário”, o fundamento teórico da in-
serção de poetas nascidos em outros Estados, como
ele, mas profundamente vinculados à literatura e à
vida cultural pernambucana.
Obras do autor: Invenções da noite menor (1957); Ro-
mance do Pantaju (1962); O triunfo das águas (1968); Os
cavaleiros de Júpiter (1968, crítica de poesia e teoria da li-
teratura); Introdução ao estudo da poesia de Camões (1975,
ensaio); Literatura: a palavra como forma de ação (1978,
ensaio); Jornal do verão (1969); Ursa Maior (1969); A
quinta estação (1972); Tambor cósmico (1978); Os heróis
(1983/1997); Constelações (1986); Entre o leão e o tigre
(1987, ensaios); A oriental safira (1992); O arranha-céu
(1994); Alturas (1997); Invenções da noite menor (Ed. co-
memorativa dos 40 anos de estreia, 1997); Quatro poe-
mas e quatro estudos (1998); Tempo e vida na terra (1998).
Dimensões temporais na poesia e outros ensaios (2005).

CHICÃO [Francisco José Trindade Barrêtto]


(1941)**
Médico e poeta, Francisco Trindade, carinhosamen-
te chamado de Chicão, escreveu seu primeiro poema
com 14 anos: um soneto em uma prova de português,
quando aluno do Ginásio Pernambucano. Resolveu
publicar seu primeiro livro – (Construção do Dia (1980)
– a pedido da poeta Celina de Holanda, um dos nomes
mais expressivos da Geração 65. O livro foi organizado
pelo escritor Cyl Gallindo, prefaciado por Ariano Suas-
suna e tem poemas musicados por Zezinho Franca. É
membro da Associação dos Médicos Escritores, embo-
ra não tenha muito tempo para a militância literária.
O seu exercício da poesia mereceu de Ariano Suassuna
a seguinte observação: “E, como acontece sempre com
os verdadeiros poetas, o verdadeiro assunto de Chicão
é o enigma do homem em suas relações com a trans-

56
1
cendência, qualquer que seja o nome que se dê a ela ou
o conceito que dela se tenha.”
Obra do autor: Construção do dia (1980); Vide-versos
(1980); Liberdade, Vide Versos. Fragmentos, Disfarces,
Diagnósticos, (1988); A casa e o mundo (2009).

CÍCERO MELO do Nascimento (1952)*


Poeta. Nasceu em União dos Palmares, AL, em 1952.
Mora no Recife desde 1980, onde publicou seus dois
primeiros livros, ambos pelas Edições Bagaço, com boa
recepção da crítica e do público. Seus poemas são fre-
quentemente publicados em jornais, revistas e suple-
mentos literários, tanto no Brasil como em alguns paí-
ses do Exterior. Encontra-se no prelo, Poema da danação,
“com 60 Cantos sobre a miséria e decadência do Ho-
mem sobre a Terra”, conforme ele próprio anuncia.
Obras do autor: O verbo sitiado (1986); Poemas da escu-
ridão (2001).

CIDA PEDROSA [Maria Aparecida Pedrosa Bezer-


ra] (1963)***
Nasceu em 1963, em Bodocó, Sertão do Araripe per-
nambucano, foi registrada como Maria Aparecida Pe-
drosa Bezerra, é poeta e advogada de direitos huma-
nos. Chegou ao Recife em 1978 e começou a participar
dos movimentos políticos, estudantis e literários da
cidade. Tem empreendido esforços para que a cena
literária pernambucana ganhe espaços coletivos de
produção, edição e criação. Para tanto, com o webmas-
ter Sennor Ramos e o jornalista e poeta Raimundo de
Moraes edita, desde 2005, a página literária
Interpoé- tica (www.inerpoetica.com) e é uma das
colaboradoras do site Escritoras Suicidas. Na década
de 80, coorde- nou e militou no Movimento de
Escritores Indepen- dentes de Pernambuco,
contribuindo para a mobiliza- ção e a animação da
cena literária local com recitais de rua, performance e
publicações alternativas. Partici-
562
pou do processo de reabertura da União Brasileira de
Escritores – seção Pernambuco, da qual é sócia desde
então. Faz parte das Antologias: Natal pernambucano
(2001); Corpo lunar (2002); Marginal Recife I (2003);
Retratos: a poesia feminina contemporânea em Per-
nambuco (2004); Cantos e contos de Natal (2006); Recife
Nantes: um olhar transatlântico (2007); Dedo de moça
(2009). Contribuiu na organização das publicações de
poesia: Marginal Recife, I, II e III e Coletânea Ladjane
Bandeira de poesia, I e II, editadas pela Prefeitura do
Recife. Foi uma das organizadoras das quatro primei-
ras edições da Recitata – Concurso de Recitação do
Festival Recifense de Literatura.
Obras da autora: Restos do fim (1982); O cavaleiro da
epifania (1986); Cântaro (2000); Gume (2005) e As filhas
de lilith (2009).

CLÁUDIA CORDEIRO Tavares da Cunha Melo


(1951)**
Professora de literatura brasileira, ensaísta, palestran-
te e webdesigner, nasceu no Recife em 1951. Concluiu
o primeiro grau na Academia Santa Gertrudes (1965),
em Olinda, e o magistério no Colégio Eucarístico Co-
ração de Jesus (1969), no Recife. É graduada com láu-
rea em Letras (1985), pela Faculdade Frassinetti do
Recife, Fafire, e pós-graduou-se em Literatura Brasi-
leira pela mesma Faculdade, em 2003. Foi professora
do ensino fundamental e lecionou, durante 28 anos,
as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira no ensino médio da rede pública estadual
de Pernambuco e, intermitentemente, de diversas es-
colas particulares – Marista, Salesiano – e também na
Fafire. É viúva do poeta Alberto da Cunha Melo, com
quem viveu durante 26 anos, partilhando sua obra
com o público a seu alcance, seja através de ensaios,
artigos e prefácios, a exemplo de “O imagismo e a
fabulação na poética de Alberto da Cunha Melo” do

56
3
livro Poema anteriores (1981), e “Uma estranha bele-
za: entrevista com o poeta Alberto da Cunha Melo”,
publicado na Cronos: Revista de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da UFRN (2004/2005), seja pela in-
ternet, através da edição, entre outros, do sítio virtual
oficial do autor – www.albertocmelo.com. Em outubro
de 2003, lançou, na USP, seu ensaio Faces da resistência
na poesia de Alberto da Cunha Melo. Obteve, em 1985,
o primeiro lugar do Prêmio de Ensaio Mauro Mota
(UBE-PE), juntamente com a professora Sônia Prieto,
pelo ensaio “Mauro Mota: uma poética da recorda-
ção”. Algumas vezes, aventura-se na arte poética e
tem alguns poemas inéditos. No ano de 2005, foi
selecionada para a antologia Marcas do tempo VII, p.
37-38, como resultado da classificação do seu poema
“Assalto à alegria”, no concurso literário da Biblioteca
Pública Municipal “Prof. Gerson Alfio De Marco”, SP.
Organizou, com Antônio Campos, a coletânea Per-
nambuco, terra da poesia. Um painel da poesia pernam-
bucana dos séculos XVI ao XXI (2005), lançada no
dia 1º de dezembro, na Livraria Cultura, PE. Dentre
as várias palestras que já realizou, destacam-se as dez
realizadas – oito delas em universidades do Estado
de S. Paulo – pelo seu projeto Vozes Pernambucanas
(2006), que obteve patrocínio do Instituto Maximiano
Campos (IMC), e ainda na Fafire, entidade de ensino
superior comprometida com o estudo e a divulgação
da arte literária pernambucana. Como artista plásti-
ca, realizou várias exposições e dirigiu a Escolinha de
Arte Garibaldi Brasil no Sesc/AC – 1980/1981, quan-
do manteve intercâmbio cultural com a Escolinha de
Arte de Varsóvia. Foi coordenadora de planejamen-
to da Diretoria de Assuntos Culturais da Fundarpe
(1987/1988), enquanto Técnica em Atividades Cul-
turais daquele órgão (1987/2000). Foi revisora, mídia
e tráfego da agência Gruponove. Em 2004, organizou
e editou o CD Plataforma para a Poesia, vol. 0, “Poe-

564
mas Indispensáveis”, com apresentação de Deonísio
da Silva. É editora do sítio virtual Plataforma para a
Poesia e Trilhas Literárias, on-line há 10 anos, que é, na
verdade, o núcleo virtual de um projeto maior de sen-
sibilização de leitores para a arte poética, através de
sua veiculação em diversas mídias. Em 2007, criou e
organizou o I Prêmio Internacional Poesia ao Vídeo,
patrocinado pela Fliporto, que se encontra em sua
quarta edição. É coordenadora da Fliporto Digital há
quatro anos. Sua parceria em diversos projetos com
o escritor, advogado e poeta Antônio Campos – que
se firma hoje como um raro mecenas da cultura per-
nambucana – é fruto da afinidade com a arte poética
e com o empenho em divulgar e valorizar a cultura
pernambucana. Cláudia Cordeiro é inventariante do
espólio de Alberto da Cunha Melo (1942-2007), que
deixou sua vontade expressa em testamento para ela
e empenha-se, atualmente, em compilar toda a obra
editada e inédita do poeta.
Obras da organizadora: Faces da resistência na poesia de
Alberto da Cunha Melo (2003); Pernambuco, terra da poe-
sia. Um painel da poesia pernambucana dos séculos
XVI ao XXI (2005 e, segunda tiragem, 2006).

CLÉLIA da SILVEIRA Martins Ribeiro (1920)**


Poetisa e advogada, nasceu em 1920, no município do
Cabo, PE, onde ficava a antiga Usina Santo Inácio.
Filha de Estefânia Martins Ribeiro da Silveira (profes-
sora) e de Antônio Carlos da Silveira Filho (gerente da
usina), bacharelou-se em Direito, em 1978, pela Facul-
dade de Direito do Recife, e fez cursos extensivos de
jornalismo em Curitiba. Seu primeiro livro, Taça des-
prezada, foi publicado em 1956, mas já colaborava com
artigos, crônicas, sueltos e reportagens para jornais de
João Pessoa (1950-1961) e do Recife (1936-1947).
Obras da autora: Taça desprezada (1956) e Poemas cre-
pusculares (1998).

56
5
CLOVES MARQUES da Silva (1944)*
Poeta e engenheiro, nasceu em Delmiro Gouveia, AL,
em 10 de setembro de 1944. Reside no Recife desde
1966 e faz parte da Academia de Letras e Artes do
Nordeste Brasileiro; Academia Recifense de Letras;
União Brasileira de Escritores – Seção Pernambuco,
Academia de Artes e Letras de Pernambuco. Ressalta-
se em sua literatura a poesia do haicai.
Obras do autor: Pra não morrer de amor (1990); É eter-
no, mas é preciso (1992, poemas); Crônicas do encontro
(1994); Umaremu, instantâneos do Natal (2001); Haicai
ao Recife (2002); Máscara em Haicai (2005); 365 Hai-
cais de sol e chuva (2006).

CYL GALLINDO [Cícero Amorim Gallindo] (1935)*


**
Poeta, escritor, jornalista e conferencista, é diplomado
em Ciências Sociais pela UFPE, nasceu em Buíque,
PE, em 1935. Morou no Rio de Janeiro onde partici-
pou intensamente dos movimentos políticos da década
de 60. E também em Brasília de 1986 a 1998. Em sua
atuação como jornalista, foi assessor de Comunicação
do Senado Federal e de outras repartições públicas.
Atualmente é representante no Brasil de Francachela
– Revista Internacional de Literatura e Arte, editada
no Chile, com circulação em 35 países. Pertence à Ge-
ração 65 de poetas pernambucanos. Em 1968, orga-
nizou a antologia Agenda poética do Recife – Antologia
dos novíssimos, prefaciada por Joaquim Cardozo, um
referencial para todos que querem se empenhar nos
estudos da poesia pernambucana. Oito dos dez poetas
selecionados por ele se encontram nesta antologia: Al-
berto da Cunha Melo, Arnaldo Tobias, o próprio Cyl
Gallindo, Jaci Bezerra, Marcos Santânder [hoje Marco
Polo], Maurício Motta, Sérgio Moacir de Albuquerque
e Tarcísio Meira César. Entre as inúmeras antologias
que organizou, a mais recente e Panorâmica do conto em

566
Pernambuco (2007), em parceria com Antônio Campos.
Já participou de 29 antologias e tem vários textos seus
traduzidos para o alemão, francês e espanhol. Perten-
ce à Academia de Letras do Brasil, Academia de Le-
tras e Arte do Nordeste Brasileiro, União Brasileira de
Escritores (UBE-PE) e, em 2009, foi eleito membro da
Academia Pernambucana de Letras. Seu mais recente
livro, Intimidade da palavra (2010), reúne seus ensaios
e revelam a convivência e a familiaridade com a obra
e a vida de grandes nomes de nossa literatura a exem-
plo de Manuel Bandeira e Euclides da Cunha e com a
vida cultural e literária de Pernambuco.
Obras do autor: A conservação do grito-gesto (1971); Os
movimentos (1996); Poemas escolhidos (1999). Contos:
As galinhas do coronel (1974); Um morto coberto de razão
(1985); Quanto pesa a alma de um homem. Quanto pesa
a alma de uma mulher (1994); Cadeira de Dinah (1999);
Milagre no jardim da casa-grande (2003), A intimidade da
palavra (2010, ensaios).

DEBORAH Vasconcelos BRENNAND (1927)**


Nascida em 12 de fevereiro de 1927, no Engenho La-
goa do Ramo, Nazaré da Mata, PE, é filha única do
médico Antônio Vieira de Vasconcelos e de Helena
de Moura Vasconcelos. É uma das poetisas pernam-
bucanas mais importantes de sua geração. Sobre ela,
Ariano Suassuna deu este depoimento: “A poesia de
Deborah Brennand é profundamente feminina, o
que significa que é, ao mesmo tempo, suave e selva-
gem, possuindo uma estranha ligação com a corrente
subterrânea da vida”. Ao completar 80 anos, assumiu
uma cadeira na Academia Pernambucana de Letras.
Obras da autora: O punhal tingido ou O livro das horas
de D. Rosa de Aragão (1965); Noites de sol ou As viagens
do sonho (1966); O cadeado negro (1971); Pomar de som-
bras (1995); Maçãs negras (2001); Letras verdes (2002);
Tantas e tantas cartas (2003); Poesia reunida (2007).

56
7
DEDÉ MONTEIRO [José Rufino da Costa Neto]
(1949)**
Poeta e professor, José Rufino da Costa Neto adotou
o pseudônimo literário de Dedé Monteiro. Nasceu no
Sítio Barro Branco da Tabira (Tabira, PE), a 13 de se-
tembro de 1949. Em 1969, Dedé Monteiro concluiu
o curso de contabilidade na Escola Monsenhor Pinto
de Campos, em Afogados da Ingazeira, PE. Em 1974,
concluiu o curso de Letras na Faculdade de Forma-
ção de Professores, em Arcoverde, PE, e o curso supe-
rior de Educação Física, no Recife, dedicando-se ao
magistério desde 1972. No Dicionário biobibliográfico
de poetas pernambucanos (1993, p. 93), o organizador
Lamartine Moraes anota: “Dedé Monteiro dedicou-
se à poesia e, como matuto autêntico, explorou com
maestria a literatura de cordel, desafiando motes. Diz
o professor José Rabelo Vasconcelos: “Realizava-se
a prova de Português do vestibular na Faculdade de
Formação de Professores de Arcoverde. Fazia eu parte
da equipe de professores que aplicava a prova e que
deveria corrigir a redação. O tema sorteado fora “A
Paz”. Poucos minutos depois de distribuídos os tes-
tes, um dos candidatos se levanta e faz a entrega da
redação. Surpreende-me a rapidez com que o traba-
lho fora feito. A surpresa foi maior porque ele fora
redigido em versos. E não era para menos, pois é sa-
bida, nos tempos em que vivemos, a dificuldade que
a redação oferece aos vestibulandos, mesmo quando
feita em prosa. O candidato a fizera com incrível ra-
pidez e em versos. O futuro professor José Rufino da
Costa Neto não era senão, o poeta Dedé Monteiro”.
Lamartine anota ainda que até aquela data (1993)
Dedé Monteiro só publicara o livro Retalhos do Pajeú,
mas nossas pesquisas levaram-se ao Meu quarto baú de
rimas, lançado em 2010, com 250 poemas inéditos,
conforme registra Marcello Patriota no sítio virtual
“www.itapetim.net - O Ventre Imortal da Poesia”.

568
Obras do autor: Retalhos do Pajeú (s.d.); Meu quarto baú
de rimas (2010).

DELMO MONTENEGRO (1974)* **


Poeta, tradutor e ensaísta, nasceu no Recife, PE, em
1974. Estreou recentemente em livro com Les joueurs
de cartes. Os jogadores de carta, pelas Edições Bagaço,
2003. Tem trabalhos publicados em diversas revis-
tas, jornais e sites literários, como Amálgama, Capitu,
Cronópios, Jornal de Poesia, Zunái, Dimensão, MG; Su-
plemento Literário de Minas Gerais, MG; Et Cetera, PR;
Continente Multicultural, PE; Estudos Universitários,
PE; Suplemento Cultural, PE; Correio das Artes, PB;
e O Galo, RN. É um dos participantes da coletânea
Poesia pernambucana moderna. Breve antologia (1999),
organizada pelo poeta e crítico César Leal, e do livro
de ensaios A linha que nunca termina. Pensando Paulo
Leminski (2004), organizado pelos escritores André
Dick e Fabiano Calixto. No campo da Poesia Visual e
Experimental, além de diversas pesquisas, realizou a
Mostra de Poesia Visual Brasileira (1994) e participou de
inúmeras exposições no Brasil e no Exterior.
Obra do autor: Les joueurs de cartes. Os jogadores de car-
tas (2003).

DEMÓSTENES DE OLINDA Almeida Cavalcanti


(1873-1900)**
Poeta e bacharel em Direito, nasceu na cidade de Vi-
tória de Santo Antão, PE, a 20 de outubro de 1973,
e morreu em 15 de agosto de 1900, aos 27 anos de
idade, na cidade de Queluz. Formou-se na Faculdade
de Direito do Recife e chegou a ser Juiz de Direito no
Estado de Minas Gerais. Dedicou-se à poesia muito
cedo e é o patrono da Cadeira nº 20, da Academia
Pernambucana de Letras.
Obra do autor: Ortivos (1894).

56
9
DEOLINDO TAVARES (1918-1942)**
Poeta, jornalista, músico e desenhista, nasceu no Reci-
fe, a 21 de dezembro de 1918, e morreu precocemen-
te, aos 24 anos de idade, no dia 6 de maio de 1942.
Estudou no Ginásio Pernambucano e chegou a cursar
o primeiro ano da Faculdade de Direito do Recife. De-
dicando-se à imprensa, desempenhou a função de re-
dator do Diario de Pernambuco. Colaborou com os jor-
nais: Diário da Manhã, Renovação e Caderno Acadêmico.
Sua obra poética foi publicada postumamente na an-
tologia Autores e livros (1945) e em uma edição crítica
de Fausto Cunha, em 1955, com o título de Poesias de
Deolindo Tavares, reeditada pela Fundação do Patrimô-
nio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe),
em 1988, na gestão do secretário de Cultura Maximia-
no Campos, com prefácio de Alberto da Cunha Melo,
que registra: “Sua pessoa e sua obra, após relermos os
depoimentos dos seus contemporâneos, em especial
Gilberto Freyre e João Cabral de Melo Neto, pare-
ceram-nos impregnadas daquela „sabedoria da inse-
gurança‟ de que nos fala Allan Watts, em memorável
livro do mesmo título”. Fausto Cunha atestou: “Deo-
lindo era poeta porque não podia ser outra coisa, é o
testemunho dos amigos. Eu diria em outras palavras:
era poeta porque em seu mundo só havia poesia”.
Obra do autor: Poesias de Deolindo Tavares (1955).

DIONE BARRETO (1955)*


Poetisa e psicóloga, é natural de Campina Grande, PB,
mas passou a residir no Recife em 1977. Participou ati-
vamente das Edições Pirata e de vários movimentos cul-
turais e foi editora do jornal alternativo Contágil. Tra-
balha na Fundação Joaquim Nabuco, onde ingressou
por indicação de Paulo Cavalcanti. Participou de várias
antologias, a primeira, em 1983, Nova literatura brasilei-
ra, e a mais recente, em 2004, Retratos. A poesia femini-
na contemporânea em Pernambuco. Ligada a movimentos

570
alternativos de divulgação da poesia, fez sua primeira
exposição de pôster-poema, no Recife, no ano de 1983,
sob o título Poesia, uma paixão que se expõe.
Obras publicadas: Círculo vazio (1973); Feitiço do silên-
cio (1984); Do amor e suas perversidades
(1990); Desiguais (1995).

Gediael DOMINGOS ALEXANDRE (1944)***


Poeta, advogado, tradutor, nasceu em Jaboatão, PE,
em 2 de agosto de 1944. Filho de Joaquim Domin-
gos Alexandre (pequeno comerciante) e de Carlinda
Figueira Alexandre, fez parte do Grupo de Jaboatão,
que, conforme Tadeu Rocha, representa a nascente
da Geração 65. Para o poeta e crítico Laurênio Lima,
Domingos Alexandre é “um alquimista do verso (...),
que além de trabalhar com as palavras (função de to-
dos os escritores) participa das angústias do seu mun-
do”. Avesso a publicações, Domingos Alexandre ainda
não revelou a sua produção satírica que só apresenta
a amigos. Mas o cordel O dia em que Michael Jackson fez
Ariano Suassuna dançar rock na cidade de Taperoá, pu-
blicado pelas Edições Bagaço, em 2003, exemplifica,
um pouco, o que pode vir a ser a produção satírica do
autor. Seus poemas foram recentemente publicados
no CD: Plataforma para a poesia. Poemas indispensáveis.
Um desses poemas, “Bruxelas”, encontra-se também
publicado nesta edição.
Obras do autor: Sonâmbulos (1979); A ordem no reino
do caos (1981); O avesso do avesso (1987).

EDMIR DOMINGUES da Silva (1927-2001)**


Poeta, doutor em Direito, nasceu no Recife, a 8 de
junho de 1927 e morreu em 2001. Bacharelou-se
pela Faculdade de Direito do Recife, doutorando-se
em Direito e em Filosofia, em 1954, quando publicou
seu primeiro livro Rua do vento norte. Foi um dos mais
conhecidos advogados de Pernambuco e um poeta de

57
1
destaque entre os de sua geração. Os livros que se se-
guiram ao de estreia: Corcel de espumas, Cidade submer-
sa e O domador de palavras, foram premiados por ór-
gãos ou entidades de cultura estaduais ou municipais.
Além da advocacia, Edmir Domingues foi juiz do Tri-
bunal Regional Eleitoral, de que fora, antes, um dos
seus diretores. Entre os prêmios que obteve, citam-se
o “Prêmio Mário de Andrade”, SP, 1954; “Prêmio Vâ-
nia Lobo de Carvalho”, Recife, 1954; e “Prêmio Oton
Bezerra”, da Academia Pernambucana de Letras.
Obras do autor: A rua do vento norte (1952); Corcel de
espumas (1960); Cidade submersa e outros poemas (1972);
O domador de palavras (1987); Universo fechado ou O
construtor de catedrais (1996, poemas reunidos).

EDSON RÉGIS de Carvalho (1923-1966)**


Poeta, jornalista especializado na crônica política e
bacharel em Direito, nasceu em Tímbaúba, PE, em
29 de abril de 1923. Faleceu no Recife, a 25 de julho
de 1966, aos 43 anos de idade, vítima de um atentado
a bomba, no Aeroporto dos Guararapes, ao ir receber,
por indicação do governador Paulo Guerra, o então
Presidente da República, General Costa e Silva. No
jornalismo, dirigiu a revista Região e organizou, na
cidade de João Pessoa, “O Correio das Artes”, Suple-
mento Literário, no biênio 1949-1950, quando publi-
cou a Antologia de Novos, com orientação de Ferreira
de Holanda. Pertence à Geração 45 e seu primeiro
livro de poemas, O deserto e os números (1949), foi su-
cesso de público e de crítica, colocando-o entre os
grandes de sua geração. Mas, só em 1971, a Imprensa
Universitária da UFPE publicaria As condições ambien-
tes, reeditando no mesmo exemplar seu primeiro li-
vro. No prefácio, o crítico e também poeta, Laurênio
Lima assinala: “Edson Régis foi um poeta de sua ge-
ração, a de quarenta e cinco, e não a traiu. Foi mesmo
dos mais ativos participantes desse movimento que

572
marcou a sua posição na história da Literatura Brasi-
leira, e pouquíssimos, nas suas respectivas cidades ou
Estados, terão tido a influência que teve este homem
prático e objetivo na vida comum.”
Obras do autor: O deserto e os números (1949); As condi-
ções ambientes e O deserto e os números (1971).

EDUARDO DIÓGENES (1954)* **


Nascido no Recife, PE, em 1954, publicou seu pri-
meiro livro Brincadeiras no 27. No ano de 1986, seu
livro Malabarismo crônico passou a fazer parte do acer-
vo de escritores brasileiros na Fundação Casa de las
Americas em Havana, Cuba. Em 1993, foi incluído
na Antologia da nova poesia brasileira, editada pela Rio
Arte/Funarte, organizada e selecionada pela escritora,
tradutora e poeta Olga Savary. Incluído na revista Po-
esia Sempre (nº 12, 2000) da Biblioteca Nacional. Par-
ticipou, como narrador, do filme Joaquim Nabuco: um
vencido da grande causa, de Taciana Portela (1º lugar
no Margarida de Prata, 2000, em Brasília). Mantém
inéditos – aguardando editores – os livros Ilha do Reci-
fe dos Navios (com apresentação de Jorge Wanderley e
prefácio de Olga Savary) e Ficções. Vive intensamente
a cena cultural pernambucana.
Obras do autor: Brincadeiras no 27 (1954); Malabaris-
mo crônico (1980); A barlavento (2000).

José EDUARDO MARTINS de Barros Melo (1962)*


**
Poeta e professor de Literatura Brasileira na Univer-
sidade Federal de Rondônia e Mestre em Teoria Li-
terária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Participou ativamente do Movimento dos Escritores
Independentes de Pernambuco na década de 80, e vi-
veu intensamente a cena cultural pernambucana até
1987, quando passou a residir no estado de Rondô-
nia, mas mantém-se antenado com a cena cultural do

57
3
Recife através da internet. Atualmente está estudan-
do a obra do poeta Alberto da Cunha Melo, que será
tema da sua dissertação de doutorado e organiza o
seu livro de poesia A palavra falta. Participou das co-
letâneas: Poesia viva do Recife (1996); Marginal Recife:
coletânea poética III (2004); Pernambuco, terra da poesia
(2005) e Iluminuras (2006). No ano de 1985, em par-
ceria com Cida Pedrosa, publicou seu primeiro livro,
Restos do fim (Poeira dos gozos). Atualmente prepara a
edição do livro A palavra falta.
Obras do autor: Restos do fim (1985); Procissão da pala-
vra (1986), Bandeira: uma poética de múltiplos espa-
ços (2003, ensaio) e O lado aberto (2004).

EDWIGES DE SÁ PEREIRA (1885-1959)*


Poetisa, professora, oradora, jornalista, líder feminis-
ta, nasceu na cidade de Barreiro, PE, a 25 de outubro
de 1885 e faleceu em 1959. Foi talvez a primeira mu-
lher a ocupar uma Cadeira (nº 7) na Academia Per-
nambucana de Letras (1920) e uma das fundadoras
da revista literária O Lírio, exclusivamente feminina.
Lecionou Português e História, nos colégios Euca-
rístico e Nossa Senhora do Carmo, respectivamente,
ambos no Recife, e foi superintendente de ensino em
grupos escolares da capital pernambucana, cargo no
qual se aposentou. Sua atuação na educação e na lite-
ratura a fez ser lembrada como uma das pioneiras do
Movimento Feminista no Brasil.
Obras da autora: Campesinas. Poemas (1901); Impres-
sões e notas (questões de ensino) (s.d.); Pela mulher. Para
a mulher (tese ao Congresso Feminista do Brasil) (s.d.);
Horas inúteis. Poesia (1960).

ELIZABETH de Andrade Lima HAZIN (1951)**


Poetisa, professora, nasceu no Recife, PE, em 18 de ju-
lho de 1951, atualmente radicada no Distrito Federal.
Na década de 80, teve seus poemas publicados em vá-

574
rios jornais do país a exemplo do Suplemento Cultura
de O Estado de São Paulo e do Caderno de Cultura do
Jornal do Commercio. Nesse período, publica seus traba-
lhos na revista Pórtico, do Departamento de Letras da
Universidade Federal Pernambuco, 1985; na Encontro,
do Gabinete Português de Leitura, Recife (1987); e na
Flegeton, revista da Academia de Letras da Bahia, Sal-
vador (1988). Seus poemas também são publicados em
revistas no exterior a exemplo de: “Os rios infernais” (5
poemas) in Cadernos de Literatura, nº 14, Coimbra, 1983;
“Regresso” e “Helesponto”, in Plaza, nº 13, Revista de
Literatura do Department of Romance Languages and
Literatures, Massachusetts: Harvard University, 1987,
e, posteriormente, “Quatro Poemas” (traduzidos para
o dinamarquês) in Banana Split, 6, Copenhagen, Dina-
marca, 1993. Na década de 1990, representa o Brasil
ao lado de José Paulo Paes, Sebastião Uchoa Leite e
Haroldo de Campos, no Festival Internacional de Poe-
sia (Copenhagen, Dinamarca, 1997) e, no mesmo ano,
participa, em Salvador, do programa Com a Palavra, o
Escritor – criado pela Universidade Federal da Bahia
e Fundação Casa de Jorge Amado – em que o escritor
é apresentado por um crítico, e responde às perguntas
da plateia. Em 2007, Elizabeth participou, em Brasí-
lia, da Bric-a-Brac, Exposição Coletiva de Poemas, na
Caixa Cultural, e no ano seguinte veio ao Recife para,
em conjunto com o poeta Davino Sena, na sala Calous-
te Gulbenkian, da Fundação Joaquim Nabuco, recitar
os poemas do livro Lêgo & Davinovich – escrito pelos
dois e que é um canto e uma declaração de amor à sua
cidade natal. É autora também de literatura infantil.
Foi diplomada em Letras em 1977 e recebeu Menção
Honrosa do Prêmio Fernando Chináglia (1977); Cre-
fisul, Jornal de Letras (1981), e o Prêmio Nacional de
Poesia Jorge de Lima (1981). Foi professora de Litera-
tura da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é
professora da Unversidade de Brasília UnB.

57
5
Obras da autora: Poesias (1974); Verso e reverso (1980);
Casa de vidro (1982); Arco-íris (1983); Espelho meu
(1985); O arqueiro e a lua (1994); Martu (2. ed. aumen-
tada, 2006); Lêgo & Davinovich (2006); Poesia para
crianças (2009).

EMÍLIA LEITÃO GUERRA (1883-1966)**


Poetisa, nasceu em 18 de novembro de 1883, na cida-
de Sant‟Águeda de Pesqueira, no interior de Pernam-
buco, e faleceu no dia 23 de novembro de 1966, na
Mouraria, em Salvador, BA. Filha do português José
Martins Leitão e de Emília Magalhães da Silva Porto.
Sua família mudou-se para Salvador, quando a poetisa
contava com cinco anos de idade, mas já ensaiava os
primeiros versos. Sua formação intelectual, conforme
as limitações impostas à mulher da época, não se deu
em colégios, mas através do irmão mais velho, com
quem adquiriu conhecimentos em História, Ciências,
e Vernáculo, além de várias línguas estrangeiras (ver
Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1045). Aos
24 anos, já casada com o médico ginecologista Adol-
fo Guerra, com quem teve onze filho, publicou seu
primeiro livro, Lyrios da juventude (1909), que foi bem
recebido pela imprensa. Compôs também peças tea-
trais e hinos.
Obras da autora: Lyrios da juventude (1909, prefácio
de Carlos Arthur da Silva Leitão); Evocações (1957);
Poemas escolhidos (2000).

ERICKSON LUNA (1958-2007)* **


Poeta e compositor de música popular, nasceu no Re-
cife, PE, em 1958, e morreu em 2007. Faz parte do
Movimento de Escritores Independentes. Seus poe-
mas circulavam entre jovens do mundo boêmio do Re-
cife, com grande receptividade nessa área até que, em
2002, alguns foram inseridos na coletânea Marginal
Recife, da Prefeitura do Recife. Somente em 2004, pu-

576
blicou seus poemas em livro, que hoje se encontram
em inúmeras páginas da Internet. Participou das se-
guintes antologias: Movimento de escritores independen-
tes de Pernambuco – 1980/1988 (2000); Marginal Recife:
coletânea poética (2001); Pernambuco, terra da poesia.
Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI
ao XXI (2005); Recife/Nantes: um olhar transatlântico
(2007). Em 2006, com o poeta Francisco Espinhara,
também falecido em 2007, publicou o livro de poemas
Claros desígnios. Sobre ele, o artista plástico, poeta e
cronista, Ivan Marinho, anota no sítio virtual Interpoé-
tica: “Resguardado pelo senso de humor e presença
de espírito, bem como pelo prazer de manter-se lú-
cido e “sociável”, mesmo depois de homéricas farras,
o amigo-irmão – como se expressou para comigo no
posfácio do Anti-horário – revelava em seus poemas
a dor da convivência contemporânea, assumindo os
paliativos viciosos, mas sem desistir dos Claros desíg-
nios de quem se põe para além do “poder que se es-
tabelece sobre a ignorância”, como dizia em tom de
indignação: “(...) A tal sorte a mim me cabe lamentar
o pouco-a-pouco/ A morte tarda dos longevos/ Sorrir
da vida e a que ela se presta/ Tão mais intenso quanto
perto o fim// Os vícios tragam-me depressa/ À parte a
rebeldia que me torna em jovem”.
Obra do autor: Do moço e do bêbado (2004); Claros de-
sígnios (2006).

ESDRAS Leonam Alves de FARIAS (1889-1955)**


Poeta, jornalista, funcionário público, nasceu no Re-
cife, a 20 de novembro de 1889, e faleceu no dia 29
de abril de 1955. Dedicou-se ao jornalismo, tendo
sido redator do jornal O Intransigente e do Jornal do
Recife, órgãos políticos da imprensa pernambucana.
Foi membro da Academia Pernambucana de Letras
(1946). Notabilizou-se como grande sonetista. Entre
os seus sonetos mais conhecidos, destacam-se “Feliz

57
7
de ti que ainda choras”, “De conformidade comigo”,
“Para você mesmo. Esdras” (uma auto-advertência),
entre outros. Viveu humildemente e humildemente
morreu. No trigésimo aniversário do seu falecimen-
to, o jornalista Leduar de Assis Rocha escreveu: “No
Jornal do Recife, conheci Esdras Farias, magro, alto,
anguloso, com uma bizarra de Quixote nordestino a
investir contra os moinhos de vento da própria fan-
tasia de poeta, que foi dos que bem podiam ser lidos
e sentidos”. Muito de sua obra ficou disperso em jor-
nais, revistas e almanaque.
Obra do autor: Caderno de um descrente (1950, sonetos).

ÉSIO RAFAEL (1948)* **


Professor, poeta e pesquisador da poesia dos violei-
ros, nasceu no dia 23 de julho de 1948, em Sertânia,
PE. Ésio Rafael é pós-graduado em Literatura Bra-
sileira, pela Universidade Federal de Pernambuco;
bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade
Federal Rural de Pernambuco; Licenciatura Plena
na Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire). Como
pesquisador da poesia dos violeiros, publicou vários
trabalhos em livros, revistas e jornais, entre eles, o
ensaio Cantoria de viola hoje, em parceria com Luís
Carlos Monteiro; o Livro dos repentes, em parceria com
Jaci Bezerra; Antologia didática I de poetas pernambuca-
nos e Autores e títulos de teatro (Secretaria de Educação
/ Departamento de Cultura). A matéria “Ivanildo Vila
Nova, um divisor de águas”, publicada no Jornal da
Paraíba, em 17 de maio de 2005, obteve repercussão
internacional. Manteve a coluna “Recanto dos violei-
ros” no Commercio Cultural, do Jornal do Commercio,
quando da editoria de Alberto da Cunha Melo. Tem
no prelo o livro Mourão, escrito em parceria com Wil-
son Freire. Ésio Rafael é membro da União Brasileira
de Escritores (UBE-PE), da Comissão Pernambucana
de Folclore, e foi organizador de seis congressos de

578
cantadores no Recife, pela Fundarpe. Sempre atuante
no universo da poesia pernambucana, em sua mais
representativa tradição, foi agraciado com Título de
Cidadão da Cidade de São José do Egito, pelos servi-
ços prestados à cidade, através da cultura popular, e
o Título Adido Cultural do Sertão (Petrolina, PE), no
Governo Fernando Bezerra Coelho.

ESMAN Rodrigues DIAS de Oliveira (1937)*


Poeta, tradutor e professor de Literatura de expressão
inglesa e teoria e técnicas da tradução da Universida-
de Federal de Pernambuco. Nasceu na Paraíba, em 10
de maio de 1937, mas reside em Pernambuco desde
1940. Filho de sertanejos que migraram para o litoral,
passou infância e adolescência à beira-mar no Bairro
da Santa Cruz dos Milagres, em Olinda. Desde meni-
no, lê e escreve em duas línguas que lhe são afetiva-
mente mais próximas. Permanece fiel aos heróis do
seu tempo de menino: o Spirit de Will Eisner, o Tarzan
vivido por Johnny Weissmuller, um moleque chamado
Huck Finn – e os amigos que veio a conhecer no livro
Carlos Magno e seus cavaleiros, que recebeu do pai aos
sete anos de idade. Estudou na escola de Dona Edé
(o Instituto Nossa Senhora dos Milagres) e no Grupo
Escolar Sigismundo Gonçalves. Ensinou em Birmin-
gham, Alabama, e em Urbana-Champaign, Illinois.
Seus primeiros poemas foram republicados em mea-
dos dos anos 60 – no Diario de Pernambuco e no Jornal
do Commercio do Recife. Neste último, chega a assinar,
em parceria com Orley Mesquita, a coluna “Poesia e
Tempo”, que estamparia em 1965 um dos primeiros
poemas de José Almino Arraes de Alencar. Com Or-
ley Mesquita e Everardo Norões, integra, em 1965, a
coletânea CLAVE, composta de dezoito poemas, ilus-
trados pelos artistas Anchises Azevedo, José Cláudio,
João Câmara e Reynaldo Fonseca. Poemas seus apa-
recem em 46 Poetas, sempre (2002/2003), organizado

57
9
por Almir Castro Barros; Poesia pernambucana moderna
(1999), organizado por César Leal; Estação Recife – co-
letânea poética 1 (2003), organizado por Everardo No-
rões, José Carlos Targino e Pedro Américo de Farias;
Imagem passa palavra (Porto: Identidades, 2004); tem-
se empenhado em traduzir para o inglês certa parce-
la da nossa poesia contemporânea, representada por,
dentre outros, poemas de Alberto da Cunha Melo, Cé-
sar Leal e Everardo Norões. Coordena o Colóquio Cecí-
lia Meireles, conclave anual de caráter interdisciplinar
voltado para o estudo da criação poética.

EUGÊNIA Maria Simões Cézar MENEZES (1939)*


Contista, poeta, ensaísta, nasceu em Taperoá, Paraí-
ba, mas passou a morar no Recife, a partir de 1952.
É socióloga e trabalhou como pesquisadora social
durante trinta anos na Fundação Joaquim Nabuco
(Fundaj). Começou a escrever aos quarenta anos,
publicando os livros de contos pelas Edições Pirata,
movimento editorial do qual fez parte. Publicou, em
parceria com Vernaide Wanderley: em livro, Viagem
ao sertão brasileiro. Uma interpretação geo-sócio-antropoló-
gica (1997), Prêmio Casa-Grande & Senzala da Fun-
daj, 1998; “Religiosidade em Canudos: interpretação
da visão euclidiana” (1992, revista O olho na história);
“Do espaço ao lugar. Uma viagem ao sertão brasilei-
ro” (1996, revista Percepção Ambiental). Há vários
ensaios seus publicados individualmente, como “A
unidualidade em Osman Lins” (1995, revista Inves-
tigações, da UFPE) e “Trabalho e poder no processo
migratório”, uma análise do romance Essa terra, de
Antônio Torres (1995, Cadernos populares, da Fundar-
pe). Publica regularmente ensaios e contos em jornais
e revistas especializados. A partir de 1966, ingressou
no Traço Freudiano, instituição psicanalítica do Reci-
fe, redirecionando seus trabalhos com essa perspecti-
va. Tem poemas e prosa-poética incluídos em várias

580
antologias, sendo as mais recentes: 46 Poetas, sempre
(2002) e Corpo lunar (2002). Ainda na área literária,
publicou: Cartas Marianas (1999, em parceria com
Maria Pereira de Albuquerque) e Histórias do meio do
mundo (2003, em parceria com Vileni Garcia, Mila
Cerqueira e Maria Pereira de Albuquerque). Obras
da autora em prosa poética: Terra arada (1980); Re-
construção da lembrança (1981); O canto da minha memó-
ria (1990, ilustrações de Romero de Andrade Lima,
Menção Honrosa do Prêmio Vânia Souto Carvalho,
da Academia Pernambucana de Letras 1991); Equívo-
cos do cotidiano (1992).

EUGÊNIO COIMBRA Jr. (1905-1972)**


Poeta, jornalista, funcionário público, nasceu no Reci-
fe, a 15 fevereiro de 1905, e faleceu na mesma cidade,
no dia 21 de março de 1972. Foi redator do Jornal
do Recife, do Diário da Manhã, do Diário da Tarde, do
Jornal Pequeno e do Jornal do Commercio. Foi colabora-
dor ou redator de diferentes revistas e periódicos do
Recife e de Olinda e membro da Academia Pernam-
bucana de Letras. Deixou inédito um livro de poesia,
Céu e mar. E um livro em prosa inconcluso, Memórias,
trabalho que vinha realizando desde o início da déca-
da de 1950, mas que, infelizmente, teve os originais
desaparecidos de sua mesa de trabalho, no Jornal do
Commercio, após a sua morte, conforme depõe a famí-
lia à jornalista Fernanda D‟Oliveira.
Obras do autor: Poemas de abril e outros meses (1965).

EVERARDO NORÕES [José Everardo Arraes de


Alencar] (1944)*
Poeta, dramaturgo, ensaísta, antologista e economis-
ta, nasceu no Crato, Estado do Ceará, em 1944. Viveu
na França, na Argélia e em Moçambique. É coautor da
peça de teatro Auto das portas do céu (2002) e do livro
de crônicas Nas entrelinhas do mundo (2002). Publicou

58
1
poemas no jornal argelino EI Moudjahid, na revista
Poesia Sempre, da Fundação da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro; no jornal Correio das Artes, de João
Pessoa, PE, na antologia de poetas pernambucanos 46
Poetas, sempre, na página da internet Nave da Palavra,
no livro Imagem passa palavra (Edição Identidades,
Porto, Portugal, 2004). Publica regularmente artigos
e ensaios em jornais e revistas especializadas: Diario de
Pernambuco, Jornal do Commercio, Gazeta Mercantil, Fo-
lha de S.Paulo, revista Continente Multicultural. Obteve
o Prêmio Literário Cidade do Recife (1998). É editor
da Obra poética de Mauro Mota (Recife, Ensol, 2004)
e organizador da Obra completa de Joaquim Cardozo
(Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2009). Na área teatral,
é coautor das peças Auto das portas do céu e Nascimento
da bandeira, de Ronaldo Correia de Brito. Foi tradutor
(português – francês) da coletânea Nantes Recife. Um
olhar transatlântico (2007), na qual também se encon-
tram seus poemas.
Obras do autor: Poemas argelinos (1981) e Poemas
(1999); Nas entrelinhas do mundo (2002); A rua do Padre
Inglês (2006); Retábulo de Jerônimo Bosch (2008).

José Joaquim FARIA NEVES SOBRINHO (1872-


1927)**
Poeta, jornalista, professor, político militante, nasceu
no Recife, a 2 de abril de 1872, e faleceu a 4 de ja-
neiro de 1927, aos 55 anos de idade. Ainda bastan-
te jovem, dedicou-se às letras, cultivando a poesia.
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife
e tomou posse, em 1901, na Academia Pernambuca-
na de Letras. Seu grande biógrafo, o crítico literário
Vamireh Chacon, anota: “É no Faria Neves Sobrinho
poeta que surge sua mais completa imagem, dele que
se iniciara pelos versos de „Chimeras‟ e que termina-
ria os dias publicando outro volume no mesmo gêne-
ro, “Crepúsculo”. Com exceção de „Estatuaria‟, 1903,

582
e „Estrophes‟, 1911, nos seis títulos impessoais muito
ao gosto parnasiano, os demais indicam a tendência,
já referida, à melancolia e mesmo à hipocondria.”
Obras do autor: Quimeras (1890, poemas); O hidrófobo
(1896, contos); Morbus (1898, romance); Estrophes (1911,
poemas); Pôr do sol (1920, poemas); Sol posto (1923, poe-
mas); Crepúsculo (1924, poemas); Poesias (1925); Noite
(1935, poemas); Poesias (1949, obra póstuma).

Conceição de FÁTIMA Felix FERREIRA (1965)*


Poetisa e bacharel em Direito, nasceu em Olinda, no
ano de 1965. Participou ativamente do Movimento
de Escritores Independentes, e foi editora dos jornais
alternativos Americanto e Cântaro. Teve, recentemente,
seus poemas incluídos nas antologias Marginal Recife.
Coletânea poética 2 (2003); Retratos. A poesia feminina
contemporânea em Pernambuco (2004). Inéditos: O
pássaro dourado (teatro); Submundo (teatro); Dinastia
dos perdidos (contos). Todos os seus livros publicados
são de poesia.
Obras da autora: Decomposição (1981); Dedetização.
Dia de festa (1981); Asas de sangue (1982).

FERNANDO Antônio de Barros MONTEIRO


(1949)* **
Ficcionista, poeta, crítico de arte e cineasta, nasceu no
Recife, PE, em 1949. É bacharel em Ciências Sociais
e estudou Cinema em Roma (Itália), no Centro Spe-
rimentale de Cinematografia. Conquistou diversos
prêmios nacionais e internacionais como poeta, ro-
mancista e diretor de filmes documentários (no Mé-
xico, na Alemanha e na Polônia). Produziu e dirigiu
cerca de 15 documentários de curta-metragem (35
mm); todos distinguidos com a Classificação Especial
do Concine, na época, entre os quais: Visão apocalípti-
ca do radinho de pilha (1972), representante do Brasil
no Festival de Guadalajara; Filme de percussão merca-

58
3
do adentro (1974), representante do Brasil no Festival
de Karlov-Vary (RDA); Saideira (1980), representante
do Brasil no Festival de Varsóvia, Cultura Marginal
Brasileira; Leilão sem pena – Prêmio de Melhor Ro-
teiro no Festival de Cinema de Aracaju (1981), entre
outros. Prêmios literários: O rei póstumo (1975), Prê-
mio Othon Bezerra de Mello da Academia Pernam-
bucana de Letras, em 1976; Brennand (ensaio crítico),
Prêmio Santa Rosa, da Funarte (1987); Ecométrica,
Prêmio Nacional da UBERJ; Aspades, ETs Etc (1997,
romance), considerada a “melhor obra de ficção, em
língua portuguesa”, daquele ano. A cabeça no fundo
do entulho (1998), Prêmio Bravo! De Literatura, em
1999. Armada América (1993), um dos cinco finalistas,
na segunda edição do Prêmio Brasil-Telecom (2004).
O jornal Rascunho, de Curitiba, iniciou, no mês de
julho de 2005, a publicação, em capítulos mensais, do
romance inédito de Fernando Monteiro intitulado O
inglês do Cemitério dos Ingleses. Como crítico de arte, foi
curador de várias galerias, além de apresentador da
“Exposição Francisco Brennand”, na Staatliche Kuns-
thalle, em Berlim (1993). Tem colaborado nas revis-
tas Bravo, Colóquio das Letras (Portugal), Continente
Multicultural, Estudos Universitários (UFPE), Encontro
(GPL - PE), revista Etcetera, de Curitiba; e nos jornais
Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio, PE; e O
Tempo, MG. Tem uma coluna fixa (intitulada “Fora de
Sequência”), como articulista, no jornal Rascunho, de
Curitiba, desde o ano de 2000.
Obras do autor: O rei póstumo (1975); Leilão sem pena
(1980); Aspades, ETs Etc (1997, romance); Ecométrica
(1982); A cabeça no fundo do entulho (1998; A múmia do
rosto dourado do Rio de Janeiro (2001, romance); O grau
Graumann (2002, romance); Armada América (2003,
contos), As confissões de Lúcio (2006, romance), O nome
de um hamster (2008, literatura infantil), Vi uma foto de
Anna Akhmátova (2009, poesia).

584
FLÁVIO Ricardo CHAVES Gomes (1958)**
Escritor, poeta, produtor cultural, publicitário e jor-
nalista, é pernambucano de Carpina, filho de José
Gomes Júnior e de Maria de Lourdes Chaves Gomes.
Sua carreira literária foi marcada pelo seu primeiro
livro de poesia, Digitais de um coração, de 1983, ao
qual se seguiriam mais cinco títulos no mesmo gêne-
ro. Criou e executou vários projetos culturais com o
objetivo de difundir e incentivar a arte pernambuca-
na, entre eles, destaca-se a Caminhada Poética Brasi-
leira, por três anos consecutivos, movimento que reu-
niu pelas ruas históricas do Recife os maiores nomes
da poesia nacional. É filiado à União Brasileira de
Escritores (UBE-PE), onde exerceu o cargo de presi-
dente nos biênios 1995-1996, 1997-1998, 1999-2000
e 2001-2002. Em sua gestão, dinamizou as atividades
da UBE, tendo como principais realizações: cons-
trução da sede da Entidade, hoje instalada na rua
de Santana, 202; criação da biblioteca, que já con-
ta com acervo de mais de 4.000 volumes; realização
do I Congresso Nacional de Escritores; promoção de
concursos literários em âmbito local e nacional, entre
outras. Pertence às Academias: de Letras e Artes do
Nordeste Brasileiro; de Artes e Letras de Pernambu-
co, Cadeira nº 34; Recifense de Letras, Cadeira nº 36;
Pernambucana de Letras, Cadeira nº 13. Participou
de várias antologias, entre elas, destacam-se: Álbum
do Recife. 450 anos de Fundação da Cidade do Recife
(1987); Poésie du Brésil, edição bilingue da Vericuetos,
Chemins, Paris, 1997, tendo proferido a palestra “O
tempo e a filosofia da alma no universo da poética”,
na ocasião do lançamento, na Casa da América Lati-
na, Paris, em 1º de janeiro de 1997. Obteve diversos
prêmios, entre eles, destacam-se os concedidos pela
Academia Pernambucana de Letras: Prêmio Nanie de
Siqueira Santos, 1992 e 1994, Prêmio Lira e César,
1998, e o Prêmio de Poesia Cidade do Recife, 1998.

58
5
Obras do autor: Digitais de um coração (1983); Ofício de
existir (1985); Vocabulário das sombras (1990); Alvoroço
do invisível (1992); Aragem do subterrâneo (1994).; Terri-
tório da lembrança (1999); Memorial da distância (2002);
Canção de vento e mar (2005); Porto dos vitrais (2006).

FRANCISCA IZIDORA GONÇALVES DA ROCHA


(1855-1918)**
Conferencista, poetisa, cronista, romancista e tradu-
tora. Conforme Henrique Capitolino, em Pernambu-
canas illustres (1879), “Nasceu no engenho S. André,
da comarca de Jaboatão. É autora de um drama líri-
co, em três atos, e de duas traduções de Byron, ain-
da não publicados [à época do autor], assim como de
diversas produções em prosa e verso, que muito nos
honram.” Luzilá Gonçalves Ferreira atualiza a biogra-
fia dessa escritora num verbete inserido em Escritoras
brasileiras do século XIX (2000, p. 758-760), onde se re-
gistram dados como a data de seu nascimento, em 24
de janeiro de 1855, e de seu falecimento, na cidade
de Vitória, onde exercia o magistério, em 22 de janei-
ro de 1918. E revela: “Durante anos foi colaboradora
de muitos jornais pernambucanos, entre os quais, o
Phanal (de Jaboatão), o Commercio (do Cabo), A Pro-
víncia, o Diario de Pernambuco (do Recife) e foi uma das
principais redatoras da revista O Lyrio, editada por
senhoras, no Recife, entre os anos de 1902 e 1904.
Foi membro da Officina Litterária Martins Junior, do
Grêmio Jaboatonense Seis de Março, e sócia corres-
pondente da Academia Pernambucana de Letras. A
revista da APL publicou Elnar, seu drama lírico em
três atos. Segundo H. Capitolino, em seu livro Per-
nambucanas ilustres, ela escreveu o drama A filha dos
tupys, e o romance O sítio de Lysandra. O Lyrio come-
çara a editar sua novela Predestinação, dois números
antes de deixar de ser editado. Consta que publicou
também um livro de versos, Açucenas e um volume de

586
textos em prosa, Distrações e lembranças. Tradutora exí-
mia, Francisca Izidora traduziu poemas de Ossian, La
chaumiêre indienne, de B. de Saint-Pierre, poemas de
Byron, inclusive o Matifred, e de Campoamor, entre
outros. Durante anos, manteve no jornal A Victoria, de
propriedade de seu irmão, o deputado Gonçalves da
Rocha, uma coluna de crônicas, „Ao Correr da Pena‟.
[...] Uma fotografia conservada no acervo da Funda-
ção Joaquim Nabuco mostra-nos uma jovem de belos
traços e olhar sonhador.” Artigos vários nos jornais
citados, entre os anos de 1879 e 1918, nas cidades de
Vitória e do Recife.
Obras da autora: Ursula Garcia (1905), folheto publi-
cado e depositado na Seção de Obras Raras da Biblio-
teca Pública Estadual, no Recife).

FRANCISCO ALTINO DE ARAÚJO (1849–)**


Poeta. “Nasceu em Pernambuco em 1949.” É essa a
única referência encontrada sobre o autor, na obra
rara Parnaso brazileiro. Século XVI-XIX (1885), de Mello
Moraes Filho, na secção Biographia Geral (p. 15).

FRANCISCO Austerliano BANDEIRA DE MELLO


(1936)* **
Poeta, contista, advogado e jornalista, nasceu no Reci-
fe, a 24 de abril de 1936. Filho de Francisco José Ban-
deira de Mello (engenheiro) e de Nadir Bandeira de
Mello. Bacharelou-se em Direito pela UFPE. Exerceu
várias funções públicas, tendo sido presidente da Em-
presa Pernambucana de Turismo e, depois, secretário
de Turismo, Cultura e Esportes do Estado de Pernam-
buco, em dois governos consecutivos. Foi colunista po-
lítico e colunista literário em jornais do Recife. Publi-
ca, desde 1991, um artigo semanal no Jornal do Com-
mercio do Recife. Conforme Alberto da Cunha Melo,
“Procurou inteligentemente aliar a ânsia de expressão
à necessidade de comunicação. Tudo isso resultando

58
7
numa poesia muito inventiva, equilibrada sobre um
feixe de tensões. Escasso em obras (publicadas), mas
denso em toda a sua produção, é Bandeira de Mello
um dos mais representativos poetas pernambucanos.
Une o desprezo ao meramente ornamental à eficácia
expressiva, e a recusa ao experimento inconsequen-
te e gratuito a uma espécie de dialética morfológico-
sintática (...)”. Participou de várias antologias, entre
elas, A novíssima poesia brasileira (1962); Urbanismo na
literatura (1987); Álbum do Recife (1987); Poésie do Brésil
(1997), edição bilíngue; Poemas de sal e sol. Antologia
de poetas nordestinos e contemporâneos (1999); e Amor nos
trópicos (2000). Recebeu os prêmios de poesia da revis-
ta A Cigarra, RJ, em 1954 e 1955; do Jornal de Letras,
RJ, 1955, e do Estado de Pernambuco, 1955. É presi-
dente do Conselho Deliberativo do Instituto Frei Ca-
neca. Membro da UBE-PE. Em 1998, foi eleito para a
Academia Pernambucana de Letras.
Obras do autor: O pássaro Narciso (1959), Prêmio
de Poesia do Estado de Pernambuco; A máquina de
Orfeu e o Sol amargo (1961); Poemas didáticos (1968);
Convergências. Cadernos de Procura I (1994, crônicas
e ensaios); Através da vidraça. Cadernos de Procura II
(1997, crônicas e ensaios); Livro de sonetos (1999); Baú
de espelhos (2000).

FRANCISCO ESPINHARA [Francisco de Assis Sil-


va] (1960)* **
Poeta, professor de Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira, nasceu em 1960 em Arcoverde, e morreu
em 2007, no Recife. É integrante de primeira linha
(década de 80) do Movimento de Escritores Inde-
pendentes de Pernambuco e publicou um livro com o
mesmo nome do movimento, com perfil documental
e histórico, no ano de 2000. Produziu o CD Vários
poemas vários. 25 Poetas contemporâneos (1999), divul-
gando a poesia pernambucana em viva voz. Editou os

588
jornais alternativos Arrebeat, O Meretriz e edita o Líte-
ro Pessimista. Do Interpoética, www.interpoetica.com,
núcelo virtual de base da sua geração, as informações
pertinentes a sua vivência cultural: “Espinhara, ape-
sar do pessimismo que lhe era peculiar, era afeito a
mobilizações, reuniões e movimentos para edição
e divulgação da arte. Foi o organizador, durante 10
anos do Natal dos Poetas Pernambucanos, festa que
aglutinava toda a cena alternativa do Recife que se
confraternizava em espaços populares, com grandes
recitais e música. Em julho de 2006, lançou o livro
Bacantes, organizado pelo Interpoética, firmando um
etilo próprio de escrever pequenos contos, já inicia-
do no livro Sangue ruim. Junto com Luna, foi o poeta
homenageado do V Festival Recifense de Literatura.
Deixou um acervo inédito de poesia e um livro in-
fantil intitulado A menina e o cururu. Chico Espinhara
era um romântico por natureza, teve musas reais e
imaginárias. Morreu como viveu: poeta, apenas poe-
ta, produzindo e divulgando Poesia”. Participou das
seguintes coletâneas: Revista Arrecifes (1985); Poesia
viva do Recife (1996); Marginal Recife: coletânea poética
I (2001); Pernambuco, terra da poesia (2005).
Obras do autor: Vida transparente (1981); A batalha
pelo poema (1984); Teje preso, seu rapaz! (1987); Dose
dupla (1994); Movimento de escritores independentes de
Pernambuco. 1980/1988 (2000, história). Sangue ruim
(2005); Bacantes (2006); Claros desígnios (2006).

Francisco FERREIRA BARRETO (1790-1851)**


Poeta, pregador e jornalista, nasceu no Recife, PE, em
1790, e faleceu em Vila de Flores, PE, em 25 de feve-
reiro de 1851. Pe. Barreto, como era mais conhecido,
foi ordenado pela Companhia de Jesus. Fez parte da
Assembleia Constituinte e Legislativa do Império. Es-
timulou muitos sacerdotes para o engajamento na Re-
volução de 1917, mas não participou dela. Escreveu

58
9
o periódico “Relator Verdadeiro” de breve duração.
Esteve algum tempo fora do Brasil, em face de algu-
mas decepções políticas. Conforme Massaud Moisés:
“Sua poesia, formal e tematicamente, pertence ao
Arcadismo, mas traz certas notas como a melancolia,
que prenunciam o Romantismo (...).”
Obras do autor: Obras profanas e religiosas (1874), co-
lecionadas por Antonio Joaquim de Mello, com pre-
fácio crítico.

FREI Joaquim do Amor Divino CANECA (1779-


1825)**
Poeta, historiador, cientista político, gramático, la-
tinista, filósofo, nasceu no Recife em 1779 e morreu
fuzilado, em 1825, quando do malogro da Confedera-
ção do Equador (1824) da qual era um dos principais
líderes. Foi considerado o maior erudito brasileiro do
seu tempo. Tornou-se grande escritor, conhecedor
profundo da Mitologia, da Astronomia e das Ciências
Naturais, polemista e jornalista combatente. Também
cultivou a poesia, ficando seus poemas bastante espar-
sos, entre os quais, notabilizou-se o “Entre Marília e
a Pátria”, transcrito neste painel. Seu nome de batis-
mo era Joaquim do Amor Divino Rabelo. O cognome
“Caneca” se deu porque seu pai Domingos da Silva
Rabelo era fabricante de barris e canecos. Professou
na Ordem do Carmo, no Recife (1796). Editava o
jornal Typhis Pernambucano, o alicerce de sua política
de combate à autocracia de Pedro I. Destacadamente
erudito, seus escritos, cartas, poemas, sermões, obras
didáticas e discursos políticos, foram compilados em
As obras políticas e literárias de Frei Joaquim do Amor Di-
vino Caneca, por Antonio Joaquim de Mello, em dois
volumes (1875-1876). É uma das personalidades mais
marcantes da tradição revolucionária pernambucana.
Obras do autor: A Portugal (1822); Breve gramática por-
tuguesa (1823), escrita no cárcere, na Bahia, para ensi-

590
nar a uma freira; Tratado de Eloquência (1823), em três
partes; Sermão sobre a oração (1823); Sermão na Socieda-
de de Aclamação de D. Pedro de Alcântara (1823); Polêmica
partidária (1823); Cartas de Pítia a Damião (1823); Typhis
Pernambucano (1823-1824, jornal, 28 números).

GERALDINO BRASIL [Geraldo Lopes Ferreira]


(1926-1996)*
Poeta, bacharel em Direito, nasceu no Engenho Boa
Alegria em Atalaia, AL, em 27 de fevereiro de 1926,
mas passou a residir no Recife, PE, em 1951, onde
faleceu. Exerceu o cargo de Procurador Federal da
República. Sua obra é composta apenas do gênero
poético, nunca editou livros em prosa. A seguir, o
verbete redigido pela sua filha Beatriz Brenner, uma
jovem escritora, especialmente para este nosso painel
literário. “Ele é mais conhecido na Colômbia do que
no Brasil. O livro Poemas insólitos e desesperados caiu
nas mãos do poeta colombiano Jaime Jaramillo Esco-
bar que o traduziu e, em 1979, o publicou. Em 1991,
Geraldino escreveu a sua primeira sextina. Um ano
após, pensou ter escrito a última, a de número 52, que
dedicou a Arnaud Daniel, inventor do gênero. Igual
número alcançou o poeta Antonio Agostinho Torti,
da primeira metade do século XVI. Mas Geraldino
não conseguiu parar nas 52. Ele foi bem além. Assim,
tornou-se o maior fazedor de sextinas do mundo e a
sua paixão por essa forma de escrever poema é assim
expressa: “Há duas coisas no mundo que excitam e
levam ao êxtase de um indizível eriçamento, o Amor
e uma Sextina. Como no amor, esse êxtase poderá
multiplicar-se. O tumulto da festa da sextina única
poderá repetir-se às vezes, até à exaustão, como na
amorosa relação.” A exclusiva obra poética de Geral-
dino se traduz como ele mesmo dizia: „A minha poe-
sia é profundamente a vida de cada um de nós.‟ A
preocupação do poeta com o ser humano o fez pedir

59
1
a Deus, através do poema “Pequeno pedido em noite
de Natal”, um dia propício para morrer. Assim, não
seria o „desmancha-prazeres das quintas e das sextas-
feiras dos casamentos das minhas netas‟; da parada
de 7 de Setembro; das noites dos festejos de São João;
dos amantes dos sábados, as terças de Carnaval. Ge-
raldino saiu pedindo e pedindo. E, finalmente, supli-
ca: „Nem nos dias da ilusão/ do Ano Novo, nas festas
dos congraçamentos, pelo menos/ até Reis. Não gos-
taria que o Ano Novo dos companheiros/ recomeças-
se com mágoas, não por mim seja.‟ Geraldino Brasil
morreu no dia 7 de janeiro no Recife em um domingo
ensolarado. Partiu feliz e grato a Deus por seu pedido
ter sido plenamente atendido.” Neste ano de 2010,
a obra de Geraldino projeta novas luzes no cenário
literário pernambucano com o lançamento dos livros
Antologia Poética, Geraldino Brasil (Prêmio concedido
pelo Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do
Recife, organizada por Beatriz Brenner); A intocável
beleza do fogo (publicação concedida pela CEPE).
Obras do autor: Alvorada (1947); Presença da ausência
(1952); Coração (1956); Poemas insólitos e desesperados
(1972); Cidade do não (1979); Sonetos de sol (1979); Poe-
mas (1982), traduzido na Colômbia; Todos os dias, todas
as horas (1972); Bem súbito (1986); Todos os dias, todas as
horas e novos poemas (1989); O fazedor de manhãs (1990);
Não haverá anoitecer (1991); Livro de sextinas (1992); 52
Sextinas (1993); Praça dos namorados (1993); Sextinas
múltiplas (1994); Um soneto de sol para Cézanne (1994);
Rosas no ar (1994); Sextinas de sol (1995); 15 Poemas de
Walt Whitman (s.d.); Poemas desentranhados das prosas de
Dostoiévski, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Fernan-
do Monteiro (s.d.); Poemas útiles (2003); Poemas de ler sem
tempo (2003); Antologia poética, Geraldino Brasil (2010);
A intocável beleza do fogo (2010).

592
GILBERTO de Melo FREYRE (1900-1987)**
Cientista social, ensaísta, conferencista, ficcionista,
pintor e poeta, Gilberto Freyre nasceu no Recife, PE,
em 15 de março de 1900, e faleceu nessa capital per-
nambucana em 18 de julho de 1987. Era filho de Al-
fredo Freyre, educador, juiz de Direito e catedrático de
Economia Política na Faculdade de Direito do Recife,
e de Francisca de Mello Freyre. Sua formação iniciou-
se no Colégio Americano Gilreath, no Recife, ao oito
anos de idade, onde conclui, em 1917, o bacharelado
em Ciências e Letras. Viaja para os Estados Unidos
onde conclui o bacharelado em Artes, na Universida-
de de Baylor, em 1920. Em 1922, defende tese para o
grau de M.A. (Magister Artium ou Master of Arts) na
Universidade de Colúmbia intitulada Social life in Bra-
zil in the middle of the 19th Century, publicada em Bal-
timore pela Hispanic American Historical Review. Segue
para a Europa, onde convive com personalidades hoje
celebrizadas do mundo das Artes, e conhece os movi-
mentos de vanguarda: o Expressionismo alemão e o
Imagismo inglês. Retorna ao Brasil em 1923. Organi-
za, em 1925, o livro comemorativo do primeiro cen-
tenário de fundação do Diario de Pernambuco: Livro do
Nordeste, onde foi publicado pela primeira vez o poema
modernista de Manuel Bandeira “Evocação do Reci-
fe”, escrito a seu pedido. Em 1926, lança o “Manifesto
Regionalista”, lido no Primeiro Congresso Brasileiro
de Regionalismo, no Recife, representando, conforme
Gilberto Mendonça Teles (ver Vanguardas europeias e
modernismo brasileiro, 1983, p. 344), o primeiro do gê-
nero. Foi publicado em vários jornais, mas, na íntegra,
só em1952, pela editora Região, no Recife. Em 1948,
o então deputado federal Gilberto Freyre defende em
discurso na Câmara dos Deputados a criação de um
instituto de pesquisas com o nome de Joaquim Na-
buco. A ideia obteve pleno êxito e, em 1949, é criado
o Instituto Joaquim Nabuco, hoje Fundação Joaquim

59
3
Nabuco. Foi nessa instituição que um grupo de inte-
lectuais, formado, entre outros, por Alberto da Cunha
Melo, Eugênia Menezes, Jaci Bezerra e Myrian Brin-
deiro, criou a editora alternativa Pirata, pela qual Gil-
berto Freyre publicaria, em 1980, Poesia reunida, sua
mais completa obra poética, onde se incluem poemas
do Talvez poesia (1962) e outros inéditos. Mas o “Mes-
tre de Apipucos”, como carinhosamente se costuma
chamá-lo, por ter fixado residência no bairro de Api-
pucos, no Recife, internacionalizou-se definitivamen-
te, nas páginas das Letras mundiais, com a obra Casa-
grande & senzala: formação da família brasileira sob o regi-
me de economia patriarcal (1933) que, juntamente com
Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso (1959),
a consagrada trilogia sobre o patriarcado brasileiro,
redefiniu diversos conceitos sobre a formação da nos-
sa sociedade, conta hoje com numerosas edições em
diversos idiomas. Publicou apenas três livros de poe-
mas: Talvez poesia (1962); Gilberto poeta: algumas con-
fissões (1980); Poesia reunida (1980), e os citamos aqui
para destacá-los das demais obras científicas ou em
prosa de ficção, que constituem a maioria da obra do
autor. O seu biógrafo Edson Nery da Fonseca, estudio-
so e analista da obra gilbertiana, afirma: “Em seus tra-
balhos científicos, Gilberto Freyre nunca se limitou a
descrever ou reproduzir passivamente o conhecimen-
to conquistado em outros saberes. Sempre foi movido
pelo ânimo criador ou recriador do escritor, buscando
a evocação, a sugestão, a alusão e a epifania. [...] o
talento do escritor Gilberto Freyre, implícito em sua
obra ensaística, transitando entre o erotismo, o liris-
mo e o amor pelas formas e cores brasileiras.” Estas e
mais declarações e informações encontram-se no sítio
virtual editado pela Fundação Gilberto Freyre, criada
e administrada pelo seu filho, Fernando Freyre, que
faleceu no Recife, PE, em 2005. Neste ano de 2010,
registram-se os 110 de nascimento de Gilberto Freyre,

594
e foi ele o escritor homenageado da Festa Literária de
Paraty, quando foi lançada a coletânea Em torno de Joa-
quim Nabuco, pela A Girafa Editora. Trata-se de uma
reunião de seus artigos sobre outro grande nome da
vida brasileira, Joaquim Nabuco. O prefaciador Edson
Nery da Fonseca informa: “como estudioso da socie-
dade patriarcal no Brasil – sua formação, seu apogeu
e sua desintegração – Gilberto Freyre estava prepara-
do como poucos para entender o drama pessoal de
Joaquim Nabuco, adversário da instituição dentro da
qual nascera e fora criado e figura de transição entre a
Monarquia e a República”.
Obras do autor (livros publicados no Brasil): Casa-
grande & senzala: formação da família brasileira sob o
regime de economia patriarcal (1933); Artigos de jor-
nal (1934); Guia prático, histórico e sentimental da cidade
do Recife. Ilustrado por Luís Jardim (1934); Nordeste:
aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisa-
gem do nordeste do Brasil (1937); Conferências na Eu-
ropa (1938); Assucar: algumas receitas de doces e bo-
los dos engenhos do Nordeste (1939); Olinda: 2º Guia
prático, histórico e sentimental de cidade brasileira.
Ilustrado por Manuel Bandeira (1939); O mundo que o
português criou: aspectos das relações sociaes e de cul-
tura do Brasil com Portugal e as colônias portuguesas
(1940); Um engenheiro francês no Brasil (1940); Região
e tradição (1941); Ingleses (1942); Problemas brasileiros
de antropologia (1943); Na Bahia em 1943 (1944); Perfil
de Euclydes e outros perfis (1944); Sociologia: introdu-
ção ao estudo dos seus princípios (1945); Interpreta-
ção do Brasil: aspectos da formação social brasileira
como processo de amalgamento de raças e culturas
(1947); Ingleses no Brasil: aspectos da influência bri-
tânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Bra-
sil (1948); Quase política: 9 discursos e 1conferência
mandados publicar por um grupo de amigos (1950);
Aventura e rotina: sugestões de uma viagem a procura

59
5
das constantes portuguêsas de caráter e ação (1953);
Ordem e progresso: processo de desintegração das so-
ciedades patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o
regime de trabalho livre, aspectos de um quase meio
século de transição do trabalho escravo para o traba-
lho livre e da monarquia para a república (1959); A
propósito de frades: sugestões em torno da influência de
religiosos de São Francisco e de outras ordens sobre
o desenvolvimento de modernas civilizações cristãs,
especialmente das hispânicas nos trópicos (1959); O
velho Félix e suas “memórias de um Cavalcanti” (1959);
Uma política transnacional de cultura para o Brasil de
hoje (1960); Arte, ciência e trópico: em torno de alguns
problemas de sociologia da arte (1962); Talvez poesia
(1962); Vida, forma e cor (1962); O escravo nos anúncios
de jornais brasileiros do século XIX: tentativa de interpre-
tação antropológica, através de anúncios de jornais,
de característicos de personalidade e de deformações
de corpo de negros ou mestiços, fugidos ou expostos
à venda, como escravos, no Brasil do século passado
(1963); Dona Sinhá e o filho padre: seminovela (1964);
Retalhos de jornais velhos (1964); Vida social no Brasil nos
meados do século XIX (1964); 6 Conferências em busca de
um leitor (1965); O Recife, sim! Recife, não! (1967); Bra-
sis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas
brasileiros de unidade e diversidade e das relações
de alguns deles com problemas gerais de pluralismo
étnico e cultural (1968); Como e porque sou e não sou so-
ciólogo (1968); Oliveira Lima, Don Quixote gordo (1968);
Nós e a Europa germânica: em torno de alguns aspec-
tos das relações do Brasil com a cultura germânica
no decorrer do século XIX (1971); Novo mundo nos
trópicos (1971); Seleta para jovens (1971); A condição hu-
mana e outros temas (1972); Além do apenas moderno: su-
gestões em torno de possíveis futuros do homem, em
geral, e do homem brasileiro, em particular (1973);
O brasileiro entre os outros hispanos: afinidades e possí-

596
veis futuros nas suas interrelações (1975); A presença
do açúcar na formação brasileira (1975); Tempo morto e
outros tempos: trechos de um diário de adolescência e
primeira mocidade, 1915-1930 (1975); Obra escolhida:
Casa-grande & senzala, Nordeste e Novo mundo nos
trópicos (1977); O outro amor do Dr. Paulo: seminovela,
continuação de Dona Sinhá e o filho padre (1977);
Alhos e bugalhos: ensaios sobre temas contraditórios,
de Joyce a cachaça (1978); Arte & Ferro: em torno de
portões, varandas e grades do Recife Velho (1978);
Cartas do próprio punho sobre pessoas e coisas do Brasil e do
estrangeiro (1978); Contribuição para uma sociologia da
biografia: o exemplo de Luís de Albuquerque, gover-
nador de Mato Grosso, no fim do século XVII (1978);
Prefácios desgarrados (1978); Heróis e vilões no romance
brasileiro: em torno das projeções de tipos socioantro-
pológicos em personagens de romances nacionais do
século XIX e do atual (1979); Oh de casa! Em torno da
casa brasileira e de sua projeção sobre um tipo nacional de
homem (1979); Pessoas, coisas & animais (1979); Tempo
de aprendiz: artigos publicados em jornais na adoles-
cência e na primeira mocidade do autor, 1918 a 1926
(1979); Gilberto poeta: algumas confissões (1980); Poe-
sia reunida (1980); Casa-grande & senzala em quadrinhos
(1981) Desenhos (1981); Rurbanização: que é? (1982);
Apipucos: que há num nome? (1983); Médicos, doentes
e contextos sociais: uma abordagem sociológica (1983);
Homens, engenharias e rumos sociais: em torno das rela-
ções entre homens de hoje, sobretudo os brasileiros,
e as três engenharias indispensáveis a políticas de de-
senvolvimento e segurança, por um lado, e por outro
lado, a ajustamentos a espaços e a tempos, a enge-
nharia física, a humana e a social, considerando-se,
inclusive, o desafio, a essas engenharias, das selvas do
Brasil, em particular, das amazônicas (1987); Modos
de homem & modas de mulher (1987); Ferro e civilização
no Brasil (1988); Bahia e baianos (1990); Discursos par-

59
7
lamentares (1994); Novas conferências em busca de leitores
(1995); Antecipações (2001); Casa-grande & senzala: for-
mação da família brasileira sob o regime de economia
patriarcal (2002), edição crítica; Americanidade e latini-
dade da América Latina e outros temas afins (2003); China
tropical e outros escritos sobre a influência do Oriente na
cultura luso-tropical (2003); Palavras repatriadas (2003);
Três histórias mais ou menos inventadas (2003). Em torno
de Joaquim Nabuco (2010).

GLADSTONE VIEIRA BELO (1946)* **


Escritor, jornalista e poeta, Gladstone Vieira Belo
nasceu em Bom Conselho, PE, residiu por dez anos
em Garanhuns, realizando nessa cidade as suas pri-
meiras experiências no campo da literatura. É vice-
presidente do Diario de Pernambuco, onde exerceu ini-
cialmente as funções de repórter e colunista literário,
a partir de 1967. Antes dessa data, ele já colaborava
no seu Suplemento Literário, editado pelo poeta Cé-
sar Leal. Era notado aí pelos seus textos de crítica
literária. Com os estímulos de César Leal, surge, nas
páginas do Diario, um grupo de novíssimos escritores,
base do que Tadeu Rocha denominou de Geração 65.
Gladstone foi ativo integrante dessa Geração, con-
vivendo com Jaci Bezerra, Alberto da Cunha Melo,
Ângelo Monteiro, Marco Polo Guimarães, Sérgio
Moacir de Albuquerque, Laércio Vasconcelos, Rai-
mundo Carrero, Maximiano Campos, Marcus Pra-
do, Tarcísio Meira César, Arnaldo Tobias, Cláudio
Aguiar, José Mário Rodrigues, Marcus Accioly, José
Carlos Targino, Almir Castro Barros, entre outros jo-
vens autores que começavam a marcar presença na
vida intelectual da província. Alguns desses poetas e
romancistas habitualmente frequentavam, para tertú-
lias, o extinto bar Savoy, celebrizado por Carlos Pena
Filho, num poema em que se refere, através de versos
antológicos, ao outrora concorrido botequim da Ave-

598
nida Guararapes. Publicou livro de poemas quando
ainda morava em Garanhuns, A face despida, com pre-
fácio de Erasmo Vilela. Seu nome está entre os poe-
tas participantes da Lírica (1967), histórica coletânea
lançada no Recife por Eloi-Editor. Exerceu também
o cargo de assessor de imprensa do antigo Institu-
to Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, na época
em que Mauro Mota dirigia aquele órgão, posterior-
mente transformado em Fundação. É hoje um dos
membros da diretoria da Sociedade Eça de Queiroz,
presidida pelo escritor Dagoberto Carvalho Junior.
Faz parte do Condomínio Acionário dos Diários e
Emissoras Associados, instituído pelo jornalista Assis
Chateaubriand, tendo viajado, em missão jornalísti-
ca, aos Estados Unidos, Inglaterra, França, Venezuela
e Portugal, acompanhando, em várias idas a Lisboa,
o desenrolar do processo revolucionário que eclodiu
em abril de 1974.
Obra do autor: A face despida (1965).

HELDER CAMARA [Dom] (1909-1999)


Sacerdote, escritor, poeta, Dom Helder Camara nas-
ceu em Fortaleza, CE, em 7 de fevereiro de 1909, dé-
cimo primeiro filho de João Câmara Filho, guarda-
livros de um firma comercial, e de Adelaide Pessoa
Câmara, professora primária. Em 1923, ingressa num
seminário da sua cidade natal e é ordenado sacerdote
aos 22 anos, no dia 15 de agosto de 1931. Nomeado
em março, toma posse como Arcebispo de Olinda e
Recife em 12 de abril de 1964, estabelecendo no Re-
cife claro foco de resistência ao golpe militar, pela sua
visão social. Faleceu no Recife, PE, em 27 de agosto
de 1999. Obteve 31 títulos de Doctor Honoris Cau-
sa, o primeiro, em 1969, pela Universidade de Saint
Louis, USA, e o último, em 1991, pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio de Janeiro. Dom Helder
não tem publicados livros exclusivamente de poesia,

59
9
os poemas são encontrados em meio a suas medita-
ções em prosa. Sua obra foi traduzida para inúmeros
idiomas e sobre ele existem mais de 352 títulos publi-
cados em vários países.
Obras do autor: Revolução dentro da paz (1968); Um
olhar sobre a cidade (1976); Mil razões para viver (1978);
Nossa Senhora no meu caminho (1981); Em tuas mãos, Se-
nhor (1986); Quem não precisa de conversão? (1987); Uto-
pias peregrinas (1993); Palavras e reflexões (1995); Rosas
para meu Deus (1996); Família, missão de amor (1996).

HOMERO DO RÊGO BARROS (1919)* **


Poeta e funcionário público, nasceu em Olinda, PE, a
4 de outubro de 1919. Dedicou-se à poesia e começou
a publicar seus poemas em 1948, totalizando 18 obras,
entre livros e opúsculos. Sempre bem acolhido pela
crítica literária, muitos intelectuais já se pronunciaram
sobre ele, a exemplo de Célio Meira, Austro Costa,
Amaro Wanderley, Carlyle Martins e Inocêncio Can-
delária, este de Mogi das Cruzes, São Paulo. Seu livro,
Fragmentos, foi premiado pela Academia Pernambuca-
na de Letras, em 1957. É filiado à UBE-PE, à Associa-
ção da Imprensa de Pernambuco (AIP); à Academia
Petropolitana de Poesia; à Academia de Artes, Ciên-
cia e Letras Castro Alves (Porto Alegre); à Associação
dos Poetas e Artistas Populares do Nordeste (Olinda),
à Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel
(Salvador) e ao Clube Baiano de Trovas (CBT). O poe-
ta também cultivou a poesia popular, tendo publicado
uma centena de cordéis de variados temas.
Obras do autor: Estreia (1948); Vozes d’alma (1951);
Caminho estrelado (1954); Rastros de luz (1956); Frag-
mentos (1957); Ritmos íntimos (1958); Elogio às ciências,
letras, artes e profissões (1963, opúsculo); Sob a luz da
inspiração (1968); Temas em trovas (1974, opúsculo); De
parceria com Deus (1979); Caminhos percorridos (1983,
autobiografia em versos populares); Cantos pernam-

600
bucanos (1987); Mensagens para um mundo em conflito
(1986); Nova colheita de trovas (1987); Nas asas do tempo
(1989); Gilberto Freyre, agora e sempre (1987); Caderno
de pensamentos (1990, prosa); Seleções poéticas (1991).

ISAC SANTOS (1962)*


Jornalista, publicitário, poeta e sindicalista, nasceu
no Piauí, em 9 de dezembro de 1962, e passou a resi-
dir no Recife, PE, em 1979. Figura atuante do mun-
do cultural pernambucano, Isac tem inéditos vários
livros de poesia.
Obra do autor: Entre uma tarde e outra (1996).

IVAN MARINHO de Barros Filho (1965)*


Professor, poeta e artista plástico, nasceu em Ma-
ceió, AL, em 1965. Chegou à capital pernambucana
em 1981 e radicou-se no Cabo de Santo Agostinho,
Região Metropolitana do Recife. Hoje, é cidadão ho-
norário e membro da Academia Cabense de Letras
(Cabo de Stº Agostinho) e representante de literatura
no Conselho de Pontos de Cultura de Pernambuco. In-
gressou no curso de Educação Física na UFPE com 16
anos, de onde, por seus poemas satíricos, foi suspen-
so, ainda na ditadura militar. Manteve-se engajado na
militância política e literária participando de recitais
junto ao Diretório Central dos Estudantes. Especiali-
zou-se em Economia da Cultura pela UFRGS. Criou
o Encontro Celina de Holanda de Poetas Recitadores
e o Encontro Pernambucano de Coco quando diretor
do Departamento de Cultura do Cabo (1998/2000);
coordenou o Recitata – Concurso de Poesia Oral
(2006-2009) – participa do CD Vários poemas vários,
25 Poetas Contemporâneos (1965-1999). Criou a re-
vista O Poeteiro (1998) e foi um de seus editores. Está
inserido nas coletâneas Poesias e prosas de uma terra de
500 anos (1999); Marginal Recife (2003), e foi selecio-
nado para outras: Solano Trindade do Sintepe (2009)

60
1
e Amigos do Livro Scortecci/Flipoços (2010). Foi ven-
cedor do Festival Jaci Bezerra de Poesia do Centro de
Estudo Superiores de Maceió (2007) e obteve Menção
Honrosa no Prêmio Bandepe – Valor Pernambucano.
Seu livro Anti-horário (2000) – prefácio de Alberto da
Cunha Melo e posfácio de Erickson Luna foi Prêmio
revelação no Festival Nacional de Arte Alternativa
(1993). Dono de uma linguagem clara, rara e de uma
ironia inteligente, acrescentou às informações que
enviou para esta coletânea: “Mais profícuo na vida
que nas artes, é pai de Ivan, Gabriela, Ruan, Gabriel,
Rafael e aguarda o nascimento de Luíza ou Miguel”.
Obra do autor: Anti-horário (2000).

IVANILDO VILA NOVA (1945)**


Poeta repentista, nasceu em Caruaru, PE, em 1945,
filho do poeta-repentista José Faustino Vilanova. Co-
meçou a cantar aos 12 anos de idade, tendo o seu pai
como grande mestre e companheiro de dupla de 1957
a 1964. Sua formação literária foi favorecida por ter
sido, durante alguns anos, proprietário de uma banca
de revistas. É conhecido como um dos mais bem infor-
mados dentre os violeiros repentistas. Já participou de
180 congressos, torneios, festivais, conseguindo 150
primeiros lugares em dupla e participação individual.
Fez várias gravações, mas sua projeção nacional, no
entanto, deve-se muito à composição “Nordeste in-
dependente” gravada pela cantora Elba Ramalho. É
autor de vários folhetos, entre eles, Missa do vaqueiro e
Futebol através dos tempos e história da guerra.

José JACI de Lima BEZERRA (1944)


Poeta, ficcionista, dramaturgo e sociólogo, nasceu no
município de Murici, Alagoas, em 1944. Reside no
Recife desde 1959. Faz parte da Geração 65 de es-
critores pernambucanos, desde as suas nascentes, o
Grupo de Jaboatão, conforme diz o historiador Tadeu

602
Rocha. Graduou-se em Ciências Sociais pela Univer-
sidade Federal de Pernambuco. Publicou os seus pri-
meiros poemas no Diario de Pernambuco, em 1966, por
intermédio do poeta e crítico César Leal. Foi um dos
líderes do grupo que criou as Edições Pirata. A peça
teatral, O galo, faz parte da Coleção Prêmios, do XIII
Concurso Nacional de Dramaturgia 81/82, do Minis-
tério da Cultura/Instituto Nacional de Artes Cênicas,
RJ. Organizou as antologias Álbum do Recife, poesias e
artes plásticas, com Sylvia Pontual (Recife, Prefeitura
da Cidade do Recife, 1987), e o Livro dos repentes. Con-
gressos de Cantadores do Recife (Fundação do Patrimônio
Histórico e Artístico de Pernambuco, 1990).
Obras do autor: Romances. Poesia. (1968); Lavradouro
(1973); A onda construída (1973); Inventário do fundo do
poço (1979); Os pastos da minha lembrança (1980, contos);
Signo de estrelas (1981); Emílío Madeira, o Galo (1982, no-
vela); Livro de Olinda (1982); Auto da renovação (1983, tea-
tro); Livro das incandescências (1985); O galo (1982, tea-
tro); Comarca da memória (1994); Linha d’água (2007).

JAIRO LIMA (1945)**


Publicitário, dramaturgo, poeta, nasceu no municí-
pio de Arcoverde, PE, em 2 de julho de 1945. Como
dramaturgo, teve peças montadas em todo o país, a
exemplo de Lampião no inferno, que estreou no Rio
de Janeiro, no Teatro Miguel Lemos, em 1997. Prin-
cipais premiações: Prêmio Recife de Humanidades,
Prêmio Hermilo Borba Filho e Prêmio do Serviço Na-
cional de Teatro.
Obras do autor: Canção de fogo (1977, teatro); Ilustrís-
simos senhores (1979, teatro); Livro das árias e das horas;
Pequeno livro das nuvens (2000).

JANICE Silva JAPIASSU (1939)*


Poetisa e técnica em educação, nasceu em Monteiro,
PB, em 23 de agosto de 1939, filha de João Rafael Ja-

60
3
piassu e Jacira Silva Japiassu, mas reside neste Estado
desde 1941. Faz parte da Geração 65 de escritores
pernambucanos e participou de várias antologias. Na
mais recente, Retratos. A poesia feminina contemporânea
em Pernambuco (2004) informa: “Atualmente escrevo
poemas, faço ilustrações e edito meus próprios poe-
mas”. Sobre ela, Ariano Suassuna pronuncia-se assim:
“Sinto-me de tal modo identificado com ela, que, fa-
lar sobre o seu trabalho criador em Poesia é quase
como falar sobre o meu. Já cheguei a dizer-lhe um
dia, afetuosamente, meio sério e meio brincando, que
o que ela tinha feito era me liquidar como Poeta. Ela
está realizando, de tal forma, a Poesia com que eu
sonhava, que excedeu meus sonhos e eu nada mais
tenho a dizer nesse campo.” [ver Antologia didática de
poetas pernambucanos, vol. 1, 1988, p. 167]. Janice tem
inéditos: O dardo e pasto; As andanças do divino. Partici-
pa da Estação Recife. Coletânea poética 1 (2003).
Obras da autora: Canto amargo (1970); Sete cadernos
de amor e de guerra (1970); As veredas da alegria (1970);
As quatro estações da lua nova (1985); O circo dos astros
(1995); Com todas as letras (1997); Tarô (2000); A paixão
segundo Madalena (2001); ContraCanto (2001).

JOANNA TIBURTINA DA SILVA LINS (1860-


1905)**
Poetisa e professora primária, não há data precisa em
relação ao seu nascimento, mas o jornal A Província,
de 10 de fevereiro de 1906, registra o primeiro ani-
versário do seu falecimento. É citada pelo biógrafo
Henrique Capitolino Pereira de Mello, na obra rara,
Pernambucanas illustres (Recife: Typographia Mercan-
til, 1879, 182 p.), depositada na Biblioteca Pública
do Estado de Pernambuco, uma referência obrigató-
ria para pesquisadores que queiram levar adiante as
pesquisas sobre essa escritora. As informações encon-
tradas no volume com caráter mais objetivo: “nasceu

604
em Pernambuco, filha de um pobre e honrado artista
(...). Dotada pela natureza de inteligência, de imagi-
nação e de sentimentalismo, (...) quase sempre se nota
em suas poesias uma queixa contra o impossível que
lhe privava de cultivar os gênios, contra a sorte que a
obrigava a permanecer em uma esfera, bem diferente
da que desejara. Para prova do que dissemos, leiamos
a seguinte poesia, que intitulou – “Meus Sonhos” –
nome que deu a um belíssimo volume de versos, pu-
blicado em 1870. É ela dedicada a seu pai”. Colaborou
no jornal recifense Madressilva, entre os anos de 1869
a 1870, onde foi editado seu livro de poemas, Meus
sonhos, ao qual se refere Henrique Capitolino Pereira.
Obra da autora: Meus sonhos (1870).

JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)**


Poeta e diplomata, nasceu no Recife, PE, em 6 de ja-
neiro de 1920, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de
outubro de 1999. Filho de Luiz Cabral de Melo e de
Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo, ambos de
tradicionais famílias pernambucanas. Viveu a infân-
cia em engenhos de cana-de-açúcar até 1930, quando
passa a residir no Recife. Em 1943, foi nomeado por
concurso público para o DASP. No corpo diplomáti-
co, exerceu funções na Espanha, Inglaterra, França
e Senegal. Em 1968, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras e tomou posse em 6 de maio de
1969. Costumam incluí-lo na Geração 45, mas dela se
destaca por uma poética especial, fundada na depu-
ração do verso, na concisão e na precisão da lingua-
gem, em uma nítida desmistificação da linguagem
poética e de seus temas, introduzindo a crítica social,
mas sem concessões ao sentimentalismo; assim, em
Morte vida severina, em O cão sem plumas, por exem-
plo, quando da abordagem da vida do homem das
camadas populares do Nordeste e de suas paisagens.
João Cabral de Melo Neto tem seu nome incrustado,

60
5
definitivamente, nas páginas da literatura brasileira.
Obras do autor: Poesia: Considerações sobre o poeta dor-
mindo (1941, prosa); Pedra do sono (1942); Os três mala-
mados (1943); O engenheiro (1945); Psicologia da compo-
sição com a fábula de Anfion e Antiode (1947); O cão sem
plumas (1950); Juan Miró (1952, prosa); A Geração de
45 (1952, depoimento); Poemas reunidos (1954); O Rio
ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente
à cidade do Recife (1954); Pregão turístico (1955); Poesia
e composição / A inspiração e o trabalho de arte (1956,
prosa); Duas águas (1956); Da função moderna da poesia
(1957); Aniki Bobó (1958); Quaderna (1960); Dois par-
lamentos (1961); Terceira feira (1961); Poemas escolhidos
(1963); Antologia poética (1965); Morte e vida severi-
na (1965); Morte e vida severina e outros poemas em voz
alta (1966); A educação pela pedra (1966); Funeral de um
lavrador (1967); Poesias completas 1940-1965 (1968);
Museu de tudo (1975); A escola das facas (1980); Poesia
crítica (1982, antologia); Auto do frade (1983); Agrestes
(1985); Poesia completa (1986); Crime na Calle Relator
(1987); Museu de tudo e depois (1988); Sevilha andando
(1989); Primeiros poemas (1990); J.C.M.N.: os melhores
poemas (1994, org. Antonio Carlos Secchin); Obra com-
pleta (1995, organizada por Marly de Oliveira); Entre
o sertão e Sevilha (1997); Serial e antes (1997); A educa-
ção pela pedra e depois (1997); Prosa (1998).

JOÃO NEPOMUCENO DA SILVA PORTELLA


(1766-1810)**
Poeta, citado pelo biógrafo Antônio Joaquim de Mello,
na obra rara, Biografias de alguns poetas, e homens ilustres
da província de Pernambuco (Recife, Typographia Uni-
versal, 1856, p. 5-19), depositada na Biblioteca Públi-
ca do Estado de Pernambuco, uma referência obriga-
tória para pesquisadores que queiram levar adiante
os estudos sobre esse escritor. São estas as informa-
ções mais objetivas encontradas no volume: “(...) nas-

606
ceu na cidade do Recife, em 1756 e foram seus pais
Antonio da Silva Portella, e sua mulher D. Manoela
do Rosário. (...). Sentou pra voluntário de soldado no
Regimento de Infantaria da cidade de Olinda, em 18
de julho de 1782, declarando ter 16 anos). Faleceu
em 19 de maio de 1810, atuando como funcionário
na Secretária do Governo, no expediente das ordens,
e detalhes do serviço militar. Era João Nepomuceno
da Silva Portella, de pequena estatura, e seco, mais
alvo que moreno, vivo e expressivo em seus discursos,
e movimentos; homem de costumes irrepreensíveis,
querido, e respeitado geralmente. As Musas lhe em-
balaram o berço, mas infelizmente as suas numerosas
poesias, entre as quais alguns dramas, e elogios exce-
lentes, todas se perderam. Só podemos recolher há
muitos anos os seguintes versos à Santa Bárbara, que
lhe pediram para serem cantados, como o foram, em
uma novena na Igreja de São Pedro.”

JOAQUIM Maria Moreira CARDOZO (1897-


1978)**
Poeta, tradutor, crítico de arte, e engenheiro, nasceu
no Recife, PE, em 1897, e faleceu em Olinda, PE, em
1978. Antes mesmo de se formar em engenharia civil,
em 1930, pela Faculdade de Engenharia do Recife,
colaborava com a Revista do Norte, daquela cidade, e
suplementos literários da época. Manuel Bandeira,
em 1946, organizou a Antologia de poetas brasileiros bis-
sextos contemporâneos, da qual constaram oito poemas
de Cardozo. Seu primeiro livro, Poemas, publicado em
1947 por iniciativa de João Cabral de Melo Neto, con-
tém toda a sua obra desde 1925. Calculista do arquite-
to Oscar Niemeyer, participou da construção de Brasí-
lia, além de outras obras de grande porte no país, sem
que isso o afastasse da literatura, onde continuou atu-
ando como tradutor e crítico de arte. Ocupou a Cadei-
ra nº 39, da Academia Pernambucana de Letras.

60
7
Obras do autor: Prelúdio e elegia de uma despedida
(1952); De uma noite de festa (1971); Poesias completas
(1971); Os anjos e os demônios de Deus (1973); Antônio
Conselheiro (1975); Um livro aceso e nove canções sombrias
(1981); Obra completa (2009).

JOB PATRIOTA de Lima (1929-1992)* **


Poeta repentista, nasceu em Umburanas, Município
de São José do Egito, hoje Itapetim, PE, no dia 10
de setembro de 1929, e faleceu em 1992. Filho de
Giminiano Joaquim de Lima e de Rita Neves da Sil-
va. Começou a improvisar em 1950 e fez sua primei-
ra cantoria com José Soares do Nascimento; depois,
com José Vicente da Paraíba, Elísio Félix e outros. Jó
é conhecido como um poeta lírico a exemplo de Do-
mingos Fonseca do Piauí, Canhotinho da Paraíba e
Manoel Xudu. Fez apresentações nas principais cida-
des do Brasil, tais como São Paulo, Rio de Janeiro,
Brasília e Porto Alegre. O poeta foi casado com Das
Neves, a filha mais nova do grande poeta Antônio
Marinho. Pertenceu à União Brasileira de Escritores
– secção de Pernambuco (UBE-PE). Conviveu inten-
samente com poetas, principalmente da Geração 65,
artistas e intelectuais pernambucanos. A reportagem
biográfica, Um certo Jó (2002), de Alberto da Cunha
Melo, dá conta de uma das personalidades mais ter-
nas e queridas da poesia pernambucana. A publica-
ção de Na senda do lirismo, seu único livro, deve-se à
Imprensa Universitária da UFRPE.
Obra do autor: Na senda do lirismo (s.d.).

JORGE WANDERLEY (1938-1999)**


Médico, poeta, tradutor, professor de literatura, nas-
ceu em 1938, no Recife, e faleceu nessa mesma ca-
pital, em 1999. Nunca abandonou a neurocirurgia,
mesmo depois do doutorado em Letras concluído no
Rio de Janeiro. Foi professor adjunto de Literatura

608
Brasileira na DERJ, e traduziu na íntegra os Sonetos,
O rei Lear e, para a montagem de Àmir Haddad, em
1997, Noite de reis, de Shakespeare. Publicou também
tradução integral da Lírica, de Dante. Entre os textos
de tradução de poesia publicados, há duas antologias
de poesia de língua inglesa, poemas de Lawrence
Durrell e Jorge Luís Borges. Por muito tempo, fez do
Rio de Janeiro seu domicílio literário, o que o fez ser
incluído na antologia 41 Poetas do Rio (1998), orga-
nizada por Moacyr Félix. Mas foi no Recife, quando
vinculado ao grupo O Gráfico Amador, que estreou
com o livro, Gesta e outros poemas, em 1960, e, a seguir,
publicou Adiamentos, em 1970, pela UFPE.
Obras do autor: Gesta e outros poemas (1960); Adiamen-
tos (1974); A casa navega (1975); Coração à parte (1979);
Mesa/musa (1980-1985); A foto fatal e poemas anteriores
(1986); Anjo novo (1987); Homenagem (1992); Manias
de agora (1995); Antologia poética (2001).

JOSÉ ALMINO de Alencar e Silva Neto (1946)* **


Poeta, tradudor, sociólogo e escritor, nasceu no Recife,
PE, em 1946. É graduado (license e maitrise) pela Facul-
té des Lettres et Sciences Humaines de Nanterre, Uni-
versité de Paris, França, “Master of Arts” em Economia
pela Vanderbilt University e Ph.D em Sociologia, pela
University of Chicago, com a tese “The Emergence of
Controlled Immigration in France”. Durante sete anos,
foi “economic affairs officer” do Secretariado da Or-
ganização das Nações Unidas (Nova York, EEUU). De
volta ao Brasil, ocupou, de 1985 a 1989, cargo de secre-
tário-geral adjunto do Ministério de Ciência e Tecno-
logia e de secretário de Assistência Social do Ministério
da Previdência e Assistência Social. Integrou a equipe
do Laboratório Nacional de Computação Científica de
1985 a 1995, quando publicou vários trabalhos cientí-
ficos, e passou a dirigir, até 1999, o Centro de Pesqui-
sas da Fundação Casa de Rui Barbosa. Em janeiro de

60
9
2003, foi nomeado presidente da Casa. É membro do
Conselho Consultivo do projeto “Poetas na Biblioteca”,
do Memorial da América Latina. Vem colaborando no
teatro e no cinema. Para o teatro, ele traduziu Le bour-
geois gentilhomme and l’impromptu de Versailles, de Molière,
Closer, de Patrick Marber, Who’s afraid of Virginia Woolf?,
de Edward Albee, e Wit, peça de Margaret Edson, sen-
do que as duas últimas lhe valeram o Prêmio IBEU de
Teatro para a categoria tradutor relativo à temporada
teatral carioca de 2000. Suas mais recentes traduções
para o teatro, Doll’s house, de Ibsen, The proof, de David
Auburn, I love you, you’re perfect, now change!, de Joe Di
Pietro (texto e letras) e Jimmy Roberts (música), estrea-
das em 2002, e Noises off, de Michael Frayn, em 2003.
Compôs, com Caetano Veloso, a música-tema da peça
Lisbela e o prisioneiro, dirigida por Guel Arraes. Para o
cinema, colaborou na adaptação de Bella Donna, diri-
gido por Fábio Barreto. Desde 1985, vem colaborando
com artigos, contos e poemas nos principais jornais e
revistas do país; publicou três livros de poesia, o pri-
meiro, no Recife: De viva voz (1982); Maneira de dizer
(1991); em São Paulo, indicado para o prêmio Jabuti
1991, Bolsa Vitae de Literatura 1992, e o terceiro, A
estrela fria, foi publicado pela Companhia das Letras,
neste ano de 2010. Em colaboração com Ana Pessoa,
publicou o estudo Meu caro Rui, meu caro Nabuco (1999).
Em 2002, organizou Melhores poemas de Ribeiro Couto.
Traduziu Os pecados dos pais, de Lawrence Block (2002),
e publicou, com Ana Pessoa, Joaquim Nabuco: o dever
da política (2002).
Obras do autor: De viva voz (1982); Maneira de dizer
(1991); O motor da luz (1994, novela); O Baixo Gávea,
diário de um morador (1996, novela), A estrela fria (2010).

JOSÉ CARLOS TARGINO (1943)**


Poeta e professor universitário, nasceu em Vitória de
Santo Antão, PE, em 1943, faz parte do Grupo de

610
Jaboatão que, conforme o historiador Tadeu Rocha,
representou o impulso definitivo para a formação da
Geração 65 de escritores pernambucanos. Seu primei-
ro livro, Lírica, foi publicado em 1968, por Elói Editor.
Participou de várias antologias, a mais recente, 46 Poe-
tas, sempre (2002), organizada por Almir Castro Barros,
também poeta dessa Geração. Mais recentemente, or-
ganizou, como Everardo Norões e Pedro Américo de
Farias, a Estação Recife. Coletânea poética 1 (2003).
Obras do autor: Lírica (1968); Sortilégios (1973); Êx-
tase (1983).

JOSÉ MÁRIO RODRIGUES (1947)* **


Poeta, advogado e jornalista, nasceu na cidade de
Flores, PE, em 23 de julho de 1947. Filho de José Ben
Rodrigues (comerciante) e de Noemia de Queiroz Ro-
drigues (funcionária pública). Faz parte da Geração
65 de escritores pernambucanos. Sobre o livro Moti-
vos (1975), assim se pronuncionou Joaquim Cardozo:
“A poesia de José Mário Rodrigues dá a impressão de
um jogo de laços topológicos; nela existe o conteú-
do de formas verbais que se entrelaçam, que se ade-
quam. Daí se chega à desnecessidade de símiles, de
imagens, de metáforas, e outras figuras de linguística
retórica”. José Mário Rodrigues criou, com alguns ar-
tistas recifenses, o Grupo de Poesia Falada do Recife,
que divulgou durante alguns anos a produção poética
brasileira e pernambucana, através de encenação de
poemas. Dedicou-se também ao magistério e à im-
prensa. Lecionou na Faculdade de Direito de Carua-
ru, PE, foi diretor-cultural da Associação de Imprensa
de Pernambuco, redator do Suplemento Cultural do
Jornal do Commercio e colunista do suplemento cultu-
ral do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Parti-
cipou de inúmeras coletâneas, entre as mais recentes:
Estação Recife, coletânea poética III (2004); Pernambu-
co, terra da poesia (2005).

61
1
Obras do autor: A estação dos ventos (1973); Os moti-
vos (1975); Declaração da eterna brevidade (1979); Para
exorcizar a ilusão (1979); Respiração do absoluto ou Ar da
solidão (1983); O eterno de todo dia (1987); Os motivos da
eterna brevidade (1990); Trem de nuvens (1997); As réde-
as da solidão (1993); Alicerces de ventania (2003).

JOSÉ RODRIGUES DE PAIVA (1945)


Poeta, contista, ensaísta, professor universitário, nas-
ceu em Coimbra, Portugal, em 30 de outubro de
1945, mas se estabeleceu no Estado de Pernambuco
a partir de 1951. É diplomado em Direito (1969) e
mestre em Teoria da Literatura (1981). Fez do Recife
seu domicílio literário e faz parte da Geração 65 de
escritores pernambucanos. É professor de Literatura
Portuguesa da Universidade Federal de Pernambuco
e publicou diversos ensaios sobre autores portugueses
e brasileiros. Foi diretor da revista, Estudos Portugueses,
editada pela Associação de Estudos Portugueses Jor-
dão Emerenciano.
Obras do autor: Três noites no sobrado (1969, conto); O
círculo do tempo (1972); Memórias do navegante (1972);
Poesia portuguesa contemporânea (1978, ensaio); Vozes da
infância (1979); Os frutos do silêncio (1980); Mudança:
romance-limite (1981, tese); Eros no verão (1983).

JUHAREIZ Barbosa CORREYA (1951)**


Poeta e editor, nasceu em Palmares, PE, a 19 de se-
tembro de 1951. No biênio 1970-1971, foi redator de
arte do jornal Diário do Grande ABC, em Santo André,
SP. Fundou as editoras pernambucanas Palmares e
Nordestal. É presidente da Fundação Casa da Cul-
tura Hermilo Borba Filho, em Palmares, instituição
municipal criada com base em projeto de sua autoria.
Em 1971, em São Paulo, publicou uma coletânea de
poemas sem título. Elaborou várias antologias, entre
elas, Poetas dos Palmares, que mereceu a seguinte nota

612
de Hermilo Borba Filho: “Recebe-o agora: Poetas dos
Palmares. No primeiro instante, parece-me que sou
fulminado por um raio: revejo-me todo ali, no pre-
fácio de Juhareiz. E eu, que realizei ou pensei reali-
zar uma enorme catarse em Um cavalheiro da segunda
decadência, esgotando Palmares, verifico, ao mesmo
tempo com uma grande dor, que Palmares é a minha
marca para toda a vida”. Fundou, no Recife, PE, em
1980, a revista Poesia, que circulou até o número 10
(1983). Organizou e publicou as antologias poéticas
Poetas dos Palmares (1973/1987/2002) e Poesia viva do
Recife (1996). Em parceria com o poeta Hector Pelli-
zzi, publicou o livro América indignada. Em 2007, pu-
blicou, em parceria com seu filho José Terra, Poesia
do mesmo sangue (2007). Seus poemas fazem parte
de diversas coletâneas, entre elas: Poetas de Palmares
(1973/1987/2002); Poesia viva do Recife (1996/2009);
Pernambuco, terra da poesia (2005). É autor do cordel
Um doido e a maldição da lucidez (1975).
Obras do autor: Coletânea de poemas sem títulos
(1971); Americanto amar América (1975): O amor é uma
canção proibida (1979); A clara história de Preta, o futu-
ro presidente do Brasil (1982, novela); Coração Portátil
(1984 – 1999); Poesia do mesmo sangue (2007).

LENILDE FREITAS (1939)


Poetisa, nasceu em Campina Grande, PB, em 1939.
Filha de pernambucanos, residiu no Recife até 1978.
Morou em São Paulo, Madison e Nashville (Estados
Unidos), tendo voltado ao Recife em 1996. Na Van-
derbilt University, frequentou os seguintes cursos: The
judgement of poetry (prof. Donald Davie) e Poetry
writing (prof. Mark Jarman). Formada em Letras, é
especialista em Literatura Brasileira e mestre em Teo-
ria Literária, pela Universidade Federal de Pernam-
buco. Na área da literatura infantil, publicou A casa
encantada (2009). Morou em São Paulo dezoito anos.

61
3
Atualmente, reside no Recife. É sócia das seguintes
entidades: União Brasileira de Escritores (SP); Clube
de Poesia (SP); União Brasileira de Escritores (PE).
Conquistou os seguintes prêmios: Emílio Moura de
Poesia (MG); Augusto dos Anjos (PB); Jorge de Lima
(AL); Arriete Vilela (AL); Nestlé de Poesia. Morou nos
Estados Unidos de 1986 a 1987.
Obras da autora: Desvios (1987); Esboço de Eva (1987);
Cercanias (1988); Espaço neutro (1991); Tributos (1994);
Grãos na eira (2001) e A corsa no campo (2010).

Maria de LOURDES NICÁCIO da SILVA (1947)* **


Poetisa e professora, nasceu a 13 de setembro de
1947, na fazenda Canabrava, município de Belém do
São Francisco Pernambuco, onde terminou os seus
primeiros estudos. Fez curso de Letras na Paraíba e
Pós-Graduação em Pernambuco. Lecionou na Facul-
dade de Formação de Professores de Belém do São
Francisco; Escola Superior de Relações Públicas; Fun-
dação de Ensino Superior de Olinda (Funeso); Giná-
sio Pernambucano, entre outros. Coordenou o pro-
jeto “Academia/Escolas” da Academia Pernambucana
de Letras; “Ginásio Pernambucano: Seus Autores e
Suas Obras”. Foi vice-coordenadora geral do “Pri-
meiro Encontro de Cultura Recifense” (Universidade
Federal de Pernambuco e Academia Recifense de Le-
tras). Quando à disposição da Fundação do Patrimô-
nio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe),
atuou em projetos educativos e culturais da Casa de
Manuel Bandeira, Espaço Pasárgada. Seu primeiro
poema publicado foi “Oxalá de um vaqueiro desespe-
rado”, no Diario de Pernambuco, em 1976, quando ain-
da residia no sertão. Participou de diversas antologias
e foi homenageada por instituições culturais desta e
de outras cidades. É membro da Academia Recifen-
se de Letras e da União Brasileira de Escritores. Seu
livro O lavrador e o templo foi agraciado com Menção

614
Honrosa no concurso de poesia Edmir Domingues da
Academia Pernambucana de Letras, em 2007.
Obras da autora: Cantos da ordem do Sol (1985); Rit-
mo das águas vivas (1992); O Rio, Canabrava e os homens
(1994, contos); Almeida Cunha (1996, ensaio); Ocultos
na paisagem (1998); Os dois mundos de Madalena (1999,
romance): João Suassuna de Melo Sobrinho. Um educador
exemplar (1999, biografia); O lavrador e o templo (2009).

LOURDES Maria Mendonça SARMENTO (1944)*


**
Poeta, ficcionista, escritora, pesquisadora, biógrafa e
jornalista, nasceu no Recife, PE, em 1944, e faz parte
da Geração 65 de escritores pernambucanos. Possui
23 livros publicados em português, inglês, francês e
espanhol, participação em 98 antologias nacionais e
internacionais, tendo trabalhos literários e jornalísti-
cos apresentados em Miami e Washington (USA); em
Lima (Peru); no México; em Lisboa (Portugal); Bue-
nos Aires (Argentina). É editada por Vericuetos/Che-
mins Scabreux, em Paris. Seu livro 25 Poemas da paixão
foi editado pela Bagaço e divulgado pela Unesco, em
Paris, sob o título: Vingt-Cinq Poèmes de Passion (1994).
Sua pesquisa publicada, Primórdios da comunicação, foi
traduzida para o inglês: Early stages in communication
(1981), e é adotada em escolas de Comunicação em
todo o Brasil. Organizou a antologia Poésie du Brésil
publicada em Paris, em 1997. Segundo a professora,
Anne Marie Quint, da Sorbonne, foi o primeiro livro
sobre poesia brasileira publicado naquele país, após
trinta anos de silêncio e está catalogado pela Funda-
ção Calouste Gulbenkian. Encontra-se também dispo-
nível no meio eletrônico, através das páginas virtuais
da Embaixada do Brasil. Lourdes Sarmento é membro
de várias Academias de Letras em Pernambuco, no Rio
de Janeiro e em Goiás. Escritora premiada, idealizou e
organizou o Projeto Literatura dos Trópicos, reunindo

61
5
205 poetas de todo o Norte e Nordeste do Brasil, em
parceria com Beatriz Alcântara. Sobre Lourdes Sar-
mento, encontram-se verbetes na Enciclopédia de litera-
tura brasileira (2001); no Dicionário bibliográfico de poetas
pernambucanos (1993); no Dicionário crítico de escritoras
brasileiras (2002); Peuples et poèmes (2003, França/Por-
tugal). Seu livro El tiempo de las ofrendas (2007) foi edi-
tado pela Alejo, em Lima. A edição de “50 Poemas
Escolhidos pelo Autor”, da Coleção Nacional, nº 43,
foi publicada no Rio de Janeiro, em 2009.
Obras da autora: Poemas do despertar (1965); Explosão
das manhãs (1973); Pequena história da telefonia em Per-
nambuco (1980, pesquisa); Primórdios da comunicação
(1981, pesquisa); Janela (1984); A palavra e as circuns-
tâncias (1985, ensaio); Tatuagens da solidão (1991); Se-
dução da arte em Vera Bastos (1993, ensaio biográfico);
Alcides Lopes: nas estações do tempo (1994, biografia);
José de Souza Alencar. Alex: o artesão de palavras (1998,
biografia); Amor nos trópicos (2000, org.); Águas dos tró-
picos (2000, org.); Olhos de tigre (2001), Fauna e flora
nos trópicos (2002, org.); Guardiã das horas (2003); A
poesia é eterna (2003); 7 Cartas e uma confissão de amor
(2004, prosa e verso); El tiempo de las ofrendas (2007).

LOURIVAL BATISTA Patriota (1915-1992)**


Poeta repentista, conhecido como “Louro do Pajeú”, ou
ainda o “Rei dos Trocadilhos”, nasceu no povoado de
Umburanas, então município de São José do Egito, PE,
em 6 de janeiro de 1915. Filho de Raimundo Patriota e
de Severina Guedes Patriota, Louro vem de uma famí-
lia de mais de cem poetas, desde Nicrandro Nunes da
Costa; conforme verbete da Antologia didática de poetas
pernambucanos (1988, p. 205), “fato inédito na história
dos poetas populares do Nordeste, tal descendência de
um só tronco”. Nesse mesmo verbete, acrescentam-se
as seguintes informações: “Os irmãos Batista, Louro,
Otacílio e Dimas (falecido em 86) são conhecidos em

616
todo o país. Louro foi casado com Helena Marinho, fi-
lha do violeiro Antônio Marinho, também de São José
do Egito. Publicou vários folhetos que versam sobre a
vida de Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, entre
outros. Foi objeto de estudo através de uma monogra-
fia feita pelo professor e poeta Aleixo Leite Filho, cujo
título é Louro do Pajeú, o rei dos trocadilhos. Louro é o au-
têntico representante da cultura nordestina, que teve
a sua origem marcada remotamente pelos árabes que
dominaram a Península Ibérica. A resposta na ponta
da língua, a presença de espírito, o raciocínio rápido,
tudo lembra os árabes que improvisavam versos no de-
serto. Lourival Batista é nome obrigatório em todos
os estudos sobre os violeiros repentistas do nordeste
brasileiro”. A reportagem biográfica, Um certo Louro do
Pajeú (2002), de Alberto da Cunha Melo, faz jus a esse
ícone da poesia repente.

LUCILA NOGUEIRA (1950)*


Poetisa, contista, ensaísta, crítica, tradutora e professora
de várias disciplinas do Curso de Letras na Graduação
e Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernam-
buco, nasceu em 1950, no Rio de Janeiro. Tem ao todo
32 livros publicados, sendo 22 de poesia, 3 de ensaio,
havendo organizado 7 didáticos e tem 3 no prelo para
o ano de 2010. Membro da Academia Pernambucana
de Letras, desde 1992, pertence também à Academia
Brasileira de Filologia como sócia-correspondente.
Obteve o Prêmio Manuel Bandeira do Governo do Es-
tado de Pernambuco pelos livros Almenara, em 1978, e
Quasar, em 1986. Participante ativa em recitais no Bra-
sil e exterior, seus poemas e contos estão publicados
na França, na Espanha, no México, na Colômbia, no
Panamá e em Portugal. Recebeu em 2009 a Medalha
Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras.
Seu livro Ilaiana teve lançamento no Centro de Estudos
Brasileiros de Barcelona, em 1998; Zinganares, na Em-

61
7
baixada do Brasil em Lisboa, também em março desse
ano. Sobre este último, foi defendida a dissertação A
moderna lírica mitológica de Lucila Nogueira por Adriane
Ester Hoffmann, na PUC-RS. Imilce encontra-se tra-
duzido para o francês por Claire Benedetti, tradutora
de Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes e Antero de
Quental. Está incluída na Antologia de Poetas Brasileños
editada em Madrid, em 2007, pela Huerga y Fierro
Editores e na Anthologie Poétique Nantes Recife, édi-
tion de la Maison de la Poésie de Nantes com a Prefei-
tura do Recife, no mesmo ano. Seu poema Rua do Lima
está publicado na Colômbia e no Panamá, antologia
Las palabras pueden: los escritores y la infancia (2007);
publicado, na mesma altura, o conto Luz vermelha na
calle Paraguai, no México, nº 105, revista Blanco Mó-
vil. Seu livro Saudade de Inês de Castro foi publicado em
2008 pelas Éditions Lusophone, Paris. Como ensaís-
ta, tem publicados A lenda de Fernando Pessoa, premia-
do pelo Gabinete Português de Leitura do Recife, em
1985, e Ideologia e forma literária em Carlos Drummond
de Andrade, sua dissertação de mestrado já em quarta
edição. Em 2010, publicou sua tese de doutorado, O
cordão encarnado, sobre os livros O cão sem plumas e Morte
e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. Publicou
vários verbetes na Biblos enciclopédia verbo das literaturas
de língua portuguesa, além de artigos nas revistas Coló-
quio/Letras (Lisboa), Cadernos de Literatura (Coimbra) e
Poesia e Crítica (Brasília). Escreve sistematicamente pa-
lestras e artigos sobre literatura brasileira, portuguesa,
africana, francesa, de língua espanhola e de língua in-
glesa, que publica em revistas impressas e on-line, além
de blogues e outras páginas da web.
Obras da autora: Almenara (1979); Peito aberto (1983);
Quasar (1987); A dama de Alicante (1990); Livro do desen-
canto (1991); Ainadamar (1996); Ilaiana (1997-2000, 2.
ed.); Zinganares (1998, Lisboa); Imilce (1999-2000 2.
ed.); Amaya (2001); Ideologia e forma literária em Carlos

618
Drummond de Andrade (2002, ensaio, 3. ed.); A quarta
forma do delírio (2002, 1. ed e 2. ed.); Refletores (2002);
Bastidores (2002); Desespero blue (2003); A lenda de Fer-
nando Pessoa (2003, ensaio); Estocolmo (2004-2005, 2.
ed.); Mar camoniano (2005); Saudade de Inês de Castro
(2005, poema e antologia de ensaios); Poesia em Me-
dellin (2006); Poesia em Caracas (2007); Poesia em Hava-
na (2007); Mundo mágico: Colômbia (2007, tradução);
A musa roubada (2007, org. e tradução); Poesia reunida
de Deborah Brennand (2007, org.); Legado (2007, org.);
Trilhas da diáspora (2008, org.); Casta Maladiva (2009);
Tabasco (2009); A geração Orpheu (2009, org.); O cor-
dão encarnado (2010, ensaio); e tem no prelo O livro
dos trinta anos (Poesia), Os melhores poemas de Mário de
Sá-Carneiro (Editora Global) e Pseudonímia e literatura
(Editora Universitária da UFPE, ensaios).

LÚCIO Roberto FERREIRA (1930)* **


Poeta, contista, nasceu no Recife, PE, no dia 29 de
abril de 1930. É bacharel em Ciências Econômicas
pela Universidade Federal de Pernambuco e funcio-
nário aposentado do Banco do Brasil. É membro das
seguintes instituições: União Brasileira de Escritores
(UBE-PE), Academia de Artes e Letras do Nordeste
Brasileiro, ALAMB, Academia de Artes e Letras de
Olinda, Academia Recifense de Letras e Sociedade
dos Poetas Vivos. Adotou o estilo construtivista e tem
oito livros publicados. Conquistou o Prêmio Edmir
Domingues, da Academia Pernambucana de Letras,
2004, pelo livro Essas coisas cá de dentro.
Obras do autor: Um olhar para cada coisa (1999); Exer-
cício do sentir (2000); As duas extremidades da luz (2001);
Reescrevendo contos de fadas (2001, coautor); Linhas do
tempo (Hai-Kais) (2002); Uma porta para dentro da pedra
(2003); As reticências dos sonhos (2003); Estas coisas cá de
dentro (2004); Um pouco antes da chuva (2006); Às mar-
gens de um rio cereal (2006); Um corte além do fio (2008).

61
9
LUIS MANOEL Paes SIQUEIRA (1960)* **
Ficcionista e poeta, nasceu em Garanhuns, PE, em
1960 e começou a publicar pequenos contos no su-
plemento infantil do Diario de Pernambuco, em 1968.
É geólogo, com mestrado em Geociências. Em 1992,
conquistou Menção Honrosa do Prêmio Othon Be-
zerra de Mello da Academia Pernambucana de Letras
pelo seu romance O leão e a baronesa.
Obras do autor: A cidade da luz azul (1979, romance);
A última valsa (1980); A cidade da luz azul (1979); A
última valsa (1980); Jamais houve trevas (1981, novela);
Miguel, o gato (1982); Adeus (1984, romance); O leão e
a baronesa (1992); A estória do cavaleiro perdido (2003);
A idade da pedra (2004).

LUIZ ALVES PINTO (± 1745 – ± 1815)**


Nasceu no Recife, PE, e não se pode precisar o dia de
seu nascimento nem de sua morte, embora o biógrafo
Joaquim Inácio de Lima, no livro raro Biografias de
Joaquim Inácio de Lima (p. 47-53), impresso no Reci-
fe, na tipografia de Manoel Figueirôa de Faria & Fi-
lho, 1895, informe que “Faleceu há perto de 80 anos,
aos 70 anos de idade, mais ou menos, e sepultou-se
na Igreja de N. S. do Livramento, Recife”. Informa,
ainda, “não é um nome só na história da música da
Província de Pernambuco e do Brasil, também o é de
nossa literatura”. Compôs sonetos inclusos no seu Di-
cionário pueril, onde estão também inseridos “dísticos
e epigramas latinos, algumas glosas de quadras suas e
alheias, para uso de suas aulas” e compôs, em verso,
a comédia intitulada Amor mal correspondido, represen-
tada no Teatro Público da cidade do Recife de 1780
a 1783. “É a primeira comédia composta por brasi-
leiro, que se representou em teatro público do Brasil,
toda em versos”, acrescenta o referido biógrafo.

620
LUIZ CARLOS DUARTE (1947)* **
Poeta pernambucano do Recife, onde nasceu no dia
3 de janeiro de 1947. Pertence à Geração 65 de escri-
tores pernambucanos e publicou seus primeiros poe-
mas no Suplemento Literário do Diario de Pernambu-
co, quando contava com apenas 18 anos de idade. Em
1972, publicou seu primeiro livro de poemas, Árvore
urbana e com ele conquistou o Prêmio Fernando Chi-
naglia, da União Brasileira de Escritores, secção do
Rio de Janeiro.
Obras do autor: Árvore urbana (1972); Inventário das ho-
ras (1981); Roteiro da Febre Minotauro e Outros Poemas &
Memorial da Luz e do Mormaço; Livro de Francisca (s.d.)

LUIZ CARLOS MONTEIRO (1957)**


Poeta, professor e crítico literário, nasceu em Sertâ-
nia, PE, em 24 de outubro de 1957. Em 1972, radi-
cou-se no Recife, onde vive até hoje. Iniciou o curso
de Engenharia de Minas em 1976, na UFPE, inter-
rompendo-o posteriormente. É formado em Pedago-
gia e mestre em Teoria da Literatura pela mesma uni-
versidade. Entre as décadas de 70 e 80, fez parte do
movimento estudantil e do movimento dos escrito-
res independentes de Pernambuco. De 1987 a 1992,
passou a residir na Mata Sul do Estado, dedicando-se
ao ensino médio e participando, como militante, de
movimentos políticos e sindicais no município de Rio
Formoso e circunvizinhanças. Publicou cerca de 200
artigos e ensaios de crítica literária em revistas, jor-
nais, sites e blogs de Pernambuco e de outros estados.
Seus poemas vêm aparecendo com maior frequência
em antologias e jornais alternativos. Tem participado
de eventos e encontros literários diversos, entre eles,
a Bienal do Livro de Pernambuco e a Fliporto, e de
colóquios acadêmicos na UFPE.
Obras do autor: Na solidão do néon (1983); Vigílias
(1990); Poemas (1999); O impossível dizer e outros poemas

62
1
(2005); Para ler Maximiano Campos (2008); Prêmio Ma-
ximiano Campos nas suas versões 2, 3 e 4 (2008); Musa
fragmentada, a poética de Carlos Pena Filho (2009).

Antônio Peregrino MACIEL MONTEIRO (1804-


1868)**
Médico, jornalista, diplomata, político, orador e poe-
ta, o 2º Barão de Itamaracá, Maciel Monteiro, nasceu
no Recife, PE, em 30 de abril de 1804, e faleceu em
Lisboa, Portugal, em 5 de janeiro de 1868. Filho do
Dr. Manuel Francisco Maciel Monteiro e de Manue-
la Lins de Melo. É o patrono da Cadeira nº 27, da
Academia Brasileira de Letras, por escolha do funda-
dor Joaquim Nabuco. “A própria ABL disponibiliza,
em seu endereço virtual: http://www.academia.org.
br/imortais/frame8, verbete esclarecedor sobre esse
poeta de transição para o Romantismo: “Fez estudos
preparatórios em Olinda, seguindo, em 1823, para
a França. Ingressou na Universidade de Paris, onde
recebeu o grau de bacharel em Letras (1824), em
Ciências (1826) e doutorou-se em Medicina (1829).
Regressou em 1829 ao Recife, onde exerceu alguns
cargos médicos, mas logo abandonou a profissão pela
política e pela diplomacia, carreira mais de acordo
com sua índole mundana e social. Foi eleito deputado
provincial (1833) e geral (1834-1844 e 1850-1853),
ministro dos Negócios Estrangeiros de 1837 e 1839 e,
deste ano a 1844, diretor da Faculdade de Direito de
Olinda. Nomeado membro do Conselho do Impera-
dor em julho de 1841 e diretor-geral da Instrução Pú-
blica em Pernambuco, em 1852. Foi redator e colabo-
rador de: O Lidador, órgão do Partido Republicano
(Recife, 1845-1848); A Carranca, periódico político-
moral-satírico-cômico (Recife, 1846); A União, órgão
do Partido Conservador (Recife, 1848-1851). Aban-
donando a política, foi para Lisboa em 1853, como
enviado extraordinário e ministro plenipotenciário

622
do Brasil. Teve boa atuação diplomática e tornou-se
notório pelos serviços contra os moedeiros falsos de
Lisboa no Brasil, o que lhe valeu o título de 2º Barão
de Itamaracá. Estava a serviço do Brasil quando ali fa-
leceu. Seus restos mortais foram trasladados para Per-
nambuco em 1870 e encerrados em 1872 no mauso-
léu que a Câmara Municipal do Recife mandou erigir
no cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção em
Santo Amaro.” Ainda nas páginas da ABL, registra-se
a “feição romântica de sua obra antes mesmo de se
achar definido no Brasil o Romantismo”. E mais: “O
poeta original caracterizou-se por ser quase um im-
provisador. Deixava poesias em álbuns de senhoras,
em mãos de amigos, esparsas. A sua melhor produção
literária é representada pelas poesias lírico-amorosas,
mas nada publicou além da tese de medicina, em
francês, e algumas poesias e discursos parlamenta-
res, entre os quais se destaca o que pronunciou em
10 de junho de 1851 acerca da abolição do tráfico ne-
gro, e isso revela duplo aspecto pouco conhecido de
Maciel Monteiro: o orador e o abolicionista. Palavras
suas: “sempre detestei a escravidão; a minha nature-
za como que se revolta à sombra de qualquer jugo”;
“sempre me reputei abolicionista”. A fortuna crítica
de Maciel Monteiro tem sofrido altos e baixos. Para
Sílvio Romero, é um importante poeta de transição e
um dos predecessores do lirismo hugoano; para José
Veríssimo, uma simples lenda. Foi reabilitado na sua
justa medida por José Aderaldo Castelo.”
Obras do autor: Dissertation sur la nature, les symptô-
mes de l’inflammation de l’arachnoïde et son rapport avec
l’encephalite (1829); Poesias, sob a direção de João Ba-
tista Regueira Costa e Alfredo de Carvalho (1905);
Discurso por ocasião da fundação da Sociedade de
Medicina Pernambucana (4.4.1841), in: Anais de me-
dicina pernambucana. Anais do parlamento brasileiro, de
1834 a 1853; Poesias (1962).

62
3
MALUNGO [José Carlos Farias da Silva] (1969)* **
Poeta alternativo e recitador, nasceu no Recife em 10
de maio de 1969. Escreve desde 1985 e obteve o pri-
meiro lugar do Concurso de Poesia de Jardim Atlânti-
co, em 1997, e o primeiro lugar do Concurso de Poesia
da Biblioteca Popular de Afogados, em 2000. Publica
o fanzine De cara com a poesia, em parceria com o poeta
Bruno Candéas. Participa intensamente da cena cultu-
ral pernambucana e seus poemas foram inseridos nas
seguintes antologias: Marginal Recife: coletânea poética
(2001); Pernambuco, terra da poesia (2005). Através dos
fanzines, seja como colaborador ou editor tem reali-
zado um significativo trabalho de divulgação poética:
Boca Suja (SP); Panorama da Palavra (RJ); Escrevo o
que Quero (RJ); A Goiaba (RJ); O Capital (SE), Meya
Palavra (CE); O Patusco (CE), Portas Para Poesia e Pro-
sa (MG); Lítero Pessimista (PE); Chalopa (PE); Frente
e Verso(PE); Caos(PE); Poesia Descalça (PE).
Obras do autor: O terceiro olho usa lente de contato
(2000), Filé 1,99 (em parceria) (2003).

MANUEL Carneiro de Sousa BANDEIRA Filho


(1886-1968)**
Poeta, professor, cronista, crítico e historiador literá-
rio, nasceu no Recife, PE, em 19 de abril de 1886,
e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro
de 1968. Filho do engenheiro civil Manuel Carneiro
de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro de Sousa
Bandeira. Membro da Academia Brasileira de Letras,
Cadeira nº 24. Passou a residir no Rio de Janeiro aos
10 anos, onde cursou o secundário no Externato do
Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, de 1897 a
1902, bacharelando-se em Letras. Ingressou na Escola
Politécnica de São Paulo, em 1903, para fazer o curso
de engenheiro-arquiteto, mas abandonou os estudos
por motivo de doença. Fez estações de cura da tuber-
culose em Campanha, MG, Teresópolis e Petrópolis,

624
RJ, e por fim Clavadel, Suíça, onde se demorou de
junho de 1913 a outubro de 1914. Em Clavadel, teve
como companheiro de sanatório o poeta Paul Eluard.
Sua vida poderia ter sido breve, face às lesões que tinha
nos pulmões, mas viveu até os 82 anos, deixando um
legado definitivo para a Literatura Brasileira, princi-
palmente em sua fase renovadora como pioneiro da
revolução modernista, depois da sua fase Simbolista.
Nas páginas virtuais da ABL, estas anotações são fun-
damentais para compreensão da sua obra: “Ao lado
de „sonetos que não passam de pastiches parnasianos‟,
segundo o próprio Bandeira, nele figura o famoso
poema “Os sapos”, sátira ao Parnasianismo, que veio
a ser declamado, três anos depois, durante a Semana
de Arte Moderna, pela voz de Ronald de Carvalho.
Antecipador de um novo espírito na poesia brasileira,
Bandeira foi cognominado, por Mário de Andrade,
de „São João Batista do Modernismo‟.” Sua participa-
ção no movimento modernista de 1922 se deu através
das revistas Klaxon, Antropofagia, Lanterna Verde, Terra
Roxa e A Revista e não através dos eventos da Sema-
na de Arte Moderna, dos quais não participou. Ainda
nas páginas da ABL, encontramos: “Em 1927, viajou
ao Norte do Brasil, até Belém, parando em Salvador,
Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís do Mara-
nhão. De 1928 a 1929, permaneceu no Recife como
fiscal de bancas examinadora de preparatórios. Em
1935, foi nomeado inspetor de ensino secundário; em
1938, professor de Literatura Universal no Externato
do Colégio Pedro II; em 1942, professor de Litera-
turas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de
Filosofia, sendo aposentado por lei especial do Con-
gresso em 1956. A partir de 1938, tornou-se membro
do Conselho Consultivo do Departamento do Patri-
mônio Histórico e Artístico Nacional e, em 1942, foi
eleito membro da Sociedade Felipe d‟Oliveira. Rece-
beu o prêmio da Sociedade Felipe d‟Oliveira por con-

62
5
junto de obra (1937) e o prêmio de poesia do Instituto
Brasileiro de Educação e Cultura, também por con-
junto de obra (1946). (...) Como crítico de literatura
e historiador literário, revelou sempre uma paixão de
humanista. Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas
chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo esboço bio-
gráfico de Gonçalves Dias, além de ter organizado vá-
rias antologias de poetas brasileiros e publicado o es-
tudo Apresentação da poesia brasileira (1946). Em 1954,
publicou o Itinerário de Pasárgada, onde, além de suas
memórias, expõe todo o seu conhecimento sobre for-
mas e técnicas de poesia, o processo da sua aprendi-
zagem literária e as sutilezas da criação poética. Sua
obra foi reunida nos volumes Poesia e prosa, Aguilar
(1958), contendo numerosos estudos críticos e biográ-
ficos.” A obra de Manuel Bandeira compreende livros
em verso em prosa e didáticos com destaque para as
suas antologias críticas. Neste ano de 2005, o Institu-
to Maximiano Campos editou o CD A vida que valeu
“a pena e a dor de ser vivida”, com poemas de Manuel
Bandeira interpretados por um dos especialistas bra-
sileiros em sua obra, Edson Nery da Fonseca.
Obras do autor: Poesias, reunindo A cinza das horas,
Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);
Estrela da manhã (1936); Crônicas da província do Brasil
(1936, prosa); Poesias escolhidas (1937); Antologia dos
poetas brasileiros da fase romântica (1937, antologia);
Guia de Ouro Preto (1938, prosa); Antologia dos poetas
brasileiros da fase parnasiana (1938, antologia); Poesias
completas, reunindo as obras anteriores e mais Lira
dos cinquent’anos (1940); Noções de história das literatu-
ras (1940, prosa); Autoria das Cartas chilenas, separata
da Revista do Brasil (1940, prosa); Obras poéticas de
Gonçalves Dias (1944, antologia); Apresentação da poesia
brasileira (1946, prosa); Antologia dos poetas brasileiros
bissextos contemporâneos (1946, antologia); Poesias com-
pletas, 4ª edição, acrescida de Belo belo (1948); Rimas

626
de José Albano (1948, antologia); Literatura hispano-
americana (1949, prosa); Poesias completas, 6ª edição,
acrescida de Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945);
Mafuá do malungo, versos de circunstância (1948);
Gonçalves Dias, biografia (1952, prosa); Itinerário de
Pasárgada (1954, prosa); De poetas e de poesia (1954,
prosa); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Obras
poéticas (1956); A flauta de papel (1957, prosa); Prosa,
reunindo obras anteriores e mais Ensaios literários, crí-
tica de artes e epistolário (1958, prosa); Mário de Andra-
de, cartas a Manuel Bandeira (1958, antologia). Alum-
bramentos (1960); Estrela da tarde (1960); Andorinha,
andorinha, crônicas (1966, prosa); Os reis vagabundos e
mais 50 crônicas (1966, prosa); Colóquio unilateralmen-
te sentimental, crônica (1968, prosa).

MANUEL DE SOUZA MAGALHÃES (1744-1800)**


Poeta, latinista, orador sacro, nasceu em Olinda, PE,
em 19 de novembro de 1744. Era filho de Antônio de
Souza Magalhães e de Maria José de Jesus. Residiu
na cidade de Pau d‟Alho, PE, de 1766 a 1771, onde
lecionou Latim. Regressou a Olinda, onde continuou
exercendo o magistério durante mais de sete anos. Or-
denou-se sacerdote em 1778 e passou a cultivar a poe-
sia sacra. Antonio Joaquim de Mello, em Biografias de
alguns poetas e homens ilustres da província de Pernambuco
(1856), anota: “Vamos salvar de um perpétuo esqueci-
mento o nome do antigo poeta pernambucano o Pa-
dre Manoel de Souza Magalhães. (...) Foi poeta desde
a puberdade. Das poesias do padre Manoel de Souza
Magalhães existem algumas totalmente estragadas e
várias lhe são atribuídas enganadamente”. É possível
registrar fragmentos da obra do autor: “Três cânticos
a Nossa Senhora da Penha; Hino de Nossa Senhora
do Carmo” (letra e música); “Ao governador D. Tomás
José de Melo” (quatro sonetos, 2 glosas, 17 décimas);
“Soneto ao natalício da Rainha D. Maria I” (inserido

62
7
na Memória do Clero Pernambucano, do Pe. Lino do
Monte Carmelo), “Noites clementinas” (tradução) e a
obra póstuma O monte de Mirra.

MARCELO MÁRIO DE MELO (1944)* **


Poeta e jornalista, nasceu em Caruaru, PE, em 1944
e veio para o Recife, PE, em 1953. Redigiu para este
painel as seguintes notas: “Escreve poemas, histórias
infantis, minicontos e textos de humor. Vê a elabora-
ção poética como o olhar que mergulha e voa, o es-
pirarco-íris de portas abertas e andantes, sintetizando
o pensentir humano nos mergulhos introspectivos e
nas viagens cósmicas. Poeta materialírico, entende que
o exercício poético não deve ser transformado numa
nova modalidade de culto. Em ótica, ética e estética é
adepto do Realismo Pus e Seiva: o real tal qual viceja
ou apodrece. Plebeu, republicano, democrata, cidadão
de esquerda e socialista, politicamente segue o precei-
to: sempre à esquerda, não ultrapasse pela direita.”
Exerceu vários cargos de administração cultural, entre
eles, o de presidente da Fundação de Cultura Cida-
de do Recife. Atualmente, é diretor de Jornalismo da
Fundação Joaquim Nabuco. Conviveu intensamente
com os poetas da Geração 65, mas sua atuação cultural
se destaca em movimentos literários alternativos.
Obras do autor: Os quatro pés da mesa posta (1980);
Manifesto masculinista (1993, humor); Entre teias e to-
caias/David Capistrano (2001, perfil parlamentar).

MARCELO PEREIRA (1964)* **


Jornalista, poeta e ensaísta, nasceu no Recife, PE, em
março de 1964. Fez especialização em Jornalismo
Cultural, pela Universidade Católica, Unicap, onde
também concluiu sua graduação. Foi repórter do Glo-
bo Esporte, da Rede Globo (1987-1990), colaborou
com as revistas Reclamo, Veja 28 Graus e Manchete. Está
no Jornal do Commercio desde 1990, onde é editor do

628
Caderno C. Começou a militar na poesia na déca-
da de 1980 participando ao lado dos poetas Manoel
Constantino e Henrique Amaral de recitais em bares
do Recife como Depois do Escuro, De Vento em Popa,
Moreno Vídeo Bar, Sushi. Fez parte dos varais de poe-
sia no Centro de Artes e Comunicação da UFPE. Pro-
duziu o projeto de requalificação do Mural Batalha
dos Guararapes, de Francisco Brennand, localizado
na Rua das Flores, no Recife/PE, e o vídeo Raimun-
do Carrero – Caçador de Assombrações, dirigido por
Clara Angélica. É autor do roteiro da minissérie Sol
a pino (inédito), que serviu de argumento para a mi-
nissérie Cruzamentos urbanos, veiculada na TV Jornal,
SBT, em 2007. Organizou o livro O delicado abismo da
loucura, de Raimundo Carrero, em 2005, e é ideali-
zador e curador do projeto Círculo de Leituras, que
tem como objetivo levar escritores para conversarem
diretamente com o público e que foi realizado duran-
te o Festival de Inverno de Garanhuns/PE (2006) e
na Festa da Renascença de Pesqueira/PE (2008). Tem
inéditos os ensaios: O Sísifo pernambucano – Raimundo
Carrero na imprensa brasileira, A guerrilha pop da Mundo
Livre S/A na trincheira da Indústria Cultural e A batalha
nacionalista de Francisco Brennand em terras da Várzea do
Capibaribe, a partir de um longo depoimento inédito
do artista sobre o mural da Rua das Flores. É autor
do frevo “La Bombonilha”, em parceria com Cláu-
dio Almeida, que musicou também o poema “Allegro
Flutuante”, de seu primeiro livro de poesia: Tatuagem
(2006), publicado pela Edições Bagaço, com apoio do
Instituto Maximiano Campos. Participa das seguintes
coletâneas: Invenção Recife, Coletânea poética I (2004);
Pernambuco, terra da poesia (2005); Antologia das águas
em verso e prosa (2007).
Obras do autor: As aventuras de Aua-u-zitô (2003, in-
fantil); Tatuagem (2006).

62
9
MARCIA de Souza Leão MAIA (1951)* **
Médica, escritora, poeta, vive no Recife, onde nasceu.
“Durante algum tempo dediquei-me à medicina e
aos três filhos, enquanto minha poesia, secretamen-
te, hibernava. E incomodava. Não resistindo aos seus
apelos, voltei à lida poética, fazendo parte de alguns
grupos de literatura da internet.” – registrou a poeta
em nota para a primeira edição desta coletânea. Foi
publicada na revista Poesia Sempre, nº 15, da Fundação
Biblioteca Nacional, em novembro de 2001, e no Li-
vro da Tribo (2004 e 2005). Em 2002, seu livro Espelhos
foi premiado no 3º Concurso Blocos de Poesia. Par-
ticipou das antologias Poetrix (2002), Escritas (2004)
e Dedo de moça – uma antologia das escritoras suicidas
(2009). Seu livro Cotidiana e virtual geometria (2008) foi
vencedor do Prêmio Violeta Branca Menescal (Ma-
naus, 2007). Seu livro Onde a Minha Rolleyflex?, ainda
inédito, obteve o Prêmio Eugênio Coimbra (Recife,
2008). Edita os blogues Tábua de Marés e Mudança de
Ventos. É presença marcante no mundo virtual.
Obras da autora: Espelhos (2003); Um tolo desejo de azul
(2003); Olhares/Miradas (2004); Em queda livre (2005);
Cotidiana e virtual geometria (2008).

MARCO POLO GUIMARÃES Martins (1948)* **


Poeta e jornalista, nasceu no Recife, PE, em 31 de mar-
ço de 1948. Pertence à Geração 65 desde o seu início.
Através do escritor Ariano Suassuna, a quem mostra-
ra, aos quinze anos de idade, 400 textos manuscritos,
foi apresentado ao crítico João Alexandre Barbosa,
que publicou seus primeiros poemas no Suplemen-
to Literário do Jornal do Commercio. A seguir, como a
maioria dos poetas daquela Geração, passou a publi-
car no Suplemento Literário do Diario de Pernambuco,
editado por César Leal. Participou da antologia Lírica
(1967), de Elói Editor, ainda com o pseudônimo de
Marcos Santânder. Também compositor, no início da

630
década de 1970 fez parte do grupo Ave Sangria, que
misturava rock com ritmos regionais. Em 1999, César
Leal, na antologia, Poesia pernambucana moderna, re-
gistra: “o fato de ser compositor e autor de letras de
música não o impede de escrever uma poesia clara,
moderna, sem concessões aos velhos metros român-
ticos, que tanto agradam aos admiradores de Víctor
Hugo e seus seguidores no Brasil. (...) Seu último li-
vro, Palavra clara, é um dos mais fortes no âmbito da
poesia neste final de século.” Foi editor do Caderno
de Cultura do Jornal do Commercio e um dos diretores
da revista Continente Multicultural. Atualmente é Su-
perintendente de Produção Editorial da Companhia
Editora de Pernambuco, CEPE.
Obras do autor: Vôo subterrâneo (1986); Narrativas
(1992, contos); Memorial (1996, memórias); Brilho
(1996); Palavra clara (1998); A superfície do silêncio
(2002); Caligrafias (2003); Sax áspero (2007); Corpoin-
teiro (2008).

MARCOS Flávio Gomes CORDEIRO (1944)* **


Poeta, dramaturgo e artista plástico, nasceu em Sertânia,
PE, no dia 1º de janeiro de 1944. Pertence à Geração
65 e participou ativamente das edições Pirata, mo-
vimento editorial alternativo através do qual editou o
seu primeiro livro de poemas, Vesperal da solidão (1980).
Por três vezes mereceu o Prêmio Elpídio Câmara de
dramaturgia dos Concursos Literários do Conselho
Municipal de Cultura do Recife, em 1995, 2003 e 2005,
com os Autos: Nação Paranambuco, Capibaribe do sol e
Orfeu em África. Em 2009, o seu poema épico Romançal
Paranambuco recebeu o Prêmio Edmir Domingues de
Poesia da Academia Pernambucana de Letras. Marcos
colaborou com sugestões e dados para esta segunda
edição do Pernambuco, terra da poesia.
Obras do autor: Vesperal da solidão (1980); Naufrá-
gio lúcido (1981); Hai-khais para Pernambuco, Rafaella

63
1
(1989); Onde o coração! (1987, contos); Romançal Pa-
ranambuco (1995); Nação Paranambuco (1996, teatro);
Capibaribe do sol (2003, teatro); O lamento das acauãs
(2005, teatro).

MARCOS D’MORAIS (1966)* **


Poeta e músico, nasceu no Recife, PE, em 25 de abril
de 1996. É licenciado em Letras, bacharel em Ciências
Jurídicas pela Universidade Católica de Pernambuco,
mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Fe-
deral de Pernambuco e atualmente faz doutoramen-
to em Literatura Comparada pela Universidade do
Porto, com pesquisa inédita sobre a Geração 65 de
poetas pernambucanos.
Obras do autor: Poesia expoente (1984); Flores do Brasil
(1993); Recife Porto (2004); A poesia dos acordes (2002,
crítica literária); Da destruição do poema (2007).

MARCUS Morais ACCIOLY (1943)* **


Poeta, bacharel em Direito, nasceu em Aliança, PE, a
21 de janeiro de 1943. Pertence à Geração 65 e, como
a maioria dos poetas dessa Geração, também publi-
cou seus primeiros poemas no Suplemento Literário
do Diario de Pernambuco, pelo então editor, poeta e crí-
tico César Leal. Conforme as páginas virtuais do Itaú
Cultural, publicou seu primeiro livro de poesia, Can-
cioneiro, em 1968. No ano seguinte, concluiu o curso
de Direito na Universidade Católica de Pernambuco,
no Recife. Em 1972, recebeu o Prêmio Recife de Hu-
manidades pelo livro Nordestinados (1971). Publicou,
em 1974, Xilografia e, em 1980, Guriatã, que ganhou
o Prêmio Fernando Chinaglia, concedido pela União
Brasileira de Escritores. Guriatã também recebeu a
Láurea Altamente Recomendável para o Jovem, con-
cedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-
venil. Em 1985, recebeu o Prêmio de Poesia, pelo li-
vro Narciso (1984), concedido pela Associação Paulista

632
dos Críticos de Artes, e o Prêmio Olavo Bilac, con-
cedido pela Academia Brasileira de Letras, também
por Narciso. A crítica Nelly Novaes Coelho afirmou
sobre o poeta: “Pertencendo ao grupo de escritores
e artistas nordestinos que, dos anos 60 para cá, tem
mergulhado nas raízes populares, de origem ibero-
lusitana, latentes nos Romanceiros e Cancioneiros,
na Literatura de Cordel e nas Cantorias, na Música,
nas Gravuras e Esculturas primitivas, Marcus Accioly
é dos poetas que hoje tentam recuperar a poesia em
sua natureza primitiva: a palavra que nasceu do canto
e se perpetua na voz popular”. Exerceu vários cargos
públicos e é presidente do Conselho Estadual de Cul-
tura do Estado de Pernambuco.
Obras do autor: Cancioneiro (1968); Nordestinados
(1971); Xilografia (1974, poema gravado por José
Costa Leite); Sísifo (1976); Poética. Pré-Manifesto ou
Anteprojeto do Realismo-Épico (1977); Íxion (1978);
Ó(de) Itabira (1980); Guriatã: um cordel para meni-
no (1980); Narciso (1984); Para(ti)nação (1986); Érato
(1990); O jogo dos bichos (1990); Latinomérica (2001).

MARIA DA PAZ RIBEIRO DANTAS (1940)*


Poeta e ensaísta, nasceu em Esperança, na Paraíba.
Reside no Recife desde 1963. É autora de três livros
sobre o poeta, teatrólogo e engenheiro de cálculos
Joaquim Cardozo, cuja obra vem estudando desde a
década de 1970: “Joaquim Cardozo ensaio biográfico”
(Prêmio Jordão Emerenciano 1984, editado pela Fun-
dação de Cultura Cidade do Recife, em 1984); O mito
e a ciência na poesia de Joaquim Cardozo, texto transfor-
mado em ensaio, originalmente defendido como tese,
na conclusão do mestrado em Teoria da Literatura,
pela UFPE, em 1983, e Joaquim Cardozo contemporâneo
do futuro, editado no Recife, em 2004. Além destes,
publicou também Luiz Jardim: ficção e vida (Prêmio de
monografia lançado pela Fundarpe, em 1988, sobre o

63
3
pintor e ficcionista pernambucano). Mantém e edita
o <www.joaquimcardozo.com>. Seus primeiros livros
de poesia foram publicados pelas Edições Pirata, mo-
vimento editorial pernambucano do qual participou
ativamente. Tem poemas e textos em prosa publica-
dos em vários jornais e revistas de cultura do Recife
e de outros Estados. Participa das coletâneas: Palavra
de mulher (1979); Álbum do Recife (1976); A cor da onda
por dentro (198l); Poesia viva do Recife. (1996); Vericuetos:
chemins scabreux – Revue litteraire bilingue (1997);
Corpo lunar; Antologia poética (2002); Estação Recife
III, (2004); Pernambuco, terra da poesia (2005).
Obras da autora: Sol de fretas (1979); Ilusão em pedra
(1981); O mito e a ciência na poesia de Joaquim Cardozo
(1984, ensaio); Luiz Jardim: ficção e vida (1988, ensaio).

MARIA DE LOURDES Mateus HORTAS (1940)*


Poetisa e ensaísta, nasceu em São Vicente da Beira,
Beira Baixa, Portugal. Com 10 anos, acompanhan-
do a família, veio para o Recife, onde vive até hoje.
Escritora, está representada em antologias nacionais
e estrangeiras. Participou do Movimento das Edi-
ções Pirata, Recife (1980 a 1986). Fez parte do con-
selho editorial do jornal literário Cultura & Tempo
(1981/1983), e da revista Pirata Edições (1983/1984).
Durante dez anos, foi editora da revista Encontro, do
Gabinete Português de Leitura de Pernambuco. No
ano em curso (2005), retoma a coordenação da mes-
ma, regressando à diretoria cultural da referida ins-
tituição. Organizou as antologias Palavra de mulher
(1979); Poetas portugueses contemporâneos (1985) e A cor
da onda por dentro (1981, poesia para crianças).
Obras da autora: Aromas da infância (1965); Fio de lã
(1979); Giestas (1980); Flauta e gesto (1983); Outro corpo
(1989); Recado de Eva (1990); Adeus aldeia (1990, prosa);
Dança das heras (1995); Diário das chuvas (1995, ficção);
Fonte de pássaros (1999); Caixa de retratos (2003, ficção).

634
MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO DE
MELO (1924-2008)
Nasceu no Recife, PE, em 21 de julho de 1924, e fa-
leceu no dia 23 de julho de 2008, também no Recife.
Figura entre as mais importantes poetisas pernambu-
canas contemporâneas. Passou a infância no engenho
da Torre, cujo terreno deu origem ao atual bairro da
Torre, no Recife. Filha do jurista e professor Francisco
Barreto Campelo e de Lilia Araújo Barreto Campello.
Bacharel em Letras Clássicas e Licenciada em Didática
de Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Re-
cife, e pós-graduada com os Cursos de Especialização e
de Aperfeiçoamento em Literatura e Língua Portugue-
sa, pela UFPE. Na década de 60, trabalhou no Jornal
do Commercio, onde era responsável por uma coluna de
página inteira, intitulada “Nossa Página”, dedicada à
arte e a temas gerais. Foi professora de Língua Portu-
guesa e Língua Latina e funcionária da antiga Sude-
ne, onde se aposentou. Integrou a Academia Pernam-
bucana de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 29, que
tem como patrono Padre Gomes Pacheco, e acadêmica
emérita da Academia Pernambucana de Artes e Le-
tras. Sempre atuante na vida literária pernambucana,
aos 80 anos, a poetisa mantinha uma vida intelectual
ativa e participava de projetos como o da Associação
Arte Vida e fazia parte da Comissão de Linguística da
Academia Pernambucana de Letras. Em 2003, afirmou
que não mais escreveria, mas, no Natal de 2007, Maria
do Carmo Barreto Campello de Melo compôs um po-
ema especialmente para essa data.
Obras da autora: Música do silêncio - 1º Momento: Os
símbolos; 2º Momento: Os sobreviventes (1968); Mú-
sica do silêncio - 3º Momento: Ciclo da solidão (1971);
Música do silêncio - 4º Momento: O tempo reinventado
(1972); VerdeVida: o tempo simultâneo; Música do si-
lêncio - 5º Momento: As circunstâncias (1976); Ser em
trânsito (1979); Miradouro (1982); Partitura sem som

63
5
(1983); De adeus e borboletas (1985); Retrato abstrato
(1990); Solidão compartilhada (1994); Visitação da vida
(2000); A consoada (2003).

MARIA HERACLIA DE AZEVEDO (± 1860 –)**


Poetisa, nasceu no Recife, PE, mas não se encontram
registradas as datas de seu nascimento e morte. Em
Pernambucanas illustres (1879, p. 166-168), Henrique
Capitolino Pereira registra: “Nasceu na cidade do Re-
cife. Sua instrução foi simples, pois os meios de que
dispunha seu pai não lhe permitiam dar outra. Perma-
neceu por algum tempo na obscuridade, mas do apelo
nobre de alguns moços que criaram o jornal Madressil-
va, consagrado às senhoras, D. Maria Heraclia apare-
ceu na imprensa e ensaiou os seus primeiros voos.”

MARILENA DE CASTRO (1952)


Marilena de Castro é natural do Rio de Janeiro, ra-
dicada no Recife desde 1957. É médica pela Univer-
sidade Estadual de Pernambuco (UPE). Participou
de oficinas literárias de Lucila Nogueira, de poesia
e texto; e de Raimundo Carrero, de ficção. Membro
da Sociedade de Médicos Escritores (Sobrames-PE).
Colaboradora das revistas Oficina de Letras, da So-
ciedade de Médicos Escritores, e de Encontro, do Ga-
binete Português de Leitura. Participou das antolo-
gias: Antologia de contos e crônicas; Ábaco; I Antologia de
poetas nordestinos; Mormaços e sargaços; Fauna e flora nos
trópicos e Retratos.
Obra da autora: A outra face (s.d.)

MÁRIO HÉLIO Gomes de Lima (1965)*


Poeta, jornalista, historiador e crítico literário, nasceu
em Sapé, PB, no dia 16 de abril de 1965. Mas, a par-
tir dos anos 80, convive intensamente com o mundo
cultural recifense e fez de Pernambuco seu domicílio
literário. É graduado em Jornalismo pela Univer-

636
sidade Católica de Pernambuco, mestre em Histó-
ria pela Universidade Federal de Pernambuco, com
dissertação sobre a obra de Gilberto Freyre (1994) e
doutor em História pela Universidade de Salamanca
(2005). Editou pela Record os famosos Relatórios que
revelaram Graciliano Ramos como escritor, quando
era Prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Em
1984, ganhou o primeiro lugar no Concurso Nacio-
nal de Poesia Carlos Pena Filho, promovido pelo Bar
Savoy, com “As oito faces do poema”, e a esse se su-
cederam outros prêmios pelos seus trabalhos mono-
gráficos. A partir de 1983, passa a colaborar, no Jornal
do Commercio, do Recife, e mantém a coluna Rodapé,
de crítica literária, nas páginas do Commercio Cultu-
ral, editadas pelo poeta e jornalista Alberto da Cunha
Melo. Foi editor do Suplemento Cultural do Diário
Oficial (1995-2000). Foi também editor das revistas
Pasárgada e Continente Multicultural, criadas a partir
de seus projetos editoriais. Em 2003, assumiu o cargo
de diretor da Editora Massangana, da Fundação Joa-
quim Nabuco, que exerce até hoje.
Obras do autor: Livrório/Opuszero (1985); Recife me-
lhor do que Paris; João Carlos Paes Mendonça; vida, ideias
e negócios (2004); Cícero Dias – uma vida pela pintura
(2002); No Planalto, com a Imprensa (2010).

MARIO Carneiro Rego MELO (1884-1959)**


Poeta, professor, decano dos jornalistas de Pernam-
buco, nasceu no Recife a 5 de fevereiro de 1884.
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife,
exerceu o magistério em vários colégios dessa cidade,
como professor de Língua Portuguesa. Membro da
Academia Pernambucana de Letras, foi seu secretário
perpétuo como também do Instituto Arqueológico e
Geográfico Pernambucano. Membro do Instituto His-
tórico Brasileiro. Autor de vários livros sobre história,
geografia e etnografia.

63
7
Obras do autor: Aspectos da história (1933, ensaio);
Síntese cronológica de Pernambuco (1934, história); Den-
tro da história (1935, ensaio); Como vi Portugal (1937,
ensaio); Guerra dos Mascates (1940, ensaio).

MAURÍCIO Cavalcanti de Arruda MOTTA (1949)*


**
Poeta, nasceu no Recife, PE, em 1949, filho do poe-
ta Mauro Mota e da artista plástica Marly Mota. Per-
tence à Geração 65 de escritores pernambucanos e
publicou seus primeiros poemas no jornal recifense
Diário da Noite e, a seguir, nos suplementos culturais
do Diario de Pernambuco e do Jornal do Commercio dessa
mesma cidade. Estreou em livro no ano de 1975, com
publicação da revista Estudos Universitários. Seu nome
está inserido em diversas antologias brasileiras, entre
elas, a Agenda poética do Recife, editada por Cyl Gallin-
do, em 1968, e Fauna e flora nos trópicos (2002).
Obras do autor: Viagem (1974); Trilogia (1980); Tudo
em família (1981); Curral da fala (2003).

MAURO Ramos da MOTA e Albuquerque (1911-


1984)* **
Poeta, jornalista, professor, cronista, ensaísta e me-
morialista, nasceu no Recife, PE, em 16 de agosto de
1911, e faleceu na mesma cidade em 22 de novembro
de 1984. Membro da Academia Pernambucana de
Letras e da Academia Brasileira de Letras, Cadeira nº
26, é um dos poetas brasileiros mais representativos
da Geração 45. Filho de José Feliciano da Mota e Al-
buquerque e de Aline Ramos da Mota e Albuquerque,
estudou na Escola Dom Vieira, em Nazaré da Mata,
no Colégio Salesiano e no Ginásio do Recife. Diplo-
mou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1937.
Tornou-se professor de História do Ginásio do Recife
e em várias escolas particulares; catedrático de Geo-
grafia do Brasil, por concurso público, do Instituto de

638
Educação de Pernambuco. Desde os anos universitá-
rios colaborava na imprensa. Foi secretário, redator-
chefe e diretor do Diario de Pernambuco; colaborador
literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e
do Jornal de Letras do Rio de Janeiro. De 1956 a 1971,
foi diretor executivo do Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais; diretor do Arquivo Público de Per-
nambuco, de 1973 até 1983; membro do Seminário
de Tropicologia da Universidade Federal de Pernam-
buco e da Fundação Joaquim Nabuco. Foi membro
do Conselho Federal de Cultura de Pernambuco e do
Conselho Federal de Cultura. Recebeu o Prêmio Ola-
vo Bilac da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio
da Academia Pernambucana de Letras por suas Ele-
gias (1952); o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro, e o Prêmio PEN Clube do Brasil, pelo livro de
poesias Itinerário (1975). Há três antologias publica-
das com sua obra: Antologia poética (1968); Antologia em
verso e prosa (1982) e, em 2001, a edição mais comple-
ta de sua obra poética: Mauro Mota, poesia, organizada
por Everardo Norões e Sônia Lessa Norões. Solidário
e fraterno, marcou sua presença em todos que com
ele conviveram e já tem seu nome definitivamente in-
crustado nas páginas da Literatura Brasileira.
Obras do autor: Elegias (1952); A tecelã (1956); Os epi-
táfios (1959); Capitão de fandango (1960, crônica); O
galo e o cata-vento (1962); Canto ao meio (1964); O pátio
vermelho: crônica de uma pensão de estudantes (1968,
crônica); Poemas inéditos (1970); Itinerário (1975); Per-
nambucânia ou cantos da comarca e da memória (1979); Pe-
mambucânia dois (1980); Mauro Mota, poesia (2001). An-
tologia poética (1968); Antologia em verso e prosa (1982).

MAURO Bento Dias SALLES (1932)* **


Jornalista, advogado, publicitário e poeta. Fez carrei-
ra no Rio, onde começou como repórter e fotógrafo
e chegou a diretor de Redação de O Globo. Participou

63
9
como diretor de Jornalismo e diretor de Programa-
ção, do planejamento da inauguração e dos primeiros
tempos da TV Globo. Trabalhou 12 anos com Rober-
to Marinho. Na política, foi fiel à herança de seu pai,
Apolônio Salles, duas vezes ministro da Agricultura
de Getúlio Vargas e iniciador do primeiro grande
projeto brasileiro de energia hidrelétrica, a Usina de
Paulo Afonso, no rio São Francisco: em 1961-1962,
foi Secretário do Conselho de Ministro presidido pelo
primeiro-ministro Tancredo Neves, que foi colega de
seu pai, como ministro da Justiça, no segundo gover-
no de Getúlio Vargas; e em 1984-1985 coordenou a
campanha de Tancredo Neves como candidato à pre-
sidência da República. Atualmente Mauro Salles diri-
ge sua empresa Interamericana Ltda. – Engenharia
de Negócio, especializada em fusões, incorporações e
projetos especiais de empresas, e é vice-presidente do
Conselho da Publics Salles Norton, a terceira agência
de propaganda no mercado brasileiro, sucessora da
Mauro Salles Publicidade, que ele fundou em 1966.

MAXIMIANO Accioly CAMPOS (1941-1998)**


Ficcionista e poeta, nasceu no Recife, PE, em 19 de
novembro de 1941, e faleceu nessa mesma cidade em
1998. Pertence à Geração 65 de escritores pernam-
bucanos. Passou sua infância num engenho da Zona
da Mata de Pernambuco. No Recife, bacharelou-se
em Direito. Foi superintendente do Instituto de Do-
cumentação da Fundação Joaquim Nabuco; cronista
do Diario de Pernambuco e secretário de Turismo, Cul-
tura e Esportes entre o período de janeiro de 1987 a
dezembro de 1998, na gestão do governador Miguel
Arraes, quando marcou sua atuação e de sua equipe
por intensa atividade cultural, desenvolvendo inúme-
ros projetos, como o Trem da Cultura para a interio-
rização das atividades culturais; recriação do históri-
co Festival de Cantadores Populares e de concursos

640
literários em diversas categorias. Deu novo impulso
à publicação de obras de relevância cultural com a
publicação, dentre outras, da poesia de Deolindo Ta-
vares e de Ascenso Ferreira, além de outras iniciativas
em diversas áreas. O Instituto Maximiano Campos,
criado em 2002, pelo escritor e advogado, Antônio
Campos, seu filho, com a finalidade primeira de pre-
servar a memória desse autor e sua obra, tem publica-
do várias reedições de seus livros e também originais
inéditos, destacando-se a novela Os cassacos (2003) e
toda a sua obra poética que o autor não publicou em
vida; “compondo, na área da ficção, um expressivo
mural da vida nordestina, ou melhor, da vida huma-
na, através deste pedaço de Brasil que é o Nordeste”,
como registra Antônio Campos, nas páginas virtuais
do IMC: <www.imcbr.org.br>. E prossegue com es-
tas referências: “Admirado e respeitado por intelec-
tuais do porte de Gilberto Freyre, Ariano Suassuna,
José Cândido de Carvalho, César Leal, Mauro Mota,
Raimundo Carrero, Ângelo Monteiro, dentre outros,
Maximiano legou à sua terra um precioso acervo
cultural (sua obra e sua biblioteca – que são os em-
briões formadores do próprio IMC) e uma memória
(os testemunhos dos seus companheiros de geração)
capazes, por si, de solidificarem toda uma história de
vida dedicada ao amor pelas artes e, em especial, pela
literatura. Detentor da Medalha do Mérito da Funda-
ção Joaquim Nabuco por „relevantes serviços presta-
dos à Cultura Brasileira‟ e da Medalha Rodrigo Melo
Franco de Andrade „por relevantes serviços prestados
ao Patrimônio Artístico e Histórico Brasileiro‟.” O
Pernambuco, terra da poesia é fruto de um homem que
se renova constantemente na memória dos pernam-
bucanos, portanto, “de um escritor devotado inteira-
mente ao seu ofício, de um legítimo defensor da sua
classe, do advogado e do homem público que jamais
sucumbiu aos convites nocivos e mesquinhos, enfim,

64
1
do poeta que, certa vez, escreveu que „tudo é velho
e novo e só o tempo não tem idade. O homem car-
regará as lembranças do seu passado mas será sem-
pre novo mesmo contra a sua vontade‟. Livre em sua
angústia e fiel à sua vocação valeu-se da pena para
conjugar a loucura imaginosa e, graças a ela, tornou-
se imortal.”, conforme conclui Antônio Campos. A
quarta edição de seu primeiro romance Sem lei nem
rei, foi publicada em 2008, pela Escrituras, SP.
Obras do autor: Sem lei nem rei (1968 - 2008, roman-
ce); As emboscadas da sorte (1971, contos); As sentenças
do tempo (1972, contos); As feras mortas (1975, contos);
O major Façanha (1975, novela); A loucura imaginosa
(1985, novela); A memória revoltada (1994, novela); O la-
vrador do tempo (2002, poesia); Cartas aos amigos (2002,
ensaios); Do amor e outras loucuras (2003, poesia); Os
cassacos (2003, novela); Na estrada (2004, contos).

José Joaquim de Campos da Costa de MEDEIROS E


ALBUQUERQUE (1867-1934)**
Jornalista, professor, político, contista, poeta, orador,
romancista, teatrólogo, ensaísta e memorialista, nas-
ceu no Recife, PE, em 4 de setembro de 1867, e fa-
leceu no Rio de Janeiro, RJ, em 9 de junho de 1934.
Em 1896 e 1897, compareceu às sessões preliminares
de instalação da Academia Brasileira de Letras. É o
fundador da Cadeira nº 22, que tem como patrono
José Bonifácio, o Moço. Foi um dos primeiros poetas
a revelar conhecimento da estética simbolista, pois vi-
veu em Paris de 1912 a 1916. Nas páginas virtuais da
Academia Brasileira de Letras, http://www.academia.
org.br/imortais/cads/22/medeiros.htm, encontram-se
as informações mais completas sobre o autor: “Autor
do Hino da República, ocupou vários cargos públicos.
Era filho do dr. José Joaquim de Campos de Medei-
ros e Albuquerque. Depois de aprender as primeiras
letras com sua mãe, cursou o Colégio Pedro II. Em

642
1880, acompanhou o pai em viagem para a Europa.
Em Lisboa, foi matriculado na Escola Acadêmica, e
ali permaneceu até 1884. De volta ao Rio de Janeiro,
fez um curso de História Natural com Emílio Goeldi e
foi aluno particular de Sílvio Romero. Trabalhou ini-
cialmente como professor primário adjunto, entran-
do em contato com os escritores e poetas da época,
como Paula Ney e Pardal Mallet. Estreou na literatura
em 1889 com os livros de poesia Pecados e canções da
decadência, em que revelou conhecimento da estéti-
ca simbolista, como testemunha a sua “Proclamação
decadente”. Em 1888, estava no jornal Novidades, ao
lado de Alcindo Guanabara. Embora tivesse entu-
siasmo pela ideia abolicionista, não tomou parte na
propaganda. Fazia parte do grupo republicano. Nas
vésperas da proclamação da República, foi a São Pau-
lo em missão junto a Glicério e Campos Sales. Com
a vitória da República, foi nomeado, pelo ministro
Aristides Lobo, secretário do Ministério do Interior
e, em 1892, por Benjamin Constant, vice-diretor do
Ginásio Nacional. Foi professor da Escola de Belas
Artes (desde 1890), vogal e presidente do Conserva-
tório Dramático (1890-1892) e professor das escolas
de 2º grau (1890-1897). Simultaneamente às ativida-
des de funcionário público, exercia as de jornalista.
Durante o período florianista, dirigiu O Fígaro. Foi
nesse jornal que teve ocasião de denunciar a deposi-
ção que se tramava em Pernambuco do governador
Barbosa Lima. Em 1894, foi eleito deputado federal
por Pernambuco. Medeiros estreou na Câmara con-
seguindo a votação para lei dos direitos autorais. Em
1897, foi nomeado diretor-geral da Instrução Pública
do Distrito Federal. Estando na oposição a Prudente
de Moraes, foi forçado a pedir asilo à Embaixada do
Chile. Demitido do cargo, foi aos tribunais defender
seus direitos e obteve a reintegração. Voltou também
à Câmara dos Deputados, formando nas fileiras de

64
3
oposição a Hermes da Fonseca. Durante o quatriênio
militar (1912-1916), foi viver em Paris. De volta ao
Brasil, defendeu a entrada do Brasil na guerra que
devastava a Europa, em campanha que contribuiu
para o rompimento de relações do Brasil com a Ale-
manha. Suas conferências se tornaram famosas no
Rio de Janeiro. Ocupou a secretaria-geral da ABL de
1899 a 1917. Foi autor da primeira reforma ortográ-
fica ali promovida. Foi quem respondeu a Graça Ara-
nha, quando do rompimento deste com a Academia.
Por ocasião da campanha da Aliança Liberal, esteve
ao lado do governo Washington Luís. Vitoriosa a re-
volução de 30, refugiou-se na Embaixada do Peru. De
1930 a 1934, dedicou-se às atividades de colaborador
diário da Gazeta de São Paulo e de outros jornais do
Rio de Janeiro e às suas múltiplas atividades na Aca-
demia, onde fazia parte da Comissão do Dicionário e
era redator da Revista. Empenhou-se nos debates en-
tão travados em torno da simplificação da ortografia.
Era um grande defensor da ideia da simplificação, e
seu último artigo na Gazeta de São Paulo, publicado
no dia de sua morte, versou sobre esse assunto. Na
imprensa, escreveu também sob os pseudônimos Ar-
mando Quevedo, Atásius Noll, J. dos Santos, Max,
Rifiúfio Singapura.”
Obras do autor: Pecados (1889); Canções da decadência
(1889); Um homem prático (1898, contos); Mãe tapuia
(1900, contos); Poesias 1893-1901 (1904); Contos esco-
lhidos (1907); Em voz alta (1909, ensaios); O escânda-
lo (1910, teatro); O silêncio é de ouro (1912, ensaios);
Pontos de vista (1913, ensaios); Literatura alheia (1914,
ensaios); O regime presidencial no Brasil (1914, políti-
ca); Marta (1920, romance); Páginas de crítica (1920,
ensaios); Mistério, em colaboração (1921, romance); O
hipnotismo (1921, ensaio); Fim (1922); Graves e fúteis
(1922, ensaios); Teatro meu... e dos outros (1923); O as-
sassinato do general (1926, contos); Poemas sem versos

644
(1924); Por alheias terras... (1931, memória); O umbigo
de Adão (1932, contos); Parlamentarismo e presidencialis-
mo (1932, política); Se eu fosse Sherlock Holmes (1932,
contos); Laura (1933, romance); Quando eu falava de
amor (1933); Minha vida da infância à mocidade 1867-
1893 (1933, memória); Minha vida da mocidade à ve-
lhice 1893-1934 (1934, memória); Surpresas (1934,
contos); Homens e coisas da Academia (1934, ensaios);
Quando eu era vivo... Memórias 1867 a 1934 (1942, edi-
ção póstuma).

MICHELINY VERUNSCHK Pinto Machado


(1972)* **
Poetisa, nasceu no Recife, PE, em 1972. Estreou em
livro em 2003. Ficou entre os 10 finalistas da edição
2004 do Prêmio Portugal Telecom de Literatura.
Obras da autora: Geografia íntima do deserto (2003); O
observador e o nada (2003).

MONTEZ MAGNO de Oliveira (1934)* **


Poeta, artista plástico, tradutor, conferencista, en-
saísta, contista, nasceu em Timbaúba, PE, em 1934.
Começou a escrever poesias aos 16 anos de idade e,
quatro anos depois, passou a publicá-las no Jornal do
Commercio. Posteriormente, escreveu artigos para esse
mesmo jornal e, ainda, para o Diário da Noite, PE, e
Jornal do Brasil, RJ. Em 1962, muda-se para São Paulo,
onde ganha bolsa de estudos do Instituto de Cultura
Hispânica e vai para Madri cursar História da Arte,
ministrada por José Almagro. Transfere-se para Mi-
lão, Itália, estuda com Gianni Brusamolino e faz ami-
zade com os poetas Murilo Mendes e Vinicius de Mo-
raes. Em Paris, visita os ateliês de Cícero Dias e Di Ca-
valcanti. De volta ao Brasil, é convidado pela UFPB,
para lecionar Arte. Escreveu vários contos e pequenos
ensaios sobre artes, publicados em jornais e revistas.
Parte dessas anotações foram transcritas da segunda

64
5
edição da Panorâmica do conto em Pernambuco (2010),
integrante da coleção Pernambuco em antologias.
Obras do autor: Floemas (1978); Narkosis (1979, 1981);
Pequenos sucessos (1981); Dentro da caixa, cinza (1980);
As estações visionárias (1962-1970); Diwân de Casa Forte
(1992).

MÚCIO Carneiro LEÃO (1898-1969)**


Jornalista, poeta, contista, crítico, romancista, ensaís-
ta e orador, nasceu no Recife, PE, em 17 de fevereiro
de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de
agosto de 1969. Foi membro da Academia Brasilei-
ra de Letras, Cadeira nº 20. Nas páginas virtuais da
ABL <http://www.academia.org.br/imortais/cads/20/
mucio.htm>, encontram-se os seguintes registros:
“Foram seus pais o dr. Laurindo Leão e Maria Feli-
císsima Carneiro Leão. Fez os estudos secundários
no Recife, no Instituto Ginasial Pernambucano, de
Cândido Duarte. Bacharelou-se em Direito, em 1949,
e logo a seguir transferiu-se para o Rio de Janeiro,
vindo a ser redator do Correio da Manhã. Logo depois
era colaborador da primeira coluna daquela folha,
publicando ali seus primeiros artigos de apreciações
críticas. Em 1923, deixou o Correio da Manhã, transfe-
rindo-se para o Jornal do Brasil. Na coluna de crítica
do Correio da Manhã foi substituído por Humberto de
Campos a quem ele, por sua vez, haveria de substi-
tuir em 1931. Em 1934, por morte de João Ribeiro,
substituiu-o na coluna de crítica do Jornal do Brasil.
Em 1941, fundou, com Cassiano Ricardo e Ribeiro
Couto, o matutino A Manhã, onde criou o suplemento
literário Autores e Livros, que dirigiu desde então, e
que se transformou numa vasta história da literatura
brasileira (11 volumes de 1941 a 1950). Múcio Leão
exerceu os seguintes cargos públicos ou comissões:
oficial de gabinete do Ministro da Fazenda (1925);
fiscal geral das Loterias (1926); agente fiscal do Im-

646
posto de Consumo (1926); presidente da Comissão
do Teatro do Ministério da Educação (1939); profes-
sor do curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia
da Universidade do Brasil. Na Academia Brasileira
de Letras, foi segundo-secretário (1936); primeiro-
secretário (1937, 1938); secretário-geral (1942, 1943,
1946 e 1948) e presidente (1944). Organizou inúme-
ras publicações, notadamente a obra crítica de João
Ribeiro: Estudos críticos, 1º vol. (1934); Crítica, vol. I
Clássicos e românticos brasileiros (1952); vol. IX Os mo-
dernos (1952); vol. II Poetas. Parnasianismo e simbolismo
(1957); vol. III Autores de ficção (1959); vol. IV Críticos e
ensaístas (1959); vol. V Filólogos (1961); vol. VI Historia-
dores (1961); João Ribeiro, 2º vol. da obra que começou
a ser publicada em 1934 (1962). Em 1960, proferiu
uma série de três conferências no Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, sob o título O pensamento de
João Ribeiro (publicadas na Revista do Instituto, vol.
248, julho-setembro de 1961).”
Obras do autor: Ensaios contemporâneos (1923, en-
saios); Tesouro recôndito (1926); A promessa inútil e outros
contos (1928, contos); No fim do caminho (1930, roman-
ce); Prêmio de pureza (1931, contos); Castigada (1934,
romance); Os países inexistentes (1941); Poesias (1949);
Emoção e harmonia (1952 ensaios); Salvador de Mendon-
ça (1952, ensaio biobibliográfico); João Ribeiro (1954,
ensaio biobibliográfico); José de Alencar (1955; ensaio
biobibliográfico).

MÚCIO DE LIMA GÓES (1969)* **


Poeta e escritor, é natural da cidade de Palmares, PE,
onde nasceu a 2 de fevereiro de 1969. Conhecida
como a “Terra dos Poetas”, sua cidade foi berço do
poeta Ascenso Ferreira, um dos ícones do Movimento
Modernista (1922), assim como do escritor Hermilo
Borba Filho, e do também poeta Juhareiz Correya.
Múcio começou a escrever ainda nos tempos de co-

64
7
légio, fazendo uso de um tom satírico que arrancava
sempre um sorriso dos leitores. Com o surgimento da
internet, montou um blog onde passou a postar sua
poesia e cativar leitores. Em 2008, conseguiu lançar
seu primeiro livro pela editora pernambucana Nossa
Livraria, chamado O avesso e o verso. Embalado pela
boa aceitação do primeiro trabalho, em 2009, lançou
Grãos ao alto! a convite da editora mineira A Árvore dos
Poemas. Seu terceiro livro, Incensos, insônias, silêncios e
outros sons, será também editado pela Nossa Livraria.
Obras do autor: O avesso e o verso (2008); Grãos ao alto
(2009); Incensos, insônias, silêncios e outros sons (2010).

MYRIAM BRINDEIRO de Moraes Vasconcelos


(1937)* **
Poetisa, compositora, pesquisadora, nasceu no Reci-
fe, PE, em 26 de junho de 1937. Faz parte da Gera-
ção 65 e foi uma liderança definitiva nas atividades
das Edições Pirata (1979/1983), pois fez do primeiro
andar de sua residência em Apipucos o local onde
eram encadernados os livros desse movimento edito-
rial e onde se reuniam os que nela trabalhavam. Foi
bacharelada em Ciências Sociais pela Fafire, em 1959,
e pertence à União Brasileira de Escritores (UBE-PE).
Pesquisadora aposentada da Fundação Joaquim Na-
buco (Fundaj), (1994), tem vários relatórios de pes-
quisa, estudos e artigos publicados. Criou 200 com-
posições próprias e poesias musicadas de vários au-
tores. Participou da antologia: A cor da onda por dentro
(1981); Poesia viva do Recife (1996); Saciedade dos poetas
vivos (1995); Poesia viva do Recife (1996); A obra em tem-
pos vários – Gilberto Freyre (1999); Música e músicos em
Pernambuco (2006); Cantos e contos de Natal (2006); O
fim da velhice (2006/2008); 100 Anos de frevo (2007);
Cordel do Menino Jesus (2007, org.); Seleções do século
XXI (2007); O planeta feito quintal (2009); Agendas do
poeta (2006, 2007, 2008, 2009, 2010).

648
Obras da autora: Clave provisória (1979 / 1983, poe-
sias e partituras); Coceira no ouvido (1982); Cisco no olho
(1983); Caixinha com os dois livros (2003); Capelinha de
melão (1993).

José da NATIVIDADE SALDANHA (1796-1830)**


Poeta, advogado, nasceu em Santo Amaro do Jaboa-
tão, PE, em 8 de setembro de 1796, e morreu tragi-
camente em Bogotá, Colômbia, afogado numa vala
de esgoto, em 30 de março de 1830, aos 34 anos
de idade. Era filho ilegítimo do Padre João José de
Saldanha Marinho e de Lourença da Cruz. É patro-
no da Cadeira nº 5 da Academia Pernambucana de
Letras. Em 1819, matriculou-se na Universidade de
Coimbra, onde se bacharelou em Direito em 1823.
Mestiço, participou da Confederação do Equador
no Recife, fugiu para a Inglaterra e foi para a Fran-
ça, de onde foi expulso como subversivo. Teve vida
agitada. Viveu na Venezuela, pobre, em dificuldades,
onde chegou a advogar, dar aulas particulares e, em
Bogotá, foi professor de humanidades. No Dicionário
biobibliográfico de poetas pernambucanos (1993), Lamar-
tine Morais transcreve estas notas de seu maior bió-
grafo, Sílvio Romero: “Este poeta era um homem de
talento e de coração; era um resto daqueles espíritos
ativos que tivemos e que nos prepararam a emancipa-
ção política. Em Portugal, como estudante, de 1819 a
1823, em vez de se ocupar em seus cantos dos rebo-
talhos assuntos da poesia reinol, decantou as velhas
glórias da história pernambucana. Por este lado, ele
é singular em seu tempo e merece um posto especial
na literatura. Em seus hinos patrióticos, há uma vida,
um calor, um entusiasmo que, só cinquenta anos mais
tarde, acharam um equivalente na alma do poeta dos
Voluntários Pernambucanos. Recomendo-os à leitura
de todos aqueles que amam o Brasil. Para tudo dizer
sem rodeios, Saldanha tinha uma grande inteligência,

64
9
cheia de entusiasmo pela pátria e repleta de desalen-
tos por sua posicão e por sua origem; era quase negro
e filho de um padre. Os preconceitos do seu tempo
fizeram-no sofrer por isso e por suas ideias liberais”.
Obras do autor: Poemas oferecidos aos amigos e amantes
do Brasil (1822); Discurso sobre tolerância (1826); Poesias
(1875).

NELSON Nogueira SALDANHA (1933)* **


Poeta, ensaísta, bacharel em Direito e em Filosofia,
nasceu no Recife, PE, em 1933. É membro da Acade-
mia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 12, e pro-
fessor universitário. Publicou várias obras em prosa
com temas sociais e políticos e textos literários.
Obras do autor: História das ideias políticas no Brasil
(1968, ensaio); Temas de história e política (1969); Sociolo-
gia do Direito (1970, ensaio); Velha e nova ciência do Direi-
to (1974, ensaio); Poesia (1977); Livro de sonetos (1983);
Humanismo e história (1983); A relva e o calendário (1990);
Pela preservação do humano (1992, ensaio); Na tarde inde-
finida (1995); Tempo, metais, zodíaco (2000).

ODILE VITAL CÉSAR CANTINHO (1915)* **


Poetisa, cronista, ensaísta e artista plástica, nasceu em
26 de fevereiro de 1915, na cidade do Recife, PE. Es-
tudou no Colégio Pritaneu e fez o Curso Normal no
Colégio Nossa Senhora do Carmo. Redigiu programa
semanal na PRA-8 (1948/1952) sob o pseudônimo de
Liane. Colaborou com o Suplemento Feminino do
Diario de Pernambuco com crônicas, por alguns anos.
Participou de diversas antologias entre 1993 e 2004,
dentre elas, Corpo astral, presença poética e Retratos. Foi
premiada com o terceiro lugar no Concurso de Contos
de Araçatuba (São Paulo, 1989), com O sonar; Menção
Honrosa, com O muro, em Paranavaí, PR, em 1991. É
sócia da União Brasileira de Escritores UBE-PE, da
Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro,

650
da Academia Recifense de Letras, da União Brasilei-
ra de Trovadores. Sócia honorária da Sociedade de
Médicos Escritores (Sobrames), Grupo Literário Ce-
lina de Holanda e artista plástica cadastrada na Arte
Maior desde 1996.
Obras da autora: Poemas (1979); Poemas (1980); Horas
extras (1982, contos); O máximo de amor possível (1986,
contos); Hecatombe da vitória (1988, ensaios); Louvação
a Hermilo Borba Filho (1994, ensaio); Reflexões (1995,
pensamentos filosóficos); Thargélia Barreto de Mene-
zes (1996, panegírico); Histórias da carochinha em sete
versões diferentes (1996, contos); Vila Cantinho (1996,
ensaio); Madrugada (1997, crônicas); O rio que sonha
ser lago (1998); A lapinha e outras fábulas (2001, fábu-
las); Crônica brincantes (2004, crônicas); Shalom Miriam
(2004, ensaio).

OLEGÁRIO MARIANO Carneiro da Cunha (1889-


1958)**
Poeta, político e diplomata, nasceu no Recife, PE, em
24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ,
em 28 de novembro de 1958. Membro da Academia
Brasileira de Letras, Cadeira nº 21, tomou posse em
1926. Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha,
herói pernambucano da Abolição e da República, e
de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o
secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e
cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Nas páginas
virtuais da ABL <http://www.academia.org.br/imor-
tais/cads/21/mariano3.htm>, encontram-se estas
informações: “Frequentou a roda literária de Olavo
Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho
Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literá-
ria aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua
poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimen-
tos, perfeitamente identificada com os preceitos do
Simbolismo, já em declínio. Foi inspetor do ensino

65
1
secundário e censor de teatro. Representou o Brasil,
em 1918, como secretário de embaixada, na Missão
Melo Franco. Foi deputado e participou da Assem-
bleia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em
1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputa-
dos. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários
de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasi-
leira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para
o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil
em Portugal em 1953-1954. Exerceu o cargo de ofi-
cial do 4º Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de
Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas. Em con-
curso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Ole-
gário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o
Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substitui-
ção a Alberto de Oliveira, detentor do título depois
da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo. Além
da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixa-
da nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957),
publicados pela José Olympio, Olegário Mariano pu-
blicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos,
sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção
de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais
tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida caixa de
brinquedos. Sua poesia lírica é simples, de fundo ro-
mântico, pertinente à fase do sincretismo parnasia-
no-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou
conhecido como o „poeta das cigarras‟, por causa de
um de seus temas prediletos”.
Obras do autor: Angelus (1911); Sonetos (1921); Evan-
gelho da sombra e do silêncio (1913); Água corrente, com
uma carta prefácio de Olavo Bilac (1917); Últimas ci-
garras (1920); Castelos na areia (1922); Cidade maravi-
lhosa (1923, prosa); Bataclan (1927, crônicas em verso);
Canto da minha terra (1931); Destino (1931); Poemas de
amor e de saudade (1932); Teatro (1932); Antologia de tra-
dutores (1932); Poesias escolhidas (1932); O amor na poesia

652
brasileira (1933); Vida caixa de brinquedos, crônicas em
verso (1933); O enamorado da vida, com prefácio de Jú-
lio Dantas (1937); Abolição da escravatura e os homens do
norte, conferência (1939); Em louvor da língua portugue-
sa (1940, ensaio); A vida que já vivi (1945, memórias):
Quando vem baixando o crepúsculo (1945); Cantigas de
encurtar caminho (1949); Tangará conta histórias (1953,
poesia infantil); Toda uma vida de poesia (1957).

OLÍMPIO BONALD da Cunha Pedrosa NETO


(1932)* **
Poeta, advogado, professor universitário e artista
plástico, nasceu em Olinda, PE, a 17 de outubro de
1932. Filho do poeta e advogado Alcindo Pedrosa e
Octávia Barreto Pedrosa. Graduado em Ciências Ju-
rídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife,
em 1955. Entre outros, fez o curso de Artes Plásticas
na “Escola Livre da Ribeira”, na década de 1960, o de
Planejamento do Desenvolvimento Turístico (Cicatur
/ OEA / México, em 1974) e o de pós-graduação em
Jornalismo Político na Unicap, em 1982. É membro
da Academia Pernambucana de Letras (APL) desde
1981, Cadeira nº 1, do Instituto Histórico de Olinda
e da entidade congênere de Goiana, da União Bra-
sileira de Escritores, UBE/ PE, da Sociedade de Poe-
tas Vivos de Olinda, da Comissão Pernambucana de
Folclore, da Academia de Letras e Artes do Nordeste
Brasileiro, do Centro de Estudos de História Munici-
pal, da FIAM, da Academia Olindense de Letras e da
congênere do Recife. Advogado Trabalhista e Civil e
Procurador Federal aposentado, foi membro do Con-
selho de Cultura do Estado e de órgãos congêneres
de Olinda e do Recife; deu consultoria de Cultura
e Turismo na Empetur, desde a sua fundação até a
década de 1980. Fez parte do Conselho de Preser-
vação dos Sítios Históricos de Olinda, do Conselho
Editorial da Fundarpe, da “Comissão Internacional

65
3
das Organizações de Festivais Folclóricos” da Unesco,
foi presidente da Fundação de Cultura da Cidade do
Recife, entre 1994-1995, e representou as instituições
literárias de Pernambuco no Conselho da Lei de In-
centivo à Cultura do Governo do Estado de Pernam-
buco, de 1995 a 1996; vice-presidente da Comissão
Nacional de Folclore. É professor universitário, fun-
dador da Funeso e do Curso de Turismo da Unicap.
De 1997 a 2000, foi consultor de cultura da cidade
de Olinda. É pintor com várias exposições e obras
em coleções particulares. É detentor da Comenda da
Ordem dos Guararapes, do Estado de Pernambuco e
de vários prêmios literários, entre os quais o de Con-
tos, conferido pela Secretaria de Educação e Cultura
do Estado de Pernambuco, em 1957; o de Poesia, da
União Brasileira de Escritores, UBE-PE, em 1966; o
de Ensaio, da Academia Pernambucana de Letras, em
1976, e o de Antropologia Cultural, da Fundação Joa-
quim Nabuco, em 1990. Participou de 11 antologias
poéticas, entre elas: Violão de rua II (1963); Poética olin-
dense (1981); Presença poética do Recife (1983); Poetas da
rua do Imperador (1986); Álbum do Recife (1987); Poésie
du Brésil (bilíngue, Paris), (1997); Mormaço e sargaço. I
Antologia de poetas nordestinos e contemporâneos (1998);
Poemas de sal e sol. II Antologia de poetas nordestinos e
contemporâneos (1999) e Antologia de poetas nordestinos.
Ano 2000, estas três últimas organizadas e editadas
por Benito Araújo (ED-micro).
Obras do autor: Um negro volta ao mangue (1957, con-
tos); Dura e breve história da Ilha do Maruim (1961);
Palco e palanque (1963 e 1988, antropologia cultural);
Tríptico (1965); Os bacamarteiros (1965, antropologia
cultural); O homem que devia ter morrido há três anos
(1966, contos); Que é turismo? (1973, ensaio); Hinapino
(1974); Estudo de cor na zona da Mata Sul pernambucana
(1975); Introdução ao estudo do turismo (1975, ensaio);
Bacamarte, pólvora e povo (1976, antropologia cultu-

654
ral), Cantoria (1980); Balada bacamarteira no alto do
Bom Jesus (1983); Cultura, turismo e tempo: a fruição do
intangível (1983, ensaio); Praxis Amandi (1984); Uma
noite no castelo (1985, contos); O livro da poesia (1990);
A loba e os faisões (1992, contos); Seresta em tempo de caju
(1996, contos); Gigantes e foliões de Pernambuco (1992,
antropologia cultural); Modernismo e integralismo. A
Ideologia dos anos trinta (1996, antropologia cultural).

ORISMAR RODRIGUES Martins (1943-2007)**


Poeta, jornalista, nasceu em Gravatá, PE, em 1943,
e morreu no Recife, em 2007. Em seu livro mais re-
cente, Ritual de sonhos, 1997, p. 171, encontramos a
seguinte biografia: “Toda sua formação escolar foi
feita no Recife, onde estudou no Colégio Americano
Batista e Universidade Católica de Pernambuco (Uni-
cap). Formado em Jornalismo na turma de 1972, foi
repórter do Diario de Pernambuco entre abril de 79 e
fevereiro de 97. Desde então atua no Jornal do Com-
mercio. Em 1987, publicou Destino das águas (poemas),
que ganhou o Prêmio Othon Bezerra de Mello, da
Academia Pernambucana de Letras (APL). Em 1993,
lançou Navegador do tempo (poemas). Integrou a an-
tologia poética Nus, organizada pelo jornalista, poe-
ta e crítico literário Paulo Azevedo Chaves. Coorde-
nou a antologia poética dos jornalistas e estudantes
de Jornalismo, lançada pela Associação de Imprensa
de Pernambuco (AIP), de onde foi diretor. Integra o
Conselho Editorial da Fundação do Patrimônio His-
tórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Destino
das águas foi espetáculo com a encenação de Visão Cê-
nica e Dramatização, no Teatro Barreto Júnior, pelos
atores Rubem Rocha Filho, Pedro Dias e Alba Lúcia
Bradley, coordenadora do evento. O poema “Des-
caminhos”, do livro Destino das águas, adaptado por
Lupicínio Rodrigues Filho e Eron Vianna, integra o
disco “Flor Humana”. Inspirada nos versos de Destino

65
5
das águas, a designer carioca Suzette Kischinev lançou
uma coleção de joias, no Rio de Janeiro. O Serviço
Social do Comércio (Sesc), Departamento Regional
em Pernambuco, como parte do seu projeto Poetas
em Casa, apresentou no seu teatro, em Santo Amaro,
o espetáculo dramatizado com poemas do Navegador
do tempo, sob a direção de Célio Pontes. O maestro e
professor de Música da Universidade Federal de Per-
nambuco (UFPE) Henrique Lins compôs Canções de
Câmara com os poemas dos livros Navegador do tempo
e Ritual de sonhos. Algumas dessas canções fazem parte
do programa curricular exigido no Curso de Bacha-
relado em Canto, da UFPE. Foi diretor do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco. “César
Leal, na quarta capa do livro referido, registra: Oris-
mar Rodrigues é um poeta que o Recife devia conhe-
cer melhor. Um acentuado lirismo reflete-se em seus
poemas através de imagens, alegorias e símbolos,
onde podemos identificar uma honradez própria de
quem leva a sério a difícil arte de escrever poemas”.
Sua morte, em 20 de outubro de 2007, comoveu o
mundo cultural pernambucano e teve grande reper-
cussão na imprensa local.
Obras do autor: Destino das águas (1987); Navegador
do tempo (1993); Ritual dos sonhos (1997); Poemas do
oriente e outros reinos (2002); Antologia poética (2004).

ORLEY MESQUITA (1935-2006)*


Poeta, nasceu em Alagoa Grande, município do Es-
tado da Paraíba, em 1935, e morreu no Recife, PE,
em fevereiro de 2006. Conviveu intensamente com
o mundo cultural pernambucano, inclusive com os
escritores da Geração 65, como revela a antologia
Clave, Caderno de poesia, publicada em 1965, onde se
encontram seus poemas. Publicou seus primeiros tra-
balhos no Correio das Artes, de João Pessoa, e no Diario
de Pernambuco. Exerceu vários cargos públicos e fez

656
parte do Conselho Cultura do Estado. Anco Márcio,
no Interpoética, informa: “E seus versos tinham, assim
como sua prosa falada, a capacidade de nos paralisar.
Poucos foram seus poemas publicados. Nos anos 60,
publicou no primeiro e único número da revista Cla-
ve. Ainda nesta mesma década, em 1967, lançou um
livro intitulado Orley, que trazia “Oito fragmentos do
livro da fera”. Em 1979, saiu um volume que escreve-
ra também nos anos 60: O vocábulo das horas. Por fim,
em 1981, Poemas em preto e branco. Afora esses quatro
pequenos volumes, teve alguns versos publicados em
antologias, revistas literárias e jornais da terra”.
Obras do autor: Orley (1967); Vocábulo das horas (1979);
Poemas em preto e branco (1981).

PAULINO [Paulo] Batista DE ANDRADE (1886


–)**
Nasceu a 11 de maio de 1886, na cidade de Olinda,
PE. Dedicou-se ao magistério e, durante muitos anos,
foi diretor do Colégio Porto Carreiro. Um dos funda-
dores da revista literária Heliópolis. Ocupou a Cadeira
nº 18, da Academia Pernambucana de Letras.

PAULO BANDEIRA DA CRUZ (1940-1993)**


Poeta, artista plástico e advogado, nasceu nos Qua-
tro Cantos, em Olinda, PE, em 1940 e morreu em
1993. Bacharel em Direito pela Universidade Federal
de Pernambuco, começou a escrever em 1959, publi-
cando seus primeiros trabalhos no Jornal do Commer-
cio, do Recife, com o apoio do jornalista Esmaragd
Marroquim e, posteriormente, no Diario de Pernam-
buco, quando seu suplemento era dirigido por Ariano
Suassuna. Fez parte do grupo de escritores Poetas da
Rua do Imperador, tendo publicado seus poemas na
antologia de mesmo nome, publicada em 1986, com
sua apresentação sob o título “Biografia da rua”, p.
11. Seus trabalhos foram publicados no sul do país

65
7
(Tempo Brasileiro) e no exterior (Revista Colóquio/
Letras. Portugal; La Burbuja, Espanha). Fez incursões
no desenho e na pintura. Participou do 21º Salão de
Pintura do Museu do Estado de Pernambuco (Recife,
setembro de 1962). Prêmios: Othon Bezerra de Melo
(Academia Pernambucana de Letras-Poesia, 1975);
Menção Honrosa do Prêmio Manuel Bandeira, do
Governo do Estado de Pernambuco Poesia (1978); I
Concurso Fontana de Poesia (Rio de Janeiro. 1982);
1º Prêmio do I Concurso Interno de Contos do Cete-
pe (Recife, 1982); 4º lugar do II Prêmio Scortecci de
Poesia (São Paulo. 1983).
Obras publicadas: Ato de desesperança (1960); Sonetos
(1964); Itinerário do boi além do campo (1975); O evange-
lho consoante João da Silveira Severino (1981).

PAULO Roberto Barbosa BRUSCKY (1949)* **


Poeta visual e artista multimídia, nasceu no Recife,
PE, em 1949. Faz parte da Geração 65 de escritores
pernambucanos. Publicou em 1969 os seus primeiros
“poemas-processo”. Em 1981, obteve o Prêmio Inter-
nacional de Artes Visuais da Fundação Guggenheim
de Nova Iorque. A partir de 1973, entrou no Movi-
mento Internacional da Arte Correio, sendo pioneiro
no Brasil da xerografia artística (1970) e da fax arte
(1980). Citação na Enciclopédia britânica do Brasil “A
Década de 70/Literatura” (1980) e Enciclopédia de lite-
ratura brasileira, Afrânio Coutinho e J. Galante e Sousa
(1990). Participação em exposições de poesia visual e
sonora em diversos países: Small Press Festival (Bélgica,
1976); Poéticas Visuais (Brasil, 1977); Visual & Sound
Poetry (Itália, 1979), Poesia Visiva (Itália, 1980); Salon de
la Lettre et du Signe (França, 1980); The Visual and Con-
crete Poetry in Latin America (Polônia, 1980); Poesia Ex-
perimental Hoy (Espanha, 1982); 1ª Bienal Internacional
de Poesia Visual (México, 1975); 1° Festival Internacional
de Poesia – Viva (Portugal, 1987); IV Bienal de Poesia

658
Visual (Espanha, 1992), entre outras. Organizou várias
exposições, entre as quais: Poesia Viva (Brasil, 1977);
1º (Ra(u)dio Arte Show, Brasil, 1979); 1ª e 2ª Exposição
Internacional de Poemas Visuais em Outdoor-Artdoor (Bra-
sil, 1981-1982). Alguns dos seus trabalhos foram pu-
blicados em: lnternational Poetry (E.U.A.), Oggi Poesia
Domani (Itália), Ville (E.UA.), Março (México, El Mago
(Espanha); Apsiom (Alemanha); Kaldron (E.U.A.); Qua-
derni di Nuovo Ruolo (Itália), Ovum (Uruguai); lnter-
media (E.U.A.), Doc(k)s (França), Soft Art Press (Suíça),
Ephemera (Holanda); Cisoria Arte (Venezuela); Art Con-
temporary (Canadá.); A Point of View Visual Poetry: the
90’s Anthology, Edition D. Bulatov (Rússia, 1998); Poe-
sia Totale: 1897-1997, Org. Sarenco e E. Mascelloni,
Adriano Parise Editare (Itália, 1998).
Obras do autor: Alto retrato (1981); Teste poético (1982);
A comunicação nas estradas (1986); Abelardo de todas
as horas (1988, ensaio biográfico); Voz poética (1997,
antologia); Vida, arte, palavra: perfis de Luís Jardim
(1998, ensaio biográfico); Marchas de procissão (1998,
pesquisa); Espetáculos populares de Pernambuco (1998,
livro/CD, pesquisa); Vicente do Rego Monteiro: poeta.
tipógrafo, pintor (2004, ensaio biobibliográfico).

PAULO Fernando Lins CALDAS (1945)* **


Poeta e ficcionista, nasceu em Pernambuco, em 15
de dezembro de 1945. Dedica-se à literatura infan-
to-juvenil, desde 1980, publicou vários livros neste
segmento, entre eles, Asas pra que te quero, As faces do
escorpião, Flores para Cecília, A cor da pele e O sol além
da minha rua, com o selo da Edições Bagaço e Esses bi-
chos maravilhosos e suas incríveis aventuras, pela Editora
Atual. No gênero poesia, participou de várias antolo-
gias publicadas no Recife e em Fortaleza, entre elas,
Flora e fauna nos trópicos (2002). Foi vencedor nos con-
cursos: 25 Anos da Celpe e 50 Anos da AABB.

65
9
PAULO CARDOSO Dias (1939-2002)**
Poeta nascido em São José do Egito, sertão de per-
nambuco, radicou-se no Recife, desde adolescente e
faleceu em 2002. Foi membro da Academia de Le-
tras e Artes do Nordeste Brasileiro e da Academia
Recifense de Letras da qual foi presidente. Sócio da
União Brasileira de Escritores UBE-PE, fez parte de
sua diretoria. Tem onze livros publicados. Obteve os
seguintes prêmios: Prêmio Nanie Siqueira Campos,
da APL-1995, com o livro As veias da noite (1993); com
A pedra dos oráculos (1996) obteve Menção Honrosa no
Prêmio Lira e César, da APL (1997). Participou de di-
versas antologias poéticas nacionais e internacionais
e teve poemas publicados em revistas e jornais de vá-
rios pontos do território nacional. Foi homenageado
pelo Governo do Estado de Pernambuco (Secretaria
de Educação e Esportes e Biblioteca Pública Estadual
Presidente Castello Branco) através do Projeto Escri-
tores Vivos de Pernambuco, vol. 4.
Obras do autor: Árvores sem sol (1964); Poemas e salva
de versos (1992); As veias da noite (1993); Fronteira de
dois chãos (1995); A pedra dos oráculos (1996).

PAULO Gonçalves DE ARRUDA (1873-1900)**


Poeta e jornalista, nasceu no Recife a 5 de janeiro de
1873. Faleceu a 8 de maio de 1900. É patrono da Aca-
demia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 19. Foi
considerado um grande sonetista. Com França Pe-
reira e Teotônio Freire, organizou a revista Contempo-
rânea. Deixou inédito um livro de poemas intitulado
Nelumbos.

PAULO GUSTAVO de Oliveira (1957)* **


Poeta e professor de Literatura Brasileira, nasceu no
Recife em 25 de janeiro de 1957. É bacharel em Le-
tras e mestre em Teoria da Literatura pela Universi-
dade Federal de Pernambuco, servidor concursado da

660
Fundação Joaquim Nabuco e sócio da Consultexto.
Organizou a antologia Meio-dia eterno, do poeta per-
nambucano Austro Costa, editada pela Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Par-
ticipa de várias antologias poéticas pernambucanas.
Obras do autor: Queda para o alto (1979); Quando tudo
era brinquedo (1981, poesia infantil); Pausa para o invi-
sível (1982, contos); A redenção do acaso (1984); O que te
trai, o que te cala (1992); Aleluia no caos (1995); O poder
da noite (2004).

PEDRO AMÉRICO DE FARIAS (1948)* **


Poeta, ensaísta, ficcionista, nasceu em Ouricuri, no
sertão do Araripe pernambucano, em 10 de abril de
1948. Apologista da poesia regional, coordenou vá-
rios seminários, destacando-se os cursos do Festival de
Inverno da Unicap, onde promoveu cursos de litera-
tura moderna, tropicalismo, literatura dos anos 70 e
literatura de cordel. Conforme verbete enviado por
esse autor: não faz parte de qualquer movimento li-
terário, considera-se, lato sensu, um experimentalista
das formas poéticas, usando a métrica ou o verso li-
vre. Escreve poesia, ensaio e prosa crítica, mas prefere
alimentar-se na leitura da prosa de ficção. É licencia-
do em Letras, pós-graduado em Educação de Adultos.
Concebe, coordena projetos editoriais e faz revisão de
textos na Fundação de Cultura Cidade do Recife, da
qual é servidor desde 1986. No ano de 2005, fez parte
da direção do 3º Festival Recifense de Literatura.
Obras do autor: Livro sem título (1973); Conversas de
pedra (1981); Picardia (1994). Pernambuco: século e
meio de ficção (2001, ensaio).

PEDRO Pereira de Carvalho XISTO (1901-1987)**


Poeta, prosador, advogado, nasceu em Limoeiro, PE,
a 6 de agosto de 1901. Bacharelou-se pela Faculdade
de Direito de Recife, em 1920, e, pela primeira classi-

66
1
ficação em sua turma, recebeu como prêmio uma via-
gem à Europa. Fez outros cursos superiores no estran-
geiro. Foi brilhante advogado, chegou a assessorar
Secretarias de Estado, em São Paulo. Foi encarregado
do Serviço Especial de ligação cultural do Governo
do Estado com o Ministério das Relações Exteriores
e com o Corpo Diplomático Estrangeiro. Participou
de várias comissões culturais. Sendo adido cultural de
diversos países, lecionou Língua e Literatura Brasilei-
ra na Universidade de Toronto. Tornou-se ativo inte-
grante da literatura de vanguarda, escrevendo para
antologias e revistas. Publicou vários poemas que
serviram de tema para apresentações artísticas, bem
como espetáculos de “total environment”: computa-
dores e outros meios eletrônicos, leitura coral, coreo-
grafia, artes plásticas, luz e som, não só no Brasil, mas
ainda no Canadá e nos Estados Unidos.
Obras do autor: Haikais & concretos (1960); Oito hai-
kais de Pedro Xisto (1960); Poesia em situação (1960);
Acht haikais de Pedro Xisto (1962, com música de‟ H.
J. Koellreutter); Caderno de aplicação (1966); Bahia
vogaláxia (1966, poema semiótico); Bahia logogramas
(1966, poemas visuais); Guimarães Rosa em três dimen-
sões (1970, teoria e crítica).

PIETRO WAGNER (1972)* **


Poeta e publicitário, nasceu no Recife, em 1972. É ba-
charel em Letras, pela Universidade Federal de Per-
nambuco, e foi proprietário, por dois anos, da Livra-
ria Kriterion. Vencedor do Prêmio Eugênio Coimbra
Jr. de Poesia, 1997, promovido pela Prefeitura do Re-
cife, com o livro Liturgia dos nomes. Menção Honrosa
em concurso de poesia promovido pela UBE-RJ. Tem
poemas e artigos publicados pelo Jornal do Commercio
e pelo Suplemento Cultural do Diário Oficial de Per-
nambuco. Participou da antologia Poesia pernambuca-
na moderna (1999), elaborada pelo poeta e crítico Cé-

662
sar Leal, encarte da Revista Estudos Universitários.
É organizador, juntamente com Delmo Montenegro,
dos três volumes da antologia de poesia Invenção Re-
cife (2004). Tem inédito o livro Vozes da ilha, ao qual
pertencem os poemas aqui publicados.
Obras do autor: Liturgia dos nomes (1988).

POTIGUAR MATOS (1921-1996)**


Poeta, geógrafo, historiador e professor, nasceu em
Pesqueira, PE, em 1921, e morreu no Recife, PE, em
19 de fevereiro de 1996. Bacharel e licenciado em
Geo-História pela Universidade Católica de Pernam-
buco (1945-1946). Bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Fe-
deral de Pernambuco. Dedicou-se ao magistério, ten-
do lecionado a Cadeira de História em vários colégios
recifenses e na UFPE. Publicou obras didáticas e se
destaca também como conferencista. Homem ligado
às letras, publicou várias obras em prosa e em versos.
A sua obra poética mereceu o Prêmio de Poesia Othon
Bezerra de Melo, da Academia Pernambucana de Le-
tras, em 1982. No Dicionário biobibliográfico de poetas
pernambucanos (1993, p. 268-269), cita-se a seguinte
nota de Gilberto Freyre sobre esse autor: “Aconteci-
mento que coincide com o aparecimento de outra
obra-prima: o livro em que o magistral historiador
Potiguar Matos conta a história do Clube Internacio-
nal do Recife, tão ligado à cidade”. E do poeta Mauro
Mota: “Já estive aqui no „Diario‟ três vezes sem ter a
sorte de encontrá-Io. Agora não posso mais retardar
os meus agradecimentos pelo que você escreveu so-
bre Pernambucância. Foi uma das coisas mais belas que
até hoje recebi. Que finura crítica de apreensão bem
mais do que os versos dizem: o que eles queriam di-
zer! Que talento de expressão essencial e plural!”
Obras do autor: Exercícios de História (s.d., didático);
Clube Internacional do Recife (s.d., prosa); A face do tem-

66
3
po. 12 Poemas de outubro (s.d.); Da história americana
(prosa, s.d.); Considerações à margem de um humanismo
(ensaio, s.d.); História: o problema da natureza (en-
saio, s.d.); Gilberto Freyre, historiador (ensaio, s.d.); Cul-
tura luso-brasileira e ecumenismo (ensaio, s.d.); Atuali-
dade dos estudos históricos (ensaio s.d); Em torno de uma
teoria do simbolismo (ensaio, s.d); O diário, uma aventura
da liberdade (ensaio s.d); Gente pernambucana (ensaio,
s.d); Gilberto Freyre: presença definitiva (1998).

RITA JOANNA DE SOUZA (1696-1718)**


Pintora, poetisa, filósofa, historiadora e estudiosa de
várias ciências, nasceu em Olinda no ano de 1696 e
morreu em 1718. Essas informações e outras encon-
tram-se na obra rara: Pernambucanas illustres (1879), do
pernambucano Henrique Capitolino Pereira Mello,
página 95 a 100, fotografadas e inseridas neste li-
vro, mas também se transcreve aqui um excerto: “Em
1696, alguns anos apenas depois de Bento Teixeira
Pinto, surgia no seio de Olinda a poetisa e pintora
Rita Joanna de Souza, e só depois dela apareceram no
Brasil Ângela do Amaral, Delphina da Cunha, Violan-
te, Nísia Floresta Brasileira, Emília Gomide e outras
muitas outras. (...) Dedicou-se aos estudos da Geogra-
fia e da História fazendo rápidos progressos e escre-
vendo sobre estas ciências algumas apostilhas que se
sumiram nas trevas do passado, mas de que conserva-
mos memória, graças aos nossos cronistas. Aplicou-se
também à pintura e à poesia, e constante cultivo das
artes e das letras viu escoarem-se os mais belos dias de
sua vida! Neste belo viver de crenças e de esperanças,
de ilusões e de sonhos, em que sua alma tão jovem e
tão entusiasta se embevecia e se deleitava, chegou o
ano de 1718 e com ele a morte que pôs termo à sua
vida, ainda no arrebol!” E, em nota de pé de página,
acrescenta- se: “Dr. Antonio de V. M. de Drummond
em seu artigo – Apologia ao bello sexo – publicado no jor-

664
nal Aurora em 1849, diz o seguinte, acerca desta poe-
tisa: „Nasceu em Olinda da província de Pernambuco,
filha do Dr. João Mendes Teixeira. Tornou-se insigne
em literatura, filosofia racional, história e belas artes.
Publicou obras interessantes, que recomendaram seu
nome à posteridade, e morreu em 1719 com 24 anos
incompletos.” No entanto, a pesquisadora Eliane
Vasconcellos, em verbete do livro Escritoras brasileiras
do século XIX (2000, p. 45), abre o volume com essa
poetisa do século XVII, discutindo as 18 obras pes-
quisadas: “Chega a ser inquietante o que lemos em
obras realmente importantes como as de Ferdinand
Denis, Varnhagen e Joaquim Norberto, para citar os
estudiosos mais ilustres, numa lista de 18 autores que
trataram de Rita Joana de Sousa. Cada um procurou
passar adiante os mesmos dados lidos nas obras pre-
cedentes, as quais, por sua vez, nada documentaram,
além da notícia de uma „„jovem escritora” sem obra.
Portanto, depois de lançado o primeiro grão de uma
lenda em solo fértil, passou-se, a partir daí, à pará-
frase, à imaginação de dados para suprir lacunas das
fontes iniciais, como acontece com Joaquim Manuel
de Macedo e Inês Sabino.”. É interessante ler as no-
tas pertinentes e toda a discussão que Rita Joanna de
Souza consegue despertar. A pesquisadora chegou a
1734, com a obra Portugal ilustrado pelo sexo feminino,
do português Diogo Manuel Alves de Azevedo e daí
traça o percurso de todo o seu estudo pelas obras raras
pesquisadas. Tudo para finalmente concluir e anuir
com uma citação de Domingos Carvalho da Silva, en-
contrada no livro Vozes femininas da poesia brasileira, de
1959: “é um nome apenas, mas pode simbolizar o de
muitas poetisas ignoradas cuja voz alegrou os salões
coloniais das casas grandes.” No Pernambuco, terra
da poesia, com sua “visão panorâmica”, ou, para usar
uma definição mais técnica, com uma pesquisa mais
extensiva que compreensiva, concede a essa polêmica

66
5
sete páginas fotografadas do livro de Henrique Capi-
tolino Pereira de Mello, no setor de Obras Raras da
Biblioteca Pública Estadual de Pernambuco, neste ano
de 2005, por três motivos básicos: o primeiro para ex-
por a questão e lembrar que a pesquisadora Eliane
Vasconcellos não esgotou a sua busca, uma vez que
não localizou a obra Teatro heroíno, de Damião Fróis
Pereira, citado, conforme ela própria, “pela maioria
dos biógrafos consultados”. O segundo motivo é para
anuir, em parte, com a homenagem de Domingos
Carvalho da Silva, que, através da poetisa em questão,
lembra todas aquelas ignoradas em face das contin-
gências históricas brasileiras; a terceira, para home-
nagear todos os pesquisadores que se dedicam a revi-
talizar o passado das nossas Letras. Motivos bastantes
para acreditarmos que fazendo parte apenas do ima-
ginário ou tendo existido com todas as qualidades a
ela atribuídas, Rita Joanna de Souza merece a nota, a
anotação e o interesse de todos nós.

S.R. TUPPAN [Sílvio Romero Costa Lima] (1969)* **


Poeta, educador e editor, nasceu em Garanhuns, PE, a
18 de junho de 1969. Filho de Honório Davi de Lima,
bacharel em Direito e funcionário público, e de Maria
Aparecida Costa Lima, servidora pública, educadora,
artesã e artista plástica. É editor da revista Poética XXI
e do sítio virtual www.poetica.art.br. Publicou o demo
book Atinguaçu Poesia, em 1995. Realizou a Exposição
de Poemas em Quadros, em homenagem ao sesquicen-
tenário de Castro Alves, em 1997. Tem poemas seus
em jornais, revistas, fanzines, banners, na internet e no
livro-catálogo da exposição Nordestes (Fundaj/SESC,
São Paulo, 1999). Participante de movimentos artís-
ticos e sociais, tem recitado nos mais diversos eventos
e locais, em vários Estados brasileiros, além de pro-
gramas de rádio e de televisão, só ou acompanhado
de outros poetas, músicos e artistas visuais. Ministrou

666
oficinas Lítero-Corporais no Recife e Região Metro-
politana e no Interior de Pernambuco e da Paraíba.
Aparece em vídeos e documentários televisivos. Possui
inéditos os livros de poemas Atinguassu e Burusssu.

SEBASTIÃO UCHOA LEITE (1935-2003)**


Poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Timbaúba, PE,
em 1935 e faleceu no Rio de Janeiro, em 2003. Criou-
se e formou-se no Recife, considerando-se recifense,
mas fez do Rio de Janeiro seu domicílio literário,
sendo incluído em antologias como 41 Poetas do Rio
(1998). Cursou Direito e Filosofia na Universidade
Federal de Pernambuco. Em 1979, ganhou o Prêmio
Jabuti de poesia, com o livro Antilogia. Em 2003, an-
tes de sua morte, obteve o segundo lugar do Prêmio
Portugal Telecom de Literatura Brasileira, em sua
primeira versão. Traduziu: Stendhal, Lewis Carol,
Julio Cortazar, François Villon e Octavio Paz, entre
outros autores da literatura universal.
Obras do autor: 10 Sonetos sem matéria (1960); Anti-
logia (1979); Isso não é aquilo (1982); Obra em dobras
1960-1988 (1989, poesia reunida); A uma incógnita
(1991); A ficção vida (1993).

SEBASTIÃO VILA NOVA (1944)*


Sociólogo, ensaísta e poeta, nasceu em Rio Largo, AL,
em 17 de janeiro de 1944. Foi professor da Univer-
sidade Católica de Pernambuco e pesquisador titular
da Fundação Joaquim Nabuco. Pertence à Geração 65
de escritores pernambucanos. Em 1974, foi laureado
com o Prêmio Recife de Humanidades, pelo ensaio A
realidade social da ficção: uma sociologia paralela (Re-
cife: Instituto Joaquim Nabuco, 1975), relançado em
2005 pela Fundaj. Visiting Scholar da Universidade de
Chicago (1989-1990), onde realizou, com o apoio da
Comissão Fulbright, pesquisas avançadas na área da
sociologia reflexiva; professor visitante da Universida-

66
7
de Internacional e da Universidade Lusófona, ambas
em Lisboa. Em 1988, nomeado pelo então Ministro
da Cultura, Celso Furtado, foi o delegado oficial do
Brasil no I Congresso Internacional de Arte e Cultura
Popular, realizado em Gorizia, Itália. É como soció-
logo que vem publicando livros e artigos acadêmicos
no Brasil, nos Estados Unidos, na Áustria, Inglaterra
e Suíça. É autor de vários livros de Sociologia, abran-
gendo a Arte e a Cultura. Sua obra Introdução à so-
ciologia transformou-se num sucesso editorial. Como
poeta, estreou em livro, com Teoria completa dos dias e
das noites (1979).

SÉRGIO MOACIR DE ALBUQUERQUE (1946-


2008)* **
Poeta, crítico literário, romancista, pintor, contista,
nasceu em 21 de abril de 1946 no Recife e faleceu na
mesma cidade em 31 de agosto de 2008. Diplomou-
se em Ciências Sociais, UFPE. Começou a escrever
na imprensa artigos com estrutura de ensaios, sobre
grandes nomes da literatura, aos 15 anos de idade.
Trabalhou no IJNPS, sob a direção de Mauro Mota,
ao lado de Arnaldo Tobias, Maximiano Campos, Síl-
vio Soares, Cyl Gallindo, de quem também era con-
discípulo na Fafipe/UFPE. Nessa época, participou da
Agenda poética do Recife: antologia dos novíssimos, que
mereceu o prefácio de Joaquim Cardozo, 1986, e o
tornou participante da Geração 65. Escreveu o prefá-
cio da 4ª edição do Manifesto regionalista modernista do
Recife, lançado por Gilberto Freyre, mas que perma-
necia inédito, em livro, 1967. Após concluir o curso
na Faculdade, para fugir da repressão e da censura do
golpe militar de 1964, mudou-se para a França, onde
fez mestrado na área de Sociologia da Literatura, sob
orientação de Jacques Leenhardt, e doutorado, ten-
do com mestre Rolland Barthes, do qual se tornou
amigo, na Ecole Pratique des Hautes Etudes de Paris.

668
Os poemas de Murais da morte integram a bibliografia
de sua Pós-Graduação em Religião da Universidade
Federal de Juiz de Fora, MG. Como pintor, realiza
individual na Galeria de Tiago Amorim, e foi assessor
de artes plásticas da Fundarpe. De volta ao Brasil, ca-
sou-se com a também escritora Lucila Nogueira, com
quem viveu quase trinta anos. Da união, tiveram três
filhas. A Fliporto de 2008 homenageou Sérgio com
Painel, do qual participaram, além de Lucila e as fi-
lhas Marina, Natália e Almenara, os escritores Lucilo
Varejão Neto, José Mário Rodrigues, Ângelo Montei-
ro e Cyl Gallindo. Este verbete faz parte da segunda
edição da Panorâmica do conto em Pernambuco (2010),
integrante da coleção Pernambuco em antologias.
Obras do autor: Murais da morte (1968, poesia, ilustra-
do por Vicente do Rego Monteiro); Irene (1975, roman-
ce); Sinfonia (1990, poesia); Cantos da definitiva primave-
ra (1998, poesia). Deixou inéditos romances, novelas e
poemas e uma monografia sobre Osman Lins.

SÉRGIO BERNARDO da Silva (1942)* **


Poeta, nasceu em Pernambuco a 21 de janeiro de
1942. Faz parte da Geração 65 de escritores pernam-
bucanos e participou do movimento editorial das
Edições Pirata. Nascente de punhos é um dos seus livros
publicados.

SEVERINO FILGUEIRA de Menezes (1937)


Poeta, novelista e teatrólogo, nasceu em Aracaju, SE,
em 21 de agosto de 1937. Mas passou a residir no
Recife, desde a infância. Possui os seguintes livros
inéditos: O inventário (romance); Joanna e Jogo Duro
(peças teatrais). A referência seguinte é de Alberto
da Cunha Melo: “Severino Filgueira escreve exclu-
sivamente para si mesmo. Tanto isso é verdade que
ele sequer assina seus poemas. Uma grande parte de
sua obra está dispersa, em escritórios de seus raros

66
9
amigos (não os tem mais porque não quer, pois é um
sujeito bom e verdadeiro), outra parte está irreme-
diavelmente perdida nos botequins de beira de estra-
das, nos caminhos da praia de Pau Amarelo. Há um
absoluto desleixo pelo que faz. É um perdulário da
poesia, como se tivesse consciência de que ela dele
transborda, imensa e numerosa. Como se nenhum
poema fizesse falta à sua obra, e esta não precisasse
ser assinada e, muito menos, publicada. Concorre aos
concursos de poesia, não para ganhar nome, e sim di-
nheiro, porque não tem qualquer fonte de renda. São
seus amigos que batem à máquina os seus poemas,
reunindo-os em livros e, às vezes, como já aconteceu
comigo, levam-no para inscrevê-la”.
Obras do autor: Aposentos do sonho, in Quíntuplo (1974),
Iniciação à fábula (1979), Qualquerum (1998).

SILVANA MENEZES de Souza (1967)*


Atriz, poeta e estudante de Letras, nasceu em Umbu-
zeiro, PB, em 1967, mas reside em Olinda, PE, desde
1979. Coordena no Centro de Cultura Luiz Freire, as
Quartas Literárias. Participou da coletânea poética
Marginal Recife III (2004).

Francisco SOLANO TRINDADE (1908-1974)**


Poeta, comerciante, autodidata nas Letras, nasceu a
24 de julho de 1908, na cidade do Recife, PE, filho
de Manoel Abílio, sapateiro de profissão, e de Me-
renciana Quituteira, também conhecida como Dona
Merença, doméstica, ambos pretos humildes residen-
tes na rua Nogueira. Fez incursões na poesia, no tea-
tro e no folclore. Na antologia poética, Tem gente com
fome e outros poemas, 1988, publicado após sua morte
(1974), Uelinton Farias Alves registra: “Ligado desde
cedo às atividades folclóricas e culturais de sua cida-
de natal, Solano Trindade ali participou de inúmeras
manifestações artísticas, literárias e políticas, sempre

670
voltadas para a problemática social, em particular
a integração do negro à sociedade. Fundou a Fren-
te Negra Pernambucana, com Barros Mulato, pintor
primitivista de grande significação na vida do poeta
e o escritor Vicente Lima. Antes de se transferir para
o Rio de Janeiro, onde fixou residência no Município
de Duque de Caxias, o poeta negro esteve na Bahia,
no Rio Grande do Sul, em Belo Horizonte e São Pau-
lo. Nesta última cidade implantou um polo do Teatro
Popular Brasileiro, cuja fundação ocorreu no Rio, em
1950, juntamente com Edison Carneiro e sua esposa
Margarida Trindade. Solano Trindade publicou seus
primeiros trabalhos no Recife, por volta de 1930. O
livro Poemas de uma vida simples, publicado em 1944,
foi a sua primeira obra. Voltou a editar em 1958, em
comemoração dos seus 50 anos, quando lançou Seis
tempos de poesia. Em 1961, foi a vez de Cantares ao meu
povo, seu último trabalho publicado em vida. Tal livro
mereceu uma segunda edição em 1981, pela Editora
Brasiliense. Em 2008, a Fliporto reverenciou os 100
anos de nascimento do poeta com um painel especial
liderado pela sua filha Raquel Trindade. O livro Poe-
mas antológicos de Solano Trindade (2008) é uma das
mais recentes coletâneas da poesia do autor.
Obras do autor: Poemas de uma vida simples (1944); Seis
tempos de poesia (1958); Cantares do meu povo (1961);
Tem gente com fome e outros poemas (1988).

SUZANA BRINDEIRO GEYERHAHN (1942-1996)*


**
Poeta, nasceu no Recife, em 4 de março de 1942, e
morreu na capital pernambucana no dia 31 de ju-
lho de 1996. Viveu em Paris, São Paulo e Rio de Ja-
neiro, frequentou o Institut de Hantes Études pour
l‟Amerique Latine, Paris (1963). Diplomou-se em Fi-
losofia pela Faculdade de Filosofia do Recife, Fafire
(1962), e em Linguística pela Unicap (1979). Publi-

67
1
cou Estações do segredo em 1980, pelas Edições Pirata,
Recife, e o reeditou, em 1989, pelas Edições Taurus-
Timbre, Rio de Janeiro, com o título Estações em se-
gredo. Sobre sua poesia, escreveu Mauro Gama “(...)
o novo destes poemas não é o postiço, não vem de
segunda mão, pela Penguin Books ou pela Varig. A
autora trabalha com importações ou contrabando de
imagens, sabores, tintas, tendências. Se sente no seu
texto, isso sim, uma busca do novo ao mesmo tempo
dela própria e da nossa vasta realidade.”

Francisco TADEU Barbosa de ALENCAR ( 1963)**


Poeta brasileiro, nasceu em 8 de abril de 1963, na
cidade de Juazeiro do Norte, no cariri cearense, à
sombra da Chapada do Araripe, na divisa com Per-
nambuco. Veio morar na cidade de braços líquidos,
tendo estudado na Faculdade de Direito do Recife,
ocasião em que desenvolveu intensa atividade polí-
tica, no movimento estudantil e bancário. Tocado
pela exuberância da floresta do lugar onde nasceu
e pelo encanto da cidade escolhida, especialmente a
vocação libertária de Pernambuco, escreve poesia e
prosa poética desde o início da década de 80, sem
que, todavia, tenha ainda publicado. Costuma dizer
“que os poemas estão ardendo em suas mãos “. Em
vias de publicação As ordenações cotidianas. Como pre-
sidente da Associação dos Funcionários do Tribunal
de Contas do Estado, criou, em 1992, a Semana de
Arte daquele Órgão, tendo participado, como poeta,
desta e de outras iniciativas, como a exposição “Cores
do Sertão”, da fotógrafa Renata Vaz, em que criou os
textos que ilustram as fotos, em 1999, no Gabinete
Português de Leitura. Autor de discursos com forte
carga poética e histórica, sempre tendo o Recife e
Pernambuco como motes. Um dos mais conhecidos,
o que publicado com o título de „Ode ao Recife‟, Dis-
cursos Brasileiros – Pernambuco, Ensol, Ltda, 2005.

672
Autor de artigos em jornais do Estado. Procurador da
Fazenda Nacional, desde 1993, ex-Procurador Geral
Adjunto da Fazenda Nacional, em Brasília, e desde
2007, com o início do Governo Eduardo Campos,
Procurador Geral do Estado. Membro do Instituto
Cultural do Vale do Cariri, no Crato, no qual irá to-
mar posse na recém-criada cadeira Miguel Arraes de
Alencar. Tem grande interesse em genealogia, através
do qual desenvolveu pesquisa sobre os seus ancestrais,
como Bárbara Pereira de Alencar, heroína da Revo-
lução Pernambucana de 1817 e da Confederação do
Equador, em 1824.

TARCÍSIO MEIRA CÉSAR (1941-1988)


Poeta, cientista social, nasceu em Patos, PB, em 1941.
Aos 15 anos, transferiu-se para o Recife, onde se for-
mou em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia
do Recife. Logo cedo ingressou na imprensa como
profissional e colaborou com inúmeros jornais e revis-
tas de todo o país e do exterior, para alguns dos quais
continua escrevendo. Em 1967, mudou-se para o Rio
de Janeiro, onde publicou seu primeiro livro, Poemas
da terra estranha, do qual diz que se arrependeu, exce-
to por alguns poemas, alguns aliás publicados em O
espelho em que terminas.
Obras do autor: Poemas da terra estranha (1967); O es-
pelho em que terminas (1986).

TARCÍSIO Miguel REGUEIRA Costa Xavier


(1956)* **
Poeta e produtor cultural, seu nome está ligado a
eventos importantes de Pernambuco. Publicou o livro
de poemas, Pão de vidro de onde foram selecionados
os poemas deste painel literário.

67
3
TARGÉLIA BARRETO DE MENESES (1879-
1909)**
Poetisa, contista e musicista, nasceu no Barro, Reci-
fe, PE, em 1879, e morreu aos 30 anos no seu sexto
parto, deixando cinco filhos. Filha do filósofo, advo-
gado, professor e orador sergipano, Tobias Barreto.
Sua obra se encontra dispersa em jornais recifenses
e de Aracaju, para onde migraram dois de seus ir-
mãos, após a morte do pai. Essa referência e outras
importantes se encontram no verbete redigido pela
escritora e biógrafa pernambucana Luzilá Gonçalves
Ferreira, no livro Escritores brasileiros do século XIX,
volume II (2004). Na página 882, registra-se: “Com
exceção de um conto, de feição moderna, publicado,
postumamente, num jornal de Recife, em 1910, a
maior parte do legado acessível da escritora são sone-
tos compostos à moda parnasiana. Estes poemas, por
um lado, atestam uma preocupação séria, quer pela
feição poética delicada e sensível, quer pelo cuidado
constante com a temática, a forma e o vocabulário,
uma demonstração da cultura literária que a poetisa
soube herdar do pai; e, por outro lado, denunciam
um espírito levemente irônico, às vezes zombeteiro,
de uma mulher que se dirige aos homens com um
olhar lúcido e bem-humorado. Targélia Barreto de
Meneses se revela uma observadora da natureza e do
coração humano, que se coloca inteira nos poemas
que compôs.”

Francisca TEREZA TENÓRIO de Albuquerque


(1949)* **
Nasceu no Recife, PE, em 20 de dezembro de 1949.
Pertence à Geração 65 de escritores pernambucanos e
teve participação importante nas comemorações dos
30 anos dessa Geração, em 1995, quando, além de
outras atividades, organizou a antologia, Treze poetas
da Geração 65, com o poeta Jaci Bezerra. Faz parte da

674
União Brasileira de Escritores (UBE-PE). Detentora
do Prêmio de Poesia Dramatizada da Fundação de
Cultura Cidade do Recife em 1992, foi considerada
Autora do Ano de 1999 pela Editora Universum de
Trento, Itália. Foi colaboradora de jornais e revistas
oficiais e alternativos, nacionais e estrangeiros, par-
ticipa de antologias poéticas na França, Itália e Por-
tugal, esta última comemorativa dos quinhentos anos
de descoberta do Brasil da Revista Semestral de Cultu-
ra ANTO, nº 3, Primavera, Edições Tâmega, 1998,
Amarante. Foi homenageada pelo Projeto Poesia 96
da Secretaria de Cultura de São Paulo. Foi diretora de
Cultura e Eventos da União Brasileira de Escritores de
Pernambuco, e é sócia das seções do Rio de Janeiro e
de São Paulo da UBE, além do Sindicato de Escritores
do Rio de Janeiro, da IWA - International Writers and
Artists Association de Bluffton, USA, da Academia de
Letras e Artes do Nordeste, onde ocupa a Cadeira nº
21, e da Internacional de Literatura e Artes e Socie-
dade dos Poetas Vivos. Foi advogada e integrante de
movimentos contra a violência. Atualmente, devido a
problemas de saúde, encontra-se afastada do meio li-
terário. A musa roubada (2007), coletânea de seus poe-
mas organizada por Lucila Nogueira e Wellington de
Melo, é o seu mais recente livro publicado pela Com-
panhia Editora de Pernambuco, CEPE.
Obras da autora: Parábola (1970); O círculo e a pirâmi-
de (1976); Mandala (1980); Poemaceso (1985); Noturno
selvagem (1991); Corpo da terra (1994); Fábula do abismo
(1996); A casa que dorme (2002); A musa roubada (2007).

TOBIAS BARRETO de Meneses (1839-1889)


Poeta, advogado, filósofo, nasceu na vila sergipana de
Campos, a 7 de junho de 1839 e faleceu no Recife,
PE, em 27 de junho de 1889. Filho de Pedro Barreto
de Meneses, escrivão de órfãos e ausentes da loca-
lidade. É o patrono da Cadeira nº 38 da Academia

67
5
Brasileira de Letras e pai de Targélia Barreto de Me-
neses, pernambucana, também incluída neste painel.
Nas páginas virtuais da ABL, <http://www.academia.
org.br/imortais/cads/38/tobias.htm>, citam-se anota-
ções do excelente biógrafo de Tobias Barreto, Ermes
Lima, que, em parte, transcrevemos aqui: “Aprendeu
as primeiras letras com o professor Manuel Joaquim
de Oliveira Campos. Estudou latim com o padre Do-
mingos Quirino, dedicando-se com tal aproveitamen-
to que, em breve, iria ensinar a matéria em Itabaia-
na. Em 1861 seguiu para a Bahia com a intenção de
frequentar um seminário mas, sem vocação firme,
desistiu de imediato. Sem ter prestado exames pre-
paratórios voltou à sua vila donde sairá com desti-
no a Pernambuco. Em 1854 e 1865 o jovem Tobias,
para sobreviver, deu aulas particulares de diversas
matérias. Na ocasião prestou concurso para a cadeira
de latim no Ginásio Pernambucano, sem conseguir,
contudo, a desejada nomeação. Em 1867 disputou a
vaga de Filosofia no referido estabelecimento. Ven-
ceu o prélio em primeiro lugar, mas é preterido mais
uma vez por outro candidato. Para ocupar o tempo,
entrega-se com afinco à leitura dos evolucionistas es-
trangeiros, sobretudo o alemão Ernest Haeckel que
se tornaria um dos mais famosos cientistas da época
com seus livros Os Enigmas do Universo e As Ma-
ravilhas da Vida. No campo das produções poéticas
passou Tobias a competir com o poeta baiano Antô-
nio de Castro Alves, a quem superava, contudo, no
lastro cultural. O fato de ser mestiço prejudicou-lhe
a vida amorosa numa época cheia de preconceitos,
conforme testemunho de Sílvio Romero. Na oratória
Tobias se revelava um mestre, qualquer que fosse o
tema escolhido para debate. O estudo da Filosofia
empolgava o sergipano que nos jornais universitários
publicou “Tomás de Aquino”, “Teologia e Teodiceia
não são ciências”, “Jules Simon”, etc. Ainda antes de

676
concluir o curso de Direito casou-se com a filha de
um coronel do interior, proprietário de engenhos no
município de Escada. Eleito para a Assembleia Pro-
vincial não conseguiu progredir na política local. De-
dicou vários anos a aprofundar-se no estudo do ale-
mão, para poder ler no original alguns dos ensaístas
germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig
Büchner”. Conta Hermes Lima, em sua magnífica
biografia de Tobias, que ele “para irritar o burguês,
com uma nota mais ostensiva de superioridade, abria
frequentemente seu luminoso leque de pavão: o ger-
manismo”. Foi em alemão que Tobias redigiu o jor-
nal Deutscher kampfer (O lutador alemão). Mais tarde
sairiam de sua pena os Estudos alemães. A residência
em Escada durou cerca de dez anos. Ao voltar ao Re-
cife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se
os problemas de saúde que acabaram por impedi-lo
de sair de casa. Tentou uma viagem à Europa para
restabelecer-se fisicamente. Faltavam-lhe os recursos
financeiros para isso. No Recife, abriram-se subs-
crições para ajudá-lo a custear-lhe as despesas. Em
1889, estava praticamente desesperado. Uma semana
antes de morrer, enviou uma carta a Sílvio Romero
solicitando, angustiosamente, que lhe enviasse o di-
nheiro das contribuições que haviam sido feitas até
19 de junho daquele ano. Dias mais tarde falecia, em
27 de junho de 1889, hospedado na casa de um ami-
go. A obra de Tobias é de significativo valor, levan-
do em conta que o professor sergipano não chegou
a conhecer a capital do Império. Hermes Lima, ao
comentar o refúgio de Tobias Barreto em Escada, es-
clareceu: “Em Escada, além de publicar o Fundamento
do direito de punir, erige o germanismo em caminho de
cultura. É onde aprofunda seu Haeckel, onde elabora
sua posição filosófica, onde traça as coordenadas da
revolução espiritual que viria a deflagrar-se no país”.
Suas Obras completas, editadas pelo Instituto Nacional

67
7
do Livro em 1926-1927, incluem os seguintes títulos:
Ensaios e estudos de filosofia e crítica; Brasilien, wie es ist;
Ensaio de pré-história da literatura alemã, Filosofia e crí-
tica, Estudos alemães; Dias e noites, Polêmicas; Discursos;
Menores e loucos; Questões vigentes, Vários escritos.

TOMÁS SEIXAS (1916-1993)**


Poeta pernambucano, nasceu em 1916 e morreu em
1993. Possui um único livro de poesia editado: Sonata
à Lílian ou as sombras no espelho, de 1984, com ilustra-
ção de Francisco Brennand. O exemplar é apresentado
pelo poeta e crítico César Leal (p. 13) que anota: “Aria-
no Suassuna costuma dizer que é algo de maravilhoso
ouvir Tomás Seixas falar sobre a arte e a literatura de
qualquer época. Embora nunca haja ensinado em uma
Universidade, ele fala sobre Cervantes e Shakespeare
com elegância, força e segurança, somente comparável
a poetas com Oscar Wilde, um Pound e um Montale”.

ULISSES LINS DE ALBUQUERQUE (1889-1979)**


Poeta, memorialista, historiador e ficcionista, Ulisses
Lins de Albuquerque nasceu no dia 9 de maio de 1889
na Fazenda Pantaleão em Alagoa de Baixo, hoje, ci-
dade de Sertânia. Bacharel em Direito pela faculdade
de Direito do Recife em 1927, exerceu o cargo de In-
spetor de Consumo em Pernambuco, Alagoas e São
Paulo. Deputado Federal à Constituinte de 1945, foi
reeleito mais duas vezes à Câmara Federal por Per-
nambuco. Senhor de régua, compasso e aguda sensi-
bilidade no seu ofício de escritor nascido e criado ou-
vindo cantadores e violeiros no alpendre do Pantaleão
e nas feiras livres de Alagoa de Baixo, Ulisses Lins cul-
tivou diversas formas fixas da arte da poesia. De sua
pena saíram sonetos (veja-se O livro de Inah), quadras,
quadrões, sextilhas, tercetos, decassílabos e alexan-
drinos, entre outras formas consagradas pela maio-
ria dos poetas. De formação acadêmica simbolista e

678
parnasiana, como a maioria dos poetas da sua época,
logo se filiou a uma estética própria, cuja prosódia e
sintaxe se encontravam no falar e pensar do “homem
do nordeste”, porém livre de qualquer traço caricatu-
ral tão comum à maioria dos poetas ditos “matutos”.
Apesar de sua origem sertaneja, sua poesia é erudita e
mesmo refletindo um profundo traço telúrico e fami-
liar, alcança a reflexão e emoção da poética universal.
Sobre a obra de Ulisses Lins, muitos escritores e críti-
cos deram os depoimentos que enriquecem sobrema-
neira a sua fortuna crítica. Entre eles, podemos citar:
Luís Jardim, Adonias Filho, Eneida, Samuel Duarte,
José Condé, Geraldo de Freitas, Franklin de Sales,
J.C.Oliveira Torres, Alcântara Silveira, Manuel Dié-
gues Júnior, Aloysio da Carvalho Filho, Mauro Mota,
Sérgio Millet, Múcio Leão, Joaquim Pimenta, Edna
Savaget, Francisco de Assis Barbosa, Odilon Nestor,
Paulo Ronai, Mario Melo, Menotti Del Picchia, Esdras
Farias, Antônio Carlos Vilaça, José Américo de Almei-
da, entre outros. Eleito em 1938 para a Academia Per-
nambucana de Letras, o sertaniense Ulisses Lins de
Albuquerque ocupou a Cadeira nº 1, cujo patrono é
Bento Teixeira Pinto. Antes de Ulisses Lins a Cadeira
nº 1 foi ocupada por Barbosa Viana em 1901 e Zeferi-
no Galvão em 1920. O atual ocupante da Cadeira nº
1 é o escritor olindense Olímpio Bonald Neto. Ulisses
Lins de Albuquerque, historiador, memorialista, poe-
ta, “contador de estórias” e romancista.
Obras do autor: Pedúculos – versos (1910); Ao sol do sertão
(1922); Mestres e discípulos – Sonetos e perfis (1927, org.);
Fogo e cinza (1938); Exaltação à poesia sertaneja (1938.
Discurso de posse na Academia Pernambucana de Le-
tras.); Um sertanejo e o sertão (s.d., memórias); Moxotó
brabo (1938, ensaio histórico, sociológico e folclórico);
Sol poente (s.d.); E a noite vem (s.d.); Três ribeiras (s.d.,
memórias); Chico Dandin (s.d., romance); O boi de ouro
e outras estórias (s.d.); Quadras de outras quadras (s.d.).

67
9
VANILDO Campos BEZERRA Cavalcanti (1899-
1989)**
Poeta, ficcionista e dramaturgo, nasceu no Recife, PE,
a 12 de agosto de 1919. Bacharelou-se em advoca-
cia pela Faculdade de Direito do Recife. Pertenceu à
Academia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 36, e
à Academia Olindense de Letras, além do Instituto
Histórico de Olinda e do Instituto Arqueológico, His-
tórico e Geográfico Pernambucano. Faleceu no Reci-
fe em 1989, aos 70 anos de idade. Iniciou sua vida
literária escrevendo em prosa e em versos. Escreveu
poemas, contos e peças teatrais. Seus contos ficaram
esparsos em antologias e revistas literárias. Dedicou-
se profissionalmente ao jornalismo.
Obras do autor: O violino encantado (s.d.); Aprendiz bis-
sexto (s.d.); Recife do Corpo Santo (s.d.); Olinda do salva-
dor do mundo (s.d., ensaio histórico).

VERNAIDE Medeiros WANDERLEY (1948)*


Poetisa, geógrafa, ensaísta, nasceu em Patos, PB, em
1948. Radicada no Recife desde a década de 60, fez
dessa capital pernambucana seu domicílio literário.
Pertence à Geração 65 e participou do movimento
editorial das Edições Pirata. Foi pesquisadora social
da Fundação Joaquim Nabuco e, atualmente, é pro-
fessora universitária (Fafire). É coautora do ensaio,
Viagem ao sertão brasileiro, publicado em 1997. Colabo-
ra em vários jornais e antologias poéticas.
Obras da autora: Tatuagem (1980); Litorgia (1984);
Rota dos inocentes (1992).

VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970)**


Poeta, tipógrafo e pintor pernambucano, nascido na
cidade do Recife, residiu vários anos em Paris. Suas
publicações literárias, de pequenas tiragens, muitas
publicadas em francês, estavam esparsas até 2005,
quando então Paulo Bruscky, Edmond Dansot, Job-

680
son Figueiredo e Sylvia Pontual organizaram o exem-
plar Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor,
inclusive com obras inéditas. Participou ativamente
da Escola de Paris e era notável tradutor, além de lhe
ser auferido o crédito de primeiro poeta gráfico bra-
sileiro. Excepcionalmente citamos também as obras
publicadas em língua estrangeira.
Obras do autor: Quelques visages de Paris (1925); Poe-
mas de bolso (1941); Mobiliário interior da poesia (1941);
A chacum as marotte (1943); Litanies à la France com-
battante (1944); Canevas (1946); Le petit cirque (1948);
Chants de fer (1950); Beau sexe (1950); Complainte
dês Tisserands (1950); Concrétion (1952); Cartomancie
(1952); Vers sur verre (Seghers Editor, 1953); Mon onde
était trop courte pour toi (1956); Broussais – La charité
(1960); Chiromancie (1961); Vicente do Rego Monteiro.
Poeta, tipógrafo, pintor (2005).

VITAL CORRÊA ARAÚJO (1945)* **


Escritor, jornalista, auditor do Tesouro, bacharel em
Direito (advogado); com curso de História e Filosofia,
professor de curso médio, conferencista, tradutor, es-
pecialista em Jorge Luís Borges, é atual presidente da
União Brasileira de Escritores em Pernambuco. Nas-
ceu em Vertentes, PE, em 1945. Foi criador de movi-
mentos literários, como Poetas da Rua do Imperador
e Geração do Pátio. É jornalista, tesoureiro da Asso-
ciação de Imprensa de Pernambuco (AIP) e participa
de vários conselhos culturais. Foi coordenador-geral
dos Congressos Brasileiros de Escritores, realizados
pela UBE-PE. Tem cursos de Direito e Filosofia. De-
tém vários prêmios literários concedidos a livros de
poemas, entre os quais: Jornal da Cidade de Bauru
(SP, 1975), Otoniel Menezes (RN, 1976), Escrita de
Poesia Falada (SP, 1983), Prêmio Nacional de Poesia
e Poeta Chagas Freitas (SP, 1983), Bandepe Valor Per-
nambucano, em 2002; Otoniel Menezes, RN; Eugênio

68
1
Coimbra Júnior-PE; Escrita, SP; Academia Pernam-
bucana de Letras, Édson Régis, do Pen Clube, PE. Pu-
blicou 6 livros e tem inéditas várias coletâneas: Flauta
de pássaro; Escuras; Oiatribe; Simulacro; Falo; Palpo a
quimera e o tremor, Frases da lua e Lance de búzios, além
de uma de ensaios e conferências literários. Está re-
presentado em cerca de 50 antologias poéticas, entre
as quais, Recife Recity (1977), Scortecci de Poesia (SP,
1982), International Poetry (Universidade do Colora-
do, USA, 1982), 50 Poetas do Recife (1982), Agenda
84/85, Recife, Guia Poético da Cidade do Natal, RN,
Revista Poesia (1983). O poeta da Rua do Imperador,
Vital Corrêa, fundou o jornal O Fandango, com o seu
amigo e poeta Iran Gama. Vários dos seus poemas
foram publicados em revistas nacionais e internacio-
nais, destacando-se La Burbuja, Pliego de Murmurios
y Nirvana Populi, Espanha; The Poetry, USA; Inéditos,
MG; Encontro, Recife; Presença e Correio das Artes, PB;
Nação Cariri, CE e Contexto, RN.
Obras do autor: Título provisório (1978); Poemas com
endereço (1980); A cimitarra e o lume (1981); Burocracial
(1983); Cesta pernambucana (1986); Coração de areia
(1994); 50 Poemas escolhidos pelo autor (2004).

VITORIANO José Marinho PALHARES (1840-


1890)**
Poeta, nasceu no Recife a 8 de dezembro de 1840.
Faleceu no bairro recifense da Várzea, a 5 de fevereiro
de 1890, aos 50 anos de idade. Passou por situações
difíceis na vida, não chegando a concluir o seu curso
secundário. Apesar de bastante pobre e desprotegi-
do, não perdeu o gosto pelas letras e dominava os
versos com maestria. No Recife, Vitoriano Palhares
foi contemporâneo e muito amigo de Tobias Barre-
to e Castro Alves, de quem recebeu forte influência
literária, chegando a cultivar o condoreirismo. Foi
ainda seu grande amigo e contemporâneo o poeta

682
fluminense Fagundes Varela. Diz Sílvio Romero que
“A contribuição de Vitoriano Palhares para a poesia
romântica brasileira é desdenhável”, mas conseguiu
conquistar, com a sua poesia, grande popularidade,
embora e lamentavelmente seja esquecido nos dias
atuais. Vitoriano Palhares é o Patrono da Cadeira nº
16, da Academia Pernambucana de Letras.
Obras do autor: Mocidade e tristeza (1867); Centelhas
(1870); Peregrinas (1870); As vítimas (1868, drama);
Drama do século (1867, drama em 4 atos).

WALDEMAR de Sousa CORDEIRO (1911-1992)*


**
Poeta pernambucano, nasceu em Sertânia, em 1911,
e faleceu tragicamente, em 1992, ao atravessar uma
rua do Recife, quando se dirigia aos trabalhos de re-
visão de seu livro Salão de sombras, em 1992. O poeta
não chegou a ver sua obra editada. Sobre Waldemar
Cordeiro, Alberto da Cunha Melo registra no prefá-
cio desse livro: “Embora meu contato com a obra de
Waldemar Cordeiro só se tenha tornado pleno com
a leitura dos originais de Salão de sombras, o valor do
poeta já chegara há muito tempo até mim, através da
leitura de fragmentos do seu grande poema de amor
para Sibonei, que é mais uma musa incorporada à
mitologia poética do Nordeste. Ainda bem que ele
incluiu no livro aquele belo texto, dando oportunida-
de ao restrito número de leitores que ainda abre um
livro de poesias neste país a conhecer um criador de
primeira grandeza.”

WALDEMAR Freire LOPES (1911)**


Poeta, jornalista, natural de Quipapá, PE, nasceu no
dia 1º de fevereiro de 1911. Reside atualmente no Re-
cife. Tem formação em Jornalismo e Administração.
É sócio efetivo da Academia de Letras e Artes do Nor-
deste Brasileiro, Cadeira nº 7, membro da Academia

68
3
Pernambucana de Letras, da Associação de Imprensa
de Pernambuco, da Academia Brasiliense de Letras e
sócio da UBE-PE. Participou de diversas antologias:
Antologia dos poetas pernambucanos. Fernando de Oli-
veira Mata, Recife, 1945; na Coletânea de poetas per-
nambucanos. Oliveira e Silva, Rio de Janeiro, 1951; e
na Antologia dos poetas bissextos contemporâneos. Manuel
Bandeira, Rio de Janeiro, 1965 (segunda edição) e
1967 (terceira edição). Poemas seus também figuram
em várias outras coletâneas publicadas em Pernam-
buco e noutros pontos do País. O “Soneto da vida e
da morte” inserido neste painel literário surpreendeu
o próprio autor que dele não se recordava. Encon-
tramo-lo em Escritores vivos de Pernambuco (2001), na
página 201, em meio à “Saudação de José Nivaldo”
para Waldemar Lopes, da qual transcrevemos o se-
guinte excerto: “Há poucos meses, com o olho direito
tamponado, após intervenção cirúrgica, e sem quase
nada enxergar pelo olho esquerdo, ainda na antes-
sala do Centro Cirúrgico, Waldemar pediu papel e
caneta para, com a luz da inteligência, tocada pelo
sentimento que os homens guardam no seu segredo,
escrever mais um belo soneto que intitulou “Soneto
da vida e da morte (..)”.
Obras do autor: Legenda (1929); Sonetos do tempo per-
dido (1971, Prêmio do PENClube do Brasil); Inventá-
rio do tempo (1974); Os pássaros da noite (1974); Sonetos
de despedida (1976); Sonetos do natal (1977); Elegia para
Joaquim Cardozo (1979); O jogo inocente (1979); Memó-
ria do tempo (1981); Sonetos de Portugal (1993, 1994,
1995); Amado Fontes: A linha da vida, o perfil da obra
(1995, prosa); Ruben Gueiros, O São João Batista da
“Mística Ibgeana” (1995, prosa); Bandeira-Estrela Per-
manente no céu de Pasárgada (1996, prosa); As dádivas
do crepúsculo (1996); A flor medieval (1996); Sombras da
tarde (1999); Cinza de estrelas (2001).

684
WALDIMIR MAIA LEITE (1925-2010)* **
Poeta e jornalista, nasceu em Garanhuns, PE, em
1925 e faleceu no Recife em 1 de julho de 2010. Foi
redator do Diario de Pernambuco desde 15 de janeiro
de 1949, onde exerceu os cargos de subsecretário e
chefe de reportagem. Foi também colunista semanal,
na página “Opinião”. Iniciou atividades jornalísticas
em 1943, no Diário de Garanhuns. No jornal O Ginásio,
do Colégio Diocesano de Garanhuns, publicou, em
1942, tradução que fez de poemas de Victor Hugo.
No Recife, foi repórter do Diário da Manhã e Jornal Pe-
queno. A partir do ano de 1946, torna-se membro da
Academia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 38, e
de outras instituições culturais congêneres do Brasil.
Em 1979, recebeu o Prêmio Recife Humanidades, de
contos. Publicou os livros Ofício da busca (e outros ofí-
cios), poesia, capa de Francisco Brennand; Terra mo-
lhada, crônicas líricas; e Quatro poemas de outono, poe-
sia, inspirados em visitas Europeias. Sua poesia, além
de musicada, foi vertida para o inglês, francês alemão
e coreano. Na Alemanha, versão produzida por Curt
Meyer, o maior tradutor e introdutor de obras brasi-
leiras, naquele país. Participou, como convidado, de
encontros culturais internacionais. Gravou o LP Wal-
dimir Maia Leite: a voz da poesia (crônicas e poemas li-
dos pelo autor, com fundo musical de baladas de Cho-
pin e sonatas de Beethoven) lançado pela Fundação
Joaquim Nabuco, dentro do Projeto Memória Fono-
gráfica. Poemas em monumentos públicos do Recife e
Garanhuns. O da “Gaivota Karina”, na orla marítima
de Candeias (Jaboatão dos Guararapes) esculpido em
12 metros de altura, hoje atração turística. Comendas
de reconhecimento cultural de Portugal e Fundação
Joaquim Nabuco. Títulos de Cidadão do Recife, Ja-
boatão dos Guararapes e Saloá. Outros livros publi-
cados: O viajante das palavras (crônicas líricas); Meio
século na pracinha do Diario (crônicas e relatos de seus

68
5
50 anos no Diario de Pernambuco). Estas informações
constam nos originais enviados pelo escritor direta-
mente para a primeira edição (2005) deste painel.

WALTER CABRAL DE MOURA (1955)*


Poeta, biólogo e analista ambiental federal, nasceu no
Rio de Janeiro, em 8 de agosto de 1955. A família,
que era pernambucana, regressou à terra dois anos
após seu nascimento. Publicou por conta própria:
Brilha, cosmos (1975) e Livro dos silêncios (2000), ambos
de poesia. Tem inédito É lenta a palavra tempo. Partici-
pou das coletâneas Fauna e flora nos trópicos (Fortaleza,
2003); Pernambuco, terra da poesia (São Paulo, 2005);
Antologia de Escritas n° 4 (Lisboa, 2008); Antologia de
Escritas n° 7 (Lisboa, 2010). É membro da União Bra-
sileira de Escritores – seção Pernambuco. Não se vê
vinculado a nenhum movimento literário, a não ser
que assim se considerem os que começaram a escre-
ver poesia entre o Recife e Olinda, na primeira meta-
de da década de 70.
Obras do autor: Brilha, Cosmos (1975); Livro dos silên-
cios (2000).

WEYDSON Oliveira de BARROS LEAL (1963)* **


Poeta e crítico de arte, nasceu no Recife, PE, em 8 de
dezembro de 1963. Teve suas primeiras publicações
de poemas e ensaios em jornais da cidade (Diário da
Manhã, Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio) a
partir de 1983. Em 1988, recebeu o Prêmio Mauro
Mota de Poesia, através do Concurso Literário Go-
verno do Estado de Pernambuco, com o livro O aedo,
publicado pela Fundarpe/Cepe. Este prêmio lhe foi
entregue pelo escritor Maximiano Campos, então
presidente da Fundarpe. Em 1989, O aedo recebeu o
Prêmio Othon Bezerra de MeIo, da Academia Per-
nambucana de Letras. Em 1990, com o livro O ópio e
o sal, ganhou pela 3ª vez o Concurso Literário Estado

686
de Pernambuco, recebendo o Prêmio Mauro Mota,
publicado pela Fundarpe/Cepe. Em 1991, O ópio e o
sal recebeu o Prêmio Jorge de Lima no Concurso Li-
terário da União Brasileira de Escritores/Rio de Ja-
neiro. Em 1994, publicou, através de Massao Ohno
Editor, em São Paulo, Os círculos imprecisos. Em maio
de 1997, publicou, a convite da Editora Bagaço, o li-
vro de poemas A música da luz, lançado na 13ª Feira
Internacional do Livro de Pernambuco. Participou,
em junho de 1997, como poeta convidado, ao lado
de Ferreira Gullar, do VII Festival Internacional de
Poesia em Medellin, na Colômbia, com 60 poetas de
38 países. Ainda em 1997, escreveu a biografia do ar-
tista plástico Francisco Brennand, publicada através
do Ministério da Cultura do Brasil, no livro Brennand.
Tem inúmeros poemas e ensaios sobre literatura e ar-
tes plásticas publicados em jornais, revistas, livros e
catálogos de exposições no Brasil. É colaborador da
revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, e da re-
vista Continente Multicultural. Em 1999, lançou pela
editora Topbooks, do Rio de Janeiro, o livro de poe-
mas Os ritmos do fogo, apresentações de Ivan Junquei-
ra e Ferreira Gullar. Em 2003, produziu, escreveu e
publicou o livro Brennand, desenhos, analisando a obra
em desenho do artista pernambucano. Em 2005, es-
creveu a biografia do escultor Abelardo da Hora.
Obras do autor: O aedo (1989); O ópio e o sal (1990);
Os císculos imprecisos (1994); A música da luz (1997); Os
ritmos do fogo (1999).

WILLIAM FERRER Coelho (1924-2006)*


Poeta e contista, é paraibano radicado no Recife des-
de 1965 onde faleceu em 10 de outubro de 2006. Foi
presidente por quatro mandatos da Câmara Pernam-
bucana do Livro, presidente por dois mandatos da
Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro,
vice-presidente em dois mandatos da União Brasilei-

68
7
ra de Escritores (UBE-PE). É sócio correspondente
da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, sócio
honorário da Sociedade Brasileira de Médicos Escri-
tores-PE, Presidente Emérito da Academia de Letras
e Artes do Nordeste Brasileiro e da União Brasileira
de Escritores (UBE-PE). Participou da antologia bi-
língue, Poésie du Brésil, publicada em 1997.
Obras do autor: Poemas na noite (1986); Poemas verti-
cais (1995); 10 Contos - um real (1996); Histórias que me
contaram (2000); Poemas outonais (2002).

WILSON ARAÚJO DE SOUSA (WAS) (1945)*


Poeta, economista, ex-funcionário público, autodefi-
ne-se “Tropicalista periférico de segunda geração”.
Nasceu em São João dos Patos, MA, em 13 de dezem-
bro de 1945. Sobre o seu trabalho literário registra:
“Poesia coloquial com elementos experimentais ex-
perimentando letras de música, jornalismo, política,
humor”. Com Pedro Américo, publicou Uma sanfona
de oito textos (1975).
Obras do autor: pauBrasília (1979, um samba-enre-
do); Signos involuntários (2003, livro e CD).

ZÉ DANTAS [José de Sousa Dantas Filho] (1921-


1962)**
Compositor e poeta, nasceu em Carnaíba, PE, em 17
de fevereiro de 1921, e faleceu no Rio de Janeiro em
11 de março de 1962. Há muitas referências sobre Zé
Dantas, mas, além da discografia vastamente divul-
gada, não encontramos uma bibliografia do poeta. O
suporte que encontramos para este registro veio do li-
vro Baião dos dois: Zedantas e Luiz Gonzaga, de Mundi-
carmo Ferretti, publicado no Recife, pela Cia. Editora
de Pernambuco, CEPE, em 2007, além do exemplar
Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira, dis-
ponibilizado em http://www.dicionariompb.com.br/
zedantas/dados-artisticos, de onde transcrevemos as

688
seguintes informações: “Em 1938, ensaiava suas pri-
meiras composições e escrevia crônicas sobre folclore
para a Revista Formação, do Colégio Americano Ba-
tista, do Recife. Cerca de nove anos depois conheceu
Luiz Gonzaga, de quem se tornou parceiro. Em 1949,
formou-se em Medicina no Recife e no ano seguinte
foi para o Rio de Janeiro especializar-se em obstetrí-
cia. Já formado em Medicina, reunia-se com poetas
populares nos bares dos bairros da Boa Viagem e no
Morro da Conceição, levando um gravador para re-
gistrar a produção musical e literária daqueles artistas
desconhecidos. Sua carreira de compositor teve im-
pulso a partir de 1947, quando conheceu no Grande
Hotel, no Recife, o cantor e compositor Luiz Gonzaga,
que se encontrava em temporada”. De Baião dos dois:
Zedantas e Luiz Gonzaga (2007) anota-se: “Sua primei-
ra gravação „Vem Morena‟ saiu em janeiro de 1950, e
Zé Dantas pôde assim sentir a emoção de uma música
sua em disco. Na época fazia o programa No Mundo
do Baião juntamente com Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira, onde contavam estórias e cantavam músicas
sertanejas.” Essas duas fontes são unânimes quanto
pontuam os grandes sucessos do compositor e poeta.
Pernambuco, terra da poesia procura, através desta refe-
rência, homenagear todos os poetas que rumaram da
letra para a canção popular.

ZETO [José Antônio do Nascimento Filho] (1956-


2002)* **
Poeta, compositor, violonista, destacou-se por ser óti-
mo declamador e intérprete, foi presença marcante
em cantorias do repente e em quaisquer eventos cul-
turais, especialmente os de poesia. Nasceu em Ca-
nhotinho, PE, em 1956, e faleceu em 2002.

68
9
690
Fortuna Crítica

691
692
Prefácio à primeira edição
Cartografia poética de Pernambuco
Hildeberto Barbosa Filho

Pernambuco, terra da poesia. Um painel da poesia per-


nambucana dos séculos XVI ao XXI impõe-se, desde já,
como um dos mais ousados projetos de organização da
cultura, em especial da cultura literária no segmento da
poesia, realizado, entre tantos outros, pelo Instituto Ma-
ximiano Campos, a cargo de Antônio Campos e Cláudia
Cordeiro, ora publicado em convênio com a editora Escri-
turas, de São Paulo. O subtítulo me parece esclarecedor:
não se trata evidentemente de uma antologia, e sim de
uma coletânea, de uma reunião, de um mapeamento, de
um panorama, enfim, de um “painel” como se registra.
Numa antologia os textos constituem, por assim dizer,
a finalidade primeira e germinal da seleção, submetida, a
seu turno, pela regência de rigoroso critério de excelência
estética. O que importa, aqui, é sobretudo o peso da repre-
sentatividade literária, independentemente dos fatores te-
máticos, genéricos, cronológicos, geracionais, cognitivos e
artísticos que possam dar sustentabilidade ao labor de sua
elaboração. A bem dizer, para lembrarmos a figura emble-
mática de Ezra Pound, a antologia se prefigura como uma
espécie de paideuma onde a singularidade estética repre-
senta a norma fundamental. A antologia, portanto, possui
um caráter exclusivo, em que pesem suas diversas modali-
dades e a relevância específica de cada uma delas, conforme
sinaliza T. S. Eliot em texto fundante, Que é poesia menor?
Numa coletânea, ao contrário, os textos não se perfi-
lam como fim, mas como meios que se podem prestar a

693
diversos objetivos em função da perspectiva do projeto.
Seja didática, seja histórica, seja meramente documental,
a coletânea é inclusiva e firma no registro de dados e na
presença deste ou daquele autor o seu compromisso infor-
mativo, a sua razão ontológica. Seu campo de cobertura
descortina-se, assim, bem mais elástico, bem mais flexível,
podendo, por isto mesmo, tocar em variados ângulos do
fenômeno cultural e literário.
Pernambuco, terra da poesia enquadra-se perfeitamente
dentro desta classificação. A epígrafe, com os versos cabra-
linos, como que antecipa a tessitura solidária do todo, se
erguendo toldo e tenda onde caibam todos se entretenden-
do na configuração do canto sinfônico e plural da poesia
e da terra. Por outro lado, o título, embora aparentemente
não possa sugerir, encaixa-se coesa e coerentemente com
esta ideia. Pernambuco, terra da poesia não deve ser lido no
que pode remeter para a noção de exclusivismo poético
ou de ufanismo literário, mas, principalmente, pela clave
da força poética que contamina, em todos as geografias
(litoral, agreste, sertão, caatinga, mata seca e mata úmi-
da, como diria Marcus Accioly) a alma da terra e do povo.
O próprio Manuel Bandeira, um dos ícones que integra
esta reunião, afirma que “a poesia está em tudo”. Se está
em tudo, está em todos, e está em todos como experiên-
cia seminal da vida. Está nos maiores, nos medianos, nos
menores, com toda sua surpreendente maleabilidade de
caminhos e de dicções. É preciso, portanto, ler o “terra da
poesia” na sua acepção descritiva, inclusiva, e não naquele
sentido cartográfico e seletivo ou como tola exclusividade
soberba. Não existe, quero crer, sentido axiológico no títu-
lo com suas múltiplas implicações catafóricas.
Atento a este apelo epistemológico, o espectro poético
procura ser o mais vasto e o mais diferenciado possível,
pois vai do século XVI, com a figura histórica e pioneira
de Bento Teixeira, aliás presente em grafia original num

694
breve recorte de seu épico, passando pelas vozes barrocas,
árcades, românticas, parnasianas, simbolistas, modernis-
tas até as vanguardas mais emergentes e os investimentos
pós-modernos. O vigor da forma fixa se confronta com
as linhagens alternativas de uma poesia experimental ao
mesmo tempo em que a tradição oral e popular cerra
fileira ao lado da modernidade e erudição de uma alta
percussão lírica. O critério diacrônico, que se distende do
mais antigo ao mais atual, costura, noutro sentido, a plu-
ralidade de expressão verbal e espelha – diria quase dida-
ticamente – todas as vertentes poéticas que se cristaliza-
ram em Pernambuco. Se o leitor pode deparar os nomes
mais conhecidos, pois que sua práxis poética transcende
os limites provincianos (Manuel Bandeira, Joaquim Car-
dozo, Mauro Mota, Carlos Pena Filho), encontra também
figuras esquecidas e quase desconhecidas (Rita Joana
de Souza e Targélia Barreto de Meneses, filha de Tobias
Barreto) assim como autores ainda em pleno processo de
criação (Mário Hélio, Micheliny Verunschk, Delmo Mon-
tenegro e Pietro Wagner).
O exemplo notável da chamada “Geração 65” marca
presença decisiva nesta obra, ratificando, em certo senti-
do, a capacidade de reinvenção da melhor tradição poéti-
ca de Pernambuco, com nomes de reputação consolidada,
a começar com César Leal, que, embora não pertença a
essa geração, tem o nome a ela vinculado, uma vez que
foi ele quem a lançou e seu maior incentivador, durante
muitos anos. Somam-se: Alberto da Cunha Melo (obser-
ve-se o antológico poema “Dual”), Jaci Bezerra, Marcus
Accioly, Ângelo Monteiro, Lucila Nogueira, Almir Castro
Barros, José Carlos Targino, Marco Polo Guimarães, Jani-
ce Japiassu, Eugênia Menezes, Myriam Brindeiro, Tereza
Tenório, Sebastião Vila Nova e tantos outros.
Como se vê, o objetivo do “painel” é rigorosamente
documental. A obra, em suas linhas gerais, fornece uma

695
visão das posturas estéticas, tanto no que concerne à suces-
sividade das gerações, com toda sua tipologia, quanto no
que diz respeito às tonalidades do lirismo e suas implica-
ções técnico-literárias, estilísticas e temático-ideológicas.
Utilizássemos o quadro proposto por Pedro Lyra, em
Sincretismo: a poesia da geração 60, assim como seus pa-
radigmas líricos, poderíamos estabelecer algumas curio-
sas correlações de ordem analítica, exegética e apreciati-
va. Excluindo os que já se foram e que, de um modo ou de
outro, acham-se relativamente contextualizados no âmbito
da história literária, por exemplo, um Olegário Mariano,
um Medeiros e Albuquerque, um Ascenso Ferreira, um
Mauro Mota, um Deolindo Tavares, um Austro Costa, um
Solano Trindade, um Audálio Alves, entre outros, diria
que determinados poetas, sobretudo os que nascem nos
anos 70/80, como Pietro Wagner, Delmo Montenegro e
Antonio Marinho, transitam entre o emergente e o novo,
tendo na rebeldia estética o foco central de motivação.
Percebe-se, noutra latitude estética, a maturidade domi-
nante em fase de plena confirmação naqueles que fazem
a já referida “Geração 65”, assim como posso pensar num
clássico como César Leal e num canônico como Waldemar
Lopes, este, um artífice inigualável do soneto.
A linha discursiva predomina, sobremaneira com a he-
rança lírica, sedimentada na temática amorosa, erótica,
telúrica, existencial, cotidiana e metafísica, numa mostra
polifônica que noticia, na unidade do sentimento poéti-
co, a diversidade de realizações. A velada sensualidade de
uns sabe coexistir com a sensualidade palpável de outros
assim como a nota filosófica e mítica de certas expressões
não chegam a abafar a sintaxe lúdica e despachada que al-
guns poetas trilham sem preconceitos. Pensássemos numa
caracterização de estilos, teríamos o que Erich Auerbach
denomina de estilo mesclado, pois aparece de tudo um

696
pouco: o grave, o leve, o formal, o popular, o erudito, o
coloquial, o fragmentário, o alternativo etc. Outra nota
forte reside na pesquisa metalinguística muito peculiar ao
gosto de certas vozes modernas que, para além de contor-
nar as virtualidades estésicas do real, transformam o poe-
ma em matéria de pura reflexão poética. O sopro épico e a
vertente social e participante comparecem na linguagem
de alguns autores, da mesma maneira que a excepcionali-
dade de um discurso verbivocovisual, comprometido em
primeira instância com os artefatos do significante, tam-
bém é contemplada nas páginas deste mosaico literário.
O fluxo cronológico faz convergir, portanto, para a
vastidão do seu estuário, as diferenças dos seus afluentes
estéticos. E com isto ganham a cultura e a literatura per-
nambucanas. Ganham principalmente os historiadores e
os críticos literários que, na tarefa de pensarem sistemati-
camente sobre a produção literária de uma região e sobre
obras e autores individuais, podem ter, neste “painel”, um
ponto de partida referencial.
Para o historiador há como que um sinal sistêmico
a preanunciar uma possível ordem cronológica e, nesta
ordem cronológica, a composição material de certas ten-
dências, de certas características, de certas posições. A
personalidade do inventor, do mestre e do diluidor, ainda
para me valer das categorias de Pound, assim como dos
ícones e dos epígonos, maiores e menores, medianos e
modelares são perfeitamente relacionais, inclusivas, com-
plementares dentro da organização histórica. E esta reu-
nião, como já dei a atender, é muito mais de fundo histó-
rico do que propriamente de natureza crítica. É obra de
referência, enciclopédica, propedêutica.
Ao crítico literário será de extrema utilidade, pois nela
se apresentam, com pequenas mostras – é verdade – as
poéticas individuais, com seu registro estilístico particu-

697
lar, uma que outra eleição temática e, de certa maneira,
algo da índole e da visão que permeiam a sensibilidade e
a percepção poéticas. Dois poemas podem parecer muito
pouco, mas não se deve esquecer que a marca do poeta,
isto é, suas raízes ideativas, imagéticas e melódicas, não
raro se inscreve nos limites de um só verso. Isto sem que
se faça alusão aos tópicos mínimos, porém essenciais, dos
verbetes relacionados, que funcionam como uma espécie
de banco de dados indispensáveis ao pesquisador.
Mas não somente aos estudiosos da fenomenologia
literária um trabalho deste porte pode interessar. Penso
ainda nas instituições, bibliotecas, arquivos, acervos, en-
fim, em todo espaço de guarida pública do patrimônio
cultural e da memória poética. Penso também no profes-
sor, no estudante, no leitor comum e no público em ge-
ral que frequenta as páginas estéticas sem o compromisso
mais urgente com as instâncias cognitivas e pedagógicas,
porém com aquele sentimento de que a poesia é sobre-
tudo experiência de mundo, emoção da vida, descoberta
e revelação existenciais, epifania cotidiana. Ora, um pa-
norama como este também pode servir como iniciação.
Como rito de iniciação à poesia da terra e também inicia-
ção ritual à terra da poesia.

Hildeberto Barbosa Filho é poeta e crítico literário paraibano.


Mestre e Doutor em literatura brasileira pela UFPB e autor de
diversas obras no campo do ensaio e da poesia.

698
A Terra da Poesia
Gilberto Mendonça Teles

É muito bom para o primeiro contato com um livro


que seu título e subtítulo se mostrem estruturados por
claras significações, de modo a oferecer de imediato ao
leitor a transparência do sentido inscrito no conjunto –
no panorama, na antologia ou, como se quer, no painel
– vale dizer, em um retábulo, num baixo ou alto-relevo ou
em uma pintura, em que essas formas artísticas se fazem
metafóricas para a expressão maior da poesia que se fez
ao longo do tempo em uma região especial.
É o que vejo no forte e concreto título Pernambuco, terra
da poesia, elegante e analiticamente reduplicado no sub-
título Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao
XXI. Está aí o sentido emblemático de um livro que se
oferece ao mesmo tempo como escrita e como pintura,
como antologia e painel – forma de arte que se junta e
se desenrola ao longo de quinhentos anos de história da
cultura brasileira. Não é coincidência que a pintura e a
poesia do Brasil tenham surgido e se desenvolvido mes-
mo ali, nesse panneau que é o estado de Pernambuco, que
se foi desenrolando do mar para o sertão, a jogar aqui
com alguma imagem às avessas de João Cabral ou com a
filosofia pertinente de Gilberto Freyre.
Em Estudos de poesia brasileira (Coimbra, 1985), escre-
vemos algumas observações sobre o sentido e a função de
livros desta natureza – panorâmica e/ou antológica – cha-
mando a atenção, primeiro, para rica sinonímia posta em
voga pelos estudiosos do início do século XIX, quando a

699
forma de textos selecionados dominou a nossa pré-histó-
ria literária. Era a moda crítica de termos como parnaso,
florilégio, crestomatia, tesouro, relíquia, panorama, seleta, painel
e antologia. A crítica da época está cheia desses termos que
dão bem a ideia da importância do tipo de livro necessá-
rio no momento em que o Brasil, recém-independente,
não dispunha ainda das obras de seus primeiros escrito-
res, mas precisava urgentemente falar deles, divulgá-los.
A antologia foi o recurso metonímico apropriado para
a representação: para uma amostragem, uma seleção de
textos que, na opinião do crítico e do incipiente histo-
riador, havia de melhor em cada escritor que passava a
compor o quadro da cultura nacional. E tinha, além do
propósito da divulgação, uma finalidade particularmente
didática: por intermédio dela ensinava-se a ler e a escre-
ver e, algumas vezes, difundiam-se noções de cultura e de
composição literária. Foi por aí que se fez grande parte
do nosso ensino e se formaram as primeiras gerações de
nossos escritores. A antologia chega aos nossos dias para
oferecer o que há de melhor ou de mais significativo nas
obras de uma literatura – nacional ou regional, de época
ou de geração e, até, de um único escritor, como se tem
verificado atualmente nas principais editoras do país.
Entre os vários aspectos relevantes de um painel literá-
rio como este, competentemente estruturado por Antônio
Campos e Cláudia Cordeiro, é preciso dar realce a dois:
um interno, de linguagem; e outro externo, de repercus-
são e exemplo. É preciso chamar a atenção, em primei-
ro lugar, para o critério que norteou o caráter censitário
da coletânea, para a filosofia (explicita ou não), para o
perfil lógico, da cronologia ou da agrupação temática.
Percebe-se, para além disso, a interferência de critérios
sutis, psicológicos e analógicos, de gosto, de estilo e de
conhecimento estético-literário. Enfim, tudo isso que faz

700
desses textos organizados desta ou daquela forma a mais
preciosa representação da produção cultural de uma re-
gião do Brasil.
E, em segundo lugar (na direção do que fizemos em
1964 com o volume A poesia em Goiás), é fora de dúvida o
belo exemplo de emulação que este livro dará à investi-
gação literária regional, estimulando-a na direção de um
futuro painel da literatura brasileira, onde serão vistos,
num mesmo nível de observação, todas as formas e va-
lores genuinamente regionais, evitando-se, deste modo,
a visão estrábica dos historiadores e críticos literários do
Rio de Janeiro e São Paulo. Neste sentido, Pernambuco
fala para o Brasil e a “Terra da Poesia” se desdobrará pe-
los quatro pontos cardeais do mapa brasileiros.

Rio de janeiro, 30 de agosto de 2005.

701
702
NOTAS DA ORGANIZADORA
CLÁUDIA CORDEIRO
(1ª edição)

Pernambuco, terra da poesia: Um painel da poesia per-


nambucana dos séculos XVI ao XXI traz em seu título
uma palavra-chave: “painel”, que, em sua acepção de “vi-
são panorâmica”, se torna o vocábulo mais apropriado
para este trabalho, em face de seu caráter essencialmente
documental e censitário, sem propósitos críticos e seleti-
vos, no que se refere a critérios de valor estético. E só essa
concepção de “visão panorâmica” levou-nos a aceitar o
honroso convite do Instituto Maximiano Campos, no mês
de abril deste ano de 2005, a fim de realizar a pesquisa,
compilação de dados, organização e redação desta obra.
Contra o tempo exíguo, contamos com as ferramentas
do meio eletrônico, através do qual já mantínhamos con-
tato com muitos poetas que se encontram nestas páginas,
além dos mestres Gilberto Mendonça Teles e Hildeberto
Barbosa Filho, que nos honram com suas presenças aqui
e são nossos hóspedes, nas páginas do domínio Platafor-
ma para a poesia: sítio virtual pernambucano da poesia
contemporânea em língua portuguesa, que editamos e
administramos há três anos, e mais especialmente com
suas presenças permanentes na nossa formação literária.
Contamos com nosso próprio acervo bibliográfico e o de
amigos como Inez Fornari e Pedro Vicente Costa Sobri-
nho, que nos cederam prontamente obras essenciais para
esta edição. Com a gentileza de escritores como Lourdes
Sarmento e Cyl Gallindo, que nos enviaram dados impor-
tantes para enriquecer nosso trabalho.

703
Contamos ainda com o Setor de Obras Raras, da Bi-
blioteca Pública do Estado de Pernambuco, onde tivemos
o privilégio de fazer nossas pesquisas em busca de poetas e
poetisas escondidos pela poeira do tempo. Contamos com
a juventude e entusiasmo, competência e disposição para
a empreitada de duas jovens, Leila Teixeira e Ninon Tásia
da Silva Alves, cuja convivência nos ensina a acreditar, cada
dia mais, no futuro das nossas Letras. Com amigos muito
especiais, como Rui Ribeiro, Divaldo Pereira Franco e Er-
melinda Ferreira, que não nos faltaram com o melhor dos
incentivos, e José Nêumanne, que abriu caminhos para a
editoração desta obra. Contamos com o empenho seguro
da mestra em Filologia e doutoranda da Universidade de
São Paulo (USP), Isabel de Andrade Moliterno, na revisão
e atualização ortográfica de muitas destas páginas. Com
Alberto da Cunha Melo e suas informações decisivas em
muitos momentos desta nossa empreitada. Com o profis-
sional das Artes Gráficas, Luiz Arrais, editor de Arte de
uma das melhores revistas pernambucanas de cultura do
país, a Continente Multicultural. Contamos também com a
gentileza dos poetas e poetisas participantes, ou seus es-
pólios, que cederam os direitos autorais de seus poemas
para este trabalho. E, finalmente, com a determinação do
Instituto Maximiano Campos, na pessoa de Antônio Cam-
pos, seu Presidente, que resolutamente vem acendendo,
nas páginas da Literatura Brasileira, as luzes da grande
obra do ficcionista e poeta Maximiano Campos e de mui-
tos outros, firmando, agora, através deste trabalho, todos
os propósitos de divulgação e promoção da cultura per-
nambucana, especialmente a literária. Nesta obra, portan-
to, pomos em prática a lição cabralina: “Um galo sozinho
não tece uma manhã”. A todos, muito obrigados.
Para facilitar a consulta aos textos, nomes e dados,
deste livro, é importante observar:

704
1. Além do sumário, em ordem cronológica, encontram-se,
após a transcrição dos textos, o índice onomástico e o de
títulos ou primeiros versos. Estes últimos referem-se apenas
àqueles poemas que não traziam título, e não os primeiros
versos de todos os poemas aqui transcritos.
2. 75 Poetas ou seus respectivos espólios enviaram a seleção de
seus próprios poemas e dados biobibliográficos, diretamen-
te para o IMC. Essa documentação, em CD ou disquete e
impressa, se encontra à disposição dos pesquisadores, nos
arquivos do IMC. Esse fato levou-nos a, em muitos momen-
tos, prescindir das indicações das obras, abaixo de cada poe-
ma, muitos deles inéditos, passando aquela documentação,
cedida pelo(a) próprio(a) autor(a), a ser referência bastante
para este trabalho. Quando os poetas fizeram as indicações
bibliográficas, elas foram transcritas no todo ou em parte.
3. Para facilitar pesquisas futuras, convencionamos colocar um
asterisco após nome e data de cada autor, indicando o envio
daquela documentação para o IMC. Os dois asteriscos se-
guintes referem-se à naturalidade pernambucana.
4. Nas notas biobibliográficas, optamos por listar todas as obras
(livros) e não apenas as de poesia, com título e data. Após a
data (entre parênteses) de cada obra, fizemos o registro de
gênero, apenas quando a obra não era de poesia. No entan-
to, quando as obras, em sua extensa maioria, não eram de
poesia, optamos por registrá-las, antecipadamente, no cor-
po do verbete, a fim de destacá-las, como no caso do escri-
tor Gilberto Freyre. Quanto à participação em antologias ou
em livros editados em conjunto, só foram feitos registros, no
corpo do verbete, e, apenas, quando a relevância e a clareza
da informação assim permitiram.
5. Do meio eletrônico foram referências importantes para este
trabalho os seguintes sítios virtuais:
Academia Brasileira de Letras <http://www.academia.org.br/
Biblioteca Nacional<http://www.bn.br/fbn/bibsemfronteiras/
Fundação Casa de Rui Barbosa <http://www.casaruibarbosa.gov.br/
Fundação Joaquim Nabuco. Coordenadoria de Documentos Textuais
<http://ww.fundaj.gov.br/docs/indoc/dotex/doctex.html
Instituto Maximiano Campos <http://www.institutomaxcampos.org.br/
Itaú Cultural. Panorama Poesia e Crônica
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/poesia/home/

705
Quando redigíamos estas notas, pelo correio eletrônico,
notícias contínuas do universo poético pernambucano e na-
cional faziam-nos crer, mais ainda, que muito há que se fa-
zer, que muitos outros painéis, panoramas, antologias e ou-
tras pesquisas históricas precisam ser editados, não apenas
para a preservação do presente, mas também para o resgate
e perpetuação do passado literário brasileiro, conforme a
lição de Antonio Joaquim de Mello, na nossa epígrafe.
O Instituto Maximiano Campos, Antônio Campos e sua
equipe, contratada especialmente para este trabalho, fize-
ram a sua parte, reunindo nesta “visão panorâmica” 161
poetas, 128 nascidos neste Estado e 33 que fizeram dele seu
domicílio literário, neste ano de 2005, em que a Literatura
Brasileira comemora os 40 anos da Geração 65, e os 50
anos do primeiro título de poesia, Alvorada (1955), do gran-
de poeta e mestre Gilberto Mendonça Teles; tudo a exatos
404 anos da primeira expressão de nosso nativismo literá-
rio, Prosopopeia (1601), poema épico de Bento Teixeira.

Olinda, setembro de 2005.


Cláudia Cordeiro
Professora pós-graduada em Literatura Brasileira,
ensaísta e webmaster
www.plataforma.paraapoesia.nom.br
ppoesia@plataforma.paraapoesia.nom.br

706
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POLO, Marco. Vôo subterrâneo. Recife: Bagaço, 1986.
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Eloi Editor, 1968. (Coleção Lírica).
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TRINDADE (1908-1974)**. Um elogio à liberdade. Recife:
FUNDARPE, fevereiro de 1988. Folheto em comemoração aos
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Inaldete Pinheiro de Andrade.
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LETRAS E ARTES. Recife: Bagaço, nº 13, 2004.
POESIA: uma revista da gente com o sentimento do mundo.
Recife: Nordestal, nº 9, ano III, abril 1983.

717
718
AGENDA

Endereços e telefones disponibilizados por alguns(umas)


escritores(as) ou seus respectivos espólios e contatos

Alberto da Cunha Melo


Contato: Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo
Endereço Postal: Av. Governador Carlos de Lima Cavalcanti,
2234, ap. 102, Casa Caiada, 53130-530 - Olinda/PE
Celular: 81 - 91958852
E-mail: clau.cord@gmail.com

Almir Castro Barros


Endereço Postal: Rua Comendador Sá Barreto, 365, ap. 1002,
Piedade, 54420-331 - Jaboatão dos Guararapes/PE
E-mail: almircastrobarros@yahoo.com.br

Alvacir Raposo
Endereço Postal: Rua Cel. João Batista do Rego Barros, 195,
Apipucos, 52071-350 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34412388
E-mail: asrf@elogica.com.br

Ana Maria César


Endereço Postal: Av. Apipucos, 235, Apipucos, 52071-000 -
Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32680058
E-mail: anna.cesar@terra.com.br

Ângelo Monteiro
Endereço Postal: Rua José Bonifácio, 1356, ap. 1004, Torre,
50710-000 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32260274
E-mail: a.monteiro7@uol.com.br

719
Antônio Campos
Endereço Postal: Rua do Chacon, 335, Casa Forte,
52061-400 - Recife/PE
Fone: 81 - 32675787
E-mail: camposad@camposadvogados.com.br

Antonio Marinho
Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea
509080-250 - Recie/PE
Fone: 81 - 32696866 - 96622137
E-mail: marinhosje@gmail.com

Ariano Suassuna
Endereço Postal: Rua do Chacon, 328, Casa Forte,
52061-400 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32684057
E-mail: anobregas@uol.com.br

Bartyra Soares
Endereço Postal: Rua Dr. Arlindo Santos Maciel, 137, ap. 101,
Piedade, 54400-015 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33416779
E-mail: bartyra@fisepe.pe.gov.br

Celina de Holanda
Contato: Ana Regina Cavalcanti Sobreira / Andréa Mota
Endereço Postal: Rua Betânia, 10, ap. 102, Derby,
52010-170 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32233002 / 34636662
E-mail: anares2001@yahoo.com.br / amo@hotlink.com.br

Celso Mesquita
Endereço Postal: Rua dos Palmares, 79, ap. 1502, Santo Amaro,
50100-060 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32234609

César Leal
Endereço Postal: Rua das Pernambucanas, 194, ap. 803, Graças,
52011-010 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34219817 / 32219187
E-mail: cleal@nlink.com.br

720
Chicão - Francisco José Trindade Barrêtto
Endereço Postal: Rua dos Navegantes, 2409, ap. 2301,
Boa Viagem, 51020-011 - Recife/PE
Fone: 81 - 99487240

Cícero Melo
Endereço Postal: Rua Princesa Isabel, 83, ap. 1101, Boa Vista,
50050-450 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32224572
E-mail: cnacimento@uol.com.br

Cida Pedrosa
Endereço Postal: Rua da Hora, 593, ap. 33, bloco “B”,
Espinheiro, 52020-010 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32214556 / 32328137
E-mail: cidapedrosapoesia@yahoo.com.br

Cloves Marques
Endereço Postal: Rua Conde de Irajá, 520, ap. 402,
Torre, 50710-310 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32276848 / 32279714
E-mail: clovesms@terra.com.br

Cyl Gallindo
Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 5858, ap. 602, Boa Viagem,
51030-000 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34621975

Deborah Brennand
Endereço Postal: Propriedade Santos Cosme e Damião, s/n,
Várzea, 50740-970 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32712466 / (fax) 32714814
E-mail: brennand@brennand.com.br

Delmo Montenegro
Endereço Postal: Rua Napoleão Teixeira de Macedo, 45,
ap. 101, Afogados, 50770-540 - Recife/PE
E-mail: rimbaudgraphis@aol.com

721
Dione Barreto
Endereço Postal: Rua Henrique Dias, 609, Derby, 50010-100 -
Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34213266
E-mail: dione@fundaj.gov.br

Domingos Alexandre
Endereço Postal: Pça. Domingos Geovanete, 51, ap. 1301,
Torre, 50710-440 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34466161

Eduardo Martins
Endereço Postal: Av. Sete de setembro, 2095,
ap. 201, bloco “H”, Nova Porto Velho, 78900-000 -
Porto Velho/RO
Fone residencial: 61 - 2120710
E-mail: eduardom@unir.br / prad@unir.br

Ésio Alves Rafael


R. Capitão Braz de Barros, 22, Areias
50870-230 - Recife /PE
Fone: 81 - 34552314 - 85528081

Esman Dias
Endereço Postal: Rua Gonçalves Maia, 1000, ap. 202, Boa Vista,
50070-000 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32216831
Fone comercial: 81 - 21268785 (Depto. de Letras, UFPE)
Fone celular: 81 - 88236505
E-mail: esman_dias2003@yahoo.com

Eugênia Menezes
Endereço Postal: Rua Luís Guimarães, 565, Casa Forte,
52061-160 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32680903

Everardo Norões
Endereço Postal: Rua do Afeto, 50, Florestas Verdes, 52171-140
Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34425479
E-mail: esnoroes@uol.com.br

722
Fátima Ferreira
Endereço Postal: Rua Frei Afonso Maria, 319, Amaro Branco,
53120-170 - Olinda/PE
Fone celular: 81 - 92629265

Fernando Monteiro
Endereço Postal: Rua Pe. Carapuceiro, 537, ap. 202-A,
Boa Vista, 51020-280 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33252655
E-mail: fernandomonteiro@superig.com.br

Flávio Chaves
Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 4530, ap. 2101, Boa Viagem,
51021-000 - Recife/PE
Fone: 81 - 91521017
E-mail: flaviochavesdp@aol.com

Francisco Bandeira de Mello


Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 6688, ap 701, Boa Viagem,
51130-000 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33413941

Geraldino Brasil
Contato: Beatriz Brenner
Endereço Postal: Rua Elvira Carreira de Oliveira, 20,
Ilha do Leite, 50070-470 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 3535.0354
E-mail: beatrizen@hotmail.com

Gilberto Freyre
Contato: Gilberto Freyre Neto
Endereço Postal: Rua Dois Irmãos, 414, Apipucos, 52171-010 -
Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32686807
Endereço Virtual: www.fgf.org,br
E-mail: gfn@fgf.org.br

Isac Santos
Endereço Postal: Rua Hildelfonso Marinho de Araújo, 45,
ap. 104, Casa Caiada, 53130-680 - Olinda/PE
Fone residencial: 81 - 34327190 / 99617054

723
Ivanildo Vila Nova
Endereço Postal: Rua Rodrigues Alves, 1400, Bela Vista,
58101-290 - Campina Grande/PB
Fone residencial: 81 - 37221166 (Caruaru) / 99592365

Jaci Bezerra
Endereço Postal: Rua Amapá, 51, ap. 1001,
Espinheiro, 52050-390 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32412638

Janice Japiassu
Endereço Postal: Rua Guaporanga, 30, ap. 401, Ilha do Recife,
50750-570 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32282862
E-mail: paulo_japiassu@hotmail.com

José Almino
E-mail: almino@rb.gov.br

José Mário Rodrigues


Endereço Postal: Av. Conde da Boa Vista, 247, ap. 502,
Boa Vista, 50060-002 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32220095 / 21022297
E-mail: jmrrodrigues@yahoo.com.br

Lourdes Nicácio
Endereço Postal: Rua Conde D,eu, 64, ap. 501,
Boa Vista, 50050-470 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32224469 / 30823570
E-mail: lourdesnicacio@ig.com.br

Lourdes Sarmento
Endereço Postal: Rua dos Navegantes, 2563, ap. 602,
Boa Viagem, 51020-011 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33261629 / 33261265
E-mail: lourdessarmento@terra.com.br

Lourival Batista
Contato: Bia Marinho
Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea
509080-250 - Recie/PE
Fone: 81 - 32696866

724
Lucila Nogueira
Endereço Postal: Rua Professor Júlio Ferreira de Melo, 474,
ap. 601, Boa Viagem, 51020-230 - Recife/PE
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Lúcio Ferreira
Endereço Postal: Rua Ambrósio Machado, 111,
Iputinga, 50670-010 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32713656
E-mail: núbia.ferreira@caixa.gov.br / nbferreira@nlink.com.br

Luis Manoel Siqueira


Endereço Postal: Rua Jornalista Alfredo Vieira, 01,
Condomínio Dois Irmãos, Sítio dos Pintos,
52171-100 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34423871
E-mail: luismps@hotmail.com.br

Malungo
Endereço Postal: Rua 86, quadra 64, bloco 07, ap. 206,
Maranguape I, 53441-320 - Paulista/PE
Fone celular: 81 - 91090204
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Marcelo Mário de Melo


Endereço Postal: Rua Capitão José da Luz, 104, ap. 401,
Coelhos, 50070-540 - Recife/PE
Fone/fax: 81 - 32216848
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Márcia Maia
Endereço Postal: Rua Desembargador Martins Pereira, 24,
ap. 202, Aflitos, 52050-220 - Recife/PE
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725
Marco Polo Guimarães
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Candeias - 54440-310 - Jaboatão dos Guararapes/PE
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E-mail: marcopolo@continentemulticultural.com.br

Marcos Cordeiro
Endereço Postal: Rua Prudente de Morais, 231, Carmo,
53020-140 - Olinda/PE
Fone residencial: 81 - 34290995 -92152003
E-mail: moxoto@hotmail.com

Marcos D‟Morais
E-mail: marcosrecifeporto@hotmail.com

Marcus Accioly
Endereço Postal: Rua Elesbão de Castro, 157, cobertura,
Bairro Novo, 53030-210 - Olinda/PE
Fone residencial: 81 - 34237658

Maria da Paz Ribeiro Dantas


Endereço Postal: Rua Regueira Costa, 267, Rosarinho,
52041-050 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32412524 / 30885229
E-mail: peace40@uol.com.br

Maria de Lourdes Hortas


Endereço Postal: Rua do Imperador Pedro II, 290,
Bairro do Recife, 50010-240 - Recife/PE
(Gabinete Português de Leitura de PE)
E-mail: louhortas@terra.com.br

Marilena de Castro
Endereço Postal: Rua Engenheiro Sampaio, 255, ap. 301,
Rosarinho, 52040-020 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32432561
E-mail: rcarrero@bol.com.br

Mário Hélio
Endereço Postal: Rua Santos Elias, 109, ap. 1102, Espinheiro,
52020-090 - Recife/ PE
Fone comercial: 81 - 34415900
E-mail: mariohelio@gmail.com

726
Maurício Motta
Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1869, Casa Forte,
52061-900 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32680211

Mauro Mota
Contato: Marly Mota
Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1869, ap. 1002-A,
Casa Forte, 52061-900 - Recife/PE
E-mail: emota03@bol.com.br

Maximiano Campos
Contato: Antônio Campos
Endereço Postal: Rua do Chacon, 335, Casa Forte, 52061-400 -
Recife/PE (Instituto Maximiano Campos - IMC)
Fone: 81 - 32675787
E-mail: camposad@camposadvogados.com.br

Micheliny Verunschk
E-mail: verunschk@hotmail.com

Montez Magno
Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1991, Casa Forte,
52061-540 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32685967

Myriam Brindeiro
Endereço Postal: Rua Capitão Sampaio Xavier, 253, ap. 1401,
Rosarinho, 52050-210 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34264565
E-mail: myriambrindeiro@gmail.com

Nelson Saldanha
Endereço Postal: Rua Pe. Anchieta, 473, ap. 602, Madalena,
50710-310 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32285307
E-mail: nelsonsaldanha@bol.com.br

727
Odile Vital César Cantinho
Endereço Postal: Rua do Espinheiro, 201, ap. 402, Espinheiro,
52020-020 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 34262958
E-mail: ismael.gouveia@fastmodem.com.br
icgouveia@ig.com.br

Olimpio Bonald Neto


Endereço Postal: Rua Manoel de Almeida Belo, 1063,
Bairro Novo, 53030-030 - Olinda/PE
Fone residencial e fax: 81 - 34293846

Paulo Bruscky
Endereço Postal: Rua do Sossego, 246, ap. 22,
Boa Vista, 50050-080 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32314960
E-mail: pbruscky@bol.com.br

Paulo Caldas
Endereço Postal: Rua Guedes Pereira, 77, ap. 901, Parnamirim,
52060-150 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32673320 / 32664167

Pedro Américo de Farias


Endereço Postal: Rua da Aurora, 1035, ap. 142, Santo Amaro,
50040-090 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32224722
E-mail: linguadepoeta@hotmail.com

Pietro Wagner
Endereço Postal: Rua Gomes Pacheco, 465, ap. 1003,
Espinheiro, 52021-060 - Recife/PE
Fone comercial: 81 - 34299723
Fone celular: 81 - 99353931
E-mail: pwlima@yahoo.com.br

S.R. Tuppan
E-mail: srtuppan@yahoo.com.br

Sergio Albuquerque
Endereço Postal: Rua Professor Júlio Ferreira de Melo, 474,
ap. 601, Boa Viagem, 51020-230 - Recife/PE
E-mail: luc.nog@terra.com.br

728
Sérgio Bernardo
Endereço Postal: Rua Papa Capim, 96, 3º Etapa, Rio Doce,
53070-140 - Olinda/PE

Severino Filgueira
Endereço Postal: Rua Ágata, 135, Pau Amarelo,
53429-620 - Paulista/PE
Fone residencial: 81 - 34365872

Silvana Menezes
Endereço Postal: Rua 4 de Outubro, 481, Ouro Preto - Jatobá,
53370-001 - Olinda/PE
Fone residencial: 81 - 34294729
E-mail: silvanamenezes@cclf.org.br

Tarcisio Regueira
Endereço Postal: Av. Mario Melo, 165, ap. 306, Santo Amaro,
50040-010 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32322949
E-mail: tarcisio@hotlink.com.br

Tereza Tenório
Endereço Postal: Rua Rui Calaça, 85, ap. 1001, Espinheiro,
52000-020 - Recife/PE
E-mail: novethal@aol.com

Vernaide Wanderley
Endereço Postal: Rua Esmeraldino Bandeira, 375, ap. 701,
Graças, 52011-090 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32416920
E-mail: vernaide@uol.com.br

Vital Corrêa de Araújo


Endereço Postal: Rua Santana, 202, Casa Forte, 52060-460 -
Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33413110
E-mail: vital.ubepe@ig.com.br

729
Waldemar Cordeiro
Contato: Marcos Cordeiro
Endereço Postal: Rua Prudente de Morais, 231, Carmo,
53020-140 - Olinda/PE
Fone residencial: 81 – 34290995 -92152003
E-mail: moxoto@hotmail.com

Walter Cabral de Moura


Endereço Postal: Rua Sebastião Alves, 243, ap. 502,
Tamarineira, 52060-110 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 32685118
E-mail: wacmoura@nlink.com.br

Weydson Barros Leal


Endereço Postal: Rua Pedro Bérgamo, 273, ap. 302,
Boa Viagem, 51021-320 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33278801
E-mail: weydson2@terra.com.br

Wilson Araújo (Was)


Endereço Postal: Rua Dom José Lopes, 665, ap. 1103,
Boa Viagem, 51021-370 - Recife/PE
Fone residencial: 81 - 33261558

Zeto – José Antônio do Nascimento Filho (1956-2002)* **


Contato: Bia Marinho
Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea
509080-250 - Recie/PE
Fone: 81 - 32696866 - 96622137
E-mail: marinhosje@gmail.com

730
Índice de Títulos e Primeiros Versos

A Acauhan - A malhada da Onça, 241


A alma como testemunha, 477
A arquitetura como construir portas, 211
A bailarina, 190
A Cabra do Moxotó, 360
A cada instante passa um outro instante, 259
A cidade de Recife, 123
A cidade é passada pelo rio, 203
A cidade, 402
A construção, 352
A emoção, 122
A escravidão, 77
A espera, 509
À estrela que acompanhada a lua, 117
A forma resplandente, 260
A hipnotizadora francesa, 427
A ilusão, trama fluídica, se tece, 157
A infância (com mote de Maximiano Campos), 240
a lágrima tatuada, 486
A luz imóvel, 336
“A modelo negra é mais barato,” 460
A música, 351
A ponte da Boa Vista, 488
A relva macia, 213
A roda da vida, 450
A rosa, encontro na florista, 401
A seguir os passos das musas, 400
A seriema, 125
A solidão e sua porta, 245
A terceira pele, 448

731
A Terra - O Sertão, 337
A Terra da Poesia, 699
A uma estrela, 117
A uma Maria qualquer, 201
A uma menina, 84
A velha metáfora, 401
A Verdade é como uma flor, 288
A verdade e sua sombra, 288
A vida é assim, querida: de hora em hora, 115
A virtude, 95
A volta da Asa Branca, 215
Abri urgente, 404
Acauã, 214
Acauã, acauã, 214
Acontece, 191
Açucena, 194
Adeus cabelo, 319
Adeus! Já nada tenho que dizer-te, 78
Afagos de Pablo, 416
Ágil mármor das águas turbulento sêmen conturba, 381
Agora todos mortos vão dormindo, 449
Agora/ devo só esperar que as coisas aconteçam, 224
Ah, o La Caruña, 332
ainda há, 169
Alberto da Cunha Melo, 494
Álbum de família, 463
Aluvião, 272
AMA (DOR) AS, 274
Amor de águas de seda, 290
Amor ultramilênio, 256
Amor, 432
Amo-te, 111
Anacreôntica, 67
Anda o silêncio perturbando tudo, 116
Andeja, airosa, arisca, ei-la, a seriema, 125
Animula, 258
Anotações a oeste de Aldebarã, 364
Antes das cidades existiam poetas, 502
Antes destes teus símbolos submersos, 502

732
Anuário 2 Logofania, 524
aos 6 anos, 457
Aos filhos da pátria, 71
Aos que me querem como eles; Elogio da mulher pobre;, 186
Apelo ao Quixote, 316
Apelo, 342
Apipucos, casa 77, 333
Aquário, 293
Aquele rio, 207
Aqui morava um Rei quando eu menino, 241
Argumento de defesa, 110
Arrependimento, 129
Arte de amar, 118
Artistas, 98
as águas de tua hora, 371
As águas estão quietas, 350
As almas das cigarras, 130
As andorinhas, 505
As cigarras morreram... Todavia, 130
As luas, 140
As mãos, 410
As mãos do Mestre Vitalino, 410
Às vezes pegava minha flauta, 395
assim que foram feitas as horas, 521
Assombração, 457
Astro brihante, majestosa lua, 97
Até o fim, 170
Atracar, 503
Atravessarei o tempo, vencerei a distância, 196
Ausência, 196
Ausência, 218
Ausente, 115
Aves, 521
Axioma, 185
Barcos no Capibaribe, 344
Basta, Senhor! O bárbaro castigo, 105
Bate a porta da limusine, 267
Bendita sejas, 59
Berço profundo, 428

733
Bernburg, amarga lembrança, 332
Black Sabbath, 479
Blue, 413
Bolsa de valores, 480
Bruxelas, 347
Café concerto, 265
Cai o silêncio escuro. Em pólos da alma, 179
Caíram sobre o mar, 374
Caleidoscópio, 500
Caminhos misteriosos, 512
Canção invertida para Mariana, 496
Canção da floresta, 404
Canção para os que nunca irão nascer, 137
Canção para Victor Jara, 444
Canção, 376
Cantando, 79
Cantar o amor que passa além da vida, 256
Cântico, 484
Canto de cristais, 355
Canto de Proteu, 47
Canto dos emigrantes, 321
Cantos da definitiva primavera, 395
Capibaribe, meu rio, 143
Capibaribe, meu rio/espelho do meu olhar, 143
Carnaval frevo, 147
Carrego nos ombros meus instrumentos, 233
Cartografia poética de Pernambuco, 693
Cego de amor, 102
Cena campestre, 85
Ceticismo, 96
Cheio de vidas, 409
Chore Bahia mísera!, 361
Chore Bahia mísera/pelo sangue de José Inácio!, 361
Chuva de caju, 136
Cidade ou cidadela?, 220
Cigano do ar, 297
Cinzas, 366
Círculo amoroso, 378
Clave oculta, 363

734
Colhidos da sombra: A bailarina; Acontece, 190
Com Eric Clapton, um branco, 413
Com pouco faço meu sonho, 481
Com seus pássaros, 321
Comícios íntimos, 262
como desenhar a lágrima, 486
Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve, 136
Como uma lâmina percorro teu pescoço fino, 512
Composições I e II, 216
Conceição, 126
Confidências, 97
Construção, 251
Corações insensíveis, 267
Covardia, 106
Cromo, 104
Cruz em haicai, 346
D Rita Joanna de Souza - Pernambucanas Ilustres, 48
Da viagem, 294
De braúna foi feito este batente, 467
17 de Novembro de 1889, 99
de onde assisto aqui, 454
De sempre, 458
Décimas, 64
Decomposição, 447
Deitado agora como um som que cala, 258
Demasiado humano, mas sem piedade, 491
Depoimento, 224
depois do teu nome já todos os nomes te dizem, 524
Desafio, 418
Desce a noite sombria do horizonte, 90
Desconversa, 236
Descripção do Recife de Paranambuco, 45
Desejo, 266
Desejo no arrecife, 460
Desespero, 105
Deste amor torturado e sem ventura, 129
Deuses sonoros, 517
Diante de estrelas, 387
dicção víbora, 384

735
Discurso do Capibaribe, 207
Discurso semiótico, 389
Disse alguém, por maldade ou por intriga, 110
Disse-me que amava em mim a estrela, 432
Do Gosto para o desgosto, 182
Do moço e do bêbado, 473
Do ser expectante, 228
Dois sonetos de abril, 161
Dormem! Sozinha e assustada e trêmula, 96
Dormir, dormir profundamente e mais, 407
Dos arcos da ponte te contemplo, 284
Dos caminhos de ir e voltar, 445
Dou-te o meu coração cheio de enlevos, 93
Drácula, 268
Dual, 322
Duas paisagens, 411
Dúvidas, 250
E eu galguei o alcantil tendo-a em meus braços, 239
E frio ele contamina, 314
É noite de São João Toda cidade, 434
E o depois eu conto, 455
E se inda houver amor, 435
E se inda houver amor eu me apresento, 435
É sempre o mesmo leito pedregoso, 101
Edifício apagado, 202
Eis meus sonhos gentis, eis minhas horas, 94
Ela cantava, sua voz dizia, 79
Ela foi-se! E com ela foi minh‟alma, 72
Ela me vem assim: esquiva… dúbia… estranha…, 122
Ele é tão delicado!, 290
Ele se desfez do paletó de nuvem, 416
Elegias para o padre Romano Zufferey, 188
Eles piscam, 461
Elogio da mulher pobre, 186
Em dia destes (muito breve), 237
Em dourados salões, ao som da orquestra, 85
Em meio ao turbilhão, 464
Em meio às paredes de um quarto sombrio, 533
Em respeito aos que retornam, 417

736
Em sua tenda de cedar, 231
Em teus olhos de pausa, tempo e espera, 195
Em vão tentais nos ocultar a chama, 107
Emboladores envenenados, 517
Empresta-me o teu éter, 503
Encômio de repetição, 59
Encontrei-a de súbito, 468
Engenho d‟Uchoa, 384
Então eles se perdiam naquele amoroso delírio, 398
Então pintei de azul os meus sapatos, 246
Entre a napa e o espelho, 251
Entre as filas de verde um homem vem e vai, 178
Entre Marília e a pátria, 66
Entre Marília e a pátria/Coloquei meu coração, 66
Entre os sangues da guitarra, 363
Entre um casario e outro, 388
Epílogo, 301
Epitáfio para um burocrata, 472
Era a Face Amada A amargura, 431
Erúpvias vias dúbias, 425
Escolheram-me rainha, 292
Escorados na tarde, 365
Escrevi mil e uma fantasias, 534
Escurecia e o dia era tão frio, 347
Esfinge, 519
Essa tarde durou uma açucena, 194
Esses teus seios pulados, 244
Esta cidade que se alarga, 411
Esta lágrima é de outro, 188
Esta espera é pássaro ferido, 509
Este canário, estes cajás, a tarde, 406
estou aqui, no meio da ponte, 442
esvoaço janela adentro, 268
Eu amo o gênio, 76
Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido, 76
Eu cismo: contemplo a aurora, 104
Eu ouço as vozes, 149
Eu pego da curva do sossego, 510

737
Eu te respeito, 186
Eu te vejo chorar Não imaginas, 127
Eu vejo tanta beleza, 370
Fábula de um arquiteto, 211
Face amada, 431
Falo com lábios vermelhos, 242
Falo do que não falo quando falo, 272
Farejo em meu passado um momento perdido, 463
Faz da gravata, 472
Fazenda velha querida, 153
Feliz de ti que ainda choras, 127
Fez lembrar-me a voz do grilo, 172
Fiéis vassalos, tenha hoje Albânia, 52
Filhos da Pátria, jovens brasileiros, 71
Fim de feira, 422
Foi assim, 163
Foi quando morri Apareceu-me um anjo, 458
Folha seca, 357
Folhas/Bonecas/Velocípedes, 450
Fora melhor a ausência e não ter visto, 218
Fragmento do acaso, 493
Fragmentos da Pátria, 501
Fusão, 271
Gênese, 286
Gênio! Gênio! inda mais! Supremo esforço, 74
Geografia do campo soberano, 249
Geografia do mal, 483
Gesto de sol e grega alvenaria, 302
Golpe de Estado, 428
Grafito I, 425
Grafito II, 426
Há de vibrar teu corpo em claridade, 433
Há muito o que adorar, 339
Há nos homens daqui uma tristeza, 393
há uma hora exata a morte esguia, 498
Hai Ku & Tanka (Waka), 158
Harpas, 518
HEI de lembrar-me sempre de ti, 192
Herculamum e Pompeii, 426

738
(H) INOCÊNCIA (poema pascal em sete dores), 275
Hiroschima meu amor, 318
Hoje é o dia em que o filho, a toda hora, 421
Homenagem à Virgem Maria, 180
Houve passos nas pedras, 299
Humildade, 173
Humildade, 383
Ilha de coral, 88
Impropérios, 414
Incenso aceso, 514
Insensação, 514
Inspiração súbita, 74
Interpretação das ruínas, 299
Jardins suspensos, 374
Katorga, 498
Lá nas plagas de flores e harmonias, 88
Lá se foi Maria da Penha, 403
Lamento, 403
Lápide, 465
Latitude urbana, 388
Leio: “Meu bem não passa-se um só dia, 109
Lição antiga, 178
Livro de Francisca, 407
Lord Jim, 464
luaredo, 487
Lúcido, 409
Maçãs negras, 243
Macrolove, 358
Madre, não é assim que justificamos os mortos, 336
Mãe – dicionário de afeto, 471
Mãe, 471
Maio, 171
Mais uma vez, bato a sua porta, 485
Maria, 201
Maria, José, Jesus, 462
Mariana, quem foi, que vaga-lume, 497
Matinê, 279
Me despeço de mim, 311

739
Meia-noite e meia a lua, 364
Mes rapports avec Rimbaud, 320
Meu amigo, 460
Meus sonhos, 94
Mil amores cantei Fáceis amores, 144
Minha terra tem palmeiras, 501
Minha ventura única na terra, 102
Minh‟alma se feriu na rocha nua, 453
morrerei cantando, Victor Jara, 444
Morte sucessiva, 174
MORTO PELA SEGURANÇA, 322
Mote em decassílabo, 367
Movem-se os sinos, 247
Mudança, 255
Mulher, 292
Muros e grades, 277
Na madrugada esquisita, 244
Na modulada canção que agora canto, 137
Na terra não existiu semelhante canto, 475
Não as juras de amor, 391
Não conheço os pontos cardeais, 329
Não deixes que a tua, 316
Não quero ser para você, 358
Não resta tinta sobre tinta, 278
Não serei de outro, 186
não sou poeta de pátrias e pátios, 414
Não tenhas medo, 174
Não terei a pressa, 216
Não vim pra ficar, 297
Não, não pares, 170
Naquele tempo disse João, 303
Nas esquinas, 518
Nas ruas da velha cidade, 469
Nas ruas de Hiroshima ainda rodam, 318
nasci pedro, assim me encaixo, 415
Natal, 314
Natureza morta, 478
Naufrágio, 515
Negro adeus, 78

740
Nem te sonhava mais, pássaro de fogo, 212
Néon, 461
Neste dia de aniversário, 508
Ninho de Condor, 80
No alto, a paisagem verde-escura e acidentada, 121
No batente de pau do casarão, 467
No bosque, 242
no orvalho da face, 158
No rastro da verdade iniciada, 353
No Recife, 488
No silêncio das árvores, 169
No vasto panorama que aprecio, 294
Noites da poetisa, 96
Noiva mística, 103
non-music: eyeliner, 526
Nos luares que moram em teu olhar, 382
Noturno, 131
Noturno, 298
Nova colheita da poesia da terra, 37
Num canto de jardim fez o seu bosque, 470
Numa clara visão de céus escampos, 171
O advento da flor, 270
O amor em mim está maduro, 293
O amor mal correspondido, 57
O aniversário, 508
O arco da imagem, 250
O canto do cisne, 144
O cão lingüístico, 525
O cão sem plumas, 203
O compromisso, 456
O equilibrista, 269
O Evangelho consoante João da Silveira Severino, 303
O filho, 315
O fio de cobre de tua voz, 420
O gênio da raça castanha, 383
O lado aberto, 482
O lado aberto te esconde, 482
O lavrador e o templo, 405
O leve pássaro, 234

741
o lixo atapeta o chão, 422
O meu país é a lembrança, 353
O nada dizer sob os risos, os erros, 400
O não do sim, 454
O negro, 90
O nosso Arão exulta de alegria!, 56
O órfão de Belém, 247
O outro Brasil que vem aí, 149
O peso do sentir, a glória de viver, 261
O poeta, quando jovem (Lendo Augusto dos Anjos), 257
O poeta, 198
o porto de tua hora, 373
O que até hoje me tem dado a vida, 128
O que haverá de urgente?, 301
O que mais queres?, 93
O retrato move-se, 356
O rio, 101
O rio da insensatez, 312
O rio da minha infância, 184
O rosto dessa gente me esmaga, 392
O Sertão principia, 337
O signo, somente, 389
O silêncio das pedras, 453
O sino bate, 133
O sol, 200
O sol além da minha rua, 380
O Sol é um grande artista, na verdade, 200
O sonâmbulo, 219
O tempo passa, 202
O teu silêncio que procura distâncias, 190
O trono da minha terra é verde, 506
O vento é do Pina, 252
O vice Deus, 330
Observação, 356
Ofício da busca, 233
Ofício do semeador, 231
Olho e vejo a praça:, 262
Olinda, 121
Onde as presas do tempo, 355

742
Onde dispor o silêncio, 265
Opera aperta (Alvo pudico alvo), 381
Opera aperta (Licor ao luar), 382
Os amigos chegam, ponho a mesa, 187
Os amigos, 187
Os girassóis de Van Gogh, 261
Os habitantes perderam-se, 296
Os mistérios do céu, 219
Os mortos, 449
Os países inexistentes, 141
Os pés, as mãos, 490
Os pontos cardeais, 329
Os prazeres da vida se extinguem, 95
Os últimos passantes, como tudo, 145
Outono, 344
Outras juras, 391
Outro, 56
Paço do cume dos olhos, 427
Pagando motes, 182
Paisagem do Capibaribe, 203
Pantaleão, 153
Para Ênio Silveira, 262
Para Maximiano Campos, 393
Para nós um operário nasceu, 390
Para você mesmo, Esdras, 128
Paralelepípedro, 415
Parco rio da insensatez, 312
Passagem na ponte, 442
Passeio, 277
Pátria do meu amor! Recife linda, 123
Pecador e justo, 313
Pediria ao poeta, 298
Pela noite, 116
Pelas sarças de luz da imensa altura, 103
Pellos ares retumbe o grave accento, 47
Pelo que bem pareça, 283
Percebes, 228
PERA A parte do Sul, onde a pequena, 45
Pergunta ao céu azul por que é tão belo, 84

743
Pernambuco em antologias, 33
Persistência, 420
Pisando a terra com garbo, 330
Perto ou longe no mar de Dor vagando, 257
Plana, no tempo as faces submersas, 270
Planos de João Mauricio de Nassau-siegne, 481
Pó & Ema, 357
Pobre amor, 160
Pobre rei a morrer, da velha raça, 99
Poema, 281
Poema 100% nacional, 148
Poema amarelo, 406
Poema-falácia, 468
Poema em auto-relevo, 513
Poema sertaniense ou nas ruas da velha cidade, 469
Poesia IV, 495
Ponte em haicai, 345
Por dentro, 492
Por detrás da poeira, a solidão, 352
Por mais divino o menino de Maria se guarde, 390
Por uma tarde, em Rússia, à fonte ia, 317
porque você nada sabe da insônia, 436
Postal romântico, 387
poucas coisas são de valia neste mundo:, 456
Primeira elegia, 188
Primeira cancão para Mariana, 497
Procuro a carne da palavra adusta, 448
Profundamente, 119
Prólogo, 176
Proposta, 223
Qu‟importam lágrimas de saudade infinda, 96
Quadro, 490
quando amar, 515
Quando cessou a campanha, ela disse, 334
Quando mais nada resistir que valha, 245
Quando não é chuva, 282
Quando ontem adormeci, 119
Quando os teus olhos fito e leio neles quanto, 111
Que a voz do poeta nunca se levante, 173

744
que instante, 455
Que seja assim, 315
Quem se atreverá a ferir as begônias, 418
Queres partir comigo para países muito distantes, 141
Queria ver o mar Pediu que não chovesse, 236
Quero escrever meus versos, 504
Quisera ser o sol, 223
Quixote morto, 145
Rebouças e José do Patrocínio, 367
Rebuscavam os dias, 365
Recife, 163
Recife, 252
Recife, 319
Recife, 440
Recife antigo e novo, 295
Recife das serenatas, 295
Recife, diluidora, 483
Recife, essa doença, 392
Reincidente, 485
Reino do verde, 506
Ressuscita-me, 342
Retire, um a um, 255
Revolver cinza é não vexar, 366
Rio da saudade, 184
Rios e mar formam tuas ilhas, 220
Rosa se foi, 484
SOS Brasil, 282
Santo Anjo do Senhor, 271
Se Amor quisesse me emprestar as asas, 112
Se amor vive além da morte, 64
Sê como o templo natural, 405
Se Deus é quem deixa o mundo, 77
Se eu morrer amanhã, há de ter sido, 281
Se eu não vivera tão empobrecido, 55
Se eu pudesse voar, 112
Se eu tivesse algum dia essa ventura, 114
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma, 118
Se um sentimento cada flor resume, 108
Se, no seio da pátria carinhosa, 70

745
Segunda elegia, 188
Seguro, 278
Selvática fazenda, hoje sagrada, 126
Sem formalidade, 311
Sem lei nem Rei, me vi arremessado, 240
Sem mamãe, 421
Sem palavras, 534
Sem pedir licença, 351
Sem seu ninho o condor nos cumes da montanha, 80
Sem título, 283
Sempre a espreitá-lo a morte que não cansa, 177
Senhora, eu não conheço a frase almiscarada, 98
Senhora, vou contar-vos um segredo, 160
Sentimento súbito, 436
Ser criança em noite de Natal, 264
Serenata, 82
Sextina da vida breve, 237
Sextina do gato bárbaro, 234
Silêncio em Apipucos, 152
Simun, 222
Sinestesias, 496
Sintaxe feminina, 109
Sobre a população desta amarga cidade, 140
Sofri que só Foi, 500
Sombra que adoro, e temo, e osculo, e odeio, 106
Sonata à Lílian ou As sombras no espelho, 192
Soneto da vida e da Morte, 179
Soneto das tempestades, 441
Soneto da transfiguração, 470
Soneto de Chang, 302
Soneto do desmantelo azul, 246
Soneto do entardecer, em Rússia, 317
Soneto do tédio, 195
Soneto reciclado de Olímpio Bonald Neto, 257
Soneto, 55
Soneto, 69
Soneto, 70
Soneto, 107
Soneto, 177

746
Soneto, 239
Sonhando, 114
Sonhei com o teu quintal, 243
Sonho de pedra, 284
Sou a saudade, 222
Sou a semente que se biparte, 185
sou como Deus, 513
Sou mais pobre do que Job, 198
Sou neto das tempestades, 441
Sozinho, de noite, 131
Surge Capibaribe, que serpeja, 69
Talvez existam olhos, 333
Também me exilei, 320
Tantas vezes a fadiga se desmancha, 264
Tarde em Itamaracá, 350
te recebo em mim pela porta do mundo, 286
Teia de Penélope, 157
Televisão, 146
Tem gente com fome, 167
Tempo, instante, coração, 259
Tenho minha calma consumida, 146
Tépido sol de abril, céu azulado, 161
Tocávamos clarinete na corda bamba, 269
Toda saudade, 520
Todavia, um cérebro demente, 260
Traz teu encanto, 519
Treino de sombra, 339
Trem de Alagoas, 133
Trem sujo da Leopoldina, 167
Tristeza Noturna, 533
Tróia, 520
Trovas, – cantiga do povo, 124
Trovas, 124
Trovas, 172
Tu, ó Virgem soberana, 180
Tudo é assim, 191
Tudo o que digo a ela é o oposto, 496
Um caminho no sertão, 480
Um dia, Capitão, contarei essa história, 354

747
Um guarda-chuva, 147
Um homem passou em minha vida, 188
Um pecador sem vaidade, 491
Um perfume qualquer, 266
Um sonho, 72
Uma canção de amor para Violeta, 475
Uma charada tropical, 492
Uma cidade, 440
Uma cidade não morre de vez, 402
Uma voz, duas vozes, 334
Usaria ao falar de Sibonei, 176
Várias vezes ele e ela, 279
vejo esses olhos, 274
Vem escutar-me, 67
Vem, não tardes, vem depressa, 82
Venhas, por onde quer que venhas, 249
Ver o Recife, para mim, é como, 199
Ver o Recife, 199
Viagens de Celina, 186
Vida, 510
Violam os violões, 376
Violetas, 108
Visita, 296
Visual poema, 429
Voltar, 417
Vou estar em ti, 378

748
Índice Onomástico

A Anna Alexandrina Caval-


canti D‟Albuquerque
Adelmar Tavares (1888-
(1860–)** 12, 41, 90,
1963)** 14, 41, 123,
542
124, 535
Antônio Campos 33
Alberto da Cunha Melo
Antônio Campos (1968)*
(1942-2007)* ** 22,
** 11, 29, 37, 41, 315,
38, 41, 321, 328, 494,
506, 542, 543, 544,
536, 537, 538, 549,
545, 564, 565, 567,
554, 557, 563, 564,
641, 642, 693, 700,
565, 566, 570, 574,
704, 706
578, 580, 587, 594,
Antonio Candido 40
598, 602, 608, 617,
Antonio de Campos
637, 669, 683, 695,
(1946)** 24, 41, 390,
704
546
Alcides Lopes de Siqueira
Antonio Joaquim de Mello
(1901-1977)** 15, 39,
37, 41, 706
41, 153, 538, 539, 616
Antonio Marinho (1987)* **
Almir Castro Barros (1945)*
30, 41, 533, 546, 696
** 23, 41, 365, 539,
Ariano Suassuna (1927) 18,
580, 598, 611, 695
41, 240, 539, 547, 548,
Alvacir Raposo (1950)* 26,
557, 561, 567, 571,
41, 433, 540
604, 630, 641, 657,
Ana Maria César (1941)* **
678
21, 41, 311, 540
Arnaldo Tobias (1939-
Ângelo Monteiro (1942)*
2002)** 20, 41, 282,
22, 41, 329, 541, 542,
548, 566, 598, 668
598, 641, 669, 695

749
Ascenso Ferreira (1895- Carneiro Vilela (1846-
1965)** 14, 41, 131, 1913)** 12, 42, 80,
132, 549, 550, 641, 558
647, 696 Celina de Holanda (1915-
Assis Lima 39, 42 1999)* ** 16, 42, 186,
Audálio Alves (1930-1999)** 558, 559, 561, 601,
19, 42, 247, 550, 551, 651
696 Celso Mesquita (1947)* **
Austro Costa (1899-1953)** 24, 42, 400, 559
15, 42, 143, 551, 552, César Leal (1924)* 18, 40,
600, 661, 696 42, 219, 503, 536, 540,
557, 559, 561, 569,
580, 598, 603, 630,
631, 632, 641, 656,
B 663, 678, 695, 696
Bartyra Soares (1949)* ** Chicão – Francisco José Trin-
25, 42, 418, 552 dade Barrêtto (1941)**
Bastos Tigre (1882-1957)** 21, 42, 313, 561
13, 42, 109, 110, 553 Cícero Melo (1952)* 27, 42,
Benedito Cunha Melo 448, 562
(1911-1981)* ** 16, Cida Pedrosa (1963)* ** 28,
42, 171, 538, 554, 555 42, 413, 486, 562, 574
Bento Teixeira ( ± 1550- Clarice Lispector 40, 41
1600) 11, 42, 45, 555, Cláudia Cordeiro 11, 30,
664, 679, 694, 706 43, 537, 538, 543, 544,
545, 563, 565, 693,
700, 703, 706
Clélia Silveira (1920)** 17,
C 42, 201, 565
Carlos Moreira (1918)** 17, Cloves Marques (1944)* 22,
42, 194, 556, 557 42, 345, 566
Carlos Pena Filho (1930- Cyl Gallindo (1935)* ** 19,
1960)** 19, 42, 245, 37, 41, 42, 262, 537,
536, 537, 546, 551, 543, 545, 561, 566,
556, 557, 598, 622, 638, 668, 669, 703
637, 695

750
D Edwiges de Sá Pereira (1885-
1959)** 14, 42, 116,
Deborah Brennand (1927)**
574
18, 42, 242, 567, 619
Elisa M. B. Torres 39
Dedé Monteiro – José Ru-
Elizabeth Hazin (1951)**
fino da Costa Neto
26, 42, 440, 574
(1949)** 25, 42, 421,
Emília Leitão Guerra (1883-
467, 568
1966)** 13, 42, 111,
Delmo Montenegro (1974)*
576
** 30, 42, 525, 569,
Erich Auerbach 696
663, 695, 696
Erickson Luna (1958-2007)*
Demóstenes de Olinda
** 28, 42, 409, 472,
(1873-1900)** 13, 42,
576, 589, 602
103, 569
Ermelinda Ferreira 704
Deolindo Tavares (1918-
Esdras Farias (1889-1955)**
1942)** 17, 42, 196,
14, 42, 127, 128, 577,
570, 641, 696
578, 679
Dione Barreto (1955)* 27,
Ésio Rafael (1948)* ** 25,
42, 456, 570
42, 409, 578
Divaldo Pereira Franco 704
Esman Dias (1937)* 20, 42,
Domingos Alexandre
271, 347, 579
(1944)* ** 22, 42,
Eugênia Menezes (1939)*
347, 571
20, 42, 284, 549, 580,
594, 695
Eugênio Coimbra Jr. (1905-
E 1972)** 15, 42, 160,
162, 540, 581, 630,
Edmir Domingues (1927- 662, 682
2001)** 18, 42, 237, Everardo Norões (1944)*
551, 571, 572, 615, 23, 42, 351, 579, 580,
619, 631 581, 611, 639
Edson Régis (1923-1966)** Ezra Pound 693, 697
17, 42, 216, 572, 682
Eduardo Diógenes (1954)*
** 27, 42, 436, 454,
573
Eduardo Martins (1962)* **
28, 42, 482, 573

751
F Gilberto Freyre (1900-
1987)** 15, 42, 149,
Faria Neves Sobrinho (1872-
151, 543, 570, 593,
1927)** 13, 42, 101,
594, 595, 601, 637,
102, 582
641, 648, 663, 664,
Fátima Ferreira (1965)**
668, 699, 705
29, 42, 500, 583
Gilberto Mendonça Teles
Fernando Monteiro (1949)*
30, 37, 38, 593, 699,
** 26, 42, 425, 583,
703, 706
584, 592
Gladstone Vieira Belo
Flávio Chaves (1958)** 28,
(1946)* ** 24, 42,
42, 475, 585
387, 598
Francisca Izidora Gonçalves
da Rocha (1855-
1918)** 12, 42, 85,
586, 587 H
Francisco Altino de Araújo
(1849–)** 12, 42, 84, Helder Camara [Dom]
587 (1909-1999) 16, 42,
Francisco Bandeira de Mello 169, 599
(1936)* ** 20, 42, Helena M. Uchara 39
269, 587, 588 Hildeberto Barbosa Filho
Francisco Espinhara (1960- 30, 38, 693, 698, 703
2007)* ** 28, 42, 478, Homero do Rêgo Barros
577, 588, 589 (1919)* ** 17, 42,
Francisco Ferreira Barreto 199, 600
(1790-1851)** 12, 42,
67, 589
Frei Caneca (1779-1825)** I
11, 42, 64, 65, 66, 220,
588, 590 Inez Fornari 703
Isabel de Andrade Moliterno
38, 39, 704
Isac Santos (1962)* 28, 42,
G 484, 601
Geraldino Brasil (1926- Ivanildo Vila Nova (1945)**
1996)* 18, 42, 234, 23, 42, 367, 578, 602
591, 592 Ivan Marinho (1965)* 29,
42, 493, 577, 601

752
J José Mário Rodrigues
(1947)* ** 25, 42,
Jaci Bezerra (1944) 23, 42,
402, 598, 611, 669
353, 354, 549, 566,
José Rodrigues de Paiva
578, 594, 598, 602,
(1945) 24, 42, 374,
674, 695
612
Jairo Lima (1945)** 23, 42,
José Rufino da Costa Neto
371, 603
42
Janice Japiassu (1939)* 18,
Juhareiz Correya (1951)**
20, 42, 241, 288, 603,
26, 42, 442, 612, 613,
604, 695
647
Joanna Tiburtina da Silva
Lins (±1860-1905)**
13, 42, 94, 604
João Cabral de Melo Neto L
(1920-1999)** 7, 17,
41, 42, 203, 211, 272, Leila Teixeira 39, 42, 704
297, 537, 557, 570, Lenilde Freitas (1939) 21,
605, 607, 618 42, 292, 613
João Nepomuceno da Silva Lourdes Nicácio (1947)* **
Portella (1766-1810)** 25, 42, 404, 614
11, 42, 59, 606, 607 Lourdes Sarmento (1944)*
Joaquim Cardozo (1897- ** 23, 42, 355, 615,
1978)** 15, 42, 136, 616, 703
537, 550, 551, 566, Lourival Batista (1915-
582, 611, 633, 634, 1992)** 16, 42, 180,
668, 684, 695 546, 616, 617
Job Patriota (1929-1992)* ** Lucila Nogueira (1950)* 26,
18, 42, 198, 244, 546, 42, 435, 617, 618, 636,
608 669, 675, 695
Jorge Wanderley (1938- Lúcio Ferreira (1930)* **
1999)** 20, 42, 279, 19, 42, 250, 619
573, 608 Luis Manoel Siqueira
José Almino (1946)* ** 24, (1960)* ** 28, 42, 480
42, 392, 579, 609 Luiz Alves Pinto (± 1745 –
José Carlos Targino (1943)** ± 1815)** 11, 42, 57,
22, 42, 334, 336, 580, 620
598, 610, 695 Luiz Arrais 39

753
Luiz Carlos Duarte (1947)** Marcos D‟Morais (1966)* **
25, 42, 406, 621 29, 38, 42, 502, 632
Luiz Carlos Monteiro Marcus Accioly (1943)* **
(1957)** 27, 37, 42, 22, 42, 337, 598, 632,
468, 621 633, 694, 695
Maria da Paz Ribeiro Dantas
(1940)* 21, 42, 296,
633
M Maria de Lourdes Hortas
Maciel Monteiro (1804- (1940)* 21, 42, 298,
1869)** 12, 42, 72, 634
73, 75, 622, 623 Maria do Carmo Barreto
Malungo – José Carlos Campello de Melo
Farias da Silva (1969)* (1924-2008)** 18, 42,
** 30, 42, 517, 624 224, 552, 635
Manuel Bandeira (1886- Maria Heraclia de Azevedo
1968)** 14, 42, 118, (±1860–)** 13, 42,
550, 567, 593, 595, 96, 636
607, 614, 617, 624, Marilena de Castro (1952)*
626, 627, 658, 684, 27, 42, 450, 636
694, 695 Mário Hélio (1965)* 29, 42,
Manuel de Souza Magalhães 496, 636, 695
(1744- 1800)** 11, Mario Melo (1884-1959)**
42, 55, 627 14, 42, 114, 637, 679
Marcelo Mário de Melo Massaud Moisés 40
(1944)* ** 23, 42, Maurício Motta (1949)* **
357, 628 26, 43, 427, 566, 638
Marcelo Pereira (1964)* ** Mauro Mota (1911-1984)* **
29, 42, 491, 628 16, 43, 173, 175, 256,
Márcia Maia (1951)* ** 26, 540, 551, 559, 564,
42, 445, 630 582, 599, 638, 639,
Marco Polo Guimarães 641, 663, 668, 679,
(1948)* ** 25, 42, 686, 687, 695, 696
411, 598, 630, 695 Mauro Salles (1932)* ** 19,
Marcos Cordeiro (1944)* ** 43, 252, 639, 640
23, 40, 42, 360, 539,
631

754
Maximiano Campos (1941- O
1998)** 18, 21, 24,
Odile Vital César Cantinho
43, 240, 315, 393, 542,
(1915)* ** 16, 43,
543, 544, 570, 598,
184, 650
622, 640, 668, 686, 704
Olegário Mariano (1889-
Medeiros e Albuquerque
1958)** 14, 43, 129,
(1867-1934)** 13, 43,
130, 651, 652, 696
98, 100, 642, 696
Olímpio Bonald Neto
Micheliny Verunschk (1972)*
(1932)* ** 19, 43,
** 30, 43, 519, 645,
256, 257, 653, 679
695
Orismar Rodrigues (1943-
Montez Magno (1934)* **
2007)** 22, 43, 342,
19, 43, 260, 645
655, 656
Múcio de Lima Góes (1969)*
Orley Mesquita (1935-
** 29, 43, 513, 647
2006)* 19, 43, 265,
Múcio Leão (1898-1969)**
579, 656
15, 43, 140, 142, 646,
679
Myriam Brindeiro (1937)* **
20, 40, 43, 274, 549, P
648, 695
Patrícia Lima 43
Paulino de Andrade
(1886–)** 14, 43,
N 121, 657
Paulo Bandeira da Cruz
Nádia Batella Gotlib 40
(1940-1993)** 21, 43,
Nádia Reinig Moreira 39
302, 657
Natividade Saldanha (1796-
Paulo Bruscky (1949)* **
1830)** 12, 43, 70,
26, 43, 429, 658, 680
552, 649
Paulo Caldas (1945)* ** 24,
Nelson Saldanha (1933)* **
43, 378, 659
19, 43, 258, 650
Paulo Cardoso (1939-
Ninon Tásia da Silva Alves
2002)** 21, 43, 294,
39, 704
660
Norma Baracho Araújo 43
Paulo de Arruda (1873-
1900)** 13, 43, 105,
660

755
Paulo Gustavo (1957)* ** Sérgio Moacir de Albuquer-
28, 43, 470, 660 que (1946-2008)* **
Pedro Américo de Farias 24, 43, 395, 566, 598,
(1948)* ** 25, 43, 668
414, 580, 611, 661 Severino Filgueira (1937)
Pedro Vicente Costa Sobrin- 20, 43, 277, 669
ho 703 Silvana Menezes (1967)*
Pedro Xisto (1901-1987)** 29, 43, 504, 670
15, 43, 158, 661, 662 Solano Trindade (1908-
Pietro Wagner (1972)* ** 1974)** 16, 43, 163,
30, 43, 521, 662, 695, 166, 601, 670, 671,
696 696
Potiguar Matos (1921- S.R. Tuppan (1969)* ** 29,
1996)** 17, 43, 212, 43, 510, 666
663 Suzana Brindeiro Geyer-
hahn (1942-1996)* **
22, 43, 319, 671
R
Raimundo Gadelha 39
T
Rita Joana de Souza 695
Rita Joanna de Souza (1696- Tadeu Alencar (1963)* 27,
1718)** 11, 43, 48, 43, 463, 672
664, 665, 666 Tarcísio Meira César (1941-
Rui Ribeiro 704 1988) 21, 43, 317,
566, 598, 673
Tarcísio Regueira (1956)* **
27, 43, 461, 673
S Targélia Barreto de Meneses
Sebastião Uchoa Leite (1879-1909)** 13, 43,
(1935-2003)** 20, 43, 107, 674, 676, 695
267, 575, 667 Tereza Tenório (1949)* **
Sebastião Vila Nova (1944) 26, 43, 431, 674, 695
23, 43, 363, 667, 695 Tobias Barreto (1839-1889)
Sérgio Bernardo (1942)* ** 12, 43, 76, 367, 674,
22, 43, 332, 669 675, 676, 677, 682,
Sérgio Milliet 40 695

756
Tomás Seixas (1916-1993)** Waldemar Lopes (1911-
17, 43, 190, 392, 678 2006)** 16, 43, 178,
T. S. Eliot 693 683, 684, 696
Waldimir Maia Leite (1925-
2010)* ** 18, 43,
231, 685
U Walter Cabral de Moura
Ulisses Lins de Albuquerque (1955)* 27, 43, 458,
(1889-1979)** 14, 39, 686
43, 125, 678, 679 Weydson Barros Leal
Urbano Lima 182, 183 (1963)* ** 28, 43,
488, 686
William Ferrer Coelho
(1924-2006)* 18, 43,
V 222, 687
Vanildo Bezerra (1899- Wilson Araújo de Souza
1989)** 15, 43, 145, (WAS) (1945)* 24,
680 43, 383, 688, 730
Vernaide Wanderley (1948)*
25, 43, 416, 580, 680
Vicente do Rego Monteiro Z
(1899-1970)** 15, 43,
147, 148, 659, 669, 680, Zé Dantas – José de Sousa
681 Dantas Filho (1921-
Vital Corrêa de Araújo 1962)** 17, 39, 43,
(1945)* ** 24, 43, 381, 214, 688, 689
681 Zeto – José Antônio do
Vitoriano Palhares (1840- Nascimento Filho
1890)** 12, 43, 78, (1956-2002)* ** 27,
682, 683 43, 466, 546, 689

W
Waldemar Cordeiro (1911-
1992)* ** 16, 43, 176,
683

757
Este livro foi composto e editado eletronicamente na fonte New Baskerville,
com tiragem de 1.500 exemplares.
Impressão em papel Chamois Fine Dunas, 67g/m², para o miolo e
Triplex, 250g/m², para a capa.
Produzido pela Gráfica Santa Marta.
João Pessoa, Brasil, outubro de 2010.
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