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Tarcísio Vanzin
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D419h
CDU: 004.03
www.via.ufsc.br
3
CIDADES CRIATIVAS E O
CAPÍTULO 3
COMPONENTE CULTURAL NO
DESENVOLVIMENTO URBANO
Ágatha Depiné, MSc.
Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina
agathadepine@gmail.com
CONTEXTUALIZAÇÃO
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serviços, diminuindo a manufatura. Essa passagem abriu caminho
para a ascensão tecnológica, envolvendo mais conhecimento
intensivo no processo produtivo que no passado (HOUSTON et al,
2008).
É possível afirmar que a principal força propulsora da nova
economia é a criatividade, enquanto responsável por aprimoramentos
e inovações, tornando-se agente central da vida humana (FLORIDA,
2011). Influenciadas pela transformação da cultura e, transformado-
ras da cultura, as cidades têm se adaptado a seu tempo. Assim, ape-
sar de destacar-se na economia, a criatividade passou a ser essen-
cial não apenas na camada individual e na camada organizacional,
mas, também, na camada urbana, para lidar com a sua complexidade
e com as transformações em suas diferentes dimensões: econômica,
ambiental, social, política e etc.
Com a ascensão da economia criativa e das indústrias cria-
tivas, surgiu também o conceito de “cidade criativa”. Esse conceito,
apesar de provocado pela dimensão econômica da cidade, é estrita-
mente ligado a componentes mais subjetivos e intangíveis da mes-
ma, como cultura, tradição, valores e identidade, sendo este conjunto
denominado como: recursos culturais (LANDRY, 2013).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é definir o concei-
to de cidades criativas e fortalecer a cultura como plataforma para
seu desenvolvimento. Para o alcance desse objetivo foi desenvolvida
uma revisão de literatura e a apresentação dos resultados está or-
ganizada em quatro seções: (1) o que é a cidade; (2) a gênese das
cidades criativas; (3) o componente cultural na cidade criativa e (4)
considerações finais.
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dade em si e pode ser constatado, reduzido a ruínas ou funcionar,
mesmo quando essa sociedade já desapareceu”.
Para ele, há correspondência entre a forma da cidade e
a sua organização social. Elas se refletem nos momentos onde há
certa ordem, “mas o postulado da correspondência incondicional
entre cidade e sociedade só funciona bem nas épocas felizes, onde
existe uma medida comum entre as duas realidades e um sistema de
instituições que as estabiliza” (BENEVOLO, 1985, p. 19).
Para Rossa (2002, p. 15), pode-se dizer de uma forma
simples e numa dimensão operativamente dissociada da história
que o “urbano se refere a tudo quanto diga respeito à cidade,
nomeadamente às relações que cada um dos seus utentes estabelece
com os demais entes dessa comunidade e com o ambiente que o
rodeia”. Ele destaca, no entanto, que urbanismo se refere “à realidade
do espaço edificado que, em constante transformação, suporta e
influencia aquelas relações”.
Sua dimensão simbólica pode ser expressa em narrativas
que descrevem a cidade e contribuem para configurá-la como espaço
imaginado. A cidade pode ser compreendida em sua dimensão
representacional, identificável, sob três aspectos (REMEDI, 1999):
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2 A GÊNESE DAS CIDADES CRIATIVAS
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atores urbanos, onde os recursos culturais são percebidos como a
matéria-prima da reestruturação urbana e a criatividade é o método
de exploração de tais recursos. Apesar de eventuais divergências
teóricas encontradas em publicações acadêmicas sobre cidades
criativas, Costa, Seixas e Oliveira (2009, p. 2716) identificaram três
principais vertentes que exploram a relação entre criatividade e
desenvolvimento urbano:
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ta somente em economia. Como encontra-se em constante trans-
formação, um dos traços da cidade criativa é a abertura à inovação,
para além das descobertas científicas e tecnológicas, incorporando:
“a criação de novos modelos de governança, sistemas de criação co-
laborativa a esquemas de engajamento social” (REIS, 2010, p. 23).
Landry (2013, p. 5) afirma que as cidades contemporâneas
enfrentam uma “crise que não pode ser resolvida por uma atitude de
‘conformidade’” e, por isso, a curiosidade, imaginação e criatividade
de seus cidadãos devem ser estimuladas, criando oportunidades
e soluções inovadoras para os problemas urbanos. Em sua visão,
cidades complexas se tornam laboratórios para desenvolver
soluções tecnológicas, conceituais e sociais. Entretanto, para isso,
devem contar com um recurso crucial: seu povo.
Assim, como tem sido fortemente incentivada em atividades
e projetos urbanos diversos, a cooperação e cocriação está
intrinsecamente presente na ideia de cidade criativa. “A inovação
associada à criatividade passa pela mobilização de redes, articulação
dos recursos e participação ativa dos utentes – clientes – cidadãos,
assim como, grupos associativos e coletivos” (ALBUQUERQUE,
2017, p. 430). Neste sentido, o espaço urbano é utilizado como uma
plataforma de inovação aberta à sociedade civil. Ali, “o patrimônio,
associado à criatividade, à inovação e à investigação, constitui um
fator de desenvolvimento socioeconômico” (ALBUQUERQUE, 2017, p.
430).
As cidades criativas estão intrinsecamente ligadas à ideia de
conexões e, essas conexões, integram não apenas áreas específicas
da cidade, mas também diferentes setores - como público, privado
e sociedade civil, além de diferentes esferas de atuação e tempos.
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3 O COMPONENTE CULTURAL
NA CIDADE CRIATIVA
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tar o senso de pertencimento de seus cidadãos, estimulando-os a se
tornarem agentes de mudança e, também, atrair talentos, turistas e
investidores.
Scott (2006), inclusive, destaca que as tradições, convenções
e habilidades que particularizam um local, ajudam a desenvolver
produtos com uma “aura” que não é reproduzível em outro espaço
urbano, justamente pela impossibilidade de encontrar o mesmo
conjunto de recursos culturais em outro local. Como exemplos,
o autor cita a cidade de Nashville com sua música country, a alta
costura parisiense e, até mesmo, o cinema de Hollywood.
Landry (2013) esclarece que, para promover a criatividade
urbana, é necessário tirar proveito da história do local e de sua cultura,
os quais estão incorporados como recursos culturais nas aptidões e
nos talentos das pessoas, pois, de outra forma, a renovação urbana
cria apenas homogeneidade e o domínio do espaço por marcas
similares, tolhendo as características identitárias da cidade. O
planejamento urbano de uma cidade que visa tornar-se criativa deve
basear-se no reconhecimento, gestão e exploração de seus recursos
culturais, por isso o ponto de partida é compreender como ela é:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Num período histórico com tantas contradições e aumento
da complexidade da vida urbana, a criatividade surge como uma
possibilidade de gerar soluções e alternativas nunca vistas antes, por
isso inovadoras. Entretanto, para que isso se concretize, as cidades,
governos e sociedade civil precisam, como afirmou Landry (2013):
“passar por uma mudança de mentalidade”, criando uma dinâmica
que flua sobre as linhas de concordância e ganhe partido entre os
diversos.
Nesse sentido, destaca-se que o desenvolvimento de
projetos e intervenções urbanas não devem descaracterizar as
cidades, mas estabelecer como ponto de partida e de referência
a definição da identidade local, respeitando-a e fortalecendo-a,
tornando a cultura da cidade uma plataforma de desenvolvimento. As
transformações não devem ser guiadas por interesses econômicos,
ideológicos ou até mesmo políticos, mas pela definição daquilo que
caracteriza a cidade e a diferencia de qualquer outro espaço urbano
no mundo.
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ESPINOZA, A. Imaginarios y representaciones urbanas: aproximaciones
latinoamericanas a la questión de la ciudad. Santiago: Universidad
Diego Portales, 2003.
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ROSSA, W. A urbe e o traço: uma década de estudos sobre o urbanismo
português. Coimbra: Almedina, 2002. 443p.