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Como Aprender De Verdade Um Idioma

Jeff Martin
http://www.howtoreallylearnalanguage.com
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Este livro é auto-publicado por Jeff Martin usando os Recursos da Amazon Self-Publication
www.howtoreallylearnalanguage.com
Copyright© 2018-2019 by Jeff Martin
Primeira Edição Outubro 2018
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de breves anotações e citações incluídas em revisões e certos outros usos não comerciais permitidos pela lei dos direitos autorais. Este livro não deve
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Capa por Paul Van Tiem rowdyconcepts@gmail.com


e Tony Shaw tony@aivree.com

Editado por Derek e Katie Miller katierm23@gmail.com

Traduzido por Haroldo Machado hpmachado@hotmail.com

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Nota do Autor
Se depois de ler este livro você sentir que isso te ajudou de alguma forma, por favor lembre-se
de deixar uma avaliação positiva na Amazon. Isso vai ajudar a aumentar sua exposição e enfim
resultará em mais pessoas descobrindo sua habilidade em aprender várias línguas. Além disso,
não se esqueça de fazer parte da minha lista de e-mails em www.howtoreallylearnalanguage.com

-Jeff
Índice
I ntrodução
01 Falha no Sistema
02 Preenchendo a Lacuna
03 Página em Branco
04 Papagaio
05 Os Sons do Idioma
06 Experiência Pessoal
07 Em Curso
08 Fluência
09 Artesão das Palavras
10 Refinamento
11 Poliglota
12 A Boca dos Bebês
13 O Grande Final
Agradecimentos
Eu devo muito à muitas pessoas, incluindo minha esposa, filhas, meus pais, avós,
muitos outros parentes, amigos, colegas de trabalho, professores e estudantes de línguas. Sem
essas pessoas, sem seu apoio, contribuição, e sobretudo sua participação na obra da minha vida,
esse livro não teria sido possível.
.
Introdução

Imagine que você chegou atrasado em um show de mágica. Todas as cadeiras estão
ocupadas, mas você já pagou sua entrada. Os funcionários do teatro te oferecem a chance de
assistir de uma cadeira atrás do palco e dão seu dinheiro de volta. Você gentilmente aceita, se
senta, e começa a assistir ao mágico fazendo um truque com cartas. Em um ponto durante o
número, você observa um sutil movimento com a mão feito pelo mágico que ninguém mais na
platéia seria capaz de ver. Você percebe que ele tem cartas na manga, ainda que todo mundo
veja seu truque como uma mágica. Vários tipos diferentes de truque com as mãos ocorrem desta
maneira, e acontece de você ver os movimentos escondidos de cada truque, revelando os
segredos por trás deles. Você é a única pessoa no teatro com essa vantagem visual.
Depois do espetáculo, o mágico faz um jogo de perguntas e respostas com a platéia. A maioria
das perguntas tem a ver com o modo como certos truques foram feitos. Em vez de responder, o
mágico pergunta pra platéia se alguém é capaz de descobrir as respostas. Por coincidência você
sabe como ele executou cada truque, então você resolve abrir a boca e revelar os segredos do
mágico. Depois do show, várias pessoas se aproximam de você espantados pela sua “habilidade”
e seu “dom” de discernimento e dedução. Eles não têm ideia que você não tem dom coisa
nenhuma. Você simplesmente viu o show de uma perspectiva diferente.
Pessoas frequentemente me elogiam de ter um dom para línguas. Eu só estou tentando
convidá-las pra sentarem atrás do palco. Acho que eu devo me apresentar, então. Meu nome é
Jeff Martin. Sou certificado como Mestre Intérprete de Espanhol da Corte dos Estados Unidos.
Atualmente eu não tenho um diploma. Nunca vivi em um país ou uma casa falante de espanhol.
Eu, como muitos de vocês, tive Espanhol por alguns semestres no ensino médio, mas ainda não
era capaz de falar e entender a língua. Apesar de tudo isso, de alguma forma eu fui capaz de
passar em uma das provas mais difíceis de línguas que existem pra então me certificar um Mestre
Intérprete da Corte.
Eu comecei a aprender línguas estrangeiras de verdade quando eu tinha 17 anos. Poucos meses
depois de terminar o colegial, eu fui em uma missão de um grupo de jovens para o Brasil.
Depois de estar só há 3 dias no Brasil, eu me vi sendo capaz de manter conversas básicas em
Português. Depois da nossa viagem de duas semanas, nós voltamos para os Estados Unidos, e eu
procurei imediatamente por brasileiros para praticar. Fiquei amigo de vários brasileiros na
minha comunidade, mantendo contato constante com meus amigos no Brasil, e rapidamente
melhorando em Português.
Meses depois, eu comecei meu primeiro trabalho em tempo integral em um frigorífico de
perus. A primeira coisa que eu reparei foi a grande quantidade de empregados imigrantes
latinos. A princípio, eu não tinha vontade de aprender espanhol, mas depois de minha primeira
semana de treinamento, fui apresentado a um dos meus supervisores. Durante uma conversa
com ele, fomos interrompidos por um dos funcionários latinos, e eu presenciei meu chefe falando
com muita facilidade um espanhol que parecia fluente! Impressionado, eu perguntei a ele onde
ele aprendeu. Ele respondeu que simplesmente pegou ali na fábrica falando com os empregados
e se tornou fluente em sete meses!
E foi nessa hora que eu coloquei uma meta pra testar minhas habilidades e me tornar fluente
em menos tempo que ele. Depois de três meses, eu me tornei fluente o bastante para que muitos
supervisores me pedissem pra interpretá-los nas reuniões de equipe. Enquanto estava
trabalhando lá, eu era exposto a outras línguas também. E através de outros trabalhadores
imigrantes eu aprendi o básico em chinês, coreano, e um dialeto maia chamado Mam. Um ano e
um mês depois do meu primeiro trabalho em tempo integral no chão de fábrica, eu resolvi sair
pra poder correr atrás de uma carreira mais relacionada à minha paixão recente por línguas.
Desde então, eu tenho tido experiências com aproximadamente 15 línguas.
Pessoas me perguntam o tempo todo sobre como aprender um novo idioma. No passado,
eu iria apenas dizer os nomes de alguns cursos de idiomas que eu gosto. Pouquíssimas pessoas
que me pediram conselho no passado alcançaram a fluência, o que me fez escrever este livro.
Quando comecei pela primeira vez a aprender línguas estrangeiras, pessoas me diziam que eu
tinha um dom. Eu acreditei que isso era verdade por um bom tempo até eu conhecer um cara que
acabou se tornando um dos meus melhores amigos. Eu conheci Derek Miller enquanto estava
trabalhando como vendedor de guitarras na Musician’s Toy Store, em Jacksonville, na Carolina
do Norte. Naquela época, eu já tinha me tornado fluente em inglês, português, espanhol,
italiano, e tinha aprendido o básico em francês, alemão, alemão suíço, mandarim, hebraico, assim
como tido alguma experiência em várias outras línguas. Então, era fácil acreditar que eu tinha um
dom, principalmente porque eu nunca tinha conhecido alguém que podia fazer o que eu fazia até
então.
Uma vez que Derek ficou instantaneamente impressionado com minhas habilidades com
línguas, ele - assim como muitas pessoas que eu conheci antes - me perguntou como eu fiz isso.
Honestamente, eu nunca soube exatamente como responder essa pergunta, então eu
simplesmente recomendei um curso particular de idiomas que eu recentemente encontrei por
acaso. O curso que eu recomendei para Derek era um curso em áudio que eu usei antes da
minha primeira viagem pra Europa em 2003. Eu o recomendava a cada um que me perguntasse
sobre idiomas. Nem uma das pessoas para quais eu recomendei o curso se tornou fluente, o que
me deixava confuso. Era mais fácil presumir que todo mundo estava certo sobre eu ter um dom
para línguas.
No ano seguinte, depois que eu comecei a trabalhar como intérprete, Derek me ligou do nada e
me perguntou qual era o nome do curso que eu tinha recomendado a ele. Ele disse que queria
aprender espanhol. Eu gentilmente dei a ele a informação assim como algumas dicas sobre como
fazer o curso. Poucas semanas depois, Derek e eu estávamos falando no telefone em espanhol!
Enquanto ele estava ao longo do curso, e obviamente depois, ele passou muito tempo com
falantes nativos e ficou fluente de verdade. Poucos meses depois da nossa primeira conversa em
espanhol, ele conseguiu um trabalho como intérprete médico em uma clínica local! Foi quando
algo em mim mudou. Se Derek podia fazer isso, e eu também podia, será que alguém mais
poderia?
Assim começou um longo processo entre ponderar e analisar. Eu decidi começar a dar aulas de
espanhol para meus colegas de trabalho pra ver se eu conseguia descobrir como as pessoas
aprendem uma língua estrangeira. O problema foi que nenhum deles teve sucesso na minha
sala. Foi só anos depois que eu percebi que eu os tinha levado ao fracasso quando os ensinava o
alfabeto em espanhol no primeiro dia. Fazendo uma retrospectiva eu acredito que cada um deles
hoje poderia ser super fluente em espanhol ou em qualquer outra língua se a eles fosse dada a
informação que você está lendo neste livro. Foi só até eu e minha mulher termos filhos que eu
finalmente comecei a entender como pessoas aprendem línguas. O processo ficou até óbvio pra
mim enquanto tinha a experiência de ensinar nossa primeira filha a falar. Eu me sinto mal pelos
meus primeiros alunos de idiomas. Neste momento eles devem estar muito parecidos com você:
acreditando que algumas pessoas têm essa coisa e muitas pessoas não.
Ao longo dos anos eu ouvi uma infinidade de desculpas sobre porque uma pessoa não pode
aprender uma língua estrangeira, principalmente sem sotaque. Tenho certeza que você ouviu
esses mitos também. Pessoalmente acredito que esses mitos começaram quando o sistema atual
de aprendizado de línguas foi estabelecido. Quando uma pessoa se prepara para concluir uma
tarefa, e ela falha, qual é a sua resposta natural? Justificar-se. Muitas pessoas não sabem lidar
com as falhas, então elas justificam pra si mesmas porque a falha ocorreu, normalmente
culpando forças externas, fora do seu controle: Eu sou muito velho. Eu comecei muito tarde. Eu
não tenho o dom. Eu nunca vivi em um país estrangeiro. Eu não tive nenhum contato com a
língua até uma certa idade.
Vamos considerar um cenário por um momento. Se você fosse da mesma etnia que você é
agora, mas tivesse nascido e crescido na China, você não falaria chinês como um nativo? E se
você tivesse se mudado pra Síria quando tinha 5 anos? Você também não falaria árabe como um
nativo? Certamente! Mas e agora? Você não tem o mesmo corpo e a mesma mente que você
acabou de afirmar que era capaz de aprender chinês e árabe? Imagine-se ficando cara a cara com
uma pessoa chinesa. Ela não tem uma anatomia semelhante à sua (além do gênero, talvez)?
Seus órgãos responsáveis pela fala não são similares aos teus? Então por que você acredita que
você não pode aprender a produzir os mesmos sons da língua como ela?
Ao longo dos anos eu conheci um punhado de gente que falava outras línguas e soava como
nativos. Todos eles tinham uma coisa em comum. Eles passaram uma quantidade considerável
de tempo com falantes nativos. Será que essas pessoas são mais talentosas em línguas que
você? Eu não acho. Pessoalmente acredito que você é, em partes, multilíngue.
Quantas versões do Português você é capaz de falar? Por exemplo, você poderia estar falando
no telefone com seu amigo, usando a “linguagem das ruas”, então no mesmo dia ir para o fórum
pagar uma multa, onde a maioria da linguagem que você iria usar seria em um nível mais alto e
cheio de termos legais e formalidades. Nessa mesma noite você pode frequentar um comício
político, seguido de um serviço religioso. Mais tarde você lê uma historinha pra sua filha de 5
anos dormir. Você falaria pelo menos cinco tipos diferentes de Português apenas naquele único
dia.
Pode não parecer fazer muita diferença pra você, mas tente falar em gírias no tribunal ou falar
de política com sua filha de 5 anos. Cada situação pede uma “versão” diferente do Português.
Isso te faz multilíngue? Talvez não, mas a complexidade da sua habilidade com idiomas na sua
língua nativa é óbvia. Veja bem, na essência, você é um mestre em idiomas. Sua habilidade de
aprender sua primeira língua me impressiona muito mais do que eu mesmo ou qualquer outro
aprendendo uma língua estrangeira. Acredito que se usarmos as mesmas habilidades e técnicas
que usamos naturalmente pra aprender nossa própria língua, para aprendermos uma segunda
língua, podemos nos tornar tais como fluentes.
Então agora te peço que venha comigo em uma jornada- uma jornada de idiomas, se você tiver
vontade. Você poderá se pegar acreditando em si mesmo.
01 Falha no Sistema

FAÇA A SI MESMO ESSAS DUAS PERGUNTAS:


Quantas pessoas bilíngues eu conheço? Como elas se tornaram bilíngues?
Vamos fingir que você está planejando uma viagem para os Estados Unidos nas próximas
férias, então você decide aprender inglês. Como você aprenderia? A maioria das pessoas iria,
ou se inscrever em aulas de inglês, ou comprar um curso, certo? Há grandes chances de que
você ou alguém que você conheça já tenha feito isso. De fato, milhões de pessoas já fizeram
aulas de línguas estrangeiras ou compraram cursos, mas quantas delas atingiram a fluência?
Pouco depois que me tornei fluente em espanhol, tive uma experiência que começou a abrir
meus olhos para a existência de um problema no modo como as línguas vem sendo ensinadas.
Uma noite, enquanto eu estava no trabalho, um dos gerentes de setor da fábrica me chamou para
ir até ele, me pedindo pra falar espanhol com outro empregado. Até então, eu estava bem
acostumado com as pessoas me fazendo falar espanhol pra demonstrar minha habilidade, então
nem pensei em nada. Fiquei chocado, entretanto, quando ele me respondeu de volta em
espanhol. Ele falou muito devagar, e com um sotaque americano pesado. Quando eu perguntei a
ele como ele tinha aprendido, ele disse que era formado em espanhol na faculdade. Fiquei
espantado! Ele tinha graduação em espanhol e soava como um iniciante!
Desde então eu tenho encontrado incontáveis situações parecidas. Um amigo meu que é
advogado, Tyrell Clemons, uma vez me disse que eu o inspirava, porque toda vez que ele me via
interpretando ele desejava poder falar espanhol. Ele ainda disse que estudou espanhol por 8 anos
na escola e ainda não conseguia falar. Quando clientes latinos vêm ao seu escritório, a única
coisa que ele consegue falar pra eles é: "un momento”.
Trabalhando como intérprete da corte, já conheci muitos outros advogados que estudaram
espanhol na faculdade, mas só alguns deles estão, digamos, perto de serem fluentes. Mas, por
que? Advogados são altamente educados, e a maioria deles são extremamente inteligentes.
Deve haver uma boa explicação.
Eu poderia citar centenas de outros exemplos de pessoas que “aprenderam” uma língua seja
fazendo aulas ou mesmo comprando um curso, a maioria tendo pouco ou nenhum resultado, o
que aponta a existência de um problema sério – onde estão todos os bilíngues?
De todas as pessoas que conheço, somente uma porcentagem muito pequena são bilíngues, dos
quais a maioria são: ou filhos de imigrantes nos Estados Unidos, ou viveram em um país
estrangeiro, trabalharam próximos ou tiveram algum relacionamento com um ou mais falantes
nativos. Eu ainda não encontrei uma pessoa que tenha se tornado fluente usando um curso ou
fazendo aulas. Será que a explicação é simplesmente afirmar que línguas são difíceis de
aprender? Você tem que ter o dom pra aprender línguas?
Quase todo mundo que eu conheço fala uma língua. Você não nasce sabendo falar sua
língua nativa, em vez disso, você tem que aprender. Essa habilidade não é perdida após a
infância. De fato, ela é mais e mais refinada até você se formar no Ensino Médio ou na
faculdade. Mesmo depois disso, você tem que aprender os jargões necessários pra que funcione
bem em qualquer situação dada em sua vida. Além disso, novas palavras estão constantemente
sendo introduzidas em nossos vocabulários por meio da tecnologia, cultura pop, cinema,
televisão, literatura, internet etc.
Você vê, somos aprendizes de línguas por natureza, e nosso domínio do idioma cresce cada vez
mais até, finalmente, perdermos nossas faculdades mentais, seja pela idade, seja por doença. O
problema não é que nós somos incapazes de aprender línguas; em vez disso, precisamos nos
tornar conscientes de como aprendemos nossa primeira língua e aplicar esse conhecimento para
aprender outras línguas. A melhor forma de atingir essa dita consciência é observar como as
crianças aprendem línguas. Ainda melhor, vamos olhar pra como aprendemos nossa primeira
língua lá atrás.
Antes de nascermos, por volta de 18 semanas depois da concepção, nossos ouvidos já eram
desenvolvidos o bastante pra ouvir. Foi neste ponto que a língua começou a causar uma
impressão em nós. Através de nosso senso de audição, ficamos cientes de um fluxo infinito de
sons, uma grande porcentagem deles sendo palavras faladas. Obviamente até aí nós nem mesmo
sabemos que língua é, mas independentemente disso a estamos sentindo. Nós passamos os
próximos 4 meses e meio principalmente ouvindo.
Uma vez nascidos, já não estamos mais envolvidos pelo fluido embrionário, portanto os sons
ficam mais claros do que nunca. E um plus, agora temos a habilidade de fazer sons. Já no
primeiro dia nós começamos a usar nossa boca para chorar, sorrir, balbuciar etc. Também
estamos cientes dos sons que emanam da boca dos outros. Reconhecemos a voz da mamãe na
hora, uma vez que a dela era a mais alta enquanto estávamos no útero.
Como bebês, estamos constantemente sendo treinados a falar. Nossos pais nos seguram de
pertinho e falam diretamente para nós. Eles falam devagar e frequentemente usam "voz de
bebê”, repetindo as mais simples das palavras; como "mamãe" ou "papai”. Nós temos uma
vantagem incrível por estar cara a cara, e ficamos maravilhados enquanto olhamos suas bocas se
movendo para produzir as palavras, assim como as expressões faciais que vêm junto com elas.
Ao longo dos primeiros meses de vida, nós desenvolvemos gradualmente a habilidade do
mimetismo. É quando a mágica começa a acontecer. Já éramos capazes de identificar algumas
coisas pelo contexto, mas agora que podemos fazer mímica, somos capazes de aprender de
maneira exponencial. As palavras que imitamos produzem respostas nas outras pessoas. Quando
dizemos "mama" nossa mãe responde com tanta alegria. Essas respostas geram emoções em nós
e nos ajudam a identificar pessoas, lugares e coisas em nossa vida.
Então continuamos a progredir ouvindo, repetindo, e conectando sons (palavras) com objetos,
pessoas e ações. Eventualmente começamos a agrupar palavras. Primeiro, duas palavras de uma
vez, então três, quatro, até finalmente sermos capazes de falar em frases. Com tempo, prática,
escuta e uma orientação correta, nosso sotaque e pronúncia melhoram, nos fazendo soar menos
como uma criancinha e mais como um falante nativo. Este processo continua até finalmente
ficarmos fluentes o bastante pra começar a escolinha. É nesta hora mágica que nos ensinam
como desenhar sons.
Com 5 anos, a maioria de nós sabe mais ou menos 5 mil palavras. Por volta dessa idade
começamos a escola, a aprender a ler, escrever, e usar a gramática corretamente. Quando
aprendemos o alfabeto, somos ensinados a atribuir sons de nossa língua nativa a cada letra ou a
cada combinação de letras, sons que nós já aprendemos como produzir. São os mesmos sons que
podemos mentalmente "ouvir" enquanto lemos em silêncio.
Compare isso com a abordagem comum em sala de aula para aprender línguas estrangeiras. O
aluno aprende o novo alfabeto mais ou menos no primeiro dia. Se o alfabeto usa a escrita
Romana, o aluno tenta desesperadamente atribuir novos sons a letras que já vem pronunciando
de uma certa maneira a sua vida toda, o que é extremamente difícil. A maioria dos estudantes
tem uma tendência natural a pronunciar o novo alfabeto com sons de sua língua nativa, os únicos
sons que eles já dominaram. Uma vez que o alfabeto é "aprendido”, o aluno passa a aprender a
ler e escrever no novo idioma mas continua a pronunciar as palavras usando os sons de sua
língua nativa. (Quando veem a palavra do inglês date, mentalmente ainda estão ouvindo sons
em português.) Além desta armadilha quase inevitável dos erros de pronúncia tem também a
companhia de outros estudantes, cujos sotaques não são nada melhores. Isso promove um senso
de aprovação social, subconscientemente levando o aluno a aceitar esse modo de falar a língua
estrangeira. Além disso, se o aluno recebe boas notas nas ditas aulas, só poderá concluir que está
fazendo um bom trabalho. Pra tornar as coisas piores, existe uma probabilidade de o professor
não ser um falante nativo, tendo estudado por este mesmo caminho e recebido um diploma na
faculdade, ainda que nunca tenha dominado o sotaque e a pronúncia corretos, perpetuando essa
besteira verbal. Se um aluno, por coincidência, estiver em uma sala de aula na qual o professor é
um falante nativo, que foca na pronúncia e sotaque corretos, este pode ser considerado mais
sortudo que a maioria. Entretanto, ser apresentado à língua escrita no começo só vai servir como
um obstáculo imenso.
Essa abordagem resulta em uma pequena ou nenhuma compreensão da língua quando falada
por nativos, uma pequena ou nenhuma fluência verbal e um sotaque notável, pra não dizer
horrível. Embora o aluno possa se tornar proficiente em leitura e escrita, a falta de foco em ouvir
e falar leva à famosa frase: "Eu leio melhor do que eu falo”.
A maioria dos cursos autodidatas segue uma abordagem parecida, na qual o estudante é exposto
à língua escrita a partir do primeiro dia. Contudo, neste caso não tem um instrutor ao vivo.
Provavelmente a única vantagem que o formato de sala de aula tem sobre o autodidatismo é a
interação humana e correção pelo professor, desde que o mesmo soe como um falante nativo.
Compare um iniciante em línguas mediano com um falante nativo de 5 anos de idade. Quem
está mais preparado pra ir pra escolinha? No fim das contas, essa abordagem de sala de aula
comum como ensino de uma língua estrangeira é quase como uma segunda pré-escola, só que em
uma língua estrangeira. Qual é a diferença em termos de experiência entre uma criancinha e um
estudante adulto? A criança está aprendendo por uma fonte diferente: falantes nativos. Se
considerarmos que o pequeno dorme uma média de 10 horas por dia, 5 anos se equivalem a
25.500 horas acordado, passadas principalmente em volta de outras pessoas que passam boa
parte do seu tempo se comunicando com outros falantes nativos. Sendo assim, a vantagem
principal do de 5 anos é a exposição massiva à língua como é falada naturalmente por nativos.
Ele recebeu orientações sobre a língua de forma consistente ao longo de sua vida até este ponto e
por isso é bastante proficiente. Além do mais, sua curiosidade sobre a vida em geral traz uma
fonte inesgotável de perguntas a serem feitas, assim como a serem respondidas, perpetuando seu
aprendizado dos conceitos da vida e da língua com a qual irá descrevê-los.
O aluno iniciante em línguas estrangeiras, entretanto, não tem nenhuma das vantagens recém
mencionadas. Por este motivo, é injusto esperar que ele seja capaz de se sair bem em qualquer
nível de proficiência, não importa quantas aulas ele tenha.
Se a abordagem atualmente aceita para o aprendizado de idiomas é inadvertidamente e ainda
inevitavelmente projetada pra você falhar, como então, você espera aprender de verdade uma
nova língua? Acredito que a resposta é simples. Você já fez isso antes. Vamos fazer de novo .
02 Preenchendo a Lacuna

Se o sistema atual de ensino de línguas estrangeiras está falhando, produzindo quase zero
indivíduos bilíngues, quais opções você tem enquanto aprendiz de idiomas? Na minha opinião, a
primeira coisa a entender é que tanto os tradicionais quanto a maioria dos métodos modernos não
estão errados em sua abordagem ao ensinar idiomas; em vez disso, eles estão simplesmente mal
colocados. Como eu espero ter estabelecido até agora, aulas de língua estrangeira e a maioria
dos cursos são configurados mais ou menos como uma pré-escola avançada para adultos, ainda
que em uma língua estrangeira. É simplesmente absurdo começar nesse ponto, pulando as
habilidades fundamentais que nós aprendemos antes de entrar na escola.
O ponto crucial em nossa jornada pra dominar nossa língua nativa é quando nós aprendemos
como ler e escrever. Nossas habilidades pra alfabetização começam a se desenvolver no
prézinho e continuam a se desenvolver pelos próximos 12 a 16 (ou mais) anos de escola. Mas
por que nós começamos na pré-escola? Antes de entrar no primário, uma criança deve possuir
certas habilidades sociais, motoras, linguísticas, entre outras. Linguisticamente falando, a
maioria das crianças de 5 anos são basicamente fluentes em sua língua nativa, possuindo um
vocabulário limitado com algo em torno de 5.000 palavras, e um entendimento básico de
gramática. Eles podem não falar perfeitamente, mas são capazes de se fazer entender. Levou por
volta de 5 anos de trabalho para chegar ao ponto de se qualificar pra aprender a ler e escrever.
Como iniciante, seu foco deve estar em adquirir habilidades em línguas semelhantes àquelas
dos 5 anos, antes de você aprender a ler e escrever na língua estrangeira. O que significa isso?
Que você tem que passar 5 anos aprendendo uma língua através de nativos antes de aprender a
ler? Um adulto aprenderia mais rápido ou mais devagar que uma criança nativa?
Cinco mil palavras podem parecer muito pra se aprender , mas uma criança do pré levou 5 anos
pra fazer isso. Como um adulto, aprender 5 mil palavras ao longo de um período de 5 anos
pareceria bastante devagar, aprendendo numa faixa de mais ou menos 2 a 3 palavras por dia. A
razão pela qual a criança de 5 anos levou tanto tempo pra aprender essa quantidade de
vocabulário foi porque ela passou aqueles 5 anos aprendendo simultaneamente tudo sobre o
mundo ao seu redor, se desenvolvendo mentalmente, fisicamente, e apenas começando a se
desenvolver emocionalmente, tudo isso enquanto aprendia a falar sua língua nativa pra ser capaz
de se comunicar.
Por outro lado, o aprendiz adulto está simplesmente atribuindo novos sons a conceitos já
existentes, uma vez que ele ou ela já está completamente desenvolvido e experiente em se
tratando da vida cotidiana. Assim, o processo de aprender uma nova palavra pode ser muito
mais rápido em vez de aprender todo um novo conceito, incluindo o vocabulário para descrevê-
lo. Por exemplo, assim que uma criança aprende a palavra sofá, o que vem depois? Primeiro,
ela deve ter uma experiência ou um conjunto de experiências que envolvam sentidos múltiplos,
conectando a maior quantidade de informações sensoriais possível ao som e ao significado da
palavra pra identificar completamente este objeto. Uma criança tem muitas experiências
diferentes e até íntimas com um sofá. É bem provável que os pais e/ou irmãos passem uma
grande quantidade de tempo sentados no sofá, estimulando a criança a se aproximar do sofá pra
se comunicar com quem quer que esteja nele, sem mencionar o tempo passado sentando no sofá
com a família. Depois de algum tempo, essa criança sabe como o sofá se parece, como ele é,
como cheira, e até mesmo como soa quando está sendo usado. Talvez ela já esteve em outras
casas e viu todos os tipos diferentes de sofá, ou mesmo já foi a uma loja de móveis onde há um
mar de sofás, monumental para o dia-a-dia, já que uma quantidade considerável de tempo em
família se passa na sala. Para a criança, esse conceito é chamado de Sofá. E tem um significado
profundo em sua vida.
Agora como um adulto, se você aprende a palavra "sofá" em uma língua estrangeira, o processo
é muito mais simples. Você ouve e percebe a palavra, a conecta com seu conceito pessoal de o
que é um sofá em sua cabeça, e você aprende a produzir os sons que compõem a palavra. Ou
talvez você aprende como falar a palavra antes de você aprender seu significado. De ambas as
maneiras, você puxa pela memória, talvez subconscientemente, o conceito de um sofá na sua
cabeça. A maior parte do trabalho já foi feita anos atrás. Isso é simplesmente um novo jeito de
descrever sua experiência. Então, o adulto tem uma óbvia vantagem em termos de rapidez.
Ainda sim, muitos adultos dificultam sua curva de aprendizagem por começarem no ponto
errado, lendo antes de falar.
A questão que provavelmente está martelando em sua cabeça neste ponto é como você pode se
tornar “pronto para o jardim de infância” em uma língua estrangeira sem aprender a ler ou
escrever? Pra mim, a resposta é simples; observe como nós aprendemos nossa primeira língua e
repita o processo da maneira mais próxima possível. Pra recapitular o processo discutido no
capítulo um, aqui está uma lista de passos que, provavelmente você deu pra dominar sua língua
nativa:

1. Você se tornou consciente dos sons que emanavam da sua boca e das bocas dos outros e
passou muito tempo ouvindo.
2. Você desenvolveu gradualmente a habilidade da mímica.
3. A mímica produziu respostas nos outros, o que te ajudou a começar a identificar pessoas e
objetos no seu dia-a-dia.
4. Você progrediu ouvindo, repetindo, e conectando sons com objetos, ações, e suas
necessidades básicas.
5. Você começou a combinar palavras em grupos para se expressar ainda mais.
6. Com tempo e prática, escuta, e uma orientação correta, você começou a soar como um falante
nativo.
7. Esse processo continuou até que você fosse fluente o bastante pra começar a pré-escola.
8. Você foi ensinado a "desenhar sons" (ler e escrever) assim como o básico da gramática.
9. Através de anos de estudo você finalmente alcançou o domínio de sua língua nativa.

Obviamente, você não pode nascer de novo em outra cultura, mas você ainda pode se
aproximar de aprender uma nova língua de um jeito parecido se você entender o processo.
Primeiro você ouviu, então aprendeu a imitar. Você conectou palavras com significado. Você
construiu seu vocabulário gradualmente enquanto estava sendo orientado por nativos. Depois de
algum tempo, você estava habilitado a ler e escrever.
Como aprendiz de uma língua estrangeira, você precisa ter aprendido 5.000 palavras antes de
começar a ler e escrever? Provavelmente não. Seria melhor definir uma meta a curto prazo de
algo em torno de 500 palavras. Se depois deste ponto você tiver dominado seu sotaque e
pronúncia, então vá em frente. Aprenda a ler e escrever. Por outro lado, se você ainda tem
dificuldades com seu sotaque e pronúncia, espere até que tenha aprendido perto de 1.000
palavras. A chave é ser honesto com você mesmo, sobre como você soa. Como será repetido
várias vezes neste livro, é importante gravar você mesmo falando a língua estrangeira.
Pergunte a si mesmo se você soa como um nativo.
Mas como você vai aprender suas primeiras 500-1000 palavras sem usar a língua escrita? Boa
pergunta. Uma pergunta melhor é, por que não lhe foi dado um manual ao nascer explicando
como aprender sua língua nativa? Simplificando, você não precisava de um. Você tinha a fonte
da língua prontamente disponível – falantes nativos.
Linguagem é algo que nós inicialmente aprendemos por outras pessoas. Por que isso
deveria mudar quando passamos a aprender um idioma estrangeiro?
03 Página em Branco
Passo 1 - Audicão

— Onde você aprendeu nossa língua?


— Eu a ouvi!

O 13º Guerreiro

Eu me lembro de uma cena do filme listado acima como um dos primeiros momentos
impactantes em minha vida, no que diz respeito a idiomas. Ahmed Ibn Fahdlan tinha sido
imerso em um grupo de Vikings que falavam uma língua que era alheia a ele. Eu assisti
atentamente como as cenas retratavam Ahmed ouvindo cada palavra falada pelos seus novos
colegas. Conforme as cenas avançavam, seria falada uma palavra ocasional que Ahmed
entendeu. Isso aconteceu repetidamente até que um dia, enquanto eles estavam sentados em
volta de uma fogueira, um dos Vikings fez um comentário ofensivo sobre a mãe de Ahmed, para
o qual Ahmed respondeu na língua deles, defendendo a honra de sua mãe. Os Vikings ficaram
surpresos, assim como eu.
Eu era só um garoto quando eu assisti esse filme. Eu me lembro de ficar imaginando se era
possível aprender uma língua desse jeito – simplesmente estando em volta de falantes nativos,
ouvindo atentamente às suas palavras e tentando entender seus significados pelo contexto.
Ironicamente, o que eu falhei ao perceber na época é que é como eu aprendi minha primeira
língua.
Quando eu aprendi inglês, primeiramente ouvi bem os sons que eu escutava. Eu ouvi muito. Se
considerarmos o fato de que a maioria das crianças começa a falar entre os 9 e os 14 meses, eu
provavelmente passei aproximadamente 5.000 horas acordado principalmente ouvindo. Durante
aqueles meses, fui experimentando aqueles sons até que eu fosse capaz de falar minha primeira
palavra. Como um bebê, minha mente era uma página em branco, completamente aberta a
absorver sons da língua como uma esponja. Durante os vários meses que antecediam minha
habilidade de fazer mímica, os sons da minha língua nativa estavam sendo escritos em minha
“folha” mental. Eu ouvi, balbuciei, e tentei desesperadamente imitar os sons da minha língua
nativa até que eu fosse finalmente capaz de falar.
Durante aqueles primeiros anos da minha vida, eu estava construindo um banco de dados dos
sons do idioma em minha cabeça. Quando eu tinha 5 anos, eu provavelmente sabia algo como
5.000 palavras. Com 8 anos, eu sabia por volta de 10.000, e quando eu já era um adulto, eu tinha
um vocabulário de entre 20.000 e 30.000 palavras. Desde então, meu vocabulário não parou de
aumentar.
Por causa da imensidão do banco de dados mental da nossa língua nativa, eu acredito que a
maioria das pessoas percebe os sons da língua estrangeira através do que eu chamo de “véus de
audição”. Eles não estão realmente percebendo os sons verdadeiros no começo. Eles os ouvem,
claro, mas só parcialmente.
Quando nossos sentidos recebem uma informação, tal qual sons de uma língua estrangeira,
nossas mentes precisam identificar o que é que está sendo percebido. O modo mais rápido para
identificarmos essa informação é checar nosso banco de dados pra ver se já estamos
familiarizados com isso. Isso causa com que percebamos
novas informações, incluindo sons, de uma perspectiva tendenciosa, constantemente comparando
novas informações com as antigas.
Isso funciona de maneira semelhante para todos os nossos sentidos. Imagine ver um animal
exótico pela primeira vez. Como você o descreveria? O jeito mais fácil seria compará-lo com
outro animal que já seja familiar pra você. “Meio que parecia com um cachorro, mas com patas
mais curtas, e um focinho igual de porco”. E que tal descrever comida? “Tem meio que o gosto
de torta de limão e merengue, mas é cremoso que nem sorvete de baunilha”.
Quando ouvimos um idioma que não é familiar pra nós, os sons verdadeiros da língua estão
cobertos por uma série de véus que são meras comparações com sons conhecidos. Leva tempo
pra desvendar completamente os sons puros de uma língua como falada por nativos,
principalmente se esses sons diferem dos sons da nossa própria língua. Quanto mais vezes
escutarmos atentamente, mais véus são removidos, e mais perto podemos chegar de ouvir os sons
verdadeiros da língua.
Eu costumava ouvir bastante música brasileira pra me ajudar a aprender português. Uma das
palavras em uma música que eu aprendi foi razão. Entretanto, eu estava cantando como ração.
A frase na música era: “A razão do meu cantar”, mas eu estava cantando, “A ração do meu
cantar”. Eu não soube disso até vários meses depois de eu ter “aprendido” a música, quando eu
fui corrigido por uma pessoa falante de português.
Eu tive muitas experiências dessas em português. Eu confundi a palavra céu com seio, o que
me fez passar vergonha. Durante minha primeira viagem ao Brasil, também tive muita
dificuldade em dizer “muito prazer em conhecê-lo”. Aparentemente, eu não estava prestando
atenção suficiente nos sons reais das palavras.
Me lembro de experiências parecidas em espanhol, muitas delas. Uma palavra que eu tive
problema foi ahorita, que significa “agora mesmo” em certos países falantes de espanhol. Uma
vez que espanhol é falado rapidamente, eu estava ouvindo arrita, que não é nem espanhol! Eu
falei desse jeito por vários meses, sem ninguém me corrigir, até que alguém finalmente teve a
compaixão de me contar que eu estava falando errado. Eu não acreditava! Sem saber eu estava
falando isso errado por um tempão!
Tais ocorrências são comuns entre estrangeiros que estão aprendendo português. Pegue, por
exemplo, a palavra “muito”. Muitos estrangeiros falham ao distinguir o som do “muito” e
pronunciam a palavra errado ao dizer “mu-i-to”. Isso é devido ao fato de que eles realmente não
aperfeiçoaram o bastante sua percepção pra ouvir o som do “uin” no meio do conjunto de sons
que compõe a palavra. Outro erro comum na pronúncia dessa palavra é confundir o som do final
“u” como som de “o”, produzindo assim a palavra “muitO”.
Treinar seu ouvido no som de uma vogal ou consoante específica escondido no meio de várias
letras é uma tarefa consideravelmente difícil. Pode ser comparado com ouvir música. Pense em
qualquer música que tenha uma melodia que você conhece. Se uma certa parte da música que
você nunca focou antes estivesse isolada, você provavelmente não a reconheceria como parte
dessa música. Se você nunca ouviu a parte do baixo antes, você não saberia como a parte do
baixo soava. Pense de novo na música. Você sabe quantas vezes o baterista está batendo no
chimbal no primeiro compasso do refrão? Ele está tocando no geral?
É assim com idiomas também. Quando você ouve um falante nativo falar uma palavra ou
uma frase, você está completamente ciente de como as vogais estão sendo pronunciadas? E a
entonação? Onde o falante nativo está posicionando a língua? Quão aberta está a garganta dele?
O som está sendo direcionado pra fora mais pelo nariz do que pela boca? Até que nível sua
consciência está focada nos sons que estão sendo falados?
Então como podemos aumentar nossa consciência pra perceber os verdadeiros sons da língua?
Isso requer saturação – exposição massiva à língua falada, semelhante à nossa primeira
experiência. Nos dias de hoje, é bem fácil de encontrar faixas de áudio de quase toda língua
amplamente falada. Podemos usar áudio-livros, materiais de curso em áudio, programas de TV,
filmes, rádio, podcasts, música e muito mais. A chave é ter acesso ao máximo de fontes
possível, e se expor a estes sons o mais frequente possível. Transforme seu carro em uma
máquina de imersão. Escute áudio-livros na língua estrangeira enquanto você está dirigindo.
Escute às faixas de áudio enquanto está malhando, cozinhando, limpando, ou andando no
parque. Não é importante que você entenda o que está sendo falado no começo. Não vai
demorar muito pra que seu cérebro comece a reconhecer os padrões. Depois que você começar a
estudar através dos seus cursos de idiomas, você vai começar a pegar palavras que conhece
enquanto está ouvindo suas faixas de áudio. O propósito principal deste tipo de exposição é
acostumar o ouvido aos sons de sua nova língua.
Uma habilidade importante a se aprender é a de aquietar a mente – desligue sua voz mental.
Em vez de sobrepor sons que já aprendeu anteriormente aos sons não familiares que recebe,
você deve ouvir com uma
página em branco, permitindo que os sons pintem um mosaico sonoro em sua mente. Focar em
certas características do som da voz do falante nativo, como o tom, timbre, ou entonação pode
distrair sua mente consciente, permitindo assim que você absorva os sons em vez de criar sua
própria versão do que você percebe como os verdadeiros sons da língua. Outra coisa de grande
ajuda a se fazer enquanto ouve a língua estrangeira, particularmente os áudios de um curso de
idiomas, é imaginar um falante nativo dizendo as palavras.
Uma vez eu fiz um experimento pra tentar recriar algo semelhante à minha primeira experiência
aprendendo um idioma. Quando comecei a aprender Árabe, não pronunciei uma palavra sequer
em Árabe pelos primeiros 30 dias. Também não me permiti ser exposto à língua escrita. Eu
comecei um curso em áudio, mas sem repetir. Eu também ouvi a língua falada em conversas
gravadas, deixando que minha mente absorvesse os sons. Hoje em dia quando eu falo Árabe,
meus amigos árabes me dizem que eu tenho uma ótima pronúncia. Fico pensando se meu
experimento teve algo a ver com isso.
O ponto principal a se obter a partir dessa perspectiva de escuta, é ouvir ao idioma o suficiente
para que não pareça mais uma língua estrangeira pra você. Novamente, isso vai levar uma
quantidade de tempo considerável. Não deixe que isso te preocupe. Todo dia tem 24 horas pra
cada um de nós usarmos ou desperdiçarmos. Aprender um idioma é em grande parte um
investimento de tempo, e um investimento altamente gratificante .
04 Papagaio
Passo 2 – Mímica

Como afirmei anteriormente, linguagem é algo que nós inicialmente aprendemos por outras
pessoas. Por que isso deveria mudar quando passamos a aprender um idioma estrangeiro?
Na minha opinião, o termo fluência do idioma implica que ali existe algum tipo de fluxo de
palavras faladas entre duas ou mais pessoas. Afinal, uma conversa só é possível entre duas ou
mais partes.
Como você aprendeu a conversar ou a “fluir” em sua primeira língua? Depois que você
começou a ouvir a língua falada, você se esforçou desesperadamente para produzir as palavras
que ouviu. Você descobriu natural e efetivamente como imitar os outros. Felizmente pra você,
as pessoas em sua vida estavam interessadas que você aprendesse a falar, então elas te treinaram;
mas como você foi treinado?
Seus treinadores fizeram contato visual, falaram devagar, e exageraram os movimentos de suas
bocas pra te mostrar como dar forma às palavras. Foi assim que você aprendeu leitura labial.
Eles repetiram palavras e sílabas simples bem devagar, dando a você o tempo necessário pra
tentar imitá-los. Você ouvia os sons, olhava as bocas, e se esforçava pra repetir o que viu e
ouviu. Sem essa forma íntima de treinamento, quão mais difícil teria sido aprender sua primeira
língua?
Muitas pessoas pulam o passo inicial crucial de encontrar falantes nativos pra treiná-los, e em
vez disso compram um curso de idiomas. Aprender uma língua por um curso é quase como
brincar de pega-pega com você mesmo. Você já tentou pegar seu curso de idiomas pra te
treinar? Eu acho que é certo dizer que um curso não pode substituir um ser humano.
Independentemente das propagandas aparentemente sem fim apresentadas a nós por empresas de
curso de línguas dando a entender que oferecem o jeito mais rápido e efetivo de se aprender um
idioma, mesmo que geralmente garantido, é importante perceber que um curso de idiomas por si
só não vai te fazer fluente. Aprender a fluir verbalmente em um idioma com outras pessoas só
vai acontecer praticando e sendo treinado por falantes nativos. Sem esse elemento chave, a
maioria dos aprendizes de línguas estrangeiras geralmente ou desistem, ou nunca se tornam
fluentes pra uma conversa.
A comunicação cara-a-cara envolve múltiplos sentidos. Quando você está aprendendo uma
nova palavra ou frase durante uma conversa ao vivo, você está tendo uma experiência
multissensorial. Depois disso, sua referência da dita conversa será baseada na experiência que
você teve. É muito mais fácil se lembrar de uma palavra ou de uma frase que você aprendeu
através de um treinamento ao vivo do que memorizar palavras e definições sem pensar. Quanto
mais partes de seu consciente estiverem envolvidas quando estiver aprendendo algo, mais fácil
será para se lembrar disso no futuro.
É importante notar que a comunicação é muito mais que língua falada, e língua falada é
frequentemente usada pra complementar o que está sendo comunicado não-verbalmente. A
maior parte do vocabulário que você aprendeu antes em sua vida foi por contexto e situação.
Imagine este cenário: O rosto da mãe ficou vermelho conforme ela rangeu seus dentes, olhou
fixamente pro seu filho e disse, "Não se atreva"! A criança quase entra em pânico enquanto
rapidamente entende que é melhor que ela nem pense em fazer, o que quer que fosse, que ela ia
fazer. A chave pra se lembrar aqui é que a experiência é o que é importante. Provavelmente
você aprendeu a palavra quente ao se queimar, e frio ao sentir alguma coisa fria. Novamente,
aprender vocabulário por situações reais requer que você esteja na situação antes de tudo, e com
falantes nativos.
Quando envolvido em uma conversa ao vivo, você tem a oportunidade de observar a boca do
falante, assim como você fez quando aprendeu a fazer leitura labial da sua primeira língua. Você
também é forçado a usar o vocabulário que você sabe e improvisar no idioma. Você aprende um
novo vocabulário pegando pistas visuais do contexto e da situação, assim como também pela
linguagem corporal. O feedback do falante nativo induz a aprendizagem. Além disso, você está
percebendo a língua como ela é falada por nativos, de forma crua, autêntica.
Conversas são espontâneas, recheadas de emoções, começos em falso, linguagem corporal,
expressões faciais e também variações de entonação, volume, ritmo de fala etc. Quase nenhuma
das experiências que te beneficiam durante uma conversa ao vivo podem ser vividas com um
curso. Os materiais de cursos são apenas exemplos artificiais da língua. Em contraste, a língua
falada é aparentemente viva.
Falantes nativos, por esta razão, precisam ser sua primeira fonte ao aprender a língua. Muitas
pessoas fogem de se aproximar deles. Em vez disso, elas passam incontáveis horas estudando
pelo seu curso de idiomas. Obviamente, elas recebem reforço positivo do progresso que estão
tendo, como o de completar um certo número de níveis ou marcas, o que alimenta a ideia de que
elas realmente estão aprendendo a língua. Se você passa a maior parte do seu tempo de aprender
línguas estudando por um curso e pouco tempo com falantes nativos, você provavelmente vai
aprender a língua usando sua própria versão da pronúncia, a qual provavelmente estará incorreta.
Se você continuar passando uma quantidade de tempo considerável aprendendo a língua por
conta própria, você vai, inevitavelmente, solidificar esses maus hábitos. Então, quando você se
aproximar de falantes nativos, você certamente não vai soar como eles. Você simplesmente
estará falando a versão que você criou do idioma. Quando aprende por si só, você não tem a
companhia de um falante nativo pra te corrigir e te orientar. Enquanto que se você está imitando
e aprendendo por falantes nativos, você pode comparar sua voz às deles, fazendo ajustes pelo
caminho.
Ao longo dos anos, dei aulas de idiomas para me ajudar com minha pesquisa. De todos os
alunos que eu treinei, muito poucos tinham vontade de procurar ativamente falantes nativos.
Aqueles que fizeram isso alcançaram o sucesso. Aqueles que não, simplesmente desistiram. Eu
ouvi muitas razões de porque um aprendiz de línguas não se aproxima de nativos. A maioria
delas eram simplesmente desculpas, na minha opinião. Eu determinei que a questão real pra a
maioria das pessoas é o medo. O que eu falo? Como eu começo uma conversa? E se eu estragar
tudo? E se eu não me lembrar de como dizer alguma coisa? E se eles rirem de mim?
De novo, sua melhor aposta é abordar isso como uma criança o faria. Crianças, mesmo as mais
tímidas, aprendem como falar seu idioma. Claro, eles tem a vantagem da necessidade. Se não
aprenderem a falar, eles não podem ir muito longe na vida. Como aprendiz de uma segunda
língua, a maior parte do tempo nós não temos o elemento da necessidade em se tratando de falar
nossa nova língua. Pra a maioria de nós, nossa nova língua é um hobby, ou talvez nós esperamos
de alguma forma ganhar algo com isso no futuro. De ambas as formas, esse medo de se
aproximar de nativos deve ser superado no começo. O propósito de se aprender uma língua é
se comunicar com falantes nativos . Não deixe seu propósito se tornar seu medo e sua
queda.
Embora eu seja altamente apaixonado por idiomas, também enfrento medos parecidos.
Enfrentar estes medos foi o que me ajudou a alcançar o sucesso neste campo. Um importante
elemento que me ajudou a ser corajoso o bastante pra me aproximar dos nativos foi ter um
pequeno arsenal de frases à minha disposição. O melhor caminho pra obter este arsenal é usar
um curso todo em áudio.
O importante a se lembrar quando começar com um curso em áudio é ficar firme com seu
compromisso de não aprender a ler a língua até que você possa fluir e soar como um nativo, pelo
menos com um vocabulário básico de conversação. Felizmente, a maioria dos cursos em áudio
ensinam frases de conversas. Assim que você aprender poucas frases, encontre imediatamente
falantes nativos com quem possa praticar. Se tudo der certo, os falantes nativos vão te dar
feedback e alguma orientação. Continue este processo enquanto você está fazendo seu áudio-
curso. Aprenda algumas frases, pratique com nativos, receba feedback, retorne pro curso,
pratique novas frases com nativos, e por aí vai. É assim que você vai se tornar “pronto para a
pré-escola”.
Essas experiências cara a cara são o que vai solidificar seu aprendizado das ditas frases. Se
você pronuncia mal uma palavra ou uma frase e é corrigido por um falante nativo, não se
desencoraje. Em vez disso, se considere felizardo por ter reproduzido com sucesso uma situação
semelhante às muitas que você teve em sua língua nativa enquanto criancinha. Em italiano há
uma frase, sbagliando s’impara, que significa: é errando que se aprende.
Infelizmente, pelo menos nos Estados Unidos, em razão da política e de pensamentos antigos
que se recusam a perecer, a maioria dos imigrantes são discriminados e olhados de cima a baixo.
Como um aprendiz de idiomas, você poderia considerar isso como uma vantagem. Quando um
nativo deste país se aproxima de um estrangeiro ou imigrante e está interessado em aprender sua
língua, é um sinal de estar abraçando a eles e a sua cultura. Por isso, a maioria dos não-nativos
recebem bem este tipo de interação. Através do seu interesse neles e em sua língua, o que no fim
das contas está interligado com sua cultura, eles estão recebendo aprovação. Eles vão, muito
provavelmente, ficar encantados com o fato de que você se aproximou deles e ficar mais do que
dispostos a falar com você. Presuma e se lembre disso toda vez que o medo tentar impedir você
de se aproximar.
Fazer amizades com falantes nativos vai motivar você a continuar, principalmente se você sabe
que, em breve, vai ver a pessoa ou as pessoas de novo. O desejo de aprender pode favorecer o
desenvolvimento da sua nova amizade fazendo com que você queira se encontrar mais
frequentemente, e ao fazer isso, você se torna mais exposto à língua, o que o ajuda a aprender
mais rápido. É um ciclo permanente de ligação e aprendizagem. Cada vez que você fala com
uma pessoa, você faz uma conexão pessoal com ela, e a experiência de cada conversa é gravada
em sua memória. Pode dar um certo trabalho aprimorar suas habilidades de recordar, mas com
prática, você pode lembrar a essência da maior parte das conversas de verdade que você já teve
com qualquer pessoa. Aquelas mais significativas são mais fáceis de lembrar, enquanto as mais
mundanas precisariam de um lembrete do que foi falado.
Se você tem a felicidade de viver em uma área na qual seja fácil de encontrar falantes nativos
da língua que está aprendendo, você deve se esforçar pra ter com eles o máximo de contato
pessoal possível. Se você tem dificuldade em encontrar falantes nativos em sua comunidade, o
mundo está na ponta dos seus dedos com a internet. Existem muitos sites e aplicativos
disponíveis para troca de idiomas. A troca de idiomas pode ajudar a tirar um pouco do medo
também, sendo uma relação recíproca. Tanto você quanto o falante nativo estarão passando por
um processo semelhante de ser treinado e corrigido. É importante informar seu parceiro de troca
de idiomas, contudo, do seu compromisso de renunciar leitura e escrita na nova língua até que
você tenha dominado sua pronúncia e habilidades básicas de conversa. Por essa razão, você
deve sugerir que as aulas de idioma sejam feitas por vídeo ou conversas de áudio. Vídeo é
melhor, por ser muito parecido com a comunicação ao vivo.
Quando procurar por falantes nativos para praticar, você pode ser tentado a praticar com
bilíngues. Pode ser que eles tenham se mudado para o Brasil um dia na vida e aprendido
Português como segundo idioma. Eles podem ser filhos de imigrantes ou ter crescido no Brasil.
Você ainda pode encontrar pessoas que aprenderam sua nova língua como a segunda língua
deles. É importante entender com quais destes grupos você precisa praticar.
Se uma pessoa cresceu em um país e se mudou para o Brasil enquanto adulto, tudo bem praticar
com ela. Sua língua nativa provavelmente não foi afetada por ter aprendido Português.
Entretanto, se ela se mudou pra cá quando era criança, ou se nasceu aqui, não pratique com ela
até que tenha se tornado fluente. Isso porque muito provavelmente ela está cometendo muitos
erros gramaticais devido a pensar principalmente em Português. Um bom jeito de testar isso é se
ela fica alternando entre ambos os idiomas frequentemente enquanto está falando. Se o seu
potencial professor aprendeu Português como língua nativa, tenha cuidado ao aprender com ele.
Mesmo se ele for um Mestre intérprete certificado como eu, ele provavelmente ainda pode
possuir algumas falhas na língua estrangeira.
Pra mim, é mais difícil falar uma língua estrangeira com alguém que fala inglês. Embora seja
bilíngue, parte de mim sabe que a coisa mais fácil a se fazer seria falar em Inglês. É da natureza
humana escolher o caminho com menor resistência, e uma vez que a língua nasceu da
necessidade de se comunicar, essa necessidade seria mais facilmente satisfeita ao falar inglês
com eles. Por esta razão, eu sempre tento encontrar falantes nativos que sabem pouco ou nada
de inglês.
O orgulho muitas vezes vai tentar impedir seu aprendizado. Quando falantes nativos estão
falando com você e eles disserem algo que você não entendeu, você pode ser tentado a fingir que
você sim, entendeu, pra não passar pelo constrangimento. Isso não vai te beneficiar em nada.
Tudo bem pedir para eles repetirem o que disseram ou pra falar mais devagar . Lembre-se, você
está aprendendo.
Um erro muito prejudicial que eu vejo aprendizes de idiomas cometerem é o de tentar
interpretar o que está sendo dito a eles em sua língua materna. Isso só vai atrapalhar sua
aprendizagem. Em primeiro lugar, a pessoa que fala já sabe o que disse a você, então não tem a
necessidade de se interpretar pra ela. Segundo, sua meta é ser capaz de pensar também na língua
estrangeira, o que não pode ser feito se você continua transformando o que você escuta em
Português. Quando alguém falar com você no outro idioma, e você não estiver certo se entendeu
o que foi falado, tente repetir a eles na mesma língua. Por exemplo, se te disser, “Você tá com
fome?” você pode responder, “se eu estou com fome?” ou simplesmente repetir exatamente o
que foi dito.
Outra queda em potencial é a frustração que vem ao não entender palavras faladas por nativos.
Isso vai acontecer mais e mais frequentemente quando você estiver rodeado por eles. Lembre-
se, a mesma coisa ocorreu com você em sua primeira língua, e isso aconteceu por muitos anos.
Felizmente pra você, o estresse de não entender vai te ajudar a ouvir mais atentamente.
Conforme você mergulha no oceano profundo dos infinitos sons da língua falada por nativos, sua
consciência vai aumentar, fazendo com que você tente nadar em vez de afundar, ou seja, falar.
Isso pode exigir algumas experiências com diferentes cursos em áudio antes de você encontrar
um que você sinta que é certo pra você. Na minha opinião, os cursos que são mais efetivos são
aqueles que fazem o estudante relembrar e falar palavras que aprendeu anteriormente. Após as
falas em cada frase, há espaço o bastante para que o aprendiz dê as respostas em voz alta,
seguido por uma gravação da resposta correta dada pelo falante nativo. Existem cursos que
fazem o aluno repetir palavras e frases depois do falante nativo, na esperança de que eles irão
aprender o material por essa repetição incessante. Repetir o que ouve não é tão efetivo quanto
ser induzido a lembrar o que você já aprendeu. Inicialmente você tem que repetir ou imitar
quando aprende as palavras pela primeira vez, mas a repetição por si só não faz com que a
aprendizagem aconteça.
Seu áudio-curso deve ser sobre conversas e simular interatividade com falantes nativos. Você
deve ser induzido a participar de conversas simuladas. Se o curso tem diálogos, escute-os com
frequência. Tente fazer “shadowing” nas conversas pra te ajudar a construir fluência. Fazer
shadowing é quando você imita a fala imediatamente após ouvi-la. Se você está imitando
simultaneamente uma conversa, por exemplo, você estaria falando as palavras da conversa junto
com a gravação, apenas estará atrasando um pouco em relação aos falantes. Isso vai te ajudar a
construir velocidade e fluidez, treinar seu ouvido pra ouvir, melhorar sua gramática, solidificar o
vocabulário aprendido, adotar entonação e pronúncia, desenvolver ritmo, e por último te ajudar a
soar como um nativo.
Quando estiver aprendendo e praticando frases ou imitando conversas, se imagine falando com
nativos. Seja criativo. Imagine seus sentidos sendo envolvidos. Por exemplo, se a conversa
simulada está acontecendo em um café, se imagine estando lá, sentindo o cheiro dos grãos de
café no ar, ouvindo a música tocar nas caixinhas de som. Inclua a maior quantidade de sentidos
possível.
Enquanto está passando por este processo de usar um curso em áudio pra alimentar seu arsenal
de conversação, não se esqueça de continuar sua prática de escuta diária que foi discutida no
capítulo anterior. A exposição contínua à língua falada vai acelerar seu aprendizado de maneira
exponencial.
Espero que neste ponto você já tenha desenvolvido entendimento o bastante e coragem pra
encarar o desafio de aprender uma nova língua de cabeça erguida. Talvez você ainda tenha
algumas dúvidas sobre sua habilidade em soar como um nativo. Eu te convido a continuar por
essa jornada comigo. Nós estamos só começando.
05 Os Sons do Idioma
Passo Três – Soando como um Nativo

Dominar sotaque e pronúncia pode ser o marco mais importante em sua jornada para aprender
uma língua estrangeira, porque neste ponto, você terá treinado seus ouvidos com sucesso para
ouvirem os sons verdadeiros do idioma como ele é falado por nativos, e seus órgãos responsáveis
pela fala os reproduzirem. Até que você atinja este ponto, quanto você será capaz de entender ao
ser exposto à língua falada?
Pronúncia é o elemento chave que conecta o escutar e o falar uma língua. Se você pode
pronunciar uma palavra corretamente, então você pode ouvi-la corretamente. Por exemplo, se
você pensar que o verbo estar em inglês é to be (pronunciado com um sotaque brasileiro,
terminando a palavra como os brasileiros dizem a palavra subi) então não resta dúvidas de que
você tem uma compreensão limitada da língua falada. Você provavelmente não seria capaz de
reconhecer a palavra to be no meio de – They told me I have to be at the office by eight o’clock. –
porque as palavras que você ouve na sua cabeça soam diferentes quando pronunciadas por
nativos. Afinal, se não soar como inglês, isso é realmente inglês?
Infelizmente, é aceitável falar e até mesmo afirmar ser fluente em uma língua estrangeira ainda
que mantendo o sotaque do idioma nativo. Isso é claro, é resultado da falha no sistema que eu
descrevi no capítulo um. Devido à abundância de aprendizes de uma segunda língua que nunca
aprendem a soar como um nativo, um mito foi incorporado na cabeça da maioria das pessoas de
que fazer isso é algo inatingível. Espero que você tenha lido a introdução deste livro e
concordado comigo de que seu corpo e sua mente humana são semelhantes aos daquelas pessoas
de outros países, e que você é completamente capaz de aprender a usar seus órgãos responsáveis
pela fala para produzir sons de linguagem humana, independente do idioma. Se você não está
convencido disso, por favor leia novamente a introdução.
Soar como um nativo não só é atingível, como também é necessário. Uma característica de um
idioma é que se dois ou mais falantes nativos da mesma língua estão envolvidos em uma
conversa verbal, eles soam como se estivessem falando a mesma língua. Se eles são do Japão e
estão falando japonês, eles soam como se estivessem falando japonês, usando sons do idioma
japonês, com sotaque e pronúncia nativa. Se não soa como japonês, isso é realmente japonês?
Se você está determinado a aprender de verdade uma língua, então todas as suas dúvidas pré-
concebidas com relação à sua habilidade de soar como um falante nativo precisam ser dissipadas.
Sempre que essas dúvidas vierem atormentar sua mente, lembre-se que você é humano, com
uma anatomia semelhante àquela de um falante nativo da língua que você está aprendendo.
Lembre-se também que a única razão pela qual a maioria das pessoas que você conhece não são
bilíngues é simplesmente a abordagem para o aprendizado da língua que foi vendida a elas.
Até este ponto no livro, nós temos discutido principalmente como se colocar em um processo
que seja semelhante à maneira pela qual você aprendeu sua primeira língua. Primeiro você
ouviu. Então você aprendeu a imitar falantes nativos. Com treinamento você gradualmente
aprendeu como soar como um falante nativo. A chave pra aprender uma outra língua será
permitir que seus incríveis corpo e mente aprendam naturalmente como falar, através dos
falantes nativos, assim como você simplesmente já fez uma vez antes. Seu cérebro já estava
programado como uma criança pra ser capaz de aprender uma língua. Entretanto, alguns ainda
podem achar difícil produzir os sons da língua que estão aprendendo. Se for o caso, os
problemas serão em sua maioria questões de consciência. Nas palavras de um dos meus colegas
intérpretes, Ron Vasquez, que se mudou para os EUA enquanto adulto e aprendeu inglês sem
sotaque, “É só prestar atenção”. Vai levar algum tempo pra você soar como um nativo, assim
como leva para as crianças deixarem de soar como criancinhas quando falam. Lembre-se que
você também já soou como criancinha.
Para soar como um nativo, você precisa adotar o pensamento de que a língua que você está
aprendendo é, de fato, estrangeira, e além disso deve conter em sua maioria sons que você ainda
não aprendeu a produzir. Não espere que os sons sejam como aqueles da sua primeira língua. Se
por coincidência você descobrir sons que são como aqueles da sua língua nativa, então
simplesmente se considere afortunado por não ter trabalho com os ditos sons. Todos os outros
sons são estrangeiros, ou desconhecidos pra você, e devem ser tratados como tal.
As habilidades que você aprendeu no capítulo três, “Página em Branco”, têm que ser aplicadas
diariamente. Aquiete sua mente e simplesmente observe. Tente não comparar o que está
ouvindo com sons conhecidos. Finja que seu cérebro está gravando os novos sons pra tocar
depois. Se estiver ouvindo uma gravação da voz de um falante nativo, tente e imagine o jeito
que ele está movendo sua boca. Se você estiver cara a cara com um nativo, observe sua boca
atentamente.
Existem muitas coisas pra se prestar a atenção quando observar um falante nativo falar.
Primeiro de tudo, preste atenção nos sons das vogais. Em português, nossas vogais são bem
instáveis. Apenas olhe para a letra “e” neste parágrafo. Quantas versões diferentes do som do
“e” você consegue encontrar? Felizmente, em muitas outras línguas, os sons das vogais são
constantes, ou pelo menos mudam muito pouco. Quando estiver observando, pergunte a si
mesmo as seguintes questões: As vogais estão sendo produzidas com a garganta relaxada e
aberta, ou apertada e restrita? As vogais estão sendo produzidas com a língua do falante erguida
na frente ou atrás da boca, ou está reta? O som está sendo produzido com muito fluxo de ar?
Soa rouco pela fricção sendo produzida atrás da boca? Os sons parecem estar saindo mais pelo
nariz, produzindo um som nasal, ou o som está sendo direcionado principalmente pela boca?
Parece que a língua está sendo abaixada, forçando a garganta a estar exageradamente aberta,
como em alguns sons em Árabe? Os sons das vogais estão sendo produzidos abrindo e fechando
a mandíbula, e/ou mudando a forma dos lábios, ou a mandíbula está fixa em uma posição? Os
sons das consoantes estão sendo produzidos com os lábios, língua, ou dentes? Se estão sendo
produzidos com os lábios, soa como se os lábios estivessem soltos, permitindo muito fluxo de ar,
ou apertados, e pressionados firmemente juntos pra criar o som? Se os sons das consoantes estão
sendo produzidos com a língua, onde a língua está sendo posicionada? Ela está relaxada ou
sendo pressionada firmemente contra a parte de trás dos dentes de cima? Os sons estão sendo
produzidos pela língua tocando alguma parte da frente ou de trás da boca? O som está sendo
produzido fazendo um zumbido? Há uma vibração ou um movimento envolvendo a língua?
Você ouve qualquer intervalo glotal (obstruções do fluxo de ar nas cordas vocais)?
Isso parece muito para se prestar a atenção, porque é. Um idioma é bem complexo, assim como
nós, enquanto seres humanos. Apenas se lembre sempre que a boca do falante nativo é uma boca
humana, como essa que você possui. Se eles são fisicamente capazes de produzir aqueles sons,
então você também pode aprender como. Felizmente pra você, você é o único que controla o
que diz e como o diz. Quando você fala, os sons que saem da sua boca são programados por
você. Você ouve esses sons em sua cabeça, então os reproduz com seus órgãos vocais.
Provavelmente você raramente se pega acidentalmente falando sua língua nativa com um sotaque
estrangeiro. Você fala como um falante nativo. Da mesma forma, quando você fala uma língua
estrangeira, você controla como você soa.
Outra coisa que você precisa estar ciente sobre seu sotaque, é que ele é adaptável, mesmo em
sua própria língua. Se você fosse se mudar pra Bahia, depois de algum tempo, você não adotaria
um sotaque baiano, mesmo se fosse leve? E se você fosse se mudar para o sul? Você não iria
finalmente adotar, talvez, um pouco do sotaque cantado? É provável que iria. Mesmo que você
ache que não, família próxima e amigos sempre percebem as diferenças quando você volta pra
casa para uma visita. Como humanos, nos adaptamos ao nosso ambiente. Sendo expostos a
falantes de uma certa região faz com que nos adaptemos ao jeito deles falarem. Igualmente, a
constante exposição a falantes nativos de uma língua vai ter o mesmo efeito. Confie em suas
habilidades, como espero que agora você entenda que você é uma máquina de aprender idiomas.

Existem alguns truques mentais que você pode empregar quando estiver aprendendo como soar
como um nativo. Uma coisa que você pode fazer é falar português mas personificar um sotaque
estrangeiro. É como tentar soar como Erick Jacquin, Ligueirinho ou Pepe le Gambá. Outra
técnica boa é tentar combinar o tom da voz do falante nativo com o seu, o mais próximo que
você conseguir. Se o falante for do sexo oposto, simplesmente ajuste a oitava da sua voz pra
combinar com seu tom, seja uma oitava acima ou abaixo. Além disso, preste muita atenção à
entonação. Se uma palavra ou frase sobe ou desce, ou uma certa parte de uma palavra é
enfatizada, imite exatamente igual.
A velocidade do idioma também é fator importante quando se trata de soar como um nativo. A
dificuldade com a velocidade da língua é que no começo, seus órgãos vocais não estão
acostumados a produzir os sons da língua. Portanto, de início, você vai ter que falar mais
devagar do que um nativo. É importante não acelerar sua fala se isso significa sacrificar sua
pronúncia. Fale devagar o bastante pra dizer cada palavra perfeitamente. A memória muscular
vai trabalhar ao seu lado, e depois de prática lenta o bastante, a velocidade vai vir naturalmente.
Quando você estiver sozinho, pratique falar as palavras que são difíceis pra você. Analise cada
som da palavra. Quando você perceber qual parte da palavra ou combinação de palavras está te
causando problemas, pronuncie os sons difíceis repetidamente como um exercício. Treine seus
órgãos vocais pra soarem como você quer que soem.
Vá em frente e aceite o fato de que este processo vai ser um desafio e pode levar mais tempo do
que você quer que leve. É simplesmente uma questão de persistência casada com auto-crítica. O
único jeito real de provar a si mesmo que está pronto para a pré-escola em uma língua estrangeira
é gravando sua própria voz e verdadeiramente se observando soar como um falante nativo. Você
deve se gravar regularmente até que tenha atingido o ponto no qual você consegue dizer
honestamente que você soa como um nativo.
06 Experiência Pessoal

Uma vez que você aprendeu a soar como um falante nativo e se tornou fluente em conversas,
pelo menos em um nível básico, seu próximo passo é aprender como ler e escrever na língua
estrangeira. A forma mais eficaz de se fazer isso é usando diferentes tipos de cursos de línguas.
Sim, eu realmente acabei de recomendar o uso de cursos de idiomas! Como coloquei
anteriormente, a maioria dos cursos de línguas não estão errados em sua abordagem, estão
apenas mal colocados. Entretanto, uma vez que você estabeleceu as habilidades básicas de
conversação em um idioma, e aperfeiçoou seu sotaque e pronúncia, cursos de línguas podem ser
altamente eficientes.
Antes de mergulhar em como encontrar o conjunto certo de cursos de línguas pra você, eu
gostaria de compartilhar algumas de minhas experiências pessoais que me ajudaram a me tornar
o aprendiz de idiomas que sou hoje. Meu entendimento, tanto da efetividade como da ineficácia
de cursos de idiomas, se formou depois que me tornei proficiente em aprender línguas
estrangeiras. Eu me tornei fluente em duas línguas estrangeiras bem antes de eu encontrar um
curso de línguas que funcionasse pra mim.
Antes da minha primeira viagem ao Brasil, eu era incapaz de encontrar um curso decente de
Português. Antes de eu deixar os EUA, meu pai me deu um dicionário de bolso recheado de
palavras em Português que eu não podia ler. Quando entrei a bordo do avião, eu fiquei
encantado em encontrar um grande grupo de passageiros brasileiros que estavam retornando ao
seu país. Comecei imediatamente a interagir com eles na esperança de que eu fosse capaz de
aprender algumas palavras antes que eu chegasse no Brasil. E assim começou minha primeira
experiência de aprendizagem em línguas estrangeiras.
Assim que aterrissamos no Brasil, fui imediatamente até a livraria do aeroporto à procura de
algo que pudesse me ajudar a aprender. Tudo que pude encontrar foram alguns dicionários
bilíngues e um pequeno livro de frases. Comprei o livro de frases e comecei a me enrolar com
ele. Eu não conseguia ler nada do português, e eu sabia que se eu tentasse, eu certamente não
saberia como pronunciar as palavras. Naquele momento me ocorreu uma ideia. Eu estava
rodeado de falantes nativos. Por que não eles pra me ensinarem?
No momento, eu estava com uma tosse horrível após quase me afogar na praia pouco antes da
minha viagem. Eu queria que as pessoas que eu conhecesse e interagisse soubessem que eu não
estava doente, assim elas não teriam medo de falar comigo. Procurei no livro de frases até
encontrar a parte sobre saúde, me aproximei do próximo brasileiro que eu vi, e este me treinou.
Apontei para as palavras e frases no livro que eu queria aprender, e fiz gestos esperando que a
pessoa entendesse que eu queria aprender como dizer a palavra ou frase indicada. Depois de
aprender as frases básicas pra cumprimentar, a próxima coisa que aprendi a dizer em português
foi, “Eu não tô doente. Eu tenho água nos meus pulmões”. Finalmente, eu tinha algo útil pra se
dizer! Toda vez que eu tossia, se uma pessoa fizesse uma cara de “por favor, não vai me passar
essa tosse”, eu usaria a mesma frase.
Eu literalmente usei e abusei daquele livro de frases e do meu dicionário de bolso durante
minha viagem. Eu não tentei descobrir como ler nada naquele ponto, porque eu sabia que não
iria pronunciar corretamente. Eu simplesmente encontrava alguém pra falar, pensava em um
assunto, encontrava aquele assunto no livro de frases, e apontava para as palavras que eu queria
aprender. Eu escutava atentamente conforme os falantes nativos me treinavam, olhando suas
bocas darem forma às palavras, tentando me igualar ao seu tom, entonação, sotaque, e pronúncia
o melhor que eu pudesse. Depois que eu aprendia uma frase ou duas com uma pessoa, eu
imediatamente ia e praticava o que aprendi com outra. Eu praticava as mesmas frases com o
maior número de brasileiros diferentes possível. Eu tinha uma grande vantagem, também.
Havia brasileiros em todo lugar.
Depois de apenas três dias estando no Brasil, eu era capaz de manter longas conversas com
falantes nativos sobre uma variedade de assuntos. A maioria das pessoas me elogiavam, me
dizendo que eu falava com quase nenhum sotaque. Quando eu retornei aos EUA, decidi
continuar a aprender português. Por coincidência eu vivia em uma cidade onde moravam vários
brasileiros, então eles se tornaram meus novos melhores amigos. Eu fazia ligações o mais
frequentemente possível para meus amigos no Brasil e aprendi como ler e escrever trocando e-
mails e utilizando salas de bate papo online. Procurei constantemente em livrarias, por cursos de
português que favorecessem meu aprendizado. Encontrei alguns que eu gostei, mas a maioria
deles eram ineficazes.
Ainda naquele ano eu comecei a trabalhar no frigorífico de perus e decidi aprender espanhol.
Como eu já havia descoberto um jeito de efetivamente aprender português, simplesmente repeti
o processo em espanhol. Durante meu primeiro dia no trabalho, fui feliz o bastante em ter
alguém pra me ensinar as frases mais úteis que eu podia ter aprendido: “Como se diz__?” e
“Como se chama isso?” Eu comprei um livro de frases e um dicionário e fiz exatamente o que
eu tinha feito no Brasil. Eu passei o tempo todo no trabalho aprendendo palavras e frases com os
nativos. Me tornei amigo próximo de vários de meus colegas de trabalho e passava um bom
tempo com eles fora do trabalho. Nessa época, o processo funcionou muito mais rápido. Me
tornei fluente em apenas três curtos meses.
Depois de me tornar fluente em espanhol, decidi começar a aprender algumas frases de outros
trabalhadores imigrantes no frigorífico, que em sua maioria eram chineses. Fiz o que era lógico.
Comprei um livro de frases e comecei a sair com os trabalhadores chineses. Infelizmente, a
única hora de verdade que eu tinha pra passar com eles era quando nossas pausas para o almoço
coincidiam, já que trabalhávamos em departamentos diferentes. Independente disso, eu fui capaz
de aprender um monte de frases úteis em mandarim. As poucas frases que eu aprendi em coreano
e na língua maia chamada Mam, vieram de poucas conversas que tinha com os falantes nativos.
Em um certo momento, decidi aprender francês. Fui até a livraria várias vezes, e comprei
diversos cursos, mas não tinha nenhum acesso a falantes nativos. Eu passei alguns meses
tentando aprender francês, antes de desistir por um tempo. Minha pronúncia era horrível, e eu
não sentia que estava tendo qualquer progresso em geral. Fiz a mesma coisa com algumas outras
línguas, como hebraico e grego, também com pouco ou nenhum sucesso.
Em uma noite, enquanto eu estava vasculhando desesperadamente as prateleiras de minha
amada livraria, na esperança de encontrar o diamante bruto, um senhor que estava no mesmo
corredor que eu pegou um curso de línguas e me perguntou se eu já havia tentado aquele. Eu
respondi que não. Ele então começou a se gabar que com o mesmo curso de idiomas, ele
aprendeu como conquistar mulheres em cinco línguas diferentes. Depois que eu parei de rir, dei
uma olhada no curso e decidi comprar a versão francesa. Quando entrei no meu carro, eu abri o
curso e fiquei surpreso quando vi que era somente um conjunto de fitas. Não tinha nem um
dicionário nem um livro do curso. Fiquei um pouco decepcionado mas coloquei uma delas no
meu toca fitas de qualquer maneira.
Ao longo das lições, eu estava sendo instruído a ouvir à voz do falante nativo na gravação, e em
seguida participar de conversas simuladas, prestando bastante atenção em minha pronúncia.
Surpreendentemente, este método se provou bem eficaz. Usar um curso todo em áudio era o
mais próximo que eu tinha experimentado de conversar com falantes nativos. Eu aprendi mais
francês nos poucos dias seguintes que eu tinha aprendido durante os seis meses que passei
tentando aprender com livros. Eu desisti do francês novamente pouco depois, visto que não
tinha acesso a nenhum falante nativo. Isso foi antes dos tempos de internet em alta velocidade,
smartphones e conversas por vídeo.
Mais tarde naquele ano, fui convidado a dar uma viajada pela Europa. Nosso grupo estaria indo
para a Suíça e para a Itália. Fiz algumas pesquisas e descobri que seis ou mais línguas diferentes
eram faladas nos dois países que estávamos indo visitar. Voltei imediatamente pra livraria pra
comprar cursos todos em áudio nestes idiomas em particular, mas só fui capaz de encontra-los
em alemão, alemão suíço, mandarim e italiano.
Poucos meses antes da nossa viagem, simplesmente por acaso o intérprete italiano do nosso
grupo não pôde mais se juntar a nós, então me pediram que aprendesse italiano. Eu não sabia se
eu podia aprendê-lo a tempo pra estar a serviço da viagem, mas de qualquer forma resolvi tentar.
Quase imediatamente depois que eu decidi fazer isso, tive uma experiência muito feliz. Eu
estava trabalhando no shopping local naquela época. Um dia, um adolescente que mal conseguia
falar inglês entrou na loja. Ele disse que era da Itália e que estava nos Estados Unidos visitando
seu tio que era dono da pizzaria no shopping. Comecei imediatamente a frequentar a pizzaria
todo dia e praticar italiano com o dono e seu sobrinho. Agora na Europa, fiquei emocionado ao
encontrar falantes nativos de espanhol, português, francês, alemão, alemão suíço, mandarim,
japonês e italiano. Eu estava no paraíso dos amantes de línguas. Na hora que chegamos na
Itália, eu já tinha aprendido italiano o bastante para que não tivéssemos nenhum problema de
comunicação durante nossa viagem.
Foi naquela viagem que eu decidi que queria passar o resto da minha vida aprendendo
idiomas. Conheci várias pessoas que eram fluentes em cinco ou mais línguas e comecei a
acreditar que eu poderia ser como eles. Depois de voltar pros EUA, planejei outra viagem de
volta à Europa, mas desta vez somente para a Itália. Eu passei os próximos três meses estudando
italiano e praticando com o dono da pizzaria. De volta à Itália, me matriculei em aulas diárias de
italiano, que duravam mais ou menos cinco horas por dia. Comecei rapidamente a ter sucesso no
idioma italiano. Depois de apenas seis semanas estando lá, me tornei mais fluente em italiano do
que eu era em espanhol. Eu finalmente havia me tornado fluente em minha quarta língua.
Desde então, procurei ativamente cursos de idiomas que me ajudariam a aprender as línguas
dos falantes nativos que mantinha contato regularmente. Quando eu estava trabalhando no
shopping, eu tinha acesso a pessoas de Israel, Paquistão, Vietnã, China, e Taiwan. Eu comprei
vários tipos diferentes de curso, mas aqueles que foram mais efetivos pra começar foram os
áudio cursos. Além do mais, o único sucesso que eu já tive em qualquer língua veio ao praticar o
que aprendi nos cursos com falantes nativos.
Uma vez eu passei dois anos estudando árabe sírio com um curso, ainda com nenhum acesso a
falantes nativos. Quando me mudei pra cidade em que vivo agora, conheci vários falantes
nativos daquele dialeto do árabe e achei que minhas habilidades na língua árabe eram muito
limitadas. Eu sofria, mesmo com a maioria das conversas básicas. Só me tornei proficiente
depois de ter passado uma quantidade de tempo suficiente com árabes daquela região do Oriente
Médio.
Finalmente eu tive sucesso em francês depois de me mudar pra um apartamento que ficava há
poucas portas do apartamento de um falante nativo. Através da prática diária com ele e com sua
família, junto com os cursos de idiomas que eu estava usando, eu fui capaz de me tornar bastante
proficiente na língua.
A razão pela qual quis explicar tanto sobre minha experiência pessoal, foi pra mostrar pra você
que minha perspectiva sobre cursos de línguas é aquela de uma pessoa que aprendeu como se
tornar fluente em línguas estrangeiras, com e também sem o uso de cursos de línguas. Eu tenho
sido um ávido aprendiz de línguas desde 2001 e comprado uma infinidade de tipos diferentes de
curso. Eu vi e até comprei ao ver anúncios afirmando que o jeito deles era o melhor jeito, ou que
seu método era o jeito mais rápido de se aprender um idioma. Encontrei alguns cursos que eu
gosto, e muitos que eu odeio. Tendo eu me aproximado da aprendizagem de idiomas do jeito que
a maioria das pessoas fazem, comprando o curso de línguas com o anúncio mais convincente
sem passar pelas experiências que eu mencionei neste capítulo, eu duvido que eu seria fluente em
qualquer coisa que não fosse inglês.
Meu objetivo agora é te ajudar a dissolver os equívocos que você foi levado a acreditar, assim
como abrir seus olhos para a realidade de aprender idiomas com o auxílio dos cursos. Ao
descobrir os mitos que estão por trás da maioria dos anúncios de cursos de idiomas, você estará
melhor preparado para procurar o conjunto certo de cursos de idiomas pra você.
07 Em Curso
Passo 4 – Aprendendo a ler, escrever, e o básico de gramática

O mito mais comum que eu vejo anunciado é o de que um certo curso vai te tornar fluente em
apenas alguns meses. Primeiramente, como já afirmei várias vezes neste livro, um curso de
línguas por si só não vai te fazer fluente. Em segundo lugar, a matemática precisa ser entendida.
A maioria dos adultos sabem 20.000 a 30.000 (ou mais) palavras em sua língua nativa. A
maioria das crianças de 8 anos sabem mais ou menos 10.000 palavras, e uma criança da pré-
escola, em média, sabe em torno de 5.000. Se fossemos rotular esses três níveis como básico,
médio, e fluência nativa, o que temos a seguir seria um cronograma mais preciso para atingir
cada nível de fluência:
Fluência básica – 5.000 palavras
10 palavras por dia = 500 dias (+/- 17 meses)
20 palavras por dia = 250 dias (+/- 9 meses)

Fluência média – 10.000 palavras


10 palavras por dia = 1.000 dias (+/- 34 meses)
20 palavras por dia = 500 dias (+/- 17 meses)

Fluência nativa – 20.000 a 30.000 palavras


10 palavras por dia = aproximadamente 7 anos
20 palavras por dia = aproximadamente 3.5 anos
Em outras palavras, como você espera se tornar fluente em um curto espaço de tempo com um
curso? É praticamente impossível. Assim como as vitaminas são estritamente suplementos e
não podem substituir a comida, cursos de línguas, também, são suplementares por natureza. O
jeito mais rápido que você pode aprender uma língua é tendo uma exposição massiva a falantes
nativos.
Um jargão comum no gênero da aprendizagem de idiomas é a imersão. Cursos que dizem ser
de imersão completa estão fazendo propaganda enganosa. Você não pode se imergir
completamente em uma cultura na frente do computador ou de um aplicativo no celular. Isso é
quase como se eu tentasse pegar um bronzeado assistindo um vídeo do por do sol.
No que diz respeito aos cursos "apontar e clicar", eu os achei minimamente eficazes, a não ser
quando usados para aprendizagem passiva. Pode ser comparado a uma prova com múltipla
escolha que um aluno tem na escola. Quando eu era criança, eu sempre esperava que nosso
professor nos desse esse tipo de prova. Isso porque quando é apresentado um número possível
de respostas, tudo o que você tem que fazer é usar o processo da eliminação e separar a resposta
correta. Você não tem nem mesmo que saber qual é a resposta correta. Você simplesmente
precisa saber quais são as respostas erradas. Por outro lado, em um teste no qual é pedido pra
você preencher com a resposta correta, sem nenhuma resposta pra você escolher, ou você sabe a
informação ou não sabe. Enquanto está envolvido em uma conversa com falantes nativos, o
aprendiz não tem como escolher o que precisa dizer em uma lista de respostas possíveis. Ele
precisa recapitular o que aprendeu, ou então, não se comunicará efetivamente. Na vida real, você
deve ter fácil acesso ao vocabulário e às expressões aprendidas.
Aprender por repetição tem a mesma falha. Ser capaz de repetir o que ouviu é uma habilidade
com valor inestimável, entretanto, é exigida pouca ou nenhuma recapitulação. A forma mais
efetiva de repetição é a de repetir a ação de relembrar a informação aprendida, o que vai reforçar
o que já foi visto. Como disse no capítulo quatro, um curso ideal é aquele que te ensina como
dizer alguma coisa, depois te faz relembrar a dita palavra ou frase, então te dá a resposta correta
pra comparar com a sua.
Muitos cursos de idiomas assim como programas de línguas estrangeiras em sala de aula focam
demais em gramática no começo. Imagine o seguinte cenário; Imagine que seu aniversário de
casamento está chegando, e você gostaria de fazer algo especial para seu marido ou esposa.
Você decide fazer algumas aulas de violão e aprender como tocar pra ele ou ela uma música
naquele dia especial. Durante a primeira aula de violão, você explica suas intenções para o
instrutor, e diz a ele o nome da música que você deseja aprender. Em vez de te ensinar como
tocar alguma coisa, o professor te ensina todas as diferentes partes do violão. Este processo leva
a aula toda, e você sai bastante decepcionado e confuso.
Na próxima semana, você volta na esperança de poder aprender a tocar pelo menos um ou dois
acordes, assim você pode começar a praticar a música. Ao chegar à aula, o instrutor testa seus
conhecimentos sobre as partes do violão. Uma vez que essa não foi a razão pela qual você
começou as aulas de violão a princípio, você não tinha estudado o que aprendeu em sua primeira
aula, e você falhou neste teste. Como resposta ao seu desempenho fraco no teste, o professor
repete a primeira aula, explicando cuidadosamente cada detalhe sobre cada parte do violão.
A quantas aulas mais você iria antes de decidir entre, ou parar, ou encontrar um professor
diferente? Isso pode parecer bobo, mas muitas pessoas abordam a aprendizagem de idiomas de
um jeito parecido, principalmente no formato de sala de aula, quando focam principalmente em
gramática. O problema é que gramática é somente uma parte daquilo em que um idioma
consiste. Tentar aprender uma língua focando principalmente em gramática é quase como tentar
aquecer um copo de água aprendendo sobre as partes de um micro ondas; ou aprender sobre
engenharia elétrica quando tudo que você quer fazer é ligar sua televisão.
Na minha opinião, a melhor forma de abordar a gramática é não se preocupando com ela por
um tempo. Focar principalmente nas regras de gramática no começo da jornada de aprendizagem
de alguém, pode ser uma tarefa árdua, além de chata por sinal, e com certeza não fornece muito
estímulo mental, mas sim estresse e frustração. Se você vem aprendendo sua nova língua
baseado na filosofia deste livro até este ponto, então você está simulando a experiência de
aprendizado de sua primeira língua. A gramática é algo em que você começou a focar depois
que se tornou proficiente pra conversar em sua língua nativa. Não lhe foi ensinado um jeito pra
aprender como se tornar fluente, em vez disso, foi um método de refinar e aprofundar seu
entendimento da língua materna.
No começo, a gramática é melhor absorvida ao se aprender como falar como um nativo, desde
que você preste atenção na estrutura das frases. Aprendendo a língua como é falada por nativos,
seu cérebro naturalmente vai colocar as peças e montar o quebra-cabeça da gramática. Essa é a
razão pela qual fazer shadowing da língua falada regularmente é tão útil. Quando alguém estuda
a gramática depois que já adquiriu um entendimento decente da língua, o processo se torna muito
mais recompensador, permitindo que o aprendiz revele mistérios até então não resolvidos e
responda questões nunca antes perguntadas sobre o idioma. Por estas razões, eu recomendo que
você não use quaisquer livros baseados em gramática até depois de sentir-se confortável com a
língua.
Uma ótima ideia é encontrar cursos e/ou aplicativos que incluam vídeos de falantes nativos
falando as palavras e frases que você está aprendendo. Isso vai te ajudar a ver como formar as
palavras e assim melhorar sua pronúncia. Isso é altamente eficaz, uma vez que induz a
aprendizagem da leitura labial. Quando você lê lábios você está observando a boca de alguém
formar as palavras, e você pode mentalmente ouvir aquelas palavras em sua cabeça. Na minha
experiência, vídeos de falantes nativos falando de perto têm sido a ferramenta mais eficaz para se
aprender em casa.
Cursos monolíngues também provaram ser muito eficazes pra mim. Por monolíngue, eu quero
dizer que o curso não tem áudio ou texto em sua língua nativa. Você geralmente os encontra
indo atrás dos anúncios de imersão total, ainda que tenha certeza de que não é uma imersão real.
Independente disso, passar por um curso sem texto ou áudio em Português pode te ajudar a
pensar e a raciocinar na língua que está aprendendo. Isso também é uma ótima maneira de
absorver regras de gramática pelo contexto. Além disso, qualquer software ou aplicativo de
aprendizagem de idiomas que você use, deve ter um componente de reconhecimento de voz, de
modo que você possa comparar sua voz gravada com aquela do falante nativo.
Evite cursos com transliteração. Transliteração é quando a pronúncia é soletrada com letras em
Português ao lado ou abaixo da língua estrangeira. Isso simplesmente faz com que você compare
os sons da língua estrangeira aos sons do Português. Isso é apenas um obstáculo para a sua
pronúncia.
Espero que agora você já tenha obtido alguma perspectiva de como encontrar os cursos certos
para você. Eu pluralizo a palavra cursos, porque acredito que você vai precisar usar mais de
um. Todos os cursos são diferentes, e às vezes o que é considerado básico em um curso não é
introduzido até os níveis mais avançados em outro. Usar somente um curso de idiomas vai
deixar muitas lacunas em seu vocabulário. Na minha opinião, é importante olhar para os cursos
como uma forma de entender mais ou menos 70 por cento das palavras que são faladas
diariamente. O resto você pode aprender por exposição massiva tanto à língua falada como
escrita, assim como pode aprender pelo contexto. Na minha experiência, de modo a alcançar
este nível de 70 por cento de compreensão, eu geralmente preciso de pelo menos um curso em
áudio, um ou dois aplicativos ou softwares, com pelo menos um deles sendo monolíngues, assim
como um conjunto de livros de cursos do iniciante ao avançado.
Uma coisa que eu tive que aprender do jeito mais difícil foi a necessidade de dominar bem os
materiais de curso. Quando eu estava apenas começando, minha meta era terminar um curso o
mais rápido possível com a ideia de que, o quanto antes eu terminasse o curso, antes eu me
tornaria fluente. Isso fez com que eu não absorvesse a informação o suficiente e assim era
improdutivo. Exposição repetida é o jeito pra dominar o material. Leve o tempo que precisar
com cada lição. Passe por cada uma delas de novo e de novo, até que você sinta que já a domina.
Você deve saber tão bem sobre ela que vai até parecer um tédio revisá-la. Periodicamente eu
ainda vou revisar o material de cursos que já tenha feito antes. No que diz respeito às partes em
áudio, eu escuto tanto as faixas, que eu posso antecipar a próxima palavra ou frase a ser dita.
Outra dica é somente estudar 30 minutos por vez. Depois disso, faça uma pausa de 10 a 15
minutos pra deixar seu subconsciente processar o material ao qual foi exposto. Para algumas
pessoas, 30 minutos por dia é tudo o que elas dão conta. Depois de mais ou menos 30 minutos,
seu cérebro vai absorver menos e menos informação conforme o tempo vai passando. Alguns
cursos até recomendam somente estudar 30 minutos por dia, mas quando eu penso em quantas
horas por dia um estudante passa aprendendo na escola, eu acredito que uma mente humana
média é mais do que capaz de estudar por um período de tempo estendido, desde que a pessoa
faça pausas adequadas a cada 30 minutos.
Este capítulo é minha longa resposta à pergunta que muitas pessoas têm me feito ao longo dos
anos. Qual é o melhor curso de línguas para se tornar fluente? A resposta é nenhum. Cursos são
somente uma pequena parte da imensa tarefa de realmente aprender um idioma.
08 Fluência

Eu sempre fui fascinado por filmes de espiões, particularmente quando se trata das habilidades
deles em línguas estrangeiras. Na maioria do tempo o personagem fala uma língua estrangeira
aparentemente com fluência e praticamente sem sotaque, assim se passando por nativo. Um
outro termo para este nível é fluência nativa. Este nível de domínio em um idioma sempre me
deixou intrigado. Eu costumava ficar imaginando como seria me tornar tão fluente em uma
língua pra que eu pudesse me passar por um nativo. Agora que eu alcancei isso em um punhado
de idiomas, eu posso te dizer que ser confundido com um nativo é uma das experiências mais
recompensadoras que eu já tive.
Atingir um nível tão alto de fluência pode ser uma meta imponente pra você, e dependendo
de quais são suas metas em aprender idiomas, pode até mesmo estar fora de questão. De qualquer
maneira, se você já alcançou este ponto no livro, eu só posso presumir que você, pelo menos,
deseja se tornar fluente em uma língua estrangeira. Mas o que realmente significa o termo
fluente? Em qual nível alguém pode afirmar ser fluente em um idioma? Na minha opinião, é um
termo mal interpretado e geralmente mal usado. Muitas pessoas que afirmam ser fluentes em
uma língua ainda sofrem pra soar como um nativo, ou mesmo se esforçam pra manter conversas
básicas.
O conceito de ser fluente geralmente é estabelecido ao dizer que uma pessoa atingiu o NÍVEL
de proficiência chamado fluência, como se fluência fosse um destino. Contudo, fluência não é
um nível, nem um ponto na jornada do aprendiz de idiomas. Ela é mais como uma escada sem
fim onde cada degrau é um nível mais elevado de habilidade para fluir em uma conversa com
nativos, assim como um nível mais elevado de compreensão e uso tanto da língua escrita como
falada. O primeiro degrau nessa escada é o ponto em que um aprendiz de idiomas se tornou
proficiente em conversação e desenvolveu a habilidade de soar como um nativo. Independente
de seu vocabulário limitado, essa pessoa pode fluir verbalmente em uma conversa.
Assim como crianças são consideradas fluentes, mesmo que em um nível básico antes de
começar a pré-escola, pode também o aprendiz de idiomas ser considerado fluente neste nível.
Aqui é que está o problema. Obviamente neste ponto o aprendiz não aprendeu a ler ou escrever
e tem um entendimento muito básico de gramática. Se você comparar o nível de proficiência
desta pessoa com alguém que dominou uma língua, então o termo fluente, embora se aplique a
ambos, é bem vago. É por causa disso que quando pessoas me perguntam quantas línguas eu sei,
levo algum tempo pra explicar a resposta.
Se você seguiu os passos descritos nos primeiros sete capítulos deste livro, tendo construído
suas habilidades auditivas, aprendido como imitar e soar como um nativo, aprendido como ler e
escrever assim como o básico em gramática com alguns tipos diferentes de curso, então há
chances de que você seja fluente até um certo nível. Você possui habilidades básicas de uma
língua, ainda que continuamente se veja não entendendo muitas coisas que você lê ou ouve.
Você pode impressionar seus amigos e sobreviver em conversas do dia a dia, mas seu
vocabulário ainda parece limitado, e sua habilidade de se expressar ainda é subdesenvolvida.
Então, o que você precisa fazer pra poder subir o próximo degrau na escada da fluência? Se
você comprou a minha idéia de que completar os passos descritos até agora vai te ajudar a
entender algo como 70 por cento do que você ler e ouvir diariamente, então a primeira coisa
lógica seria construir seu vocabulário. No próximo capítulo, vamos falar sobre muitas maneiras
de construir seu vocabulário rapidamente e efetivamente. Além disso, você deve perceber que
seu entendimento de gramática provavelmente ainda é limitado neste ponto. Nós vamos
trabalhar nisso também. Antes de entrar nestes conceitos avançados, existem algumas coisas que
você pode fazer mentalmente para se preparar para o próximo nível.
A primeira coisa a fazer é prestar atenção no jeito que você se expressa na língua estrangeira.
Quando se atinge um certo grau de proficiência, você vai se ver sendo capaz de fluir em uma
conversa com facilidade, mas você pode estar estruturando suas frases como você faz em sua
própria língua. Mesmo se usar a gramática corretamente, você vai estar principalmente
traduzindo do Português para a nova língua. Por exemplo, “Me retorna”. Em inglês, você não
diz, “Me retorna”. Em vez disso, você diz, “Me liga de volta” ou apenas “Me liga”. “Me deixa
em paz”, também não é usado. Não faz sentido. Se diz, “Me deixa sozinho”, o que soa um
pouco hostil para um falante de Português. Você precisa aprender como os nativos falam. Você
não pode simplesmente procurar as palavras em um dicionário e traduzir pra assim falar como
um nativo. Seu vocabulário, incluindo expressões, tem que vir da observação e compreensão da
língua estrangeira como ela é usada, também da interação com falantes nativos, literatura escrita
no respectivo país, ou mídia originada de lá. Seja honesto consigo mesmo sobre as expressões e
estruturas de frases que você usa. Você está dizendo coisas que você traduziu da sua própria
língua, ou está repetindo o que você observou ser uma expressão real?
A próxima coisa que estou pra te contar pode te parecer estranha se você não passou por isso,
mas se tornar multilíngue é quase como criar múltiplas personalidades. Soa estranho mas
pergunte a qualquer poliglota, e ele mais que provavelmente vai te dizer a mesma coisa. Para se
tornar fluente em outra língua, você tem que criar uma nova versão de si mesmo. Quando falo
outra língua, me sinto como se eu fosse uma pessoa de um país diferente. Quando eu falo
espanhol, me torno mexicano. Sou brasileiro quando estou falando português. Eu genuinamente
sinto e penso diferente. Minha linguagem corporal e meus maneirismos mudam. Talvez isso
tenha acontecido naturalmente mas ainda estou ciente do processo mental que ocorre. Você
precisa se imaginar sendo um falante nativo. Se você estiver aprendendo italiano, se imagine
como um italiano. Se imagine na Itália conversando com outro italiano. Visualize isso de forma
vívida. Envolva seus sentidos. Se imagine falando exatamente como eles falam.
Uma vez, eu tive uma experiência iluminada com um taxista poliglota. Quando minha mulher e
eu entramos no carro dele, notei que ele era do oriente médio. Nós começamos a conversar e ele
mencionou que falava vários idiomas. Então eu comecei a falar com ele em línguas diferentes
que eu sabia na época. Ele era bom e não teve nenhum problema em me responder em cada
língua que eu falei, exceto em Hebraico. Depois de alguns minutos, ele olhou pra minha mulher
e disse, “Uau. Quando seu marido fala essas línguas, ele fala cada uma como se fosse sua
própria língua”. Foi neste ponto que eu percebi que eu adoto verdadeiramente cada língua nova
como minha. Elas se tornam parte de mim e do que eu sou. Adote este modelo mental, por mais
louco que pareça, e você vai ter sucesso em sua jornada de idiomas.
Conforme constrói sua fluência, vai parecer mais natural falar como um nativo. Quando uma
palavra ou frase aparecer em sua cabeça, você deve ser capaz de soltá-la espontaneamente como
um nativo faria. Tudo que você aprendeu deve sair como um reflexo acionado por uma emoção
ou pensamento, assim como a fala espontânea em sua língua nativa. Adote cada palavra e frase
como sendo sua, fazendo dela parte de quem você é e de como se expressa.
Um dos primeiros sinais de que estou me tornando fluente é quando eu começo a sonhar na
própria língua. É sempre uma experiência emocionante, e toda vez quando eu começo a
aprender um novo idioma, eu espero ansiosamente pela manhã em que eu vou acordar depois de
ter tido uma dessas experiências mágicas. Um outro sinal é quando eu me vejo naturalmente
pensando comigo mesmo na língua estrangeira. Em vez de simplesmente exercitar palavras e
frases na minha cabeça, eu estou tendo uma conversa comigo mesmo, assim como eu faria em
inglês.
Você pode se treinar para pensar na língua estrangeira. Novamente, pode até soar bobo, mas
você deve criar personagens com quem falar em sua cabeça. Tenha conversas mentais com esses
personagens falantes nativos na língua deles. Eu faço isso o tempo todo, e com pequeno ou
nenhum esforço. De fato, uma grande parte do meu dia se passa falando com estes personagens
imaginários, desde que eu não esteja mentalmente envolvido em qualquer outra coisa.
Espero que os truques mentais mencionados acima te ajudem a alcançar níveis diferentes de
fluência. Para algumas pessoas, porém, simplesmente a ideia de se tornar fluente já parece
insuportável, principalmente se elas desejam atingir a fluência nativa. O melhor jeito de atacar
essa apreensão é pensar quanto tempo levou pra você aprender sua primeira língua. Verifique
seu nível de comprometimento. Se você realmente quer aprender uma língua, então você deve se
permitir levar tanto tempo quanto lhe foi atribuído quando criança. Embora, se você seguir os
passos deste livro, o processo vai ser muito mais rápido.
Para me tornar um intérprete certificado, eu tive que atingir a fluência nativa como pré-requisito
antes mesmo de começar o treinamento. Eu comecei a aprender espanhol em 2001 e só fui me
certificar em 2009. E só me certifiquei como Mestre, o que é muito mais difícil, em 2017.
Demorou aproximadamente 16 anos pra eu dominar o espanhol e minhas habilidades de
interpretação em um nível assim que eu poderia receber o título de Intérprete Mestre. Mesmo
depois de ter atingido este nível, ainda sou bem limitado em meu vocabulário quando comparado
com um falante nativo bem estudado. A escada do espanhol ainda é aparentemente sem fim para
mim, e eu não sinto que existe um topo do quanto eu posso aprender. Todo dia novas frases e
novo vocabulário são adicionados à língua conforme ela evolui. Assim como a fluência, o
domínio não é um nível único. Ambos são vastos espectros.
Algo ótimo que você pode fazer, principalmente se você está aprendendo somente sua segunda
língua, é ter uma abordagem honesta para a definição de metas. A princípio, gosto de definir
minhas metas baseando-me nos cursos que estou usando. Essas metas são mensuráveis e
visualizadas facilmente. Eu foco em metas de curto e longo prazo. Por exemplo, eu posso dizer,
“Vou completar esta aula hoje, esta unidade essa semana, este nível esse mês, este curso inteiro
esse ano”. Outras metas podem ser pedir comida em um restaurante, ter uma conversa curta com
um nativo, cantar uma música do começo ao fim, e entender uma conversa por telefone ou um
post no Facebook. O ponto é que você precisa ser capaz de aferir seu progresso. Seja razoável
consigo mesmo. Isso vai levar tempo. Sempre se lembre, você só vai aprender de verdade essa
língua se você não desistir.
09 Artesão das Palavras
Passo 5 – Construindo seu Vocabulário

De modo a subir a escada da fluência, você precisa constantemente construir seu vocabulário.
Se você já alcançou um vocabulário de algumas mil palavras, você provavelmente é capaz de
entender a maioria da língua escrita e falada à qual está exposto regularmente, ainda que esteja
constantemente procurando palavras que você não conhece. Apenas uma pequena porcentagem
do vocabulário conhecido por um adulto nativo é usada diariamente. Isso não significa que o
resto do seu vocabulário não seja importante. Existem mais de 170.000 palavras no inglês, ainda
que somente algo como 3.000 palavras formem em torno de 95 por cento do que é usado com
regularidade. Quando surgem tópicos que não são parte do dia a dia, situações mundanas que
uma pessoa normalmente encontra, ela precisa ser capaz de sacar seu vocabulário passivo. Essas
são palavras que todo adulto nativo aprendeu e tem domínio, e assim pode puxá-las em um
instante.
Pense nisso dessa forma. Em sua língua nativa, provavelmente você poderia explicar ao seu
vizinho que você precisa de um cabo de bateria emprestado, porque em algum ponto da sua vida
você teve uma experiência em que precisou dar partida no seu carro. Mas quando foi a última
vez em que você teve uma conversa dessas? Felizmente isso não acontece com frequência. O
termo cabo de bateria é muito importante a saber no caso de tal emergência. Só não é parte do
seu vocabulário do dia a dia, ativo. Você sabe como dizer cabo de bateria em sua nova língua?
Se não, então isso é o que eu chamo de um buraco de vocabulário.
A fluência frequentemente é tópica, o que significa que você aprendeu as palavras relacionadas
aos assuntos com os quais você já teve experiência. Se você trabalha em um restaurante
mexicano e aprendeu um pouco de vocabulário em espanhol pelos funcionários, então você não
tem problema em falar sobre assuntos relacionados a comida e a restaurantes. No entanto, assim
que você se vê em uma situação em que nunca teve uma experiência nela, como ter que levar seu
carro em um mecânico que só fala espanhol, seu vocabulário de restaurante não vai te ajudar
muito.
Frequentemente quando estou envolvido em uma conversa em uma língua estrangeira com
alguém, ou lendo um artigo de notícias, vou me deparar com buracos de vocabulário. Essas são
as partes que faltam do meu vocabulário, as quais não estariam faltando no vocabulário de um
falante nativo adulto. Buracos de vocabulário são causados por falta de exposição ao assunto
naquele idioma. Me lembro de uma vez no meu primeiro trabalho como intérprete, que foi em
uma escola fundamental, em que uma professora me pediu pra traduzir uma carta que era pra ser
enviada pra casa dos pais dos alunos dela. Era uma carta curta, então ela ficou esperando
enquanto eu traduzia. Ela reparou que eu tive que procurar a palavra coelho em espanhol. Ela
ficou surpresa, e perguntou, "Você sabe como dizer tudo isso, mas não consegue dizer coelho?"
Fiquei meio com vergonha, mas disse a ela que se eu nunca tivesse falado sobre coelhos com
alguém, lido qualquer coisa sobre coelhos, visto filmes sobre coelhos, e nunca sido exposto à
palavra coelho em espanhol, então não teria razão pra eu conhecer a palavra. Felizmente, hoje eu
sei que isso foi uma desculpa. Eu deveria ter feito a lição de casa e me exposto ao máximo de
vocabulário possível de maneira constante, principalmente trabalhando como intérprete.
A melhor maneira de atacar o obstáculo do buraco de vocabulário é ir de cabeça nele. Seja
proativo. Use as técnicas descritas no capítulo três sobre máxima exposição à língua falada, com
um foco em ouvir para compreender. Faça a mesma coisa com a língua escrita. Certifique-se de
que o que estiver consumindo está principalmente na língua estrangeira. Você pode mudar suas
configurações de idioma na maioria dos dispositivos eletrônicos. Você pode fazer a mesma
coisa com suas contas de e-mail e de redes sociais. Leia notícias escritas nos países onde a
língua que você está aprendendo é falada. Leia livros e revistas impressos nos mesmos países. É
importante evitar o máximo possível literatura traduzida, até que você tenha atingido o ponto em
que você é capaz de apontar erros de tradução. Sempre cheque a fonte pra ter certeza de que a
origem da mesma é um país estrangeiro onde sua nova língua é falada.
Se você pretende alcançar a fluência nativa, você precisa ampliar o escopo de sua exposição à
língua. Você precisa de exposição massiva a todos os diferentes registros na língua, em uma
ampla variedade de assuntos. Você precisa de exposição às notícias em todas as mídias possíveis
incluindo escrita, em áudio e vídeo. Consuma novelas e biografias, ambas no formato
tradicional e em áudio. Assista a talk shows, sitcoms, dramas, e filmes. Escute música lírica.
Devore livros ou artigos sobre ciência, história, política, religião, e qualquer outro assunto em
que você possa pensar. Traga à mente um assunto e pesquise online na língua estrangeira.
Enciclopédias online às vezes estão disponíveis em línguas estrangeiras. Use-as.
Para que você não se sobrecarregue pela quantidade de vocabulário que precisa aprender, é
importante ir devagar e ter o máximo de exposição repetida ao material pelo qual você está
aprendendo quanto for necessário. Se for um áudio-livro, escute o mesmo capítulo
repetidamente até que você possa compreender completamente tudo o que ouve. Se o
dispositivo que você está usando pra tocar o áudio-livro te dá a possibilidade de voltar
pedacinhos, como 10 ou 30 segundos, então repita cada segmento até que você entenda cada
palavra. Tente encontrar a versão escrita do livro pra usar como referência conforme você ouve.
Se o livro foi traduzido para o português, adquira também a versão em português. Só lembre-se
que traduções podem ter defeitos.
Se você está lendo um artigo online, salve uma cópia dele, e o leia quantas vezes forem
necessárias para que você entenda cada palavra. Se você está assistindo um filme ou um
programa, repita cada cena ou clipe conforme necessário. Usar legendas pode ser útil também.
Eu recomendo assistir sem legendas a princípio, pra julgar seu nível de compreensão e forçar seu
cérebro a tentar conectar as peças do quebra-cabeça, absorvendo o significado pelo contexto.
Em seguida, assista com a legenda na língua estrangeira se disponível. Se você assistir com
legendas em português, mais que provavelmente, estará lendo mais que ouvindo, o que não vai te
ajudar a aprender as palavras. Entretanto, assistir com legendas em português pode te ajudar a
ter um senso melhor do enredo. Se escolher fazer isso, faça só uma vez, e sempre volte para o
mesmo filme ou programa usando os passos anteriores. Sua meta deve ser assistir sem a
necessidade de legendas.
Também recomendo que você se apaixone pela música na língua que está aprendendo.
Música nos afeta em nosso nível emocional. Por essa razão, as palavras que você aprende das
músicas terão um significado profundo pra você. Além do mais, se você gosta de uma música
em particular, muito provavelmente você vai escutá-la frequentemente e memorizar a letra.
Através das músicas, você vai absorver uma quantidade massiva de vocabulário, gramática,
gírias, e se conectar mais com a cultura. É bem fácil encontrar a letra de quase toda música,
então você pode aproveitar seu tempo pra procurar as palavras e assim entender completamente
cada música. Vídeos de música são ótimos também, desde que você possa olhar as bocas, e
juntar algumas pistas do contexto pelas cenas.
É importante entender como procurar as palavras efetivamente. A maioria das pessoas
simplesmente digita uma palavra ou frase em um tradutor online, ainda que não estejam cientes
da ineficácia deste método. Eu digitei a seguinte frase no tradutor online; “Ela passou por mim
com um nariz empinado”. Eu copiei e colei a tradução e inverti os idiomas pra traduzir de volta
pro português, o que resultou em, “Ela passou por mim com um nariz firme”. Quando eu
simplifiquei a frase para “Nariz empinado”, o resultado foi, “Nariz íngreme”.
A razão pela qual tradutores online são ineficazes é porque palavras podem ter mais que um
significado. Vamos dar uma olhada na palavra forma. Quantas formas podemos usar?
1. Bem, essa é uma forma. (modo)
2. Há muitas formas de vida na natureza. (variedade)
3. Não gosto de fazer dessa forma. (método)
4. Acha que estou em forma? (boa aparência)
5. Ela fez um bolo em forma de coração. (formato)
6. Assim se forma um novo desenho. (construção)
7. De qualquer forma, (jeito)
Provavelmente há mais “formas” que essas listadas, mas você me entendeu. Um tradutor online
nem sempre escolhe o significado correto da palavra ou frase que você está procurando.
Um jeito melhor de procurar as palavras é usar dicionários monolíngues, uma vez que isso faz
você pensar mais na língua estrangeira. Depois de ter procurado a definição monolíngue,
procure a definição bilíngue usando um dicionário bilíngue, não um tradutor. Fóruns de idiomas
são úteis pra isso, já que você pode perguntar para outros usuários como definir ou traduzir
certos termos. Depois de procurar a definição bilíngue, tente achar a palavra ou frase no
contexto. Procure o termo por si só, usando um mecanismo de busca e veja o que aparece. Se
você está procurando um substantivo, use a busca por imagens.
Uma armadilha em que eu costumava me pegar caindo era a emboscada dos falsos cognatos.
Algumas pessoas se referem aos falsos cognatos como falsos amigos. Um cognato é uma
palavra que parece similar, pode até mesmo soar similar em ambas as línguas e que tem o mesmo
significado em cada uma delas. Um falso cognato é assim como um cognato porém com um
significado diferente. Uma lição difícil pra mim foi quando uma colega de trabalho hispânica me
disse que ela estava embarazada, o que significa grávida, e não embaraçada. Vou deixar você
usar sua imaginação pra sentir o constrangimento que eu passei nessa situação. Uma vez que
você vai fundo o bastante ao aprender sua nova língua, você vai encontrar padrões que indicam
que uma palavra é um cognato. Nunca presuma seu significado. Sempre pesquise a palavra para
ter certeza. Além disso, em muitas línguas os substantivos têm gênero. Não presuma o gênero
do substantivo automaticamente. Aprenda o gênero como sendo parte da palavra.
Gostaria de reiterar que exposição repetida é a chave. Ler uma passagem ou assistir a um
clipe múltiplas vezes, embora possa parecer monótono, é bem mais efetivo que memorizar listas
de vocabulário ou usar flash cards. Aumentar seu vocabulário pela exposição repetida garante
que você esteja sempre aprendendo pelo contexto.
Aprender uma nova palavra e mais tarde ser capaz de relembrá-la é como aprender o nome de
uma pessoa. Se você raramente interage com a pessoa depois de conhecê-la, a próxima vez que
você a ver pode ser difícil lembrar seu nome. Mas, se você vê essa pessoa regularmente, e
interage com ela, seu nome é simplesmente parte do que ela é. Da mesma forma, se você
aprende uma palavra, e está exposto a essa palavra com frequência, vai ser difícil esquecê-la.
Depois de pouco tempo você não precisa nem tentar puxar na memória quando foi que aprendeu
a palavra, já que ela se tornou parte do seu vocabulário. Por exemplo, você consegue se lembrar
quando foi que aprendeu a palavra casa? Nem eu. Me lembro, porém, da vez que aprendi a
palavra estético, que raramente surge em uma conversa. Eu lembro onde estava sentado e com
quem estava falando quando me explicaram o que isso significava. Sempre que sou exposto a
este termo agora, a lembrança de quando eu aprendi sutilmente toca minha consciência, já
quando eu uso palavras comuns como casa, eu não sinto nada deste tipo.
Assim como descrevi antes, usar truques mentais pode te ajudar a lembrar palavras mais fácil e
rapidamente. Uma coisa que você pode fazer é pintar a imagem da palavra em sua mente, não as
letras da palavra, mas sim o seu significado. Se você está aprendendo a palavra gato na língua
estrangeira, pinte o maior gato que puder imaginar. Faça sua imagem mental ser extraordinária,
até bizarra. Dê asas ao gato e imagine que todos os gatos no país de origem da língua têm asas.
Quando já tiver uma imagem clara da espécie nova de gatos que criou, construa um cenário.
Talvez o felino alado te perseguindo até a beira de um precipício. Imagine que você está
fugindo da criatura lado a lado com um falante nativo da sua nova língua. Se imagine gritando
pra ele, “O que é aquilo?”, ao que ele responde alguma coisa na linha de, “É um gato!” Quanto
mais bizarro e exagerado for o cenário que você criar, mais fácil vai ser pra se lembrar dele. É
importante sempre incluir você mesmo e um falante nativo em seus cenários mentais. Adicione
o máximo de emoções que puder. Pense sobre como você ficou assustado quando estava prestes
a se tornar comida de gato. Seja o mais criativo possível.
Outra coisa que eu gosto de fazer são replays mentais de palavras que eu aprendi com os
nativos. Eu revivo mentalmente as situações de quando aprendi as palavras, de novo e de novo
em minha cabeça. Eu costumava fazer isso de propósito, mas agora acontece naturalmente. Isso
pode dar um pouco de trabalho para se tornar um hábito, mas é um bom negócio. A chave é
passar um tempo em cada palavra conforme a está aprendendo. Construção de vocabulário não
se trata de quantas palavras você pode aprender rapidamente, mas sim, de quantas palavras você
pode efetivamente lembrar e usar à vontade.
10 Refinamento

Passo 6 – Sofisticacão

De modo a alcançar a fluência nativa, você vai precisar de mais do que apenas um extenso
vocabulário. Você vai precisar atingir um nível de sofisticação semelhante àquele que você tem
em sua língua nativa. A maioria das técnicas e exercícios mencionados neste capítulo vão ser
coisas que seriam bem fáceis de realizar em sua língua nativa. Faça com que isso seja seu
termômetro ao longo deste processo. Quando você tiver dificuldade em fazer esses exercícios,
apenas lembre-se de como seria fácil fazer o mesmo em sua língua nativa. Essa análise também
vai te ajudar a medir seu progresso na língua estrangeira que está aprendendo.
No capítulo sobre cursos, eu recomendei não usar livros baseados em gramática até que tivesse
atingido um certo nível de fluência. Se neste ponto você sente que está pronto, então você deve
fazer o seguinte: Compre alguns ou mesmo vários livros de gramática bilíngues diferentes até
você encontrar aquele que for eficaz pra você. Vá fazendo lentamente e repetindo cada lição até
que você a tenha dominado. Você também vai precisar criar algum tipo de agenda para revisão,
deste modo você não vai esquecer o que aprendeu.
Quando chegar às inevitáveis seções de conjugações de verbo, não deixe que elas te assustem.
Em conversas que eu já tive ao longo dos anos com aprendizes de idiomas, uma das maiores
dificuldades que a maioria das pessoas encara é o conceito de conjugações de verbo.
Infelizmente, conjugações de verbo geralmente são ensinadas bem cedo em escolas e cursos, o
que tende a sobrecarregar o aluno que nem mesmo alcançou o nível mais básico de fluência.
Quando aprender sobre verbos e suas conjugações aparentemente infinitas, é sábio usar cenários
mentais também. Você pode começar pensando nos cenários em sua língua nativa. Escolha
qualquer cenário simples que quiser, como o de ir ao mercado comprar um suco.
Imagine uma linha do tempo, como uma seta na lousa. Se agora é o presente, então você pode
falar sobre agora nos termos “Eu estou comprando suco”. Se for algo que você está indo fazer, é
“Eu vou comprar um suco”. Se já aconteceu, então obviamente é, “Eu comprei suco”. Se você
imagina esses três eventos em uma linha do tempo com você mesmo estando no presente, o
futuro estando em sua frente, e o passado atrás de você, então você pode facilmente alterar cada
parte da linha do tempo mudando o cenário;
“Eu compraria o suco se eu tivesse dinheiro”. “Eu teria comprado suco se eu tivesse sido
pago”. “Eu vou ter comprado suco na hora que o mercado fecha”. “Eu já tinha comprado suco
quando eu cheguei”.
Cenários assim são fáceis de imaginar e de descrever em sua língua nativa, e finalmente serão
em sua nova língua. Eu recomendo aprender as conjugações de verbos em alguns tempos
verbais como presente, futuro, e passado, simplesmente falando sobre você mesmo como eu fiz
acima. Depois que já tiver dominado a forma “Eu”, vá então para a próxima. A maioria das
tabelas de verbo mostram as conjugações listadas pelos pronomes, como Eu compro, você
compra, ele/ela compra, eles compram, nós compramos, vocês compram. Memorizá-las desse
jeito pode ser monótono. O melhor jeito para entender cada conjugação é ser capaz de imaginar
o cenário e entender como descrever a ação.
Quando eu estava aprendendo minha primeira língua estrangeira, estava animado em aprender
cada verbo novo porque eu podia aprender imediatamente como dizê-lo no presente, futuro, e
passado, o que significa que eu podia aprender três novas palavras em vez de uma, simplesmente
enquanto conjugava. Quando comecei a estudar verbos pela primeira vez, fui apresentado a
todos os diferentes nomes dos tempos verbais, o que foi um aborrecimento sem fim. Em vez de
focar em como o tempo verbal era chamado, pulava direto para o verbo e prestava atenção na
conjugação. Eu pintava um cenário no qual eu podia usar a dita conjugação e seguir em frente
com meu aprendizado. Eu sou fluente em várias línguas e até hoje eu ainda não sei os nomes de
todos os tempos verbais. Isso pode chocar você, mas se você pensar sobre isso, isso realmente
não importa. Você pensa nos nomes dos tempos verbais que está usando quando fala sua língua
nativa? Provavelmente não.
Quando estudei Inglês no primário, aprender regras de gramática, conjugações de verbos, e as
partes do discurso realmente me entediava. Entender o significado e observar o uso apropriado
foi o que me ajudou a entender as regras. Eu aprendi o que fazia sentido, então a gramática ruim
ficava em evidência pra mim. Se algo era falado ou escrito com gramática pobre, apenas não
parecia ou não soava certo. Mesmo hoje é realmente óbvio quando algum falar em um gramática
ruim.
Como você pode se lembrar, eu aprendi português e espanhol sem cursos. Me tornei fluente
principalmente ao falar com nativos. Aprendi a maioria das regras de gramática prestando
atenção na conversa, e depois pensando nos conceitos que tinha aprendido. Sempre que eu
aprendia como dizer algo, eu simplesmente prestava atenção ao modo como era falado. Se fosse
um verbo, eu notava como ele terminava. Se era um pronome, eu prestava atenção na posição.
Se o substantivo precisava de um artigo, eu notava que estava lá. Simples. Ao fazer isso, eu era
capaz de absorver muitas das regras de gramática e aplicá-las a novos pensamentos e ideias na
língua. Se fosse algo que eu mal entendi direito, eu fazia perguntas até que tivesse entendido
completamente. Frequentemente eu passava um tempo considerando frases diferentes e
analisando mentalmente a gramática envolvida. Eu criava diferentes cenários do idioma na
minha cabeça e me imaginava conversando com um falante nativo. Eu praticava fala com meu
amigo imaginário até que eu pudesse descobrir porque certas coisas eram ditas em determinados
modos.
Com tudo isso sendo dito, existe uma diferença entre fluência e sofisticação. Quando eu
decidi me tornar um intérprete, aprendi muito rapidamente que faltava sofisticação em minhas
habilidades com idiomas. A melhor maneira de eu remediar isso era melhorando minha
gramática e aumentando meu vocabulário. Em outras palavras, eu tinha que aprender como falar
e escrever em um nível que um adulto nativo o faria. Usar livros de gramática foi útil, mas ainda
era uma tentativa de aprender pela análise, o que não me ajudou completamente a ser capaz de
produzir o idioma no nível de um falante nativo.
Uma coisa que eu fiz para me ajudar a alcançar níveis mais altos de fluência foi comprar livros
de expressões e gírias, assim como livros de verbos. Eles ajudaram um pouco, mas eu ainda não
sentia que o que eu estava aprendendo estava se tornando parte de mim, uma vez que eu estava
aprendendo meros exemplos da língua. Eu descobri que o melhor jeito era usar fontes autênticas
do idioma; língua escrita e falada produzida por nativos. Se eu pudesse aprender a compreender
completamente e reproduzir o idioma da mesma forma que ele era produzido pelos nativos, então
eu iria finalmente alcançar a fluência nativa.
A hora da virada foi quando eu decidi usar fontes monolíngues para aprender. Eu comecei a
pesquisar conceitos de gramática procurando os termos somente na língua estrangeira, ler sobre
as regras de gramática na mesma língua. Ao simplesmente digitar a palavra estrangeira para
“gramática” na barra de pesquisas, eu podia facilmente acessar sites monolíngues feitos para
ajudar falantes nativos da língua a melhorarem sua gramática. Eu recomendo que você faça o
mesmo.
Eu mencionei o conceito de shadowing várias vezes neste livro. Shadowing tem sido de longe
a melhor coisa pra me ajudar a construir minha sofisticação em uma língua. Se eu puder fazer
shadowing com sucesso em uma passagem, mantendo a velocidade adequada, entonação, e
pronúncia como o falante, enquanto ao mesmo tempo entendo tudo que eu estou repetindo, então
eu estou reproduzindo a língua no nível de um falante nativo.
Considerando que estou me referindo somente à minha performance naquilo que estou fazendo
shadowing, se eu posso fazer shadowing de clipes de áudio sobre certos assuntos mas não posso
fazer o mesmo com outros, então de forma alguma estou me considerando como tendo fluência
nativa. Novamente, fazer isso seria fácil em minha língua nativa. Eu teria pouca dificuldade
para fazer shadowing em qualquer jornal, podcast, talk show, livro em áudio, sermão, palestra,
ou qualquer outro discurso gravado em minha língua nativa. A única hora que eu poderia ter
problemas seria se o assunto fosse especializado em um campo que eu não tivesse tido nenhuma
experiência, como engenharia.
Quando você faz suas primeiras tentativas de shadowing na língua estrangeira, você pode ficar
chocado simplesmente em quão difícil é reproduzir a língua neste nível. O melhor jeito de
superar essa dificuldade é pegando trechos bem curtos e trabalhando neles até que tenha os
aperfeiçoado. Estou falando de 10 a 30 segundos por vez. Por exemplo, se a passagem que você
está fazendo shadowing é um comercial em áudio, ele pode durar um minuto, mas estar sendo
falado tão rápido que você possivelmente não consegue manter seu ritmo a princípio. Use a
função de voltar os segundos no dispositivo em que está usando, e foque somente nas primeiras
palavras. Se seu dispositivo pode voltar de 10 em 10 segundos, então o clipe de áudio inteiro
deve ser feito em blocos acumulativos de 10 segundos. A chave é definir metas muito pequenas,
como ser capaz de fazer shadowing por 10 a 30 segundos, depois um minuto, gradualmente
aumentando para alguns minutos.
Pode ser fácil ficar esgotado quando está construindo suas habilidades de shadowing. Pode ser
uma boa ideia ter alguns projetos de shadowing diferentes. Trabalhe por alguns minutos em um
podcast, um pouco em um livro em áudio, e um pouco mais em um programa de TV. A boa
notícia é, quanto mais você faz shadowing em uma certa passagem, mais provavelmente você vai
memorizá-la, deste modo fazendo com que as palavras se tornem parte permanente do seu
vocabulário.
Uma técnica avançada que você pode usar para alcançar a sofisticação lingual é transcrever.
Transcreva os mesmos áudios ou vídeos que você está fazendo shadowing. Isso é incrivelmente
difícil, mas aumenta suas habilidades de audição. Se estiver disponível uma versão escrita
daquilo que estiver transcrevendo, somente a use como último recurso. Uma vez que você tiver
transcrito um pedaço da faixa, volte e faça shadowing do que transcreveu. Depois que tiver feito
algum progresso com suas habilidades de transcrever, você vai ficar espantado do quanto
aumentou suas habilidades no idioma.
O ponto principal destes exercícios é te levar ao nível que você consegue assistir quase
qualquer programa, filme, ou ler qualquer livro ou artigo sem a necessidade de procurar
nenhuma palavra, assim como você é capaz de fazer em sua língua nativa. Quando tiver
alcançado este nível, você pode orgulhosamente dizer que você atingiu fluência nativa em uma
língua – agora não tão – estrangeira.
11 Poliglota
Malabarismo com Múltiplos Idiomas

Pessoas sempre questionam como eu consigo fazer malabares com tantas línguas. A verdade é
que foi uma coisa que eu tive que aprender a fazer. No começo, eu ia com tudo quando aprendia
um novo idioma, e negligenciava qualquer língua aprendida anteriormente, só vindo a descobrir
mais tarde, quando era exposto ou forçado a usar um idioma já aprendido, que eu tinha perdido
algum vocabulário ou algumas habilidades básicas. Acho que o velho ditado, “Quem não é
visto, não é lembrado”, no fim é verdade.
Quando eu percebi que esse era o caso, eu tentei desesperadamente chegar a um jeito de
continuar aprendendo novas línguas sem esquecer aquelas que eu já tinha aprendido. Eu
experimentei muitas agendas de estudo diferentes. Tentei estudar somente uma língua por mês
por um tempo, mas achei que um mês era muito tempo entre as línguas, e eu esquecia muito
durante os intervalos entre uma e outra. Então tentei uma agenda semanal por língua, o que
funcionou melhor, mas eu acabava com vontade das outras línguas que não estavam na agenda,
fazendo com que a língua da semana perdesse sua atratividade. Experimentei então fazer duas
línguas por dia em uma agenda mas acabava esbarrando nos mesmos tipos de problema. Depois
de algum tempo, achei algo que realmente funciona pra mim.
Hoje em dia, o que eu faço é bem eficiente. Eu sempre tenho uma língua como prioridade.
Pode ser uma língua em que eu estou tentando me tornar fluente, ou uma língua na qual estou
tentando me tornar certificado. De qualquer maneira, essa língua entra em cena todo dia. A
maior parte do meu tempo de estudo é preenchida por essa língua. Para as outras línguas que eu
já aprendi, eu simplesmente passo alguns minutos em cada uma delas todo dia. Este processo é
bastante terapêutico pra mim, já que cada língua representa uma parte diferente de mim. Cada
língua parece estimular uma parte diferente da minha alma.
O que eu faço com cada língua depende do nível de fluência que eu tenho em cada uma delas.
Obviamente, eu me esforço para manter contato com falantes nativos o máximo possível. Para
línguas que eu já altamente aperfeiçoei, eu simplesmente me exponho a áudios, vídeos, livros,
notícias, ou qualquer coisa que seja autêntica e usada por nativos. Se for áudio, eu normalmente
faço shadowing. Para aquelas línguas que eu mais negligenciei no passado, normalmente passo
um tempo revisando materiais de curso para tirar a poeira e as teias de aranha. Também passo
algum tempo me expondo ao idioma em sua forma autêntica por meio de podcasts ou qualquer
uma das fontes que eu mencionei repetidamente até agora.
Meu problema sempre é que eu sou absolutamente apaixonado por idiomas. Todos eles. No
começo da minha jornada de idiomas, isso me fazia começar uma língua, prosseguir aprendendo
até um nível, aí então vinha a me distrair com um outro romance e fugia com minha nova língua
amante. Essa é a razão do meu “conhecer o básico em 15 idiomas”. Queria que a sabedoria que
vem com a idade tivesse estado disponível pra mim na minha juventude, mas ainda tenho que
construir uma máquina do tempo que com a qual eu possa remediar meus erros do passado. Nos
últimos anos, cheguei à conclusão que desde que eu sou um profissional de línguas, trabalhando
como intérprete, meu foco devia ser naquilo que iria fornecer o próximo nível de renda para
minha família. Só é justo com eles que eu viva dessa forma, negligenciando meus desejos
fugazes para seguir aquilo que vai nos beneficiar mais a longo prazo. Essa decisão foi o que me
fez passar tantos anos em espanhol para atingir o nível da certificação que só recentemente
alcancei. Eu ainda dou uma pincelada naquelas línguas que eu só comecei a aprender, porém
somente como um hobby. Felizmente, minha profissão me permite almejar um nível mais alto
de maestria em cada idioma, o que é um novo tipo de paixão para mim. Fluência costumava ser
minha meta em cada língua, mas agora é a maestria. Eu desejo alcançar a fluência nativa no
máximo de idiomas possível até meu tempo se esgotar.
Quando eu estava aprendendo minha terceira língua, um amigo meu me contou uma história de
alguns missionários que tinham visitado seu vilarejo antigamente na Guatemala. Alguns deles
afirmaram ter aprendido mais de 40 idiomas! Meu amigo perguntou a um deles como isso era
possível. O missionário respondeu que depois que você aprende sua segunda língua, a terceira é
mais fácil de aprender. Depois disso, cada língua que você aprende é mais fácil que a anterior.
Eu descobri que esse geralmente é o caso. Depois de aprender algumas línguas, descobri qual é
a melhor abordagem pra mim e soube com antecedência quais obstáculos iriam surgir. A única
exceção a essa regra é quando envolve uma língua com sons que são extremamente diferentes
daqueles da minha língua nativa, principalmente se a forma escrita não usa o alfabeto romano.
Independentemente disso, o desafio é menos intimidador quando me aproximo de cada nova
língua.
Se você está vislumbrando sua jornada multilíngue, o melhor conselho que eu posso te dar é
evitar se negligenciar daquilo que você aprendeu. Não tem que ser complicado. Simples
exposição diária bem como contato frequente com nativos vai te manter atualizado nas suas
línguas conhecidas. Provavelmente já faz um tempo desde que você tinha que estudar sua língua
nativa, porém você provavelmente tem sido exposto e tem tido que utilizá-la todo dia. É a
mesma coisa com sua segunda ou terceira língua.
Outra ótima dica é não presumir que qualquer língua nova vai ser parecida com aquelas que
você já conhece. Se você sabe italiano, não assuma que espanhol vai ser fácil. Se você fala
português, não ache que francês vai ser parecido. Muitas pessoas cometem o erro de tentar usar
o que já sabem em uma língua pra ajudá-las a aprender a outra. Isso geralmente faz com que
uma pessoa fale a nova língua incorretamente, porque simplesmente tentou transformar o idioma
anteriormente aprendido em um novo. Aborde cada nova língua como algo que é desconhecido
pra você e você terá mais sucesso.
Eu já ouvi e li ao longo dos anos que aprender múltiplas línguas torna uma pessoa mais
inteligente, e até mesmo aumenta o seu Q.I.. Enquanto eu não tenho certeza se uma coisa ou
outra é verdade, eu posso dizer que já reparei uma diferença em minha mente ao longo dos anos.
Quanto mais eu estudo e aprendo novas línguas, mais esperta minha mente parece ficar.
Também, parece haver um sentido mais alto de clareza na minha habilidade de decifrar quebra-
cabeças e situações complexas da vida. Eu tenho feito alguns testes de Q.I. online a cada 2 ou 3
anos desde que eu comecei a aprender línguas diferentes, e meu resultado aumentou a cada vez.
Embora eu não tenha certeza da validade desses tipos de testes, posso dizer que há uma mudança
aparente em minha cabeça, e só continua mudando. Se isso é um aumento na inteligência ou na
consciência, não tenho certeza, mas eu realmente sinto que posso pensar melhor do que eu podia
10 anos atrás.
Se você deseja se tornar um poliglota, eu te aconselharia a aprender cada língua da forma
correta, como descrito neste livro. Não tente aprender mais de uma nova língua por vez, já que
você só vai ter um progresso medíocre em alguma delas. Se sua ambição de se tornar um
poliglota faz até mesmo uma das línguas sofrer as consequências, então seu próprio propósito te
derrotou. Quando você se apaixonar pelo aprendizado de idiomas, essa vai ser sua grande
tentação. Simplesmente dê a cada língua o tempo que ela merece. É melhor falar poucas
línguas, mas como nativo do que soar como iniciante em várias.
Não negligencie sua pronúncia por um momento que seja, e sempre se esforce pra falar como
um nativo. Eu amo assistir vídeos de poliglotas que falam cada língua de uma maneira linda,
fazendo o máximo pra falar e soar como um nativo. Por outro lado, não aguento ouvir pessoas
que postam vídeos de si mesmas assassinando várias línguas. Tenho certeza que suas intenções
são boas, só que não é atrativo pra mim, ouvir uma pessoa falar uma língua com um sotaque
horrível.
Talvez meus padrões sejam mais altos do que os dessas tantas pessoas, mas pra mim, língua é
uma arte, e deve ser buscada com uma profunda paixão. Não sei quantas línguas vou ser capaz
de aprender ao longo da minha vida. Entretanto, eu sim, sei, que em cada uma delas que eu
afirmar ter atingido a fluência, vou me esforçar para que as palavras que saiam da minha boca
sejam como se eu fosse um falante nativo, já que minha meta é permanecer fiel aos sons de cada
idioma. Eu não espero necessariamente que você desenvolva essa obsessão descontrolada por
línguas que eu tenho, mas eu peço de verdade que você trate cada nova língua com a mesma
abertura e o mesmo interesse que você tratou a sua primeira. O céu é o limite quando se trata de
quantas línguas você pode aprender. Um dia, eu espero pessoalmente te dar boas vindas ao
pequeno mundo dos poliglotas, e tomara que este mundo não permaneça sendo pequeno por
muito tempo.
12 A Boca dos Bebês
Ensinar língua às crianças

Depois que um colega intérprete e grande amigo meu, Earl Rogers, me introduziu ao mundo da
interpretação, ele me contou sobre uma intérprete que ele conheceu que era fluente em sete
línguas. Ela tinha contado ao Earl que seus pais falavam com ela e com seus irmãos em um
idioma diferente a cada semana quando ela estava crescendo. Todos na casa precisavam falar a
língua da semana. Isso foi antes de eu me casar e ter filhos, mas eu me lembro de pensar que
aqueles pais tinham feito algo muito especial para seus filhos. Cada um cresceu com uma
habilidade que poderia usar para ter uma renda, e não ter problemas para arrumar emprego. Eles
também tinham uma perspectiva única da vida e das outras pessoas, uma vez que língua e cultura
estão tão profundamente entrelaçadas.
Um ano antes de eu me tornar certificado pelos tribunais, minha mulher e eu descobrimos que
íamos ter um bebê. Eu estava tão animado em ser pai, principalmente depois quando
descobrimos que nosso primeiro bebê era uma menininha. Eu imaginava como seria amar,
prover, e criar uma criança até a fase adulta. Também ficava pensando se eu tinha o necessário
para dar a ela. Minha mulher, Alicia, e eu não tínhamos seguro de vida, ou economias. Não
tínhamos como ter certeza de que ela ficaria bem se alguma coisa acontecesse a nós.
Financeiramente, não tínhamos nada pra deixar pra ela.
Eu estava trabalhando em dois empregos ao mesmo tempo: como aspirante a intérprete em
tempo integral, e um professor de violão em meio período. Ambos os trabalhos eram benefícios
das habilidades que eu tinha adquirido depois de ter sido exposto e de ter desenvolvido uma
paixão por idiomas e por música. Minha mãe ensinava música no primário que frequentei e
também era a pianista na nossa igreja. Ela também dava aulas de piano na casa das pessoas ao
longo da semana, na maioria do tempo levando meu irmão e eu junto. Eu comecei a tocar
trompete quando minha mãe me inscreveu para a banda no sexto ano. Acho que ela queria
passar sua paixão e habilidade para mim. Sou feliz pelo que ela fez, porque eu imediatamente
me apaixonei por tocar música.
Meu pai também era um músico. Ele me deu seu violão quando eu tinha 12 anos e eu fiquei
vidrado na hora. Eu sou músico por mais de 20 anos e já fui capaz de experimentar uma conexão
profunda com a música. Por mais de 8 anos eu fui capaz de usar minhas habilidades musicais
para trazer renda para minha família. Meus pais me deram essa oportunidade, e eu serei
eternamente grato. Quando eu vi que iria ser pai, decidi ensinar à minha filha a música e
também idiomas, as duas únicas habilidades que eu realmente tinha.
Eu já tinha começado a escrever este livro quando Alicia ficou grávida e vinha considerando a
forma como as pessoas aprendem sua primeira língua. Eu pensava que seria realmente
fascinante e emocionante ver minha filha aprender a falar. Eu me lembrei do intérprete poliglota
e de como seus pais eram principalmente responsáveis por ela ter aprendido tantas línguas, então
comecei a ir à biblioteca para pesquisar sobre bilinguismo e poliglotismo em crianças.
Aprendi que a exposição prematura é importante, já que o desenvolvimento do cérebro de uma
criança pode gravar sons de idiomas durante os primeiros dez meses e lembrá-los perfeitamente
pelo resto de sua vida. Também aprendi que algumas crianças bilíngues tendem a se tornar mais
autoconscientes quando começam a escola. Isso somado a que, falar e aprender em inglês o dia
todo na escola às vezes poderia fazer a criança se tornar uma bilíngue passiva, o que é
basicamente ter uma compreensão nativa de uma língua estrangeira, mas habilidades de fala
limitadas.
Quando o ginecologista da Alicia contou pra gente que nossa bebê já podia ouvir, eu fiz uma
playlist em MP3 de livros de áudio e de músicas no máximo de línguas estrangeiras que eu pude
encontrar, junto com um pouco de música clássica. Alicia colocava fones de ouvido na sua
barriga ao longo do dia, e nossa filha, Alia, geralmente respondia aos sons. Quando ela nasceu,
eu gravei os arquivos em CDs, e nós os tocávamos no quarto dela à noite enquanto ela dormia.
Minhas primeiras palavras para a Alia foram em espanhol. Eu tinha decidido falar com ela em
uma língua diferente a cada três dias e a expor ao máximo de línguas possível antes que ela
atingisse a idade de 10 meses. Quando ela tinha 3 meses, ela começou a ficar interessada em
assistir televisão. Alicia e eu aproveitamos essa oportunidade. Eu comprei vários DVDs sobre
aprender línguas para crianças, incluindo alguns que afirmavam ensinar bebês como ler em
inglês. Enquanto eu estava no trabalho, Alicia os colocava para Alia assistir ao longo do dia.
Alicia era muito solidária com meu plano e seguia minha agenda de idiomas quando eu não
estava em casa. Quando eu chegava em casa do trabalho, passava o máximo de tempo possível
jogando jogos, ouvindo música, lendo livros, e assistindo seus DVDs com ela. Quanto mais eu
participava de suas atividades, mas envolvida ela ficava.
Eu também comprei muitos livros diferentes de historinha pra dormir em línguas estrangeiras
e lia pra ela toda noite na cama. Minha mulher também passava muito tempo lendo para Alia em
inglês. Em cada oportunidade possível, eu expunha Alia a falantes nativos de diferentes idiomas.
Quando nós brincávamos juntos, eu contava em línguas diferentes, de acordo com a agenda, e
incorporava os números em cada atividade. Sempre que eu a balançava para dormir, eu contava
em qualquer que fosse o idioma no qual estávamos trabalhando.
Muitos de nossos amigos nos ridicularizavam por tentar ensinar múltiplas línguas para Alia.
Eles afirmavam que a gente só estava confundindo ela, e que ela iria sofrer para aprender inglês.
Pelo contrário, Alia desenvolveu cedo suas habilidades com idiomas. Ela começou a falar por
volta dos 6 meses. Quando tinha 9 meses, ela já tinha começado a ler em inglês. Suas primeiras
10 palavras mais ou menos, foram em várias línguas diferentes. Quando ela tinha um ano, ela
podia contar até 10 em inglês, francês, árabe, espanhol, alemão, mandarim, italiano, e português.
Quando tinha 2 anos de idade ela podia ler e falar símbolos básicos em chinês. Com dois e
meio, ela decorou cada livro e cada DVD de línguas que possuía. Durante essa época, ela
começou a sentar no meu colo sempre que eu estava estudando línguas estrangeiras no meu
notebook e geralmente assumia o controle do mouse para que ela então pudesse fazer as aulas.
Quando Alia fez 3, ela nos disse que estava entediada e que queria ir para a escola. Tentamos
explicar a ela que ela era muito nova, mas ela se negava a entender o conceito de limite de idade.
Acabamos contratando nosso amigo, Neil Edwards, um professor dono de uma escola particular,
para ensiná-la depois do horário. Ele sentava e lia com ela, assim como a ensinava conceitos
matemáticos básicos. Depois de algumas sessões, Neil nos contou que Alia estava lendo livros
da primeira série. Neil fez um ótimo trabalho com a Alia. Infelizmente, ela ficou entediada com
suas sessões de tutoria depois de poucos meses e decidiu que não queria continuar.
Quando Alia tinha 4 anos, nossas historinhas pra dormir, conforme ela mesma pediu, consistia
em lermos livros de nível de faculdade em espanhol, português, e italiano. Seu intelecto era de
um nível tão alto, que novas pessoas que conhecíamos nos diziam chocadas que falar com a Alia
era quase como falar com um adulto. Na mesma idade, uma vez ela pegou emprestado o tablet
da minha esposa e mandou mensagens pra quase todos os nossos contatos. Aqueles que
responderam acabaram envolvidos em trocas de mensagem que duravam horas. Ela emprestava
o celular da Alicia e me mandava mensagens em inglês e em outras línguas enquanto eu estava
no trabalho. Ela decorava cada desenho animado e filme que assistia. Ela falava com a gente em
um nível que as vezes nos assustava, nos fazendo perguntas filosóficas profundas sobre a vida,
morte, Deus, enfermidades, riqueza, pobreza, e qualquer outra coisa que surgisse em sua cabeça
ainda em desenvolvimento.
Quando a Alia começou a escola, seus professores e diretores estavam impressionados com
suas habilidades mentais. Durante a pré-escola ela foi colocada em uma aula de leitura
avançada. No primeiro ano, seus resultados nas provas mostravam que ela estava lendo no nível
da oitava série. Nossas rotinas de leitura noturna se transformaram em atividades mais
avançadas, primeiramente interpretando e traduzindo textos em línguas estrangeiras em primeira
vista, assim como praticando diálogos de livros de idiomas.
Aquilo que eu temia, ela se tornar uma multilíngue passiva, começou a acontecer em algum
momento durante a escolinha. Ela começou a se tornar muito autoconsciente e se negava a falar
em qualquer língua estrangeira na frente de qualquer outro além de mim. Enquanto escrevo isso
ela tem 8 anos de idade, e línguas estrangeiras são reservadas para conversas privadas somente
entre ela e eu, principalmente ocorrendo em casa. Espero que, conforme ela continue a
amadurecer, ela ganhe autoconfiança e indiferença às opiniões dos outros, e floresça suas
habilidades com línguas. Eu sabia desde o começo que um dia ela faria a escolha, se iria ou não
querer seguir no aprendizado de idiomas. Eu percebo que é a escolha dela, e não planejo ser o
ditador poliglota como os pais que eu descrevi no começo deste capítulo, pois sinto que isso
pode tirar a criatividade das minhas crianças. Sim, eu disse crianças.
Depois que me tornei um intérprete certificado do tribunal, minha renda aumentou
drasticamente. Eu nunca tinha tido um nível tão alto de renda antes e não sabia como lidar com
dinheiro. Comprei uma SUV pra Alicia que custava mais para nós, por mês, que o pagamento da
nossa hipoteca. Logo em seguida, construímos outra casa que se encaixava melhor nos nossos
desejos. Logo depois de fecharmos o contrato de empréstimo da nova casa, descobrimos que a
gente tinha uma surpresinha maravilhosa a caminho.
Quando a Miah nasceu, eu ainda estava trabalhando em dois empregos. Já que tínhamos
acumulado mais despesas, minha renda como intérprete ainda tinha que, de alguma forma, ser
complementada. Quando nossos gastos aumentaram de novo, com o custo de sustentar uma
nova criança, aluguei um pequeno estúdio perto da nossa casa e comecei a dar aulas de idiomas.
Também comecei a dar aulas de violão fora de casa e aulas de idiomas pelo Skype. Resumindo,
eu ocupei meu tempo com trabalho. Poucos meses depois que a Miah nasceu, Alicia e eu nos
juntamos a uma rede de negócios em marketing na esperança de que nossos problemas
financeiros acabassem. Isso resultou em que eu ficasse em casa menos ainda.
Com a loucura da minha nova agenda, não ficando tanto em casa, eu perdi aqueles valiosos
primeiros anos com a Miah. Eu tentei repetir o processo que seguimos com a Alia, mas era
impossível. Acima de tudo, a Miah era um tipo diferente de criança. Ela tinha mais energia que
qualquer um que eu já conheci, e ainda tem. Ela era mais interessada em atividades físicas do
que em leitura. De fato, apenas recentemente ela parou sentada tempo o bastante pra me deixar
ler um livro pra ela pela primeira vez, com 6 anos de idade.
Miah chutou, girou, virou, e dançou dentro do útero durante quase toda a gravidez. Quando ela
nasceu, era como se ela não fosse deixar seu corpo, não completamente desenvolvido, impedi-la
de ser ativa. Ela começou a levantar sua cabeça do chão quase imediatamente, conseguia sentar
sozinha com 2 meses, e assim que ela descobriu como se puxar pra ficar em pé no berço, ela
aprendeu a escapar. Nós não podíamos deixar nenhum eletrônico no quarto dela, como o CD
player que eu esperava usar pra ajudar com suas habilidades em idiomas, porque ela desmontava
tudo. Ela era muito interessada em fazer coisas com as mãos. Nós íamos frequentemente até a
sala e encontrávamos controles de videogame empilhados verticalmente, um sobre o outro,
façanha com a qual eu ainda tenho dificuldade. Ela era tão ativa que recusava assistir qualquer
um dos DVDs de línguas que colocávamos pra ela. No final parecia que eu não ia ser capaz de
ensinar línguas pra ela. Provavelmente a única vantagem que nós tínhamos era a de ser capaz de
expor Miah a falantes nativos de espanhol durante nossos anos construindo negócios, uma vez
que a maioria dos nossos parceiros e colegas eram hispânicos.
Quando ela tinha mais ou menos 4 anos, Alicia e eu finalmente superamos nossa situação
financeira depois que eu decidi interpretar em tempo integral. Finalmente eu conseguia ficar em
casa toda noite e decidi novamente tentar ensinar a Miah. Ela não gostava de sentar em frente a
um computador e não ficava sentada tempo o bastante pra eu ensiná-la usando flash cards ou
livros. Um dia, eu finalmente achei um jeito de ensinar idiomas a ela. Tudo o que ela sempre
queria fazer era brincar, então decidi tornar o aprendizado de línguas divertido pra ela. A Miah
tem personalidade forte, então eu tinha que ser bem criativo. Decidi tentar ensiná-la somente
espanhol por um tempo, já que ela era tão resistente no início.
Quando ela se deu conta que nós podíamos nos divertir e aprender espanhol ao mesmo tempo,
ela começou a aprender bem rapidamente. Ensinei ela a contar, assim como a dizer algumas
frases básicas em outras línguas, como bom dia, boa noite, e Eu te amo, mas ela gosta de verdade
é de “brincar” comigo em espanhol, então é isso o que eu estou desenvolvendo nela até que eu
sinta que ela está pronta para pegar outra língua. Não tenho dúvidas que vou conseguir ensiná-la
várias outras línguas, desde que eu mantenha isso divertido e a ensine baseando-me em como ela
gosta de aprender.
O motivo pelo qual escrevi este capítulo é porque muitas pessoas me perguntaram como ensinar
línguas estrangeiras para suas crianças. E muitas mais se manifestaram pra mim que a razão pela
qual estão aprendendo uma nova língua é para que assim possam ensinar seus filhos. Existem
vários benefícios óbvios que uma criança terá se crescer sabendo mais de uma língua. Se você é
um desses pais que deseja para seus filhos que cresçam bilíngues ou multilíngues, então o melhor
conselho que eu posso te dar é o seguinte.
Certifique-se de que expõe seus filhos a falantes nativos com frequência. Também exponha-os
a áudios e vídeos no idioma. Se você é um falante nativo da língua que quer que suas crianças
aprendam, fale com elas neste idioma. Elas vão aprendê-la. Se você não é nativo, mas atingiu
uma pronúncia quase perfeita, e soa como um nativo, então o mesmo se aplica. Se você está
usando vídeos, envolva seu filho. Participe. Faça ser divertido. Sempre lembre-se, assim como
eu tive que me lembrar, que todas as crianças são diferentes.
13 O Grande Final

Se você chegou tão longe, te agradeço pessoalmente por seu tempo lendo este livro. A maior
parte dos conceitos ensinados neste livro eu aprendi ao observar minhas filhas aprendendo a
falar, através de muitas conversas e entrevistas que tive com aprendizes de línguas de todas as
idades, de incontáveis aulas de idiomas que já dei ao longo dos anos, assim como da simples
observação de que, independente de ter estudado uma ou mais línguas estrangeiras, a maioria das
pessoas ainda são unilíngues. Minha esperança é que você adote os conceitos deste livro e
aplique-os ao aprender uma ou mais novas línguas. Se você, como a maioria das pessoas, já teve
uma experiência ruim ou sem sucesso com alguma língua, tudo bem começar lá do começo.
Pelo menos se fizer isso de uma maneira eficaz desta vez, você será capaz de conseguir os
resultados que deseja.
Para recapitular o que foi abordado, você precisa se aproximar do aprendizado de uma nova
língua com um estilo parecido com o qual aprendeu sua primeira língua. Você foi exposto à
língua em sua forma autêntica, sendo produzida por nativos. Você ouvia constantemente,
permeando sua consciência com os sons da língua. Você usou seus órgãos humanos
responsáveis pela fala, perfeitamente capazes, para gradualmente aprender a reproduzir os sons
que ouvia enquanto era treinado por nativos. Finalmente, você foi capaz de soar como um
falante nativo. Depois de construir sua fluência em um certo grau, você aprendeu a ler e escrever
os sons que você estava falando. Você também aprendeu o básico de gramática e continuou em
um caminho de desenvolvimento literal até enfim atingir um ponto de maestria, em outras
palavras, uma fluência nativa.
Eu acredito que isso é possível para qualquer um atingir em uma segunda, terceira, ou mesmo
décima língua. Eu não só senti isso na pele, mas testemunhei outras pessoas que alcançaram o
mesmo. Se você se ver lutando pra acreditar que também é capaz de se tornar bilíngue ou
multilíngue, soando como um nativo em cada língua, então eu te apoio a cavar mais fundo em si
mesmo. Não acredite nas coisas que muitos “experts” unilíngues dizem. A maior parte das até
então chamadas razões, ou o que eu chamo de desculpas, de porque adultos não podem aprender
línguas estrangeiras sem um sotaque são simplesmente essas ditas. A verdade é que você pode
aprender qualquer língua que quiser. Você pode aprender a falar como um nativo se você se
aproximar da língua na ordem certa. Isso pode dar muito trabalho, mas tudo bem. A realização
vai valer muito a pena.
Não tenho certeza do que fez você buscar aprender uma língua estrangeira. Talvez você queira
viajar. Talvez você queira uma promoção. Pra mim, foi simplesmente algo com que me deparei,
e rapidamente se transformou em uma paixão. Aprender idiomas abriu meus olhos pra ver
através das paredes culturais, o que muitas vezes causa muitos conflitos. Fui criado em uma
sociedade em que imigrantes estrangeiros são olhados de cima a baixo e criticados. Eu cresci
inconscientemente com um pouco de racismo dentro de mim. Isso começou a mudar quando eu
comecei a aprender línguas estrangeiras pelos nativos.
Uma noite no trabalho, no frigorífico de perus, eu estava tendo uma conversa com um
trabalhador imigrante hispânico. Ele me explicou que deixou sua mulher e filhos em seu país
mais de cinco anos antes e nunca mais os viu desde então. Ele trabalhava 6 a 7 dias por semana,
8 a 10 horas por dia ganhando um salário mínimo. Morava em um trailer individual com três ou
quatro outros trabalhadores imigrantes e mandava quase todo o seu dinheiro de volta pra casa
para sustentar sua família. Nos EUA ele tinha o estilo de vida mais escasso possível para que
sua família, que não estava nem por perto, pudesse sobreviver.
Eu voltei do trabalho pra casa em lágrimas aquela noite. Não conseguia acreditar o quão errado
meu pensamento vinha sendo sobre hispânicos e sua cultura. Eles fazem auto-sacrifício, são
voltados para a família, humildes, e pessoas que trabalham duro. Tivesse eu não aprendido
espanhol, eu talvez nunca teria entendido isso. Coisas parecidas aconteceram com outras
línguas. Me ensinaram quando cresci, que a maioria dos Árabes são cheios de ódio para com os
americanos, e que a maioria queria até matar todos nós. Uma vez que comecei a aprender árabe
e fazer amizade com Árabes, eu achei que não era o caso. Eles são pessoas assim como você e
eu. Eles têm família, sentimentos, sonhos, ambições e medos. Claro, a religião deles pode
diferir da minha ou da sua, mas isso não faz com que os estereótipos que você ouve sobre eles
sejam verdade.
Eu poderia listar muito mais exemplos de experiências que eu tive com falantes nativos de
diferentes partes do mundo. Com cada pessoa estrangeira que fazia amizade, preconceitos mais
preconcebidos sobre suas culturas eram dissipados. Na minha primeira viagem para a Suíça, um
dos meus amigos me viu interagir com pessoas de pelo menos nove países diferentes. Ele
mencionou que era impressionante como se abriam pra mim quando eu começava a falar com
eles em suas línguas. Ele até recomendou que eu escrevesse um livro chamado Como Fazer
Amizade com uma Nação. Essa conversa ficou engasgada em mim ao longo dos anos.
Eu poderia ir mais e mais além sobre racismo e ódio generalizado de outras culturas. O negócio
que eu aprendi é que nós somos todos pessoas, e a língua é uma coisa que une as pessoas. Eu
acredito que se mais pessoas aprendessem línguas estrangeiras, no final abraçando a cultura das
pessoas que a falam, mais e mais fronteiras seriam quebradas. Existiria menos conflitos entre
culturas que simplesmente não entendem uma a outra. Não estou dizendo que eu acredito que
essa filosofia enfim poderia curar o mundo e acabar com todas as guerras, mas certamente isso
iria ajudar.
Independente das suas razões para aprender uma ou mais novas línguas, eu te incentivo a
continuar, não importa quão difícil às vezes possa parecer. Não se deixe ficar desmotivado. Não
assuma que isso é impossível, ou mesmo improvável, para você atingir a sua meta de alcançar a
fluência nativa. Sempre lembre você mesmo de que o fato de você poder ler isso significa que
você é um mestre em idiomas. Você já fez isso antes. Você pode fazer isso de novo.
Obrigado por ter lido!! Por favor não se esqueça de deixar um
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