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com o almejante a CEO de olhos azuis cintilantes e espírito rebelde, ela volta
a sorrir e a sentir uma fagulha do que é a felicidade.
Para João, que estudou os passos da menina por longos anos, parecia
fácil conquistar e fazer de Amora mais uma peça de sua calculada vingança.
Ele tinha uma ideia totalmente errada sobre quem realmente era e o que sente
a pequena bailarina, que não se mostrou tão fútil como ele imaginava.
Para Amora, naqueles olhos azuis-cintilantes encontrava-se o grande
amor que jamais imaginou ser capaz de viver.
SINOPSE
Copyright © 2021, Ly Albuquerque
Sumário
Epígrafe
AVISO DA AUTORA
Prólogo
O Começo da Vingança
O Encontro
O Quebra-Cabeça
As Peças
A Montagem
O Jogo
A Dúvida
O Encanto
A Entrega
O Pesadelo
A movimentação
A Intervenção
O Acordo
A Ilegítima
A Dança
A Promessa
O Pedido
O Almoço
A Desconfiança
A Teia
O Presente
A Irmandade
As Escolhas
A Mudança
O Recomeço
O Plural
A Antecipação
As Surpresas
A Ruína
O Poder
O Ímã
O Amor que merece
A Marca
EPÍLOGO
Jasmine e Jonas
Redes Sociais
Epígrafe
Não há nada que esteja menos sob o nosso domínio que o coração, e,
Jean-Jacques Rousseau
AVISO DA AUTORA
João
surpreendente como enquanto estou com ela, não penso na minha vingança,
não tenho as sensações ruins que me assombram.
o chão cor de madeira, seu pescoço gira pra trás fazendo subir seus seios
sensualmente, ela impulsiona o corpo para frente abrindo as pernas e
olhando-me intensa através do espelho, sua máscara preta cobre quase todo o
rosto, tento somente segurar o seu olhar, mesmo que a penumbra dificulte ver
a cor das suas íris, porém o meu corpo não sai imune ao encare, sua bunda se
levanta e é empinada em minha direção, engulo a seco.
acompanho com o olhar cada lugar que suas mãos tocam, a cintura exposta,
os quadris firmes, a lateral de seu corpo, os seios pequenos e aparentemente
macios, o pescoço com a pele alva, e me excito desconfortável nessa cadeira,
mas fico ligado, completamente enfeitiçado nela.
Mais um passo e ela passa a mão no meu rosto, suas unhas arranham de
leve, seguro o ar dos meus pulmões reprimindo um gemido, o toque é sútil,
mas já me deixa sedento por mais.
Vai para a parte de trás da minha cadeira e a observo pelo espelho, ela
puxa o meu cabelo da nuca para trás em sua direção e se abaixa angulando a
altura e colando nossos rostos, as bocas rentes, chego a sentir o seu suspiro,
ela geme na minha boca, tão excitada quanto eu, porra!
Ela logo sai do meu colo e fica de pé dando as costas para mim, ouve o
meu lamúrio, logo ela desce seu tronco acariciando as pernas e coloca a
bunda redondinha na minha cara bem empinada.
Eu definitivamente desfaço o nó da gravata, sinto-me arder, as mãos em
Sua mão se fecha em meu pescoço e recebo uma lambida sua em minha
bochecha, quando decido deixar a porra do autocontrole de lado, ela se
levanta e sem olhar para trás, vai embora da sala.
— Preciso da sala desocupada em um minuto. — Grita o segurança, e
Por que ela só aceita dançar para mim com tantos homens aqui?
Eu farei com que todos paguem pelo que fizeram com os meus pais,
pelo que fizeram comigo.
João Patacho
— Ei, João! Está ótimo por hoje, cara. — Ouço o grito do meu
personal, ele está se aproximando, ouço cada um de seus passos enquanto
seguro a barra.
— João, já chega!
Álvaro tira a barra com cem quilos de cada lado de cima de mim,
respiro com dificuldade me levantando do banco, o meu corpo fervilhando,
meu pulso acelerado, minhas pernas vibram, perco o controle do meu corpo,
mas tenho uma certeza: preciso de mais.
Ainda está muito vívido o rosto da minha mãe sem vida, o sangue
jorrando, se eu fechar os olhos consigo sentir o cheiro de carne apodrecida
quando encontramos o corpo do meu pai, os olhos arregalados, eu preciso
deixar ir. O terror psicológico que os policiais me fizeram, eu preciso deixar
ir.
— João, você treinou por três horas hoje, essa semana inteira você tem
ficado por mais de duas horas aqui, vai acabar tendo alguma lesão, vá para
casa, descanse.
— Paga muito bem sim! Mas não o suficiente para acabar com toda a
minha carreira, vá para casa ou então eu vou te jogar para fora da academia
sem tomar nenhum cuidado com a sua cara de modelo. — Esbraveja e decido
recuar.
O convívio cada vez maior com o meu chefe tem ativado todos os meus
gatilhos, o homem mandou matar os meus pais, seus capangas me torturaram
quando eu tinha apenas 5 anos, diferente do meu irmão mais velho, eu não
consigo sair imune aos nossos encontros.
uma família poderosa geração a geração, fama, uma beleza padrão: loira, o
tom de mel dos seus olhos quase verdes de tão claros, corpo curvilíneo
aparentemente bem esculpido devido a toda a sua vida de bailarina clássica,
assim como foi a sua mãe.”
mente até que vire a minha esposa, até que perca todos que a amam como eu
perdi um dia.
da Guedes Engenharia.
— Não vai dar, tenho mais o que fazer. — Falo com nítido desprezo, eu
sei que faz parte dos planos que eu me envolva com ela, e eu concordei com
isso, já que possuo os meus interesses, mas prefiro espairecer e encontrá-la de
fato na recepção que seu pai dará aos amigos no fim de semana.
— João…
— Não adianta, Jonas, o seu irmão só tem olhos para a Filipa.
Filipa é um assunto que eu não queria tratar com o meu irmão mais
velho.
— Isso é ridículo! Eu não vou usar a Filipa em nossos planos, ela não
tem que entrar nisso.
isso aconteça.
Ao contrário do Jonas, eu não quero justiça somente pelo que o pai dela
causou a nós. Não busco justiça, estou atrás de vingança. Olho por olho.
Amora Guedes
Honestamente, odeio essas recepções dadas pelo meu pai para os seus
Sou fissurada por moda, eu gosto de ser versátil, meu vestido longo é
branco e justinho demarcando as minhas curvas, um recorte que expõe a
minha cintura em toda a lateral, o colo fechado onde escondo o meu colar de
família, e um decote no alto da minha coxa esquerda que vai até os meus pés
Meus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo baixo para dar total
destaque aos brincos escandalosos e longilíneos de diamantes que reluzem
em minhas orelhas, quarenta pedras de diamantes! Sorrio com a lembrança,
porque fui eu que os comprei, com o dinheiro da minha dança, da minha arte,
pela primeira vez na vida eu suei para ter o meu dinheiro e me dar algo fruto
do meu trabalho.
Vejo papai saindo de seu quarto, vou até ele que me sorri docemente,
em nítido desagrado.
— Desista, pai.
— Você sabe que prejudica a fluidez no balé, ainda mais agora que está
de volta ao Rio de Janeiro... — Corto-a, mordaz.
— Mãe, não começa, estou exausta, tenho treinado sem folga para dar
conta da apresentação que você me encaixou.
uma mulher realizada, mas para a fusão dos negócios de sua família na época
era importante que se casasse com o meu pai, e ele não aceitou a ascensão
dela, vê-la na mídia provocava brigas desmedidas entre os dois, ainda lembro
de tudo, e então ela se desligou do balé, mas joga todo o peso do seu declínio
em mim.
— Jonas Patacho estará aqui, assim como Otávio Corte, todos os dois
são excelentes partidos, e me deixaria muito feliz se você lhes desse uma
maior atenção. — Fico quieta a observando, ainda é tão bonita, mas tão
sisuda, talvez, me casar com quem ela e meu pai queiram, me tornará igual a
ela no futuro, e isso é o que eu fujo. É doído pensar, mas a minha mãe é tudo
o que eu não quero ser. — Entenda, minha filha — A voz abranda — o seu
pai está envelhecendo, daqui a muito em breve ele passará o poder para o
rapaz, case-se com ele para que permaneça em família o poder da empresa.
Papai apenas sobrevive, assim como a minha mãe, já não há o que ser
conquistado, então inventam-se coisas para colecionar, ao invés de acumular
bons momentos. Os melhores itens a serem colecionados não são palpáveis,
são sentidos.
Fujo da vista dos convidados indo para a área externa da casa, enxugo
uma lágrima solitária enquanto acaricio a pétala branca da orquídea, reparo
na piscina, a luz interna acesa na minha cor favorita, o dourado, como uma
boa leonina, gosto de me mostrar, gosto de vida. E agora que precisei voltar
para essa casa, sou um corpo morto sendo movido conforme as vontades dos
meus pais.
A bossa nova ressoa vindo do som interno da sala, meu pai gosta de
Chico Buarque e todas as canções que ele interpreta, diz que o lembra uma
parte boa de seu passado, presto atenção na melodia calma e envolvente, a
letra é gostosa de ouvir.
Eu sou sua alma gêmea
Igualzinha a você
Eu não presto
Eu não presto
empurro a bílis de volta para a minha garganta. Deixo o meu olhar cair por
seus lábios carnudos e rosados, a barba cerrada, e o porte musculoso que
possui.
quanto eu, na Europa vi muitos homens tão ou mais bonitos do que ele, então
qual a explicação para essa minha reação? Será a tal química que tanto se fala
por aí?
torpor.
Sou bandida
E sob medida
Uma prece
E agradeça ao Senhor
Que merece.
conta do seu bíceps, traja um terno all black[2], o que me demonstra ser um
homem com seu estilo próprio e que não se importa em divergir dos demais,
já que os homens aqui presentes nunca se arriscam a sair dos seus ternos
antiquados. Eu gosto disso.
— Fotos? — Tento dar atenção ao que ele está falando, foco Amora.
sua beleza, apesar dele a possuir de forma incontestável, algo nele me lembra
o rapaz que encontrei há pouco, talvez o tom de azul dos olhos ou o castanho-
claro dos cabelos...
consigo ignorar o belo par de olhos, o azul é claro demais para o meu juízo,
fico praticamente hipnotizada.
— Não se engane João, uma mulher com a criação como a minha pode
ter várias faces. — Jogo e vejo suas sobrancelhas dançarem em surpresa.
Estalo a língua em meus lábios e lhe dou a minha total atenção, afirmo
com a cabeça aprovando a sua sinceridade.
— Bem, com o conhecimento de causa que possuo sobre o meu pai, ele
não entende nada de marketing, então eu julgo que ele até fuja de você no dia
a dia corporativo.
o.
de gritar em frustração.
— Você está dando atenção para o irmão errado, enquanto está aqui, o
Jonas está ali sozinho observando você e o irmão dele.
Olho para o Jonas com o seu terno mais do mesmo, a face taciturna, e
de esguelha, por isso que Rodolfo a cria em uma redoma, ela mexe
facilmente com o imaginário dos homens e a inveja das mulheres, não só pela
beleza, mas pela reverência, ela tem uma aura indescritível e sabe como jogar
isso a seu favor.
E o pai como a boa raposa que é, não a quer casando com qualquer
um, um homem poderoso como Rodolfo Guedes quer tirar vantagem de tudo
ao seu redor, inclusive sua filha.
Não vou mentir que fiquei tentado, principalmente agora que vejo-a
caminhar para longe de mim junto de sua mãe, seu cheiro romântico, com
uma nota floral, me deixou louco de vontade de levá-la até um canto dessa
casa e ver o que esse vestido elegantemente indecente está me tampando a
visão.
A mãe dela a leva até Otávio Corte, um dos sócios de Rodolfo, um cara
que regula a idade comigo, e que segundo a rádio corredor, tem interesses
amorosos e políticos em Amora. Apesar de conversar com ele, os olhos dela
estão em mim, Otávio ri de algo junto de Amélia, mas a filha dela está alheia
à conversa, está presente lá de corpo, mas quer estar comigo. E eu gosto que
ela não desvia, encara-me, mesmo ainda conversando com outro homem, sua
atenção é minha.
Amora Guedes gosta de joguinhos de conquista, então vamos dar o
play, mas eu sou um mau perdedor.
— Sim, a Amora vai ser a sua esposa, e a Filipa... Você pretende usá-la
para sair da monotonia, não é?!
— Não. Amora Guedes tem tudo o que quer, lhe darei um pouco de
dificuldade, deixe que ela venha até mim.
— Me dê licença.
piscina parece mais vazio, atendo depois que vistorio e constato que estou em
privacidade.
— Eu não acho que It. A coisa, vai ficar bonito na sua pele, você
parece tão delicada como quem tatua uma flor-de-lótus... — corta-me em
que me faça pizza de sardinha. — Comento e ela bufa do outro lado da linha.
— Mas gosta de ir fundo no meu olhar, parece até ansiar por isso. —
Ela lambe os lábios e quase me leva a nocaute. — De qualquer forma,
realmente demora até qualquer pessoa perceber que possui um vício.
— Preciso entrar e interagir com alguns dos sócios, mas espero esbarrar
com você pelos arredores da empresa. — Tiro o meu cartão do paletó e lhe
estendo.
Nele, contém o meu número pessoal, ela o pega e sua mão resvala na
minha, fazendo o meu olhar vagar para o seu, ela puxa o cartão para si, e em
seguida ergue o queixo.
— Se você não tiver achado o meu papo chato, sim... Vou ficar na
ansiedade para saber se a decepcionei.
Converso com alguns dos sócios, lhes conto sobre algumas das minhas
ideias para a próxima campanha, mas a todo instante sinto o olhar da menina
em cima de mim.
Julgo que lhe dei atenção no ponto certo, o suficiente para saber que me
senti atraído, mas que ainda assim, não vou invadir o seu espaço.
Meu celular vibra em meu bolso e vejo que chegou uma mensagem de
“Amora”, o nome aparece porque eu obviamente já tinha o contato dela
salvo.
Sorrio presunçoso, ela está puxando assunto, seu interesse tão alto que
nem mesmo esperou que acabasse a festa para me dar um sinal, isso está fácil
demais.
Algo nele não tem um bom odor, em seu lugar eu não me aproximaria
— Você está fazendo com que a festa não seja um completo tédio como
é costumeiro, por que quer a minha atenção? — Sua voz é doce, fina, ainda
de menina, o que contrasta com o corpo de mulher pronta que possui. — Está
flertando comigo? Se for, saiba que eu não me relaciono com homens que
trabalham para o meu pai.
tudo que menos me atrai em uma mulher, mas ainda assim me casarei com
ela, prioridades. — Me dê licença, deixe os adultos trabalharem. — Dou-lhe
uma piscadela.
JOÃO
venha daí a minha afeição em desvendar o que cada pessoa esconde, cada
peça que mantém virada para que ninguém veja, usando a jogada certa
qualquer ser humano pode ser manipulado, e eu gosto de testar, e mais ainda,
amo acertar a jogada.
Caminho até ele que bebe sozinho um uísque puro com gelo, já nos
esbarramos algumas vezes na boate em que frequento, e acabamos
desenvolvendo uma certa camaradagem, nada muito profundo, acredito que o
advogado desconfia até da própria sombra.
angústia.
— Em que sentido?
— Ela veio da Europa, é jovem demais, deve ter ideais diferentes dos
nossos, duvido muito que ela concorde com a sua maneira de resolver as
questões. — Digo com sutileza e ele ergue uma das sobrancelhas. — Sei que
o velho Guedes pretende casá-la com Otávio ou o meu irmão, Jonas, mas se
ainda assim ela quiser se rebelar e não casar, seria bom ter algo que assegura
que a empresa não caia em suas mãos.
— E está interessado?
— Mais uma noite neste bordel, já tivemos uma vida social mais
agitada. — Filipa reclama dando mais um gole em sua cerveja.
Filipa possui a alma livre como a minha, por isso nos damos tão bem na
cama, imagino que o sexo com Amora seja completamente mecânico, tão
Uma mulher de costas com os cabelos cor de rosa até a altura de seu
cóccix começa a rebolar bem lentamente, meus olhos vagueiam pelo corpo
escultural onde um macacão vermelho totalmente apertado lhe molda as
curvas, e para a minha surpresa quando vira de frente para a plateia o enorme
decote frontal expõe apenas o seu colo permitindo a minha imaginação ir
longe em relação aos seios.
mulher da vida.
— Oi! João, bom te ver cara, vi Filipa rondando por aí, estão
aprontando, né?! — sorri.
— Ela não faz parte do casting, cara, ela não faz programa.
— Eu vou ver se a menina quer ter uma renda extra fazendo umas
danças particulares, deixarei que ela saiba que você é o primeiro na fila, te
aviso se conseguir. — Pisca e me ignora, já sei que não conseguirei arrancar
mais informações dele.
mas sei que se o show de ontem tivesse sido protagonizado por ela, nunca me
contaria só para ter o prazer de me ver em dúvida, prefiro tentar desvendar
com as minhas próprias armas, jogando com ela.
— Não, ele foi muito real, João, uma mulher separava nós dois.
— Vá olhar ao redor, eu vou ter mais uma conversa com a dona e creio
que em... — Olha o relógio — Meia hora, já estarei pronta para ir colocar no
forno a sua pizza de sardinha.
— Ok.
Ela vai até à caixa de som e dá pause, aproveito a deixa para entrar na
sala.
— Não conheço muito a área, mas quer procurar algo para comer?
— Estou pronta, João — a voz surge nas minhas costas e vejo então
Amora com a sua bolsa de mão a tiracolo.
— Filipa, ridículo é como você está agindo, por que está agindo assim?
— Ela revira os olhos e dá um sorriso raivoso.
— Ela espera que você vá atrás dela. — Amora diz ao meu lado.
— Amora... — Repreendo.
— Vamos lá.
— Sim, acho que fiz uma boa impressão para as alunas já matriculadas
— sorri e me dá uma piscadela, me restando rir junto dela.
— Sou do sul, mas vim ainda adolescente para cá, então perdi a força
do sotaque.
— Definitivamente, sim.
— Não vejo motivos para isso, senhorita. — Instigo rindo junto dela
agora.
— É só uma dica.
— Você me confunde, diz que não tem interesse, mas flerta comigo.
— Foi assim com a menina de cabelo azul? Você a tomou para si?!
— Eu te avisei.
Ela retira da bolsa uma cartela de analgésico e joga um comprimido na
boca, engolindo-o com o suco.
reabrindo e me encarando.
— Uau! Uma filha de bailarina clássica dizendo isso, não deve ser fácil
para a sua mãe.
— Ele não se importa comigo, João, para o meu pai a minha única
utilidade é estar bem vestida e sorrindo para as fotos.
— Assim sendo, pode ser que eu te leve na minha casa para que
possamos tomar um vinho.
— Talvez.
— E isso importa? Com dor ou sem dor, eu tenho que regressar. — Diz
chamando o garçom em um aceno. — Obrigada pela companhia, João.
— Pode deixar que eu pago. — Digo quando ela retira o seu cartão
black da carteira cor de rosa, pego-me atento que o tom de rosa da pequena
não sei até onde pode ir para que lhe deem a devida e necessária atenção.
Pego o meu celular e disco para a Filipa que para a minha surpresa
atende no primeiro toque.
— Não sei, eu senti algo estranho quando vi você com essa garota.
— O que você está falando?
— Eu senti que ela vai distanciar nós dois, não me peça para explicar,
foi o que eu senti.
— Quanta besteira.
nunca me meti nos seus encontros, não vamos mudar isso agora, certo?
Ela desligou o telefone na minha cara, isso é tão infantil, não consigo
reconhecer a minha melhor amiga, será que foi por isso que ela começou a
fazer a tal dança na boate? Filipa quer me conquistar?
As Peças
JOÃO
branco, puro.
pais andam mais reclusos, e a prendendo também, mas hoje pretendo ter um
encontro a sós com a minha enfadonha e insossa futura esposa.
Olho por olho, dente por dente, e já que eu não poderia seguir a lei da
retaliação, eu quero que o assassino dos meus pais sofra tanto quanto eles
sofreram, quero que a filha dele tenha em seu coração a mesma dor que eu
possuo no meu, eu preciso feri-la, para que isso diminua a minha dor.
Quero marcá-la por toda a vida, assim como o seu pai me marcou por
toda a minha quando matou os meus pais. Lei de talião é o conjunto de leis
mais antigo da humanidade, baby.
batidas da canção.
Ele sai caminhando do palco pelo lado esquerdo e os holofotes vão para
cima de Amora e todos encaramos a bailarina de cabeça baixa no centro do
palco no exato momento em que a voz de Whitney Houston ecoa no
ambiente.
Share my life
E então, mais um casal entra, agora os três casais se unem todos ao lado
que estava junto de Amora antes, saem do palco deixando-a só com o novo
grupo.
Começa um número com giros e piruetas, não demora até que o outro
grupo retorne, reparo nos corpos fluidos, essas pessoas não têm ossos?
Fico hipnotizado com o número, quando o seu par a tem nos braços
novamente, bailam juntos de todos os outros e é incrível, giros, pernas sendo
erguidas, sincronia com as batidas da canção, pego-me respirando
descompassado enquanto acompanho, curioso se ela conseguirá adequar seus
passos com o dos outros, se alguém vai errar algum dos passos...
Mas quando de repente, perto do refrão, todos os casais se separaram e
se abaixam próximo ao canto direito do palco, exceto um dos homens que
fim se joga em uma pose de nítida confiança, entrega total para o seu par, que
a segura, mas arranca um grito de toda a plateia no segundo seguinte quando
a joga ao chão no exato momento em que Whitney grita:
Amora fica caída ao chão olhando o seu par que começa a dançar junto
de outra bailarina, ela se levanta e com as mãos separa os corpos do casal.
conseguiu os acompanhar.
solidão.
AMORA
— Na Europa você não tem um nome a zelar, mas aqui, você é Amora
Guedes, filha da Amélia Guedes que foi a primeira bailarina do Municipal.
— Otávio vai levá-la para jantar hoje, seja uma boa menina.
— Com licença. — Uma voz masculina surge por trás de mim e vejo
João, ele tem um buquê de orquídeas brancas nas mãos e as entrega a mim.
— Parabéns pela apresentação, foi impecável.
Deixo cair uma lágrima que enxugo com destreza, seguro o buquê, e
quase não consigo olhá-lo. Mal posso crer que ele realmente veio.
— Minha filha é uma bailarina com muito potencial, senhor Patacho.
— Mamãe diz.
Olho para o João à minha frente, sei que está tentando soar gentil, mas
estou com raiva, sobretudo de mim, por ser tão insuficiente. Como dói não
atender as expectativas de alguém que amo.
eu não sei se era esta a mensagem que queria passar, até porque, eu nada
entendo sobre balé, mas entendi que a bailarina de alguma forma não se
encaixava em nenhum lugar — os olhos de cor azul parecem vivos, afoitos,
ele gesticula e sua voz aumenta a entonação — por mais que a bailarina
usasse roupas iguais os outros, por mais que tentasse dançar como os demais,
simplesmente não se encaixava, e para ser sincero eu me sinto assim na vida
muitas vezes. — Talvez sentindo que se excedeu em suas palavras, ele se cala
e olha-me profundamente, lentamente um sorriso surge em meus lábios. —
Não ria de mim, eu avisei que não entendo nada sobre dança.
Timidamente, ele coloca as mãos nos bolsos de seu terno e deixa cair
os olhos, eu gosto da sua sinceridade e como parece vulnerável em alguns
momentos.
— Sua mãe deve estar orgulhosa do quão talentosa você é. — Ele diz e
eu apenas nego com a cabeça e aperto os meus olhos, tentando expurgar as
palavras duras que ela me deu, sinto a mão quente tocar meu ombro.
Hoje era para ser um dia tão especial, mostrar a todos uma coreografia
premiada e apenas se tornou um dia que eu já quero esquecer.
— Obrigada pelo apoio, de qualquer forma, são lindas flores. —
Assumo vestindo a minha carapuça doce, abro os olhos e dou-lhe um sorriso
fraco.
Meu vestido midi possui a saia longa e rodada, o que não será um
— Não vou te deixar cair da minha moto só porque você não faz o meu
tipo, porque particularmente acho sexy um hematoma na bunda. — Brinca e
eu acabo rindo dele.
— Certo.
Deus do céu!
forte que bate em meu corpo, em meus ouvidos consigo sentir os meus pulsos
acelerados, os olhos arregalados atentos a cada um dos movimentos feitos,
não consigo definir se preciso gritar, chorar, sorrir, se quero que pare
imediatamente ou se preciso que vá ainda mais rápido.
Viva.
Eu devia pedi-lo para parar, mas não o faço, a vida inteira eu fui uma
boa garota, mas agora eu simplesmente não quero ser nada, não quero ser, e
sim sentir.
— Obrigada.
— Sou do sul, mas diferente do meu irmão, eu amo esta cidade, cada
canto.
— Ah, é?!
— Otávio é segurança, ele se dá bem com o meu pai, parece ter afeição
por mim, e tem uma beleza agradável, talvez eu o ame com o tempo, com a
convivência. — As palavras mais tentam me convencer do que a João.
João vira-se para o mar, não me encara enquanto sussurra para que só
eu ouça as suas palavras, ele é tão incrível.
— Não fui criado para ser legal, simpático e muito menos ter boa
família. Não tenho sensibilidade nessas nuances da vida, sempre precisei ser
forte, mesmo em todos os momentos que o meu coração gostaria de saltar
pela boca. Por muito anos eu ouvi que, um homem deve ser homem, ter
honra, responsabilidade, dignidade, hombridade, mas neste momento da vida
me pego sentindo falta de ser um pouco bobo.
ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.” Essa frase me fez ter
a plena consciência que eu sou totalmente boba.
— A conversa flui tão bem entre nós, sente isso? — Pergunta e penso
por um segundo.
Minha boca fica seca, observo-o assim sob a luz da lua, tão másculo,
ele tem braços malhados e pelo que pude sentir pelo pouco que tateei
enquanto estava em sua garupa tem gominhos, seus lábios cor de rosa são
protuberantes e pego-me ansiando para saber o quão suaves podem ser em
contato com a minha pele.
Quando ele retorna o olhar para mim, esperando uma resposta apenas
aceno em concordância.
mas sei que o meu pai nunca permitiria uma relação dessa, é errado, e quanto
mais eu deduzo o quanto meu pai repudiaria esse envolvimento, mais sinto-
me tentada.
quando e com quem ele quiser, e talvez a minha mãe tenha razão, os pais
sabem o que é melhor para os seus filhos.
Coisa linda
Lua, lua, lua, lua
Sol, palavra, dança nua
Pluma, tela, pétala
— Foi intenso ter vindo de moto. — Mordo o lábio insegura, será que
usei as palavras certas?
Coisa linda
Desejar-te desde sempre
Ter-te agora, um dia é sempre
Uma alegria pra sempre
Dou uma rápida olhada no cardápio, e opto por algo leve, as palavras
da minha mãe sobre a minha dieta latejando.
— Sinceramente não sinto que fui feliz lá, o que sinto falta é mais da
sensação que a Europa me traz, mesmo andando sempre com seguranças,
ainda tinha um resquício de liberdade, podia ter as minhas próprias opiniões.
— Você já tem vinte e cinco anos, talvez precise provar para si mesma
O impacto das suas palavras recaem sobre mim como uma avalanche,
ele tem total razão, antes de provar para outros a minha capacidade, eu
preciso ser a primeira a confiar e acreditar em mim.
Coloco a minha mão sobre a sua e vejo-o erguê-la e levar aos lábios
depositando um beijo no dorso.
— Seria interessante.
— Onde?
— Vamos!
A Montagem
AMORA
Assim que a moto para em frente ao meu portão de casa eu sinto uma
nostalgia, é como se já tivesse sentindo a falta dele, tiro o meu capacete e sem
que João perceba dou uma fungada em sua roupa, tentando guardar na mente
— Não precisa, eu sei lidar com eles, na verdade, é provável que não
tenham ao menos sentido a minha falta, só os seguranças devem estar doidos.
— Coloco o capacete pendurado na moto, e volto a atenção para ele. — Essa
Decidida a implicar com ele, passeio os meus dedos pelo seu peitoral,
ele os acompanha com o olhar e então aproximo o meu corpo ao seu, nossas
bocas niveladas e ofego rente a ele que me olha de forma intensa.
— Você não deve temer a minha ação, e sim, o meu silêncio. Não me
tente se não for lidar com as consequências.
— Não vai, você ainda é a menina que tem de chegar às duas da manhã
em casa. — Diz ele, semicerrando os olhos e encarando-me por um segundo,
talvez esperando que eu me defenda, mas o que posso dizer, afinal esta sou
eu, um fantoche dos meus pais.
calcinha e sem sutiã, pego os meus fones via Bluetooth e coloco “Earned it”
no último volume, chuto fora as minhas sandálias e rapidamente entro em um
par de coturnos de salto de 10 centímetros.
Porque eu não vejo mais ninguém, ninguém além de você, você, você...
Fecho os meus olhos e imagino ele por baixo de mim, e essa simples
fantasia faz os meus quadris se erguerem e abaixarem novamente, subindo e
descendo, subindo...
Vou ao chão e passo a perna por trás, meu tronco se curva junto da
minha cabeça para o lado pronto, sai um cambré perfeito, eu amo a minha
flexibilidade e fluidez, o que é fruto de uma vida inteira de treinos.
mamilos eriçados, e penso nele, em como queria o seu toque por todo o meu
corpo, em como eu queria ter deixado de lado as regras e ir junto com ele na
garupa de sua moto para onde for que ele quisesse me levar, mesmo que fosse
para um motel qualquer fazer as coisas que ele parece ser capaz.
lhe enviei meia hora atrás, sua jaqueta preta de couro orna bem com a camisa
sensações.
Quando bate a porta seu rosto bonito repara em mim, os olhos azuis
celestes fixos no meu short destroyed curtinho, sobe para a minha camiseta
escrita “Hey DJ” com pedrarias pretas a estampando.
— Certo, cinto de segurança, senhor. — Brinco vendo-o revirar os
olhos, retira a jaqueta e passa a correia do cinto no peito.
— Essa música...
— Você tem toda razão. Ei, você dirige bem, talvez eu deixe algum dia
você guiar a minha moto.
— Verdade? Olha, João, eu vou cobrar isso.
bilheteria.
também.
— Isso aí! Loira, agora cruza a perna esquerda, e gira! — Ele grita por
cima da música e o imito.
que esse é um clássico dos anos 80, sem saber nem um dos passos tento
novamente acompanhar a galera, mas essa tem a melodia mais rápida, exige
passos ágeis que não consigo pegar com facilidade, e encaro como um
desafio, me atrapalho com o jogo de pernas, e por fim, desisto de tentar
os meus olhos, seguro em seu ombro ficando tonta de desejo, e então sua
boca mordisca o meu pescoço e deixo um gemido fugir dos meus lábios.
— Sim, você acha que ela está acreditando? — Pergunta com a voz
rouca em minha orelha e deixa uma lambida em meu lóbulo.
Ele agarra a parte de trás do meu pescoço e puxa-me para si, cobrindo a
— Diga não, faça-me enxergar que não existe química entre nós, diga
que é invenção da minha cabeça, preciso de algo que me faça desistir de
beijar a filha de Rodolfo Guedes.
Obedece reabrindo os olhos azuis tão vivos, e delicado, ele apenas sela
nossos lábios enquanto juntos fechamos os olhos e então a magia acontece.
Meu coração quase salta do peito quando ele se move, sinto-me uma
adolescente dando o seu primeiro beijo. A língua massageia a minha de
forma lenta e sensual, é como se tivesse me fazendo um carinho, sem
afobação, realmente me provando. Começo a deslizar a minha língua o
beijando de volta enquanto o sinto mordiscar a carne do meu lábio inferior,
ele suspira quando sente o meu gemido que escapa sem que eu tenha
qualquer controle.
Não quero que esse momento acabe nunca, é deliciosa a forma como
sua língua saqueia a minha, exige, toma tudo de mim, suas mãos me apertam,
seu corpo muito rente, uma intensa fusão.
— Que pouca-vergonha!
Nos desgrudamos e ele segura a minha mão, corremos juntos até o meu
carro, e ele estende a mão me pedindo a chave, o que o entrego de bom
grado, estou batendo os meus queixos de frio.
João dirige em alta velocidade pelas ruas agora desertas, afinal já passa
de uma da manhã, eu cochilo um pouco deixando o cansaço do dia me levar,
e não demora até que o carro esteja estacionando em seu condomínio.
Fico perdida, há tanto para ver aqui, tiro os meus coturnos sem salto
dos pés e os coloco no cantinho da entrada, já descalça caminho para o
interior.
— Ótimo.
— Certo.
— Entre no banheiro e me dê a sua roupa molhada, enquanto se
esquenta a colocarei na secadora. — Ordena entrando no corredor e o sigo.
— Cadê as suas lingeries, vai voltar com elas molhadas pra casa?
Anda, passa logo.
— Para de besteira, eu também estou com frio aqui, não vou perder
tempo olhando. Calcinha, anda logo.
— Você não faz ideia do quanto a minha mente viaja imaginando você
completamente nua a apenas uma porta de distância.
momento para isso, sem respondê-lo, apenas fecho a porta e sigo em direção
ao box transparente de blindex.
Uso sua camisa preta de botão que me cobre até a altura da coxa, dobrei
— Obrigada por colocar a minha roupa pra secar, é muito gentil da sua
parte.
Passo os meus braços por seu pescoço, e ele pega na blusa que uso e
me puxa para ele, ajeita os meus joelhos em torno de si, e monto seu colo
vendo seus lábios entreabrirem abafando um gemido quando passa seu braço
descaradamente.
— Jura?!
— É, não podemos, mas não vou ser hipócrita, seria delicioso poder. —
Um sorriso brinca em meus lábios com a sua confissão.
Sua calça jeans me esfrega através da minha virilha nua, seu pau
fazendo um atrito gostoso que me faz pulsar, respiro com dificuldade, e
acaricio o seu peitoral, toco sentindo os poucos pelos que possui, nos
entreolhamos e tomando a decisão, eu beijo a sua bochecha, e em seu ouvido
confesso:
Sua língua desliza pela minha boca e o calor se espalha pela minha
barriga até o interior das minhas pernas, eu gemo, completamente perdida em
sua boca, pego a parte de trás do seu pescoço e o trago para mim.
Ele move a mão abrindo alguns botões da camisa que uso e tira os
lábios dos meus.
Percebo que demora demais até que ele cumpra a sua promessa, então
reabro os meus olhos e o tenho fissurado olhando para os meus seios, e rio
dando-me conta do que ele parece ter gostado...
O Jogo
JOÃO
Tateio e brinco com o outro seio, e a mão dela aperta o meu cabelo, a
pressão demonstrando o quanto está com tesão, me deixa maluco.
Parto para o outro mamilo, devoro a sua pele, pisco com os olhos
abertos tentando gravar na mente ela assim, com os lábios entreabertos, olhos
Desço a minha mão para a sua coxa, imagino que ela ainda seja virgem,
mas ainda assim dá para fazê-la gozar, e neste momento eu me pego
desesperado querendo conhecer todo o seu corpo.
me.
Pego o copo que larguei na mesa de apoio, e até o maldito uísque que
eu bebo me lembra ela, seus olhos. Maldição!
Levanto-me e vou até Amora, colo a minha boca em sua testa, acaricio
a sua bochecha. Ela é tão inocente em relação a sua beleza, o que me deixa
mais excitado em relação a ela é que a garota não tem a menor noção do
quanto é sexy.
— Está bem para dirigir?
tempo, mas saiba que eu vou sim, te ligar, e quero muito aproveitar mais
vezes aquele piercing.
Abro a porta deixando-a passar, mas estou inquieto, não consigo entrar
de volta, fico aqui parado, cimentado no chão a assistindo chamar o elevador,
reparando no jeito que faz um coque nos cabelos talvez preocupada com o
volume.
Quando o elevador chega, ela vira para mim, sorri sem mostrar os
dentes, e dá um passo para dentro, e então eu percebo que estava segurando o
ar em meus pulmões.
As pernas expostas com vários desenhos feitos a mão por mim, possui
uma saia de couro preta com um corpete da mesma cor, passa a mão em sua
franja azul e dou as costas sem convidá-la. O branco de renda de Amora,
contrastando com o preto de couro de Filipa, dois completos opostos, mas até
então, eu não gostava de renda e corpo que possui apenas uma tatuagem com
o desenho bobo de uma sapatilha, bailarina e voz fina, este homem de pau
duro por uma menina que representa tudo isso é uma nova versão minha
desconhecida e boba.
— E desde quando eu tenho que avisar que estou vindo? Sou de casa,
queridinho. — Sorri nos trancando por dentro, e eu vou atrás de mais bebida.
As suas unhas raspando pela minha calça jeans, abrindo o meu cinto, e
ainda mantendo os olhos fechados lembro-me dela, Amora.
A garota devia estar aqui neste momento, com o seu rosto delicado
totalmente corado e suado como estava após dançar, contudo, desta vez, eu a
faria corar e suar, por cavalgar em mim, a noite inteira, o meu pau fica
imediatamente duro com o pensamento.
fechados imaginando que sou outra? Não preciso disso, João, você é uma
foda boa, mas isso se encontra em outros lugares.
Apenas me calo, ela tem total razão, não queria magoá-la, antes mesmo
de sexo, somos amigos.
Ela pega a sua bolsa em meu sofá e sai enfurecida, torço os meus
lábios e rasgo o meu olhar quando vejo a brusquidão que bate a minha porta,
fazendo o estrondo ressoar assim que a maçaneta bate na parede e volta
encontrando o batente e fechando-se sozinha.
— Merda!
Jogo-me no sofá, e o meu jeans incha ainda mais com o calor, abaixo a
mão e o seguro gemendo de dor, o massageio sentindo-o endurecer cada vez
mais, lembrando o quão gostoso é o seu gemido, a vozinha fina e a forma
como vem profundo de sua garganta, tão real e autêntica.
Meu pau lateja, e minha mão aumenta o ritmo ao mesmo tempo que em
minha imaginação é Amora quem aumentou o seu sobe e desce no meu pau,
o calor enche a minha virilha, e eu gozo sujando a minha mão, a minha calça,
a cueca, o sofá.
Pego o celular e jogo no google a crônica que Amora citou mais cedo,
preciso encontrar algum afago para o bobo que me sinto agora, leio por
completo, mas uma frase dele me chama a atenção e faz arrepiar.
— Fico realmente feliz que tenha vindo, hoje vou ficar até mais tarde
na empresa, e não teria tempo para ir no seu apartamento. — Digo a mulher
— Eu vim lhe dizer, Patacho, que eu levei anos para construir a auto-
estima que possuo, para que você a coloque em prova. E saiba que, nenhuma
mulher merece estar com um cara que está com a cabeça em outra.
com os olhos cor de uísque, e não demora até que o meu telefone corporativo
a minha mesa toque.
— Oi, Flávia!
Filipa olha para fora e tem a mesma visão que a minha e bufa
contrariada.
— Mas que merda! Tudo bem, hoje à noite, e quero você com a sua
cabeça no lugar certo.
— Esse foi o meu ideal desde que assumi a chefia desse setor, deixá-lo
mais leve.
Vou até a minha mesa de forma mecânica e aperto o botão que faz com
que as persianas das minhas janelas caiam e nos dê privacidade.
— Quer que eu peça um café para nós? — Pergunto com a voz mais
rouca do que pretendia, agora que sei o que ela esconde por baixo das suas
roupas estilosas e provocantes, não consigo controlar o meu desejo.
— Os olhos cor de mel parecem confusos, mas não lhe dou tempo para
pensar, usando a arma certa qualquer ser humano pode ser manipulado. —
Você quer deixar acontecer? — Pergunto unindo os nossos corpos.
— Quero, eu não sei aonde isso vai nos levar, mas eu quero isso. —
Diz com a voz fininha.
Sobe na ponta dos pés nivelando as nossas alturas, desliza a língua para
a minha boca e a sugo com sofreguidão, eu nunca quis uma mulher com tanta
fome.
— Então ligarei assim que sair da minha sala. — Rebato e ela sorri.
— Até mais, João. — Morde os lábios e sai da minha sala sem esperar
pela minha resposta.
Talvez seja porque ainda estou excitado, mas gosto de imaginar que
seja Amora a dançarina sensual mascarada, rio em negativa, com essa ideia
descabida.
A Dúvida
JOÃO
Rosno com a mensagem que o meu irmão mais velho me envia “soube
que Amora esteve em sua sala hoje, isso é excelente para os nossos planos”.
— Não adianta você me trazer para beber e ficar a noite inteira sem
falar nada, o que está rolando, João? — Filipa chama a minha atenção
bufando.
Conto apenas a parte que me convém, deixo de fora tudo que arquitetei
para ficar com Amora, me casar com ela, assim como a minha sede de
vingança.
paquerinha dele.
— Você faz mais do que tirar sarro, Filipa, você não teve maturidade
para cumprimentá-la.
— É apenas a verdade.
— Certo, promete que não vai deixar que ela nos afaste?
Ela se levanta e caminha para fora da mesa, levo as duas mãos ao rosto,
massageio a testa, a cabeça fervilhando, estou irritado e cansado, e não paro
de pensar na forma como Amora saiu da minha casa e a sua falta de contato,
volte a sentir atração por ela, de repente esse teatrinho é exatamente o que eu
preciso para espairecer um pouco.
— E aí, Sérgio.
— A dançarina veio hoje só para você, sortudo,
— Minha esposa fez o convite para ela dançar mais vezes aqui, e
avisou que você tinha interesse em receber a dança particular, e a mulher
disse não para apresentações públicas, mas ela só aceita dançar para você.
Sorrio para ele, e confesso que me mantenho cético, afinal, não deu
tempo de Filipa se arrumar com roupa para dançar, colocar a peruca e a
máscara, talvez, ela tenha pedido a alguma amiga para me distrair, afinal, já
compartilhamos mulheres.
Vejo a mulher de costas para mim, o quarto sem móveis, possui apenas
uma cadeia no centro, e uma luz precária que mais pisca buscando força, do
que fica acesa.
minha dúvida:
Quem é a sensual dançarina que anda bagunçando os meus
pensamentos?
Ela logo sai do meu colo e fica de pé dando as costas para mim, ouve o
meu lamúrio, logo ela desce seu tronco acariciando as pernas e coloca a
bunda redondinha na minha cara bem empinada.
Eu definitivamente desfaço o nó da gravata, sinto-me arder, as mãos em
chamas de vontade de tocá-la.
A dançarina se vira para mim e encara as minhas pernas abertas e então
no espaço rente a minha virilha ela coloca os dois pés e sobe na cadeira,
rebola e agacha o peitoral passando os seios em meu rosto, dá um pulo caindo
sentada em mim com as pernas abertas e joga o seu tronco para trás
resvalando os cabelos cor de rosa no chão, por instinto seguro a sua lombar
Sua mão se fecha em meu pescoço e recebo uma lambida sua em minha
bochecha, quando decido deixar a porra do autocontrole de lado, ela se
levanta e sem olhar para trás, vai embora da sala.
Por que ela só aceita dançar para mim com tantos homens aqui?
pensamentos surgem como uma avalanche: revanche, olho por olho, dente
por dente.
Eu farei com que todos paguem pelo que fizeram com os meus pais,
Demora cerca de dez minutos até que eu consiga pagar a minha conta e
sair da boate cheia, já na porta procurando por um táxi, o meu celular toca me
fazendo franzir o cenho quando vejo o nome de Amora brilhar na tela.
— Sim, é que... Meus pais estão fora da cidade, e eu estou aqui em casa
sozinha e cansada, me desculpa ter te ligado, são quase duas da manhã, não
sei onde estava com a cabeça de pensar que você poderia vir aqui.
— Eu estou a três ruas da sua casa, estava tomando uma bebida com a
Filipa que também mora aqui no Leblon.
— Então fique aí com ela, vai ser melhor. Desculpe-me por te ligado.
— Apresso-me em cortá-la.
Demora até que ela responda, dez segundos para ser exato, dez
segundos que mantenho presa a minha respiração, que possuo esperança em
dar prosseguimento aos planos, dez segundos até ouvir sua voz fina de
menina cansada do outro lado da linha.
— Tudo bem.
um móvel ou outro.
— Não, amanhã eu trabalho. — Dou uma olhada rápida pelo seu corpo,
o pijama de cetim azul-bebê possui renda branca nas laterais, a parte de cima
só tampa metade da barriga, e a de baixo deixa escapar grande parte da polpa
— E não quero.
— Então, porque vai se sacrificar por algo que não quer fazer?
coração palpitar, ela tem razão, a fluidez que possuo muitos bailarinos com
mais anos de estradas não tem, eu sou realmente boa e fora da curva.
— Não entendo muito, mas dança não se restringe ao balé, quer dizer,
porque não tentar algo novo?
— Ter vinte e cinco significa que você tem vinte e cinco. — Elucido e
a assisto revirar os olhos. — E ter trinta anos não significa nada, não existe
uma idade limite para se saber o que quer profissionalmente, você pode
descobrir isso aos três ou aos noventa e cinco anos.
— Eu gosto tanto de estar ao seu redor, João. Você, nós, é tudo tão
intenso que por vezes eu sinto que poderia tatuar cada uma das frases que
soltamos em nossas conversas profundas, se eu escrevesse cada uma das falas
rasas que temos, sublinharia tudo, você é esclarecedor e forte como um
poema.
— Você é uma frase das mais belas e marcantes, daquelas que a gente
posta nas redes sociais, que marca a vida em antes e depois de saber da
nossa vingança.
Afundo a minha boca na dela, chupo a sua língua provando o vinho que
ela tomava ainda há pouco, beijo-a com força, sinto-a montar no meu colo e
os seus braços finos ao redor do meu pescoço, quanto circundo a sua cintura
com as minhas mãos a pele nua e quente me faz perder o fôlego enquanto
Amora deixa escapar um gemido que se perde em minha garganta.
minha pele... Isso precisa parar, tenho que me certificar que eu estou jogando
com ela, e não o contrário.
— Da última vez algo a assustou, e eu não faço ideia do que seja, então
até que eu saiba do que se trata, preciso saber até onde podemos ir.
— Não sei, João. Eu gosto do jeito que você me toca, eu sei que não vai
me machucar, mas ainda assim eu tenho medo.
Ergo o seu rosto, ela me parece perdida e eu estou cada vez mais
intrigado.
— Foi esse ano, eu pedi para voltar da Europa porque durante uma
festa na casa de uma amiga em Dublim, eu fiquei embriagada e beijei um
menino. — Respira fundo e assinto, acaricio o seu rosto tentando dar-lhe um
quero, mas eu não estava tão consciente, tentei empurrá-lo, mas o álcool me
tirou a força, e... — Deixa cair uma lágrima — Ele não parou com o dedo até
que viu o sangue. — Engole a seco com os olhos fixos na parede a sua frente.
— Então ele se assustou e me deixou lá, sozinha, sangrando, e eu me senti
uma idiota, por ter perdido a virgindade desse jeito, eu vim pro Brasil para
tentar me limpar da culpa, tentar esquecer o que aconteceu. Eu sei que é algo
bobo, mas eu fico nervosa com toques mais íntimos.
Cubro a sua boca com a minha, ela faminta mordisca meus lábios,
também chupa a minha língua me fazendo deixar fugir um gemido que ela
engole. É ela quem desvencilha o lábio do meu e retira a blusa do seu pijama,
os seios pálidos encaram-me, os mamilos duros e o brilho metálico dos seus
piercings fazendo a minha boca aguar.
Sua cabeça cai para trás assim que a minha boca desce pelo seu
pescoço até os seios mais lindos que já vi na vida. Eu lambo e belisco os
mamilos, e ignoro os seus gemidos altos, estou louco por ela, completamente
insano, eu poderia gozar nas calças apenas mamando esses seios que mais
parecem uma obra de arte.
Deixo uma trilha de beijos por sua barriga até chegar ao cós do seu
shortinho, eu o desço pelos seus quadris e tateio buscando pela sua calcinha
para tirar junto, mas quando olho para baixo vejo a boceta nua com pelos
loiros aparados em um tom mais escuro que o de seus cabelos, e por Deus,
que mulher linda.
entrada da sua vagina e brinco por ali molhando ainda mais e a estimulando o
— E então?
— Por quê?
— Porque agora que tive um gosto, não consigo retroceder, eu sei que
iremos com calma, no seu tempo, mas eu quero ter você.
— Você vai retribuir sim, mas no dia que estiver pronta para me
receber por inteiro nesse seu corpinho delicioso, minha bailarina dos olhos de
uísque. — Dou um beijo na ponta do seu nariz e me levanto. — Agora vou
embora, e te deixar descansar.
— Certo.
dia nunca chegue, a menina não parece nem um pouco disposta a ir contra a
família, nem para lutar por ela, imagina por mim.
O que dificulta a minha vida, mas eu gosto de uma boa dose de desafio.
O Encanto
JOÃO
— Bom dia, a que devo a honra? — Debocho assim que vejo o meu
irmão sentado na minha cadeira, em minha sala.
Jonas é cinco anos mais velho que eu, sempre se sentiu responsável por
mim, ele acha que é o meu pai em vários momentos, mas eu o respeito, o
admiro, e apesar de nos parecermos fisicamente, nossas personalidades são
opostas, eu sou mais sensível, desenho, gosto de andar de moto, sou mais
inconsequente, enquanto ele é calculista e frio.
Olhar para ele é quase como me ver no futuro, mais velho, em uma
versão um pouco menos musculosa, já que ele não é tão fã de academia
quanto eu.
— Do pai dela eu cuido, a raposa cada vez mais está criando um afinco
por mim, na hora certa, farei com que ele te aceite como genro.
— Que notícia excelente. Você a estudou, João, sabe tudo sobre ela,
não será tão difícil conquistá-la, é como um desses quebra-cabeças que você
vive montando.
faces, e agora eu entendo o que ela quis dizer com isso, porque sinto que
ainda tenho muito a descobrir acerca da doce bailarina dos olhos cor de
uísque.
Ele bufa descrente, se levanta e está pronto para dar fim a este assunto
que foi o único que o fez vir aqui em minha sala.
AMORA
Quase não consigo crer que aceitei ter aulas com a professora que
minha mãe vem me empurrando goela abaixo. O corpo exaurido, a
musculatura tensa, só consigo pensar no analgésico que possuo em minha
bolsa.
sensível e de alguma forma eu me enxergo nele, talvez ele seja tudo o que eu
queria ser.
— Eu conheço o João, ele só está levando um tempo com você, ele não
Algo que aprendi com a soberba do meu pai e vendo-o lidar por toda
uma vida com funcionários é a não permitir excessos de liberdade, e neste
momento, de fúria, eu o vejo em mim.
existência.
Vou para longe dela, encho a minha garrafa com água e enquanto
vasculho a bolsa a procura do analgésico, o meu celular toca, o retiro da
minha pequena Gucci e sorrio ao ver o nome de João.
— Oi, diretor!
sentado em sua sala relaxado e pensando em mim, essa é uma cena boa para
se imaginar.
— Mais... — Sussurro.
redor, estou sozinha no banheiro, teria apenas que entrar em uma dessas
cabines privativas com vaso sanitário, a ideia me parece tentadora, mas seria
arriscado, e se alguém me ouvir?
— João...
Não resisto, com o corpo inteiro arrepiado, entro em uma das cabines,
tranco a porta branca e sento-me sob o vaso tampado, incrédula e muito
— Posso?
— S-sim.
Meus olhos se fecham e meu clitóris lateja na mesma hora em que seu
timbre rouco e baixinho fala pausadamente cada palavra, me fazendo arder e
sentir cada detalhe de seu desejo.
— Eu contra-ataquei e te inclinei na parede fria do box, mordi o seu
lábio inferior e levei a minha mão por dentro das suas pernas, passei o meu
— Sim...
Os dedos cada vez mais ágeis em meu clitóris, meus dedos dos pés
torcem, o orgasmo vindo suave, só consigo deixar que venha.
João
Tento me convencer que preciso que tudo saia perfeito para que eu
possa seguir com o planejamento, com a nossa vingança, mas, além disso,
quero que ela tenha uma boa lembrança da sua primeira vez, já que ficou tão
marcada negativamente com o cara europeu.
— Pode liberar.
vermelho de um ombro cobre o seu corpo escultural, hoje ela não usa o seu
colar que é passado por todos os de sua tradicional família, e dou graças por
isso.
Nos lábios um batom laranjinha assim como a cor das maçãs de seu
rosto e os cabelos soltos como eu gosto.
Sorrio gostando do que vejo, ergo a taça a ela que sorri para mim,
corando um pouco, seu rosto tão inocente, nem parece que é a safada que me
fez gozar no meio do horário do expediente.
Vou até ela e colo os meus lábios em sua testa, inalo um pouco do seu
cheiro adocicado, e seguro a sua mão notando que está gelada.
— Está dirigindo?
Levo a minha taça até os seus lábios vendo-a provar do vinho, seus
olhos não deixam os meus.
— Chegou bem?
— Queria te dizer que cozinhei esse belo prato, mas pedi que o meu
restaurante favorito viesse entregar.
Ela sorri e vai até a minha pequena mesa redonda de quatro cadeiras,
abre as panelas de inox e inspira a fumaça que levanta.
Seu sorriso abre largamente e ela vem até mim, dando-me um beijo
demorado na bochecha, não permito que recue, seguro o seu rosto em minhas
mãos e deixo um selinho, chupando o seu lábio inferior por fim. E, quando a
toco é como se fios elétricos estivessem ligados sob a minha pele, a forma
como o seu corpo delicado encaixa no meu e me faz sentir como o seu
protetor, me choca, porque não é isso que sou, meu papel nesse jogo é de seu
algoz.
— Eu vivia sujo, fui uma criança do mato, carrego cicatrizes até hoje
por conta dessas estripulias.
bem mesmo andar de bicicletas, céus, eu era louca para andar de bicicleta.
— É sério?
— Sim, ela dizia que para ser uma bailarina eu preciso respirar o balé,
então praticamente cresci em meio a estúdios, tutus e sapatilhas. — Revira os
olhos tocando o próximo retrato. — É o seu pai? — A pergunta faz a colher
cair da minha mão diretamente para mesa, sujando e me fazendo praguejar
baixinho.
— Vem comer.
— São mortos, é isso que eles são. Vem jantar. — A minha voz sai
mais alta e ríspida do que pretendia e isso a faz enrijecer a musculatura.
— Você não tinha como saber. — Arrasto a cadeira para ela que
Revira os olhos com a ordem, mas obedece sem reclamar, seu rosto se
contorce em pura satisfação enquanto degusta o risoto de camarão e ergo a
minha taça de vinho brindando junto a sua.
— Isso é maravilhoso!
estremecidos.
— Não acredito que ela tenha feito esse papel, me desculpa por isso.
— Não precisa se desculpar, afinal ela que fez a burrada e não você,
além do mais, a coloquei em seu devido lugar.
— Então a bailarina tem garras?
— Eu sou filha de Rodolfo Guedes, algum gênio ruim eu tenho que ter
escondido em algum lugar. — Sorri, mas eu apenas encaro o meu prato.
Guedes, em dado momento ela gargalha quando lhe conto um slogan idiota e
é como se o mundo parasse, vê-la sorrir é tão raro e ainda assim tão precioso.
— Ei, o filme!
— Qual?
— Dizer que vamos ver um filme, mas, na verdade dar uns amassos. —
Concluo e um sorriso estica em seus lábios. Também se desfaz da sua taça
com sobremesa e se vira para mim.
— Sim, eu não tive medo como das outras vezes, não tive flashes com
lembranças turvas daquela noite. Desta vez, foi gostoso e profundo.
Ela arrasta suas unhas pelo meu abdômen fracamente protegido pela
camiseta, e o meu coração bate agitado no peito que chega doer. Eu sei que é
errado, agora que possuo conhecimento do seu trauma, tenho a dimensão do
quanto essa primeira vez será importante para ela, e estou roubando isso já
que só estou aqui ao seu lado por conta de toda a vingança.
Mesmo errado, eu não estou disposto a deixá-la ter esse momento com
outro cara, eu organizei para que tudo fosse perfeito, e mesmo sendo uma
mentira, quero que tenhamos um momento verdadeiro de entrega.
AMORA
Contorço-me sentindo o quão duro ele está, fico louca atrás da fricção,
rebolo em seu colo e ele estanca, por um segundo, mas em seguida mordisca
o meu queixo, seu hálito quente pairando sobre a minha pele me deixa fora de
órbita.
Seguro a sua nuca e o beijo de volta com tanto fervor, roço em sua
ereção, e a sua mão aperta a minha cintura, eu o quero tanto que dói todo o
meu corpo, seus dedos deslizam pelas minhas coxas subindo o meu vestido,
enquanto a sua língua quente é exigente e não abandona a minha boca, cada
parte do meu corpo que ele toca no processo de tirar o vestido por cima
parece pegar fogo. Quando a peça vai ao chão, ele rosna mostrando os dentes
que abaixo a sua calça, o volume em sua boxer preta me deixa ofegante, tão
grande quanto nos filmes pornôs que ouvia as meninas cochicharem dizendo
ser raridade se ver por aí.
João tem um sorriso presunçoso nos lábios. Desço a sua cueca e encaro
o pau duro, lindo, rosado, repleto de veias, e tento levá-lo inteiro em minha
boca, mas é demais para suportar, abro os lábios ao máximo o recebendo e
sentindo a sua carne quente, o líquido pré-sêmen gotejando da sua glande,
seu gosto almiscarado de homem feito me enchendo os sentidos.
em meus ouvidos. — Prenda as suas pernas em meus quadris, vou levar a sua
bunda bonita de bailarina para o meu quarto.
Sorrio e dificulto a sua vida, ele me leva em seu colo sem descolar
nossas bocas, assim que abre a porta do quarto ele solta as minhas pernas
fazendo com que eu fique de pé, resmungando.
— Eu queria que fosse tudo perfeito na sua primeira vez, porque essa é
a sua primeira vez. — Diz acendendo a luz do interruptor, e viro-me para a
direção da sua cama onde vejo os lençóis brancos, as pétalas vermelhas
— Cada detalhe.
— João... Uau!
— Não quero pressioná-la, mas eu quero você, Amora, mesmo. Sei que
acabou de chegar da Europa e que provavelmente, não quer se relacionar com
ninguém, e até entendo isso... — Corto-o.
— João, você quer namorar comigo? — A frase sai dos meus lábios
como uma mescla de pergunta curiosa com pedido.
— Ei, você roubou o meu pedido. — Fecho os meus olhos, parece que
estou vivendo um sonho, será que o universo realmente voltou a lembrar que
eu existo, que eu preciso de felicidade? Porque definitivamente um homem
que prepara algo como isso, é a minha felicidade.
— Que canalha!
com firmeza e gemo o seu nome, para ter certeza que estou mesmo vivendo
esse momento.
— João...
— Deite nesta cama, abra bem as pernas e dê a sua boceta o que ela
quer.
a necessidade de me possuir.
enquanto João me lambe por inteiro, do meu clitóris até o meu ânus,
marcando território, deixando notório para mim que tomará tudo, que sou
inteiramente dele, e amo o quanto isso soa animalesco e instintivo.
arqueio o meu pescoço para trás, o encaro com os lábios entreabertos, e ouço
os seus gemidos desconexos.
Ele se inclina, chupa o meu seio, sua língua brincando com o meu
piercing, aumenta o ritmo das estocadas, e os meus gemidos secos ecoam
pelo quarto. Dor, desejo, paixão, entrega, está tudo aqui.
Subindo, ele beija a minha boca e engole cada um dos meus gemidos,
Colo as nossas testas e pela primeira vez o seu olhar foge do meu, as
pálpebras são fechadas e demoram tempo demais para reabrir, silencio e
deixo que ele tenha o seu momento, ainda semirrígido dentro de mim.
— Doeu muito? — Pergunta ainda de olhos fechados.
Entrego e me incomoda que ele não me olhe, parece culpado. — Ei, João! —
Levo as minhas mãos as suas pálpebras forçando-as a abrirem. — Eu quero
esses olhos azuis cintilantes em mim.
— Me perdoa?
Creio que ele esteja confuso por ser o meu primeiro cara, mas eu
escolhi isso, eu quis. Roço a minha bochecha em sua barba por fazer, e ele
cautelosamente desgruda nossos corpos, parecendo um tanto abatido.
— Ei, vem cá. — Aponto para a cama e ele segue a minha ordem,
sinto-o afundar o colchão. — Eu não vou ficar assustada, e duvido muito que
tenha pesadelos depois de uma noite tão boa. Feche os olhos e pense em
mim, em nós.
JOÃO
barriga protuberante que atirou em minha mãe, ela me pediu que fosse um
bom menino e não gritasse, mas como eu poderia ficar calado? Quando eu
comecei a chorar, ele se irritou, por minha culpa ele atirou na minha mãe.
Minha culpa.
acalmar.
Nosso barraco está silencioso. Olho para o corpo frio da minha mãe. A
pele, o rosto, o sangue... Eu acabei de completar cinco anos e estava
esperando que na próxima semana mamãe me fizesse um bolo, e, agora eles
Levanto-me com cautela para não acordá-la, e vou até o meu banheiro
da suíte e me tranco, as lágrimas enchem os meus olhos e tudo desmorona, a
dor em meu peito, as lembranças, a dor, o cheiro do sangue, da pólvora, o
barulho do disparo, Deus!
Molho o rosto abrindo a torneira da pia e lembro-me do conselho da
psicóloga que fui uma única vez por pressão de Filipa, respira, sempre lembre
de controlar a respiração.
Puxo o ar com toda a minha força pelo nariz, e conto até cinco, sinto os
meus pulmões inflarem, para em seguira liberar o ar pela boca. Relaxo a
musculatura, movimento os ombros enquanto prossigo com o meu exercício
de respiração.
Contido, dou graças que dessa vez não gritei, poderia tê-la acordado.
Nos conhecemos há tão pouco tempo, mas estive por tanto tempo
estudando os seus passos que é como se ela sempre existisse na minha vida.
— Ei, você sumiu, quer seu espaço e que eu vá embora? — Ela geme
arqueando o corpo de encontro com os meus lábios que seguem a beijando e
mordiscando.
Ela geme quando a minha língua rígida balança os seus mamilos, desço
para os seus quadris.
lado incerta e semicerro os meus olhos cessando a minha exploração pelo seu
corpo.
Dou risada.
— Bem, Ian, eu lamento muito, mas eu roubei a sua garota para mim.
— E eu só posso agradecer.
— Você me fez gozar tantas vezes, tão hábil. — Seus olhar incerto me
analisa. — Me ensina a te fazer gozar também.
A mão delicada segura o meu pau e o acaricia para cima e para baixo,
em um ritmo lento e angustiante. Ponho a minha mão por cima da sua e a
faço apertar mais, pressionar com rapidez e friccionar dando atenção a
glande.
Ela desce deixando beijos pelo meu corpo, respiro fundo observando a
forma como os seus olhos encaram os meus, o seu sorriso sedutor nos lábios
que eu beijei o quanto quis, sua pele acetinada com um hematoma ou outro
que eu causei enquanto a fazia minha, e ela amou isso. É aqui que o sexo
começa, nessa simples troca de olhares.
consciente que a estou dominando. Safada, ela molha os lábios com a língua.
Ergo a minha pelve enfiando o meu pau fundo em sua garganta, ela
aumenta o ritmo da sua carícia em seu clitóris, e começa a ofegar, o que faz
meu pau vibra junto com as suas cordas vocais, sinto o palato roçando, me
arrepio inteiro, praguejo, o corpo inteiro dominado, intoxicado por ela...
meus, é o meu fim. Gozo sem qualquer controle do meu corpo, apenas deixo
ir.
— Fui bem?
— Obrigada pelo convite, mas tenho que ir, meus pais voltam hoje à
tarde, tenho ensaio, enfim, mais um dia entediante.
— Por falar em seus pais, preciso ir conversar com eles, sobre o nosso
namoro.
já que eu devia ter feito uma mesa de café da manhã bonita para você.
saio da minha suíte, ela entra tendo o seu tempo, enquanto escolho o meu
terno e o visto.
Vem até mim, e une os nossos lábios, minhas mãos formigando para
tocá-la, seguro a sua nuca e aprofundo o nosso beijo. Foda-se que vou me
Eu devia negar, afinal, não fui ao treino pela manhã, e estou cansado
para pular o almoço malhando, o ideal seria malhar à noite.
— Mesmo horário. — Confirmo, ela é a minha prioridade, quer dizer,
não ela, o plano, a vingança.
Sugo o seu lábio inferior e chupo a sua língua adocicada com o gosto
do meu enxaguante bucal, reconhecer os meus cheiros nela é algo tão
animalesco, deixa-me totalmente possessivo.
— Vamos!
— Estou ótima.
Seguro a sua mão e nos conduzo para fora, ao passar pelo sofá pego a
minha pasta que possui o meu notebook, alguns esboços sobre o budget da
próxima campanha, nele comecei a grifar partes que preciso conversar com o
Amora parece alheia ao meu lado, decerto não se recorda de tê-lo visto
— Eu lhe conheço?
— Certo.
seu carro e Cadu me sorri, corto-o assim que ele movimenta os lábios.
Cresci com o ideal que a família é algo sagrado, para proteger, mas
esqueço-me completamente da sabedoria milenar quando tenho Jonas e Cadu,
que são tudo o que posso chamar de família, invadindo a minha sala, já sei
que Cadu deu com a língua nos dentes com tudo o que viu para o meu irmão.
Eu mal sentei a bunda em minha cadeira e já tenho os dois em meu encalço.
— Vamos lá, João, você sabe que estamos todos atolados de trabalho,
não nos faça perder tempo e dê detalhes sobre o motivo de você e Amora
estarem de cabelos molhados saindo da sua cobertura pela manhã.
É Cadu quem incita, com o seu sorriso sarcástico nos lábios, o homem
de pele bronzeada e olhos azuis é o mais brincalhão entre nós, talvez seja
porque a sua vida não foi mudada tão dramaticamente com os desmandos de
Rodolfo.
— Ela disse que vai falar com o pai a sós, neste primeiro momento.
caminhando bem.
Jonas tem razão, se Rodolfo não tivesse mandado matar os meus pais,
certamente nós teríamos um destino bem diferente, e é muito provável que o
meu destino nunca cruzasse com o de Amora.
AMORA
mais próximo, corro até a janela do meu quarto e os vejo chegar, quase
seguro um suspiro desolado, de pura insatisfação, e me condeno afinal
de contas eles são os meus pais, eu devia ficar feliz com o retorno de
ambos, mas não é essa a verdade.
Vou até o meu closet, e troco a minha roupa, me recusando a
tomar outro banho ou lavar os cabelos, quero ter o cheiro de João em
meu corpo a maior parte do meu dia.
Com o sorriso ainda nos lábios, retiro o vestido que usei em
nosso encontro, e coloco uma calça jeans e uma blusa mais fechada, já
que possuo alguns chupões e marcas de mão pelo corpo, resultado de
uma noite muito quente.
Desço as escadas, vendo os meus pais entrando pela porta
principal, forço um sorriso, entretanto sou totalmente ignorada
enquanto vejo-os sentar no sofá.
— Fizeram boa viagem? — Tento.
Mamãe suspira aparentemente entediada.
— O de sempre, seu pai trabalhou e eu fiquei no hotel, fui em
tem vinte e cinco anos, talvez precise provar para si mesma que não é
um pássaro em uma gaiola.”
Respiro fundo e tomo a minha decisão, é hora de começar a sair
da gaiola.
— Eu decidi dar um tempo no balé, mamãe, preciso descansar a
minha mente... — Corta-me.
— Amora, minha filha, você não tem mais cinco anos de idade,
para de querer chamar a nossa atenção como uma rebelde, essa pausa
palpável.
Menos de um minuto que estão em casa e já muda toda a minha
energia.
— O futuro que a senhora abriu mão, não é, mamãe?!
minha mãe por trás de mim, e antes que voltemos a brigar por conta do balé,
eu caminho voltando para o meu quarto, onde pretendo passar o dia
descansando os meus músculos após o dia intenso de ontem.
filhas.
— Filhas?
— Sim, eu quero ser pai de meninas, você topa?
— Não que isso esteja dentro do nosso controle. — Rimos. —
que devia estar no quinto andar, o seu lugar de paz, o estúdio onde
ouve seus discos de vinil, verdadeiras preciosidades como ele mesmo
diz, e mantém a sua biblioteca, ele é um amante de leitura,
principalmente poesias.
— Ele está atrasado um minuto, preciso ensiná-lo sobre
pontualidade. — Debocha papai e vou até ele acariciando o seu suéter
estampado com figuras geométricas ornando com a calça de linha
marrom, ele realmente ama cores, a única sobriedade está nas mangas
longas brancas da blusa social que ele usa por baixo.
meus pulmões.
— Obrigada pelo apoio, mamãe.
— Mãe é para essas coisas, querida.
Sentamos à mesa, e ainda sinto-me tensa pelo embate, quase não
creio que o meu pai fez tamanho alarde por conta do meu namoro.
— Então a senhora foi bailarina?
— A melhor.
— Verdade?! Ainda dança?
— Não mais, logo depois que casei precisei aposentar as
sapatilhas. — Brinca.
— Eu lamento. Vendo a sua filha dançar, só consigo imaginá-la
tão boa quanto.
— Se você olhar as minhas fotos quando jovem, vai ver a
AMORA
Com o passar das horas, João decide ir embora, eu aproveito sua ida ao
banheiro para agradecer a minha mãe pelo apoio.
— Jura?!
— Não se atrase.
Vou ter que voltar a ter aula com a professora enfadonha e de balé
clássico que a minha mãe julga como a melhor, vou ter que me submeter aos
ensaios intermináveis, a busca pelos passos perfeitos, tudo isso para que ela
me ajude a ter a aprovação do meu pai, ela fez a escolha dela, e está me
empurrando para fazer a minha.
marido.
Pelo canto dos olhos observo a minha mãe caminhar para fora da sala
nos deixando a sós, e só consigo dar atenção a João, que me beija a testa
aproximando nossos corpos.
Acaricio seu peitoral robusto por cima da blusa social, inspiro o seu
cheiro, quero tanto ter mais tempo com ele, esquecer o caos que é a minha
família, o meu lar.
— Tudo bem, então vamos levar esse corpo lindo de bailarina para a
minha casa.
— Bobo.
Segura a minha mão e apenas deixo-me ser guiada para fora com ele,
tenho roupa no armário da escola de dança, posso ir da casa de João
diretamente para lá.
Cavalheiro, ele abre a porta do carona para mim, e assim que me sento
no banco é como se o meu pulmão de fato começasse a trabalhar, a respiração
moradora.
— Sim.
apaixonada por João Patacho, e a minha razão grita o quanto preciso sair da
teia dos meus pais.
— E então o meu irmão pegou uma folha e desenhou esse bolo, me fez
soprar essas velas que ele mesmo fez a mão, e a partir dali, eu entendi que
desenhando eu podia ter tudo o que queria, e nunca mais parei, vivo
rabiscando, na maioria das vezes para sair do mundo real.
— Sim, Jonas sempre diz que eu puxei para a mamãe, enquanto ele é
um líder nato e totalmente racional como era o nosso pai, mas não conte a
ninguém. — Sussurra como se me contasse um segredo — ele é tão
carinhoso e protetor quanto ela era, mas se faz de durão.
— Eu não sei o que teria sido de mim se não fosse o Jonas, e acho que
ele diria o mesmo em relação a mim.
— Mas é claro que pensei, é tudo o que faço, e você, por acaso lembrou
da sua namorada?
Sua mão vem para a minha coxa, e ele desce cheirando o meu pescoço
deixando-me alerta.
— Não consigo tirar da minha cabeça os seus beijos, o som dos seus
gemidos, os piercings e a sensação de aperto da sua boceta tão doce,
A mão boba acaricia meus seios por cima do tecido da roupa e ele
rosna quando percebe que estou sem sutiã.
— Mas então, mocinha, vai fazer um espetáculo para mim hoje? — Sua
agora.
Mordisco o seu pescoço enquanto ele nos leva até seu quarto, seguro
em seus cabelos sentindo a textura fina e o seu cheiro másculo, limpo, a pele
avermelhada pelo meu atrevimento em sugá-lo, e quase não posso suportar a
ansiedade de sentir toda a sua masculinidade enquanto está por cima me
tomando como quer.
— Você faz o espetáculo em minha cama, mas antes, preciso ter acesso
Puxo a calça mais para baixo junto da cueca e João se desfaz da sua
blusa, beijo a sua coxa e a virilha, ele é todo tão robusto, músculos
do melado da minha saliva mesclado com o seu pré-semen deixa tudo mais
intenso.
em meu clitóris, tomando do jeito que ele quer, agarro os lençóis e apenas
permito e sinto. Viva. É assim que me sinto, completamente viva.
— João, você está limpo? Eu queria te sentir, sem barreiras entre nós.
— Amora... — Repreende.
Ele pondera, seu olhar vagueia da camisinha para mim, vejo a sua
relutância e estranho, se estamos namorando, porque ele está tão preocupado?
— Não confia em mim, ou não confia em você, para dar esse passo? —
O seu silêncio é ensurdecedor, com lágrimas nos olhos, levanto-me da cama,
já pronta para ir embora, mas ele me segura o braço sem aplicar força.
— Não pirraça, senão eu vou ser obrigado a deixar marcas nessa bunda
bonita de bailarina, e não vai ser nada agradável que todos vejam que por
baixo do tutu, a delicada bailarina foi tratada como uma puta na cama.
— João...
Peço e sua mandíbula tenciona, pega-me no colo e nos leva para a sua
cama, onde me deposita com cautela e desliza para dentro de mim, seguro em
seu ombro enquanto ele empurra os quadris profundamente dentro de mim.
Tão certo.
Eu desço a minha cabeça, ficamos testa com testa enquanto ele me fode
e faz parecer que o mundo lá fora é pequeno e irrelevante.
— João, acorda!
— Sonhos são apenas sonhos, acabou, agora você está aqui e é meu.
Aos poucos ele vai relaxando por baixo de mim, seguro o seu rosto em
minhas mãos e enxugo as lágrimas, faço um cafuné em sua cabeça.
E por fim, acabo pegando no sono novamente, esperando por ele que
não quis me acordar, mas teve que sair para trabalhar, na mesa um café da
manhã que a sua funcionária deixou servido gentilmente e me arrumei com
calma para ir a aula de balé.
Engulo a seco, então papai deu por minha falta, e ainda por cima fez
com que o segurança viesse me buscar, coisa boa não há de ser.
Vou para fora completamente irritada, sigo com Elton para o seu carro,
bato a porta com toda a força, talvez bater em algo faça dissipar a raiva e
descontrole que sinto agora.
Ontem mesmo ele disse que não aprovava a minha relação, mas que
ainda assim, não iria interferir, e me tirar o carro, me aterrorizar com essa
AMORA
— Você por acaso comprou um? Porque pelo que eu sei, o carro que
você dirige é meu. Assim como as joias que possui, as roupas, os sapatos,
— Porque eu quero.
Seu olhar enfrenta o meu, meu pai sempre foi manipulador, isso não é
nenhuma novidade para mim, mas dois podem jogar esse jogo.
— Então eu não devo nunca mais acreditar nas suas palavras, afinal
ontem você prometeu que não ia interferir no meu relacionamento e hoje me
castiga como se eu fosse uma criança precisando de punição.
— Sim, eu disse, fiz juras antes de saber que você estava dormindo fora
de casa, se esfregando sem nenhum pudor com o meu funcionário, por acaso
acha que a reputação de uma empresa se encontra no lixo? — Sua voz altera,
ele agora está por um fio.
— Eu tenho certeza, que esse tempo sem carro lhe fará refletir sobre as
suas escolhas, minha filha.
— Tudo bem, mas saiba que eu não vou andar com o seu motorista ou
os seus carros, faça bom proveito das suas conquistas.
As sobrancelhas sobressaltam, as rugas que envelhecem o seu rosto são
mais visíveis, e sua mão desafrouxando o colarinho, mostra o quão
— Amora, deixa de ser boba, você não pode andar sem proteção por aí.
Sua voz fica cada vez mais longe a cada passo que dou saindo de sua
sala.
Se há algo que aprendi com os meus pais, é sempre ter um trunfo, uma
carta na manga, e neste momento eu possuo, e sim, vou jogar sujo com isso.
procurando um táxi porque o meu pai me tomou o carro. Ou seja, se você não
cumpre com a sua parte, eu também não cumpro com a minha.
— Por Deus! Não acredito que Rodolfo lhe tomou o carro, aquele
cabeça dura.
— Mãe, não vai adiantar, ele não vai dar trégua, está reticente.
escola de dança.
— Ele vai, seu pai me deve muita coisa, tem o rabo preso comigo, ele
vai ter que acatar o meu pedido. Pode contar com isso. Vá para a sua aula,
ainda hoje ele vai anunciar essa viagem.
— Posso tentar, entretanto, ela não parece ter uma boa relação com os
pais.
Pego o meu celular e disco para Amora, que não demora a atender, sua
— Oi, João, foi ruim acordar sem você. — Sua voz manhosa me faz
sorrir, sem dúvidas não foi uma boa sensação sair para trabalhar sabendo que
estava em minha cama, sabendo do que é capaz de fazer com o meu corpo.
— Você me disse que iria pro ensaio, não queria ser inconveniente.
semana, pra gente namorar, disse que o papai não será um problema.
Fico surpreso que Amora se contente com tão pouco que os pais lhe
dão, um namoro aos fins de semana, a tratam como se ainda fosse uma
adolescente, estão a controlando, a mantendo na gaiola, e ela sequer enxerga
isso.
— Mas pode ficar tranquilo, durante a semana, eu vou fugir pra sua
cobertura, para te dar mais espetáculos. — Fala sedutora e arrastado a última
palavra, e me pego sorrindo.
— Isso sim é uma boa notícia. — A sua risada explode do outro lado da
linha. — Por falar em notícia, aqui na empresa só se fala dos seus pais, que
loucura uma Eurotrip marcada em cima da hora?!
— Minha mãe obrigou o papai a ir, não sei o que ela fez ou falou para
conseguir esta proeza, decerto o chantageou com algo, ela é boa nisso. — Diz
pausadamente, parece remoer algo. — Eles possuem uma casa em Portugal,
devem ficar por lá, afinal desde que a compraram, há cinco anos, só foram até
lá por duas vezes.
E mais uma vez, não consigo dar fim a ligação, nós dois silenciamos,
sabemos que temos de dar fim, e me bate uma nostalgia, uma agonia no peito,
uma saudade genuína dos nossos momentos a dois. Saudade dela. Eu sou
posso estar muito louco.
ativar ao redor dela, até porque desde o princípio do plano eu não sou quem a
protege, sou quem a jogará aos lobos.
Ainda tem pipas por toda a parte no céu de Ipanema, percebo através
aurora fazem do Rio de Janeiro a única cidade do mundo que poderia usar
como marketing em campanhas hoteleiras frases como: Há utilização das
praias vinte e quatro horas.
intimei a vir comigo, sem rumo, e ela veio, porque é tão inconsequente
quanto eu.
me quer no balé, papai quer que eu case com quem ele julga ser merecedor de
carregar o nosso sobrenome. E no meio disso, tem eu, que nem mesmo sei o
que quero, a única certeza que possuo é você. Principalmente quando diz que
vou ser a mãe das suas filhas, eu sinto isso tão forte, é quase uma certeza que
isso realmente vai acontecer. Você sente isso, João, um futuro comigo?
doce e única do seu perfume deixo tudo mais autêntico, o batom rosa clarinho
nos lábios entregam que ainda não a beijei, e só não o fiz porque detesto o
clima sempre tenso em sua casa, Rodolfo Guedes realmente não me aceita, e
apesar de não falar nada, seus olhares dizem tudo, o quanto sou indesejado na
aos fins de semana e de forma tão corrida, sem tempo para que tenhamos um
momento a sós, as nossas conversas banais que sempre são profundas, a dor
da saudade foi quase física. — Ela vem para os meus braços, deita a cabeça
em meu ombro e juntos vislumbramos a névoa da maresia que agora com o
anoitecer fica mais densa, o pôr do sol nas pedras do Arpoador é realmente
apaixonante como um dia cantou Cazuza.
A declaração dela não me pega de surpresa, porque era assim que devia
ser, o armado era realmente ela me amar, mas ainda assim está aqui o meu
— Eu também te amo.
Ela sorri e fica ainda mais linda soprando-me juras de amor, com
sinceridade, acrescento: — Não sei como ou quando, mas eu te amo.
E aqui começou a minha ruína. Porque assim como água e óleo não se
misturam, o amor e o ódio não são bons parceiros.
A Ilegítima
JOÃO
Olho para a frente da sua casa, a mansão de sua família possui mais de
800 metros quadrados, e seis andares, além de todos os bens que possuem,
que foram herdados e Rodolfo não usufrui, mas também não abre mão de
possuir.
— Não, hoje é a despedida dos seus pais, e não quero causar incômodo,
seu pai não gosta de mim e respeito isso, hoje é o momento dele.
— Tadinho.
— Merda! Não tem nenhum ponto cego neste quintal para que a gente
possa entrar e dar uma rapidinha? — Falo ainda rente à sua boca.
— Não, não tem. — Seus olhos ainda estão fechados e a boca molhada
do nosso beijo.
seda estampado em azul-marinho e chinelo de couro nos pés com uma visível
careta olhando diretamente para nós.
Do portão ela se vira para mim e acena, o semblante triste e abatido, ela
não é uma princesa, mas definitivamente precisa ser salva do jogo de
manipulação dos seus pais.
Os planos caminham bem, hoje Rodolfo finalmente viaja, deixando o
meu caminho com Amora um pouco mais livre, embora eu imagine que ele
vá redobrar a segurança ao redor dela.
— Se comporte, o seu pai ainda não viajou para que possamos fazer a
festa. — Brinco retirando a sua mão boba da minha coxa.
traidor, se arrepia.
mas algo em seu tom de voz me faz ficar alarmado, eu conheço o meu irmão
e sei pelo seu timbre quando algo está errado.
— Diga de uma vez. — Minha voz sai rouca, afinal, com a viagem
repentina de Rodolfo, todos estamos sobrecarregados, duas malditas semanas
sem sexo e estou quase grunhindo de necessidade de Amora que não facilita a
minha vida e agora rebola de um jeito lento nos encaixando e o meu pau
ficando cada vez mais duro...
— Rodolfo Guedes acaba de me dizer que possui uma filha mais nova
que Amora, a garota tem dezenove anos, ou seja... — Corto-o completamente
afoito.
— Certo.
lembro-me de sua fala semanas atrás sobre querer ter um irmão e achar bonita
a conexão, e a encaro com um sorriso simpático. Ela com toda certeza ficaria
feliz com a novidade. Uma irmã. Será que ela faria pouco caso por ser fruto
de uma traição?
— Eu fico com cara de bobo sempre que estou perto de você, nunca
reparou? — Desconverso e roubo-lhe um selinho.
Eu não conseguiria nunca conviver com ele, assim como, não me vejo
mais sem Amora, porém ela ainda tem muita dependência emocional dos
pais, mesmo que eles sejam pais decadentes.
Seguro a sua nuca e trazendo-a para mim, colo as nossas testas e beijo
todo o seu rosto, sua boca, pergunto-me internamente se quando ela souber
que só me aproximei porque fazia parte de um plano para derrubar a sua
família, ela irá me perdoar, se vai continuar me olhando com ternura, se ainda
— Se cuida.
— Diga que me ama, Patacho, preciso ouvir para ter um dia bom.
Assim que ele entra, passa a chave na porta e as mãos nos cabelos
escuros, pálido.
— Conhecendo o Jonas, sei que ele não gosta de mulheres muito novas,
eu posso seduzi-la, se ela parecer com Amora, eu o farei com muito mais
empenho. — Gargalha e me mantenho sisudo. — Conte-me João, como é
— Sai da minha sala! — A voz sai mais alta do que pretendia, ele
arregala os olhos assustado e eu tenho as mãos fechadas em punhos. —
Preciso ligar para o Jonas, temos assuntos a tratar antes do discurso dele de
posse. — Acrescento.
— Oi, João.
Ele me corta, na sua voz uma nota mais grossa que o habitual, ele está
nervoso, o meu irmão mais velho não suporta que nada saia do seu controle, e
esta definitivamente é uma situação de crise.
— Ótimo! Estou passando pela recepção. Irei direto à sua sala para
averiguarmos — diz e ouço vozes e passos ao seu redor.
senhor pediu. — Balança o pedaço de papel. — Quer que eu leve para ele?
povo e eu conquisto Amora para que consigamos ter poder supremo após a
prisão de Rodolfo. O plano parece perfeito, até aparecer essa filha ilegítima, e
até eu nutrir sentimentos por Amora.
— Ei, Jô... — Reviro os olhos, detesto apelidos e ela sabe disso, chama
só para me irritar. — Posso? — Aponta para a cadeira a minha frente e aceno
positivamente.
— Filipa... — Corta-me.
— Você sempre foi tão frio com mulheres, João. Bem, enfim,
parabéns?
AMORA
— Uau! Isso parece doloroso. — Diz, apesar dos meus olhos fechados,
sinto os seus passos próximos a mim. — Hoje eu vi o João.
— Prometo que vou pegar leve, mas aviso de antemão, tenho o humor
ácido.
— Você não me parece ter marcas pelo corpo, então o João não pratica
João nunca me falou sobre nada disso. Abro os meus olhos, e a encaro,
ela está sorrindo.
amigos, e eu nunca tive sentimentos amorosos com ele, e acredito que ele
também não nutriu nada disso por mim, era amizade e um pega o outro de
diversão, apenas isso.
— Certo.
contar.
Ainda sem carro, sou obrigada a pegar um táxi para casa, está bem
próximo do horário que os meus pais precisam sair para o aeroporto, como
sempre a aula de balé levou mais tempo que o premeditado.
bailarina perfeita, a mentirosa perfeita, mas hoje, nada mais faz sentido,
porque eu estou falhando em absolutamente tudo e me machucando junto de
todos a minha volta.
Desço do táxi e dou uma corridinha para dentro da casa, meus pais
discutem sobre algo na sala, sequer percebem a minha presença.
Aqui, achei, minha manteiga de cacau, meus lábios secos estão me matando.
— Diz, e desapontada, porém, nem um pouco surpresa, mudo o olhar para o
meu pai.
— Obrigada, papai.
— Vamos, Amélia.
— Fica com Deus, querida. — Mamãe fala enquanto passa por mim, e
os dois saem de casa de mãos dadas, como se não estivessem discutindo de
forma acalorada ainda há pouco.
JOÃO
espaço no pequeno sofá de canto com a luz precária. — Faço o meu melhor,
irmão. Amora, agora que os pais foram viajar, está como imaginamos, mais
carente.
para nós dois essa noite, quase gemo em frustração ao pensar na noite
incrível que deixei de lado para estar aqui.
— Certo. Tomar uma bebida com a gente e foder com uma destas
mulheres te fará bem — incentiva Jonas e desafrouxo a minha gravata, fico
irritado com a sua ideia, ele está me testando, já sentiu que algo mudou
dentro de mim, e quer saber até que ponto estou disposto a continuar com a
nossa vingança, mas não posso lhe responder algo que ainda não está claro
dentro de mim, coço a testa num gesto de impaciência.
— Fala sério, Jonas, o cara tem Amora Guedes na cama, que outra
mulher mais ele pode querer? — Cadu tira sarro ao mesmo tempo em que dá
tapinhas no meu ombro, e lhe devolvo uma olhadela bem mal-humorada, a
cada dia que passa detesto mais as suas piadas.
— Sim, Jonas, eu sei. Vamos apenas curtir a noite, ok? Já temos cargas
demais sobre as nossas costas. Então, pelo menos aqui, ajam como homens
normais — irrito-me e o vejo engolir suas palavras junto do gole que dá em
seu uísque.
dá de ombros.
— Irmão, cuidado. Ela parece ser uma boa menina. O fato dela morar
em uma comunidade demonstra que cresceu longe de toda aquela sujeira. —
Confesso.
cada parte dela, a reconheceria até em um lugar mais escuro que este.
Agora tudo faz sentido, por isso a dançarina só aceitou dançar para
mim, porque ela já me conhecia.
E agora faz sentindo o desabafo de Amora, o motivo pelo qual ela falou
baixinho:
fino tão alto me soa perigoso, entretanto a segurança com a qual ela se
movimenta me faz relaxar, com uma legging preta justa as pernas finas e
definidas, a forma como movimenta o seu corpo ao som do rap “All the time”
tão flexível, o jeito que se acaricia, a forma como se aceita no palco é lindo,
apesar dos mamilos à mostra, não é vulgar, eles não são os protagonistas, são
mero detalhe, ela brilha, é pura arte.
Sorrio bobamente, e por mais que eu saiba que existe uma multidão de
homens olhando e desejando, essa mulher é minha.
— Nada feito, rapaz. A regra é dia de casa cheia, só entra para a área
privativa com agendamento prévio.
Rosno insatisfeito e caminho para fora da boate que hoje está lotada,
esbarro nas pessoas, o lugar tem um jogo de luzes que prejudica a minha
visão, empurro um corpo a minha frente e ouço o cara me xingar, antes de
sair tem a fila da comanda, e fico irritado, o tempo contra mim.
A Promessa
AMORA
Puta merda.
Abro a porta do carro e desço, sinto a grama gelada abaixo dos meus
pés descalços, quase não consigo ouvi-lo sobre o som de toda a minha
respiração ofegante, não quero perdê-lo. Não quero parar de dançar. Não
quero viver sem o João. Mas não quero virar a minha mãe que abriu mão do
amor pela dança por um homem e vive amargamente dia após dia a dor dessa
escolha.
Uma lágrima cai dos meus olhos, descrente, é totalmente fora da curva
o seu apoio, a forma como não me julga e mesmo que eu não tenha dito nada,
ele entende que é o que me faz feliz.
— Agora, vamos entrar, e eu vou tirar a sua roupa, e você vai provar
que é minha, mesmo diante de uma multidão, você só dança para mim.
É algo que eu nunca senti na vida, eu sinto que o pertenço porque João
gemidos ecoarem no quarto. Ele morde o meu lábio inferior e sorrindo puxa-
me para ele.
— João. — Eu gemo.
Ele retira a minha blusa subindo o tecido, ergo os braços para ajudá-lo,
mordisca, morde e chupa o meu pescoço, os meus ombros, enquanto
permanece amassando os meus seios, quase não consigo manter os olhos
— Sim, é seu.
— Porra, sim.
Seus dedos deslizam sob a cintura da minha calça e sinto-o puxá-la
para baixo levando a minha calcinha no processo, seguro os seus cabelos
enquanto ele puxa a minha perna para o lado e beija molhado a minha boceta,
envolve o braço sob a minha coxa esquerda e me segura enquanto eu arqueio
e me contorço, gemendo duramente enquanto sua língua rígida faz loucura
em meu clitóris.
Minha barriga sobe e desce, reviro os quadris em seus dois dedos que
agora me penetram, eu tremo, a respiração curta e rasa, os dedos dos pés
revirando, está tão perto, tão perto.
— Diga-me, como você quer ser fodida, hoje? Na cama como uma boa
garota ou de pé, com a cara colada a parede como uma garota má que sai
— Que gostoso, João, não pare. — Agarro a sua cintura com uma das
minhas mãos cravando as minhas unhas nele. — Não pare. Não pare.
— João, volte para mim, é só um pesadelo, meu amor. — Falo por três
vezes e consigo que ele abra os olhos, e quando o faz as lágrimas caem, e me
rasga o peito vê-lo sofrer.
No banheiro ele apoia as mãos na pia e olha para o chão, ainda tenta
acalmar o seu próprio corpo. Vou até ele e abro a bica, deixo a água jorrar e
molho a minha mão passando em sua testa, tirando o suor.
Passo por baixo dos seus braços e me enfio por entre ele e o mármore,
sentindo a sua pele quente na minha, nós dois nus. Ergo o seu rosto e o forço
a olhar para mim, os seus olhos estão vermelhos e marejados. Dor.
— João, calma.
— Eu já te disse que não quero falar sobre isso, mas que merda! Se
— Não seja babaca comigo, você não é assim, você não é isso, está
machucado e quer me ferir, mas eu não vou deixar. — Falo e ele me abraça
em seguida, circundo a sua cintura abraçando-o de volta.
— Ele me fez jurar que não ia interferir, então fiquei quieto, escondido
vendo tudo. Covarde.
— Não, você era uma criança, meu amor, uma criança assustada.
— Não, não foi. — Minha voz sai em um fio. — Quem o matou, está
preso?
Ele por fim me solta, molha o rosto e fala saindo do banheiro: — mas
ele vai ser preso e eu vou destruí-lo, nem que seja a última coisa que eu faço
na vida.
JOÃO
ela dorme colada em meu peitoral dando respiradas tão profundas, que não
consigo acordá-la.
Eu já não suporto estes pesadelos, mas tenho certeza que no dia em que
tudo se concretizar eu nunca mais vou tê-los, é como se os meus pais
surgissem em sonho para me lembrar com constância o que realmente
importa.
— Bom dia, amor. — Sua voz soa ainda rouca após o sono, com as
— João, eu quero agradecer por ter dividido comigo uma parte tão
delicada da sua vida, imagino o quanto deve ser difícil lidar com essa dor. —
Beija o meu peitoral, e ergue a cabeça olhando-me, o rosto ainda amassado,
os cabelos desgrenhados, linda. — E quero também agradecer por não me
julgar, às vezes eu acho que você nasceu para ser meu, e nas outras vezes, eu
tenho certeza. — Sorri e levo a minha mão ao seu rosto pequeno, como um
filhotinho ela esgueira para receber mais do meu afago.
Olho para o seu pescoço e vejo o pequeno colar com o símbolo da sua
família, e lembro do meu pai morto, a raiva me engolfa, é o momento crucial,
preciso me casar com Amora, para deter a sua porcentagem na empresa, vou
— Eu te amo, Amora.
Jonas entra em sua sala, onde jogo sinuca com Cadu, meu irmão possui
uma mesa em sua mansão, além de tomarmos uísque, na nossa noite de caras,
decidi vim após dias com Amora em meu sistema, dormindo juntos, vendo
filmes, fodendo, ouvindo a sua risada e lhe roubando beijos.
— Vou dormir. Nada de som alto — ordena e nos deixa na sala a sós.
AMORA
João sempre fala do irmão com tanto carinho, que decidi tentar me
aproximar de Jonas, e também não quero depender do meu marido, como é o
que todos esperam que eu faça quando me casar.
Quero surpreender o meu pai, quando ele chegar de viagem quero que
ele saiba da minha intenção de estagiar e aprender mais sobre a empresa, já
que tudo isso é nosso por gerações, quero dar continuidade.
— Entre.
Digo e ele faz uma carranca. Realmente vou ter trabalho para
conquistar o irmão mais velho de João.
— Que ótimo. Obrigada. Vou indo. E, mais uma vez, obrigada. Com
licença.
De forma sorrateira, tenho ido à empresa todos os dias, uso o elevador
privativo para não causar burburinho, e dou sempre a desculpa a João que só
passei para vê-lo, quando na verdade me tranco na sala de meu pai, e sua
secretária tem me contado como funciona a gerência da Guedes Engenharia.
— Diga, Evelin.
vai odiar saber que está de olho na empresa quando devia estar de férias. —
Falo divertida ouvindo o seu resmungo.
— Ninguém nunca vai te dar, Amora, você não tem garra, não tem
sangue quente, é como a sua mãe, obediente, submissa e qualquer um pode
tirar o que quiser de você, como esse João está fazendo. Você nunca será uma
líder, ou alguém como eu, que comanda um império. Você é fraca e comum,
como a sua mãe.
A ligação fica muda, minhas mãos tremem com as ofensas, então é isso
que ele pensa de mim?
Obediente.
Submissa.
— Perdão! — A voz feminina diz e estende a mão para mim, ela está
com pena de mim.
nada.
Submissa.
Fraca.
entregando que é mais jovem que eu, e ainda assim não me teme.
descontou em mim, mas agora não adianta, o estrago já está feito dentro de
mim.
O Almoço
JOÃO
arisca, pretendo checá-la, assim que sair da casa do meu irmão, precisamos
deixar tudo em sincronia para o almoço de amanhã, onde as irmãs Guedes
vão se conhecer e confesso que estou curioso para saber como as duas vão se
comportar.
Jonas tem estado muito ao redor da tal Jasmine, o meu temor é que ele
perca a cabeça assim como eu faço alguns momentos com a Amora. Aí seria
o fim do nosso plano.
muda o assunto, nego com a cabeça, tenho feito um novo curso sobre gestão,
afinal, assim que eu me casar com a Amora, e derrubarmos Rodolfo, vou
assumir o cargo de CEO da Guedes junto do meu irmão.
— Fica tranquilo, com a foto das filhas juntas nas redes sociais da
Guedes, a raposa vai se esquecer por um bom tempo a respeito do processo e
do nosso povo. — Cadu diz animado.
— Você é um babaca.
Enquanto piloto, relembro a infância pobre que tivemos, nada foi fácil,
e se tornou ainda pior após a morte dos nossos pais, apenas o Jonas sabe o
que eu vi, acho que por isso ele sempre me protegeu tanto, dividir o que
passei com a Amora foi um erro, mas eu me senti mais leve compartilhando
isso com alguém, e ela não me julgou ou perdeu o interesse por mim após ver
a minha fraqueza.
— É, eu não sou durona como o meu pai, você mesmo fala que eu sou
doce, é isso.
— Amora, qual o problema de não ser nada disso? Você foi criada no
mundo ideal, nunca passou por uma dificuldade na vida, geralmente a nossa
força é medida nas adversidades e você até hoje não teve nenhuma, e não tem
problema algum, na verdade, devia ser assim para todo mundo.
— João, você acha que o meu pai vai ficar feliz com o nosso noivado?
— Acho que feliz ele não fica, mas ainda assim ele vai querer tomar a
frente e produzir uma grande festa de noivado.
sono.
— Estou tão cansada, João. A tristeza não me deixou dormir por todos
esses dias.
enaltecer cada uma das suas fragilidades. — Ela sorri fechando os olhos. —
Durma.
AMORA
Mudo o peso de uma perna para outra, passo a mão pelo meu terninho
branco com listras pretas, João me apressou tanto para vir, e chegamos no
horário exato que foi marcado o almoço, o top preto que uso por baixo do
blazer me apertando um pouco, estou ganhando peso, decerto isso aconteceu
nesses dias em que estive no fundo do poço.
João e Cadu conversam cordiais a minha volta, e de longe Jonas chega
pontual com a funcionária contemplada para este almoço pago pela Guedes.
A menina de pele escura está usando uma flor cor de marsala em seus
cachos e um vestido branco com o comprimento na altura dos joelhos, que
enaltece a cor negra de sua pele e realça as curvas do seu quadril, é diferente
do meu estilo, porém ergo as sobrancelhas em aprovação pelo seu bom gosto.
— Olá, bom dia a todos. Esta é a senhorita Jasmine Cerqueira, que foi
escolhida e nos dará o prazer de sua companhia no almoço de hoje. — Jonas
faz as apresentações e então eu lembro. Jasmine Cerqueira.
— Ora, ora. Mais que mal-entendido, não é mesmo? Lamento que isto
tenha acontecido, mas vamos passar uma borracha em cima deste assunto,
se Cadu, nos fazendo rir. — Feitas as apresentações, será que podemos pegar
nossa reserva? Estou faminto — Cadu pergunta e João é quem vai falar com
a hostess, uma linda ruiva, que em seguida nos guia até a mesa.
esse lugar, já vim almoçar aqui por diversas vezes com os meus pais.
— Tenho certeza de que quando voltar de viagem, meu pai fará questão
de dar uma enorme festa de noivado. Então, este é o primeiro de muitos
brindes.
— Oh, eles são tão fofos. — Ouço Jasmine suspirar a minha frente.
— Sim, eles são. Formam um casal adorável — Jonas diz, e fico feliz
que esteja aprovando o bem que faço na vida de seu irmão, no fim das contas,
foi uma boa ideia ter vindo.
Brasil — Jonas é quem orienta, quase reviro os meus olhos, até a sua didática
lembra o meu pai.
— Meu pai tem camarote aqui, mas raramente usamos. Quando quiser
vir a algum evento, me avise — ofereço, até hoje não sei para que o meu pai
mantém esse camarote se nunca o usamos.
— Bem, sobre ter uma bela vista, não tenho do que reclamar. Onde
moro sou privilegiada por ter uma belíssima vista da minha janela — gaba-se
Jasmine.
vezes que lidei com pessoas que moravam em favelas, e todas essas pessoas
em geral, eram descontraídas e animadas, diferente de Jasmine que me parece
mais formal e contida.
Jasmine sorri.
— Por quê?
— Você acha, Cadu? Acha mesmo que eu sou como vocês que moram
em bairros seguros ou condomínios fechados rodeados por seguranças? —
Sua voz jovial faz a provocação e entendo o seu ponto. As vezes que estive
em Madureira pude notar a enorme diferença entre lá e a zona sul, desde o
visual do lugar até a cultura das pessoas, não parece que estamos na mesma
cidade.
protegidos.
— Que absurdo — João diz chocado após ouvir o que Jasmine disse.
— E quanto a segurança pública e a garantia de ir e vir com segurança? É
dever do Estado. Não deveríamos exigir mais deles?
estão dentro dos dois atirando. Isto é o resumo do que Segurança Pública
significa para nós, os favelados. Fica evidente nossa falta de privilégios,
porque os favelados não estão inseridos no direito fundamental previsto pela
Constituição, na prática. As vidas dos favelados não têm valor para o Estado.
Somos fuzilados como se fôssemos os inimigos, por isso fiz a analogia sobre
como cada um aqui enxerga a segurança, não pela instituição da polícia em
si, mas sim, por toda uma estrutura pronta para nos aniquilar, e quando um de
nós perde a vida, ninguém sente ou faz qualquer coisa. Até já ouvi gente de
fora da comunidade dizer que “para os moradores é normal, pois eles já estão
acostumados”. Só que eu nunca vou me acostumar, porque ver um dos nossos
morrendo não é algo com que a gente se acostume — ela conclui e a olho
deslumbrada, que conversa gostosa, enriquecedora, talvez seja esse um sinal
divino para que eu continue a me inteirar sobre a empresa, veja quanta
preciosidade tem em Jasmine, assim como ela, devem ter muitos funcionários
ricos de valor.
— De fato, nunca pensei por esta perspectiva, Jasmine, porque o foco
sempre são as disputas entre policiais e criminosos, sem deixar margem para
diversidade cultural. Há pessoas que moram ali que vieram de outros estados
brasileiros e até de outros países. Tem gente de tudo quanto é raça, cor,
credo, religião, orientação sexual. Favela é o resumo do nosso país. —
Atenta, esqueço-me até de meu espumante, que está sobre a mesa, e
mantenho os olhos cativos em Jasmine. — Só no Rio de Janeiro temos em
média dois milhões de pessoas morando em favelas. Pessoas que, mesmo
com um salário mínimo num país que tem o imposto mais caro do planeta,
estão consumindo e se tornaram para as empresas que reconhecem aquele
vocês chamam de Food Truck. O Pedro, meu vizinho, a mãe dele é mãe solo
que nós temos soluções para muitas coisas, somos nós que podemos ajudar.
Não queremos e nem precisamos de caridade, mas, sim, de apoio, incentivo.
— Cadu, não me leve a mal, mas o cara de Harvard não sabe, não
entende nada da favela. E me incomoda que o que ele escreve seja chamado
de científico e o que eu digo, como moradora de uma favela no Morro do
Vidigal, seja chamado de depoimento. Quem mora e vive os dramas de lá sou
eu. Então, mais cientificamente comprovado do que o meu re-la-to não tem.
— É.
— E como funciona?
— Você não diz nada, Jonas? — Cadu faz uma provocação a Jonas que
olha para a menina com mais admiração do que já o vi olhar para o meu pai,
o que me faz franzir o cenho.
empatia talvez seja por me colocar no lugar dela, não consigo imaginar o que
já deve ter passado na vida.
fundo. E na minha cabeça ecoa bailarina com suas sapatilhas. Será que com a
— Nossa! Você abriu meus olhos, me deu uma visão totalmente nova
— Confesso.
Despejei na menina toda a merda que o meu pai me disse, realmente fui
uma megera.
Apertamos as mãos.
de conhecer você hoje. Sinto que é mais jovem que eu, todavia, com muito
mais vivência, conteúdo. Gostei muito da forma como me fez olhar sob uma
nova perspectiva, como eu enxerguei a sua vida, a sua luta.
— Eu tinha brigado com o meu pai naquele dia. Ele implica muito com
o João. — Sinto vontade de me justificar, para que entenda que eu realmente
não queria maltratá-la, apenas havia transbordado, sussurro: — Na verdade,
ele queria mesmo é ter o Jonas como genro, sempre cutuca o meu namorado e
isso me deixa muito frustrada.
— Sinto muito.
porque ela ter esse colar só pode ter um significado... — Não entendo como
ele foi parar em suas mãos.
— Também não faço ideia. Vou questionar a minha mãe, mas sei lá,
alguém pode ter revendido e assim chegou nas mãos dela.
— Não tem como, Jasmine, meu pai é filho único e os pais dele, meus
avós, também eram filhos únicos. Não tenho primos ou tios, meus avós já são
falecidos desde a minha infância. Eu e meu pai somos os únicos vivos da
linha sucessória da nossa família. Entende a gravidade disto?
tenha perdido o seu colar. — Olho-a com intensidade, preciso desvendar esse
enigma. — Como são os seus pais? — pergunto de sobrancelhas arqueadas.
— Tem a mente mais jovem e aberta que eu, todas as minhas amigas a
amam, uma peça.
AMORA
Inventei uma desculpa qualquer para que João fosse embora após me
deixar em casa, disse que precisava descansar, e agora aqui estou eu,
desligando o circuito interno de câmeras da casa e vasculhando o escritório
do meu pai.
Em suma, o que entendi é que meu pai possui terras herdadas no sul do
país que não está exercendo qualquer utilidade, simplesmente parada lá por
anos a fio. E isso vai contra a Constituição Federal que determina que toda
terra precisa ter função social, ou seja, ela precisa ser usada para algo, ter
alguma finalidade.
que não sou a pessoa mais atualizada, sei que a Guedes só constrói prédios
em zonas urbanas.
Provavelmente ele não quer usar as terras para nada, mas também não
quer perdê-las, típico do meu pai. Bufo inconformada.
Isso soa tão injusto, são famílias que estão precisando de um lar, talvez
contenham crianças, idosos.
O celular toca, o número do meu pai na tela, respiro fundo, pronta para
confrontá-lo.
Guedes, o nome dela é Jasmine, e ela tem o colar com o brasão da nossa
família. Como isso é possível?
— Pai? — Empurro.
— Tenho que sair agora com sua mãe. Ligue as câmeras. — Desliga e
me deixa ainda mais com a pulga atrás da orelha.
— Cheguei cedinho.
— Jonas, eu não sabia que você era tão divertido, onde estava
escondido esse tempo todo? — Pergunto sentando na banqueta alta próxima a
bancada da área gourmet.
Jonas nos serve cerveja gelada enquanto o meu noivo vai ao banheiro
se trocar, aproveito o momento a sós com Jasmine ambas sentadas nas
cadeiras próximas a piscina, embaixo de um grande guarda-sol, e Jonas está
um pouco mais distante, na churrasqueira.
— Não tenho.
— Sei como é. Eu achava que era o Cadu que tivesse a fim de você,
não esperava que fosse o Jonas. — levo as mãos a boca, uma percepção me
atingindo — Deus! Será que os dois a querem? Terá que decidir Jasmine. —
Brinco e a vejo fazer uma careta. — Bem, se for o Jonas, você será a minha
concunhada o que vai ser bem legal, mas não quero me meter nessa escolha.
— Amora, você tem a mente fértil, de onde tirou isso? Está louca.
— Nada a ver, Amora. Ele é meu chefe. — Ela desvia o olhar, e bingo,
ela tá muito a fim dele.
— Ele disse que ela me deu aulas quando pequena, me lembro de algo
bem longe em minha mente.
— Jonas, espero que a trate bem, a conheci ontem, mas senti algo tão
bom e forte vindo de Jasmine, uma vontade de cuidar dela, por favor a trate
bem.
segredos.
— O que meu olho tem a ver? — Ele pergunta, dou um gole em minha
cerveja de garrafa gostando do entrosamento dos dois.
AMORA
pegar uma nova roupa para mim, apenas fui ao shopping e comprei algo
básico, para a nossa noitada inesperada.
— Será que essa roupa realmente está boa? — Faço uma careta
olhando para a roupa estirada em sua cama, fiz uma maquiagem básica de
acordo com o que eu tinha na bolsa, e deixei os cabelos soltos. — Espera vou
enviar uma foto a Jasmine.
Ele me empurra por trás, puxa a toalha jogando-a no chão, sua mão
grande agarra os meus cabelos da nuca e puxa e vira a minha cabeça para o
lado, seguro-me na bancada da pia, ele é tão bruto e eu gosto tanto assim,
João mordisca o meu pescoço e sobe até a minha orelha, onde sussurra:
— Querida, ele e Jasmine devem estar agora fazendo o mesmo que nós,
relaxa! — Meus lábios entreabrem, em choque! Mas, não tenho tempo para
rebater, porque logo tenho João agachado massageando o meu clitóris com a
ponta da sua língua me lambendo e provando.
— Vem cá. — Puxa-me pela mão, e nos leva ao quarto, ele senta e me
olha com um sorriso nos lábios — me monta.
Ele geme.
Sobe uma das mãos para o meu pescoço, onde o aperta de levinho,
sinto a sua pelve impulsionar, socando seu pau inteiro dentro de mim, é tão
gostoso. Beija a minha boca feroz, me movo para cima e para baixo nele, ao
mesmo tempo em que ele me bombeia fundo.
— Eu não vejo a hora de ter essa boceta para mim todos os dias.
— Gostosa, goza pra mim, aperta o meu pau com essa boceta pequena.
Os espamos surgem sem que eu tenha controle, apenas me entrego e ao
longe, ouço a voz de João praguejar, ele me fazendo transbordar com o seu
sêmen.
Sorri ao ver Jasmine, mas então os seus olhos vão diretamente para a
mão da menina grudada a de Jonas, e, em seguida, ela o observa. Percebo a
postura do homem ao meu lado mudar. Deve ser o nervosismo por conhecer a
futura sogra, rio discretamente ao lado de João.
Ela olha para o João primeiramente, mas quando os seus olhos pousam
em mim, seu sorriso se fecha imediatamente. Ela pisca por alguns instantes e
apenas acena com a cabeça para nós, toda a sua simpatia se foi.
Meus olhos vão diretamente para o cantor que está olhando para nós,
especificamente com os olhos pregados na mãe de Jasmine.
rosto de pele clara, as bochechas ficam rubras quando ela olha para Camila.
— Confesso que dança de salão não é o meu forte, mas vamos lá. —
Opto em não falar acerca do balé, ou do meu amor pela dança, hoje quero
apenas ser uma aprendiz comum.
— Isso aí, garotas medrosas não fazem história. — Ela diz e sorrio
simpática gostando do conselho.
Dona Simone gargalha de algo que Camila diz, e todas as duas tem
uma energia incrível, me pego sorrindo mesmo sem entender o que foi dito
por conta do som alto, mas o barulho de suas risadas, já me diverte.
conversa.
O cupido me flechou
O corpo suado de João faz a sua blusa social branca colar no peitoral,
enquanto eu tenho as bochechas coradas por todo o esforço.
Eu rio, e vejo dona Simone dançar junto de Jonas, dou uma corridinha e
vou até o banheiro singelo que possui seis cabines, vou para a última no
fundo que parece um pouco mais robusta.
Assim que termino o xixi, vejo pés do lado de fora em frente a minha
cabine, abaixo a minha minissaia e reconheço a voz, dona Simone.
— Por que disse que o mundo está desabando? O que está escondendo,
mãe? — Jasmine confronta, sinto-me uma intrusa aqui nesta cabine.
— Já disse que não é nada, apenas problemas profissionais, nada que
você tenha que se preocupar.
salão.
— Não, confio na criação que te dei. Sei que não se envolveria com
algo errado, entretanto, você nunca me apresentou um alguém antes. Precisei
conferir de perto e joguei uma letra para ele ver que sou uma leoa.
Ele aparece com uma lata de refrigerante na mão, eu a pego, não tomo
esse tipo de coisa no dia-a-dia devido a minha dieta regrada, aliás, toda a
minha alimentação do dia foi atípica, mas neste momento, tenho a boca seca,
tentando digerir tudo.
— Eles estão tendo um momento, quem sabe no que pode dar. Venha,
preciso te mostrar o giro que aprendi. — Fala entusiasmado e eu sorrio.
O Presente
JOÃO
mas ela me disse que estava cansada, enviou mais algumas mensagens, e
desconversou quando perguntei do que se tratava.
Agora que ela pegou no sono, fiz algo realmente horrível. Pegue o
celular e me tranquei em meu banheiro, a senha de seu aparelho é o desenho
de um “J” já a vi fazendo diversas vezes.
Clico na conversa com Jasmine, e vejo que ela enviou uma foto sua
parar no colo de Jasmine, qual a sua ligação com a mãe dela, e quando eu
descobrir o senhor não vai mais me parar, eu vou lhe mostrar a minha força.
Sorrio gostando muito da valentia que usou para falar com o velho
Guedes que visualizou, porém, a deixou sem respostas. A minha menina
Eu vou dar isso a ela, ainda não sei como, mas vou dar de bandeja para
Amora a descoberta de sua irmã.
Deito ao seu lado e admiro o seu rosto bonito e sereno repousando, ela
teve coragem de enfrentar o pai, será que entenderia os meus motivos para
buscar vingança? Será que ficaria contra o mundo para ficar ao meu lado?
gatilho que a fez despertar para isso, visto que, ela estava totalmente perdida
sobre o rumo que tomaria na vida, mas envio uma mensagem a apoiando.
— Só acredito ouvindo.
que faltava pouco para que ficassem juntos, mas desde que ele começou a se
envolver com essa menina, não reconheço mais o meu irmão, e acho que ele
também se sente assim comigo desde o meu início com a Amora.
Isso é excelente para os nossos planos. — Jogo as palavras para sentir a sua
reação, e ele rosna, está puto.
— É ruim, não é?! Você acha que eu gosto de usar a Amora? De fazer
amor com ela sabendo que quero ferrar com o pai dela? Acha que não me
sinto sujo, traidor?! — acuso e ele fica em silêncio. — Pois é, não temos
escolhas, Jonas, eu fiz e agora será você a fazer. Não demore a tomar uma
atitude.
Fica sem palavras, pois ele sempre me encorajou a usar Amora, sem se
preocupar com os meus sentimentos. Astuto, ele opta em mudar de assunto.
— Vou passar o dia com ela hoje. Está tudo ajustado na empresa,
minha secretária me passará os trabalhos urgentes por e-mail, mas...
Corto-o:
— Já sei. Precisa que eu fique de olho em tudo. — Respiro fundo,
resignado. — Tudo bem, mas quando daremos o próximo passo?
Regresso para a ligação e tenho uma excelente ideia, e armo tudo com
o Cadu. Pela primeira vez eu vou passar por cima de uma ordem do Jonas, e é
Amora
pessoa que se você der “bom dia” ele conta a vida dele inteira.
Penso nele e na forma brusca que saí de sua casa pela manhã sem me
despedir, dou a ré com o carro, e decido ir até a empresa lhe contar sobre o
meu regresso definitivo à faculdade e os meus planos futuros.
secretária do meu pai, para que ela averigue se é algo importante ou deva ter
alguma providência, pego o meu celular na outra mão e vejo que possui
notificações, entretida eu desbloqueio a tela, no aplicativo de mensagens
mamãe me felicita pelo regresso à faculdade, eles já descobriram no espaço
de tempo de menos de uma hora em que fui à faculdade e vim para a Guedes,
definitivamente eles não sabem se desligar do mundo durante uma viagem
para descansar. No final da mensagem, ela diz que o meu pai pretende voltar
até a próxima semana ao Brasil. Imaginei que ele faria isso, isso só confirma
a minha suspeita que era com ele que Simone falava ontem na gafieira.
pensativa, será que João iria gostar? Ela, depois que chegou ao Brasil, um
ano antes de mim, se casou com o dono de uma boate de prostituição, uma
boate de luxo frequentada pelo mais alto escalão da sociedade.
Ela tem o cordão com o brasão da nossa família. A mãe dela ligou para
ele ontem no banheiro, só pode ter sido, eles possuem algum acordo e ela não
ficou feliz em me ver com a filha, ela me reconheceu de imediato por isso o
seu sorriso e simpatia morreram ao me ver.
pretendo alterar.
com os dados dele agora em mãos, os meus eu tenho que procurar, sabe como
é bolsa de mulher. — Dou um riso nervoso.
— Oi, Amora...
— Jasmine, eu acho que descobri o motivo da sua mãe ter lhe dado o
casa. Achei estranho algo com o seu nome estar endereçado para a minha
casa e as empregadas receberem. Curiosa, claro, eu a abri. Vi que a
responsabilidade pelo pagamento da sua mensalidade não é da Guedes
Engenharia, e sim, do meu pai.
paga sua mensalidade como pessoa física, o que é ainda mais estranho e sem
sentido, não acha?
Ela fica sem palavras, deve saber dessa história tão pouco quanto eu, já
que agiu com tanta naturalidade quando a confrontei acerca do colar, ela
realmente não sabia a importância da peça, e ontem na gafieira, ficou confusa
igual a mim com o rompante de sua mãe.
— Jasmine, você está pensando o mesmo que eu? Veja bem, você não
tem pai, você tem a medalha com o brasão da minha família, tem olhos cor de
mel como os meus e do meu pai, Deus! Parando para analisar, você tem todo
o jeito do meu pai, a inteligência, o poder de captar a atenção das pessoas,
liderança. Você é filha dele.
— Amora... Eu…
Corto-a:
— Está certo.
— Sim, senhora.
Ela telefona para a sala dele, e Filipa lhe diz algo, que ele nega com a
cabeça, o olhar dela encontra o meu, pura ira transparecendo.
ventania.
— Ei, bom dia, minha doce bailarina dos olhos cor de uísque.
Ele caminha até a sua mesa e aperta o botão que abaixa a sua persiana
— Certo, estas são boas dicas, mas pela forma como você não
demonstrou nenhuma surpresa, quer dizer que você sabe de algo, não é?!
são como os dele, até o Jonas os dois gostam em comum. — Divago e João
ri. — Enfim, será uma notícia boa.
— Fico muito feliz por você, ter um irmão é ter alguém para confiar a
vida, mesmo que às vezes você tenha vontade de matá-lo com as próprias
mãos. — Brinca. — Aconteça o que acontecer, se apegue a ela, Amora,
talvez ela seja a única pessoa no mundo em que você poderá confiar.
Bufo, inconformada.
JOÃO
por uma lado fiquei feliz, porque Amora está radiante por ganhar Jasmine
como irmã. Por outro lado, o Jonas me deu uma bronca daquelas.
Ele se apaixonou pela garota e quer protegê-la, mas agora é muito tarde
para regressar, a partir do momento que tanto eu quanto ele entramos na vida
das filhas de Rodolfo, o caminho se tornou sem volta.
estudiosa e focada, eu julgo que seja por conta das palavras duras que seu pai
proferiu contra ela, deve querer impressioná-lo, e acho isso ótimo, a minha
Levanto-me ajeitando o terno e ele vem até mim, ergue a mão e a pego
cumprimentando-o.
Ainda não.
— Amora, eu acho que ela não escolheu o Jonas por conta dos
músculos, você tem mais. — Rio incrédulo.
— Acho que não foi esse o critério, senhor. — Ele semicerra os olhos e
leva os dedos a boca.
Talvez seja porque, toda noite antes de dormir eu prometo te matar com
— Excelente.
— Eu irei.
AMORA
Hoje é o dia que vou até o Vidigal conhecer melhor a ONG sem fins
lucrativos, me ofereci como voluntária, pretendo abrir aulas para danças
sensuais.
— Sim, senhora.
começa a tocar Chico Buarque, ela é muito filha do meu pai mesmo.
— Como está a sua relação com a sua mãe? — Pergunto, pois, ela tem
reclamado comigo a respeito através de mensagens.
— É tão exaustivo.
— É... Complicado.
Eu tenho o cabelo liso, fininho e ralo, gosto de tons sóbrios para roupas
em um estilo bem romântico e fluido, e nos pés tenho saltos deixando-me
ainda mais alta.
Mas esta é uma comparação boba, afinal, João e Jonas foram criados
juntos e são completos opostos, mesmo usando roupas sociais, os dois
está aberto.
dela.
Analiso o espaço da sala, não é tão grande quanto imaginei, mas vou ter
que ser criativa.
de dança.
colhida a amostra da nossa saliva para obtenção das células bucais que estão
presentes na mucosa. E desde então, não nos desgrudamos mais.
A ida até minha casa se tornou uma tortura já que o trânsito na zona sul
em horário de volta pra casa é caótico. Enquanto permanecemos paradas, eu
— Em que sentido?
— Já sofri muito por isso, mas agora eu me sinto mais segura, sei o que
quero pra minha vida, e também sei o que não quero. — Falo vendo o
porteiro liberar a minha entrada no condomínio.
— E é! Meu pai gosta de ostentar, mesmo que ele não use nada desta
casa além de seu quarto, escritório e quartinho de som.
— Ninguém entra nessa piscina há pelo menos três anos, isso sem
contar os dois anos que estive fora do país, que acredito que também não
tenha ninguém entrado. — Olho para ela. — Tudo uma grande miragem,
Quatro cabeças se viram para nós, e sinto Jasmine ficar tímida. Mas eu
não a largo, não a soltarei nunca.
— Jasmine. — Apresento.
Olho para João, que está pálido, meu pai desfez o sorriso dos lábios, ele
sabe que estou cavando. Jonas olha para ela esperançoso, quase dando na
cara o quão apaixonado está, e somente a minha mãe parece alheia a tudo.
Jonas, que avalia Jasmine dos pés à cabeça e dá um sorriso amarelo, nada
contente, e a minha irmã retribui com um leve aceno de cabeça. — E esse
aqui é o meu pai, Rodolfo.
— Amor, trouxe um presente para a sua mãe pelo regresso, mas não
aguentei não trazer para você também. — João tira do bolso duas pequenas
caixinhas e entrega a mim e a mamãe, ambas sorrimos em contentamento.
Eu, quando vejo a pequena gargantilha com uma máscara de pingente, agarro
o pescoço dele e dou-lhe um selinho. O nosso segredo.
— Não foi nada, mas destratei a Jas, e logo depois nos conhecemos
melhor e ficamos amigas.
Sorrio pela forma segura com que ela fala, a inteligência, o jeito que
demonstra ter convicção no que diz. É uma mulher deslumbrante, eu ganhei
uma irmã incrível, a olho apaixonada.
— O meu amor pelo design vem desde muito cedo, sempre rabisquei
paredes de casa quando pequena — ela sorri com a lembrança. — Trocava
móveis de lugares, ficava observando as obras nas casas das pessoas e
gostava de ver cada dia algo novo se modificando. Fui crescendo e
reciclando, lixando e pintando móveis, enfim, só tive a certeza do que eu
gostava de verdade.
— pergunto e ele reflete, sua testa franze, os dedos cintilam nos lábios para
escolher bem as palavras certas.
— Meu pai era um carrasco, minha filha. Não tinha essa de paixão, eu
tinha que dar continuidade na linhagem da família de arquitetos. Não tive
— Sim, senhora.
Olho para Jasmine e ela fita o prato. Não consigo identificar o que
passa em sua mente, que imbróglio. Papai gargalha sentindo o clima tenso na
mesa.
e fogo. Pois, saiba, João, se a minha filha quer casar contigo, assim irá
acontecer, mas os aspectos legais teremos de tratar a sós, realmente.
burocráticas. Não é nenhum insulto, é a vida adulta como ela é, mas Rodolfo
e João lidarão com isso depois, só os dois. — Jonas intervém.
— Tenho certeza de que seu pai não irá se incomodar em permitir a sua
presença. Se quiser, eu também participo e chamo Cadu, que é advogado,
mas agora vamos comer, pois esse ravioli parece incrível. — Jonas fala.
cheesecake.
Ao fim do jantar, Jonas levou Jasmine embora e João decidiu ficar mais
um pouco comigo, agora sozinhos na sala me jogo em seus braços recebendo
um cafuné.
— Desculpa pelo o que meu pai falou, e saiba, que vamos nos casar
com total divisão de bens.
— Depois lidamos com isso, deixa eu sentir o seu cheiro, tenho sentido
a sua falta. — Pega o meu rosto em suas mãos e cola os lábios em minha
testa. — Eu sou tão dependente de você, dos seus olhares em mim.
AMORA
Caminho para fora e ouço quando ele diz para uma das funcionárias: —
Liga para o Otto, e diga-lhe que mudei de ideia em relação a cláusula.
Não sei do que se trata o assunto que ele tratará com o seu advogado,
porém me incomoda que a todo instante meu pai só pense em trabalho?
trêmula.
— Anda, João. — Apresso ele que se levanta e vem até mim, seu
sorriso aberto me faz sorrir também. — Diga algo. — Peço.
— Sim!
— Boa sorte.
A poucos passos de mim na recepção está Jasmine, com olhos
assustados e sua roupa estampada.
— Pode deixar.
agora, nesta altura da vida, descubro que tenho você e sua inteligência,
doçura, responsabilidade. Estou radiante com a descoberta.
Algumas lágrimas caem de meu rosto e vou até ela de braços abertos. O
coração batendo forte no peito. Quero tanto que ela também esteja aberta para
mim e meus defeitos e qualidades.
— Sua mãe, a minha, nosso pai, meu Deus! Temos tanto a resolver. —
Estalo os dedos e a olho nervosamente.
E eu tento imaginar como iniciar esta conversa com a minha mãe, que
me pareceu alheia sobre a identidade de Jasmine, porém, acredito que minha
mãe não seja inocente como um todo, visto que, ela tem algum álibi contra o
meu pai que o fez sair do país imediatamente após a ordem, ou chantagem,
dela.
Resta-me saber até que ponto ela sabe de tudo. Jasmine tagarela
tirando-me do torpor:
minha vida.
— Isso é um absurdo.
— Diga lá. — Fala, ainda de pé para o espelho ela muda o peso de uma
sabe. — Assente.
— Jasmine, a menina que veio aqui jantar, ela tinha o colar com o
brasão da nossa família, e nem mesmo a senhora que é casada com papai o
possui, então eu desconfiei e cavei até saber a verdade. — Ouve atenta. —
Mas, agora quero saber até aonde a senhora tem o conhecimento de tudo.
pai. Eu sinto que mesmo sendo casada com ele no papel, eu é que fui a
amante, a intrusa.
namorando escondido com ela, mas eles eram mais espertos, deram a ele o
cargo que queria na empresa, e Rodolfo acreditou que poderia ter tudo, o
poder, ser casado comigo e também ter Simone, e isso até funcionou por
bastante tempo, mas então eu descobri a traição.
— Sim, eu fiz com que ela soubesse que era a outra, achei que com isso
eu ia me sentir realmente a esposa de Rodolfo. Mesmo quando ela descobriu
e o descartou, ele continuou a amando, me traindo com outras mulheres,
buscava nas outras qualquer semelhança física dela.
— Meu Deus!
— Amora, eu era jovem, abri mão de tudo para ser a esposa que ele
precisava, nem mesmo filhos eu queria ter, nunca esteve nos planos, mas
ainda assim tive você para fazer a vontade dele. E a gravidez foi um trauma,
tive diabetes gestacional, vivia me furando com insulina, indo a médicos,
placenta descolando, repouso absoluto, internação. Você nasceu e ficou uns
dias em observação e eu, lá contigo, sozinha. Ele nunca esteve ao meu lado, o
cordão com o brasão da família que foi dado a Rodolfo pelo pai dele para que
presenteasse a esposa, foi dado a ela, a Simone. O seu pai nunca me deu nem
que fosse uma cópia do colar, ele nunca me viu como esposa, nunca me
amou, eu fui a que tampou o buraco.
— Mãe...
— Você entende?! Eu vim pro mundo para ser infeliz, por isso eu tenho
tanto desespero em mudar a sua história, Amora. Não quero nunca que você
seja como eu, coadjuvante da própria vida.
dela ao relembrar. Até seu tom de voz exala dor, melancolia. — A dona
Simone foi tão vítima quanto a senhora, papai não merece vocês.
Ela abaixa a cabeça e seguro sua mão. Solta um soluço, o choro preso
na garganta.
frente. De um dia para o outro, a pedi que desse aula à tarde naquele dia
específico, e ela foi. E, em algum momento, o Rodolfo entrou na casa. Ela
nos viu no exato momento em que ele me dava um dos seus selinhos frios.
— Ela foi embora para não mais voltar, e eu fiquei aqui com os restos
que ela deixou, o resquício de alegria e compaixão que o seu pai tinha, foi
embora da vida dele, junto dela.
filha fizesse uma boa faculdade, trabalhasse, e nós fizemos um arranjo como
é, mas em nenhum momento eu soube o nome da menina ou vi foto, não quis
me inteirar, porque para mim, essa garota é a representação do quão frustrado
é o meu casamento, ela é a imagem do quanto errei em minhas escolhas.
JOÃO
— Falar não, você vai mandar, é urgente, caralho! O nosso traseiro está
em jogo.
— Olha só, eu vou até o fim, não se preocupe em relação a isso, eu vou
até o fim. — Asseguro e ele me observa, pondera se pode realmente confiar,
Pelo sorriso que me direciona, entendo que nada grave. Dou um tapa no
peitoral de Cadu, para que ele se toque que está na hora de partir, ele por sua
vez respira fundo, irritado.
— Eu fico feliz que tenha vindo para mim, porque também preciso da
minha mulher, hoje. — Confesso e cheiro o seu pescoço inalando a
— Quer me dar essa bocetinha doce, é?! Vem cá, deixa eu cuidar de
você, te fazer gozar. — Sussurro em seu ouvido e vejo sua pele arrepiar,
afoita, segura a minha camiseta e lambe o pedaço do meu ombro exposto.
Pego-a no colo e a levo para a minha suíte, para provar a ela o quão
intenso e profundo é o meu amor, fazemos amor. Amora por cima de mim,
esfrega e me leva inteiro para dentro da sua boceta quente e tão molhada.
seios, eu toco os fios deixando à minha vista os mamilos que são a minha
perdição, a obra de arte, eu sou a porra de um dependente desta mulher, o
sexo nunca foi tão incrível.
Seguro o seu quadril com as duas mãos enquanto ela me monta e geme
sem se preocupar com nada além do seu tesão, do nosso desejo.
da paternidade de Jasmine.
— Tudo bem.
AMORA
Estaciono o carro no beco estreito, são várias casas inacabadas, no
reboco, totalmente grudadas, imagino a falta de privacidade.
Desço do carro e vejo que João não me mandou o número da casa, até
penso em ligar para ele, mas me dou conta que nenhuma das casas tem
número em seus muros, seria inútil.
Uma mulher de meia idade varre a sua singela calçada com tintura nos
— Obrigada.
Dou um riso.
De frente para a porta, percebo que ela foi pintada com a mesma cor do
portãozinho. Jasmine pensou em tudo nos mínimos detalhes... Será uma
excelente profissional. Mais uma semelhança com o nosso pai.
Bato na porta e ela abre, piso dentro e chamo por ela que sai de uma
porta do pequeno barraco parecendo aflita.
— Imagina, quer se sentar? Não sei fazer café tão bom quanto o da
minha mãe, mas... — Corto-a.
— Juntas.
Ela olha Jasmine de cima a baixo, com repulsa. Meu corpo inteiro
retesa, mamãe precisa mudar o seu pensamento, arrumar outra pessoa para
culpar por suas merdas.
— Seu pai está no escritório. O que quer falar com ele junto dessa
menina?
Com a demora, dou mais um toque e uma voz firme nos manda entrar.
Assim que adentro pela porta, dou de cara com uma enorme mesa de
Coloco a pasta com o exame de DNA em sua mesa. Ele a abre e não
leva cinco segundos encarando o papel.
rugas. Os olhos cor de mel como os nossos fitam a menina com astúcia.
tanta frieza vindo de seu olhar que os meus ombros caem. — Não me entenda
mal, Jasmine, não deixarei faltar nada para você. Se cooperar comigo, te dou
tudo que precisar, mas não vou colocar o meu nome em sua certidão. Seria
um escândalo ruim para os meus negócios, e já aviso de antemão, se entrar na
Uma lágrima cai dos meus olhos, eu sinto a rejeição como se fosse
comigo, porque podia ser eu no lugar de Jasmine.
— Puxei muito de você, mas as virtudes são todas dela, ainda bem.
— Você devia pensar melhor, Jasmine, o orgulho não trouxe nada para
Simone. Veja a vida medíocre que levam.
— Diga-me — grita e ele nada diz. — Seu dinheiro, poder e status não
compram tudo, Rodolfo, e sobre a minha mãe... Bem, você perdeu uma
mulher incrível, enganou e ludibriou alguém que está cheia de algo que você
não tem: honestidade. Eu sinto muito por você.
Pego a bolsa que tenho no ombro, abro o zíper, e tiro a minha carteira
de dentro, um a um, quebro todos os quatro cartões que possuo.
AMORA
— Amora! Pelo amor de Deus, volta para casa comigo. — Minha mãe
aparece entrando na lanchonete próxima ao nosso condomínio, liguei para ela
e dei a minha localização.
— Ele quem fez a sua mala, mandou eu te entregar, seu pai está
furioso.
— Amora, seria uma humilhação muito grande para mim, você não se
eu paguei caro para manter a família perfeita, portanto, ele tem que cumprir a
parte dele, ele tem que ficar comigo até a morte, ele tem que forjar que somos
a família perfeita, porque eu paguei com a vida por isso, eu paguei. — Seus
olhos estão marejados. — E ele tem que me dá tudo o que prometeu, porque
— Volte para casa comigo, filha. Seu pai diz que você não vai durar
uma semana longe dele e suas intervenções, e ele tem razão.
Eu nego com a cabeça, passo por ela e pego a mala, saio da lanchonete
ainda com a cabeça cheia.
— Amora?! — A voz de Jasmine sai trêmula quando me vê, seus olhos
— Eu espero que possa dar abrigo para uma mulher sem um teto,
cartão de crédito ou apoio familiar — digo, e ela sorri, abre a porta para dar
passagem para mim.
— Eu saí de casa. Meu pai disse que se eu fosse embora, ele iria
cancelar todos os meus cartões, então eu quebrei todos na frente dele. —
Assumo.
— Amora, você não tinha que ter feito isso. Que louca! — adverte,
emocionada.
— Devia, sim, bem feito para aquele desgraçado — dona Simone fala
aproximando-se de nós.
— Dona Simone, me desculpa bater aqui na sua porta, mas eu não tinha
para onde ir. Pedi um táxi e paguei com uns trocados que eu ainda tinha. Eu
podia ter ido para a casa do João, mas só me veio Jasmine à cabeça. — Eu
gesticulo muito, estou nervosa, temendo a reação dela, se me colocar para
fora eu não tenho dinheiro para me locomover, e também não tenho mais
carro. Ela toma a palavra me acalmando:
— Fez bem de ter vindo para cá. A casa é pequena, humilde até demais,
mas se é para se juntar contra Rodolfo, você é bem-vinda aqui.
— Ele disse que eu não duraria uma semana longe dele. Estou pronta
— Olhe para mim. Durei a vida inteira longe dele. Você é capaz. —
Jasmine segura em minha mão e ainda estou trêmula.
— Menina, não faça nada por impulso que depois possa se arrepender.
chão divagando e olho para Jasmine. — Você aceita ser a nossa madrinha?
Quer dizer, em verdade, será nossa testemunha, é assim que funciona no
casamento civil. O João convidará o Jonas. — Sorrio e ela concorda.
— Mãe, cuidado com o que diz, afinal, com erros e acertos são os
únicos pais que Amora tem. — Jasmine repreende.
mas não precisa conviver em um meio que a adoece, que a diminui, entende
isso? — Encara-me e as palavras duras e sinceras me fazem chorar,
entretanto, concordo. — Portanto, força, minha filha, força.
— Jasmine, não importa o quanto o meu... Quer dizer, nosso pai seja
um traste, você é a minha irmã, e isso nunca vai mudar. — Garanto a ela que
senta no chão ao meu lado.
— Valeu a pena passar por tudo isso só para ter você na minha vida,
irmã — confessa, abraçando-me.
metade para cima na cor branca e na metade para baixo em tom rosa claro, o
toque de cor com certeza tem dedo de Jasmine. Os móveis do quarto parecem
todos antigos, toda a casa possui móveis aparentemente reaproveitados.
chamar o seu Chico pra consertar, ele agora não aceita mais fiado. Vem cá.
porta sanfonada, reparo que este cômodo nos prova que vários corpos
ocupam, sim, o mesmo espaço, já que o lugar apertado tem vaso sanitário,
cesto para roupas sujas, um armário e pasmem: uma máquina de lavar roupas.
impressão de que não vou caber aqui. Abro a cortina de plástico com estampa
de onça, abro o chuveiro e a água gelada cai sobre o balde, coloco a mão para
testar a temperatura, e reprimo um grito esganiçado. Realmente gelada.
vontade, mas quando saio do banheiro ouço um falatório, acho que a casa
está com visitas, viro a cabeça para sala. Reconheço a amiga de Jasmine, o
demais falatório são nos vizinhos, e realmente a mistura de sons e pessoas
com paredes tão coladas, dá a impressão de tumulto.
— Estou ansiosa para começar, será a minha primeira vez dando aula.
interessada.
— Amora, estamos na favela, minha amiga, cada casa tem a sua lei. —
Camila diz.
barulho é ensurdecedor.
nele.
— O homem deste tamanho não cabe nas camas daqui de casa— rio em
seus lábios ouvindo dona Simone.
— Vem cá. — Saio com ele para o pequeno quintal, e fecho a porta por
trás de mim.
alguém descobre quem você é, pode tentar te sequestrar, você não está segura
aqui.
— E quanto a nós?
— Ele foi uma pessoa horrível, não sei nomear, porque um homem que
renega a própria filha, não existe nome ofensivo o suficiente que o defina.
Talvez seja intuição, mas essa frase fica martelando a minha cabeça, é
como se o meu subconsciente quisesse me alertar que ainda não tenho a
proporção do significado desta frase de João.
O Plural
AMORA
Imagino a dificuldade que deve ser cuidar da casa, Jasmine ainda é tão
jovem para se preocupar com as contas, e internamente a raiva que sinto pela
negligência do meu pai só aumenta.
animada entrando na casa, ela ainda veste uma roupa escandalosamente curta
e maquiagem pesada.
observar todas elas, aprender que para ser feliz se precisa de tão pouco.
— Sim.
maravilhoso.
Camila me guia até a sede da ONG onde darei a primeira aula como
voluntária hoje, durante o caminho eu reparo em tudo buscando gravar na
memória o trajeto, mas as vielas extremamente estreitas mais se parecem com
um labirinto.
beliscar assim que entramos em uma viela em que não conseguimos passar as
duas lado a lado devido à pouca largura.
— Imagino o incômodo.
— Que nada! — Para e olha para mim. — Aqui todo mundo passa
perrengue e muita dificuldade, e isso nos une, então não há incômodo, é
vizinha passando o olho nas crianças que passam o dia sozinhas em casa
porque a mão trabalha fora e não tem com quem deixar, é a reunião dos
vizinhos para bater uma laje no final de semana, é a ajuda na mudança. Aqui
tem muito barulho, o tempo todo, esgoto a céu aberto. — Aponta para a vala
que passamos. — pobreza — seu queixo direciona para as casas ao redor em
Assinto positivamente.
— Jasmine diz.
João tem razão, viver com urgência de ser feliz, de agir focando
unicamente no agora é incrível.
Olho para o céu aberto, o sol forte de mais de quarenta e dois graus que
nos obrigou a vir para a praia já que ficar em casa estava insuportável por
conta do teto de telha que esquenta ainda mais.
esta foi a dica de João quando lhe contei que hoje andaria de bicicleta na rua
pela primeira vez na vida.
queda, mas o fecho logo em seguida, porque olhar perde a graça, o medo de
cair é o que nos movimenta.
— Esse homem topetudo aqui, quer invadir a minha casa para te levar
de volta para casa seguindo a ordem de Rodolfo.
— Pois diga ao meu pai que eu só vou embora se ele vier aqui pedir
perdão a Jasmine.
outro homem.
Dona Simone não perde tempo, se agacha e usa o seu balde com água
para molhar os dois, pensando rápido eu pego a mangueira no chão e
continuo molhando os dois.
— É isso aí, garota! Bate aqui! — Ela ergue a mão em minha direção e
batemos as palmas das mãos abertas.
João
Seguro a cintura fina e trago o seu corpo para o meu, Amora roça a
bunda no meu pau, que está duro desde o momento em que cheguei nesta
varandinha e a vi molhando as plantas.
— Depois que nos casarmos vamos tirar todo esse atraso. — Sussurro
em seu ouvido.
Ela dá uma risadinha, não suporto mais ter que vir na casa de Jasmine
para ver a minha garota, dentro da casa não há privacidade, e aqui no quintal
muito menos, a rua vive movimentada, e Amora se recusa ainda a sair
comigo para ficarmos a sós, tanto ela quanto Jasmine estão fazendo greve de
sexo, o humor de Jonas está cada dia pior, talvez juntar as irmãs não tenha
sido uma ideia tão boa, ironizo.
casamento, quero logo me resolver com ela, lhe contar como planejamos toda
a vingança, fazê-la entender que sim, armei para me casar com ela, mas me
apaixonei perdidamente pelo caminho.
— Isso porque tem menos de dois dias que Camila não aparece aqui —
Amora cochicha para mim. Gosto de vê-la em sintonia com as pessoas daqui,
sempre a achei tão solitária, ela agora ri mais, se arrisca mais, é palpável o
seu amadurecimento.
Eu bem que tinha reparado no carinho entre elas na gafieira, mas não
tenho nada a ver com quem cada um escolhe para amar, nunca me tornaria
ditador de relacionamento alheio.
— estou de boa.
acredito em qualquer coisa que me disserem. — Dona Simone nos faz rir, não
podemos tirar a razão do que ela disse.
— Sim, Camila, e eu creio que o meu pai irá ter um enfarto — fala
divertida e por mais que eu saiba que ela está sofrendo pela ausência, é nítido
que está vivendo uma fase tão boa da sua vida em que não cabe espaço para
os dois e sua falta de apoio. — Mas quer saber o que descobri? Família a
gente também escolhe. O que vocês têm feito por mim é mais que qualquer
— Verdade. Parece que a sina do meu pai foi fabricar mulheres para a
família Patacho. — Deduz Amora brincalhona nos arrancando sorrisos.
Sirvo-me de uísque puro, sento no sofá claro de sua mansão e dou uma
golada generosa, sei que os dias que virão não serão nada fáceis.
— Jonas, você ficou louco? O Rodolfo não quer ver a Jasmine nem
pintada de ouro.
para findar os processos em aberto das terras do nosso povo — diz sob o
nosso olhar atento. — Sei que após a prisão de Rodolfo, você vai lutar pelo
perdão de Amora, João, vai tentar fazer seu casamento dar certo porque você
a ama. — Me mantenho inerte, apenas meneio a cabeça, porque sim, eu vou
lutar pelo meu casamento. — E eu também pretendo levar adiante a minha
vida com Jasmine.
— E vocês acham mesmo que elas irão perdoá-los? Caiam na real.
João, você será o responsável pela prisão do pai dela, por mais que a Amora
esteja com raiva do coroa agora, ainda assim é o pai dela. E a Jasmine, Jonas,
ao saber que você a ludibriou para conseguir sua confiança, para usá-la como
peça nessa vingança... Elas irão odiar vocês.
são engajadas com o justo, mas não entendo a sua preocupação, Cadu. —
Meu irmã ergue as sobrancelhas, e eu também fico incomodado com a falta
de fé de Cadu, parece que ele torce contra os nossos relacionamentos.
— Mas tudo mudou, Jonas, com isso vocês ganharam boas mulheres,
comprou carro do ano, tem um currículo impecável. O que mais você quer?
— É fácil para você me dizer isso, afinal, está com Jasmine, uma
mulher linda, gostosa, novinha...
Vejo a ira de Jonas, vou deixá-lo dar ao menos um soco, era o que eu
Pronto, agora volto a razão, fomos todos criados juntos, não podemos
perder a cabeça, eu seguro os braços do meu irmão.
— Prefere aquela mulher do que o seu irmão de luta? Saiba que esse
soco vai custar muito caro, Jonas Patacho.
Com o Jonas mais calmo, eu sigo atrás de Cadu, o seguro pelo ombro
ainda no quintal.
— Está no fim, Cadu, falta pouco agora, não vamos enlouquecer agora.
— Vocês dois perderam a cabeça por causa de boceta, tomara que elas
nunca perdoem vocês por tê-las usado como marionetes.
Ele sai puto em direção ao seu carro, deixo que ele tenha o seu tempo,
apesar da raiva, eu julgo que ele não nos prejudicaria porque estaria indo para
o ralo também, mas dada as reviravoltas, já não sei de mais nada.
meus braços.
— Vou subornar alguém daqui para que possamos furar fila. Estamos
sendo observados. Precisamos sair daqui o quanto antes.
Após o flagra de seu capanga no cartório no dia em que fomos para dar
entrada na documentação do casamento, Rodolfo tirou folga por uns dias da
localizou nada.
Jonas já foi até sua casa, porém, dona Amélia avisou que ele viajou e
ela não possuía notícias, o que nos deixou angustiados.
em sigilo do caso, mas ele não quis me dar nenhuma notícia, disse apenas que
está tudo sob controle.
As Surpresas
AMORA
formatura nos casarmos no religioso com uma grande festa, e eu não poderia
estar mais ansiosa.
menina mais jovem que Jasmine com um bebê no colo e eu não pensei duas
João tenta me dar dinheiro, mas eu nunca aceitei, tenho roupas mais do
que suficientes, e para viver aqui não preciso de mais nada, dona Simone me
— Duas semanas.
Olho pálida para mim e eu faço um “O” com os lábios, atraso de três
dias.
— É normal o atraso quando se está sob forte estresse, é isso, está tudo
sob controle... Minha mãe vai me matar. — constata.
— Eu sei, mas não quero perder nenhum detalhe. — Digo e ela bufa
indignada.
— Não consigo baixar meu short para sentar no vaso com você aqui. —
reclama.
— E aí?
Assim que ela coloca o pote cheio em cima da bancada, eu saio do box,
enquanto ela se limpa, já insiro o pequeno canudo dentro do pote com a
urina, estou tão nervosa quanto ela.
— Sim, ela vai, conta depois do meu casamento assim já não estarei
aqui. — Ofereço.
mãos dadas comigo? Você é o único membro da minha família aqui presente.
— Meus olhos estão aflitos, eu ia entrar sozinha, afinal é só o casamento
civil, mas agora, entrar com ela faz todo o sentido.
— Entro!
Aceno para Camila, que dá play no som e assim passamos juntas pelo
portal.
Dentro de mim
E vivesse na escuridão"
— É a nossa música.
Escolhi essa porque a letra faz todo sentido, a forma como eu vivia na
escuridão, e o João foi a luz que me guiou para a vida feliz que eu tenho hoje,
que me motivou a seguir os meus sonhos.
Minha maquiagem é leve, foi Camila quem fez, deixei os cabelos soltos
do jeito que ele gosta. João segura firme em minha mão e trocamos um olhar
profundo, deito a cabeça em seu ombro, e ficamos assim colados até a hora
dos votos.
mão esquerda.
— Amora, esse dia significa muito para mim. Esse é o marco do início
da nossa família. Eu quero sempre ser o que você precisa. Te prometo ser
sempre quem irá te proteger e zelar por ti.
profissional contratado.
AMORA
— Espero que goste, amor. — Ele diz e retira a venda preta dos meus
olhos, e fico encantada olhando para o quarto em tons de madeira, com uma
hidro bem ao centro, está ligada e possui pétalas de rosa e espuma dentro, a
cama de casal tem um cesta de queijos e vinhos, perfeito.
— Uau!
— Você gostou?
— Eu amei. É lindo.
lingeries novas que ganhei de presente das minhas alunas, eu quero que João
tire o meu vestido de noiva. Meu celular toca em minha bolsa de mão.
— Depois te falo. Passa para ele. Preciso falar muito urgente com o
João — sussurra com a sua voz exalando tensão.
— Que aflição. Me deixa ir até a porta ver se ele já está no andar. Ele
estava na recepção.
pergunta João.
vai matar o Jonas. Não deixa isso acontecer, pelo amor de Deus.
— Porra! — esbraveja.
— O meu pai vai matar o Jonas? Como isso é possível, que plano é
esse que ela citou?
te conto tudo.
— João...
— Eu te amo, e vou lutar pelo seu perdão nem que seja a última coisa
que eu faça na vida.
AMORA
susto.
— Eu não entendo.
— Jonas e João Patacho, são filhos de líderes de um acampamento
sem-terra, no sul do país.
— Sim, estão.
— Sim, eles foram, e as terras pelas quais eles morreram lutando ainda
está em processo no judiciário.
— Provavelmente, agora o caminho está livre para que ele possa enfim
assentar as famílias, dar-lhe o direito as terras.
Levo as mãos à cabeça, totalmente desnorteada.
Erguemos os braços para ela, que se senta no chão, ficando aos nossos
pés.
— Oh, minha filha, que sofrimento, meu Deus do céu! Quando a gente
acha que não pode piorar... — As palavras da mulher mais velha tocam-me.
Corta-me:
— Que burra, Jasmine, não acredito que você foi burra desse jeito. —
Levanta e caminha pela sala. — Eu sempre te alertei tanto.
Ela abaixa a cabeça e apenas espera pelo sermão. Deixo umas lágrimas
caírem em silêncio, quanta dor.
torná-los mais lentos de se realizar, mas você tem a mim para tudo nesta vida,
minha filha. Vamos juntas fazer dar certo.
— Mãe...
— Não chorem, minhas riquezas, a mamãe tá aqui. Vai ficar tudo bem.
E o ódio que eu sinto ainda assim não é maior do que a decepção, que é
ainda mais devastadora.
a cabeça positivamente.
saber tudo o que ele já fez de ruim para tantas pessoas, dói o meu peito de
forma profunda.
— Sabe o que são esses papéis em cima do sofá? — Meu pai é quem
diz.
vida.
— Sabe o que diz aqui? Que você se chama Jonas Patacho, e é filho de
Iuna Gonçalves Pereira e Josivaldo Pereira de Araújo Patacho, que foram
líderes de um assentamento em uma das minhas terras no sul do país, mas
ambos eram conhecidos como Iuna e Josivaldo Pereira. — Fico presa na cena
dos dois. Presto atenção em cada palavra dita, na forma como Jonas fica
atento ouvindo a tudo. Lembro-me de João falando-me da personalidade de
seus pais e o que ele e o irmão tem de diferenças e similiradaes, — Você e
seu irmão foram adotados pelos pais de Carlos Eduardo Alhambra, e, então,
— Jonas, não há nada nesse mundo que fique oculto aos meus olhos.
Eu sou como Deus. — Gargalha o meu pai e fico incrédula com o
desconforto de Jonas e sobre todo o seu processo de adoção, deve ter sido
tudo tão difícil para ele e João.
— Você compra a tudo e a todos para ter acesso ao que precisa saber,
não é?! Isso o faz viver na impunidade, sempre tive retratos dos meus pais ao
seu redor, porém, mandou matá-los sem nem mesmo ver seus rostos, nunca
— Você precisa comer muito feijão com arroz para me ameaçar, garoto
— zomba.
à cozinha e o outro na porta de entrada da sala. Ele sabe que está rendido.
caminho.
— O meu pai foi um crápula, mas ele me deixou tudo que era dele, são
muitos bens. — Rodopia a arma entre seus dedos demonstrando certa
vieram do Sul para o Rio de Janeiro. Tem aqui o contrato feito com a
imobiliária. Imagino que tenha sido difícil dividir uma quitinete com outros
dois marmanjos. Que vida fodida.
— Vim com Cadu e João para o Rio de Janeiro para estudar, fazer
faculdade.
forneça uma história interessante que compense todo o transtorno que a sua
brincadeira de justiceiro me custou.
Jonas concorda com ele e uma lágrima cai do meu olhar. Tudo mentira,
o meu pai, o meu marido e o seu amor, Jonas e Jasmine, tudo uma utopia, a
única sinceridade em minha vida é o amor da minha irmã.
— Você acha mesmo que ficarei preso, Jonas? Eu sou rico! Tenho
acesso aos melhores advogados do país, e você? O que tem?
deduzo.
câmeras.
Dois dias de muito choro e cama ouvindo os meus desabafos, dois dias
desde toda a descoberta, e hoje o João foi nomeado CEO interino da Guedes,
isso até que seja feita uma votação.
— Amora, a sua mãe está em nossa sala, ela quer falar com você. —
Jasmine diz e levanto-me do colchonete que compramos logo após eu me
mudar para cá.
Do jeito que a minha mãe é orgulhosa, somente algo muito grave pode
— Amora, o seu pai está preso por culpa do seu marido, e ele está
cuidando da nossa empresa agora, ele pode ferrar com tudo, ele tem esse
poder agora, e a Guedes é a nossa única renda, já que vários bens do seu pai
estão congelados.
rescisão?
— Ninguém está, minha filha, mas precisamos lidar com isso, Amora,
nós movimentamos com a Guedes milhares de famílias no país todo, não
temos tempo para chorar, precisamos agir, e não só por nós, mas por todos
que dependem da nossa família, da nossa empresa. Então, enxuga a lágrima,
se maquia e se arruma e vamos para a guerra.
“Amora, você não tem garra, não tem sangue quente, é como a sua
mãe, obediente, submissa e qualquer um pode tirar o que quiser de você,
como esse João está fazendo. Você nunca será uma líder, ou alguém como
eu, que comanda um império. Você é fraca e comum, como a sua mãe.”
aparece tanto por conta do blazer que uso ornando com a minha calça, por
fora bem vestida e de nariz em pé, por dentro sou uma total destruição.
intimidante.
— Eu quero saber como faço para me candidatar ao cargo que foi dado
a João Patacho.
Corrijo:
Levanto-me e passo por ele querendo sair da sala, mas João me segura
o braço.
— O quê?!
— Sim, casar contigo fazia parte do plano, para que eu pudesse fazer o
que estou fazendo agora, facilitar o processo do Acampamento, tem muitas
famílias em risco, precisando da propriedade para gerar renda, dignidade. —
Ele se aproxima e segura o meu rosto em suas mãos. — O plano parecia
— Quem ama não mente, não usa, isso que você sente por mim pode
ser tudo, menos amor. Você riu de mim? Do quão fácil eu caí na sua lábia.
— Amor...
— Contou para os seus comparsas como foi fácil me levar para a cama?
— No final o seu plano deu certo. Minha família está inteira destruída,
tanto os meus pais quanto Jasmine. Eu estou quebrada, e sabe o que é pior de
tudo? É que eu não consigo te odiar. — Confesso. — Me afaga saber que
você está vingado, feliz, tem noção do quanto isso é contraditório?! Porque
— Não fala de amor— aponto o dedo em riste para ele — porque neste
— Você fez o mesmo que os meus pais, me usou para que de uma
forma ou e outra eu fizesse a sua vontade, tirou proveito de mim, me
subestimou e eu estou cansada, eu quero matar essa Amora, acabou. Todo
mundo quer me machucar.
— Não diga isso. — Ele cola as nossas testas, seus olhos fechados, a
testa franzida.
— Amor...
realmente chegou ao fim, e que uma parte de mim que realmente era frágil se
estilhaçou, e esse é um caminho sem volta.
O Ímã
AMORA
Decidi voltar para a casa dos meus pais, preciso ajudar a minha mãe a
lidar com todas as mudanças bruscas de vida, principalmente a imprensa a
perseguindo a todo custo querendo uma nota. A Guedes Engenharia não sai
dos noticiários.
— Não é melhor viver o seu luto em paz, digerir o fim dessa relação?
demonstrar o quanto estou pronta, e eu sei que as minhas chances são quase
nulas levando em consideração que João já trabalha na empresa, enquanto eu
nunca trabalhei na vida.
— Eu sinto falta do cafuné que o João faz, ele sabe tocar em um ponto
exato na minha cabeça que me faz dormir de imediato, é bem no topo, sabe?!
— Sorrio — talvez seja porque ele tem dedos grandes e longos e eu uma
cabeça pequena e cabelos mais ralos, então consegue abranger toda a minha
cabeça. — Jasmine ri. — A forma como ele me puxa pela nuca e me cola
nele, sinto saudade da voz dele falando da minha bunda de bailarina, o cheiro
que só ele tem de roupa limpa, os nossos passeios de moto, as suas palavras
encorajadoras, às vezes eu tenho medo de me imaginar a vida toda sem ele.
— Eu precisava dizer a ele tudo que estava engasgada. E ele disse umas
coisas que me deixaram cismada.
— Como o quê?
— Ele está certo da sua impunidade, porém está abatido pelo mal que
causou aos meninos, e o principal, me fez prometer que cuidaria de mim e
também da minha mãe, a chamou de a “mulher dos meus olhos.”
— Espero que seja, porque você não deve vê-lo, o nosso pai não nos
— Tirei todas as fotos dele desta casa, minha mãe achou absurdo e as
guardou para ela.
— Não sei até que ponto é amor por ele ou falta de amor próprio.
Em momento algum eu cogitei a ideia de ver o meu pai na cadeira, e
ele só tem um bom advogado por conta da minha mãe, porque por mim, ele
ficaria preso pagando por tudo o que cometeu, não tem perdão para o tanto de
ameaças, mortes e desgraça que causou.
O celular tem o novo som em minha orelha, vejo que se trata de uma
chamada de Otto. Despeço-me de Jasmine e atendo o advogado do meu pai,
esperançosa que ele tenha mudado de ideia em relação ao apoio a mim com
os demais sócios.
— Oi, Otto.
— Amora, acabo de ser notificado que o seu pai foi encontrado morto
em sua cela.
— Enforcado.
— Como ele pôde fazer isso comigo, com a minha mãe? Como ele foi
tão covarde, no momento mais difícil ele abandona o barco, nos deixa a
deriva, como ele pôde? — Questiono em meio as lágrimas, meu corpo inteiro
— Shiii... Deixe-me cuidar de você, meu amor, vai ficar tudo bem,
você é forte e durona e vai lidar bem com mais essa. — Seu sussurro parece
longe, e quando acordo pela manhã eu não sei se foi o efeito colateral do
remédio ou se de fato ele esteve aqui.
Mas quando olho para a minha mesa de cabeceira e vejo uma das suas
gravatas, uma lágrima cai dos meus olhos, e eu fico com raiva por ele ter
vindo, por ter me acalmado, ter me tocado e feito cafuné, e mesmo com tanta
raiva, eu pego a sua gravata e a levo ao meu nariz, ainda tem o seu cheiro
nela.
— Não permita que eles falem todos ao mesmo tempo ao seu redor, dê
atenção a cada demanda por vez, só assim eles vão te dar algum crédito.
— Ataque é veneno, e só faz efeito se você engolir, você sabe que está
pronta para assumir a empresa, e quando você se conhece, e está segura,
E a cada dia que passa aumenta a minha raiva de João por ter jogado
com os meus sentimentos, por seguir do meu lado mesmo que eu não o
queira, por saber exatamente quando preciso dele, por termos essa conexão e
química que me deixa consciente que nunca mais terei esse magnetismo com
mais ninguém na vida, o que construímos é único.
— Eu não sei o que é pior, eles ou você aqui. Quem chamou essa
concubina, Amora? — Minha mãe diz, levantando-se e se dirigindo à dona
Simone.
Otto entra na sala e se apresenta. Não presto atenção, pois, João não
para de me observar.
Jonas e João. — 'Bora, doutor, anda com isso porque eu tenho hora para
chegar no trabalho. Sou assalariada, bato ponto! Tenho vida boa, não — ela
diz alto.
— Bem, os outros 50% dos bens estão designados 25% para cada uma
das senhoritas Cerqueira. A senhorita Jasmine Cerqueira e a senhorita
Simone Cerqueira. Isso abrange terrenos, joias da família Guedes e alguns
investimentos.
herdem as joias que foram da minha sogra — agora é a minha mãe que faz
uma cena, quanto constrangimento.
— Não, Amora, eu quero seguir o meu caminho. Sei que você fará dar
certo. É muito competente.
— Para conseguir a nulidade dessa cláusula, você vai levar anos, até lá,
já terá ruído o patrimônio do seu pai.
— O que quer? Que ela continue casada com o seu irmão? Vocês não
cansaram de nos usar? Ainda não pagamos o suficiente? — Jasmine cospe as
palavras e João é quem rebate:
Jasmine caminha tendo Jonas atrás dela, enquanto João vem até mim.
— Essa cláusula, tem dedo seu nela? — Pergunto ele olha para o chão,
está aí a minha confirmação, como pude ser tão burra?
empresa.
venho aqui.
Fico quieta, não quero que ele vá, mas sei que depois de tudo, estou
machucada demais.
— Voe alto, você tem asas e está pronta para encarar o céu, eu acredito
no seu potencial, minha doce bailarina dos olhos de uísque.
Dou as costas para ele, indo embora e tento digerir tudo. Porque agora
mais do que nunca estou totalmente presa a ele, a esse casamento já que não
confio em Jonas e muito menos em João para manter a empresa.
JOÃO
Um mês depois
acordo.
para ser o seu segredinho sujo, e eu larguei tudo para vir pra ela, sei que está
sendo difícil o seu começo na Guedes Engenharia, mesmo de longe eu sei, eu
cuido dela.
colando nossos corpos e a conduzo lentamente, dois pra lá dois pra cá.
“Você é a minha maior dor e ainda assim eu quero te tirar pra dançar”
Até então os convites são somente para assistir a sua dança, sem que eu
a toque, apenas ela se esfrega em mim, e sente o meu cheiro sem culpas, mas
hoje decidi arriscar algo a mais.
Imaginei que fosse me repelir, mas ela segura a minha blusa social e a
cheira, eu beijo as suas bochechas testando com cautela o quão permissiva ela
está em relação ao meu toque, e surpreendentemente ela me beija a boca.
Ela abre a minha calça no mesmo desespero que o meu, enfio a mão
para dentro da sua calcinha, a boceta delicada está transbordando desejo,
totalmente molhada sob a minha mão.
Esfrego o seu clitóris e ela arqueia o pescoço, não deixando outra opção
do que dar-lhe um chupão, marcando-a como minha, gemendo no processo,
eu a quero tanto que o meu corpo inteiro dói.
perna aberta, coloco o meu pau para fora, dou uma lubrificada com a minha
própria saliva para que deslize por inteiro dentro dela.
E, por mais que esse ato seja moralmente errado, as coisas são como
são, ela é minha e sempre virá para mim, assim como eu sou dela e nunca
conseguirei ter outra mulher em minha vida.
Ela sai do quarto, sem olhar para trás, levando o meu coração e o meu
sêmen consigo, duas coisas que só ela teve e terá acesso para todo o sempre.
AMORA
despedaçada.
A partir daqui
Eu sigo só.”
E não foi fácil escrever essa carta, muito menos me desfazer da parte de
mim que ainda ardia, que ainda tinha esperança e calor, mas não consigo
mais, preciso esquecer João, preciso esquecer o que passou, tenho que seguir
em frente e trilhar um novo caminho.
Achei que seria fácil, porém as mais de duzentas ligações dele que
deixei de atender, fizeram doer a cada rejeição, a cada omissão, que amor é
esse que mesmo depois de tudo ainda me machuca e ao mesmo tempo me faz
implorar internamente que ele venha até mim.
empresa de João está vindo para o Rio de Janeiro, ele está de volta.
sua omissão.
— Minha irmã, ele não querer filhos não anula o fato que ele já o
possui. — Olhamos para o menininho que é o nosso grande amor, a nossa
força para buscar dias melhores quando só a dor nos enchia o coração. —
Deixe-o saber, e se ele não quiser conhecer o Jonatan, então seguimos a vida
como já está.
— É que, vai ser dolorido demais se ele rejeitar a nós dois, entende?
estampada.
Ver essas fotos foi como levar um soco no estômago, e a partir delas,
eu decidi não mais encontrar o João, sim, por ciúmes, não o quero em minha
vida, mas também não quero que ninguém o possua. Eu sou patética.
— Eu acho que assim que ele pisar nesta cidade ele vai te procurar, e
digo ainda mais, a tal Filipa pode até tentar, mas o João é louco por você, a
prova viva disso é o casamento de vocês, que nenhum dos dois pediu o
divórcio.
culpa no falecido, vocês estão presos nesse casamento porque querem estar,
simples assim.
AMORA
contar do filho, mas acredito que após a rejeição do meu pai e a descoberta
que Jonas só a quis por conta da vingança a deixou muito ferida, consigo
entender o lado dela.
Não penso duas vezes, ligo para Evelin, a minha secretária e mando
que desmarque toda a minha agenda do dia.
semanas que não sinto o seu toque, o meu corpo inteiro arrepia.
— Amora, você teve contato comigo por todos esses anos e sequer me
contou do meu sobrinho — João diz ofendido e eu olho de soslaio para ele.
— Jonatan, entra, vai pegando sua coleção de carro para mostrar ao seu
pai — Jasmine pede sabendo que a coisa vai ficar feia por aqui.
— Eu não tenho nada a ver com as merdas que vocês fizeram. Aliás, só
falo contigo através do meu advogado. Por que está me direcionando a
palavra? — Atiro as palavras, porque em nossos encontros eu apenas me dou
a ele, não entrego mais nada além do meu corpo.
— Me deixem trocar uma conversa com ela — João pede e olho para a
minha irmã, e fico indecisa sem saber o que fazer, na empresa eu sou a
presidente, eu tomo as decisões sem precisar de conselhos, na vida aprendi a
ser forte, mas quando se trata do meu marido... Eu viro a Amora insegura e
— Você é a minha esposa, não aceito que curta ninguém além de mim,
se quer transar você tem a mim, porra!
— Me solta, João.
Empurro o seu peitoral e dou um tapa em sua cara, ele toca o lugar e
me olha furioso.
— Eu não sou mais a menina boba que cai na sua lábia, aquela Amora
você enterrou, me deixa em paz!
— Eu sou muito burra por ter me deixado levar, não é?! Por fora, a
Amora grande empresária, por dentro, a pastel que foi usada e novamente se
sente atraída pelo traste — resmungo e ela sorri.
— Ao menos você pode evitar de vê-lo. Poderia ser pior. Olhe para
mim, que além de ter uma xerox dentro de casa, agora vou ter que lidar com a
original. — Aponta com o queixo para os dois, que brincam sentados no sofá
da casa.
mais irritada.
— Vai ter reunião do conselho hoje, e eu como seu marido também sou
acionista, então acho bom que apresente bons resultados ou então eu vou te
estapear a bunda do jeito que você gosta.
— Eu sou o seu marido, Amora, você devia ser mais simpática. Caçoa.
Ele pega a minha mão, e giro o meu rosto em sua direção lhe dando a
— Jantar não, o máximo que posso fazer é deixar que vá me ver dançar
no meu projeto social lá no morro do Vidigal, hoje tem apresentação de Jazz
da turma jovem. — Cedo, porque realmente quero que ele veja o que
— Estarei lá.
Quantos anos não ando por aí sem rumo na garupa de sua moto, mordo
os lábios com a saudade bagunçando o meu peito.
Vou até a minha sala que era a de meu pai, fiz toda uma reforma,
Jasmine que é a melhor designer de interiores, quem assinou a mágica da
transformação, de uma sala escura em tons de madeira, para uma sala branca
Caminho até Diogo que está no lugar de seu pai após a morte do
mesmo. Ele regula idade comigo, já andou me jogando charme algumas
vezes e apesar de achar o homem lindo com o seu sorriso branquinho
contrastando com a pele negra, não é ele que faz o meu coração bater forte,
nos tornamos amigos de bar.
— Está marcado então. — Pisco para ele e no canto do meu olho vejo
João ficar vermelho.
Seguro a minha vontade de rir, que ele tenha um gosto do que senti
quando o vi junto de Filipa em São Paulo.
dando-lhe um pouco de volume, meu tubinho preto caiu bem em meu corpo
já que o meu marido não para de encarar o meu decote. — Vamos ao balanço
do semestre, serei rápida, afinal os números estão excelentes, e isso que
importa, não é?! — Gracejo e eles riem, puxando o meu saco, já que eu
reergui e tornei ainda mais poderosa essa empresa que estava fadada ao
fracasso, eu limpei toda a sujeira que o meu pai deixou.
— Nossa, um gato!
Caminho olhando para ele que procura alguém com o seu olhar, as
meninas tem razão, ele é lindo!
Ele ri. — É sério, eu sou conhecida como Amora irmã da Jasmine que é filha
da Simone da rua C. — rimos.
— Você está linda, rosa combina com você. — Elogia o meu macacão
longo.
— Obrigada.
— Combina tanto que foi por isso que Deus fez as suas partes mais
delicadas em rosa. — Sussurra em meu ouvido e eu me arrepio inteira.
que antes não tinham uma perspectiva de futuro, hoje tem na dança uma
esperança de dias melhores.
Jasmine também aparece com o nosso pequeno Jonatan, ele vem até
nós e dá um beijinho, mas logo em seguida corre com o grupo de crianças
aqui presentes.
João testa ficar por trás de mim, e eu deixo, ele circunda a minha
cintura e cola os nossos corpos, seguro um gemido na garganta, sinto o seu
pau endurecer e caramba, apenas duas semanas sem tê-lo dentro de mim e
estou em brasas.
— Vai vir na garupa da minha moto? Andar sem rumo, mas sabendo
que o trajeto final é a minha cama onde você dá o seu espetáculo e eu tenho o
— Amora, bom te ver, filha. — Dona Simone aparece e olha para João
semicerrando os olhos. — Você e Jasmine não tem juízo. — Repreende
vendo João agarrado comigo, penso em me desvencilhar, mas ele me segura
firme.
juntaram de fato depois da morte de papai, acho que Simone enfim se sentiu
livre para recomeçar, e o cantor da gafieira já estava mega apaixonado, ela
faz um bico que me faz segurar a risada, encrenqueira que só ela.
— Esses irmãos devem ter um chá muito do bom pra deixar essas
meninas sem juízo desse jeito, viu?! — Ela reclama saindo de perto de nós.
— João, eu agradeço que tenha vindo, mas eu não vou voltar contigo,
estou de carro, e sendo sincera, não sei ainda o que eu quero, portanto não
acho justo te dar falsas esperanças.
— Amor, você sabe exatamente o que quer, o seu corpo sabe, o seu
coração sabe, mas tudo bem, você quer que eu trabalhe mais um pouco?! Eu
farei, minha bailarina, mas desistir de você e do nosso casamento nunca.
Ter me casado em total divisão de bens foi o meu erro, passo as mãos
nos cabelos, irritada.
A advogada tem um sorriso na voz, não duvido nada que ele esteja ao
lado dela lhe dando a ordem. Preciso vender um imóvel para injetar dinheiro
em mais um dos meus projetos sociais no Vidigal, mas para isso, preciso da
assinatura de João, até então, nossos advogados que cuidavam entre si dessas
questões judiciais, mas agora João resolveu me tirar do sério com essas
exigências descabidas.
— Avisa ao seu cliente que essa é a primeira e última exigência que ele
faz, eu não vou ficar olhando mais para a cara de mentiroso dele. Passar bem.
JOÃO
— Está certo, eu admiro o seu otimismo, boa sorte para lidar com a
esposa. — Brinca e apenas olho-me no espelho, estou pronto para isso.
Não demora muito até que ela esteja em seu terninho social entrando
Tenho muito a lhe dizer, mas ela já chega jogando o envelope pardo
para mim.
não assinar nada sem ler. — Falo a observando pelo canto do olho.
Amora bufa e entra na casa, convicta que não vou facilitar sua vida, e
senta à minha frente mirando um ponto cego.
— Responda-me.
— Você está permitindo que as suas cicatrizes te guiem, mas algo que
aprendi com tudo isso, é que existem outros meios, há o coração, a alma, a
intuição, um mundo de multiplicidade de caminhos.
— Tudo bem, o que vem agora, deixa-me pensar... Já sei, vai dizer que
nunca acabe, muito menos preciso que crave as unhas no meu ombro sempre
que eu entro bruto em você. Mas eu quero que você me olhe, me agarre e
cheire e me possua desse jeito. Pra sempre.
— A minha vida sem você não seria impossível. Dizer que eu preciso
de você seria minimizar tudo o que você é na minha vida. Seria como dizer
que eu preciso de um remédio ou de mobílias novas. Eu te amo e você me
ama, e viver esse amor não é uma questão de necessidade. É uma questão de
deixo cair umas lágrimas no processo, não tem como não se derramar, eu
simplesmente transbordei.
deu.
— Eu não posso...
— Nunca, você nunca vai conseguir fazer isso, está presa a mim porque
me ama.
me perdoar são quase nulas, mas não existe vitória sem batalha.
Beijo-a tirando cada peça da sua roupa, sem pressa, degustando a sua
Coloco-a por cima de mim, com a sua boceta na minha boca, safada ela
se agacha e suga o meu pau e assim ficamos em um sessenta e nove
delicioso. Lambo o seu clitóris matando a saudade de ter o seu gosto de
mulher na minha boca, quando ela me chupa engolindo tudo eu quase não
posso suportar de vontade de gozar na garganta dela, da minha mulher.
JOÃO
— Por quê?
— Inclusive, gozei aí, passa a mão e veja se não tá suja sua bunda. —
Agora sou eu que gargalho vendo a cara dele de revolta, tudo brincadeira,
porque Amora levou consigo cada gota do meu gozo, meu corpo arrepia só
de lembrar a sensação de gozar dentro da minha mulher, tão certo.
Ambos sorrimos.
— Se as coisas estão indo assim tão bem, por que está bebendo?
— Não estão indo bem, aquela Amora que eu conheci está morta. Ela
jogou na minha cara que só me usou, disse até que já teve homens melhores
que eu na cama. Porra, eu devia ser o primeiro e único a tocá-la. Ela foi
embora levando a assinatura e a minha dignidade junto. — Confesso.
Embora eu ache que nunca houve outro homem em sua vida, ela se
encontrava comigo toda semana, tudo bem que era só um dia na semana e vez
ou outra ela não mandava mensagem, então não nos víamos o que me
— Como ela pôde transar comigo e não sentir nada? Dizer que não
significou nada para ela? — Pergunto, isso realmente doeu no meu ego.
— Ao menos ela disse isso na sua cara, a Jasmine finge que nunca
aconteceu. É como se ela nunca tivesse ido ao meu quarto de hotel e se dado
para mim. Não tocamos mais no assunto, simples assim.
Bem, ao menos um de nós deve ter algum avanço com esses mulheres
complicadas.
— Que nada. Nós só estamos juntos por conta do Jonatan, nada mais.
— Eu rio em deboche. — Eu não vou tentar nada.
— Por quê? Não a ama? — Faço a provocação, eu sei que ele quer
tentar, meu irmão sofreu tanto quanto eu.
— Porque não a mereço. Já fiz muito mal a ela. É melhor retirar o meu
time de campo.
— Então você vai dar ela de bandeja pro tal de Pedro? — Instigo
mexendo no ponto certo, ele morre de ciúmes do amigo de Jasmine.
— Você tá sem coragem de chegar nela, mas também não quer que
ninguém chegue. Que covarde, Jonas — jogo as palavras em sua cara e ele
fica sem reação.
Com uma ressaca enorme após beber afogando as mágoas com o Jonas
ontem, um banho gelado e café forte me deixaram revigorado, Filipa mudou-
se para os Estados Unidos investindo na carreira de publicidade, após mais
uma recusa de minha parte em ficar com ela, acho que ela finalmente caiu em
si, principalmente quando soube que voltei para o Rio de Janeiro atrás de
Amora.
dois sorriem de algo e semicerro os meus olhos, ele apoia a mão no ombro
dela, e eu fico puto, será que ela já esteve na cama dele?
— Oi João, não sabia que estava na cidade. — Otávio fala sem jeito,
lembro-me muito bem que Rodolfo o queria como marido de Amora, mas eu
passei a sua frente e deixarei bem claro para ele que ainda estou no páreo.
— Nunca estivemos.
— Desde quando eu lhe dei liberdade para opinar na minha vida? Que
decepção, Otávio! — Ela balança a cabeça em negativa. — Saia da minha
empresa!
Ele ajeita o paletó do terno e incrédulo, segue para os elevadores.
— E você também pode ir junto dele. — Aponta para mim, meu sorriso
a deixou irritada.
— Eu quero conversar.
Caminho para dentro da sua sala, ela entra atrás de mim enfurecida.
— Olha isso.
cada um dos meus botões da blusa social. — Vista a sua roupa, João! —
Grita e eu sorrio.
Quando me vejo livre da blusa, viro de costas para ela que silencia por
completo.
— Sim.
— Por que estou segurando um pássaro?
Desenhei essa tatuagem assim que me mudei para São Paulo, com
realismo tenho o rosto de Amora, os cabelos esvoaçando e ela olhando para
um passarinho que pousou em seu dedo, um desenho que pega grande parte
foi o meu apoio, sempre soube que podia contar contigo, quando as coisas
estavam ruins eu te mandava mensagem e você largava tudo em São Paulo
para vir para mim, aquilo que fazíamos não era só sexo, era conexão, amparo,
afago, apoio, apego emocional era o meu porto seguro.
— Amora, eu fiz e faria tudo de novo, largaria mão de tudo mais mil
vezes por você, por poucos minutos que sejam.
— Será que deixei passar muito tempo? Será que já não é tarde demais,
João? — Pergunta aparentando confusão.
Ela não titubeia, me dá a sua mão e agarro trazendo-a para mim, os dois
Resolvi jogar para o alto todas as minhas convicções, não vou passar
uma borracha no passado, longe disso, mas aprender com ele. Eu e João
estamos juntos, decidi me dar uma chance de ser feliz com o homem que eu
amo e louca e insanamente também é apaixonado por mim, espero que me
entenda e não me julgue irmã, mas entre ser feliz e ter razão, eu me escolhi.
Beijos, Amora.
Olho ansiosa para a suíte ao redor, meu corpo inteiro arrepia, é o quarto
que ele alugou para a nossa noite de núpcias, e está com a mesma decoração.
Ele pega o celular em minha mão e o desliga.
— Vamos viver essa história como tem que ser. — Caminha vindo para
mim, jogando os nossos celulares desligados na poltrona. — Só nós dois
desligados do mundo e vivendo o nosso amor.
no religioso, você vai parar com a injeção e vamos ter uma filha chamada
Carolina, só para começar, depois se você quiser podemos ter mais. — Ele
fala e eu sorrio de orelha a orelha, ele não esqueceu nenhum dos nossos
planos e sonhos.
— Então é assim que será, meu amor. Vamos viver a cada dia o nosso
agora, o nosso futuro.
EPÍLOGO
JOÃO
Amora com o vestido justo rosa com as saias fluidas dança em frente ao
espelho, a coreografia é toda conceitual, Amora aumenta a sua sensualidade a
cada passo de frente para o espelho, é como se nos mostrasse a sua evolução
pessoal, o espelho representa a sua autoanálise, e eu amo a forma conceitual
com a qual ela gosta de se expressar.
Já percebi
Que tu gosta dos cara correm atrás
Mas eu tô aqui
Mas se desligar
Através da BATIDA
Ela coloca as duas mãos no busto e intensa, faz o peito pulsar como um
coração.
Viva, quando eu falo o teu nome
Através da BATIDA
(...)
E o despertador falhou
— É a mamãe! — Nossa filha mais velha aponta para o palco e eu
sorrio, as nossas duas filhas parecem comigo, para a raiva de Amora e
Jasmine que dizem que a genética dos Patacho é forte demais, já que o casal
de filhos do meu irmão também se parecem com ele.
empresa, a bailarina delicada com a voz fina, a mãe das minhas filhas.
— Vocês são tão fofos! — Jasmine fala ao meu lado, eu e Amora ainda
grávidos fomos padrinhos do casamento dos nossos irmãos e eles também
grávidos foram padrinhos dos nossos dois casamentos.
FIM
Jasmine e Jonas
CLICA AQUI para ser redirecionado para o livro com a história do Jonas e
da Jasmine, que se chama A Vingança do CEO, e também é livro único.
Sinopse
que o amor te deixa em um barraco alugado e com um filho para criar. Por
isto, blindou-se deste sentimento de todas as formas.
Para Jonas, parecia fácil conquistar e fazer de Jasmine mais uma peça
de sua calculada vingança. Para Jasmine, naqueles olhos azul-profundo
encontrava-se o grande amor prometido nas músicas que ouvia e nos poemas
que lia.
Pode o amor mudar um futuro sentenciado?
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[1]
Linha de sapatos principalmente femininos de origem francesa, sua marca registrada é a sola vermelha.
[2]
Um look que traz apenas peças pretas.
[3]
Coração Gelado é um feiticeiro arqui-inimigo e vilão principal do desenho Ursinhos
Carinhosos.