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Finan¢as Públicas
FIN CLASS
Fábio Giambiagi
Trajetória de
Fabio Giambiagi
ed. especial
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e-B/02
TIMELINE
Fábio Giambiagi
1976 Retorno ao Brasil, com 14 anos. Completou aqui o
ensino médio e cursou bacharelado e mestrado em
economia na Faculdade de Economia e Administração
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Sua trajetória no BNDES foi interrompida algumas vezes,
quando desenvolveu experiências paralelas. Foi cedido
ao Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) em
três oportunidades, ao Banco Interamericano de Desenvol-
vimento (BID), em Washington, entre 1993 e 1994, e ao Mi-
nistério do Planejamento em Brasília, onde trabalhou como
assessor em 1994 (início da gestão do Governo Fernando
Henrique Cardoso).
Fábio Giambiagi
vros, organizou obras científicas, sobretudo sobre a econo-
mia brasileira, concedeu entrevistas, participou de progra-
mas em rádio e televisão e enfrentou um desafio especial
no debate público:
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Professor em várias cadeiras, inclusive de Finanças Públicas,
lecionou por muitos anos. A partir dessa experiência, publi-
cou a obra “Finanças Públicas Teoria e Prática no Brasil”, em
coautoria com Ana Cláudia Além, inicialmente pela Editora
Campus depois pela Editora Elsevier, vencedora do Prêmio
Jabuti em 2000, livro que trata de múltiplas questões de in-
teresse da cadeira de Finanças Públicas na Faculdade de
Economia.
Fábio Giambiagi
Tem mais de 30
livros publicados
ed. especial
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ASPAS SOBRE
O E-BOOK
Fábio Giambiagi
de entender melhor a realidade em que vive. Quando você
lê: ‘dívida pública está em 85 por cento do PIB’, ou ‘o gover-
no aprova reforma da Previdência’, entende o porquê disso?
Quando você lia no jornal tempos, ‘a Grécia quebrou e os
aposentados estão deixando de ser pagos’. Por que que a
Grécia chegou a essa situação? Por que que recentemente a
Argentina chegou a essa situação? Por que o Brasil chegou
nessa situação?
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CAPÍTULO 2
Fábio Giambiagi
Conceitos iniciais de
finanças
ed. especial
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Fábio Giambiagi
Neste capítulo vamos discutir ‘Como surgem os governos’:
você verá algumas equações importantes: para que serve
a política fiscal; alguns dos conceitos mais importantes de
gasto público, de déficit público; e dar um breve passeio pe-
los últimos anos nas finanças públicas pelo mundo.
ed. especial
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COMO SURGEM OS
GOVERNOS?
Fábio Giambiagi
Muitas vezes lemos, em artigos regionais, pessoas critican-
do o governo, não estou falando o governo A ou governo B,
o governo do presidente X ou do presidente Y; estou falando
de crítica ao governo como instituição. Isso é uma das diver-
sões favoritas de praticamente todos os povos: falar mal do
governo. Muitas vezes com razão, algumas vezes com certa
incompreensão acerca da natureza do que é um governo e
porque que ele existe.
ed. especial
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Fábio Giambiagi
Imagine o seguinte: Há um naufrágio de um desses navios
grandes, todo mundo se salva, as pessoas ficam nas boias e
vão parar numa ilha deserta. Duas mil pessoas começam a
se organizar e aos poucos esse conjunto de pessoas vai ter
que se colocar de acordo em relação a algumas questões.
Por exemplo, em caso de litígio quem que vai resolver quem
tem razão? Se eventualmente uma pessoa se exceder, ba-
ter na outra, como a pessoa vai ser presa? E aí, se começa a
desenvolver o raciocínio sobre o aconteceria nessa situação,
entende-se como é que surgem os governos. Porque quem
julgar quem tem razão, no caso de conflito entre as pesso-
as, vai exercer a função de Justiça. O fortão que vai prender
quem está batendo em outras pessoas, vai exercer a função
de polícia. E assim sucessivamente.
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Agregando pessoas, reproduz-se esse tipo de estruturas
que para números grandes de pessoas, que formam uma
nação, são exatamente o Governo. Um governo é uma ins-
tituição que exerce esse tipo de atribuições (atividades ine-
Fábio Giambiagi
rentes ao governo), de defesa nacional, de policiamento, de
exercício da justiça e etc.
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Vamos pensar em algo mais deração”, corresponderia ao
próximo do dia a dia das pes- país, por assim dizer, com as
soas. Imagine um conjunto suas atividades de represen-
de pessoas que convivem tação por meio do Síndico
num condomínio de prédios. Geral, por meio do conselho
Vamos ter a figura do sín- geral do condomínio.
dico, a figura do conselho,
que de alguma forma fisca- Um país se organiza em tor-
liza as atividades do síndico no desse tipo de estrutura. A
Fábio Giambiagi
e a figura de uma espécie organização dos poderes: o
de síndico geral. O síndico Poder Executivo, Poder Le-
do síndico, digamos, seria a gislativo e o Poder Judiciário.
representação do Poder no E temos os três níveis da Fe-
condomínio como um todo. deração, a união, que muitas
O síndico seria uma espécie vezes nas aulas vamos de-
de “Presidente da Repúbli- nominar de Governo Central,
ca”, o conselho do prédio se- os Estados e os Municípios. E
ria uma espécie de “Assem- nessas atividades o Governo
bleia Legislativa do Estado”, como instituição se relacio-
o Estado representado pelo na com o cidadão através da
prédio e o conjunto dos pré- oferta dos serviços que são
dios corresponderia a “Fe- providos pelo Estado.
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NÃO RIVALIDADE E
NÃO EXCLUSÃO
Fábio Giambiagi
mercado e um compra uma lata de ervilhas, essa lata de
ervilhas vai ser dele, não vai ser do João ou da Maria. Porque
foi ele que comprou.
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Este é um conceito básico, os bens numa economia na vida
real, vão ser bens tipicamente privados. Usei o exemplo de
uma lata de ervilhas, mas podemos pensar em produto mais
sofisticado como automóveis. E haverá bens que são públi-
cos, como por exemplo, o usufruto de iluminação pública,
da possibilidade de frequentar parques, praias etc. E haverá
bens que poderão ficar numa situação híbrida, que vão ser
bens com graus maiores ou menores da possibilidade de
exclusão ou de rivalidade.
Fábio Giambiagi
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FALHAS DE MERCADO
Fábio Giambiagi
ças Públicas, é o conceito de ‘falhas de mercado’. A ideia é
que, por mais capitalista que seja uma economia, e hoje de
um modo geral a maioria das economias do mundo são ca-
pitalistas (por mais satisfatório que possa ser em alguns pa-
íses o funcionamento do sistema capitalista no sentido de
reduzir desigualdades, permitir progresso etc), não há como
o mercado não ter o que se chama de ‘falhas de mercado’.
São aspectos em que o mercado, por melhor que funcione,
não consegue dar conta da solução de todos os problemas.
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BENS PÚBLICOS
Fábio Giambiagi
Quais são as falhas de mercado?
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MONOPÓLIOS
NATURAIS
Fábio Giambiagi
A segunda falha é representada pelos chamados ‘monopó-
lios naturais’, algo que pode mudar em função da tecnolo-
gia. Por exemplo, quando eu era garoto e quando comecei
a estudar economia, entendia-se que no campo das tele-
comunicações havia um monopólio natural, porque era tal
o investimento em capital necessário, que não poderia ser
feito por mais de uma empresa. Inclusive muitas vezes esse
monopólio era exercido pelo próprio Estado, através de uma
empresa estatal, como no Brasil foi a Telebrás.
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VOCÊ SABIA?
Fábio Giambiagi
Valores do Rio de Janeiro – BVRJ, com a venda, o governo
arrecadou um total de R$ 22 bilhões, um ágio de 63% sobre
o preço mínimo estipulado. Antes da privatização, era ne-
cessário entrar em uma lista de espera de dois a cinco anos
para adquirir uma linha, pagando antecipadamente quase
mil e duzentos reais. Quem precisava de instalação imediata
chegava a pagar valores de um automóvel pela linha.
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Fábio Giambiagi
Nós sabemos que com a evolução da tecnologia isso não
é mais verdade e hoje esse campo econômico das teleco-
municações é disputado com grande intensidade por um
conjunto de empresas extremamente fortes, em que não se
aplica mais a figura do monopólio.
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EXTERNALIDADES
Fábio Giambiagi
não estou só me protegendo como também diminui a pos-
sibilidade de contagiar outras pessoas. A vacina da pessoa
“A” exerce aquilo que em economês se chama de ‘externali-
dade positiva’, há uma ação sobre os outros, externa a essa
pessoa, inequivocamente positiva neste caso.
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Como é que os governos
agem diante de episódios
causados pelo mercado? No
caso das externalidades po-
sitivas, incentivando. Exata-
mente por isso muitas vezes
alguns desses bens ou ser-
Assim como existem as ex- viços acabam sendo produ-
ternalidades positivas exis- zidos pelo Estado. É o caso
tem também as externali- típico das vacinas, o benefí-
Fábio Giambiagi
dades negativas. Caso típico cio trazido para a sociedade
de livro ou texto economia: a é tão grande que o próprio
poluição. Há bens que têm Estado diz: ‘vou me encarre-
que ser produzidos, é im- gar de fornecer isso para as
portante que sejam produzi- pessoas de graça, porque há
dos, mas que têm um efeito um interesse da coletivida-
colateral negativo porque de como um todo’. E no caso
há uma poluição ambiental. da externalidade negativa,
Quando se anda de carro, in- entende-se que aquilo é im-
teressa às pessoas por uma portante que seja produzido,
série de aspectos, mas o praticado etc, mas há uma
cano de descarga emite uma penalidade, que vai ser tan-
série de gases que acabam to maior quanto maior for o
sendo um problema para a mal, o elemento negativo
sociedade como um todo. causado por isso.
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MERCADOS
INCOMPLETOS
E FALHAS DE
INFORMAÇÃO
Fábio Giambiagi
Existem outras falhas de às grandes empresas. Pode
mercado menores, como haver algum caso para uma
‘mercados incompletos’ e intervenção estatal, dirigida
‘falhas de informação’. a suprir, seja através de uma
oferta pura e simples, seja
Mercados incompletos, são através de algum tipo de
situações em que, por exem- subsídios.
plo no mercado de crédito,
não é provido adequada-
mente de crédito. Caso típi-
co é o de micro e pequenas
empresas, que às vezes não
conseguem ter o acesso ao
crédito com a mesma faci-
lidade com que ele chega
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E existem as chamadas ‘falhas de informação’, em que o
mercado funciona razoavelmente bem, mas tem que exis-
tir o papel do Estado para zelar por algumas questões. Por
exemplo, no Mercado de Ações, empresas privadas emitem
ações que são compradas por particulares. Mas e se alguém
numa empresa privada souber que no dia ‘X’ vai ser feito um
anúncio que vai valorizar muito as ações? E essa pessoa fala
com um amigo, um ‘laranja’, para comprar ações em nome
dele, porque sabe de antemão que vão ser valorizadas? Isso
é algo completamente inaceitável do ponto de vista ético,
que não pode ser aceito pela sociedade porque beneficia
Fábio Giambiagi
algumas pessoas em detrimento de outras, através de uma
prática irregular.
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CAPÍTULO 3
Fábio Giambiagi
Funções do governo e dados
públicos
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Fun¢ões da política fiscal. Para que serve a
política fiscal o que é? A que ela se destina?
FUNÇÃO ALOCATIVA
A primeira função é a chamada ‘função alocativa’. A pala-
vra alocação remete à decisão sobre como os bens serão
colocados à disposição do público. Quando se trata da fun-
Fábio Giambiagi
ção alocativa, não necessariamente a responsabilidade pela
provisão de um serviço tem que ser associada à produção
daquele bem ou serviço.
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Saúde é responsabilidade do Estado. Se as pessoas não têm
saúde a quem elas apelam? Ao Estado. Nós vimos isso na
pandemia. De quem se cobra a solução para esse proble-
ma dramático do mundo em 2020 e 2021? É do Estado, é
da instituição Governo, vimos isso nos Estados Unidos, na
Fábio Giambiagi
Inglaterra, na Alemanha, no Brasil, etc.
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Vamos pensar no que, nós brasileiros, conhecemos bem, por
estar associado a atividades do dia a dia: energia elétrica e
telecomunicações. Os lares precisam ter energia elétrica.
No passado, a energia era provida através de distribuidoras
federais ou Estaduais, de responsabilidade do Estado. No
processo de privatização dos anos 1990, essa provisão pas-
sou a ser privada. Mas o Estado não deixa de ter responsa-
bilidade para que aquilo chegue ao lar das pessoas. Como?
Com a regulação, no caso brasileiro, feita através da ANEEL
Fábio Giambiagi
(Agência Nacional de Energia Elétrica). Analogamente, há
todo um sistema regulatório que define as regras de com-
portamento, compromissos e investimento etc, das empre-
sas no campo das telecomunicações.
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FUNÇÃO
DISTRIBUTIVA
Fábio Giambiagi
o governo exerce o seu papel discricionário com a legitimi-
dade outorgada pela sociedade através do sistema legado
do processo eleitoral para dizer o seguinte: olha, fulano pro-
duz, mas vai ser de alguma forma penalizado ou punido ou
taxado por isso, e beltrano vai ser de alguma forma benefi-
ciado por alguma política específica.
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São os impostos. Se existir uma atividade que por alguma ra-
zão gera externalidades negativas para sociedade, e dese-
ja-se desestimular essa atividade, coloca-se a taxação. Caso
típico: o fumo. Quando compramos um pacote de cigarros,
pagamos uma carga tributária enorme. Isso não só no Brasil,
mas em geral existem tributos na maioria das sociedades,
porque é uma atividade no setor claramente penalizado,
porque se convenciona o mal causado pelo cigarro, pelo
Fábio Giambiagi
que aumenta o risco de câncer de pulmão etc.
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DESIGUALDADES E
ÍNDICE DE GINI
Fábio Giambiagi
assemelhar a uma reta. E à
‘Índice de Gini’. Esse índice é
medida que nos deslocamos
uma representação de uma
para a direita, vão somando-
figura gráfica em que se tem:
-se mais pessoas. Essas pes-
no eixo horizontal o percen-
soas começam a aumentar
tual acumulado da popula-
no meio da distribuição da
ção e no eixo vertical a pro-
classe média. A inclinação
porção acumulada da renda
da curva se modifica, porque
de uma sociedade. À medida
no meio vamos adicionar 1%
que se desloca para a direita
a mais de pessoas e esse 1%
no eixo horizontal, vemos 1%
a mais de pessoas será mais
das pessoas, depois 2% das
do que 1% da renda nacional
pessoas e assim sucessiva-
e assim sucessivamente. E
mente.
quando chegamos aos gru-
pos de maior renda o último
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ÍNDICE DE GINI
Renda
População
Fábio Giambiagi
O índice de Gini é um índice que varia entre 0 e 1. Ele vai me-
dir o coeficiente entre a área sombreada da figura que está
sendo mostrada e o triângulo inferior desse quadrado.
Esse índice vai ser zero numa situação em que tiver uma
perfeita distribuição de renda, em que 10% das pessoas tiver
10% da renda, 20% das pessoas tiver 20% da renda e assim
sucessivamente. Ele vai ser “um”, teoricamente, no caso es-
pecífico de uma pessoa que tem toda a renda Nacional. Ele
vai variar entre 0 e 1.
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Quando no Brasil, por exemplo, na primeira década do sé-
culo XXI, se adotou o “bolsa família”, financiado com o sis-
tema tributário da época. Ele representou uma melhoria na
distribuição de renda, porque era o Estado pegando deter-
minados recursos e alocando para as pessoas de menor
renda, que estavam associadas a uma situação de risco do
Fábio Giambiagi
que se chama de ‘miserabilidade’, se elas não recebessem
esses recursos.
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AS PREFERÊNCIAS
DA SOCIEDADE
Agora, qual é a relação de preferências da sociedade? Como
eu falei, isso varia de país para país, de sociedade para so-
ciedade. Por que esta discussão é importante? Vamos pen-
sar em dois casos diferentes: Você ganha R$ 100, seu amigo
ganha R$ 1.000. Temos 2 situações:
Situação 1: Situação 2:
Seu amigo passa a ganhar Seu amigo passa a ganhar
R$ 900 e você passa a ga- R$ 1100 e você passa a ga-
Fábio Giambiagi
nhar R$ 95. nhar R$ 105.
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Agora eu pergunto: se você ganhasse R$100,00 inicialmen-
te, você iria preferir no segundo caso ganhar 95 ou ganhar
105? É natural que haja uma preferência por ganhar 105 e
não 95.
Fábio Giambiagi
O que quero dizer com isso? Quero dizer que há uma mani-
festação política de preferência de muitas sociedades em
favor de um processo de melhor distribuição de renda, o
que é rigorosamente compreensível por razões óbvias. Ao
mesmo tempo, isto não pode ser considerado algo absolu-
to. Nem vai definir qual é a atitude das pessoas com relação
ao seu grau de satisfação com o bem-estar de vida, com os
governos, porque vai depender do contexto.
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FUNÇÃO
ESTABILIZADORA
Fábio Giambiagi
quando há pressão inflacionária ou para estimular, quando
há uma baixa no nível de atividade.
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No Brasil nós temos, desde 1999, o regime de metas de
inflação em que o Governo, agora com três anos de ante-
cedência, fixa a meta de inflação para três anos à frente e
procura, com os instrumentos de política monetária, tipica-
Fábio Giambiagi
mente a decisão de taxa de juros e de política fiscal. Orientar
a política do governo, como um todo para procurar alcançar
esse objetivo.
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PREVISIBILIDADE
MACROECONÔMICA
O terceiro objetivo é previ- E naturalmente numa situ-
sibilidade macroeconômi- ação de grande instabilida-
ca. Para que um país possa de (pensemos nos vizinhos,
alcançar o progresso é fun- na Argentina, a inflação de
damental que o empresa- 50% ao ano, depois cai para
Fábio Giambiagi
riado faça investimentos. É 40%, depois volta para 45%),
o investimento de hoje que é extremamente difícil to-
assegura a ampliação da mar decisões de longo pra-
capacidade de produção de zo. Não dava para fazer o
amanhã. Quando o tijolo de investimento para comprar
hoje vira a fábrica de ama- uma máquina, um caminhão,
nhã, quando o investimento tomar grandes decisões de
numa máquina de hoje vira a investimento e pedir 100,
ampliação de capacidade de 200, 300 milhões de reais
amanhã. para uma fábrica, para fazer
uma hidrelétrica, para fazer
um mega investimento em
telecomunicações, num país
com muita instabilidade.
Previsibilidade macroeconô-
mica é muito importante.
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e-B/02
OBJETIVO
DISTRIBUTIVO
Fábio Giambiagi
E há um componente muito importante dos objetivos de
política econômica, e tipicamente de política fiscal, que é o
‘objetivo distributivo’. Qual é a importância disso? Vai depen-
der dos governos e da sociedade. Há sociedades que estão
mais preocupadas do que outras com isso e há governos
que estão mais preocupados do que outros.
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ESTATÍSTICAS
FISCAIS NO BRASIL
Fábio Giambiagi
década de 1940. Nas Finanças Públicas muitas vezes tem-
-se a impressão de que o Brasil é um país com estatísticas
péssimas. Mas, não é o caso, nós temos estatísticas fiscais
muito, muito boas.
séries.
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Qual é o problema? Tempo. Nós temos séries antigas, que
eram muito boas, mas foram descontinuadas e temos séries
muito boas atuais, mas que não existiam, por exemplo, para
a década de 1980. É muito difícil em Finanças Públicas con-
seguir montar uma série homogênea de 40 a 50 anos.
Fábio Giambiagi
soal. O governo gasta mais de 300 bilhões de reais com pes-
soal. Hoje existe uma riqueza de informações muito gran-
de, se consegue de forma granularizada saber, para onde
esse gasto está indo no governo federal; para onde esse
gasto está indo em ativos; para onde que esse gasto está
indo para aposentados; para onde esse gasto está indo para
funcionários civis; para onde que esse gasto está indo para
funcionários militares?
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e-B/02
QUALIDADE DOS DADOS
Uma outra questão muito importante a lembrar é sobre a
qualidade dos dados. Eu me formei em 1983, comecei a
Fábio Giambiagi
trabalhar com tema de política fiscal na altura de 1986 e, à
época, o Brasil tinha um acordo com o Fundo Monetário In-
ternacional [FMI].
ed. especial
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e-B/02
VOCÊ SABIA?
Fábio Giambiagi
Responsabilidades do FMI: A principal função do FMI é asse-
gurar a estabilidade do sistema monetário internacional —
o sistema de taxas de câmbio e pagamentos internacionais
que permite aos países (e seus cidadãos) negociem entre si.
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e-B/02
VOCÊ SABIA?
Fábio Giambiagi
mento para auxiliar no seu desenvolvimento econômico.
Essa lista de treinamentos inclui formulação e implementa-
ção de práticas administrativas, políticas monetárias e ban-
cárias, regulamentações fiscais, gerenciamento de gastos
etc.
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e-B/02
Nos termos do acordo com o FMI, o governo brasileiro pro-
duzia um documento. Era um documento físico chamado
‘Brasil Programa Econômico’, que tinha um compilado de
um conjunto de informações macroeconômicas, entre elas
as informações fiscais. E produzia, não sei exatamente, 500
ou mil exemplares. Aquele documento era disputado a tapa.
Você receber do governo aquele documento, ter o privilégio
Fábio Giambiagi
de receber, era uma qualificação de honra muito elevada.
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Há uma frase famosa do ex-ministro Pedro Malan, que dis-
se jocosamente que “no Brasil até o passado é incerto”. Ou
seja, se já temos a incerteza em relação ao futuro, temos o
problema que muitas vezes até o passado muda. Ou seja,
o governador fala: ah, o déficit foi tanto. Seis meses depois,
vinha uma revisão e mudava completamente. A gente acha-
va que tinha acontecido uma coisa, tinha acontecido outra
completamente diferente.
Fábio Giambiagi
Hoje as informa¢ões são divulgadas todos os
meses com intervalo de apenas 25, 30 dias;
fechou o mês no dia 26, 27 já sai o resultado do
Tesouro e um dia depois é o resultado do Banco
Central. E as revisões que ocorrem para os
dados antigos são minúsculas, desprezíveis;
houve um grande avan¢o.
ed. especial
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e-B/02
CAIXA E
COMPETÊNCIA
Fábio Giambiagi
A primeira distinção é o conceito de ‘caixa e competência’.
Por exemplo, os salários do funcionalismo público são pa-
gos tipicamente no começo do mês. No passado era dife-
rente, era pago no final do mês, mas teve um momento nos
1980, se não me falha a memória, passou para o começo do
mês seguinte. No salário de janeiro se recebia no começo
de fevereiro, o salário de fevereiro se recebia no começo de
março etc.
CRITÉRIO DE CRITÉRIO
COMPETÊNCIA DE CAIXA ed. especial
2020 2021
DEZEMBRO JANEIRO
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e-B/02
O que acontece com o sa- O Tesouro transfere para
lário de dezembro de 2020, o Ministério da Saúde dois
pago em janeiro de 2021? bilhões. Mas o Ministro da
Pelo chamado critério de Saúde, naquele mês em que
competência, entra na con- recebeu a transferência, só
ta como se fosse de dezem- vai gastar 500 milhões. Pela
bro; pelo chamado critério forma com que o gasto era
de caixa, entra na conta no apurado anteriormente, o
mês em que efetivamente gasto que aparecia era de
Fábio Giambiagi
foi gasto, que é janeiro. dois bilhões. Pela forma mais
adequada com que o gasto
E há uma segunda diferença, passou a ser apurado ao lon-
uma nuance, que diz respei- go do tempo, passou a refle-
to ao trânsito entre órgãos tir o momento em que ele é
de governo. Muitas vezes, no efetivamente gasto, na pon-
passado, o Tesouro Nacional ta final da sequência de de-
transferia recursos para o cisões de gasto do governo
Ministério. Aparecia, o recur- federal. Não só houve uma
so, como uma despesa. Só maior riqueza de detalhes,
que o Ministério não gastava como a despesa passou a
imediatamente. ser captada de uma forma
mais apropriada no momen-
to em que ela efetivamente
ocorria.
ed. especial
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e-B/02
NOTAS SOBRE AS
FINANÇAS PÚBLICAS
INTERNACIONAIS
Fábio Giambiagi
Antes de entrar em uma análise mais específica nos dados
do Brasil, a realidade fiscal dos países é muito díspar. E, de-
finitivamente, o ano de 2020, não pode ser tomado como re-
ferência porque foi um ano, que a gente chama de ‘um pon-
to fora da curva’. Em 2020, de modo geral, todos os governos
do mundo gastaram muito mais do que o normal.
ed. especial
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e-B/02
DÉFICIT
PRIMÁRIO
Se tomarmos como refe- que tenha perdido um pou-
rência um período de cinco co de peso relativo diante
anos, 2015 a 2019, vamos ver do euro. Outro país que teve
uma realidade bastante dís- um déficit nesse período foi
Fábio Giambiagi
par. Alguns países tiveram o Japão. Também o Japão
o chamado ‘déficit primário’, tem um privilégio compara-
que é o resultado fiscal tiran- tivamente a outros países,
do os juros. porque historicamente, pela
característica da sociedade
Países como os Estados Uni- japonesa, por história etc, o
dos, tiveram déficit primário, governo japonês se endivida
mas é um país que tem faci- a taxas que, para efeitos aqui
lidade de financiamento, de- do Brasil, são inteiramente
finitivamente maior do que ridículas de baixas. É mais
outros países pela possibili- fácil para esses governos
dade de emitir dinheiro, que produzirem déficit.
é a moeda mundial por exce-
lência, que é o dólar. Ainda
ed. especial
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e-B/02
AJUSTES
EXPRESSIVOS
Os países, por outro lado, que tinham déficit elevado há al-
guns anos, passaram por ajustes expressivos. Casos de Ir-
landa, de Portugal, da Grécia. De modo geral, são países que
gastaram em 2019, antes da pandemia, uma proporção do
PIB claramente menor do que aquelas que gastavam nos
anos de crise.
PAÍS PRIMÁRIO
Fábio Giambiagi
Alemanha 1,9
Bélgica 0,7
Estados Unidos -2,7
Grécia 2,5 (Obs. 2013: -9,6%)
Irlanda 1,4 (Obs. 2012: -4,8%)
Itália 1,3
Japão 2,8
Portugal 1,6 (Obs. 2014: -2,8%)
Reino Unido -0,4
Suécia0 ,8
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e-B/02
Há uma frase, que sintetiza um pouco os dilemas, com os
quais vamos lidar nas próximas aulas, que eu gosto que é do
Anthony Eden, um político britânico, que diz o seguinte: “to-
dos são favoráveis a uma economia no geral e uma des-
pesa no particular”. Quando se fala em controle do déficit
público, todo mundo se diz a favor, que é preciso controlar
o déficit público. Agora quando se fala em cortar despesas
específicas, todo mundo diz não, não, espera aí! Essa despe-
Fábio Giambiagi
sa é importante, essa outra despesa é importante.
52
e-B/02
CAPÍTULO 4
Fábio Giambiagi
Grandes tendências das
finanças públicas
ed. especial
53
e-B/02
No Brasil, obviamente o ano de 1994 é um divisor de águas
na nossa história, foi ano do plano real, do início da estabili-
zação. A história da economia brasileira é dividida em antes
Fábio Giambiagi
e depois de 1994.
ed. especial
54
e-B/02
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Fábio Giambiagi
-de-Neandertal. Nesse sentido a Previdência é um fenôme-
no moderno, embora para o jovem, 1870 seja a pré-história,
na história da humanidade é um fenômeno moderno.
ed. especial
55
e-B/02
À medida que a medicina foi avançando, o homem foi vi-
vendo mais, as pessoas foram vivendo mais e isso se tornou
uma questão social.
Fábio Giambiagi
contingente cada vez maior de pessoas que já
não tinha condi¢ões de permanecer no mercado
de trabalho e tinha que ser abastecidas,
supridas de alguma forma, atendidas porque
as famílias já não davam mais conta.
56
e-B/02
A proporção de pessoas, com 60 anos ou mais, em relação
ao total da população no mundo em 1950 era 8%, em 2010,
11%. E o Brasil não foi alheio a isso. Esta particularidade se
repete em maior ou menor medida como uma tendência
universal.
Fábio Giambiagi
Regi ão
Mundo 8,0 8,6 11,1
África 5,2 5,0 5,3
Ásia 6,7 6,9 10,1
China 7,5 7,9 12,4
Índia 5,4 5,9 7,7
Japão 7,7 12,8 30,7
América Latina e Caribe 5,6 6,7 9,8
Brasil 4,9 6,3 10,2
Uruguai 11,8 14,7 18,4
América do Norte 12,4 15,5 18,6
EUA 12,5 15,7 18,5
Oceania 11,2 11,6 15,2
Europa 11,8 16,0 21,9
ed. especial
57
e-B/02
A SAÚDE PÚBLICA
Fábio Giambiagi
passar 15 dias, 20 dias internada.
ed. especial
5 60 - 70
anos anos
58
e-B/02
E o que que ocorre com a distribuição etária das pessoas
na medida em que a sociedade vai progredindo? Qual é a
proporção com 80 anos e mais que demanda muito mais
serviço de saúde do que a população jovem?
Regi ão
Mundo 0,6 0,9 1,6
África 0,3 0,3 0,4
Ásia 0,4 0,5 1,2
China 0,3 0,6 1,5
Índia 0,4 0,4 0,7
Fábio Giambiagi
Japão 0,4 1,4 6,3
América Latina e Caribe 0,4 0,7 1,4
Brasil 0,3 0,6 1,5
Uruguai 1,4 1,8 3,7
América do Norte 1,1 2,2 3,7
EUA 1,1 2,3 3,6
Oceania 1,0 1,4 2,8
Europa 1,0 2,0 4,2
59
e-B/02
MUDANÇAS
DEMOGRÁFICAS E
CULTURAIS
Fábio Giambiagi
ciada ao grau de evolução e amadurecimento de uma so-
ciedade da maior participação das mulheres no mercado de
trabalho).
ed. especial
60
e-B/02
Na sociedade de 1900, os aposentados eram poucos e eram,
na enorme maioria, homens. Por quê? Porque para uma mu-
Fábio Giambiagi
lher estar aposentada em 1900 teria que ter começado a
trabalhar na em 1860, 1870. Que proporção das mulheres
trabalhava na época? Uma proporção muito menor que a de
hoje. Na medida em que as mulheres, que são metade da
população, passaram a frequentar mais o mercado de tra-
balho, vimos o reflexo no conjunto de novas aposentadorias
30, 35 anos depois.
ed. especial
61
e-B/02
Pirâmide Etária brasileira e projeções futuras:
Fábio Giambiagi
ed. especial
Medium-variant projections for 2010-2100 are shown as thin coloured lines, and uncertainty is shown in
lighter shades for 95 per cent prediction intervals.
62
e-B/02
Expectativa de vida da população Brasileira:
Fábio Giambiagi
Além do fato de que hoje termos muitos mais idosos aposen-
tados do que no passado, temos uma representação muito
maior das mulheres. No conjunto de homens aposentados
de hoje, nós temos uma taxa crescimento “X” em relação ao
conjunto de homens aposentados de 30 ou 40 anos atrás; e
esse aumento no caso das mulheres é muito maior. Porque
antes idoso não necessariamente significava estar aposen-
tado no caso das mulheres. E hoje no caso das mulheres
idosas, a grande maioria são de aposentadas. Enquanto a
ed. especial
63
e-B/02
OUTRAS PRESSÕES
Fábio Giambiagi
feminino, no caso das apo- da época da guerra civil dos
sentadorias, temos outras Estados Unidos, no século
pressões que historicamen- XIX e o que que é o exérci-
te acabaram fazendo com to dos Estados Unidos hoje?
que os governos gastem Hoje as forças armadas dos
muito mais hoje do que no Estados Unidos são um ins-
passado. O que foi a história trumento de gasto público
da humanidade dos últimos poderosíssimo e o mesmo
200 anos? Imaginemos uma ocorre, de modo geral, em
pessoa que tenha nascido diversas outras potências e
em 1915, ela pegou Primeira mesmo em países que não
Guerra Mundial, a Segunda são potências. As forças ar-
Guerra Mundial, a Guerra Fria madas são um componente
etc. Recentemente nós tive- importante de despesa.
mos as Guerras do Iraque e
ed. especial
64
e-B/02
EDUCAÇÃO
Fábio Giambiagi
Outro elemento importante foi a educação. No Brasil, muitas
vezes nós temos uma certa tendência a olhar para o passa-
do e dizer: no passado a educação pública era melhor. Isto
é verdade, mas em parte está associado a uma característi-
ca diferenciada da educação pública de hoje em relação ao
passado. Porque no passado o Brasil era predominantemen-
te um país com muitos analfabetos, poucas pessoas estu-
davam e hoje, felizmente, a grande maioria dos jovens está
na escola e a maioria das escolas é pública. Este padrão de
massificação do ensino se repetiu historicamente ao longo
de 100, 150 anos na grande maioria das sociedades. ed. especial
65
e-B/02
ASSISTENCIALISMO
Fábio Giambiagi
civilizada que falar uma obrigação moral no sentido de que
o governo, como representação do espírito de uma socie-
dade como um todo, procure evitar que as pessoas morram
na miséria mais absoluta. Em maior ou menor medida, os
países têm políticas assistenciais.
66
e-B/02
ANOS 60 E 70
Fábio Giambiagi
grande modernização do estado brasileiro. Aí foram adota-
das políticas importantes, que criaram as bases para um pe-
ríodo de grande prosperidade do país, particularmente no
período de 68 até 73, e um dinamismo um menor, mas ainda
relevante, de 1974 até 1980. Nesse período modernizou-se
a Receita Federal, criou-se o instrumento da correção mo-
netária, criou-se o Banco Central e adotou-se um plano de
ajustamento fiscal que ordenou bastante as contas públicas.
67
e-B/02
Primeiro uma certa multipli- Outro elemento de disfun-
cação de orçamentos. Não cionalidade fiscal era a cha-
existia apenas orçamento mada “conta movimento” do
tradicional. Existiam outros Banco do Brasil, um instru-
instrumentos de ação do go- mento a por meio do qual o
verno através do que se cha- Banco do Brasil agia na prá-
Fábio Giambiagi
mava de orçamento monetá- tica em nome do Banco Cen-
rio, que corria à margem do tral, mas sem prestar contas
Congresso sem um controle e que acabava funcionando
democrático (lembremos como um instrumento de
que era um governo militar, emissão sobre o qual o Ban-
mas existia um Congresso co Central não tinha nenhum
funcionando, havia eleições controle.
para deputado) e havia com-
ponentes importantes do
gasto, que não transitavam
pelo Congresso.
ed. especial
68
e-B/02
E adicionalmente, tínhamos as empresas
estatais que praticamente não prestavam conta
a ninguém e que se tornaram um instrumento
poderosíssimo de gasto público e de política
Fábio Giambiagi
fiscal.
ed. especial
69
e-B/02
ANOS 1980
Fábio Giambiagi
em relação àqueles países, em parte pela desordem que foi
criada nos anos 70.
ed. especial
70
e-B/02
Em 1986 se põe fim à ‘Conta Movimento’ do Banco Brasil.
Em 1988, com o nova Constituição se redefine a situação
orçamentária, de modo que o conjunto de ação e política
fiscal transite através do chamado OGU (Orçamento Geral
de União), que coloca fim na parafernália de vários orça-
Fábio Giambiagi
mentos.
ed. especial
71
e-B/02
INTRODUÇÃO
DAS MODERNAS
ESTATÍSTICAS NO
BRASIL
Fábio Giambiagi
Em 2021 estamos falando sobre uma longa história com
alguma dificuldade para estabelecer séries longas de po-
líticas fiscal. De um modo geral poderíamos falar sobre um
período aproximadamente 30 anos de expansão fiscal. Nós
tivemos uma relativa contenção naquele período inicial dos
anos 80. Na linha do tempo, a economia brasileira se expan-
de bastante até 1980. Em 1981 entra numa grande crise. O
período de 1981 a 83 foi um período de recessão. Em 1983,
com o pedido de empréstimo ao Fundo Monetário Interna-
cional, e o Brasil teve que se ajustar, porque a situação fiscal
tinha fugido do controle.
ed. especial
72
e-B/02
Além do ajustamento tradicional esse período do FMI (1983-
84) foi um período chave para nossas estatísticas porque foi
um período em se criam as modernas estatísticas fiscais. O
Fundo Monetário veio, não apenas com os recursos dos em-
préstimos, mas com um componente de assistência técnica
que ajuda na tentativa de colocar ordem na casa. Até então,
mesmo o Ministro da Economia não tinha a menor ideia do
Fábio Giambiagi
que estava acontecendo com a política fiscal.
73
e-B/02
CAPÍTULO 5
Fábio Giambiagi
Finanças públicas no Brasil
ed. especial
74
e-B/02
Vamos ver aqui o que aconteceu com as Finanças Públicas
no Brasil nas últimas três décadas. Há dois anos importan-
tes nessa história: um é o ano de 1994, que é um divisor de
águas pelo lançamento do Plano Real pela estabilização etc,
e outro é o ano de 1997, em que se iniciam as estatísticas fis-
cais do governo federal da forma em que aparecem hoje no
site do Tesouro Nacional.
VOCÊ SABIA?
Fábio Giambiagi
alizada no Brasil e o principal objetivo era acabar com a hi-
perinflação que assolava o país. A idealização do projeto, a
elaboração das medidas do governo e a execução das re-
formas econômica e monetária contaram com a contribui-
ção de vários economistas, reunidos pelo então Ministro da
Fazenda Fernando Henrique Cardoso.
75
e-B/02
Fábio Giambiagi
Fonte: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/planoreal
ed. especial
76
e-B/02
PRÉ-HISTÓRIA
Fábio Giambiagi
com as de hoje. E aí, dá para reconstituir séries voltando a
1991.
ed. especial
77
e-B/02
DIVISÕES DO
GASTO PÚBLICO
Fábio Giambiagi
no site do tesouro nacional) ma de OCC, “outra despesa
aparece a seguinte decom- de custeio e capital”.
posição: receita, transferên-
cias por repartição de re- Vou começar pelo geral
ceita, receita líquida (que é e depois falar dos quatro
o resultado a receita bruta grandes agregados: trans-
menos essas transferências), ferências, gasto com pesso-
e depois despesas. E essas al, INSS e finalmente “outras
despesas desagregadas despesas”.
em três grandes categorias:
pessoal, INSS ou previdên-
ed. especial
78
e-B/02
Divisão do gasto público:
Fábio Giambiagi
Quando se compara as receitas com as despesas ou as re-
ceitas líquidas com as despesas tirando essas transferên-
cias, se chega ao resultado agregado.
79
e-B/02
DÉFICIT PÚBLICO
Fábio Giambiagi
80
e-B/02
RECEITA
TRIBUTÁRIA
Fábio Giambiagi
elevados e um de risco de insolvência grande. Ou o governo
decretava o calote ou apertava o cinto.
81
e-B/02
DESPESA DE
JUROS
Fábio Giambiagi
despesa de juros? É fácil de entender.
82
e-B/02
E o que o Brasil teve depois A cada decisão do COPOM,
de 1994? Um período his- havia um debate importan-
tórico de pouco mais de 20 te na sociedade. Se aquelas
anos de uma taxa de juros decisões foram certas ou
real extremamente elevada. não, ficará para debate dos
Não cabe aqui discutir as ra- historiadores.
zões disso. Hoje as decisões
são tomadas no chamado O fato é que o Brasil, naque-
COPOM (Comitê de Política le contexto, o fiscal muito
Monetária), que se reúne oito complicado, substituiu o que
vezes por ano e define a taxa era uma anomalia, que foi a
SELIC¹, que vai ser a base de altíssima inflação (porque
toda a estrutura de juros do um país evidentemente não
país e toda a decisão do CO- pode considerar normal ter
Fábio Giambiagi
POM está acompanhada de uma inflação de 30% ou 40%
certo grau de controvérsia. ao mês como tínhamos até
Nos últimos tempos, menos 1994), por uma outra anoma-
do que no passado. lia que foi ter uma taxa de
juros real média de mais de
A taxa de juros que, recen- 10% durante um período de
temente nas decisões do um pouco mais de 20 anos.
COPOM, foi de 2% ao ano, já
chegou a ser de mais de 40%
ao ano. E obviamente quan-
do um governo toma a deci-
são de botar a taxa de juros
em 40%, imagine o grau de
controvérsia que isso gera.
ed. especial
83
e-B/02
Por que a taxa de juros foi elevada nesse período? Para com-
bater a inflação, para combater o temor dos investidores em
relação ao que poderia acontecer com a dívida pública.
Fábio Giambiagi
despesa de juros não ser alta.
ed. especial
84
e-B/02
TRANSFERÊNCIAS
NA FEDERAÇÃO
Fábio Giambiagi
Por um lado, o aumento da receita, porque como as
1 transferências são uma proporção da arrecadação do
imposto de renda e do IPI, em boa parte, uma parte
disso vira aumento de transferências dos estados aos
municípios.
85
e-B/02
E alguns componentes específicos tiveram aumento de im-
portância, por exemplo os Royalties, que estavam definidos
na Constituição, desde a sua origem em 1988, mas que na
época não eram muito representativos. Porque os Royal-
ties se aplicam basicamente a petróleo e o petróleo não era
uma fonte de receita tão importante. A Petrobrás não pro-
duzia tanto em 1988, como passou a produzir posteriormen-
te. E hoje se produz mais com um preço do petróleo maior,
Fábio Giambiagi
com uma taxa de câmbio de referência maior para definição
do preço do petróleo, e isso gera maiores receitas com pe-
tróleo, parte das quais são transferidas para os municípios,
onde se dá o processo de extração. E alguns municípios são
mais favorecidos do que outros.
86
e-B/02
Na classificação contábil do Tesouro Nacional temos: recei-
tas brutas, transferências por repartição de receita, receita
líquida (que é receita bruta menos transferências), e aí em-
baixo tem uma despesa total. Tirando essas transferências
prestadas aos municípios.
Fábio Giambiagi
nicípios, estamos falando de uma despesa total que era da
ordem de 14% do PIB em 1991, que passa a ser de 24% do PIB
em 2016, quando, não por coincidência, o país adota o cha-
mado “teto do gasto público”, que diz o seguinte: o gasto
tal a partir 2016 não poderá e aumentar por um período de
dez anos.
87
e-B/02
DESPESA COM PESSOAL
A primeira das três grandes rubricas de despesa, é a despe-
sa com pessoal. Esta despesa de fato aumentou, mas pouco
em relação ao começo da série. Em 1991, a despesa era de
3,8% do PIB e atualmente é da ordem de 4,4% do PIB. Teve
altos e baixos e aumentou menos do que outras rubricas de
gasto.
Fábio Giambiagi
Algumas estatísticas evoluíram ao longo do tempo e essa
é uma delas. Temos como saber qual é o total da despesa
1991 e como saber qual é a despesa total com pessoal hoje.
Mas não tem como saber a desagregação da despesa no
começo da série em 1991. Tem como saber como se decom-
punha a partir de 1995. Podemos fazer uma comparação en-
tre 1995 e 2019.
ed. especial
88
e-B/02
Gasto com pessoal Governo Central (%PIB)
Fábio Giambiagi
Fonte: Ministério do Planejamento (antigo), Secretaria de Política
Econômica e Secretaria do Tesouro Nacional
89
e-B/02
A CONSTITUIÇÃO
DE 1988 E OS INATIVOS
Fábio Giambiagi
definiu regras de aposentadoria que permitiram que um
conjunto grande de antigos funcionários públicos se apo-
sentassem com rendas generosas, no chamado RJU (Re-
gime Jurídico da União). Entre 1991 e 1994/95, houve uma
explosão de aposentadorias no setor público que, em linhas
gerais, dobrou a importância em relação ao PIB do que se
gastava com chamados inativos do Governo Federal. Era da
ordem de 1% do PIB, em 1991, e passou a ser da ordem de
2% do PIB, em 1995.
90
e-B/02
Não quero negar a importância do que ocorreu antes, mas
entre 1995 e 2019 não foi esta a expansão do gasto públi-
co. Porque se olharmos na decomposição desta despesa
vamos ver dois grandes agregados, por um lado a despe-
sa com funcionários ativos, ou seja, aqueles estão na ativa,
estão trabalhando, vão ao trabalho todo dia e os chamados
inativos.
Fábio Giambiagi
Total 3,80 5,14 4,83 4,33 4,31
91
e-B/02
ATIVOS E INATIVOS
Podemos pegar cada um dos dois agregados, ativos e inati-
vos, e colocar um zoom para ver o que aconteceu.
Fábio Giambiagi
mentou, mas pouco em relação ao PIB (entre 0,40 e 0,47%
do PIB) e a dos militares caiu (de 0,55 para 0,40%).
ed. especial
92
e-B/02
Vejamos os inativos: entre os civis antigos do Poder Execu-
tivo caiu (de 1,35 para 0,98% do PIB); no caso dos inativos do
Legislativo e Judiciário aumentou proporcionalmente muito,
mas pouco em relação ao PIB (de 0,14 para 0,22% do PIB)
e no caso dos militares aumentou um pouco (de 0,65 para
0,69% do PIB).
Fábio Giambiagi
ed. especial
93
e-B/02
A DESPESA
PREVIDENCIÁRIA
Fábio Giambiagi
Por que esta questão é importante? Precisamos entender a
importância relativa dos itens que se alteraram, dentro do
conjunto. O total aumentou muito e o gasto público com
pessoal não aumentou, o que aumentou foi a despesa pre-
videnciária.
ed. especial
94
e-B/02
Evolução dos gastos com Previdência
Fábio Giambiagi
Fonte: Ministério de Planejamento (antigo) e Secretaria do Tesouro Nacional
95
e-B/02
MUDANÇAS NA
CONSTITUIÇÃO
DE 1988
Há três itens que merecem uma atenção maior.
Fábio Giambiagi
com base em idade determinada. Ou um pouco antes, mas
respeitada uma idade mínima e com alguma perda. Aqui no
Brasil, a Constituição de 1988 consagrou a figura da aposen-
tadoria por tempo de contribuição, homens com 35 anos de
tempo de contribuição. Se o homem começou a trabalhar
aos 18 anos, aos 53 anos - se ele tivesse mantido a contri-
buição - já poderia se aposentar. É uma idade precoce por
qualquer parâmetro internacional de comparação.
96
e-B/02
Quem trabalha na cidade quando se aposenta vai ao pos-
to do INSS e recebe o benefício um ou dois meses depois.
Quem trabalha no meio rural, ia ao posto do INSS, que fica
a 200 ou 300 quilômetros, para ganhar uma aposentadoria
baixíssima; muitas pessoas simplesmente esqueciam e não
Fábio Giambiagi
faziam isso. Quando a aposentadoria passa a ser baixa - e
não baixíssima - aquilo passa a ser um valor interessante. O
número de aposentados rurais em 3 anos, por idade, dobra.
E o que que acontece ao longo do tempo com salário míni-
mo? Dobra.
ed. especial
97
e-B/02
Não estou entrando em considerações de mérito. Há justifi-
cativas sociais para isso.
Fábio Giambiagi
Contingente de mulheres aposentadas por tempo de
contribuição (milhares de benefícios)
98
e-B/02
OUTRAS DESPESAS
A despesa das “outras des- Além disso, houve rubricas
pesas” merece um olhar que sugiram e outras que
com lupa. Porque foi uma existiam e deixaram de exis-
despesa em que acontece- tir. Essa despesa é uma des-
Fábio Giambiagi
ram duas coisas ao longo do pesa que pode ser mexida
tempo. em momentos de arrocho,
por exemplo. Há outras que
Houve uma granularização, não podem ser mexidas.
uma especificação crescen-
te ao longo do tempo, nas As “outras despesas” são
estatísticas do Tesouro Na- uma miríade de diversas
cional. Ao longo dos anos despesas: o bolsa-família
1990 depois mais ainda na está aí, o seguro-desempre-
década de 2000 e mais ain- go, as despesas com bene-
da na década de 2010, o Te- fícios assistenciais do LOAS,
souro Nacional, com grande despesas com saúde, des-
competência dos seus téc- pesas com educação, des-
nicos, foi fazendo sucessivas pesa com créditos extraordi-
desagregações. nários.
ed. especial
99
e-B/02
DESPESAS
DISCRICIONÁRIAS
Fábio Giambiagi
ajuste, as chamadas ‘despesas obrigatórias’. Se houvesse de
cortar 1% do PIB, era cortado nas chamadas ‘despesas dis-
cricionárias’ que é o que sobrou.
100
e-B/02
EPÍGRAFE
Fábio Giambiagi
lhe parecer que você está dando muito, dê mais. Você verá os
resultados. Todos irão lhe apavorar com o espectro de um co-
lapso econômico. Mas tudo isso é uma mentira. Não há nada
mais elástico do que a economia que todos temem tanto por-
que ninguém entende.
101
e-B/02
CAPÍTULO 6
Fábio Giambiagi
Endividamento público
ed. especial
102
e-B/02
Para que você possa entender melhor as questões
que costumam aparecer todo dia no noticiário,
particularmente nos últimos meses e anos,
quando nos acostumamos a ver manchetes que
dizem que "a dívida pública alcan¢a 65% do PIB,
depois 70% do PIB, depois 80% do PIB, e agora
chegando a 90% do PIB" e onde isso vai parar?
Fábio Giambiagi
Essas histórias em geral não acabam bem e no Brasil já tive-
mos, no passado, episódios traumáticos dos quais talvez o
mais famoso tenha sido o Plano Collor, em 1990, que alguns
devem lembrar ou pelo menos ter ouvido falar. Nós esta-
mos numa trajetória que inspira cuidados. Certamente não
dá para jogar a toalha, mas é uma história que certamente
preocupa.
Um país que tem uma dívida bruta que há poucos anos (dez
anos atrás) era de aproximadamente 50% do PIB e hoje tem
dívida bruta do governo que se aproxima de 90% do PIB,
está nos dizendo que tem alguma coisa errada.
ed. especial
103
e-B/02
ARGENTINA E GRÉCIA
COMO ALERTA
Fábio Giambiagi
histórias de endividamento te, que acompanhamos pelo
público muito acentuado de noticiário foi o da Grécia.
outros países, por exemplo Num contexto institucional
a Argentina, que conseguiu e nacional completamente
a proeza de decretar quatro diferenciados, pelo fato de
grandes calotes (“The Four”, pertencer à área do Euro,
termo técnico) em quatro houve uma combinação en-
décadas, um por década, tre esforço do país e contri-
evidentemente o risco de buição do resto da União Eu-
estarmos a percorrer um ca- ropeia para conseguir tirar o
minho como o da Argentina, país da crise.
não é nulo e tem que nos
preocupar.
ed. especial
104
e-B/02
VOCÊ SABIA?
Fábio Giambiagi
governo grego, o que dificultava o financimaneto das ativi-
dades;
- Grande retirada dos depósitos bancários levaram a restri-
ções de liquidez;
- 25% de queda no PIB entre 2008 e 2016;
- Desemprego aumentou em 16%, atingindo 27% da popula-
ção geral;
- Taxa de desemprego de 60% da população até 25 anos;
- Redução de, aproximadamente, 26% da renda per capita
da população grega;
- Grande fuga de mão de obra especializada e subinvesti-
mentos maciço, geram atrasos econômicos de dificeis de
mensurar;
105
e-B/02
Redução PIB per capita - Grécia
Fábio Giambiagi
Fonte: tradingeconomics.com | World Bank
106
107
CAPÍTULO 7
A dívida pública
Fábio Giambiagi
Vamos assumir, por hipótese, que o Brasil comece hoje, não
tem déficit, não tem dívida inicialmente e no primeiro ano
passa a ter um déficit de 10. O governo tem que se endivi-
dar para financiar esse déficit, para cobrir a diferença entre
o que gastou e o que arrecadou. No final do primeiro ano a
dívida vai ser 10. No segundo ano, por hipótese, o déficit cai
para 5. Além da dívida que tinha no começo do segundo ano
de 10 por conta do déficit do primeiro ano, vamos incorporar
a necessidade de financiamento de déficit no segundo ano,
de 5. A dívida passa de 10 para 15 (simplificando apenas para
o melhor entendimento).
ed. especial
108
e-B/02
PREMISSAS
Fábio Giambiagi
O segundo conceito é o da dívida líquida do setor público.
Por exemplo: uma pessoa vai ao banco, pega um emprésti-
mo para comprar um carro. Existe uma diferença de tempo
entre o momento em que a pessoa recebe o empréstimo e o
momento em que ele executa o segundo movimento. A pes-
soa recebeu o empréstimo do banco, e antes de comprar
o carro alguns dias depois, faz uma aplicação. Se ela fizer
uma aplicação maior, não é muito razoável considerar que a
sua situação financeira se agravou por conta do empréstimo
que pediu ao banco.
109
e-B/02
DÍVIDA LÍQUIDA
DO SETOR PÚBLICO
Fábio Giambiagi
blica brasileira.
110
e-B/02
Adicionalmente, tivemos déficits importantes e uma pressão
cambial que jogou para cima a importância relativa da dívida
externa. O fato é que entre o começo da década de 1980 e
meados da década, a dívida aumentou muito, alcançando
níveis da ordem de 55% do PIB, em 1984/85.
Fábio Giambiagi
Fonte: Banco Central
111
e-B/02
Se a dívida herdada do pas-
sado é corroída pela inflação,
pode haver déficit e na ver-
dade não pressionar tanto a
dívida (que se deprecia pela
aceleração inflacionária). Por
exemplo, se a inflação for de
Fábio Giambiagi
10%, uma dívida inicial nomi-
nal de 100, depois vai valer
10% a menos.
Na primeira metade dos
anos noventa, essa relação
dívida/PIB continuou caindo
por conta de fenômenos si-
milares aos da segunda me-
tade dos anos e1980, e em
1994 temos um divisor de
águas.
ed. especial
112
e-B/02
A HISTÓRIA SE DIVIDE
EM ANTES E DEPOIS
DE 1994
Fábio Giambiagi
Ainda que a inflação baixa tenha durado por duas ou três
décadas depois, uma economia que funcione com 20% de
inflação ao ano (como no começo da estabilização) é uma
economia completamente diferente do que estava funcio-
nando, com a inflação de 40 ou 50% ao mês, como antes do
Plano Real. Deixa de existir a possibilidade de a dívida ante-
rior ser corroída pela inflação e os déficits passam a pressio-
nar severamente a dívida. A dívida passa a subir fortemente
e nós temos um período de 8, 10 anos em que a dívida au-
menta fortemente até voltar a cair com o ajuste fiscal, que
ocorreu no segundo governo Fernando Henrique e que foi
mantido no governo Lula.
ed. especial
113
e-B/02
Depois, a relação entre a dívida líquida e o PIB volta a cair.
Cai para 30% do PIB, até 2013/2014, quando a economia in-
gressa numa nova crise, de retração da economia, recessão
em alguns anos e fortes déficits; a dívida líquida volta a au-
mentar fortemente.
Fábio Giambiagi
Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI)
ed. especial
114
e-B/02
COMPOSIÇÃO
DA DÍVIDA
Fábio Giambiagi
Para entender a composição dessa dívida, primeiro temos
que ressaltar que no corte entre dívida externa e dívida in-
terna, há uma clara diferenciação ao longo do tempo.
115
e-B/02
A outra distinção é que a dívida interna era essencialmen-
te dívida das empresas estatais. No começo dos anos 80 a
maior parte do déficit era de empresas estatais. Hoje isso se
tornou irrelevante, a dívida líquida do setor público e a dívida
Fábio Giambiagi
das estatais é algo ínfimo.
ed. especial
116
e-B/02
FLUXO
E ESTOQUE
Fábio Giambiagi
Fluxo é o que acontece ao
longo de um período, nas
variáveis macroeconômicas
anuais e estoque é uma va-
riável que se refere a um ins-
tante no tempo. Não faz sen-
tido falar em PIB do dia; é um quantidade de moeda no dia
conceito meio estranho, IBGE 31 de janeiro de 2021 foi de
divulga o PIB do trimestre, o tantos bilhões. Analogamen-
PIB do ano. Estoque se refe- te, a dívida pública, se refere
re a um dia, a base monetá- à posição de final de novem-
ria no dia 31 de dezembro de bro, final de dezembro, final
2020 foi de tantos bilhões, a de janeiro.
ed. especial
117
e-B/02
INFLAÇÃO
Fábio Giambiagi
janeiro compara o preço de final de janeiro com o preço do
final de dezembro, e não é assim.
ed. especial
118
e-B/02
Veja a diferen¢a entre o mundo em que a gente
vive hoje e o mundo real daquela época. Não havia
o desenvolvimento tecnológico e mecanismos
computacionais de hoje, Big Data etc...
Fábio Giambiagi
de juros real de mais de 1% real no mês. Mesmo ajustada
pela inflação, uma taxa real de 1% ao mês é altíssima, em
termos anuais, mas a inflação era divulgada com atraso.
119
e-B/02
CAPÍTULO 8
Fábio Giambiagi
A dívida pública no mundo
ed. especial
120
e-B/02
O que aconteceu nos últimos anos com a dívida
pública pelo mundo?
NA REGIÃO
DO EURO
Começando pela área do Euro. Como resultado da crise de
2008, a maioria dos países europeus tiveram problemas fis-
cais sérios. A partir 2012/2013 muito desses países, mesmo
Fábio Giambiagi
aqueles em situação mais complicada, passaram por ajus-
tes fiscais importantes. A dívida pública, agregada da área
do Euro, cedeu aproximadamente dez pontos entre o final
da década de 2010 e 2012/2013. 95% do PIB para 85%.
ed. especial
121
e-B/02
Quando se pensa em países, juros, e de como o governo
individualmente considera- consegue administrar, sem
dos, temos uma disparidade grandes traumas.
muito grande e é muito di-
fícil definir qual é uma regra Alguns países europeus por
de bolso, um parâmetro em conta de problemas que
relação à dívida e o PIB, que, se acentuaram na crise de
ultrapassado, se torna extre- 2008 e suas consequências,
mamente perigoso. Um país tiveram dívidas superiores a
pode ter uma dívida de mais 100% do PIB, e passaram por
Fábio Giambiagi
de 100% do PIB e viver numa necessidades de ajustamen-
boa; e um país pode ter pro- to bem significativas, casos
blemas enormes com dívi- como a economia da Grécia,
das de 50% do PIB. O que vai que esteve muito presen-
definir o grau de risco em re- te no noticiário da primeira
lação ao que se espera que metade da década de 2010;
aconteça ao longo do tem- e Portugal, que tem sido nos
po, pensando 5, 10, 20 anos últimos anos, um exemplo
à frente. de sucesso, de país que tinha
uma dívida elevada e passou
Há países que têm uma dí- a cair em função do ajusta-
vida elevada, que se apro- mento fiscal. Outro país que
xima de 200% do PIB, como teve um caso importante de
o Japão, que é algo preocu- dívida foi a Irlanda e também
pante; mas não chega a ser um exemplo muito bem-su-
ed. especial
122
e-B/02
AMÉRICA LATINA
Fábio Giambiagi
cularmente, é maior do que a média do conjunto dos países
da América Latina.
ed. especial
123
e-B/02
A nossa dívida aumentou, inclusive, o parâmetro oficial de
dívida. Cabe chamar a atenção a tecnicalidades: a forma
como a dívida bruta é apurada no Brasil, é diferente das
comparações internacionais, ou seja, a estatística de dívida
bruta do Brasil apurada pelo FMI no quadro comparativo de
países, é maior do que a dívida bruta do Brasil informada nas
Fábio Giambiagi
estatísticas domésticas brasileiras, pelo Banco Central.
124
e-B/02
O PROBLEMA
DA DÍVIDA
A dívida em si não é um pro- pequena empresa que está
blema. Quando eu era pro- no Simples, uma empresa
fessor de Finanças Públicas, unipessoal, ter uma dívida
costumava fazer a meus de 10 milhões de reais pode
alunos a seguinte pergunta: ser astronômico e para os
suponha que uma empresa valores com os quais empre-
tenha uma dívida de 10 mi- sa opera; ao passo que para
lhões de reais e uma em- uma grande empresa como
presa B uma dívida de 100 uma Petrobras, uma Vale,
Fábio Giambiagi
milhões de reais. Qual é a uma dívida de 100 milhões,
empresa em pior situação? e não vou dizer que são tro-
A única resposta que cabia cados, mas é escassamente
dar é: essa pergunta não faz relevante em relação ao pa-
sentido. Porque para uma trimônio das empresas.
ed. especial
125
e-B/02
Agora se a dívida vai acima do PIB todos os anos, ou seja,
todo ano a dívida aumenta 5, 10% quando o PIB aumenta 2,
3%, a dinâmica tende a ser explosiva. Como é que acabam
essas histórias?
Fábio Giambiagi
dolorosa, custa, o governo tem que aumentar imposto, tem
que cortar gastos, tem que fazer um mix que as pessoas não
gostam, mas é melhor do que uma situação de dar calote,
de ter uma aplicação que num dia vale 100, no outro dia vale
50.
126
e-B/02
Ainda é muito elevado em termos internacionais uma infla-
ção em torno de três por cento, mas é uma conquista his-
tórica da sociedade brasileira. Seria um verdadeiro pecado
para o país voltar ao passado.
Fábio Giambiagi
2000. Em 1999, enquanto o Brasil saia de sua crise, a Argen-
tina estava entrando em crise, essa situação que se arrastou
até 2001, quando decretou o calote da dívida e houve uma
grande explosão inflacionária, circunstâncias bastante dra-
máticas. Mas como consequência, houve uma fase de infla-
ção que acabou tornando menor as dívidas em termos reais
herdados do passado. Aquilo é terrível para quem sofre o
calote, mas por outro lado acaba criando as condições em
determinadas circunstâncias para poder sair da crise. Tudo
depende do quê que o governo faz nessas circunstâncias,
para saber se reconquista a confiança e cria condições di-
ferentes, ou se repete práticas e ingressa em um círculo vi-
cioso.
ed. especial
127
e-B/02
Vou encerrar com o Conselheiro Saraiva, que fez um discur-
so na Câmara de Deputados, em 1860! Não é 1960! Não é
2010! Há mais de 150 anos, ele disse:
Fábio Giambiagi
tudo isso nos desequilibrasse o orçamento e nos fizesse de-
ver dezenas de milhares de contos de réis. Por muito tempo a
nossa escola há de ser toda como menos sensata por aqueles
que elevam a prudência à ordem de primeira virtude. Quero
pertencer à escola dos loucos, porque tenho a certeza de que
a dos prudentes nada fará senão trazer o expediente em dia.
- Conselheiro Saraiva
128
e-B/02
CAPÍTULO 9
Fábio Giambiagi
Composição da dívida
pública - 1
ed. especial
129
e-B/02
Vamos ver um conjunto de elementos fundamentais para
entender a dinâmica da dívida pública e detalhes de sua
composição.
Fábio Giambiagi
posta.
ed. especial
130
e-B/02
DÍVIDA MOBILIÁRIA DO
GOVERNO CENTRAL
Fábio Giambiagi
ed. especial
131
e-B/02
E entre os ativos do Governo Federal, alguns particularmen-
te importantes: as Reservas Internacionais, o maior depois o
Fundo de Amparo ao Trabalhador (ativos que estão na mão
do conjunto dos Trabalhadores, em função da acumulação
de recursos do PIS/PASEP); e também os empréstimos que
foram concedidos ao BNDES e em menor medida à Caixa
Econômica Federal.
Fábio Giambiagi
ed. especial
132
e-B/02
É importante esclarecer que na contabilidade do setor pú-
blico consolidado na hora de consolidar, podem haver ativos
e passivos que se anulam. Quando há relações de endivida-
mento intragovernamentais o que aparece como ativo num
caso, vai aparecer como passivo do mesmo valor em outro.
Fábio Giambiagi
É um elemento importante da contabilidade pública, porque
são dívidas dos estados e municípios para com o Tesouro
Nacional. Na década de 1990, os estados e alguns municí-
pios tinham uma dívida com o mercado. No final dos anos
90, o mercado passou a ter receio que os estados dessem
calote. Então, o governo central federalizou as dívidas. Na
contabilidade pública uma dívida que era dos estados e, em
menor medida, dos municípios, para com o mercado se tor-
nou uma dívida dos estados e dos municípios em relação ao
Tesouro Nacional.
ed. especial
133
e-B/02
A dívida externa do setor público. No começo da década de
1980 a dívida pública era fundamentalmente externa e isso
continuou sendo a verdade durante alguns anos.
Fábio Giambiagi
Fonte: Banco Central
134
e-B/02
OS ANOS 2000
Fábio Giambiagi
OC: Operações Compromissadas Fonte: Banco Central
135
e-B/02
Naquele período do governo Lula e depois Dilma, como re-
ação diante da crise de 2008 o governo, num primeiro mo-
mento, injetou grande dose de recursos do BNDES. Anun-
ciou que iria emprestar ao BNDES 100 bilhões de reais. Com
o passar dos anos acabou sendo muito mais.
Fábio Giambiagi
A cada momento, em que o governo emprestava recurso
ao BNDES, a dívida mobiliária aumentava, e aumentava um
ativo importante do Tesouro Nacional. Havia uma diferença
fundamental: enquanto o governo emprestava ao BNDES na
taxa de juros de longo prazo, se endividava na taxa SELIC. À
época era mais elevada. Criava um diferencial de juros que
acabava sendo um fator oneroso e que pressionava contra
juros, com o resultado do déficit público.
136
e-B/02
OS GRANDES ATIVOS
DO GOVERNO FEDERAL
Fábio Giambiagi
2017, e se tornaram de quase 10% do PIB e posterior-
mente.
137
e-B/02
PAPÉIS DA
DÍVIDA PÚBLICA
Fábio Giambiagi
público indexado à própria taxa SELIC.
138
e-B/02
E finalmente temos os papéis indexados a índices de pre-
ços que são as chamadas Notas do Tesouro Nacional Série
B (Tesouro IPCA+), títulos em que quando a inflação aumen-
ta, automaticamente é incorporada. E rendem uma taxa de
juros reais definida no momento do leilão.
Fábio Giambiagi
Vamos fechar esse capítulo com uma frase da autoria do
político norte americano Phill Gramm:
- Phill Gramm
ed. especial
139
e-B/02
CAPÍTULO 10
Fábio Giambiagi
Composição da dívida
pública - 2
ed. especial
140
e-B/02
Vimos anteriormente que a dívida de hoje é igual à dívida de
ontem mais o déficit de hoje, de uma forma muito simplifi-
cada.
Fábio Giambiagi
Na época da inflação muito elevada bancos fizeram em-
préstimos muito difíceis de se recuperar. Após a estabiliza-
ção as circunstâncias mudaram. O Banco do Brasil tinha em-
préstimos que não seriam honrados, mas estava ganhando,
como todo o setor financeiro, muito dinheiro à custa daque-
las pessoas que deixavam o dinheiro mofando sem receber
nada e permitiam, aos bancos, aplicar o dinheiro. Quando
veio a estabilização, essa fonte de recursos secou. O Banco
do Brasil se viu numa situação muito difícil, porque deixou
de ter as receitas e ficou com empréstimos problemáticos.
ed. especial
141
e-B/02
Dois ou três anos depois da
estabilização, o governo fez
uma injeção de recursos,
mas o banco passou por
uma revolução. Hoje é uma
instituição exemplar com Só que no momento em que
ações muito bem cotadas o governo não faz isso (a in-
em bolsa em função de um jeção de dinheiro para capi-
trabalho de aprimoramento talizar o banco), o que que
Fábio Giambiagi
sucessivo ao longo de di- acontece com a macroeco-
versos governos, decisões e nomia?
trabalho exemplar de diver-
sas diretorias. A rigor nada. Quando o go-
verno capitalizou o Ban-
co do Brasil, simplesmente
acontece uma transferência
contábil sem nenhum efei-
to real naquele momento na
economia. Aumentou a dívi-
da, mas não teve uma con-
trapartida associada àquilo
que se pretende medir com
o déficit público.
ed. especial
142
e-B/02
PRIVATIZAÇÕES E
EFEITOS PATRIMONIAIS
Fábio Giambiagi
que quando o governo enxuga recursos na economia. As
privatizações reduziam a dívida sem ter também impacto
sobre o déficit.
143
e-B/02
Esses efeitos patrimoniais passaram a ser capturados pela
estatística de dívida sem necessariamente estarem vincula-
dos à existência de um déficit.
Fábio Giambiagi
Fonte: Banco Central
144
e-B/02
A ECONOMIA
CAPITALISTA
Fábio Giambiagi
escolas do Rio de Janeiro, para se ter uma ideia de como
alguns equívocos estão presentes no ensino desde a mais
tenra idade. Eis a questão:
QUESTÃO:
145
e-B/02
Aprende-se subliminarmente, em primeiro lugar, que a dí-
vida é um problema; em segundo lugar, que pagar juros é
um problema; em terceiro lugar, que idealmente as dívidas
deveriam ser perdoadas.
Fábio Giambiagi
Isto é um completo absurdo, destrói as bases de
funcionamento de uma economia capitalista.
Uma economia capitalista funciona na base do
crédito.
ed. especial
146
e-B/02
Como esse financiamento
é obtido? A pessoa vai um
banco solicita recursos. Será
que quem fornece os re-
cursos vai fazer o emprésti-
mo se acreditar firmemente
que vai levar a calote? Tem
que pensar na quantidade crédito. O mercado imobiliá-
de transações na vida real rio, de automóveis, de gela-
da economia, que deixaria deiras colapsaria; a econo-
Fábio Giambiagi
de ser feita se não existisse mia colapsaria. O crédito é a
base do funcionamento de
uma economia que funciona
normalmente.
147
e-B/02
OS JUROS
DA DÍVIDA
Fábio Giambiagi
doada. O juro é o pagamento de um capital financeiro, pelo
empréstimo.
Quem acredita que pelo fato de ter pago juros durante mui-
to tempo a dívida deve ser perdoada, por analogia teria que
acreditar no seguinte raciocínio absurdo: que se o inquilino
pagou o aluguel durante dez anos, no final desse período
deveria ser o proprietário do apartamento.
ed. especial
148
e-B/02
DÍVIDA TEM QUE
SER HONRADA
Fábio Giambiagi
Agora, há situações que fo- Algo similar ocorre com as
gem ao controle e que terão dívidas públicas. As dívidas
que ser tratadas com solu- dos governos têm que ser
ções excepcionais. Isso va- honradas. Pode haver situ-
lerá para as pessoas, valerá ações que o país passa por
para os países. um colapso, o PIB cai, pode
haver circunstâncias onde
Se uma pessoa vai o banco um calote da dívida pública
para obter um crédito, obtém se torna inevitável. No caso
o crédito com a intenção de que vimos da Argentina,
pagar e depois fica desem- com seus quatro calotes em
pregada, acaba numa con- tempo relativamente curto,
dição financeira muito ruim, ao invés de se ajeitar, repete
é completamente diferente sistematicamente o mesmo
daquela situação que tinha erro.
ed. especial
em mente.
149
e-B/02
ORIGEM DA DÍVIDA
Fábio Giambiagi
As estatísticas fiscais brasileiras são de uma enorme trans-
parência. Elas são auditadas. Quem se dedica a estudar o
assunto, basta olhar os sites oficiais do Tesouro (sobre o flu-
xo de déficit) e do Banco Central (sobre a evolução da dívi-
da), vai entender exatamente a dívida.
150
e-B/02
EVITAR PROBLEMAS
DO PASSADO
Fábio Giambiagi
Para evitar problemas do passado temos que ajustar o défi-
cit público.
ed. especial
151
e-B/02
PANDEMIA
Fábio Giambiagi
de aproximadamente 15% do PIB.
152
e-B/02
PARADOXO
Fábio Giambiagi
Temos a LFT, uma expressão institucional da hiperinflação. É
o jeitinho brasileiro extremamente inteligente que os gover-
nam da época encontraram para ter condições de proteger
o investidor e evitar que ele migrasse para aplicações em
dólar. Quando o investidor nacional migra para aplicações
em dólar, o país tem um problema, porque a economia aca-
ba sendo dolarizada e o governo perde condições de sobe-
rania, perde condições de controle sobre o próprio destino.
153
e-B/02
SAÍDAS
Fábio Giambiagi
Temos que, gradativamente, migrar para outra situação, re-
duzindo o déficit e ao mesmo tempo alongando a dívida, co-
locando papéis de mais longo prazo.
ed. especial
154
155
CAPÍTULO 11
Epílogo
Fábio Giambiagi
A dívida pública se assemelha a uma gravidez indesejada. Ela
é, geralmente, a consequência não desejada e defasada de
atos praticados com outro fim por mais de uma pessoa.
- Ricardo Hausmann
ed. especial
156
e-B/02
Se queremos que o Brasil no futuro tenha uma dívida que
seja diferente do passado, teremos que ter no futuro uma
atitude diferente em relação às questões fiscais.
Fábio Giambiagi
de eventos que aconteceram em anos anteriores.
157
e-B/02
ENCRUZILHADA
O Brasil está entrando hoje numa encruzilhada.
Fábio Giambiagi
Ao mesmo tempo o país errou muito nos últimos anos.
158
e-B/02
É importante refletir sobre isso, ter consciência sobre as de-
cisões que terão que ser tomadas, que são decisões difíceis,
mas que terão que ser negociadas como tudo tem que ser
negociadas numa democracia. Mas sempre tomando deci-
sões que possam ser explicitadas e defendidas olhando nos
olhos do eleitor.
Fábio Giambiagi
pulação entendeu e no dia trinta de junho de 1994, os preços
foram transformados da moeda da época, em Reais.
159
e-B/02
DESAFIO DE
COMUNICAÇÃO
Me dediquei por mais de 25 anos à causa da Reforma da
Previdência. Com poucos colegas, debatemos o assunto,
parecíamos pregadores no deserto.
Fábio Giambiagi
A autoridade tem que ter a capacidade de
transformar temas complexos em palavras
adequadas de uma forma que possam ser
compreendidos pela popula¢ão.
160
e-B/02
Todos os direitos deste livro são reservados e protegidos
pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Fábio Giambiagi
FINCLASS
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ed. especial
161