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A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO: OBSTÁCULOS E


POSSIBILIDADES.

RESUMO:

Palavras chaves: Avaliação. Ensino aprendizagem. Pandemia. Educação. Concepções de


Avaliação.

As escolas no ao de 2020, por ordem da medida provisória nº 934, depararam-se


com o desafio de repentinamente pensar estratégias de continuação do processo de
ensino-aprendizagem, utilizando como principal mediador desse projeto o espaço
virtual. Sob essa conjuntura, este artigo tenciona apresentar as possibilidades de
avaliação presentes no ciberespaço bem como refletir sobre os obstáculos
presentes nas tentativas de aproveitamento de tais possibilidades. Para tanto, nos
embasamos em artigos que retratam e exemplificam a avaliação em tempos de
pandemia, além de nos apoiarmos nos dados estatísticos da pesquisa “Educação
não presencial na perspectiva dos alunos e famílias” realizada pelo Instituto de
Pesquisa Datafolha em junho de 2020, nos dados do estudo “Acesso domiciliar à
internet e ensino remoto durante a pandemia” realizada pelo Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada ( IPEA) e em matérias do G1 e do Uol referentes ao ano de
2021.

INTRODUÇÃO:

A avaliação é inerente ao homem, uma vez que o julgamente permeita todas


as suas atividades: avaliamos a melhor ordem possível de realização das nossas
tarefas, avaliamos a melhor maneira de dizer algo, avaliamos o melhor momento de
atravessar uma rua movimentada, avalia-se a si mesmo. Essas avalições, no
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entanto, são informais, diferem da avaliação escolar esnquanto formal e estruturada.


Um ponto importante sobre este tipo de avaliação é que ele está intrinsecamente
ligado a vários outros fatores, isso é: não se trata de um processo isolado e com
regras próprias, mas é reflexo da teoria e da prática pedagógica predominante em
dada instituição de ensino.

Foi, contudo, no ano 2020 que a complexidade da avaliação da aprendizagem no


Brasil e em todo o mundo deparou-se com um grande desafio: em decorrência do
vírus covid-19 que se alastrava por todo o país, as escolas brasileiras, enquanto
lugares de encontro, trocas de conhecimento, discussões presencias em sala de
aula e laços afetivos até então construídos com proximidade, subitamente tiveram
que adotar estratégias para continuar o processo de ensino-aprendizagem de forma
remota, utilizando principalmente o espaço virtual como mediador. Tal desafio
persistiu e ainda persiste no ano de 2021 onde se insere este artigo.

Neste contexto, o mundo se encontra em uma contínua tentativa de se


reinventar e os profisisonais da educação não estão de fora desta metamorfose.
Entretanto, se o espaço virtual seria a melhor alternativa para levar a cabo o projeto
de contiuação do processo ensino-aprendizagem, faz-se necessário apontar a
desigualdade social como um grande obstáculo nessa empreitada. É de uma
obviedade ululante que os individuos nunca estão inseridos em uma mesma
realidade, esta nunca é homogenea e isso implica dizer que dificuldades variadas
advindas da desigualdade social assolam os estudantes brasileiros. Nessa
perscpectiva, consideramos necessário apontar a exclusão digital como uma
barreira que continua impedindo os estudantes mais pobres de desenvolverem-se
no ambito escolar, fato que fere o direito fundamental dos estudantes à igualdade
de condições para permanência na escola tal como previsto no artigo 206º da
Constituição Federal promulgada em 1988.

Corrobora esta afirmação a pesquisa “Acesso domiciliar à internet e ensino


remoto durante a pandemia” realizada pelo Instituto de pesquisa econômica
aplicada (IPEA), em agosto de 2020, segundo a qual 740 mil estudantes brasileiros
do ensino médio público se encontravam sem acesso à internet naquele ano (IPEA,
2020, p.8). Outro fator que atuou como obstáculo na aprendizagem desses
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estudantes foi o acesso precário evidenciado pelos dados da pesquisa “ Educação


não presencial na perspectiva dos alunos e famílias” realizada pelo Datafolha em
junho de 2020. Com uma base de 1518 estudantes, de todas as regiões do país,
entrevistados, o estudo revelou que 44% desses alunos consideravam insuficientes
os equipamentos e o acesso à internet que possuíam em casa para realizar
atividades e assistir aulas (DATAFOLHA, 2020, p.37)

No que concerne ao ano de 2021, embora este careça de pesquisas à respeito


da exclusão digital no país, há evidencias de que ela ainda não foi erradicada da
vida dos estudantes, como a matéria veiculada pelo G1 "Exclusão digital: sem
acesso à internet, jovens abandonam os estudos e relatam as dificuldades na
pandemia",1 onde
um jovem de 18 anos chamado Everton Silva que reside no Morro da Congonha, em
Madureira, na Zona Norte do Rio, relata os obstáculos para o acesso às aulas
online:
"Eu pensei em juntar dinheiro pra compar celular. Mas aí o gás acabou, televisão
pifou.Tive que botar para consertar a televisão e o gás, e comprar carne, alimento
pra
dentro de casa"1

Ainda, na matéria "Pobreza e exclusão digital estragam preparação ao Enem no


sertão nordestino"22, veiculada pelo Uol, encontramos mais um caso onde a
exclusão digital atuou como um obstáculo impedindo ou dificultando atividades
pedagógicas através de recursos tecnológicos: o de João Rufino, de 19 anos, que
“precisa subir as pedras do sítio onde vive no interior do município de Massapê
(CE), para buscar internet e estudar”
Diante do fato de que a exclusão digital, sobretudo no contexto da pandemia,
impede ou dificulta o acesso às aulas e atividades online planejadas pelo professor,
importa destacar que os alunos em situação de vunerabilidade economica são
1
Disponível em:
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/06/11/exclusao-digital-sem-acesso-a-internet-
jovens-abandonam-os-estudos-e-relatam-as-dificuldades-na-pandemia.ghtml
2

Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/01/15/pobreza-e-exclusao-digital-estragam-preparacao-
ao-enem-no-sertao-nordestino.html
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prejudicados pela impossibilidade de serem acompanhados pelos professores de


forma adequada, situação que impacta diretamente na avaliação destes, pois
Segundo Haydt ( 2004, p.30) :

"A avaliação, para ser considerada válida, deve ser realizada em função dos objetivos
previstos, pois, do contrário, o professor poderá obter muitos dados isolados, mas de pouco
valor para determinar o que cada aluno realmente aprendeu. É a partir da formulação dos
objetivos, que vão noterar o processo ensino-aprendizagem, que se define o que e como
julgar, ou seja, o que e como avaliar. É por isso que normalmente se diz que o proesso de
avaliação começa com a definição dos objetivos"

Assim, como avaliar igualmente todos os alunos segundo os objetivos de ensino-


aprendizagem previamente fixados quando alguns estão sendo prejudicados pela
exclusão digital que impede ou dificuldade o acesso dos mesmos às aulas e
atividades escolares? Mais do que nunca, seria necesário que os resultados de uma
avaliação somativa após o fim de uma unidade de ensino, por exemplo, fossem
encarados tendo em vista a situação desses alunos, com intuito de refletir sobre
alternativas que os ajudassem a atingir os objetivos de aprendizagem.
Essa tentantiva por parte dos professores, entretanto, se constitui como um desafio
se entendermos que as intervenções na aprendizagem devem estar inseridas
dentro, segundo Perrenoud, de um “projeto educativo”. Vale ressaltar que,
entendendo a avaliação formativa em sentido amplo, podemos afirmar que ela não
está restrita à um grupo de escolas “especiais”, pois para o autor é formativa “ (...)
toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, ou melor, que
participa da regulação das aprendizagens e do desenvillvimento no sentido de um
projeto educativo”. ( pag 105)

Este projeto é permeado por uma “lógica da ação”, no sentido de evitar que os
alunos com dificuldades de aprendizagem sejam deixados pelo caminho ao longo
da programação. Trata-se, antes, de procurar intervir de forma inteligente na
aprendizagem dos alunos apoiando-se nas informações que a avaliação formativa
oferece. Deste modo, é na observação das dificuldades evidenciadas nas
atividades e situações propostas que o professor pode ter acesso à essa visão mais
“microscópica” da aprendizagem dos alunos ao longo do tempo e partir disso,
quando for o caso, adotar estratégias que ofereçam aos alunos com dificuldades a
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possibilidade de avançar em direção aos objetivos de aprendizagem previstos. Esta


é uma tentativa de “recuperação” onde estratégias como fazer retomadas de
conteúdos anteriores, utilizar uma linguagem diferente ou criar situações mais reais
de aplicação das informações trabalhadas são alternativas para o professor.

Todo este projeto a ser trabalhado cotidianamente, porém, choca-se com as


dificuldades de alguns alunos e professores encontrarem-se satisfatoriamente no
espaço virtual. Intervir de forma inteligente na aprendizagem dos alunos e adotar
estratégias de recuperação dos mesmo são ações que devem ser orientadas pela
avaliação diária dos alunos, pelo relação aluno-professor e a ausencia dessa
avaliação contínua no que se refere à alunos excluídos do acesso à internet e à
recursos tecnológicos tangíveis, como o computador e o celular é o grande
obstáculo da avaliação da apredizagem no ensino remoto.

No entanto, vale ressaltar, embora o ciberespaço e a cibercultura tenham sido e


ainda sejam inacessível para muitos estudantes , eles não deixam de ser ricos em
possibilidades de práticas docentes interessantes. Tal como sugere Santos e Araújo
(2012, p.104), o professor poderia lançar mão de "interfaces e instrumentos de
avaliação (chats, listas de discussão, fóruns, webfólios, diários de aula online)" que
se configurariam como “ espaços de avaliação personalizada”.

TUA PARTE PODE COMEÇAR AQUI


MATEUS

REFERÊNCIAS:

DATAFOLHA. Educação não presencial na perspectiva dos alunos e famílias. Instituto de


Pesquisa Datafolha, Opinião Pública, dossiês. São Paulo, jun. de 2020.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Acesso domiciliar à internet e


ensino remoto durante a pandemia. Brasília: Ipea, 2020.
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SANTOS, Edméa; ARAÚJO, Maristela Midlej. Como avaliar a aprendizagem online? Notas para
inspirar o desenho didático em educação online. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 17, n. 2, p.
103-119, out. 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

HAYDT, Regina Celia Cazaux. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. São


Paulo: Ática, 2004.

Considerações finais:

De acordo com o que consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) a avaliação deve
ser compreendida como “um conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar e
orientar a intervenção pedagógica”, essa premissa básica deve orientar todas as práticas de
avaliação. O homem possui uma natureza diversificada e inconclusa, os seres estão
constantemente se refazendo, além dos mais, cabe lembrar que a sociedade é heterogênea,
diversificada e abrange seres muito complexos e diferentes. Dessa maneira, pensar em
avaliação nesse momento precisa estar alicerçado nas necessidades individuais dos
indivíduos. Infelizmente a falta de acesso a internet é uma realidade de mais de 40 milhões de
brasileiros.
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Segundo Libâneo, a avaliação deve ajudar todas as crianças a crescerem: os ativos e os


apáticos, os espertos e os lentos, os interessados e os desinteressados. Os alunos não são
iguais, nem no nível socioeconômico nem nas suas características individuais. A avaliação
possibilita o conhecimento de cada um, da sua posição em relação à classe, estabelecendo
uma base para as atividades de ensino e aprendizagem (1992, p. 201).

A educação não pode se transformar naquilo que alerta Luckesi (1984) : classificar alunos e
estigmatizá-los.

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