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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO AO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PARECER AGU/PGF/PF-IFES/ESPS nº 282/2019


PROCESSO IFES/ES N. 23147.006614/2019-11
INTERESSADO: REITORIA
ASSUNTO: CONCEPÇÃO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS CURSOS - CRIAÇÃO DE
CURSOS

EMENTA: ADMINISTRATIVO. DISPENSA DE LICITAÇÃO.


CONTRATAÇÃO DE FUNDAÇÃO DE APOIO. AUXÍLIO AO
INSTITUTO FEDERAL PARA REALIZAÇÃO DE PROJETO.
LEI Nº 8.666/93, ART. 24, INCISO XIII. POSSIBILIDADE.
APROVAÇÃO CONDICIONADA AO ATENDIMENTO DAS
RECOMENDAÇÕES DESTE PARECER.

Magnífico Reitor,

Trata-se de processo administrativo visando a contratação da Fundação de Apoio ao


Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FACTO), por meio de dispensa de licitação, com fulcro no
art. 24, XIII da Lei nº 8.666/1993, para apoiar a gestão operacional e financeira do projeto “oferta de
cursos de complementação pedagógica, atualização tecnológica e/ou especialização para o
atendimento de professores e gestores das redes estaduais e distrital que atuam na Educação
Prossional e Tecnológica.”.

Retornam os autos a esta Procuradoria Federal junto ao Ifes, para emissão de


parecer jurídico, nos termos do parágrafo único do artigo 38 da Lei nº 8.666/93, quanto às minutas de
contratos.

I. MANIFESTAÇÃO

I.1 Sobre a justificativa para a contratação

Deve-se salientar que a presente manifestação toma por base, exclusivamente, os


elementos que constam, até a presente data, nos autos do processo administrativo em epígrafe.
Destarte, à luz do art. 131, da Constituição da República de 1988, e do art. 11 da Lei Complementar
nº 73/93, incumbe, a este órgão de execução da Advocacia-Geral da União, prestar consultoria sob o

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prisma estritamente jurídico, não lhe competindo adentrar na conveniência e oportunidade dos atos
praticados no IFES, nem analisar aspectos de natureza eminentemente técnico-administrativa.

A doutrina moderna ensina que todo ato administrativo precisa ser motivado. No
terreno dos contratos administrativos não é diferente. Além de cumprir regramento legal, como por
exemplo o contido no artigo 3º, inciso I, da Lei 10.520/02 e artigos 2º e 50 da Lei 9.784/99, a decisão
por contratar esse ou aquele objeto precisa ter uma conformação com o interesse público, situação
que só é demonstrável a partir da motivação ou justificativa do ato de contratação.

Aliás, em se tratando de licitações e contratos, levando-se em conta que os órgãos


integrantes do controle externo irão analisar a conduta do gestor muito tempo depois, acredita-se ser
do maior interesse que as razões que determinaram a prática do ato fiquem inteiramente registradas
para que não haja qualquer tipo de análise equivocada no futuro.

Há que se ponderar, ainda, que justificar a abertura de um processo para contratação


significa demonstrar previamente, de maneira metódica e didática, as razões pelas quais a
Administração está a contratar esse ou aquele objeto – inclusive quanto ao aspecto quantitativo, que
deve estar escorado, salvo impedimento prático, na evolução do consumo dos anos anteriores,
devidamente documentado nos autos. Ou mesmo por que escolheu um caminho em detrimento de
outro.

Outrossim, duas outras circunstâncias também devem ficar bem demonstradas nos
autos: a primeira é quanto à necessidade da aquisição e a segunda quanto à forma pela qual se
pretende materializar essa contratação, in casu, a dispensa de licitação.

Pois bem, no presente caso, quanto à formalização da contratação, esta será


analisada abaixo.

Quanto à efetiva necessidade da contratação, esta parece-nos evidente e presumida,


tratando-se de projeto específico que demanda atividade administrativa eventual, excepcional e não
regular.

I.2 – Da contratação

Trata-se de processo cujo objetivo é a contratação de fundação de apoio, por meio de


dispensa de licitação, com base na Lei nº 8.958/94 c/c o art. 24, XIII, da Lei 8.666/93, ao argumento
de que se trata de fundação de apoio credenciada para essa ação no Ifes.

Estabelece a lei 8.666/93:

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Art. 24. É dispensável a licitação:

(...)

XIII – na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou


estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de
instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha
inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos.

No mesmo sentido a Lei 8.958/94:

Art. 1º As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais


Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs, de que trata a Lei nº 10.973,
de 2 de dezembro de 2004, poderão celebrar convênios e contratos, nos
termos do inciso XIII do  caput  do art. 24 da Lei n. 8.666, de 21 de junho de
1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade de
apoiar projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento
institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na
gestão administrativa e financeira necessária à execução desses projetos.
(Redação dada pela Lei nº 12.863, de 2013)

O art. 2º da Lei nº 8.958/94 dispôs sobre a forma sob a qual deverão estar
constituídas as Fundações de Apoio, nos seguintes termos:

Art. 2º As fundações a que se refere o art. 1º deverão estar constituídas na


forma de fundações de direito privado, sem fins lucrativos, regidas pela Lei
nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e por estatutos cujas
normas expressamente disponham sobre a observância dos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e
eficiência, e sujeitas, em especial:(Redação dada pela Lei nº 12.349, de
2010)

I - a fiscalização pelo Ministério Público, nos termos do Código Civil e


do Código de Processo Civil;

II - à legislação trabalhista; (Redação dada pela Lei nº 13.530, de 2017)

III - ao prévio credenciamento no Ministério da Educação e no Ministério da


Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, renovável a cada 5 (cinco)
anos. (Redação dada pela Lei nº 13.530, de 2017)

Nesse sentido:

“Súmula 250 do TCU

A contratação de instituição sem fins lucrativos, com dispensa de licitação,


com fulcro no art. 24, inciso XIII, da Lei n.º 8.666/93, somente é admitida
nas hipóteses em que houver nexo efetivo entre o mencionado dispositivo,
a natureza da instituição e o objeto contratado, além de comprovada a
compatibilidade com os preços de mercado.”

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Trate-se indubitavelmente de projeto de extensão (jurisprudência do STF), o que


viabiliza a cobrança.

Outros requisitos necessários à regularidade da dispensa propriamente dita também


devem ser observados. A parte final do art. 24, inciso XIII, da Lei das Licitações preceitua que a
contratada: a) detenha inquestionável reputação ético-profissional e; b) não tenha fins lucrativos.

A ausência de fins lucrativos foi declarada na proposta comercial anexada e pode ser
verificada do Estatuto da FACTO.

Observadas a expertise e experiências exitosas anteriores, constata-se que a FACTO


tem inquestionável reputação ético-profissional.

Foi juntada ao processo a Portaria de credenciamento da FACTO junto ao MEC e ao


MCT. Restou comprovado, ainda, que a FACTO mantém suas atividades regularmente, mediante
certidão emitida pelo Ministério Público do Estado.

A regularidade fiscal e trabalhista encontra-se comprovada através das certidões


negativas de débitos (ou positivas com efeito de negativa) acostadas aos autos. Quanto à
necessidade de comprovação da regularidade fiscal (inclusive trabalhista) da contratada, destaca-se:

“...exija, nas contratações por dispensa de licita exija, nas contratações por
dispensa de licitação, documentação relativa à (...) regularidade fiscal das
empresas, as empresas nos termos dos artigos 29 e 30 da Lei nº 8.666/93.”
(TCU, Processo no. TC-006.061/2004-6, Acórdão 552/2005 – 2ª Câmara)

Uma vez que a FACTO é a única credenciada junto ao Ifes, dificulta sobremaneira,
quiçá inviabiliza, a realização da tradicional pesquisa de mercado para comprovação “do preço” (inc.
III, do parágrafo único, do art. 26, da Lei 8.666). De qualquer sorte, registre-se que a avença em
análise terá caráter gratuito, uma vez que a instituição de apoio e o contrato não têm fins lucrativos e
os recursos financeiros envolvidos se destinam, exclusivamente, à cobertura das despesas
administrativas constantes no plano de trabalho e explicitadas em planilha de custos. Assim consta
da proposta.

Em relação à minuta de contrato, ressalto que a Lei nº 8.666/93, para evitar variações
demasiadas na elaboração dos contratos, traz, expressamente, as cláusulas essenciais que deverão
estar inseridas no respectivo instrumento. Verificam-se presentes na minuta contratual os requisitos
do art. 55, da Lei nº 8.666/93.

Entretanto, faremos algumas considerações:

Recomendamos acrescentar como obrigação da contratada 8.2:

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a) abertura de conta específica.

Conforme orienta o TCU:

“2.7.1 exija da FAURGS que a conta bancária utilizada para a


movimentação dos valores dos projetos financiados com recursos
arrecadados diretamente pela Fundação em nome da Universidade, que
não envolvam recursos consignados no Orçamento da União (conta
corrente 300.000‐1 do Banco do Brasil, Agência 3798 ‐2), seja específica,
destinada exclusivamente aos projetos desenvolvidos com a UFRGS, bem
como que a conta contábil se refira a apenas um projeto, em cujo
extrato os depósitos sejam individualizados e a origem esteja
identificada, vedado qualquer recebimento em tesouraria; (Acórdão
TCU 575/2011 – 2ª Câmara)

Após a prestação de contas, o saldo em conta será repassado para o Ifes.

b) identificação das notas fiscais com as despesas relacionadas ao projeto , para fins de permitir
a fiscalização posterior (item 2.1, e). Tal exigência encontra-se também no bojo do Acórdão TCU nº
575/2011 – 2ª Câmara:

“2.10.1 exija de suas fundações de apoio que, em todas as avenças em que


essas arrecadarem recursos em nome da Universidade, seja apresentada
prestação de contas periódica, composta pelos seguintes documentos:
demonstrativo de receitas e despesas; relação de pagamentos identificando
o nome do beneficiário e seu CGC ou CPF, número do documento fiscal
com a data da emissão e bem adquirido ou serviço”

Por fim, ressalto que a contratação firmada por dispensa, também não se pode esquecer do cumpri-
mento do art. 26, parágrafo único, da Lei 8.666/93, especificamente, no caso, no que tange à ratifica-
ção da dispensa pela autoridade competente.

II. CONCLUSÃO

Assim, subtraindo-se análises que importem considerações de ordem técnica,


financeira ou orçamentária e os referentes à conveniência e oportunidade, os quais não se sujeitam à
competência desta unidade jurídica do consultivo, Advocacia-Geral da União, por meio da
Procuradoria Federal junto ao Ifes, manifesta-se pela inexistência de óbice jurídico à assinatura do
contrato, razão pela qual manifestamo-nos pela APROVAÇÃO, desde que atendidas as ressalvas
presentes neste parecer, em resumo:

a) incluir como obrigação da contratada:

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a1) abertura de conta específica e repasse dos saldos;


a2) identificação das notas.

É o parecer.

Vitória/ES, 13 de novembro de 2019.

Estevão Santiago Pizol da Silva


Procurador Federal
Procurador-Chefe da PF/Ifes

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E
FOLHA DE ASSINATURAS
CONTRATOS

Emitido em 13/11/2019

PARECER JURÍDICO Nº 282/2019 - REI-PRF (11.02.37.10)


(Nº do Documento: 131)

(Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO)

(Assinado digitalmente em 13/11/2019 10:12 )


ESTEVAO SANTIAGO PIZOL DA SILVA
PROCURADOR CHEFE - TITULAR
REI-PRF (11.02.37.10)
Matrícula: 1380362

Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ifes.edu.br/documentos/ informando seu


número: 131, ano: 2019, tipo: PARECER JURÍDICO, data de emissão: 13/11/2019 e o código de verificação:
077269b945

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