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-As propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade: As propostas socialistas desenvolveram-se, no

História século XIX e tiveram como objetivos comuns a denúncia dos excessos da exploração capitalista, a eliminação da
miséria operária e a procura de transformar a sociedade, tornando-a mais justa e igualitária. Quanto às estratégias a
implementar, foram bem diferentes e até opostas, o que leva a distinguir um socialismo utópico de um socialismo marxista.
-A sociedade de classes: No século XIX, a sociedade de ordens do Antigo do Regime, sociedade assente no privil égio
derivados do nascimento, deu lugar uma sociedade de classes, derivada das divisões que ocorreram devido a Revolução
O socialismo utópico distinguia-se pelas propostas de reforma económica e social, que passavam pela recusa da
Industrial. Embora na sociedade de classes os cidadãos sejam iguais perante a lei, se distinguiam pelo dinheiro e por todas
violência, pela criação de cooperativas de produção e de consumo ou pela entrega dos assuntos do Estado a uma
as vantagens que este permite conquistar, fazendo com que as diferenças socias se assentem no estatuto económico, no
elite de homens esclarecidos que governariam de modo a proporcionarem uma maior justiça social. P.-j Proudhon, o
grau de instrução e cultura e na situação profissional.
mais ousado dos socialistas ainda chega a defender a abolição da propriedade privada- por considerar um roubo – e
do próprio Estado, que classificava desnecessário, preconizava uma autêntica revolução na economia, através da
A sociedade de classes estava dividida em dois grupos sociais ou classes - a burguesia e o proletariado. Separava-os criação de associações mútuas, onde todos trabalhariam, pondo em comum os frutos do seu trabalho. Teve [o
o poderio económico, o grau de instrução e as profissões por eles desempenhados.
socialismo utópico] pouca adesão pois tinha uma visão pouco realista do mundo do trabalho.

No que se refere a burguesia, a imagem-tipo do burguês do século XIX aplica-se na perfeição à alta burguesia empresarial
O socialismo marxista retira o nome do alemão Karl Marx que, juntamente com o seu compatriota, Engels, publicou
e financeira. Graça à concentração e controle dos poderes económico - através do controle dos meios de produção e das
no século XIX, o Manifesto do Partido Comunista, obra que marcou de forma profunda o socialismo e a Hist ória, na
grandes fontes de riqueza; dos poderes políticos - através de pressões e da ocupação de cargos políticos; e dos poderes
medida em que foi portadora de uma nova conceção de sociedade e esteve na origem de inúmeros movimentos
sociais - através do ensino e da imprensa, por onde podia intervir na opinião pública; que possibilitou a alta burguesia de revolucionários. Ao contrário do socialismo utópico, assente em idealismos, o marxismo acrescentou, aos princ ípios
usufruir de uma notável hegemonia. doutrinários, um programa minucioso de ação. Deteve-se numa análise rigorosa da História da Humanidade e
concluiu que essa assenta numa sucessão de modos de produção, tais como o esclavagismo, o feudalismo e o até
A imitação da aristocracia pela alta burguesia se fazia através da compra de propriedades, garantes de sua então recente capitalismo. Conclui também, que a passagem de um modo de produção a outro se deveu à luta de
respeitabilidade. Nelas, construíam suntuosas moradias como demonstração de seu êxito, bem como as escolas e colégios classes – pelas condições materiais de existência- entre opressores e oprimidos. Ao analisar o modo de produção
frequentados pelos seus herdeiros. E, apesar de sua vasta composição (banqueiros, empresários), a burguesia, aos poucos, capitalista, constatou que este repousa na mais-valia, isto é, o salário do operário não corresponde ao valor dos bens
começou a criar uma consciência de classe, reconhecendo-se como um grupo autónomo que comungava das mesmas de que necessita para sobreviver e sua exploração é o lucro do burguês capitalista. Desta constatação resulta, para
atitudes e valores. Marx, ser a luta de classes, mais uma vez, inevitável. Travar-se-ia, agora, entre proletários e burgueses e conduziria à
eliminação do capitalismo. Para o efeito, tornava-se necessário que o proletariado, organizado em sindicatos e,
Dentre as virtudes burguesas (os tais valores burgueses), era no seio da família que se cultivavam as virtudes públicas e especificamente, em partidos, conquistasse o poder político e exercesse a ditadura do proletariado. Esta mais não
privadas: o gosto pelo trabalho, pelo estudo, da iniciativa e do esforço individual que, como consequência, gerou uma seria que uma etapa a anteceder e preparar a verdadeira sociedade socialista – o comunismo -. Apelou, pois, para à
maior mobilidade social. união mundial dos operários, à internacionalização do movimento sindical e operário.

-A Revolução industrial trouxe a fábrica e fez nascer o operário. Apelidado de proletário e situado no patamar inferior da -A Regeneração e o Fontismo: Após a primeira metade do século XIX, agitada a nível político, teve início o período da
sociedade oitocentista, conheceu o inferno pelas condições em que trabalhou e pelas condições em que viveu. Regeneração e do Fontismo, em 1851, considerado um momento de estabilidade política e social, desenvolvimento
das comunicações e dos transportes do país, que permitiu recuperar algum atraso económico em relação à Europa.
No seu local de trabalho, o operário defrontava-se com um ambiente inóspito: frio glacial no inverno e calor sufocante As políticas de modernização, obras públicas e desenvolvimento dos transportes e meios de comunicação foram
no verão, má iluminação, falta de arejamento, barulho ensurdecedor das máquinas, risco de acidentes, salários de miséria. caraterizadas por Fontismo, homenageando António Maria de Fontes Pereira de Melo, Presidente do Conselho de
Para além disso, a exploração de mulheres e crianças nas fábricas, com um salário menor ainda, completava o quadro Ministros. Estes avanços permitiram a construção de um mercado interno e da abertura portuguesa à Europa,
desolador do trabalho. abrindo também passagem aos capitais estrangeiros e à conversão da moeda portuguesa. Durante este governo,
Fontes Pereira de Melo percebe que para o país ter uma economia sustentável e desenvolvida, era necessário criar
Ao trabalho esgotante e nos limites da resistência humana, acrescentava-se uma vida nas condições indignas e um mercado nacional, que, consequentemente, necessitava de uma boa rede de transportes e comunicação. Deste
degradantes: viviam em caves húmidas ou sótãos abafados, alugados a preços especulativos e frequentemente modo, estas inovações traziam vantagens visíveis: primeiramente, um mercado nacional permitia fazer chegar os
sobrelotados. Em suas habitações tudo faltava: a luz, a higiene, a salubridade e, sua alimentação, mostrava-se insuficiente e produtos às zonas mais isoladas, alargava as relações externas do país e aumentava as produções agrícolas e
desiquilibrada (numa dieta baseada em pão, alguns ovos e peixes fumados). industriais.

Esgotados pelo trabalho, quase sem horas de sono, mal alojados e subnutridos, os operários constituíam um terreno O primeiro grande investimento foi a nível rodoviário, aumentando substancialmente a exte nsão da rede de
favorável à propagação das doenças. O alcoolismo, a prostituição, a delinquência e a criminalidade completavam o estradas macadamizadas por todo o país, bem como a intensificação da navegação fluvial. Noutro sentido, em 1856,
quadro da miséria e da sordidez nos bairros operários do século XIX. era inaugurado o primeiro troço de caminho-de-ferro do país, que ligava Lisboa ao Carregado Até ao final do século XIX,
Portugal estava finalmente unificado do norte ao sul através de uma extensão rede ferroviária. Aliada a estes dois
desenvolvimentos, quer a nível rodoviário como ferroviário, tornou-se fundamental a construção de pontes, por
-Movimento operário: Desde cedo, os operários reagiram às duras condições de trabalho e de vida. Inicialmente, por falta
exemplo: a Ponte de D. Luís permitiu unir as duas margens do douro, no Porto e a Ponte Internacional de Valença, que
de organização estas reações estiveram condenadas ao fracasso, como foi o caso do luddismo [de Ned Lud] que levou os
permitiu ligar um extremo de Portugal com Espanha. A nível marítimo, o aumento da navegação impulsionou à
operários e destruírem máquinas e a saquearem as habitações dos industriais. Foi o caso também das insurreições, de
remodelação e construção de portos para armazenar mercadorias e realizar trocas comerciais, como o Porto de
greves e movimentos violentos que, por toda Europa industrializada, irromperam.
Leixões. Já as comunicações por telefone existiam, mas apenas em Lisboa e no Porto, estendendo-se mais tarde
para o resto do país, embora lentamente, tornando o telégrafo e a rede de correios muito importante para as
A repressão dura que se abateu sobre os operários (presos, deportados e até castigados com a pena de morte) fez-lhes ver comunicações do país.
a necessidade de uma organização mais consistentes, capaz de minorar os seus problemas e conduzir a bom termo as suas
reivindicações. Assim, nasceram a associativismo – traduziu-se na criação de associações de socorros mútuos. Através de
Para concluir, é perceptível que as políticas do Fontismo foram fundamentais para o desenvolvimento do país que
quotizações simbólicas dos filiados, acudiam aos necessitados, na doença, na morte, no desemprego ou durante as greves
estava ainda muito fechado de si próprio e da Europa. A criação de um mercado nacional unido foi essencial para
...; e o sindicalismo – residiu o que seria o futuro do movimento operário (conjunto de ações levadas a cabo pelos
melhorar a vida da população, quebrar o isolamento das regiões e fomentar as atividades económicas agrícolas e
trabalhadores assalariados, para a concretização das suas reivindicações. Consistiu (o sindicalismo) na criação de
industriais. As redes de transportes permitiram também não só a modernização, como também a dinamização das
associações de trabalhadores para defesa dos seus interesses profissionais. Os operários contribuíram com as necessárias
relações nacionais e internacionais.
quotas e os sindicatos propunham-se a lutar pela melhoria dos salários, por um dia de trabalho de 8 horas, o direito ao
descanso semanal e à indemnização do patronato em caso de acidente, recorrendo para isso, caso necessário, às greves,
que se tornaram sua principal arma.

Por fim, o movimento operário ganhou dimensão internacional, pois os problemas e os interesses do operariado eram
comuns em todo mundo e, apoiados ao sindicalismo e numa nova consciência social e política.

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